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TEMÁTICA JULHO DE 2010 - Nº 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL CINEMA: DO P&B AO 3D

Revista Temática

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Edição Especial: CINEMA

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Page 1: Revista Temática

TemáTicaJulho de 2010 - nº 1 universidade Federal de sergipe departamento de ComuniCação soCial

Cinema:Do P&B ao 3D

Page 2: Revista Temática

TemáTicaPROGRAMAÇÃO

eDitorial - 3

enFim a temÁtiCa tem um tema!

loCal - 4

Cinema em sergipe: o nome do estado levado

através de produções naCionais e loCais

oPinião - 7

teCnologia & Cinema: um BloCkBuster híBrido

Como se faz? - 8

e... Corta!

CaPa - 12

Começo, meio e... Fim?!

DiversiDaDe - 18

Cinema e gênero: o espelho das diFerenças

munDo - 22

Festivais glBt: Comunidade gay ganha espaço nas

premiações ConematogrÁFiCas

merCaDo - 24

pirataria: “não mate os grandes Filmes”

oPinião - 27

a iindústria Cultural e o Cinema Contemporâneo

CaPa

Começo, meio e... Fim?!

Saiba mais sobre a história da

arte do movimento: O cinema

a arte que JÁ Foi Comparada a uma ‘atração de

Feira’ JÁ Conquistou a todos. desde Filmes inFan-

tis a Filmes terror, as pessoas FiCam FasCinadas em

Frente à tela do Cinema. mas todo esse FasCínio

pela imagem em movimento tem uma traJetória. o

desenvolvimento teCnológiCo Foi Fundamental

para Fazer do Cinema a ‘arte das massas’. é ex-

atamente isso que voCê verÁ nas próximas pÁginas.

Page 3: Revista Temática

Depois de muito brainstorm e discussões, finalmente é concebida a TemáTi-

ca. Uma revista que se propõe a trazer a cultura para o cotidiano dos jovens

(e dos não tão jovens assim) da Universidade Federal de Sergipe. Esse experi-

mento fruto de uma disciplina laboratorial já rendeu muita dor de cabeça... e

ainda rende! Demorou para que, até mesmo tivesse uma identidade própria e

finalmente ganhasse forma.

Inicialmente a idéia era de que TemáTica fosse uma revista nova a cada

edição, ou seja, cada tema geraria uma revista diferente. Mas, como escrever

coisas tão diferentes para o mesmo público? E como fazer que esse mesmo

público continue fiel? Por isso mesmo, as primeiras reuniões de pauta não

chegaram a definir pauta nenhuma.

Em meio a tantas discussões e decisões a serem tomadas, cada um de nós

desempenhou sua função dentro deste projeto, cada um seguindo a área que

mais se identificava, mas, no final das contas, não teve jeito. Todos deram pal-

pites no trabalho do outro. Do planejamento visual até a edição de matérias,

mas é assim mesmo que deve funcionar um trabalho em equipe.

Enfim, TemáTica ganhou uma cara, uma forma, um conteúdo e finalmente

uma linha editorial. Nós, sete alunos do curso de Comunicação Social com

habilitação em Jornalismo da UFS orientados por tia Michele (mais conhecida

como professora Michele Tavares), trazemos para você a primeira revista cul-

tural universitária do estado de Sergipe.

Nas próximas páginas você encontrará matérias que falam da magia do

cinema. Como ele se consolidou e porque muitos dizem que ele está amea-

çado, uma viagem do cinematógrafo dos Lumière até o impressionante cinema

digital. Além disso, você verá o passo-a-passo da produção de um filme, terá

detalhes de tudo o que acontece por trás das telas de cinema até que um filme

chegue nas salas de exibição ou até mesmo na sala de sua casa.

A tecnologia também aparece por aqui, o cinema 3D da matéria de capa se-

ria a salvação da 7ª arte? Confira as questões que mais intrigam sobre o futuro

da “arte do movimento”. Fizemos questão de deixar um espaço para opinião,

sua e dos nossos articulistas para que diferentes pontos de vistas tivessem

espaço na nossa revista. Essas e outras questões pertinentes à nossa primeira

edição estão aqui recheadas de curiosidades e detalhes que você só vê por trás

das telas.

Enfim a TemáTica tem um tema!

editorial Bastidores

DePartamento De ComuniCação soCial

Chefe Do DePartamento

proFª drª messiluCe da roCha hansen

CoorDenaDora Do Projeto

proFª miChele tavares

Projeto eDitorial

daniel nasCimento

eloy vieira

José leidivaldo

Jr

larissa regina

lorena larissa

maria apareCida

eDitor GráfiCo

daniel nasCimento

revisão

eloy vieira

rePorteres

eloy vieira

José leidivaldo

Jr

larissa regina

lorena larissa

maria apareCida

universiDaDe feDeral De serGiPe

revista esperimental produzida para o depar-tamento de ComuniCação Como pré-requisito parCial para a disCiplima planeJamento visual

Page 4: Revista Temática

por Cida Marinho

No ano de 2009, o estado de Sergipe apare-

ceu na grande tela como cenário do filme Orquestra

dos meninos, filme que narra a história real do per-

nambucano Mozart Vieira (interpretado por Murilo

Rosa), um jovem com aspirações musicais que resolve

minimizar os impactos que a forte seca do sertão

nordestino impõe à pequena cidade de São Caetano.

Cerca de 10 anos depois de ter iniciado seu

projeto social, Mozart passa a ser visto pelos coro-

néis da região como um oponente político, al-

guém capaz de incentivar a comunidade a refle-

tir sobre o verdadeiro papel daqueles homens na

região. Mozart é alvo de ameaças e ataques, o que

provoca a reação de renomados artistas nacio-

nais, tais como Ivan Lins, Fagner e Gilberto Gil.

O artista Arthur Bispo do Rosário posando ao lado de uma de suas obras feitas de material reciclado.

Cinema o nome do estado levado através de produções nacionais e locais

em Sergipe

loCal

4

Page 5: Revista Temática

pacitação em audiovisual, além de oficinas,

cineclubes, mostras, fóruns e workshops. A

possibilidade de realizar cursos profissionalizantes

gratuitos atraem até aspirantes de outros estados.

Os alunos interessados podem contatar o NPDOV

para se informar a respeito dos cursos planejados para

cada semestre. Uma seleção é aberta para cada cursos,

com análise curricular e entrevista com os professores.

Para o estado, a iniciativa é bastan-

te positiva, os resultados já podem ser per-

cebidos em amostras de vídeos e festivais.

arthur BisPo Do rosário

Arthur Bispo do Rosário nasceu em Japara-

tuba, Sergipe, no ano de 1911. Em 1925 ele muda-

se para o Rio de Janeiro, onde ingressa a Marinha

brasileira e começa a trabalhar na companhia de ele-

tricidade da cidade, a Light. Em 1938, Bispo começa a

ter delírios e sai perambulando, guiado por um “exér-

cito de anjos”. Quando localizado em um mosteiro, é

enviado ao Hospital dos Alienados na Praia Vermelha.

Diagnosticado como esquizofrênico-paranóico, é in-

ternado na Colônia Juliano Moreira, conhecido centro

de tratamento psiquiátrico no bairro de Jacarepaguá.

um Conto De faDas norDestino.

Outro filme rodado no estado tem ai-

nda maior importância para os sergipanos, trata-

se de O Senhor do Labirinto, que homenageia a

história do artista plástico sergipano Arthur Bis-

po do Rosário (interpretado por Flávio Bauraque).

Além de ter como personagem principal

um sergipano natural de Japaratuba, 95% das fil-

magens ocorreram no estado, utilizando 80% de

mão-de-obra local. A estréia, antes prevista para

o 2º semestre de 2009, período de comemora-

ção do centenário de Bispo, ainda é aguardada.

Um fator de grande relevância para o de-

senvolvimento do audiovisual no estado de Ser-

gipe é que a capital abriga o Núcleo de Produção

Digital Orlando Vieira. O NPDOV, cujo nome foi es-

colhido para homenagear o ator sergipano, é um

dos 11 do país e oferece oficinas voltadas á profis-

sionalização de atividades de audiovisual. O Núcleo

está integrado à rede Olhar Brasil, uma iniciativa da

Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.

Tendo iniciado suas atividades em 2007,

o Núcleo oferece cursos para praticamente to-

das as atividades relacionadas à formação e ca-

Os atores Priscila Fantin e Murilo Rosa, interpre-

tando o musicista Mozart Melo e sua futura esposa, Cre-

usa em Orquestra dos Meninos.

Foto: Estevam Avellar

95

Page 6: Revista Temática

Entre 1940 e 1960 mantem tratamento na

Colônia enquanto realiza pequenos trabalhos em

residências. Vale ressaltar que o tratamento psiquiátri-

co em uma Colônia pública no Brasil em meados

do século XX era baseado em terapias de eletro-

choque e doses colossais de fortes medicamentos.

No início da década de 1960, vai trabal-

har para a Clínica Pediátrica Amiu, onde lhe é ofer-

ecido uma moradia modesta, na qual começa a tra-

balhar com materiais rudimentares e miniaturas de

navios de guerra ou automóveis, e vários bordados.

Para manter o rigoroso tratamento, volta para

a Colônia em 1964 onde fica até sua morte, 25 anos

depois. Como muitos artistas criativos e incompreen-

didos, Bispo não chega a ver sua obra reconhecida. Só

pouco antes de sua morte, desperta o interesse da mí-

dia para o seu acervo de aproximadamente 1.000 peças

formadas por objetos do cotidiano e tecidos bordados.

No ano de sua morte, na Colônia onde passou a

maior parte de sua vida, foi fundada a Associação dos Ar-

tistas da Colônia Juliano Moreira, que visa à preservação

de sua obra, tombada em 1992 pelo Instituto Estadual

do Patrimônio Artístico e Cultural - Inepac. Na institu-

ição foi montado um museu que leva o nome do artista.

Curta-se

Um evento destaque no estado é o Festival

Iberoamericano de Curtas-Metragens de Sergipe

(Curta-SE). Em 2010, acontecerá entre os dias 14 e

18 de setembro paralelamente nas cidades de Ara-

caju, São Cristóvão, Estância e Laranjeiras.

O Curta-SE, que inicialmente foi concebido

como um pequeno festival de curtas-metragens volta-

do para o público universitário, já está em sua 10°

edição e muitas mudanças ocorreram nesse decano.

Na primeira edição foi praticamente todo or-

ganizado e produzido pela idealizadora, a apaixonada

Rosângela Rocha. O então festival Brasileiro de Curtas-

Metragens teve 14 filmes sergipanos dentre os 50 in-

scritos. Após o sucesso, já na segunda edição, passa a

ser um festival Luso-Brasileiro e acrescenta às mostras

de curtas, a participação de longas-metragens con-

vidados e uma programação diversificada com work-

shops, seminários além de eventos culturais. Naquele

ano, cinco mil pessoas puderam assistir aos 144 filmes

inscritos e distribuídos por salas montadas pela cidade.

Na terceira edição mais mudanças acon-

teciam no festival, que contava com o apoio da

Lei Rouanet, de incentivo e fomento à cultura; e

que arrecadou cerca de uma tonelada de alimen-

tos destinados ao programa federal Fome Zero.

Para a 10º edição do festival, 430 produções

foram inscritas em todas as categorias, superando os 403

vídeos inscritos na edição anterior e ficando atrás ape-

nas da edição de 2007, quando 486 vídeos participavam

do festival. O estado de Sergipe contará com 23 vídeos.

O júri do festival (três jurados para cada cate-

goria) deverá selecionar 65 produções, serão 20 curtas

em 35 mm, 20 vídeos, 10 vídeos de bolso, 10 sergi-

panos e cinco longas, conforme divulgou Dayse Ro-

cha, diretora operacional do festival. A divulgação dos

vídeos selecionados é aguardada para o mês de julho.

Para os concorrentes, a premiação é um bom

atrativo. O três primeiros vídeos sergipanos selecio-

nados serão premiados com R$10 mil, sendo R$5 mil

para o 1º colocado, R$3 mil para o segundo e R$2 mil

para o terceiro. Como nem todas as parcerias estão

fechadas, a organização do festival não pode divulgar

outras premiações, mas garante que trabalha para

que mais participantes possam ser bem premiados.

serviço

casa curta-Se

Endereço: Rua Teixeira de Freitas, 175, bairro

salgado Filho

Fones: 3302-7092 / 3041-8563

E-mail: [email protected]

Website: www.curtase.org.br

Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira

Endereço: Rua Lagarto, 2161, bairro Salgado

Filho

Fones: 3211-1490

E-mail: [email protected]

Horário de funcionamento: segunda à sexta

de 8h00 ás 12h00 e de 14h00 às 18h00

6

Page 7: Revista Temática

teCnologia & Cinema:

por eloy vieira*

um BlockBuster

Nos seus primórdios, o cinema ainda era um campo plástico e vasto, que ainda não possuía car-

acterísticas próprias, era experimental em sua essência. Não muito tempo depois, o cinema começou a

lançar suas bases e a assumir suas singularidades, mas, na verdade nem tudo era tão original, pois a lit-

eratura massiva oriunda da burguesia do século XIX serviu de modelo para que o cinema pudesse manter

seu público: a massa. Ao falar da relação entre cinema e literatura, Mirian Tavares, Doutora em Comu-

nicação e Cultura Contemporâneas, afirma que o cinema está domesticado, ou seja, que está preso às

velhas estruturas das máquinas narrativas, contando sempre as mesmas histórias de formas diferentes.

Foram os famosos folhetins que deram origem à linguagem, não só do cinema, mas também de

novelas e seriados, pois todos estes possuem características básicas em comum. O primeiro deles é a lin-

earidade, pois se utilizam de histórias com início, meio e fim bastante delimitados entre si para que não de-

ixe lacunas para seu leitor/espectador oriundo da massa. Outra característica básica é o drama maniqueísta,

presente de forma indiscutível em inúmeros filmes, pois muitas histórias são basicamente centradas entre

o mocinho e o bandido, ou seja, a oposição entre o bem e o mal, que, na verdade, todos nós já sabemos

como termina, e, nesse caso, o espectador tem a falsa sensação de controle sobre a narração, porém, ao

mesmo tempo em que a estrutura narrativa do cinema é feita para prender o indivíduo, ela o tira do mundo

real e o envolve num mundo alheio aos problemas cotidianos, o levando para o “mundo mágico do cinema”.

Tendo em vista todas essas características, podemos observar que, desde o advento da televisão

e, sobretudo do vídeo, é possível notar que, inclusive por necessidade de sobrevivência, o cinema começou

a apresentar mutações que visavam o hibridismo (diálogo com outras plataformas, um traço tipicamente

experimental). Desde as décadas de 60 e 70, o cinema começou a se libertar da literatura da qual se

originou e passou a ser experimental de novo, influenciando até gêneros literários. Hoje em dia, já é

notável que o cinema estabelece um contato constante com outras plataformas, sobretudo as digitais.

São essas plataformas digitais, as tecnologias de ponta, que permitem ao cinema uma

maior manipulação da imagem, de forma que, muitas vezes o digital se confunde com o ‘real’,

ou seja, o grau de abstração pode ser muito grande, permitindo que a criatividade do cineasta, aux-

iliada pela tecnologia, consiga elaborar quase tudo. Estamos vivendo mais um momento de pas-

sagem entre ‘eras cinematográficas’, uma revolução, onde a o hibridismo está de volta e já atin-

giu muitos blockbusters (que em inglês significa ‘bomba arrasa-quarteirão’, mas na verdade o

termo designa grandes sucesso de bilheteria), e com certeza, atingirá muito mais nos próximos anos.

híBrido

*Eloy Santos Vieira é graduando em Comunicação So-cial, com abilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal

de Sergipe.

opin

ião

7

Page 8: Revista Temática

E...

Fazer, ou cinematógraFicamente Falando, produzir, é o processo de ex-ecutar um Filme, desde sua criação até sua pós-produção. mas quem são as pes-soas que tranFormam o Filme em realidade, quando e onde começaram a produz-ir Filmes. conheça nas próximas páginas a importância da produção no mundo

do cinema.

CORTA!

Co

mo s

e Fa

z

Page 9: Revista Temática

Fazer, ou cinematógraFicamente Falando, produzir, é o processo de ex-ecutar um Filme, desde sua criação até sua pós-produção. mas quem são as pes-soas que tranFormam o Filme em realidade, quando e onde começaram a produz-ir Filmes. conheça nas próximas páginas a importância da produção no mundo

do cinema.

CORTA!

9

Page 10: Revista Temática

A produção cinematográfica é o conjunto de todas

as partes necessárias para a realização de um filme

ou uma produção audiovisual, desde a sua idealiza-

ção até a promoção e a distribuição. Esta pode ser

dividida entre pré-produção, a própria produção

e a pós-produção e é sobre estas partes que ire-

mos falar nesta matéria, além de especificar a im-

portância de um produtor para o cinema que mui-

tas vezes fica esquecido em detrimento de outras

profissionais que figuram no âmbito do cinema.

Pré-ProDução

É a primeira parte de um filme, geralmente nesta fase

parte de uma história ou de uma idealização que será

posteriormente roteirizada, porém primeiramente o

estúdio deve aprovar a idéia do filme, que consiste

em várias reuniões com executivos que decidem quan-

do uma idéia é boa ou não é, no caso positivo eles

designam um produtor para gerenciar o projeto e em

parceria providenciar financiamento, geralmente com

grandes marcas, multinacionais e em programas gov-

ernamentais de apoio a cultura. A partir deste mo-

mento, o produtor começa a dar forma a sua obra.

ProDução

Na produção convencional, isto é, uma produção des-

tinada a filmes voltados para o grande público, filmes

com grandes patrocínios e orçamentos gigantescos, é

necessário o engajamento de dezenas, senão centenas

de profissionais divididos em pequenos grupos, execu-

tando tarefas diversas, tais como: encontrar um local

apropriado onde ocorrerão as filmagens, contratação

de atores, diretores, figurantes, figurinistas, maquia-

dores, coreógrafos, entre outros. Todo o processo de

produção pode levar meses, senão anos para ser fi-

nalizado. No entanto, também há profissionais que se

desdobram para realizar produções com orçamentos

limitados, condições precárias e riscos políticos, este

último normalmente ocorre em países com regimes

fechados, unilaterais e/ou autoritaristas. Estes filmes,

denominados filmes independentes, geralmente são

realizados por poucos profissionais, em certos casos

um indivíduo desenvolve múltiplas funções tanto na

parte técnica quanto artística. Nestes dois casos não

há uma variabilidade na qualidade do conteúdo, porém

há diferenciações nas utilizações tecnológicas e técni-

cas, havendo assim desigualdades no produto final.

Um exemplo claro, é o grande sucesso dos cinemas:

Avatar, com uma produção orçada em US$ 500 mil-

hões, foi considerada a mais cara da história da

história do cinema. Foram investidos cerca de 237 mil-

hões na execução do filme e outros 263 milhões em

novas tecnologias, marketing, etc. Devido ao sucesso

da WETA Digital com cinema tecnológico em O Sen-

hor dos Anéis: O retorno do Rei, James Cameron, au-

tor, diretor e produtor de Avatar, optou pela produ-

tora pra executar todo o esquema de realidade virtual.

A maioria dos produtores faz um planejamento or-

ganizacional de tudo que será necessário para os re-

sultados mais satisfatórios e, na maioria das vezes,

lucrativo. Esse planejamento é feito como um ro-

teiro, que inclui desde a alimentação, transporte de

maquinário, iluminação, além da storyboard (veja

no Box) até a promoção e distribuição, entre outras.

Pós-ProDução

É a parte final da criação de um filme, o acabamento.

Nesta fase é realizada a edição, ou seja, a adição ou

subtração de imagens, além de montar e dar continui-

dade, isto é, organizar as cenas de modo que dê mais

sentido ao público, dando o filme um aspecto bruto,

James Cameron filmando as cenas abertas de Avatar na Nova Zelândia.

10

Page 11: Revista Temática

pois a partir deste momento é adicionada a trilha so-

nora, revestimento digital, que nada mais é do que

os efeitos especiais: sonoros e visuais. Neste ponto

o filme está pronto para ser comercializado nos cin-

emas. É contratada uma firma para pra a produção

do treiler cinematográfico que é lançado de diver-

sas formas, sendo a mais comum antes das exi-

bições de filmes diversos no cinema. O filme é exibido

em pré-estreia e logo após é lançado nos cinemas.

tiPos De ProDutores no Cinema

Existem várias formas de um produtor executar os

projetos propostos para o mesmo. Em geral, a ideia

já vem pré-concebida de um diretor que vem com

um roteiro original pronto, propondo uma parceria

ou co-produção com o produtor executivo, que na

maioria das vezes é o dono ou sócio de uma empresa

produtora, ou ainda, este último compra os direitos

de autores de livros que, no caso, são adaptados por

roteiristas pré-contratados. Este produtor é que lida

com toda a questão burocrático-financeira dos filmes

em questão. É importante ressaltar que, embora os

produtores sejam responsáveis por boa parte da ex-

ecução de um filme, o mesmo não tem competên-

cias técnicas para fazer tais tarefas e sem para su-

pervisioná-las. A exemplo de figurino e maquiagem.

Produtor de locação: cabe a ele organizar toda a

parte das locações, achá-las, avaliá-las e por fim dar a

autorização necessária para o começo das gravações.

Produtor de set: um representante

da produtora para supervisionar o set.

Produtor executivo: em geral ele é o dono ou sócio da em-

presa que está produzindo o filme. Ele cuida especialmente

de orçamentos e financiamentos cinematográficos.

Diretor de produção: chefe da produção e de todos os

outros produtores, ele é o líder de todos os outros produ-

tores tendo voz ativa para tomar decisões juntamente

com o produtor executivo sobre prazos e orçamentos.

Produtor: este “produtor” trabalha direta-

mente com todos os outros produtores, contro-

lando os mesmos. Nos filmes independentes, es-

tes são chamados de produtores executivos.

storyBorD

Storyboard são organizadores gráficos como uma

série de ilustrações ou imagens em uma sequência

específica fazendo uma alusão a ideia original do

filme, animação, entre outros. Ela vem com to-

das as cenas para facilitar a preparação do set.

Na forma que é conhecida nos dias de hoje, foi

desenvolvido por Walt Disney Studios no começo

da década de 1930.

Benefícios

* Apoia o planejamento, informando o que deve

ser adquirido, para a realização do projecto.

* Informa visualmente todas as etapas do filme.

* Possibilita um maior controle e aumenta a prob-

abilidade de êxito no projeto.

Page 12: Revista Temática

Saiba mais sobre a história da arte do movimento: O cinema

Máquina de refazer a vida, 7ª arte, morte em

movimento, melodia do olhar, etc. Esses são só alguns

dos nomes pelos quais o Cinema é conhecido. Mas,

nem sempre ele agradou velhinhos e crianças. Até o

começo do século XX, o cinematógrafo, considerado o

marco do surgimento do cinema, não passava de mais

uma descoberta científica. Porém o aparelho não surge

do nada, afinal de contas, tudo tem um início, e no caso

do cinema ele depende diretamente da tecnologia.

Além da tecnologia, diálogos com literatura

foram imprescindíveis. Com a ascensão burguesa do

século XIX, a literatura ganha novas formas e lingua-

gens que influenciaram na construção do discurso e da

linguagem, mais tarde, isso também se refletiu nas te-

las. Foi só através dessa narrativa que as produções

cinematográficas conseguiram conquistar seu público:

a massa.

CiênCia tamBém é arte

A forma mais primitiva de se projetar o movi-

mento pode ser considerada a pintura rupestre do

homem das cavernas. Anos depois, por volta de 5000

a.C., os chineses aprimoravam a projeção movimento

através do famoso teatro de sombras do Oriente com

bonecos feitos de tecido e varetas, de forma bastante

Começo, meio e... Fim?!

por Eloy Vieira

rudimentar. Já no Renascimento, o famoso Leonardo

da Vinci enuncia o funcionamento da câmara escura,

mas só no século seguinte o físico italiano Giambat-

tista Della Porta projeta uma pequena caixa com um

pequeno orifício coberto por uma lente. Raios lumino-

sos refletidos por objetos externos penetram e se cru-

zam, formando assim uma imagem invertida no fundo

da caixa. Ao contrário da câmara escura e um século

mais tarde, a lanterna mágica do alemão Athanasius

Kirchner, uma caixa cilíndrica iluminada a vela projeta

imagens desenhadas numa lâmina de vidro.

Já no século XIX, a ciência percebeu que nosso

olho possui uma ‘falha’: imagens em movimento são

registradas por nossa retina como um movimento, é a

chamada persistência retiniana apontada pelo jor-

nalista e crítico de cinema francês, George Sadoul. De

acordo com ele, essa característica já havia sido desco-

berta na Antigüidade, mas só foi estudada a fundo na

Europa iluminista. E é nela que nascem os primeiros

aparelhos que registram e reproduzem o movimento.

Lembra daquele truque de desenhar um desen-

ho semelhante em folha de caderno e depois passá-las

rapidamente e ver que o desenho está se mexendo? Pois

é mais ou menos assim que nasce o fenacistoscópio.

Criado pelo belga Joseph-Antoine Plateau, o aparelho

Arte: Eloy VieiraDo cinematógrafo ao cinema 3D: O cinema sempre se reinventou

Capa

12

Page 13: Revista Temática

foi capaz de medir o tempo da persistência retiniana e

a partir disso o físico criou um disco com vários desen-

hos semelhantes que, ao ser girado, dava impressão

de movimento. Pouco depois surge o praxinoscópio,

que já aparentava uma máquina. De forma meio im-

provisada com uma caixa de biscoitos e um espelho,

o francês Émile Reynaud conseguiu projetar imagens

com a ilusão de movimento. No ano seguinte, outro

francês, o fisiologista Étienne-Jules Marey, traz uma in-

venção importantíssima baseada nas descobertas do

inglês Muybridge, o fuzil fotográfico. Um tambor for-

rado por dentro com uma chapa fotográfica circular que

registrava um movimento de forma decomposta. Cerca

de uma década depois, o mesmo fisiologista francês

desenvolve a base do cinema: a cronofotografia que

consistia na fixação fotográfica de várias fases de um

corpo ou objeto em movimento.

a arte Do séCulo XXUm dos mais influentes historiadores do mundo,

Eric Hobsbawn, destaca o cinema como a ‘arte da mas-

sa’ e defende que ele influenciava diretamente na ma-

neira que as pessoas enxergavam o mundo. Em con-

trapartida, outro renomado historiador, o francês Marc

Ferro afirmava que no começo as pessoas despreza-

vam os avanços como o cinematógrafo e comparava o

cinema a uma ‘atração de feira’. Este embate de idéias

é inicialmente apresentado por Mônica Kornis, Dou-

tora em Ciências das Comunicações (Cinema, Rádio e

Televisão) pela Escola de Comunicação e Artes (ECA)

da Universidade de São Paulo (USP), em seu artigo

‘História e Cinema: Um debate metodológico’.

Inicialmente, os pequenos documentários mu-

dos introduzidos pelos irmãos Lumière retratavam a

vida cotidiana dos grandes centros, pois eram filmados

Méliès atuando em mais um de seus filmes. Imagem: ASvideomaker’s Blog

Auguste e Louis, os irmãos Lumiére

Já pre-

stes a se en-

trar no sé-

culo XX, o

célebre cien-

tista ameri-

cano, Thomas

Edison fazia

testes em seu

estúdio, o pri-

meiro da história do cinema. Ele conseguiu com que

um filme perfurado projetasse imagens em movimento

dentro do cinetoscópio, ou seja, permitia que uma

pessoa de cada vez observasse as imagens. Poucos

anos depois, surge o cinematógrafo, que, muitos têm

como o real começo do cinema. Mais uma vez o crédito

vai para os franceses, mais precisamente para os ir-

mãos Augustes e Louis Lumière, que aprimoraram o

cinetoscópio americano e o transformaram numa es-

pécie ancestral de filmadora. O equipamento movido

à manivela, além de registrar o movimento de forma

contínua, permitia que o mesmo fosse mostrado a

várias pessoas ao mesmo tempo. É aí que o cinema

passa a ter cara de cinema, começando se consolidar

como o grande meio de comunicação de massa do iní-

cio do século XX e começa a viver sua era de ouro.

em ambientes externos como ruas, estações de trem,

praças, etc. Não demorou muito e outro francês já es-

tava pronto para inovar e trazer a estética da arte para

as grandes telas. Ele era Georges Méliès, um artista

multifacetado que oscilava entre diretor, maquiador,

figurinista, dançarino e mágico. Até hoje é considerado

o pai dos efeitos especiais no cinema. Mas, como toda

forma de arte, o cinema logo foi afetado pelo processo

conturbado do pré-1ª Guerra Mundial. A Europa atin-

gida pelos seus conflitos internos seguidos de crises

profundas, agora deixava de ser o grande centro da

produção cinematográfica. Começa aí a ascensão de

Hollywood com seus grandes estúdios e estrelas. Du-

rante os anos 20 o cinema americano oscilava entre o

mudo e o falado, mas, mesmo assim fabricava sucessos 13

Page 14: Revista Temática

ma maniqueísta e o escapismo proposto pelas grandes

produções foram fundamentais para o estabelecimento

deste modelo de cinema.

o futuro já Começou

Com a introdução da Televisão já em meados

do século XX, o cinema perdeu seu status de grande

veículo de comunicação, mas permaneceu e ainda per-

manece, até mesmo por questão de sobrevivência, se

reinventando no cotidiano das nossas vidas. A partir

da década de 70 o cinema retoma seu hibridismo e se

liberta da literatura que por muito tempo o domesticou.

“A relação entre Cinema e Literatura data do momento

em que o cinema descobre seu potencial narrativo. As-

sim, ele absorve o modelo narrativo do romance do

século XIX para ajudá-lo a melhor contar histórias ao

mesmo tempo que liberta a literatura desta ‘obriga-

ção’”, relata a pesquisadora portuguesa.

Hoje em dia o cinema já inova e retoma um

pouco o ideal de Méliès, dialogando com outras mídi-

as e plataformas. Uma prova disto são os filmes digi-

tais tomados pela manipulação da imagem dotando o

cineasta de uma abstração artística tamanha que o real

se mistura com o real. Sucessos de bilheteria como

‘Avatar’, ‘Alice’, ‘Percy Jackson’ e ‘Como treinar o seu

dragão’ são apenas alguns exemplos deste novo mo-

mento de adaptação do cinema.

Durante o Comic-Con de 2009 realizado em San

Diego, Califórnia, o diretor de Avatar, James Cameron

disse que o cinema deve continuar investindo em novas

tecnologias. Ele revelou que o clássico Titanic já está

sendo transformado em 3D para ser relançado dentro

a domesticação da

narrativa do cinema

foi importante para

conquistar a massa

durante esse perío-

do. Segundo ela, a

linearidade, o dra-

e consagrava novos gêneros como a comédia, com ex-

poentes do porte de Charles Chaplin, o western (velho

oeste), o policial e o musical; todos ligados à produção

de blockbusters e estrelas.

A produção de grandes filmes continua e se con-

solida quando Hollywood insere áudio em seus filmes.

Os grandes estúdios são consagrados e junto com eles

seus filmes e seus protagonistas. O novo adendo tec-

nológico dos anos 30 marca mais uma época de tran-

sição do cinema, um prova disso é que vários profission-

ais envolvidos na produção como roteiristas, diretores

e até os atores não se acostumaram com a novidade.

Charles Chaplin foi um deles, mas pouco depois acabou

cedendo e dando continuidade à evolução. Algumas

produção marcaram época: “Alvorada do Amor” (The

Love Parade - 1929), de Ernst Lubitsch, “O Anjo Azul”

(Der Blaue Engel - 1930), de Joseph von Sternberg, e

“M, o Vampiro de Dusseldorf” (M - 1931), de Fritz Lang.

Entre os anos 30 e a 2ª Guerra Mundial o Esta-

dos Unidos entra na famosa recessão depois do crack

da bolsa de Nova York, e é claro, isso se reflete em

Hollywod, que, apesar de continuar como grande cen-

tro produtor, agora abre espaço para outros pólos para

países como França, Rússia e Alemanha. Mesmo as-

sim, os anos que antecedem à 2ª Guerra ainda são

considerados os anos áureos do cinema hollywoodiano.

Obras como ‘...E o vento levou’, ‘Dama das Camélias’ e

‘Casablanca’ são apenas alguns exemplos desta época.

Outra marca foi deixada por Orson Welles que quebrou

com a estética cinematográfica tradicional com filmes

como ‘O cidadão Kane’ e depois algumas obras inspira-

das nos escritos de Shakespeare como Othelo e Mac-

beth.

O filósofo francês, Edgar Morin, chegou a com-

parar as estrelas do grande cinema aos deuses do

Olimpo. “Os olimpianos se tornam modelos de cultura,

isto é, modelos de vida quando encarnam os mitos de

auto-realização da vida privada, combinando a vida co-

tidiana com a vida olimpiana”, defende em seu livro

intitulado ‘Cultura de Massas no Século XX’. Era com

essa visão quase mística do universo cinematográfi-

co que as pessoas ficavam fascinadas. Além disso, a

pesquisadora portuguesa, Mirian Tavares ressalta que

Vista do letreiro no Mount Lee

Avatar, a grande vedete do cinema contemporâneo

14

Page 15: Revista Temática

de mais alguns anos. Segundo o cineasta essa medida

pode desencadear uma onda de modernização das sa-

las de exibição e dos aparelhos de DVD, Blu-Ray e tele-

visores. Outra aposta apontada por ele é a chamada

captura de performance que consiste na gravação dos

movimentos de um ator e aplicá-los num personagem

criado pro computador. Mas o cineasta acredita que o

a médica Letícia Rosa em entrevista ao jornal carioca

Extra. Esse tipo de exibição ainda precisa de ajustes,

pois, em movimentos bruscos na tela, os espectadores

vêem borrões e podem até mesmo sentir náuseas.

Mais uma vez, o cinema prova que o diálogo com

outras plataformas e a plasticidade de sua imagem são

suas principais características. Ele, que já esteve ‘ame-

açado‘ algumas vezes ao longo da história: TV, Vídeo,

DVD, Blu-Ray, Computador, etc. Não deixou de con-

quistar as massas. Pelo contário, só serviu provou que

apesar de já ter completado seu centenário, a arte do

movimento não fica para trás e cada vez conquista no-

vos espectadores. Afinal de contas, quem não gosta de

assistir um filme na telona?

leia mais:

Cinema 2.0. o Cinema na era da internet. luís nogueira.

universidade Beira do interior

o olhar antes do Cinema. riCardo Costa.

a história do Cinema mundial. das origens aos nossos

dias. geoger sadoul volume i

a história do Cinema mundial. das origens aos nossos

dias. geoger sadoul volume ii

a história do Cinema. almanaque aBril. 1998-2005.

Cinema e literatura: desenContros Formais. mirian tava-

res. intermidias.

Cinema e computador: cada vez mais próximosImagem: The Guardian

que deve melhoras de fato é qualidade da imagem. De

acordo com ele a fotografia deve melhorar significati-

vamente o que deve impactar uma captura mais efi-

ciente da imagem e consequentemente uma melhora

na exibição dobrando a quantidade de quadros por se-

gundo e diminuindo o número de borrões na tela.

Outras tendências cogitadas já estão pratica-

mente presentes, a interatividade e o multiuso das

salas de cinema podem ser apontadas como as mais

significativas. Projetos como o ‘Last Call’ do canal de

TV americano NBC prometem fazer com que cada ses-

são do mesmo fime seja única, variando de acordo com

que for decidido pela platéia. Os produtores criaram

um software que permite o reconhecimento da voz do

espectador que pode intervir através do telefone celu-

lar, o personagem, literalmente, dialoga com alguém

da platéia.

No Brasil ainda não temos esse tipo de tecnolo-

gia, mas também não ficamos tão distante. Neste ano

de copa do mundo vários torcedores puderam assistir

aos jogos da seleção em 3D. A transmissão ocorreu

duarante o jogo entre a seleção brasileira e a seleção

portuguesa. Na verdade tudo foi promovido pela Rede

Globo para apenas alguns convidados. A tecnologia foi

testada em apenas três cinemas, dois em São Paulo

e um no Rio de Janeiro. “A gente esperava que a bola

fosse na nossa cara. Não chegou a esse ponto, mas

foi bem legal. O jogadores fica bem pertinho”, disse

13th Street, primeiro filme de terror interativo. Reprodução

15

Page 16: Revista Temática
Page 17: Revista Temática
Page 18: Revista Temática

Cinema e GêneroPor José Leidivaldo

No fim do século XIX, a sexualidade passa a se

mostrar cada vez mais central na constituição do su-

jeito moderno, num processo de valorização da intimi-

dade que já vinha se processando desde o romantismo.

Essa centralidade levou à proliferação de saberes que

tratam da questão, como a psicologia, a psicanálise, a

sociologia. É nesse sentido que devemos entender o

surgimento dos movimentos feministas, gays, lésbicos

e transgêneros politicamente organizados. No Brasil,

surge na segunda metade da década de 70 do século

XX. A chave para o surgimento desses grupos reside

na visibilidade pública para combater preconceitos e

formas de exclusão e na busca pela igualdade de direi-

tos em uma sociedade marcada pela universalização

dos valores do homem euro-norte-americano, adulto,

branco e heterossexual.

A partir desses elementos é que poder-

emos entender a inserção dessa temática no cinema

e como ela é tratada pelos criadores da sétima arte. É

nos anos sessenta, no contexto da contracultura, que

os movimentos gay e feminista passam de uma visão

meramente integrativa para uma postura contestado-

ra do modo de sociedade vigente. O debate feminista

ganha força no universo acadêmico e político. A luta

pela igualdade dos direitos civis dos gays também se

fortalece. Essas lutas, num primeiro momento, visam

criticar as representações sociais estereotipadas, o

silêncio e as opressões sofridas por gays, lésbicas e

O espelho das diferenças

Imagem do Filme Madame Satã (2003). Sem aderir a narrativas hollywoodianos, sem didatismo piegas nem bom-mocismo18

div

ersid

ad

e

Page 19: Revista Temática

transgêneros. Isso foi fundamental para denunciar

a misoginia e a homofobia presentes na sociedade,

pelas violências físicas e simbólicas; na política, ao ser

considerado um tema menor nas transformações soci-

ais; e na universidade, ao não se legitimarem estudos

em pé de igualdade com correntes de pensamentos

tradicionais.

Essa preocupação leva ao question-

amento das produções cinematográficas não como

criadoras, mas como reafirrmadoras dos clichês das

representações de gênero e de orientação sexual. Pelo

seu impacto, o principal alvo passa as ser os filmes hol-

lywoodianos e a televisão, em razão de seu papel he-

gemônico na indústria cultural cada vez mais transna-

cional. Num primeiro momento, é necessário mapear

as representações sociais da mulher e dos homossex-

uais no cinema. Assim, inicialmente são identificados

clichês como o da sissy, personagem masculino afemi-

nado, normalmente em papéis pequenos em comé-

dias e personagens lésbicas, como mulheres mascu-

linizadas, na maior parte das vezes como vampiras ou

presidiárias. Outra vertente da representação gay no

cinema é a idealização dessa vez de personagens gays

masculinos em comédias românticas como o herói ro-

manesco.

Para o professor Romero Venâncio,

professor do Departamento de Filosofia da Univer-

sidade Federal de Sergipe, o cinema que explora a

temática gay pode ser compreendido sob duas ver-

tentes: o produzido em Hollywood e as produções

européias. “As personagens gays em filmes hollywoo-

dianos tendem a possuir características estereotipadas

socialmente. Geralmente são cômicas, não são enga-

jadas na luta pelos direitos civis, e por vezes servem

de pano de fundo para uma história de personagens

heterossexual”. Ainda para o professor, esse tipo de

filme serve para, sutilmente, reafirmar a condição so-

cial dos gays que serão eternamente subalternizados

ao modelo de vida heterossexual. “Ser ‘normal’ nos

filmes norte-americanos é ser heterossexual. O toque

de comicidade das personagens gays é proposital, pois

além de jogar para eles toda a carga ideológica de

preconceito, sugere-se como modelo ideal de relacio-

namento o heterossexual. Veja se o casal protagonista

(geralmente uma bela mocinha e um rapaz também

belo) da história não terá um final feliz? Já o fim das

personagens gays...?”

Com a preocupação de se afastar da

tendência de criar estereótipos muitos cineastas de

várias partes do mundo se afastaram das produções

hollywoodianas em favor de obras que concilie quali-

dade, mercado e público. Nomes como Chantal Aker-

man, Maya Deren, Marguerite Duras, Jane

Frame, Claire Denis, vêm produzindo obras consis-

tentes na reflexão sobre gênero e numa perspectiva

de quebrar fronteiras nacionais na busca por respostas

narrativas não menos estimulantes. O próprio melo-

drama, gênero pensado para um público feminino,

é desconstruído. Isso pode ser observado nas obras

de Rainer Werner Fassinder, Pedro Almodóvar e Todd

Haynes.

Para alcançar se desvencilhar de Holly-

wood, todos esses nomes optam por uma estética lo-

calizada em vez de abstrata e universal. Uma estética

interessada, parcial e empenhada. Pop, indissociável

de uma cultura de consumo, do afetivo e coloca no

mesmo lugar o que antes chamávamos de popular e

erudito. É depois dessa compreensão que a estética se

encontra, mais até do que com a homossexualidade,

com o transgênero por meio do camp. Esse termo

aponta para uma sensibilidade e uma estética mar-

cada pelo artifício, pelo exagero, presente também em

óperas, melodramas e canções românticas. O camp se

situa entre alta e baixa cultura, como o kitsch, o trash

e o brega. Como comportamento, a palavra remete à

fechação, ou seja, ao homossexual espalhafatoso, ao

transformista, por vezes criticado por vários ativistas e

recusado no próprio meio gay, que busca uma imagem

mais masculinizada. O camp pode ser especialmente

percebido na obra de Max Ophuls, Kenneth Anger e

mesmo Derek Jarman, Todd Haynes, John Cameron

Mitchell, Billy Wilder, Stephan Elliot, Neil Jordan, e os

brasileiros Paulo César Saraceni, Sérgio Toledo e Djal-

ma Limongi Batista.

O estudante de Teatro da Universidade

Federal de Sergipe, Estevão Andrantos acha que a for-

ma com a qual o tema e as personagens são expostos

nos filmes só acentua os preconceitos. “Observe bem

as musicas que acompanha uma personagem gay no 19

Page 20: Revista Temática

cinema, geralmente contém notas musicais que nos

remete a algo cômico. E as falas dessas personagens,

então?! Os risos produzidos a cada ação espalhafa-

tosa da personagem demonstram claramente o pre-

conceito contido nesse tipo de filme” Estevão, que já

produz peças teatrais com essa temática, ressalta a

importância de assistir a filmes europeus, pois, se-

gundo ele buscam retratar o gay com normalidade.

“Sinceramente são os melhores! Se o gay é tratado

como alguém ‘engraçado’ aqui ele é comum. Não tem

graça nenhuma ri do preconceito alheio”, ressalta o

estudante.

Outra tentativa, tanto política quanto

estética, no horizonte do boom multiculturalista, está

em defender cada vez mais a necessidade de articular

gênero e orientação sexual com as questões de classe,

nacionalidade, condição periférica ou metropolitana e

etnia. Isso é traduzido no interesse por personagens

marginais no espaço urbano como nos filmes de Andy-

Warhol e Paul Morrissey, de John Schlesinger (Perdidos

na noite, 1969), Wilson de Barros ( Anjos da noite,

1986), Gus van Sant ( Garotos de programa, 1991) e

nos fimes de Gregg Araki. Stephens Frears bem tra-

duziu essas tensões em Sammy e Rose (1987), mas

Madame Satã ( Karim Ainouz, 2003) parece fazer uma

síntese perfeita entre o camp e o multiculturalismo.

Madame Satã ao retratar o famoso malandro da Lapa,

cruel e rebelde, humilhado e terno, nunca vítima,

passa uma emocionante contribuição para uma out-

ra história do Brasil, pela suas margens e pelos seus

excluídos. A força do protagonismo está na alegria,

em querer ser outro, livre, homem, mulher, madame

e satã. Esse filme realiza um cruzamento rico sobre o

que é ser negro, pobre e homossexual no Brasil.

De acordo com o professor Caio Ama-

do, do Departamento de Ciências Sociais da Univer-

sidade Federal de Sergipe, a produção de filmes com

temática gay tem se modificado ao longo do tempo,

principalmente nos filmes recentes. “A diferença é

clara: num filme em que os protagonistas são gays, a

postura e os papéis sociais buscam mostrar ao público

a forma discriminatória e preconceituosa com que são

tratados na sociedade. Enquanto em outros filmes em

que essas mesmas personagens são coadjuvantes a

‘voz’ é abafada pelo discurso oficial ou pelo modelo im-

posto socialmente.” Um profundo conhecedor de cine-

ma Caio Amado cita o cinema de Almodóvar como algo

inovador, provocativo e sem o pedantismo ou a mil-

itância exagerada do movimento gay. “O diferencial

em Almodóvar está no fato de que suas personagens

são pessoas comuns: com problemas familiares, dra-

mas amorosos, dificuldade financeira, em suma prob-

lemas do cotidiano contidos na maioria das pessoas.”

Segundo o professor é justamente isso que fascina na

obra.

A ênfase ao resgate de narrativas de te-

stemunhos, autobiografias, diários também se tornou

alternativa não só estética, mas política de experiên-

cias privadas de sujeitos excluídos da sociedade. Isso

não significa autobiografismo, mas busca de adesão e

sofisticação. Enfocar um cinema de mulheres implica

dizer que o corpo deixa de ser objeto do voyeurismo

masculino e assume uma concretude, uma historia. Se

as falas sociais eram hegemonicamente masculinas,

os espaços da intimidade da casa, do corpo deixam

de serem lugares apenas de opressão e de uma fala

única. Para além desse trabalho historiográfico, temos

o resgate da intimidade, da afetividade ao afirmar sua

relação com a ética. A intimidade deixa de ser prisão

para emergir como possibilidade de resistência, de de-

marcação da diferença. Uma linguagem feminina se

constrói onde aparentemente só havia silêncio.

Questionada sobre o tema, Joana Mas-

carenhas que é militante do movimento lésbico de

Sergipe, é bastante enfática: “Olhe, fico muito triste

quando vou ao cinema e ao aparecer uma cena com

um gay (homem ou mulher) ouço os assobios, os

sussurros e as risadinhas. Pra mim aquilo é tão ruim

quanto um xingamento. É o mesmo preconceito. E os

filmes só acentuam isso”, afirma Joana. Ela também

prefere os filmes europeus, ou para ela “os Cult, ou

alternativos”. Outro ponto que ela ressalta é o sex-

ismo existente em filmes hollywoodianos: “Parece que

gay só pensa em sexo, sexo, sexo. Meu Deus, nun-

ca vi tanta besteira. É como se fossemos movidos a

sexo”, revela. As personagens são tratadas como se

fossem viciadas em procurar parceiros para relações

amorosas eventuais. “É algo ruim para a comunidade

gay esse tipo de filme. Quando me descobri e assumi

minha homossexualidade passei a assistir aos filmes 20

Page 21: Revista Temática

europeus. Tem histórias lindas e com um fundo moral

muito bom. Encoraja a gente a encarar o preconceito

que existe na sociedade”.

Por fim, dois filmes refletem todo

esse arcabouço do espaço ocupado pelo gênero nas

produções cinematográficas: Entre amigos (Joe Man-

tello, 1991); e Colcha de Retalhos (Jocelin Moore-

house, 1995). Seria importante frisar que os filmes

que tratam de gênero por si só são diferenciados. Es-

ses filmes desmistificam o clichê da homossexualidade

associada a promiscuidade, como também apontam

alternativas afetivas para além da submissão a mod-

elos tradicionais de família monogâmica estável.

Em Entre amigos, diferentemente do

modelo tradicional de narrativa da transitar do exterior

para o interior, do macro para o micro, a voz do nar-

rador, nos apresenta primeiro a casa por dentro e ter-

mina com um convite ao espectador. A casa distante

da cidade, próxima da natureza, em que homens gays

convivem. Tão escondida, mesmo demonizada, mas

possuindo sutil genealogia histórica, incluindo ampa-

ro, camaradagem solidariedade, amizade e amor. Isso

não significa que preconceitos contra pobres, latinos e

afeminados não sejam explicitados por seus persona-

gens nesse meio predominantemente branco de classe

media.

Também em Colcha de retalhos há es-

paço quase monossexual, aqui majoritariamente femi-

nino, representado por uma casa em que um grupo

de amigas se encontram para costurar uma imensa

colcha de retalhos,ao mesmo tempo juntando suas

lembranças e suas vidas, num mesmo lugar, mas de

forma diferente. A colcha de retalhos - como o arco-

íris- refaz a própria sociedade norte-americana e sua

história, não do ponto de vista do rancor, do ressenti-

mento, mas da aposta, como na cena em que uma das

personagens refaz seu gesto de juventude ao pular

do trampolim mais alto na piscina. Trata-se menos de

nostalgia do que de uma recuperação de possibilidade

de futuro.

Portanto, a trajetória de personagens

femininas e gays no cinema faz pensar a identidade

feminina e a homossexualidade não só como experiên-

cias que dizem respeito apenas essas minorias. Mas,

sobretudo, nos remete a uma ética, entendida como

uma forma de conduta diante do mundo em que apa-

rece como contraponto às prisões patriarcais do amor

romântico e do sexo-rei; Trata-se ainda de um lugar

de fala silenciado, com base numa política em que o

privado não seja apenas espetáculo midiático perman-

ente. Não se trata de apenas de considerar oprimidos

como um adjetivo, mas de afirmar uma experiência

substantiva que interliga arte e vida cotidiana. O cin-

ema nada tem de redutor, classificador; é, nesse sen-

tido, mas um ponto de partida, uma pergunta mais do

que uma resposta.

Cartaz do filme Chocolat (1988). Reflexão sobre gênero e etnia

21

Page 22: Revista Temática

A comunidade homossexual nunca foi tão retratada pela

mídia como nos dias de hoje. Novelas que abordam os

dilemas de gays e lésbicas em suas relações sociais,

reality shows com a presença da “tribo dos coloridos”,

e um segmento não tão atual na sua origem, mas que

vem ganhando cada vez mais espaço: os festivais de

cinema GLBT (acrônimo de gays, lésbicas, bissexuais,

travestis, transexuais e transgêneros).

O boom de produções com temática homos-

sexual é originário da década de 90, até então os

filmes eram raros e apenas sugeriam a existência da

homossexualidade. Com a epidemia do vírus da AIDS

e a necessidade de um controle maior da doença, a

diversidade sexual passou a ser vista nas telas com

uma maior frequência, sustentada pelo “mercado gay”.

É neste contexto que começam a surgir os Festivais

GLBT. “Festivais que funcionam como importante re-

conhecimento de identidade para seu público especí-

fico, mas que também revelam para um público mais

amplo o outro cinema”, defende Luiz Nazario, histo-

riador e critico de cinema, em seu artigo intitulado “O

Outro Cinema”.

Nessa época, os festivais priorizam películas,

de formato e qualidade variada, sensíveis a temas como

AIDS, discriminação, dificuldades de se “assumir” uma

identidade gay, e tinha um forte apelo erótico, de melo-

dramas pornográficos a comédias baratas. Tendo como

um dos desafios iniciais criar um espaço de produção e

exibição de filmes que estabelecesse um diálogo entre

a pluralidade de sujeitos e subjetividade pertencentes

à cena “homo”, por vezes, havia uma ligação entre o

evento cinematográfico e as Paradas de Orgulho Gay.

“Desde o início, houve uma ligação entre os Festivais e

as Paradas de Orgulho Gay, não apenas pelo ponto de

partida – São Francisco, na década de 1970 -, mas pela

referência à constituição de espaços de sociabilidade,

de encontro entre gays, lésbicas, transgêneros e bis-

sexuais.”, relata Karla Bessa, professora do Instituto de

História da Universidade Federal de Uberlândia.

Ao todo são mais de 100 festivais de cinema

GLBT espalhados pelo mundo em um mercado para-

lelo. Um dos mais antigos é o Festival Internacional do

Filme com Temática Homossexual, “De Sodoma a Hol-

lywood” de Turim. Em sua 25ª edição, teve dois filmes

Festivais glBt: Comunidade gay ganha espaço nas premiações Co-

nematogrÁFiCas

Os mais de 100 Festivais de Cinema GLBT ajudam no reconhecimento da “identidade homossexual”

Por Júnior Santos

mu

nd

o

22

Festivais de cinema contribuiem para o reconhecimento da comunidade. Imagem:AGAL-GZ.org

Page 23: Revista Temática

brasileiros concorrendo a premiação de melhor filme:

“Do Começo ao Fim”, de Aluisio Abranches, e “Quanto

Dura o Amor?”, de Roberto Moreira. Outro evento que

merece destaque é o San Francisco International Les-

bian & Gay Film Festival, onde o Gay Pride Day leva

metade da população local às ruas. Aqui no Brasil, des-

de 1992, o Mix Brasil – o maior site de entretenimento

GLBT do país promove o Festival Mix Brasil de Cinema e

Vídeo da Diversidade Sexual, dirigido por André Fischer

e Suzy Capó. Na sua 18ª edição, o Festival está aberto

a “qualquer produção que aborde as múltiplas facetas

da sexualidade humana”, seja um curta ou um longa-

metragem.

No presente ano, o Festival de Cannes teve

uma novidade especial: a premiação, não oficial, espe-

cífica para filmes ligados à comunidade GLBT. O Queer

Palm teve as mesmas categorias do Festival, e foi co-

ordenado por Franck Finance-Madureira, repórter do

site Yagg.com, e teve como júri críticos de cinema e

diretores de filmes voltados a temática homossexual.

O filme que ganhou a premiação foi o “Kaboom”, de

Gregg Araki, que trata de um jovem universitário que

se relaciona com rapazes e garotas e começa a ter es-

tranhos sonhos e alucinações relacionados a seu pas-

sado familiar.

“Graças a esses festivais, filmes mais bem

produzidos ganharam o circuito alternativo, alguns ar-

recadaram fortuna e forçaram, pela lógica do mercado,

a introdução da temática também em seriados de TV,

como Oz, Sex And The City, Will e Grace, e Queer as

Folk, produzida ao alto custo de um milhão de dólares

por capítulo, e sendo vista por 4,5 milhões de especta-

eXtras

∙ Durante a 3º Conferência Norte-Americana para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêne-ros Muçulmanos e Simpatizantes, no ano de 2004 em Los Angeles, ocorreu a pri-meira amostra de filmes gays muçulmanos.

∙ A primeira “sugestão” da temática homos-sexual ocorreu no filme The Gay Brothers (1898), de Thomas Edison, onde dois ho-mens dançam, alegremente, uma valsa.

∙ A consagração cinematográfica do cine-ma GLBT foi no filme O Segredo de Broke-back Mountain (2005), de Ang Lee, indicado

dores em sua estréia.”, escreveu Luiz Nazario.

a 8 Oscars, e ganhador de outros 76 prêmios em todo o mundo.

∙ O Festival de Tóquio é obrigado a comprar

cópias dos filmes programados, uma vez que, a censura japonesa proíbe a mostra de genitais.

23

Teaser de divulga-ção do filme Kaboom. Imagem:Divulgação

Cartaz do Filme Brokeback Mountain. Imagem:Divulgação

Page 24: Revista Temática

A pirataria ou pirataria moderna, como alguns

denominam se refere à cópia, venda ou distribuição de

produtos sem o pagamento dos direitos autorais, de

marca e ainda de propriedade intelectual e de indús-

tria. Os principais produtos pirateados são calçados,

roupas, óculos, relógios, livros, remédios, softwares,

CDs e DVDs. A pirataria, considerada por muitos es-

pecialistas como o crime do século XXI, hoje con-

forme dados divulgados pelo Conselho Nacional de

Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade In-

telectual custa aos cofres públicos por ano cerca de

R$ 30 bilhões apenas com a arrecadação de impostos.

Atualmente os DVD’s de filmes são um dos

GranDes filmes a Preço De Bananapor Lorena Larissa

24

ram que 980 mil pessoas baixassem o longa-metragem

em uma semana, e desta vez com uma novidade a

cópia de Avatar estava sendo vendida pelos camelôs

acompanhada de um óculos feito de cartolina e filme

vermelho e amarelo em cada olho, supostamente para

simular os efeitos 3D do filme. O filme é considerado

hoje o mais baixado da década e campeão de bilhe-

teria em todo o mundo, foram feitas 500.000 cópias

piratas de Avatar em apenas 48 horas. Nos cinco dias

seguintes, conforme dados do site Torrentfreak.com,

o número subiu para 980.000. O resultado impressio-

na ainda mais quando se leva em conta o fenômeno

Lua Nova, da série Crepúsculo que agora caiu para o

mer

Cad

o

Pirataria

“ComPram na minha mão De PoliCiais à

alta autoriDaDe: Pro-CuraDor Da justiça, aDvoGaDo, DeleGaDo,

enfim Do PoBre ao riCo. é uma merCa-

Doria que não é leGal mais toDo munDo Com-

Pra”

produtos mais falsificados e vendidos em

todo o mundo. Na grande maioria das

vezes, as cópias falsificadas podem ser

encontradas nas barracas de comércio

ambulante antes mesmo do lançamento

do filme. Exemplo disso foi o filme “X-

Men Origins: Wolverine”, que um mês an-

tes de sua estréia nos cinemas já estava

disponível para download, numa versão

inacabada, nos sites de pirataria. O filme

Tropa de Elite foi conhecido por bater to-

dos os recordes de pirataria no mundo.

Filme brasileiro de 2007, dirigido por José Padilha, que

tem como tema a violência urbana na cidade brasileira

do Rio de Janeiro e as ações do Batalhão de Operações

Policiais Especiais (BOPE) e da Polícia Militar do Estado

do Rio de Janeiro. O número de DVDs piratas vendidos

pelo Brasil e pelo mundo chegou a um bilhão de có-

pias - isso, entretanto, não impediu que o filme fosse

um sucesso de bilheteria, alcançando a marca de 1.000

espectadores por sala de cinema na primeira semana.

No começo desse ano com a estréia de Avatar

não foi diferente: Os efeitos em 3D do filme não impedi-

segundo mais pirateado da história

em uma semana de estréia, com

610.000 downloads. O site Charts-

Bin divulgou uma lista que aponta

os dez filmes mais pirateados no ano

de 2009. As informações, segundo o

site, foram coletadas pelo TorrentF-

reak e são provenientes de diversas

fontes de compartilhamento de arqui-

vos. Confira a lista ao fim na matéria.

O DVD pirata traz muitos

prejuízos não só para o consumidor, mas para a sociedade, governo, indústria, meio ambi-

ente, etc. De acordo com dados da Interpol a pirataria

está relacionada ao crime organizado, que fazem uso

desta prática para financiar outras atividades ilegais

como tráfico de armas, drogas, contrabando, roubo

de carga, seqüestros, assaltos, entre outros. Para o

consumidor, o filme pirata pode estragar o aparelho

de DVD, e, caso fique constatado que o problema foi

causado por mídia falsificada, o consumidor perde o

direito à garantia. Além disso a pirataria está intima-

mente ligada à exploração infantil, são mais de 250

Page 25: Revista Temática

milhões de crianças trabalhando em regime desumano.

No Brasil, de acordo com a Frente Parlamentar Contra

a Pirataria, esse comércio ilegal impede 2 milhões de

empregos formais no país e causa um grande rombo

nas contas públicas, sem contar os diversos prejuizos

causados não só a indústria cinematográfica em

todo o mundo como também o mercado de locação.

Segundo o Conselho Nacional de Combate à Pira-

taria (CNPC) do Ministério da Justiça, diversas medidas

vêm sendo tomadas para coibir a pirataria desde 2005.

As medidas estão divididas em ações de educação; de

repressão e esclarecimento da população; e de econo-

mia para oferecer alternativas de redução dos preços

dos produtos alvos da pirataria. Outra medida consiste

na intensificação da segurança nas salas de cinema

para evitar a entrada de câmeras de vídeo nas sessões.

O comércio, a exposição à venda, ou a distri-

buição de pirataria é considerado crime no Brasil de

acordo com a Lei 10.695 do Código Penal. As pessoas

sabem disso, no entanto continuam praticando essa ir-

regularidade. E em meio a este contexto, Aracaju não

é exceção; tornou-se cena corriqueira se deparar nas

ruas do centro da cidade, nos bares da Orla de Ata-

laia ou em bairros populares com vendedores ilegais de

filmes pirateados. Geilison Santos, 26 anos, é vendedor

ambulante de DVDs piratas há dois anos e diz gostar

do que faz. “Eu não gosto de trabalhar para ninguém

não, gosto de trabalhar por conta própria e também o

lucro é maior vendendo DVDs piratas. Enquanto der

para vender e lucrar o meu, eu vendo. Mas quando não

der mais eu procuro outro meio, que eu não vou vender

DVD a vida toda”. Conta enquanto vende seus produtos.

Ao ser questionado sobre a quantidade de DVD’s

vendidos e também sobre seu lucro diário, ele diz que

tudo pode variar muito em seu ramo. “Tem dias que eu

vendo cem, tem dias que eu vendo cinqüenta, sessen-

Ambulante no centro de Aracaju. Foto: Lorena Larissa

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Page 26: Revista Temática

1º star trek 10.960# 2º transFormers: a vingança dos derrotados 10.600#3º a grande rouBada (roCknrolla) 9.430#4º se BeBer, não Case (the hangover) 9.180#5º lua nova (twilight) 8.720#6º distrito 9 8.280#7º harry potter e o enigma do prínCipe 7.930#8º intrigas de estado 7.440#9º x-men origens: wolverine 7.200#10º pressÁgio (knowing) 6.930#

toP 10: mais BaiXaDos

#milhares de downloads | Fonte: ChartsBin

ta. Já teve dias de vender 150 DVDs, geralmente

do final para o começo do mês as vendas são

melhores; já os dias ‘mais fracos’, do dia quinze

em diante as vendas caem mais, aí eu vendo de

cinqüenta a oitenta DVDs. Meu lucro depende

muito, geralmente é de mil, mil e duzentos reais

por mês”. O vendedor ainda adiciona que a ven-

da de filmes supera a de shows musicais e que

todos os estilos de filmes vendem bem, o que

varia é o gosto dos clientes. “Os filmes mais ven-

didos são os lançamentos, filmes com atores que

tem nome no cinema, principalmente os de ação,

os romances e os clássicos do cinema”. explica.

A estudante de administração da Univer-

sidade Federal de Sergipe, Géssica Maria, diz

ser contra a prática da pirataria. “Eu não com-

pro DVDs piratas não; gosto de qualidade, prin-

cipalmente em se tratando de som e imagem. Além

disso, se houver algum problema não vou ter garantia

de troca ou concerto”, defende. Mas ainda há quem

discorde desse argumento e que reitere a atividade de

Geilson, é o caso de Karol Campos, estudante de en-

genharia de Materiais também da Universidade Federal

de Sergipe. “Eu só compro DVD pirata, pela questão

financeira mesmo. Acho um absurdo o preço dos DVDs

originais. Não vou pagar oitenta ou cem reais em um

DVD original, sendo que posso comprar um pirata por

três com a mesma qualidade de vídeo e áudio”, alega.

A verdade é que a pirataria já se tornou algo

corriqueiro no dia-a-dia das cidades. Muitos defendem

que, se o preço dos originais fossem mais acessíveis, as

camadas menos favorecidas da população não alimen-

tariam esse tipo de prática, mas, isso é uma incógnita.

Se dependêssemos da fiscalização em relação à prática

da pirataria de diversos produtos, não chegaríamos a

lugar nenhum, pelo menos é o que afirma Geilson. “Eu

não me preocupo com a fiscalização mais não, tem dois

anos que vendo DVDs piratas e nunca fui pego. Apesar

de não ser de acordo com a lei, a pirataria para mim é

um trabalho honesto como qualquer outro. Compram

na minha mão de policiais à alta autoridade: procura-

dor da justiça, advogado, delegado, enfim do pobre ao

rico. É uma mercadoria que não é legal mais todo mun-

do compra”, desabafa em meio a sua banca de DVD’s.

Ambulante no centro de Aracaju. Foto: Lorena Larissa

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Page 27: Revista Temática

E O CINEMA CONTEMPORÂNEONão se conhecia o termo Indústria Cultural antes da revolução Industrial ocorrida no século XVIII. Esse termo

que a grosso modo significa a reprodução da arte, tentando se locupletar da mesma para assegurar lucros e garantir

a continuidade desse processo, foi inventado pelos autores frankfurtianos Adorno e Horkheimer, autores da teoria

crítica, que ferrenhamente defendiam a valorização da arte humanizada, ou seja, cultura feita do homem para o

homem, individual, que estimule a capacidade crítica do ser humano, porém após a Revolução Industrial ocorreram

alterações no modo produção vigente, o que disseminou a transformação da arte em comércio, assim construindo

uma pseudo-necessidade de obter determinados produtos.

Segundo os frankfurtianos, (termo utilizado para designar os pensadores da Escola de Frankfurt, criadores

da teoria crítica, e totalmente contrários a Indústria Cultural) a arte criada pela, ou a partir da Indústria Cultural não

pode ser considerada arte, já que para eles, a arte é algo que brota do ser humano, a partir de emoções próprias, que

pode ou não agradar a seus pares, diferente do conceito artístico imposto pela Indústria Cultural, algo padronizado,

sem emoção e individualidade, algo pré-fabricado que serve de “rosto” para uma possível ideologia mascarada e uma

alienação que serve como um círculo vicioso de cultura. O cinema, por exemplo, é um meio de comunicação de massa,

com um caráter teoricamente educativo e uma falsa proposta cultural, o cinema que conhecemos, segundo a visão

frankfurtiana, não passa de uma mera reprodução da visão de mundo perfeito e estética que com o passar dos anos

a Indústria Cultural nos afirmou como sendo a realidade almejada, realidade essa, muitas vezes inalcançável, o que

acaba estimulando ainda mais um círculo vicioso, uma ideologia vendida a partir de seus próprios produtos.

O cinema patrocinado é um modelo da mais pura preocupação com a estética, temas padronizados, de fácil

assimilação e compreensão, com conteúdos pouco instrutivos, voltados para o entretenimento exigindo de seus

telespectadores pouca ou nenhuma decodificação.

As grandes produções cinematográficas exigem grandes patrocínios e capital, geralmente de grandes empre-

sas que se utilizam desses mesmos filmes para disseminar suas ideologias para as grandes massas que aceitam todas

essas informações sem sequer questioná-las. Um exemplo bem conhecido foi como Hitler propagou de forma rápida e

abrangente o Nazismo por toda a Europa no século XX. Diante disto os filmes independentes, que não tem patrocínio,

consequentemente não trazem consigo ideologias comerciais, trás temas como política, educação, conflitos sociais,

violência nas grandes cidades, entre outros temas que instigam o pensamento crítico e a reflexão, são produzidos com

recursos próprios, portanto tem sua produção e exibição de forma modesta, geralmente com um público seleto, mais

intelectualizado do que a grande massa populacional.

A alienação e a adaptação ao cenário caótico e ao mesmo tempo planejado da Indústria Cultural contribuem

para que as salas de cinema fiquem repletas de mentes vazias sem interpretações e senso crítico. O cinema como

marco inicial propõe uma via de mão dupla: recepção da informação, interpretação, análise e comparação e por fim

as impressões, porém com a Revolução Industrial e consequentemente a transformação do ser humano em produto

de compra, venda e troca, fazendo com que o mesmo não tenha mais tempo de analisar a sociedade e a si mesmo faz

com que ele perca sua capacidade reflexiva não filtrando os produtos que ele mesmo irá consumir.

Por fim, segundo os filósofos frankfurtianos, os produtos destinados as massa ou produtos da Indústria

Cultural nunca serão arte, pois os mesmos não tem capacidade de causar reflexão e a arte tem características irre-

produtíveis, fugindo assim,da padronização, coletividade e consumismo desenfreado praticado pela Indústria Cultural.

A INDÚTRIA CULTURAL por larrisa regina*

*Larissa Regina Santos do Nascimento é graduanda em Comunicação Social, com abilitação em Jornalismo, pela

Universidade Federal de Sergipe.

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universidade Federal de sergipedepartamento de ComuniCação soCial