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O Quintal da Vó Clemilda II

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CAPÍTULO DOIS

Hugo e Amanda no

Reino das Flores

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Era uma vez...

Um quintal comprido, cercado por um lindo jardim, de ambos os lados, que só não avançavam quintal adentro por causa das cercas erguidas há muito tempo pela vovó Clemilda. Naquele finzinho de tarde, os passarinhos pulavam de galho em galho, prozeando esporadicamente, algumas borboletas vagavam de lá para cá. O Sol derramava sua luminosidade aconchegante por sobre o quintal da vó, saindo de mansinho, como quem não quer nada. A vó, sentada em sua cadeira na varanda, adormecera ali mesmo sob a atmosfera tranqüila daquela tarde.

Já eram quatro horas quando eles chegaram. Sua filha, Verinha, trazendo os seus netinhos, a Amanda e o Huguinho. “Ah!” – pensou a vó Clemilda se levantando da cadeira - “Eram eles que eu estava esperando!!”

- Oi mãe!! Cadê todo mundo?? - O Edinho e a Regina foram passar o fim-de-semana na praia e levaram

as meninas. Como sabia que você ia aparecer eu fiquei por aqui, é mais sossegado....

A Amanda ouviu a conversa e ficou um pouco desanimada, mas logo se conformou. Enquanto isso o Hugo já tinha encontrado a bola de futebol da época em que o Pelé jogava na rua de baixo, e começou a chutá-la contra a parede, berrando “Gooolllll!! Gooollll!”.

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Meia hora depois, a Amanda já tinha organizado um pequeno e exótico café da tarde na beira do quintal, entre a Barbie, trajando um vestido azul berrante - sorrindo como se tivesse tirado a sorte grande -, e He-Man, com sua típica roupa de guerreiro, parecendo nervoso sentado ali em uma simples mesinha de café - por mais que a Amanda conversasse com ele, o He-Man não relaxava os braços, talvez esperasse um ataque do Esqueleto... Seja como for, o detalhe que mais agradara a Amanda em sua mesinha de café da tarde, fora o sininho brilhante que encontrara, próximo à cômoda. Ele não funcionava (não saía som nenhum) mas era muito bonito. Ela o pôs sobre a mesa quando viu que o bulezinho havia ficado lá no quarto, levantou-se e foi correndo buscá-lo.... Ela não demorou mais do que cinco minutos para trazer o bule, mas fora o suficiente para começar o desastre: sua mesinha estava caía para um lado, as xícaras e os pires espalhados pelo chão, o He-Man e a Barbie caídos de lado e a bola de futebol encostada próxima da cerca.

- . Aahhhhh!!! HUGO!!!! Seu BOBO!!! – gritou Amanda furiosa. Estava a ponto de se virar quando percebeu a falta do sininho. Ele não estava ali no chão. Ao debruçar-se para procurar melhor quase levou um susto com a uma voz aguda vinda da árvore.

- Ei, garotinha! Não fique zangada com seu irmãozinho... ele tentou detê-la. Mas apesar da idade, a Dna. Megera continua rápida!

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A Amanda olhou para a árvore com os olhinhos arregalados e a boca meio aberta, um canário amarelinho surgiu pousando na cerca. Olhava-a inclinando a cabeça ligeiramente, como que para escutá-la melhor.

- Olá, me chamo Tibúrcio! E vi tudo lá de cima. Com certeza seu irmãozinho é inocente.

- Ti-Tibúrcio?? O que aconteceu?? - A Dna. Papilus Megera, a velha aranha rabugenta, pulou sobre a sua

mesinha e roubou o Sininho das Borboletas – provavelmente deverá utilizá-lo para atrair as pobrezinhas até a sua teia e... e... bem, seja como for, seu irmão viu quando ela pulou, e jogou a bola para acertá-la, mas aquela velha tem olhos na nuca!! Saltou por entre a cerca caindo no jardim, seu irmão não se deu por satisfeito e foi atrás dela, pulando a cerca.

A Amanda logo se levantou e começou a vasculhar com os olhos o jardim, à procura de seu irmão.

- Não, minha querida. Você não o encontrará mais desse modo. Agora ele está no Reino das Flores. Seu tamanho é o de uma formiguinha...

- O quê?? Nossa!!! Como vou encontrá-lo agora?? Preciso trazê-lo de volta, já está quase escurecendo e a minha mãe vai ficar preocupada...

- Tudo bem, tudo bem. Tome – o canário arrancou uma peninha de sua asa -, passe esta pena sob o seu queixo e repita comigo:

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“Pena, peninha, penacho Por favor, Peço com amor, Entrar no Reino das Flores É preciso, eu acho, Para socorrer meu irmão. Ou, para a Megera, Servir de refeição.”

Num piscar de olhos tudo ficou enorme, e Tibúrcio a levou para dentro do jardim. Para o Reino das Flores.

- Criança preste atenção: a Dna. Megera está longe de casa – a toca dela fica do outro lado do quintal - e ela está tentando escapar deste jardim com o sininho. Encontre seu irmão e recupere o sininho, o equilíbrio deste jardim depende disso...

Tibúrcio alçou vôo e perdeu-se entre as folhagens da árvore no alto. Amanda olhou ao redor e tremou ligeiramente. Estava ficando frio. Pensou em seu irmãozinho mais novo, sozinho, perdido no meio desta “selva” gigante que chamavam de Reino das Flores, torcendo para que ele estivesse bem...

Logo deparou-se com duas bolinhas engraçadas. Pensando ter ouvido algo vindo de seu interior, ela colou o ouvido na bolinha e ouviu:

- ...Setente e sete, setenta e oito, setenta e nove, oitenta! Oitenta e um,...

- Ei, com licença! Moço... - de repente uma fresta abriu-se no topo da bolinha e dois olhinhos piscaram lá de dentro.

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- Quem é? O que você quer?? Não vê que estou contanto tatuzinhos?? - Desculpe moço, é que estou procurando o meu irmão... por favor me

ajude...

A outra bolinha se abriu de súbito, assustando a Amanda, que percebeu se tratarem de tatus-bola.

- Onofre, olhe seus modos! É apenas um insetinho ignorante... - Desculpe, querida. É que depois que aquele “monstro” passou por nós...

Eu só quero dormir. - Sim! Então vocês viram o bicho? Ele está perseguindo o meu

irmãozinho... pra onde foram? - Oh, pobrezinha. Nós vimos a perseguição, quase nos esmagaram!! Seu

irmão pulava para todos os lados, mas o bicho era incansável, gritava e dava gargalhadas, mal deu tempo de virarmos bolinha e nos protegermos.

- Quando pensávamos que eles já tinham ido embora – disse Onofre deixando de ser bola fitando a Amanda, suas patinhas tremiam – o bicho voltou, e começou a nos bater gritando algo... o quê era, meu bem?

- Algo parecido com “Gol”, eu acho. O bicho era maluco...

A Amanda demorou alguns segundos para absorver mas conseguiu segurar o riso a tempo; o “monstro” perseguidor da história era justamente o seu “irmãozinho indefeso”.

“Esse Hugo.” – pensou ela. E prosseguiu pela trilhazinha, deixando os tatus-bola descansarem enrodilhados como duas bolinhas.

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A claridade ia sumindo e tudo ficava mais e mais escuro. A Amanda caminhava com os olhos esbugalhados, com medo do que poderia encontrar na próxima esquina, de onde vinham vozes. Vozes de insetos.

- Veja só... com mil grilhinhos!! - É... uma pena, mesmo Seu Epistênio. - Como poderei tocar hoje no Grande Conserto?

Cautelosa, a Amanda foi chegando perto dos bichos, ou melhor, do bicho, já que o outro ela não conseguiu ver onde estava. O “Seu Epistênio”, que parecia ser um grilo elegante, trajando um smoking, segurava um instrumento que lembrava um violino, mas as cordas estavam arrebentadas.

- Boa tarde! – disse a Amanda. - Boa tarde – respondeu o grilo - Boa tarde – respondeu a mata. Mesmo tão próxima ela ainda não

conseguiu ver o outro bicho. - Desculpe-me incomodá-los mas estou à procura de meu irmão... - Minha jovem – disse o grilo fitando-a -, como poderei saber de seu

irmão se nem você ao menos eu conheço?? - Me chamo Amanda e vim de muito longe em busca de meu irmãozinho. - Muito prazer, sou o Sr Epistênio Grilococus, ao seu dispor. E este é o

Sr. Bunfádi Oga, é um Bicho-Folha, caso ainda não tenha notado.

A Amanda abriu a boca de surpresa quando percebeu a folha sorrindo e acenando ligeiramente para ela.

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- Percebí que não tinha notado. Às vezes até a mim ele engana... quanto ao seu irmão, sinto desapontá-la mas não tenho recordação de tê-lo visto...

- Espere, meu tio andou me falando de umas criaturazinhas parecidas com você, pequenina, talvez ele tenha alguma notícia... Tio! Tio Manfred!

O bicho-folha gritava para o alto. Em resposta, um galho fino caiu da árvore. E de repente, ele começou a se mexer, erguendo-se e surpreendendo a Amanda uma vez mais; o galho tinha vida!! E seus olhos fitaram a Amanda que não conteve o grito diminuto que escapou de sua garganta.

- Ora, Ora, ora! O que esta doce criança faz aqui numa hora dessas, hein?

- Por favor, seu Manfred, estou procurando meu irmão. Ele correu atrás de uma aranha...

- Sei, sei. A Dna. Megera, roubou o Sininho das Borboletas e seu irmão foi atrás para tentar recuperá-lo. Muito perigoso, principalmente com a chegada da noite. Outros bichos despertam, com muita fome creio eu.

- Boa tarde, Sr. Manfred. – disse o grilo. – Que dia mais agitado está sendo o de hoje... veja só o que aconteceu com o meu “griolino”!

Neste momento ela percebeu que as cordas não haviam sido arrebentadas, só estavam afrouxadas.

- Que pena, Sr. Grilococus! Hoje não é o dia do Grande Conserto? - Pois é...

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- Posso ver, por favor? – disse a Amanda. - Claro, mas tome cuidado para não deixá-lo cair.

Enquanto o Sr. Epistênio conversava com o Sr. Manfred, a Amanda ia regulando as cordas do griolino, uma a uma.

- Veja, Seu Epistênio, ela consertou o griolino!! - disse o bicho-folha. - O quê? Mas o quê.. Grilos me mordam!! Você consertou o meu griolino!

Há! Há! Mas que patinhas abençoadas você tem, bichinho. - É, obrigada! Não foi nada!

De súbito, um grilo pequenino apareceu pulando do nada. Parecia assustado.

- Seu Epistênio! Seu Epistênio! Aconteceu uma coisa terrível! - Acalme-se, Júnior. O que foi? - Uma aranha enorme apareceu!! Foi um tumulto!!

O grilo, o bicho-pau e o bicho-folha se olharam e depois olharam apara a Amanda, que sorriu meio sem jeito.

- Vou levá-la até lá. Para acabar com essa balbúrdia. Segure-se. –disse o sr. Epistênio.

Após vários saltos, chegaram em uma clareira onde seria dado o conserto. Vários instrumentos musicais encontravam-se espalhado. E a Amanda logo avistou o seu irmão sentado no chão.

- Hugo. Hugo. O que você está fazendo?? Vamos embora!!

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- Nãããooo!!!! Ela tá por aqui... Tá em algum lugar, escondida!! Ta esperando anoitecer para aparecer...

Um som de risada emergiu entre as plantas. Algo rastejava por detrás das plantinhas. Cercando-os. A escuridão englobava todo o lugar. Algumas estrelas cintilavam no céu longínquo.

- Deixe-nos em paz, seu monstro!! – gritou a Amanda. - Humpft! Criança insolente! Seu irmão me perseguiu por todo o jardim.

Agora ele vai ver... – uma voz rancorosa surgiu por entre as plantinhas, era a Dna. Megera.

- Você pegou algo que não lhe pertence! Devolva!! - Não! O Sino é meu! Seu irmão o roubou de mim, mas vou pegá-lo de

volta!!

A Amanda olhou para o Hugo que lhe mostrou, sorrindo, o Sininho das Borboletas. Ela o pegou e começou a sacudí-lo bem alto. A Dna Megera vendo o brilho do sino refletir a luz do luar emergiu por entre as plantas. Suas patas peludas surgiram como garras. O Hugo gritou quando a viu. Quando a Amanda olhou para a aranha, percebeu como seu irmão havia sido corajoso em perseguir aquele monstro sozinho.

Neste instante, as estrelas do céu cintilaram e começaram cair. Seu brilho iluminava a clareira onde se encontravam, ofuscando todos os oito olhos da Dna Papilus Megera, que se imobilizou de medo. Até o Hugo se levantou para olhar e observar melhor aquele milagre; as luzes das estrelas iluminaram as plantas, revelando flores lindas e coloridas. Os grilos reapareceram um a um,

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algumas borboletas surgiram pousando no alto das flores. A Amanda e o Hugo não estavam mais sozinhos. Duas borboletas pousaram na frente da Amanda e do Hugo, sorrindo.

- Olá, crianças. Sou Atalanta e este é meu namorado, Alfredo. Queremos lhes agradecer por se arriscarem tanto em reaverem o Sininho das Borboletas das garras da Dna. Megera. Você, Amanda, por não desistir de encontrar o seu irmão e a você, Hugo, por não desistir de recuperar o “brinquedo” de sua irmã, nos mostraram que o amor que ambos sentem um pelo outro é muito maior do que os perigos pelo qual passaram. As portas do Reino das Flores estarão sempre abertas para vocês e para suas primas, Gabriela e Fernanda.

- E quanto a ela? – perguntou o Hugo, apontando para a aranha. - Ela agiu com ganância e maldade. – disse Alfredo – Mesmo assim, a

mesma teia que ela usa para capturar suas presas, salvou a minha vida alguns dias atrás. Por isso, apenas por isso, poderá partir em paz.

Os vaga-lumes que a Amanda havia confundido com as estrelas, diminuíram a intensidade de sua luminosidade e libertaram a Dna. Megera, que se esgueirou para longe dali. Atalanta pegou o sininho da Amanda e todos se despediram.

- Que pena você não poder ficar para ouvir o meu griolino tocando, Amanda! – disse o Sr. Epistênio quando ela era levada dali pelos vaga-lumes, junto com seu irmão.

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Naquela noite a Amanda pediu para a vó que

queria dormir na sala. E durante a madrugada ela pôde ouvir

o Grande Conserto dos grilos, vindo do jardim em frente do vitrô da sala,

encher a noite com uma sinfonia típica de grilos. Mas que a partir daquele dia,

para a Amanda, sempre seria ouvida com outros ouvidos,

já que ela saberia que entre os vários griolinos que tocavam todas as noites um deles havia sido

afinado por ela.

Fim do Capítulo DoiS

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AUGUSTO E ANDRÉ NO

JARDIM PROIBIDO

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“Pena, peninha, penacho Por favor,

Peço com amor, Entrar no Reino das Flores

É preciso, eu acho, Para socorrer meu irmão.

Ou, para a Megera, Servir de refeição.”

Num piscar de olhos tudo ficou enorme e Tibúrcio a levou para dentro do

jardim.

Para o Reino das Flores.