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O SENSACIONALISMO NO JORNALISMO DIGITAL: uma análise do site Plantão Policial 1 Paula Roberta Santana Rocha 2 Márcia Mariano Raduan Caetano 3 RESUMO Nos últimos anos, o jornalismo praticado na internet vem crescendo e se expandindo vertiginosamente, graças à sua componente tecnológica como fator fundamental, além da hipertextualidade, multimidialidade, instantaneidade e tempo real como principais características. Dessa forma, é possível perceber que alguns veículos tradicionais de prática sensacionalista estão utilizando-se das potencialidades da nova mídia, para manterem esse tipo de conteúdo na web. Isto é o que acontece com o objeto de estudo deste trabalho, o site “Plantão Policial”. O presente artigo objetivou analisar a atuação do sensacionalismo no jornalismo digital, através de um estudo de caso do site “Plantão Policial”, que é uma versão online da editoria de polícia do jornal impresso Gazeta do Sudoeste. O site, apesar da transformação pela qual passou a cobertura jornalística de crimes e violência, exibe fotografias de cadáveres e outras imagens que chocam, sempre no estilo, quanto mais sangue, melhor. Palavras-chave: Sensacionalismo. Jornalismo digital. Internet. 1. Introdução Diante do cenário midiático atual pelo qual estamos inseridos, os meios de comunicação vivenciam uma nova fase, denominada digital, por consequência das novas tecnologias de comunicação e informação. A internet, introduzida massivamente no final do século XX e começo do século XXI, mudou radicalmente o universo do jornalismo. Vários são os nomes dados a esse novo tipo de jornalismo: webjornalismo, jornalismo digital, jornalismo online ou ciberjornalismo. Todos os nomes possuem a mesma acepção. 1 Artigo resultante de Trabalho de Conclusão de Curso (Comunicação Social – Jornalismo). 2 Jornalista, graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelo Instituto de Ensino Superior de Rio Verde (Faculdade Objetivo) e mestranda em Comunicação, área de concentração Comunicação, Cultura e Cidadania pela UFG (Universidade Federal de Goiás). E-mail: [email protected]. 3 Orientadora, Graduada em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), especialista em Artes Cênicas (USC) e mestre em Comunicação Midiática (UNESP). Coordena o Programa de Iniciação Científica dos cursos de Comunicação Social (INICIACCOM) do IESRIVER/Faculdade Objetivo realizado de agosto de 2009 a dezembro de 2011. E-mail: [email protected].

O SENSACIONALISMO NO JORNALISMO DIGITAL: uma análise do

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Page 1: O SENSACIONALISMO NO JORNALISMO DIGITAL: uma análise do

O SENSACIONALISMO NO JORNALISMO DIGITAL: uma análise do site Plantão Policial1

Paula Roberta Santana Rocha2

Márcia Mariano Raduan Caetano3

RESUMO Nos últimos anos, o jornalismo praticado na internet vem crescendo e se expandindo vertiginosamente, graças à sua componente tecnológica como fator fundamental, além da hipertextualidade, multimidialidade, instantaneidade e tempo real como principais características. Dessa forma, é possível perceber que alguns veículos tradicionais de prática sensacionalista estão utilizando-se das potencialidades da nova mídia, para manterem esse tipo de conteúdo na web. Isto é o que acontece com o objeto de estudo deste trabalho, o site “Plantão Policial”. O presente artigo objetivou analisar a atuação do sensacionalismo no jornalismo digital, através de um estudo de caso do site “Plantão Policial”, que é uma versão online da editoria de polícia do jornal impresso Gazeta do Sudoeste. O site, apesar da transformação pela qual passou a cobertura jornalística de crimes e violência, exibe fotografias de cadáveres e outras imagens que chocam, sempre no estilo, quanto mais sangue, melhor. Palavras-chave: Sensacionalismo. Jornalismo digital. Internet.  

1. Introdução Diante do cenário midiático atual pelo qual estamos inseridos, os meios de

comunicação vivenciam uma nova fase, denominada digital, por consequência das

novas tecnologias de comunicação e informação. A internet, introduzida

massivamente no final do século XX e começo do século XXI, mudou radicalmente o

universo do jornalismo. Vários são os nomes dados a esse novo tipo de jornalismo:

webjornalismo, jornalismo digital, jornalismo online ou ciberjornalismo. Todos os

nomes possuem a mesma acepção.

                                                                                                                         1 Artigo resultante de Trabalho de Conclusão de Curso (Comunicação Social – Jornalismo).

2 Jornalista, graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelo Instituto de Ensino Superior de Rio Verde (Faculdade Objetivo) e mestranda em Comunicação, área de concentração Comunicação, Cultura e Cidadania pela UFG (Universidade Federal de Goiás). E-mail: [email protected]. 3 Orientadora, Graduada em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), especialista em Artes Cênicas (USC) e mestre em Comunicação Midiática (UNESP). Coordena o Programa de Iniciação Científica dos cursos de Comunicação Social (INICIACCOM) do IESRIVER/Faculdade Objetivo realizado de agosto de 2009 a dezembro de 2011. E-mail: [email protected].

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Assim, com o advento da internet, o jornalismo perpassa por mudanças

drásticas em sua forma de produzir e distribuir notícias. O perfil dos profissionais

está mudando e as rotinas produtivas já não são mais as mesmas. O tempo de

produção e distribuição da notícia é bem menor, se comparado há alguns anos, em

que o jornalista tinha tempo para checar e apurar as informações com maior cautela.

O jornalismo digital possui suas particularidades e tem a multimidialidade, a

hipertextualidade, a instantaneidade e o tempo real como principais características.

Dessa forma, é possível perceber que alguns veículos tradicionais de prática

sensacionalista estão utilizando-se das potencialidades da nova mídia para

manterem esse tipo de conteúdo na web, como fotografias de impacto, exagero de

recursos técnicos, intensificação e valorização da emoção nas notícias, além de

muitos outros aspectos.

Neste sentido, este trabalho visa analisar a atuação do sensacionalismo no

jornalismo digital, através da análise do site “Plantão Policial”, que é uma versão

online da editoria de polícia do jornal impresso Gazeta do Sudoeste. O jornal

impresso possui uma circulação em dezessete cidades do sudoeste de Goiás e é

produzido em Santa Helena de Goiás. O responsável pela editoria de polícia do

jornal impresso criou, no início de 2010, um site de notícias com o mesmo nome,

onde é feita a cobertura jornalística policial, além da utilização de fait divers4. O

grande chamariz do site são fotografias chocantes de cadáveres, muitos deles com

os membros separados do corpo, outros já em decomposição; pessoas mutiladas

que foram vítimas de acidentes graves; veículos destroçados; entre outros. O texto

noticioso, na maioria das vezes, possui poucas linhas, contendo apenas as

informações principais, e percebe-se que não existe aprofundamento nos fatos,

muitas vezes, são apenas informações colhidas de órgãos oficiais, como Polícias

Militares e Civis, Corpo de Bombeiros, entre outros.

2. Em busca de um conceito para o sensacionalismo

A tese doutoral de Danilo Angrimani Sobrinho que foi transformada em livro

denominado “Espreme que sai sangue” (1995) é uma das obras mais completas que

                                                                                                                         4 O fait divers é um termo francês que significa fatos diversos. São aquelas notícias sem contexto que trazem em sua estrutura uma carga suficiente de interesse humano, curiosidade, fantasia, impacto, raridade, humor, espetáculo (PEDROSO, 1983 apud ANGRIMANI, 1995).

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tratam sobre a linguagem sensacionalista e sua história na imprensa. Existem

inúmeras definições para se conceituar o sensacionalismo. O Novo dicionário da

Língua Portuguesa (2009) traz uma definição similar à dos autores pesquisados:

Sensacionalismo (de sensacional+ismo). S. m. 1. Divulgação e exploração, em tom espalhafatoso, de matéria capaz de emocionar ou escandalizar. 2. Uso de escândalos e atitudes chocantes, hábitos exóticos, etc., com o mesmo fim. 3. Exploração do que é sensacional (3), na literatura, na arte, etc. (FERREIRA, 2009, p. 1829).

Angrimani (1995) explica que no senso comum, a palavra é comumente

utilizada quando se quer designar que um veículo não possui credibilidade e ética e,

geralmente, o conceito é visto negativamente. Nesse caso, a palavra é ligada à

imprecisão, a erros de apuração. Assim, sempre que se quer acusar um veículo de

não sério, há a tendência de designá-lo como sensacionalista, confundindo-o com

um media sem ética e deturpador de informações, como se outros veículos ditos

como sérios não estivessem também passíveis de erros. Por isso, é preciso

caracterizá-lo de maneira contundente e suas diversas acepções. O autor conceitua

o sensacionalismo dessa forma:

Sensacionalismo é tornar sensacional um fato jornalístico que, em outras circunstâncias editoriais não mereceria esse tratamento. Como o adjetivo indica, trata-se de sensacionalizar aquilo que não é necessariamente sensacional, utilizando-se, para isso de um tom escandaloso, espalhafatoso. Sensacionalismo é a produção de um noticiário que extrapola o real, que superdimensiona o fato. (ANGRIMANI, 1995, p. 16).

Marcondes Filho (1986) diferencia o jornal sensacionalista do “convencional”

apenas por um aspecto: o grau.

Sensacionalismo é apenas o grau mais radical de mercantilização da informação: tudo o que se vende é aparência e, na verdade, vende-se aquilo que a informação interna não irá desenvolver melhor do que a manchete. (MARCONDES FILHO, 1986, p. 66).

Dessa forma, o autor atribui o conceito a uma mera mercadoria da indústria

cultural que busca intensivamente melhorar sua aparência para vender mais. Além

disso, trata do termo através da visão psicanalítica onde o sensacionalismo se

encontra carregado de “apelos às carências psíquicas das pessoas e explora-as de

forma sádica, caluniadora e ridicularizadora” (MARCONDES FILHO, 1986, p. 67).

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É possível perceber que todas as definições possuem pontos em comum e

todas tratam de questões emocionais, pois sensacionalizar é prender o leitor através

da emoção, do sentimento, da dramatização. Porém, outros autores, como Rabaça e

Barbosa acreditam que todo jornal é sensacionalista, pois busca prender a atenção

do leitor para ser lido e, assim, vender mais. Rabaça e Barbosa afirmam que:

A rigor, todo processo de comunicação contém elementos sensacionalistas, na medida em que mobiliza sensações físicas (sensoriais) e psíquicas, principalmente, na primeira etapa do processo, isto é, no esforço para obter atenção, aceitação e reposta a uma mensagem (RABAÇA e BARBOSA, 2001, p. 666 e 667).

Além disso, os autores afirmam que o sensacionalismo pode ser expresso no

conteúdo e na apresentação visual da notícia e pode conter “objetivos políticos

(mobilizar a opinião pública para determinar atitudes ou pontos de vista) ou

comerciais (aumentar a tiragem do jornal)” (RABAÇA e BARBOSA, 2001, p. 666,

grifo dos autores).

A complexidade evidente é que se todos os jornais fossem considerados

sensacionalistas, a função social do jornalismo, como construtor e provedor do

conhecimento e da crítica, perderia sentido. Portanto, deve haver uma diferenciação

entre esses jornais, para que não se subestime a real função do exercício

jornalístico.

2.1 Um breve histórico da imprensa sensacionalista

De acordo com Angrimani (1995), não há uma data precisa para se dizer

quando o sensacionalismo enraizou-se na imprensa. O autor acredita que

características sensacionalistas estão inseridas na impressa desde seu início. No

século XIX, havia jornais na França que eram conhecidos como canards e tinham

apenas uma página. O conteúdo desses jornais eram histórias de catástrofes,

crianças violentadas, cadáveres cortados em pedaços, eclipses, entre outros. Os

primeiros jornais franceses surgidos entre 1560 a 1631, já tinham características

sensacionalistas. O Nouvelles Ordinaries e o Gazette de France elaboravam notícias

sensacionais, usando fait divers parecidos com os atuais. Havia também, antes

mesmo desses dois jornais, os occasionnels, que eram brochuras, onde se expunha

exageros, falsidades e fait divers.

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No entanto, o marco do jornalismo sensacionalista foi nos Estados Unidos,

com a criação dos jornais de Joseph Pulitzer e William Randolph Hearst. O New

York World de Pulitzer foi o primeiro jornal a cores, a utilizar os conhecidos “olhos” e

possuir um grande conteúdo sensacional. Em 1890, Pulitzer já havia conseguido um

lucro líquido de R$ 1,2 milhão. Posteriormente, surge um concorrente, o Mourning

Journal. Seu dono, Hearst copia o modelo de Pulitzer e nesse momento os dois

lutam com todos os meios para expandir seus veículos de comunicação

(ANGRIMANI, 1995).

Os dois jornais eram vendidos por preços baixos e os títulos eram bastante

chamativos. Além disso, as manchetes se apresentavam em tons escandalosos, as

notícias em sua maioria, eram sem importância e distorcidas e os artigos

superficiais. Os jornais praticavam diversas falcatruas, ora inventando entrevistas,

ora criando histórias apelativas. “Os repórteres estavam a ‘serviço’ do consumidor e

faziam campanhas contra os abusos sofridos pelas pessoas comuns, numa mistura

de assistência social e produção de histórias interessantes” (AMARAL, 2006, p. 18).

No Brasil, os primeiros elementos de sensacionalismo foram os folhetins,

surgidos em 1840. Contudo, o “Notícias Populares” e o “Última Hora”, foram os que

marcaram a entrada do gênero no país.

2.2 Construção do discurso e linguagem sensacionalistas A construção do discurso informativo-sedutor de um jornal sensacionalista

difere dos veículos ditos de referência ou convencionais. Neste tópico, será feito um

estudo do discurso e da linguagem sensacionalistas, utilizadas nos jornais

impressos. O enfoque dado será especialmente aos impressos, por serem os

veículos onde mais se registrou e se registra essa utilização; e também por se

aproximarem mais do webjornalismo.

Pedroso (2001) apresenta inúmeras características do discurso

sensacionalista e estuda como é feita essa construção. Para a autora, os jornais

sensacionalistas têm uma percepção da realidade acerca do olhar do povo, da

população que habita a periferia das cidades. O texto exige uma enorme criatividade

do jornalista, pois este precisa sustentar uma pauta que tenha em seu dia-a-dia,

assuntos inusitados, tudo para atrair a atenção do leitor.

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Por possuírem um caráter estilístico opinativo e avaliador, esses jornais

deixam espaço para a dúvida, ambivalência e ambiguidade no jornalismo. Seria

totalmente o contrário da seriedade e objetividade pregada pelos media. A

subjetividade está permeada nas manchetes, nas capas, nos títulos, nos textos, etc.

Na visão de Pedroso, a percepção jornalística da realidade, que seria nesse caso do

povo, “produz um conhecimento do senso comum que se traduz, na página do

jornal, num tratamento avaliativo e preconceituoso dos acontecimentos e da

informação” (PEDROSO, 2001).

Nos jornais sensacionalistas, a restrição e a ética profissional são tidas como

imperativos, pois atrapalham na decisão do enfoque que o editor ou o jornalista

darão a algum assunto. Muitos veículos chegam a fazer “a exortação da apologia da

ordem”, mostrando o perigo das situações e trabalhando intensamente com a

emocionalidade dos fatos, dos protagonistas e das circunstâncias. Pedroso explica

que quando há uma exacerbação no modo de se noticiar um fato, essa notícia se

torna superficializada e desvincula os fatos de seu contexto cultural, econômico e

político.

Os jornais sensacionalistas usam uma linguagem coloquial, formada por

gírias, palavrões, trocadilhos. O assassinato, o suicídio, o estupro, a vingança, a

briga, as situações conflitantes são as principais pautas, com destaque para as

chamadas que estão sempre acompanhadas de uma fotografia apelativa. Os títulos

são sempre noticiados em letras grandes e chamativas. O sangue é um dos

principais símbolos do veículo sensacionalista. Por esse motivo, o apelido “espreme

que sai sangue”.

3. Trajetória e desenvolvimento do jornalismo digital

A prática jornalística sempre esteve aliada à tecnologia, desde seus

primórdios. Ao se fazer uma retrospectiva sobre a história da imprensa, vê-se isso

claramente. O jornalismo precisou da invenção de Gutenberg para se desenvolver e

expandir, e sucessivamente, após as invenções do rádio, da televisão e agora da

internet. O jornalismo praticado na internet ainda está em fase de descobertas e

maturação e é um meio muito recente. Contudo, seu crescimento ocorre de forma

bastante acelerada em relação aos outros meios de comunicação. Além disso, até

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hoje, a internet é o único meio de comunicação que possui menor tempo de

aceitação entre a descoberta e sua propagação maciça.

Deuze (2006) considera o jornalismo on-line como um quarto tipo de

jornalismo, como também uma segunda atuação profissional de um jornalista que

trabalha em outro veículo como jornal, rádio ou TV, já que a maneira de se fazer

notícias nesse veículo apresenta suas peculiaridades e características.

O jornalismo on-line tem sido distinguido funcionalmente de outros tipos de jornalismo através de sua componente tecnológica enquanto fator determinante em termos de definição (operacional) – tal como anteriormente aconteceu relativamente aos campos da imprensa escrita, rádio e televisão. O jornalista on-line tem que fazer escolhas relativamente ao (s) formato (s) adequado (s) para contar uma determinada história (multimídia), tem que pesar as melhores opções para o público responder, interagir e até configurar certas histórias (interatividade) e pensar em maneiras de ligar o artigo a outros artigos, arquivos, recursos, etc., através de hiperligações (hipertextos) (DEUZE, 2006).

Deuze apresenta uma definição sistemática e completa. O autor coloca a

tecnologia como fator determinante para a concepção do jornalismo digital. Além

disso, apresenta a definição através do ponto de vista do profissional que trabalha

nesse novo meio.

Pinho (2003), através da visão de Melo conceitua o jornalismo digital, partindo

do princípio de que o jornalismo é um processo social que contempla algumas

características já inerentes a ele como a periodicidade, a universalidade, a

atualidade e a difusão. Para o autor, o jornalismo manifesta-se de várias formas

(dependendo do veículo) e cada uma delas possui suas características próprias. Deste modo, Pinho (2003, p. 58) explica que o que vai diferenciar o jornalismo

digital do jornalismo praticado nos outros meios de comunicação é a “forma de

tratamento dos dados e pelas relações que são articuladas com os usuários”. Além

disso, Pinho coloca um conceito de outro pesquisador que completa os conceitos

citados acima: O jornalismo digital é todo produto discursivo que constrói a realidade por meio da singularidade dos eventos, tendo como suporte de circulação as redes telemáticas ou qualquer outro tipo de tecnologia por onde se transmita sinais numéricos e que comporte a interação com os usuários ao longo do processo produtivo (GONÇALVES apud PINHO, 2003, p. 58).

Por fim, é possível concluir que todas as conceituações acima convergem

pontos em comum, tendo a multimidialidade, a hipertextualidade e o “tempo real”

como fatores primordiais para a constituição do jornalismo digital.

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No que concerne ao desenvolvimento do jornalismo digital, os Estados Unidos

são os pioneiros. A inserção do jornalismo na internet se deu, inicialmente, através

dos sites de busca que utilizavam a informação e o conteúdo como estratégia para

manterem os usuários em suas páginas. Já no Brasil, aconteceu de forma diferente.

Os sites de informação foram criados dentro das empresas jornalísticas tradicionais.

Grandes conglomerados da mídia que possuem a maior audiência do país e a

concentração das maiores receitas publicitárias, como as Organizações Globo, o

Grupo Estado e a Editora Abril foram os pioneiros da entrada do jornalismo na

internet. (FERRARI, 2010, p. 28).

Inicialmente, os grandes jornais que migraram para a rede, faziam a

transposição das notícias impressas para a versão online. Pouco a pouco foram

percebendo as peculiaridades da nova mídia e começaram a adaptar um novo tipo

de linguagem. Os jornais entendiam que precisavam oferecer conteúdos exclusivos,

não apenas transpondo as mesmas notícias do veículo impresso. Assim,

começaram a implantar notícias em tempo real para fidelizar os usuários. Conforme

Barbosa (2001) aponta, “numa etapa seguinte, os grandes grupos e empresas

entraram para o negócio do provimento de acesso à Internet – uma das esperanças

de geração de receita, pois só a publicidade não garantia o retorno esperado”.

Ferrari (2010, p. 28) explica que graças ao boom mercadológico ocorrido nos

anos de 1999 e 2000 pela bolsa de Nasdaq (bolsa de valores), os portais brasileiros

receberam altos investimentos de investidores estrangeiros. Assim, inicia-se o

desenvolvimento e crescimento da internet no Brasil. Do final do século XX ao início

do XXI, os grandes sites de conteúdo brasileiros, assim como os norte-americanos,

passaram a destinar aos seus usuários grande oferta de conteúdo e agilidade das

notícias, informações gerais e especializadas, serviços de e-mail, canais de chat e

relacionamento, shoppings virtuais, mecanismos de busca na web e entretenimento.

De acordo com Barbosa (2001):

A oferta casada de informação (banco de dados, hipertextos, áudio, vídeo) + serviços e produtos num só lugar além de gerar volume de acessos, aumentando a audiência, é o ponto de partida para se engendrar os usuários, lhes permitindo participar de uma comunidade não apenas existente no ambiente eletrônico, mas com suas ramificações no espaço físico das cidades (BARBOSA, 2001).

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Na realidade, os grandes portais tinham como principal chamariz, os jornais

digitais. O surgimento de portais gratuitos no Brasil fez com que o número de

internautas crescesse exponencialmente. A partir daí, é que se inicia também um

desenvolvimento do jornalismo praticado na web, que rapidamente vai adquirindo

linguagem e característica próprias.

4. Estudo de caso do site “Plantão Policial"

O estudo de caso do site “Plantão Policial” ancora-se em todo o referencial

teórico aqui presentes. São analisados 30 dias (de 15 de abril a 15 de maio de

2011), os inúmeros aspectos que compõem o site, como as notícias, fotografias,

tipificação das notícias, entre outros. A seguir, uma tabela com os atributos que

alguns pesquisadores da área atribuem ao conceito de sensacionalismo, e logo após

outra tabela que caracteriza o discurso e linguagem sensacionalistas:

Tabela 1- Atributos da notícia sensacionalista segundo os autores pesquisados

Angrimani Extrapola o real, superdimensiona o fato. Tratamento da notícia com tom

escandaloso, espalhafatoso.

Pedroso Intensificação, exagero e heterogeneidade gráfica; valorização da emoção em

detrimento da informação; exploração do extraordinário e do vulgar, de forma

espetacular e desproporcional, adequação discursiva ao status semiótico das

classes subalternas, destaque de elementos insignificantes, ambíguos,

supérfluos ou sugestivos; subtração de elementos importantes e acréscimo ou

invenção de palavras ou fatos.

Amaral Exploração de conteúdos descontextualizados, inversão do conteúdo pela

forma, uso abundante de fait divers.

Marcondes

Filho

Grau mais radical de mercantilização da notícia.

Bucci É eticamente reprovável, curva-se ao preconceito.

Tabela 2- Características do discurso e linguagem sensacionalistas segundo Pedroso (2001)

Trabalha intensamente com a emocionalidade dos fatos, dos protagonistas e das circunstâncias.

Utilização de linguagem coloquial, formada por gírias, palavrões, trocadilhos.

O assassinato, o suicídio, o estupro, a vingança, a briga, as situações conflitantes, os fait divers são

as principais pautas.

Page 10: O SENSACIONALISMO NO JORNALISMO DIGITAL: uma análise do

Destaque para as chamadas sempre acompanhadas de fotografias apelativas.

O sangue é um dos principais símbolos do veículo sensacionalista.

Em relação à construção do discurso e da linguagem do site “Plantão Policial”

observa-se que em seu conteúdo textual o uso de uma linguagem coloquial, títulos

chamativos e adjetivação são predominantes. Por outro lado, tem-se em algumas

notícias palavras formais, o que mostra contradição. Vê-se também em algumas

matérias o uso de trocadilhos, como por exemplo, a matéria do dia 27 de abril:

“Mulher tem a cabeça cortada”, “Após violenta discussão, homem perde a cabeça e

arranca fora a cabeça da companheira. Os motivos ainda serão apurados, o autor

fugiu do local, maiores detalhes em reportagem posterior”. Neste caso, o texto

informativo contém poucas linhas e quase nenhuma informação. Além disso, é

acompanhado por fotografias chocantes, em que mostra a mulher nua e com a

cabeça decepada (matéria na íntegra na página.

Os títulos das matérias estão sempre em caixa alta e destacados. Existe

muito mais preocupação em narrar linearmente, provocando certo suspense do que

relatar os fatos, utilizando a objetividade jornalística. Enquanto estrutura, o texto

noticioso não está no formato de lead, nem da pirâmide invertida. Também não

foram visualizadas em nenhuma notícia, entrevistas com as personagens do fato; as

informações são colhidas de órgãos oficiais, como Polícias Militares ou Civis, Corpo

de Bombeiros, entre outros. As matérias são feitas a partir da narrativa linear e

possuem no máximo dois parágrafos contendo as informações principais, não

havendo preocupação com o contexto histórico, nem com os agravantes que

ocasionaram o acontecimento.

O chamariz do site são as fotografias. O número delas se sobrepõe ao

tamanho da matéria. O assassinato, as situações conflitantes, os crimes, os fait

divers e principalmente os acidentes são as principais pautas. Além disso, trabalha

com a emocionalidade dos fatos e das circunstâncias. Em muitas matérias também

é possível visualizar opinião se confundindo com informação.

4.1 Critérios de noticiabilidade do site “Plantão Policial” Nesta seção, são analisados os critérios de noticiabilidade utilizados no site

Plantão Policial. Os critérios de noticiabilidade modificam e variam dependo da

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empresa jornalística, do tempo ou do espaço geográfico, e estabelecem uma rotina

produtiva jornalística que se equivale à forma de tratamento do real.

Autores com Wolf e Erbolato, ao discutirem a teoria do newsmaking levam em

consideração critérios como noticiabilidade, valores-notícia, constrangimentos

organizacionais, construção da audiência e rotinas de produção. Nesta análise, são

utilizados os critérios desenvolvidos por Erbolato, descritos na tabela 1 da seção

3.2.3, que correspondem ao que ele acredita ser de mais relevante para o interesse

público. Primeiramente, torna-se necessária a elaboração da tipificação das notícias

do site, conforme descrito abaixo:

Tabela 3- Tipificação das Notícias

Acidentes

16/04 Acidente entre Volvo e Scania próximo ao trevo de Santa Helena-GO.

17/04 Carro abraça coqueiro na av. Vilmar Guimarães às 2:50 da madrugada – Santa Helena –

GO.

20/04 Carro com três ocupantes capota e cai no rio São Tomáz.

25/04 Grave acidente na entrada de Santa Helena-GO – Rod. 210.

27/04 Rapazes em moto se acidentam na av. da Cana em Santa Helena-GO.

27/04 Choque de carro X Caminhão BR-060.

28/04 Grave acidente deixa quatro vítimas em frente da usina de Santa Helena-GO. 30/04 Ônibus X Carro (atrás do estádio) Santa Helena de Goiás.

08/05 Acidente na GO-210 próximo a Santa Helena de Goiás.

09/05 Pick up bate na quina do muro no centro de Santa Helena-GO.

11/05 Hoje 11-05 tivemos acidentes: carro, caminhão, moto etc.

13/05 Morre esmagado na cabine do caminhão GO-040.

14/05 Acidente de moto X Caminhão na avenida que dá acesso à pecuária.

Criminalidade

15/04 Ladrão é detido e preso em Santa Helena de Goiás.

17/04 Polícia militar de Santa Helena-GO prende cinco pessoas por derrame de notas falsas.

21/04 Continua o derrame de notas falsas em Santa Helena-GO e região.

22/04 Esfaqueamento na madrugada em Santa Helena-GO.

24/04 Policial de Maurilândia é alvejado em tiroteio (agressor morre).

27/04 Mulher tem a cabeça cortada (fotos fortes).

01/05 Condenado a mais de nove anos é preso pela PM de Santa Helena de Goiás.

05/05 Dois cadáveres encontrados entre Maetinga e Aracatu-BA.

06/05 Tenente-coronel bombeiro é preso por reclamar falta de viaturas.

09/05 Morre o estudante Marcelo Filho do gerente da loja Ricardo Eletro em Santa Helena-GO.

Page 12: O SENSACIONALISMO NO JORNALISMO DIGITAL: uma análise do

09/05 Polícia militar de Santa Helena chega na hora H.

Fait divers 01/05 Cobra prega susto em família na madrugada (Santa Helena de Goiás).

03/05 Fotos realmente fortes.

05/05 Diretor do site Plantão Policial é homenageado.

Infração de Trânsito

07/05 Polícia militar bate record de identificação de CNH vencida.

Utilidade Pública

15/05 Ajude a identificar o corpo achado (no mato) em Santa Helena-GO.

Drogas 04/05 Nova droga mata em um ano (oxi).

Em 30 dias de veiculação, foram divulgadas também 30 notícias. A maior

parte delas refere-se a acidentes (13), enquanto que notícias relativas a crimes e

aos feitos da polícia foram 11, fait divers (3), infração de trânsito (1), utilidade pública

(1) e relacionadas ao uso de drogas também (1).

Através da separação dos tipos de notícias divulgados no site neste período,

é possível identificar como o jornal estabelece os critérios de noticiabilidade, de

acordo com suas rotinas de produção e sua linha editorial. Grande parte das notícias

encontra-se vinculada aos critérios de noticiabilidade elaborados por Erbolato. Um

exemplo são as notícias relacionadas a acidentes. Todos os acidentes ocorreram na

região, assim o critério “proximidade” e “marco geográfico” correspondem ao

interesse público. No entanto, quando são analisadas as notícias relativas a crimes,

o mesmo não acontece. Dentre as 11 notícias publicadas, duas delas não

correspondem ao critério marco geográfico e proximidade. A matéria “Dois

cadáveres encontrados entre Maetinga e Aracatu-BA” foi enviada por um usuário do

site e não é de interesse público da região, pois ocorreu em um outro estado. Neste

caso, as fotografias podem ter sido o motivo de sua publicação, pois são chocantes

e atraem o público. No dia da publicação da notícia (05 de maio) houve quase três

mil acessos. Abaixo, a matéria na íntegra:

Figura 1- Santa Helena de Goias, 05/05/2011 - ATENÇÃO: ALGUMAS REPORTAGENS CONTÉM FOTOS

COM CENAS FORTES

Page 13: O SENSACIONALISMO NO JORNALISMO DIGITAL: uma análise do

DOIS CADAVERES ENCONTRADOS ENTRE MAETINGA E ARACATU - BA Escrito por Wellington Raimundo de Jesus - Visto: 2900 Vezes

O site www.plantaopolicial.net informa: Na sexta-feira dia 29 de abril de 2011,foram encontrados dois corpos na fazenda grama, zona rural que divide a cidade de Maetinga e Aracatu - Ba, a mais ou menos 100km de Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia, supostamente trata-se de um casal, os corpos foram queimados parcialmente, em um dos cadáveres havia uma tatuagem nas costas com os nomes de Gabriel e Gustavo, sendo que ainda este mesmo cadáver portava em seu dedo na mão esquerda uma aliança com o nome de Silene. Há marca de tiro na cabeça de ambos. Divulguem para que possivelmente seja encontrado os familiares das vítimas. Como é próximo a Ba 262,a qual é bastante transitada por turistas goianos e brasilienses, espero que possa noticiar para que podemos encontrar seus familiares. O corpo encontra-se do DPT na cidade de Brumado. O site www.plantaopolicial.net informou. FATO E FOTOS: ENVIADO PELO SR. WELLINGTON RAIMUNDO DE JESUS.

Outra notícia que não corresponde ao critério de noticiabilidade é a divulgada

no dia 27 de abril “Mulher tem a cabeça cortada”. Se houvesse informação

suficiente, entre outros atributos, ela poderia ser de interesse público por tratar-se de

um crime brutal. Porém, não houve dados nesta matéria, apenas fotografias de forte

impacto, para chamar e atrair a atenção do navegante do site.

Figura 2- Santa Helena de Goias, 27/04/2011 - ATENÇÃO: ALGUMAS REPORTAGENS CONTÉM FOTOS

COM CENAS FORTES

MULHER TEM A CABEÇA CORTADA (FOTOS FORTES)

Escrito por Léo Penteado - Visto: 6253 Vezes

O site www.plantaopolicial.net informa: Após violenta discussão, homem perde a cabeça e arranca fora a cabeça da companheira. Os motivos ainda serão apurados, o autor fugiu do local, maiores detalhes em reportagem posterior. O site www.plantaopolicial.net informou.

 

Page 14: O SENSACIONALISMO NO JORNALISMO DIGITAL: uma análise do

Em relação aos fait divers, é possível identificar três matérias que

correspondem àquilo que Erbolato chama de “raridade”. Notícias envolvendo

infração de trânsito, utilidade pública e uso de drogas tiveram pouca importância

para o jornal, pois quase não houve notícias do tipo.

É possível visualizar também que o site não se preocupa em divulgar notícias

envolvendo o tráfico de drogas ou problemas na segurança pública. Percebe-se

certa parcialidade, pois o trabalho da polícia em alguns momentos é “admirado”,

“vangloriado”. Além disso, por tratar-se de um veículo sensacionalista, possui aquilo

que Pedroso denomina de exploração de conteúdos descontextualizados e

insignificantes, como o caso de algumas notícias citadas acima.

Considerações Finais

A pesquisa objetivou analisar a atuação do sensacionalismo no jornalismo

digital, através de um estudo de caso do site “Plantão Policial”. Para tanto, utilizou-

se de pesquisa bibliográfica e documental. A análise baseou-se na pesquisa

descritiva que tem como conceito a observação, o registro e análise de fatos ou

fenômenos sem manipulá-los. Assim, foram analisadas, em um período de 30 dias

(de 15 de abril de 2011 a 15 de maio do mesmo ano), as matérias, conteúdos,

manchetes, fotografias, layout da página, critérios de noticiabilidade, tipificação das

notícias e periodicidade de atualização.

Observou-se que o sensacionalismo, um fenômeno tão utilizado desde os

primórdios da imprensa, ainda é presente nos media atuais, bem como em mídias

digitais. O site “Plantão Policial”, apesar das transformações pelas quais a cobertura

jornalística policial perpassa, exibe fotografias de cadáveres e outras imagens que

chocam, sempre no estilo quanto mais sangue, melhor. Após o estudo dos textos,

das fotografias, das manchetes, entre outros aspectos, o problema foi respondido e

a hipótese comprovada. Nos textos e conteúdos analisados foi possível identificar

claramente como o site apropria-se das potencialidades do jornalismo digital para

construir um discurso baseado no uso das sensações, na intensificação e

valorização da emoção em detrimento da informação, no exagero de recursos

técnicos e na exposição de imagens que chocam.

O site possui um grande número de acessos, o que demonstra o quanto o

conteúdo sensacionalista, apesar de criticado, retém audiência. O site uniu cobertura

Page 15: O SENSACIONALISMO NO JORNALISMO DIGITAL: uma análise do

jornalística policial com sensacionalismo, conseguindo explorar a curiosidade

mórbida intrínseca ao público e agindo em seu inconsciente. Como Angrimani

afirma, nem mesmo os próprios construtores deste tipo de conteúdo têm a

consciência das implicações psíquicas ali envolvidas.

Outro aspecto relevante a ser citado é a questão do aprofundamento da

notícia, fato que não acontece. A maioria das notícias é retirada dos Boletins de

Ocorrência de órgãos oficiais, o que corrobora para um noticiário superficial e falho,

pois quando não existem entrevistas com pessoas envolvidas nos acontecimentos,

quando não há investigação por parte do jornalismo, a consequência é uma

imprensa tendenciosa que não apura os outros lados do acontecimento.

Além disso, também foi possível identificar que uma das características mais

notáveis do “Plantão” é a divulgação da notícia em tempo real, além da

imediaticidade e rapidez em chegar ao local do acontecimento, principalmente em

notícias relativas a acidentes.

Quando Marcondes Filho explica que o sensacionalismo é o grau mais radical

de mercantilização da notícia, ele aponta para o que exatamente acontece no

“Plantão Policial”. Ao analisar o layout do site, o que mais chama a atenção de

qualquer pesquisador não são somente as fotografias chocantes, mas também a

quantidade de anúncios publicitários contidos nele. Verifica-se certa “poluição

visual”, pois todos os espaços do site estão preenchidos com anúncios coloridos e

chamativos, o que demonstra mais uma vez como o site conseguiu aproveitar-se

dessa característica do jornalismo digital.

Antes de concluir este trabalho, é importante ressaltar mais uma

consideração. O sensacionalismo encontrado nos meios de comunicação

tradicionais (impressos, rádio, TV) carrega em si, aspectos inerentes ao meio. Por

exemplo, a televisão com suas imagens de impacto, os sons, o cenário, o

apresentador, os repórteres, etc. O mesmo acontece no jornalismo digital. Parece

ocorrer uma “potencialização” do sensacionalismo, quando praticado em mídias

digitais.

Palácios (2003) afirma que existem “Continuidades e Potencializações e não,

necessariamente Rupturas com relação ao jornalismo praticado em suportes

anteriores”. Neste sentido, o meio de comunicação sensacionalista utiliza os

mesmos métodos que usava nos meios tradicionais, porém, agora têm disponível

novos artefatos, capazes de aumentar e reforçar os efeitos sobre o público.

Page 16: O SENSACIONALISMO NO JORNALISMO DIGITAL: uma análise do

REFERÊNCIAS AMARAL, Márcia Franz. Jornalismo Popular. São Paulo: Contexto, 2006.

ANGRIMANI, Danilo. Espreme que sai sangue: um estudo do sensacionalismo na imprensa. São Paulo: Summus, 1995. BARBOSA, Gustavo; RABAÇA, Carlos Alberto. Dicionário de Comunicação. 2 ed.rev. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. 4 ed. São Paulo: Contexto, 2010.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da Língua Portuguesa. 4 ed. Curitiba: Positivo, 2009.

MARCONDES FILHO, Ciro. O Capital da Notícia. Jornalismo como produção social da segunda natureza. São Paulo: Ática, 1986. PINHO, J. B.. Jornalismo na Internet: planejamento e produção on-line. São Paulo: Summus Editorial, 2003. Material da Internet BARBOSA, Suzana. Jornalismo online: dos sites noticiosos aos portais locais. 2001. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/barbosa-suzana-jornalismo-online.pdf. Acesso em: 10 de julho, 2011. DEUZE, Mark. O jornalismo e os novos meios de comunicação social. Disponível em: http://revcom.portcom.intercom.org.br/index.php/cs_um/article/view/4746/4460. Acesso em: 09 de setembro, 2011. PEDROSO, Rosa Nívea. Contribuições aos estudos do sensacionalismo no jornalismo impresso. 2001. Disponível em: http://www.unaerp.br/comunicacao/professor/eblak/arquivos/rosa_artigo_hj.pdf. Acesso em: 28 de abril, 2011.