185
SENIR SANTOS DA HORA O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as tensões entre projeto profissional e trabalho assalariado. Niterói 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL MESTRADO ACADÊMICO

O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

SENIR SANTOS DA HORA

O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as tensões

entre projeto profissional e trabalho assalariado.

Niterói

2014

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS–GRADUAÇÃO EM SERVIÇO

SOCIAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

MESTRADO ACADÊMICO

Page 2: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

SENIR SANTOS DA HORA

O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as tensões

entre projeto profissional e trabalho assalariado.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Serviço Social e Desenvolvimento Regional do Curso de

Mestrado Acadêmico na Universidade Federal Fluminense,

como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em

Serviço Social.

Orientador: Prof. Dr. Serafim Fortes Paz.

Co-orientadora: Profª. Drª. Simone Rocha da Rocha Pires Monteiro

Niterói

2014

Page 3: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

SENIR SANTOS DA HORA

O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as tensões

entre projeto profissional e trabalho assalariado.

Dissertação estrutura na linha de pesquisa: Política Social, Assistência Social

e Serviço Social, apresentada, como requisito para obtenção do título de

Mestre em Serviço Social, ao Programa de Pós-Graduação em Serviço

Social e Desenvolvimento Regional do Curso de Mestrado Acadêmico na

Universidade Federal Fluminense.

Aprovado em_____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________

Prof. Dr. Serafim Fortes Paz Orientador

Universidade Federal Fluminense

_________________________________________________________

Profª. Drª.Míriam de Fátima Reis

Universidade Federal Fluminense

_________________________________________________________

Profª. Drª. Rosangela Nair de Carvalho Barbosa

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Niterói

2014

Page 4: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a todos os companheiros de ideia, sonho, estudo, ação, esforço,

trabalho e caminhada que me fizeram e me fazem a cada dia renovar meu compromisso

com um mundo melhor, na plenitude da vida e com as garantias dos direitos humanos.

Page 5: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que de diferentes formas contribuíram para a realização deste trabalho:

À minha família, por respeitar e apoiar minhas decisões, acreditar na minha capacidade e me

entender nos momentos difíceis.

Ao meu esposo Roberto por toda atenção e carinho nesse processo de estudo e escrita desse

trabalho.

Aos meus filhos, Samuel e Isac, pelo apoio incondicional e compreensão pelo tempo roubado

da convivência.

Ao meu orientador Serafim Paz, pela orientação segura e competente na forma e no conteúdo,

o que resultou na materialização deste trabalho. Seu esforço, paciência, dedicação e seriedade

fazem de você um grande referencial da nossa profissão.

À minha co-orientadora Simone Rocha pelos conhecimentos adquiridos, pelo apoio, estímulo,

compreensão e contribuições.

Aos profissionais - assistentes sociais - que concederam as entrevistas, por sua disposição em

contribuir na pesquisa com seus valiosos depoimentos.

Às professoras, Rosangela Nair e Míriam de Fátima,que aceitaram o convite para fazerem

parte da minha banca, e por terem contribuído no exame de qualificação, com suas análises

críticas e comentários, sinalizando novos desafios a enfrentar no processo de investigação.

Aos colegas de turma, pelos debates e discussões durante as disciplinas cursadas, pela troca

de conhecimentos e pelas experiências profissionais. Hoje eu entendo que podemos ser

derrotados várias vezes, mas quando somos movidos pela ação consciente de transformação

coletiva, prevaleceremos.

Page 6: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

EPÍGRAFE

“A esperança só o é como o possível, o que pode ser, o que ainda

não é, mas está anunciado nas próprias condições sociais que os

seres humanos foram capazes de construir até aqui, no esforço de

todos e não só de alguns. Esse possível só o é, por sua vez, se

mediado pela consciência social crítica, pelo conhecimento crítico

– pela crítica que revê continuamente certezas e verdades, suas

condições, suas limitações, seus bloqueios, sobre tudo os bloqueios

dos que se creem isentos de limites de compreensão” (MARTINS,

2002, p. 12).

Page 7: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

RESUMO

O objeto de estudo desta dissertação consiste na análise sobre a tensão entre projeto

profissional e trabalho assalariado – fruto das minhas inquietações sobre os dilemas do

trabalho do assistente social no SUAS do município de Rio Bonito – RJ.

O trabalho apresenta reflexões teóricas sobre as transformações societárias

contemporâneas, operadas pela crise do capital e suas inflexões nas políticas sociais e no

trabalho do assistente social.

É notório como as transformações contemporâneas vêm afetando o mundo do trabalho

assalariado na contemporaneidade, submetendo a atividade profissional aos dilemas da

alienação, seus processos e sujeitos, associadamente às redefinições profundas no Estado e

nas políticas sociais, que desencadearam novas requisições, demandas, desafios e

possibilidades ao trabalho do assistente social. Mudanças que expõem desafios à consolidação

do projeto profissional crítico no âmbito dos processos de trabalho. A “desregulamentação” e

a “flexibilização” que o grande capital vem implementando nas relações e condições de

trabalho afetam além dos padrões de produção consolidados na vigência do taylorismo

fordista, também os direitos laborais conquistados pela classe trabalhadora.

Nesse sentido, o eixo metodológico de abordagem da pesquisa situa o atual quadro

sócio histórico da realidade brasileira, em que se evidenciam transformações no mundo do

trabalho e nas políticas sociais, apontando para um redimensionamento da intervenção

profissional, com abertura de novas possibilidades de inserção e atuação profissional, ao

mesmo tempo em que são identificadas a precarização e a intensificação dos processos de

trabalho. Os resultados da pesquisa apontam para a necessidade de se refletir sobre os

desafios postos a profissão na atualidade frente às formas de efetivação do projeto ético-

político profissional, tendo como base de reflexão a pesquisa empírica realizada com

assistentes sociais dos CRAS´s e CREAS do município de Rio Bonito-RJ.

Palavras-chave: projeto-profissional; trabalho assalariado, SUAS, assistente social e crise do

capital.

Page 8: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

ABSTRACT

The object of study of this thesis is the analysis of the tension between professional

design and wage labor - fruit of my concerns about the dilemmas of the social worker

working in ITS in the municipality of Rio Bonito - RJ .

The paper presents theoretical reflections on contemporary societal transformations,

operated by the crisis of capital and its inflections in social policy and social work assistant.

It is noticeable how the contemporary transformations are affecting the world of paid

work in contemporary times, subjecting the occupation to the dilemmas of alienation, its

processes and subjects, in association with profound redefinitions of the State and social

policies, which triggered new requests, demands, challenges and possibilities to work social

worker. Changes that expose challenges to the consolidation of critical professional design in

the context of work processes. The "deregulation" and "flexibility” that big business has been

implementing in relations and working conditions affect beyond the patterns of production

consolidated in the presence of the Fordist Taylorism also labor rights won by the working

class.

In this sense, the methodological approach of the research axis situates the current

socio historical context of Brazilian reality show in which transformations in the labor and

social policies, pointing to a redefinition of professional intervention, opening up new

possibilities for integration and professional performance, while the casualization and

intensification of work are identified. The survey results point to the need to reflect on the

challenges posed profession nowadays forward to ways of realization of professional ethical-

political project , based on the reflection of empirical research with social workers of the

municipality CRAS's e CREAS Rio Bonito - RJ .

Keywords: design-professional, employed, ITS, social worker and capital crisis.

Page 9: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CRAS – Centro de Referência da Assistência Social

CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social

SUAS – Sistema Único de Assistência Social

BPC- Benefício de Prestação Continuada

PBF – Programa Bolsa Família

ONG’S – Organizações não Governamentais

BM- Banco Mundial

FMI- Fundo Monetário internacional

OSCIPS – Organização da Sociedade Civil de interesse Público Social

PMDB- Partido do Movimento Democrático Brasileiro

DEM- Partido Democratas

LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social

PNAS – Política Nacional de Assistência Social

NOB SUAS- Norma Operacional Básica do Sistema Único da Assistência Social

NOB-RH/SUAS- Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de

Assistência Social.

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social

SISAN-Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

CNAS- Conselho Nacional de Assistência Social

PAIF- Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família

LAS- Liberdade Assistida

PSC- Prestação de Serviço a Comunidade

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

SMAS – Secretaria Municipal de Assistência Social

Page 10: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................12

CAPÍTULO 1- CAPITALISMO E POLÍTICA SOCIAL NA

CONTEMPORANEIDADE: CRISE E MUDANÇAS

REGRESSIVAS......................................................................................................................22

1.1- A crise estrutural do capitalismo......................................................................................22

1.2- Os impactos da crise do capital na Seguridade Social brasileira: discutindo as bases da

contrarreforma neoliberal do Estado.........................................................................................31

1.3- A cooptação do fundo público pelos interesses do capital

fictício.......................................................................................................................................46

CAPÍTULO 2– IMPLICAÇÕES DAS MUDANÇAS NAS POLÍTICAS SOCIAIS

SOBRE O TRABALHO DO ASSISTENTE

SOCIAL...................................................................................................................................56

2. 1- As particularidades do trabalho do assistente social no cotidiano dos espaços sócio-

ocupacionais..............................................................................................................................57

2. 2- Análise da categoria trabalho para a compreensão do trabalho do assistente social frente

às mudanças nas políticas sociais, sob a órbita da sociabilidade capitalista.............................71

2.2.1- Tendências atuais para o mercado de trabalho do assistente social frente às mudanças

nas políticas sociais...................................................................................................................82

2. 3- Estratégias para consolidação do projeto profissional no contexto da precariedade nas

condições e relações de trabalho e radicalização da alienação.................................................87

CAPÍTULO 3 – O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS) EM RIO

BONITO/RJ: TENSÕES E DILEMAS DO TRABALHO DO ASSISTENTE

SOCIAL.................................................................................................................................102

3.1- O município de Rio Bonito: sua história e desenvolvimento..........................................103

3.2- A política de Assistência Social na lógica do SUAS no município de Rio Bonito: seus

avanços e retrocessos..............................................................................................................115

3. 3- O trabalho do assistente social no SUAS do município de Rio Bonito/RJ: o debate sobre

o trabalho assalariado e a consolidação do projeto profissional.............................................130

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................161

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................167

Page 11: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

APÊNDICES..................................................................................................................178-185

APÊNDICE A - Pesquisa documental no Banco de Teses e dissertações da CAPES (2008-

2012).......................................................................................................................................178

APÊNDICE B- Termo de consentimento para realização da pesquisa de campo..................179

APÊNDICE C- Roteiro para entrevista com profissionais do CRAS e CREAS....................180

Page 12: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

INTRODUÇÃO

A presente dissertação, estruturada na linha de pesquisa: Política Social, Assistência

Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de Assistência

Social no município de Rio Bonito/RJ: discutindo as tensões entre projeto profissional e o

trabalho assalariado, fruto das minhas inquietações sobre os dilemas do trabalho do assistente

social na política supracitada.

Essas inquietações sobre as tensões entre projeto profissional e trabalho assalariado

contribuíram para os investimentos em pesquisas e estudos, ao longo de uma trajetória

acadêmica, no âmbito da graduação, da especialização e do mestrado em Serviço Social.

Nesse sentido, o texto apresenta reflexões teóricas em torno das abordagens

contemporâneas sobre a relação entre o Serviço Social e o projeto profissional, mediada pelo

recorte das condições de trabalho na política da Assistência Social no município de Rio

Bonito/RJ, nos seus respectivos equipamentos CRAS`s e CREAS, no período de 2012 - 2013,

a partir da identificação das possibilidades e limites que o assistente social encontra na

condução do trabalho e à integral efetivação do projeto ético político da profissão.

Para isso, fez-se necessário recorrer aos elementos da trajetória histórica da

Assistência Social no Brasil, a fim de entender e explicar as mudanças ocorridas na política de

Assistência Social no âmbito local, alterações que na atualidade incidem no exercício

profissional do assistente social tanto do ponto de vista teórico-metodológico, quanto ético-

político e técnico-operativo, no contexto da precarização das condições de trabalho, geradas

pela crise do capital.

O texto aborda, primeiramente, as inflexões da crise do capital nas políticas sociais,

sinalizando os impactos da contrarreforma neoliberal no fundo público, na Seguridade Social

brasileira e ainda no trabalho do assistente social. Este contexto sinaliza em quais aspectos a

precarização do trabalho - elemento presente na realidade dos trabalhadores em geral desde os

anos de 1970, em razão das mudanças operadas no mundo do trabalho, no contexto da crise

contemporânea do capital - afeta o trabalho profissional dos assistentes sociais, e, dessa

maneira, reflete sobre as possibilidades e limites que este profissional encontra para a

materialização do projeto ético político da profissão.

O texto trata da configuração das expressões da "questão social" e sua administração

pelo Estado através de políticas sociais, buscando desvendar os espaços sócio-ocupacionais

para os assistentes sociais. Delimita, também, como se estruturaram as políticas sociais no

capitalismo, a influência da constituição do Welfare State nos países centrais e periféricos e as

Page 13: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

particularidades do modelo de Seguridade Social brasileiro; distinguindo suas especificidades

particulares e que se distanciam daquelas dos países centrais, sem a constituição de um Estado

de Bem Estar Social e combinando modernidade e atraso.

A pesquisa destacou o processo de crise capitalista e das respostas engendradas pelo

capital por meio da financeirização, da reestruturação produtiva e da contrarreforma do

Estado no bojo do ideário neoliberal. Ainda neste primeiro momento, pretende-se tratar da

trajetória histórica da constituição formal-legal da Seguridade Social brasileira no contexto da

promulgação da Constituição Federal de 1988 e seu desmonte já na entrada da década de

1990.

Serão abordadas, no segundo momento, as relações entre trabalho e Serviço Social,

assim como a análise do trabalho profissional do assistente social, em suas características de

inserção no mercado e em processos de trabalho, sob tradicionais e novas requisições, face às

mudanças de sua organização e gestão.

Essa pesquisa reconhece o assistente social como trabalhador assalariado e as

dimensões do seu trabalho como concreto e abstrato, delineando o contexto de construção do

projeto ético político do Serviço Social brasileiro com o processo conhecido como de

intenção de ruptura ou renovação da profissão (NETTO, 1991). Ainda, evidencia que a

efetivação do projeto profissional do Serviço Social é tensionada pela condição de

assalariamento de seus profissionais e pela construção democrática de espaços coletivos

juntamente com outras categorias profissionais e movimentos sociais, sendo essencial nesse

sentido, também, relacionar às transformações do mundo do trabalho que se processam a

partir dos anos 1970.

Com o objetivo de compreender a atuação profissional a partir da categoria trabalho, a

pesquisa estabeleceu diálogo com as produções de Karl Marx (1969/1970/1971) e outros

pensadores críticos como Antunes (1995/2004), Harvey (1989/2008/2011), Mészaros (1980).

Nessa etapa investigativa, o texto enfoca as transformações sociais do capitalismo

monopolista pós 1970 e as suas inflexões na organização do trabalho, nas políticas sociais e

no trabalho do assistente social. É preciso compreender as transformações sociais em uma

perspectiva histórica, analisando os seus fundamentos e seu impacto na vida dos trabalhadores

(BEHRING, 2009).

Seguidamente, a análise da re-configuração dos espaços ocupacionais do assistente

social, enquanto resultante das profundas transformações sócio-históricas, com mudanças

regressivas nas relações entre Estado e sociedade civil, em um quadro de recessão na

economia internacional, submetida à ordem financeira do grande capital.

Page 14: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

No terceiro momento, ganhou expressão as mudanças no trabalho do assistente social

com a implementação do SUAS. E para discorrer sobre a política de Assistência Social, o

texto enfatiza as suas tendências no âmbito da Seguridade Social brasileira a partir dos anos

1990. Busca-se discorrer sobre o processo de assistencialização das políticas sociais e o

Serviço Social, analisando, ainda, o destaque que a política de Assistência Social adquire

dentre as políticas de Seguridade Social e os rebatimentos deste fenômeno no exercício

profissional dos assistentes sociais. Discutir a constituição da política de Assistência Social,

nos marcos da PNAS (2004) e do SUAS (2005/2006/2012), e como esta Política vem

perpassando os critérios focalistas e seletivos, destacando dentre as políticas sociais, como

política central no atendimento aos segmentos dos trabalhadores mais pauperizados, sob

vínculos precários ou desempregados.

Aponta-se a reorientação das políticas sociais como processo que restringe a atuação

do assistente social nos diversos espaços ocupacionais devido à precariedade e desmonte das

políticas e da rede de serviços, a definição do atendimento aos mais pobres e critérios de

seletividade cada vez mais restritos, o que acabam por comprometer o caráter universal das

políticas públicas. Ainda neste capítulo, busca-se investigar, por meio da pesquisa de campo,

as determinações que incidem na configuração do atual espaço sócio-ocupacional do Serviço

Social no âmbito da Assistência Social, apreendendo as condições de trabalho e a

materialização do projeto ético-político profissional do Serviço Social, no contexto neoliberal.

No escopo de consolidação do debate com ênfase no trabalho profissional, o estudo

pretende, enquanto objetivo geral, realizar uma análise crítica acerca das particularidades do

trabalho do assistente social nos equipamentos CRAS`s e CREAS, do município de Rio

Bonito/RJ nos anos 2012/2013, frente às tensões entre o direcionamento social condicionado

que este profissional pretende imprimir ao seu trabalho concreto e as exigências que o

mercado de trabalho impõe aos seus trabalhadores assalariados, na política de Assistência

Social do município explicitado.

Em relação aos objetivos específicos, o presente trabalho busca:

1º) Identificar as inflexões da crise mundial do capital na organização do trabalho, nas

políticas sociais, a partir da contrarreforma do Estado e seus rebatimentos no Serviço Social;

2º) Apresentar registros e processos da história da Assistência Social no Brasil, seus

avanços e retrocessos pós- Constituição Federal de 1988 e os seus desafios na atualidade

quanto a sua reafirmação enquanto política e seu reconhecimento enquanto pública,

apontando as implicações na forma de organização dessa política para o trabalho do assistente

social;

Page 15: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

3º) Discutir o trabalho profissional e a consolidação do projeto ético político do

Serviço Social, mostrando as possibilidades e limites para a atuação do assistente social na

política da Assistência, sob a Lógica do SUAS, em face da precariedade do trabalho

assalariado;

O questionamento norteador desta pesquisa comunga com o conhecimento do

processo de trabalho coletivo em que se inscreve o assistente social na condição de

trabalhador assalariado. Nesse sentido, torna-se necessário indagar sobre qual o nosso desafio

profissional, pensando as tensões entre projeto profissional e trabalho assalariado? Quais as

possibilidades e limites de fortalecimento do projeto profissional numa arena de disputas entre

projetos societários distintos?

Parte-se do pressuposto de que a profissão é um produto histórico, determinado pelas

condições em que se efetivam as intervenções do Estado, em relações aos conflitos de classes,

e ainda pelo seu significado social contraditório no processo de reprodução das relações

sociais (YAZBEK, 2009). Pois ao mesmo tempo, que o Serviço Social constitui-se enquanto

mecanismo de reprodução material e espiritual da força de trabalho, este também se constitui

enquanto possibilidade de reprodução e expansão do capitalismo (IAMAMOTO, 2007).

O Serviço Social, enquanto profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho,

institucionaliza-se no circuito das relações sociais, necessárias à reprodução do modo

capitalista. Nesse sentido, compreendemos que as dimensões política e pedagógica que

particularizam a intervenção profissional frente às contradições inscritas nas dinâmicas das

classes sociais, precisam ser reconhecidas e potencializadas (IAMAMOTO & CARVALHO,

2012).

Assim tomamos como elemento mediador de suma importância, “a relação entre

projeto ético político e condições de trabalho que mediatizam a sua consolidação”

(IAMAMOTO, 1998, p. 16), pois pretendemos situar a centralidade das transformações

sociais ocorridas no mundo do trabalho e no âmbito do Estado e sociedade civil, enquanto

dimensões centrais para a compreensão dos desafios postos para a intervenção dos assistentes

sociais, diante das diferentes demandas apresentadas nas áreas das políticas públicas no marco

de seus recortes setoriais (IAMAMOTO, 2007).

Consideramos enquanto hipóteses as seguintes afirmações;

As respostas dos assistentes sociais às demandas dos usuários que buscam pelo

Serviço Social na política de Assistência Social no município estudado, não tem

sido mediadas pelos princípios e diretrizes do projeto ético-político profissional,

Page 16: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

visto que são respostas dadas através de uma atuação imediata e pontual, sem um

planejamento necessário.

As condições sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social, com os

rebatimentos da “contrarreforma” do Estado, tendem a ser desreguladas e

flexibilizadas, com a subordinação do conteúdo do trabalho aos objetivos e

necessidades das entidades empregadoras, levando o assistente social a exercer

um trabalho muito mais burocratizado e rotineiro, sob a órbita da alienação, do

que um trabalho intelectual, numa perspectiva de dimensão política e pedagógica,

no âmbito dos processos de estabelecimento de consensos sociais (IAMAMOTO

& CARVALHO, 2012).

O ingresso dos profissionais nos Centros de Referências (CRAS e CREAS) se dá

na condição de contrato precarizado, por meio de processo seletivo simplificado,

de caráter temporário, crivado pelo tráfico de influências, descumprindo a

prerrogativa constitucional de contratação pela via do concurso público. Logo,

esses profissionais se deparam, no cotidiano do espaço sócio-ocupacional, com

precárias condições de trabalho, tais como, espaços físicos insuficientes, contratos

de trabalho instáveis, instabilidade e insegurança no emprego, baixas

remunerações e outros constrangimentos do trabalho assalariado. Tais condições

inflexionam as possibilidades de materialização do projeto ético-político

profissional, uma vez que impõe uma posição de submissão do profissional no

espaço sócio-ocupacional, com o comprometimento da qualidade dos serviços e

da estratégia de alargamento de sua relativa autonomia.

Com o “novo” modelo de “empregabilidade”, que marca a sociedade do capitalismo

avançado e que tem seus rebatimentos no trabalho do assistente social-através de contratos,

“subcontratos”, trabalhos terceirizados sem garantias de direitos – presenciamos a dificuldade

para o estabelecimento de continuidade e qualidade dos serviços e ainda para a materialização

do projeto profissional, cuja hegemonia tem sido ameaçada pela ausência da busca por

estratégias de alargamento da nossa relativa autonomia frente às tensões do trabalho

assalariado (IAMAMOTO, 2007).

Em termos metodológicos, buscamos investigar as determinações que incidem na

caracterização do atual espaço sócio-ocupacional do Serviço Social no âmbito da Assistência

Social, apreendendo as condições de trabalho e a materialização do projeto ético-político

profissional do Serviço Social, no contexto neoliberal. O referencial teórico-metodológico

Page 17: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

adotado está apoiado na concepção histórica do pensamento crítico-dialético, que parte dos

dados fornecidos pela realidade concreta e examina o conjunto de suas determinações

históricas, observando a relação entre o particular e o universal1.

De acordo com Minayo (1994), a metodologia é o caminho do pensamento e o

instrumental próprio de abordagem da realidade que inclui as concepções teóricas de

abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a apreensão da realidade e também o

potencial do pesquisador.

Essa pesquisa se dividiu em 03 (três) etapas: pesquisa bibliográfica; pesquisa

documental e pesquisa de campo.

Na pesquisa bibliográfica, desenvolvemos leituras e fichamentos de textos, artigos,

livros, sobre as categorias e referências conceituais centrais do estudo, quais sejam: Trabalho,

Política Social, Assistência Social, Projeto Profissional e Serviço Social. Trouxemos para o

debate, pensadores que possibilitam a sustentação do diálogo com a tradição marxista e sua

influência para a compreensão da profissão, assim como para a projeção de formas de

enfrentamento da questão social, nas suas mais diversas expressões cotidianas. Nesse sentido,

acreditamos que a retomada da bibliografia nos possibilitou um maior entendimento sobre

questões e temas cruciais neste trabalho científico (MINAYO, 1994).

Nessa etapa investigativa, analisamos as transformações sociais do capitalismo

monopolista pós 1970 e as inflexões de sua crise na organização do trabalho, para as políticas

sociais e para o Serviço Social. É preciso compreender a crise em uma perspectiva histórica,

analisando os seus fundamentos e seu impacto na vida dos trabalhadores (BEHRING, 2009).

Torna-se necessário a análise sobre a categoria trabalho, Serviço Social e projeto

profissional. E ainda uma análise crítica sobre a política de Assistência Social em relação aos

seus avanços, tendências, retrocessos na atualidade e os desafios postos ao Serviço Social, no

que diz respeito às respostas dadas às demandas da crise do capital em suas novas expressões

da questão social (YASBEK, 1993).

Operacionalizamos, também, uma pesquisa documental, utilizando diversos

documentos relativos à política de Assistência Social. Examinamos, especificadamente, os

equipamentos CRAS`s e CREAS, com seus respectivos serviços, a partir da análise de Leis,

Normas e Resoluções, como: NOB/SUAS de 2005 e 2012, NOB/RH/SUAS de 2006,

PNAS/2004 e a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (Resolução nº. 109 de

1 “O que torna a ciência necessária é o fato de a realidade não ser transparente. A aparência e a essência dos fenômenos não

coincidem, embora uma revele elementos da outra. Portanto, o que é dialético é a própria realidade” (GOHN, 1984, p. 4).

Page 18: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

11 de novembro de 2009). E ainda, verificamos, em fontes oficiais referentes ao município

(censo IBGE, IPEA, TCU/RJ, entre outros) se esses equipamentos, com seus respectivos

serviços possuem mecanismos sólidos para a implementação dos princípios de

descentralização, coordenação intersetorial, equidade e controle social, através de uma

metodologia que prevê a análise de documentos / leis, a fim de compreender as tendências

contemporâneas na organização dessa política social e suas implicações para o trabalho do

assistente social.

Nesta etapa da pesquisa documental, partimos da análise de trabalhos acadêmicos no

banco de teses da CAPES, objetivando verificar a existência de outros trabalhos que

retratassem a discussão sobre essa temática2.

Dentro desta perspectiva, destacamos o pensamento de Minayo (1994) que considera a

pesquisa como uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota,

fazendo uma combinação entre teoria e dados. É uma atitude e uma prática teórica de

constante busca que define um processo inacabado e permanente.

Na pesquisa, partimos do pressuposto de que o conhecimento exige o contato com a

realidade. Porque antes de elevar-se ao nível teórico, esse conhecimento começa pela prática.

E essa prática permite uma ação consciente do ser social, dirigida para a intervenção, porque

nos põe em contato direto com as realidades objetivas (NETTO, 2009).

Segundo Ianni (2011), o conhecimento ou o pensamento não nasce pronto, ele está

atravessado por transformações e reorientações. Nesse sentido, podemos afirmar que o

conhecimento enquanto “fato prático, social e histórico”, permite a interação dialética entre

sujeito e objeto, isto é, não se trata de uma relação de externalidade, mas uma relação entre

dois elementos opostos, mas “indissoluvelmente” ligados entre si (LEFÉBVRE, 1975).

2 Pelo fato desta pesquisa se constituir no âmbito do mestrado, realizamos um levantamento de 12 dissertações sobre o

trabalho do assistente social na política de Assistência Social, com enfoque na tensão entre trabalho assalariado e projeto

profissional, nos últimos cinco anos (2008 -2012) no sentido de verificar os trabalhos acadêmicos produzidos no período que

expressassem a preocupação com a referida temática.

No período analisado observamos a produção de diversos trabalhos sobre a política de Assistência Social e ainda sobre o

trabalho do assistente social nesta política setorial, o que aponta para uma tendência expressiva de análise sobre esta política

que ainda permanece predominante em relação à análise de outras políticas setoriais. Porém dos trabalhos analisados,

percebeu-se que há pouca ênfase na experiência do trabalho profissional do assistente social e os limites e possibilidades de

materialização do projeto profissional nesta política, demonstrando que o objeto que pretendo estudar não tem sido a ênfase

de investigação, prioritariamente, no âmbito do mestrado, embora a maioria dos trabalhos científicos perpasse a discussão da

política de Assistência Social. Dessas dissertações com enfoque na tensão entre trabalho assalariado do Assistente Social e

projeto profissional na política de Assistência Social são, em sua maioria, provenientes de universidades públicas (onze de

universidades públicas e uma da PUC do Rio Grande do Sul). Tais centros de formação estão concentrados na região sudeste

do país (cinco dissertações) e observamos sete pesquisas fora dessa região: seis na região nordeste, uma na região sul (Vide

apêndice A).

Page 19: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Na pesquisa de campo, o papel do sujeito que pesquisa é essencialmente ativo, pois o

mesmo apreende não a aparência ou a forma dada do objeto, mas a sua essência, a sua

estrutura e a sua dinâmica (NETTO, 2009).

E para obtenção do conhecimento concreto do objeto, em suas múltiplas

determinações, foram realizadas entrevistas individuais semi-estruturadas3 com as assistentes

sociais dos referidos Equipamentos (três CRAS`s e um CREAS do município de Rio Bonito/

RJ), no ano de 2012 / 2013:

A entrevista é o procedimento mais usual do trabalho de campo. Através dela, o

pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Ela não significa

uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos

fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam uma

determinada realidade que está sendo focalizada. Suas formas de realização podem ser de

natureza individual e/ou coletiva (NETO, 1994, p. 57).

Nesse sentido, a metodologia abrangeu além da pesquisa bibliográfica e a pesquisa

documental, também a aproximação empírica com os sujeitos do campo, além da observação

participante, uma vez que a pesquisadora, no período de realização da pesquisa, coordenava a

Proteção Social Básica no município estudado. Então, podemos afirmar que além da técnica

de entrevista individual, foi utilizada a técnica de pesquisa observação participante. Através

dessa técnica foi possível obter informações que complementaram as entrevistas semi-

estruturadas (MINAYO, 1994).

Foram entrevistados 06 Assistentes Sociais, que concordaram em participar com a

referida pesquisa, cuja concordância foi explicitada no termo de consentimento livre e

esclarecido, conforme recomendações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

A pesquisa de campo, de natureza exploratória e qualitativa, sob o referencial dialético

crítico, ostenta os estudos sobre a tensão entre trabalho assalariado do assistente social e as

possibilidades e limites para a materialização do projeto profissional na política de

Assistência Social.

O processo investigativo foi realizado no período de 2012 e 2013 e contou com a

participação de profissionais assistentes sociais, que se encontravam em pleno exercício do

trabalho nas instituições da esfera pública estatal no âmbito da política de Assistência Social -

Prefeitura Municipal de Rio Bonito/RJ. A proposta investigativa foi submetida à Comissão

Científica da Faculdade de Serviço Social da UFF, sob o projeto de pesquisa intitulado: “O

Serviço Social no contexto do SUAS: limites e desafios postos ao exercício profissional”,

3Segundo Neto (1994), as entrevistas semi-estruturadas buscam articular duas modalidades ou técnicas de entrevistas: uma

diz respeito à entrevista aberta, onde o entrevistado pode abordar livremente o tema proposto e a outra modalidade diz

respeito à entrevista estruturada, que pressupõe perguntas previamente formuladas.

Page 20: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

realizado pelo Grupo de Pesquisa de Economia Política da Pobreza e da Desigualdade-

GPODE – Escola de Serviço Social da UFF, sob a coordenação da ProfªDrª Simone Rocha da

Rocha Pires Monteiro que também é co-orientadora deste trabalho científico. A pesquisa foi

submetida às normas éticas destinadas à pesquisa envolvendo seres humanos, da Comissão

Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). O depoimento dos profissionais foi abordado na

sistematização da pesquisa, de forma anônima.

Nessa etapa resgatamos, ainda, a inserção do Serviço Social nos equipamentos

estudados, além de identificar o processo de trabalho coletivo que se inscreve o assistente

social e suas particularidades. Pois esses espaços possuem racionalidades distintas na divisão

social e técnica do trabalho (ALMEIDA & ALENCAR, 2011). A partir de análise de dados

qualitativos obtidos das entrevistas semi-estruturadas, da sistematização de experiências, da

observação participante e da pesquisa documental destacamos a atuação do assistente social

junto aos usuários dos serviços nos CRAS`s e CREAS, apresentando a metodologia que

associa as ações profissionais a um trabalho socioeducativo.

Faz-se necessário a análise das experiências profissionais não apenas voltada ao como

fazer, mas também uma análise crítica e teoricamente fundamentada do trabalho realizado e

das estratégias coletivas construídas, que possibilitem potencializar caminhos que reforcem

direitos, nesses espaços privilegiados de atuação dos assistentes sociais (IAMAMOTO, 2007).

Esta etapa de apropriação crítica do conhecimento materializa-se na abordagem dos

resultados da pesquisa de campo, com articulação dialética e de mediação das pesquisas

documental e bibliográfica, desenvolvidas através de 04 (quatro) eixos principais: 1)estudo

sobre os objetivos e o desenho operacional dos CRAS`s e CREAS, a partir do estudo de suas

legislações e dos seus documentos oficiais; 2) identificação dos avanços e desafios da política

da Assistência Social na atualidade, sob a lógica do SUAS, quanto a sua reafirmação como

política e seu reconhecimento enquanto pública e como esta tem sido compreendida pelos

assistentes sociais dos referidos equipamentos estudados; 3) o contexto de inserção dos

assistentes sociais nesses equipamentos da política de Assistência Social no município de Rio

Bonito/RJ, no marco dos dilemas da precarização do trabalho; 4) o direcionamento social que

os profissionais pretendem imprimir ao seu trabalho, condizente com o projeto ético-político

da profissão frente a alienação do trabalho assalariado.

A abordagem utilizada é a descritiva com característica qualitativa, pois segundo

Minayo (1994) a pesquisa qualitativa responde questões subjetivas de um nível de realidade

que não pode ser quantificado, isto é, está além das aparências. Os instrumentos de coleta de

Page 21: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

dados foram: análise documental, observação e entrevista semi-estruturada. A apreciação

desses dados foi orientada na técnica de análise de conteúdo, além de análise teórica à luz de

referenciais teórico-analíticos mais universais, que permitiu contextualizar a particularidade

da profissão no espaço sócio-ocupacional no âmbito da política estudada.

Assim, o Serviço Social será problematizado neste trabalho, no contexto do

neoliberalismo e da reestruturação produtiva, que caracteriza o trabalho precarizado. A

pesquisa revelará como as condições de trabalho podem comprometer a qualidade dos

serviços e as possibilidades de materialização do projeto ético-político da profissão.

Page 22: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

CAPÍTULO 1– CAPITALISMO E POLÍTICA SOCIAL NA

CONTEMPORANEIDADE: CRISE E MUDANÇAS REGRESSIVAS.

O capítulo em apreço visa discutir a crise do capital a partir dos seus rebatimentos no

financiamento da Seguridade Social brasileira. Para uma melhor análise dos processos de

ajuste estrutural no capitalismo contemporâneo e suas inflexões no papel do Estado e

reestruturação das políticas sociais no Brasil, faz-se necessário compreendermos como esse

contexto de transformações sociais incide no aprofundamento das desigualdades, cujas

tendências destrutivas se estendem por toda parte, através da expropriação e violação das

condições fundamentais de vida da classe trabalhadora, com o desmonte dos direitos

historicamente conquistados, com a desorganização política dos sujeitos coletivos e com a

criminalização dos movimentos sociais.

1.1- A crise estrutural do capitalismo:

Ao mencionar a ordem internacional e a dinâmica global do capitalismo, Marx (1971)

procurou mostrar que as crises econômicas nesse sistema de produção decorrem, de certo

modo, do próprio sucesso do capital, já que esse sistema não sobrevive sem expansão e/ou

acumulação. Para Marx (1971) há duas fontes potenciais de crise: a primeira é a tendência à

queda da taxa de lucro decorrente do aumento da composição orgânica do capital, provocada

pelo avanço dos investimentos em capital constante, isto é, máquinas e equipamentos

tecnológicos que aumentam a produtividade do trabalho. A segunda é a crise de

superprodução ou subconsumo em relação à demanda, ou seja, a produção de uma maior

quantidade de mercadorias do que a capacidade dos consumidores para comprá-la. Para Marx

(1971), as crises são provocadas pelo choque entre desenvolvimento das forças produtivas e

as relações de produção existentes, sendo que a estrutura econômica só é determinante em

última instância. (MARX, 1971).

Esse trabalho situa a crise do sistema capitalista enquanto expressão de suas próprias

contradições no âmbito da dinâmica da acumulação. Pois, a crise não é entendida como um

acidente de percurso, nem algo aleatório ou independente do movimento do capital.

A crise é constitutiva desse modo de produção e não há possibilidades de existência do

capitalismo sem crise, pois ela é funcional ao seu modo de produção: é por meio dela que o

capitalismo se restaura e cria as condições necessárias à sua continuidade (MARX, 1971).

A crise do capital, com o decorrer do tempo veio assumindo uma dimensão que não se

limita apenas ao âmbito local, mas também perpassa a dimensão mundial. Precisamos

Page 23: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

compreender a natureza dessa crise a partir do entendimento de como se dá o processo

econômico de interdependência dos países capitalistas (HARVEY, 2011).

Quando a economia de um país se encontra num momento de funcionamento normal, as

coisas procedem mais ou menos desta forma: os industriais, para produzir, necessitam

comprar matéria-prima e máquinas de outros empresários. A produção de uma fábrica

estimula a produção de outras. Os empresários pagam salários aos seus empregados. Estes

compram alimentos e produtos industrializados. Com isso o comércio cresce. Outros setores,

como o bancário, de transporte, de diversão e de serviços, também são incentivados pelo

aumento da produção e do consumo (CHESNAIS, 1996).

Da mesma maneira que há uma interdependência entre as atividades econômicas de um

país, ela existe também entre as economias de vários países. Com a expansão do capitalismo,

essa interação passou a ser cada vez maior. Os países importam e exportam. Os capitalistas de

um país fazem investimentos em outros países (CHESNAIS, 1996).

Nas fases de expansão, o crescimento econômico atinge vários países. Nas fases de crise,

isto é, de recessão, os efeitos negativos também se alastram igualmente (HARVEY, 2011).

A história do sistema capitalista tem apresentado fases de expansão seguidas de fases de

recessão. Isso mostra que ele não é um sistema estável, mas sempre sujeito às crises cíclicas

e/ou estruturais. O próprio processo de expansão cria as condições para a crise, e as medidas

para solucioná-la criam as condições para uma nova fase de expansão (HARVEY, 2011).

Lênin em “O Imperialismo: fase superior do capitalismo” (2005) explicita as crises e

depressões no capitalismo enquanto resultados de subordinações dos capitais mais fracos

pelos mais fortes. Pois para o autor, a lógica do capital é absolutamente inseparável do

imperativo da dominação do mais fraco pelo mais forte.

Lênin ao explicar a formação dos monopólios através das crises sucessivas no final do

século XIX, baseada na livre concorrência, ressalta a capacidade dos capitais mais fortes em

suportar por mais tempo os períodos de recessão, com preços de mercadorias mais baixos, por

um período maior em relação aos capitais mais fracos.

O momento de crise abriu precedentes para a concentração do capital nas mãos dos

grandes grupos empresariais. Dessa forma, para Lênin (2005), a crise possibilita destruir os

capitais mais fracos, fortalece os capitais mais fortes, destrói meios de produção arcaicos e

cria novas formas de controle sobre o trabalho. Pois a crise, para Lênin (2005), cria condições

eficazes para o capitalismo eliminar os obstáculos e continuar se reproduzindo.

Page 24: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Harvey (2011) reconhece que desde 1973, o mundo capitalista vivenciou centenas de

crises financeiras, que só serviram para “racionalizar as irracionalidades do capitalismo”,

levando-o “a reconfigurações, novos modelos de desenvolvimento, novos campos de

investimentos e novas formas de poder de classe” (HARVEY, 2011, p. 18).

Mandel (1990) aponta para a necessidade de se diferenciar os “fenômenos do aparecimento

da crise, de seus detonadores, sua causa mais profunda e sua função no quadro da lógica

imanente do modo de produção capitalista” (MANDEL, 1999, p. 211). Dessa forma, torna-se

indispensável o saber distinguir os acontecimentos detonadores com as causas da crise. Por

exemplo: a crise do Petróleo de 1973/74 foi um acontecimento que propiciou a crise e

aumentou a gravidade da recessão, mas não pode ser confundida como a causa da crise do

capitalismo. Segundo Mandel (1999, p. 2012), para que esses acontecimentos detonadores

venham a desencadear a crise, “é necessário que coincida com toda uma série de pré-

condições que não decorrem em medida alguma da influência autônoma do detonador”

(MANDEL, 1999, p. 2012).

No fim da Segunda Guerra Mundial até o início dos anos 1970, o capitalismo vivenciou

um período de expansão, período este conhecido como “30 anos gloriosos do capitalismo”,

sob a influência das políticas econômicas fundamentadas nas teorias de John Maynard

Keynes, além de expressivos avanços na estrutura produtiva fordismo/taylorismo, que

contribuíram para “onda longa expansiva” (MANDEL, 1990, p. 27) do processo de

acumulação capitalista, permitindo um alto nível de concentração e centralização do capital.

No âmbito da acumulação sob o padrão fordista/taylorista, há uma evidente racionalização

da produção, com aumento dos lucros. Pois a exploração sobre o trabalho, somado aos

investimentos e ao incremento de novas tecnologias, aumentou a extração da mais-valia

relativa4.

Por outro lado, o mundo capitalista também presenciou, a partir dos anos 1945, um grande

movimento de articulação entre as diversas economias, sob a hegemonia do grande capital

monopolista norte-americano, que imprimiu na economia de vários países o seu padrão de

produção e consumo. Iniciava-se, nesse período, um processo de articulação entre vários

4 Quando se tem o aumento da duração da jornada de trabalho sem alteração do salário, tem-se o tempo de trabalho

excedente. Porém essa extensão da jornada de trabalho sem alteração salarial, que pressupõe a conservação da mesma

duração do tempo de trabalho necessário, mais o acréscimo do tempo de trabalho excedente designa-se como produção de

mais-valia absoluta. Quando não é possível a ampliação da jornada de trabalho, os capitalistas buscam estratégias para

reduzir o tempo de trabalho necessário, mas com acréscimo no tempo de trabalho excedente. Isto é, para prolongar o trabalho

excedente, encurta-se o trabalho necessário com métodos que permitem produzir-se em menos tempo o equivalente ao

salário. E essa redução no tempo de trabalho necessário implica uma redução no valor dos bens necessários à reprodução da

força de trabalho. Com essa maneira de se incrementar a extração de valor excedente é denominada de produção de mais-

valia relativa. (Marx, 2005, Livro 1, v. 2).

Page 25: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

países capitalistas, via internacionalização do capital (por meio de empresas transnacionais), a

mundialização do capital financeiro e da divisão internacional dos mercados e do trabalho.

Prevalecia, então, a hegemonia da economia americana que avançava em direção aos

novos mercados produtores e consumidores, porém, permitindo no seu mercado interno, a

penetração de produtos alemães e japoneses. Os EUA influenciava a concorrência

intercapitalista, abrindo espaços para a penetração de suas empresas na Europa e nos países

periféricos, incentivando também as disputas pela ocupação do mercado internacional com a

Alemanha e o Japão.

O processo de internacionalização do capital demonstrava que o capital não possui pátria,

pois as forças produtivas haviam ultrapassado os limites do próprio Estado nacional,

avançando na produção de mais-valia, através de empresas transnacionais, em diferentes

países simultaneamente.

No âmbito do Estado, constituiu-se, no século XX, a forma do Welfare State. Um Estado

de bem-estar-social, fundado sobre as técnicas Keynesianas de controle da economia, que

possibilitou uma redução vertiginosa do desemprego, com garantias de direitos sociais aos

trabalhadores (MANDEL, 1990).

Mas no fim da década de 1960 e início dos anos de 1970, o capitalismo entra em uma crise

de superprodução, com uma evidente inversão da “onda longa expansiva” do capital para uma

“onda longa depressiva” (MANDEL, 1990, p. 27). O declínio das taxas de lucros dos grandes

monopólios transnacionais, a redução do crescimento econômico nas principais economias

capitalistas e o crescente déficit fiscal dos Estados, denunciavam o fim da era gloriosa do

capital.

É notório salientar, que o processo de internacionalização do capital obrigou muitas

empresas nacionais, que não conseguiam manter-se nessa lógica de fusão empresarial

estrangeira sob viés da competitividade e concorrência externa, a buscarem por algumas

alternativas, como: terceirização de suas atividades, abandono de certas linhas de produção,

busca de parcerias, transferências de controle acionário de suas ações, transferências de

plantas e unidades produtivas e racionalização da força produtiva.

Sob a imposição da concorrência internacional, muitas empresas passaram a buscar níveis

mais rebaixados de remuneração da força de trabalho em reserva, sem experiência sindical e

Page 26: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

política. Para Harvey (1989) assiste-se à passagem de um padrão de acumulação e

regulamentação fordista-keynesiano, para um novo padrão – a acumulação flexível5.

A esta Revolução Industrial, que inicia a partir dos anos 1970, como uma das respostas ao

esgotamento do modelo fordista/keynesiano, possibilitou uma profunda reestruturação

produtiva no contexto da sociedade capitalista. Há uma redução drástica do tempo médio de

trabalho para a produção de mercadorias, acompanhada por uma substituição em grande

escala da força de trabalho humana por novas tecnologias.

Harvey (1989) sinaliza a nova forma assumida na organização do trabalho, pela

reestruturação produtiva, que é a especialização flexível ou acumulação flexível, que parece

implicar níveis relativamente altos de desemprego “estrutural”, afetando os processos de

trabalho, as formas de gestão da força de trabalho, o mercado e os direitos trabalhistas, as

lutas sociais e sindicais, os padrões de consumo, entre outros. Pois a Revolução Industrial,

provocou a expansão de uma “superpopulação relativa6”.

O atual estágio do capitalismo vem produzindo um enorme contingente de desempregados

sem perspectivas de serem reincorporados ao processo de reprodução do capital. O que

enfraquece, nesse contexto, o poder sindical, devido ao quadro de recessão e desemprego,

porque há uma grande quantidade de mão de obra excedente (desempregados ou

subempregados) o que permite a imposição de regimes e contratos de trabalho mais flexíveis.

Verificam-se também a aparente redução do emprego regular em favor do crescente uso do

trabalho em tempo parcial, temporário ou subcontratado.

O incremento de novas tecnologias, com a redução da força de trabalho, veio agravando

cada vez mais a crise dos anos 1970, devido ao aumento da composição orgânica do capital,

que levou a tendência decrescente da taxa de lucros. Existe uma contradição no seio da

mercadoria, em sua capacidade de produção de valores de uso com a sua realização enquanto

valores de troca.

A crise dos anos 1970 possibilitou a reconstituição do exercito industrial de reserva, que

durante o período de expansão do pós- guerra, esteve em número reduzido (MANDEL, 1990).

5Caracteriza-se como uma forma produtiva que articula descentralização com avanço tecnológico. Há uma intensificação sem

precedentes do processo de trabalho; uma combinação entre trabalho extremamente qualificado e desqualificado. A produção

flexível é horizontalizadamente descentralizada. Trata-se de terceirizar e subcontratar uma rede de pequenas /médias

empresas, muitas vezes com perfil semi-artesanal e familiar. A produção é conduzida pela demanda e sustenta-se na

existência do estoque mínimo. Aqui um pequeno grupo de trabalhadores multifuncionais ou polivalentes opera uma

quantidade de máquinas automatizadas, num processo de trabalho intensificado. Acrescenta-se a pressão patronal pelo

sindicalismo por empresa – “sindicalismo de envolvimento” – e a pressão do desemprego para toda a vida. Esseabala

fortemente as condições de vida e trabalho da classe que vive do trabalho e acentua o fenômeno da dês-sindicalização e da

dificuldade de constituição da consciência de classe (MOTA, 1995).

6 Foi utilizado por Marx em sua obra célebre, O Capital, para mostrar a expansão do desemprego que, a partir de então,

configurava-se como fenômeno estrutural (MARX, 1971).

Page 27: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Pois a partir dos anos 1970 havia uma imensa preocupação dos capitalistas em controlar a

oferta do trabalho, porque a força de trabalho era poderosíssima, devido a forte organização

política nesse contexto, através de partidos políticos, lutas sindicais acirradas e o capital

precisava disciplinar a força de trabalho. E uma dessas disciplinas foi a expansão do capital

para onde houvesse trabalho excedente. (HARVEY, 2011).

Na década de 1980 com a expansão globalizada do capital por meio do acesso mundial ao

trabalho de baixo custo, o capitalismo avançou em seu objetivo de por um ponto final no

poder político dos trabalhadores. Segundo Harvey (2011) com a desregulamentação das

finanças que possibilitou uma persistente repressão salarial, a disponibilidade do trabalho

deixou de ser um problema para o capital. Pois a burguesia vem tentando difundir a ideologia

de explicação da crise como conseqüência de uma escassez e não como “superprodução” de

mercadorias (MANDEL, 1990, p. 232). A grande intenção da burguesia do Estado neoliberal

é a de responsabilizar o Estado burguês intervencionista de Keynes pelos gastos em políticas

sociais e os trabalhadores pelo desemprego, na medida em que a teoria capitalista justifica a

queda da taxa de lucro enquanto fruto do aumento salarial.

Para Marx, no Tomo III de “O Capital”, as crises do capitalismo são resultantes da redução

da taxa de lucro e da realização da mais-valia. Segundo os autores, no contexto de expansão

do capitalismo, a diminuição da realização dos lucros não aparece de imediato. É preciso que

haja um montante de capitais que não será mais reaproveitado na produção, devido à

dificuldade de se encontrar setores mais lucrativos e de se manter o preço mais baixo das

matérias-primas, por conta da concorrência que acentua a queda nos preços.

Com a baixa rentabilidade no desenvolvimento das forças produtivas, cria-se grandes

obstáculos para a sua reprodução, porque com a queda do preço da mercadoria, o capitalista

se vê obrigado a acentuar a realização da mais-valia, só que por meio da apropriação de mais

tecnologias e de um número reduzido de trabalhadores.

A crise é resultado do conjunto de elementos determinantes, que englobam a produção

capitalista de mercadorias e as relações que envolvem essa produção, como: a queda na taxa

de lucro, o aumento da composição orgânica do capital, o aumento da capacidade de produção

excedente, o subconsumo e a superacumulação de capitais.

A partir dos anos 1980, o capital avançou em sua busca por uma solução em relação a

baixa rentabilidade que foi forçado a suportar durante a década anterior. O montante de

capitais acumulado para a expansão do capital é agora desviado do setor produtivo para os

setores improdutivos (financeiro/ rentista) sobre o véu especulativo parasitário (MANDEL,

Page 28: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

1999). Pois os grandes capitais privilegiaram, em suas novas aplicações, o setor financeiro.

Inicia-se a nova fase do capitalismo em sua etapa especulativa e parasitária.

O processo especulativo do capitalismo foi favorecido pela desvinculação do dólar e do

ouro pelos Estados Unidos, rompendo o Acordo, em 1971, de Bretton-Woods7, Dentre outros

fatores que favoreceram o processo especulativo do capitalismo, podemos citar a alta dos

preços do petróleo articulada pela organização dos países exportadores do mesmo e ainda o

endividamento externo acordado por diferentes países. O capitalismo especulativo foi

crescendo muito mais rapidamente do que o capitalismo produtivo.

Para a contenção da crise dos anos 1970, uma das medidas tomadas foi a adoção das

políticas monetárias anticrise, como alternativa para contenção da inflação e de restrição ao

crédito, resultantes de um gigantesco déficit orçamentário. Na década de 1980, o capitalismo

adotou medidas através das liberações propostas pelo chamado consenso de Washington e de

uma reestruturação na produção, com adoção do sistema toyotismo de organização produtiva.

Como respostas a essa crise, o neoliberalismo surgiu como um projeto de classe,

mascarado pelo discurso de liberdade individual, autonomia, responsabilidade pessoal e as

virtudes da privatização, livre-mercado e livre-comércio, mas que de fato sempre buscou a

legitimação e consolidação do poder da classe capitalista. Nesse projeto de classe, o Estado

aparece como o sistema do capital por excelência, pois o Estado é acionado a intervir na crise,

não como aquele que possui a capacidade de eliminá-la, mas como aquele que pode amenizar

os seus estragos (MANDEL, 1990).

Nesse sentido, as medidas para a saída da crise provocou além de uma desvalorização do

papel da moeda e uma inflação descontrolada, também o endividamento crescente de vários

países capitalistas. A política neoliberal e a menor expansão do capital produtivo foram,

então, determinantes para a elevação do desemprego estrutural, facilitando o aumento da

exploração do trabalho vivo em nível mundial.

Se por um lado, parecia que o capital havia encontrado uma “forma mágica” de gerar

lucros elevados sem “sujar as mãos na produção” (CARCANHOLO, 2010, p.49), por outro

lado, obscurecia-se nesse processo a elevação da exploração da força de trabalho no setor

produtivo.

Em resposta a uma onda prolongada de crise, o capitalismo vem avançando em sua missão

de internacionalizar a produção e os mercados, definindo o papel e limites do Estado nacional

7 Acordo firmado em 1944, entre os países capitalistas para as relações comerciais e financeiras, em que se estabeleceu o

padrão ouro como lastro para as transações econômico-financeiras internacionais.

Page 29: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

e a organização das forças produtivas na esfera da produção (com a organização do trabalho)

e nas relações sociais.

No contexto do capitalismo maduro, os países centrais passaram a preconizar “ajustes

estruturais” por intermédio dos organismos multilaterais (FMI, Banco Mundial e Organização

Mundial do Comércio) e por parte dos Estados Nacionais (IAMAMOTO, 2007).

Esses ajustes estruturais macroeconômicos permitem uma nova ordem mundial do

capitalismo especulativo financeiro, por meio de um desenvolvimento desigual e combinado,

que visasse à elevação da produtividade e competitividade, com fortes movimentos de

reestruturação produtiva e lucratividade dos grandes conglomerados multinacionais, o que

exige, nesse contexto, um Estado forte aos interesses do grande capital, no que diz respeito à

garantia na esfera financeira, da desregulamentação do mercado e liberalização da economia;

e ainda um Estado forte para resistir aos movimentos opositores da classe trabalhadora.

Apesar das crises gerarem impactos negativos sobre o emprego, salários e mecanismos de

Seguridade Social, essas crises não significam automaticamente a obtenção de um consenso

passivo das classes. Mas essas crises são possibilidades para a formação de uma cultura

política de medidas de ajustes de corte classista que permite a burguesia reelaborar as bases de

sua hegemonia (MOTA, 1995).

Segundo Meszáros (1998), estamos na era de uma “crise histórica sem precedentes”, que

para Carcanholo (2008) é mais do que uma crise financeira ou creditícia, pois ambos os

autores concordam em não denominá-la enquanto crise cíclica mais ou menos extensiva,

como aquelas vividas no passado, em que o sistema se recompõe e cria as condições

necessárias para a sua continuidade. Também, para estes, não é uma crise resultante da

desregulação do capital especulativo, Pois se trata de uma crise “estrutural”, “profunda” e

constitutiva do próprio sistema do capital. Meszáros (1998) afirma que o sistema do capital é

um sistema “irreformável e incontrolável”, porque possui na sua base um antagonismo

estrutural destrutivo que atinge todo o conjunto da humanidade, que em nada se beneficiou

com as fases de realização do capitalismo, principalmente em sua fase especulativa.

Carcanholo (2008) sugere que entender a atual crise do capitalismo, pressupõe identificar as

contradições internas e inerentes na atual etapa desse sistema e como essas contradições se

agravam com o tempo.

A crise capitalista, que se processou nos Estados Unidos, no setor imobiliário, com a “crise

do subprime imobiliário” de 2008 e que se estendeu a todo o sistema financeiro, com o

congelamento dos mercados globais de crédito, assim como a maioria dos empréstimos no

Page 30: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

mundo, atingindo o setor da economia real gerando desempregos e levando várias empresas à

falência. Uma crise mais profunda e duradoura, por estar, em geral, baseada em créditos de

alto risco e de retorno demorado. A estabilidade de antes de “excesso de liquidez” inundando

vários países capitalistas, conforme relatou o FMI, “de repente se viu sem dinheiro e inundado

por casas, escritórios e shopping centers em excesso, além de ainda mais capacidade

produtiva e trabalho excedentes” (HARVEY, 2011, P. 13).

Os Estados Unidos vivenciou no fim dos anos 2008, problemas mais profundos em todos

os segmentos da economia, o que resultou num descrédito por parte do consumidor,

acompanhado de uma queda nas vendas à varejo, com fechamento de lojas e fábricas, além de

interrupções em diversas construções habitacionais e o crescente número de desempregados,

sem mencionar a forte repressão salarial (HARVEY, 2011).

O sistema financeiro americano veio oferecendo grandes facilidades de financiamentos de

imóveis para diferentes famílias, inclusive as de renda mais baixa e instável. Pois com o

crescimento da indústria de cartões de crédito e do endividamento nos EUA, em 1980, as

dívidas da população empregada dispararam, pois os seus rendimentos não estavam

aumentando. As instituições financeiras, inundada com crédito, começaram a financiar a

dívida de famílias endividadas.

No fim dos anos 1990 o mercado havia se esgotado e teve que ser ampliado para aquela

população com rendimentos mais baixos. Este crédito oferecido à população de baixa renda,

sem garantias suficientes para se beneficiar de uma taxa de juros mais vantajosas, ficou

conhecido como subprime. Até o final de 2006, a maior parte dos contratados pagava juros

mais baixos. Posteriormente, como os financiamentos possuíam juros progressivos que

aumentavam a cada prestação, o juro elevado era incompatível com a renda das famílias

americanas de baixa renda. Nesse sentido, as dívidas não estavam sendo pagas, muitas

famílias estavam perdendo suas casas e outras correndo o risco de serem despejadas, porque

deviam “mais por suas casas do que o próprio valor do imóvel” (HARVEY, 2011, p. 9).

No outono de 2008, a crise do subprime imobiliário se espalhou pelo mundo, atingindo

fortemente os grandes bancos de investimentos, a economia de vários países capitalistas, tanto

pela via do comércio exterior como pela via dos fluxos financeiros. A paralisação dos

mercados globais de crédito, congelando a maioria de empréstimo no mundo, assim como a

desintegração dos mercados de ação, rachando os fundos de pensão, foram espalhadas, no

mundo capitalista, enquanto pânico do sistema financeiro.

Page 31: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

No início de 2009, até o modelo de industrialização baseado em exportações foi afetado.

Houve uma queda expressiva do comércio global internacional, criando tensões nas

economias predominantemente exportadoras, como Brasil e Alemanha. Vários países8

produtores de matérias primas e bens (como o petróleo), se depararam com várias

dificuldades decorrentes da queda de preços.

A crise que começou no mercado imobiliário nos Estados Unidos em 2007/2008 se

propagou de uma esfera para outra, espalhando-se ao redor do mundo por uma rede financeira

comercial e financeira articulada, atingindo toda a humanidade, inclusive a classe

trabalhadora por meio da política de repressão salarial.

1.2- Os impactos da crise do capital na Seguridade Social brasileira: discutindo as bases

da contrarreforma neoliberal do Estado.

Nesse contexto de crise que vivemos, percebe-se claramente a sua repercussão direta

no movimento de transformação na utilização do conceito de sociedade civil e

refuncionalização do papel e das funções clássicas do Estado com seus desdobramentos no

campo das políticas sociais, que são atingidas por um processo sangrento de conversão do

fundo público aos grandes interesses do capital fictício, o capital que rende juros (MOTA,

2012).

É imperativo ao capital, em sua busca por mudanças na conjuntura, a obtenção do

consentimento ativo dos trabalhadores, porque não se trata mais de uma intervenção pelo alto,

mas sim da construção de uma cultura política que permita à burguesia reelaborar as bases de

sua hegemonia (MOTA, 1995).

Por outro lado, a burguesia também tenta disseminar, no plano econômico, as derrotas

políticas conjunturais das classes subalternas, sob o discurso do fim das ideologias, do

fracasso do socialismo, da indiferenciação das condições de classe. Mas para o capital realizar

as suas reformas a situação de derrota das classes trabalhadoras não seria suficiente, ele

precisa do consentimento dos trabalhadores ao seu projeto (MOTA, 1995).

O Estado, ao facilitar as condições gerais de ampliação do capital, mostra sua face

classista; há uma busca de construção de um consenso em torno da crise estrutural do capital.

Há uma difusão ideológica do projeto burguês em que o objetivo é fazer crer a todo o

conjunto da sociedade de que a crise atinge a todos indiscriminadamente (MOTA, 1996).

8 “Como a Rússia e a Venezuela, assim como os Estados do Golfo” (HARVEY, 2010, p. 13).

Page 32: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

As classes dominantes possuem a capacidade de gerar consenso, pois detém não só os

meios de produção, mas os meios de comunicação, educação e cultura. É reforçado o laço de

solidariedade social, o sacrifício que todos devem efetivar no enfrentamento da crise. E assim

é construída a idéia de um problema coletivo (MOTA, 1995).

Nos anos 1980, a sociedade civil brasileira conseguiu se constituir enquanto espaço

mobilizador e alvo de constantes disputas pelo estabelecimento de determinados consensos. É

neste período que ocorre a mobilização e organização política de vários sujeitos e forças

sociais, com propósitos e interesses distintos, exigindo do Estado o reconhecimento, a

garantia e afirmação de seus direitos (DURIGUETTO, 2007).

O golpe militar de 1964 inaugurou um período de ditadura que marcou a história brasileira

até 1985. Neste cenário de negação dos poderes políticos qualquer forma de reivindicação e

manifestação popular ou partidária era considerada subversiva e tinha como resposta a

repressão dos organismos militares.

No período de 1964-1985, há uma modificação no conteúdo do Estado, que deixa de ser

populista para tornar-se tecnocrático, fundado em um restrito “pacto de dominação” entre as

elites civis e militares, com o apoio das classes médias.

Nesse período de autocracia burguesa (1964 a 1984) também se acentua a

transnacionalização do Estado brasileiro sob o comando governamental de ditaduras militares.

Garantida a entrada e permanência de uma ampla gama de capitais de diversos locais do

globo, o Estado brasileiro, como outros países centrais, passou a conduzir sua economia a

partir de orientações externas, fundamentalmente dadas pelos organismos internacionais.

As políticas sociais assumem novamente papel estratégico - como na ditadura de Vargas –

como forma de assegurar “simpatia às classes populares” alijadas do novo pacto de poder,

assim, como, favorecer o desenvolvimento econômico. As políticas sociais são marcadas por

um processo de autoritarismo e centralização de decisões na esfera federal; pela privação de

espaços no interior das políticas sociais, que se tornam áreas atrativas de investimento do

capital privado; pela modernização e ampliação de beneficiários das políticas sociais,

principalmente na esfera previdenciária.

Em nome da promessa de que o desenvolvimento traria a distribuição de renda nas décadas

de 1960 e 1970 o povo brasileiro conviveu com a queda dos salários, crescentes

desigualdades sociais e silenciamento de suas reivindicações.

Via-se o empobrecimento da população, com rígida separação entre pobres e

trabalhadores. A Seguridade Social se estendia somente para os trabalhadores que

Page 33: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

contribuíam para a Previdência e as ações assistenciais para aqueles que não tinham acesso ao

emprego e viviam das ações pontuais e dos favores da rede assistencial.

O fim da ditadura militar, em 1985, ocorre por meio de um processo de “transição

conservadora”, que, embora aberto a algumas das reivindicações dos movimentos sociais e da

classe trabalhadora, não rompe com interesses econômicos e sociais do período anterior.

Sendo assim, o governo democrático que se instaura tem uma liberdade de ação muito restrita,

no que diz respeito à efetivação de mudanças estruturais no quadro socioeconômico vigente.

Com a ampliação da desigualdade na distribuição de renda e riqueza, sobretudo, nos anos

1980, a pobreza vai se converter em tema central na agenda social. O relatório anual de 1990

do Banco Mundial expressou essa preocupação com a obtenção de um novo consenso de

classe a partir de reformas sociais com foco na pobreza. É nesse contexto e na “contramão” da

ordem mundial- que enfatiza a diminuição do Estado na implementação de políticas públicas-

o Brasil vai instituir constitucionalmente, em 1988, seu sistema de Seguridade Social.

A Seguridade Social brasileira foi instituída com a Constituição Federal de 1988,

incorporando princípios dos modelos alemão bismarckiano9 e o beveridgiano inglês

10, sob

uma lógica que restringia a previdência aos trabalhadores contribuintes e da universalização

dos direitos no âmbito assistencial para aqueles sem estabelecimento de uma contribuição

direta prévia.

A Seguridade Social se estrutura de maneira diferenciada nos marcos dos países

capitalistas da Europa ocidental e da América Latina, em decorrência do contexto histórico,

conjuntural e ainda de acordo com a organização da classe trabalhadora. Pois se estrutura

tendo como referência a organização social do trabalho.

No avanço do modo de produção capitalista, conforme demonstrado anteriormente, há uma

intensificação do processo de acumulação de mais valia e, conseqüentemente, há também uma

intensificação da exploração da força de trabalho. No entanto, a luta de classes só ocorre

quando o sujeito social reconhece a sua condição de “explorado”, alcançando sua consciência

9 O modelo bismarckiano nasceu na Alemanha, no final do século XIX, em 1883, enquanto primeira iniciativa de benefícios

previdenciários que vieram a constituir a Seguridade Social no século XX, durante o Governo do Chanceler Otto Von

Bismarck, como respostas às pressões dos trabalhadores. Esse modelo estruturava-se como um sistema de seguros sociais,

porque se assemelhavam ás de seguros privados. A condição de acesso aos benefícios apontava a uma contribuição direta

anterior e ainda o valor do benefício variava de acordo com a contribuição efetuada, baseada na contribuição direta de

empregados e empregadores através da folha de salários com participação dos empregadores e empregados e sob a gerência

do Estado. Esse modelo que é predominante em muitos benefícios da Seguridade Social, destinava-se a “manter a renda dos

trabalhadores em momentos de risco social decorrentes da ausência do trabalho” (BOSCHETTI, 2009, p.325).

10 O modelo beveridgiano surge na Inglaterra, durante a Segunda Guerra Mundial, em 1942, com o objetivo principal de luta

contra a pobreza, sob a defesa de direitos em caráter universal a todos os cidadãos, independente de contribuição prévia,

porém garantindo mínimos sociaiscom base nas necessidades sociais. Nesse sentido, propõe a instituição do WelfareState, a

partir de uma série de críticas ao modelo vigente: o modelo bismarckiano. O financiamento do modelo beveridgiano é

proveniente de impostos fiscais, sob uma gestão pública, estatal. (BOSCHETTI, 2009)

Page 34: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

política, e ingressa no palco de disputas entre as classes. É desse processo de luta entre as

classes fundantes, entre 1920-1930, que surge a questão social no qual se manifesta de

variadas formas, conseqüentemente, surgem às políticas sociais como uma das formas para o

seu enfrentamento (PEREIRA, 2012).

O indivíduo com sua capacidade de resistência, quando se insere no cenário político a fim

de reivindicar às suas situações de opressão e de exploração, este passa a buscar iniciativas no

âmbito dos direitos, que vêm como respostas às demandas imediatas. Isto é, a relação

capital/trabalho é uma relação conflituosa que vai exigir que a classe trabalhadora (explorada

e pauperizada) reaja e reivindique respostas do Estado. O Estado vai responder à classe

trabalhadora através da configuração e concessão de alguns direitos previstos

constitucionalmente.

Então, podemos dizer que as políticas sociais se configuram no momento em que a classe

trabalhadora insatisfeita com sua situação de exploração começa a se organizar e a exigir

respostas do Estado. Mas as conquistas desses direitos e a sua regulamentação na forma da

lei, não significam a superação das situações de opressão, exploração, nem de desigualdade

social. Porque as respostas dadas aos sujeitos em suas lutas e reivindicações sociais

perpassam por historicidade e por interesses de classes a partir de embates políticos. É preciso

compreender quais interesses têm prevalecido.

Behring (2003) aponta a necessidade de estarmos indo para além das lutas, das

reivindicações pela construção dos direitos. O “lutar por direitos, mas ir além dos direitos”,

pressupõe uma luta que vise a sua consolidação e ampliação, reafirmada numa outra ordem

social, isto é, num projeto político emancipatório.

Na luta da classe trabalhadora contra a exploração do capital é que possibilita a

configuração da política social. Como uma política de Estado ela tem por objetivo

“circunscrever os limites da exploração do trabalho pelo capital, e colocar como prioridade as

necessidades sociais” (BEHRING, 2009, p. 314). Mas não podemos desconsiderar o fato de

que as políticas possuem um caráter contraditório, pois ao mesmo tempo em que são

concebidas enquanto forma de garantir a reprodução da classe trabalhadora, no sentido de

garantir a configuração dos seus direitos, elas também são vistas enquanto mecanismos de

amenização, de controle da classe trabalhadora e manutenção da ordem capitalista.

No pós - Segunda Guerra Mundial, o Estado, segundo Harvey (2008), veio se

reestruturando com o escopo de evitar situações de conflitos geopolíticos interestados e

Page 35: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

também entre classes sociais a partir do estabelecimento do acordo entre capitalistas e

trabalhadores, enquanto garantia da paz e da tranqüilidade doméstica.

Com a combinação de Estado, mercado e instituições democráticas para assegurar a paz, a

inclusão e o bem-estar, tornar-se possível a implantação de políticas fiscais e monetárias

caracterizadas como “Keynesianas11

”. Essa forma de organização política – econômica é

chamada por Harvey como “liberalismo embutido”, com concentração no pleno emprego, no

crescimento econômico (mantendo sob controle os ciclos de negócios e as recessões) e no

bem estar do cidadão (com cuidados de saúde, instrução, estabelecendo padrões para o salário

social, entre outros) (HARVEY, 2008).

O liberalismo embutido possibilitou elevadas taxas de crescimento econômico nos países

capitalistas avançados, mas em boa parte do resto do mundo esse crescimento econômico

ocorreu de forma desigual. Já o ciclo de negócios foi controlado com sucesso por meio de

aplicação de políticas fiscais e monetárias Keynesianas, com forte presença de um Estado

intervencionista (HARVEY, 2008).

Vale ressaltar que foi na experiência fordista-keynesiana que os sistemas de Seguridade

Social foram ampliados. Então o pacto fordista do pós-guerra significou o reconhecimento do

capital de sua impossibilidade da auto-regulação mercantil das crises, dando lugar às

propostas Keynesianas ou do “liberalismo embutido”, que instituiu as políticas estatais de

regulação econômica e social, por meio de intervenção na relação capital/trabalho (com a

legislação trabalhista, regulamentação de profissões, entre outros), por meio da política

salarial e fiscal, da política de crédito e das políticas sociais públicas (com a regulamentação

das normas de consumo coletivo, objetivando garantir o acesso do cidadão comum a

benefícios e serviços de natureza pública). Não podemos deixar de considerar que o Welfare

State12

, também, foi uma medida conciliatória no processo pós - crise de 1929, com a

11 A preocupação de Jhon Maynard Keynes (1883-1946) em encontrar propostas de saída da profunda crise, cujo ápice foram

os anos de 1929-1932, o levou a defender um liberalismo “heterodoxo”, de intervenção estatal na economia,visando a

reativação da produção. Keynes defendia um Estado produtor e regulador, que abandonasse a dogma liberal-conservadora,

mas sem a defesa da socialização dos meios de produção, com vistas ao rompimento da estrutura capitalista. Para Keynes, o

Estado deveria intervir, evitando insuficiência de demanda efetiva, que seria o fator preponderante à crise do capital. Keynes

apresenta uma visão de Estado neutro e árbitro, que assumiria o papel de interventor na geração de demanda efetiva, por meio

de um conjunto de medidas econômicas e sociais. O Estado, segundo Keynes, assumiria “o papel de restabelecer o equilíbrio

econômico, por meio de uma política fiscal, creditícia e de gastos, realizando investimentos ou inversões reais que atuem nos

períodos de depressão como estímulo à economia” (BEGRING& BOSCHETTI, 2008, p. 85). 12 O WelfareState representou uma preocupação do capitalismo tardio com a externalidade de capitais, de modo a subsidiar a

reprodução tanto dos trabalhadores, quanto do mercado consumidor. O Estado passava a assumir um papel ativo na produção

e regulação das relações econômicas e sociais. Porém, essa forma de regulação estatal só foi possível porque houve o

estabelecimento de políticas Keynesianas, cuja perspectiva era a geração do pleno emprego e crescimento econômico; porque

houve ampliação de instituições e práticas estatais, através de políticas sociais, com vistas a criar demanda efetiva e ampliar o

mercado de consumo; e ainda, porque houve aliança entre classes, isto é, houve acordo entre capital e trabalho, que permitiu

o abandono, pela maioria dos trabalhadores, do projeto emancipatório de socialização da economia. Contudo, essa forma de

Estado social do século XX (WelfareState) não significou ruptura radical com o Estado liberal predominante no século XIX.

Page 36: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

finalidade de se propor uma pequena redução da desigualdade dentro do modo de produção

capitalista. Buscava-se conciliar o que é inconciliável na sociabilidade do capital (PEREIRA,

2012).

As políticas que constituíam os sistemas de Seguridade Social, nesse período, em diversos

países capitalistas apresentavam as características dos modelos bismarckiano e beveridgiano,

com maior ou menor intensidade. Porém a lógica bismarckiana, do seguro social, vai

estruturar os direitos da previdência em praticamente todos os países capitalistas. Só em

alguns países (como França, Inglaterra e Alemanha) essa lógica também estrutura outros

direitos, como a Saúde. Pois são direitos decorrentes do direito do trabalho nesses países, pois

os benefícios são condicionados ao acesso ao trabalho estável que permita uma contribuição

prévia.

Sendo assim, a Seguridade Social, no modelo bismarckiamo, só poderia ser universalizada,

se universalizasse, igualmente, o direito ao trabalho. Mas o modelo de Beveridge propõe a

universalização da Seguridade Social, a partir da universalização dos direitos sem

estabelecimento de contrato de seguro contributivo. Essa lógica garante acesso aos direitos e

benefícios também aos trabalhadores desempregados, ou sob vínculo de trabalho não estável

ou aqueles impossibilitados de trabalhar.

No final dos anos 1960, o liberalismo embutido ou Keynesianismo estava claramente

esgotado, devido a grave crise de acumulação do capital, afetando a todos por meio da

combinação do desemprego, da queda da taxa de impostos e da inflação acelerada. Pois

quando o crescimento de acumulação do capital entra em colápso nos anos 1970, as elites

econômicas e classes dirigentes em toda parte, tanto em países capitalistas avançados como

em muitos países em desenvolvimento, se sentiram ameaçados politicamente. Eles tinham que

agir, apresentando alguma alternativa de superação da crise e ainda como forma de se

“proteger da aniquilação política e econômica” (HARVEY, 2008, p. 13).

A resposta encontrada foi o neoliberalismo, que possibilitou a restauração do poder

das elites econômicas, pois possibilitou o disparo significativo da parcela da renda nacional da

população mundial que vive nos países mais ricos. Nesse sentido Harvey (2008) apresenta o

Neoliberalismo, seja como “um projeto utópico de realizar um plano teórico de reorganização

do capitalismo internacional ou como um projeto de restabelecimento das condições da

acumulação do capital e de restauração do poder das elites econômicas (HARVEY, 2008, p.

Percebe-se uma relação de continuidade entre Estado liberal e Estado social, possibilitando incorporação tanto de princípios

liberais, quanto de orientações social-democratas, num novo contexto socioeconômico marcado por lutas de classe, em que se

tem o reconhecimento de direitos, mas sem questionamento ou rompimento das bases do sistema do capital (BEHRING &

BOSCHETTI, 2008).

Page 37: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

14). Para o autor, na prática o que mais predominou foi o segundo projeto, pois o

neoliberalismo não avançou com eficácia no restabelecimento da acumulação do capital em

escala mundial, mas surtiu pleno efeito em sua missão de restaurar o poder das elites

econômicas.

Harvey (2008), na tentativa de revelar a tensão existente entre a teoria neoliberal e as

práticas reais de neoliberalização, descreve a ascensão desse projeto político que apresentava-

se enquanto solução para saída da crise, oferecendo a cura para estagflação, mas sem medir as

conseqüências para o emprego. Uma política destinada a enfrentar o poder sindical, com

ataque às formas de mobilização social que prejudicassem a flexibilidade competitiva,

destinada ainda a privatizar empresas públicas e a reduzir impostos.

O capital financeiro buscou, de forma crescente, no exterior, elevar suas taxas de

retorno. E consequentemente, há uma forte tendência a desindustrialização doméstica, pois a

produção é cada vez mais levada ao exterior. E o mercado vai tornando-se, nesse processo de

acumulação do capital, aquilo que Harvey chama de “veículo da consolidação do poder

monopolista” (2008, p.18).

Para assegurar recursos financeiros a governos estrangeiros, mantendo abertas novas

oportunidades de investimento e condições razoavelmente seguras para emprestar, defendia-

se a liberalização do crédito e do mercado financeiro internacionais, com apoio do governo

norte-americano que incentivou ativamente essa estratégia no nível global na década de 1970

com intuito de trazer taxas vantajosas aos banqueiros de Nova York. Muitos países em

desenvolvimento, desesperados por recursos, foram estimulados a se endividarem. Mas como

forma de proteger as operações de investimentos das sérias perdas, podemos citar o governo

Reagan no México, que descobriu uma maneira de unir os poderes do Tesouro Norte-

Americano e do FMI com o escopo de resolver a dificuldade rolando a dívida dos mexicanos,

mas exigiu em troca reformas neoliberais (HARVEY, 2008).

Com a implementação de uma política econômica e uma política externa que seguia de

perto as recomendações e diretrizes do chamado consenso de Washington13

(de privatizações

e de liberalização econômica) permitiu-se que nos anos de 1990, o Brasil reconfigurasse um

novo padrão de acumulação, acompanhado de uma subordinação ao capital financeiro

internacional.

13

O Consenso de Washington vai ditar as regras da economia a partir de 1990 e consolidar aquilo que se convencionou

chamar, mesmo que imprecisamente, de idéias neoliberais: a partir da crítica à intervenção do Estado na economia lança-se

mão do mercado como regulador das relações econômicas.

Page 38: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

O capital estrangeiro, também, teve abertura favorável para assumir o mercado brasileiro,

através do controle de empresas nacionais. A reforma do Estado possibilitou a entrega do

patrimônio público ao capital estrangeiro, pois o que se defendia era um Estado forte para a

condução de ajuste direcionado à expansão do mercado.

De acordo com Behring e Boschetti (2008, p. 125), "o período pós-1970 marca o

avanço de ideais neoliberais que começam a ganhar terreno a partir da crise capitalista de

1969-1973”. Os argumentos de que a crise foi provocada pelos altos gastos público na área

social, foram fermentos para os capitalistas criticarem o Estado Social. Desde então, o

Neoliberalismo passa a ganhar terreno pregando o afastamento do Estado em relação às

atividades econômicas, bem como a realização de inúmeras reformas institucionais que

permitissem a livre competição e a livre circulação dos capitais, de forma que a única ação

reguladora possível fosse à do mercado.

Dessa forma, a proteção social garantida no Welfare State, através de políticas sociais

redistributivas é também criticada pelos neoliberais. Nessa nova perspectiva, o

Neoliberalismo defende a privatização de todos os setores da economia, inclusive das

políticas sociais, mudando assim seu perfil, alcance e intencionalidade, seguindo um caminho

de restrição, seletividade e focalização (BEHRING & BOSCHETTI, 2008).

Na experiência brasileira não chegamos a vivenciar um Welfare State ou Estado de

bem estar, pois o país não estruturou um amplo e universal sistema público de proteção social,

mas sim um sistema diferenciado, com uma assistência aos pobres e uma previdência aos

assalariados.Essa tendência possibilitou alguns autores qualificar o sistema de Seguridade

Social brasileiro enquanto sistema inconcluso (FLEURY, 2003) ou ainda enquanto sistema

desarticulado que permanece entre o seguro e a assistência (BOSCHETTI, 2004).

A Seguridade Social brasileira, com o predomínio do trabalho precarizado, vem

deixando, também descoberta, outra fração da classe trabalhadora, que são aqueles que

possuem trabalho, mas com renda insuficiente para garantir a sua subsistência e de sua

família. Segundo Boschetti (2004):

Não se pode desconsiderar que a seguridade social é extremamente condicionada e

limitada pela condição de mercado de trabalho no Brasil, visto que apenas a Saúde

incorporou o princípio da universalidade, enquanto que a Previdência destina-se

apenas aos contribuintes, e a Assistência é restrita aos pobres em situação de

extrema vulnerabilidade. Apesar de seu avanço constitucional, a seguridade social

não é capaz de assegurar proteção aos trabalhadores pobres excluídos do acesso ao

trabalho e ao emprego, e sua forma de organização é injusta, provocadora e

reprodutora de desigualdades sociais (...) (BOSCHETTI, 2004, p. 116).

Page 39: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Até a década de 1980, a lógica do seguro era predominante no acesso à Previdência e à

Saúde no Brasil14

. A partir da Constituição de 1988, a Seguridade Social vai ser instituída,

incorporando os princípios do modelo bismarckiano na Previdência Social, e os sistemas

públicos de Saúde e Assistência Social vão ser orientados pelo modelo beveridgiano. Mas um

modelo muito distante do que Beveridge defendia, pois a Seguridade Social brasileira,

configurou-se como um sistema “híbrido” que garantia direitos decorrentes do acesso ao

trabalho estável pela via da Previdência Social, do direito à Saúde com caráter universal, e do

direito à Assistência Social pela via da seleção (BOSCHETTI, 2009).

A Seguridade Social, tal como defendida pela Constituição de 1988, não foi

implementada no Brasil, pois se manteve ainda impregnada pela lógica do seguro social, esta

não avançou no sentido de fortalecer a lógica social (beveridgiana), de universalização dos

direitos sociais sem estabelecimento da lógica do seguro contributivo. Na realidade brasileira

não houve a instituição de uma política de pleno emprego, o que torna pertinente o discurso

da incompatibilidade entre trabalho e direitos sociais, sobretudo, o direito à Assistência

Social. Porém entender essa tensão entre trabalho e Assistência Social não como incompatível

ou reiteração da subalternidade, mas como um elemento intrínseco de complemento e

partícipe de um sistema amplo de proteção social.

As políticas sociais que integram a Seguridade Social no Brasil, ao invés

constituírem-se enquanto um amplo e articulado mecanismo de proteção social, segundo Mota

(2010), configuram-se enquanto uma “unidade contraditória”, porque ao mesmo tempo em

que se avançam a mercantilização e a privatização das políticas de Saúde e Previdência, a

Assistência Social veio se ampliando e ganhando centralidade na Seguridade Social, isto é,

enquanto principal mecanismo de proteção social no Brasil, tendo em vista o discurso liberal

14

No final do século XIX, as respostas dadas às reivindicações dos trabalhadores foram, sobretudo, repressivas. Nesse

contexto de fortes mobilizações e organizações da classe trabalhadora, ocorre a instituição de leis que incorporavam algumas

demandas da classe trabalhadora, pois eram melhorias tímidas que não atingiam o cerne da questão social. Os trabalhadores,

através de sociedades de mutualidade, organizavam caixas de poupança e previdência como estratégias para garantir, dentre

outras necessidades, a organização operária e manter os trabalhadores em greve. Essa estratégia de solidariedade de classes

foi descaracterizada da idéia inicial e foi apropriada na Alemanha, em 1883, pelo governo do Chanceler Otto Von Bismarck

quando instituiu o primeiro seguro-saúde nacional obrigatório, destinado a algumas categorias específicas de trabalhadores.

Na Alemanha, essas iniciativas de seguro social obrigatório terminaram por desmobilizar as lutas e ainda se constituíam

como uma modalidade de proteção social que não tinha caráter universal. O modelo bismarckiano é identificado como

sistema de seguros sociais, originalmente, organizados em caixas estruturadoras por tipos de risco social: caixas de

aposentadorias, caixas de seguro-saúde, e assim por diante, e eram geridas pelos contribuintes (empregadores e empregados).

As Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPs) foram as primeiras formas, originárias, da previdência social brasileira, junto

com os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs). No Brasil, esse modelo bismarckiano (seguro social) se constituiu com a

Lei Eloy Chaves, em 1923, que ao instituir a obrigatoriedade de criação de CAPs para algumas categorias de trabalhadores –

a exemplo dos ferroviários e marítimos, dentre outros-, essa Lei consolidou a base do sistema previdenciário que permitia que

as políticas de previdência e saúde fossem direcionadas, apenas, aos trabalhadores contribuintes da previdência social. Essa

lógica foi predominante, na realidade brasileira, até a Constituição de 1988. Nota-se que esta lógica do seguro social limitou

a universalização da seguridade social. O acesso à seguridade social pela condição do trabalho, só poderia garantir uma

proteção mais universalizada se pudesse ser assegurada à população uma situação “real” de pleno emprego. (BOSCHETTI,

2009).

Page 40: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

de enfrentamento da pobreza com o foco na distribuição de renda, sem fazer referência ao

trabalho, ou ainda, sem discutir o modo de produção. Percebe-se uma centralidade na política

de Assistência como referência para assegurar o bem-estar do indivíduo ou como modo de

satisfação de suas necessidades nos marcos da sociabilidade capitalista.

Segundo Behring e Boschetti (2008, p. 161) “A Assistência Social é política que mais

vem sofrendo para se materializar como política pública e para superar algumas

características históricas como: morosidade na sua regulamentação como direito (...)”, pois

cada vez mais o Estado vem reduzindo a sua responsabilidade no âmbito da política social,

mas por outro lado, continua reduzindo a mesma a partir da ênfase nos programas de

transferências de renda, com centralidade na família e na matricialidade sócio-familiar,

estipulando o cálculo de limite de pobreza, e ao mesmo tempo com um apelo à sociedade

civil, no sentido de responsabilizá-la pela ação social.

Ainda vemos, no âmbito das políticas sociais, a atenção paralela entre as demais ações

governamentais, constituindo um atendimento “externo’ e complementar às necessidades

sociais das classes subalternizadas. Logo, o que existe são políticas que deveriam ser

universalizadas, públicas, redistributivas e com direitos fundados na cidadania15

, mas que

acabam por serem pontuais, focalizadas, emergenciais, seletivas e reduzidas à dimensão

assistencial, especializadas cada vez mais no mau atendimento dos denominados pobres.

Podemos afirmar que há ausência de um projeto transformador no âmbito das políticas

sociais. Há uma tendência a “assistencialização” das políticas sociais (MOTA, 2010), cuja

preocupação tem sido a regulação da pobreza dentro da perspectiva ou dos moldes da

acumulação flexível. E essa centralidade da política de Assistência Social vem acontecendo a

15Segundo Carlos Nelson Coutinho (1997), cidadania é um conceito que no decorrer da sua trajetória vai incorporando novas

mediações e novas determinações, ou seja, a cidadania é um processo de construção que altera tanto o seu significado quanto

o seu conteúdo ao longo da história. É a capacidade conquistada por alguns sujeitos, ou por todos, de se apropriarem dos bens

socialmente criados, de atualizarem todas as potencialidades de realização humana abertas pela vida social em cada contexto

historicamente determinado. Entende-se por cidadania, não apenas um conjunto de três esferas de direitos: civis, políticos e

sociais. A garantia desses direitos representou um avanço histórico significativo para as classes subalternas, porém, não

chegou a expressar uma ameaça à sociedade de classes. Isso porque o capitalismo, por conta das lutas sociais, é forçado a

recuar e fazer concessões, todavia sem perder o controle e deixar de lado os seus interesses. “Por tudo isso não hesitaria em

dizer que a ampliação da cidadania – esse processo progressivo e permanente de construção dos direitos democráticos que

atravessa a modernidade – termina por se chocar com a lógica do capital” (COUTINHO, 1997, p. 66).

Page 41: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

partir da focalização nos segmentos mais pobres da sociedade, o que corrobora com a

exclusão de outras frações da classe trabalhadora.

Ao contrário, política de assistência deveria ser na prerrogativa da proposta

constitucional, um direito complementar que contribui para redução da desigualdade e não

como substituta do trabalho ou dos rendimentos dos empregos inexistentes. Nesse sentido, a

situação atual reafirma a tendência de uma tensão entre trabalho e assistência, “pois a

ausência de trabalho/emprego que provoca a demanda pela expansão da assistência, sem que

essa seja capaz de resolver a questão do direito ao trabalho e o direito a ter direitos, nos

marcos do capitalismo” (BOSCHETTI, 2009, p. 329).

A burguesia brasileira ao subordinar o Estado aos seus interesses sempre tomou

algumas iniciativas, com o escopo de atender algumas exigências da classe trabalhadora,

enquanto medida para legitimar-se. Temos o exemplo claro da era Vargas, a expansão de

políticas no período da ditadura militar, os governos Fernando Henrique Cardoso, Lula da

Silva e Dilma Rousseff (MOTA, 2010).

As políticas de Seguridade Social, nesse sentido, são entendidas como mecanismos em

que o capitalismo se vê forçado a incorporar algumas exigências dos trabalhadores, mesmo

que essas exigências sejam conflitantes com seus interesses imediatos, mas ao fazê-lo, o

capital também procura integrar tais exigências às suas necessidades.

É notória a forma como as classes dominantes invocam a política de Assistência

Social como modo de tratar a “questão social”, a partir da ampliação de ações e programas de

combate à pobreza, com centralidade nos programas de transferências de renda, onde o

segmento da classe trabalhadora pauperizada passa a ser definido como os “excluídos” e os

programas da Assistência Social seriam as estratégias de inclusão e inserção. Mas uma

inclusão e inserção sem referência ao trabalho. Pois foi essa a forma que o capitalismo

utilizou para superar as seqüelas sociais e materiais do processo de acumulação, que é

enfrentando-as nos próprios limites da ordem burguesa, por meio de ações compensatórias de

alívio à pobreza (MOTA, 2010).

O que fica claro com essa mudança de foco das políticas é que este não é um projeto

apenas econômico ou político, mas também ideológico. Juntamente com a idéia da

focalização das políticas, existe um outro ponto demasiadamente importante, que é uma idéia

de combate à ociosidade do beneficiário dos programas, uma idéia de responsabilização do

pobre por sua situação, ou que este necessite ao menos oferecer algo em troca por seu

Page 42: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

benefício, “como se fossem eternos devedores, e não credores, de vultosas dívidas sociais”

(PISOM, 1998 apud PEREIRA, 2012).

Considerando que no Brasil não experimentamos uma verdadeira política do pleno

emprego, e sim a configuração de uma sociedade do trabalho precarizado, marcada pela

ausência de uma política que garantisse de fato um amplo e articulado mecanismo de proteção

social, verificando que isso abriu precedentes para a reorganização das classes dominantes em

torno do projeto neoliberal, que avançou na sua missão de retroceder o ideal de Seguridade

Social reivindicado em 1988 no país, via protagonismo do mercado (MONNERAT &

SOUZA, 2011).

A Seguridade Social brasileira pós 1988 não incorpora o sistema de proteção social

integrado e universal da tradição beveridgiana. Logo, existem aqueles que acreditam que a

Seguridade Social tal como defendida e preconizada na Constituição de 1988, ainda não se

efetivou. Constatamos uma fragilidade na articulação do sistema de proteção social, isso sem

mencionar o financiamento da Seguridade Social, onde ficou prevista uma diversidade de

fontes orçamentárias, por área de política social, pois não se tem um orçamento único, em que

a gestão se realizaria através de um ministério próprio. Nenhuma das três políticas de

Seguridade Social deu prioridade na implementação de estratégias de construção de um

sistema de Seguridade Social, conforme sinalizam Monnerat& Souza (2011):

Como efeito, não houve por parte das três áreas envolvidas nenhum tipo de

mobilização para lutar pelo orçamento unificado e tampouco pelo referido

ministério, tal como previsto na constituição. Esta postura impediu a formação de

uma dada identidade da área social através da conformação do sistema de seguridade

social (...). (MONNERAT & SOUZA, 2011, p. 43).

Com o Neoliberalismo vamos ter a subordinação dos direitos sociais à lógica

orçamentária, e a política social à política econômica, visando o desmonte dos direitos sociais

conquistados constitucionalmente (HARVEY, 2008).

Por outro lado, existem os defensores da ideologia do desenvolvimentismo, que

apostam na possibilidade de conciliação entre crescimento econômico e desenvolvimento

social, acreditando na suposta substituição do neoliberalismo por uma nova concepção de

desenvolvimento. Esta ideologia, que foi defendida pelas principais lideranças políticas

enquanto resposta ao enfrentamento da crise do capital financeiro que afetou uma das

principais economias mundiais (Estados Unidos) nos anos 2000, também foi adotada pelo

Governo Lula da Silva e continua prosseguindo no atual Governo Dilma “da Silva”, cuja

coroação é feita pela apologia ao (novo) desenvolvimento, fundado no equilíbrio entre

crescimento econômico e desenvolvimento social (MOTA, 2012).

Page 43: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Mota (2012) procurou mostrar que o crescimento econômico não ocorre em sintonia

com a socialização da riqueza social, pelo contrário, a concentração de riqueza na sociedade

capitalista só aumenta, e só o que muda são os mecanismos de gerir a pobreza, através de

políticas compensatórias e minimalistas que só tem impactos no imediato, ou são apenas

funcionais a uma pequena fração da classe trabalhadora, os mais pauperizados. O interesse

não está em reduzir a pobreza, mas a busca pelo consenso da população a fim de garantir a

continuidade do projeto neoliberal, que nada mais é que um assalto aos direitos sociais.

Por isso Mota (1995) ressalta a incompatibilidade entre capitalismo e democracia

política, pois vivemos uma situação de barbárie, com a mutilação dos direitos sociais

enquanto fruto da luta da classe trabalhadora nos marcos da cidadania burguesa.

Nos anos 1990, com a expansão do ideário neoliberal, cujo “trinômio para as políticas

sociais é privatização, focalização e descentralização” (DRAIBE apud BEHRING, 2003), há

uma forte tendência de compreensão da sociedade civil enquanto esfera oposta ao Estado,

como espaço não político, harmônico, espaço da liberdade, da solidariedade e da emancipação

dos indivíduos.

Observa-se, atualmente, a existência de um enorme esforço de esvaziamento da

dimensão política da Sociedade Civil, na medida em que se busca atribuir identificação dessa

dimensão com o chamado "terceiro setor" (ALMEIDA & ALENCAR, 2011).

Nesse novo contexto de retração dos direitos sociais, o Estado busca reduzir suas

funções no âmbito da dimensão social, transformando-se apenas num grande gestor das ações

que são transferidas à esfera reconhecida como "não-estatal" - que é a esfera privada dos

indivíduos e famílias. Difunde-se na atualidade o consenso de que o poder público não tem

capacidade para gerir e investir no social, pois a prestação de serviço é “burocrática” e os

funcionários “despreparados”. Também se cria um consenso de que a responsabilidade

pertence a todos, desviando assim o que é competência do poder público. Aumenta-se a

questão do voluntariado e a idéia de responsabilidade social, em que cada indivíduo deve

fazer a sua parte para “melhorar o mundo”. São exemplos claros dessa lógica: os programas

Amigos da Escola e Criança Esperança, ocorrendo assim a "refilantropização do social16

".

16

Segundo Yazbek (2009) no contexto do Estado neoliberal, o atendimento às necessidades sociais passa a ser transferida ao

mercado e à filantropia. Pois as múltiplas manifestações da questão social tornam-se objetos de ações filantrópicas e de

benemerências à “boa vontade” de indivíduos isolados e do mercado. O que Yazbek (2009) chama de “refilantropização do

social”.

Page 44: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Nesse contexto de despolitização da vida social, evidenciamos um esvaziamento tanto

do significado político da sociedade civil, quanto da concepção de Estado como espaço

político em que se expressa os conflitos de classes.

Com a retirada progressiva do papel do Estado, enquanto fomentador das políticas

públicas é o mercado que vai entrando em seu lugar. Para aqueles que não dispõe de

condições de consumir neste mercado, segundo Mota (2010), restaria a Assistência Social

focalizada e a Previdência Social deteriorada, bem como aos serviços ofertados pelo chamado

“terceiro setor”. Dessa feita, a cidadania continua sendo um fenômeno determinado pelas

forças invisíveis do mercado e da economia, pois nesse contexto os “Programas, serviços e

benefícios, deixam de ser direitos sociais para se tornarem direitos do consumidor”

(BEHRING , 2009, p. 76).

Não podemos deixar de considerar a afirmação de Mota (1995), que reconhece a

coexistência de dois níveis de proteção social: uma política assistencial para os cidadãos

pobres/assistidos, que são os novos trabalhadores da crise que, ao perderem o estatuto de

trabalhadores formalmente conhecidos pelo capital e pelo Estado, tornaram-se público-alvo da

Assistência Social e uma política privada para os cidadãos proprietários consumidores, que

são os assalariados do grande capital.

A supressão dos direitos sociais está sendo efetivada a partir da mediação de

mecanismos políticos: o governo tem investido nas reformas necessárias à acumulação do

capital (a partir de reformas trabalhistas / previdenciárias e com oferta de políticas sociais que

assumem o caráter meritocrático e minimalista, determinadas pela privatização acelerada dos

serviços públicos) (BEHRING, 2003).

Nesse sentido Mota (1995) denuncia que a discussão da Seguridade passa pelas

determinações da economia e da política, conforme destacamos anteriormente, num cenário

marcado por mudanças no mundo do trabalho (no que se convencionou chamar de

reestruturação produtiva, enquanto estratégia de superação do modelo fordista-keynesiano em

favor da acumulação flexível) e mudanças na intervenção do Estado (cuja inflexão é marcada

pela crise do keynesianismo e pela emergência do neoliberalismo).

Em relação à necessidade de redefinição do papel do Estado, Mota (1995) sinaliza que

uma das forças que pressionou para as mudanças na política de Seguridade Social brasileira

nos anos 1980 e 1990 foi o Fundo Monetário Internacional e outros organismos multilaterais

que utilizam a estratégia da dívida externa, como são os casos também do Banco Mundial e

Organização Mundial do Comércio.

Page 45: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Por outro lado, a crise do capital pressiona a refuncionalização do papel do Estado, a

qual corresponde à transformação no mundo do trabalho e da produção, da circulação e da

regulação. Pois se tem a idéia de um Estado forte para a condução do ajuste direcionado à

expansão do mercado.

Em 1990, por exemplo, o Brasil recorreu ao FMI, e o acordo não garantiu o ajuste nas

contas públicas, estando voltado, sobretudo, para a regularidade do pagamento dos credores.

Estudos do INESC (Instituto de Estudos Sócio-Econômicos) apontam:“que a busca da meta

do superávit primário previsto no acordo de 1999 levou a uma brutal contenção de gastos” em

todas as áreas, inclusive nas políticas sociais” (BEHRING, 2003, p. 203).

Há uma forte tendência de desresponsabilização pela política social – em nome da

qual se faria a “reforma” – acompanhada pelo desprezo pelo padrão constitucional de

Seguridade Social (MOTA, 1995). Boschetti (2009) aponta alguns limites estruturais na

ordem capitalista que se constituem enquanto reformas neoliberais regressivas de desmonte

da Seguridade Social. Dentre esses caminhos, de regressão de direitos, a autora (2009)

menciona a desconfiguração dos direitos previstos constitucionalmente que nem sequer foram

uniformizados e nem universalizados; a fragilização dos espaços de participação e controle

democrático, como Conselhos e conferências; a contenção dos recursos, além da reforma

tributária.

Isso pode ser visto, de forma explícita, entre os governos Collor e FHC, cujos períodos

encenavam grandes processos de privatizações, intensificando na prática a dependência e a

interferência dos organismos internacionais. Com as exigências externas (dos órgãos

internacionais) e com uma estrutura de gestão cuja prioridade foi o atendimento aos interesses

privados, não só o tripé da Seguridade, mas outras políticas setoriais tornaram-se mais

seletistas e fragmentadas, pois evidenciamos um fundo público mais dirigido aos interesses

privado do capital. Antes, a resposta era a falta de recursos para o investimento, ou, quando

havia algum investimento, o mesmo era motivo de aprofundamento da crise. Isso lembra a

afirmação de Pereira (2012) quando se refere aos empresários dos tempos de Welfare State

que atribuíam às políticas sociais a responsabilidade pelo aumento do déficit público.

A partir da Constituição de 1988, vamos ter uma série de direitos conquistados pela

classe trabalhadora que foram inseridos na carta constitucional. A Seguridade Social

brasileira, por sua vez, teve uma grande inovação, tendo como tripé: as políticas de

Previdência, Saúde e Assistência Social. Porém muitos desses direitos foram submetidos à

crise econômica enfrentada no Brasil, que refletiu no retrocesso social, com o aumento da

Page 46: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

pobreza e com a permanência de um Estado neoliberal (década de 1990), um Estado mínimo,

que não se preocupou com o social, não assumindo compromissos redistributivos (PEREIRA,

2012).

Essa crise estrutural do capitalismo vai exigir a incorporação de um novo modo de

tratamento da questão social brasileira, que aponta para uma cultura de apelo à solidariedade

social ou às políticas de focalização, seja ela denominada de redes de proteção social, de

políticas de combate à pobreza, de comunidades solidárias ou de expansão dos programas de

Assistência Social. (MOTA, 2012).

O projeto neoliberal, que tem sido potencializado enquanto instrumento formador de

uma racionalidade política, cultural e ética da ordem burguesa, que se expressa nos programas

de desregulamentação dos mercados, na abertura comercial e financeira, na privatização do

setor público e na redução do Estado, vem contribuindo para a mutilação dos direitos sociais

conquistados pelas lutas da classe trabalhadora, nos marcos da cidadania burguesa.

(BEHRING, 2003).

A partir da retração do Estado, com o encolhimento das políticas públicas, o Estado

buscará, como estratégia, a focalização da atenção social às necessidades do sujeito. Pelo fato

de não ampliar as redes de proteção social, a focalização tem sido a expressão do Estado

mínimo para os trabalhadores e Estado máximo para os interesses privados do capital.

(NETTO, 1992).

1.3- A cooptação do fundo público pelos interesses do capital fictício.

Essa discussão do fundo público, que ganha centralidade no contexto do capitalismo

monopolista a partir do Keynesianismo do pós Segunda Guerra Mundial, envolve um

conjunto de preocupações sobre a conjuntura contemporânea do capitalismo em sua fase

destrutiva, com o predomínio do neoliberalismo e da financeirização do capital (BHERING,

2012a).

Essa crise constitutiva do próprio movimento contraditório do capital, não é uma

disfunção ou um problema de regulação, mas é algo inevitável ao modo de produção

capitalista. Por isso os impactos da crise sobre o fundo público vem se expressando nas

reformas tributárias regressivas, a partir da renúncia fiscal para o empresariado sob o discurso

de proteção ao emprego, e de uma sobrecarga de arrecadação injusta sustentada pelos salários

dos trabalhadores. O fundo público também vem interferindo diretamente na reprodução

ampliada do capital, a partir da transferência de recursos a empresas em situação de crise, que

Page 47: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

deveriam ser apropriados na reprodução do trabalho. Além das instituições financeiras que

exigem o socorro público a fim de restaurar a confiança nos mercados (BEHRING, 2012a).

Há uma especulação regressiva e perversa de saída do contexto de crise do capital,

pela potencialização da desregulamentação da economia e do mercado de trabalho. Percebe-se

claramente a repercussão direta da crise no movimento de refuncionalização do papel do

Estado, a partir da utilização do fundo público como uma forma de socorro às instituições

financeiras, ao invés de uma destinação para a proteção dos trabalhadores. Nesse sentido,

podemos afirmar que as políticas sociais continuam sendo atingidas por esse processo

sangrento de conversão do fundo público aos interesses privados do capital fictício, o capital

que rende juros (BEHRING, 2012b).

O fundo público tem sido um instrumento fundamental no desenvolvimento das

relações de produção capitalista. Assistimos a um processo de alargamento da apropriação

privada de parte do fundo público pelos rentistas do capital que porta juros, que vem

exigindo, enquanto mecanismo estratégico, a contrarreforma das políticas sociais sob o

discurso de pagamento da dívida (SILVA, 2012).

O fundo público é um unidade que sintetiza parte do trabalho necessário (exploração

tributária por meio dos salários) e do trabalho excedente (exploração do trabalho na produção)

metamorfoseado em lucro, juro ou renda da terra, apropriado pelo Estado por meio da mais

valia socialmente produzida, na forma de impostos, taxas e contribuições da classe

trabalhadora (salários), do capital (lucros) e do Estado (empresas públicas) para o

desempenho de diversificadas funções. Logo, o fundo público é funcional à reprodução do

capital, principalmente nos momentos de crise e ainda à reprodução da força de trabalho, por

meio de políticas sociais (BEHRING, 2012b).

Neste tempo de disputa pelo fundo público na mediação da repartição da mais valia, a

classe trabalhadora não conseguiu avançar na imposição de bloqueio aos sistemas tributários

regressivos, na medida em que cerca de 72% dos impostos e contribuições terminam por

incidir sobre os trabalhadores por meio do consumo e da tributação da renda na fonte, o que

abriu precedentes ao capitalismo na apropriação dos bens públicos, a partir da ampliação da

rede de relações público-privadas, e para sua rotação e reprodução por meio da dívida pública.

Pois o Estado vem financiando, cada vez mais, a rotação do capital por meio da dívida pública

(BEHRING, 2012b).

Em 1992, foram emitidos títulos de dívida externa para negociar juros vencidos, que

resultou numa drástica redução de investimentos em políticas sociais. O sistema tributário

Page 48: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

brasileiro não promove a distribuição de renda e riqueza, porém contribui para sua

concentração no ente federativo e também na alocação dos recursos nos serviços de juros,

encargos e amortizações da dívida pública (BEHRING, 2012b).

Behring (2012b) mostra como o fundo público vem se constituindo como um

pressuposto geral das condições de produção e reprodução do capital, na medida em que

diminui a sua atenção às demandas do trabalho, resultando na (des)proteção e na barbarização

da vida social. Pois a autora evidencia desde 2003, uma estagnação e perda de financiamento

dos recursos destinados às políticas de Seguridade Social, mesmo com o crescimento da carga

tributária, que hoje corresponde, aproximadamente, 34% do PIB. Pois a Desvinculação de

Receitas da União vem alimentando o superávit primário.

A incidência da Desvinculação de Receitas da União nos recursos da Seguridade

tem sido nefasta, fazendo com que a mesma transfira recursos crescentes para o

mercado financeiro, já que as fontes da Seguridade – as contribuições sociais- vêm

tendo um desempenho crescente em termos de arrecadação, em especial a

COFINS17

, e estão sendo apropriadas para a formação do superávit primário e para

pagamento de serviços da dívida pública. (BEHRING, 2012b, 51)

Com o escopo de desviar os recursos do Orçamento da Seguridade Social, foi criado

em 1994, o Fundo Social de Emergência e depois o Fundo de Estabilização Fiscal, em 1997,

que só a partir de 2000, foi reformulado, recebendo a denominação de Desvinculação de

Receitas da União (DRU), que possibilitou a desvinculação de 20% dos recursos destinados

às políticas de Seguridade Social para o orçamento fiscal, com a finalidade de pagamento da

dívida a partir da formação do superávit primário (SILVA, 2012).

A DRU comporta recursos para formação do superávit primário, que deveriam

financiar as políticas de Seguridade Social. Há uma grande transferência de renda para os

rentistas, como mecanismo de suporte ao mercado financeiro (SILVA, 2012).

Buscando conter as despesas de forma a obter resultado positivo, há um incentivo de

maior arrecadação do governo, mas com gastos menores, com fortes repercussões no

orçamento da Seguridade e das contas públicas em geral. Este é o mecanismo do superávit

primário instituído no acordo com o FMI em 1999, que a mídia vem obscurecendo sob o

discurso do gasto previdenciário. Desde então, percebe-se que os recursos retidos para

formação do superávit primário, enquanto garantias de controle do capital financeiro

internacional sobre a dívida, são bem maiores do que os gastos nas políticas sociais. A

política do superávit exigida pelo FMI, no acordo de 1999 como caminho para redução da

17 Contribuição para o financiamento da Seguridade Social. A Cofins é considerada um tributo regressivo, pois são os

trabalhadores que pagam o ônus, com forte incidência sobre o consumo, na medida em que os gastos com essa contribuição

são repassados ao consumidor, conforme argumenta Salvador (2012).

Page 49: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

dívida tem sido cumprida em percentuais maiores do que o exigido, mas como os juros da

dívida são maiores do que os superávits gerados, as dívidas continuam crescendo (BEHRING,

2012b).

O capital fictício, para Marx (1974), é a forma ilusória que adquire os rendimentos que

aparecem como juros de um capital ou de um simples investimento. A dívida pública seria a

forma ilusória, fictícia que assume o capital ao especular os valores imaginários.

No volume II, especialmente no Tomo III, Marx vai mostrar que o “capital bancário” é

um sistema de crédito que se constitui do dinheiro em espécie e de títulos de valor. Marx

(1974) questiona que assim como tentou mostrar que o dinheiro não é capital por si só, a

economia clássica dos banqueiros vem tentando afirmar que o dinheiro é capital em sua

superioridade.

Ao mostrar a forma transitória do capital monetário, Marx (1974) explica como os

banqueiros utilizam os títulos públicos de valor, como por exemplo, os títulos do Estado

enquanto títulos portadores de juros. Marx (1974) conceitua “capital bancário” o que hoje

chamamos de capital financeiro, pois os agentes principais desse processo de financeirização

não são apenas os bancos, mas também as companhias de seguros, fundos de pensão,

sociedades financeiras de investimentos coletivos e fundos mútuos.

Marx (1974) não utiliza o termo fundo público, mas ressalta a participação do crédito

público no processo de reprodução ampliada do capital.

Marx (1974) mostra como se dá apropriação do fundo público por esses investidores

institucionais, porque há uma emissão de títulos da dívida, o que possibilita ao Estado pagar

anualmente a seus credores, certas quantias de juros pelo capital emprestado. É um capital

investido que se transforma em capital portador de juros. O credor, então, vende o crédito,

isto é, vende papéis que são considerados títulos de propriedade sobre o crédito.

O capital ao ser despendido pelo Estado, deixa de existir e o credor passa a ter do

Estado um título de dívida. Esse título de dívida transfere direito ao credor sobre as receitas

anuais do Estado, que é o produto anual dos impostos em determinado montante. O

pagamento realizado pelo Estado constitui um capital – juro, o que possibilita a prevalência

do capital ilusório, fictício. O credor também pode vender esse título de dívida do Estado a

outros investidores, por isso o valor não se conserva. A pode vender o título para B e B para C

(MARX, 1974).

Page 50: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Na rotação do capital, esses títulos de propriedade podem ser transferidos para outros

proprietários, por meio de transações que não alteram a natureza desse título, que representa

um valor-capital (MARX, 1974).

Com o desenvolvimento do capital portador de juros e do sistema de crédito, todo

capital parece duplicar e às vezes triplicar em diferentes mãos e sob formas diversas (MARX,

1974).

O capital da dívida pública permanece puramente fictício, não há uma aparência desse

capital, e sim uma ocultação dos títulos de dívida, porque na concepção dos investidores

financeiros as dívidas são mercadorias, como se o capital por si só fosse capaz de

proporcionar esse juro, obscurecendo a explicação de valorização do capital pela exploração

da força de trabalho. O dinheiro para esses investidores aparece como coisa auto-criadora, um

dinheiro capaz de gerar mais dinheiro, pois não consideram nesse contexto, a produtividade

do trabalho, que aparece como capital fetichizado ou o que porta juros (MARX, 1974).

Marx (1974) vai mostrar como essa loucura da concepção capitalista chega seu ápice:

o credor que compra do Estado o título de propriedade, para ele a receita anual que arrecada,

representa o juros de seu capital investido. É nesse momento que se tem a concepção do

capital como autônomo, que se valoriza por si mesmo. O título da dívida pública pode não ser

ilusório, porque todos sabem que existe, mas o valor-capital desse título é puramente ilusório.

No caso da dívida pública, pode-se afirmar que o Tesouro Nacional, com o propósito

de financiar gastos e investimentos, assume contratos de empréstimos e financiamentos e

emite diversos tipos de títulos, que variam em sua maturidade, no modo como são vendidos e

na forma como seus pagamentos são estruturados.

O Estado ao vender os títulos do tesouro, ele vende papéis que representam direitos

acumulados, títulos jurídicos seguros sobre a produção futura. Os investidores pressupõem

um rendimento anual capitalizado que é calculado sobre um capital ilusório, pois não

representa o valor do capital real. O capital opera com especulações, com a acumulação

futura, descolada de sua base material (MARX, 1974).

Na análise marxiana sobre o lugar estrutural do fundo público no capitalismo, Behring

(2012) parte da unidade capitalista que sintoniza produção e circulação para realização do

ciclo global, expresso em D-M-D` .

O dinheiro é a forma elementar do capital, é a moderna biografia do capital. Pois o

produto inicial do capital é o dinheiro. Podemos afirmar que no processo de rotação, o capital

Page 51: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

pode assumir diversas formas: mercadorias, dinheiro, capital fixo, capital variável, capital

circulante. O capital está sempre em movimento (MARX, 1971).

Na troca mercantil simples, sob a forma M-D-M, o que é predominante é a

necessidade de compra e venda, em que o dinheiro é só o meio de circulação. Mas como esta

forma não permite a total valorização do capitalismo, há uma necessidade de ampliação de

investimentos entre os capitalistas, o que se configura em sua reprodução ampliada ou

alargada. A fórmula típica desta reprodução alargada é D-M-D`, pois o ponto de partida e o de

chegada é o valor. O capitalista aplica dinheiro para obtenção de um dinheiro acrescido. Mas

esse dinheiro que o capitalista investe na circulação, não tem origem nela, pois a sua gênese

está na esfera da produção, que pressupõe a garantia de criação de valor. A acumulação de

capital depende da exploração da força de trabalho (MARX, 1971).

Então na circulação o capital-mercadoria se transforma em capital-dinheiro, mas neste

momento não ocorre a produção de mais valia, apenas a realização desta. Mas este não é um

processo isolado, não ocorre interligado ao processo de produção (BEHRING, 2012a).

Essas tendências permitem a compreensão da cooptação do fundo público sobre os

interesses privados do capital enquanto partícipe do processo de reprodução ampliada do

capitalismo. O fundo público não gera diretamente a mais valia, mas ele detém uma punção

de parcela da mais valia socialmente produzida, objetivando sustentar, num processo desigual,

a reprodução da força de trabalho e do capital, socializando os custos e proporcionando a

realização da mais valia (BEHING, 2012a)

Se o juro corresponde a uma parcela da mais valia extraída pelos capitalistas na busca

incessante pela extração do mais valor, não podemos desconsiderar que o fundo público tem

sido um elemento fundamental tanto para reprodução da força de trabalho, quanto para

reprodução do capital. Pois o capital, ao incorporar a participação do Estado na sua

reprodução por meio de políticas de subsídios econômicos, de participação no mercado

financeiro, com alocação do orçamento público sob o discurso da necessidade de pagamento

da dívida, este reduz a verba pública para o financiamento das necessidades dos trabalhadores

(BEHRING, 2012a).

Estamos vivemos a era da secundarização das políticas sociais, que pela tensão da

supercapitalização, vem assumindo o caráter minimalista e meritocrático, determinadas pela

privatização acelerada dos serviços públicos, além do estímulo ao consumo, via programas de

transferências de renda, que também funcionam como estratégia de ampliação da liberdade de

Page 52: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

mercado. Há uma disputa do destino do fundo público, no qual o capital é o maior

beneficiário (BEHRING, 2012b).

Na conversão do fundo público na forma de políticas de transferências de renda, ainda

que aquém das necessidades, não só contribui para reprodução da força de trabalho de uma

fração da classe trabalhadora, mas também do processo de incremento da rotação do capital e

no circuito da ampliação do valor, cuja direção aponta para o alargamento do poder de

consumo, para apropriação de dívidas por meio de empréstimos internacionais em nome da

política compensatória e transferência de recursos a bancos para gestão dos programas de

transferências de renda, conforme evidencia Silva (2012).

Silva (2012) apresenta sua pesquisa sobre o papel dos programas de transferências de

renda para a reprodução do capital fetiche. Para a autora (2012) esses programas são

funcionais à lógica de acumulação do capital portador de juros, na medida em que há o

repasse de recursos públicos para as agências bancárias, como forma de incentivo ao crédito

para a classe trabalhadora pauperizada.

Silva (2012) propõe-se a estudar os programas: Renda Mensal Vitalícia (RMV), o

Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Programa Bolsa Família (PBF), e evidencia em

sua pesquisa que as instituições bancário-financeiras recebem do Estado uma remuneração

expressiva para administrar os benefícios. A análise da autora (2012) aponta que os recursos

são pagos às agências bancárias por número de beneficiários e que a Caixa Econômica é a que

mais recebe recursos oriundos do fundo público, por ser a grande agente pagadora dos mais

diversos benefícios monetários. Mesmo sendo instituições estatais, estas operam com o

capital especulativo, rentista e financeiro, o que reafirma a tese de que importantes somas de

recursos que deveriam ser destinadas às políticas sociais, são repassadas ao capital portador

de juros.

Os recursos da classe trabalhadora e até mesmo os mais baixos (como no caso dos

benefícios de Assistência Social) destinados às camadas mais pobres, aqueles

mesmos recursos por elas financiados (dada a regressividade da tributação no país),

agora são fontes de remuneração do capital portador de juros. Ainda que os serviços

sejam mais baratos do que os disponíveis ao resto da população, a “inclusão”

bancária dessa camada no circuito das finanças traz enormes benefícios para o

capital portador de juros e pode levá-las ao endividamento (...) (SILVA, 2012,

p.232).

O fundo público que tem um papel fundamental na rotação do capital e na gestão da

crise, pois vem assumindo a grande participação no sistema nacional de crédito, em que o

Estado transfere parte da riqueza socialmente produzida para o capital portador de juros. O

Page 53: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Estado utiliza as reservas públicas a fim de injetar dinheiro e gerir os riscos das instituições

bancárias e algumas empresas (BEHRING, 2012b).

O Estado neoliberal vem intervindo com intuito de garantir os mínimos sociais, a fim

de aliviar a pobreza, opondo-se radicalmente à universalidade e igualdade de direitos. Temos

o exemplo dos programas de transferências de renda, que tornam-se alvo de diferenciados

interesses políticos, nem sempre em sintonia com as necessidades sociais da população a ser

atingida (BEHRING, 2012b).

Esse distanciamento das políticas sociais da concepção de direito conquistado e

garantido por lei e a sua vinculação com a prática da ajuda, possibilita os governos, na busca

pela promoção política, a apropriação da concessão do benefício para arrecadação de votos.

Além da sujeição ao patrimonialismo; assegurando o caráter assistencialista (SILVA, 2012).

Gonçalves (2012) denuncia os estudos recentes que apontam para a redução da

desigualdade de renda no governo Lula, decorrente da elevação dos gastos públicos sociais.

Gonçalves (2012) aponta as falhas destes estudos que não evidenciam os “determinantes” e

“condicionantes” fundamentais para expansão dos gastos públicos no Brasil e no restante da

América Latina, na primeira década do século XXI. Além da utilização de indicadores de

desigualdades que, baseiam-se em pesquisas de domicílios a partir de mudanças na

distribuição de rendimentos dentro da classe trabalhadora, sem considerar nesses estudos, os

rendimentos do capital. Gonçalves (2012) apresenta três hipóteses a respeito da redução

generalizada da desigualdade da renda no Brasil e no restante da América Latina:

1. o imperativo da governabilidade – necessidade de garantir a legitimidade do

Estado e a estabilidade política (...);

2. o objetivo de perpetuação no poder dos grupos dirigentes é determinante de

políticas de redução da desigualdade (e de com bate à pobreza) que rendem votos

junto aos grupos favorecidos por essas políticas (...);

3. a evolução favorável da economia mundial, via afrouxamento da restrição das

contas externas e das contas públicas (...). (GONÇALVES, 2012, p. 14; 15).

A garantia de estabilidade política dos governos vem sendo operacionalizada por meio

de políticas de transferências de renda, pois há grupos dirigentes que reconhecem a

importância das políticas de redução da desigualdade enquanto instrumentos eficazes de

conquista de votos (GONÇALVES, 2012).

Sob a orientação de organismos internacionais, vivenciamos a ampliação de

programas de transferências de renda no Brasil e na América Latina que surgem como forma

de enfrentamento à pobreza, com gerência de recursos extremamente baixos, porém

funcionais à contrarreforma do Estado a partir de sua focalização nas políticas sociais

(SILVA, 2012).

Page 54: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Os Programas de Transferência de Renda, por exemplo, que foram sempre utilizados

associados à imagem dos governantes, não são universalizados e nem têm a titularidade de

direito, de tal forma que a pessoa possa exigir. A noção de direito está associado à ideia de

exigibilidade. Hoje as pessoas entram na justiça para ter direito à Saúde. Mas essas pessoas

também podem entrar na justiça para ter direito ao Programa Bolsa Família, caso não sejam

contempladas ou supondo que o Programa acabe ou não tenha dinheiro? Elas vão exigir de

quem? No caso do BPC (Benefício de Prestação Continuada), que é um benefício de

transferência de renda garantido Constitucionalmente pela Política da Assistência Social,

quando há indeferimento do pedido o requerente pode entrar na justiça. Acredito que há

noções que são muito diferentes e que levam a população a ver isso ou como direito, ou como

uma tutela, ou algo assim, porque realmente o conceito que está envolvido é diferente

(SILVA, 2012).

Não se pode deixar de apontar que a política redistributiva de renda gera polêmicas:

seu caráter inovador traz divergências ideológicas e técnicas nas mais diversas “classes

sociais” – inclusive em segmentos mais empobrecidos da população. É notório que a política

de transferência de renda por si só não oferece possibilidades de autonomização (SILVA,

2012).

A seletividade e a focalização acabam por aprofundar a conformação dual da

Seguridade Social no Brasil. E essa dualidade, que resulta na focalização das políticas

assistenciais na direção dos grupos sociais mais pobres e na reprodução de uma cultura de

subalternidade, está inter-relacionada com os processos históricos mais gerais que vêm

definindo as formas concretas de intervenção do Estado no enfrentamento da pobreza.

(YASBEK, 1993).

O Relatório do Banco Mundial de 2000-2001 o lema para sanar a pobreza erainvestir

na expansão “das capacidades humanas dos pobres”.

Assim, nota-se que, para que o problema da pobreza como privação de capacidades

seja resolvido, recorre-se, no relatório de 2000-2001, à noção de Sen de

“desenvolvimento como liberdade” (idem), que nada mais é que o entendimento do

desenvolvimento como um processo de expansão das liberdades humanas. Assim,

para que a pobreza seja reduzida, faz-se necessário que o Estado atue apenas no

sentido de aumentar essas liberdades [...]. (UGÁ, 2004, p.60).

É explícita a concepção de Estado nestas orientações, pois o que se espera não é mais

um Estado intervencionista de Keynes ou garantidor de um sistema de proteção social

comprometido com a universalização dos direitos sociais, mas sim,

[...] um Estado caridoso, que tem deveres a cumprir apenas para com os pobres. A

presença do Estado só seria necessária, portanto, em um primeiro momento, no

Page 55: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

sentido de aumentar as capacidades dos pobres, para, em um segundo momento,

quando esses indivíduos já estivessem capacitados, o Estado já se tornaria

desnecessário, passando a deixar que eles, individualmente, procurassem seu

desenvolvimento pessoal no mercado. (UGÁ, 2004, p. 60).

O Estado neoliberal brasileiro tem instituído reformas negativas nas políticas sociais da

Seguridade Social, ampliando crescentemente os critérios de seletividade e elegibilidade de

segmentos sociais no acesso a Política de Assistência Social, enfraquecendo as Políticas Públicas de

Saúde e Previdência Social através da privatização/mercantilização – com organizações sociais na

saúde e previdência privada complementar e ampliando a assistencialização da proteção social

(MOTA, 2010; BOSCHETTI; SALVADOR, 2006). Cabe ressaltar, que essas reformas são

acompanhadas por argumentos conservadores “[...] de que os déficits crescentes da previdência

engessam a administração das contas públicas, restringindo cada vez mais o espaço para

investimento pelo Estado.” (GENTIL, 2007, online).

Page 56: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

CAPÍTULO 2 – IMPLICAÇÕES DAS MUDANÇAS NAS POLÍTICAS SOCIAIS

SOBRE O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

O presente capítulo apresenta as implicações das mudanças nas políticas sociais e

sobre o trabalho do assistente social, identificando as possibilidades e limites que este

profissional encontra na realização dos seus propósitos, condizentes com um projeto

profissional coletivo no cotidiano institucional, que configuram mediações essenciais para

elucidar o significado social do seu trabalho nos diferentes espaços sócio-ocupacionais.

Busca-se analisar os processos de trabalho nos quais os assistentes sociais se inserem,

nas diferentes políticas sociais. Pois como trabalhadores assalariados, os assistentes sociais

têm experimentado os mesmos dilemas dos processos de precariedade no mundo do trabalho.

Vivenciam “os limites históricos postos para a classe trabalhadora nos marcos dos processos

de subordinação do trabalho”, como também se defrontam “com as contradições que,

historicamente, permeiam o trabalho profissional, como tensão entre projeto profissional e a

condição de trabalhador assalariado” (ALMEIDA & ALENCAR, 2011, p. 117).

Dessa forma, deve-se mencionar que para embasar teoricamente a leitura de Serviço

Social e da própria realidade onde se efetiva o trabalho profissional do assistente social,

utiliza-se neste capítulo uma breve referência à categoria trabalho, como uma importante

contribuição para desvendar as mediações presentes na sociedade capitalista que moldam e

organizam o exercício profissional na execução da política social.

O capítulo não desconsidera a existência de um debate polêmico sobre a apropriação

marxista no âmbito do Serviço Social, em relação às diferentes discussões e interpretações

sobre a categoria trabalho e suas análises contemporâneas. Pois a temática é objeto de debate

recente, apontando como tendências predominantes, duas interpretações centrais sobre o fazer

profissional: sua abordagem como trabalho e como complexo ideológico.

Contudo, a pesquisa se propõe apreender o Serviço Social como trabalho, por

reconhecer que essa perspectiva elucida importantes mediações sobre o significado social da

profissão, a partir dos anos de 1980, com a apropriação da tradição marxista no âmbito da

profissão e na década seguinte com as formulações das novas diretrizes curriculares para o

curso do Serviço Social.

Este capítulo apontará as mudanças na esfera produtiva e estatal e como estas incidem

na concepção, organização e gestão das políticas sociais. Nesse sentido, faz-se necessário

analisar as implicações dessas mudanças no trabalho do assistente social, uma vez que as

Page 57: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

políticas sociais se constituem enquanto campo por excelência de inserção do assistente social

e ainda enquanto respostas às relações entre as classes sociais e o Estado na sociabilidade

burguesa.

Apreenderemos, então, as particularidades do modo de produção capitalista enquanto

estratégia que permita decifrar a realidade e entender os desafios postos para os assistentes

sociais na atualidade. Nesse sentido, partimos da centralidade do trabalho, com o escopo de

identificar mudanças conceituais sobre a categoria, a partir da reorganização contemporânea

da produção capitalista.

Ao mesmo tempo em que o capitalismo se metamorfoseia, determinando

transformações na organização da produção e na gestão do trabalho, essas mudanças

provocadas pela recomposição do capital também atingem as relações que se estabelecem na

sociedade, e com elas o Assistente Social também tem sido impactado, seja pelas formas de

enfrentamento das novas expressões da questão social, seja pelas novas configurações dos

espaços sócio-ocupacionais e ainda pelas condições sociais que circunscrevem o seu trabalho

(IAMAMOTO & CARVALHO, 2012).

II. 1- As particularidades do trabalho do assistente social no cotidiano dos espaços sócio-

ocupacionais

Buscamos neste momento contribuir para uma análise crítica acerca das

particularidades do trabalho do assistente social no cotidiano do espaço sócio-ocupacional,

frente às tensões entre o direcionamento social que este profissional pretende imprimir ao seu

trabalho concreto e as exigências que o mercado de trabalho impõe aos seus trabalhadores

assalariados. Nesse sentido, buscamos compreender o processo de trabalho coletivo em que se

inscrevem estes profissionais e como compreendem o significado social da profissão no

processo de reprodução das relações sociais, identificando os condicionantes sociais objetivos

à sua autonomia na condução do trabalho e à integral implementação do projeto profissional.

A compreensão das tensões entre o direcionamento social que o profissional assistente

social pretende imprimir ao seu trabalho concreto e as exigências que o mercado de trabalho

impõem aos seus trabalhadores assalariados, nos possibilita entender a relação indissociável

entre trabalho assalariado alienado e projeto profissional. Mas não queremos aqui reduzir a

efetivação do projeto profissional às condições reais de trabalho. O que pretendemos é

articular os constrangimentos da alienação do trabalho e a relativa autonomia do assistente

Page 58: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

social enquanto alternativa de adensamento da história às nossas relações sociais na sociedade

dual do capitalismo avançado (IAMAMOTO, 2007).

Precisamos compreender o caráter contraditório do nosso trabalho frente aos interesses

de classes e a possibilidade de reafirmação de um projeto profissional prioritário aos

interesses da classe trabalhadora, sem confundirmos a profissão enquanto militância política

com uma missão idealista e sem cairmos na discussão do socialismo utópico. Afinal, mesmo

tendo como usuário a classe trabalhadora, nós somos requisitados pelas instituições

empregadoras a fim de atendermos as suas demandas, pois é isso que marca o nosso perfil de

assalariado.

O assistente social, ao vender a sua força de trabalho, este passa a adequar o seu

trabalho especializado às exigências alheias, pois uma vez contratado, as condições de

trabalho já vem determinadas, metodológico na direção do exercício profissional, porque sem

este domínio teórico-metodológico na direção do trabalho não teremos clareza da nossa

atuação e nem saberemos definir os rumos da nossa intervenção.

Os espaços de atuação profissional são dotados o processo de trabalho já está

organizado, sujeitando o assistente social ao trabalho alienado.

Por conta disso, precisamos alargar a nossa relativa autonomia, que, de acordo com

Iamamoto (2007), expressa o domínio teórico-

de racionalidades e funções distintas na divisão social e técnica do trabalho. Por isso

entender o trabalho do assistente social nos diferentes espaços sócio-ocupacionais, pressupõe

entender a profissão em suas particularidades (YAZBEK, 2009).

O trabalho do assistente social é atravessado por determinações, que necessitam ser

compreendidas para além do aparente. A apreensão dessas determinações na sua essência

significa compreender a profissão na totalidade das relações sociais (IAMAMOTO, 2012).

A primeira determinação do trabalho do assistente social diz respeito a sua inserção no

trabalho coletivo, em relação aos demais profissionais, pois o nosso trabalho não é um

trabalho isolado. Entender a divisão do trabalho pressupõe entender essa divisão indissociável

à produtividade, à cooperação do trabalho humano, porque supõe uma forma histórica e social

de produção de mercadoria, isto é, o produto final depende da cooperação de diferentes

trabalhadores. Não podemos pensar a sociedade a partir dos indivíduos. Precisamos sair do

empirismo e perceber o coletivo circunscrito nas relações sociais (IAMAMOTO, 2012).

Page 59: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

O Serviço Social é um produto histórico, pois enquanto profissão determinada

socialmente, também é fruto daquilo que o assistente social faz dela. A forma como cada

profissional vive a profissão no cotidiano de trabalho determina o que vai ser o Serviço

Social. E o que determina as nossas ações profissionais, além das concepções político-

ideológicas e teórico-metodológicas, também são os acordos previstos no contrato de trabalho

e as condições sociais que circunscrevem esse trabalho na trama de interesses sociais que o

polarizam (IAMAMOTO, 2009).

O modo de produção e reprodução das condições materiais e imateriais de vida é

definido pelo conjunto das forças produtivas e das relações sociais de produção. Pois o

homem, ser natural, ser biológico, tem necessidades prioritárias e a condição inicial de toda

história é a satisfação dessas necessidades da vida material (MARX & ENGELS, 1991).

O homem precisa comer, beber, morar, vestir-se. Ele vai buscar a satisfação dessas

necessidades, e por meio disso realiza o seu ser social. E não faz isso isoladamente. Pois é na

vida em sociedade, segundo Iamamoto (2012), que ocorre a produção. A produção é uma

atividade social. Ao se relacionar, o homem vai se inserir em relações sociais de produção que

vão ser determinadas pelo grau de desenvolvimento das forças produtivas (MARX &

ENGELS, 1991).

A transformação dos meios de produção possibilita o desenvolvimento do que

chamamos de novas forças produtivas, que implica simultaneamente uma relação dos homens

com a natureza e uma relação dos homens entre si. Marx e Engels (1991) diziam que a ação

dos homens sobre a natureza, para transformá-la e dela extrair os meios de existência, é

simultânea e necessariamente uma forma de cooperação dos homens entre si. Ou seja, toda

relação do homem com a natureza é simultaneamente uma relação dos homens entre si. Essas

forças de produção, quer dizer, a capacidade dos homens de transformar a natureza, contém

em si relações de produção, isto é, um certo modo de organização da cooperação dos homens

entre si e as relações dos homens com a natureza, que se ordenam reciprocamente (MARX &

ENGELS, 1991).

As forças produtivas são compostas pelos instrumentos e objetos de trabalho (base

material e estrutural da sociedade) e pela própria força de trabalho. As relações de produção

formam o conjunto das relações econômicas e de propriedade que se estabelecem entre as

classes sociais. O modo de produção é a totalidade social que engloba a infraestrutura

Page 60: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

econômica18

e a superestrutura político-jurídica, que abrange, além das leis e da organização

do Estado, todos os instrumentos de reprodução da consciência social (MARX & ENGELS,

1991).

A consciência é uma forma da produção da vida por si mesma e essa consciência real,

que se exprime na linguagem, está imediatamente ligada à atividade prática, à práxis. Para

Marx é através da realidade que se consegue chegar às consciências dos homens19

(MARX &

ENGELS, 1991).

Na teoria marxista, as especificidades de cada época não são determinadas pelo que se

produz, mas como se produz. Pois o homem ao longo dos tempos, modifica sua natureza, sua

forma de vida, suas necessidades e as formas de atendê-las. Isto é feito pelo trabalho que, em

todas as épocas é realizado através de determinadas relações sociais de produção. Marx

(1969) fala que o que diferencia as épocas não é o que se faz, mas como se faz. Em cada

momento histórico os meios de produção diferem no tempo. Então isto é trabalho, existente

em qualquer época e com qualquer forma de relações sociais (MARX, 1971).

Marx (1969) trata de uma produção, especificamente, capitalista, que não é apenas

uma produção de objetos materiais, mas de relação social entre pessoas e em última instância

entre classes sociais, embora estas relações apareçam como relações entre coisas. Marx

desvela que a sociedade capitalista fez da força de trabalho uma mercadoria e que a mesma se

apresenta em relações como coisas (MARX, 1969).

O capital não existe sem a relação com o trabalho, pois é a força de trabalho que

produz riqueza e a tendência do capitalismo é tornar o trabalho mais produtivo. O elemento

subjetivo do processo de produção é o trabalho vivo em ação, aliado aos meios de produção

(MARX, 1969).

No modo de produção capitalista as relações sociais se baseiam no contato entre duas

classes livres e iguais, uma sociedade de produtores privados “livres”. A classe capitalista,

proprietária dos meios de produção que compra no mercado de mercadorias todos os

elementos necessários para o processo de trabalho. Os elementos objetivos materiais ou meios

de trabalho (os instrumentos e objetos que é algo filtrado por um trabalho prévio, o que

chamamos de matéria-prima) e os elementos subjetivos pessoais que é a própria força de

18 O conceito de Marx (1969) de estrutura econômica liga-se ao conceito amplo de totalidade social. Assim, a estrutura ou

infraestrutura representa a base econômica da sociedade, sobre a qual se ergue a superestrutura (relações jurídicas, políticas e

demais formas de consciência social). Mas a relação entre a estrutura e superestrutura não se dá mecanicamente, por ser uma

relação dinâmica e dialética: os fenômenos econômicos determinam os políticos, mas são também por eles influenciados. 19 Segundo Marx e Engels (1991), não há forças produtivas e estado social que não impliquem um certo estado da

consciência, pois os homens não podem cooperar entre si senão por intermédio da linguagem.

Page 61: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

trabalho. O trabalhador livre dos meios de produção e livre para vender a única mercadoria

que possui- sua força de trabalho e vende-a ao capitalista. O contrato é estabelecido a partir do

momento em que o capitalista necessita do trabalho vivo para tocar sua produção, que antes

de tudo, tem como finalidade produzir mercadorias (MARX, 1969).

Decifrar o significado de mercadoria é importante para compreendermos a sociedade

mercantil20

. E para Marx (1969), a mercadoria é uma unidade imediata que sintetiza valor de

uso e valor. A mercadoria é ao mesmo tempo produção social, destinada à satisfação da

necessidade humana, e apropriação dos meios de produção.

Marx (1969) vai mostrar que a mercadoria e o dinheiro não são capital por sua própria

natureza, mas só se transformam em capital mediante determinadas premissas. E que

premissas são essas?

Nessa obra o autor destaca que, o trabalho assalariado constituiu uma condição

necessária para a formação de capital e se mantém como premissa necessária e permanente na

produção capitalista.

A segunda premissa que Marx (1969) traz se apresenta no momento em que o

trabalhador precisa vender a sua força de trabalho em troca de proventos ou salários, e com

20 Na sociedade mercantil, a produção de mercadorias necessita de condições indispensáveis, como: a divisão social do

trabalho e a propriedade privada dos meios de produção. A produção mercantil simples surge com o escravismo por meio das

atividades dos artesãos, que na condição de trabalhadores livres mantinham relações mercantis com os camponeses por meio

de “um mercado restrito, quase sempre local, no qual os produtores conheciam as necessidades dos compradores” (NETTO

& BRAZ, 2007, p. 81). Na produção mercantil simples o processo de circulação caracterizava-se com a seguinte expressão:

M-D-M (Mercadoria- Dinheiro- outra Mercadoria). Logo o dinheiro era apenas o seu meio de troca ou como simples

intermediação entre distintas mercadorias em que produtores e consumidores, na escala de um mercado local, possibilitam

manter relações de troca.

Mas a produção mercantil se desenvolveu significativamente no feudalismo, em especial a partir do século XIII, com a

crescente intervenção dos comerciantes que proporcionaram uma diversificação e ampliação dos mercados, ora restritos. Há

uma ampliação das atividades comerciais, com a constituição de novos mercados cada vez maiores, que contribuíram para

que a circulação das mercadorias se tornasse cada vez mais complexa, modificando a produção mercantil simples com a

entrada em cena de novos atores: os comerciantes. Nesse sentido, a expressão desse novo processo de circulação vai se

caracterizar na seguinte expressão: D-M-D+ (Dinheiro – Mercadoria - Dinheiro acrescido).

Com o desenvolvimento da sociedade burguesa, a produção mercantil simples não desapareceu, mas foi deslocada pela

produção mercantil capitalista, no século XVIII. Em ambas as produções era indispensável a divisão social do trabalho e a

propriedade privada dos meios de produção, sendo que “na produção mercantil capitalista essa propriedade não cabe ao

produtor direto, mas ao capitalista (ao burguês)” (NETTO & BRAZ, 2007, p. 83). Pois o capitalista, diferente do

comerciante, consegue manter seus ganhos (lucros), não através do processo de circulação, mas sim pela exploração da força

de trabalho, no âmbito do processo de produção de mercadorias, porque o lucro capitalista não é criado na esfera da

circulação, mas na esfera da produção. Sendo assim, a circulação mercantil capitalista expressa-se em : D- M- D´ (Dinheiro-

Mercadoria- Dinheiro acrescido).

Se no D+ obtido pelo comerciante, era possível garantir dinheiro + lucro, proveniente da diferença entre os preços de compra

e venda de mercadorias, o D´obtido pelo capitalista, garantia dinheiro + mais-valia, proveniente da produção pela intervenção

da força de trabalho. Pois a sociedade mercantil capitalista pressupõe a constituição de uma produção mercantil que se

mantém sobre o trabalho assalariado, a partir da relação entre dois sujeitos historicamente determinados: os proprietários de

dinheiro e meios de produção (capitalistas ou burgueses) e os proprietários de força de trabalho (os proletários ou operários)

(NETTO & BRAZ, 2007).

Page 62: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

isso se insere nos processos de trabalho como não proprietário, porque as condições do seu

trabalho e ele mesmo se defrontam enquanto propriedade alheia.

O autor citado partiu do trabalho e da sociedade mercantil e ele traz como pressuposto

o fato de que o “capital não é uma relação social de produção determinada representada em

coisas, por propriedade natural dessas mesmas coisas” (MARX, 1969, p. 54), mas é

determinadas relações de produção sociais entre pessoas.

Nesse sentido, ao afirmar que o capital não é uma coisa ou um conjunto de objetos,

mas sim relação social entre pessoas, Marx (1969) procurou evidenciar dois grandes

equívocos cometidos pelos economistas clássicos burgueses. Primeiro equívoco foi o de

identificar a mercadoria e o dinheiro como capital, sem considerar a especificidade do capital

como relação social.

Ainda apoiado no mesmo autor citado esses economistas ao considerarem o processo

de produção capitalista apenas do ponto de vista do processo de trabalho, partindo da própria

natureza de produção, afirmavam que o capital é uma mera coisa, uma mera matéria-prima,

instrumentos ou meios de produção.

O segundo equívoco foi o de conceber a mistificação do capital, que se expressa para

os economistas clássicos como relações entre coisas, obscurecendo nesta análise o produto do

processo de produção capitalista, que não é para Marx (1969) nem mero produto (enquanto

valor de uso) e nem uma mera mercadoria (pensada apenas na dimensão de um produto que

tem valor de troca), mas o seu produto específico é a mais valia.

Nesse sentido o autor irá mostrar que o dinheiro e a mercadoria são formas essenciais

para a formação do capital. Porque na sua forma inicial o dinheiro é apenas um meio de troca,

isto é, uma expressão monetária de uma determinada soma de valores de troca, que para

transformar-se em capital precisa valorizar-se. E para valorizar-se, essa dada soma de valor

precisa gerar mais valor, o que pressupõe a relação de compra e venda entre capitalistas

(proprietários dos meios de produção) e trabalhadores (detentores da força de trabalho)

(MARX, 1969).

O comprador da força de trabalho a consome fazendo trabalhar o seu vendedor,

transformando-se em trabalhador que materializa seu trabalho em valores de uso

(mercadorias). (MARX, 1971).

Então, o trabalhador realiza o seu valor de troca ao vender a sua força de trabalho ao

capitalista em troca de provento ou salário para garantir a sua subsistência e aliena seu valor

Page 63: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

de uso. Pois o valor de uso da força de trabalho deixa de pertencer ao seu vendedor, agora

pertence ao comprador (MARX, 1971).

Então o dinheiro só se transforma em capital, quando essa dada soma de valor é

empregada com vistas ao seu crescimento, na produção da mais valia (MARX, 1969).

No modo de produção capitalista, o trabalhador sob o controle do comprador de sua

força de trabalho, torna-se criador de um mundo de objetos que vão se tornando estranhos

para ele. Há uma reitificação/mistificação do capital onde as suas relações sociais aparecem

sempre ligadas as coisas materiais ou meios de produção. As relações aparecem

mistificadamente como relações entre coisas, esvaziadas de sua historicidade. Marx (1969)

procurou mostrar que o capital não é uma coisa determinada (o dinheiro, mercadoria e

fábrica) e sim determinadas relações de produção sociais entre pessoas. Pois a mercadoria só

possui valor quando apresenta trabalho humano coagulado, cristalizado. Caso contrário, a

mercadoria só apresentará valor de uso (MARX, 1969).

Marx (1969) ao criticar o fetichismo dos economistas, ele sinaliza que o equívoco dos

mesmos foi analisar de forma incompleta a mercadoria sem tomar por base o trabalho. Marx

(1969) não estava defendendo a redução da mercadoria ao trabalho em si, mas estava

considerando o seu duplo caráter social tanto na dimensão do trabalho concreto (que

pressupõe um trabalho útil, com valor de uso das mercadorias, com qualidade determinada),

quanto na dimensão do trabalho abstrato, trabalho indiferenciado, homogêneo, impessoal e

socialmente necessário no valor de troca (que pressupõe uma quantidade de trabalho, um

tempo médio de trabalho coagulado na mercadoria) (MARX, 1969).

O trabalho abstrato não aparece, diretamente, como uma determinação social do

trabalho, isto é, enquanto trabalho socialmente igualado, mas é por meio da troca de

produtores entre seus produtores privados (que se desdobram em capitalistas e trabalhadores;

capitalistas industriais e proprietários fundiários) é que acontece a igualação social de

diferentes tipos de trabalho (MARX, 1969).

Dessa forma, o trabalho social médio contido nas mercadorias só se realiza através das

trocas, no âmbito da base capitalista. Nas palavras de Marx, “como valores de uso, as

mercadorias são antes de qualquer coisa, de diferente qualidade, como valores de troca só

podem ser de quantidades diferentes, não contendo, portanto, nenhum átomo de valor de uso”

(MARX, 1983, p. 47).

Page 64: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Segundo Iamamoto (2007), com base em Marx (1969), o trabalho abstrato é o que

determina o valor da mercadoria, pois se o trabalho socialmente igualado e cristalizado é a

substância do valor, esse valor só se expressa na relação social de troca de uma mercadoria

com a outra. Então, é só no processo de troca que o trabalho concreto se revela enquanto

trabalho abstrato/social. É no processo de troca que o valor de uso do trabalho se transforma

na forma de expressão do valor.

Marx vai mostrar que nas trocas, dentro da esfera da circulação de mercadorias, o

“metabolismo social” se realiza:

Na medida em que o processo de troca transferira mercadorias das mãos em que elas

são não-valores de uso para as mãos em que elas são valores de uso, ele é

metabolismo social. O produto de uma modalidade útil de trabalho substitui o da

outra. Uma vez tendo alcançado o lugar em que serve de valor de uso, a mercadoria

cai da esfera de intercâmbio das mercadorias na esfera de consumo (MARX, 1983,

p. 94).

Então podemos afirmar que, a determinação social do trabalho na sociedade mercantil,

segundo Marx (1969), se expressa na transformação do trabalho concreto em trabalho

abstrato. Pois é no processo de troca que o trabalho privado pode ser igualado a outras formas

de trabalho, e com isso esse trabalho assume o caráter de trabalho social homogêneo e

impessoal (MARX, 1971).

Karl Marx (1969) afirma que a produção capitalista é uma unidade que sintetiza o

processo de trabalho e o processo de valorização, onde o capitalista objetiva neste processo

produzir um valor de uso que tenha um valor de troca e produzir uma mercadoria cujo valor

cubra e supere a soma dos valores das mercadorias investidas na sua produção, que seriam os

meios de produção e a força de trabalho.

A produção de mercadorias é antes de tudo produção de valores de uso com potencial

para se transformar em valores de troca. Primeiramente, trata-se de uma produção social que

visa atender uma necessidade humana. Mas é na realização enquanto valor, que o trabalho

social é apropriado de forma privada.

No processo de trabalho, a objetividade do capital aparece na ótica da materialidade,

onde os meios de produção estão a serviço do sujeito, mas no processo de valorização, esta

objetividade do capital aparece na ótica do valor, onde os sujeitos estão a serviço dos meios

de produção e ao próprio capital. Nesse sentido, vamos ter uma inversão do sujeito/objeto

(MARX, 1969).

Page 65: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Tanto o processo de trabalho e o processo de valorização do capital são unidades de

contrários, isto é, são dimensões distintas do mesmo processo, onde um não existe sem o

outro, onde um se realiza no outro (MARX, 1969).

Essa análise nos permite entender que o trabalho do assistente social também se

submete as mesmas condições comuns a todos os demais trabalhadores assalariados na

sociabilidade do capitalismo avançado (IAMAMOTO, 2009).

Essas características do mundo de trabalho contemporâneo, no que se convencionou

chamar de reestruturação produtiva, observa-se uma significativa “heterogeinização do

trabalho”, o que Antunes (1995, p. 47) vai chamar de “subproletarização intensificada”.

O autor vai dizer “que há, portanto, um processo de maior heterogeneização,

fragmentação e complexificação da classe trabalhadora” (ANTUNES, 1995, p. 47), ou seja,

temos na contemporaneidade várias categorias de trabalhadores que compartilham da mesma

precariedade do emprego e da remuneração, que marca a expansão do trabalho parcial,

temporário, precário, terceirizado, presente na sociedade dual do capitalismo avançado e que

tem seus rebatimentos no trabalho do assistente social.

Percebem-se os impactos dessas transformações no cotidiano do exercício profissional

no âmbito dos processos de trabalho, através da precariedade dos serviços, com a diminuição

dos postos de trabalho, com o novo modelo de “empregalidade” por meio dos contratos e / ou

subcontratos, sem nenhuma garantia de direitos, trabalhos terceirizados, com baixos salários,

ausência de recursos. Isso sem falar da substituição gradual, no âmbito da esfera pública, de

concursos públicos por processos seletivos simplificados, o que torna pertinente a contratação

de assistentes sociais. Muitos desses vínculos precários, sem garantias de direitos, acabam por

comprometer a relativa autonomia profissional frente às determinações externas incidentes no

mundo do trabalho.

Muitos profissionais pela necessidade de permanecerem inseridos no mercado de

trabalho são cooptados pela lógica perversa do capital, profissionais sem a consciência

histórica da profissão, reforçando práticas do voluntariado, sem habilidade para projeções

estratégicas no desempenho de atividades técnicas e políticas, reforçando a precariedade do

trabalho, o que vem comprometendo o competente desempenho profissional e também a

reafirmação do projeto ético político da profissão (IAMAMOTO, 2009).

Page 66: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

A segunda determinação do trabalho do assistente social implica entender a sua

inserção em um espaço ocupacional ou ainda em um processo de trabalho que expressa o

trabalho em geral do assistente social.

Em relação ao trabalho em geral do assistente social, vale ressaltar o pressuposto de

Iamamoto (2007) de que o Serviço social não possui um processo de trabalho próprio.

Existem sim, diferentes processos de trabalho nos quais se inscreve o assistente social na

condição de trabalhador assalariado. Então não existe um único modelo universal em todos os

espaços ocupacionais, onde a profissão é vista em uma perspectiva endógena e enquanto

atividade isolada do indivíduo. Quando atribuímos à profissão um processo de trabalho

próprio, é como se pensássemos o projeto profissional ao nível da intensionalidade /

capacidade ou vontade do profissional, sem considerarmos a sua relação com o trabalho

assalariado (IAMAMOTO, 2007).

Nós assistentes sociais, apoiados em um projeto profissional de dimensão política que

se vincula à um projeto de transformação da sociedade, devemos continuar na luta pela

efetivação dos direitos sociais, pois entendemos a democracia enquanto necessidade de acesso

e oportunidades para que todos os indivíduos tenham direito a um trabalho digno, condições

de moradia, saúde, lazer e cultura.

Não queremos, pois, defender uma cidadania a partir de um discurso que aponta para a

necessidade de socialização da riqueza e de distribuição de renda, sem envolvermos nesta

discussão a estrutura da produção capitalista, que se mantém pela existência e persistência da

pobreza e das desigualdades sociais (IAMAMOTO, 2009).

Defendemos a cidadania plena - que aponta para a construção de uma sociedade justa

e igualitária para além de um conjunto de direitos concretizados por políticas sociais, mas que

pressupõe a socialização da riqueza, a universalização do acesso aos direitos, enquanto via

para equidade e justiça social- não é passível de conciliação com o modo de produção

capitalista21

.

21 Não pretende-se invalidar a luta pelo reconhecimento e afirmação dos direitos nos marcos do capitalismo e nem

desconsiderar a capacidade de redução de desigualdade com a concessão de direitos na sociabilidade do capital. Porém, não

podemos negar que esses direitos nos marcos do capitalismo não são e não foram capazes de eliminar as desigualdades, a

estrutura de classes e a apropriação privada, pelos capitalistas, dos meios de produção e da riqueza socialmente produzida,

pela incapacidade desses direitos agirem na estrutura de produção e reprodução do capital.

Por outro lado, reconhecer os limites e as possibilidades dos direitos no capitalismo, tem sido uma grande estratégia de luta

pela materialização do projeto ético-político do Serviço Social. Um projeto profissional, vinculado a um projeto societário,

que não se contenta com o modelo capitalista do Estado de direitos, mas “que propõe a construção de uma nova ordem social,

sem dominação e/ou exploração de classe, etnia, ou orientação sexual” (CFESS, 1993).

Page 67: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Por isso o grande desafio que enfrentamos na atualidade é o de não permitir que a

cidadania, tão em voga nesse contexto de “refilantropização do social”, se esgote

simplesmente na oferta de programas, serviços e/ou benefícios compensatórios e focalizados

de combate à pobreza.

É preciso trabalhar na perspectiva de tentar levar o usuário a avançar no processo de

formação de uma consciência de pertencimento de classe. Pois essa consciência de classe,

possibilita a organização política da classe trabalhadora por trabalho e melhores condições

trabalhistas, assim como a percepção de seu potencial de rebeldia no processo de exploração e

alienação do trabalho (MARX, 1969).

Nos espaços de ocupação profissional, o assistente social vem sendo desafiado pela

subordinação do conteúdo do seu trabalho aos objetivos e necessidades das entidades

empregadoras, levando o assistente social a exercer um trabalho muito mais gerencial do que

pedagógico.

É por isso que precisamos buscar estratégias de alargamento da nossa relativa

autonomia, estratégias que expressam o domínio teórico-metodológico do fazer profissional

frente às determinações externas, incidentes no mundo do trabalho. Mas isso requer de nós a

decisão de ultrapassar a “política institucional do dia-a-dia”, do pragmatismo, da prática

imediata, manipuladora e burocratizada (IAMAMOTO, 2009).

Como afirma a autora citada, isso requer de nós o saber “articular no cotidiano de

trabalho, o clássico dilema entre causalidade e teleologia, entre momentos de estrutura e

momentos de ação (...)” (IAMAMOTO, 2009, p. 39).

Falar sobre as determinações do trabalho do assistente social, também pressupõe

entender como a profissão intervém nas diferentes manifestações da questão social. Porque no

enfrentamento da questão social, em suas mais agudas manifestações, o assistente social

depara-se com diversas estratégias que têm sido tensionadas por projetos sociais distintos, que

vão ter seus rebatimentos na estruturação e implementação das políticas sociais públicas

(YAZBEK, 2009).

O primeiro projeto, de caráter progressista, visa à transformação da sociedade a partir

do viés da universalidade e da democracia, fundado no princípio da universalização dos

direitos sociais, em sua defesa e na garantia do seu acesso e ainda na defesa da qualidade dos

serviços na perspectiva da equidade e da integralidade (IAMAMOTO, 2009).

Page 68: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

O outro projeto de inspiração neoliberal se contrapõe a este projeto progressista ao

subordinar os direitos sociais à lógica orçamentária, e à política social à política econômica,

visando o desmonte dos direitos conquistados constitucionalmente:

A elaboração e interpretação dos orçamentos passam a ser efetuadas segundo os

parâmetros empresariais de custo/benefício, eficácia/inoperância, produtividade /

rentabilidade. O resultado é a subordinação de respostas às necessidades sociais à

mecânica técnica do orçamento público, orientada por uma racionalidade

instrumental. A democracia vê-se reduzida a um ‘modelo de gestão’, desaparecendo

os sujeitos e a arena pública em que se expressam e defendem seus interesses.

(IAMAMOTO, 2009: 168).

Nesse novo regime de acumulação do capital, caracterizado pela dominância

financeira em um contexto de desregulamentação e liberalização da economia, teremos a

valorização do capital dividendo com centralização no capital que contém juros, cujos agentes

principais desse processo de financeirização são os grupos industriais transnacionais

(empresas industriais) e os investidores institucionais ou instituições financeiras (bancos,

companhias de seguros, fundos de pensão, sociedades financeiras de investimentos coletivos e

fundos mútuos).

Segundo Chesnais (1999) são esses últimos os que mais se beneficiam nessa nova

configuração do capitalismo, na medida em que vão se tornando os proprietários acionários

dos grupos transnacionais. Pois no momento em que são formados os oligopólios e/ou

monopólios, tem sempre à frente as empresas transnacionais, controladas pelo capital

financeiro22

internacional.

Na hegemonia do capital especulativo, a grande tendência do capital é aparecer na

forma de dinheiro, acarretando uma diminuição expressiva de investimento na esfera

produtiva e consequentemente uma diminuição da absorção da força de trabalho, o que torna

possível o crescimento brutal do desemprego. Nesse processo de estagnação da esfera de

produção, o capital busca sua autovalorização sem sair da esfera financeira. Isto é, sem passar

pela produção de mercadorias, mas assumindo forma monetária de capitalismo rentista

(CHESNAIS, 1999).

O capital financeiro assume o comando mundial do processo de acumulação, a partir

da liberalização de investimentos com direção ao comércio e as finanças, resultando na

22 Segundo Chesnais (1999) o capital financeiro, enquanto capital especulativo-parasitário, representa um processo de

desenvolvimento capitalista sob a hegemonia de uma fração do capital que busca valorizar o capital-dinheiro sem passar pela

esfera da produção de mercadorias, permanecendo, deste modo, no interior do mercado financeiro. O desprezo pelo

investimento produtivo e a busca avassaladora da rentabilidade liquida e segura são os traços principais da natureza do capital

financeiro. Ele floresce nos empreendimentos com papéis (ações, moedas e títulos públicos).

Page 69: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

totalidade da economia mundial e o estabelecimento da relação decisiva entre capital e

trabalho, em que o trabalho aparece no mundo enquanto bloco ou ainda como componente do

capital, porque a exploração do trabalho também é mundial (CHESNAIS, 1999).

A direção da liberalização de investimento no plano financeiro resulta, portanto, numa

acumulação acelerada do capital à custa dos trabalhadores, ou seja, vamos ter a valorização do

capital pela exploração da força de trabalho, que é a força geradora de riqueza no capitalismo

(MARX, 1969).

Esse processo de reprodução do capitalismo sob a órbita das finanças, o capital

aparece em sua forma fetichizada, isto é, enquanto capital que rende juros, como se o dinheiro

por si só, fosse capaz de gerar mais dinheiro, obscurecendo nesse processo a valorização do

capital pela exploração do trabalho (IAMAMOTO, 2007).

Marx (1971) sempre procurou mostrar que o capitalismo financeiro ou comercial não

é, por sua própria natureza, criador de valor e nem de mais-valia, para ele toda mais-valia vem

do trabalho vivo. No que concerne ao comércio em particular, segundo o livro II de O Capital,

Marx quer demonstrar que o comércio é necessário para a realização da mais-valia, mas nem

por isso é criador de riqueza.

O capital que rende juros assume a hegemonia no processo de reprodução do capital

na atualidade, e essa hegemonia foi fortalecida por duas vias: pelo fundo público (com a

dívida pública o que exigiu uma contrarreforma do Estado) e pelo mercado acionário das

empresas (com a reestruturação produtiva ou nos termos de Antunes (1995), com as

“metamorfoses do trabalho”). (CHESNAIS, 1999).

Com a contrarreforma do Estado marcada pela defesa da privatização, com redução da

responsabilidade pública no atendimento às necessidades sociais dos indivíduos, em favor da

sua mercantilização, o Estado neoliberal vem cada vez mais desarticulando direitos sociais e

provocando a radicalização da questão social (MOTA, 2012).

Nesse sentido, a profissão também vem sofrendo essas inflexões, com expressivas

alterações nas demandas de trabalho e no próprio mercado de trabalho, no qual o assistente

social se insere pela mediação das condições de assalariamento, em um contexto de redução

de direitos e de relações de trabalho precarizadas (IAMAMOTO, 2009).

Diante da dinâmica da sociabilidade capitalista, onde do ponto de vista do capital se

busca ocultar as desigualdades e antagonismos de classes, o assistente social vem se

afirmando por meio da especialização do seu trabalho e por sua atuação política, que não se

Page 70: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

explica por si mesma, mas pela posição que o profissional ocupa na divisão social e técnica

do trabalho (IAMAMOTO, 2007).

Precisamos entender a profissão não como evolução das protoformas das práticas de

ajuda e nem como militância, isto é, como algo que se cria a partir de si mesmo, mas como

produto histórico, pensado na totalidade das relações sociais e que possui um significado

social contraditório, que segundo Iamamoto (2012), depende da dinâmica das relações entre

as classes sociais e destas com o Estado, no enfrentamento da questão social.

Essa compreensão exógena da profissão nos possibilita compreender as possibilidades

e limites de atuação deste profissional no movimento político-cultural de luta pela hegemonia

ou contra hegemonia, onde os assistentes sociais se inserem em processos diferenciados de

organização política. Pois existem vários canais para se efetivar o projeto profissional e um

deles é o processo de trabalho, em que o assistente social se insere na condição de trabalhador

assalariado (IAMAMOTO, 2009).

Nesses processos de organização política o assistente social pode contribuir no

fortalecimento da cultura dominante, na defesa do projeto conservador de reprodução da

lógica do capital, ou pode contribuir para a defesa do projeto profissional que se vincula a um

projeto de transformação da sociedade, comprometido com a defesa da ampliação dos direitos

sociais, numa perspectiva emancipatória e transformadora.

É possível, pois, admitir possibilidades concretas de redimensionamento da função

pedagógica da prática profissional do assistente social num sentido emancipatório,

no contexto da prestação de serviços e benefícios sociais, mediante construção de

estratégias de efetivação de direitos, a partir da incorporação das necessidades dos

usuários como parte da dinâmica dos serviços institucionais (ABREU, 2011, p. 197).

Essa prática pedagógica emancipatória vem sendo desafiada nos diferentes espaços

sócio-ocupacionais, em que as relações de trabalho tendem a ser desregulamentadas e

flexibilizadas, o que exige um sujeito profissional que tenha competência de decifrar o

significado social do seu trabalho, buscando estratégias de alargamento de sua relativa

autonomia contra a alienação do trabalho assalariado.

Nessa perspectiva exige do profissional assistente social um esforço teórico que

possibilite a ultrapassagem da política rotineira burocratizada do dia-a-dia, e de mediação das

dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa no âmbito dos espaços

sócio-ocupacionais (ABREU, 2011).

Page 71: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Na fase atual do capitalismo, a alienação tem sido relegada a um grau supremo, e a

classe trabalhadora nesse processo de financeirização do capital tem se tornado refém de uma

alienação total. As forças produtivas em nossa sociedade se desenvolvem mais do que jamais

se desenvolveram no passado. Estamos vivendo à contradição mais radical do capital, que

vem acarretando, entre tantas conseqüências, profundas mutações no interior do mundo do

trabalho: de um lado forças produtivas sem precedentes, de outro lado uma desumanização do

trabalho, marcada pelo enorme desemprego estrutural e pelo crescente contingente de

trabalhadores em condições precarizadas (ANTUNES,1995).

O modo de produção capitalista, ao mesmo tempo em que desenvolveu-se sem

precedentes também criou e continua criando suas próprias contradições: de um lado uma

abundância virtual de autovalorização do capital e do outro lado, um empobrecimento do

proletariado sem igual.

Por isso que para Marx (1969), nesse processo de alienação do próprio trabalho, a

classe trabalhadora apresenta um forte potencial de rebeldia, que não se limita à busca por

uma revolução radical que substitua uma classe privilegiada por outra, mas uma revolução

que busque colocar os fundamentos de uma ordem social radicalmente nova.

E através do conhecimento objetivo da realidade, da estrutura econômica e social, da

relação de forças e da conjuntura política, é que a classe trabalhadora encontra a possibilidade

objetiva ao acesso da verdade, constituindo-se enquanto classe revolucionariamente mais

crítica.

2. 2- Análise da categoria trabalho para a compreensão do trabalho do assistente social

frente às mudanças nas políticas sociais, sob a órbita da sociabilidade capitalista.

O foco da análise aqui é a compreensão da ação profissional a partir da categoria

trabalho, já consolidada na profissão, com a incorporação no processo de discussão e

aprovação das diretrizes para o curso de Serviço Social. Porém constatamos que há linhas

argumentativas no âmbito das análises da tradição marxista, que não se dirigem para o

reconhecimento do Serviço Social como trabalho.

Verificamos na literatura profissional uma divergência bastante emblemática sobre a

aproximação do Serviço Social como o debate sobre trabalho ou como complexo ideológico

(prática social).

Page 72: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Autores como Lessa (2000) e Costa (2000), em suas formulações utilizam a obra de

Marx para afirmação de que o trabalho seria o elemento transformador da natureza, uma

atividade essencialmente humana, um processo em que o ser humano com sua própria ação,

transforma a natureza para satisfazer as suas necessidades humanas. Essa dimensão dá ao

trabalho uma concepção ontológica, isto é, enquanto atividade que funda o ser social. Para

Marx o trabalho é a forma como o homem interage com a natureza e transforma essa natureza

para que ela sirva a sua existência.

Com as contribuições de Lukács sobre o significado do trabalho na constituição do ser

social, Lessa (2000) e Costa (2000) compreendem que o uso da categoria trabalho não pode

ser apropriado por outras práticas ou dimensões da vida social, porque para os autores o

próprio trabalho é um fator determinante do ser humano, é o motor decisivo para a

humanização do homem, porque é através do trabalho que o homem se torna ser social.

Logo sustenta a tese de que o Serviço Social não é trabalho por não realizar mediação

entre os homens e a natureza, isto é, por não transformar a natureza nos bens materiais

necessários à reprodução social. Os autores compreendem o trabalho como complexo

estruturante da vida social, mas que se articula com outros complexos e práxis sociais23

(ALMEIDA & ALENCAR, 2011).

Para os autores mencionados, não é viável considerar o Serviço Social como trabalho,

por não possuir a profissão a capacidade de transformação da natureza, com vista a produzir

um valor de uso material. Os autores consideram a aproximação do Serviço Social com o

complexo ideológico, dada a sua função restrita ao campo da produção (não ser partícipe do

processo de produção de mais valia), estando voltado mais para o campo da reprodução

social.

Não se pode deixar de considerar que o trabalho é a atividade social, essencial, para se

pensar a inserção do Serviço Social na divisão social e técnica do trabalho, enquanto atividade

especializada, que embora não atue diretamente sobre a produção da mais valia, não significa

que o trabalho do assistente social não se submeta à racionalidade do trabalho assalariado

capitalista, expressando a necessidade produzida no bojo da dinâmica do capital.

Historicamente, a profissão foi forjada como parte integrante dos processos de trabalho

23

A práxis aqui é pensada enquanto “atividade livre, universal, criativa e auto-criativa, por meio da qual o homem cria (faz,

produz) e transforma (conforma) seu mundo humano e histórico e a si mesmo” (Dicionário do Pensamento Marxista, 2012).

Já o conceito de prática se refere a uma dimensão da práxis, enquanto atividade de caráter utilitário-pragmático, vinculada às

necessidades imediatas. Nesse sentido, podemos conceituar a práxis enquanto ação transformadora do homem sobre o mundo

e/ou atividade conscientemente orientada a um fim.

Page 73: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

coletivos que buscam a manutenção da produção e a distribuição do valor (IAMAMOTO,

1998).

Nesse sentido, compreendemos a natureza da profissão a partir da sua inserção na

divisão social e técnica do trabalho como o próprio trabalho, sem negar sua significação

ontológica e sem perder sua identificação com a especialização do trabalho subsumido à

lógica expansionista do capital.

Reconhecemos que a fonte da sociabilidade humana é o trabalho, pois é através do

trabalho, lá nas sociedades primitivas, que o homem supera a condição de “ser biológico” e

chega à condição de “ser social”. Pois todos os seres biológicos, para a sua reprodução,

realizam um intercâmbio com a natureza de onde retiram tudo que é necessário para a sua

sobrevivência.

O homem se diferencia dos demais seres, porque no seu intercâmbio com a natureza,

identifica as potencialidades, transformando a natureza a partir de finalidades. Ele projeta na

mente o objeto para atender suas necessidades antes de transformar as matérias da natureza –

esta é a sua capacidade teleológica. Para isso cria instrumentos de trabalho que potencializam

seus próprios membros naturais e o ser humano se relaciona com os demais na realização do

trabalho. O trabalho humano não é individual.

Como o homem “cria” instrumentos de trabalho e objetos para atender suas

necessidades, ele ultrapassa os limites dados pela própria natureza. Transformando a natureza,

transforma a si próprio. A comparação de Marx entre a colmeia feita pela melhor abelha e o

produto do trabalho do pior arquiteto, significa que o arquiteto projeta antes o resultado do

trabalho na sua mente, e as criações por meio do trabalho humano transformam a natureza do

próprio homem. A abelha, por outro lado, constrói sua colmeia por intuição. É uma atividade

de intercâmbio com a natureza, puramente instintiva, biológica e não transforma os grupos de

abelha.

Ao eleger o trabalho como categoria central para a compreensão do fazer profissional,

não desconsideramos a definição de Marx: do trabalho como atividade mediadora do

metabolismo do homem com a natureza. Reconhecemos que o trabalho é o elemento produtor

de valores de uso necessário á sobrevivência humana, mas não eliminamos a análise marxista

de que nem todos os valores de uso podem atender as necessidades de sobrevivência humana.

A essência humana é plena de historicidade. E o pressuposto de Marx é o homem, ser

natural, que possui uma base orgânica (dotado de infinitas capacidades e possibilidades). O

Page 74: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

homem para prover suas necessidades, interage com objetos de natureza orgânica e

inorgânica. Suas atividades vitais diferenciam-se de outras atividades dos demais seres

naturais, pelo trabalho.

O homem se utiliza do trabalho para mediatizar a satisfação de suas necessidades, por

meio da transformação da natureza a fim de produzir valores de uso. O trabalho é tido aqui

como atividade vital e racional orientada para um fim: à produção de valores de uso, isto é,

para satisfação de necessidades humanas. O trabalho é condição de vida humana, pois é a

atividade existencial do homem, sua atividade livre e racional de formação de valores de uso.

O trabalho também é criação de novas necessidades. Porque através da atividade

laboral, o homem transforma a natureza para satisfazer seus carecimentos e ao mesmo tempo

produz novas necessidades sociais. O trabalho é o processo de autocriação humano, em que o

homem ao transformar a realidade, transforma a si próprio. Logo, o trabalho implica

mudanças não só no objeto – natureza, mas também implica mudanças no sujeito – homem. É

por meio do trabalho é que o homem se torna um “ser que dá respostas” aos seus

carecimentos.

O trabalho pressupõe certo conhecimento, ideias e concepções de mundo, pois implica

a condição de pensar a vida real (LUKÁCS, 1979).

A totalidade das práticas humanas não se converte, necessariamente, em trabalho. A

possibilidade de conversão só acontece, quando a totalidade dessas atividades humanas se

submete à lógica do capital. Marx vai desvelar os meandros da produção capitalista,

identificando como a produção da própria existência torna-se submissa à lógica do capital,

enquanto produção de mercadorias.

A sociedade capitalista fez do trabalho uma mercadoria. Com a progressiva divisão do

trabalho, acompanhada da emergência da propriedade privada24

, ocorre a divisão desigual do

trabalho e de seus produtos. O indivíduo expressa seu trabalho através da relação com outros

homens, mas nessa relação o indivíduo é separado do produto da sua produção, ele não se

apropria desses produtos produzidos como parte do trabalho coletivo (com a participação de

vários indivíduos, que desenvolvem uma ação conjugada - reciprocamente dependentes).

24

“...com a divisão do trabalho fica dada a possibilidade, ainda mais, a realidade, de que a atividade espiritual do homem e a

material – a fruição e o trabalho, a produção e o consumo – caibam a indivíduos diferentes. Com a divisão do trabalho dá-se

ao mesmo tempo, a distribuição, e com efeito a distribuição desigual, tanto quantitativa, como qualitativamente do trabalho e

dos seus produtos: ou seja a propriedade, que aliás aqui já corresponde á definição dos economistas modernos, segundo a

qual a propriedade é o poder de dispor da força de trabalho de outros. Além disso, a divisão do trabalho e a propriedade

privada são idênticas: a primeira enuncia em relação à atividade aquilo que se anuncia, na segunda, em relação ao produto da

atividade” (MARX & ENGELS, 1977, p. 46).

Page 75: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Na sociedade burguesa, a forma de produtividade humana expressa o desenvolvimento

da divisão do trabalho e alienação dos indivíduos sociais25

. Pois o processo de trabalho

considerado como consumo da força de trabalho pelo capitalista apresenta dois fatores

determinantes:

Primeiro, o trabalhador submete-se ao controle do capitalista, a quem seu trabalho

pertence, para isso trabalha com objetivo de proporcionar ao capitalista, meios de produção.

Segundo, o processo de trabalho é um processo entre objetos comprados pelo

capitalista, entre objetos pertencentes a ele, por isso pertence a ele o produto. O trabalho deixa

de pertencer ao seu vendedor.

Nesse sentido, o trabalhador sob o controle do capitalista, torna-se criador de um

mundo de estranhos para ele. O trabalhador realiza o seu valor de troca ao vender a sua força

de trabalho ao capitalista em troca de salário para garantir a sua subsistência e aliena seu valor

de uso. Pois o valor de uso da força de trabalho deixa de pertencer ao seu vendedor.

O trabalho, por sua vez, no lugar de livre expressão da essência humana, passa a

simples meio para obtenção dos meios de subsistência. O que faz com que o trabalho, que

deveria permitir ao homem a realização de si mesmo, torna-se apenas um meio em vista de

uma existência empírica.

A produção capitalista envolve um processo de produção e um processo de

valorização ou criação de valor, onde o capitalista objetiva neste processo produzir uma

mercadoria que tenha um valor de uso e de troca, cujo valor cubra e supere a soma dos valores

das mercadorias investidas na produção, que seriam os meios de produção e a força de

trabalho. Para isto, o capitalista emprega na mercadoria uma mais valia, um valor maior.

O sobretrabalho humano apropriado pelo capital na forma de mais valia, enquanto

materialização de tempo de trabalho excedente é o elemento único e imprescindível para a

reprodução e valorização do capital. Esta produção permite a criação do trabalho excedente

que vai mais além do trabalho socialmente necessário. O grande objetivo do capital é criar

tempo disponível para convertê-lo em mais trabalho (MARX, 1971).

Na sociedade do capital, a força de trabalho do trabalhador “livre” se transforma em

trabalho assalariado. A mercadoria torna-se uma unidade imediata de valor de uso e de troca,

assim como o processo de produção capitalista de mercadoria se instaura como unidade

25 A alienação do homem no trabalho possibilita uma ruptura das relações ou das comunicações diretas entre os homens, pelo

fato de se interpor entre eles um mundo de estranhos.

Page 76: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

imediata de processo de trabalho e de criação de valor e de mais valia. Ocorre a criação de

trabalho concreto26

, enquanto qualidade específica de determinado produto.

E ainda, sobre esse mesmo trabalho, ocorre a criação de trabalho abstrato27

, enquanto

trabalho humano social médio, pensado em sua quantidade, independente de suas

especificações qualitativas, pois esse trabalho abstrato constitui a fonte de valor e de mais

valia.

Enquanto utilidade, uma mercadoria é incomparável a qualquer outra. Enquanto troca,

toda mercadoria é comparável a qualquer outra. Logo, são noções de heterogeneidade radical.

Mas, por outro lado, todas as mercadorias apresentam algo comum, da mesma natureza. Pois

as mercadorias são expressão de certa quantidade de trabalho humano. Neste sentido, pode-se

dizer que as mercadorias representam a cristalização do trabalho humano e ao mesmo tempo

certa quantidade de trabalho humano investido para a sua produção.

No mundo capitalista, só se enxerga o mundo das mercadorias, o mundo dos objetos

que se trocam uns pelos outros em proporções determinadas; o mundo das mercadorias em

que todas são equivalentes a certa quantidade de dinheiro. Pois o trabalho humano se reduz a

apenas a produção de valores de troca que, por conseguinte, estão esvaziados de sua qualidade

de utilidade.

O trabalhador, ao ser incorporado no processo produtivo, vê-se constrangido a

aumentar a produtividade laboral e a diminuir o valor de sua força de trabalho. Essa

produtividade significa para Marx a quantidade de mercadorias produzidas em uma dada

duração de trabalho. O trabalhador produz em menos tempo as mercadorias indispensáveis a

sua vida e de sua família para produzir tempo de trabalho excedente para o capital.

Quanto maior a jornada de trabalho, maior o tempo de trabalho não pago. A vocação

do capital é desenvolver as forças produtivas sociais do trabalho que aparece como ampliação

da mais valia, que só satisfaz o capitalismo. Nesse sentido, pode-se afirmar que o trabalhador

recebe o menos que necessário para a sua subsistência, porque entrega muito mais ao capital:

entrega o tempo necessário para a reprodução de sua força de trabalho, que é o tempo de

trabalho socialmente necessário pago e o não-pago (excedente).

26

O trabalho concreto pressupõe valor de uso das mercadorias, com qualidade determinada. (Marx, 1980). 27 O trabalho abstrato é o trabalho indiferenciado e socialmente necessário no valor de troca, que pressupõe uma quantidade

de trabalho. É o desgaste de energia humana coagulada na mercadoria, pensada na sua quantidade e não na sua qualidade. Em

suma, é o trabalho humano solidificado em seu valor (MARX, 1980).

Page 77: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Estamos vivendo a era do poder do capital sobre o trabalho. E essa dominação do

capitalismo sobre o trabalhador pressupõe o domínio da coisa sobre o homem, do produto

sobre o produtor, do trabalho morto sobre o trabalho vivo.

O trabalho morto cristalizado nas máquinas aumenta mais rápido que a necessidade de

trabalho vivo para pôr em operação esse trabalho morto. O avanço do maquinismo possibilita

aumentar a produtividade e intensidade do trabalho, mas por outro lado, também diminui o

trabalho relativamente necessário com o aumento da mais valia. Cria nesse processo, uma

população excedente, não incorporada no processo produtivo do capital, mas que é necessária

a sua lógica.

A transformação perpétua dos meios de produção lança no desemprego uma fração da

mão- de- obra de tal forma que há permanente reconstituição do exército de reserva industrial.

Quanto mais a produtividade do trabalho é acrescida pelo maquinismo e pela acumulação do

capital, isto é, pela acumulação do trabalho morto ou capital constante, mais cresce

relativamente a fração da população que não consegue encontrar trabalho e que, em

consequência, sustenta-se, permanentemente, num exército de reserva industrial.

No movimento de autovalorização do capital, o trabalhador se submete como servo, ou

ainda, como uma relação de estranhamento, em que tudo não lhe pertence. “O trabalho só

pertence ao indivíduo produtor como esforço, mas como substância criadora de valor é

propriedade do capital” (IAMAMOTO, 2012, p. 77).

No processo de produção e reprodução do capital, tem-se o processo de produção e

reprodução da alienação, experimentada de maneira diferenciada, tanto pelos capitalistas

quanto pelos trabalhadores. O capitalista se transforma num alienado feliz, pois está a serviço

das coisas que possui de forma satisfatória, por conseguir atingir a concretização da

valorização do capital empregado. Mas o trabalhador, subsumido a essa lógica do valor, vive

o processo de valorização do capital como sofrimento, pois experimenta o trabalho como

castigo.

O trabalhador transforma os meios de produção em mercadorias, isto é, ele transfere o

valor dos meios de produção para as mercadorias produzidas por meio da força vital de

trabalho empregada. O trabalhador vai então produzir uma valor a mais que se efetiva com o

trabalho excedente, que permitirá a perpetuidade desse processo de produção e, ainda, a

continuidade da reprodução ampliada das condições de sua dominação enquanto classe.

Page 78: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Diante disso, podemos afirmar que, o trabalhador cria as condições para a perpetuação desse

processo de autovalorização do capital e de dominação de uma classe pela outra.

Ao vender o direito do outro gerir a força de trabalho, o trabalhador experimenta o

constrangimento das relações de assalariamento. Mas ao mesmo tempo, o trabalhador pode

encontrar no trabalho a fonte de sua “rebeldia” e das possibilidades de “desalienação”

(MARX, 1974). Nesse caso, a supressão da alienação não significa o abandono do trabalho,

mas pressupõe a supressão da propriedade privada dos instrumentos de produção e da divisão

do trabalho, ou ainda, pressupõe lutar pela realização total do homem, isto é, lutar pelo

exercício pleno de sua autonomia28

.

Nos ciclos de metamorfoses do capital, Marx observa que não precisa “pôr a mão na

massa” para se produzir valor, podendo ser direta ou indiretamente a participação de cada um

na manipulação do objeto através do trabalho. As atividades que não estão direta e

imediatamente ligadas à transformação material de que resultam mercadorias, mas que são

indispensáveis à sua elaboração, podem ser consideradas produtivas.

O trabalho produtivo é construído direta ou indiretamente no processo de produção,

com vista a sua valorização. O caráter do trabalho produtivo não se constitui a partir do ponto

de vista do trabalhador- de quem produz- e nem do consumidor, mas sim do ponto de vista de

quem compra, isto é, do proprietário do dinheiro, que emprega o trabalhador, com objetivo de

converter o seu trabalho em capital variável e produzir mais-valia.

Na subsunção real do trabalho ao capital, tem-se o reino predominante da mais valia

relativa e absoluta, com aumento da duração, da produtividade e intensidade do trabalho.

No desenvolvimento do capitalismo, não é só o trabalho manual direto que é

produtivo, mais todas as atividades que integram a relação de troca da força de trabalho por

dinheiro enquanto capital, isto é, que é comprado pelo capital para valorizá-lo enquanto

28Na ideologia Alemã, Marx explicita que no sistema capitalista, faz-se a mesma coisa o dia inteiro, enquanto no sistema do

comunismo seria possível ir pescar pela manhã, caçar á tarde e dedicar-se em seguida a outra atividade. Pois nesse sistema

cada um teria a possibilidade de se entregar a diversas atividades produtivas, pois não haveria divisão do trabalho e nem

empreendedores privados suscetíveis á apropriação da mais valia pelo trabalho assalariado.Nesse sentido, para Marx (1977) a

única forma de o homem encontrar a sua liberdade para o exercício de sua autonomia – capacidade de autodeterminação,

inerente ao gênero humano- seria através da superação do modo capitalista de produção e da alienação humana dele advinda.

“A superação positiva da propriedade privada como apropriação da vida humana é por isso a superação positiva de toda a

alienação, isto é, o retorno do homem da religião, da família, do Estado, etc., ao seu modo de existência humano, isto é, social.” (MARX, 1977, p. 9).

Page 79: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

trabalho produtivo. Já o trabalho que é comprado pelo consumidor com sua renda para

consumi-lo como valor de uso, que são os serviços, constitui trabalho improdutivo, mas só

improdutivo para a mais valia.

Na lógica de produção capitalista o trabalho produtivo é o trabalho que valoriza o

capital, o trabalho que repõe o capital variável e total, o trabalho que gera diretamente a mais

valia. Porém, faz-se necessário compreender que o mesmo tipo de trabalho pode ser produtivo

ou improdutivo29

: o marceneiro que vende o seu produto como fonte de renda é improdutivo,

mas quando é apropriado pela lógica do capital, isto é, quando passa a ser contratado por um

empresário que o faz produzir para enriquecer, seu trabalho se torna produtivo, porque

contribui na valorização e produção de capital

Marx em nenhum momento descaracterizou o trabalho nos serviços, pois o

compreendeu como integrante do processo de valorização e não como trabalho produtivo:

“produtor direto de mais valia” (BARBOSA, ALMEIDA & CARDOSO, 1998).

O trabalho realizado na prestação de serviços públicos, na esfera estatal, constitui

trabalho improdutivo, por não estar diretamente subsumido a lógica do capital, pois como

afirma Marx é o trabalho que se troca diretamente por renda (salário e lucro). Já os

trabalhadores inseridos nas empresas estatais privadas, que estabelecem uma relação direta

com o capital “são trabalhadores produtivos, como, por exemplo, é o caso da Petrobrás, no

Brasil” (IAMAMOTO, 2010, p. 87).

No âmbito do trabalho produtivo, a forma que assume o trabalho no processo

cooperativo pressupõe diferentes trabalhadores cooperando na produção de uma mesma

mercadoria, seja numa relação direta ou indireta entre trabalhador e o objeto da produção, mas

que “juntos constituem a maquinaria viva de produção desses produtos...” (IAMAMOTO,

2010, p. 88). São vários trabalhadores, desenvolvendo funções diferenciadas, mas com

objetivo comum: a produção direta do salário e uma mais valia para o capitalista.

Essa análise em torno da categoria trabalho torna-se indispensável para a compreensão

do trabalho do assistente social no processo de reprodução das relações sociais. Sendo o

assistente social um trabalhador assalariado, vendedor de sua força de trabalho especializada

em troca de um equivalente expresso na forma monetária que constitui o preço de sua força de

29

“a distinção entre trabalho produtivo e improdutivo não diz respeito ao conteúdo, ao caráter de trabalho útil ou de seus

produtos, sendo indiferente á sua natureza material ou imaterial” (IAMAMOTO, 2010, p. 87).

Page 80: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

trabalho – o salário. Ao vendê-la aos empregadores, segundo Iamamoto (2010), o seu trabalho

assume uma dupla dimensão: trabalho concreto e abstrato.

Na dimensão do trabalho concreto, a maioria dos intelectuais da categoria considerou

a possibilidade do nosso trabalho atender às necessidades sociais. Enquanto trabalho concreto

significa a garantia de um valor de uso útil, de qualidade determinada, ao ser dirigido à

atenção de necessidades humanas: sociais, materiais ou espirituais.

Segundo Iamamoto (2010), nas relações com os usuários, o nosso trabalho terá um

legado material e intelectual. Material porque constitui resposta às necessidades de

sobrevivência da classe trabalhadora, isto é, ao viabilizar o acesso aos direitos, serviços e

benefícios aos usuários estaremos contribuindo para a reprodução de sua força de trabalho, de

sua subsistência e de sua família. Já no âmbito espiritual, o nosso trabalho assume um caráter

socioeducativo, que se sintoniza às disputas ideológicas e aos consensos e dissensos sociais.

O trabalho na dimensão espiritual seria o trabalho intelectual, com clara dimensão

pedagógica no processo de organização da vida social. Práticas que articulam diferentes

saberes, visando à emancipação ou à subordinação dos sujeitos sociais.

A dimensão política e pedagógica da ação profissional da ação profissional do

assistente social o inscreve no âmbito dos processos de hegemonia, no

estabelecimento de consensos necessários à reprodução do modo de vida próprio à

sociedade do capital, mas a partir de condições objetivas inscritas na dinâmica

institucional sob a forma de serviços sociais (ALMEIDA & ALENCAR, 2011, p.

125).

O caráter social do nosso trabalho, segundo Iamamoto (2010), também assume a

dimensão de trabalho abstrato- trabalho humano social médio, independentemente de suas

especificações qualitativas. Pois enquanto trabalho indiferenciado, que não se distingue por

sua qualidade, mas pela quantidade de trabalho incorporado, é o que determina a fonte de

valor e de mais valia contidos na mercadoria.

O trabalho profissional se constitui como parte do trabalho coletivo produzido pelo

conjunto da sociedade que não só produz serviços que contém valor de uso, mas também

possui “um efeito na produção – ou na redistribuição – do valor e/ou da mais valia e nas

relações de poder político e ideológico” (IAMAMOTO, 2009, p. 181).

Entender que o trabalho do assistente social se submete as mesmas situações comuns a

todos os demais trabalhadores assalariados no processo de produção e distribuição do valor e

da mais valia, não significa afirmar que atuamos na criação direta da mais-valia. Mas não

Page 81: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

podemos desconsiderar que o trabalho do assistente social, enquanto “parte alíquota do

trabalho total socialmente produzido” (IAMAMOTO, 2010, p. 418), pode interferir no

circuito do valor, com implicações na produção e distribuição do valor e da mais valia

(IAMAMOTO, 2010).

O assistente social se insere nas diferentes instituições empregadoras como parte de

um coletivo de trabalhadores que desempenha ações institucionais. A dimensão do trabalho

concreto30

do assistente social se preserva nas diferentes instituições em que o seu trabalho

resulta na produção de serviços que têm valor de uso, porém a dimensão do trabalho abstrato

se diferenciará de acordo com o significado social do seu trabalho, nos diferentes espaços

sócio-ocupacionais.

...na empresa industrial, o assistente social, como parte do trabalhador coletivo,

participa do processo de reprodução da força de trabalho, essencial à reprodução da

riqueza. Na esfera estatal, participa do processo de redistribuição da mais-valia, via

fundo público. Aí seu trabalho se inscreve, também, no campo da defesa e/ou

realização de direitos sociais de cidadania, na gestão da coisa pública

(IAMAMOTO, 2009, p. 181).

No circuito da relação contratual, a venda da força de trabalho por meio de um

equivalente monetário de seu tempo de trabalho socialmente necessário –dinheiro- possibilita

o assistente social, enquanto trabalhador assalariado, entregar ao comprador o valor de uso de

sua força de trabalho, durante um período determinado de tempo. Durante o período em que

se trabalha, o assistente social produz serviços de valor útil, com vistas a atender as

necessidades sociais.

A atividade desenvolvida pelo profissional é socialmente apropriada pelo comprador

de sua força de trabalho e o resultado final de sua intervenção é fruto de um trabalho

combinado ou cooperativo. Pois o seu trabalho privado só assume um caráter social, na

relação com os outros homens, em que ocorre a igualação de seu trabalho a qualquer outro,

que expresse o mesmo “coágulo de tempo de trabalho social médio” (IAMAMOTO, 2010, p.

431).

Nesse sentido, tem-se a dimensão de trabalho humano abstrato, em seus vínculos com

o processo de produção e/ou distribuição da riqueza social31

.

30 As características do trabalho concreto do assistente social são as mesmas nos vários espaços de trabalho, “... traduzidas

nas competências e atribuições profissionais, sujeitas à fiscalização dos Conselhos Profissionais e legalmente resguardadas”

(IAMAMOTO, 2010, p. 425). 31

É preciso compreender o exercício profissional em suas características enquanto trabalho útil - concreto e abstrato. Segundo

Iamamoto (2010) o reconhecimento dessas características, nos possibilita elucidar as relações de trabalho em que se inscreve

o profissional assistente social, seja na dimensão de trabalho produtivo ou improdutivo, “cuja caracterização depende das

relações estabelecidas com específicos sujeitos sociais, na órbita das quais se realiza o trabalho do assistente social”

(IAMAMOTO, 2010, p. 431).

Page 82: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

2.2.1- Tendências atuais para o mercado de trabalho do assistente social frente às

mudanças nas políticas sociais.

Com o cenário de mudanças globais resultante das transformações porque vem

passando o mundo do trabalho, no que se convencionou chamar de reestruturação produtiva,

observam-se evidentes implicações na esfera da produção (por meio da inserção de novas

tecnologias, de novas formas de organização e gestão do trabalho que apontam para a

desregulamentação e flexibilização dos direitos do trabalhador) e na esfera estatal, com

explícitas mudanças no papel do Estado frente à questão social, com a reconfiguração

significativa no campo das políticas sociais, mediante o processo de privatização,

mercantilização e refilantropização (ALMEIDA & ALENCAR, 2011).

As relações sociais e as condições de trabalho do assistente social refletem os

rebatimentos das transformações operadas na esfera produtiva e estatal. Essas características

do mundo do trabalho contemporâneo – polivalência, terceirização, subcontratação, queda

salarial, crescimento de contratos de trabalhos temporários, desemprego – afetam não só

outras profissões, mas também é uma realidade em que se enquadra o Serviço Social, porque

a nossa profissão não está descolada do que acontece no mundo do trabalho (ANTUNES,

1995).

O processo de reforma administrativa, a partir dos anos 1990, incidiu em propostas de

mudanças no papel do Estado, sob o argumento de tornar a administração pública mais

gerencial, flexível, eficiente e mais cidadã, porém, o que se verificou foi a privatização,

terceirização e publicização das políticas sociais. Com reformas econômicas orientadas para o

mercado, há uma gradativa redução da máquina pública na operacionalização dos serviços,

criando possibilidades de parcerias com o setor privado, numa clara tendência de

desestatização dos serviços prestados à coletividade.

Iamamoto (2009) aponta a ampla investida ideológica por parte do capital e do Estado

para o cooptação dos trabalhadores, onde se tem uma “assistencialização da pobreza contra o

direito ao trabalho” (IAMAMOTO, 2009, p. 26), isto é, a pobreza passa a ser tratada a partir

de programas sociais, que são focalizados, fragmentados, e que não se configuram para a

construção da cidadania, na órbita dos direitos sociais.

Essas políticas sociais que entram em cena no contexto neoliberal, assumem

características imediatas, paliativas, focalizadas e emergenciais. O verdadeiro desmonte da

Page 83: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

seguridade social evidente na precariedade da saúde, com o parco investimento social e o

crescimento precarizado do sistema e de sua rede de atenção.

Sem falar da política da assistência social, pois mesmo atendendo as necessidades

concretas de uma população pauperizada, esta acaba por comprometer o caráter universal da

política pública, na medida em que destina-se para a população mais pauperizada, isto é, para

os que dela mais necessitar, e essa focalização torna-se ainda mais contundente na medida em

que os critérios de elegibilidade são determinados por quem mais precisa dos serviços e não

por quem demanda dos mesmos. (YASBEK, 2009).

Em relação ao Serviço Social, que enquanto profissão determinada socialmente,

inscrita na divisão social e técnica do trabalho, também vem sofrendo os impactos da crise

estrutural capitalista. Se a política social, que nos termos de Montaño, é a “base de

sustentação funcional ocupacional do assistente social” (MONTAÑO, 2007, p. 244) ou ainda,

o terreno/meio de atuação que define a nossa condição de profissional assalariado, isso

significa que, não estamos neutros e nem descolados desse contexto de retração e regressão

dos direitos. (IAMAMOTO, 2007).

É o que evidencia a pesquisa desenvolvida pelo CFESS/UFAL sobre o mercado de

trabalho do assistente social que revela, através de dados, uma inserção na esfera pública

correspondente a 78,16% desses profissionais. A pesquisa revela, entretanto, que nem todos

os assistentes sociais que atuam em instituições de natureza pública estatal mantêm vínculos

estáveis. Em relação ao tipo de vínculo empregatício, observa-se que 55,58% possuem

vínculo como estatutário, já em relação a outros vínculos empregatícios não estáveis,

verificou-se que 27,24% são celetistas, 9,1% são contrato temporário e 5,84% serviços

prestados. Com as mudanças na administração pública, as formas de organização e gestão do

trabalho também são alteradas sob novos dispositivos legais e jurídicos.

Na esfera estatal, a forma de inserção do assistente social mediante a realização de

concursos públicos, vem sendo modificada pelo aumento das contratações temporárias e da

terceirização das atividades profissionais via cooperativas, fundações, entidades filantrópicas

e organizações não governamentais, que corroboram a grande tendência de precariedade das

relações e condições de trabalho, e ainda, as contradições e tensões no campo das políticas

públicas, do ponto de vista de suas racionalidades32

.

32 Com a adoção de processos de planejamento e ações intersetoriais no âmbito das políticas públicas, com a participação do

poder público e da sociedade civil; as fontes de financiamento; a garantia do controle social como forma de garantia do co-

Page 84: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

O trabalho do assistente social insere-se, prioritariamente, nos serviços sociais

voltados para as demandas coletivas de reprodução social. Pois o Estado como maior

empregador da categoria, vem fomentando alterações no mercado de trabalho dos assistentes

sociais de diferentes formas.

... Se por um lado, o impacto dos processos sociais reorganiza e refuncionaliza os

espaços históricos, por outro lado, passa a dar maior visibilidade a outros e inaugura

requisições e demandas no marco das novas expressões da questão social e do

conjunto de respostas articulado pelo capital e Estado. E, ao mesmo tempo, novas

habilidades, competências e atribuições para o profissional (ALMEIDA &

ALENCAR, 2011, p. 104).

O assistente social, quando se insere na esfera estatal, muitas vezes representa as

funções política, ideológica e econômica do Estado em relação aos processos de distribuição

do valor materializado na forma de serviços sociais, porém, muitas vezes, o profissional

termina por assumir o papel deste Estado33

, no sentido de garantir o acesso aos direitos,

porém assumindo o papel seletivo, focalizado, seguindo a risca a condicionalidade dos

programas, dos benefícios e serviços.

Porque no enfrentamento das novas configurações e manifestações da questão social,

que vem refletido no desmonte dos direitos, o profissional depara-se com o apelo a

“assistencialização” das políticas sociais por meio de ações focalizadas e que se apresentam

como “alternativa” paleativa, como políticas minimalistas que só têm impactos no imediato,

operantes enquanto porta de entrada, mas sem subsídio para a garantia de uma porta de saída.

E o pior é a convocação de profissionais para serem gestores da pobreza, meros despachantes

de usuários, que vêm com o discurso plagiado dos conceitos liberais (como: vulnerabilidade

social, Vigilância social...), reproduzido no cotidiano institucional sem nenhuma clareza dos

seus significados, num processo de “refilantropização do Social34

”.

O projeto neoliberal, em busca desenfreada pela despolitização da “questão social”,

atribui à esfera privada dos indivíduos e famílias, aquilo que compete ou pertence à esfera

pública. (YASBEK, 2009).

financiamento, a valorização do poder local, enquanto estratégia da descentralização do poder administrativo, entre outros

(ALMEIDA & ALENCAR, 2011). 33 “As condições de realização do trabalho do assistente social nesse âmbito dependem sobremaneira do perfil assumido pelo

Estado, em relação às políticas públicas, do alargamento e amplitude dos direitos sociais, dos vetores e do alcance da

intervenção política resultante das disputas das instituições que conformam a sociedade civil, da contribuição e distribuição

do fundo e da capacidade tecnológica e resolutiva das políticas públicas. A combinação destes diferentes fatores é

determinante para a definição das formas de ingresso, contratação, treinamento, capacitação continuada e disposição

organizacional desta força de trabalho” (ALMEIDA & ALENCAR, 2011, p. 146). 34 Segundo Yazbek (2009) no contexto do Estado neoliberal, o atendimento às necessidades sociais passa a ser transferida ao

mercado e à filantropia. Pois as múltiplas manifestações da questão social tornam-se objetos de ações filantrópicas e de

benemerências à “boa vontade” de indivíduos isolados e do mercado. O que Yazbek (2009) chama de “refilantropização do

social”.

Page 85: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

O ideário neoliberal, na área social, prega a solidariedade e voluntariado da sociedade

civil, fazendo apelo à filantropia, contribuindo assim no crescimento do terceiro setor e dos

programas seletivos e focalizados de combate à pobreza no âmbito do Estado. Essas

mudanças na conjuntura trazem para a profissão novas expressões da questão social, que nos

permitem uma análise crítica da realidade social para além de sua aparência, mas buscando a

compreensão de sua essência.

Desvelar a realidade no cotidiano profissional, pressupõe compreender, criticamente, a

maneira como as demandas sociais são atendidas: sempre correspondentes com a

disponibilidade de recursos, porém, sem muitas vezes coincidirem com as reais necessidades

e perfil da população usuária.

Devemos fazer uma sistematização da atuação do assistente social nas diferentes

instituições públicas estatais, e assim refletirmos a forma como os processos de trabalho

coletivos estão sendo organizados e como os serviços estão sendo potencializados: a partir de

que leitura da realidade: a do usuário ou da instituição?

Daí a grande rejeição pela sociedade ao velho provérbio chinês, que condena o ato de

dar o peixe ao pobre, em vez de dar-lhe a condição de pescar. Por outro lado, não podemos

negar que nem sempre “ensinar a pessoa a pescar”, é o caminho mais eficaz do que “dar o

peixe”. Porque, como “ensinar alguém a pescar” sem rios? E não basta verificarmos se existe

rio ou não, é preciso também saber se o rio em que buscamos existem peixes! “Ou ainda se é

rio para peixe, então para qual peixe serve? Ou se no final é ‘pague e pesque‘ ou ´pesque e

leve?”. Nesse sentido, contrariando o popular provérbio chinês, acreditamos não em uma

alternativa que automaticamente exclui a outra, mas que sejam complementares, porque na

ausência de condições básicas deve-se dar o peixe e a condição de como pescar.

Percebe-se que as medidas políticas se apresentam como “alternativa” paleativa e não

solução. Como, por exemplo, para o trabalhador o direito é substituído por políticas de

beneficiamento que colaboram com o aumento contínuo da precariedade das relações de

trabalho; esvazia o movimento social da luta dos trabalhadores por trabalho, por melhores

condições trabalhistas.

Neste contexto de reestruturação produtiva e de adoção do ideário neoliberal, em que

se tem um Estado mínimo que reduz os gastos sociais e retrai suas funções no que diz respeito

a sua responsabilidade em relação às políticas sociais universais, por meio de um retrocesso

na consolidação e expansão dos direitos conquistados pela Constituição de 1988, vamos ter

Page 86: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

como consequência o agravamento da questão social, com suas múltiplas expressões, que

exigirá do Estado respostas ou intervenções diretas e imediatas. (BEHRING, 2009).

Portanto, o grande desafio que se coloca ao trabalho do assistente social, refere-se ao

enfrentamento da questão social. Em uma arena de disputas entre projetos societários, as

estratégias para fazer frente à questão social têm sido tensionadas por projetos sociais

distintos, que convivem em luta no seu interior. Vive-se uma tensão entre a defesa dos

direitos sociais, a privatização e a mercantilização do atendimento às necessidades sociais,

com claras implicações nas condições e relações de trabalho do assistente social.

(IAMAMOTO, 2007).

Diante disso nós, assistentes sociais, somos requisitados pelo Estado, enquanto

profissionais habilitados, a intervir na realidade social através das políticas sociais. Na

maioria das vezes somos convocados a atuar com uma classe social, determinada pelas

expressões da questão social, que veem nas políticas sociais, em seus programas e serviços,

respostas às suas necessidades imediato-emergentes.

Nesse sentido Netto (1992, p. 74) ao conceituar de “prática indiferenciada” a

intervenção “imediatista”, “descontínua”, “burocrática” e até “tarefeira” desenvolvida pelo

assistente social – que ninguém sabe muito bem o que é e o que faz- o autor menciona sobre

investimento dos assistentes sociais para o atendimento de demandas imediatas que exigem

respostas também imediatas, no âmbito insuprimível do cotidiano. Precisamos romper com a

lógica do “imediatismo simplista”, do apenas “executa” sob uma lógica de atendimento

quantitativo sem comprometimento com a qualidade. Como afirma Iamamoto (2007, p. 49),

o Serviço Social contemporâneo exige “(...) um profissional qualificado, que reforce e amplie

a sua competência crítica; não só no executivo, mas que pensa, analisa, pesquisa e decifra a

realidade (...)”.

Com a ênfase na municipalização das políticas sociais públicas, a partir do processo de

descentralização, o assistente social vem sendo requisitado para assumir novas funções e

competência, tanto na esfera de execução, quanto de formulação, avaliação, planejamento e

gestão de políticas. Essas mudanças evidenciam a reestruturação dos processos de trabalho,

com ampliação de espaço ocupacional para intervenção do assistente social, ao mesmo tempo

exigindo qualificação e domínio de conhecimentos para o desempenho de diferenciadas

atividades, que não são por ele reconhecidas como atribuições privativas da profissão, tais

como estabelecidas tradicionalmente.

Page 87: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

2.3- Estratégias para consolidação do projeto profissional no contexto da precarização

nas condições e relações de trabalho e radicalização da alienação.

Lembremos que a alienação do trabalho, leva ao homem a perda de sua essência35

,

pois sob o regime da propriedade privada, o homem através do trabalho torna-se criador de

um mundo de objetos que vão se tornando estranhos para ele. O trabalhador não trabalha pelo

prazer de trabalhar, não trabalha com objetivo de exprimir sua essência humana, mas para

obter um salário que lhe permitirá o consumo de um mínimo de mercadorias necessárias para

a sua sobrevivência.

O regime econômico capitalista possui como característica maior a propriedade

privada. Esta, por sua vez, funda o trabalho alienado, que encontra- se na raiz de todas as

alienações. A propriedade privada permite a relação de exterioridade do trabalhador com o

produto de seu trabalho e consigo mesmo.

Marx (1978, p.8-9) afirma que “a propriedade privada material, imediatamente

sensível, é a expressão material e imediata da vida humana alienada (...)”. Ainda sobre

alienação, Marx disserta:

A alienação exprime-se (...) em modo tal que quanto mais o operário produz tanto

menos tem para consumir, em que quanto mais valores ele cria tanto mais

desvalorizado e indigno se torna, em que quanto mais formado o seu produto mais

deformando o operário, em que quanto mais civilizado o seu objeto tanto mais

bárbaro o operário, que quanto mais poderoso o trabalho tanto mais impotente o

operário, em que quanto mais sem espírito o trabalho tanto mais sem espírito e servo

da natureza se torna o operário. (MARX, 1993, p.64)

O capitalismo oculta o estranhamento na essência do trabalho porque quanto mais o

trabalhador produz, menos pertence a si próprio e menos tem para consumir. O trabalho

produz riquezas para os proprietários, mas produz privação para os trabalhadores. Produz um

mundo alheio, em que o homem se exterioriza, pois não pertence a si mesmo, mas a um outro.

Logo, é a perda de si mesmo, um estranhamento do ser genérico, que permite ao homem

realizar a sua atividade vital, da sua essência, apenas enquanto um meio para sua existência.

Com a sociedade do capital, emerge um trabalho de novo tipo, o trabalho assalariado

ou trabalho estranhado. Pois com a propriedade privada/divisão hierárquica do trabalho, o

trabalhador tende a perder o controle dos meios de produção e do produto do seu trabalho.

35

A essência humana é vista enquanto trabalho humano consciente (MARX, 1844), pois na sociabilidade do capital, essa

essência do ser social aparece subsumida na vida cotidiana. A dinâmica da sociedade exige dos homens apenas respostas

funcionais, que não demandam conhecimento de sua interioridade. Assim, o homem torna-se meramente mecânico- repetidor

de atos; distanciando-se de sua capacidade de se auto-legislar, de reproduzir-se e de ter vida própria.

Page 88: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Na forma histórica de trabalho capitalista, ou o regime salarial, o processo de trabalho

torna-se um processo de valorização e de estranhamento/alienação social. Pois se evidencia a

separação entre as condições subjetivas e as condições objetivas do processo de trabalho. De

um lado, o sujeito que trabalha, e de outro, os meios de produção.

O trabalhador assalariado se submete a alienação das condições objetivas do trabalho

social, na medida em que perde, automaticamente, o controle sobre a produção de sua vida

material.

Tomamos como referência essa análise sobre a alienação do trabalho para a

compreensão do trabalho do assistente social e as possibilidades e limites de efetivação do

projeto profissional do Serviço Social frente às condições de assalariamento de seus

profissionais.

O trabalho do assistente social, enquanto especialidade laboral inscrita na divisão

social e técnica, assume a forma assalariada no enfrentamento da questão social, emerge da

diferenciação e conflito das classes no âmbito da sociabilidade do capital, na sua fase

monopolista.

No momento em que a classe trabalhadora se insere no cenário político, reivindicando

os seus direitos e seu reconhecimento enquanto classe, o Estado, no contexto do capitalismo

na sua idade monopolista, tomará para si as respostas à questão social por meio de políticas

sociais, o que permitirá a esse Estado nesse novo estágio da ordem socioeconômica, a

requisitar agentes técnicos em dois planos: o da formulação e o da implementação das

políticas sociais. Esse processo estimulará a criação de diversas e novas profissões

“especializadas”, dentre as quais aparece o Serviço Social para ocupar uma posição

subordinada na divisão social e técnica do trabalho (NETTO, 2009).

O Serviço Social se institucionaliza e se legitima enquanto profissão requisitada pelo

Estado e pelo empresariado, com o suporte da igreja católica36

, na perspectiva do

enfrentamento e regulação da questão social por meio de políticas sociais.

36 No processo de surgimento da profissão, a igreja católica foi a responsável pelo processo de conteúdo na formação dos

primeiros assistentes sociais brasileiros. O ideário da igreja católica na gênese da profissão permitirá a formação de um

caráter doutrinário, de apostolado, cuja intervenção priorizará o atendimento das necessidades materiais, sociais e morais da

família e do indivíduo. O assistente social atuará orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador (de

acordo com o ideário franco-bélga de ação social e com o pensamento de São Tomás de Aquino: o tomismo e o

neotomismo), visando o resgate de valores e comportamentos dos indivíduos, na perspectiva de sua integração á sociedade. A

igreja atuará na formação dos primeiros assistentes sociais, contrária aos ideários liberal e marxista, mas buscando a

recuperação da hegemonia de seu pensamento social face à questão social.

Page 89: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

O Estado se constitui como principal órgão empregador e legitimador do Serviço

Social e as políticas sociais como base de inserção prático-profissional do assistente social.

Logo a legitimidade da profissão se dá pelo papel que o profissional assistente social cumpre

na ordem burguesa, através de sua intervenção no âmbito do Estado, como “executor terminal

de políticas sociais” (NETTO, 1992).

Com a necessidade de dar respostas às demandas sociais e a partir da existência de

instituições e organizações com interesse e capacidade de requisitar tais profissionais para tais

respostas, é que o Serviço Social vai se legitimando. Nesse sentido é que compreendemos as

políticas sociais não apenas como campo privilegiado de intervenção do assistente social, mas

também como fundamento da gênese da profissão.

As políticas sociais não são desenvolvidas a partir da perspectiva de totalidade da

sociedade, porque a sociedade é compreendida a partir de recortes e fragmentos da realidade,

e com isso as políticas sociais, distantes da universalidade, vão se constituindo com uma

direção compensatória, seletiva e focalizadora nos mais pobres dos pobres, por meio de

respostas pontuais.

Por outro lado, tanto na esfera pública estatal como no setor privado, a profissão vem

enfrentando as novas manifestações e expressões da questão social, entre as quais, destacam-

se a desregulamentação dos mercados de trabalho, a insegurança e vulnerabilidade do trabalho

e a penalização dos trabalhadores, o desemprego, o achatamento salarial, dentre outras.

A reestruturação produtiva, que atinge o mundo do trabalho37

organizado na

atualidade, vem atingindo os empreendimentos capitalistas, seja na área da indústria, seja na

área de serviços (inclusive na administração pública). Há no plano da subjetividade da

produção capitalista, um novo regime de acumulação centrado no principio da flexibilidade

das relações de trabalho.

No âmbito da indústria, a reestruturação produtiva possibilitou o crescimento da

produtividade do trabalho, intermediada pelo uso de novas tecnologias, e o aumento das taxas

de lucratividade. Com as novas formas de escoamento da produção ocorre uma redivisão dos

mercados consumidores. É exigido na área da indústria um conjunto de reformas

institucionais e a implementação de mecanismos estratégicos para adesão e consentimento

37A Classe trabalhadora vem sofrendo a mais aguda crise do século, na sua materialidade, na sua subjetividade e na sua forma

de ser, pois os principais impactos que o mundo do trabalho vem sofrendo, no marco da reestruturação produtiva e da

mundialização do capital, decorrem da precarização do trabalho (HARVEY, 2011).

Page 90: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

dos trabalhadores às mudanças requeridas pelo capital. Pois a produção flexível necessita do

apoio estatal para a garantia da liberdade do mercado e do controle sobre o trabalho.

A partir da década de 1990, o impulso ideológico do toyotismo38

no bojo do complexo

do ajuste neoliberal propiciado pelos governos Collor e Cardoso, possibilitou a intensificação

da concorrência, do ritmo e da nova repetitividade do trabalho; o desemprego em massa; a

abertura de capital, a privatização de empresas estatais; a terceirização; a demissão de

trabalhadores; adoção da nova forma de exploração da força de trabalho e de organização da

produção capitalista no Brasil, com uma nova dinâmica estrutural do mercado de trabalho que

coloca obstáculos à organização sindical e política ao trabalhador assalariado (ANTUNES,

1995).

O advento do toyotismo, segundo Antunes (1995), causou um grande impacto no

mundo do trabalho, pois com a necessidade de a empresa responder à crise financeira, a saída

encontrada foi o aumento da produção sem aumentar o número de trabalhadores.

Outro traço significativo do toyotismo foi a necessidade de atender a um mercado

interno que solicitasse produtos diferenciados a pedidos pequenos, isto é, estoque mínimo;

melhor aproveitamento possível do tempo de produção; trabalhador operando com várias

máquinas; polivalência do trabalhador; horizontalização na produção; flexibilização,

terceirização; diminuição dos salários; desorganização dos sindicatos e pauperização da classe

trabalhadora.

Este atual processo de recomposição do capital não favorece a classe trabalhadora,

pelo contrário, precariza ainda mais o trabalho, por adotarem práticas como: a subcontratação

e a terceirização, que atingem e impulsionam as transformações no “mundo do trabalho”

(ANTUNES, 2004).

Com um novo regime de acumulação flexível, cujo “momento predominante” é o

toyotismo, instaura-se a racionalização do trabalho, com a emergência de novas tecnologias

de base microeletrônica que vem exigindo uma nova forma de gestão da força de trabalho.

Ocorre nesse processo a formação de dois grandes grupos de trabalhadores: os empregados

38O toyotismo teve a sua gênese histórica no Japão, nos anos 1950, é a partir da mundialização do capital, isto é, no decorrer

da década de 1980, que o toyotismo adquiriu dimensão universal. Pois implica a constituição de um empreendimento

capitalista baseado na produção fluida com adoção de dispositivos organizacionais da força de trabalho com envolvimento

pró-ativo do operário ou empregado (Just-in-time/ kan-ban ou o kaizen), produção difusa que pressupõe a adoção ampliada

da terceirização e das redes de subcontratação e produção flexível que é aquela que sustenta a idéia da contratação salarial, do

perfil profissional ou das novas máquinas de base microeletrônica e informacional. Sendo assim, o toyotismo significou a

emergência de novas tecnologias microeletrônicas na produção (o que exige um novo tipo de envolvimento operário, e,

portanto, uma nova subordinação formal-intelectual do trabalho ao capital) (HARVEY, 1989).

Page 91: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

estáveis do grande capital e os trabalhadores excluídos do emprego formal, que são

submetidos ao trabalho desprotegido (HARVEY, 1989).

No Brasil as consequências destas práticas são mais avassaladoras, pois o país vive

num contexto de exclusão social; de atraso na construção de uma cultura política com fortes

representações sindicais e de organização partidária; têm sua soberania limitada pelo avanço e

o atraso, pela dependência e subordinação econômica às nações centrais.

Com a ascensão neoliberal, o governo brasileiro abre a economia do país e começa a

aplicar o processo de privatizações, seguindo a política do Consenso de Washington. Com

isso, as indústrias nacionais se veem obrigadas a se adequarem a esta nova lógica, para

poderem competir no mercado e evitarem a falência. Em virtude disto, O governo Cardoso,

impulsiona os investimentos produtivos em capital fixo, acelerando-se assim, a automação

microeletrônica na produção39

, o que propiciou a implantação de modelos flexíveis, como o

toyotismo.

No âmbito dos serviços, que integram o efeito útil de um valor de uso voltado para a

reprodução material da força de trabalho através de políticas sociais públicas e privadas,

também ocorre o incremento de tecnologias de gerenciamento que imprimem maior

produtividade, seguida pela lógica da diminuição dos custos. Pois o setor de serviços tende a

estar impregnado pela mesma lógica racionalizadora do trabalho na indústria. A

racionalização do trabalho, nos serviços, vem seguida pela lógica da produtividade, da

diminuição dos custos, da terceirização e precarização do trabalho, que aponta para um

sistema de contratação via cooperativas e modalidades variadas de contratos temporários, sem

quaisquer garantias legais (BARBOSA, CARDOSO & ALMEIDA, 1998).

Como afirma Costa (2010), os serviços, na atualidade, ao repercutir na estrutura

produtiva, também são funcionais ao processo de acumulação do capitalismo. Pois nunca

esteve descolado, mesmo que de forma residual, do processo de circulação e valorização das

mercadorias40

, como é o caso do comércio dentre outros.

39A acumulação flexível ou toyotismo pressupõe uma flexibilidade do mercado de trabalho, seguido da desregulamentação

dos direitos do trabalho, de mecanismo para contratação de trabalhadores de forma informal, assim como flexibilidade dos

produtos e dos padrões de consumo. O modelo de produção Toyotista também está atrelado à tecnologia de base

microeletrônica, a informática e a robótica e gera o desenvolvimento de regiões de forma desigual. A revolução tecnológica

implica uma extraordinária economia do “trabalho vivo”, reestruturando radicalmente o mercado de trabalho, seja alterando a

relação entre excluídos/incluídos, seja introduzindo novas modalidades de contratação (mais “flexíveis”, do tipo “emprego

precário”), seja criando novas estratificações e novas discriminações entre os que trabalham (cortes de sexo, idade, cor, etnia)

(ANTUNES, 1995).

40 “A rigor, a esfera dos serviços passa a se constituir em uma fronteira móvel, passível de redefinições em função das

necessidades do processo de acumulação, que modificam as relações entre os diversos capitais, entre as esferas da produção,

Page 92: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

A expansão dos serviços, segundo Costa (2010) representa a expansão das atividades

necessárias à reprodução da força de trabalho e à continuidade do processo de acumulação e

valorização do capital.

Com a mudança do papel do Estado na redução de produção de bens de consumo

coletivo, no âmbito dos serviços de educação, saúde e assistência indispensáveis à reprodução

da força de trabalho, abriu precedentes para a transformação desses serviços enquanto espaços

de valorização do capital, por meio da privatização e da terceirização.

Costa (2010) sinaliza a grande tendência de expansão dos serviços considerados como

de consumo coletivo para os trabalhadores (serviço de saúde, educação, previdência e

assistência social) na atualidade, que vem sendo cada vez mais incorporado ao processo de

mercantilização no modo de produção capitalista, por meio de um processo de privatização,

terceirização e publicização das políticas sociais. Isto é, as necessidades de consumo vão se

constituindo enquanto um grande pressuposto de expansão do processo de acumulação.

Temos como exemplo a expansão dos sistemas privados de educação, de seguros de saúde e

previdência, que expressam a substituição do valor de uso dos serviços que deveriam atender

as necessidades de reprodução da vida do trabalhador e de sua família, mas que passam a se

constituir enquanto expressão dos interesses da iniciativa privada, com vista à lucratividade

do capital.

Para Borges (2013) a compreensão da ocupação e do emprego nos serviços sociais

precisa levar em consideração a análise sobre as repercussões das transformações do papel do

Estado frente à gestão das políticas sociais e as novas condições e relações de trabalho. Pois

com o modelo neoliberal, o Estado busca aperfeiçoar as condições de rentabilidade do capital,

minimizando sua atenção às demandas sociais.

Por outro lado, a expansão dos serviços, segundo Costa (2010), representa a dinâmica

da atual recomposição do capital, que além de influenciar todos os setores da vida social,

imprime novas característica ao trabalho, sob uma diferenciação entre assalariados da

produção e assalariados dos serviços, mas que ao enfrentarem um substrato comum, que é a

precarização, desqualificação e sub-remuneração no âmbito do trabalho, constituem uma

coletividade de trabalhadores alienados, subordinados ao regime econômico capitalista.

distribuição e circulação e os requerimentos e mecanismos necessários à reprodução da força de trabalho” (COSTA, 2010, p. 98).

Page 93: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

A incorporação da força de trabalho, na esfera dos serviços, vem acontecendo de

forma diversificada, com nova configuração do mercado de trabalho, no tocante à

organização, e às formas de regulamentação, possibilitando mudanças nos padrões de

contratação dos trabalhadores - transformação de assalariados em prestadores de serviços,

contratação de cooperativas de trabalhos; imposições de tecnologia controladora e poupadora

de mão-de-obra, inserção de critérios de rotinização e ainda a exigência de novas tarefas e

especialidades (BARBOSA, CARDOSO & ALMEIDA, 1998).

Borges (2013) assevera que os mercados de trabalho da era da acumulação flexível

sofreram os impactos da reestruturação produtiva e da desregulamentação neoliberal, com

expressões na queda absoluta e relativa do emprego formal estável, com carteira assinada- e o

aumento do emprego instável, precário e mal remunerado e do trabalho por conta própria. Isso

sem mencionar o enxugamento, a contenção dos salários e a flexibilização das formas de

contratação de trabalhadores no setor público de educação, saúde e assistência.

A autora sinaliza que a reestruturação produtiva e a reforma do Estado impactaram os

Serviços Sociais de tal forma, que resultou na expansão do setor privado, através de

privatizações e reforma administrativa, que extinguiu inúmeros postos de trabalho em

benefício do mercado, cujo objetivo apontava para a redução de custos e elevação dos ganhos

de produtividade.

Borges (2013), então, ressalta que o Estado brasileiro, nas três esferas de governo tem

sido o principal indutor do processo de precarização do trabalho, no âmbito dos serviços de

educação, saúde e assistência. Diretamente, o Estado interfere na política de recursos

humanos, quando este é o principal empregador, ou ainda indiretamente por meio da

“terceirização, da compra de serviços ou de subsídios e isenções fiscais”, quando financiador

das políticas sociais executadas tanto pelo setor privado, quanto por organizações sem fim

lucrativo.

O assistente social, ao vender a sua força de trabalho enquanto meio de garantia de sua

subsistência, assim como qualquer trabalhador submetido ao regime econômico capitalista,

este também fica alienado do “controle sobre os meios de produção do seu trabalho,

submetendo-se às normas regulatórias e hierarquias administrativas que organizam os

serviços” (BARBOSA, CARDOSO & ALMEIDA, 1998, p. 118).

É no setor de serviços, principalmente aqueles serviços sociais voltados para as

demandas coletivas de reprodução social, que o assistente social se insere prioritariamente. E

Page 94: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

como trabalhador assalariado, o assistente social se submete aos mesmos constrangimentos

inerentes ao conjunto da classe trabalhadora inserido no setor dos serviços.

No campo da saúde, Costa (2009) apresenta as particularidades do trabalho do

assistente social nos serviços públicos de saúde, em Natal, mostrando que a imprecisão da

profissão por parte de muitos assistentes sociais neste campo, perpassa pela desconsideração

de que o trabalho do assistente social, como tantas profissões, sofre as mesmas determinações

sociais do conjunto da classe trabalhadora na sociedade capitalista.

Acrescenta a autora citada: o “trabalho do assistente social” é atravessado pelos

constrangimentos do “trabalho assalariado”, do “controle da força de trabalho” e da

“subordinação do conteúdo do trabalho aos objetivos e necessidade das entidades

empregadoras” (COSTA, 2009, p.306).

Costa (2009) ressalta a incorporação do trabalho do assistente social na dinâmica do

processo de cooperação, isto é, enquanto parte do trabalho coletivo nos serviços de saúde, a

fim de mostrar que a organização e o funcionamento dos serviços públicos de saúde

pressupõem especialização, saberes e habilidades consubstanciadas na rede de atividades e

hierarquias. Porém a autora, mesmo considerando as características gerais do processo de

trabalho, sob o capital, desenvolvido nos serviços de saúde, não deixa de destacar algumas

singularidades da particularidade do trabalho na área dos serviços.

Nos serviço de saúde, segundo Costa (2009), a força de trabalho possui um efeito útil

particular, porque se destina ao consumo dos serviços ou mercadorias (medicamentos e

equipamentos) pelo usuário. Ainda torna-se objeto de mercantilização, mesmo que o trabalho

não seja consumido com a finalidade de gerar mais valia, pois as relações mercantis são

estabelecidas na forma de consumo por parte dos usuários dos serviços e também no

“assalariamento dos trabalhadores do setor”.

Nos serviços de saúde, evidencia-se uma relação direta entre produção e consumo;

entre trabalhador e usuário dos serviços, pois este último não é apenas consumidor, mas co-

participante do processo de trabalho. Ainda, assistimos nos serviços de saúde a dificuldade de

precisão dos resultados, por não se tratar de uma intervenção sobre coisas. Conforme sinaliza

Costa (2009):

A produção e o consumo dos serviços de saúde ocorrem através de momentos

instituintes, de forma parcial, dependendo da demanda, do nível de resolutividade

das subunidades e níveis de complexidades dos serviços, dos recursos humanos,

financeiros e das condições socioeconômicas, epidemiológicas e biopsicossociais da

população usuária; os resultados do processo de produção e consumo dos serviços

Page 95: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

são sempre parciais e envolvem uma relação de concomitância entre produção e

consumo (Idem, 2009, p. 310).

No que se refere à inserção do assistente social no campo da saúde, identifica-se o

aumento de sua contratação nos níveis de atenção média e alta complexidade do SUS, como:

hospitais e/ou maternidades, ambulatórios, clínicas especializadas, Unidades de Pronto

Atendimento (UPA´s) ou no interior de secretarias de saúde, unidades de saúde mental.

Nesses serviços, o assistente social vem sofrendo os impactos diretos da flexibilização nas

relações de trabalho sob a formatação da terceirização41

, com as privatizações dos serviços

públicos e os ataques à Seguridade Social pública.

Dahmer (2004) ao apresentar o processo de flexibilização das relações de trabalho na

área de saúde pública na década de 1990, reiterou sua análise crítica sobre o processo de

reforma informal42

do Estado nas políticas públicas e suas inflexões com a desqualificação do

atendimento ao público, com a gestão da força de trabalho em saúde através da estratégia de

terceirização, acompanhada da perda de direitos trabalhistas, sociais e previdenciários dos

trabalhadores e de sua desarticulação política.

A precarização das relações de trabalho, na saúde, é evidenciado pelas inúmeras

formas de contratação, seja pela via da terceirização, que segundo Dahmer (2004) reflete

a‘cooperativização’ do trabalho ou o contrato individual por tempo determinado sem

nenhuma estabilidade e/ou proteção social. A autora sinaliza que a estratégia da terceirização

proporcionará uma maior flexibilidade para o processo administrativo, com a diminuição de

custos para os cofres públicos.

41 “O contrato de serviços [...] é sempre sinônimo de terceirização [...] há um tipo de relação contratual que tem uma longa

tradição no sistema público de saúde no Brasil e que é feito com a iniciativa privada [...] caracterizado pelo fato de o

contratado privado entrar na relação utilizando a totalidade dos seus recursos físicos e humanos para prestar os serviços à

clientela vinculada ao contratante público [terceirização externa]. O que há de novo na reforma informal [...] é que o

contratante cede ao contratado [...] uma parte de seus próprios recursos (materiais e humanos) para prestar o serviço

requerido, originando uma semiprivatização [uma terceirização interna]. Na medida em que esses arranjos ocorrem como

resultados de negociações internas à orga- nização [...], a legalidade e a impessoalidade do processo licitatório são bastante

contestáveis” (NOGUEIRA, 1999b, p. 73-74 apud DAHMER, 2004, p. 367).

42Dahmer utiliza a definição de Nogueira (1999) para conceituar a reforma informal, enquanto parte da mesma lógica

neoliberal,da chamada reforma oficial e expressa uma forma de implementação de concepções liberais, por meio das

terceirizações nos serviços públicos, que se configuram nos contratos de trabalho por tempo determinado, a precarização do

trabalho com salários baixos, redução dos níveis de proteção social do trabalho, ausência de benefícios ou salários indiretos, a

fragmentação e desmobilização dos trabalhadores. A reforma informal seria a “terceirização de serviços finais através de

empresas privadas, de cooperativas de funcionários, cooperativas de agentes comunitários etc.; “Triangulação” através de

fundações de apoio, ONGs vinculadas ao Estado e outras entidades; Criação de entidades privadas não-lucrativas para gestão

de consórcios municipais; Uso indiscriminado de contratos temporários, cargos comissionados, “código 7” e artifícios

similares; Contratação de pessoal permanente mediante mecanismos precários, tais como bolsas de trabalho, pro-labore etc.”

DAHMER, 2004, p. 366)

Page 96: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Nesse sentido, constata-se que a estratégia neoliberal de desmonte das políticas

sociais, transita pelo crescimento precarizado da rede de serviços, e ainda pela fragmentação

dos trabalhadores, via terceirização – com precárias condições de trabalho, e com dificuldades

concretas em garantir sua organização política unificada e a valorização de sua intervenção.

Em relação às mudanças no mercado de trabalho dos assistentes sociais, Serra (2001)

apresenta a sua pesquisa sobre as condições precárias de inserção sócio-ocupacional desses

profissionais no setor público do Estado do Rio de Janeiro, cujas características apontam para

a presença significativa de vínculos de trabalho não estáveis, principalmente na esfera

municipal; a rotatividade dos profissionais no mercado de trabalho; a tendência da

terceirização de pessoal pela via da contratação de cooperativas, fundações, entidades

filantrópicas e organizações não governamentais, paralelamente a perda dos direitos

trabalhistas e sociais.

Em relação à política de assistência social, percebe-se a frágil capacidade institucional

e financeira dessa política, no tocante às fortes debilidades referentes à infraestrutura e à

constituição do quadro de recursos humanos43

. É evidente a dificuldade encontrada por

muitos municípios na potencialização dos diferentes serviços de proteção social básica e/ou

especial, pois a operacionalização do SUAS vem esbarrando nas debilidades referentes à

estrutura e infraestrutura dos CRAS`s e CREAS`s e da constituição do quadro de recursos

humanos (MONNERAT & SOUZA, 2011, p. 46).

Com a ausência de um corpo técnico concursado, torna-se possível a fragmentação dos

trabalhadores, sob a formatação dos contratos temporários e dos contratos comissionados44

, o

que dificulta a continuidade das experiências de implementação de programas e ações no

campo da assistência social, e ainda dificulta “a sedimentação de uma memória técnica

setorial, além dos problemas relativos à interveniência do clientelismo” (MONNERAT &

SOUZA, 2011, p. 46).

Nas condições e relações atuais do exercício profissional, na área dos serviços,

assistimos a persistência da lógica mercadológica que vem redimensionando as políticas

sociais sob a lógica da racionalidade orientada para valorização do capital, com concepções

de eficácia, eficiência, produtividade e competência. Há uma interferência da lógica do capital

no conteúdo e resultado do trabalho do assistente social, que se limita, muitas vezes, ao mero

43 A designação de Recursos humanos, no presente trabalho, é utilizada para caracterizar o pessoal da política; os agentes, os

trabalhadores dos serviços públicos (DAHMER, 2004).

Page 97: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

cumprimento de normas e rotinas burocráticas e metas institucionais, com exigências claras

de competência, ritmo e intensidade no trabalho.

Por outro lado, evidencia-se o aumento do desemprego estrutural; do subemprego; da

redução de postos de trabalho; ampliação da ocupação informal, sem carteira assinada; da

precarização das condições de trabalho; do achatamento salarial; as novas formas de

contratação- com precários contratos por tempo determinado, por projeto, por hora, por tempo

parcial, e outras- que incidem no trabalho do assistente social, exigindo do mesmo, respostas

articuladas em torno de um projeto profissional de caráter ético político (GUERRA, 2007).

Segundo Netto (2009), os projetos profissionais são construídos por um sujeito

coletivo45

que visa a formulação, dentre outros componentes, de um conjunto de referências

técnicas, teóricas, éticas e políticas para o exercício do trabalho profissional. Esses projetos

são indissociáveis dos projetos societários que lhes oferecem matrizes e direção social.

Os profissionais que defendem uma direção social estratégica para o Serviço Social

precisam avançar na compreensão da sociedade capitalista para além da sua aparente

naturalidade sinalizada no mercado de trabalho, buscando conectar o que está no aparente à

análise das tendências societárias macroscópicas e aos objetivos e valores do projeto

profissional que privilegiam (idem).

Nesse entendimento, a reafirmação de um projeto profissional crítico nos remete a

necessidade pela articulação das dimensões ético-políticas, acadêmicas e legais que atribuem

ao projeto sustentação, com a realidade do trabalho profissional em que se materializa.

Perceber a realidade como totalidade, apanhando as contradições do real, de modo a

perseguir suas mediações, possibilita ao assistente social à captação de saberes explicativos e

interventivos para o enfrentamento das contradições que, encontram-se na essência dessa

própria realidade.

Um projeto que se constitui um guia efetivo para o exercício profissional é aquele que

apresenta:

(...) a auto-imagem da profissão, elegem valores que a legitimam socialmente,

delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam requisitos (técnicos,

institucionais e práticos) para o exercício, prescrevem normas para o comportamento

dos profissionais e estabelecem balizas de sua relação com os usuários dos seus

serviços, com outras profissões e com as organizações e instituições, públicas e

privadas (entre estes, também e destacadamente com o Estado, ao qual coube

45 Netto (2009) refere-se à categoria profissional enquanto um universo heterogêneo (composto por um “conjunto dos

membros que dão efetividade à profissão”), que possibilita a construção do projeto profissional.

Page 98: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

historicamente, o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais) (NETTO,

2009, p. 144).

Como disserta Netto (2009), os projetos profissionais expressam um processo de

tensões, lutas e correlações de forças pela hegemonia entre os sujeitos coletivos que

representam tanto interesses particulares quanto universais, presentes na sociedade e na

profissão. São estruturas dinâmicas, voltadas ás alterações das necessidades sociais que são

fruto das transformações econômicas, históricas e culturais da sociedade, sobre as quais a

profissão opera, oferecendo respostas. Mas também são projetos que expressam o

desenvolvimento teórico e prático da profissão, pois representam o elemento de unidade

teoria e prática. A atuação profissional do assistente social na realidade necessita dessa

unidade, enquanto determinante na diferenciação da postura profissional com outras de ações

sociais, voluntárias ou não.

De acordo com Guerra (2007) o projeto profissional foi importante na delimitação da

atuação profissional, diferenciando-a daquelas realizadas por leigos e por ações voluntárias,

filantrópicas e assistencialistas. Pois a diferenciação operatória e substantiva da profissão com

a ação social prestada por leigos de “boa vontade” se dá na construção de um projeto

profissional que nos indique o que fazer; que nos permita uma atuação qualificada, crítica e

consciente; que nos oriente os meios e estratégias para a intervenção; que nos sinalize o

quando, o para onde e com quem avançar e se necessário recuar. Pois o projeto profissional

possibilita ao profissional compreender melhor a natureza e o significado de sua intervenção,

na medida em que lhe remete a capacidade de saber quando avançar e quando recuar.

Então, faz-se necessário ao profissional a apropriação do conhecimento teórico que lhe

permita fazer escolha consciente de valores universais para realização de atribuições e

competências que lhe são delegadas. Porque uma atuação profissional orientada por um

projeto profissional crítico, baseado em valores humanistas e universais, numa concepção de

homem enquanto sujeito autônomo e com uma teoria que busca apreender a realidade

estrutural em sua essência e iluminar as finalidades, permite ao profissional um domínio

teórico-metodológico, com adoção de uma postura investigativa e interventiva: de qualidade,

competência e compromisso com o atendimento das necessidades humanas.

Guerra (2007) ao desvelar o que significa para uma profissão- no contexto de tensão

do trabalho assalariado- orientar-se por um projeto profissional crítico46

, revela que o projeto

46 Entende-se o projeto social crítico ou projeto ético-político profissional como um processo em continuo desdobramento,

uma forma determinada de se pensar e exercer a profissão. Um projeto que se vincula a um projeto societário emancipatório

Page 99: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

profissional não significa uma efetividade porque não oferece garantias de que os resultados

esperados serão consolidados, e sim, uma possibilidade de tomada de consciência, das

dimensões ético-políticas, acadêmicas e legais sobre as quais o trabalho profissional se

desenvolve.

Pelo fato, dos profissionais atuarem em circunstâncias objetivas e subjetivas, social e

historicamente dadas, “nem sempre escolhidas e/ou apreendidas por eles”, o que configuram

na determinação dos limites e possibilidades da intervenção profissional. Conforme ressalta

Netto (1998) “a existência concreta e objetiva de uma possibilidade não equivale,

necessariamente, à sua conversão em efetividade; a passagem de uma possibilidade à

efetividade demanda a complexa intervenção da atividade organizada dos homens” (NETTO,

1998 apud GUERRA, 2007).

Para a autora significa, ainda, a possibilidade de o profissional conhecer suas

competências, visando um novo modo de operar o trabalho profissional, a partir de uma

direção clara e consciente. Significa, também, a apropriação de estratégicas sociopolíticas e

profissionais que nos remetam à luta, no campo democrático popular, com recusas ao projeto

do grande capital, em detrimento da luta pela construção de uma nova ordem societária.

Guerra (2007) enfatiza que no contexto atual, de ajustes neoliberais e de barbárie

capitalista, a consolidação do projeto profissional crítico constitui importante estratégia para o

estabelecimento de novas possibilidades, de projeções de novas ações que imponham limites

entre uma prática imediatista, espontânea, intuitiva, manipulatória e aquela que tem uma clara

direção sociopolítica.

Assim, o profissional que se orienta por um projeto profissional crítico não deixa de

atender as demandas imediatas, mas segundo Guerra (2007) busca suas mediações:

(...) no sentido de não reduzir as demandas profissionais às necessidades das

agências/instituições que contratam o profissional. Sua prática profissional passa a

se diferenciar da prática de leigos, posto que não se reduz a atividades burocrático-

administrativas, já que o projeto lhe permite ter clareza da sua intencionalidade,

que propõe a construção de uma nova ordem societária, sem exploração, dominação de classe, etnia e gênero. Um projeto em

defesa intransigente dos direitos humanos, que se posiciona em favor da equidade e justiça social. Este projeto, ancorado em

instrumentos jurídicos - expressão das referências teórico-metodológicas e ético-politicas, que sustentam a direção

sociopolítica do projeto de formação e exercício profissional- foi construído a partir do final dos anos1970, nos marcos das

grandes mobilizações da classe trabalhadora no país (num contexto de crise da ditadura militar, no âmbito do processo de

redemocratização), significando a recusa e a crítica ao tradicionalismo e ao conservadorismo profissional, em que o Serviço

Social se renova a partir da “socialização da política” no Brasil.Enquanto “auto-imagem” da profissão, expressa seus valores,

seus objetivos, suas funções e os requisitos, normas e balizas para o seu exercício. Os pilares desse projeto podem ser

encontrados na Lei n. 8.662/93, que regulamenta a profissão de assistente social no Brasil; no Código de ética Profissional de

1993; e nas Diretrizes Curriculares da formação profissional em Serviço Social. A década de 1990 confere maturidade teórica

ao projeto ético político profissional do Serviço Social brasileiro que, encontra no legado marxiano e na tradição marxista,

sua referência teórica hegemônica (ABRAMIDES, 2007).

Page 100: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

decifrando o significado das demandas, captando a necessidade que subjaz a elas.

(GUERRA, 2007, p. 20).

O projeto profissional crítico oferece uma análise concreta das situações concretas,

pois requisita o conhecimento da realidade, dos meios e modos de sua utilização e do

conhecimento teórico da intervenção acumulada, que contribui para o estabelecimento de

finalidades. Mas também exige um ser consciente, capaz de buscar, conscientemente,

mecanismos estratégicos para alterar as circunstâncias que põem obstáculos a sua intervenção

profissional (ABRAMIDES, 2007).

Tais reflexões nos levam a inferir que um projeto profissional, enquanto fruto do

protagonismo social dos agentes profissionais, não se materializa pela proposta do ideal, da

projeção das finalidades, do planejamento das ações ou apenas pela atividade do pensamento,

ou ainda por uma tomada de consciência sobre os estatutos legais e éticos que atribuem uma

autonomia teórica, técnica e ética à condução do exercício profissional.

A efetivação do projeto profissional supõe o reconhecimento das reais condições em

que se materializa a profissão, isto é, “o reconhecimento das condições sócio-históricas que

circunscrevem o trabalho do assistente social na atualidade, estabelecendo os limites e

possibilidades à plena realização daquele projeto” (IAMAMOTO, 2001, p. 23).

Nesse sentido não se concebe o projeto profissional como algo dado, por não se

converter no âmbito do imediato. Antes, ele constituir-se como uma conquista da categoria

profissional e como processo, que se encontra em contínua construção e consolidação. Por

isso um dos principais desafios a sua materialização no cotidiano do trabalho profissional,

supõe pensá-lo em articulação com as condições reais de trabalho dos assistentes sociais

(IAMAMOTO, 2009).

Para a consolidação do projeto profissional crítico, faz-se necessário compreender a

sua articulação com as lutas da sociedade e que no interior da profissão existem diversos

projetos, com claras diferenças, divergência éticas, sociopolíticas e profissionais que indicam

diferentes formas de interpretação da natureza e do significado da profissão na divisão social

e técnica do trabalho.

Mas o projeto profissional hegemônico47

legatário da matriz crítica, fruto da recente

trajetória profissional do Serviço Social, constitui-se um instrumento para uma direção

47 Projeto ético político profissional.

Page 101: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

estratégica de alargamento da relativa autonomia profissional do assistente social frente aos

limites dados pela sua condição de trabalhador assalariado.

O projeto permite ao profissional a orientação por uma determinada direção social,

clarificando os objetivos de sua intervenção e as possibilidades de escolhas, antevendo as

demandas, possibilitando a captação dos processos emergentes e das tendência históricas que

se configuram e requisitam respostas competentes de um profissional comprometido com a

qualidade dos serviços prestados e com sua articulação com outros profissionais e

trabalhadores.

Page 102: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

CAPÍTULO 3 – O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS) EM RIO

BONITO/RJ: TENSÕES E DILEMAS DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

Neste capítulo pretende-se refletir sobre as mudanças no trabalho do assistente social

com a implementação do SUAS. Desta forma, faz-se necessário conhecer os avanços e limites

para a efetivação da política de Assistência Social no município de Rio Bonito/RJ.

O capítulo, inicialmente, contextualiza o cenário histórico, econômico, social e

territorial entre outras características e dados do município, que servem de base para

conhecimento da realidade concreta e enquanto estratégia de captação das determinações mais

ampla da vida social, política, cultural e econômica.

E para discorrer sobre a política de Assistência Social, o capítulo enfatiza as

tendências dessa política, no âmbito da Seguridade Social brasileira a partir dos anos 1990.

Pretende-se analisar, ainda, o destaque que a política de Assistência Social adquire

dentre as políticas de Seguridade Social e os rebatimentos deste fenômeno no exercício

profissional do assistente social.

O capítulo apresentará a constituição da política de Assistência Social, nos marcos da

PNAS (2004) e da NOB/SUAS (2005 e 2012) que materializam os fluxos de gestão do SUAS,

bem como a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos de 2006, que estabelece uma

perspectiva de gestão do trabalho e diretrizes para os planos de cargos e carreira; diretrizes

para capacitação, responsabilidades dos gestares em relação aos trabalhadores no âmbito do

SUAS.

Pretende-se ressaltar como esta política vem perpassando os critérios focalistas e

seletivos, destacando dentre as políticas sociais, como política central no atendimento aos

segmentos dos trabalhadores mais pauperizados, sob vínculos precários ou desempregados.

Aponta-se a reorientação das políticas sociais como processo que restringe a atuação

do assistente social nos diversos espaços ocupacionais devido à precariedade e desmonte das

políticas e da rede de serviços; a definição do atendimento aos mais pobres e critérios de

seletividade cada vez mais restritos, o que acabam por comprometer o caráter universal das

políticas públicas.

Ainda neste capítulo, busca-se apresentar o resultado da pesquisa de campo sobre o

trabalho do assistente social na política de Assistência: a tensão entre projeto profissional e o

trabalho assalariado, mostrando através da análise de dados, as determinações que incidem na

configuração do atual espaço sócio-ocupacional do Serviço Social no âmbito do SUAS,

Page 103: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

apreendendo as condições de trabalho e a materialização do projeto ético-político profissional

do Serviço Social, no contexto neoliberal.

Na pesquisa de campo, foram realizadas entrevistas individuais semi-estruturadas com

06 assistentes sociais em pleno exercício do trabalho, nos referidos equipamentos (três

CRAS`s e um CREAS do município de Rio Bonito/RJ), no ano de 2012 / 2013, que

concordaram em participar com a referida pesquisa, cuja concordância foi explicitada no

termo de consentimento livre e esclarecido, conforme recomendações da Comissão Nacional

de Ética em Pesquisa (CONEP). Foram utilizadas, além da pesquisa bibliográfica e a pesquisa

documental, também a aproximação empírica com os sujeitos do campo e a observação

participante, uma vez que a pesquisadora, no período de realização da pesquisa, coordenava a

Proteção Social Básica no município estudado.

A partir de análise de dados qualitativos obtidos através de entrevistas semi-

estruturadas, da sistematização de experiências, da observação participante e da pesquisa

documental foi possível identificar o processo de trabalho coletivo que se inscreve o

assistente social e suas particularidades, além da identificação dos avanços e desafios da

política da Assistência Social no município, sob a lógica do SUAS e como esta política tem

sido compreendida pelos assistentes sociais dos referidos equipamentos estudados.

Na pesquisa, também foi possível perceber o contexto de inserção dos assistentes

sociais nesses equipamentos da política de Assistência Social no município de Rio Bonito/RJ,

no marco dos dilemas da precarização do trabalho frente ao direcionamento social que os

profissionais pretendem imprimir ao seu trabalho concreto, condizente com o projeto ético-

político da profissão.

3.1- O município de Rio Bonito/RJ: sua história e desenvolvimento.

A cidade – alvo – de nossa investigação está localizada na região do Estado do Rio de

Janeiro, denominada de Baixada Litorânea.

O nome do município provém do riacho que deslizava em filetes, à margem de uma

pequena estrada, e causava admiração aos passantes quando, em decorrência de seu leito

arenoso matizado de luzidias malacachetas que brilhavam aos olhos dos apreciadores. O

comentário que então se ouvia - repetidas vezes - refletia a beleza daquele riacho, pois

exclamavam: que rio bonito! Logo a constante exclamação acabou por determinar o nome da

cidade que hoje chamamos de Rio Bonito (SOARES, 1988).

Page 104: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Tendo como primeiros habitantes os índios Tamoios, somente em 1755 é que foi

iniciado o processo de colonização. Esse processo civilizatório deu-se com a chegada do

Sargento-mor Gregório Pereira Pinto, ou Gregório Pinto da Fonseca, figurando como um dos

primeiros colonos da região e através dele é que foi construída uma capela em homenagem à

“Madre de Deus”, em sua fazenda chamada “Bernarda” (SOARES, 1988).

O entorno do templo religioso não tardou a ser habitado por pessoas e que aos poucos

foi se constituindo em pequeno povoado. Em 1768, a localidade foi elevada à categoria de

freguesia, sob a denominação de Nossa Senhora da Conceição do Rio do Ouro. Mais tarde,

em aproximadamente 1770, a sede da freguesia foi transferida de local, passando a ser

conhecida como Vila ou Arraial Nossa Senhora do Rio Bonito(SOUZA, 2011).

Arruinado o templo da antiga fazenda, outro foi erguido a cerca de uma légua do

primeiro local, com o mesmo nome da padroeira anterior e, assim, a freguesia passa a ser

conhecida como “Nossa Senhora da Conceição do Rio Bonito”. Passados mais de 300 anos,

essa igreja, permanece até hoje, localizada no coração da cidade, tornou-se um ponto turístico

para os visitantes e um orgulho para os moradores(SOUZA, 2011).

Em 1847, a Vila de Rio Bonito, um arraial pequeno, não excedia mais que 38 casas.

Um lugar, no qual a vida corria tranquila, distante de toda e qualquer agitação urbana

(SOARES, 1988).

De acordo com Soares (1988), no século XIX, após um período de participação no

ciclo canavieiro, a economia local foi atingida pela expansão do café48

, que se tornou, em

pouco tempo, uma das maiores riquezas da região. Em 1880 foi criado um ramal da

“Companhia Ferro Carril Niteroiense49

”, cujo terminal era Rio Bonito, para onde convergiam

os produtos das zonas circunvizinhas, o que possibilitava uma maior urbanização, tornando o

município um dos maiores entrepostos de produção e comércio de toda região.

48

Após certo período de participação no ciclo de cana-de-açúcar, a economia local foi envolvida pela expansão do café, que

passou a ocupar as melhores terras da região, tornando-se em pouco tempo uma de suas maiores fontes de riqueza. O

progresso apresentado pela freguesia induziu o governo, em 1846, a criar o município de Nossa Senhora da Conceição do Rio

Bonito, cuja emancipação deu-se com o advento da Lei provincial nº. 381, de 7 de maio daquele ano, e a instalação em 1º de

outubro, cujas terras foram desmembradas dos municípios de Saquarema e Capivari (atual Silva Jardim), sendo elevada à

categoria de vila (SOARES, 1988).

49 A autonomia administrativa e a escolha de Rio Bonito como terminal de um ramal da Companhia de Ferro Carril

Niteroiense fizeram localidade o verdadeiro entreposto da produção e do comércio da região. O desenvolvimento da vila

motivou sua elevação à categoria de cidade em 1890 (Id., 1988).

Page 105: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Em 1890, Rio Bonito foi elevado à categoria de cidade por conta de sua produção de

lenha, carvão vegetal, banana e aguardentes, pois mantinha uma expressiva população rural

(SOUZA, 2011).

No período em que se comemorava o centenário de Independência, em 1922, foi

criado o cargo de Prefeito, sendo eleito o primeiro prefeito de Rio Bonito, Sr. Álvaro de

Lacerda. Esse contexto significava o fim de uma prática predominante desde a época da

emancipação política do município, que possibilitava ao Presidente da Câmara exercer

também as funções administrativas. Até 1930, a maioria dos prefeitos era eleita pelo voto

popular. Após a Revolução de 1930, os prefeitos passaram a ser nomeados pelo Interventor

Estadual. Só com a redemocratização do país, em 1947, as eleições são retomadas pelo voto

popular. E desse período até 1982, a administração política do município contou com 13

prefeitos, de diferentes partidos (MDB, DEM, entre outros), eleitos pelo voto popular

(SOUZA, 2011).

No contexto de ditadura militar, de 1964 a 1977, contexto repressivo, em que as

pessoas não podiam se manifestar abertamente contra a política administrativa, parte da

população rio-bonitense não ficou estática. Nesse período, um número expressivo da

população local, passa a pressionar o poder executivo, através de solicitações diretas,

reivindicando uma educação escolar diferenciada: mais satisfatória e compatível com o

desenvolvimento e o “milagre econômico” (SOUZA, 2011).

Antes de 1977, segundo o Anuário Estatístico do Estado do Rio de Janeiro (1978), Rio

Bonito somava 43 unidades escolares, em todas as redes escolares (municipal, estadual e

particular). A rede estadual possuía 26 escolas, a municipal 15 e a particular 2 escolas. A rede

escolar pública municipal de Rio Bonito não contava com nenhuma escola pré-escolar até

1976. Das quinze escolas de 1º Grau existentes nesse ano, doze possuíam apenas uma sala de

aula. A rede pública local não contava com nenhuma escola de 2º Grau (SOUZA, 2011).

A partir de 1977 houve investimentos significativos na educação municipal de Rio

Bonito com reformas e construção de novos prédios escolares, além da ampliação do número

de alunos matriculados. Cabe ressaltar, que todo esse investimento foi uma resposta à

demanda existente por parte da população local que solicitava diretamente ao prefeito, bolsas

de estudos, abertura de vagas, melhorias nos prédios escolares e a implementação de cursos

profissionalizantes. Por outro lado, atender a essas demandas da sociedade, “em favor de uma

educação escolar, significava uma oportunidade do prefeito alcançar popularidade e constituir

uma base eleitoral que lhe possibilitaria uma vida política promissora” (SOUZA, 2011, p. 5).

Page 106: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

A partir dos anos de 1993, o município reelegeu dois candidatos: Solange de Almeida

e José Luiz Alves Antunes, em momentos distintos. Ora predominou o PMDB com a eleita

Solange de Almeida e ora o DEM com o eleito José Luiz Alves Antunes. O ex-prefeito José

Luiz Alves Antunes cumpriu três mandatos na administração política do município (1993-

1996; 2005-2008 e 2009-2012), assim como a atual prefeita Solange de Almeida, que está

cumprindo o seu terceiro mandato50

, com início em 2014.

Atualmente, conforme o mapa a seguir, mostra o município como parte da Região da

Baixada Litorânea do Estado do Rio de Janeiro, que também abrange os municípios de

Araruama, Armação dos Búzios, Cabo Frio, Arraial do Cabo, Cachoeira de Macacu, Casimiro

de Abreu, Iguaba Grande, Maricá, Rio das Ostras, São Pedro d’ Aldeia, Saquarema, e Silva

Jardim.

O município fica a 80 quilômetros da

cidade do Rio de Janeiro, sendo

cortada pela BR-101, estrada federal

que liga o Rio de Janeiro a todo o país.

Figura 1: Mapa da divisão administrativa do Estado do Rio de Janeiro

Fonte: Fundação Cide, 2007.

Rio Bonito tem na rodovia BR-101 seu principal acesso à cidade. De Tanguá, a oeste,

a Silva Jardim, a noroeste. A Via Lagos, RJ-124, alcança Araruama a oeste e, por variante, a

Saquarema ao sul. A RJ-120 segue em leito natural rumo ao norte até a RJ-116, próximo ao

distrito de Papucaia, em Cachoeira de Macacu. O município conta com estação ferroviária e

opera a linha Rio-Vitória.

50 O PMDB predominou de 1997 a 2004 e atualmente predomina com a eleição da prefeita Solange de Almeida.

Page 107: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Possui uma área total de 456,5quilômetros

quadrados, correspondentes a 6,9%da área da

Baixada Litorânea, e uma populaçãode

55.551habitantes, sendo 42.882 residentes. Assim

o município é classificado, de acordo com a

PNAS (política nacional de assistência social) como

município de médio porte.

Figura 2: Mapa da divisão político-administrativa da

região

das Baixadas Litorâneas do Estado do Rio de Janeiro

Fonte: Consórcio Lagos-São João, 2007.

Devido à topografia acidentada, foram ocupadas, inicialmente, as áreas planas

existentes entre BR-101 e a Serra do Sambe. As áreas urbanizadas e com maior adensamento

estendem-se, principalmente, ao longo e nas adjacências do Rio Bonito e na Estrada de Ferro

Leopoldina, com ocupação de encostas na região noroeste da cidade(SOUZA, 2011).

Em relação ao aspecto geográfico, Rio Bonito pertence à região das regiões

metropolitanas, especificamente na microrregião de Macacu-Caceribu que também abrange o

Município de Cachoeira de Macacu. Não possui praias, mas possui muitas quedas de água,

rios e muito verde, com muita vegetação e árvores no entorno da cidade. É uma típica cidade

do interior(SOARES, 1988).

Relevo bem acidentado, Rio Bonito é o município que apresenta as mais altas e

numerosas serras, ocupando 60% de todo o seu território. Por esse motivo, os índices de

chuva são os maiores do estado, com uma média de 2.000 mm ao ano. Cidade de clima

tropical úmido possui máxima de 38º graus no verão e mínimas que chegam a 8º graus no

inverno (SOARES, 1988).

Por outro lado, o município de Rio Bonito, segundo dados da TCE/RJ, encontra-se

com alto índice de vulnerabilidade, com 10 registros de desastres naturais ao longo do período

de 1991 a 2010 e predominância absoluta de pontos de risco iminente de desabamento, o que

exige ações governamentais prioritárias que promovam políticas públicas de prevenção.

Page 108: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Dentre os veículos jornalísticos de maior expressão na cidade, destaca-se o jornal51

Folha da Terra (semanal) e o jornal Face, que tem periodicidade quinzenal e pauta

diversificada, tratando de assuntos que vão da conservação do meio ambiente à

espiritualidade.

De acordo com o Censo de 201052

, Rio Bonito tinha uma população de 55.551

habitantes, correspondente a 6,9% do contingente da Região das Baixadas Litorâneas, com

uma proporção de 96,8 homens para cada 100 mulheres. Em uma área total de 456,5 km2,

correspondentes a 1,04% do território estadual, dividida em três distritos: Rio Bonito, Boa

Esperança e Basílio.A densidade demográfica era de 121,70 habitantes por km², contra 160,4

habitantes por km² de sua região. A taxa de urbanização correspondia a 74% da população. Os

42.882 eleitores correspondem a 77% da população. Seu Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH) é de 0.710, segundo o Censo IBGE 2010.

Em relação à gestão pública municipal53

, no que se refere aos recursos humanos na

administração direta, em 2011, constatou-se o aumento do número de funcionários somente

comissionados, estagiários ou sem vínculo permanente. De acordo com a Pesquisa de

Informações Básicas Municipais do ano de 2011, o setor de serviços sozinho empregou, na

estrutura administrativa municipal, 3.963 servidores, o que resulta em uma média de 71

funcionários por mil habitantes, a 26ª maior no estado. Trata-se de um setor importante em

termos de absorção de mão-de-obra, pois é propício ao crescimento da renda, por está

presente na cadeia produtiva de várias atividades econômicas.

Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS, do Ministério do

Trabalho, em dezembro de 2011, havia 4.349.052 empregos formais no estado do Rio de

Janeiro, evidenciando um crescimento de 6,59% em relação ao estoque de dezembro de 2010.

O município de Rio Bonito participou com 19.018 empregos formais.

Os impactos sobre o mercado de trabalho formal em decorrência do fluxo de

investimentos na área de influência do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro

(COMPERJ54

) demonstram crescimento significativo da população no município, além do

desenvolvimento da economia local e de geração de emprego.

51 O primeiro jornal editado de Rio Bonito foi “O Rio Bonito”, do Major João Hilário de Meneses Drumond, e circulou de 06

de março até 28 de agosto de 1887. Fato curioso é que, em seu último número, reza que “será inaugurada a casa da Câmara

desta vila, em prédio reedificado, devendo, na mesma data ser também inaugurado o serviço de iluminação pública pelo

sistema belga”. Não são conhecidos colecionadores que ainda possuam um exemplar sequer desse jornal. (Informações

obtidas através de análise documental do CRAS – Rio Bonito, 2010).

52 IBGE - Censo 2010. 53 Dados do TCE/RJ. 54 O COMPERJ é um dos empreendimentos mais importantes de toda estrutura existencial da Petrobrás, por representar o

maior investimento industrial em andamento no país. O COMPERJ está sendo construído em uma área de 45 km2 no

Page 109: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Rio Bonito, de 2000 a 2010 experimentou uma taxa de crescimento populacional de

1,1%. Esse crescimento se justifica pelo deslocamento da população de outros municípios em

busca de melhor qualidade de vida e menor custo de moradia. Com a COMPERJ, identifica-se

alémde uma demanda expressiva por moradia, também uma busca por comércio, serviço e

educação/qualificação, graças ao grande contingente de mão de obra alocado no

empreendimento.

Figura- censo demográfico do IBGE- crescimento populacional de 2000 a 2010.

Os impactos da COMPERJ sobre a região de influência direta são mais expressivos

em municípios de porte menor, já que expressam variações em seus vínculos ativo e por

representarem os menores níveis de industrialização e renda, em comparação com o conjunto

do estado do Rio de janeiro. Segundo análise dos dados do Cadastro Geral de Empregados e

Desempregados (CAGED) da região de influência direta da COMPERJ, identifica-se

tendência de crescimento do saldo positivo de empregos de trabalhadores entre janeiro e

novembro de 2010. Os municípios de Maricá e Cachoeira de Macacu ocupavam a 3ª e 4ª

colocação do ranking dos melhores saldos de trabalhadores, com saldos positivos de 724 e

722 postos de trabalho, respectivamente. Rio Bonito e Tanguá, mesmo com o número

expressivo de desligados, também fecharam o período com saldos positivos, segundo quadro

abaixo:

Municípios Admitidos Desligados Saldos

Cachoeira de Macacu 2.739 2.017 722

Casimiro de Abreu 1.749 1.757 -8

município de Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro, envolvendo um investimento estimado de cerca de 8,30

bilhões de dólares – o maior investimento da história da Petrobras e industrial em andamento no país. A previsão é que esse

empreendimento gere, em escala nacional, mais de 200 mil empregos diretos e indiretos. Com previsão de ser concluído em

2015, o COMPERJ terá capacidade de processar 165 mil barris de petróleo por dia, abastecendo o mercado com óleo diesel

(42,9% da produção), nafta petroquímica (22%), querosene de aviação (16%), coque (10%), GLP (5,5%) e óleo combustível

(4,1%). O COMPERJ ainda contará com unidades de produção de lubrificantes e aromáticos, bem como unidades de

processamento do gás natural produzido no Pré-Sal, que também será utilizado como matéria-prima para as plantas

petroquímicas. As unidades petroquímicas têm previsão de operação em 2018, produzindo eteno, propeno, estireno,

polietilenos, polipropileno PTA e PET, entre outros petroquímicos.

46.000 48.000 50.000 52.000 54.000 56.000 58.000

ano de 2000

ano de 2010

Page 110: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Guapimirim 1.108 1.042 66

Itaboraí 12.028 11.437 591

Magé 5.775 5.763 12

Maricá 3.493 2.770 723

Niterói 62.329 57.744 4.585

Rio Bonito 10.101 9.539 562

São Gonçalo 35.872 31.405 4.467

Silva Jardim 495 524 -29

Tanguá 1.254 979 275

Total 1.36,943 124.977 11.966

Figura- (CAGED) da região de influência direta da COMPERJ, de janeiro e novembro de 2010.

Apesar das expectativas sobre os impactos de novos investimentos, observa-se que o

município apresenta baixo dinamismo econômico, pois segundo dados do TCE- RJ, a receita

total do município foi de R$ 132,7 milhões em 2011, a 38ª do estado, apresentando

desequilíbrio orçamentário. Suas receitas correntes estão comprometidas em 95% com o

custeio da máquina administrativa. Sua autonomia financeira é de 18,0% e seu esforço

tributário alcançou 18,6% da receita total.

O montante total transferido pela União e pelo estado ao município de Rio Bonito

(sem incluir os repasses de participações governamentais ligadas a petróleo e gás que foi de

6,11% de sua receita total) teve um aumento de 158% entre 2006 e 2011.

A receita tributária, por sua vez, teve um crescimento de 6% no mesmo período. A

evolução desta rubrica foi beneficiada pelo aumento de 312% no Imposto de Renda retido na

fonte. Também houve acréscimo de 82% na receita de IPTU e de 86% no ITBI, conforme

explicita tabela abaixo.

Tabela- Receitas tributárias:

0%

50%

100%

150%

200%

250%

300%

350%

Imposto de Renda IPTU ITBI

Imposto de Renda

IPTU

ITBI

Page 111: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

A carga tributária per capita de R$ 434,73 é a 20ª do estado, sendo R$ 41,69 em IPTU

(34ª posição). O custeio per capita de R$ 2.259,52 é o 44º do estado, contra um investimento

per capita de R$ 166,11, valor aproximadamente 53% inferior ao observado para o conjunto

do estado.

Esses dados evidenciam que em 2011, cada habitante recebeu da administração

pública, na forma de investimentos, o equivalente a R$ 166, 11 em benefícios diretos e

indiretos. Se considerarmos que cada cidadão contribuiu para os cofres municipais com R$

434,73, a quantia de R$ 166,11 representaria praticamente que 38% dos tributos pagos que

retornaram como investimentos públicos.

Em relação aos indicadores sociais, no que se refere à educação, Rio Bonito teve

14.045 alunos matriculados em 2011, uma variação de -0,3% em relação ao ano anterior.

Foram 970 estudantes na creche, 73% na rede municipal, e 1.571 na pré-escola; 79% deles em

estabelecimentos da prefeitura. O ensino fundamental foi ofertado a 9.141 alunos, 62% deles

em 39 unidades municipais e 23% em 7 estabelecimentos da rede estadual. O ensino médio,

disponibilizado em 12 unidades escolares, teve 2.363 alunos matriculados, 80% na rede

estadual e 5% na municipal.

No Ensino de Jovens e Adultos, Rio Bonito teve um total de 1.101 alunos

matriculados em 2011, sendo 60% no Ensino Fundamental e 40% no Ensino Médio. O

município de Rio Bonito tinha um curso de graduação no ensino superior, com 82 alunos

matriculados em 2010.

Creche

(matriculados)

Pré-escolar Ensino

Fundamental

Ensino

médio

Jovens e

adultos

superior

970 1.571 9.141 2.363 1.101 82

Quadro: matriculados na rede pública de ensino do município, segundo censo de 2011 e 2010 do IBGE.

A rede de ensino no município conta com cinqüenta e uma (51) escolas ofertando

ensino fundamental (05 delas no Ensino Privado, 07 no ensino público Estadual e 39 no

ensino público municipal). O ensino médio é oferecido em 12 escolas (04 escolas privadas, 07

escolas públicas estaduais e 01 em escola pública municipal). Já o pré-escolar é oferecido em

quarenta e trêsescolas, trinta e setena rede municipal e seis na rede privada. As séries do

ensino fundamental são oferecidas por trinta e sete escolas da rede municipal, quatro escolas

da rede privada (IBGE, 2010).

Page 112: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Ensino

(número de

escolas)

Pré-escolar Ensino

fundamental

Ensino

médio

Público

Municipal

37 39 01

Público

Estadual

0 07 07

Privado 06 05 04

Quadro- a rede de ensino no município de Rio Bonito-RJ.

Havia 12.002 alunos matriculados na rede de ensino nas etapas de ensino fundamental,

médio e pré-escolar. O Município contava com 7.860 alunos no ensino fundamental. 2.925

alunos no ensino médio, e 1.417 alunos nas séries do ensino pré-escolar (IBGE, 2010).

Figura- alunos matriculados na rede de ensino de Rio Bonito no ano de 2010.

Dados relativos à escolaridade da população de Rio Bonito, apontam para uma estimativa de

5.096 pessoas que nunca freqüentou creche ou escola, segundo IBGE 2010. Verifica-se um número

expressivo de analfabetismo, evidenciando uma inadequação às crescentes exigências de

qualificação no acesso ao mercado de trabalho.

Podemos perceber que uma pequena minoria, de 2.611 pessoas, consegue chegar ao

ensino superior, resultado este que não se diferencia da realidade brasileira.

A faixa etária predominante encontra-se entre os 10 e 39 anos, e os idosos representam

6.725 da população do município, contra 7.235 de crianças ente 0 a 09 anos de idade.No que

se refere à faixa etária da população residente, Rio Bonito pode ser considerado um município

jovem, por contar apenas com aproximadamente 01% de idosos.

0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000

pré-escolar

ensino fundamental

ensino médio

Page 113: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Tabela: Distribuição da população do Município de Rio Bonito por faixa etária Fonte: IBGE, 2010.

Com grande incidência de pobreza correspondente a 21,52%, a cidade de Rio Bonito

abriga expressivo número de pessoas apartadas do acesso aos serviços básicos e ao mercado

de trabalho de acordo com IBGE (2010), temos:

Possui um rendimento médio de pessoas

residentes no município de R$ 700,00,

sendo mulheres R$ 510,0 e homens R$

750,00.

Figura: Distribuição de renda por sexo no Município de Rio Bonito

Fonte: IBGE, 2010.

No gráfico acima está retratado que 29% da população economicamente ativa, está

fora do mercado de trabalho, e 56% está no mercado de trabalho, ocupando o trabalho

informal sem vínculo empregatício como, por exemplo: os vendedores ambulantes,

empregadas domésticas, diaristas e feirantes, e no trabalho formal tem-se os professores, os

comerciantes, secretárias, enfermeiras, auxiliar de serviços diversos, entres outros.

Há expressivo número percentual de mulheres desempregadas no município de Rio

Bonito, o que retrata a triste realidade desta camada da população, confirmando o corte de

gênero, ausência de escolaridade e capacitação, impedindo assim a inserção dessas mulheres

no mercado de trabalho.

0

10.000

20.000

30.000

0 à 14anos

15 à 29anos

30 à 59anos

60 à 80anos

Habitantes

Habita…

Não possui renda 29%

Mulheres que

possuem renda 25%

Homens que

possuem renda 31%

Não possuirenda

Mulheres quepossuem renda

Homens quepossuem renda

Page 114: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

O salário das mulheres continua sendo inferior ao dos homens, e sua ocupação no

mercado de trabalho também ainda permanece sendo menor que a ocupação masculina.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) em seu relatório de 2003 apontou que

apesar do crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho, a diferença

quanto à participação masculina continua expressiva.

Na perspectiva de maior igualdade e autonomia da mulher, grupos de debates sobre a

temática já estão se organizando no município para maiores reflexões e de concreto se temo

projeto de lei, aprovado na Câmara dos Vereadores em 2012, que possibilita a implementação

no município, dentre outros serviços voltados para o atendimento ao gênero feminino, a

estruturação de um Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CRAM) vítimas de

violência. Merece destaque a I Conferência da Mulher que ocorreu no dia 03/05/2007.

A dinamização do mercado de trabalho, e conseqüentemente da economia local na

região impactada pelo COMPERJ, encontra-se fortemente atrelada à dinâmica do setor de

construção, civil e pesada. Os impactos atuais desse empreendimento, não só no município de

Rio Bonito, como em outros municípios adjacentes de influência direta, envolvem a

instalação de construtoras na região, a criação de empregos, a especulação imobiliária com

novas construções residenciais e comerciais, o estímulo ao suprimento local de insumos para

construção civil e a dinamização do comércio varejista de ferragens, madeira e materiais de

construção.

Essas evidências insinuam que, apesar dos investimentos do COMPERJ apresentarem

um potencial de modificação do quadro socioeconômico do município de Rio Bonito, torna-se

necessário remover alguns entraves ao desenvolvimento local na região. Para que estes

impactos sejam maiores e eficientes, poderiam ser implementadas políticas públicas no

referido município, contemplando investimentos em educação, com foco em ensino formal,

técnico, profissionalizante e superior, devido à baixa concentração de mão de obra local

qualificada. As características atuais do mercado de trabalho profissional oferecem um

conjunto de informações necessárias à identificação das necessidades sociais que estão

subjacentes às demandas profissionais. Por isso, o conhecimento das requisições técnico-

operativas é o principal ponto de partida para o desvelamento das reais necessidades sociais

dos sujeitos demandantes.

Tendo em vista a compreensão histórica, social, política, econômica, cultural, dentre

outros aspectos em relação ao município de Rio Bonito, nos deteremos a partir de então ao

aspecto central de nossa dissertação que é a análise sobre o trabalho do assistente social no

Page 115: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

SUAS, o que perpassa a discussão sobre a política de Assistência Social, em relação aos seus

avanços e retrocessos no município estudado.

III.2- A política de Assistência Social na lógica do SUAS no município de Rio Bonito/RJ:

seus avanços e retrocessos.

Uma vez que temos o panorama histórico do município de Rio Bonito, passaremos a

contextualizar a política de Assistência Social no município explicitado, a partir da definição

da LOAS e do SUAS que regem e orientam a política de Assistência Social nos territórios,

introduzindo mudanças profundas nas referências conceituais, na estrutura organizacional e na

lógica de gerenciamento e controle das ações (RAICHELIS, 2006).

Apesar de sua longa trajetória histórica, ainda que pautada numa perspectiva moralizadora, a

assistência social tem sido um campo de grande potencial ao acesso a direito e de ampliação

da cidadania.

Com a Constituição de 1988, a Assistência Social é instituída enquanto uma das

políticas do sistema de Seguridade Social, abrindo pela primeira vez na história brasileira, a

possibilidade de ultrapassagem do paternalismo e clientelismo e de sua tradição de não

política para o campo da política pública.

Na perspectiva de construção de uma nova concepção para a Assistência Social

brasileira como política social pública, que é regulamentada em 1993 a Lei Orgânica da

Assistência Social (LOAS), iniciando seu percurso para o campo dos direitos, da

universalização do acesso e do reconhecimento da legitimidade das demandas de seus

usuários enquanto responsabilidade estatal.

Em 07 de dezembro de 1993, a assistência social alça um importante patamar, com a

aprovação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), lei federal nº. 8.742, que veio

regulamentar os artigos 203 e 204 da Constituição Federal de 1988. Cabe também mencionar

as dificuldades que envolveram a aprovação dessa Lei ao longo de cinco anos55

, sem deixar

de considerar que depois de promulgada em 1993, ficou por muito tempo só no papel e foram

poucas as alterações eficazes na organização da prestação de serviços assistenciais56

.

A LOAS representa um expressivo movimento de luta articulado nacionalmente por

segmentos sociais comprometidos com o fortalecimento da Assistência Social enquanto

política de responsabilidade estatal. Dentre tais segmentos, destaca-se a participação relevante

55Foram cinco anos para ser sancionada após ter sofrido veto integral do presidente Collor em 1991 e ser finalmente

aprovada, com alguns cortes, pelo presidente Itamar Franco (RAICHELIS, 2008). 56 Com exceção do BPC (benefício de Prestação Continuada) que foi implementado ainda na década de 1990.

Page 116: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

dos assistentes sociais, tanto das instituições de assistência como das instituições acadêmicas

(RAICHELIS, 2008).

A LOAS inaugura uma nova matriz para a Assistência Social, ao afirmar seu caráter

de direito não contributivo (independente de contribuição à Seguridade Social e para além dos

interesses do mercado), apontando-a enquanto integrante de um sistema de proteção social57

voltado para a garantia de direitos, de condições dignas de vida e de ampliação do

protagonismo.

(...) Como política de Estado passa a ser um espaço para a defesa e atenção dos

interesses e necessidades sociais dos segmentos mais empobrecidos da sociedade,

configurando-se também como estratégia fundamental no combate à pobreza, à

discriminação e à subalternidade econômica, cultural e política em que vive grande

parte da população brasileira (YAZBEK, 2006, p.127).

Não podemos negar que a fragilidade institucional e o víeis clientelista,

historicamente, predominante na política de Assistência Social constituíram relevantes

obstáculos para o reconhecimento desta arena setorial enquanto política e de sua reafirmação

enquanto pública.

Apesar dos obstáculos a sua implementação, a LOAS inaugurou um novo debate

político-institucional no campo da Assistência Social, ao incorporar não mais o conceito de

população em situação de pobreza enquanto “assistidos” ou “favorecidos”, mas reconhecendo

essa população enquanto usuária ou beneficiária.

A primazia da responsabilidade do Estado, afirmada pela LOAS, na condução da

política de Assistência como política setorial pública de relações de parceria58

com a

sociedade civil, constituiu a superação da matriz histórica que sempre ocultou o dever do

Estado nesta política, outorgando-a às entidades filantrópicas/assistenciais enquanto território

de práticas privadas de subvenção, sem transparência ou explícitas definições de finalidade

(SPOSATI, 2001).

É constatação indubitável que a Constituição Federal de 1988 estabelece uma

concepção universalista dos direitos sociais, definindo importantes mecanismos de

participação cidadã a partir da criação de muitos espaços institucionais, nos quais Estado e

57A proteção social é entendida enquanto formas “às vezes mais, às vezes menos institucionalizadas que as sociedades

constituem para proteger parte ou o conjunto de seus membros. Tais sistemas decorrem de certas vicissitudes da vida natural

ou social, tais como velhice, a doença, o infortúnio, as privações. Inclusive neste conceito também tanto as formas seletivas

de distribuição e redistribuição de bens materiais (como a comida e o dinheiro), enquanto os bens culturais (como saberes),

que permitirão a sobrevivência e a integração, sob várias formas na vida social. Incluo, ainda, os princípios reguladores e as

normas que com o intuito de proteção, fazem parte da vida das coletividades” (Di Giovanni, 1998, p. 10 apud YAZBEK,

2006, p. 127). 58 “A prática de parcerias entende que o avanço da democracia exige a pressão de uma sociedade que se co-responsabilize

pelas desigualdades sociais e pela redistributividade. Entretanto, qualquer parceria deve estar assentada na política pública e

no compromisso de Estado”. (SPOSATI, 2001: 77).

Page 117: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Sociedade Civil tomariam decisões conjuntas sobre os rumos das mais diferentes políticas

públicas (COSTA, 2007).

E para que por meio desses espaços institucionais de participação formal se tenha a

garantia constitucional de que a população, através de suas entidades representativas, participe

do processo de formulação das políticas públicas, do controle social e de sua execução em

todos os níveis (municipal, estadual e nacional), é que a LOAS assegura a constituição de

importantes espaços de participação popular, legalmente constituídos, principalmente pelos

Conselhos de Direitos e pelas Conferências (enquanto campos de negociação no âmbito da

esfera pública).

Porém um dos maiores desafios em relação à categoria controle social é romper com a

ausência de uma cultura de participação popular. Pelo fato da experiência democrática

brasileira ser ainda muito recente, podemos dizer que fomos disciplinados a não participar dos

espaços públicos. Pois temos uma cultura política muito influenciada pelos períodos de

autoritarismo, o que possibilita alguns cidadãos ainda acharem que as decisões devem ficar

com os políticos e que a nós, o povo, cabe apenas aceitá-las.

Isso, durante a nossa história, veio fortalecendo a política dos favores, o que

chamamos de clientelismo e coronelismo. Romper com essa ideologia dominante é uma tarefa

difícil, porém não impossível. E é por esse motivo que a participação, a capacidade de

mobilização e pressão constituem-se como motores das mudanças nas políticas públicas.

A Política Nacional de Assistência Social de 2004 (PNAS/2004), aprovada pelo

Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) em 15 de outubro de 2004, regulamentada

pela resolução nº 145 e publicada no Diário Oficial da União em 28 de outubro de 2004,

reafirmou os dispositivos na Constituição Federal e na LOAS, estabelecendoo redesenho

desta política, na perspectiva de implementação do SUAS (Sistema Único de Assistência

Social).

A implantação do SUAS – 2004/2005 – como requisito essencial para dar efetividade

à Assistência Social como política pública, possibilitou a articulação em todo território

nacional das responsabilidades, vínculos e hierarquias, do sistema de serviços, benefícios e

ações de assistência social, de caráter permanente ou eventual, enquanto prioridades da

Secretaria Nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS).

Em 2004 é criado o MDS, em que pela primeira vez no país, presencia-se um

movimento concreto, objetivando o rompimento com o legado assistencialista no âmbito desta

política. Em 2004, o MDS torna pública a versão final da PNAS. E a PNAS propõe a

Page 118: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

construção e implementação do SUAS, que possui como principais pressupostos: a

territorização, a descentralização e a intersetorialidade.

O SUAS59

representa uma nova concepção de organização de serviços, executados e

providos por pessoas jurídicas de direito público sob o critério de universalidade e de ação em

rede hierarquizada, regionalizada e em articulação com iniciativas da sociedade civil. O

SUAS propõe sintonia e articulação com outras políticas públicas e organizações não

governamentais (YASBEK, 2009).

Atualmente as ações do MDS são operacionalizadas por intermédio de dois sistemas

públicos, o SUAS, criado em 2004 pela PNAS e aprovado em 2005 através da Norma

Operacional Básica -NOB SUAS- de 2005 (alterada em 2012), e o Sistema Nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN, criado em 2007. O SUAS é responsável por

articular nos três níveis de governo a execução e o financiamento da PNAS, enquanto o

SISAN tem por objetivo promover a alimentação adequada à população em todo o território

nacional.

Com relação ao SUAS, a União fica com a incumbência da formulação, do apoio, da

articulação,e da coordenação das ações, cabendo aos Estados a gestão da Assistência Social

no âmbito de sua competência. Os municípios podem possuir três níveis de habilitação ao

SUAS: inicial, básica e plena. Na gestão inicial, os municípios precisam apresentar Conselho

em funcionamento, fundo e planos municipais de Assistência Social, além da execução das

ações da Proteção Social Básica com recursos próprios. No nível básico, o município assume,

com autonomia, a gestão da proteção social básica. Já no nível pleno, ele assumea gestão total

das ações socioassistenciais (BRASIL, 2005).

De acordo com a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, Resolução

109, aprovada pelo CNAS em 11 de dezembro de 2009, os serviços no âmbito do SUAS são

organizados por níveis de complexidades: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial

de Média e Alta Complexidade.

Os Serviços de Proteção Social Básica são: Serviço de Proteção e Atendimento

Integral à Família (PAIF); Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos e Serviço de

Proteção Social Básica no Domicílio para pessoas com Deficiência e Idosas. Os serviços de

Proteção Social Básica, que visa à prevenção de situações de risco e o fortalecimento de

vínculos familiares e comunitários aos usuários, pertencentes à classe trabalhadora, em

59O SUAS “é constituído pelo conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios no âmbito da assistência social

prestados diretamente- ou por meio de convênios com organizações sem fins lucrativos -, por órgãos e instituições públicos

federais, estaduais e municipais da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo poder público” (YAZBEK,

2006, p. 130).

Page 119: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

situação de pobreza, privação por ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços

públicos, fragilização de vínculos familiares – relacional e de pertencimento social, devem ser

executados de forma direta nos CRAS e de forma indireta, nas entidades e organizações de

Assistência Social da área de abrangência dos CRAS (PNAS, 2004).

Os Serviços de Proteção Social Especial são “atenção assistencial destinada a

indivíduos que se encontram em situação de alta vulnerabilidade pessoal e social. São

vulnerabilidades decorrentes do abandono, privação, perda de vínculos, exploração, violência

etc.” (YAZBEK, 2006, p. 130). São serviços voltados para o atendimento de famílias e

indivíduos, cujos direitos foram violados com ou sem rompimento de vínculos familiares e

comunitários.

A proteção Social Especial pode ser de média e alta complexidade. Na Média

Complexidade, as famílias e indivíduos possuem direitos violados, mas sem o rompimento

dos vínculos familiares e comunitários. Já a Alta Complexidade, as famílias e indivíduos com

seus direitos violados, possuem vínculos familiares e comunitários rompidos. Pois se

encontram sem referência e/ou em situação de ameaça, necessitando ser retirados do seu

âmbito familiar e/ou comunitário (PNAS, 2004).

Os Serviços de Proteção Social Especial de Média Complexidade são: Serviço de

Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI); Serviço

Especializado em Abordagem Social; Serviço de Proteção Social a Adolescentes em

Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LAS), e de Prestação de

Serviços à Comunidade (PSC); Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com

Deficiência, Idosas e suas Famílias; Serviço Especializado para Pessoas em situação de Rua

(BRASIL, 2009).

Os Serviços de Proteção Social Especial de Alta Complexidade são: Serviço de

Acolhimento Institucional; Serviço de Acolhimento em República; Serviço de Acolhimento

em Família Acolhedora; Serviços de Proteção em Situações de Calamidades Públicas de

Emergências (BRASIL, 2009).

As portas de entrada para o SUAS são estatais e já se encontram espalhados pelo país

por meio dos CRAS e dos CREAS. Os CRAS são implantados em territórios e os CREAS

podem ser organizados pelo município, em âmbito local ou regional ou, ainda, organizados

pelo Estado.

Page 120: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

O município de Rio Bonito, dentro do nível de gestão do SUAS, enquadra-se na

gestão básica60

, assumindo a responsabilidade de organizar a Proteção Social Básica e

Especial, prevenindo situação de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e

aquisições e fornecendo atendimentos e acompanhamento aos indivíduos ou famílias com

direitos violados. Ainda de acordo com a NOB-SUAS (2012), Rio Bonito caracteriza-se como

município de médio porte61

, assumindo a responsabilidade pela estruturação de 03 (três)

CRAS, cada um para até 5.000 famílias referenciadas, respeitando a prioridade de áreas com

maior vulnerabilidade social; 01 (um) CREAS e 01 (uma) Instituição de Acolhimento -

Abrigo para crianças e adolescentes, de 0 a 12 anos incompletos.

Em 2005, o município de Rio Bonito iniciou o processo de implantação dos Centros de

Referências, com estruturação de 01 (um) CREAS e 02 (dois) CRAS`s - um no Bairro de

Basílio (conhecido como PAIF Federal) e o outro CRAS em Boa Esperança, este último

ofertando apenas o serviço PAIF (conhecido inicialmente como NAF`s).

Em 2007 foi construído mais uma unidade no Bairro de Mangueira, mas por pouco tempo.

No ano seguinte, esta mesma unidade deixou de existir e o PAIF em Boa Esperança passou a

ser conhecido como CRAS. Apenas no ano de 2012, o município foi contemplado com mais

um CRAS, estruturado no Centro da cidade. Sendo assim, atualmente, o município possui 03

equipamentos estatais, que funcionam como unidades pública, descentralizadas da política de

Assistência Social, responsáveis pela organização e oferta de serviços da Proteção Social

Básica e 01 equipamento estatal responsável pela organização e oferta de serviços de Proteção

Social Especial de Média Complexidade e 01 Instituição de Acolhimento para Crianças e

Adolescentes no âmbito da Alta Complexidade, nas áreas de vulnerabilidade e risco social do

município.

Segundo documentos da Secretaria de Assistência Social do município, na montagem do

plano de execução ou em algum momento de sua implantação houve um diagnóstico da

realidade econômica e social de Rio Bonito, a partir da realização de uma pesquisa da

60 Por ser um município de médio porte, fica com a responsabilidade de ofertar um mínimo de 02 (dois) CRAS, cada um para

até 5.000 famílias referenciadas. Pela NOB SUAS de 2012, o Município ou o Distrito Federal pactua, entre a União e os

Estados, o seu nível de gestão no Pacto de Aprimoramento do SUAS, que é um “instrumento pelo qual se materializam as

metas e as prioridades nacionais no âmbito do SUAS, e se constitui em mecanismo de indução do aprimoramento da gestão,

dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais” (artigo 23, da NOB-SUAS de 2012). O referido Pacto

compreende além da definição de níveis de gestão, também a definição de indicadores; a fixação de prioridades e metas de

aprimoramento da gestão, dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciaisdo SUAS; o planejamento para o

alcance de metas de aprimoramento da gestão, dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais do SUAS; o

apoio entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, para o alcance das metas pactuadas; e a adoção de

mecanismos de acompanhamento e avaliação. 61 De acordo com a PNAS (2004), a implementação do sistema hierarquizado de proteção social levará em conta o tamanho

da população dos municípios. Nesse sentido um município de médio porte (50.001 a 100.000 habitantes), oferta serviço de

referência de proteção social básica, com possibilidades de serviços de proteção próprios de proteção especial ou de

referência regional, agregando municípios de menor porte ao seu redor.

Page 121: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

situação socioeconômica das comunidades. A pesquisa foi realizada com toda a equipe

técnica em visita domiciliar com preenchimento de questionário, cujo resultado foi utilizado

na montagem do plano de ação.

A equipe técnica, no decorrer da implantação, veio procurando conhecer outras

experiências de implantação dos serviços e programas- PAIF (NAF) e PAIF Federal (CRAS),

CREAS- através de visitas a municípios vizinhos e participação nos eventos de capacitações

fornecidos pela Secretaria Estadual da Assistência Social.

A NOB-SUAS de 2012, que alterou a de 2005, prevê no seu artigo 28 que os Estados,

o Distrito Federal e os Municípios sejam “agrupados em níveis de gestão, a partir da apuração

do Índice de Desenvolvimento do SUAS -ID SUAS, consoante ao estágio de organização do

SUAS em âmbito local, estadual e distrital.” Pela NOB-SUAS de 2012 os níveis de gestão do

SUAS não ficarão mais restritos, apenas aos critérios de porte populacional dos municípios,

taxa de vulnerabilidade social por estado e cruzamento de indicadores socioterritoriais e de

cobertura, mas prevê a apuração do Índice de Desenvolvimento do SUAS - ID SUAS, em

âmbito local, estadual e distrital, que aponte a escala de aprimoramento da organização do

SUAS, composto por um conjunto de indicadores de gestão, serviços, programas, projetos e

benefícios socioassistenciais. A apuração do ID SUAS é realizada a partir do Censo SUAS,

sistemas da Rede SUAS e outros sistemas do MDS.

Nesse sentido, cabe sinalizar que a referida NOB SUAS de 2012, além de preconizar o

pacto federativo com definição de competências dos entes das esferas de governo no co-

financiamento do SUAS, no âmbito das ações de proteção social: Básica e Especial, também

considera que as transferências de recursos por meio de repasses sejam feitas na modalidade

fundo a fundo, de forma regular e automática.Os repasses fundo a fundo serão efetuados por

meio de Blocos de Financiamento da Proteção Social Básica e da Proteção Social Especial,

objetivando oco-financiamento federal de serviços, programas e projetos de Assistência

Social e de sua gestão, no âmbito do SUAS.

Como a Assistência Social não possui um percentual orçamentário obrigatório para

sua aplicação, além das transferências oriundas dos outros níveis de governo que são

realizadas fundo a fundo, os recursos destinados a esta política ficam sujeitos à negociação e à

previsão orçamentária. Por conta disso, a NOB SUAS de 2012 estabelece que no co-

financiamento dos serviços socioassistenciais, a ênfase não seja mais o porte dos municípios,

Page 122: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

maso Índice de Desenvolvimento do SUAS, que expressa o comprometimento com a

qualidade dos serviços ofertados no âmbito da Proteção Social Básica e Especial62

.

Quando questionadas sobre o conhecimento da fonte de financiamento dos serviços,

todas as entrevistadas demonstraram total desconhecimento sobre as informações referente ao

financiamento dos equipamentos e de seus serviços. A questão do conhecimento da fonte de

financiamento da política é crucial e constitui um dos maiores desafios para os profissionais

da Assistência Social que precisam recuperar a dimensão política subjacente aos critérios de

distribuição dos recursos, mediante adoção de mecanismo que torne democrático a

socialização das informações referentes ao financiamento dos serviços, pois o conhecimento

sobre a fonte dos recursos financeiros tem sido um mecanismo estratégico para o

planejamento de ações coletivas.

No nível local, as ações do PNAS são operacionalizadas nos Centros de Referência de

Assistência Social - CRAS e nos Centros de Referência Especializada de Assistência Social -

CREAS, que organizam e ofertam os serviços da Proteção Social Básica e Especial. Segundo

dados apresentados pelo MDS, ao final de 2010 existiam cerca de 6.801 CRAS em 4.719

municípios e 1.596 CREAS em 1.463 municípios.

A política de Assistência Social tem sido desafiada pela sua capacidade institucional,

financeira e política que ainda é muito baixa. As dificuldades de muitos municípios na

estruturação e na organização dos serviços no âmbito dos CRAS`s e CREAS`s, evidenciam os

desafios e retrocessos presentes na atualidade para a implementação do SUAS, cuja

operacionalização vem esbarrando na baixa prioridade dada pelos governos com a prestação

dos serviços nesta política, além das debilidades referentes à estrutura física dos

equipamentos e de constituição de um corpo técnico de concursados.

Na realidade de Rio Bonito, percebeu-se através da pesquisa de campo e documental,

que a política de Assistência Social na lógica do SUAS ainda precisa avançar, enquanto um

lugar de reconhecimento do protagonismo e de acesso a direitos.

Desde a implantação dos CRAS’s e CREAS, percebem-se alguns desafios e

dificuldades que ainda precisam ser superados, quanto à estrutura física dos equipamentos,

operar com condições de trabalho ainda muitas vezes precárias e com alta rotatividade dos

62 Segundo o artigo78 da NOB-SUAS de 2012, “o cofinanciamento dos serviços socioassistenciais, observada a

disponibilidade orçamentária e financeira de cada ente federativo, efetivar-se-á a partir da adoção dos seguintes objetivos e

pressupostos: I - implantação e oferta qualificada de serviços socioassistenciais nacionalmente tipificados; II - implantação e

oferta qualificada de serviços em territórios de vulnerabilidade e risco social, de acordo com o diagnóstico das necessidades e

especificidades locais e regionais, considerando os parâmetros do teto máximo estabelecido para cofinanciamento da rede de

serviços e do patamar existente; III - atendimento das prioridades nacionais e estaduais pactuadas; IV - equalização e

universalização da cobertura dos serviços socioassistenciais” (MDS, 2012, p. 38).

Page 123: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

trabalhadores, a substituição de quadro técnico permanente e qualificado por contratos de

trabalhos por tempo determinado, fragilização da rede, ausência de recursos e baixa

prioridade por parte da gestão pública municipal com a prestação dos serviços.

Em relação à infra-estrutura, ainda é um grande desafio a superação da compreensão dos

CRAS´s e CREAS enquanto simples “edificação” improvisada ou como espaço público

inadequado. A disposição dos espaços e sua organização refletem a concepção sobre o

trabalho social com famílias adotada pelo município. Ainda é predominante a referência do

estigma de uma política “pobre”, ofertada á população “pobre” e por meio de unidades

“pobres”. Logo, o espaço físico constitui fator determinante para o reconhecimento desses

equipamentos como unidade pública que possibilita acesso a direitos.

Quanto à constituição do quadro de recursos humanos com lotação nos CRAS`s e

CREAS, ainda que seguindo parcialmente às exigências da NOB-RH-SUAS de 200663

,

constata-se a predominância dos vínculos por contratos temporários e por comissão.

A Secretaria de Assistência Social do município de Rio Bonito não possui um gestor

técnico, com nível superior. Nos CRAS´s, com capacidade de referenciamento de até 5.000

famílias em cada equipamento, existem 54 funcionários, dentre eles: coordenador, assistente

social, psicólogo, educadores, oficineiros, auxiliar de serviços gerais e administrativos. Já no

CREAS, com capacidade de referenciamento de 150 famílias, existem 07 funcionários, dentre

eles: coordenador, assistente social, psicólogo, advogado, educador social e auxiliar de

serviços gerais e administrativos.

Quadro: recursos humanos nos CRAS`s e CREAS do município de Rio Bonito.

Equipe técnica CRAS 1 (número

de funcionário/

tipo de vínculo)

CRAS 2

(número de

funcionário/ tipo de

vínculo)

CRAS 3 (número

de funcionário/ tipo

de vínculo)

CREAS

(número de

funcionário/ tipo de

vínculo)

COORDENADOR 1/Concursado 1/comissionado 1/concursado 1/contratado

ASSISTENTE SOCIAL 2/concursados e

contratado

2/concursado e

contratado

2/contratados 2/contratados

PSICÓLOGO 1/contratado 1/contratado 1/contratado 1/comissionado

ADVOGADO 0 0 0 1/comissionado

EDUCADOR SOCIAL 2/contratado e

comissionado

2/contratados 1/ contratado 1contratado

63 Pela NOB-RH/SUAS de 2006, a composição da equipe de referência dos CRAS para a prestação de serviços e execução

das ações no âmbito da proteção básica em municípios de médio, cada CRAS deverá referenciar até 5.000 famílias. A equipe

deverá ser composta por no mínimo de 04 técnicos de nível superior, sendo dois profissionais assistentes sociais, um

psicólogo e um profissional que compõe o SUAS. Cada CRAS deverá contar com um coordenador técnico de nível superior e

que seja concursado. Já no CREAS, pelo nível de gestão básica, a capacidade de atendimento é de 50 pessoas/indivíduos. A

equipe do CREAS deverá ser composta por um coordenador, um assistente social, 01 psicólogo, 01 advogado, 02

profissionais de nível superior ou médio (abordagem dos usuários) e 01 auxiliar administrativo.

Page 124: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

OFICINEIRO 13/contratados 13/ (12 contratados e 1

comissionado)

6/contratados 0

AUXILIAR DE

SERVIÇOS GERAIS

1/contratado 1/concursado 1/contratado 1/contratado

AUXILIAR

ADMINISTRATIVO

1/concursado 1/concursado 1/contratado 1/contratado

TOTAL

FUNCIONÁRIOS

21 21 13 08

Fonte: Relatos obtidos pelos profissionais entrevistados. Ano 2012/2013.

A reconstrução do significado da Assistência Social vem sendo o grande desafio para os

trabalhadores desta política, em que a contribuição aponta para o redirecionamento do

conteúdo do seu trabalho e intervenção à nova perspectiva, comprometida com os interesses e

as necessidades sociais da população usuária.

Como observa uma das entrevistadas, a política de Assistência Social precisa superar a

sua tradicional cultura de reiteração da subalternidade e de precarização do trabalho:

O SUAS contribuiu para ampliação do acesso aos direitos assistenciais e forneceu

mecanismos concretos de organização e direcionamento para profissionais da área.

Porém o ambiente municipal vem dificultando que esses profissionais atuem na

concretização dos direitos. São as ausências de recursos e de um espaço físico

adequado; assim como os vínculos precários feitos através de processo seletivo

obscuro e com alta rotatividade, dificultando as ações de potencialização do trabalho

e de capacitação permanente para os profissionais, que precisam ser superados.

Quando o profissional é concursado, ele possui maior autonomia para se recusar a

participar de manipulações políticas (assistente social A do CRAS 1).

Precisamos reconhecer a política numa perspectiva racional, ética e cívica. Racional, pelo

fato da política possuir uma conotação de informação, de pesquisa, de estudos e sujeita a

permanente avaliação; ética pelo combate às injustiças sociais, ao egoísmo, à miséria; e

cívica, por ter vinculação com os direitos de cidadania social, visando sua concretização

(PEREIRA, 2012).

No reconhecimento da Assistência Social como política social pública, não se pode

excluir o conflito de interesses que existem no âmbito do Estado capitalista e no interior da

sociedade civil. Assim, como também não se pode confundir a política enquanto um

“mecanismo” assistencial presente nas várias políticas sociais, como se Assistência Social

fosse o complemento daquilo que falta nas demais políticas.

No depoimento da assistente social do CREAS, percebemos sua visão da Assistência

Social, em relação à implementação do SUAS no município, porém a entrevistada enuncia a

sua defesa pela política pública, de garantia de acesso a direitos, mas não qualifica os seus

conceitos.

Page 125: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Para mim, o SUAS possibilitou a consideração da assistência enquanto política,

principalmente para outros órgãos legislativos e judiciários. Mas acho que ela

precisa ainda avançar em seu caráter transitório, de também assegura o acesso do

cidadão a outras políticas e de emancipação social dos seus usuários, para que esses

usuários consigam a desvinculação dos serviços no âmbito do SUAS. (assistente

social AB do CREAS).

Esse depoimento revela ambigüidades na concepção da política de Assistência Social,

pois a política não pode ser tratada no âmbito do provisório e nem enquanto distribuição

eventual de recursos, ela precisa ser definida pela estruturação de seus programas e serviços,

com garantias de permanência, continuidade e abrangência, enquanto resultado dos direitos

que assegura. A emancipação social dos sujeitos não resulta da presença ou ausência de

determinados serviços como fins em si mesmos, mas pelo caráter estratégico de articulação

entre as políticas sociais com as políticas econômicas e de ações desencadeadas que busquem

levar os indivíduos a avançarem no processo de formação de seu protagonismo e consciência

de pertencimento de classe.

Quanto às mudanças e função atribuída à Assistência Social a partir da implementação

do SUAS, as entrevistadas B e C dos CRAS`s 2 e 3,apontam para os limites que abarcam

desde a indefinição do campo da Assistência até os limites estrutural, econômico e político,

passando pelos limites na própria formação e atuação profissional frente a política. As

propostas e saídas para a efetividade social da Assistência são colocadas pelas entrevistadas,

no próprio limite da estrutura econômica vigente. As entrevistadas veem a Assistência Social

como política capaz de ampliar a cidadania através da viabilização de direitos sociais, mas,

não a problematizam na correlação de forças entre o capital e o trabalho, a fim de conhecer os

limites que se colocam na reafirmação e concretização do direito social.

Nesse sentido, torna-se necessário compreender a Assistência Social em relação à

totalidade do real existente, digo, perceber as nuances e o significado dessa política na

realidade social, pois o que se coloca como direito pelo Estado burguês são os mínimos

sociais e não as necessidades sociais. Mínimos sociais que só reiteram a subalternidade e

camuflam a desigualdade expressa pela relatividade da pobreza.

As entrevistadas, quando questionadas sobre os quatro eixos estruturantes do SUAS

(matricialidade sociofamiliar, controle social, novas bases entre Estado e sociedade civil e

descentralização/ territorização) apontam para a materialização desses eixos no cotidiano do

trabalho na Assistência Social, na perspectiva da conquista e garantia de direitos. Ainda

reforçam que o SUAS possui subsídios para materializar ações de planejamento,

monitoramento e procedimento necessários na melhoria da qualidade dos serviços.

Page 126: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Na matricialidadesociofamiliar, as entrevistadas consideram ser um eixo que se

materializa no atendimento e acompanhamento da equipe técnica com as famílias. Seus

relatos expressam a compreensão de que as tensões e as dificuldades apresentadas pelos

usuários perpassam o âmbito familiar e necessitam ser trabalhadas entre seus membros.

Sinalizam que nesse eixo, a família deve ser apoiada enquanto núcleo básico de autonomia, de

sustento, de convívio e de emancipação social.

As entrevistadas dos CRAS`s (02 e 03) e do CREAS, reconhecem que a categoria

controle social tem sido a garantia legal da participação popular na formulação e controle das

políticas públicas, concordam que os espaços de controle social, como: Conselhos e

Conferências possibilitam a participação direta da população interessada e dos usuários, na

definição da política de Assistência. Como observa duas das entrevistadas:

Os espaços de protagonismo popular são espaços facilitadores da “voz do usuário”.

Mas não podemos negar que esses espaços não se desenvolvem sem conflitos e

tensões. A relação entre Sociedade Civil e Estado deve acontecer na forma de

parceria, visando o cumprimento de uma responsabilidade comum, mas não

podemos negar que essa relação não se processa sem a existência de disputa pela

hegemonia (assistente social C do CRAS 03).

As novas bases entre relação Estado e Sociedade Civil representou mudança

significativa no âmbito da política de assistência social e, conseqüentemente, na

organização do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), pois as entidades e

organizações da sociedade civil assumem a posição de co-gestores dos serviços. Pois

a política de assistência estabeleceu definições de papéis e intervenções (assistente

social AB do CREAS 02).

Partimos do suposto de que a sociedade civil e o Estado não são fenômeno genérico e

estático, pois a relação entre eles envolve uma arena de conflitos de interesses, com relações

de antagonismo, reciprocidade e complementaridade que estão em permanente disputa na luta

pela hegemonia. É uma condensação de relações de forças sociais (RAICHELIS, 2008).

No segundo depoimento, a entrevistada reforça a ideia de uma relação entre Estado e

Sociedade Civil, em que o Estado não foge dos seus deveres e responsabilidades, embora faça

apelos a parcerias e incentive ao trabalho articulado com iniciativas privadas, sem abdicar o

seu controle pelo domínio “público” sobre o “privado” e sem perder o horizonte dos direitos.

Em relação ás possibilidades de reafirmação de uma cultura democrática no cotidiano

dos espaços sócio-ocupacionais, destacamos a experiência de intervenção das profissionais do

CRAS 01 que apresentaram uma importante estratégia que visa o fortalecimento do

protagonismo dos usuários dos serviços, a partir de uma metodologia que associa as ações

profissionais a um trabalho socioeducativo, que é o Conselho dos Usuários.

Page 127: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

A estratégia do “Conselho dos Usuários” tem sido a forma encontrada pelas

profissionais do CRAS 01 de assegurar que os usuários tenham condições de buscar, nesses

espaços de participação popular, a garantia da representatividade dos seus interesses. Nesse

sentido cabe a avaliação sobre como essas profissionais estão conseguindo incidir nas

políticas públicas por meio das suas intervenções nesses espaços de participação formal, e em

que momento estão reforçando essa cultura de participação popular no cotidiano institucional,

na relação com outros profissionais e até mesmo com os usuários dos serviços.

Inicialmente, a intervenção dos assistentes sociais no Conselho dos Usuários foi a

realização de palestras com os usuários sobre temas pertinentes à Conferência Municipal de

Assistência Social. O objetivo central das palestras apontava para a necessidade de transitar as

necessidades sociais da esfera privada dos sujeitos singulares para a luta coletiva por direitos

na cena pública, potenciando e politizando essa luta em espaços e/ou instâncias que preveem a

participação popular.

Cada palestra ou reunião realizada com os usuários foi possível perceber pelos

profissionais as “concepções de mundo” que se expressavam nas crenças, nas opiniões, na

linguagem, nos “modos de perceber e de agir”, no senso comum enquanto integrantes da

“filosofia espontânea” do povo, nos termos de Gramsci (apud COUTINHO, 2011). O

Conselho dos Usuários permitiu a ultrapassagem de vínculo de subordinação à cultura

dominante e superação de um modo de pensar precedente, contribuindo para o

desenvolvimento do bom senso, enquanto caminho que conduz a criação de uma nova cultura,

permitindo às classes subalternas elaborarem sua própria concepção de mundo, como

protagonistas políticos: críticos, conscientes e guias de si mesmos.

Essa estratégia enfoca o desenvolvimento de atividades que extrapolam a “execução

terminal de políticas sociais”, nos dizeres de Netto (1992), pois são atividades que visam à

proposição de caminhos e estratégias de alteração da realidade, num contexto de profunda

negação da vida. Conforme assevera Iamamoto (1998) que a realidade brasileira demanda um

perfil de profissional capaz de sintonizar-se ao novo ritmo acelerado das mudanças, bem

como para forjar estratégias e alternativas profissionais em defesa da vida e que contribua

para a radicalização da democracia, da liberdade e da cidadania.

A busca por essa estratégia (Conselho dos Usuários) partiu da necessidade de

proposição, que visasse à reafirmação do projeto ético- político profissional, enquanto

importante estratégia de alargamento da relativa autonomia contra a alienação do trabalho

Page 128: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

assalariado, uma vez que o objetivo principal da atuação desse Conselho é a busca por

elevação do protagonismo do usuário, na possibilidade de tentar levá-lo a avançar no processo

de formação de sua consciência de pertencimento de classe, contribuindo para que o mesmo

tenha “vez e voz”, a fim de que tenha oportunidade de galgar os seus direitos e pleitear suas

necessidades em espaços que preveem a participação, como: Conselhos de direitos,

Conferências, Fóruns, entre outros.

A partir da observação participante e da minha experiência profissional na política de

Assistência Social do município, cabe ressaltar que o Conselho dos Usuários, que é

composto por 05 usuários eleitos pelas famílias em acompanhamento nos serviços ofertados

pelo CRAS 01, tem por escopo prepará-los para participarem dos espaços deliberativos de

controle social, e ainda, proporcionar o fortalecimento do território a partir da articulação em

rede e a disseminação de informações, que correspondem à realização prática de um direito,

enquanto estratégia para mobilizar esforços no agir coletivo.

O Conselho dos Usuários permite a organização das famílias acompanhadas pelos

Serviços do CRAS 01, a partir de abordagens de assuntos relacionados a direitos e debates

com a rede socioassistensial do SUAS e a rede intersetorial existente no território de

abrangência do CRAS 01 (reunião com Associação de Moradores, representantes de ONGs,

equipe multiprofissional da Estratégia Saúde da Família – outros serviços de saúde, diretores

de Escolas e Creches locais, entre outros).

A atuação do assistente social no Conselho dos Usuários se realiza através da

orientação e de ações socioeducativas que se desenvolvem no âmbito dos processos político–

organizativos à medida que se considera a realidade dos indivíduos como parte de uma

coletividade.

No desenvolvimento desta competência, o assistente social irá trabalhar com dois

pilares estruturantes, que são: “socialização das informações” objetivando tornar

transparentes as reais implicações das demandas dos sujeitos, para além das aparências e dos

dados imediatos, para a viabilização dos direitos e o “processo reflexivo”, objetivando buscar

respostas às necessidades dos usuários a partir da articulação do trabalho profissional com as

forças organizadas da sociedade civil, abrindo canais de articulação com grupos ou atividades

de representação que possibilitem afirmar e negociar interesses comuns na esfera pública

(MIOTO, 2009).

Page 129: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Essa estratégia de ação tem como ponto de partida o reconhecimento de que os

indivíduos, famílias e comunidades precisam ter conhecimento de seus direitos. Esse

conhecimento é fundamental para seu reconhecimento e mobilização como sujeitos de

direitos, ou seja, como cidadãos.

Na territorização/descentralização, as entrevistadas ponderam a relação de

pertencimento da população usuária com a cidade. Ressaltam que esse pertencimento facilita

o desenvolvimento de ações de potencialidades e identidade entre os usuários. Queixam-se de

que o município ainda não possui cobertura de equipamentos públicos da Assistência Social

(CRAS), em todo o território.

O SUAS pactuado nacionalmente e deliberado pelo Conselho Nacional de

Assistência Social, prevê o fortalecimento do território, com planejamento de ações

em áreas de maior vulnerabilidade e riscos. Só que o município não avançou na

perspectiva do alcance da universalidade de cobertura para indivíduos e famílias em

situações de risco e vulnerabilidade (assistente social B do CRAS 02).

A territorialidade precisa levar em conta o princípio de prevenção e proteção pró-

ativa. Precisa considerar o local de maior risco e vulnerabilidade. O município

precisa levar em conta as áreas que não possuem cobertura dos equipamentos

públicos da Assistência Social, porque muitos bairros não são abrangidos pelos

CRAS´s. É claro, que o CREAS tem uma intervenção mais regionalizada, mas os

CRAS`s são territorizados (assistente social ABC do CREAS).

Segundo a PNAS/2004 e a NOB/SUAS de 2012, o território ganha uma expressiva

importância na definição, planejamento e execução dos serviços. Compreender e considerar as

desigualdades regionais e as condições estruturais municipais em uma dimensão territorial

possibilita o conhecimento da realidade e a indissociável gestão de serviços, programas e

benefícios no âmbito do SUAS.

A partir dos depoimentos aqui arrolados, é possível perceber que as entrevistadas não

apontam os fatores sociais e econômicos que levam o indivíduo e a família a uma situação de

vulnerabilidade e risco social. Embora compreendam a territorização na perspectiva do

alcance de universalidade de cobertura entre indivíduos e famílias e de prevenção e proteção

pró-ativa na busca pela redução de ocorrência de risco e danos sociais, nos depoimentos não

aparece o eixo da descentralização. Os depoimentos sintetizam a importância de uma

organização de ações assistenciais a partir da análise do município com base em seus

diferentes territórios e em indicadores, identificando aqueles grupos e áreas de maior

vulnerabilidade. Mas não aparece nos depoimentos a reiteração de que essa territorização só

foi possível com o processo de descentralização, que supõe, no âmbito das relações entre as

esferas de governo, uma partilha de poder.

Page 130: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

A Assistência Social precisa ser entendida como um espaço de lutas e reivindicações

da população, porque mesmo que essa política não interfira na mudança estrutural de uma

sociedade desigual, sem uma clara redução dessa desigualdade, não podemos negá-la ou

eliminá-la. Logo, o grande desafio que se coloca não só para os assistentes sociais, mas para

todos os trabalhadores do SUAS é o de romper com a herança perversa de uma pobreza

persistente e naturalizada em uma sociedade cada vez mais atingida pelas iniqüidades

inscritas na trama social, a fim de tornar a política de Assistência Social mais abrangente,

comprometida não com os mínimos sociais, mas com as necessidades sociais dos sujeitos.

Na intervenção especializada do assistente social na política de Assistência Social, a

importância de optar por um projeto profissional capaz de romper com o legado

compensatório, emergencial, focalizado, minimalista e de negação do direito no âmbito do

SUAS, aponta para um processo de luta pela constituição e ampliação da cidadania.

Conforme explicita Yazbek (2006), são os assistentes sociais que estão

implementando o SUAS e enfrentando os inúmeros desafios na consolidação e na

democratização dos Conselhos e dos mecanismos de participação e controle social; no

monitoramento e na avaliação da política; no fortalecimento da matricialidade sociofamiliar;

no planejamento da localidade da rede de serviços, a partir dos territórios de maior incidência

de vulnerabilidades e riscos; na defesa pela qualidade e custeio dos serviços e contribuindo

na reversão da figura do pobre como não-cidadão a partir de uma intervenção vinculada à uma

direção social que visa a construção de uma cultura democrática, do direito e da cidadania.

Por isso, que para Yazbek (2009, p. 136) “assumir a vinculação histórica da profissão com

Assistência Social é condição para que os assistentes sociais superem a ideologia do

assistencialismo e avancem nas lutas pelos direitos e pela cidadania”.

III. 3- O trabalho do assistente social no SUAS do município de Rio Bonito/RJ: o debate

sobre o trabalho assalariado e a consolidação do projeto profissional.

Na análise desenvolvida sobre o trabalho, considera-se a atividade laboral resultado da

expressão metabólica entre o homem e natureza, cuja mediação envolve a esfera da

necessidade e de sua realização; o campo das indagações e o das respostas a elas elaboradas

(ANTUNES, 1995; MÉSZÁROS, 1980).

Nesse sentido, compreende-se o trabalho enquanto elemento constitutivo do ser social,

em que o homem pelo trabalho satisfaz as suas necessidades humanas e ao mesmo tempo cria

outras necessidades (MARX, 1969).

Page 131: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Com as transformações societárias, no contexto do capitalismo tardio, se revelam

inflexões significativas no conjunto da vida social as quais incidem fortemente sobre as

profissões. Observa-se, portanto, um processo de flexibilização das relações de trabalho, com

seus desdobramentos na precarização dos vínculos contratuais; nas condições inadequadas ao

exercício profissional; na redução de quadro de pessoal; e baixos salários etc., que não são

expressões constitutivas da política de Assistência Social, mas são características da forma de

regulação capitalista na atualidade (NETTO, 2009).

As novas configurações do trabalho, com vistas à recuperação do ciclo de reprodução

do capital, vêm afetando drasticamente as formas de sua realização no interior da esfera

produtiva e dos serviços, com a precarização estrutural do trabalho;aumento do desemprego,

rebaixamento dos salários, precarização dos vínculos de trabalho – que se dão através de

contratações temporárias e terceirizadas que comprometem diretamente os direitos

trabalhistas /ou previdenciários (ANTUNES, 2004).

Com a contrarreforma gerencial do Estado, que preconiza a ‘desresponsabilização

estatal’ e o repasse de responsabilidades para o mercado, sob o discurso da ineficiência dos

serviços públicos, há uma redução de investimento na área pública em detrimento de

incentivos às ações privadas, sob a defesa de complementaridade entre Estado e o mercado

como garantia da qualidade dos serviços e eficiência (IAMAMOTO, 2007).

Procuramos mostrar nessa análise, como a gestão do trabalho na política de

Assistência Social vem sofrendo com as consequências das contradições postas pelo modo de

produção capitalista, assim como das novas configurações do trabalho e da contrarreforma

gerencial do Estado na atual conjuntura.

Com a implantação do SUAS, constatou-se um aumento significativo, por todo o

território nacional, de contratação pelos municípios, de diversos profissionais, dentre eles, os

assistentes social, por meio de contratos sem vínculos empregatícios, propiciando possíveis

entraves na conformação de um quadro estável e qualificado com a realocação e rotatividade

de um contingente de trabalhadores na condição de prestadores de serviços, sem direitos

trabalhistas e atuando de modo precarizado, subordinados a processos de alienação de sua

autonomia técnica e intensificação do trabalho (RAICHELIS, 2010).

Mesmo com a NOB-RH/SUAS definindo responsabilidades e atribuições aos gestores

da política nas três esferas de governo - no que diz respeito à estruturação do trabalho,com

equipes permanentes de profissionais de referências; de planos anuais de capacitação e da

Page 132: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

necessidade de assegurar recursos para promoção de concursos públicos, estudos e pesquisas

e orçamento que garanta condições de trabalho e remuneração adequadas aos trabalhadores;

investindo na implantação de plano de capacitação, de isonomia e do estabelecimento de

parceria com o poder público enquanto estratégia para a garantia da qualidade da prestação

dos serviços ofertados aos usuários - percebe-se, ainda, a conformação da lógica das

terceirizações de serviços, com o processo de precarização do trabalho na prestação dos

serviços socioassistenciais.

Em pesquisa realizada sobre a gestão do trabalho no SUAS em Estados brasileiros das

regiões norte e nordeste, autores, como Araujo et alli (2008), apontam a situação dos

trabalhadores da política da Assistência Social em diferentes municípios das regiões norte e

nordeste.

A partir desses dados coletados na referida pesquisa, as autoras supracitadas, mostram

que a maioria dos profissionais presentes nos municípios pesquisados é formada por

assistentes sociais, além da “presença de outros trabalhadores, entre os quais se destacam:

psicólogos, administradores, pedagogos, bacharéis em direito e em matemática” (ARAUJO

ET alli, 2008, p. 4).

Araujo et alli (2008) identificam nos municípios estudados, a redução do quadro de

pessoal para lidar com diferentes demandas desde a execução da política ao planejamento,

avaliação e monitoramento das ações.

Apontam, assim, a inadequada distribuição de atividades entre os profissionais;

equipes incompletas lotadas nos CRAS e CREAS com constante mudança de profissionais e

sob a lógica do trabalho movido pela improvisação; o desvio de funções; espaços físicos

inadequados e relações de trabalho precarizadas, com contratos provisórios, baixos níveis de

remuneração e insegurança do trabalho; não cumprimento dos requisitos constitucionais do

concurso público e de aplicação universal de um regime jurídico único do trabalho. Além de

outros fatores.

A pesquisa citada reitera o grande desafio para toda a administração pública quanto à

reafirmação da Política de Recursos Humanos ou de Gestão do Trabalho, enquanto um dos

eixos estruturantes do SUAS.

Page 133: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

O SUAS, desse modo, só poderá ser implementado, de fato, com o fortalecimento de

seus eixos estruturantes64

, isto é, com relações democráticas e afirmação de direitos;

infraestrutura e condições materiais para qualificar a prestação de serviços e possibilitar o

acesso dos usuários aos direitos socioassistenciais; e, com condições adequadas de trabalho;

redução de jornada de trabalho; definição de remuneração compatível; processos continuados

de capacitação e qualidade; ampliação do número de trabalhadores engajados, etc.

A NOB-RH/SUAS, aprovada em 2006, através da resolução nº269 do Conselho

Nacional de Assistência Social, veio atender às necessidades apontadas na PNAS de

investimentos significativos por parte da esfera pública no que concerne aos recursos

humanos, físicos e financeiros no âmbito da política.

Silveira (2011, p. 24) acrescenta que a referida NOB-RH “consolida os principais

aspectos da legislação vigente para a gestão pública do trabalho, estabelecendo regras para

sua aplicação e mecanismos reguladores da relação dos gestores com os trabalhadores dos

serviços socioassistenciais”.

Para Ortolani (2011), a NOB-RH/SUAS também representa uma grande conquista

para a garantia da melhoria das condições de trabalho e garantia da qualidade dos serviços

socioassistenciais.

O autor citado, também sinaliza que além da Constituição Federal de 1988, que prevê

em seu art. 37, inciso II que a investidura em cargo ou emprego público deverá ser por prévia

aprovação em concurso público; e da NOB/RH que aponta para a composição mínima das

equipes de referências no âmbito da Assistência Social, estabelecendo ainda que estas equipes

sejam constituídas por servidores do quadro efetivo, muitos municípios desconsideram essas

prerrogativas de contratação pelo concurso público e da exigência de composição de quadros

técnicos em número suficiente, com profissionais qualificados.

Muitos municípios recorrem a diversas formas de contratação através de terceirizações

no serviço público, desrespeitando a exigência em lei do concurso público e muitas vezes sem

garantias legais dos direitos trabalhistas (férias, 13º salário, FGTS) e/ou previdenciários

(ORTOLANI, 2011).

64 A política de recursos humanos constitui um dos eixos estruturantes do SUAS, ao lado da descentralização político-

administrativo e territorização; da matricialidade sociofamiliar; das novas bases para a relação entre Estado e Sociedade

Civil; do financiamento; do controle social; e da informação, monitoramento e avaliação, “(...) e se configura como a base

organizacional do seu processo de gestão. Neste contexto, a sua efetividade depende em grande parte da qualidade de sua

mão-de-obra e de condições de trabalho adequadas, buscando a qualificação e valorização dos trabalhadores da área”

(ORTOLANI, 2011, p.3).

Page 134: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Dentre as formas de contratação por terceirização, cabe mencionar as contratações por

intermédio de “Organizações Não Governamentais” (ONGs) ou “Organizações da Sociedade

Civil de Interesse Público” (OSCIPs)65

; contratação ‘temporária por prazo determinado66

”,

‘recibo de pagamento de autônomo’ (RPA) e “cargos em comissão”preconizados pela

Constituição Federal de 198867

como cargos de livre nomeação e exoneração (SILVEIRA,

2011).

Em substituição ao concurso público, a flexibilização dos contratos de trabalho

possibilita uma maior rotatividade de trabalhadores nos serviços do SUAS, provocando, além

da dicotomia entre os trabalhadores que possuem vínculos estáveis e os demais trabalhadores

e das divergências em termos de remuneração e de benefícios trabalhistas, a flexibilização

vem contribuindo para a descontinuidade das ações e para a insegurança do trabalho pela

ausência de estabilidade no serviço público (ORTOLANI, 2011).

Constata-se desde a elaboração da NOB/RH/SUAS, a fragilização na gestão do

trabalho na política de Assistência Social no município de Rio Bonito.Considerando o

histórico de precarização e a tendência ao rearranjo institucional na implementação dos

serviços, algumas dificuldades podem ser aqui sinalizadas:

Número insuficiente de profissionais admitidos por concurso público em detrimento do crescente número de

profissionais contratados por tempo determinado e com baixos salários, cuja contratação é mantida por recursos federais.

Desarticulação entre os trabalhadores concursados, dos comissionados e dos contratados, com diferenciação de

carga horária e remuneração.

Remuneração insuficiente dos trabalhadores do quadro efetivo.

Definição de equipes na quantidade mínima, prevista na NOB-RH/SUAS, para atender o conjunto de serviços e

demandas do território e/ou município.

Redução de quadro técnico de pessoal, com equipes incompletas ou substituídas por profissionais sem formação

qualificada na assistência social

Ausência de capacitação das equipes de referência, com privilégios de capacitação os trabalhadores sob vínculo

de contrato temporário e/ou por comissão.

Sobrecarga de atividades frente à demanda no território e a insuficiência de equipe.

Ausência de recursos materiais suficientes e espaço físico inadequado para atender às principais demandas dos

usuários.

65 De acordo com os termos da Lei nº9790/99 e o Decreto nº. 3100/99, que institui e disciplina o termo de terceirização. 66 Conforme preconiza a Constituição Federal no art. 37, inciso IX, na qual explicita que a contratação seja recorrida por

excepcional interesse público. 67As funções de confiança e cargos em comissão, previstas na CF em seu art. 37, inciso V, destinam- se apenas às atribuições

de direção, chefia e assessoramento.

Page 135: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

De acordo como Censo SUAS (2010), verifica-se a persistente precarização de

vínculos de trabalho. Apenas 39% dos trabalhadores são servidores permanentes

(estatutários), o que demonstra o explícito crescimento do número de trabalhadores sem

vínculo permanente, reforçando alta rotatividade e precarização dos serviços, com

remuneração incompatível e insegurança no trabalho. Verifica-se no gráfico a seguir:

Conforme ressalta Silveira (2011), para que se possa estabelecer a garantia da

qualidade dos serviços prestados à população, é preciso que haja condições e relações de

trabalho “desprecarizadas”, com garantias de direitos trabalhistas / previdenciários e

condições éticas e técnica, além de infraestrutura adequada, com recursos materiais

suficientes para a oferta de serviços.

Para Silveira (2011), defender a efetivação da NOB/RH/SUAS é um compromisso que

deve ser assumido não só pelos assistentes sociais, mas por todos os trabalhadores do SUAS

com exigências claras de reafirmação dos seus eixos estruturantes para a gestão do trabalho,

que são eles:

(1) “desprecarização” dos vínculos de trabalho no SUAS, com o fim da

terceirização e ampliação do quadro de servidores permanentes, considerando as

funções de gestão do SUAS, os serviços e as demandas por direitos nos territórios;

(2) implantação das mesas de negociação nas três esferas de governo,

com acompanhamento da efetivação dos princípios e das diretrizes nacionais;

(3) instituição dos PCCS do SUAS, com realização de pactos conjuntos nas

instâncias do SUAS, para seu efetivo funcionamento, na estruturação de carreiras,

definição de funções, perfis e formação adequados, considerando as funções de

gestão, as aquisições sociais a serem geradas e os resultados objetivos, para

qualificação dos serviços;

(4) implantação de uma Política Nacional de Capacitação, orientada pelos princípios

da educação permanente, nacionalizada, quanto às diretrizes e à implementação dos

39%

17% 13%

31%

Trabalhadores do SUAS

Estatutários

85.249

Somente

comissionados

38.531

Celetistas 28.207

Page 136: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Planos de Capacitação nas três esferas de governo, com compartilhamento do

financiamento; sistemática e permanente na sua operacionalização; universalizada e

diferenciada quanto ao público (trabalhadores, conselheiros e gestores) e articulada

com processos de monitoramento e avaliação de resultados (SILVEIRA, 2011,

p.33).

Ao refletir de forma crítica sobre esses desafios que cercam o exercício profissional

frente ao movimento histórico da sociedade brasileira e mundial, exigiu-se considerar o modo

como o Serviço Social se insere na sociedade capitalista madura, enquanto fruto das relações

antagônicas entre capital e o trabalho, articulado aos processos de produção e reprodução das

relações sociais.

Considera-se importante compreender as condições e relações de trabalho do

assistente social enquanto dimensão objetiva que confere materialidade ao seu fazer

profissional, pressupõe também entender a dimensão subjetiva de sua intervenção, isto é, a

forma como esse profissional identifica o significado do seu trabalho,“as representações que

faz da profissão, a intencionalidade de suas ações, as justificativas que elabora para legitimar

sua atividade — que orientam a direção social do exercício profissional” (RAICHELIS, 2010,

p. 752).

Apesar de ser regulamentado como profissional liberal, o assistente social não detém

os meios necessários para efetivação do seu trabalho, pois depende da entidade empregadora

para definir o público alvo, a forma de acesso dos usuários aos serviços, e os meios e recursos

para realização do seu trabalho, pois a Instituição é quem organiza o processo de trabalho do

qual o assistente social se insere na condição de trabalhador assalariado.

O assistente social, também, não realiza o seu trabalho isoladamente, mas como parte

de um trabalho combinado ou de um trabalho coletivo. Logo, o significado do seu trabalho na

órbita do Estado, na esfera dos serviços, é diferente daquele efetivado na esfera produtiva, no

âmbito da empresa.

Na relação com o Estado, não existe criação capitalista de valor e mais valia, porque o

Estado não cria riquezas, mas recolhe parte da riqueza socialmente produzida sob a forma de

tributos e outras contribuições que formam o fundo público e redistribui parcela dessa mais

valia, por meio de políticas sociais. Assim, a análise das características assumidas pelo

trabalho do assistente social e de seu produto depende das características particulares dos

processos de trabalho que se insere (IAMAMOTO, 2007).

Page 137: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

No âmbito do SUAS, evidencia-se uma ampliação de novas possibilidades de atuação

para o assistente social, demandando o desenvolvimento de novas habilidades e competências

para a gestão pública, como: assessoria, planejamento, avaliação, monitoramento, entre

outras. Essas novas exigências institucionais vêm desafiando o assistente social a avançar na

perspectivada competência crítica- do saber articular no cotidiano de trabalho, as dimensões

teóricas, técnicas, éticas e políticas.

O trabalho do assistente social é, pois, a expressão de um movimento que articula

conhecimentos e luta por espaços no mercado de trabalho, competências e

atribuições privativas que têm reconhecimento legal nos seus estatutos normativos e

reguladores (regulamentação profissional, código de ética, diretrizes curriculares da

formação profissional), projeto ético‑ político que confere direção social ao trabalho

profissional. Ao mesmo tempo, os sujeitos que a exercem, individual e

coletivamente, se subordinam às normas de enquadramento institucional, mas

também se organizam e se mobilizam no interior de um coletivo de trabalhadores

que repensam a si mesmos e a sua intervenção no campo da ação profissional

(RAICHELIS, 2010, p.753-754).

Raichelis (2010), ao analisar as particularidades do trabalho do assistente social nos

diferentes espaços sócio-ocupacionais, no âmbito do SUAS, aponta para os impacto das

metamorfoses que afetam o trabalho assalariado na contemporaneidade, submetendo a

atividade profissional aos dilemas da alienação. A autora ressalta que essa dinâmica societária

atinge diversas profissões que tem nas políticas sociais um campo de intervenção, como por

exemplo: o Serviço Social.

Dados das pesquisas apresentadas no colóquio “Trabalho na sociedade contemporânea

e o trabalho do Assistente social”, promovido pela Rede de Pesquisa sobre Trabalho do

Assistente Social (Retas), realizado na Universidade Federal de Alagoas em maio de 2010,

reafirmam muitas das características apontadas na investigação de 2005, sobre perfil do

assistente social no Brasil promovida pelo conjunto CFESS/CRESS (2005) que revela o

assistente social enquanto trabalhador assalariado predominante nos organismos

governamentais, com maior incidência nas políticas de Saúde e Assistência Social.

Os dados reafirmam que a maioria dos assistentes sociais atua em órgão público, com

78,16% lotados em organizações de natureza estatal, sendo que 40,97% na esfera municipal,

24% nos estados e 13,19% em âmbito federal.

Tais dados indicam a tendência de inserção dos profissionais em órgãos municipais,

com evidências de precarização do trabalho assalariado do assistente social em diferentes

espaços sócio-ocupacionais, com precárias formas de contratação, intensificação do trabalho,

Page 138: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

baixos salários, pressão pelo aumento da produtividade e de resultados imediatos, ausência de

políticas de qualificação e capacitação profissional, dentre outros.

Esse processo de flexibilização expresso por trabalhos terceirizados, subcontratados,

temporários desprotegidos de direitos e desprovidos de organização coletiva, vem atingindo a

realização concreta, a materialidade e as formas de subjetivação do trabalho assalariado.

A terceirização dos serviços públicos, no âmbito do Serviço Social, vem se

expressando pela subcontratação de serviços individuais por parte de órgão privado de

prestação de serviços públicos ou de assessoria técnica, “na prestação de serviços aos

governos e organizações não governamentais, acenando para o exercício profissional privado

(autônomo), temporário, por projeto, por tarefa, em função das novas formas de gestão das

políticas sociais” (RAICHELIS, 2010, p.759).

A ação desenvolvida pelos profissionais, por meio da subordinação a prazos

contratuais, além de impossibilitar a continuidade do trabalho, também implica no

rompimento dos vínculos dos profissionais com o usuário, levando a população ao descrédito

dos serviços públicos.

Do ponto de vista da constituição do quadro profissional do SUAS, no município de

Rio Bonito, destaca- se ainda o universo heterogêneo de trabalhadores, compostos por

profissionais contratados por tempo determinado, profissionais comissionados e concursados.

Dos seis profissionais68

- assistentes sociais - entrevistados dos CRAS`s e CREAS,

verificou-se que todos são do sexo feminino, demonstrando traços de uma profissão

atravessada por relações de gênero e de subalternidade, interferindo na imagem da profissão

junto à sociedade e nas expectativas sociais vigentes diante da mesma, em relação a outras

profissões de maior prestígio e reconhecimento social e acadêmico. Vejamos o perfil social

das entrevistadas nos gráficos a seguir:

68

Foram duas assistentes sociais do CRAS 1 (Basílio), uma assistente social do CRAS 2 (Boa Esperança), uma assistente

social do CRAS 3 (Centro) e duas assistentes sociais do CREAS.

Page 139: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

SEXO: FEMININO; IDADE: 28; Tempo de jornada enquanto assistente social: 2 anos e 4

meses.

FORMAÇÃO CONTINUADA: CURSANDO ESPECIALIZAÇÃO; RENDA: ATÉ 3

SALÁRIOS.

Nenhum outro vínculo, além do CRAS 1; Vínculo no CRAS 1: contrato temporário; Carga Horária no CRAS1: 30 H; Tempo que atua neste equipamento: 1 ano; Não

realiza supervisão de estágio.

Quais caminhos que te levaram a esta área? Por que você veio para este campo? Trabalhando numa

empresa conheci o trabalho de uma assistente social e me identifiquei. Estou trabalhando na Assistência, pois me encantei com esse campo desde o período estágio.

CRAS 1

assistente social A

SEXO: FEMININO; IDADE: 33 ; Tempo de jornada enquanto assistente social: 5 anos.

FORMAÇÃO CONTINUADA: COM ESPECIALIZAÇÃO; RENDA: NÃO

EXPECIFICOU.

Possui outro vínculo, além do CRAS 1 como assistente social; Vínculo no CRAS 1:

concursada; Carga Horária no CRAS1: 20 H; Tempo que atua neste equipamento: 1 ano;

Não realiza supervisão de estágio.

Quais caminhos que te levaram a esta área? Por que você veio para este campo? Escolhi

esse campo pelo interesse de participar em outra área de atuação. Pois tinha experiência

na Saúde.

CRAS 1

assistente social B

SEXO: FEMININO; IDADE: 38 ; Tempo de jornada enquanto assistente social: não

expecificou.

FORMAÇÃO CONTINUADA: COM ESPECIALIZAÇÃO; RENDA: até 3

salários.

Possui outro vínculo, além do CRAS 2 como assistente social; Vínculo no CRAS 2:

concursada; Carga Horária no CRAS 2: 20 H; Tempo que atua neste equipamento: 2

anos; Não realiza supervisão de estágio.

Quais caminhos que te levaram a esta área? Por que você veio para este campo? Devido á abragência da área de Direitos

Humanos e do próprio direito em si.

CRAS 2

asssistente social C

Page 140: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Tabelas: perfil dos assistentes sociais dos CRAS`s e CREAS.

SEXO: FEMININO; IDADE: 28 ; Tempo de jornada enquanto assistente social: 3 anos e 6

meses.

FORMAÇÃO CONTINUADA: CURSANDO ESPECIALIZAÇÃO;

RENDA: até 3 salários.

NÃO possui outro vínculo, além do CRAS 3; Vínculo no CRAS 3: contrato temporário; Carga Horária no CRAS 3: 30 H; Tempo que atua neste equipamento: 2 anos; Não

realiza supervisão de estágio.

Quais caminhos que te levaram a esta área? Por que você veio para este campo? Fazia um serviço de assistência

pela igreja católica nos bairros carentes, com vulnerabilidade social e escolhi a profissão serviço social , pois achava que estava ligada a idéia da Igreja, de amor

ao próximo e só depois descubri que é uma profissão, que nada tem haver com a caridade, mas com a luta pela

garantia dos direitos . Na verdade não escolhi esse campo (assistência social) campo, foi por ser a minha primeira

oportunidade de trabalho, depois da formação.

CRAS 3

assistente social D

SEXO: FEMININO; IDADE: 29 ; Tempo de jornada enquanto assistente social: 4 anos e 2

meses.

FORMAÇÃO CONTINUADA: SEM ESPECIALIZAÇÃO; RENDA: até 3

salários

NÃO possui outro vínculo, além do CREAS; Vínculo no CREAS: contrato temporário;

Carga Horária no CREAS: 30 H; Tempo que atua neste equipamento: 2 anos; Não realiza

supervisão de estágio.

Quais caminhos que te levaram a esta área? Por que você veio para este campo? Queria fazer psicologia, e quando descobri que o curso teria como disciplina a psicologia

social, logo me intessei. Mas aos poucos, fui descobrindo o significado dessa profissão. A política de Assistencia

sempre foi o meu campo de interesse, desde a formação.

CREAS

assistente social E

SEXO: FEMININO; IDADE: 26 ; Tempo de jornada enquanto assistente social: mais

de um ano.

FORMAÇÃO CONTINUADA: CURSANDO ESPECIALIZAÇÃO;

RENDA: até 3 salários

NÃO possui outro vínculo, além do CREAS; Vínculo no CREAS: contrato

temporário; Carga Horária no CRAS 3: 30 H; Tempo que atua neste equipamento: 1

ano; Não realiza supervisão de estágio.

Quais caminhos que te levaram a esta área? Por que você veio para este campo? Local que surgiu a

vaga.

CREAS

assistente social F

Page 141: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

A NOB RH/SUAS prevê a formação de equipes de referência, que devem ser

constituídas por servidores efetivos responsáveis pela organização e oferta de serviços,

programas, projetos e benefícios de Proteção Social Básica e Especial, mas os gráficos

apontaram grande discrepância em relação aos tipos de vínculos e carga horária das

profissionais inseridas nos mesmos espaços sócio-ocupacionais.

Em relação aos caminhos que levaram a escolha pela profissão e pela atuação na

política de Assistência Social, é notável a assimetria da demanda pela profissão. Em algumas

falas, percebe-se ainda a imagem da profissão atrelada às formas anteriores de ajuda, da

filantropia e da caridade desenvolvidas pela Igreja. É preciso entender que o Serviço Social

não é a evolução das protoformas, porque a profissão não veio para racionalizar a filantropia e

para organizar e sistematizar a caridade, e nem mesmo para tecnificar a prática da ajuda. O

serviço Social surge para romper com as práticas confeccionais.

Pelo fato de certas necessidades sociais serem reconhecidas, transformadas em

demandas, faz com que a profissão receba legitimidade. E o Estado se constitui como o

principal órgão empregador e legitimador da profissão. Segundo Montaño (1998) o Serviço

Social se legitima a partir da necessidade de dar respostas às demandas sociais e ainda pela

existência de instituições e organizações com interesse e capacidade de requisitar o assistente

social para tais respostas.

Na análise sobre o processo de trabalho no SUAS, é preciso considerar o trabalho do

assistente social na ótica do trabalho coletivo, enquanto trabalho social e combinado,

orientado por um projeto profissional, que vincula-se a um projeto societário (IAMAMOTO,

2007).

A intervenção do assistente social no SUAS pressupõe uma direção política do

trabalho, com contribuições de diferentes profissões na luta pela superação do pragmatismo e

Vínculos

contratado

concursado

comissionado

Page 142: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

das ações improvisadas, assim como do mero produtivismo quantitativo, sem

comprometimento com a qualidade dos atendimentos e/ou serviços ofertados e sem a clareza

do sentido e da direção social do trabalho frente à promoção de protagonismos,

particularmente dos usuários, para o fortalecimento da cultura democrática e de direitos

(RAICHELIS, 2010).

A pesquisa sobre o trabalho do assistente social nos CRAS`s e CREAS de Rio Bonito,

encaminhou-se também na compreensão dos elementos do cotidiano de trabalho das seis

profissionais entrevistadas, tendo como eixo de análise a tensão entre trabalho assalariado e

projeto profissional.

Buscou-se tornar visíveis as tensões entre o direcionamento ético e político que o

profissional assistente social pretende imprimir ao seu trabalho concreto e às exigências que a

instituição empregadora impõe ao seu trabalhador assalariado, optou-se por organizar as

respostas de cada entrevistada, sob a forma de “quadro panorâmico”.

Os quadros a seguir irão explicitar as respostas das profissionais entrevistadas sobre

diferentes questões que perpassam o cotidiano69

de trabalho, nos diferentes espaços sócio-

ocupacionais do SUAS no município de Rio Bonito.

Cada questão ressaltada (em cada quadro) é reveladora de uma preocupação pela

busca de estratégias políticas de organização coletiva para o enfrentamento dos

constrangimentos a que são submetidos os assistentes sociais na relação com os empregadores

e dirigentes institucionais, frente aos processos de precarização do trabalho.

Quadro Panorâmico 1- Processo de trabalho.

Profissional/Equipamento Como é composta a equipe?

Interdisciplinar ou

multidisciplinar? Você percebe a

distinção das funções entre as

demais categorias?

Como o Serviço Social se

relaciona com a equipe

de trabalho? O trabalho

é coletivo?

Como registra e sistematiza o

exercício profissional?

Planeja e avalia suas

ações? De que forma

Assistente social A (CRAS

1)

Interdisciplinar e multiprofissional.

Sim, pois são olhares diferentes.

Por meio do diálogo, das

demandas, das atividades

socioeducativas e do

trabalho que exige a

intervenção da equipe.

Através do livro de ocorrência,

prontuários e livro de

planejamento das atividades

anuais.

Sim. O planejamento e

a avaliação do trabalho

são feitos com a equipe

e com os usuários,

através de reuniões e

com sistematização no

69O cotidiano é definido por Netto e Carvalho (2005, p. 26) como: “(...) uma esfera precisa; é a esfera do homem concreto. A

objetivação que se passa no cotidiano é aquela em que o homem faz do mundo o seu ambiente imediato. A vida cotidiana é o

conjunto de atividades que caracteriza a reprodução dos homens singulares que, por seu turno criam a possibilidade de

reprodução social. Isso significa que, na vida cotidiana, o indivíduo se reproduz diretamente enquanto indivíduo e reproduz

indiretamente a totalidade social”.

Page 143: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

livro de planejamento e

registro das atividades

anuais.

Assistente social B (CRAS

1)

Interdisciplinar e multiprofissional.

Sim. Por ser tratar de demandas

diversificadas, necessitamos de

articulação com profissionais de

conhecimentos distintos para a

construção de um trabalho

coletivo.

O trabalho é coletivo,

dinâmico e recíproco. O

Serviço Social se relaciona

com a equipe por meio de

demandas específicas que

exijam articulação de

diferentes profissionais

(principalmente da

psicologia). É uma relação

de reciprocidade.

Através de fichas sociais,

livros de ocorrências e

planejamentos anuais.

Somente de algumas

atividades, como por

exemplo: grupos

socioeducativos.

Assistente social C (CRAS

2)

Multidisciplinar. Sim. Através de discussão e de

estudo de casos,

antecipadamente com

ciência da finalidade e

intervenção de cada

profissional. O trabalho é

coletivo.

Através de prontuários

individualizados; relatórios de

visitas domiciliares; relatórios

de reunião de equipe; registro

de estudo de caso; relatórios

para outros órgãos, Conselho

Tutelar, Promotoria, MP, entre

outros.

Sim. Considero o

planejamento

estratégico e

atendimento pró-ativo

ás famílias.

Assistente social D (CRAS

3)

Multidisciplinar. Sim, O CRAS

permitiu a intervenção de diversos

profissionais, com diferentes

formações.

De forma articulada e

dinâmica. Sim, pois há

uma interação entre as

equipes, existindo um

relacionamento com

respeito e

responsabilidade.

Em prontuário dos usuários e

através de um livro de registro

de todos os atendimentos

diários.

Sim. Através de

reuniões com todos os

técnicos e de reuniões

com os próprios

usuários

Assistente social E

(CREAS)

Multidisciplinar. Sim. São

diferentes profissionais, com

formações diversas, interagindo no

cotidiano de trabalho.

Com estudo de caso e

demandas que exige a

intervenção de diferentes

profissionais técnicos.

Em prontuários e Livro de

ocorrência.

Sim, mas não de forma

sistematizada. Planejo

individualmente no

meu diário de campo.

Assistente social F

(CREAS)

Multidisciplinar. Sim. De forma satisfatória. Sim. Em prontuários e livro de

registro.

Sim. Através de

anotações em

prontuários e livro de

ocorrência diária do

Serviço Social.

No quadro panorâmico 1, a realização do trabalho é reafirmada como resultado de um

trabalho coletivo, um trabalho de equipe multiprofissional, atuando de forma ampla, de modo

a construir respostas profissionais às complexas e múltiplas demandas da realidade, que se

objetivam nas necessidades sociais. Em síntese a intervenção do assistente social é vista a

partir de sua relação com o usuário, com os empregadores e os demais profissionais. Logo, é

Page 144: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

uma atividade socialmente determinada, que depende das condições sociais que

circunscrevem a realização do trabalho e das relações sociais por meio das quais se realiza

(IAMAMOTO, 2007).

Em relação ao registro e sistematização do exercício profissional percebeu-se a falta

de clareza sobre o seu significado. Não é visível a compreensão da sistematização enquanto

uma reflexão teórica seja da realidade social, como das respostas profissionais frente às

expressões da questão social. Logo é uma dimensão não apenas endógena à própria profissão

e nem uma mera atividade esporádica ou um apêndice, mas sim uma atividade que faz parte

da própria dinâmica do trabalho coletivo realizado por profissionais com diferentes

formações.

A sistematização pressupõe a consolidação de um trabalho voltado à socialização das

experiências profissionais, não apenas em formas de relatos descritivos das atividades

cotidianas, mas enquanto processo de sistematização (reflexão teórica) das mesmas que

contribua no amadurecimento intelectual e no reconhecimento social da nossa profissão. E

isso requer de nós um grande esforço intelectual e de mediação das dimensões teórico-

metodológico, ético-político e técnico-operativo (ALMEIDA, 2009).

O planejamento e a avaliação são percebidos pelos profissionais como instrumentos de

luta e registro da prática. O planejamento nos permite conhecer a realidade trabalhada,

contribuindo na identificação das prioridades e no reconhecimento das necessidades sociais,

assim como possibilita garantir uma ação competente.

Na realização do trabalho, o assistente social precisa dispor e conhecer a legislação,

portarias e normas de funcionamento dos Equipamentos e Serviços, assim como o da própria

política de Assistência Social, além do conhecimento sobre o funcionamento de outras

políticas e programas. Este profissional também é convocado a elaborar e interpretar normas

de modo a assegurar que o usuário transite pelos diversos serviços segundo critérios e/ou

rotinas estabelecidas (COSTA, 2009).

O seu trabalho também se constitui no âmbito sócio-educativo, de informação e

comunicação em diversos assuntos relacionados a direitos, por meio de orientações,

encaminhamentos individuais ou coletivos, criação de espaços de discussões, reclamações e

sugestões.

O assistente social inclui-se no trabalho coletivo, visando colaborar na construção de

estratégias de efetivação de direitos de cidadania, que aponte para a democratização do acesso

Page 145: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

e qualificação da atenção, no sentido de dar respostas às necessidades sociais, resultantes das

desigualdades sociais, a partir do reconhecimento do usuário como sujeito de direitos.

Nos diferentes serviços da política de Assistência Social, o trabalho do assistente

social se desenvolve visando à preservação da qualidade dos serviços prestados e o

fortalecimento junto aos usuários da noção de direito social e de sua defesa na esfera pública.

Quadro Panorâmico 2- Articulação no trabalho.

Profissional/Equipamento Desenvolve trabalho

com famílias? Quais?

De que forma o Serviço

Social se articula com

Instituições Públicas

Como o Serviço Social

se articula com a

rede? De que forma?

Participa de algum

Conselho? Qual?

Você está

articulado a

algum

sindicato ou

movimento

social? Cite,

caso esteja

articulado.

Assistente social A (CRAS

1)

Sim. Atendimento, grupo

socioeducativo,

acompanhamento por

meio de visita domiciliar.

Reuniões no CRAS com

os representantes das

Instituições Públicas do

território,

encaminhamento e visita

institucional.

Através do Conselho

dos usuários, que

possibilita a realização

de reuniões com os

representantes da rede

intersetorial

(Instituições

governamentais e não

governamentais) na

área de abrangência do

CRAS. Sim, o da

Assistência Social.

Não.

Assistente social B (CRAS

1)

Sim. Acompanhamento

com famílias; realização

de encaminhamento para

a rede socioassistencial e

realização de grupo

socioeducativo.

Através de reuniões

socioeducativas, e

buscando parcerias com

os serviços setoriais. A

articulação com a

Unidade Básica de Saúde

do território e outros

serviços públicos é o

nosso objetivo

permanente, porque

notamos resolutividade e

melhorias na prestação

de serviços a população.

O Serviço Social

organiza reuniões com

os usuários com a

participação da rede. O

próprio Conselho dos

Usuários tem sido uma

estratégia de

articulação do trabalho

em rede no âmbito do

território. Não participo

diretamente dos

Conselhos deste

município. Mas em

outro município

participo do Conselho

de Saúde.

Participo do

Sindicato dos

servidores.

Assistente social C (CRAS Sim. Atendimentos em

grupo, individual,

Através de visitas,

estabelecimento de

A articulação com a

rede é bastante frágil,

Não.

Page 146: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

No quadro panorâmico 2, aparece a metodologia de trabalho com família, que deve

sempre partir do reconhecimento da pluralidade de arranjos familiares presentes na sociedade,

bem como do respeito à diversidade cultural. Quando estamos inseridos no trabalho com

famílias, precisam estar claro os princípios que orientam o nosso trabalho, pois não fomos

conduzidos ao trabalho social com famílias de maneira pragmática, aleatória ou voluntária

(MIOTO, 1997).

No trabalho com famílias, o assistente social precisa criar estratégias que

desburocratize o acesso aos serviços, visando garantir a efetivação dos direitos dos usuários,

melhorando o atendimento prestado.

As ações com famílias envolvem o reconhecimento da organização do cotidiano, o

entendimento de como se processam os papéis e funções de cada membro da família, as

relações de geração e de gênero, de autoridade e afeto; identificando os valores, as

representações e práticas de cuidado e socialização de seus membros, e, ainda, a convivência,

a participação e a ação na comunidade (MIOTO, 1997).

As ações socioeducativas com famílias nos serviços socioassistenciais, de acordo com

Mioto (2009, p. 505) “(...) requer em primeiro lugar conhecimento. Conhecimento do espaço

sócio-ocupacional e do campo em que o assistente social está inserido”.

2) domiciliar, atendimento

só com as famílias no

setor.

protocolos de fluxo de

atendimentos e

encaminhamentos

pois ainda o contato é

feito via

encaminhamento. Não

participa de Conselho.

Assistente social D (CRAS

3)

Sim. Através de reuniões

mensais

Através de

encaminhamentos.

Através de

encaminhamentos. Não

participa diretamente

de Conselho.

Não.

Assistente social E

(CREAS)

Sim. Através de

atendimento e

acompanhamento por

meio de visita domiciliar.

Encaminhamentos,

visitas institucionais e

ligações.

Através de

encaminhamentos e

visitas. Sim. Conselho

Municipal de Direitos

da Criança e do

Adolescente

(CMDCA).

Não.

Assistente social F

(CREAS)

Sim. Através de

atendimento e visitas

domiciliares.

Encaminhamentos e

ligações.

Visitas Institucionais e

contato telefônico. Sim.

CMDCA.

Não.

Page 147: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

É preciso conhecer os determinantes da política social e as determinações externas

incidentes no cotidiano profissional, a fim de entender a maneira como se constitui o processo

de trabalho, a dinâmica de organização e funcionamento da instituição para que a partir de

análises fundamentadas desses espaços, o assistente social possa contribuir na

desburocratização dos serviços e na criação de espaços de gestão democrática, com a plena

garantia da participação dos usuários.

Mioto (2009, p. 505) também enfatiza que o trabalho socioeducativo com famílias

também requer “(...) conhecimento das demandas/necessidades dos usuários, tanto nas suas

singularidades, como no conjunto dos usuários ao longo do tempo (conhecimento

cumulativo)”. Pois o usuário busca nos serviços sociais respostas às suas demandas concretas,

que são vinculadas às suas estratégias de sobrevivência.

Por isso que a análise da forma como a família exerce a proteção social de seus

membros e como o Estado e/ou Sociedade provê sua manutenção, torna-se um eixo

importante no trabalho social com família, porque esse conhecimento sobre a realidade social

dos indivíduos (suas condições de vida, trabalho, cultura e formas de resistências) precisa ser

reforçado enquanto importante estratégia para um trabalho que visa o fortalecimento dos

vínculos.

A articulação da rede socioassistencial e intersetorial ainda é frágil no município,

conformando uma ausência de integração das políticas sociais em detrimento da fragmentação

das ações e serviços no âmbito territorial. As entrevistadas reconhecem a importância de se

estabelecer estratégias de atuação intersetorial, mas sinalizam que a capacidade institucional,

financeira e política do SUAS no município estudado, ainda é muito baixa.

Percebe-se, de forma explícita, uma ausência de participação das assistentes sociais

em movimentos sociais, sindicatos e Conselhos. É preciso atribuir visibilidade a esses

espaços, através da nossa inserção/participação, enquanto estratégia de potencialização da

dimensão política do nosso trabalho à perspectiva de emancipação humana.

Como afirma Bravo (2009, p. 704) é preciso “construir alianças estratégicas com os

movimentos sociais na luta pela radicalização da democracia e fortalecimento da participação

da classe trabalhadora nos espaços políticos com vistas à socialização da política”.

Page 148: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Quadro Panorâmico 3- Determinantes sociais.

Profissional/Equipamento Quais ações têm

desenvolvido para

superar o traço

assistencialista que

permeia esta área de

atuação? Quais os

desafios postos para o

Serviço Social?

Quais requisições têm

se apresentado no

cotidiano de sua

atuação nesta área?

Quais têm dado conta

de responder?

Quais as possibilidades

e limites para a

atuação do Serviço

Social e para a

efetivação do projeto

profissional neste

campo de atuação?

Consegue-se implantar

o Projeto ético-político

no processo de

trabalho?

Quais questões na

atualidade que

você considera

centrais para o

trabalho do

assistente social na

sua área de

atuação?

Assistente social A (CRAS

1)

Reafirmação no

cotidiano de trabalho

de uma intervenção

pautada no

reconhecimento da

liberdade, autonomia e

emancipação dos

usuários, visando a

ampliação e a

consolidação da

cidadania. Os desafios

postos ao Serviço

Social são: a luta por

melhores condições de

trabalho e a expansão

dos direitos, na

perspectiva da

ampliação da proteção

social.

Orientações sobre

benefícios, Programas

e serviços

socioassistenciais,

encaminhamento para

a rede intersetorial.

Em relação à

orientação para acesso

aos benefícios,

serviços e programas

assistenciais, assim

como encaminhamento

para a rede intersetorial

conseguimos

responder.

Limites: melhores

condições materiais,

institucionais, físicas e

financeiras necessárias

para a execução da

assistência social e que

garanta o atendimento

das demandas dos

usuários. Relações de

trabalho estáveis

asseguradas por

concurso público e

contrato de trabalho que

garanta direitos

trabalhistas, assim como

salários condizentes

com a função e jornada

de trabalho.

Possibilidades: a relativa

autonomia de trabalho

que assegura o direito de

realizar escolhas

técnicas no âmbito da

decisão democrática,

liberdade para

pesquisar, planejar e

avaliar o trabalho em

conjunto com outros

profissionais e com os

usuários dos serviços. O

projeto ético-político

vem se consolidando no

exercício profissional.

Trabalho, política

social e cidadania

Assistente social B (CRAS

1)

Essas ações estão

vinculadas às políticas

As requisições são bem

diversificadas, mas, em

O SUAS estabeleceu

diretrizes de atuação que

As finalidades do

Programa Bolsa

Page 149: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

locais. Sabemos que

precisamos

potencializar as

famílias para

efetivação dos

princípios do SUAS,

porém as ações

assistencialistas e

práticas clientelistas

ainda precisam ser

superadas no

município.

grande parte, estão

sendo relacionadas às

demandas de cestas

básicas e orientações

para o acesso a

benefícios

assistenciais. Em

relação a orientação a

acesso aos benefícios

assistenciais

conseguimos

responder, mas a

concessão dos mesmos

depende de recursos

disponíveis.

possibilitam grande

aproximação com os

usuários, seja através de

acompanhamento

individual ou através de

oficinas. Os limites

enfrentados estão

relacionados aos

poderes políticos. O

RH-SUAS ainda não se

efetivou no município.

Considero que o Serviço

Social deve estar

constantemente em

sintonia com o projeto.

Quando contribuímos

para a efetivação do

direito e recusamos

participar de enfoques

políticos, estamos

garantindo a lógica do

direito social.

Família; as

mudanças

estruturais no

PROJOVEM e o

caráter assistencial

da aquisição de

cestas básicas.

Assistente social C (CRAS

2)

Constante atualização

técnica, capacitação,

leitura e debate técnico

com a gestão. Nesse

sentido, o grande

desafio para o Serviço

Social tem sido com o

comprometimento

técnico. É preciso sair

do messianismo, do

fazer pelo fazer, do

atendimento não

contínuo, não pró-

ativo, não

sistematizado. O

assistente social se

esquiva de criar

referências com os

usuários.

Assegurar direitos dos

cidadãos. Os que são

possíveis de responder:

processos no Fórum,

articulação com a

saúde.

Possibilidades:

comprometimento

técnico do assistente

social com o usuário.

Limites: falta de

comprometimento (fazer

pelo fazer). Consigo

efetivar o projeto ético-

político no CRAS.

Comprometimento

técnico dos

profissionais

(ausência)

Assistente social D (CRAS

3)

Trabalhando na

perspectiva da garantia

do acesso a direitos,

não subordinando o

trabalho à lógica da

troca de favores. O

desafio para o Serviço

Social tem sido o de

Orientações sobre

acesso a benefícios

eventuais e

continuados e dos

serviços, programas

socioassistenciais. Os

que são possíveis de

responder são as

O

profissional encontra

mais limites do que

possibilidades para a

reafirmação do projeto

profissional. Os limites

apontam para a

precarização do

Pobreza,

desigualdade e

direitos humanos

Page 150: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Enquanto trabalhador assalariado qualificado, o assistente social é requisitado a

responder as demandas da entidade empregadora, seja ela pública ou privada. Então, é a

entidade empregadora quem vai organizar o nosso processo de trabalho, no sentido de definir

qual será a nossa demanda e em qual projeto nós vamos trabalhar, pois é a Instituição que

contribuir para a

prevenção e

enfrentamento das

situações de

vulnerabilidade,

buscando a promoção

das famílias e

indivíduos, na melhoria

de suas condições de

vida.

orientações sobre

acesso a serviços,

programas e benefícios

socioassistenciais.

trabalho, sob a lógica

dos vínculos

temporários que não

permitem a continuidade

do trabalho

desenvolvido. Mesmo

com todos os limites

expressos nas relações e

condições de trabalho,

ainda é possível efetivá-

lo no cotidiano do

trabalho, porque

depende da capacidade

propositiva e crítica do

profissional.

Assistente social E

(CREAS)

Romper com interesses

específicos ou

corporativos de um

segmento. O grande

desafio para o Serviço

Social é o de atuar na

perspectiva de efetivar

a assistência social

enquanto política

pública e materializar o

acesso da população

aos direitos sociais.

Violações de direitos,

orientações para acesso

a benefícios, Serviços e

programas

socioassistenciais.

Orientações sobre o

acesso aos direitos.

Limites e interesses

institucionais, falta de

recursos e acomodação

de alguns profissionais.

A possibilidade de

reafirmação do projeto

vai depender da

capacidade ética e do

compromisso do

profissional. Nesse

sentido, pode-se afirmar

que mesmo diante dos

limites estruturais, o

projeto ético-político

tem sido efetivado no

processo de trabalho.

Direitos humanos,

exclusão social

Assistente social F

(CREAS)

Conscientização dos

usuários. Avançar na

luta pela ampliação do

SUAS, o que requer

cada vez mais o

reconhecimento legal

da assistência social

como direito.

Benefícios. Aquilo que

cabe responder.

Falta de condições

materiais e estruturais

de trabalho e o modelo

econômico vigente.

Formação e direitos

humanos

Page 151: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

detém os recursos materiais, humanos e financeiros, logo, viabiliza a realização do trabalho

do assistente social (IAMAMOTO, 1998).

Na esfera pública, o assistente social não possui o domínio dos meios de trabalho, pois

precisa do Estado e da política social. Então, é o Estado quem determina a forma de

organização de serviços e de distribuição das políticas. A política social, enquanto campo

privilegiado de intervenção profissional permite a prestação de serviços especializados,

mobilizando os profissionais a intervir nos processos de confrontos de interesses

diferenciados. A Instituição empregadora só vai ser um limitador, quando não tivermos os

instrumentos necessários para intervenção.

(...) Isso significa que o assistente social não detém todos os meios necessários para

a efetivação de seu trabalho: financeiros, técnicos e humanos necessários ao

exercício profissional autônomo. Dependendo de recursos previstos nos programas e

projetos da instituição que o requisita e o contrata, por meio dos quais é exercido o

trabalho especializado. (IAMAMOTO, 1998, p. 63).

O grande desafio posto ao Serviço Social na contemporaneidade aponta para a

necessidade de se consolidar a política de Assistência Social como política pública de

Seguridade Social, rompendo com o legado assistencialista e o viés clientelista que sempre

permeou essa arena setorial.

O assistente social possui uma formação profissional que o habilita teórica, técnica e

politicamente para atuar no enfrentamento da questão social, que se expressa na desigualdade

social, pobreza, violência, barbarização e mercantilização da vida. Pois sua atuação exige

competências que vão desde a construção de estratégias profissionais que priorizem as

abordagens coletivas e a participação dos usuários da Assistência Social, até a formulação e

gestão de políticas sociais que reconheçam as necessidades sociais dos sujeitos.

O quadro panorâmico 3, permite entender como os principais dilemas contemporâneos

se traduzem nas peculiaridades do Serviço Social e se expressam nas requisições e

competências profissionais. A forma como as profissionais vão respondendo, de modo

tradicional e imediatista, às demandas que lhes são dirigidas, sem a compreensão crítica dos

significados sociais de tais demandas e com intervenções obscurecidas por atos repetitivos,

reforça a necessidade de conhecimento qualificado e de seu constante aprimoramento que

viabilize uma atuação crítica, criativa e propositiva (vide quadro panorâmico 4).

Quanto aos limites e possibilidades para a atuação do Serviço Social e para a

efetivação do projeto profissional, ainda é evidente a falta de clareza do que é o projeto ético-

Page 152: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

político profissional. Observa-se a forma pragmática de compreensão do projeto ético-político

que aparece enquanto manual de procedimentos para padrões de atuações. Cabe destacar, a

forma como o projeto profissional é reduzido ao nível de intencionalidade, isto é, reduzido à

capacidade técnica e à vontade do profissional de efetivação do projeto idealizado (vide

quadro panorâmico 5).

Vários limites apontados pelas entrevistadas reforçam a preocupação com as novas

formas de organização e gestão do trabalho, que contemple às condições materiais,

institucionais, físicas e financeiras necessárias para a execução da política de Assistência

Social; os meios e instrumentos necessários ao exercício profissional, com a ampliação do

número de trabalhadores, ao lado de processos continuados de capacitação, realização de

concursos públicos de ingresso, plano de cargos, carreira e salários, entre outros.

Quadro Panorâmico 4- Intervenção profissional

Profissional/Equipamento Durante a sua

formação quais

foram as disciplinas

que lhe

proporcionaram

uma aproximação

com o projeto ético-

político? Cite as

disciplinas.

Qual é a

competência/atribuição

do trabalho do

assistente social nesta

Instituição?

Estabelecem-se metas e

objetivos para o

Serviço Social? Em

caso afirmativo, quem

os estabelece e como?

Quais os

instrumentos de

intervenção são

utilizados no

processo de

trabalho?

Após sua

entrada na

Instituição você

criou algum outro

instrumento de

trabalho? Qual a

finalidade?

Como você descreve

o usuário dos

serviços?

Quais as condições

de trabalho, em

relação à estrutura

física e vínculo de

trabalho? Existe um

Programa de

capacitação técnica?

Assistente social A (CRAS

1)

Estágio

supervisionado e

Trabalho profissional.

Acompanhar,

atendimento em grupo e

individual, grupo

socioeducativo

(Conselho dos

Usuários), reunião de

famílias, Orientações e

encaminhamentos. A

Secretaria de assistência

social do município vem

requisitando os

profissionais para a

realização de plano de

trabalho e ação, dentre

outras intervenções.

Entrevista social; livro

de registro;

prontuários; visita

domiciliar e

institucional;

abordagem social;

atividade em grupo

com as famílias;

Conselho dos

Usuários. Não.

São famílias e

indivíduos em

situação de risco e

em vulnerabilidade

social.

Espaço físico

impróprio, sem a

garantia das

condições físicas e

técnicas estabelecidas

nas legislações

profissionais, como

espaço para

atendimentos

individuais e

coletivos, local

adequado para

aguarda de

prontuários e

documentos

Page 153: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

pertinentes ao

atendimento aos

usuários. Em relação

ao vínculo de

trabalho: a

predominância do

contrato de trabalho

por tempo

determinado

possibilita a alta

rotatividade,

permitindo a

descontinuidade dos

serviços.

Assistente social B (CRAS

1)

Considero todas as

disciplinas

importantes para a

reflexão e

aproximação dos

princípios do projeto.

Acolher, realizar

acompanhamento de

famílias, articulação

com serviços que

também contribuem para

o fortalecimento de

vínculos familiares. Em

relação as metas e

objetivos para o Serviço

Social, atualmente o

profissional vem sendo

requisitado a trabalhar

junto ás mudanças

estruturais do

PROJOVEM

adolescente,

estabelecidas pelo MDS

e pela Secretaria de

Assistência do

Município.

Utilizamos a rede de

informações, a

sistematização destas,

os instrumentos de

encaminhamentos,

registros e fluxo de

acompanhamentos.

Após a minha entrada

na Instituição,

criamos um plano de

estágio e de trabalho

para atender usuários

que participam das

oficinas e atualizamos

dados de famílias

atendidas.

Observamos que

muitas famílias

apresentam

comportamento de

resignação em

relação as suas vidas.

Características

culturais que

necessitam ser

trabalhadas

constantemente.

Considero o espaço

do CRAS inadequado

para tender as

demandas ofertadas

no equipamento. O

imóvel é pequeno,

improvisado e com

pouca luminosidade.

Os vínculos precários

de trabalho feitos

através de processo

seletivo obscuro e

com alta rotatividade,

dificultando as ações

de potencialização do

trabalho e de

capacitação

permanente para

profissionais. Não

existe um programa

de capacitação.

Assistente social C (CRAS

2)

A minha formação foi

em 1996. Não havia

ainda esse tema, mas

acredito que na

disciplina de

fundamentos ético-

político chegamos a

trabalhar sobre o

projeto profissional.

Atendimento com escuta

qualificada,

considerando a

totalidade abrangente ao

indivíduo, e

considerando a

matricialidade familiar e

a vigilância social.

Estabelecem-se metas e

objetivos para o Serviço

Social e para toda a

equipe: administrativo,

coordenação, etc.

Visitas, reuniões de

grupo familiar,

reuniões com a equipe

técnica. Após minha

entrada no CRAS, foi

possível criar outros

instrumentos de

trabalho que visassem

à comunicação interna

entre os profissionais,

encaminhamento dos

usuários para o

plantão do

profissional,

Sem entendimento

dos seus direitos e

deveres. Acostumado

com ações pontuais

O espaço físico é

adequado, mas em

relação ao contrato de

trabalho, percebe-se

uma diversidade

entre efetivos,

contratados e

comissionados. Não

existe um programa

de capacitação.

Page 154: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

informando o dia e

horário do mesmo.

Assistente social D (CRAS

3)

Formação do Serviço

Social.

Acolhimento, orientação

sobre os direitos,

realização de estudo

social, com parecer

técnico, atendimento

individual e em grupo,

atividades

socioeducativas,

encaminhamento para a

rede sociaoassistencial.

A Secretaria de

assistência social do

município estabelece

metas e objetivos para o

Serviço Social,

principalmente em

relação ao acesso a

benefícios, quando

estabelece que a

concessão de cesta

básica seja por visita

domiciliar.

Entrevistas

individuais e/ou

psicossocial e visita

domiciliar. Não houve

nenhuma criação de

instrumento de

trabalho, após a minha

inserção neste

equipamento.

População em

situação de risco e/ou

em vulnerabilidade

social.

A estrutura física do

CRAS é inadequada,

com salas sem

ventilação e com

ausência de recursos.

Os contratos de

trabalho, na maioria

são por tempo

determinado, de até

12 meses, via

processo seletivo

simplificado, o que

dificulta a

continuidade do

trabalho. Não há um

programa de

capacitação técnica.

Assistente social E

(CREAS)

Não lembro. Orientar, atendimento

social, relatório social,

visita domiciliar e

encaminhamento para a

rede de serviços. Não.

Entrevista social,

encaminhamento,

visita domiciliar e

institucional;

prontuários e livro de

registro. Não.

Famílias ou

indivíduos em

situação de risco e/ou

vulnerabilidade

social, decorrente de

violação de direitos.

O espaço físico é

precário. O CREAS

funciona num espaço

improvisado, dentro

da Secretaria de

Assistência Social.

Espaço sem a total

garantia do sigilo

profissional. Em

relação ao vínculo de

trabalho: não há

profissional efetivo

na composição do

quadro técnico de

profissionais do

CREAS, pois são

diversos profissionais

comissionados e

contratados.

Page 155: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Assistente social F

(CREAS)

Fundamentos do

Serviço Social e

estágio

supervisionado

Orientar e realizar

atendimento social. Não.

Atendimento

individual; entrevista

social; relatório social

com parecer técnico;

visita domiciliar e

institucional;

encaminhamento e

livro de registro. Não.

Indivíduos que

possuem os seus

direitos violados e se

encontram em risco

social.

Espaço físico

inadequado e

diferentes tipos de

vínculos precários.

Quadro Panorâmico 5- relativa autonomia e projeto ético-político profissional

Profissional/Equipamento Como o Serviço

Social percebe a

relação entre

autonomia relativa e

o projeto ético-

político profissional?

Consegue-se ter

autonomia durante o

processo de

trabalho? Quais os

entraves e facilidades

para o exercício da

relativa autonomia?

Qual a sua

compreensão sobre o

que é projeto ético-

político? E de que

forma ele se

apresenta no

cotidiano de trabalho

do Serviço Social?

Existe alguma

relação do projeto

ético-político

profissional com o

SUAS? Justifique.

Acredita na

efetivação do projeto

ético-político no seu

campo de atuação?

Justifique.

Assistente social A (CRAS

1)

Quanto mais restrita

for essa autonomia,

mais difícil será a

efetivação do projeto

profissional

Sim. Entraves:

alienação do trabalho,

insegurança do

trabalho, vínculos

precários, falta de

condições materiais e

estruturais de trabalho.

Possibilidades:

domínio teórico

metodológico na

direção do exercício

profissional;

intervenções

fundamentadas nos

direitos; mediação

com os usuários e

articulação com a rede

de serviços.

É a direção social do

profissional, isto é, o

instrumento norteador

do exercício

profissional. Ele se

apresenta na defesa da

qualidade dos serviços

e na defesa pela

universalidade de

acesso aos bens e

serviços que

assegurem os direitos

sociais.

Sim. Pois o SUAS

tem sido uma grande

conquista de

reconhecimento e

consolidação da

cidadania. Assim

como o projeto ético-

político profissional,

esse Sistema visa a

expansão dos direitos

e a emancipação dos

usuários.

Sim. Acreditar no

Projeto é acreditar

numa nova ordem

societária. É possível a

sua efetivação no

processo de trabalho

porque podemos criar

estratégias.

Assistente social B (CRAS

1)

Precisamos alargar

essa autonomia

relativa, que cada vez

mais tem sido

constrangida pelo

trabalho assalariado.

Para se utilizar da

autonomia é preciso se

recusar a práticas que

não estão de acordo

com o projeto ético-

político, como: as

É um guia do

exercício profissional.

Projeto voltado para

emancipação da classe

trabalhadora.

Ele se

Sim. Os próprios

princípios e diretrizes

do SUAS, possuem

articulação com o

nosso projeto

profissional.

Sim. Quando os

princípios do SUAS e

do RH-SUAS forem

amplamente

efetivados.

Page 156: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Não temos o domínio

do processo de

trabalho,da forma de

organização dos

serviços, e muitas

vezes a Instituição

ainda quer definir a

forma de intervenção

do profissional-

delimitando o tipo de

instrumental e

técnicas utilizadas,

mas esse domínio é

de autonomia relativa

do profissional.

práticas clientelistas

que predominam. Em

relação aos entraves e

facilidades para o

exercício da relativa

autonomia

profissional, cabe

destacar o ambiente

municipal que vem

dificultando que o

Serviço Social atue na

concretização de

direitos. Quando o

profissional é

concursado ele possui

maior autonomia para

se recusar a participar

de manipulações

políticas.

apresenta no cotidiano

de trabalho quando

atuamos na defesa da

garantia de direitos.

Assistente social C (CRAS

2)

Devem caminhar

juntos.

Sim. Os entraves:

questões de ordem

política (partidária)

“politicagem”.

Facilidades: ter

autoconfiança em

estabelecer um

exercício profissional

técnico,

fundamentado, crítico,

atualizado com as

questões sociais

impostas.

Projeto de intervenção

de transformação

societária, com

vinculação aos direitos

humanos. Apresenta-

se ainda de forma

embrionária, devido a

não assimilação do

próprio técnico.

Sim. Objetivo de

pertencimento social e

de empoderamento

político e sócio-

econômico.

Sim. Pois depende do

comprometimento

técnico e do trabalho

em equipe

multiprofissional.

Assistente social D (CRAS

3)

Uma relação possível Sim. A acomodação

de alguns profissionais

constitui um grande

entrave para o

exercício da relativa

autonomia e o

facilitador dela tem

sido a efetivação da

rede socioassistencial

e o comprometimento

ético-político dos

profissionais.

É a delimitação dos

direitos e deveres do

assistente social. Esse

projeto se apresenta no

cotidiano de trabalho

como um grande

instrumento para a

emancipação do

usuário e como

norteador do trabalho

do assistente social.

Sim. Defender o

SUAS é defender o

projeto ético-político

profissional.

Sim. Esse projeto é a

única forma de

consolidar nossa

profissão e o nosso

trabalho no SUAS.

Assistente social E

(CREAS)

Não respondeu. Sim. A nossa

autonomia se expressa

no domínio dos

instrumentais e na

forma de condução do

Um projeto que visa a

ruptura com o

conservadorismo. Ele

se apresenta na

conduta ética e

Sim. O SUAS e o

Projeto Profissional

visam a construção de

uma nova ordem

societária, com sua

Sim. Pois esse Projeto

é hegemônico e

democrático.

Page 157: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

nosso trabalho.

Limites: falta de

competência técnica e

de compromisso

profissional.

Possibilidades: espaço

de atuação de acordo

com o seu

compromisso

profissional.

política do

profissional.

gestão democrática

em favor da equidade

e justiça social.

Assistente social F

(CREAS)

Uma relação possível,

mas também uma

relação contraditória.

Sim. Limites:

acomodação

profissional e ausência

de qualificação e

competência

profissional.

Possibilidades:

articulação com a

equipe e com os

usuários.

Ele é um instrumento

que orienta o exercício

profissional. O projeto

profissional se

apresenta no

comprometimento do

profissional com a

garantia dos direitos e

emancipação dos

usuários.

Sim. Ambos se

pautam pela defesa da

plena expansão dos

direitos da classe

trabalhadora.

Sim. Ele faz parte da

nossa profissão e deve

ser reafirmado como

compromisso

profissional.

Nos quadros panorâmicos 4 e 5, podemos identificar a forma como as assistentes

sociais compreendem a autonomia relativa do fazer profissional e as tensões entre projeto

profissional e trabalho assalariado.

É importante notar a forma como a relativa autonomia é retratada pelas profissionais,

como condição para a efetivação do projeto ético-político profissional. Por outro lado, não

percebem que essa relativa autonomia também incide na compreensão da realidade social, que

implica no desvelamento da aparência, a fim de capturar a essência das mediações que

conectam os complexos sociais constitutivos e constituintes da totalidade do ser social.

Quando não se reconhece as relações sociais por meio das quais se realiza o trabalho

do assistente social, corre-se o risco de reduzir o projeto profissional ao nível do discurso da

vontade política do profissional (IAMAMOTO, 2007).

Perceber a realidade como totalidade, apanhando as contradições do real, de modo a

perseguir suas mediações, possibilita ao assistente social à captação de saberes explicativos e

interventivos para o enfrentamento das contradições que, encontram-se na essência dessa

própria realidade.

Page 158: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

A luta pela reafirmação e efetivação do projeto ético- político tem sido a grande

estratégia de alargamento da relativa autonomia profissional, contra a alienação do trabalho

assalariado no cotidiano dos espaços sócio-ocupacionais (RAICHELIS, 2010).

Mas, é preciso ter clareza dos limites da ação profissional, no que diz respeito ao

direcionamento social que este profissional pretende imprimir a sua intervenção e às reais

condições concretas que circunscrevem o seu trabalho, assim como o agravamento das

refrações sociais. Pois sem essa compreensão da realidade social, o profissional tende a perder

a perspectiva da história, ficando aquém das possibilidades que a realidade enseja ou numa

utopia romântica de idealização das possibilidades para muito além do que seu mandato

institucional lhe permite (IAMAMOTO, 2007).

Não podemos negar as possibilidades de ação contidas na realidade social, mas é

imprescindível a construção de propostas profissionais concernentes ao nosso tempo

histórico, que sejam capazes de “articular as lutas institucionais, vividas no cotidiano

profissional, com as lutas mais gerais da sociedade em defesa das políticas públicas universais

e de responsabilidade do Estado” (BRAVO, 2009, p. 704).

Nos quadros panorâmicos 4 e 5 também foi possível perceber alguns equívocos em

relação á percepção do que é o projeto ético-político.

Os dados sinalizam uma tendência de individualização de um projeto que é coletivo; a

falta de conhecimento sobre os elementos do projeto ético-político que permeiam a formação,

e a falta de clareza da materialidade70

desse projeto no cotidiano de trabalho, que não é

apresentado pelas entrevistadas como um produto das relações societárias que solidifica a

“auto-imagem” da profissão e a unicidade da categoria; odesconhecimento da existência de

intencionalidade nas ações materializadas pelos sujeitos- sejam ações conscientes ou não-

pois a categoria profissional aparece como uma representação de um coletivo sem direção

social.

Em relação às competências e atribuições profissionais, é notável a predominância na

política de Assistência Social de uma atuação pautada em abordagens individuais, familiares

ou grupais.

70 As entrevistadas pareciam desconhecer a materialidade desse projeto ético-político nos três marcos legais da profissão: o

Código de Ética do Assistente Social (1993), a Lei de Regulamentação da Profissão (1993) e as Diretrizes Curriculares

norteadoras da formação acadêmica (ABESS/CEDEPSS, 1996, 1997 a, 1997 b; MEC-SESU/CONESS/ Comissão de

Especialistas de Ensino em Serviço Social, 1990; MEC-SESU, 2001).

Page 159: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Há uma tendência de padronização de rotinas e procedimentos de intervenção, em que

profissionais buscam referenciar a sua atuação pela tipificação dos serviços, como uma

espécie de “tecnificação” dos atendimentos/acompanhamentos, restringindo as inúmeras

possibilidades de construção de respostas competentes, sintonizadas com a complexidade e

dinamicidade da realidade social.

A definição das estratégias e o uso dos instrumentais técnicos devem ser estabelecidos

pelo próprio profissional e não pelo órgão gestor. O instrumento, enquanto elemento dinâmico

e potencializador da ação, envolve um conjunto de recursos ou meio que permitem o

assistente social objetivar as finalidades de sua intervenção profissional (GUERRA, 2008).

Outra ambigüidade de conceituação encontra-se na forma como os usuários são

identificados pelos profissionais, o que demonstra a incorporação dessa definição pela própria

política de Assistência Social.

Os discursos ‘plagiados’ carregados de forte conotação liberal, como: vulnerabilidade

social, vigilância social, empowerment (empoderamento) são reproduzidos no cotidiano

institucional sem nenhuma clareza dos seus significados. Em nenhuma resposta há a

identificação do usuário enquanto pertencente à classe trabalhadora.

Ainda, cabe mencionar outro grande equívoco encontrado, que foi o da identificação

do projeto ético- político com o SUAS. A expressão: “defender o SUAS é defender o projeto

ético-político profissional71

”, é reveladora de uma grande tendência de confundir a profissão

com a política de Assistência Social.

O SUAS, mesmo representando a capacidade política de resistência dos atores

envolvidos na direção do reconhecimento legal da Assistência Social como política pública,

ainda possui uma perspectiva liberal, de provisão de mínimos sociais que auxiliam no

atendimento das carências humanas (sem abrir mão, da contrapartida do usuário do sistema),

de atenção minimalista e seletiva, que não contempla a todos os que demandam os serviços,

mas os que mais precisam; de amenização e controle das mazelas sociais, legitimando

ideologicamente a ordem e readequando os programas e projetos sociais ao atendimento da

extrema pobreza em tempos de extinção e de precarização de postos de trabalho e de criação

de uma massa de desempregados permanentes.

Precisamos compreender que o projeto profissional preconiza o reconhecimento da

liberdade; da autonomia; da emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais. Um

71 Relato da entrevistada (assistente social D) do CRAS 3.

Page 160: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

projeto coletivo, cujo compromisso ético- político profissional pauta-se na defesa

intransigente dos direitos humanos e na recusa do arbítrio e do autoritarismo; na ampliação e

consolidação da cidadania; na defesa do aprofundamento da democracia; no posicionamento

em favor da equidade e justiça social e no empenho da eliminação de todas as formas de

preconceito (BRASIL, 1993).

Page 161: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É inquestionável que a crise estrutural do capital vem provocando profundas

mudanças no redirecionamento do papel do Estado com o toque do privatismo da ideologia

neoliberal, a partir da defesa de uma desqualificação das funções estatais, o que pressupõe

uma erosão das suas regulações sob o discurso de um Estado mínimo, visando claramente à

liquidação de direitos sociais, o assalto ao patrimônio e ao fundo público (NETTO, 1996).

Influenciadas pela sociabilidade do capital, as políticas sociais, ficam cada vez mais

focalizadas, descentralizadas e privatizadas. O Estado vem se desresponsabilizando do seu

papel na esfera social, transferindo a responsabilidade para a sociedade civil organizada. O

indivíduo deixa de ser visto como sujeito de direito e passa a ser reduzido a condição de

cidadão consumidor (MOTA, 1995).

A formação política brasileira se deu pelo viés do favor, em que a coisa pública era

utilizada para favorecer interesses particulares de grupos poderosos. Essas marcas ainda estão

presentes na atualidade. O Estado é tido como um instrumento econômico particular de uma

pequena parcela da população, a classe dominante, diminuindo assim os espaços públicos e

aumentado os espaços privados. O assistente social vivencia tal fato em seu cotidiano de

trabalho, já que os direitos sociais, vão deixando de ser universais, pois o atual Estado

neoliberal vem intervindo com o intuito de garantir os mínimos sociais, a fim de aliviar a

pobreza, opondo-se radicalmente à universalidade e igualdade de direitos. O neoliberalismo

defende a ideia de que o indivíduo precisa buscar a satisfação de suas necessidades sem

depender do Estado (MOTA, 2010).

Essas transformações societárias rebatem no mercado de trabalho dos assistentes

sociais, tendo em vista que a maior inserção desses profissionais, historicamente, se dá na

esfera Estatal, causando um grande impacto a categoria.

As transformações acontecem através de novas requisições que são postas ao

profissional, seja pelas condições de trabalho impostas ou pela sua forma de se realizar.

Segundo Serra (apud MARCONSIN & FORTI, 2001), o Estado vem privatizando

instituições e serviços com o discurso de diminuição dos encargos sociais e trabalhistas, sendo

assim os profissionais passam a ser contratados por outras instituições, de naturezas diversas,

a chamada terceirização. Os assistentes sociais muitas vezes são absorvidos por instituições

Page 162: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

através da subcontratação, o que reafirma as formas precárias de inserção desses profissionais

no mercado de trabalho.

Entendemos que o Estado não é um bloco monolítico, ainda que seja, na ordem

burguesa, sempre, um Estado de classe social. Mas, acreditamos ser um Estado permeado

pelas lutas de classes que vai se moldando de tal forma a garantir a manutenção do poder da

classe burguesa. (COUTINHO, 1987).

O outro aspecto estar na construção da cidadania, no exercício da democracia através

da participação popular e política, no contexto em que a sociedade prega o individualismo,

que é uma característica neoliberal, de desmonte dos movimentos sociais e sindicais, de

ênfase no mérito individual e não na conquista coletiva (MOTA, 1995).

Dessa forma, considero que os avanços da Assistência Social no município de Rio

Bonito/RJ são notados a partir da implementação da LOAS e do SUAS, que trouxeram uma

nova forma de encarar a Assistência Social, que passa a ser vista como direito do cidadão e

dever do Estado.

A política de Assistência Social, a partir da implementação do SUAS, sofreu

mudanças significativas, refletindo impactos na organização do trabalho coletivo nos Centros

de Referência, na composição das equipes e nas rotinas institucionais. A municipalização das

políticas públicas vai ampliar o mercado de trabalho do assistente social e sua participação na

gestão social pública ou gerencial pública, requerendo uma qualificação desse profissional. E

isso amplia o “leque” de atribuições para os assistentes sociais (IAMAMOTO, 1998).

Mas o desafio que se impõe refere-se à universalização deste direito, requerendo maior

investimento estatal para que a Assistência Social se torne de fato uma política pública

universal.

Observam-se algumas mudanças ocorridas na política de Assistência Social com a

implementação do SUAS - alterações que na atualidade incidem no exercício profissional do

assistente social, tanto do ponto de vista teórico-metodológico, quanto ético-político e

técnico-operativo. Nesse contexto tão adverso, em que a contrarreforma do Estado e todas as

outras alterações promovidas no contexto da acumulação do capital têm se constituído como

um gigantesco limite, os profissionais de Serviço Social são desafiados a efetivar o projeto

Page 163: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

ético-político profissional no sentido da construção de uma contra-ideologia que questione os

pilares de sustentação da ordem vigente.

Por outro lado, também se observa que o momento coetâneo tem sido profícuo no que

se refere à ampliação dos espaços sócio-ocupacionais, devido ao processo de descentralização

das políticas sociais, com ênfase na municipalização, exigindo dos assistentes sociais novas

funções e competências. Conforme ressalta Iamamoto (2007, p. 208) a contemporaneidade

brasileira demanda profissionais com um perfil “culto, crítico e capaz de formular, recriar e

avaliar propostas que apontem para a progressiva democratização das relações sociais”.

Os profissionais sintonizados com o ritmo acelerado das mudanças são hábeis para

problematizar suas possibilidades reais de transformação da realidade, porém, não

significando, sua realização imediata, pois não se transforma a realidade apenas pelo

pensamento, ou pela consciência das alternativas e estratégias de projeção de finalidades

(MARX & ENGELS, 1998).

Entendo, que os profissionais que atuam conforme o projeto profissional crítico

conseguem forjar estratégias que valorizem a vida e contribuam para a radicalização da

democracia, da liberdade e cidadania. São profissionais que possuem maior clareza sobre seus

compromissos éticos e políticos, capazes de escolher com responsabilidade suas estratégias e

táticas, conhecendo os limites impostos pela condição de trabalhador assalariado, como

também, as possibilidades de ampliação e/ou alargamento de sua relativa autonomia.

Para finalizar a presente dissertação – sem, no entanto, pretender concluir essas

análises – volto ao eixo central da proposta afirmando que as relações sociais que

circunscrevem o trabalho do assistente social interferem decisivamente no significado social

do seu trabalho, impregnando-o de dilemas da alienação e de determinações sociais que

afetam a qualidade do exercício profissional, com a subordinação do conteúdo do trabalho aos

objetivos e necessidades das entidades empregadoras, levando o assistente social a exercer um

trabalho muito mais burocratizado e rotineiro.

Nesse sentido, cabe mencionar a forma como se processam as respostas dos assistentes

sociais entrevistados em relação às demandas dos usuários que buscam pelo Serviço Social no

âmbito da política de Assistência Social do município de Rio Bonito/RJ. Evidenciam-se

respostas permeadas por uma atuação imediata e pontual, sem planejamento necessário.

Constata-se que ainda temos muito a caminhar e a contribuir para sermos respeitados

enquanto detentores de conhecimentos para explicar a realidade e avançar na efetivação de

direitos, na perspectiva da emancipação humana.

Page 164: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Conforme enfatiza Iamamoto (2007), esta conjuntura solicita um profissional

qualificado e polivalente; exigem-se novas competências que remetam, direta, mas não

exclusivamente, à pesquisa, à produção de conhecimento e às alternativas de sua

instrumentalização - um profissional que tenha conhecimento da realidade social.

Em relação ao processo de trabalho no SUAS, ainda é predominante a inserção dos

assistentes social nos CRAS`s e CREAS do município de Rio Bonito/RJ por meio de contrato

precarizado, isto é, através de processo seletivo simplificado, de caráter temporário, crivado

pelo tráfico de influências, descumprindo a prerrogativa constitucional de contratação pela via

do concurso público.

A revolução tecnológica implica uma extraordinária economia do “trabalho vivo”,

reestruturando radicalmente o mercado de trabalho, seja alterando a relação entre

excluídos/incluídos, seja introduzindo novas modalidades de contratação (mais “flexíveis”, do

tipo “emprego precário”), seja criando novas estratificações e novas discriminações entre os

que trabalham - corte de sexo, idade, cor, etnia (ANTUNES, 2004).

Por outro lado, as lutas sociais, essenciais para o enfrentamento da questão social,

sofrem intenso refluxo. Muitos trabalhadores resistem a qualquer organização política,

temendo colocar em risco a sua fonte de sobrevivência, seja ela proveniente de um trabalho

formal ou informal.

A classe trabalhadora vem sofrendo a mais aguda crise do século, na sua

materialidade, na sua subjetividade e na sua forma de ser. Pois os principais impactos que o

mundo do trabalho vem sofrendo, no marco da reestruturação produtiva e da mundialização

do capital, decorrem da precarização dos empregos (ANTUNES, 2004).

Com os rebatimentos da contrarreforma do Estado, as condições sociais que permitem

a realização do trabalho do assistente social tendem a ser desreguladas e flexibilizadas, com

precárias condições e relações de trabalho. É nesse terreno denso de tensões e contradições

que se insere o assistente social na condição de trabalhador assalariado, sujeito à adequação

das exigências alheias e ao trabalho alienado. O desafio de alargamento da relativa autonomia

na condução do exercício profissional tem sido o primeiro passo que condiciona a

possibilidade de realização dos resultados projetados e de materialização do projeto

profissional em diferentes espaços ocupacionais (IAMAMOTO, 2007).

Os assistentes sociais entrevistados ponderam suas precárias condições de trabalho,

tais como: espaços físicos insuficientes, contratos de trabalho instáveis, instabilidade e

Page 165: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

insegurança no emprego, baixas remunerações e outros constrangimentos do trabalho

assalariado. Conforme sinalizado na hipótese desta dissertação, tais condições inflexionam as

possibilidades de materialização do projeto ético-político profissional, uma vez que impõe

uma posição de submissão do profissional no espaço sócio-ocupacional, com o

comprometimento da qualidade dos serviços e da estratégia de alargamento de sua relativa

autonomia.

Outro fator importante que merece ser mencionado é a defesa da qualidade dos

serviços sociais prestados, pois o efetivo funcionamento dos CRAS’s e CREAS é

imprescindível para o desempenho de suas funções e oferta com qualidade de serviços

socioassistenciais. Constituem alguns dos elementos a serem observados para o

funcionamento dos CRAS’s e CREAS: seu espaço físico, recursos humanos e materiais,

período de funcionamento e sua identificação. A preocupação com esses itens se deve ao fato

de que a realidade atual denuncia o grande desafio a ser enfrentado no âmbito dessa política: a

superação da concepção da Assistência Social enquanto uma política pobre, destinada aos

mais pobres, por meio de ações pobres, ofertadas em unidades pobres.

Nos diferentes espaços ocupacionais, o assistente social busca realizar uma ação de

cunho sociopolítico, que de acordo com Iamamoto (2009), vai além da garantia dos direitos

sociais aos usuários que demandam serviços nas Instituições e organizações, nas quais esse

técnico especializado trabalha. A sua ação também afirma compromisso com a garantia e

defesa da qualidade dos serviços sociais. Por isso Iamamoto (2009) menciona a necessidade

de um novo tipo de profissional “propositivo”, pois segundo ela (2009, p. 25) “o exercício da

profissão exige um sujeito profissional que tenha competência para propor, para negociar com

a instituição os seus projetos e para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e

atribuições profissionais”.

Nesse sentido, o profissional deve atuar referenciado numa prática que proporciona o

fortalecimento da população usuária, como sujeitos políticos, não se detendo apenas no

conhecimento da realidade, mas, sobretudo no dimensionamento de propostas competentes e

eficazes. Não obstante, a experiência relatada nesta dissertação nos mostra que, se por um

lado há muitas conquistas, por outro há, ainda, muito a se conquistar. Encerro essas

considerações finais com a indicação de Carlos Drummond de Andrade (1983), que afiança

em seu Canto Brasileiro:

Page 166: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Confuso amanhecer, de alma ofertante

e angustias sofreadas,

injustiças e fomes e contrates

e lutas e achados rutilantes

de riquezas da mente e do trabalho,

meu passo vai seguindo

no ziguezague de equívocos,

de esperanças que malogram mas renascem

de sua cinza morna.

Vai comigo meu projeto

entre sombras, minha luz

de bolso me orienta

ou sou eu mesmo o caminho a procurar-se?

Page 167: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABEPSS. Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Serviço Social:

direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

ABRAMIDES, M.B.C. Desafios do projeto profissional de ruptura com o

conservadorismo. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo: Cortez, nº 91, 2007.

ABREU, M. Serviço Social e a organização da cultura. São Paulo: Cortez, 2011.

ALMEIDA, N.L.T.;ALENCAR, M.T. Serviço social: trabalho e políticas públicas. Rio de

Janeiro: Saraiva, 2011.

ALMEIDA, N.L.T. Retomando a temática da “Sistematização da Prática em Serviço Social.

In: MOTA, Ana Elizabete (orgs.). Serviço Social e Saúde: Formação e Trabalho Profissional.

4 edição. SP: Cortez, 2009.

ANDRADE, C. D. Carlos Drummond de Andrade. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: nova

Aguiar, 1983. Volume único.

ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? (ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade

do mundo do trabalho). São Paulo: Cortez, 1995.

ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do

trabalho.2ª 2dição. SP: Boitempo, 2004.

ARAUJO, Cleonice C. ET al. A gestão do trabalho no âmbito do SUAS: uma análise com

base em resultados de pesquisa avaliativa. XI Encontro Nacional de Pesquisadores em

Serviço Social. São Luis: ABEPSS/UFMA, 2008.

ARRUDA, Antonio. Ética: na boca de todo mundo, ética perde o significado. Folha de São

Paulo, São Paulo, 26 set. 2002, Folha Equilíbrio, p. 8-10.

BARBOSA, R.N., CARDOSO, F.G. e ALMEIDA, N.L. A categoria processo de trabalho e

o trabalho do Assistente Social. In: Serviço Social e Sociedade nº 58. São Paulo: Cortez,

1998.

BARROCO, Maria Lúcia. Ética e Serviço Social . 2.ed. São Paulo: Cortez, 2003.

BEHRING, Elaine Rossetti. Rotação do capital e crise: fundamentos para compreender o

fundo público e a política social. In: SALVADOR, E. [et al.] (orgs.) Financeirização, fundo

público e política social. São Paulo: Cortez, 2012a.

Page 168: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

BEHRING, Elaine Rossetti. Expressões políticas da crise e as novas configurações do

Estado e da Sociedade Civil. CEAD: Serviço Social: Direitos Sociais e Competências

Profissionais. CFESS / ABPESS. SP: Cortez, 2009.

BEHRING, E.R. Brasil em contra-reforma: desestruturação do Estado e perda de

direitos. São Paulo:Cortez, 2003.

BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. 5. ed. São

Paulo: Cortez. 2008.

BEHRING, E. R. Acumulação capitalista, fundo público e política social. In:

BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Marxista - 2ª Ed. SP: Zahar, 2012.

BOSCHETTI, I., BEHRING, E. R., SANTOS, S. M. de M. dos., MIOTO, R. C. T. Política

social no capitalismo: tendências contemporâneas. 2ª ed. SP: Cortez, 2012b.

BOSCHETTI, Ivanete. A política da Seguridade Social no Brasil. In: Serviço Social:

Direitos Sociais e Competências Profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009, p. 324-338.

__________________. Seguridade Social e projeto ético-político do Serviço Social: que

direitos para qual cidadania? Serviço Social e Sociedade, SP, v. 79, p. 108-132, 2004.

BOSCHETTI, I.; SALVADOR, E. da S. Orçamento da Seguridade Social e política

econômica: perversa alquimia. Serviço Social e Sociedade, SP, v. 87, p. 25-57, 2006.

BIESTEK, Félix P. O relacionamento em serviço social de casos. Trad. Mercedes

Marchant. Porto Alegre: PUC-RS, 1960.

BOTTOMORE, T. Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor,

1997.

BORGES, Angela Maria Carvalho.O trabalho nos Serviços Sociais: privatização,

terceirização e descentralização. Trabalho apresentado no XVI Congresso Brasileiro de

Sociologia, no GT18 - Novas configurações do trabalho nos espaços urbano e rural- em

Salvador (BA), nos dias 10 a 13 de setembro de 2013.

BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social. Lei n. 8.742, de 07 de dezembro de 1993.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. SP: Editora Revista dos

Tribunais, 1991.

BRASIL. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – NOB

SUAS. Brasília: MDS, 2005.

Page 169: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

BRASIL. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – NOB

SUAS. Brasília, 2012

BRASIL. Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de

Assistência Social – NOB SUAS. Resolução CNAS n. 269 de 13 de dezembro de

2006.Brasília: MDS, 2006.

BRASIL. Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais. Resolução do CNAS N.

109 de 11 de dezembro de 2009.

BRASIL. CENSO SUAS. Brasília, 2010.

______. Fotografia da assistência social no Brasil na perspectiva do SUAS. Brasília:

MDS, 2005.

BRAVO, Maria Inês Souza Bravo & PEREIRA, Potyara A. P. (orgs.) Política social e

democracia. São Paulo, Cortez, 2001.

BRAVO, Maria Inês Souza. Política de Saúde no Brasil. In: MOTA, Ana Elizabete...[et al.]

(orgs). Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2009.

BRITO, José Henrique S. Introdução à fundamentação da metafísica dos costumes, de I.

Kant . Cidade do Porto – Portugal: Contraponto, 1994.

CARCANHOLO, Reinaldo A.. A atual crise do capitalismo. Artigo disponível

em<www.ifch.unicamp.br>. Acesso em 20/11/2008.

CARCANHOLO, Marcelo Dias. Crise econômica atual e seus impactos para a

organização da classe trabalhadora. In: Revista Aurora, ano IV, n. 06, agosto de 2010.

CARVALHO, M.C Brant e NETTO, J.P.. “Cotidiano: Conhecimento e crítica”. 4. Edição.

Cortez Editora. São Paulo. 2005.

CFESS/CRESS. Assistentes Sociais no Brasil: elementos para o estudo do perfil

profissional. Brasília: CEFESS/CRESS/UFAL, 2005.

CFESS/CRESS. Código de Ética do Assistente Social. Brasília, 1993.

CFESS/CRESS. Lei de Regulamentação da Profissão. Brasília, 1993.

CHESNAIS, François. A Mundialização do Capital. São Paulo, Ed. Xamã, 1996.

CHESNAIS, François. A finança mundializada. SP: Boitempo, 1999.

COUTINHO, C.N. Hegel e a Democracia.São Paulo: IEA/USP, 1997. Texto disponível em

<http://www.iea.usp.br/textos/coutinhohegel.pdf>. Acesso em 20/11/2012.

COUTINHO, C. N. A dualidade dos poderes: Estado, revolução e democracia na teoria

marxista. São Paulo: Brasiliense, 2ª ed., 1987.

Page 170: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

COUTINHO, Carlos Nelson. Notas sobre a cidadania e modernidade. Praia vermelha. Rio de

Janeiro: UFRJ, 1997.

_______________. Crítica e utopia em Rousseau.In ____________. De Rousseau a

Gramsci. São Paulo: Boitempo, 2011.

_______________. A dualidade de poderes: Estado e revolução no pensamento marxista.

In _______________. Marxismo e política – a dualidade de poderes e outros ensaios. São

Paulo: Cortez Editora, 2008.

COSTA, G.M. Aproximação ao Serviço Social como complexo ideológico.Temporalis,

Brasília: Abepss, Ano I, nº 2, p.95-115. julho-dezembro, 2000.

COSTA, Maria Dalva Horácio. Os serviços na contemporaneidade: nota sobre o trabalho

nos serviços. MOTTA, A.E. A fábrica de consensos. São Paulo: Cortez, 2010.

_________________________. O trabalho nos serviços de saúde e a inserção dos

assistentes sociais. In: MOTA, Ana Elizabete et alli (orgs). Serviço Social e Saúde: Formação

e Trabalho Profissional. São Paulo: Cortez; Brasília : OPAS, OMS, Ministério da Saúde;

Recife: ABEPSS, 2009.

CRESS 7ªR. Assistência Social: ética e direitos. Coletânea de leis e resoluções. Inclui texto

sobre o projeto ético-político. 4ªed. Rio de Janeiro, 2007;

DAHMER, Larissa Pereira. A gestão da força de trabalho em saúde na década de 1990.

Revista Phisis, UERJ, 2004.

DURIGUETTO, M. L. Sociedade civil e democracia – um debate necessário. São Paulo:

Cortez Editora, 2007.

FERNANDES, Solange. Estado e política de assistência social: particularidades do

trabalho do assistente social nos Centros de Referência de Assistência Social do Estado

do Paraná. Tese de Doutorado. São Paulo: PUC, 2008.

FLEURY, S. Novas Bases para retomada da Seguridade Social. In: Revista Praia Vermelha,

Rio de Janeiro, nº 09, 2003.

GENTIL, Denise Lobato. A política fiscal e a falsa crise do sistema de Seguridade Social

brasileira. Tese de doutorado, disponível em: www.ie.ufrj.br. Acesso em 20/08/2007.

GONÇALVES, Reinaldo. Redução da desigualdade da renda no governo Lula: análise

comparativa. In: SALVADOR, E. [et al.] (orgs.) Financeirização, fundo público e política

social. São Paulo: Cortez, 2012.

Page 171: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

GONH, Maria da Glória M. A pesquisa nas ciências sociais. Considerações metodológicas.

In: Cadernos CEDES nº 12. São Paulo, Cortez, 1984.

GUEDES, Olegna S. Reflexões sobre projeto societário e formação profissional no

serviços social brasileiro (1938/1964). Londrina, 2003a. Digitado. Não paginado.

______. Personalismo. Londrina, 2003b. Digitado. Não paginado.

______. Direitos humanos no século XX. Londrina, 2002a. Digitado. Não paginado.

______. Vulnerabilidade : conceitos e perspectivas de análise. Londrina, 2002b. Digitado.

Não paginado.

GUERRA, Yolanda. Ontologia social e formação profissional. In: NÚCLEO DE

ESTUDOS E APROFUNDAMENTO MARXISTA. Ontologia social, formação

profissional e política. São Paulo: PUC-SP, 1997.

_________________. A instrumentalidade do trabalho do assistente social. In: Conselho

Regional de Serviço Social de Minas Gerais – 6ª Região (Org.) Simpósio Mineiro de

Assistentes sociais. 1 ed. Belo Horizonte: CRESS 6ª Região, 2008.

.__________. O projeto profissional crítico: estratégia de enfrentamento das condições

contemporâneas da prática profissional. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo:

Cortez, nº 91, 2007.

GUIMARÃES, Maria Carolina S.; NOVAES, Sylvia C. Autonomia reduzida e

vulnerabilidade: liberdade de decisão, diferença e desigualdade. Revista Bioética, São Paulo,

v.07, n.01, p. 21-24, 1999.

HARVEY, David. Condição Pós-moderna. 7ª. Edição. São Paulo, Ed. Loyola, 1989. (Parte

2: A Transformação político-econômica do capitalismo do final do século XX)

HARVEY, David. O neoliberalismo. História e implicações. São Paulo: Loyola, 2008. (Cap.

3 O Estado Neoliberal).

_____. O Enigma do Capital e as crises do Capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2011.

IANNI, O. A tentação metodológica. In: A sociologia e o mundo moderno. RJ: Civilização

Brasileira. 2011.

Page 172: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

IAMAMOTO, M. V. “Capital fetiche, questão social e Serviço Social.” In: Serviço Social em

tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. São Paulo: Cortez,

2007.

IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação

profissional. 13ª. Edição. SP: Cortez, 1998.

IAMAMOTO, Marilda V. Renovação e conservadorismo no Serviço Social. SP: Cortez,

2001.

IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na Cena Contemporânea. CEAD: Serviço

Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais. CFESS / ABPESS. SP: Cortez, 2009.

IAMAMOTO, Marilda V. Trabalho e Indivíduo Social. SP: Cortez, 2010.

IAMAMOTO, M. V & CARVALHO, R. Relações sociais e Serviço Social no Brasil. 36ª ed.

São Paulo: Cortez, 2012.

IBGE. Censo Demográfico. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro,

2010 e 2011.

LEFÉBVRE, H. Teoria do Conhecimento. Capítulo I. In Lógica Formal, lógica dialética. 3ª

ed. RJ: Civilização Brasileira, 1975.

LÊNIN, V. Imperialismo, fase superior do capitalismo. Tradução Leila Prado. SP:

Centauro, 2005.

LESSA, Sérgio. Serviço Social e Trabalho: do que se trata?Temporalis, Brasília: Abepss,

Ano I, nº 2, p.35-58. julho-dezembro, 2000.

______. Trabalho e proletariado no capitalismo contemporâneo. São Paulo: Cortez, 2007.

______. Serviço Social e trabalho: Por quê o Serviço Social não é trabalho? São Paulo:

Cortez, 2007.

LUKÁCS, Georg.. A ontologia do Ser Social. Ciências Humanas, Edição Brasileira:São

Paulo, 1979. Vol. 01 e 02.

MANCE, Euclides A. Subjetividade, imaginário e utopias . Disponível em

<http://www.milenio.com.br/mance/biblioteca.htm >. Acesso em: 11/08/2003.

Page 173: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

MARCONSIN, C. & FORTI, V. “Em tempos neoliberais, o trabalho dos assistentes

sociais em cena.” In: SERRA, R. (org.). Trabalho e reprodução: enfoques e abordagens. São

Paulo: Cortez, 2001, p. 207-223.

MANDEL, E. A crise do capital; os fatos e sua interpretação marxista. SP: Ensaios, 1999.

MANDEL, E. O capitalismo tardio. SP: Abril Cultural, 1990 (os economistas).

MARTINS, José de Souza. A sociedade vista do abismo: novos estudos sobre exclusão,

pobreza e classes sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

MATOS, Olgária Chaim Féres. A rosa de Paracelso. In: NOVAES, Adauto (Org.).

Tempo e História; – São Paulo: Companhia das Letras: Secretaria Municipal da Cultura,

1992, p.244.

MARX, k. Crítica da Filodofia do Direito de Hegel. SP: Boitempo. 2ª ed, 2005. Disponível

em:http://www.afoiceeomartelo.com.br/posfsa/Autores/Marx,%20Karl/Critica%20da%20Filo

sofia%20do%20Direito%20de%20Hegel.pdf.>. Acesso em 17/05/2010.

MARX, Karl. O capital. (Crítica da Economia Política). O processo de produção

Capitalista. Livro 1 e 2. Vol. I – 2ª ed. Trad. Reginaldo Sant Anna. RJ: Civilização Brasileira,

1971. Cap. XXIII.

MARX, Karl. Manuscritos económico-filosóficos de 1844. Trad. Maria Antonia Pacheco.

Lisboa – Portugal: Avante, 1993.

______. Contribuição à economia política. Trad. Maria Helena L. Alves. 2.ed. São Paulo:

Martins Fontes, 1965.

______. Manuscritos econômico-filosóficos de 1844. In: Manuscritos econômico-filosóficos e

outros textos escolhidos. SP: Abril Cultural, 1974.

______. Teses sobre Feuerbach. In: MARX, K. & ENGELS, F. Textos 1. São Paulo: Sociais,

1970.

______. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. In: O 18 Brumário e cartas a Kugelmann. 4. Ed.

RJ: Paz e Terra, 1978.

Page 174: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

______. Elementos fundamentales para La Crítica de La Economía Politica. (Grundrisse).

1857-1858. 12 ed. México, Siglo XXI, 1980, 2 vols.

______. Manuscritos econômico-filosóficos: terceiro manuscrito. In: GIANOTTI, José Arthur

(org.). Manuscritos econômicos-filosóficos e outros textos escolhidos. Trad. José Carlos

Bruni (et alli). Coleção Os Pensadores. 2.ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 1-48.

____________. Capítulo VI Inédito de O Capital. Resultados do processo de Produção

Imediata. São Paulo: ed. Moraes, 1969.

MARX, K. O capital. Crítica da Economia Política. RJ: Civilização Brasileira, 1968, t. I e

II; 1970, t. II; 1974, t. IV – VI.

_________. Mais-valia absoluta e mais-valia relativa. In: O capital: crítica da economia

política. 20. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. Livro 1, V. 2.

MARX, K. O Capital. Tomo 3. Vol. II. Cap. XXIX – Partes constitutivas do capital

bancário.

MARX, K. e ENGELS, F. “A ideologia Alemã”. (I- Feuerbach). Tradução de José Carlos

Bruni e Marcos Aurélio Nogueira. 8ª ed. São Paulo: HUCITEC, 1991.

_______________________. A ideologia alemã (Feuerbach). Barcelona, Grijalbo, 1977.

_______________________.Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 1998.

MÉSZÁROS, I. O conceito de alienação em Marx. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.

____________. A crise estrutural do capital. Artigo publicado por exilados iranianos, se seu

livro Beyond capital (além do capital, SP: Boitempo, 1998).

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade.

18ª. Edição. Petrópolis / RJ: Vozes, 1994.

MIOTO, Regina Célia Tamaso. “Família e serviço social – contribuições para o debate” in

Serviço Social & Sociedade. São Paulo, Cortez, n°55, 1997;

MIOTO, Regina Célia Tamaso. Orientação e acompanhamento social a indivíduos, grupos e

famílias. ABEPSS. Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Serviço

Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

MONTAÑO, Carlos. Terceiro setor e questão social. Crítica ao padrão emergente de

intervenção social. 4ªed. São Paulo, 2007;

Page 175: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

__________________. A natureza do Serviço Social. SP: Cortez, 1998.

MOTA, Ana E. Cultura da Crise e Seguridade Social. Um estudo sobre as tendências da

previdência e da assistência social brasileira nos anos 80 e 90. SP, Cortez, 1995.

MOTA, Ana E., AMARAL, Angela e PERUZZO, Juliane. O novo desenvolvimentismo e as

políticas sociais na América Latina. In: MOTA, Ana Elizabete (org.) Desenvolvimentismo e

construção da hegemonia.Crescimento econômico e reprodução da desigualdade. São Paulo:

Cortez, 2012.

MOTA, Ana E. O mito da Assistência social: ensaios sobre Estado, Política e Sociedade. 4ª

Ed. SP: Cortez, 2010.

MOTA, Ana Elizabete et alli (orgs). Serviço Social e Saúde: Formação e Trabalho

Profissional. São Paulo: Cortez; Brasília : OPAS, OMS, Ministério da Saúde; Recife:

ABEPSS, 2009.

MONNERAT, Giselle L., SOUZA, R. G. de. Da seguridade social à intersetorialidade:

reflexões sobre a integração das políticas sociais no Brasil. Revista Katál., Florianópolis, v.

14, n. 01, p. 41-49, jan./jun. 2011.

NETO, Otávio Cruz. O trabalho de campo como descoberta e criação. In: MINAYO, M.

C. de S. (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 24ª ed., Petrópolis, RJ: Vozes,

1994.

NETTO, José Paulo e BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. 3.ed.-

São Paulo: Cortez, 2007.

NETTO, J. P. Introdução ao método da teoria social. In: Serviço Social –direitos sociais e

competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

NETTO, José Paulo. A construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social. In: Serviço

Social e Saúde: Formação e Trabalho Profissional. 4ª. Ed. SP: Cortez, 2006.

NETTO, José Paulo. Ditadura e serviço social. Uma análise do serviço social pós-64. São

Paulo, Cortez, 1991;

______. “Transformações societárias e serviço social: notas para uma análise

prospectiva da profissão no Brasil.” In: Serviço Social & Sociedade. São Paulo, Cortez, n°

50, 1996;

_____________. Capitalismo monopolista y Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1992.

ORTOLANI, Flávia. Desafios para a consolidação da NOB-RH/SUAS nos municípios. V

Jornada Internacional de Políticas Públicas. São Luis: UFMA, 2011.

Page 176: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

PEREIRA, Potyara. Utopias desenvolvimentistas e política social no Brasil. In: Serviço

Social e Sociedade, São Paulo, n. 112, p. 729-753, out./dez. 2012.

PEREIRA, P. A. P. A Política Social no contexto da seguridade social e do Welfare State:

a particularidade da assistência social. In: Serviço Social e Sociedade. SP, n.56, p.61-76,

1998.

POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – PNAS. Resolução nº 145, de 15 de

outubro de 2004, do Conselho Nacional de Assistência Social, publicada no Diário Oficial da

União de 28 de outubro de 2004.

RAICHELIS, Raquel. Intervenção profissional do assistente social e as condições de

trabalho no SUAS. Serviço Social e Sociedade, n.104 (online). São Paulo: Cortez, 2010.

RAICHELIS, Raquel. Esfera pública e conselhos de assistência social: caminhos da

construção democrática. São Paulo, Cortez, 2008;

RAICHELIS, R. O trabalho do assistente social na esfera estatal. In: CFESS. Serviço

Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS, 2009. p. 378 – 391.

SALVADOR, E. [et al.] (orgs.) Financeirização, fundo público e política social. São Paulo:

Cortez, 2012.

SALVADOR, E. Fundo Público e Seguridade Social no Brasil. SP: Cortez, 2006.

SCHONS, Selma Maria. Assistência Social entre a ordem e a “desordem”- Mistificação

dos direitos sociais e da cidadania. 2ª Ed. SP: Cortez, 2003.

SILVA, Gisele Souza da. Transferências de renda e monetarização das políticas sociais:

estratégia de captura do fundo público pelo capital portador de juros. In:SALVADOR,

E. [et al.] (orgs.) Financeirização, fundo público e política social. São Paulo: Cortez, 2012.

SILVEIRA, Jucimeri Isolda. A centralidade do trabalho e da formação continuada no

SUAS: realidade e agenda política. VIII Conferência Nacional de Assistência Social:

consolidar o SUAS e valorizar seus trabalhadores. Brasília: Conselho Nacional de Assistência

Social, MDS, 2011.

SIMÕES, Carlos. Curso de Direito do Serviço Social. Biblioteca Básica de Serviço Social.

Volume 3. São Paulo, Cortez, 2006;

SOARES, Clara Luiza se Moraes. Rio Bonito, sua história, sua gente; um estudo sobre o

município de Rio Bonito. GOLDEN CROSS, 1988.

Page 177: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

SOUZA,Gelson Gomes Carneiro de. Para a construção de um colégio: a ampliação da

rede escolar pública municipal de Rio Bonito (1977 a 1982). Trabalho publicado em Anais

do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História,

Letras, Direito e Psicologia – 2011. Disponível em

<http://www.congressohistoriajatai.org/anais2011/link%20120.pdf>. Acesso em 03/08/2011.

SPOSATI, A. de Oliveira. Assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma

questão em análise. SP: Cortez, 2001.

TCU. Relatório Tribunal de Contas da União do exercício de 2009 e 2010.

UGÁ, Vivian Doménguez. A categoria“pobreza” nas formulações de política social do

Banco Mundial. In: Revista de Sociologia e Política, n. 23, Curitiba, novembro de 2004.

YASBEK, Maria Carmelita. Classes subalternas e Assistência Social. SP: Cortez, 1993.

YAZBEK, Maria Carmelita. Os fundamentos históricos e teórico-metodológicos do

Serviço Social brasileiro na contemporaneidade. CEAD: Serviço Social: Direitos Sociais e

Competências Profissionais. CFESS / ABPESS. SP: Cortez, 2009.

YAZBEK, Maria Carmelita. “A assistência social: história eperspectivas”. In: Serviço

Social & Sociedade. São Paulo, Cortez, n°85, 2006.

Page 178: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

APÊNDICE A – Pesquisa documental no Banco de Teses e dissertações da CAPES

(2008-2012) 72

:

DISSERTAÇÕES SOBRE O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL: TRABALHO ASSALARIADO E PROJETO PROFISSIONAL (2008-2012)

(COSTA, 2008). “INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL: dimensões teórico-metodológica, ético

política e técnico-operativa e exercício profissional”. Mestrado. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

GRANDE DO NORTE – SERVIÇO SOCIAL.

(PEIXOTO, 2008). “Projeto Profissional do Serviço Social: as expressões da dimensão ético-política no

exercício profissional dos gestores da Secretaria Municipal de Assistência de Fortaleza”. Mestrado.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - SERVIÇO SOCIAL.

(MORAES, 2009). “O PROCESSO DE ASSISTENCIALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS E O

SERVIÇO SOCIAL”. Mestrado. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - SERVIÇO SOCIAL.

(GIMENES, 2009). “Política Nacional de Assistência Social: perspectivas para o exercício profissional do

assistente social”. Mestrado. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA

FILHO/FRANCA - SERVIÇO SOCIAL.

(DANTAS, 2010). “PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS DOS CENTROS

DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL DE CAMPINA GRANDE”. Mestrado. UNIVERSIDADE

FEDERAL DA PARAÍBA/JOÃO PESSOA – SERVIÇO SOCIAL.

(SILVA, 2010). “O Processo de Materialização do Projeto Ético-Político do Serviço Social no Trabalho do

Assistente Social”. Mestrado. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL -

SERVIÇO SOCIAL.

(VARANDAS, 2011). “Análise da Direção Ético Política do Assistente Social na Perspectiva do Projeto

Hegemônico Profissional”. Mestrado. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA

FILHO/FRANCA – SERVIÇO SOCIAL.

(MEDEIROS, 2011). “Condições de Trabalho e Materialização do Projeto Ético-Político do Serviço Social:

Particularidades da Assistência Social”. Mestrado. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO

NORTE – SERVIÇO SOCIAL.

(SILVA, 2011). “Projeto ético-político e consciência de classe: uma relação dialética, reflexões sobre o

exercício profissional/político das/dos Assistentes sociais dos Centros de Referência de Assistência Social

(CRAS) em Recife”. Mestrado. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - SERVIÇO SOCIAL.

(PEQUENO, 2012). “Serviço Social e Assistência Social: Conservadorismo ou Direção Histórico-crítica?”.

Mestrado. UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - SERVIÇO SOCIAL.

(SIMIMÕES, 2012). “Autonomia profissional x trabalho assalariado: exercício profissional do Assistente

Social”. Mestrado. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA - SERVIÇO SOCIAL.

(PEREIRA, 2012). “A EXPANSÃO DO MERCADO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL X

PRECARIZACÃO NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL NO SUAS EM NATAL-RN: uma análise das

condições e relações de trabalho”. Mestrado. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE –

SERVIÇO SOCIAL.

72

Fonte: (www.capes.gov.br/serviços/banco-de-teses).

Page 179: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

APÊNDICE B- Termo de consentimento para realização da pesquisa de campo

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado(a) e/ou participar

na pesquisa de campo referente ao projeto/pesquisa

intitulado(a) O Serviço Social no contexto do SUAS:limites e desafios postos ao exercício

profissional, realizado pelo Grupo de Pesquisa de Economia Política da Pobreza e da

Desigualdade-GPODE-Escola de Serviço Social, UFF-Niterói. Fui informado(a), ainda, de

que a pesquisa é coordenada por pela ProfªDrª Simone Rocha da Rocha Pires Monteiro, a

quem poderei contatar / consultar a qualquer momento que julgar necessário através do

telefone nº(21)-26292734 ou e-mail [email protected].

Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o

sucesso da pesquisa. Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadêmicos do estudo, que,

em linhas gerais é compreender as demandas e respostas profissionais que os assistentes

sociais têm no contexto do Sistema único de Assistência Social.

Fui também esclarecido(a) de que os usos das informações por mim oferecidas estão

submetidos às normas éticas destinadas à pesquisa envolvendo seres humanos, da Comissão

Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) .Minha colaboração se fará de forma anônima, por

meio de entrevista semi-estruturada/questionário.

O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pelo(a) pesquisador(a) e/ou

seu(s) orientador(es) / coordenador(es). Fui ainda informado(a) de que posso me retirar

desse(a) estudo / pesquisa / programa a qualquer momento, sem prejuízo para meu

acompanhamento ou sofrer quaisquer sanções ou constrangimentos.

Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de consentimento Livre e Esclarecido,

conforme recomendações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

Niterói, ____ de _________________ de _____

Assinatura do(a) participante: ______________________________

Assinatura do(a) pesquisador(a): Senir Santos da Hora.

Page 180: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

APÊNDICE C- Roteiro para entrevista com profissionais dos CRAS e CREAS.

Nome que identifica o CRAS: __________________________________________

Nome que identifica o CREAS:_________________________________________

Perfil do Assistente Social:

1- Sexo / idade

( ) Masculino ( ) Feminino

Idade: _____________________

2- Qual sua renda (em salários mínimos)?

( ) até 3 S/M ( ) de 4 – 6 S/M ( ) de 7 – 9 S/M ( ) mais de 9 S/M

3- Quantos vínculos empregatícios você possui, além do CRAS ou CREAS?

( ) nenhum ( ) um ( ) dois ( )três ou mais

Se mais de um é como assistente social?.....................................

4- Qual o seu vínculo empregatício no CRAS ou CREAS?

( ) Estatutário ( ) CLT ( )Comissionado ( ) Sem vínculo permanente – Duração desse

vínculo: ________________

5- Tempo de jornada enquanto assistente social: ____________________________

6- Quais os caminhos que te levaram a esta área? Por que você veio para este campo?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

________________________________________________________________

7- Formação continuada: só graduação ( ) possui especialização ou cursando ( ) mestrado ou

cursando ( ) doutorado ou cursando ( )

8- Qual sua carga horária no CRAS ou CREAS?

( ) 20h ( ) 30h ( ) 40h( ) mais de 40h

Processos de trabalho:

9- Como é composta a equipe? Interdisciplinar ou multidisciplinar?

10- Como o Serviço Social se relaciona com a equipe de trabalho? O trabalho é coletivo?

11- Como registra e sistematiza o exercício profissional?

12- Planeja e avalia suas ações? De que forma?

13- Desenvolve trabalho com as famílias? Quais?

14- De que forma o Serviço Social se articula com as Instituições públicas?

15- Quais questões na atualidade que você considera centrais para o trabalho do assistente social

na sua área de atuação?

16- Como o Serviço Social se articula com a rede? De que forma? Participa de algum Conselho?

Qual?

Page 181: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

17- Você está vinculado a algum sindicato ou movimento social? Cite, caso esteja vinculado.

18- Quais ações tem desenvolvido para superar o traço assistencialista que permeia esta área de

atuação?

19- Quais requisições tem se apresentado no cotidiano de sua atuação nesta área?

20- Quais têm dado conta de responder?

21- Quais as possibilidades e limites para atuação do Serviço Social e para efetivação do projeto

profissional neste campo de atuação?

22- Como o Serviço Social percebe a relação entre autonomia relativa e o projeto ético político?

23- Como você descreve o usuário dos serviços deste equipamento?

24- Qual a sua compreensão sobre o projeto ético político? E de que forma ele se apresenta no

cotidiano do trabalho do Serviço Social?

25- Existe alguma relação do projeto ético político profissional com o SUAS? Justifique.

26- Acredita na efetivação do projeto ético político no seu campo de atuação? Justifique.

27- Durante a sua formação quais foram as disciplinas que lhe proporcionaram o contacto ao

projeto ético político? Cite as disciplinas.

28- Quantos anos atua nesta

instituição?______________________________________________________

29- Qual é competência/atribuição do trabalho do serviço social?

30- Quais os instrumentos de intervenção são utilizados no processo de trabalho?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

______________

31- Após sua entrada na instituição você criou algum outro instrumento de trabalho? Qual a

finalidade?

_______________________________________________________________________________

_______

32- Quais os desafios postos para o Serviço Social?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

___________________

33- Consegue-se implantar o Projeto Ético-Político no processo de trabalho do Serviço Social na

instituição onde atua?

Page 182: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________

34- Consegue-se ter autonomia durante o processo de trabalho exercido na instituição?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

___________________________________________

35- Quais os entraves e facilidades para o exercício da relativa autonomia?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

___________________

36- Quais são as condições de trabalho nas questões de: espaço e contrato de trabalho?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________

37- O que você percebe que mudou a partir da implementação do SUAS?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________

38- Como você percebe os eixos estruturantes do SUAS, eles se materializam? Como?

a)Matricialidadesócio-familiar:

Descentralidade/territorialização:

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________

b) Controle social:

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

______________

c) Novas bases entre Estado e Sociedade Civil:

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________

39- Você percebe que a partir da implementação do SUAS há uma especificidade para o trabalho

do assistente social? Em quê? Como se caracteriza?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

______________

40- Estabelecem-se metas e objetivos específicos para o Serviço Social? Em caso afirmativo quem

os estabelece e como?

_______________________________________________________________________________

_______

_______________________________________________________________________________

_______

41- Há um trabalho interdisciplinar na instituição? Você percebe a distinção das funções entre as

demais categorias?

Page 183: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

______________

42- Como se realiza a relação do Serviço Social com as demais categorias profissionais?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

______________

43- Atualmente você realiza supervisão de estágio?

_______________________________________________________________________________

_______

44- Existe um Programa de capacitação técnica?

__________________________________________________________________________________

_______

Órgão Gestor da Assistência Social:

45- Caracterização do Órgão Gestor?é específico? O gestor é técnico? Em que área?

___________________________________________________________________

Com relação ao CRAS

Quais as maiores demandas deste CRAS?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

___________________________________________

46- Qual a origem (quem) como elas chegam aos CRAS?

( ) Espontânea ( ) Institucional

[ ] individual [ ]coletiva [ ] individual [ ] coletiva

__________________________________________________

Recursos Humanos:

47- Quantidade de funcionários neste CRAS?

______________________________

Quem compõe a Equipe técnica deste CRAS? E quais suas Atribuições ?

( ) Assistente Social Nº ( )

Atribuições:_____________________________________________________

( ) Terapeuta ocupacional Nº ( )

Atribuições:_______________________________________________

( ) Psicólogo Nº ( ) Atribuições:________________________-

__________________________________

( ) Pedagogo Nº ( )

Atribuições:____________________________________________________________

( ) Advogado ( )

Atribuições:____________________________________________________________

48- Qual a carga horária destes funcionários?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________

Serviços e programas:

49- Capacidade de referenciamento deste CRAS?(quantidade de famílias)

__________________________________________________________________

50- Quais Programas são ofertados

( ) Serviço de Proteção e Atenção integral à família - PAIF

( ) Programa de Atenção à Criança - PAC

( ) PROJOVEM ( ) BPC ( )Bolsa Família ( )Cadastro Único

( ) Programa Erradicação do trabalho Infantil – PETI

( ) Apoio Criança e adolescente (Casa de passagem/ abrigo)

Page 184: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

51- Essas atividades são desenvolvidas de que maneira?

( ) Em ação isolada do Serviço Social

( )Em parceria com a rede sociaoassistencial

( )Em equipe multidisciplinar

( )Outros:___________________________________________________________

52- Como ocorre o planejamento para realização das atividades?

a) Em cada CRAS há um coordenador?

___________________________________________________________________

b) Há um plano de trabalho ou ação?

___________________________________________________________________

c) Quem elabora esse plano? Há participação dos profissionais e/ou população usuária?

___________________________________________________________________

Recursos materiais e financeiros:

53- A fonte de Financiamento deste CRAS?

__________________________________________________________________

54- Recursos transferidos para o CRAS?

___________________________________________________________________

55- Quais são os recursos materiais disponíveis para o desenvolvimento do trabalho no CRAS?

( ) Sala de atendimento individualizado com privacidade

( )Computador com acesso a internet

( ) Telefone

( ) Espaço para realização de atividades grupais

( ) Transporte para visita

( )Outros: __________________________________________________________

56- Horário de funcionamento deste CRAS?

___________________________________________________________________

Com relação ao CREAS

Recursos Humanos:

57- Quantidade de funcionários neste CREAS?

______________________________

Quem compõe a Equipe técnica deste CRAS? E quais suas Atribuições ?

( ) Assistente Social Nº ( )

Atribuições:_____________________________________________________

( ) Terapeuta ocupacional Nº ( )

Atribuições:_______________________________________________

( ) Psicólogo Nº ( ) Atribuições:________________________-

__________________________________

( ) Pedagogo Nº ( )

Atribuições:____________________________________________________________

( ) Advogado ( )

Atribuições:______________________________________________________________

Outros:____________________________________________________________________________

____

58- Qual a carga horária destes

funcionários?_____________________________________________________

59- Quais os tipos de vínculos

predominantes:____________________________________________________

60- A equipe é dividida por serviços ou todos atendem a todos

programas?______________________________

Page 185: O Serviço Social na Política de Assistência Social: discutindo as … · 2019. 12. 20. · Social e Serviço Social, versa sobre o trabalho do assistente social na política de

Serviços e programas:

61- Capacidade de referenciamento deste CREAS?(quantidade de famílias)por equipamento

62- Quantos o município dispõe?

__________________________________________________________________

63- Quais Programas são ofertados

( ) Serviço de Proteção e Atendimento Especializado às Famílias e Indivíduos - PAEFI

( ) Programa Erradicação do trabalho Infantil – PETI

( )Programa de enfrentamento ao abuso e exploração sexual contra criança e adolescente -

Sentinela

( ) Apoio Criança e adolescente (Casa de passagem/ abrigo)

( )programa de enfrentamento à violência contra mulher?

( )programa de enfrentamento à violência contra idoso?

( ) Medida sócio-educativa

( )População de Rua

64- Essas atividades são desenvolvidas de que maneira?

( )Em parceria com a rede sociaoassistencial Caso sim, com quem?

( )Em equipe multidisciplinar

( )Outros:___________________________________________________________

65- Como ocorre o planejamento para realização das atividades? São interdisciplinares,

exemplifique.

d) Há um coordenador? Tem formação superior?De que área é?

Recursos materiais e financeiros:

66- A fonte de Financiamento deste CREAS?

67- Quais são os recursos materiais disponíveis para o desenvolvimento do trabalho no CREAS?

( ) Sala de atendimento individualizado com privacidade

( )Computador com acesso a internet

( ) Telefone

( ) Espaço para realização de atividades grupais

( ) Transporte para visita

( )Outros: __________________________________________________________

68- Horário de funcionamento deste CREAS?

___________________________________________________________________