O Reencantamento Do Mundo Na Visão de Max Weber

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Paper sobre o reencantamento do mundo em Max Weber, tal qual visto por Pierucci e Schluchter

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    INSTITUTO DE CINCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

    FACULDADE DE DIREITO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SOCIOLOGIA E DIREITO

    O CONCEITO DE DESENCANTAMENTO DO MUNDO, DE MAX

    WEBER, E A VISO DE REENCANTAMENTO DO MUNDO EM DOIS DE

    SEUS MAIORES INTRPRETES: ANTNIO FLVIO PIERUCCI E

    WOLFGANG SCHLUCHTER

    Aluna: Nathalia Thami Chalub Prezotti*

    ([email protected])

    Crtica Sociojurdica I: Mundo desencantando e mundo desengajado Modernidade e panoramas institucionais da contemporaneidade

    Professor: Luis Carlos Fridman

    Resumo: Como bem ressalta Antnio Flvio Pierucci, Weber afirmava no ter ouvido musical para religio. Com base nessa inabilidade, foi capaz de, com maestria, fazer um criterioso estudo sobre as religies orientais e ocidentais, sobre a relao do protestantismo e o capitalismo e sua

    influncia na modernidade, criando mais que um conceito, um verdadeiro sintagma: o

    desencantamento do mundo. Alguns de seus intrpretes, contudo, vislumbraram uma possvel viso de reencantamento nos escritos de Weber. Autoengano ou fato? justamente essa questo que pretendemos analisar, especialmente nos textos de Antnio Flvio Pierucci (O desencantamento

    do mundo: todos os passos do conceito em Max Weber) e Wofgang Schluchter (O desencantamento

    do mundo: seis estudos sobre Max Weber; captulo I).

    Palavras-chave: Max Weber. Desencantamento do mundo. Reencantamento do mundo.

    Abstract: As well underscores Antonio Flavio Pierucci, Weber said he did not have ears of a musician" for religion. However, just because of this "inability", he was able, to do a thorough study

    on the relationship between the religions from both sides of the world, about the conection of

    Protestant Christianity with the emergence of Capitalism, and with mastery, created a concept, more

    than that a conception: the "disenchantment of the world". Some of his interpreters, however,

    devised a possible vision of "enchantment" in his writings. A self misundestanding or fact? It is

    precisely this issue that we intend to analyze, especially in the texts of Antnio Flvio Pierucci and

    Wolfgang Schluchter.

    Keywords: Max Weber. Disenchantment of the world. Enchantment of the world.

    2015

    Niteri (RJ)

    * Mestranda em Sociologia e Direito pelo Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense

  • SUMRIO

    1. INTRODUO ................................................................................................................................................ 3 Conceito de desencantamento do mundo em Weber..........................................................................................3

    2. DESENCANTAMENTO DO MUNDO ........................................................................................................... 4 Desencantamento religioso................................................................................................. .............................. 4

    Desencantamento cientfico...............................................................................................................................7

    Desencantamentos e reencantamento....................................................................................................... ...... ..9

    3. CONSIDERAES FINAIS. ........................................................................................................................ 11 (Re)Encantando o mundo com Pierucci e Schluchter.................................................................................... 11

    (Des)Encantando o mundo com Weber...................................................................... .....................................13

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................................................... 16

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    1. INTRODUO

    Max Weber criou um novo conceito para a palavra desencantamento ao tratar da

    entrada da sociedade na era moderna. O termo ganhou vida prpria e alou voos na imaginao

    dos curiosos que estudam o autor, mas tambm veio a ocupar lugar de destaque na linguagem

    cientfica das mais variadas reas do conhecimento humano.

    Logicamente a propagao que levou o termo a ser usado como jargo pelos mais

    diversos estudiosos no poderia ter tamanho impacto no fosse a dubiedade de seu sentido, ou

    melhor a possibilidade de infinitas interpretaes. Infelizmente, nem todas to precisas ou com

    base cientfica.

    Fato que o intrigante conceito com que Max Weber vislumbrou o quadro perfeito para o

    surgimento de uma nova era, aguou em alguns estudiosos a viso de um conceito diverso, que se

    sucederia ao conceito de desencantamento e que se daria sob nova perspectiva, qual seja o do

    reencantamento.

    No foi diferente com Antnio Flvio Pierucci ao pesquisar aprofundadamente o conceito

    de desencantamento, em estudo que resultou na sua tese de livre-docncia em Sociologia, no

    Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da

    Universidade de So Paulo em junho de 2001 e que levou o ttulo de O desencantamento do

    mundo: todos os passos do conceito em Max Weber (So Paulo, Editora 34, 1 edio de 2013).

    A despeito de ser socilogo da religio, Pierucci estudou Weber sob a tica do processo

    de racionalizao ocidental na modernidade. E Weber, a despeito de no ser socilogo da

    religio, estudou a sociologia das religies e sua repercusso econmica no mundo ocidental

    capitalista, produzindo, segundo Pierucci uma dupla macrossociologia: uma sociologia geral da

    mudana social como inevitvel racionalizao da vida, e uma sociologia especfica da

    modernizao ocidental (PIERUCCI, 2013. p. 18).

    A eterna atualidade do tema mantm povoada a literatura cientfica acerca do pensamento

    e obra de Weber. Conhecendo o passado, podemos traar um futuro melhor. Entender o passado

    ajuda a prever o futuro... E Pierucci faz o estudo detalhado e completo, tanto quanto complexo,

    de todos os usos que Weber deu ao termo desencantamento do mundo, entendendo-o mesmo

    como um sintagma, tamanha sua importncia; um verdadeiro conceito, com dois contedos

    semnticos, nitidamente demarcados e concomitantes (um sentido no a evoluo do outro),

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    com significao prpria, ora o desencantamento do mundo pela religio, ora o desencantamento

    do mundo pela cincia.

    Em suas obras Weber usou o termo desencantamento do mundo com o sentido de

    desmagificao por nove vezes; quatro vezes como perda de sentido e em outras quatro

    vezes nas duas acepes.

    Gabriel Cohn, ao fazer o comentrio a obra de Pierucci, que vai na orelha da terceira

    edio do livro, de 2013, colocou com clareza que o conceito em questo foi construdo por

    Weber para ajudar a explicar o mundo e no para lament-lo. Conceito este que no se entende

    sozinho, que encontra seu lugar na estrutura analtica e forma uma teoria: a teoria sociolgica de

    Weber.

    Teoria esta tambm estudada em detalhes por Wolfgang Schluchter, em seu livro O

    desencantamento do mundo: seis estudos sobre Max Weber (Rio de Janeiro, Editora UFRJ,

    2014), dentre outros, no qual, igualmente, mergulhou no conceito de Weber de desencantamento

    do mundo e modernidade, solidificando o entendimento de que desencantamento do mundo em

    Weber nada tem a ver com decepo, desiluso, lamria ou lamento.

    Vejamos, pois, do que se trata este sintagma.

    2. DESENCANTAMENTO DO MUNDO

    Para Weber, afirma Pierucci, a magia representava o momento anterior da religio,

    quando a humanidade estava imersa em um mundo cheio de espritos, povoando um universo

    prprio, com poderes para influenciar a vida mundana, na qual todos coabitavam e onde tudo o

    que existia tinha uma alma, nima, animao; um mundo animado, um jardim encantado.

    Magia era a coero do sagrado; religio seria respeito, prece, culto e doutrina.

    A modernidade foi marcada pela intelectualizao da religio, que imps regras racionais

    de conduta, trocando o tabu pelo pecado e a fraternidade mal garantida por tabus por uma de

    amor fraternal; orientada por convico em princpios. Esse processo histrico religioso teve seu

    embrio na religio judaica, dos profetas que ditavam a regra de conduta de acordo com a

    vontade do Deus todo poderoso, inalcanvel e onipotente, avesso a negociaes.

    O protestantismo asctico, atravs da racionalizao religiosa, criou um processo de

    moralizao, um cdigo tico no qual no se incluam as barganhas com os espritos; com um

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    Deus nico que, tal como na era de Moiss, no negociava com os humanos.

    Essa religiosidade monotesta e racional diferia daquela em que vrios deuses, passveis

    das paixes humanas, sujeitos a frias ou predilees, atendiam vontade dos homens, mediante

    condies que impunham; exigncias totalmente mundanas.

    O mundo mgico que era coabitado pelos homens e pelos espritos foi substitudo por dois

    mundos: um, o mundo dos homens e o outro mundo, superior, sujeito racionalizao tica e

    intelectualizao sublimante pelos profissionais da religio.

    O dualismo religiosamente intelectualizado produzido pelos intelectuais da religio ps-se

    a separar este mundo do outro mundo e a afastar o alm do aqui embaixo. A

    Providncia foi a racionalizao consistente da adivinhao mgica e, apesar disso e por isso,

    antagonista de toda magia, tornando-se essencial ao desencantamento do mundo. E nesse

    sentido, desencantamento equivale a descentramento (do mundo).

    Desde ento a religiosidade se intelectualizou e, de cima para baixo na estratificao

    religiosa, moralizou. Foi a sada do mundo incapaz de sentido e o ingresso em um mundo

    ordenado pelas ideias religiosas, cheio de sentido.

    magia faltava a percepo e a concepo de um poder superior que salvasse por amor e

    no pelo conjuro dos deuses ou pela execuo risca de formulas rituais. A religio

    intelectualizada, tica, props a salvao atravs da conduta tica, da devoo obsequiosa, da

    piedade filial, da obedincia e da submisso. A magia implicava em vontade de subordinar os

    deuses, o oposto do proposto pela religio eticizada (PIERUCCI, 2013. p. 74).

    Jesus no fazia magia. Jesus operava milagres.

    Conforme a histria evoluiu e o homem deixou o campo, a religio eticizada ganhou

    espao, pois as leis econmicas do mercado no eram suscetveis de barganha com os deuses,

    como o eram as foras da natureza que regiam a vida campesina.

    Os interesses mgicos eram voltados exclusivamente para este mundo em que viviam

    todos os homens e os deuses; toda ao mgica tinha um objetivo pragmtico, claro e bem

    definido e seus resultados eram esperados para o aqui e agora. Por isso, a magia no

    incentivava ou cultivava no indivduo uma conduta de vida, um estado duradouro.

    Assim que, para Weber, a magia era incapaz de vida cotidiana. A eticizao da

    religiosidade foi a contraface do desencantamento do mundo e dela resultou a moralizao da

    conduta.

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    E foi nesse sentido que o desencantamento do mundo significou a sada de um mundo

    incapaz de sentido, mgico, e o ingresso em um universo significativamente ordenado pelas

    ideias religiosas e, assim, cheio de sentido.

    Foi em a Introduo tica econmica das religies mundiais que Weber enunciou de

    forma explcita e sucinta a correlao direta entre o desencantamento do mundo e o

    protestantismo asctico (PIERUCCI, 2013. p. 90). Seria atravs da ascese intramundana que se

    alcanaria a salvao, a intelectualizao da religiosidade e a moralizao religiosa que viriam a

    desencantar o mundo ocidental, criando uma afinidade eletiva da qual decorreria o

    estabelecimento do capitalismo como regime econmico dominante no mundo ocidental - uma

    causalidade no esperada.

    Tal como acontecera no judasmo e seus profetas, o protestantismo forjou a ideia segundo

    a qual os destinos dos homens neste mundo e no Alm dependeria essencialmente da observncia

    dos preceitos ticos ditados por Deus. Agora o homem deveria compreender-se a si mesmo como

    o instrumento de Deus agindo nesse mundo, corroborando sua predestinao.

    A desmagificao puritana se fez acompanhar de uma atitude de desvalorizao do

    mundo, mundo corrupto ao qual os protestantes deviam renunciar, mediante uma conduta

    asctica intramundana, agindo positivamente de modo racional nesse mundo, como sinal ou

    prova de sua salvao: desprezou toda ertica divinizadora da criatura, considerando como

    vocao desejada por Deus a procriao desapaixonada de filhos dentro do matrimnio;

    desprezou a violncia do indivduo contra outro, por paixo ou vingana e outros motivos

    pessoais; racionalizou sua conduta de vida pessoal e rejeitou tudo o que fosse eticamente

    irracional, como as artes e anseios pessoais. A meta especfica era o domnio metdico,

    vigilante, da prpria conduta de vida.

    S ento a atividade tico-asctica do trabalho vocacional se valorizou por si mesma e se

    afirmou separada de todos os meios mgicos de salvao: seria trabalhando com afinco e

    vivendo sem prazer que o protestante asctico se autoafirmaria como salvo, santo ou eleito

    instrumento de Deus no mundo. E sua religiosidade devia ser o mais possvel despojada de

    ritos e sacramentos, pois era racional e tica. A religio foi desmagificada. A ascese

    intramundana implicou em uma viglia constante, em um domnio metdico desperto da

    prpria conduta de vida.

    Pierucci ressalta que a noo de desencantamento do mundo era restrita ao espao da

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    esfera religiosa no qual despontavam os antagonismos entre religio e magia (ou religiosidade

    tico-asctica com a religiosidade mgico-ritualista) e que se encontravam geograficamente

    delimitados no Ocidente e no Oriente, respectivamente, pois o Ocidente rompeu com a tradio e

    seu formalismo, seu ritualismo (tradicional); quebrou o feitio da religio, removendo os

    bices ao desenvolvimento do capitalismo, como causalidade adequada, consequncia no

    prevista.

    E a esta altura que Pierucci fala textualmente em reencantamento:

    [...] bsico para um cientista social que pretende se especializar no estudo das

    religies entender, por exemplo, que desencantamento em sentido tcnico no

    significa perda para a religio nem perda de religio, como a secularizao, do

    mesmo modo que o eventual incremento da religiosidade no implica

    automaticamente o conceito de reencantamento, j que desencantamento em

    Weber significa o triunfo da racionalizao religiosa: em termos puramente

    tipolgicos, a vitria do profeta e do sacerdote sobre o feiticeiro: um ganho em

    religio moral, moralizada, isto , expandida em suas estruturas cognitivas e

    fortalecida em sua capacidade de vincular por dentro os indivduos. (PIERUCCI,

    2013. p. 120)

    Por isso Weber tinha o monotesmo judaico-cristo como o detonador histrico do

    desencantamento religioso do mundo, num processo milenar que acabou por desaguar no

    protestantismo asctico.

    Mas no fica por a essa questo. Weber, em Considerao Intermediria atribuiu um

    segundo sentido ao desencantamento do mundo, agora, no pela religio, mas pela

    racionalizao cultural do Ocidente, qual se referiu como um politesmo de valores,

    dissecando em termos de diferenciao, autonomizao e institucionalizao das diferentes

    ordens de vida, como a esfera domstica e a economia, a poltica e o direito, a vida intelectual e a

    cincia, a arte e a ertica, todas independentes das fundamentaes axiolgicas religiosas

    (PIERUCCI, 2013. p. 137).

    Neste momento o politesmo passou a ser de valores e no de deuses e o mundo se

    desencantou igualmente pela moderna atitude cientfica, que teve seu embrio na cultura

    cientfica helnica. Associado cincia moderna, o conceito weberiano de desencantamento se

    referia inescapavelmente perda de sentido do mundo. Objetivo era o conhecimento cientfico;

    o sentido era subjetivo. Mas a cincia tinha (e continua tendo) seus prprios limites,

    intransponveis, pois impotente para arbitrar entre tomadas de posio valorativas diferentes e

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    no raro conflitantes. A cincia destronou a religio do reino do racional, com toda sua

    intelectualizao, e a deixou s margens da antirracionalidade.

    Como bem salienta Pierucci, Weber empregou o verbo desalojar para ambos os

    processos de desencantamento do mundo. O primeiro, desalojou a magia da religio e a

    entregou o mundo natural desdivinizado, dando-lhe um sentido metafsico total, unificado; o

    segundo, que por meio da cincia emprico-matemtica desalojou essa metafsica religiosa,

    entregando um mundo ainda mais reduzido a um mecanismo causal, totalmente analisvel e

    explicvel, incapaz de qualquer sentido objetivo, muito menos uno e total, mas to somente de

    nexos causais inteiramente objetivos mas desconexos entre si, incapazes de qualquer totalizao.

    A cincia obrigou a religio a abandonar sua pretenso de propor a racionalidade

    metafsica ao homem (PIERUCCI, 2013. p. 145).

    E no foi s o pensamento terico que desencantou o mundo, mas foi precisamente a

    tentativa da tica religiosa de racionaliz-lo no aspecto prtico-tico que levou a este curso; no

    foi a cincia e o racionalismo cientfico, muito menos o racionalismo terico, mas sim o

    racionalismo prtico-tico, a racionalizao tico-asctica da conduta de vida. Esse o ponto nodal

    da teoria sociolgica de Weber.

    Afirma Pierucci que tudo se passa como se para Weber a falta de sentido emprico do

    acontecer natural fosse de longe a maior descoberta da cincia moderna o grande

    desvelamento (PIERUCCI, 2013. p. 153):

    [...], a atitude cientfica experimental abre mo sempre-j da pretenso de que o acontecer do mundo seja um processo com sentido; e, prodigamente relega para as vises de mundo esse pleito indomvel, de resto sem base cientfico-racional.

    Isso cabe a elas, sejam elas religiosas ou filosficas, metafsicas, holsticas,

    ideolgicas. (PIERUCCI, 2013. p. 155)

    O conhecimento cientfico progride sem parar, prolongando-se ao infinito. O processo de

    investigao aberto, tudo pode ser cientificamente explicado por nexos causais isolados e

    apenas parcialmente encadeados, jamais esgotados ou totalizantes. A questo do sentido deveria

    parar por a, no sentido subjetivamente partilhado entre os sujeitos.

    E Pierucci fala ento, novamente, em reencantamento:

    Hoje, na medida em que nossa prpria capacidade de suportar a condio humana

    foi ela prpria desencantada e nosso prprio proceder diante de escolhas a fazer

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    foi despojado da sua plasticidade interior (WL:604), o mundo real, a realidade do mundo em si mesmo, o mundo que criamos com o trabalho, a cincia e a

    tecnologia, resiste bravamente a todo projeto de reencantamento metafsico da

    Totalidade. (PIERUCCI, 2013. p.159)

    At porque se tal acontecesse, seria mediante o sacrifcio do intelecto em que implicava

    toda f religiosa. A cincia desencantou porque o clculo desvalorizou os incalculveis mistrios

    da vida. Mesmo as esferas mais promissoras de sentido, como a esttica e a ertica, se

    desconectaram do Todo, se dispersaram do Uno e procuraram cada qual atrair com seus prprios

    valores vitais.

    Para Weber o desencantamento cientfico do mundo foi muito mais fatal e definitivo do

    que a desmagificao da prtica religiosa e veio a caracterizar uma nova era, um novo estgio do

    conhecimento humano; porquanto seu progresso seria infinito e contnuo, desencantando-se a

    cincia a si mesma, num processo sem limite, sem fim.

    Assim que Pierucci denomina o desencantamento religioso do mundo como

    desencantamento strictu sensu e o desencantamento do mundo pela cincia como

    desencantamento lato sensu.

    Resumidamente, portanto, foi o desencantamento strictu sensu, com a desmagificao

    ativa da religiosidade que o antigo judasmo ps em movimento, que semeou o solo para o

    capitalismo ocidental. Foi uma causa no prevista, pois a dominao da magia, fora do mbito do

    cristianismo, era um dos mais pesados entraves racionalizao da vida econmica, o que s foi

    possvel mediante a sano psicolgica que o protestantismo deu a seus fiis, atravs de um

    modus vivendi de trabalho racional in majorem Dei gloriam, que no dava espao ao lazer, ao

    prazer e, consequentemente, acabou por gerar acmulo de riqueza, como consequncia no

    prevista.

    Essa capacidade, essa vontade, essa determinao dos protestantes em trabalhar

    incansavelmente como servos de Deus, deu-se pela a desmagificao da religio, do rompimento

    com o tradicionalismo da magia e sua substituio por uma disposio tica internalizada de levar

    uma vida metdica de trabalho racional.

    A partir da profecia emissria do povo judeu, inicialmente e, depois, com a profecia

    exemplar dos puritanos, o poder salvfico se deslocou para a conduta reta, santa; encontrando-se,

    a, a gnese da ciso intelectualizada e racionalizadora entre o ser e o dever ser. Foi o triunfo

    da religio eticizada sobre a religio ritual-sacramental, mgica.

  • 10

    Desse modo, o ponto de partida do sintagma em sentido estrito o profetismo israelita,

    oito sculos antes de Cristo e o ponto de chegada, o protestantismo asctico, em um percurso de

    aproximadamente trs milnios. Da para frente, a cincia emprica moderna se encarregou de

    determinar-lhe novos desdobramentos, mas tambm novas direes, ao reduzir o mundo, j

    desmagificado sob o modo da moralizao religiosa, a um mero mecanismo causal sem totalidade

    possvel e sem mais nenhum sentido objetivo. (PIERUCCI, 2013. p. 200):

    Era necessrio antes de mais nada momento de anterioridade lgica a desdobrar-se vagarosamente num vasto processo histrico de longussima durao

    desencant-lo. Desdiviniz-lo para domin-lo. Naturaliz-lo para poder melhor obejtiv-lo, mais que isto, objetific-lo. Quebrar-lhe o encanto era indispensvel

    para poder transform-lo. No toa, o desencantamento no havido explica para

    Weber o atraso do mundo asitico. (PIERUCCI, 2013. p. 207)

    o que Weber chamava de causalidade histrica necessria. O desencantamento do

    mundo foi a concluso de um processo histrico-religioso, mas no que tange cincia, esse um

    processo infinito, iniciado com a cincia da cultura helnica. , em suma, um conceito histrico-

    desenvolvimental em que os significados so coexistentes, no sucessivos, mas coextensos e s

    vezes superpostos parcialmente.

    Essa a colocao de Pierucci no decorrer de toda sua tese de licenciatura.

    Contudo, ao cerrar das cortinas, s folhas 219 do livro anteriormente mencionado, afirma

    que Weber, ao tratar das religies asiticas, em sua obra Considerao Intermediria - ensaio

    sobre as religies da China e ensaio sobre as da ndia, que teve trs verses sucessivas, sendo que

    s as duas ltimas receberam este ttulo, sendo a verso definitiva datada de 1920, e que figura

    nas ltimas pginas do volume I dos Ensaios reunidos de Sociologia da Religio; o nico

    totalmente preparado por Weber ainda em 1920, logo antes de seu falecimento em uma seo

    dedicada esfera ertica, havia usado o verbo encantar, assim como o sintagma completo,

    ao falar em encantar todo o mundo, referindo-se ao amor sexual e euforia do amante feliz e

    tudo isso para aludir a esta via modernamente disponibilizada de encantamento do mundo, da

    vida e do mundo da vida, que o erotismo (PIERUCCI, 2013. p. 220).

    O texto ao qual Pierucci se refere o seguinte:

    [...] A euforia percebida como "bondade" por aquele que feliz no amor, com sua

    simptica necessidade de compor para o mundo versos que expressem alegres

    fisionomias ou de encant-lo com um inocente ardor para agradar, depara assim

  • 11

    sempre (a se enquadram, por exemplo, as mais coerentes - do ponto de vista

    psicolgico - passagens nas obras iniciais de Tolsti) com o frio escrnio da tica

    da fraternidade radical, de fundamentao genuinamente religiosa. [...] (WEBER

    apud BOTELHO, 2013. p. 538)

    Essa descoberta no , contudo, como visto, o cerne da tese defendida por Pierucci para

    sua livre-docncia em Sociologia, mas to somente um treat intrigante para seu leitor.

    3. CONSIDERAES FINAIS

    Delicious treat diramos, pois as discusses acadmicas a respeito do reencantamento

    do mundo so inmeras, denotando seu inebriante sabor. Basta uma simples busca em stio

    prprio, na internet e ter-se- inmeros verbetes a respeito (artigos, teses, dissertaes, livros,

    etc.).

    Muitos, muitos mesmo, vem a prpria religio como fonte de reencantamento do mundo,

    o que explicaria a expressiva disseminao de igrejas neopentecostais e movimentos carismticos

    por todo o mundo, por exemplo.

    Alguns se especializaram no tema, como Hartmut Lehmann e Alkis Kontos, alm do

    prprio Pierucci e Nicholas Gane.

    H quem fale do desencantamento sob a falsa viso de desiluso e para esses, o

    reencantamento seria uma nova era de luz, otimismo e fraternidade, sob novos valores e

    conceitos ainda de fundo no s religioso, mas tambm cientfico e at mesmo ecolgico, dentre

    outros.

    A meno ertica como forma de reencantamento do mundo tornou-se a tnica

    especfica de Pierucci.

    Wolfgang Schluchter, socilogo da religio, um dos maiores estudiosos de Weber, em seu

    livro O desencantamento do mundo: seis estudos sobre Max Weber, tambm afirmou que

    Weber no descreve, naturalmente, qualquer desenvolvimento linear, porm um processo em

    que o progressivo desencantamento religioso do mundo e seu contnuo reencantamento

    permanecem entrelaados. (SCHLUCHTER, 2014. p. 39). No apontou, nem explicou, contudo,

    onde e como seria esse processo de reencantamento.

    Mais adiante, volta Schluchter a afirmar que [A]parentemente, o desencantamento do

    mundo produz com ele a necessidade de seu encantamento. (SCHLUCHTER, 2014. p. 44) e em

  • 12

    seguida reafirma que o desencantamento do mundo [...] Trata-se de um longo processo,

    conduzido, principalmente pela religio de salvao judaico-crist e pela cincia grega e

    moderna, no qual o desencantamento e o reencantamento estimulam-se mutuamente, [...]

    (SCHLUCHTER, 2014. p. 46).

    Com efeito, o protestantismo asctico, especialmente o calvinista pregou a doutrina da

    predestinao, segundo a qual uns eram agraciados pela glria, outros condenados ao malogro,

    criando um sentimento de infinita solido interior nos indivduos, pois somente os eleitos eram

    capazes de compreender a palavra de Deus, e no havia qualquer salvao eclesistico-

    sacramental que o pudesse salvar. S a conscincia protestante asctica conseguia conter,

    parcialmente, os conflitos entre as esferas mundanas de ao e a religio. A certeza da salvao

    no era confirmada por meio de obras meritrias isoladas, mas por uma conduta de vida

    racionalizada de ponta a ponta, sbria e distantes das vicissitudes mundanas, porquanto o trabalho

    intramundano era entronizado como meio para o aumento da glria de Deus na terra, propiciando

    aos crentes o alvio de que seu comportamento no s era benquisto por Deus, mas, fruto direto

    da ao divina.

    Sob o prisma do protestantismo asctico, pois, as esferas irracionais da vida, a artstica e a

    ertica, foram, igualmente, racionalizadas. A ascese sexual despojou o sexo de seus elementos

    erticos, desencantando-o, reduzindo-o aos fins reprodutivos. Quaisquer traos de lascvia e

    luxria eram condenados, sendo as relaes conjugais eroticamente motivadas execradas. S a

    frrea conscincia puritana conseguia apascent-lo. A tica religiosa da fraternidade, tpica das

    religies de redeno, encontrou uma profunda tenso com a maior fora irracional da vida: o

    amor sexual.

    Da cremos poder Schluchter asseverar que h um reencantamento que retroalimenta o

    desencantamento tanto religioso como cientfico, pois, se por um lado a fora sexual irracional

    e poderosa, por outro lado, diariamente a cincia quebra um tabu, uma magia e nos remete de

    volta quele mundo sem significao subjetiva, duro, corrompido, desprezvel e no qual os

    desejos sexuais so reprimidos. Toda vez que vm tona, por meio das novas descobertas da

    cincia (tecnologia, por exemplo, que traz a lascvia para o mago da vida das pessoas, atravs

    dos meios de comunicao), a ascese cala os impulsos sexuais luxuriosos.

    Vemos aqui o momento em que o pensamento desses dois eminentes estudiosos de Weber

    se encontram. Schluchter deixou um espao no qual onde podem se encaixar as ponderaes de

  • 13

    Pierucci no sentido de que, como j citado:

    O desencantamento do mundo pelo monotesmo tico atravessa como um vetor o

    Ocidente no bojo da milenar dominncia cultural de uma imagem de mundo

    metafsico-religiosa crescentemente unificada e internamente sistematizada, que

    terminou por se impor como fundamento legtimo da ordem social como um todo.

    Com o advento da modernidade e a ruptura dos laos tradicionais por uma srie

    de fatores, inclusive no plano cultural e no da personalidade, Weber diagnostica

    uma importante inflexo no processo de racionalizao ocidental: agora possvel

    conceber a esfera domstica e a economia, a poltica e o direito, a vida intelectual

    e a cincia, a arte e a ertica, independentemente das fundamentaes

    axilolgicas religiosas. Cada esfera de valor, ao se racionalizar, se justifica por si

    mesma: encontra em si sua prpria lgica interna uma legalidade prpria [...] que a leva a se institucionalizar autonomamente e a se consolidar e se reproduzir

    socialmente pela formao de seus prprios quadros profissionais, encarregados

    de garantir precisamente sua autonomia. (PIERUCCI, 2013. p. 138)

    No podemos afirmar que Schluchter e Pierucci estivessem falando do mesmo

    reencantamento. Mas fato que ambos trataram do assunto como sendo produto da obra do

    prprio Weber.

    Na verdade, o treat com que Pierucci brinda o leitor de sua tese j era objeto de sua

    curiosidade cientfica desde 1998, quando escreveu O sexo como salvao neste mundo: a

    ertica weberiana nos ensaios reunidos de sociologia da religio:

    Como se pode ver deveras muito alto, altssimo, o nvel terico alcanado pela

    reflexo weberiana em torno do ertico nos ltimos anos de sua vida. Impressiona

    como elevado, grandioso, extremado: allerusserst. E aqui, neste ensaio

    metodolgico [Pierucci refere-se ao ensaio weberiano sobre o sentido da

    neutralidade axiolgica nas cincias sociais, que de 1917], ele ala este ligeiro, porm altaneiro vo para logo em seguida concluir o pargrafo reatando a

    ertica com suas consideraes sobre o mtodo cientfico, tema central do ensaio:

    Qualquer que seja a posio por ns assumida perante tal pretenso, ela em todo caso no pode ser provada ou refutada com os meios de nenhuma cincia. [...]

    Novamente, a separao das esferas de valor como chave mestra. (PIERUCCI,

    1998. p. 7)

    Em Weber, segundo o prprio, a relao ertica:

    [...] Situada de modo to radical quanto possvel em oposio a tudo o que

    objetivo, racional, genrico, a ilimitao da entrega direciona-se nesse caso ao

    nico sentido que o ser individual, em sua irracionalidade, tem para aquele - e

    apenas aquele - outro ser individual. Da perspectiva do erotismo, entretanto, esse

    sentido (e, com ele, o valor contido na prpria relao) reside na possibilidade de

  • 14

    uma comunho sentida como um completo tornar-se um [Eins-Werdung], como

    um desaparecimento do "outro", e que, de to avassaladora, interpretada

    "simbolicamente" como sacramental. Precisamente a - na injustificabilidade e na

    inesgotabilidade da vivncia prpria (no comunicvel por nenhum meio), que

    nisso se equipara do "ter" mstico, em no s graas intensidade de seu modo

    de vivenciar e sim segundo a realidade imediata possuda - o indivduo que ama

    se sabe implantado no cerne de algo verdadeiramente vivo e para sempre

    inacessvel a todo esforo racional, to inteiramente escapado das mos frias de

    esqueleto das ordens racionais quanto do embotamento do cotidiano. [...]

    (WEBER apud BOTELHO, 2013. p. 536)

    , pois, compreensvel a obstinao de Pierucci em relao ertica em Weber, ao final

    de sua tese de licenciatura, em especial se considerarmos que Weber foi casado com Marianne

    Weber uma das alunas pioneiras na universidade alem que integrava grupos feministas de seu

    tempo. Uma mulher avanada para o seu tempo. Talvez luxuriosa...

    Tambm digno de nota que, como bigrafa do marido Marianne se calou quanto vida

    amorosa mantida fora do matrimnio por seu amado: Else Jaff e Mina Tobler nunca foram

    mencionadas como amantes na biografia feita por Marianne. Ou seja, esposa moderna e vida

    extraconjugal habitavam as ponderaes de Weber.

    Contudo, se a objetividade biogrfica de Marianne patinou diante do fulgor ertico do

    marido, entendemos que Weber no o tenha feito em sua "Reflexo intermediria". Se s folhas

    538 citada acima, do livro de Botelho, falou em encanto; s folhas 540 voltou a tratar do

    "desencantamento do mundo" ao discorrer:

    Mas certo que em sua forma mais ampla e fundada em princpios a tenso

    consciente da religiosidade acaba por se tornar o reino do conhecimento

    intelectual. ... Porm, onde quer que o conhecimento racionalmente emprico

    tenha executado de modo coerente o desencantamento do mundo e sua

    metamorfose num mecanismo causal, ficou evidente a tenso contra as

    reinvindicaes do postulado tico de que o mundo seria um cosmo organizado

    por Deus, mas de algum modo orientado em termos eticamente dotados de

    sentido. [...] (WEBER apud BOTELHO, 2013. p. 540)

    Fato que, Weber sempre foi ctico em relao luta por um modo de vida que buscava

    escapar do mundo e advertia contra os falsos profetas. Ele nunca admitiu qualquer chance de

    sucesso ao desejo deles de realizao da bondade e do amor fraterno, num mundo alheio aos

    impulsos animais ainda imanentes natureza humana, e da racionalizao da religio e dos

    sentimentos.

  • 15

    Weber tratou em sua "Reflexo Intermediria" das vrias tenses permanentes entre as

    religies de profetas e salvadores e as ordens do mundo, seja na ertica, seja na poltica, na

    comunidade natural do cl, na economia e na prpria ao racional e no conhecimento

    intelectual, concluindo que "a busca especificamente intelectualista, mstica, da redeno diante

    das tenses tambm caiu, ela mesma, vtima da dominao do mundo pela desfraternidade."

    (WEBER apud BOTELHO, 2013. p. 549).

    Quem a cumpriu, em essncia, com total consistncia foi a crena na

    predestinao. A reconhecida impossibilidade de medir os desgnios divinos com

    parmetros humanos significou, com uma clareza que desconhece o amor, a

    renncia acessibilidade de um sentindo do mundo para o entendimento humano,

    uma renncia que, com isso, tambm ps fim problemtica dessa espcie.

    (WEBER apud BOTELHO, 2013. p. 551)

    Por tudo quanto foi dito, no nos convencemos de que a idia de reencantamento do

    mundo preconizada pela ertica esteja nos textos de Weber; nem mesmo de que o

    reencantamento por si s povoasse as ideias de Weber. Ou de que Schluchter tenha entrevisto

    nas palavras de Weber uma teoria sobre o reencantamento do mundo.

    Verificamos, sim, que a controvrsia a respeito da ertica na teoria de Weber data da

    poca mesma em que o autor ainda era vivo. Fruto das divagaes de seus intrpretes e crticos,

    mas no do prprio autor. Este, dedicou-se ertica em seus estudos, tanto quanto s demais

    tenses permanentes da religio de profetas e salvadores com as diversas ordens do mundo.

    No lhe deu maior ou menor ateno do que s demais ordens do mundo, tais como poltica,

    economia, ao racionalismo, cincia, etc.

    o que se nos d conta o excelente e esclarecedor artigo de Wolfgang Schwentker,

    historiador alemo que tambm se debruou com afinco sobre as obras de Weber, e que consta

    dos anais da Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais (ANPOCS),

    cujas palavras transcrevemos para finalizar este breve estudo de uma forma esclarecedora e

    provocante:

    O tema que perpassa essas discusses foi desenvolvido por Weber no contexto de

    uma sistemtica investigao em histria e sociologia da religio, sobretudo na

    parte que trata da sexualidade e do erotismo, no captulo tica religiosa e o mundo de Economia e sociedade e, na mesma linha, no tpico A esfera ertica de Reflexes intermedirias: rejeies religiosas do mundo e suas direes. Aqui

  • 16

    ele se afasta bastante das referncias histricas reais e das experincias de vida

    pessoal e, livre das reflexes psicologizantes (tais como as que Otto Gross ainda

    tinha em mente), se concentra antes num modelo de processo tpico-ideal. Nessas passagens, Weber apresenta o erotismo como uma daquelas ordens de

    vida que existem em tenso entre uma orientao tica de cunho religioso, mais

    estritamente de renncia ao mundo, e as demandas objetivas do mundo moderno.

    Ele descreve a relao original entre a sexualidade e a tica da salvao como

    extremamente ntima nos primrdios. Exemplares so as prticas orgisticas de

    magia, nas quais a paixo, elevada at o xtase, consumada como um ato de

    culto. Foi somente a regulamentao da sexualidade em favor do casamento que

    iniciou o processo que levou, por sua vez, a uma dissoluo permanente da

    relao originalmente ntima e, numa segunda fase de diferenciao, favoreceu a

    sublimao da sexualidade em erotismo, no sentido de uma esfera conscientemente cultivada para alm de toda rotina da vida. Weber associa, assim, a desnaturalizao da sexualidade a padres universais de racionalizao, mas a seu ver isso no elimina de forma alguma a natureza totalmente ambivalente do erotismo. Ao contrrio, precisamente por que isto

    experimentado como um gozo consciente, ao mesmo tempo que assume uma

    natureza sensitiva e fortemente emocional, abre caminho para o mago mais irracional e, portanto, mais real da vida, em contraposio aos mecanismos da

    racionalizao.a

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    PIERUCCI, Antnio Flvio. O sexo como salvao neste mundo: a ertica weberiana nos Ensaios

    Reunidos de Sociologia da Religio. So Paulo: VIII Jornadas sobre Alternativas Religiosas na Amrica

    Latina, 1998

    PIERUCCI, Antnio Flvio. O desencantamento do mundo: todos os passos do conceito em Max Weber.

    3 edio. So Paulo: USP, Programa de Ps-Graduao em Sociologia da FFLCH-USP/Editora 34; 2013.

    SCHLUCHTER, Wolfgang, O desencantamento do mundo: seis estudos sobre Max Weber. 1 edio. Rio

    de Janeiro: Editora UFRJ; 2014.

    SCHWENTKER, Wolfgang. A paixo como um modo de vida: Max Weber, o crculo de Otto Gross e o

    erotismo. Disponvel em http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_32/rbcs32_10.htm. Acesso

    em 04/02/15.

    WEBER, Reflexo intermediria: teoria dos nveis e direes da rejeio religiosa do mundo in Botelho,

    Andr. Essencial sociologia, 2013. Penguin Companhia das Letras, So Paulo, 2013.

    aSCHWENTKER, Wolfgang. A paixo como um modo de vida: Max Weber, o crculo de Otto Gross e o

    erotismo. Disponvel em http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_32/rbcs32_10.htm. Acesso em

    04/02/15.