20
Curso de Direito Artigo de Revisão O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006 PRACTICAL RESULTS OF LAW 11.340/2006 Tatiana Viotti Nogueira Brito¹, Kênia Carina Jorge Sobrinho Arruda Nogueira² 1 Aluna do curso de Direito 2 ProfessoraEspecialista do curso de Direito Resumo Antes da Lei 11.340/2006 os casos de violência contra a mulher não recebiam tutela eficaz estatal, pois antes da criação da norma essa violência era tratada como um mero atentado contra os costumes. Por isso, foi abordado no presente traba- lho o levantamento qualitativo da incidência da lei 11.340/06 comparando a situação anterior e a posterior à vigência da re- ferida lei, tendo por objeto o estudo do resultado prático da Lei Maria da Penha sancionada em 07 de agosto de 2006, que prevê uma série de medidas protetivas em face da mulher que o ordenamento pátrio nunca prelecionou anteriormente. Os objetivos da presente análise são verificar os índices numéricos da violência doméstica, estudar sua aplicação em ca- sos concretos e mensurar a contribuição da lei. Os materiais utilizados foram estatísticas nacionais e sites governamentais. Como resultado foi obtido que a legis não atingiu a contribuição plena dos seus recursos previstos, mas é notória a mudan- ça no modo de tratamento da sociedade sobre o tema. Assim, verificou-se que houve evolução sobre a temática em face das mulheres, contudo, espera-se que na prática a lei ainda possa surtir mais efeitos positivos com o decorrer do tempo. Palavras chave: Lei Maria da Penha, repercussão, prática Abstract Before to Law 11.340/2006 cases of violence against women not receiving effective state protection since before the crea- tion of the norm that violence was treated as a mere attack on the customs. So it was addressed in this study the quantita- tive survey of the incidence of the law 11,340 / 06 comparing before and after the term referred to the law having for its ob- ject the study of the practical results of Maria da Penha Law enacted on August 7, 2006 situation that provides a series of protective measures in the face of the woman who never predicts previously nation land.The objectives of this analysis is to verify the numerical indices of domestic violence, study their application to concrete cases and measure the effectiveness of the law. The materials used were national statistics and government sites.The result was that the law not reached full effica- cy of its remedies provided, but it is noticeable change in address of the society on the subject. Thus, it was concluded that there was an increase in the face on the subject women, however, it is expected that in practice the law can also bear fruit with the most positive effects over time. Keywords: Maria da PenhaLaw, rebound, practice Contato: [email protected] Introdução O presente trabalho tem como es- copo demonstrar que, superar a violência contra as mulheres é um dos maiores de- safios impostos ao Estado brasileiro con- temporâneo. Diante disso, acredita-se que a problemática pesquisada e os estudos sobre a contribuição da Lei 11.340/06 a Lei Maria da Penha sejam relevantes para apontar o impacto social e o alcance da lei. Buscou-se verificar a atuação do Estado e a estrutura atualmente disponibi- lizada para o atendimento dessa deman- da, pois a lei prevê uma série de medidas que anteriormente não existiam. Assim, o trabalho revela um estudo comparativo dos números da violência doméstica no Brasil. A partir dos dados colhidos no estu- do o objetivo foi verificar a importância e a contribuição da lei, com o fulcro de anali-

O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

Curso de Direito Artigo de Revisão

O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006

PRACTICAL RESULTS OF LAW 11.340/2006

Tatiana Viotti Nogueira Brito¹, Kênia Carina Jorge Sobrinho Arruda Nogueira²

1 Aluna do curso de Direito

2 ProfessoraEspecialista do curso de Direito

Resumo

Antes da Lei 11.340/2006 os casos de violência contra a mulher não recebiam tutela eficaz estatal, pois antes da criação da norma essa violência era tratada como um mero atentado contra os costumes. Por isso, foi abordado no presente traba-lho o levantamento qualitativo da incidência da lei 11.340/06 comparando a situação anterior e a posterior à vigência da re-ferida lei, tendo por objeto o estudo do resultado prático da Lei Maria da Penha sancionada em 07 de agosto de 2006, que prevê uma série de medidas protetivas em face da mulher que o ordenamento pátrio nunca prelecionou anteriormente. Os objetivos da presente análise são verificar os índices numéricos da violência doméstica, estudar sua aplicação em ca-sos concretos e mensurar a contribuição da lei. Os materiais utilizados foram estatísticas nacionais e sites governamentais. Como resultado foi obtido que a legis não atingiu a contribuição plena dos seus recursos previstos, mas é notória a mudan-ça no modo de tratamento da sociedade sobre o tema. Assim, verificou-se que houve evolução sobre a temática em face das mulheres, contudo, espera-se que na prática a lei ainda possa surtir mais efeitos positivos com o decorrer do tempo. Palavras chave: Lei Maria da Penha, repercussão, prática Abstract Before to Law 11.340/2006 cases of violence against women not receiving effective state protection since before the crea-tion of the norm that violence was treated as a mere attack on the customs. So it was addressed in this study the quantita-tive survey of the incidence of the law 11,340 / 06 comparing before and after the term referred to the law having for its ob-ject the study of the practical results of Maria da Penha Law enacted on August 7, 2006 situation that provides a series of protective measures in the face of the woman who never predicts previously nation land.The objectives of this analysis is to verify the numerical indices of domestic violence, study their application to concrete cases and measure the effectiveness of the law. The materials used were national statistics and government sites.The result was that the law not reached full effica-cy of its remedies provided, but it is noticeable change in address of the society on the subject. Thus, it was concluded that there was an increase in the face on the subject women, however, it is expected that in practice the law can also bear fruit with the most positive effects over time.

Keywords: Maria da PenhaLaw, rebound, practice

Contato: [email protected]

Introdução

O presente trabalho tem como es-copo demonstrar que, superar a violência contra as mulheres é um dos maiores de-safios impostos ao Estado brasileiro con-temporâneo. Diante disso, acredita-se que a problemática pesquisada e os estudos sobre a contribuição da Lei 11.340/06 a Lei Maria da Penha sejam relevantes para apontar o impacto social e o alcance da lei.

Buscou-se verificar a atuação do Estado e a estrutura atualmente disponibi-lizada para o atendimento dessa deman-da, pois a lei prevê uma série de medidas que anteriormente não existiam. Assim, o trabalho revela um estudo comparativo dos números da violência doméstica no Brasil.

A partir dos dados colhidos no estu-do o objetivo foi verificar a importância e a contribuição da lei, com o fulcro de anali-

Page 2: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

sar qual foi a contribuição da Lei Maria da Penha em relação a incidência de casos de violência doméstica contra a mulher.

Foi adotado como método de pro-cessamento dos elementos colhidos no trabalho foi utilizado o dedutivo, sendo cer-to que se observou os resultados obtidos de forma geral para ser levado a conclu-sões específicas e seguras do quadro atu-al brasileiro.

Para tanto, foi realizado uma análise das informações e dados produzidos em relação a aplicação desta norma. Metodologia

Metodologia A metodologia escolhida foi a des-

critiva que observa, analisa e correlaciona

os fatos de modo a analisar a lei desde a sua promulgação.

Assim, as técnicas de pesquisa apli-cadas foram a análise documental de pes-quisas com dados estatísticos colhidos de fontes secundárias como documentos do Conselho Nacional de Justiça e dados primários coletados junto à Polícia Civil do Distrito Federal, doutrina que já dispôs so-bre o tema, normas relacionadas sobre a matéria, bem como relatos da polícia civil e decisões judiciárias, tudo conforme será demonstrado abaixo, conforme se passa a demonstrar.

Desenvolvimento Quem é Maria da Penha Maia Fernan-des1?

Nascida em Fortaleza, no estado do Ceará, ano de 1945, teve três filhas e foi casada. Atualmente, tem a profissão de biofarmacêutica, é coordenadora de estudos da Associação de Estudos, Pes-quisas e Publicações da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violên-cia (APAVV) e é conhecida mundialmen-te por sua luta contra seu agressor, que foi seu marido à época.

Lidera, atualmente, movimentos de defesa dos direitos das mulheres e de vítimas emblemáticas da violência do-méstica. É a promissora da mudança le-gislativa do tratamento dos agressores contramulherestipificada por meio da Lei 11.340/06.

Sabe-se que no ano de 1983 seu marido, à época, que possui a profissão de professor, o colombiano de nome Marco Antonio Heredia Viveros, tentou matá-la duas vezes, o que fez com que ela, diante das agressões sofri-das,ficasse paraplégica.

Após ser agredida Penha deu iní-cio ao processo penal contra seu marido, por meio de queixa crime. Contudo, além do trâmite processual ter demorado em torno de dezenove anos, sendo seu a-gressor condenado a oito anos de reclu-são, o agressor somente ficou preso por dois anos, sendo solto no ano de 2002.

1 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO Ronaldo Ba-tista. Violência Doméstica: Lei Maria da Penha. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011

Não se conformando com a pena-lização Penha não mediu esforços para que o seu caso chegasse à análise da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) que considerou, pela primeira vez na história, um crime de vio-lência doméstica.

Diante desse quadro de repercus-são internacional o Brasil foi compelido à criação de uma nova lei que tutelasse casos de violência doméstica, visto que essa temática no país anteriormente a-presentava vários déficits, que corriquei-ramente gerava arquivamento em massa dos autos, o que repercutiainsatisfação das vítimas e escassez no combate à vi-olência doméstica.

Portanto, esta mulher é responsá-vel pela repercussão nacional e interna-cional da busca pelos direitos humanos da mulher, da proteção estatal brasileira da integridade física da mulher e da pre-venção da violência doméstica. Repercussão internacional do cenário fático vivido por Maria da Penha

O caso de Maria da Penha foi o primeiro a ser recebido pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos2

2 Foi criada em Santiago, no Chile, no ano de

1959, por meio de resolução da Quinta Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exterio-res, mas somente foi instalada em 1960 quando da aprovação do seu estatuto2 pelo Conselho da Organização. A Organização dos Estados Americanos (OEA) é um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção e proteção dos direitos humanos e possui sede em Washington. A Comis-são é composta de sete juristas, da mais elevada autoridade moral, e denotável saber jurídico em matéria de direitos humanospara repre-sent9i7arem os países membros da OEA. Possui

Page 3: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

da Organização dos Estados Americanos (OEA), que abordou a temática por meio do Relatório nº 54, de 20013.

A denúncia feita à organização in-ternacional demonstrou a lentidão do processo judicial brasileiro à organização internacional.

Assim, por o Brasil ser signatário de acordos internacionais que tratam da questão dos direitos da mulher e por res-tar demonstrado que houve efetivademo-ra do Poder Judiciário pátrio,na esfera penal, em julgar, tendo em vista que o processo se estendeu por dezenove a-nos para haver uma condenação definiti-va e que essa não foi a contento, uma vez que o agente ficou preso somente dois anos, o Brasil foi compelido a um processo reformatório do sistema legisla-tivo com o fulcro de mitigar o descaso com as situações em que envolviam vio-lência contra a mulher e violência do-méstica. Os direitos humanos e o reconheci-mento dos direitos das mulheres

O primeiro registro que tratou de forma igualitária o direito das mulheres equiparando-o de igual forma ao direito dos homens foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos4, promulgada pe-las Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Entretanto, conforme influenci-as do contexto histórico as mulheres demoraram a gozar da equivalência de

como países membros e signatários Antígua, Bar-buda, Argentina, Bahamas, Barbados, Belize, Bo-lívia,Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Dominica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Granada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá , Paraguai, Peru, Santa Lúcia, São Vicente e Gra-nadinas, São Cristóvão e Nevis, Suriname, Trini-dad e Tobago, Estados Unidos, Uruguai e Vene-zuela. Sua estrutura compreende uma Assembleia Geral,Secretária-geral, Organização Pan-Americana da Saúde, Junta Interamericana de Defesa, Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos (Convenção, Comissão, Corte) e Instituto Interamericano da Criança. 3 Organização Interamericana de Direitos Huma-nos. Relatório anual 2000. Relatório n° 54/01: CA-SO 12.051 MARIA DA PENHA MAIA FERNAN-DES. Brasil, 2001.

4 FRANÇA. Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Paris, França.

direitos, pois não foi algo que ocorreu au-tomaticamente.

Desta forma, apenas no ano de 1993, com a realização da Conferência Mundial de Direitos Humanos, em Viena, os direitos humanos das mulheres foram reconhecidos. É o que se depreende do parágrafo 18, do documento da Declara-ção e Programa de Ação de Viena de19935, vejamos:

"Os direitos humanos das mulhe-res e das meninas são parte inali-enável, integral e indivisível dos di-reitos humanos universais.” Destarte, temos que a Conferência

supracitada reconheceu a violência con-tra a mulher como um espécie de viola-ção dos direitos humanos repercutindo mundialmente a necessidade de preven-ção, punição e erradicação da violência contra o sexo feminino. A Lei 11.340/20066

A Lei Maria da Penha possui em-basamento jurídico na Carta Magna7 de 1988 no artigo 226, §8º e visa coibir a vi-olência doméstica contra a mulher. Foi sancionada em 07 de agosto de 2006 e vigora desde 22 de setembrodo mesmo ano como um marco de prevençãopara o sexo feminino no âmbito de manter a in-tegridade física, moral e a dignidade hu-mana.

A lei Maria da Penha surgiu como resultado da condenação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (O-EA), por negligência e omissão do nosso país com relação aos casos de violência doméstica e familiar.

Desta forma, a lei, ora comentada, prevê políticas públicas diretamente rela-cionadas aos órgãos responsáveis e visa à prevenção e controle repressivo de condutas delitivas contra as mulheres excluindo as penas de pagamento de cestas básicas, de multas e inserindo, como diferencial, a participação obrigató-ria do Ministério Público em todos os

5 AUSTRÁLIA. Declaração e Programa de Ação de Viena (1993). Viena, Austrália.

6 BRASIL. Lei Maria da Penha ( 2006 ). Lei 11.340/2006. Brasília, DF, Senado, 2006.

7 BRASIL. Constituição ( 1988 ). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Se-nado, 1988.

Page 4: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

trâmites cíveis ou penais, e ainda penas maiores. Violência contra a mulher e suas es-pécies

A lei Maria da Penha8, mais es-pecificamente no artigo 7° e seus incisos, prevê cinco espécies de violência contra a mulher, quais sejam:

i) A violência física: É a utili-zação da força, sendo que natu-ralmente a do homem é maior do que a da mulher com intenção de insultar a saúde corporal da vítima; ii) A violência psicológica: Desrespeito ao campo psíquico e emocional da vítima, como por e-xemplo: ameaças, inferiorizar a mulher, coação. iii) A violência sexual: Cons-trangimento que induz a mulher a participar, manter ou ainda a ver relação sexual indesejável; iv) A violência patrimonial: Ofensa aos bens materiais da ví-tima, como por exemplo: Docu-mentos pessoais, bens, valores ou ainda retenção pecuniária; v) A violência moral: É qual-quer conduta verbal que configure calúnia, difamação ou injúria.

É importante mencionar que a vio-

lência contra a mulher pode ocorrer tanto em espaços públicos como privados e que além do previsto na Lei 11.340/2006 há prelecionado no Código Penal que a violência sexual pode ser tipificada nas modalidades física, psicológica ou com ameaça, compreendendo o estupro, a tentativa de estupro, o atentado violento ao pudor e o ato obsceno. A Lei Maria da Penha à luz da Consti-tuição Federal

Antes da promulgação da Carta Magna de 1988 o nosso país assinou e ratificou tratados internacionais se tor-nando signatário de traslados internacio-nais que defendem e apoiam os direitos humanos das mulheres tais como a De-claração Universal de Direitos Humanos de 1948 e a Convenção Contra Todas as Formas de Discriminação Contra a Mu-lher em 1982.

8 BRASIL. Lei Maria da Penha (2006). Brasília, DF, Senado.

Desta forma, a partir da atual Constituição Federal as mulheres alcan-çaram em nosso país direitos humanos e igualitários aos dos homens e atingiram a cidadania plena no tocante ao exercí-cio de direitos civis e políticos básicos.

A Carta Magna vigente, portanto, rompeu com dogmas históricos e que negavam e discriminavam os direitos humanos e sociais das mulheres. Destar-te, depreende-se do caput do artigo 5º o princípio da igualdade que interpretado de forma lacto sensu abrange a condição igualitária entre os sexos, vejamos:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasi-leiros e aos estrangeiros residen-tes no País a inviolabilidade do di-reito à vida, à liberdade, à igualda-de, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)”(Grifei) Não somente nesse dispositivo

constitucional encontra-se embasamento para os direitos humanos das mulheres, mas como também no artigo 1º, III da CF/88, in verbis:

“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indisso-lúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa hu-mana(...);”(Grifei) O princípio da dignidade da pes-

soa humana possui o condão de princí-pio normativo e atrai matérias de todos os direitos e garantias fundamentais a-tingindo-os em todas as dimensões. As-sim, sem o reconhecimento dos direitos humanos e sociais do sexo feminino es-taria se negando a própria dignidade ine-rente às pessoas humanas.

Por fim, é de todo oportuno men-cionar que a Lei Maria da Penha regula-menta o previsto no artigo 226 §8º da Constituição Federal que exige do esta-do “assegurar a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integra-rem, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”. Lei Maria da Penha no STF – ADC 19, ADIN 4424 E HC 106212

O Supremo Tribunal Federal já re-cebeu algumas indagações com relação

Page 5: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

à constitucionalidade da Lei 11.340/06. Dentre elas selecionou-se a Ação Direta de Constitucionalidade 199, Ação Decla-ratória de Inconstitucionalidade 442410 e o Habeas Corpus 10621211 para serem discutidos na presente pesquisa.

A Ação Declaratória de Constitu-cionalidade12 19 que teve como objeto pacificar a constitucionalidade dos arti-gos 1º, 33 e 41 da Lei 11.340/2006, visto que no âmbito nacional estava gerando interpretações diversas foi proposta no ano de 2007 na Suprema Corte Federal.

A sabero inteiro teor dos dispositi-vos objeto da Ação Declaratória de Constitucionalidade são:

“Art. 1º. Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mu-lher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção In-teramericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados inter-nacionais ratificados pela Repúbli-ca Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece me-didas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

9 ADC 19, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/2012, ACÓR-DÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 28-04-2014 PUBLIC 29-04-2014.

10 ADI 4424, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/2012, PROCES-SO ELETRÔNICO DJe-148 DIVULG 31-07-2014 PUBLIC 01-08-2014

11 HC 106212, Relator(a): Min. MARCO AURÉ-LIO, Tribunal Pleno, julgado em 24/03/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-112 DIVULG 10-06-2011 PUBLIC 13-06-2011 RTJ VOL-00219- PP-00521 RT v. 100, n. 910, 2011, p. 307-327

12 A Ação declaratória de constitucionalidade ou

ADC representa uma das formas de exercício do controle de constitucionalidade de modo concen-trado. Assim, propõe-se a ADC com o objetivo de adequar as normas com a Constituição Federal de 1988.

(...) Art. 33. Enquanto não estrutura-dos os Juizados de Violência Do-méstica e Familiar contra a Mu-lher, as varas criminais acumula-rão as competências cível e crimi-nal para conhecer e julgar as cau-sas decorrentes da prática de vio-lência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual perti-nente. Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o jul-gamento das causas referidas no caput. (...) Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independente-mente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de se-tembro de 1995.” A ADC 19 desencadeou vários

debates, o que desencadeou na ne-cessidade da norma ser analisada de forma profunda de modo a gerar gran-de mobilização pública,o que fez pro-longar-se até o ano de 2014 quando fi-cou decidido, por meio de acórdão, de-finitivamente que os dispositivos 1º, 33 e 41 são constitucionais.

Contudo, em 2010 tem-se o regis-tro de quea Procuradoria Geral da Re-pública propôs uma ADIN – Ação Dire-ta de Inconstitucionalidade, de número 4424, solicitando novamente a aprecia-ção pela Suprema Corte sobre a in-constitucionalidade de dispositivos da lei Maria da Penha, quais sejam artigos 12, inciso I, 16, e 41,in verbis:

“Art. 12. Em todos os casos de vio-lência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocor-rência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo da-queles previstos no Código de Processo Penal: I - ouvir a ofendida, lavrar o bole-tim de ocorrência e tomar a repre-sentação a termo, se apresentada; (...) Art. 16. Nas ações penais públi-cas condicionadas à representa-ção da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designa-

Page 6: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

da com tal finalidade, antes do re-cebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. (...) Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independente-mente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de se-tembro de 1995.” A ADIN foi apreciada pelo Supre-

mo e novamente por meio de acórdão ficou consignado no julgamento que é precedente recebendo os artigos re-tromencionados interpretação conforme para “assentar a natureza incondicio-nada da ação penal em caso de crime de lesão corporal, pouco importando a extensão desta, praticado contra a mu-lher no ambiente doméstico (...)”.

Ademais verifica-se o registro da impetração do Habeas Corpus de nú-mero 106212 em março de 2011 que igualmente a ADC 19 questionava a constitucionalidade do dispositivo 41 da Lei 11.340/06 aplicado a um caso con-creto. Assim, de forma célere o remé-dio constitucional foi apreciado pelo STF de forma definitiva antes da deci-são final da ADC. Mas, como decidido na ação de controle o STF se posicio-nou no mesmo sentido de que o artigo 41 da lei é constitucional.

Medidas protetivas de urgência conti-das na lei Maria da Penha

Prevista nos artigos 22, 23 e 24 da Lei Maria da Penha as medidas prote-tivas de urgência dependem de requisi-ção da ofendida e são compreendidas, conforme a letra da lei, entre suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente; afastamento do agressor do lar; domicílio ou local de convivência; proibição das condutas de aproximação da ofendida, dos familiares e das testemunhas, do contato com a ofendida, de freqüentar determinados lugares; restrição ou sus-pensão de visita aos dependentes meno-res, prestação de alimentos provisórios ou provisionais.

Existe a possibilidade do Ministé-rio Público pleitear a adoção de algumas as medidas citadas acima, consoante prevê o artigo 19 da Lei Maria da Penha. Não havendo que se falar em conflito dentro da própria lei, visto que num pri-meiro momento somente a ofendida po-deria requisitar algumas das medidas protetivas e mais adiante, em juízo, o

parquet pode de ofício pugnar pela ado-ção de uma medida de proteção à ofen-dida ou eventuais incapazes, que este-jam envolvidos no contexto fático pro-cessual.

A utilização dos institutos proteti-vos previstos na Lei Maria da Penha não impossibilita aplicação de outras previs-tas na legislação em vigor sempre que for necessário, a disposto no previsto no parágrafo primeiro do artigo 22 da Lei 11.340/2006, que institui a aplicabilidade da norma geral sempre que a segurança da lesada ou as circunstâncias exigirem.

Assim, em caso de descumpri-mento de medida protetiva de urgência que tenha sido determinada aplica-se o parágrafo único do artigo 10 da lei em análise, visto que esse preleciona que “a autoridade policial que tomar conheci-mento da ocorrência adotará, de imedia-to, as providências legais cabíveis”.

Inovações trazidas pela lei

Conforme já exposto a lei Maria da Penha transformou o ordenamento jurí-dico brasileiro no tocante ao respeito aos direitos humanos das mulheres. A par dessa informação verifica-se que houve alteração considerável no tocante a in-vestigação, apuração dos casos de vio-lência e no trâmite processual penal e cí-vel.

Advindo a lei a temática da violên-cia familiar e doméstica contra as mulhe-res teve as seguintes inovações proces-suais:

i) Foi retirada a jurisdição do JECRIM13 previstos na Lei 9.099/95; ii) Houve a criação de juiza-dos especializados que tratam da violência contra a mulher com competência cível e criminal; iii) Proibição de aplicação de penas pecuniárias, tais como o pagamento de cestas básicas; iv) A renúncia da representa-ção somente pode ser feita pelo perante o juiz; v) Há a prisão em flagrante e prisão preventiva do agressor; vi) Redução da pena mínima para 3 meses e aumento da pe-na máxima para 3 anos; vii) Acréscimo de 1/3 de pena aos agressores de mulheres por-tadoras de deficiência;

13

JECRIM – Juizado Especial Criminal

Page 7: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

viii) Há possibilidade de pena de comparecimento obrigatório do agressor a programas de re-cuperação e reeducação; ix) Há a possibilidade de fixa-ção de limite mínimo de distância que o agressor deve manter da vítima e a proibição de qualquer tipo de contato com a vítima, os familiares e as testemunhas. As inovações supracitadas são a

positivação de mecanismos processuais que possibilitam proteção maior a anteri-ormente oferecida às mulheres que po-dem ser adotadas em todas as esferas políticas, tais como no âmbito federal, estadual, distrital e municipal, visto que a lei é federal. O instituto cautelar previsto na legis

As medidas cautelares na Lei Maria da Penha possuem finalidade di-versa das cautelares previstas no artigo 282 do Código de Processo Penal14 e das cautelares previstas no Código de Processo Civil a partir do artigo 796, pois as cautelares elencadas na LMP não são instrumentos para assegurar somente o trâmite do processo.

O instituto cautelar na lei, ora comentada, preserva a instrução crimi-nal, protege o direito de ir e vir e os direi-tos fundamentais da mulher como um to-do, evitando a evasão do acusado.

Assim, as medidas cautelares previstas na Lei 11.340/06 são inomina-das e possuem o condão de coibir a vio-lência no âmbito das relações familiares, como preleciona o dispositivo constitu-cional 226 em seu parágrafo 8º.

O instituto cautelar ordinário, no entanto, necessita da instauração de um processo principal, o que diferencia a cautelar da Lei 11.340/06 das demais medidas cautelares processuais. Como por exemplo, podemos citar as cautela-res civilistas que podem ser requeridas e concedidas antes do processo principal, sendo concedida à parte requerente trin-ta dias para a propositura da ação cogni-tiva e ainda divergem igualmente das cautelares penais, pois em nada se as-semelham com busca e apreensão, in-terceptação telefônica, prisão temporária,

14 BRASIL. Código de Processo Penal – Decreto Lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941 – Edição federal. Rio de Janeiro, 1941.

etc que são espécies de cautelares cri-minais. As cautelares tuteladas pela Lei Maria da Penha podem ser concedidas de ofício, o que da mesma forma difere das cautela-res criminais tradicionais e se encontram previstas nos artigos 22,23 e 24 da Lei, ora estudada. Prisão preventiva

Conforme essa modalidade de prisão surge como garantidora da execu-ção das medidas protetivas e original-mente já era utilizada no processo penal, como asseguradora do curso do proces-so principal, que pode ser frustrado com a liberdade do agressor.

Possui previsão expressa na Lei 11.340/2006, no artigo 42, que altera o artigo 313 do Código de Processo Penal, onde é determinado que deve ser institu-ída a prisão preventiva “se o crime en-volver violência doméstica e familiar con-tra a mulher, nos termos da lei específi-ca, para garantir a execução das medi-das protetivas de urgência”.

GuilhermeNucci15 nos assevera quanto a esse tema:

“(...) fundamental muita cautela para tomar essa medida. Há deli-tos incompatíveis com a decreta-ção de prisão preventiva. Ilus-trando: A lesão corporal possui pena a ser aplicada, no futuro, seria insuficiente para ‘cobrir’ o tempo de prisão cautelar (apli-cando-se, naturalmente, a decre-tação, conforme artigo 42 do CP). Leve-se em conta, inclusi-ve, para essa ponderação, que vigora no Brasil a chamada ‘polí-tica da pena mínima’, vale dizer, os juízes, raramente, aplicam pena acima do piso e, quando o fazem, é uma elevação ínfima, bem distante do máximo”.

É de todo oportuno, igualmente,

mencionar que a Lei 12.403/11 introduziu nova redação ao artigo 282,§2º do Códi-go de Processo Penal instituindo que du-rante o desenrolar do inquérito policial não é mais possível a decretação de ofí-cio do magistrado de alguma medida cautelar, como a prisão preventiva, sen-

15 NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais comentadas. 4.ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

Page 8: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

do de postulação a partir daí da autori-dade policial, por meio de representação, ou do Ministério Público, mediante re-querimento.

A inovação descrita acima tem incidência direta na Lei aqui estudada, pois a primeira parte do artigo 20 elenca-va a possibilidade do juiz decretar a pri-são preventiva de ofício, na fase inquisi-tiva, o que visa prevenir medidas de ca-ráter persecutório.

A impossibilidade da transação penal e da suspensão condicional do pro-cesso

A Lei Maria da Penha, em seu artigo 41, instituiu expressamente que a Lei 9.099/9516 não se aplica aos crimes praticados com violência familiar, domés-tica e contra a mulher, independente-mente da pena prelecionada na legis. Dessa forma, não se aplica os institutos que retiram o cumprimento de pena, quais sejam transação penal e suspen-são condicional do processo, entre ou-tros.

A propósito, o poder jurisdicional entende nessa mesma linha de raciocí-nio, vejamos julgado do Superior Tribu-nal de Justiça corroborando com o aqui exposto:

“CRIMINAL. HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. SUS-PENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. LEI MARIA DA PENHA. INAPLICABILIDADE DA LEI Nº 9.099/95. CONSTRAN-GIMENTO ILEGAL NÃO EVI-DENCIADO. EXAURIMENTO DE TODOS OS ARGUMENTOS DA DEFESA. NÃO OBRIGATORIE-DADE. ORDEM DENEGADA. I - Oart. 41 da Lei 11.340/06 - Lei Maria da Penha - dispõe que, aos crimes praticados com vi-olência doméstica e familiar contra a mulher, independen-temente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099/95, o que acarreta a impossibilidade de aplicação dos institutos despenalizadores nesta previs-tos, quais sejam, acordo civil, transação penal e suspensão

16 BRASIL. Lei 9.099 (1995). Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, DF, Senado, 1995.

condicional do processo. Pre-cedentes.(...).”(Grifo nosso)17

Assim, verifica-se que a jurispru-

dência da Corte Superior de Justiça utili-za-se do artigo 41 enxugando tudo o que considera como inequívoco excesso da lei penal, de modo a atender o princípio da proporcionalidade, visto que fugiria da essência da Lei Maria da Penha conce-der transação penal e suspensão condi-cional do processo em detrimento da preocupação principal que é a de tutelar os interesses da mulher agredida.

Afastabilidade da Lei 9.099/95

A vedação da Lei 9.099/95 que afasta transação penal e a suspensão condicional do processo tem o fulcro de afastar um tratamento tenro aos crimes elencados na Lei Maria da Penha, uma vez que o JECRIM trabalha com espé-cies de respostas penais mais brandas.

Sobre esse tema o Superior Tri-bunal de Justiça já debateu adotando o mesmo posicionamento aqui explicitado, in verbis:

“A família é a base da sociedade e tem a especial proteção do Es-tado; a assistência á família será feita na pessoa de cada um dos que a integram, criando meca-nismos para coibir a violência no âmbito de suas relações (Inteli-gência do artigo 226 da Constitu-ição da República). As famílias que se erigem em meio à vio-lência não possuem condições de ser base de apoio e desen-volvimento para os seus membros, os filhos daí advin-dos dificilmente terão condi-ções de conviverem sadiamen-te em sociedade, daí a preocu-pação do Estado em proteger especialmente essa institui-ção, criando mecanismos, co-mo a Lei Maria da Penha, para tal desiderato. Não se aplica aos crimes praticados contra a mulher no âmbito doméstico e familiar, a Lei 9.099/1995 (Arti-go 41 da Lei 11.340/2006)”(Grifo nosso)

17 HC 180.821/MS, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 22/03/2011, DJe 04/04/2011

Page 9: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

(Superior Tribunal de Justiça, rel. Min. Jane Silva, RT 893/505) Portanto, depreende-se do ex-

posto que o Juizado Especial Criminal é expressamente impossibilitado de julgar os crimes de violência contra a mulher e violência doméstica, visto que essas es-pécies de condutas devem ser punidas de forma mais severa, não sendo possí-vel em hipótese alguma a utilização de alguns institutos previstos na Lei 9.099/95.

Atuação do Ministério Público

Há dispositivo na Lei Maria da Penha, artigo 25 e 26, demonstrando que o Ministério Público intervirá nas causas cíveis e penais quando estas de-correrem de violência contra a mulher e doméstica, desde que não seja parte no processo. Dessa forma, o parquet tem participação integral, podendo ser parte ou ainda fiscal da lei, intervindo quando necessário, podendo requisitar a atuação da policia, e a colaboração de servidores públicos, tudo para que se alcance o ob-jetivo essencial da lei, proteger a mulher.

É importante registrar que a atu-ação ministerial é obrigatória nas causas que tramitarem perante o Juizado de Vio-lência Doméstica e Familiar contra a mu-lher, pouco importando se a ação é da esfera cível ou penal.

Outro detalhe curioso é o de que o promotor de justiça não fica adstrito às acusações da parte assistida, nos casos de participação nas ações de separação judicial perante a Vara de Família, por exemplo, mesmo sendo a parte assistida hipossuficiente, o parquet possui liberda-de de opinião, podendo haver posicio-namento contrário ao da parte assistida.

Dessa forma, podemos verificar que o Ministério Público estará presente de forma integral nos procedimentos ju-diciais oriundos da Lei 11.340/2006, a-gindo como fiscal da lei, fiscal de entida-des de atendimento, efetuando cadastros de violência doméstica e familiar contra a mulher e ainda podendo requisitar força policial e de serviços públicos. Tudo co-mo medida de asseguramento da efetiva tutela do Estado. Assistência judiciária e equipe de a-tendimento multidisciplinar à mulher

A assistência judiciária, conforme preleciona os artigos 27 e 28 da Lei aqui estudada, é disponibilizada em todos os atos processuais, tanto cíveis quanto

criminais, é garantido a assistência de advogado quanto da Defensoria Pública, pois é sabido que o advogado é obrigado a aceitar a nomeação feita pelo juiz, sob pena de infração disciplinar.

Igualmente, o atendimento multi-disciplinar é elencado na letra da lei, do artigo 29 ao 32, que garante equipe de atendimento em várias áreas, sendo a assistência composta por psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, advoga-dos e médicos. Todos com o fulcro de buscar a justiça e a compensação da vio-lência já suportada pela vítima. Inteligência da lei em casos concretos – Jurisdição quanto a pontos especí-ficos previsto na Lei 11.340/2006 - Finalidade protetiva da Lei

“Admite-se o sujeito ativo seja tanto quanto mulher, bastando a existência de relação familiar ou de afetividade, não importando o gênero do agressor, já que a norma visa tão somente á re-pressão e prevenção da violên-cia doméstica contra a mulher. Quanto ao sujeito passivo abar-cado pela lei, exige-se uma qua-lidade especial; Ser mulher, compreendidas como tal as lés-bicas, os transgêneros, as tran-sexuais e as travestis, que te-nham identidade com o sexo fe-minino (...)”18

- Aplicação da Lei Maria da Penha na espécie de violência apenas psicológica

"No caso concreto o denunciado tinha vivido apenas maritalmente com a vítima durante dez meses, e já estavam separados há dois. Ele, então, começou a intimidá-la, dizendo que se não ficasse com ele não ficaria com mais ninguém. (...) A hipótese se en-quadra perfeitamente no artigo 7º, II, da Lei 11.340/2006 (...)” 19

- Competência no julgamento de crime contra a vida

18 TJMG, HC 1.0000.09.513119-9/000, rel. Júlio Cezar Gutierrez j. 24.02.2010.

19 TJSP, Proc. 002.06.008056-8P, Protocolado 21.361/07, Comarca da Capital, art. 28 do CPP, DOE 13.03.2007.

Page 10: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

“Ressalvada a competência do Júri para o julgamento do crime doloso contra a vida, seu prcessamento, até a fase de prnúncia, poderá ser pelo Juizado (...)” 20

- Competência recursal

“Compete ao Tribunal de Justça, e não à Turma Recursal, julgar recurso de apelação avado contra decisão do Juizado de Violência Doméstica”

Ação Penal na Lei Maria da Penha

Anteriormente à criação da Lei Maria da Penha o impulsionamentoação penal em desfavor do agressor crecia de manifestação de vontade da vtima, por esse motivo vários processos ficavam sobrestados, uma vez que a ntureza da ação era pública condicionada à representação da ofendida.

Contudo, após o advindo da Lei em comento a ação penal passou a ser pública incondicionada à representação. Assim, qualquer pessoa e não mais apnas a mulher, vítima da violência domética, pode comunicar a agressão à polcia, podendo, inclusive, o cer denúncia contra o agrcontra a vontade da mulher.

Outra mudança legislativa após a criação da Lei 11.340/06 foi a afastabildade da incidência da lei 9.099/95, epressamente por meio do artigo 41, nos crimes praticados com violência domética e familiar contra a mulher.

Consequentemente, à inviabilidde da incidência da lei que rege os juizdos especiais na medida em que a Lei, objeto do presente trabalho, afastou a icidência daquela lei de forma automática retornou-se à situação anterior, qual seja a desnecessidade de representação para os delitos de lesão corporal levesos que se amoldam ao de violência dméstica e contra a mulher.

Análise de dados estatísticos

20 STJ, HC 73.161/SC, rel. Min. Convocada Jane Silva, j. 29.08.2007, p. 317.

21 STJ, CC 111905/RJ, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 23.06.2010, DJe 02.08.2010.

“Ressalvada a competência do Júri para o julgamento do crime doloso contra a vida, seu pro-cessamento, até a fase de pro-núncia, poderá ser pelo Juizado

ao Tribunal de Justi-ça, e não à Turma Recursal, julgar recurso de apelação avi-ado contra decisão do Juizado de Violência Doméstica”21

Ação Penal na Lei Maria da Penha

Anteriormente à criação da Lei Maria da Penha o impulsionamento da ação penal em desfavor do agressor ca-recia de manifestação de vontade da ví-tima, por esse motivo vários processos ficavam sobrestados, uma vez que a na-tureza da ação era pública condicionada à representação da ofendida.

Contudo, após o advindo da Lei em comento a ação penal passou a ser pública incondicionada à representação. Assim, qualquer pessoa e não mais ape-nas a mulher, vítima da violência domés-tica, pode comunicar a agressão à polí-cia, podendo, inclusive, o Parquet ofere-

contra o agressor mesmo contra a vontade da mulher.

Outra mudança legislativa após a criação da Lei 11.340/06 foi a afastabili-

ei 9.099/95, ex-pressamente por meio do artigo 41, nos crimes praticados com violência domés-

mulher. Consequentemente, à inviabilida-

de da incidência da lei que rege os juiza-dos especiais na medida em que a Lei, objeto do presente trabalho, afastou a in-cidência daquela lei de forma automática

se à situação anterior, qual seja ade de representação para

os delitos de lesão corporal leve nos ca-sos que se amoldam ao de violência do-

.

ados estatísticos

STJ, HC 73.161/SC, rel. Min. Convocada Jane

STJ, CC 111905/RJ, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 23.06.2010, DJe 02.08.2010.

33,31

9,57

5,687

Frequência da

(Fonte: Conselho

www. compromissoeatitude

dos dados: De Janeiro

43,85

da agressão

Conselho Nacional de Justiça - Site

compromissoeatitude.org.br - Data

Janeiro a Junho de 2014)

Ocorre

todos os

dias

Ocorre

algumas

vezes na

semana

Ocorre

algumas

vezes no

decorrer do

mês

Ocorreu

uma vez

Demais

Page 11: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

78,39

3,51

2,6312,27

Iniciativa das denúncias

(Fonte: Conselho Nacional de

www. compromissoeatitude

dos dados: De Janeiro a dezembro

divulgados dia 20 de junho de

denúncias

de Justiça - Site

compromissoeatitude.org.br - Data

dezembro de 2013,

de 2014)

Vítima

Vizinho

Mãe

Demais

variáveis

12,956,54 0,26

Relação entre

(Fonte: Conselho

www. compromissoeatitude

dados: Balanço

de 2014)

80,26

0,26

entre vítima e agressor -

Conselho Nacional de Justiça - Site

compromissoeatitude.org.br - Data dos

de 2013, publicado em março

Relações

afetivas

Relações

familiares

Relações

externas

Relações

homoafetiva

s

Page 12: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

52

13

17

126

Divulgação do Disque

180

(Fonte: Conselho Nacional

www. compromissoeatitude

dados: Balanço de 2013

fevereiro de 2014)

Disque Denúncia nº

Nacional de Justiça - Site

compromissoeatitude.org.br - Data dos

2013, publicado em

Mídia

Campanha

de

divulgação

Serviços

públicos

Conhecidos

Outros

12%

15%

6%

18%

5% 3%

2% 3%

0%

Faixa etária das vítimas Lei Maria da

Penha

(Fonte: Polícia Civil do Distrito Federal

dados: De 2009 a 05 de março de 2014)

12%

18%

18%

Faixa etária das vítimas Lei Maria da

Penha - 2013

(Fonte: Polícia Civil do Distrito Federal - Data dos

dados: De 2009 a 05 de março de 2014)

Menor de 18

18 a 24

25 a 30

31 a 35

36 a 40

41 a 45

46 a 50

51 a 55

56 a 60

Maior de 60

Não

informado

Page 13: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

9,666

11,063

11,815

12,653

14,646

0

2

4

6

8

10

12

14

16

20092010201120122013

Lei Maria da Penha - Série histórica das

ocorrências registradas no Lei 11.340/2006

(Fonte: Polícia Civil do Distrito Federal

dados: De 2009 a 05 de março de 2014)

12,653

14,646

2013

Série histórica das

ocorrências registradas no Lei 11.340/2006

(Fonte: Polícia Civil do Distrito Federal - Data dos

dados: De 2009 a 05 de março de 2014)

Lei Maria da

Penha - Série

histórica

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

9.666

11.063

11.815

12.653

Ocorrências registradas no DF à Lei

11.340/2006 - Série histórica

(Fonte: Polícia Civil do Distrito Federal

dos dados: De 2009 a 05 de março de 2014)

11.815

12.653

14.646

Ocorrências registradas no DF à Lei

Série histórica - 5 anos

(Fonte: Polícia Civil do Distrito Federal - Data

dos dados: De 2009 a 05 de março de 2014)

Ocorrências

registradas

no DF à Lei

11.340/2006

- Série

histórica - 5

anos

Page 14: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

0

100

200

300

400

500

600

700

800

744

600

764

630

Naturezas relacionadas à Lei 11.340/2006

Penha

(Fonte

de 2013

368

210

60

407

261

68

Naturezas relacionadas à Lei 11.340/2006 - Lei Maria da

Penha - Comparativo mensal de Janeiro e Fevereiro de

2013/2014

(Fonte: Polícia Civil do Distrito Federal - Data dos dados: Janeiro e Fevereiro

2013/2014)

jan/13

fev/13

jan/14

fev/14

Lei Maria da

Comparativo mensal de Janeiro e Fevereiro de

Fevereiro

Page 15: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

0

1.200 1.210

1.400

1.215 1.213 1.1901.150

1.200 1.195 1.185

1.100 1.110

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

Ocorrências registradas em 2013 no DF

(Fonte: Polícia Civil do Distrito Federal - Data dos dados: De 2009 a 05 de março de 2014)

Ocorrências registradas em 2013 no DF

Page 16: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

Comparando os dados estatísticos com dados anteriores

Para se comparar a diferença en-tre os dados colhidos apresentados no tópico passado com o ano anterior anali-sou-se os dados trazidos pelo Conselho Nacional de Justiça no site Compromisso e Atitude.

Pois bem, no que se refere a fre-quência das agressões, no ano de 2013, anterior ao apresentado, tem-se que o questionário de vitimização aponta que no Brasil 0,26% da população feminina sofre violência sexual, o que indica que há anualmente 527 mil tentativas ou ca-sos de estupros consumados no país, dos quais 10% somente são reportados à polícia.

Sobre os dados estatísticos das denúncias encontra-se na fonte a infor-mação de que no primeiro semestre de 2012, foram registrados 388,9 mil aten-dimentos, dos quais 56,6% (47,5 mil) fo-ram relatos de violência física. A violên-cia psicológica aparece em 27,2% (12,9 mil) dos registros no período. Foram 5,7 mil chamadas relacionadas à violência moral (12%), 915 sexual (2%) e 750 pa-trimonial (1%). Os dados revelam ainda que em 66% dos casos os filhos presen-ciam as agressões contra as mães.

No tocante a relação entre vítima e agressor, terceiro gráfico estatístico a-presentado, foi constatada uma queda no total de ligações em 2013, por falta de uma campanha massiva e esgotamento do sistema frente à demanda. Do total de 106.860 encaminhamentos para a rede de atendimento, 62% foram direcionados ao sistema de segurança e justiça.

Quanto a divulgação do disque denuncia nº 180 a pesquisa em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, revela que 98% da população brasileira já ouviu falar na Lei Maria da Penha e que 70% consideram que a mulher sofre mais violência dentro de casa do que em espaços públicos no Brasil.

O gráfico que elenca a faixa etária das vítimas demonstra que a idade em que mais ocorre a violência doméstica contra as mulheres é entre 25 a 30 anos, que é quando há maiores índices de gra-videz precoce, dependência econômica do provedor. A contrário senso, conforme a faixa etária das vítimas aumenta os fa-tores sociais das mulheres melhoram, devido a estrutura familiar de suporte à mulher, o que acarreta um índice consi-deravelmente menor de violência.

Perfil dos agressores

O agressor é na maioria absoluta das vezes o homem, que manteve ou mantém relação afetiva íntima com a ví-tima podendo ser dos mais variados temperamentos, desde os homens mais sérios e cultos aos menos favorecidos e desprovidos de intitulações acadêmicas.

Conforme CPI-RQN 422, realizada pelo Congresso Nacional apurou-se queos agressores são filhos de pais ex-cessivamente autoritários e que eles próprios foram vítimas de violência física na infância.

Todavia, não se pode precisar um perfil específico de agressores, visto que os dados variam muito a depender do estado federado ou ainda o ano pesqui-sado. Possibilidade de ressocialização dos agressores

Pouco é divulgado e trabalhado sobre a ressocialização no Brasil. No to-cante a ressocialização dos agentes que cometeram crime de violência doméstica e contra a mulher há poucos registros para serem trazidos e comentados no presente artigo.

Contudo, é possível o acesso ao estudo realizado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná, que possui em suas dependênciasum Núcleo de assistência a Violência Do-méstica e Familiar contra a Mulher que se pode afirmar que as cominações de pena, ainda que suportadas pelo agente, não evitam a ocorrência da reincidência no crime de violência doméstica.

O trabalho divulgado pela Uni-versidade citada acima aponta que além dos mecanismos coercitivos restritivos de liberdade se faz necessário acompa-nhamento psíquico e social que vise a igualdade de gênero após ser concedida a liberdade, com a intenção de haver efetiva mudança na conduta dos agen-tes. Sugestões de melhora

Como sugestão, preventiva,

pode ser indicado que na educação das

22 BRASIL. RQN (2011). COMISSÃO PARLA-MENTAR DE INQUÉRITO. Violência contra a mu-lher, Brasília, DF, Senado.

Page 17: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

crianças, tanto pública quanto privada, seja introduzida na disciplina de Ciências Sociais a importância do respeito aos familiares e da fragilidade da mulher comparada a força corporal do homem, sendo didaticamente apresentado ver-tentes da lei Maria da Penha com ilustra-ções para o público infantil, e que seja in-troduzida desde os 8 (oito) anos de ida-de, pois o ser humano nessa faixa etária está aberto a receber informações novas e suscetível de aprendizagem.

Como forma de auxílio estatal, após a ocorrência da violência, que seja aumentado o número de coordenadorias, varas e juizados especializados, visto que a quantidade existente atualmente se revela insuficiente.

Do mesmo modo, seria impor-tante acompanhamento com visitas à família que suportou esse tipo de condu-ta agressiva, com o auxílio de psicólogos e assistentes sociais, para verificar se efetivamente houve a ressocialização do agressor e garantir o em estar da vítima. Discussão

Verificou-se no presente Traba-lho de Conclusão de Curso que após a promulgação da Lei Maria da Penha as mulheres brasileiras estão mais consci-entes dos seus direitos inerentes ao bem estar na relação doméstica.

Nesse diapasão se infere que o resultado prático da Lei Maria da Penha tem gerado grande impacto social, uma vez que as mulheres estão mais esclare-cidas quanto ao que é violência domésti-ca, nas suas várias espécies, quais se-jam física, psicológica, moral, sexual e patrimonial. Por isso, têm mais determi-nação para buscar a delegacia de aten-dimento à mulher e representar o abuso suportado dentro da relação afetiva.

Assim é que se verifica o des-linde da problemática aqui estudada no sentido de que houve grande impacto social a introdução da Lei 11.340/06 no Brasil de modo a proteger as mulheres de violência, antes desconhecida pelas próprias vítimas.

No estudo apurou-se que os números de ocorrências registradas nas delegacias têm aumentado o que repre-senta um ganho considerável, tendo em vista que as mulheres estão denuncian-do por se sentirem encorajadas, cada dia mais. Assim, importa observar que a pesquisa aqui realizada não se tratou de uma verificação quantitativa de deman-da, mas uma pesquisa qualitativa no que

concerne ao aumento do número de de-núncia.

Contrastando os dados obtidos de casos concretos com o previsto na doutrina jurídica tem-se que esses não destoam daqueles, havendo uma sinto-nia com o exposto na literatura pesqui-sada e no resultado prático.

Os dados colhidos de melhora do quadro de violência à mulher com o advindo da lei são satisfatório, visto que o Estado promove uma estrutura dife-renciada para o atendimento à mulher a partir de então, o que antes não havia, e tudo para o atendimento eficiente e hu-manizado ao combate à violência do-méstica.

Sabe-se que ainda com toda a base de dados colhidas o presente estu-do é limitado somente aos elementos documentados e publicados, não haven-do que se falar, portanto, em perfeição do aqui demonstrado, somente uma a-proximação do que acontece corriquei-ramente com a análise das estatísticas registradas.

A real intenção da pesquisa é contribuir para a área social de forma a expor os avanços que já estão sendo conquistados com a introdução da Lei Maria da Penha no ordenamento jurídico brasileiro, o que pode impulsionar mais estudos sobre o tema aqui explanado de forma a aprimorar cada vez mais a pes-quisa na área. Conclusão

Após o desenvolvimento do trabalho desde o conhecimento do pro-cesso de Maria da Penha Maia Fernan-des com a sua repercussão internacio-nal, que gerou considerável alteração do tratamento de casos análogos no Brasil, restou claro que o quadro a nível nacio-nal teve avanços e avanços considerá-veis, pode se dizer que a lei foi um mar-co na historia da violência domestica no Brasil.

A crença na contribuição da lei, tanto por parte dos homens quanto por parte das mulheres, faz com o que esta positivado na lei seja aplicado à prática, haja vista que, conforme demonstrado estatisticamente, os números de repre-sentação ante a polícia especializada só aumentam, o que demonstra que a lei tem uma aplicabilidade prática positiva.

Foi apurado que a Lei Maria da Penha introduziu no Brasil suporte no combate à violência contra a mulher an-tes jamais visto no país. Por isso, a mu-lher tem mais respaldo estatal e possui

Page 18: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

profissionais que podem auxiliá-la no momento em que se encontra mais fragi-lizada.

Anteriormente, a conduta dos agressores quedava impune, visto que, conforme demonstrado, o processo judi-cial demorava anos para que fosse deci-dido definitivamente e o cumprimento de pena era ínfimo.

Houve também o aumento das denúncias por parte das próprias vítimas, o que ocorreu por meio do disque de-núncia 180, que é um número de aten-dimento exclusivo à mulher, demons-trando a efetiva funcionabilidade da Lei na prática, pois uma simples ligação po-de inibir o comportamento do compa-nheiro e deixar a vítima mais segura.

Observou-se, igualmente, que com a introdução da Lei no ordenamento jurídico pátrio houve a redução do femi-nicídio, em casos de violência doméstica, conforme se depreende do gráfico apre-sentado pelo IPEA - Instituto de Pesqui-sa Econômica Aplicada.

Da mesma forma, verifica-se que as representações das ofendidas an-te a delegacia com dados registrados do ano de 2009 a 2013 por meio de gráfico aqui colacionado têm crescido ano após ano, o que é uma característica positiva.

Pesquisas recentes retiradas do site Compromisso e Atitude demons-tram que a representação das vítimas com reclamação de agressão física entre os meses de janeiro a junho de 2014 o-correm todos os dias, na maior parte dos apontamentos e são causadas por pes-soas em que a ofendida possui relação afetiva íntima com o agente.

Diante disso, conclui-se que o objetivo central do trabalho foi realizado de forma que foram levantados os dados relativos à frequência de agressões, ini-ciativa das denúncias e de ocorrências registradas.

Ademais, apurou-se que a Lei Maria da Penha vem sendo referencia no cenário jurídico e na sociedade como um todo, visto que, quanto mais a lei é co-nhecida pela população, como consectá-rio lógico, mais aumentam as denúncias.

Conforme já mencionado ante-riormente e frisado agora o crescimento das denúncias é de grande valia, pois demonstra a contribuição da lei com a busca da mulher aos órgãos da Adminis-tração Pública, tendo em vista que so-mente a denuncia, a protege de continu-ar sofrendo violência, bastando para que seja sanada a violência suportada ante-riormente.

Portanto, infere-se do presente estudo que a lei tem sido cada vez mais eficaz para a finalidade que foi criada, tendo em vista que a segurança da mu-lher cresceu consideravelmente, pois as vítimas de violência doméstica, ao con-trário do cenário anterior à criação da lei, têm sido cada vez mais beneficiadas pe-lo tratamento diferenciado que lhe é con-cedido após o ano de 2006, com a en-trada em vigor da lei 11.340:06, popu-larmente conhecida como lei Maria da Penha Agradecimentos

Agradeço a Deus por me dar forca e sabedoria para concluir com êxito este curso de Direito.

Agradeço a professora Kênia, pela atenção, paciência, carinho e dedicação com que me orientou com muita destre-za, competência, e profissionalismo, fun-damental para a conclusão deste traba-lho.

Referências

1- ADC 19, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 28-04-2014 PUBLIC 29-04-2014.

2- ADI 4424, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-148 DIVULG 31-07-2014 PUBLIC 01-08-2014

3- AUSTRÁLIA. Declaração e Programa de Ação de Viena (1993). Viena, Austrália.

4- AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli de; CELMER, Elisa Girotti. Violência de Gênero, produção legislati-va e discurso punitivo uma análise da Lei nº 11.340/2006. Boletim IBCCRIM, São Paulo, n. 170, jan. 2007

Page 19: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

5- BERVIAN. PA, Cervo AL. Metodologia Científica. 5ª Edição. São Paulo: Pretice Hall, 2006.

6- BOLÍVIA. Estatuto da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (1979). La Paz, Bolívia, 1979.

7- BRASIL. Código de Processo Penal – Decreto Lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941 – Edição fe-

deral. Rio de Janeiro, 1941.

8- BRASIL. Constituição ( 1988 ). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Sena-do, 1988.

9- BRASIL. Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. RELATÓRIO FINAL. Senado Federal. Brasília. 2013. Disponível em: <www.compromissoeatitude.org.br/wp-content/uploads/2013/07/CPMI_RelatorioFinal_julho2013.pdf>. Acesso em 31 mar 2014.

10- BRASIL. Lei 9.099 (1995). Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, DF, Senado, 1995.

11- BRASIL. Lei Maria da Penha (2006). Brasília, DF, Senado.

12- BRITO, Fernando Célio. Notas e reflexões sobre a Lei nº 11.340/2006, que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1146.

13- CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/sistemas/sistema-de-estatistica-do-poder-judiciario-siespj<20/10/2014>

14- CUNHA. Rogério Sanches; PINTO Ronaldo Batista. Violência Doméstica: Lei Maria Da Penha (Lei 11.340/06) Comentada Artigo Por Artigo. Revista dos Tribunais. 3ª Edição: revisada, atualizada e ampliada. São Paulo, 2011.

15- DAMASIO, Jesus. Código de Processo Penal Anotado. 24 ª Edição. Editora: Saraiva. São Paulo, 2010.

16- DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.GOMES, Luiz Flávio; BIANCHINI, Alice. Aspectos Criminais da Lei de Violência contra a Mulher. Jus Navegandi, Teresina, ano 10, n. 1169, 13 set. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/ doutrina/texto.asp?id=8916>. Acesso em: 25 de maio de 2014.

17- FRANÇA. Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Paris, França.

18- HERMANN, Leda Maria. Maria da Penha com nome mulher: considerações à Lei nº 11.340/2006: contra violência doméstica e familiar, incluindo comentários artigo por artigo. Campinas:Servanda, 2007.

19- HC 106212, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 24/03/2011, PRO-CESSO ELETRÔNICO DJe-112 DIVULG 10-06-2011 PUBLIC 13-06-2011 RTJ VOL-00219- PP-00521 RT v. 100, n. 910, 2011, p. 307-327

20- HC 180.821/MS, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 22/03/2011, DJe 04/04/2011

21- INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA DO BRASIL http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&id=19873<Acesso em 19/10/2014>

22- KARAM. Maria Lúcia. Violência de Gênero: O Paradoxal entusiasmo pelo rigor penal. Boletim IBCCRIM, São Paulo, v. 14, n. 168, nov. 2006.

23- MELLO, Adriana Ramos de (Org.). Comentários à Lei de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.

Page 20: O RESULTADO PRÁTICO DA LEI 11.340/2006nippromove.hospedagemdesites.ws/anais_simposio/arquivos... · 2015-06-02 · um dos órgãos do Sistema Americano dos res-ponsáveis pela promoção

24- NOGUEIRA, Fernando Célio de Brito. Notas e reflexões sobre a Lei nº 11.340/2006, que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1146.

25- NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais comentadas. 4.ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

26- NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentada. Revista dos Tribunais. 5ª Edição: revisada, atualizada e ampliada. São Paulo, 2010.

27- ORGANIZAÇÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Relatório anual 2000. Relatório n° 54/01: CASO 12.051 MARIA DA PENHA MAIA FERNANDES. Brasil, 2001.

28- PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei 11.340/06: aná-lise crítica e sistêmica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

29- SITE DE ESTATÍSTICAS NACINONAIS – Conselho Nacional de Justiça http://www.compromissoeatitude.org.br/sobre/decisoes-de-outros-tribunais/<Acesso em 21/04/2014>

30- SITE DE PESQUISAS ACADÊMICAS http://oprocesso.com/2012/04/11/especial-lei-maria-da-penha-na-jurisprudencia-do-stf-e-stj/<Acesso em 21/04/2014>

31- STJ, CC 111905/RJ, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 23.06.2010, DJe 02.08.2010.

32- STJ, HC 73.161/SC, rel. Min. Convocada Jane Silva, j. 29.08.2007, p. 317.

33- TJMG, HC 1.0000.09.513119-9/000, rel. Júlio Cezar Gutierrez j. 24.02.2010.

34- TJSP, Proc. 002.06.008056-8P, Protocolado 21.361/07, Comarca da Capital, art. 28 do CPP, DOE 13.03.2007.