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O Setor Histórico de Curitiba na construção da imagem da “cidade- modelo” de Curitiba The historical area of Curitiba as tool for the image of "model city" of Curitiba Taís Silva Rocha D’Angelis 1 , Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected] Maria Cristina Cabral Nascentes 2 , Universidade Federal do Rio de Janeiro, [email protected] 1 Taís Silva Rocha D’Angelis Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente leciona no curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Estácio de Curitiba. 2 Maria Cristina Cabral Nascentes. Docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROURB) da mesma instituição. Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986), mestrado em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1996) e doutorado em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade

O Setor Histórico de Curitiba na construção da imagem da ... · S ESSÕES TEMÁTICA 7:CIDADEEHISTÓRIA DESENVOLVIMENTO, CRISE E RESISTÊNCIA: QUAIS OS CAMINHOS DO PLANEJAMENTO

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OSetorHistóricodeCuritibanaconstruçãodaimagemda“cidade-modelo”deCuritiba

ThehistoricalareaofCuritibaastoolfortheimageof"modelcity"ofCuritiba

TaísSilvaRochaD’Angelis1,UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,[email protected]

MariaCristinaCabralNascentes2,UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,[email protected]

1Taís Silva Rocha D’Angelis Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Urbanismo peloProgramadePós-GraduaçãoemUrbanismo(PROURB)daUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro.AtualmentelecionanocursodeArquiteturaeUrbanismodaFaculdadeEstáciodeCuritiba.2MariaCristinaCabralNascentes.DocentedaFaculdadedeArquiteturaeUrbanismodaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiroedoProgramadePós-graduaçãoemUrbanismo(PROURB)damesmainstituição.PossuigraduaçãoemArquiteturaeUrbanismopelaUniversidadeFederaldoRiode Janeiro (1986),mestradoemHistória SocialdaCulturapelaPontifíciaUniversidade Católica do Rio de Janeiro (1996) e doutorado em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade

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DESENVOLVIMENTO,CRISEERESISTÊNCIA:QUAISOSCAMINHOSDOPLANEJAMENTOURBANOEREGIONAL? 2

RESUMO

OpresenteartigoépartedapesquisadedissertaçãoqueanalisaaestratégiadepreservaçãodosbensarquitetônicosdeCuritibaeovínculodestaaoprojetode“cidade-modelo”,desenvolvidoapartirdadécadade1970epersistidoporcercadequatrodécadas.OobjetivoécompreenderaconstruçãodanoçãodepatrimônioemCuritiba,atravésda identificaçãodosconceitosevaloresque guiaram este processo para que se possa contribuir socialmente para reflexão dos futurosprocessos de reconhecimento do patrimônio e para a resistência às iniciativas com finsunicamente econômicos. A hipótese levantada é que as estratégias patrimoniais desenvolvidas,entreosanosde1970e2010,caracterizaram-secomoinstrumentofundamentalnaconstruçãodaimagem da “cidade-modelo” de Curitiba. A verificação dessa hipótese consiste na análise dosreferenciais internacionais e nacionais que construíram as noções de patrimônio que incidemsobre as escalas locais, influenciando a prática da preservação das cidades. O estudo daimplementação destes padrões globais em Curitiba é desenvolvido através da análise daslegislaçõesepráticasquecompuseramaestratégiapatrimonialcomenfoquenasdécadasde1970e 1990, que concentram as principais intervenções patrimoniais e do projeto de cidadedesenvolvido.Assim,esteartigoabordaacriaçãodoSetorHistóricodeCuritibacomoimportanteinstrumentodoprojetode“cidade-modelo”.

PalavrasChave:Curitiba;“cidade-modelo”,imagemdacidade,políticapatrimonial.

ABSTRACT

Thepresentarticle ispartof thedissertationresearchthatanalyzesthepreservationstrategyofCuritiba´s architectural property and the link to the "model city" project, developed from the1970s and persisted for nearly four decades. The purpose is to understand the constructionoftheheritagenotion in Curitiba, through the identification of concepts and values that guidedthisprocessso thatwecancontributesocially to thinkingof the futurerecognitionofheritage´sprocesses and for resistance to initiatives that have only economic purposes. The hypothesis isthat theheritagestrategies developed between the years 1970 and 2010were characterized asimportant tool for construe the image of "model city" of Curitiba. The verification of thishypothesis is the analysis of national and international benchmarks who built theheritagenotionthatfocusonlocalscales,influencingthepracticeofpreservationofthecities.ThestudyoftheimplementationoftheseglobalstandardsinCuritibaisdevelopedthroughanalysisoflawsandpractices thatcomposedthe heritage strategy focusing on the 1970s and 1990s, whichconcentrate the main heritage interventions and the city project developed. Thus, this articleapproaches the creation of the Historic Sector of Curitiba as an important instrument of the"model-city"project.

Keywords/PalabrasClave:Curitiba;"Modelcity",imageofthecity,patrimonialpolitics.

CatólicadoRiodeJaneiro(2003),comestágiodePesquisanaÉcoledesHautesÉtudesenSciencesSocialesemParis,naFrança.

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O SETOR HISTÓRICO DE CURITIBA NA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DA “CIDADE-MODELO”DECURITIBA

Ao longo das últimas quatro décadas, Curitiba, capital do estado do Paraná, foi consideradamodelodeplanejamentourbanonacionaleinternacional,atravésdeumprojetopráticoepolíticodecidade.Esteprocessoiniciou-senadécadade1970,atravésdaimplementaçãodoPlanoDiretorde 1965, e foi intensificado na década de 1990, sobretudo, com o desenvolvimento deintervençõesurbanísticasdifundidasporestratégiaspublicitáriasqueatuaramnaconsolidaçãodeumaimagemde“cidade-modelo”3.Asustentaçãodesteprojetofoifavorecidapelamanutenção,quasequeininterrupta,deummesmogrupopolíticoligadoaoarquitetoeurbanistaJaimeLerner,que esteve à frente da prefeitura municipal entre os anos de 1971 e 1974; 1979 e 1983;retornandoentre1989e1992(Sanchéz,2010).

Duranteesteperíododeconstruçãodaimagemde“cidade-modelo”,opoderpúblicodeCuritibademonstrava seguir noções de patrimônio que guiaramumapolítica específica sobre o tema e,consequentemente, suas legislações e intervenções. Entende-se que estas noções adotadasrepresentaramavisãoeosvaloresdesseagentenaproduçãodoespaçourbano.Assim,analisa-seo SetorHistórico, uma vez que este instrumento de preservação foi instituído como diretriz doPlanoDiretorde1965esecaracterizoucomoaprimeirapolíticadepreservaçãodeCuritiba.

RECONHECIMENTOHISTÓRICODAÁREA

O processo de formação urbana da área denominada legalmente como Setor Histórico (SH) seconfundecomodesenvolvimentodaprópriacidadedeCuritiba,umavezqueabrangeonúcleodefundaçãodacidadeesuasimediaçõesdiretas.

A ocupação do SH, assim como de Curitiba, se iniciou nos arredores do Largo daMatriz (atualPraçaTiradentes)ondese localizavama IgrejaMatriz, implantadanasegundametadedoséculoXVII, o pelourinho e a casa de câmara e cadeia (demolida em 1900). Até o início da segundametade do século XIX, esta área é identificada como o único núcleo estruturado e onde sedesenvolviampredominantementeas relaçõesde troca, comérciose serviços correspondendoàárea urbanizada de Curitiba que apresentava dimensões reduzidas e limitada pelos rios Ivo eBelém.Comodesenvolvimentourbanodacidade,noséculoXX,oantigoLargodaMatrizpassouaser objetode regulações e preocupações estéticas quepretendiameliminar as residênciasmaissingelas, térreasedemadeira, incentivandoa construçãode sobradosepalacetesdealvenaria,quepassaramaabrigarusosmistosderesidênciaecomércio(Sutil,1996).

AosfundosdaIgrejaMatriz,aindanoséculoXVIII,foramconstruídasduasnovascapelas,emrazãoda autonomia das irmandades religiosas e de desentendimentos internos: a Igreja de NossaSenhoradoTerço(1737), localizadaaofinaldaRuaFechada,atualRuaJoséBonifácio;ea IgrejadosPretosdeSãoBeneditoconstruídaporescravos,implantadaaofinaldaRuadoRosário.Estascapelaspassaramaserdenominadas,posteriormente,IgrejadaOrdemTerceiradeSãoFranciscodasChagas,comosurgimentodaOrdemdeSãoFrancisconacapital;e IgrejadoRosáriodeSãoBenedito, respectivamente. Conformava-se, assim, segundo Leonardo Tossiaki Oba (1998), o

3Otermo“cidade-modelo”éutilizadonesteestudoentreaspasporsereferiraumtítulodereconhecimentoglobalsobrecertas cidades, comoCuritiba,masque não traduzema compreensãodos autores consultados sobre o tema e nemdaautoradestadissertação.

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conjunto urbanístico-religioso onde as capelas integravam-se à Igreja Matriz através de eixosviárioseLargosquedesempenhavamimportantepapelnadinâmicacívicaereligiosadaépoca.

MapahistóricodeCuritiba,de1857.Fonte:IPPUC,2015,adaptadopelaautora,2015.

EventocíviconoLargodaOrdem,em1907.Fonte:AcervoCidDestefani.

AconstruçãodaEstaçãoFerroviária,entre1889e1894,eadefiniçãodenovasdiretrizesparaaocupação ao sul do rio Ivo incentivou o crescimento urbano e fez com que novas dinâmicascomerciais, institucionais e de serviços se estabelecessem na região. Assim, a função de área

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central urbana sedeslocouemdireção ao sul do antigo LargodaMatriz,mantendono SHumaconfiguração urbana com traços do século XVIII e XIX, através da permanência de caminhos,quadras e do parcelamento dos lotes, que guardam características da arquitetura residencialurbanacolonial(ReisFilho,2006).Asedificaçõesimplantadasjuntoaoalinhamentodasviasesemafastamentos definem as próprias ruas e geram um aspecto uniforme e retilíneo de quadraadensada,comodescritonasdiretrizesdefinidasparaCuritiba,peloOuvidorPardinho,em1721.

Asedificaçõesexistentes,noentanto,nãomantiveramosaspectosarquitetônicoscoloniaisesãofrutodediversastransformações,cominfluênciaspredominantesdoestiloarquitetônicoeclético.Conforme Dudeque (1995), o eclético encontrou terreno fértil nas cidades mais afastadas dosgrandes centros urbanos por permitir apropriação de referências de diferentes épocas queevocavam“umamemóriainexistente”.Assim,apartirdasegundametadedoséculoXIX,acidadede Curitiba tomava novas formas, através do ecletismo trazido pelos imigrantes europeus,principalmentealemãese italianos.Omarcoarquitetônicodestatransformaçãofoiaconstruçãoda Farmácia Stellfeld, em frente à Praça Tiradentes (antigo Largo da Matriz), pelo engenheiroalemãoGottliebWieland,em1866,queincorporouàedificaçãoosótãohabitável,ousodecalhasquepermitiamainstalaçãodeplatibandaseelementosdecorativos,incomunsaopadrãoexistenteemCuritiba(Sutil,1996).

FarmáciaStellfeldnaPraçaTiradentes,em1910.Fonte:AcervoCasadaMemória.

Estes reflexosdodesenvolvimentourbanodeCuritiba,guardamtraçosdeseusperíodos iniciais,mas, principalmente, as transformações pelas quais passaram a arquitetura e o urbanismo donúcleoinicial.Aáreaprotegidaatualmentenãoconformaumconjuntouniformedecaracterísticaseestilosarquitetônicos,massimadiversidadeproduzidapordiferentesinfluênciasecorrentesdepensamentoqueconstruíramacidade,principalmente,atéadécadade1970,dequandodataoiníciodesuaproteção.

CRIAÇÃODOINSTRUMENTODEPROTEÇÃO

Apreservaçãodopatrimônioedificado,emCuritiba,seiniciadeformaefetivanadécadade1960atrelada ao desenvolvimento do planejamento urbano, através da Política de Preservação eRevitalizaçãodeSetoresHistóricos-Tradicionais,previstanoPlanoDiretorde1966.

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Adelimitaçãodeum“centrohistórico”inseriaCuritibanoquesedenominarianadécadade1980como indústria cultural, através da transformação do monumento histórico em produtoeconômico,conformeChoay(2006,2011).Oprotagonismodopoderpúbliconestadefiniçãoenaatuação sobre intervenções tinha como objetivo o retorno financeiro vinculado aodesenvolvimento do turismo e a associação de mais uma imagem à “cidade-modelo”. Nestesentido,aintroduçãodoPlanodeRevitalizaçãodoSH,coordenadoporCyroCorreaLyraem1970,apresentava a afirmação de que a preservação dos centros históricos urbanos era umapreocupaçãoparaamaioriadasnaçõesnaquelemomentoequeapresençadestarepresentariaum“índicedeaferiçãodograudematuridadedecadapovo” (Curitiba,1970,p.01), indicandooanseiodopoderpúblicoeminseriracidadenestegrupoespecíficodenaçõesecidades.

A defesa do patrimônio, nas décadas de 1960 e 1970 em Curitiba possuía enfoque,predominantemente, urbano, nos termos definidos por Gustavo Giovannoni (2013). O núcleoantigo, como construção histórica deveria ser preservado através de medidas como odesadensamento,doestudodedemoliçõespontuaisquepermitiriamamelhoriadacirculaçãoeda inserção da área antiga no planejamento urbano. Associa-se à teoria de Giovannoni a ideiaratificada pelas Normas de Quito, de 1967, acerca da preservação do patrimônio como“instrumentodeprogresso”,emfunçãodovaloreconômicoqueestepossui,eodesenvolvimentodo turismo, como meio essencial da atração de recursos e da construção de uma imagem decidade.

Neste cenário, o Plano Diretor de 1966 instituiu a Política de Preservação e Revitalização deSetores Históricos-Tradicionais, tendo como objetivos principais: a manutenção das paisagensurbanas,queseriamidentificadasposteriormente;arecuperaçãodeedificações;eo incrementodo turismo. Como instrumentos eram previstos incentivos tributários e penalidades, nãoespecificadasnaLei.

AindaqueaLeidoPlanoDiretorutilizasseo termo“SetoresHistórico-Tradicionais”quepermiteentender que seriam definidas mais de uma área representativa, segundo Cyro Lyra 4 ementrevista, não foram cogitadas demais áreas além do SH. Esse reconhecimento único dopatrimônio do SH e sua permanência ao longo dos anos que se seguiram, concentrandoinvestimentos e ações públicas, são utilizados na manutenção de uma imagem de patrimôniooficial,coesoequeintencionarepresentarumaidentidadecuritibana,segundoCanclini(1998).

OPlanodeRevitalizaçãodoSH,coordenadoporCyroLyraem1970,tinhacomoobjetivoprincipal“restabeleceracontinuidadedopatrimôniodocentroantigodacidade”,atravésdadelimitaçãodo Setor Histórico, onde os cuidados e normativas deveriam atrair o turista, como “principalusuário” (Curitiba, 1970, p.01). Neste sentido, afirma-se, a partir de Choay (2006), ainstitucionalizaçãodopatrimôniocomoprodutoconsumível,apoiadonahabilitaçãodesteparaodesenvolvimento do turismo, com o objetivo da atração de recursos financeiros para a cidade,conformeestáimplícitonoseguintetrechodoPlanodeRevitalização:

ApobrezaqueCuritibaapresentaematrações turísticase,deoutro lado,ascaracterísticas do SH, foram pontos de partida para as medidas turísticas eurbanísticas que têm como finalidade a transformação da área no centroturístico-culturaldacidade(Curitiba,1970,p.29,grifonosso).

A delimitação da área do Setor Histórico se deu, segundo Cyro Lyra, em entrevista, a partir dotraçadourbanoqueguardavaa implantaçãotípicadascidadesbrasileirasantigas,pautadapelas4Entrevistarealizadaemdezembrode2015.

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igrejaseseuslargos.Noentanto,oscritériosparaestadelimitaçãonãoficamclaros,umavezqueas informações sobre a própria autoria da delimitação são contraditórias. Para Cyro Lyra e KeyImaguire, ementrevistas, o SH já vinha do Plano Preliminar de 1965, tendo sido elaborado porJorge Wilheim, coordenador deste Plano. Este, por sua vez relata, em 1990, que o SH foidesenvolvidoposteriormentepelo IPPUC. Jaime Lerner afirmaqueasdiretrizesprincipais foramelaboradasaindaem1963,períodoemqueeleeoutrosarquitetoseramestudantesdocursodeArquiteturaeUrbanismodaUFPRsendoposteriormenteincorporadasaoPlanoDiretor,de1966:

Todooprogramadeatividades,devalorizaçãodeedifícioshistóricos,oIPPUCfezfora–oualém–doplano,nãohaviaprevisãodoSetorHistóricocomotal,istofoiidentificadoposteriormente(Wilheim5,1990,p.36).

Em1963,nacadeirado[LuizArmando]Garcez,fizumprojeto,umapropostapara o centro da cidade. Trabalhei em equipe com o Lubomir [Ficinski] e oDomingosBongestabsefizemosoqueseriaaprimeirapropostaparaocentrodacidade,propostaquefoiquase90%realizada,maistarde.Algunsaspectosforammelhorados,mas,emessência,avisãodaáreadepedestres,decomoorganizarocentro,nóscomeçamosaesboçarem1963,comoalunosdocursodearquitetura(Lerner,1996,apud,Berriel;Suzuki,2012,p.112).

Aposturanacional,naépocadadefiniçãodoSHdeCuritiba,reconheciacomopatrimônioapenasas áreas urbanas “monumentais” e priorizava, sobretudo, o estilo colonial, desprezandoarquiteturas do século XIX e XX, a não ser por características excepcionais históricas e de belasartes. Curitiba não apresentava edificações com caráter de excepcionalidade arquitetônica ehistóricaeseuacervourbanocaracterizava-sequaseporcompletodeedificaçõesecléticas.Assim,técnicose intelectuais locaisbuscavamdefendere justificar apreservaçãodoSH sobaóticadaarquiteturamenoredoregistrododesenvolvimentourbano,comonostrechosdeRafaelGrecadeMacedoeAramisMilarch:

É importantenão só conservar edifícios-monumento. Casas singulares. Sítioshistóricos.Éimportanteconservarconjuntos.Pensarnopluraldascoisas.[...]Éimportanteconservaroarmazémdobairro,suaigrejatosca,seucampanáriopretencioso, de alvenaria imitando pedra, de linhas falsamente góticas ouromânicas. [...] Para, amostrados todos os estilos e todos os tempos, noconjunto dos bens preservados, possam os herdeiros da cidade tirar liçõesproveitosas.[...]Comestafilosofia,seprocurafazerdetodocuritibanoumco-responsável(sic)pelapolíticadepreservaçãodacidade(Macedo,1979,p.02)6.

[...] Curitiba, ao contrário de outras cidades do país, não possui um acervosignificativodeobrashistóricascomvalorarquitetônicomarcante.Nagrandemaioria,adquiremimportânciaemtermosdepaisagemurbanaetestemunhoconstrutivo de épocas passadas. Por isso a importância de sua preservação(Millarch,1985,p.01)7.

Em 1970, com o Plano de Revitalização do SH, foi realizado um levantamento das unidadesarquitetônicaspresentesquepossibilitouumrefinamentodadelimitaçãoapartirdapresençadomaiornúmerodeedificações comsignificadoeexpressãoarquitetônicaouquecompusessemoentornodeedificaçõessignificativas.Foramestruturadaspropostasparaaáreaemtrêsfrentes,as5 Jorge Wilheim, arquiteto e urbanista paulista que venceu, juntamente com a empresa Serete o concurso para aelaboraçãodoPlanoPreliminarde1965,quedeuorigemaoPlanoDiretordeCuritibade1966.6RafaelGrecadeMacedoeradiretordaCasaRomárioMartins,em1979.7 Aramis Millarch foi um importante jornalista e crítico das artes do Paraná, reconhecido nacionalmente pelo seusignificativotrabalhoduranteseus32anosdeprofissão.

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medidasdepreservação,queatuavamnasunidadesapartirdeumaclassificaçãodesenvolvida,asmedidasurbanísticas,quedeveriamdarsuporteàsmedidasdepreservaçãotendoporprincípioatransformação do SH, e as medidas turísticas, que pretendiam uma renovação de usos para aatraçãoturística(CURITIBA,1970).

Asmedidasdepreservaçãoconsistiamnaclassificaçãodasedificaçõesdaáreaem:

• Unidades-monumento–edificaçõesqueseriamindicadasparaotombamentonaesferaestadual,emfunçãodeseuvalorhistóricoparaoParaná.

• Unidadesdeacompanhamento–edificaçõescom“importânciasecundária,emtermosdearquitetura”, para as quais não cabia a categoria unidade-monumento, mas queconformampartedeumconjunto.

• Unidades incaracterísticas – edificações destituídas de valor arquitetônico ou histórico,cujodesaparecimentoé“desejável”pararenovaçãodaárea.

Aviabilizaçãodaspropostasdepreservaçãodispunhadeinstrumentosquepoderiamseraplicadospormeiodiretoouindireto.Oprimeiromeioreferia-seàindicaçãodetombamentoestadual,deresponsabilidade da Divisão do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural, de todas as unidades-monumento.JáosmeiosindiretoseramdeâmbitomunicipaleconsistiamnaanuênciadoIPPUCparaconstruções,reformasedemolições(medidaquejáeraexecutadaparatodasasedificaçõesdomunicípio);enapromoçãodeincentivosfiscaisefinanceiros,atravésdaisençãodeimpostosmunicipaise financiamentoderestauroatravésdaUrbanizaçãodeCuritibaS/A(URBS) (Curitiba,1970).

Asmedidas urbanísticas visavam à transformação do SH tendo em vista a conformação de umconjunto de interesse turístico e cultural. Para isto, foram propostas limitações às novasedificações vinculadas às características das unidades preservadas, além de definições de uso,conformeozoneamentoespecífico(Curitiba,1970):

• Usospermitidos–entidadesculturais,escritórios,consultórios,ateliêdearteseoficinasde artesanato, galerias de arte, restaurantes,moradias, cinemas e teatros, edifícios deculto,boites,floriculturasecomérciovarejista.

• Usos permissíveis – hotéis, pensões, estacionamentos particulares e outros usoscompatíveisacritériodoConselhodeZoneamento.

• Usosproibidos–postosdelavagemelubrificação,oficinasedepósitos,estabelecimentosindustriais,comércioatacadista.

Quanto ao sistema viário, previa-se a integração do SH às diretrizes estabelecidas pelo PlanoDiretorde1966,oqualpreviaimportantesalteraçõesnasviasenosfluxosexistentes.Aprincipalquestão que se colocava para a compatibilização dos Planos era a diretriz de implantação daAvenidaEstruturalNorte,umaviadetrânsitorápidoeintensoquesolucionariaotráfegogeradonaPraçaTiradentes,cortandooSHaomeio.OPlanodeRevitalizaçãodoSHpropunha,nessecaso,que a Avenida Estrutural Norte fosse implantada sob a rua José Bonifácio, garantindo apermanência da conexão entre a Praça Tiradentes e a região do Largo da Ordem no nível dopedestre.Naépoca,aaberturadaviadespertoudiscussões,mas,deacordocomopensamentodominante,asquestõesdecirculaçãoviáriaerampriorizadas.Arespeitodaabertura,CyroCorreaLyra, em entrevista afirma: “Considerávamos, na época, como prioridade a implantação da

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EstruturalNorte-Sul.LamentávamososeccionamentodoSetorHistórico,masaceitávamoscomoopreçoapagarparamelhoriadotráfegourbano.”.

Aopçãopelaaberturadavia,denominadaTravessaNestordeCastro,exigiuumacompatibilizaçãocom Plano do SH, que moldou seu traçado de acordo com a permanência de edificaçõesconsideradasmaisrelevantespelaequipedoPlano.

OutradiretrizviáriapresentenaLeide1966,eraapredominânciadotrânsitodepedestresnoSH.Assim,oPlanodeRevitalizaçãoespecificaque,naprimeiraetapa,umaamplaáreapedestrianizadase estenderia da Praça Garibaldi à Praça Tiradentes e, na segunda etapa, seguiria da PraçaTiradentesàsPraçasJoséBorgesdeMacedoeGenerosoMarques(Curitiba,1970).

ObrasderevitalizaçãodoSetorHistórico,pedestrianizaçãodaruaDr.ClaudinodosSantos,em1980.Fonte:AcervoCasadaMemória.

Asmedidas turísticas forampropostas de forma a complementar as ações de restauração e derevitalização urbana com o objetivo de estimular a renovação dos usos, tornando a área umatrativo turístico.Desta forma, sãoesboçadosmuseusquecontribuiriamnaconformaçãodoSHcomocentro turístico-culturaldacidade,como:oMuseudasEtnias,propostoparaocupaçãodaedificação do Belvedere, mas não realizado; o Museu de Arte Sacra, na Igreja da Ordem; e oMuseu da Cidade, não realizado naquelemomento. Paralelamente, foram incentivados os usosconsideradoscompatíveisaousoculturaleatrativosaopúblicovisitante,comoatransferênciadaFeiradeArtesanatodaPraçaZacarias (foradoSH)paraaáreaeoestímuloparaaocupaçãoderestaurantes típicos, lojas de antiguidades, galerias de arte, ateliê de artes, lojas de souvenires,entreoutros.

AsaçõespropostaspeloPlanodeRevitalizaçãodoSHforam,emgrandeparte,implantadas,aindaquenãodeimediato,masdirecionaramasintervençõesentreasdécadasde1970e1990naárea.Oreconhecimentodesteprimeiromomentoéverificadoemjornaisdaépoca,queapósasaçõesdadécadade1970anunciavamoSetorHistóricocomoumnovo“cartãodevisitas”dacidade,cujaimagempassouaserconstantementeexploradapelopoderpúblicomunicipal.

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MatériadoJornalExpresso,publicadaem07/03/1980.Fonte:AcervoCasadaMemória.

MatériadoJornalExpresso,publicadaem11/04/1980.Fonte:AcervoCasadaMemória.

A delimitação do Setor Histórico em Curitiba apresenta-se como reflexo do processo demundialização do patrimônio que difunde o consenso da preservação e a inserção deste temacomo elemento da indústria cultural (CHOAY, 2006 [1992]). Nesse sentido, o patrimônio é osuporteparaodesenvolvimentodasatividadesculturaisedelazer,estabelecidascomoobjetivodo consumo. Desde 1967, as Normas de Quito já inseriam, no contexto dos países latino-americanos, o patrimônio como “instrumento do progresso”, apresentando o desenvolvimentoturísticocomopossibilidadedeinclusãonaslógicasdemercado.Assim,nocasodacriaçãodoSHhaviaointeresseclaronaatratividadeturísticacomopotencialeconômicoenovalorsimbólicodopatrimônioparaaconstituiçãodeumaimagemquepretendiaseapresentarcomo“modelo”.

SITUAÇÃODAPRESERVAÇÃODOPATRIMÔNIONOSH

O Setor Histórico foi oficialmente criado pelo Plano de Revitalização de 1970 e instituído pordecreto em 1971. Sua delimitação correspondia a quinze quadras diretamente relacionadas àPraçaTiradentes,PraçaJoséBorgesdeMacedo,PraçaGenerosoMarques,LargodaOrdem,PraçaGaribaldiePraçaJoãoCândido,permanecendosobestadenominaçãoelimitesatéaalteraçãodaLeideZoneamento,UsoeOcupaçãodoSolodeCuritiba,em2000.ApartirdestaLei,passaaserdenominadoSetorEspecialHistórico (SEH),umavezquea referida leicriouosSetoresEspeciaiscomoinstrumentoparaaordenaçãodeporçõescomcaracterísticasespeciaisdeusoeocupaçãodosoloporsuascaracterísticaslocacionais,funcionaisoudeocupação.Assim,ficaestabelecidooSEH com novo perímetro que engloba cerca de 20 quadras, ampliando a área delimitadaanteriormente.

DelimitaçãodoSHedoSEH.Fonte:Aautora,apartirdeIPPUC,2013.

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ApósquatrodécadasdasprimeirasintervençõesnoSHverificam-seosresultadosdeumapolíticapatrimonialdesenvolvida,predominantemente,apartirdosespaçoslivrespúblicosequeenfocou,sobretudo,apresençaeousodoturista.Aindaqueadelimitaçãodaáreatenhasidoampliadanoano2000,suaestruturaçãoprincipalseguiuaanterior incorporandoapenasquadrasnoentornodas Praças Tiradentes e João Cândido, que anteriormente não haviam sido consideradasrelevanteseforaminseridasparaocontroledousoeocupaçãodosoloemfunçãodaproximidadedestasáreaspúblicas.

AcaracterizaçãodoatualSEHexigeconsiderar,comoquestãoprincipal,apresençasignificativadaTravessaNestordeCastroquefoiabertanadécadade1970.Estaviaseccionouonúcleoprotegidoem duas porções, que serão denominadas, neste estudo, de porção norte e sul. Estas sãocaracterizadascomo:

• Porção Sul: entorno das Praças Tiradentes, José Borges de Macedo e GenerosoMarques;

• PorçãoNorte:entornodoLargodaOrdemedasPraçasGaribaldieJoãoCândido.

ATravessaNestordeCastroéumaviadetráfegointensoerápidocomquatrofaixasderolamentodesentidoúnicoeremansosparaaparadadeônibus.AsmarcasdesuaaberturaemmeioaoSHpermanecem nas empenas cegas resultantes da demolição de parte das quadras que foramcobertas,nadécadade1990,compainéiscomemorativosdocuritibanoPotyLazzarotto.Paraquepedestres pudessem atravessar a via foi implantada, ainda na década de 1970, a Galeria JúlioMoreiraondeselocaliza,nosubterrâneo,oTeatroUniversitáriodeCuritiba(TUC).

TravessaNestordeCastroabertanoSetorHistórico.Fonte:Aautora,2015.

A abertura da Travessa Nestor de Castro pelo poder público de Curitiba foi considerada, anosdepois,pelosprópriosintegrantesdoPlanocomoumpossívelequívocoporcriarumabarreiraemmeio ao Setor Histórico e acarretar demolições. Declarações dos técnicos que faziam parte dogrupo local de acompanhamento do Plano Preliminar e depois integraram a equipe de JaimeLernernaPrefeiturademonstramotomdearrependimentocomaobra:

[...]aprópriaPrefeituraprovocouaperdadealguns imóveis importantesnoCentroHistóricoquandoseabriua ligaçãoda ruaAugustoStellfeld,atrásda

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Catedral. Nas ruas do Rosário e José Bonifácio, houve uma grande perda;foramdemolidasalgumascasasmuitobonitas.Umtúnel,quecustariamuitomaiscaro,poderiaterevitadoademolição(Willer8,1991,139).

Houveumaporçãodecoisasboaseumaporçãoderuins[nasintervençõesde1970],porquenós,Prefeitura,estragamostodoocentrohistóricodacidade,comapassagemdaquelaligaçãocomaAugustoStellfeld.Foimeiocriminosoaquilo, feitoali,mastambémdecorreudeumafaltadevivência.Poderiaatéterhavidooutro jeito,masoentusiasmoeratantoemfazeralgumacoisadeverdade, depois de 10 anos de marasmo, que as estruturais foramimplantadas(Rischbieter9,1990,p.6).

ApresençadaviapromoveuumcisãonoSEH,ondeasporçõessulenorteapresentamatualmentecaracterísticasurbanas,dinâmicaseusosexpressivamentediferentes.Aporçãosulabrigaaáreade caráter históricomais relevante, uma vez que a atual Praça Tiradentes é o antigo Largo daMatriz,juntoàCatedral,econfiguramonúcleodefundaçãodeCuritiba.AsPraçasJoséBorgesdeMacedoeGenerosoMarquessãoatualmenteintegradas,sendoaprimeiraolocaloriginaldaCasadeCâmaraeCadeia,demolidaem1900,eaPraçaGenerosoMarquesolocaldoantigomercadopúblico.Ambas as edificações foramdemolidaspara a construçãodoPaçoMunicipal, em1916,queé,atualmente,aedificaçãoprincipaldaárea,sendoestaoúnicobemtombadopeloIPHANnacapital. Durante as intervenções da década de 1970, estas Praças foram ampliadas com aeliminação da passagem de veículos nas faces norte e sul dasmesmas a fim de configurar umprolongamentodaplataformadepedestresdaPraçaTiradentes.

EspaçospúblicosdaporçãoSuldoSEH:

PraçaTiradentes.Fonte:Aautora,2015.

PraçaJoséBorgesdeMacedo.Fonte:Aautora,2015.

PraçaGenerosoMarques.Fonte:Aautora,2015.

Estes espaços públicos se inserem atualmente na dinâmica intensa do centro comercial deCuritiba, onde se somam os fluxos de pedestres e de automóveis. Os usos são,predominantemente,comerciaisedeserviçosquemantiveramaatratividadedaáreacentral.Osfluxos mais intensos de pedestres se dão entre importantes terminais e pontos de transportepúblico que se localizam todos ao sul da Praça Tiradentes, sendo que nesta se concentramtambémimportanteslinhasdeônibus.

8AlfredWiller,arquitetoeurbanistadeorigemtcheca,participoudogrupolocaldeacompanhamentodoPlanoPreliminarde1965,foichefedaCOHAB-CTepresidentedaFCCnasgestõesdeJaimeLernereSaulRaiz.9 Francisca Maria Garfunkel Rischbieter, conhecida como Franchette, integrou como engenheira o grupo local deacompanhamento do Plano Preliminar de 1965 e participou como assessora técnica das gestões de Jaime Lerner naprefeitura.

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FluxosintensosdeautomóveisepedestresnaPraçaTiradentes.Fonte:Aautora,2015.

AporçãodoSEHaonortedaTravessaNestordeCastro,caracterizadapeloentornodoLargodaOrdem e das Praças Garibaldi e João Cândido, concentrou as intervenções previstas no PlanoRevitalização de 1971. Grande parte das restaurações das unidades classificadas comomonumentoedosincentivosaoturismoeaolazerfoidirecionadaparaaárea.Foramimplantadosequipamentosculturais,aolongodasdécadasqueseseguiram,comoaCasaRomárioMartins,oMemorialdeCuritiba,aCasadaMemória,oAnfiteatronasRuínasdeSãoFrancisco.ApresençadaFeiradeArtesanatoconsolidouaatratividadeturísticaocupandotodaaporçãonortedoSEHaosdomingos,incentivandoaaberturadebareserestaurantesqueatendemaosvisitantes.

EspaçospúblicosdaporçãoNortedoSEH:

LargodaOrdem.Fonte:Aautora,2015.

PraçaGaribaldi.Fonte:Aautora,2015.

Pç.JoãoCândido.Fonte:Aautora,2015.

Aporçãonorteconcentraasgrandesextensõespedestrianizadasquepermitemodeslocamentoentrecomércioseserviçosdecaráterdelazereturismo,sendopoucososacessosaosautomóveis.Esta característica aliada ao fato de que a área encontra-se deslocada das principais funçõescomerciais, de serviços e transportes, que caracterizam o Centro, reduz significativamente osfluxosdepedestresduranteosdiasúteiseperíodoscomerciais.

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Usosdelazereturismoabrindo,aofinaldatarde.Fonte:Aautora,2015.

Atenta-separaofatodequeasimagensfeitasdasduasporçõesdoSEHforamtiradasnomesmodias útil e em horário comercial. Quando comparadas verifica-se a nítida diferença quanto aovolumedofluxodepedestres.Ofluxodeautomóveisnãopodesercomparado,umavezquenaporçãonorteenfoca-seaáreapedestrianizada.

Intensidadedofluxodepedestres:

PraçaTiradentes.Fonte:Aautora,2015.

R.JoséBonifácio,aoladodaCatedral.Fonte:Aautora,2015.

RuaDr.ClaudinodosSantos.Fonte:Aautora,2015.

Esta diferenciação do SEH em duas porções, através do rompimento de uma relação históricafuncional e espacial, fez com que se ressaltassem diferentes níveis de integração às dinâmicasurbanascontemporâneas.Destaforma,as imagensquerepresentam,paraapopulaçãoeparaopoderpúblico,oSEHdeCuritibaidentificamapenasaporçãonortecomotal.Emumarápidabuscana internet com as palavras “Setor Histórico Curitiba” vê-se que predominam as imagens quereferem-se, exclusivamente, à Praça Garibaldi e ao Largo da Ordem, aparecendo raramenteimagensdaCatedraledoPaçodaLiberdade.

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A verificação de alguns dos desdobramentos do Plano de Revitalização do SH de 1970 se deuatravésdaelaboraçãodefichasdeidentificaçãodasUnidades-monumentorelacionadasaomapade localização , de acordo com levantamento in loco.O objetivo das fichas é corroborar para aanálise da situação da preservação na área do SH, a partir das edificações identificadas comorelevantespeloPlanode1970,equedirecionaramasaçõesposteriores.

Constata-sequedasdezesseteedificaçõesclassificadascomoUnidades-monumentopeloPlanoeque teriam funções especializadas para a atratividade turística, treze encontram-se na porçãonorte e apenas quatro na porção sul. Daquelas presentes ao norte dez possuem usos culturaisexclusivamenteouemassociação, comono casoda IgrejadaOrdemquepossui uso religiosoeculturalemfunçãodoMuseudeArteSacra.Aosul,encontram-seaCatedraldeCuritiba,aantigaFerragensHauer, o sobradonaRuaBarãodo SerroAzul nº71 e o Paço da Liberdade.Destes, oPaçoapresentausocultural,desdesuarestauraçãofinalizadaem2009,aedificaçãodasFerragensHauerencontra-sevagaeosobradoabrigaumaacademiaeumsebodelivros.

A área do núcleo original de Curitiba, denominado SH, apresentava na data de sua delimitaçãousospredominantementecomerciaisedeserviços,emedificaçõesdepropriedadeprivada.ComoPlano de Revitalização de 1971, iniciou-se um processo de aquisição pelo poder público dasedificaçõesconsideradasessenciaisparaa instauraçãodeumadinâmicacultural,essencialmentenaporçãoaonortedaTravessaNestordeCastro.ForamadquiridosoPalaceteWolf,atualCasadaLeitura;aCasaHoffmann,atualCentrodeEstudosdoMovimento;aCasaVermelha,pertencenteàFCC; a Casa Romário Martins, como local de exposições; e o Solar do Guimarães, atualConservatóriodeMPB.Esteprocesso indicaa importânciadada,pelopoderpúblico,àsobrasderestauro necessárias para a conformação de uma imagem considerada adequada para apreservaçãodopatrimôniodeumacidadeeatrativaparaospadrõesturísticos,segundopadrõesinternacionaisdemercado.

CONSIDERAÇÕES

Nas primeiras décadas do século XX, a noção de preservação do patrimônio no âmbitointernacional era objeto de atualizações conceituais que progressivamente ampliavam os tiposarquitetônicoseépocashistóricasreconhecidas.Noentanto,apráticafrequentementerestringia-se ao monumento de caráter excepcional, como objeto autônomo, focando-se na restauraçãoconformedifundiaaCartadeAtenas,de1931(Gonçalves,1996;Oliveira,2008).NoBrasil,afaseheroica do SPHAN era marcada pela ênfase estética, valorizando os estilos colonial, barroco,

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neoclássicoemoderno.EmCuritiba, seguia-seaperspectivaestética,adaptando-se,noentanto,aosperíodoshistóricospresentesnacidade,umavezqueestasedesenvolveuapenasapartirdoséculoXIX.

AsprimeirasdiscussõeselegislaçõesacercadopatrimônioemCuritibativeramcomofocooantigoPaço Municipal, identificado como patrimônio histórico de Curitiba em 1948. Esta edificaçãopossuía importante valor estético na escala local e por isso se deu seu reconhecimentopatrimonial, ainda que a edificação datasse do século XX e suas características arquitetônicasfossemecléticas.

Opatrimôniourbanoeratemapresente,desdeoiníciodoséculoXX,naEuropa,massuadifusãoatravésdasCartasPatrimoniaissedeuapenasnaCartadeVenezade1964ede forma limitada,umavezqueeramentendidascomopatrimônioasáreasurbanasdefinidascomomonumentais,que eram testemunho de uma civilização particular ou local de um fato histórico relevante.NoBrasil, desde 1938 as cidades barrocas mineiras alcançavam reconhecimento através dotombamento no sentido da Carta de Veneza, pois eram tidas como sítios monumentais. Osconceitos construídos por Giovannoni acerca da cidade antiga comomonumento, integrada àsdinâmicas contemporâneas, são afirmadas somente no Manifesto de Amsterdã de 1975, noentanto,jáestavampresentesnasdiscussõesanteriormente.

AdelimitaçãodoSetorHistóricoeseuPlanodeRevitalizaçãoconsistiram,nadécadade1970,emimportantediretrizdoPlanoDiretorqueprevia intervençõesurbanas significativasequederaminícioaoprojetode“cidade-modelo”.As intervenções consideradas “de lazer”, sendooSHumadestas, foram prioritárias, uma vez que deveriam aproximar os cidadãos do poder público,preparando-osparaumamelhoraceitaçãodegrandesobrasestruturais,alémdeatrairosolharesexternosquedesenvolveriamoturismonacapital.

AáreadoSHfoidelimitadacomoprimeiraeprincipalaçãopatrimonialefetivaemCuritibaepodeser entendida, a partir dos conceitos deCanclini (1998), comoo esforçode construçãodeumaorigemcomum,definidaeimpostaporumgruposocialdominantequecomandouapolíticalocal.Osprópriosbensquecompõemesteacervourbano,aindaquenãopossuamcaráterexcepcionalestético e histórico, são produtos dasmesmas elites dominantes, considerando que o valor daterra urbana central é historicamente elevado. A perpetuação dessa construção de patrimôniolevou a concentração, nesta área, das intervenções urbanas, de restauros e investimentos aopatrimôniodomunicípio,pelasquatrodécadasseguintes.

Aprimeiraemaisimportanteaproximação,emCuritiba,dapreservaçãodopatrimôniourbanoaoprojeto de cidade desenvolvido refere-se não apenas à contemporaneidade entre odesenvolvimento de estratégias patrimoniais e o início de um projeto prático e político,mas àutilização das primeiras como importantes diretrizes deste processo que se iniciava. O SetorHistórico,criadoem1971,faziapartedasprincipaisdiretrizesdonovomomentodoplanejamentourbano, contribuindo com importante valor simbólico para a conformação de uma imagem decidade que se pretendia fazer “modelo”. O encontro do patrimônio com a economia tambémproduzia reflexos, uma vez que a prioridadepara a área erao desenvolvimentoda atratividadeturística,atravésdoincentivoàsfunçõesespecíficas.Aseleçãodaáreaparapreservaçãotambémaponta para a incorporação de noções internacionais do patrimônio urbano, como forma dejustificar o desalinhamento com as práticas nacionais correntes, provocado pela divergência nanoçãodehistoricidade.Asdemaisestratégiaspatrimoniaisdesteprimeiromomento,direcionadasaosbensisoladosnãoeramtidascomoprioritáriaseatuaramdeformamenoseficiente,aindaque

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sepercebaumalinhamentodestasàsnoçõesneoliberaisqueinseriramopatrimônioisoladonasdinâmicasimobiliáriasdomunicípio,atravésdacriaçãodasUIPedoiníciodaLeidoSoloCriado.

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