O Significado Simbólico da Flora e Fauna na Pintura de Josefa d’Óbidos e Baltazar Gomes Figueira

O Significado Simbólico da Flora e Fauna na Pintura de Josefa d’Óbidos e Baltazar Gomes Figueira

Seminário “O Valor Universal de Óbidos”


SÓNIA TALHÉ AZAMBUJA

Óbidos, 12 de Setembro de 2009

Mês de Março, Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), 1668. Colecção Particular.

Investigação

2006 Mestrado em Arte, Património e Restauro pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, A Linguagem Simbólica da Natureza. A Flora e Fauna na Pintura Seiscentista Portuguesa tese orientada pelo Prof. Doutor Vítor Serrão (FLUL) e co-orientada pelo Prof. Doutor José Carlos Costa (ISAUTL)]. Bolseira de Mestrado da FCT.

AZAMBUJA, Sónia Talhé - A Linguagem Simbólica da Natureza. A Flora e Fauna na Pintura Seiscentista Portuguesa. Lisboa: Nova Vega, 2009 (no prelo).

Sónia Talhé Azambuja O Significado Simbólico da Flora e Fauna na Pintura de Josefa d’Óbidos e Baltazar Gomes Figueira

Investigação A investigação em curso reúne três áreas científicas distintas:

História da Arte (Iconografia, Iconologia, Simbologia), História Natural (Flora, Fauna, Jardins e Paisagens) e Filosofia (Poética e Estética da Paisagem e da Natureza).

Interpretação da simbólica da flora e fauna representadas na pintura do século XVII em Portugal.



A Arquitectura da Base de Dados Relacional

Esquema da arquitectura da base de dados relacional desenvolvida para obter informação que permitiu elaborar exaustivos relatórios (83 pp.).


A Arquitectura da Base de Dados Relacional A base de dados da Tese de Mestrado está estruturada em três tabelas

principais: Tabela de espécies de Flora (124) e Fauna (64); Tabelas de quadros (166); Tabela de pintores (25).

Dos 166 quadros que figuram no corpus do Elenco Iconográfico de pintura portuguesa, foram identificadas um total de 188 espécies, das quais 124 espécies de flora e 64 espécies de fauna, i.e., aproximadamente o dobro de espécies de flora em relação às de fauna.

A flora e fauna apuradas são predominante mediterrânicas, mostrando que a introdução de flora e fauna exótica não foi fulgurante durante o séc. XVII em Portugal, à semelhança do que se passava no resto da Europa. No séc. XVIII é que ocorre uma autêntica explosão de representação de flora e fauna exótica na arte europeia.


Os problemas da Identificação da Flora e Fauna De seguida enumeraremos alguns dos problemas com que nos

deparámos na identificação das espécies e flora e fauna que constam do corpus Elenco Iconográfico:Falta de rigor na representação das plantas e o problema de

os exemplares não estarem completos (raiz, caule, folhas, floração, frutificação, semente), geralmente só parte da planta está representada;

Alteração das características da planta ao longo dos séculos, através da intervenção humana com a criação de novas variedades cultivares como é o caso da rosa, do cravo e do trigo;

Inspiração em plantas com combinação de duas espécies diferentes;

Plantas e animais imaginários;Muitas das plantas são estilizadas de modo a ornamentar.


Os problemas da Identificação da Flora e Fauna

Para ultrapassar os problemas e de modo a realizar uma correcta identificação botânica e zoológica foram tidos em conta os seguintes factores: Adopção de critérios biogeográficos (plantas e animais pertencentes à

flora e fauna do local de produção artística), ecológicos (habitat) e históricos (tradição nas representações);

A interpretação do programa iconológico; O estudo da mitologia greco-romana, das tradições pagãs, da poesia e

literatura da época; Análise da ilustração científica zoológica e descrições de Bestiários; O estudo das espécies de plantas e animais bíblicos; Comparação das identificações das plantas e animais realizadas com

estudos de referência; A análise de ilustração científica botânica e zoológica


“Corpus” do Elenco Iconográfico

Nos 166 quadros estudados no Mestrado foram identificadas um total de 188 espécies: 124 espécies de flora. 64 espécies de fauna.

Foram realizadas 873 identificações em 166 quadros que constituem o “Corpus” do Elenco Iconográfico: 721 identificações de Flora. 152 identificações de Fauna.


O Naturalismo na Arte do Século XVII

Ilustração científica de Lilium candidum (açucena) e Rosa sp. (rosas) incluídas nos Libri Picturati, final do séc. XVI, Biblioteca da Universidade Jagiellon, Carcóvia.


Iconografia da Contra-Reforma

No Siglo d’Oro existiu uma forte tradição emblemática que explorou os valores da Contra-Reforma e estava particularmente bem representada no bodegón, tão difundido na Península Ibérica.

O progresso científico e um novo olhar para a natureza, associado ao interesse da Igreja em defender os ideais contra-reformistas, levaram a que esta adoptasse uma linguagem artística mais ligada à realidade e ao quotidiano, através de temas como paisagens, bodegones, floreros, cenas de caça e representações de animais e naturezas-mortas.


Pintura do Siglo d’Oro Espanhol

Agnus Dei, ca. 1630-1635, Francisco de Zurbarán. Madrid, Museo del Prado.


Plantas Bíblicas: Árvores, Flores e Frutos

As plantas bíblicas são as árvores, arbustos e herbáceas referidas no Antigo e no Novo Testamento. Os animais bíblicos são espécies de fauna referidas nas Sagradas Escrituras.

Vários autores desde a Antiguidade interessaram-se pelas plantas bíblicas, mas o primeiro tratado conhecido sobre as plantas descritas na Sagrada Escritura, de acordo com Harold e Alma Moldenke, é a obra Herbarum atque arborum quae in Bibliis... de Levinus Lemmens, publicada em 1566.

A videira, o trigo, a figueira e o linho são das plantas com maior importância na Bíblia devido ao elevado número de referências e ao seu simbolismo.MOLDENKE, Harold N.; MOLDENKE, Alma L., Plants of the Bible, Dover Publications, New York, 1986.

Sónia Talhé Azambuja

Plantas Bíblicas

A primeira espécie de flora referida na Bíblia é a figueira (Ficus carica), já que as suas folhas cobrem Adão e Eva (“Então, abriram-se os olhos aos dois e, reconhecendo que estavam nus, coseram folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas, como se fossem cinturas, à volta dos rins.” Gn 3: 7) e

a última é o linho (Linum usitatissimum), o traje dos bem-aventurados (“Os exércitos celestes seguiam-no montados em cavalos brancos e vestidos de linho branco e puro.” Ap 19: 14).

Adão e Eva, Titian, c. 1550, Museu do Prado, Madrid.

Paraíso: ascensão dos bem-aventurados, H. Bosch, c. 1490, óleo sobre madeira, 86,5 x 39,5 cm, Palazzo Ducale, Veneza.


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O Tratado de Frei Isidoro de Barreira (1622)

Frontispício do Tratado das Significações das Plantas, Flores, e Frutos, que se referem na Sagrada Escritura, tiradas de Divinas, e Humanas letras, com suas breves considerações, Frei

Isidoro de Barreira, ed. 1698 (1ª edição, 1622, Biblioteca Nacional em Lisboa).

Das 85 espécies de plantas bíblicas que Frei Isidoro de Barreira descreve no seu tratado, 40 dessas espécies aparecem representadas no elenco iconográfico seiscentista em estudo, i.e., aproximadamente quarenta por cento.


O Tratado de Fr. Isidoro de Barreira – Plantas Bíblicas

Com base nas 85 referências do Tratado das Significações das Plantas, Flores, e Frutos... foram identificadas o nome cientifico, nome vulgar, nome vernacular e significado segundo Fr. Isidoro de Barreira (1698) e a referência, quando aplicável, à Flora de Os Lusíadas segundo estudo do Conde de Ficalho (1880).


O Tratado de Fr. Isidoro de Barreira – Plantas Bíblicas Das espécies mais vezes representadas na

pintura em estudo temos:

a rosa (Rosa sp.) símbolo de Graça; a rosa com espinhos símbolo de Gostos da vida. (Ec 24, 14).

o “lírio cessem” ou açucena (Lilium candidum) símbolo de Saudades, referido em Os Lusíadas (IX, 62) como ‘cecém’. (Ct 2: 1-2).

o lírio ou açucena (Lilium sp.) símbolo de“Pureza.

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Das oitenta e cinco espécies de flora que Frei Isidoro de Barreira descreve no seu tratado, quarenta dessas espécies aparecem representadas no elenco iconográfico seiscentista em estudo, i.e., aproximadamente quarenta por cento.


O Tratado de Fr. Isidoro de Barreira – Plantas Bíblicas a palma da palmeira-tamareira (Phoenix

dactylifera) símbolo de Vitória, referida em Os Lusíadas (X, 42) como ‘palmas’. (Jo 12, 12-13).

os espinhos da planta espinheiro-de-Cristo (Paliurus spina-christi) símbolo de Riquezas. (Mt 27, 27-29).

os figos (Ficus carica): figos lampos símbolo de Bens antecipados, figos verdes símbolo de Frutos sem proveito e folhas de figueira símbolo de Penitência. (Gn 3: 6-7).

as espigas de trigo-mole (Triticum aestivum) símbolo de Fartura, referida em Os Lusíadas (IX, 27) como ‘trigo’. (Ge 30: 14).

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Das oitenta e cinco espécies de flora que Frei Isidoro de Barreira descreve no seu tratado, quarenta dessas espécies aparecem representadas no elenco iconográfico seiscentista em estudo, i.e., aproximadamente quarenta por cento.



a pereira (Pyrus communis) símbolo de Ira, Indignação, referida em Os Lusíadas (IX, 59) como ‘peras’.

A videira (Vitis vinifera) símbolo de Alegria,

videira & outra espécie símbolo de Alegria perturbada, a flor da vinha símbolo de Bons intentos, as folhas da vinha símbolo de Esperanças perdidas, referida em Os Lusíadas (IX, 59) como ‘vide’. (Jo 15, 1-2).

a macieira (Malus domestica) símbolo de amor.



a hera (Hedera sp.) símbolo de Ambição, referida em Os Lusíadas (II, 36) como ‘hera’. (2 Mac 6: 7).

o loureiro (Laurus nobilis) símbolo de Triunfo, referido em Os Lusíadas (IX, 57) como ‘loureiros’. (Sl 37: 35).



o feto-ordinário (Pteridium aquilinum) símbolo de Segurança.

a alegação ou salsaparilha-bastarda (Smilax aspera) símbolo da Verdade.

as favas (Vicia faba var. faba) símbolo de Demandas. (2 Samuel 17, 28).



o cidrão ou limão (Citrus medica) símbolo de Vontade, referido em Os Lusíadas (IX, 56) como ‘cidreira’. (Lv 23: 40).

a murta (Myrtus communis) símbolo de Dor, referida em Os Lusíadas (IX, 57) como ‘mirtos’. (Is 41, 19).



a romã (Punica granatum) símbolo de Conformidade, referida em Os Lusíadas (IX, 59) como ‘romã. (Ex 28, 33); (Ct 4: 3).

a flor da romã símbolo de Perfeição, a casca de romã símbolo de Modéstia, Pejo.

o castanheiro (Castanea sativa) símbolo de Restauração.

Quadros de Pintores de Óbidos Quadros de Óbidos (106 quadros dos 166 estudados)

Dos 166 quadros do século XVII estudados, 106 quadros, i.e. 63 %, são dos pintores obidenses Josefa e Baltazar.

73 quadros de Josefa e 33 de Baltazar


Josefa d’Óbidos Josefa (73 quadros), 126 esp. (89 flora + 37 fauna)

Flora Rosa L., rosa, 34 quadros Dianthus caryophyllus L., cravo, 22 quadros Rosa canina L., rosa-brava 20 quadros Jasminum officinale L., jasmim, jasmineiro-comum, 18 quadros Lilium candidum L., açucena, cajado-de-São-José, 16 quadros Viola tricolor L., erva-da-trindade ou amor-perfeito 11 quadros Calendula officinalis L., maravilhas ou boas-noites, 9 quadros Prunus cerasus L., ginja, ginjeira 8 quadros Citrus sinensis (L.) Osbeck, laranja-doce, laranjeira-doce, 6 quadros 422 representações (370 flora + 52 fauna) Fauna Ovis aries (Linnaeus, 1758), cordeiro, carneiro, 7 quadros - símbolo de

Cristo e da sua Paixão Columba livia (Gmelin, 1789), pomba-doméstica, 5 quadros., símbolo do

Espírito Santo.


Baltazar Gomes Figueira BGF (33 quadros) 83 espécies (51 de flora + 32 espécies fauna) 185 ident: 137 flora e 48 fauna Flora Rosa sp. L.rosa (floração), roseira (planta), 9 quadros Citrus sinensis (L.) Osbeck, laranjeira-doce, 9 quadros Ficus carica L.figo (fruto), figueira (planta) 7 quadros Prunus cerasus L.ginja (fruto), ginjeira (planta) 6 quadros Vitis vinifera L.uvas (fruto), videira (planta), vinha, 5 quadros

Fauna Ovis aries (Linnaeus, 1758), cordeiro, carneiro, 3 quadros - Símbolo de Cristo e da

sua Paixão Alectoris rufa (Linnaeus, 1758), perdiz, 3 quadros (negativo: símbolo do Mal;

positivo: símbolo da Virgem Maria). Crangon crangon (Linnaeus, 1758), camarão-mouro, 3 quadros ,símbolo da

invulnerabilidade de Cristo.


Um dos quadros com maior n.º de espécies: 22 17 de flora e 5 de fauna

S. João Baptista Menino numa Cercadura de FloresJosefa de Ayala e Cabrera (“Josefa de Óbidos”, 1630-1684), cerca de

1680.Pintura a óleo sobre tela, 109 x 88 cm, assinada. LISBOA, Colecção

Particular.




As espécies mais frequentes nos quadros do corpus Elenco Iconográfico :

rosa (Rosa sp.): 71 quadros, símbolo da Virgem e da Imaculada Conceição, símbolo de Amor Triunfante. A rosa vermelha é símbolo de Martírio. A rosa branca é símbolo de Pureza. Planta Bíblica: (Ec 24, 14).

rosa-brava (Rosa canina): 23 quadros, simbologia idêntica à da rosa.

açucena (Lilium candidum): 37 quadros, símbolo de Pureza, símbolo de Virgindade e Castidade, atributo da Virgem Maria. Planta Bíblica: (Ct 2: 1-2).



cravo (Dianthus caryophyllus): 24 quadros, atributo da Virgem Maria, símbolo do Amor: Amor Divino ou Terreno. O cravo vermelho é símbolo de Amor Puro. O termo grego dianthus significa “flor de Deus”.

anémona (Anemone coronaria): 21 quadros, símbolo de Sofrimento e Morte, símbolo da Trindade, conotada cerimónias fúnebres e com a Paixão de Cristo. Planta Bíblica: (Lc12:27).

vime (Salix viminalis): 37 quadros, símbolo de Protecção Sagrada.



jasmim-comum (Jasminum officinale): 21 quadros, símbolo da Virgem Maria, símbolo de Graça, Elegância, Amabilidade, Amor Divino, Alegria Eterna. Associado a rosas o jasmim simboliza Fé.

a palmeira-tamareira/palma (Phoenix dactylifera): 15 quadros, símbolo de Triunfo sobre a Morte, símbolo dos Mártires, símbolo da Glória e da Árvore do Paraíso. Planta Bíblica: (Jo 12, 12-13).

a ginjeira/ginja (Prunus cerasus): 14 quadros, símbolo do Sangue do Redentor, símbolo da Anunciação e da Encarnação de Cristo, alusão ao Deleite dos Abençoados.



açúcar em bolos e doces (Saccharum officinarum): 14 quadros.

videira/uvas (Vitis vinifera): 14 quadros, símbolo da Eucarística e da Ressurreição, símbolo de Cristo, símbolo da Terra Prometida e do Paraíso, símbolo da Igreja de Deus e da Alma Humana, símbolo da Virgem Maria. Planta Bíblica: (Mt 26, 26-29).

tulipa (Tulipa sp.): 14 quadros, símbolo da Graça Divina, Espírito Santo e do Amor Divino. Atributo da Virgem Maria. Símbolo da Dor da Virgem pela Crucificação de Cristo. Planta Bíblica: (Cc 2, 12).

erva-da-Trindade, amor-perfeito (Viola tricolor): 12 quadros, símbolo da Trindade (três pétalas coloridas: branco, amarelo e púrpura). Atributo de Cristo e da sua Paixão. Símbolo da Cinco Chagas de Cristo (cinco pétalas). Alusão ao Pensamento e à Meditação.



laranja-doce ou laranja-da-China (Citrus sinensis): 13 quadros, símbolo de castidade e virgindade, símbolo de eternidade, símbolo de fidelidade no amor.

figueira/figo (Ficus carica): 13 quadros, símbolo de Salvação e Ressurreição. Os figos quando associados à vinha simbolizam paz e abundância. Símbolo da Cruz de Cristo, símbolo alternativo à maçã como fruto proibido do Éden. Planta Bíblica: (Gn 3: 6-7).

cravo-túnico, craveiro-de-Tunes (Tagetes patula): 7 quadros, atributo da Virgem Maria.



melão, meloeiro (Cucumis melo): 7 quadros, símbolo da Virgindade Imaculada, atributo da Virgem Maria. Planta Bíblica: (Nm 11, 5).

marmelo, marmeleiro (Cydonia oblonga): 5 quadros, símbolo da Fertilidade e do Matrimónio. Alusão à virtude imortal.

chagas-de-Cristo (Tropaeolum majus): 2 quadros, símbolo das Chagas de Cristo.

frade (cogumelo, Macrolepiota procera): 3 quadros, símbolo de Longevidade, símbolo da Vida Regenerada pela Morte.



cordeiro (Ovis aries (Linnaeus, 1758)): 17 quadros, símbolo de Cristo e da sua Paixão. Animal Bíblico: (Jo 1: 29).

pomba-doméstica (Columba livia (Gmelin, 1789)): 14 quadros, símbolo do Espírito Santo. Animal Bíblico: (Jo 1: 32).

cão-doméstico (Canis familiares (Linnaeus, 1758)): 7 quadros, símbolo da fidelidade. Animal Bíblico: (Mt 7: 6).



pintassilgo (Carduelis carduelis Linnaeus, 1758]), : 2 quadros, símbolo da Paixão de Cristo.

perdiz (Alectoris rufa (Linnaeus, 1758)): 4 quadros, símbolo do Diabo, do Mal ou Símbolo da Virgem Maria e da Igreja.

pato-real (Anas platyrhynchos (Linnaeus, 1758)): 4 quadros, símbolo de Felicidade, símbolo de Almas Bem-aventuradas.



cavalo-doméstico (Equus caballus (Linnaeus, 1758)): 4 quadros. Animal Bíblico: (Ap 6: 1-8).

burro-doméstico (Equus asinus (Linnaeus, 1758)): 5 quadros. Animal Bíblico: (Mt 21: 7).

galo-doméstico (Gallus gallus domesticus (Linnaeus,1758)): 4 quadros, símbolo da Paixão de Cristo. Animal Bíblico: (Jo 13: 38).



amazona-de-fronte-azul, papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva ssp. aestiva (Linnaeus, 1758)): 2 quadros, símbolo de Pureza, símbolo de Inocência, atributo da Virgem Maria.

robalo-baila (Dicentrarchus punctatus (Bloch, 1792)): 3 quadros, símbolo de Cristo, símbolo da Luz Divina e símbolo da Destruição do Mal.

lúcio (Esox lucius (Linnaeus, 1758)): 1 quadro, símbolo da Luz Divina e símbolo da Destruição do Mal.


Quadros Síntese da Simbologia da Flora e da Fauna identificadas

Quadro Síntese da Simbologia da Flora (124 espécies).


Quadros Síntese da Simbologia da Flora e da Fauna identificadas

Quadro Síntese da Simbologia da Fauna (64 espécies).

Visão de S. João da CruzJosefa de Ayala e Cabrera (“Josefa de Óbidos”,

1630-1684), cerca de 1673.Pintura a óleo sobre tela, 150,2 x 114,5 cm, não assinada.Proveniência: Convento dos Carmelitas Descalços de Cascais. CASCAIS, Igreja Matriz.


Dianthus caryophyllus L., cravo

O termo grego dianthus significa “flor de Deus”.

Viola tricolor L., erva-da-Trindade, amor-perfeitoSímbolo da Trindade (três pétalas coloridas: branco, amarelo e púrpura).Atributo de Cristo e da sua Paixão.Símbolo da Cinco Chagas de Cristo (cinco pétalas).

Lilium candidum L.Nomes vulgares: açucena, cajado-de-São-José Segundo Fr. Isidoro de Barreira significa Saudades. Símbolo de Pureza.

Símbolo de Virgindade e Castidade.Atributo da Virgem Maria. Símbolo da Anunciação. Atributo do Arcanjo Gabriel.Atributo de Santos (S. António de Lisboa).

As representações artísticas da Anunciação a partir do Renascimento passam a representar a açucena, símbolo da Virgindade de Maria. A açucena no meio de espinhos simboliza a Imaculada Conceição da Virgem, cuja pureza não foi tocada pelos pecados do mundo.

Planta Bíblica: (Ct 2: 1-2)


Josefa de Ayala e Cabrera (“Josefa de ÓbidA Virgem e o Menino numa cercadura de Floresos”, 1630-1684), cerca de 1670.Pintura a óleo sobre tela, 84 x 112 cm, não assinada. LISBOA, Colecção Particular. © GRI-Ministério da Cultura-Portugal.


Flora 1. Tagetes patula L., cravo-túnico 2. Anemone coronaria L., anémona 3. Rosa sp. L., rosa 4. Lilium candidum L., açucena, cajado-de-São-José 5. Chelidonium majus L., erva-andorinha, celidónia,

erva-das-verrugas (?) 6. Punica granatum L., floração da romãzeira


1 23

4 5 6

7

89

10

11

126

13

1

2

34

5

9

12

13

7. Viola tricolor L., erva-da-trindade, amor-perfeito 8. Jasminum officinale L., jasmim-comum 9. Calendula officinalis L., maravilhas 10. Rosa sp. L., rosa 11. Dianthus caryophyllus L., cravo 12. Rosa canina L., rosa-brava 13. Vitis vinifera L., uvas


N.º Nome científico Nome vulgar 1 Alectoris rufa (Linnaeus, 1758) perdiz 2 Alosa fallax fallax (Lacepède, 1803) savelha 3 Anas platyrhynchos (Linnaeus, 1758) pato-real 4 Anser (Linnaeus,1758) sp. ganso 5 Carduelis carduelis (Linnaeus, 1758) pintassilgo 6 Chelidonichthys lucernus (Linnaeus, 1758) ruivo 7 Chelon labrosus (Risso, 1827) tainha-liça 8 Crangon crangon (Linnaeus, 1758) camarão-mouro 9 Crassostrea gigas (Thunberg, 1793) ostra-gigante 10 Dicentrarchus punctatus (Bloch, 1792) robalo-baila 11 Oryctolagus cuniculus (Linnaeus, 1758) coelho-bravo 12 Pagellus bogaraveo (Brünnich, 1768) goraz 13 Philomachus pugnax (Linnaeus, 1758) combatente 14 Platichthys flesus (Linnaeus, 1758) solha-das-pedras 15 Pollicipes pollicipes (Gmelin, 1789) percebe 16 Ruditapes decussatus (Linnaeus, 1758) amêijoa 17 Sardina pilchardus (Walbaum, 1792) sardinha 18 Solea vulgaris (Linnaeus, 1758) linguado 19 Streptopelia turtur (Linnaeus, 1758) rola-brava 20 Sylvia atricapilla (Linnaeus, 1758) toutinegra-de-barrete 21 Trachurus trachurus (Linnaeus, 1758) carapau 22 Tyto alba (Scopoli, 1769) coruja-das-torres

Listagens de espécies de fauna que identificámos na pintura de Óbidos de Baltazar Gomes Figueira e de Josefa de Ayala no Elenco Iconográfico e que são identificadas como fazendo parte da fauna actual da Lagoa de Óbidos e da zona costeira (que reforçam a Candidatura à Classificação da Área de Paisagem Protegida de Âmbito Regional da Lagoa de Óbidos e a candidatura de Óbidos a Património da Humanidade / UNESCO).

Josefa d’Óbidos e Baltazar Gomes Figueira: naturalistas do século XVII


Neste quadro dos Meses quase todas as espécies de fauna (bacalhau-do-atlântico, carapau, camarão-mouro?, ostra-gigante, percebe, amêijoa, caranguejo, ruivo, robalo-baila, santola, linguado ) são originárias da Lagoa de Óbidos, o que revela um olhar atento à natureza.







Natureza-morta com Laranjas, Cebola, Peixe e Caranguejo, Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), 1645. Museu do Louvre, Paris. Flora: 1. Citrus sinensis (laranja-doce, laranjeira-doce)

2. Allium cepa (cebola), 3. Petroselium crispum (salsa). Fauna: A. Dicentrarchus punctatus (robalo-baila), B. Dardanus arrosor (caranguejo), C. Crangon crangon (camarão-mouro)?



Natureza-morta com Laranjas, Cebola, Peixe e Caranguejo, Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), 1645. Museu do Louvre, Paris.

Citrus sinensis (laranja-doce, laranjeira-doce) - símbolo de castidade e pureza Allium cepa (cebola): Na Mitologia romana cabeças de cebola e sangue de peixe

eram oferecidas a Júpiter como símbolo de sacrifícios humanos. Petroselium crispum (salsa): salsa como floresce em Maio, o mês mariano, surge

representada na arte do Renascimento italiano como símbolo sagrado da Virgem Maria.

Dicentrarchus punctatus (robalo-baila): simbologia geral do peixe como símbolo eucarístico e cristológico e simbologia análoga ao do peixe lúcio, ou seja, símbolo da luz divina.

Dardanus arrosor (caranguejo) e Crangon crangon (camarão-mouro):crustáceos são sinal da invulnerabilidade de Cristo.



Borboleta-da-couve-pequena (Pieris rapae) junto à couve (Brasica oleracea) in Natureza Morta, Josefa de Ayala e Cabrera (“Josefa de Óbidos”, 1630-1684), ca. 1680. Lisboa, Colecção Particular.



A Linguagem da Flora e Fauna

Natureza-Morta. Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), c. 1670. Viseu, Museu Grão Vasco. Identificação de Flora: 1. Citrus sinensis (laranja-doce), 2. Citrus limon (limão), 3. Vitis vinifera

(uvas), 4. Saccharum officinarum (cana-de-açúcar, açúcar, bolos)?. Fauna: A. Platichthys flesus (solha-das-pedras)?, B. Esox lucius (lúcio), C. Peixe (espécie não determinada), D. Pássaro insectífero (espécie não determinada), E. Anas platyrhynchos (pato-real, ♀), F. Philomachus

pugnax (combatente).


Philomachus pugnax (combatente): Voam contra o vento, “combatendo” o vento, na simbologia cristã geralmente o vento é o Mal. Símbolo de Cristo Combatente. Significado idêntico podemos encontrar nos galos representados nos campanários, enfrentando o vento.




Natureza-Morta. Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), c. 1670. Viseu, Museu Grão Vasco.

Esox lucius (lúcio): Símbolo da Luz Divina. Animais destruidores de repteis são associados à imagem de Cristo, como destruidores do mal. Nas palavras de Cristo: “Eu sou a luz do mundo. Quem me seguir deixa de andar na escuridão e terá a luz da vida” (Jo, 8-12)


Bodegón de caza y frutas, Alejandro de Loarte, 1623. Pintura a óleo sobre tela, 84 x 105 cm, assinado: “Alexandro de Loarte, f. at 1623”. MADRID, Fundación Santamarca. © MADRID, Fundación Santamarca.



O Naturalismo na Pintura Portuguesa dos séculos XVI e XVII

De acordo com o Prof. Vitor Serrõa: no fundo de paisagem desta pintura é possível identificar a Quinta da Capeleira nos arredores de Óbidos, propriedade dos pintores Baltazar e Josefa. Mês de Agosto, Josefa de Ayala e Cabrera (“Josefa de Óbidos”, 1630-1684) e Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), c. 1668, pintura a óleo sobre tela, A. 112 x L. 175 cm, Colecção Particular.

Sónia Talhé Azambuja



Castanheiro (Castanea sativa) com dois pintassilgos (Carduelis carduelis) símbolo da Paixão de Cristo e da Alma Humana, e uma toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla) símbolo da Alegria Cristã, símbolo do Verbo Divino nos Espíritos e da Doçura da Alma in Mês de Agosto (porm.).


A Paisagem de Óbidos como pano de fundo

Mês de Setembro, Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), cerca de 1645-1650. FLORENÇA, Museu Uffizi. Ao fundo vista de Óbidos segundo identificação do Prof. Doutor Vítor Serrão (FLUL).


A gravura e a difusão de modelos artísticos

Gravados de Cornelis Cort e Raffaello Shiaminossi. Prof. Vitor Serrão. Repouso na Fuga para o Egipto, Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), 1643. Pintura a óleo

sobre tela, datada “1643”, não assinada. ÓBIDOS (A DA GORDA), Ermida de São Brás.



Repouso na Fuga para o Egipto, Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), 1643. Pintura a óleo sobre tela, datada “1643”, não assinada. ÓBIDOS (A DA GORDA), Ermida de São Brás.

Repouso na Fuga para o Egipto, Josefa de Ayala e Cabrera (“Josefa de Óbidos”, 1630-1684), cerca de 1660-70. Pintura a óleo sobre tela, 83 x 61 cm, não assinada. LISBOA, Colecção Particular.



Repouso na Fuga para o Egipto, Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), 1643. Óbidos (A da Gorda), Ermida de São Brás.



Pormenor de Repouso na Fuga para o Egipto. Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), 1643. Óbidos (A da Gorda), Ermida de São Brás.

Pormenor de ilustração científica de Prunus cerasus (ginjeira, ginjas) incluída nos Libri Picturati, final do séc. XVI, Biblioteca da Universidade Jagiellon, Carcóvia.



As cerejeiras dão-se no nas terras frias das serras do norte, do Centro-Norte montanhoso e do Centro-Leste meridional, sendo famosas as cerejas do Fundão e da serra da Lousã.

As ginjeiras não necessitam de tanto frio como as cerejeiras para a maturação do fruto, pelo que as encontramos na região Centro de Portugal, sendo típicas da Estremadura a “ginjinha” de Lisboa, a de Óbidos e a de Alcobaça.

Em relação à “ginjinha de Óbidos”, “acredita-se que a origem desde licor (ginjinha) remonta ao século XVII, de receita conventual”.

Pormenor de Repouso na Fuga para o Egipto. Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), 1643. Óbidos (A da Gorda), Ermida de São Brás.

Pormenor de ilustração científica de Prunus cerasus (ginjeira, ginjas) incluída nos Libri Picturati, final do séc. XVI, Biblioteca da Universidade Jagiellon, Carcóvia.

Ginjas

Natureza Morta: Cesta com Ginjas, Queijos e FigosAtribuída a Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), cerca de 1670.Pintura a óleo sobre tela, 50 x 110 cm, não assinada.LISBOA, Colecção Particular.© IMC / MC.


A Flora de Josefa e Baltazar

Açucenas, roseiras, cravos, romãzeira, jasmim, ginjas, anémonas, rosas-bravas, cravos-túnicos, laranjeiras, amores-perfeitos, entre outras.


Proposta: Um Jardim em Óbidos que Celebre as Plantas de Josefa e Baltazar

Um novo jardim em Óbidos que celebre as plantas representadas nas pinturas dos pintores obidenses Josefa d’Óbidos e Baltazar Gomes Figueira.

Selecção das plantas mais emblemáticas da pintura e que adaptem melhor em termos de clima de Óbidos.

Plantas de elevado valor simbólico e que serviam de veículo a mensagens.

Exposição de pinturas de Josefa e Baltazar com a interpretação simbólica da flora e fauna.

Atracção para turismo cultural.

Reforço da candidatura de Óbidos a Paisagem Cultural da Humanidade, pela originalidade da interligação da natureza e da cultura.


Jardim de Josefa d’Óbidos e Baltazar Gomes Figueira

Açucenas, roseiras, cravos, romãzeira, jasmim, cravos-túnicos, laranjeiras, roseiras-bravas, anémonas, amores-perfeitos, ginjeiras, entre outras


Açucenas Rosas Cravos Romãzeira



Jasmim Ginjas Anémona Roseira-brava





Cravo-túnico Laranjeira Flor de Laranjeira Amor-perfeito



Publicação da Investigação

Lista de Publicações: www.soniaazambuja.com

AZAMBUJA, Sónia Talhé – A Linguagem Simbólica da Natureza. A Flora e Fauna na Pintura Seiscentista Portuguesa. Lisboa: Nova Vega, 2009 (lançamento em Outubro de 2009).

Apoios:


http://www.soniaazambuja.com/

Agradecimentos

• Câmara Municipal de Óbidos

• Prof. Doutor Vítor Serrão da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

• Prof. Doutor José Carlos Costa do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa

• Fundação para a Ciência e a Tecnologia - Bolsa de Doutoramento (SFRH/BD/27436/2006) e Bolsa de Mestrado (SFRH/BM/12913/2003)

• Dr. João Azambuja


Documents

O Significado Simbólico da Flora e Fauna na Pintura de Josefa d’Óbidos e Baltazar Gomes Figueira