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Do denário ao pau – Os símbolos cíclicos • “Gulliverização, encaixe, redobramento não passavam de prefiguração no espaço da ambição fundamental de dominar o devir pela repetição dos instantes temporais, vencer diretamente Cronos já não com figuras e num simbolismo estático, mas operando sobre a própria substância do tempo, domesticando o devir.” • Símbolos que giram em torno do domínio do próprio tempo. • Símbolos que perpassam duas categorias: a primeira, o poder da repetição infinita de ritmos temporais e o domínio cíclico do devir; a segunda, interesse para o papel genético e progressista do devir, para essa maturação que apela aos símbolos biológicos, por que o tempo faz passar os seres através das peripécias dramáticas da evolução. • O denário e o pau simbolizam respectivamente o movimento cíclico do destino e o ímpeto ascendente do progresso temporal, e são figuras do jogo de Tarô.

O Regime Noturno da Imagem (parte 02 - Do Denário Ao Pau – Os Símbolos Cíclicos)

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O Regime Noturno da Imagem - parte 02: "Do denário ao pau", do livro "As estruturas antropológicas do imaginário", de Gilbert Durand. Apresentação de slides utilizada em seminário na disciplina Mitopoética, do mestrado em Literatura e Interculturalidade, no semestre 2015.1, na UEPB.

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Apresentao do PowerPoint

Do denrio ao pau Os smbolos cclicosGulliverizao, encaixe, redobramento no passavam de prefigurao no espao da ambio fundamental de dominar o devir pela repetio dos instantes temporais, vencer diretamente Cronos j no com figuras e num simbolismo esttico, mas operando sobre a prpria substncia do tempo, domesticando o devir. Smbolos que giram em torno do domnio do prprio tempo.Smbolos que perpassam duas categorias: a primeira, o poder da repetio infinita de ritmos temporais e o domnio cclico do devir; a segunda, interesse para o papel gentico e progressista do devir, para essa maturao que apela aos smbolos biolgicos, por que o tempo faz passar os seres atravs das peripcias dramticas da evoluo.O denrio e o pau simbolizam respectivamente o movimento cclico do destino e o mpeto ascendente do progresso temporal, e so figuras do jogo de Tar.

Denrio: do latim denarius nummus, moeda que contm dez dinheiro

O denrio traz as imagens do ciclo e das divises circulares do tempo, aritmologia denria, duodenria, ternria ou quaternria do ciclo.

A rvore de Jess: designao da rvore genealgica de Jesus, que proveio da famlia de Isa, pai de Jesus (Jess: grego). Jess jaz em uma cama e os galhos representam os antepassados de Jesus. O pau uma reduo simblica da rvore com rebentos, promessa dramtica do cetro.

Do denrio ao pauDenrio: arqutipos e os smbolos do retorno, polarizados pelo esquema rtmico do cicloPau: arqutipos e smbolos messinicos, os mitos histricos em que se manifesta a confiana no resultado final das peripcias dramticas do tempo, polarizados pelo esquema progressista.O carter em comum das duas categorias: so histricas, narrativas, cuja realidade subjetiva mitos.Os mitos sempre aludem antinomia do tempo: o terror diante do tempo que foge, a angstia diante da ausncia e a esperana na realizao do tempo, a confiana numa vitria sobre ele.Valorizaes negativas e positivas das imagens mito dramtico dos esquemas cclicos e progressistas.Smbolos cclicos - TempoO redobramento espacial, dos esquemas da inverso e dos smbolos encaixados (mandala) evoca a repetio temporal, a reversibilidade.O homem no faz mais do que repetir o ato da criao (ELIADE) repetio anual dos ritos e da instituio, que virou arquetpica. Ano calendrio cclico figura espacial circular o tempo cclico desempenha o papel de um gigantesco princpio de identidade aplicado reduo do diverso da existncia humana. (GUSDORF)Tempo e espao = ciclo: a relevncia do ritual do calendrio a sua faculdade de determinao e de recomeo dos perodos temporais. a abolio do destino enquanto fatalidade cega, um novo ano um recomeo do tempo, uma criao repetida.

Smbolos cclicos - TempoA inteno de recomeo possui uma manifestao em algumas culturas (mexicanos, babilnios, romanos) em que se consagra um dia para o caos, o excesso, o desregramento, a orgia.A repetio do tempo traz a inteno da integrao dos contrrios sntese da anttese noturna contribui para a harmonia dramtica do todo. *Sntese: unio de entidades opostas (tese e anttese) para uma unidade superior (dialtica).Soustelle fala que a lei do mundo a alternncia das qualidades distintas, nitidamente delimitadas, que dominam se esvaem e reaparecem eternamente.A lua aparece como a primeira medida do tempo e um arqutipo da menstruao. Os rabes, chineses, celtas tiveram que contar o tempo por lunaes (4 fases da lua).

Smbolos cclicos - TempoA noite e a lua desempenham um papel fundamental. A lua sugere um processo de repetio cultos lunares na aritmologia na histria das religies e dos mitos. A lua como me do plural divindade plural smbolos da abundnciaPolivalncia das representaes da lua: astro ao mesmo tempo propcio e nefasto. *rtemis, Selene e Hcate o arqutipo (trindade a essncia lunar)rtemis: para os romanos, a mais venerada e cultuada, deusa da Lua, mas tambm a grande senhora da bruxaria ocidental, associada a Lcifer (ambiguidade dos smbolos). Selene a face da lua menos conhecida, mas a mulher em pleno usufruto da sua sexualidade e maestria, senhora do lar. Hcate a face mais terrvel, associada ao inferno grego, senhora da noite mais escura e misteriosa, a anci que tem a voz da experincia (indispensvel para na bruxaria e wicca).

rtemis, Selene e Hcate

Smbolos cclicos - LuaDeusa relacionada Lua representa o tero (de onde viemos) e a maternidade. Mulheres: noite, lua e trevas (seduo de Eva e Ado, a queda parte de Eva ao comer o fruto proibido).As trindades so epifnicas de mitologias dramticas (monotesmo) *Triformis: conserva no contexto aritmolgico vivazes sobrevivncias lunares.Pelas fases serem mais ntidas no longo dia lunar, as personagens do drama astral no passam de microcosmos mticos do drama epifnico da lua. uma nica divindade que assume os diferentes momentos do drama. A iconografia sublinha sempre esta ambivalncia das divindades assimilveis lua: divindades meio animais, meio humanas. (Sereia, por exemplo)Bipolaridades no simbolismo: Virgens de Luz, ou ainda a Virgem Maria, cujo nome se repercute no meio de Maria, a Cigana, ou de Maria Madalena pecadora, que so teofanias. Eliade chama de mitos de polaridade os quais aparecem em todas as religies (ex: Rafael e Lcifer, Abel e Caim...)As festas em honra de Hcate (Diana) e da Virgem Santa no ms de agosto so feitas para implorar senhora da chuva fecundadora, ao mesmo tempo que para apaziguar a senhora das tempestades.

Hcate Triformis

Lua Adversa (Ceclia Meireles)

Tenho fases, como a luaFases de andar escondida,fases de vir para a rua...Perdio da minha vida!Perdio da vida minha!Tenho fases de ser tua,tenho outras de ser sozinha.

Fases que vo e que vm,no secreto calendrioque um astrlogo arbitrrioinventou para meu uso.

E roda a melancoliaseu interminvel fuso!No me encontro com ningum(tenho fases, como a lua...)No dia de algum ser meuno dia de eu ser sua...E, quando chega esse dia,o outro desapareceu...

Smbolos cclicos - LuaO mito do andrgino: para Eliade, o androginato divino no mais que uma frmula arcaica da biunidade divina.A maior parte dos mitos da lua ou da vegetao possuem uma dupla sexualidade. *Venus barbata romanaSin, o deus lunar babilnico invocado ao mesmo tempo como matriz materna e Pai misericordioso. *O Ado rabnico andrgino, Eva apenas uma de suas partes, uma metade, uma fase.O andrgino em que as fases se equilibram um smbolo de unio (dade). Na iconografia alqumica: Sol (brilho solar) para o macho e a Lua (trevas da morte) para a mulher - ligados por uma cadeia.

Venus barbata

Sin, deus lunar babilnico Smbolos cclicos - Lua no romantismo literrio que se torna mais aparente o esforo sincrtico para reintegrar o Bem e o Mal e as trevas sob a forma mtica de Sat, o anjo rebelde. O romantismo herda tal dramatizao da literatura bblica, da iconografia medieval e do Paraso Perdido (obra potica que fala da queda do homem e da tentao de Ado e Eva por Lcifer e sua expulso do Jardim do den).A poesia, a histria, assim como a mitologia ou a religio, no escapam ao grande esquema cclico da conciliao dos contrrios. A repetio temporal, o exorcismo do tempo, tornou-se possvel pela mediao dos contrrios, e o mesmo esquema mtico que subentende o otimismo romntico e o ritual lunar das divindades andrginas.O smbolo lunar aparece, assim, nas suas mltiplas epifanias, como ligado obsesso do tempo e da morte (morte e ressurreio). Participa dos mitos cclicos: mitos do dilvio, da renovao, liturgias do nascimento, mitos da decrepitude da humanidade.

Sbado das Bruxas Francisco de Goya

Encantamento - Francisco de Goya Smbolos cclicos - LuaEm todas as grandes culturas histricas e etnogrficas existe a epifania do ciclo, o esquema das revolues, mutilantes e renascentes, do astro noturno.Sntese: a lua morte e renovao, obscuridade e clareza, promessa atravs e pelas trevas, a escanso dramtica do tempo.A fantasia lunar carrega um otimismo: passa rapidamente do ciclo para o progresso, pois a catstrofe, a morte, a mutilao lunar nunca so definitivas, mas sim um mau momento que anulado pelo recomeo do prprio tempo (essencial declinar e morrer).Ciclo natural da frutificao e da vegetao sazonal: o ciclo das estaes e a rtmica agrcola esto ligados lua. O ciclo vegetal (semente semente, flor flor) comparado ao ciclo lunar, segmentado em rigorosas fases temporais.A subdiviso quaternria do ano em estaes astronmicas e agrcolas representa um aspecto realista e qualquer personificao das estaes tem uma significao dramtica.

Smbolos cclicos Drama agrolunarA divindade lunar representa simultaneamente a divindade da vegetao, da terra, do nascimento e dos mortos.O semear na lua nova e o recolher na lua minguante se relacionam sobredeterminao feminina e quase menstrual da agricultura. Ciclos menstruais, fecundidade lunar, maternidade terrestre vm a criar uma constelao agrcola ciclicamente sobredeterminada.O smbolo vegetal , por fim, frequentes vezes explicitamente escolhido como modelo de metamorfose. No folclore ou na mitologia nasce muitas vezes do morto sacrificado uma erva e uma rvore.Astrobiologia: universalidade do esquema cclico e do arqutipo astrobiolgico constelao isomrfica entre a aritmologia fornecida pelas tcnicas nascentes da astronomia, a meditao acerca do movimento peridico dos astros e, por fim, o fluxo e o refluxo vital, especialmente o ritmo sazonal.O drama agrolunar se caracteriza pela morte e ressurreio de uma personagem mtica (divina) e serve de suporte arquetpico a uma dialtica que j no de separao, mas que por uma ordenao numa narrativa ou uma perspectiva imaginria, faz servir situaes nefastas e valores negativos para o progresso dos valores positivos.

Smbolos cclicos FilhoO smbolo do Filho conserva a valncia masculina ao lado da feminilidade da me celeste. A relao cclica: a me d origem ao filho e este ltimo torna-se amante da me. O filho manifesta um carter ambguo, participa na bissexualidade e desempenhar sempre o papel de mediador. Que desa do cu terra ou da terra aos infernos para mostrar o caminho da salvao, tem duas naturezas: feminino e masculino, humano e divino. *Drama de Tamuz.Hermes Trismegisto: figura central da alquimia, trindade simblica da totalidade (o Filho e o Cristo), da soma das fases do devir. (filho da conjuno do sol e da lua).Na imagem do Filho essas intenes de vencer a temporalidade so sobredeterminadas pelos desejos parentais de perpetuao da linguagem. Numa perspectiva progressista, todo elemento segundo filho do precedente. O Filho a repetio dos pais no tempo. O nascimento reforado inicia um processo de ressurreio. A repetio do nascimento pela dupla paternidade (ex: Moiss, Cristo) inicia uma vocao ressurrecional: o filho duas vezes nascido no deixar de renascer da morte.

Smbolos cclicos Cerimnias iniciticasCerimnias iniciticas: repeties do drama temporal e sagrado, o Tempo dominado pelo ritmo da repetio. mais que uma purificao batismal, transmutao de um destino. Ritual de sucessivas revelaes, faz-se lentamente por etapas e parece seguir de muito perto o esquema agrolunar: sacrifcio, morte, tmulo e ressurreio. Prova mutiladora ou sacrificial que simboliza uma paixo divina.H nestes rituais e lendas iniciticas uma inteno marcada em sublinhar uma vitria momentnea dos demnios, do mal e da morte. Numerosas tradies refletem essa imagem da morte inicitica por despedaamento (heris mutilados *Cristo)Complexo agrolunar de mutilao: os seres mticos lunares muitas vezes s tm um p ou uma mo.Smbolos cclicos SacrifcioRitual dos sacrifcios: os sacrifcios humanos so universalmente praticados nas liturgias agrrias. Sntese muito completa entre mitologia lunar, o ritual agrrio e a iniciao. No mundo romano, os romanos oferecem sacrifcios a Saturno, deus do tempo nefasto, que praticavam o sacrifcio humano por estrangulamento ou afogamento, ou ainda por engolimento na areia movedia.O sacrifcio, para Piganiol, marca uma inteno profunda de no se afastar da condio temporal por uma reparao ritual, mas de se integrar no tempo, mesmo que destruidor, e de participar no ciclo total das criaes e destruies csmicas.O rito do sacrifcio eufemizado: o instante dialtico em que o sacrifcio se torna benefcio, em que na morte e na sua expresso lingustica se infiltra a esperana da sobrevivncia. A paixo dramtica do deus toma um matiz pico que deriva da modificao eufemizante trazida ao sentido do sacrifcio.

Smbolos cclicos SacrifcioCarter comercial do ato sacrificial. O sacrifcio uma troca.O carter ambguo do sacrificador ou da vtima, frequentemente hermafrodita, facilita a operao sacrifical, que funciona na dupla negao pela morte da morte. Exemplo, para a psicanlise, a morte de um tirano (Hitler) representa o fim da morte coletiva pela guerra.No poder sacramental de dominar o tempo por uma troca vicariante e propiciatria que reside a essncia do sacrifcio. A substituio sacrificial permite, pela repetio, a troca do passado pelo futuro, a domesticao do Cronos. O homem adquire direitos sobre o destino, o domnio. O negativo para o positivo.A filosofia do sacrifcio a filosofia do domnio do tempo e do esclarecimento da histria.

Smbolos cclicos Prticas orgisticasComemorao ritual do dilvio, do retorno ao caos donde deve sair o ser regenerado. Na orgia, h perda das formas: normas sociais, personalidades e personagens, pois volta-se ao estado primordial, catico. Ligam-se s msticas agrolunares. Ex: Carnaval, Revillon possuem um carter orgistico, pois a festa ao mesmo tempo negativo em que as normas so abolidas, mas tambm alegre promessa vindoura da ordem ressuscitada.

Smbolos cclicos O Bestirio da LuaO Bestirio da lua: o simbolismo teriomrfico reaparece na iconografia. Por exemplo: a deusa lua pode ser hstia despedaado pelos animais, ou pode ser a domadora, a encantadora ou a caadora escoltada por ces. *Hcate, Diana e rtemis. A rvore lunar tambm ambivalente. Animais e plantas so suscetveis de simbolizar o drama ou simplesmente o devir agrolunar.O esquema cclico eufemiza a animalidade, a animao e o movimento, porque os integra num conjunto mtico onde desempenham um papel positivo, dado que, numa tal perspectiva, a negatividade, mesmo que seja animal, necessria ao aparecimento da plena positividade.Exemplo: A encantadora de serpentes Francisco de Goya

Smbolos cclicos DragoAnimal polimrfico: o Drago. Ele o arqutipo fundamental que resume o Bestirio da lua: alado e valorizado positivamente como potncia uraniana pelo seu voo, aqutico e noturno pelas escamas, a esfinge, a serpente com penas, a serpente cornuda. smbolo de totalizao, um animal lunar mais humilde e conjuntamente monstruoso. *Apocalipse 12O carter maravilhoso totalizante simboliza sempre a potncia fasta e nefasta do devir.Na animalidade, a imaginao do devir cclico vai procurar um triplo simbolismo: o do renascimento peridico, o da imortalidade ou da inesgotvel fecundidade, garantia do renascimento, e enfim da doura resignada ao sacrifcio.

Smbolos cclicos Animais dsparesCaracol: aspecto aqutico da feminilidade, o aspecto feminino da sexualidade, teofania lunar. A espiral na iconografia de cultas como a chinesa representa o equilbrio dos contrrios e da sntese. A concha espiralada, sob uma perspectiva semiolgica e matemtica, o signo do equilbrio no desequilbrio, da ordem, do ser no meio da mudana. O caracol terrestre ou marinho constitui um glifo universal da temporalidade, da permanncia do ser atravs das flutuaes da mudana.

Urso e lebre: O urso assimilidado lua porque desaparece no inverno e reaparece na primavera, e desempenha o papel inicitico de animal devorador. No animal lunar, a confuso do passivo e do ativo acontece sempre: pode ser o monstro sacrificador tal como a vtima sacrificada. Na frica, acreditam que a lua lebre e mrtir, cuja ambivalncia simblica se deve aproximar do cordeiro cristo, animal doce e inofensivo, emblema do messias lunar, do Filho, por oposio ao conquistador guerreiro e solar.

Insetos e crustceos: a cigarra e sua crislida simbolizam as fases da lua, promessa se metamorfose e ressurreio. Em numerosos zodacos a lua simbolizada pelo lagostim do rio ou pelo caranguejo, substitudos pelo escaravelho (imagem viva da reversibilidade). A metamorfose tambm percebida nos vertebrados que se renovam ou visivelmente se transformam, como os lagartos e sobretudo as rs (fases distintas bem definidas). A r habita e frequenta a lua e desempenha o papel de engolidora diluvial associada chuva e fecundidade.Smbolos cclicos SerpenteSerpente: triplo smbolo da transformao temporal, da fecundidade e da perenidade ancestral. 1. O grande smbolo do ciclo temporal, o ouroboros. a duplicao animal da lua, porque desaparece e reaparece ao mesmo ritmo que o astro e teria tantos anis quantos dias tem a lunao. Por outro lado, a serpente um animal que desaparece das fendas do solo, que desce aos infernos, e pela muda regenera-se a si mesmo. Animal metamorfose que arranja uma pele nova.O drago e a serpente so os smbolos do fluxo e refluxo da vida. Ambivalncia: virtudes farmacuticas do veneno da serpente, veneno mortal e elixir de vida e juventude. A serpente guardio, ladra ou detentora da planta da vida. O ouroboros o prottipo da roda zodiacal primitiva, o animal-me do zodaco.

Smbolos cclicos SerpenteA serpente possui atributos de outros animais (ave, fnix). Ser hbrido (serpente com penas) que ao mesmo tempo fasto e nefasto, as ondulaes do seu corpo simbolizam as guas csmicas enquanto as asas so imagem do ar e dos ventos. *Melusina mulher-serpente: as asas vem completar o malefismo ofdico agravado pela propaganda crist medieval, e a serpente desdobra-se em sereia.A serpente o grande smbolo da totalizao dos contrrios, do ritmo perptuo das fases alternadamente negativas e positivas do devir csmico.

Smbolos cclicos Serpente2. A serpente o smbolo da fecundidade totalizante e hbrida uma vez que ao mesmo tempo animal feminino, dado que lunar, e tambm masculino, porque a sua forma oblonga e o seu caminhar sugerem a virilidade do pnis.Inumerveis mitos representam serpentes ou drages controlando as nuvens, habitando nos lagos e alimentando o mundo das guas fecundantes, tendo a ligao serpente-chuva-feminilidade-fecundidade frequente. (relao entre drago e serpente puramente religiosa)H tambm o simbolismo da serpente falo (a grande portadora de esperma - fecundidade). Assim, o papel de primeiro marido o que a serpente desempenha em diversas culturas. Ela relacionada ao vigor sexual, libido freudiana, fruio sexual da penetrao.

Smbolos cclicos Serpente3. Valorizada como guardi da perenidade ancestral e temvel guardi do mistrio ltimo do tempo: a morte. Vivendo debaixo da terra, a serpente no s recepta o esprito dos mortos, como tambm possui os segredos da morte e do tempo: senhora do futuro e detentora do passado o animal mgico.Animal do mistrio subterrneo, do mistrio de alm-tmulo, assume uma misso e torna-se o smbolo do instante difcil de uma revelao ou de um mistrio: o mistrio da morte vencida pela promessa de recomeo (papel benfico).Possui um lugar simbolicamente positivo no mito do heri vencedor da morte. Ela no apenas obstculo, enigma, mas sim o obstculo que o destino deve ultrapassar, o enigma que o destino deve resolver. A serpente ao mesmo tempo obstculo, guardi, receptadora das vias da imortalidade, vitria sobre a morte.Serpente: animal emblema de um eterno recomeo e de uma promessa bastante rude de perenidade na tribulao/ vegetal (verticalizada na rvore-pau) emblema de um definitivo triunfo da flor e do fruto, de um retorno, para alm das provas temporais e dos dramas do destino, vertical transcendncia.

Smbolos cclicos Tecedura e fiaoInstrumento e produtos da tecedura e da fiao: smbolos do devir. Fiar o destino um atributo das Grandes Deusas teofanias lunares. As fadas fiandeiras e lavadeiras (uma boa, e outra nefasta (corcunda)) carter duplo lunar.Fio, tecido e destino, fuso que, pelo movimento circular que sugere, vai tornar-se talism contra o destino.Tecido: smbolo de continuidade, sobredeterminado no inconsciente coletivo pela tcnica circular ou rtmica de sua produo. Oposto descontinuidade, ao rasgo, ruptura. Um tecido desdobrado, estendido e desenrolado, o que sugere, pela tecnologia dos txteis, pela roda, o fuso e seus produtos, fantasias de contnuo e da necessria fuso dos contrrios csmicos.

Smbolos cclicos CrculoO crculo: esquema da circularidade, smbolo da totalidade temporal e do recomeo, devir cclico que permite o domnio do tempo, a predio do futuro.O poder do arqutipo do ciclo e do seu emblema circular ou esfrico, preexiste absolutamente utilizao tcnica e utiliria da roda, do rodar e do carro.A roda zodiacal significa roda da vida e lunar, bem como a sustica (representa a lua e suas fases, ciclo, manifestao, regenerao) e o triskele (equilbrio) Yin Yang (representa o feminino - gua e masculino fogo).H um dualismo, assimtrico e ao mesmo tempo harmonizado atravs dos motivos espiralados definidos com equilbrio dinmico. Todo o smbolo ligado ao ciclo possui ao mesmo tempo a sua parte de trevas e a sua parte de luz. o arqutipo fundamental da vitria cclica e ordenada, da lei triunfante sobre a aparncia aberrante e movimentada do devir.

Do esquema rtmico ao mito do progresso Mitos da vegetao e lendas relativas cruz. A cruz crist, enquanto madeira erguida, rvore artificial, apenas drena as acepes simblicas prprias a todo simbolismo vegetal. contaminada pelos arqutipos ascensionais (rvore). Na lenda da cruz, bebida da eternidade, do fruto da rvore ou da rosa que floresce da madeira morta.Mas a cruz smbolo da totalizao espacial, unio dos contrrios, da totalidade do mundo. Lugar de sntese, esse centro apresenta uma face ambgua: um aspecto nefasto e um aspecto favorvel.H ligao com o fogo, com a sexualidade. O movimento rtmico e o gesto sexual subentende uma meditao sobre o ciclo.A madeira da rvore, a cruz e o fogo, esto num contexto cujo esquema geral a frico rtmica.

Do esquema rtmico ao mito do progresso Fogo Existe uma ligao primitiva da rvore e do fogo, pois a consumio da madeira pelo fogo provavelmente um rito de regenerao. As fogueiras de So Joo so um exemplo de ritos sazonais que so eufemizaes de ritos sacrificais, pois confere ao sacrificado a destruio total, alba das totais regeneraes. Tais costumes representam a constelao dramtica da morte seguida de ressurreio.A cerimnia do fogo novo e da extino do fogo antigo desempenha o papel de um rito de passagem, de um rito que permite a emergncia da fase ascendente do ciclo.Isqueiros em forma de cruz que geram fogo pela frico rtmica, quer seja oblqua ou sobretudo circular. O vaivm tem um prottipo no microcosmo no corpo humano, no gesto sexual. O pau pontiagudo e o jogo simblico do coito.O esfregar gera um calor doce e objetivo, alm de uma quente impresso de um exerccio agradvel. (BACHELARD, Psicanlises do fogo)

Do esquema rtmico ao mito do progresso Msica O gigantesco complexo mtico (gesto sexual): ritmo ginecolgico das menstruaes e o ritmo sazonal ou lunar da fecundidade.A rtmica sexual est ligada sublimao musical: artes do fogo e a msica. O instrumento de msica o tambor est ligado fecundidade e criao. O tambor sntese criadora, unio dos contrrios. A msica metaertica, o cruzamento ordenado de timbres, vozes, ritmos, tonalidades, sobre a trama contnua do tempo. A intemporalidade introduzida no prprio tempo pela medida musical tem a sua humilde origem na intemporalidade de que o amor sobrecarrega a rtmica sexual.

Pintura de Hieronymus BoschDo esquema rtmico ao mito do progresso Msica A roda do tempo uma coreografia, visto que toda a coreografia rtmica uma ertica, no porque prepara um ato de amor, mas porque desempenha papel preponderante nas cerimnias solenes e cclicas que tm por finalidade assegurar a fecundidade e sobretudo a perenidade do grupo social no tempo. (ex: dana do ventre, culto deusa Deusa e treino para as mulheres engravidarem)

Pintura de Fabio Fabbi

Do esquema rtmico ao mito do progresso Smbolos de progressoPor outro lado, esses modelos supracitados do ritmo circular (gesto sexual) vo deixar o esquema do eterno recomeo para uma significao messinica: a da produo do Filho, de que o fogo um prottipo. A noo primitiva de produto vegetal, animal, obsttrico ou pirotcnico suscita os smbolos de um progresso no tempo.O tempo j no vencido pela simples segurana do retorno e da repetio mas sim porque sai da combinao de contrrios um produto definitivo, um progresso que justifica o prprio devir porque a prpria irreversibilidade dominada.

Do esquema rtmico ao mito do progresso rvorervore: esquema verticalizante representando a passagem de arqutipos puramente circulares para arqutipos sintticos que vo instaurar os mitos to eficazes do progresso e os messianismos histricos e revolucionrios.A verticalidade da rvore orienta o devir e humaniza-o de algum modo a aproxim-lo da estao vertical significativa da espcie humana fantasia progressista. *rvore de Jess. a fase ascendente do ritmo cclico.A rvore isomrfica do smbolo agrolunar, est associada s guas fertilizantes. possvel que a rvore tenha preparado o culto da vegetao, mas certo que, enquanto madeira que servia para produzir e manter o fogo, a rvore foi imediatamente anexada pelo grande esquema da frico rtmica.

Do esquema rtmico ao mito do progresso rvoreA rvore o tipo hermafrodita, o produto do casamento, a sntese dos dois sexos: o Filho. a rivalidade entre a serpente e a ave que vem dramatizar e verticalizar esta grande imagem csmica. A rvore csmica humaniza-se e torna-se smbolo do microcosmo vertical que o homem.A rvore invertida representa a bissexualidade da serpente.A rvore csmica mergulha suas razes no cu e estende os seus ramos sobre a terra. Essa rvore indica a coexistncia no arqutipo da rvore do esquema da reciprocidade cclica. Refaz em sentido inverso a procisso criadora, uma vez que a redeno messinica a duplicao invertida, ascendente, de uma descida, de uma queda cosmognica.

Do esquema rtmico ao mito do progresso rvoreMinha vida no essa hora abruptaEm que me vs precipitado.Sou uma rvore ante meu cenrio;No sou seno uma de minhas bocas:Essa, dentre tantas, que ser a primeira a fechar-se.

Sou o intervalo entre as duas notasQue a muito custo se afinam,Porque a da morte quer ser mais alta

Mas ambas, vibrando na obscura pausa,Reconciliaram-se.E lindo o cntico.

As folhas caem como se do altocassem, murchas, dos jardins do cu;caem com gestos de quem renuncia.

E a terra, s, na noite de cobalto,cai de entre os astros na amplido vazia.

Camos todos ns. Cai esta mo.Olha em redor: cair a lei geral.

E a terna mo de Algum colhe, afinal,todas as coisas que caindo vo.

Rainer Maria Rilke

Do esquema rtmico ao mito do progresso rvoreA iconografia da rvore lembrana do simbolismo cclico no seio das aspiraes verticalizantes.O pau com rebentos do jogo do Tar confina com o cetro na simblica universal e se confunde facilmente com os arqutipos ascensionais e com os da soberania. E se o smbolo da rvore for visto como transcendncia encarnada no tempo, leva-nos a uma colaborao dinmica com o devir.