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Revista Brasileira de Ciência Política, nº14. Brasília, maio - agosto de 2014, pp. 255-295. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0103-335220141410 Yan de Souza Carreirão * O sistema partidário brasileiro: um debate com a literatura recente e Brazilian party system: a debate with the recent literature Este trabalho visa fazer uma avaliação da dinâmica do sistema partidá- rio brasileiro atual, especialmente no que se refere a aspectos relacionados com as noções de “institucionalização” (ou “consolidação”) e “estrutura da competição”, bem como ao papel da ideologia na estruturação do sistema. 1 O objetivo central é estabelecer um diálogo com certa produção brasileira recente que, ao partir de referenciais teóricos só mais recentemente explora- dos no país, representa uma renovação do debate que vinha predominando na literatura nacional sobre o tema. Essa produção aponta corretamente alguns aspectos relevantes no sentido de uma maior estruturação do sis- tema partidário brasileiro; alguns desses trabalhos, no entanto, fazem uma avaliação que parece excessivamente positiva quanto à dinâmica recente do sistema. Os argumentos aqui defendidos, em oposição aos desses trabalhos são: 1) ao lado de indícios de “consolidação” ou “institucionalização” há outros, tão ou mais significativos, que apontam em sentido contrário a isso; 2) a disputa presidencial não estrutura tão fortemente (quanto parte dessa * É professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis, SC, Brasil). E-mail: [email protected]. 1 Este trabalho foi desenvolvido no âmbito de projeto de pesquisa apoiado pelo CNPq com bolsas de Produtividade e Iniciação Científica. Por fugir ao escopo deste artigo, não será desenvolvido aqui o conhecido debate que opõe, grosso modo, os trabalhos que avaliam nosso sistema político (incluindo aí o sistema partidário) como tendo características que dificultam a “governabilidade” (Lamounier, 1989; Mainwaring, 1991, 2001; Mainwaring e Scully, 1995; Ames, 2003; Samuels, 2003; Mainwaring e Torcal, 2005, entre outros) e aqueles que, ao contrário, apontam a capacidade de o Executivo implementar sua agenda, com o apoio, no Congresso, dos partidos que compõem o governo. Embora com certas variações, podem ser enquadrados aí os trabalhos de Figueiredo e Limongi (1999, 2007, 2009), Limongi (2006), Amorim Neto (2000, 2007), Amorim Neto e Santos (2001) e Santos (2003, 2006), entre outros.

O sistema partidário brasileiro

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O sistema partidário brasileiro

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  • Revista Brasileira de Cincia Poltica, n14. Braslia, maio - agosto de 2014, pp. 255-295. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0103-335220141410

    Yan de Souza Carreiro*

    O sistema partidrio brasileiro: um debate com a literatura recente

    The Brazilian party system: a debate with the recent literature

    Este trabalho visa fazer uma avaliao da dinmica do sistema partid-rio brasileiro atual, especialmente no que se refere a aspectos relacionados com as noes de institucionalizao (ou consolidao) e estrutura da competio, bem como ao papel da ideologia na estruturao do sistema.1 O objetivo central estabelecer um dilogo com certa produo brasileira recente que, ao partir de referenciais tericos s mais recentemente explora-dos no pas, representa uma renovao do debate que vinha predominando na literatura nacional sobre o tema. Essa produo aponta corretamente alguns aspectos relevantes no sentido de uma maior estruturao do sis-tema partidrio brasileiro; alguns desses trabalhos, no entanto, fazem uma avaliao que parece excessivamente positiva quanto dinmica recente do sistema. Os argumentos aqui defendidos, em oposio aos desses trabalhos so: 1) ao lado de indcios de consolidao ou institucionalizao h outros, to ou mais significativos, que apontam em sentido contrrio a isso; 2) a disputa presidencial no estrutura to fortemente (quanto parte dessa

    * professor do Departamento de Sociologia e Cincia Poltica da Universidade Federal de Santa Catarina (Florianpolis, SC, Brasil). E-mail: [email protected].

    1 Este trabalho foi desenvolvido no mbito de projeto de pesquisa apoiado pelo CNPq com bolsas de Produtividade e Iniciao Cientfica. Por fugir ao escopo deste artigo, no ser desenvolvido aqui o conhecido debate que ope, grosso modo, os trabalhos que avaliam nosso sistema poltico (incluindo a o sistema partidrio) como tendo caractersticas que dificultam a governabilidade (Lamounier, 1989; Mainwaring, 1991, 2001; Mainwaring e Scully, 1995; Ames, 2003; Samuels, 2003; Mainwaring e Torcal, 2005, entre outros) e aqueles que, ao contrrio, apontam a capacidade de o Executivo implementar sua agenda, com o apoio, no Congresso, dos partidos que compem o governo. Embora com certas variaes, podem ser enquadrados a os trabalhos de Figueiredo e Limongi (1999, 2007, 2009), Limongi (2006), Amorim Neto (2000, 2007), Amorim Neto e Santos (2001) e Santos (2003, 2006), entre outros.

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    literatura sugere) o sistema partidrio; 3) a ideologia conta cada vez menos como estruturadora desse sistema. Para embasar esses argumentos, so apresentados dados prprios e sistematizado um amplo conjunto de dados e concluses apresentados em outros trabalhos, sobre diferentes aspectos relativos ao sistema partidrio (coligaes, coalizes, migraes partidrias, volatilidade eleitoral, fragmentao partidria).

    Sero inicialmente apresentados aspectos tericos relativos s noes de institucionalizao e estrutura da competio do sistema partidrio, tal como aparecem em alguns dos trabalhos brasileiros recentes com os quais pretendo dialogar. A partir da ser enfocada a dinmica do sistema partid-rio brasileiro. Inicialmente so abordados aspectos empricos relacionados com a noo de institucionalizao dos partidos e do sistema partidrio. A seguir discuto as relaes entre estrutura da competio e formao de governo, bem como a tese de que a disputa presidencial estrutura o sistema partidrio; mais adiante trato do papel da ideologia na estruturao desse sistema. Nas Consideraes finais, fao um balano das principais con-cluses, contrastando-as com as avaliaes predominantes nessa produo.

    O debate terico sobre as noes de institucionalizao e estrutura da competio do sistema partidrio

    H na literatura internacional um debate importante que envolve questes sobre o grau de estabilidade (ou consolidao) dos sistemas partidrios ou dos partidos (Sartori, 1982; Rose e Mackie, 1988; Bartolini e Mair, 1990; Mainwaring e Scully, 1995; Mair, 1997; Mainwaring, 2001; Mainwaring e Torcal, 2005, entre outros). Parte dessa literatura envolve a noo de insti-tucionalizao dos partidos polticos e do sistema partidrio.2 A noo de institucionalizao proposta por Mainwaring e colaboradores (Mainwaring e Scully, 1995; Mainwaring, 1999, 2001) e que parte de uma crtica tipo-logia de sistemas partidrios elaborada por Sartori (1982) provavelmente a que exerceu maior influncia no debate brasileiro, at recentemente, para caracterizar o grau de institucionalizao de um sistema partidrio.3

    2 Vou me ater aqui ao debate terico presente na produo voltada para a anlise do caso brasileiro, de forma a discutir diretamente a forma como essa literatura internacional foi apropriada no pas.

    3 Essa noo envolve os seguintes aspectos: a) o grau de estabilidade dos padres de competio eleitoral; b) o grau de enraizamento dos partidos na sociedade; c) o grau de legitimidade dos partidos junto a diferentes atores polticos; d) o grau de independncia das organizaes partidrias frente aos seus lderes.

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    Certos trabalhos recentes introduzem no debate outras noes (menos exigentes) de institucionalizao, com outros critrios de mensurao do grau de institucionalizao dos partidos e dos sistemas partidrios, incluindo crticas aos critrios propostos por Mainwaring, mas sem propor o aban-dono da noo de institucionalizao do sistema partidrio. Alguns desses trabalhos, porm, questionando a utilidade ou mesmo a adequao terica da noo de institucionalizao, acabam por abandon-la, utilizando espe-cialmente a noo de estrutura da competio (Mair, 1997) para analisar a evoluo de nosso sistema partidrio. A nfase aqui ser no debate com esse conjunto de trabalhos.

    Dois trabalhos recentes sobre o sistema partidrio brasileiro (Braga, 2010; Tarouco, 2010) postulam a utilizao de outras noes de institucionalizao dos partidos e do sistema partidrio diferentes do proposto por Mainwaring.4 No que se refere ao prprio conceito de partido poltico, tanto Braga quanto Tarouco, partindo especialmente de Rose e Mackie (1988) e Mair (1997), trabalham a partir de uma perspectiva minimalista e centrada nas relaes entre partidos e Estado. Tarouco sintetiza as diferenas centrais de critrios de institucionalizao e de definies de partidos entre Mainwaring e Rose e Mackie:

    De uma maneira geral, os critrios de Mainwaring et al. (...) parecem valorizar mais a relao dos partidos com a sociedade e sua relevncia para o eleitorado. Essa perspec-tiva est de acordo com uma concepo clssica de partidos polticos que privilegia suas funes de representao de segmentos da sociedade e de intermediao de interesses como fundamentos da democracia (...) Nitidamente distintos, os critrios de Rose e Mackie (1988) so mais compatveis com uma noo contempornea e mais minimalista de partidos polticos como organizaes que: a) competem em eleies para formar o governo e o legislativo; b) atuam em diferentes frentes, podendo aprofundar suas relaes com o Estado sem necessariamente aprofundar vnculos societrios; c) competem com outras associaes pela canalizao de interesses (Tarouco, 2010, p. 181).

    As autoras tomam de Rose e Mackie (1988) os elementos que formam o conceito de institucionalizao dos partidos (diferentemente de institucio-nalizao do sistema partidrio):

    4 Para as crticas a esse conceito, ver Melo e Cmara (2012, p. 75-79), Braga (2010) e Tarouco (2010).

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    [O] conceito de institucionalizao desses autores formado por trs elementos. O primeiro se refere existncia de organizao competitiva no nvel das eleies na-cionais. O segundo defende que partidos institucionalizados apresentam candidatos s disputas eleitorais nacionais e, por fim, o terceiro elemento diz respeito perma-nncia dos partidos na competio por sucessivas eleies. Nessa ltima dimenso, preciso que um partido participe ao menos de trs eleies para ser considerado institucionalizado (Braga, 2010, p. 49).

    Braga (2010) e Tarouco (2010) contrastam a noo de institucionalizao do sistema partidrio proposta por Mainwaring especialmente com a abor-dagem proposta por Mair (1997). Na perspectiva deste ltimo, para avaliar a dinmica do sistema partidrio seria necessrio avaliar se a estrutura de competio fechada ou aberta entrada de novos atores partidrios e avaliar o relacionamento dessa estrutura com o processo de formao de governo.

    Nesse sentido, a estrutura de competio poder ser

    relativamente fechada e, dessa forma, altamente previsvel, com pouca ou nenhuma mudana na gama de alternativas de governo ou no padro de alternncia, e com probabilidade alta de os novos partidos no chegarem ao governo. De outro lado, a estrutura de competio pode ser relativamente aberta, e dessa forma bastante imprevisvel, com diferentes padres de alternncia, com frequentes mudanas na composio das alternativas de governo, e com grande probabilidade de os partidos terem acesso ao governo (Braga, 2010, p. 47).

    Estruturas de competio partidria fechadas (e previsveis) ou abertas (imprevisveis) estariam relacionadas a estratgias dos partidos, eventual-mente mais do que a preferncias dos eleitores:

    uma estrutura de competio fechada constrangeria as preferncias eleitorais, ao limitar a escolha de opes para governar de modo que seria similar ao limite dado na escolha de partidos em sistemas no fragmentados. Em sendo assim, uma estrutura de com-petio fechada favoreceria a estabilidade do sistema partidrio (Braga, 2010, p. 48).

    Fechando o argumento: estratgias das elites partidrias (especialmente ao definir a oferta de candidaturas) podem influenciar no sentido do fechamento da estrutura de competio, o que por sua vez favoreceria a estabilidade dos alinhamentos eleitorais e do sistema partidrio.

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    De forma semelhante, Melo e Cmara, sem descartar a relevncia da ideia de consolidao de sistema partidrio (Melo e Cmara, 2012, p. 75), advogam que o conceito de institucionalizao, tal como utilizado na literatura, no a ferramenta mais indicada para uma discusso a respeito do atual estgio do sistema partidrio brasileiro (Melo e Cmara, 2012, p. 77, grifo meu). Como alternativa noo de institucionalizao, os autores propem tambm a utilizao da noo de estrutura da competio, formulada por Mair (1997).

    Institucionalizao dos partidos e do sistema partidrio brasileiroOs trabalhos de Braga (2010) e Tarouco (2010), ao partir de noes de

    institucionalizao dos partidos e do sistema partidrio diferentes da pro-posta por Mainwaring e colaboradores, questionando (assim como Melo e Cmara, 2012) os critrios propostos por esses autores, apontam para uma abordagem dos partidos que toma como pressuposto que o papel efetivo que eles desempenham hoje nas democracias mais o de auxiliar na estrutura-o da competio e na formao de governos do que o de representao poltica dos eleitores.

    Irei aqui discutir alguns dos critrios operacionais utilizados pelas autoras relativos noo de institucionalizao dos partidos e do sistema partidrio e problematizar algumas de suas anlises e concluses, apresentando tambm informaes de outros trabalhos e alguns dados mais recentes coligidos para este artigo, em especial relativos s eleies de 2010.

    Quanto aos critrios relativos institucionalizao dos partidos, embora Braga (2010) e Tarouco (2010) partam do mesmo referencial (Rose e Mackie, 1988), acabam por operacionaliz-los de forma diferente. A meu ver, o crit-rio utilizado por Tarouco (obteno de votos para a Cmara dos Deputados em trs eleies) muito pouco exigente. Ao no considerar o nmero de votos que um partido recebe numa eleio, parece no considerar de forma adequada um dos elementos envolvidos no conceito de institucionalizao de Rose e Mackie: a organizao competitiva no nvel de eleies nacionais (Tarouco, 2010, p. 173, grifo meu).5 Por isso, vai concluir que teramos 20 partidos institucionalizados. J Braga, considerando os critrios propostos,

    5 No parece possvel tomar como competitivos, por exemplo, com base nos resultados eleitorais in-formados pela autora em relao s eleies para a Cmara de Deputados em 2006 (Tarouco, 2010, p. 176, tabela 2), partidos como o PSTU (0,1% dos votos), PCB (0,1%), PTN (0,2%), PTdoB (0,3%), PMN (0,9%), PTC (0,9%) e PRONA (1%), apenas para ficar com aqueles que fizeram no mximo 1% dos votos.

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    vai concluir que os partidos mais institucionalizados nas eleies para a Cmara dos Deputados so: PP, PDT, PT, PMDB, PTB, PFL/DEM, PSDB, PSB, PL/PR, PPS e PCdoB6.

    No que se refere no mais institucionalizao dos partidos, mas esta-bilidade do sistema partidrio brasileiro, Tarouco questiona: se h um grande grupo de partidos que persiste no tempo e recebe votos em eleies estaduais e nacionais regularmente h mais de 20 anos (...) como esse quadro poderia configurar um sistema partidrio incipiente? E conclui:

    o sistema partidrio brasileiro, ainda que no sirva de referncia principal a orientar as escolhas do eleitorado, abriga partidos institucionalizados (...) trata-se de um siste-ma razoavelmente estabilizado de partidos que lograram se estabelecer, permanecem na competio e so persistentemente reconhecidos como tais no ambiente poltico (Tarouco, 2010, p. 180-181, grifos meus).

    A concluso pode ser correta, se partimos (como o faz Tarouco) dos conceitos de Rose e Mackie (1988). Mas, luz de outras perspectivas de con-ceituao de sistema partidrio (como em Bardi e Mair, 2010, e Melo, 2010), talvez se esteja perdendo a dimenso propriamente sistmica da expresso sistema partidrio. Um conjunto de partidos no necessariamente forma um sistema, se no se estabelecem certos padres de inter-relacionamento entre os partidos.7 Assim, em um sistema partidrio razoavelmente estabilizado, deveramos esperar certa regularidade no relacionamento entre os partidos, incluindo os padres de competio eleitoral (correlaes de fora, tipos de coligao) e de formao de governo (coalizes). Se a correlao de fora entre os partidos se altera bruscamente entre uma eleio e outra (altos nveis de volatilidade), se muitos partidos competem, formando tipos os mais diferen-ciados de coligao seja para cargos diferentes numa mesma eleio, seja para um mesmo cargo entre uma eleio e outra, se as coalizes para diferentes

    6 Conferir de lista de siglas de partidos ao final do artigo.7 Bardi e Mair alertam que quando falamos de sistema partidrio, frequentemente essa expresso

    simplesmente uma maneira sucinta de referir uma pluralidade de partidos. Essa familiaridade, inevi-tavelmente, faz com que essa expresso (...) no seja vista como tendo uma ligao com os diferentes elementos que possam estruturar as mtuas relaes e interaes entre os partidos envolvidos (Bardi e Mair, 2010, p. 232). Melo, por sua vez, afirma que um sistema partidrio no se resume soma dos partidos existentes, mas caracteriza-se por possuir propriedades que no pertencem a seus membros individualmente, os quais operam sob um conjunto de oportunidades e constries que so prprias da interao estabelecida entre eles com a sequncia das eleies (Melo, 2010, p. 37).

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    nveis de governo (federal, estadual, municipal) num mesmo momento ou para um mesmo nvel em diferentes momentos tambm se alteram muito, ser que poderemos falar de sistema partidrio razoavelmente estabilizado? Tarouco, no entanto, com exceo de uma rpida meno ao trabalho de Ferreira, Batista e Stabile (2008) que estuda nveis de volatilidade , no analisa dados relativos a essas dimenses. Parece passar quase diretamente da concluso (discutvel) da existncia de um conjunto de vinte partidos institucionalizados para a concluso de que isso s pode significar um siste-ma partidrio (razoavelmente) estabilizado, o que no me parece adequado.

    Braga analisa: a) os nveis de volatilidade eleitoral (partidria e ideolgica) na Cmara dos Deputados e, seguindo os critrios propostos por Mair, analisa tambm: b) a estrutura da competio partidria nas eleies brasileiras entre 1982 e 2006; c) a estrutura da competio nas eleies presidenciais; e d) o relacionamento dessa estrutura de competio com o processo de formao de governo. Ao final, conclui que a verificao do grau de institucionaliza-o do sistema partidrio pela volatilidade eleitoral e ideolgica identificou uma dinmica gradativa de institucionalizao do sistema de partidos no Brasil (Braga, 2010, p. 68). No que respeita estrutura da disputa, conclui que o sistema partidrio caminhou para uma estrutura de competio mais fechada (Braga, 2010, p. 70).

    Braga inicia sua anlise sobre o grau de institucionalizao do sistema partidrio brasileiro avaliando a volatilidade eleitoral na Cmara dos De-putados. Apresenta dados (retirados de Mainwaring e Torcal, 2005) com-parativos de 38 democracias relativos s cmaras baixas, que mostram que o sistema partidrio brasileiro apresenta uma taxa de volatilidade eleitoral mais elevada apenas do que os nove primeiros pases (Braga, 2010, p. 54). Alm disso, mostra que a tendncia geral foi de declnio da volatilidade entre 1990 e 2006. Com base nesses ltimos dados afirma que esse declnio no grau de volatilidade dos padres de competio interpartidria em to pouco tempo de existncia revela que nosso sistema de partidos cada vez mais vivel (Braga, 2010, p. 52). Apresenta tambm dados sobre a evoluo da volatilidade ideolgica, agregando os partidos segundo o contnuo esquerda--direita, mostrando que os nveis so bem menores do que os de volatilidade eleitoral-partidria (total) e estariam em declnio na Cmara dos Deputados.

    preciso dizer que esses dados apontam para tendncias importantes no sentido indicado pela autora. Mas seria preciso tambm fazer algumas

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    ressalvas: em primeiro lugar, no que diz respeito comparao com as taxas de volatilidade de outros pases, dados mais recentes apresentados por Mainwaring e Zoco (2007) relativos a 47 pases que haviam partici-pado do Comparative Study of Electoral Systems (CSES) mostram que, tomando a volatilidade mdia nas eleies para as cmaras baixas desde o comeo do regime democrtico (em cada pas), o Brasil fica em 26 lugar, com uma mdia de 21,8% de volatilidade no perodo analisado (no caso do Brasil, 1986-2002). A situao, portanto, no parece to positiva, em perspectiva comparada.

    Em segundo lugar, o nvel agregado (para o conjunto do pas) de volatilidade nas eleies para a Cmara dos Deputados encobre valores maiores (e variaes significativas) nos nveis de volatilidade por Estado e por municpio. A prpria autora, em trabalho anterior (Braga, 2006), mostrou que os nveis mdios de volatilidade na eleio para deputado federal medidos ao nvel municipal so muito elevados: 42,7% entre 1990 e 1994, 36,3% entre 1994 e 1998, e 37,3% entre 1998 e 2002 (mdia de 38,7% entre 1990 e 2002).

    Em terceiro lugar, quanto volatilidade ideolgica, inicialmente deve ser notado que no h uma trajetria de declnio constante, j que h um salto enorme de 1,6% do perodo 1994/98 para 10,0% no perodo 1998/2002 e depois um declnio para 2,6% no perodo 2002/2006 (Braga, 2010, p. 54). Alm disso, os dados apresentados pela prpria autora em outro trabalho mostram que entre 1990 e 2002 os nveis de volatilidade ideolgica nas eleies para deputado federal e estadual, quando medidos ao nvel dos municpios, se mantiveram praticamente constantes e consideravelmente altos no pas, em torno de 21%, correspondendo a pouco mais da metade da volatilidade total (mdia por municpio), que esteve em torno de 39% (Braga, 2006, p. 225-226).8

    Por fim, a anlise dos dados relativos aos nveis de volatilidade nas elei-es para alguns outros cargos (que no foram objeto de estudo de Braga, 2010)9 revela que os nveis so maiores do que nas eleies para a Cmara

    8 Peres (2005) j analisara os nveis de volatilidade nas eleies para a Cmara dos Deputados, com dados e concluses (quanto ao declnio da volatilidade eleitoral sistmica e ideolgica) semelhantes aos de Braga, valendo, portanto, as mesmas observaes que fao acima.

    9 A autora, no entanto, analisou tambm, em trabalho anterior (Braga, 2006), dados relativos ao cargo de deputado estadual, mostrando que os nveis variaram em torno de 40% entre 1990 e 2002, quando medidos ao nvel dos municpios.

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    dos Deputados. Melo mostra que os nveis mdios de volatilidade por Es-tado nas eleies para governador entre 1990 e 2006 so bastante variados e elevados (de um mnimo de 31% em SC a um mximo de 95% no AM), com nveis mdios por Estado de 56% (Melo, 2010, p. 27). Alm disso, no h uma tendncia unvoca de declnio, mas oscilaes ao longo do perodo 1994-2006.

    Bohn e Paiva, analisando dados relativos ao perodo 1982-2006, em mbito estadual, para as eleies a cinco cargos (presidente, senador, gover-nador, deputado federal e estadual), postulam que os nveis de volatilidade eleitoral vm diminuindo, com exceo do cargo de governador. Com base nisso, concluem que

    no s a volatilidade vem diminuindo ao decorrer do tempo, como entre tipos dife-rentes de pleito (exceo feita s disputas senatoriais) e na maior parte dos estados (embora em diferentes graus). Portanto, somos levados a concluir que o caso brasileiro caminha na direo de um processo de cada vez maior institucionalizao do seu sistema de partidos (Bohn e Paiva, 2009, p. 205).

    Na realidade, porm, os dados desse trabalho mostram que, considerado o perodo 1994-2006 (ou seja, desconsiderando o perodo de maior intensi-dade de criao/fuso de partidos sob o atual sistema partidrio), o declnio da volatilidade s ocorreu mesmo nas eleies para presidente e deputado federal (Bohn e Paiva, 2009, p. 190, quadro 1). Para os outros trs cargos, na mdia do pas h uma estabilidade em torno de nveis relativamente elevados (51% para governador, 63% para senador, e 28% para deputado estadual; para esses dois ltimos cargos essa estabilidade j vinha de 1990).

    Os dados mais recentes (volatilidade entre 2006 e 2010) tambm no parecem permitir uma viso to otimista. A tabela 1 mostra uma enorme variao nos nveis de volatilidade entre as unidades da federao; alm disso, percebe-se que os nveis agregados para o pas, qualquer que seja o cargo, escondem um valor muito maior do que o da mdia dos estados. As mdias estaduais so: governador, 48,8%; senador, 79%; deputado federal, 25,6%; e deputado estadual, 31,2%. Comparando-as com os dados de Bohn e Paiva (2009) para 2002-2006, houve um grande aumento nas eleies para senador e um leve aumento nas eleies para deputado estadual. Nas eleies para governador e deputado federal, um pequeno declnio.

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    Tabela 1. Volatilidade eleitoral por estado - quatro cargos (2006-2010)

    estado governador senador deputado federal deputado estadual

    Rondnia 37,8 80,3 24,3 27,1Acre 38,4 68,2 35,4 25,0

    Amazonas 99,7 81,4 18,5 24,4Roraima 51,7 99,9 37,3 30,4

    Par 6,0 47,4 17,7 22,1Amap 67,7 75,1 37,5 25,6

    Tocantins 3,7 95,7 35,2 17,3Maranho 80,3 77,2 33,9 29,2

    Piau 87,4 85,1 14,9 23,7Cear 17,8 99,6 23,1 33,6

    Rio Grande do Norte 62,8 67,1 23,2 13,6Paraba 50,4 55,7 21,9 23,9

    Pernambuco 65,4 99,7 26,2 31,0Alagoas 29,9 98,2 38,1 46,5Sergipe 2,5 85,1 40,5 35,4Bahia 30,5 82,3 25,3 35,5

    Minas Gerais 36,9 99,6 14,1 37,3Esprito Santo 99,4 98,8 23,5 42,4Rio de Janeiro 57,2 96,2 20,6 38,5

    So Paulo 16,6 75,7 14,4 52,2Paran 60,4 46,4 22,8 21,9

    Santa Catarina 60,5 78,6 8,2 35,6Rio Grande do Sul 28,5 33,7 14,0 31,9

    Mato Grosso do Sul 5,5 60,1 25,2 41,4Mato Grosso 83,0 84,3 21,9 39,8

    Gois 63,5 68,3 21,4 29,0Distrito Federal 74,9 95,1 53,3 29,9

    mdia dos estados 48,8 79,0 25,6 31,2Brasil (volatilidade agregada) 14,4 25,5 10,9 11,0

    Fonte: Site Jairo Nicolau (2006) e TSE (2010). Elaborao do autor (colaborao de Patrick Marques). Obs: 1) o clculo das porcentagens de votos (que deram origem ao clculo da volatilidade) tomou como base apenas os votos vlidos; 2) as mdias dos estados foram calculadas com base nas mdias simples das unidades da federao; 3) a volatilidade brasilei-ra agregada foi calculada com base na variao de votos dos partidos no pas como um todo entre uma eleio e outra.

    Enfim, embora tenha ocorrido, realmente, uma diminuio dos nveis de volatilidade nas eleies para deputado federal, comparativamente aos

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    encontrados no incio da dcada de 90, considerando o conjunto dos dados aqui apresentados a situao no me parece to confortvel quanto as anlises formuladas por Braga (2010), Peres (2005) e Bohn e Paiva (2009) sugerem.

    Alm dos nveis de volatilidade, Braga, seguindo os critrios propostos por Mair, analisa: a estrutura da competio partidria nas eleies brasileiras entre 1982 e 2006; a estrutura da competio nas eleies presidenciais; e o relacionamento dessa estrutura de competio com o processo de formao de governo. Em relao ao primeiro aspecto, identifica um processo mais re-cente de no-apresentao de novas legendas ao sistema partidrio, afirmando que isso tambm um indicador importante no sentido da estabilidade do comportamento das principais elites polticas brasileiras (Braga, 2010, p. 57).

    A criao do PSD em 2011 e, mais recentemente, ao final de setembro de 2013, a obteno de registro por parte do PROS (Partido Republicano da Ordem Social) e do partido Solidariedade, alm da tentativa de obteno de registro por outros partidos, entre os quais o Rede Sustentabilidade, parece mostrar que aquela tendncia estabilidade talvez no seja to duradoura.10 Quanto ao impacto da criao desses novos partidos, no caso do PSD a estru-tura da competio partidria j foi afetada, em diferentes graus, segundo o cargo e os locais em que se realizam as disputas.11 O PROS e o Solidariedade obtiveram seu registro em perodo muito prximo data final de filiao de polticos para disputar as prximas eleies. O Rede Sustentabilidade no conseguiu o nmero de assinaturas (certificadas) necessrias para a obten-o de seu registro a tempo de disputar as eleies de 2014. Considerando que Marina Silva aparecia como segunda colocada nas pesquisas eleitorais, pode-se imaginar que, se o registro tivesse sido obtido, teria sido grande o impacto da formao do partido nas prximas eleies. Assim, o eventual baixo impacto da formao (ou da tentativa de formao) de novos partidos nas eleies de 2014 ter dependido do timing e da competncia das lideran-

    10 O Rede Sustentabilidade estruturou-se, em grande medida, em torno da candidatura presidencial de Marina Silva. Alm dos mencionados, outros trs partidos esto tentando obter o registro junto ao TSE: o Partido Pirata do Brasil, o PLB e a Arena.

    11 Em Santa Catarina, caso que parece mais extremo, o governador, os trs deputados federais, os sete deputados estaduais e 42 prefeitos que eram filiados ao DEM migraram para o PSD, quando da for-mao desse partido. O DEM transformou-se, no momento da criao do PSD, de um dos principais partidos no Estado, num pequeno partido, enquanto o PSD tornou-se um dos maiores. Isso j teve impactos nas eleies municipais de 2012: o PSD foi o segundo colocado em nmero de prefeitos eleitos (52), atrs apenas do PMDB. O partido que mais perdeu representantes municipais em Santa Catarina foi o DEM, com 38 prefeitos e 337 vereadores a menos que em 2008.

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    as no processo de registro dos partidos e no de uma estabilidade de oferta partidria por parte das elites polticas.

    Ainda na anlise sobre a estrutura da competio partidria no Brasil, no que respeita s eleies presidenciais, Braga identifica corretamente um processo acentuado de estabilidade dos padres de competio em mbito nacional, com um padro bipartidrio na competio (Braga, 2010, p. 58 e p. 68-69, respectivamente). Quanto s eleies para a Cmara dos Deputados, depois de mostrar que o nmero de partidos efetivos aumentou de 2,6 em 1982 para 10,6 em 2006, conclui que para o Legislativo nacional, configura-se uma estrutura de competio multipartidria moderada (Braga, 2010, p. 70).12 A qualificao de moderada para a competio partidria, na tipo-logia de Sartori, est mais referida distncia ideolgica entre os partidos e dinmica da competio (se centrpeta ou centrfuga), mas, em relao ao critrio numrico, Sartori afirma que o pluralismo limitado e moderado compreende de trs a cinco partidos relevantes (Sartori, 1982, p. 201). Alm disso, a comparao com dados atuais de outros pases mostra que o Brasil , talvez, o pas com o sistema partidrio mais fragmentado do mundo, tomando as cmaras baixas como referncia.13 Trata-se, portanto, em termos compa-rativos, de um elevado (e no moderado) grau de competio partidria.

    Os dados da tabela 2 mostram que, em 2010, a fragmentao na eleio para a Cmara dos Deputados continuou aumentando (de 10,6 para 11,3 em mbito agregado, para o pas; de 8,0 para 8,2 na mdia dos estados). Alm disso, esse aumento ocorreu em 17 das 27 unidades da federao, tratando-se,

    12 Ferreira, Batista e Stabile, analisando a evoluo do nmero de partidos efetivos por Estado no perodo 1982-2006 para os cargos de deputado estadual, deputado federal, governador e senador, chegam a concluso semelhante, afirmando a existncia de um sistema multipartidrio moderado (Ferreira, Batista e Stabile, 2008, p. 446). Essa concluso no me parece se adequar anlise dos dados apre-sentados pelos autores para os cargos de deputado federal e estadual, na medida em que, na grande maioria dos estados, a tendncia de crescimento da fragmentao ao longo do perodo, sendo que em 2006 o nmero de partidos efetivos variou entre 6,2 (SC) e 14,4 (AP), com uma mdia, no conjunto dos estados, de 9,5 no plano das eleies para deputado estadual. Para deputado federal, os dados eram: mnimo de 5,6 (MS) e mximo de 12,8 (RJ), com uma mdia de 8,0. Quanto aos cargos de go-vernador e senador, os nmeros apresentados (que so realmente baixos) no se referem a partidos, mas a candidatos, que so apoiados, na maioria das vezes, por coligaes amplas, cuja composio muda muito, de um estado a outro e de uma eleio a outra, como aponta Melo (2010, p. 28).

    13 Dalton, Farrell e McAllister mostram que o Brasil o pas com maior fragmentao partidria (no Parlamento) entre os 36 pases que fizeram parte do Comparative Study of Electoral System (CSES): 8,9 partidos efetivos; a Blgica, em 2 lugar, tem 7,5; s 5 dos 36 pases tm cinco ou mais partidos efetivos (Dalton, Farrell e McAllister, 2011, p. 42). Payne, comparando o nmero efetivo de partidos de 18 pases da Amrica Latina, mostra que o Brasil o que tem maior fragmentao partidria, tanto na mdia do perodo analisado (no caso do Brasil, 1986-2002), quanto na eleio mais recente em cada um dos pases (Payne, 2007, p. 169).

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    portanto, no s de um resultado agregado que pudesse ter sido influenciado por alguns poucos estados. E o aumento da fragmentao mdia nos estados aconteceu tambm nas eleies para senador e deputado estadual, enquanto nas eleies para governador no houve variao significativa entre 2006 e 2010.

    Tabela 2. Nmero de partidos efetivos (arena eleitoral) por estado (2006-2010)

    estadosdeputado federal deputado estadual governador senador2006 2010 2006 2010 2006 2010 2006 2010

    Rondnia 7,3 7,7 13,2 14,2 2,6 2,7 3,4 3,7Acre 7,9 6,8 9,8 12,8 2,4 2,0 1,3 3,8

    Amazonas 9,3 9,4 13,6 13,3 2,4 2,1 3,2 3,5Roraima 11,4 8,7 15,7 16,5 2,1 2,3 2,1 4,6

    Par 6,5 7,0 9,1 10,5 2,8 2,6 2,5 1,8Amap 8,4 10,7 14,5 13,5 2,3 3,8 2,1 3,8

    Tocantins 5,7 7,8 8,5 8,1 2,1 2,0 2,2 1,7Maranho 8,9 9,3 10,1 13,8 2,8 2,7 3,0 2,4

    Piau 7,6 6,8 8,7 8,4 2,2 2,8 2,1 3,2Cear 6,5 8,1 7,1 11,2 2,0 2,3 2,1 3,4

    Rio G. Norte 7,6 8,4 8,7 9,5 2,1 2,4 2,5 3,6Paraba 6,4 6,0 6,8 8,9 2,1 2,0 2,3 1,8

    Pernambuco 9,6 8,4 12,2 11,0 3,0 1,4 2,5 3,0Alagoas 10,2 7,6 5,6 11,4 2,4 3,1 2,7 3,6Sergipe 7,6 8,1 7,9 11,8 2,1 2,1 2,1 4,3Bahia 5,6 8,4 11,4 11,5 2,1 2,2 2,7 4,3

    Minas Gerais 10,4 10,7 8,2 12,4 1,6 2,0 2,2 3,4Esprito Santo 7,0 8,0 7,8 12,6 1,6 1,4 1,9 2,8Rio de Janeiro 12,7 11,7 8,7 11,9 3,7 2,0 2,8 5,0

    So Paulo 9,0 9,2 9,9 7,5 2,3 2,6 2,4 4,7Paran 7,9 10,2 10,6 9,3 2,9 2,1 2,2 4,1

    Santa Catarina 6,2 6,3 7,8 7,1 2,7 2,6 2,3 4,7Rio G. Sul 8,5 7,8 6,4 7,5 3,8 2,6 4,1 3,8

    Mato G Sul 5,6 6,0 7,4 8,7 1,9 2,0 2,2 3,8Mato Grosso 8,1 8,0 7,1 7,3 2,1 2,6 2,3 4,0

    Gois 6,6 8,1 9,8 10,5 2,5 2,7 1,6 3,1DistritoFederal 6,9 6,9 12,1 16,3 2,8 2,8 2,2 3,3mdia estados 8,0 8,2 9,6 11,0 2,4 2,4 2,4 3,5

    Brasil (total) 10,6 11,3 11,5 11,6 5,4 5,7 6,8 7,9

    Fonte: Site Jairo Nicolau (2006) e TSE (2010). Elaborao do autor (colaborao de Patrick Marques).

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    Os argumentos que associam maior fragmentao a uma impossibilidade de formao de maiorias legislativas perderam fora, at porque os gover-nos brasileiros recentes no tm encontrado dificuldade para obter maioria no Congresso, independentemente do grau de fragmentao do sistema (que tem aumentado).14 Atualmente, o tema da fragmentao parece mais relevante para os analistas que se preocupam com problemas que envolvem a arena eleitoral. Se no mbito das eleies para governador o processo de coordenao eleitoral sugerido por Limongi e Cortez (2010) discutido mais adiante acaba por atenuar o problema, reduzindo os custos de tomada de deciso por parte dos eleitores, nas eleies proporcionais os custos so muitos altos. Diversos trabalhos (Nicolau, 2002; Renn, 2006, 2009; Marenco, 2009; Melo, 2010) postulam que a tarefa de avaliar os parlamentares e seus desafiantes, para depois decidir seu voto uma tarefa das mais difceis para os eleitores nas eleies proporcionais no pas. H um srio problema de accountability com repercusses sobre a qualidade da representao nas eleies proporcionais brasileiras que se deve tambm a outros fatores institucionais, mas agravado pelo alto grau de fragmentao partidria.

    Concluindo essa seo, as concluses de Bohn e Paiva (2009), Braga (2010) e Tarouco (2010), embora apontem aspectos positivos reais de um possvel processo de institucionalizao (ou estruturao) dos partidos e do sistema partidrio brasileiro, no parecem dar o devido destaque a alguns limites importantes desse processo.

    O papel da disputa presidencial na estruturao do sistema partidrio

    Nesta seo sero abordados dois tpicos: o primeiro refere-se relao entre a estrutura da disputa para presidente e a formao de governos; o segundo, sobre o papel da disputa presidencial na estruturao das disputas para outros cargos eleitorais.

    No que diz respeito relao entre a estrutura da disputa presidencial e a formao de governos, importante retomar os argumentos de Mair (1997), que so a base de vrios dos trabalhos aqui analisados. Inicialmente, cabe destacar que Mair analisa a estrutura de competio para o governo e

    14 Isso no elimina as discusses relativas influncia do grau de fragmentao sobre os custos de transao envolvidos no processo de formao de maiorias legislativas e sobre a clareza da responsa-bilidade (Renn et al., 2011) pelas aes governamentais que afeta a capacidade de accountability em relao aos partidos que formam a coalizo governista.

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    a relao entre essa competio e a formao de governos. Mair sustenta que, assim como uma mudana na oferta de partidos (ou seja, na estrutura da competio) pode causar mudanas na estabilidade eleitoral, uma mudana na estrutura da competio pode contribuir para desestabilizar o sistema partidrio (Mair, 1997, p. 222). E esse aspecto que, ao final de seu livro, o autor enfatiza, em relao aos sistemas partidrios da Europa ocidental:

    As evidncias sugerem que estamos agora testemunhando uma grande mudana nos padres tradicionais de formao de governo. H duas tendncias que so relevantes aqui, cada uma das quais sugere que as antigas estruturas fechadas de competio podem estar comeando a se abrir e, portanto, podero promover uma maior incer-teza eleitoral no futuro. Em primeiro lugar [...] temos visto nas duas ltimas dcadas a abertura dos governos para (a participao de) uma gama crescente de partidos polticos [...], resultando da que governar, mesmo que apenas esporadicamente, hoje uma experincia padro para a maioria dos partidos. Em segundo lugar, [...] sistemas partidrios so cada vez mais caracterizados por um gradual alargamento da gama de alternativas de coalizo, criando a impresso de uma crescente promiscui-dade no processo de formao de coalizes, o que, por seu turno, provavelmente tem impacto sobre estruturas de competio dentro dos sistemas partidrios. Caso essas tendncias continuem, ento certamente possvel que ainda possamos testemunhar a progressiva desestruturao dos padres tradicionais de competio partidria, com os padres fechados anteriores dando lugar, cada vez mais, a um estilo que a um s tempo mais aberto e menos previsvel (Mair, 1997, p. 224, grifos meus).

    A partir dessas reflexes de Mair talvez possamos especificar melhor tambm a prpria tese de que a partir de 1994 nosso sistema partidrio tem se estrutu-rado em torno da competio para presidente. Se privilegiarmos a competio eleitoral strictu sensu, a tese correta; de 1994 para c efetivamente formou-se uma estrutura da competio eleitoral (que no havia antes), em torno das co-ligaes capitaneadas por PT e PSDB. Mas o processo de formao de governos no seguiu essa estrutura da disputa to de perto. Se privilegiarmos esse ltimo processo, talvez devssemos tomar como marco divisrio o ano de 2003 e no o de 1994. Entre 1990 e 2002 tivemos governos de centro-direita, com a esquerda na oposio (quadro 1).15 Alm disso, as coalizes envolviam de 3 a 5 partidos.

    15 O padro durante o governo Sarney tambm era esse. Uma nica exceo ocorreu na primeira coalizo do governo do presidente Itamar Franco, em que o PSB participou. Tratava-se de um momento excepcional, em que aps o impeachment de Collor que foi apoiado por praticamente todos os partidos havia um sentimento de certa obrigao de apoiar o novo governo, garantindo a governabilidade.

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    Quadro 1. Coalizes de governo (1988-2011)

    presidentes perodo partidosSarney 06/10/88 - 14/03/90 PMDB-PFLCollor 1 15/03/90 - 31/01/91 PRN-PFLCollor 2 01/02/91 - 14/04/92 PRN-PDS-PFL Collor 3 15/04/92 - 30/09/92 PDS-PTB-PL-PFL Itamar 1 01/10/92 - 30/08/93 PSDB-PTB-PMDB-PSB-PFL Itamar 2 31/08/93 - 24/01/94 PSDB-PTB-PMDB-PP-PFL Itamar 3 25/01/04 - 31/12/94 PSDB-PP-PMDB-PFL FHC I 1 01/01/95 - 25/04/96 PSDB-PTB-PMDB-PFLFHC I 2 26/04/96 - 31/12/98 PSDB-PTB-PMDB-PFL-PPBFHC II 1 01/01/99 - 05/03/02 PSDB-PTB-PMDB-PFL-PPBFHC II 2 06/03/02 - 31/12/02 PSDB-PMDB-PPBLula I 1 01/01/03 - 22/01/04 PT-PSB-PDT-PPS-PCdoB-PV-PL-PTBLula I 2 23/01/04 - 31/12/04 PT-PSB-PMDB-PPS-PCdoB-PV-PL-PTB Lula I 3 01/02/05 - 19/05/05 PT-PSB-PMDB- PCdoB-PV-PL-PTBLula I 4 20/05/05 - 22/07/05 PT-PSB-PMDB- PCdoB-PL-PTBLula I 5 23/07/05 - 31/12/06 PT-PSB-PMDB- PCdoB-PP-PL-PTBLula II 1 01/01/07 01/04/07 PT-PSB-PMDB-PCdoB-PP-PL-PTBLula II 2 02/04/07 31/12/10 PT-PSB-PMDB-PDT-PCdoB-PP-PR-PTB-PRBDilma 1 01/01/11 28/02/12 PT-PCdoB-PMDB-PSB-PR-PP-PDTDilma 2 29/02/12 PT-PCdoB-PMDB-PSB-PR-PP-PDT-PRB

    Fontes: at Lula I: Figueiredo e Limongi (2007); Lula II: Figueiredo e Limongi (2010); Dilma: pesquisa do autor. Agradeo a Fernando Limongi por ceder os dados referentes ao perodo 2007/2010.

    A partir de 2003 as coalizes passaram a envolver de 7 a 9 partidos, incluin-do siglas de todos os campos ideolgicos (esquerda, centro e direita).16 Essas mudanas em relao formao de governo parecem guardar semelhanas com as tendncias de mudana que Mair apontava em parte dos pases da Euro-pa ocidental, na dcada de 90: aumento do nmero de partidos que participam de governos e aumento das alternativas de coalizo, aumentando a sensao de crescente promiscuidade no processo de formao de governos. E isso, na avaliao de Mair, gerava menos previsibilidade. Assim, no caso brasileiro, se a estrutura da competio aponta para maior estabilidade (em relao ao

    16 Nos ltimos 10 anos, apenas por um perodo de dois meses, entre maio e julho de 2005 (quando estourou o escndalo do Mensalo), o governo Lula contou com uma coalizo de apenas seis partidos, com a sada do PV, logo substitudo pelo PP.

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    perodo pr-94), o processo de formao de governos, porm, parece ser mais aberto e apontar para maior imprevisibilidade (quando comparado ao perodo pr-2003). Os sinais quanto dinmica do sistema no parecem unvocos, portanto, quando analisamos simultaneamente a estrutura da competio para presidente e a formao de governos.17

    Outro aspecto importante relacionando a estrutura da disputa com o pro-cesso de formao de governos destacado por Braga, que indica que a insero dos partidos (e polticos) na formao dos governos se deu por trs vias: a) participao do partido na coligao que elegeu o presidente da Repblica; b) entrada de partidos que estavam fora da coligao eleitoral vencedora, mas elegeram uma bancada razovel para a Cmara dos Deputados; c) fa-vorecendo a migrao de polticos dos partidos da oposio para a esfera de influncia da coalizo governamental (Braga, 2010, p. 59-60).

    Quanto segunda via mencionada por Braga, parece ser comum em pases com sistemas multipartidrios; a questo a forma como se d a incorporao ao governo de partidos que no faziam parte da coligao de apoio ao candidato eleito. Um possvel problema com eventuais repercusses sobre o grau de re-presentatividade e legitimidade do sistema poltico o da diferena ideolgica entre os partidos cooptados aps as eleies e aqueles que apoiaram o candi-dato durante o processo eleitoral.18 Coalizes ideologicamente inconsistentes vm ocorrendo de forma crescente no pas, como ser mostrado mais frente.

    No que se refere terceira via de formao de governos (migraes), se logo aps as eleies h um grande nmero de migraes (como ocorria at 2007) e se a distribuio de ministrios ao longo de um mandato for feita com base na fora parlamentar dos partidos, essa distribuio ser afetada pelas migraes, distanciando-se do que potencialmente aconteceria, caso no houvesse as migraes.19 Em casos como esses, pode-se perguntar: que

    17 Talvez isso contribua para que Braga tenha concludo que o sistema partidrio brasileiro caminhou para uma estrutura de competio mais fechada (Braga, 2010, p. 69), enquanto Melo e Alcntara caracterizam o sistema como dotado de uma estrutura aberta de competio (Melo e Alcntara, 2012, p. 102).

    18 Em mbito internacional, interessante notar que a concluso de Dalton, Farrell e McAllister (2011, p. 165) bem diferente da de Mair (mencionada na citao mais acima). Aqueles autores, analisando o processo de formao de governos a partir de 37 casos, nos pases que participaram da segunda onda do Comparative Study of Electoral Systems, apontam que o fator dominante na determinao de quais partidos formaro um governo sua compatibilidade ideolgica.

    19 No momento em que este texto foi finalizado, Guilherme Afif Domingos (PSD) ocupava uma Secretaria com status ministerial. Quanto mais ministrios o PSD vier a ter, mais a distribuio de ministrios se afastar do que seria esperado a partir dos resultados das eleies de 2010. O mesmo se pode dizer caso haja distribuio de ministrios ao PROS ou ao Solidariedade.

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    relacionamento existe entre a estrutura da disputa partidria e a formao de governo, se independentemente daquela estrutura (e dos resultados) o gover-no consegue formar maioria, por estratgias que visam, em grande medida, justamente contornar os resultados da competio eleitoral, atraindo para o governo polticos e partidos de posies muito diferentes das suas? E quais as implicaes sobre a representatividade e legitimidade do sistema poltico?

    Quanto ao papel da disputa presidencial na estruturao da disputa para outros cargos, vrios trabalhos (Melo, 2007, 2010; Braga, 2010; Limongi e Cortez, 2010; Melo e Cmara, 2012, Cortez, 2012, entre outros) advogam que nas eleies presidenciais brasileiras formou-se um padro estvel de competio, a partir de 1994: a disputa se d basicamente entre candidatos do PT e do PSDB, cada um apoiado por certo bloco de partidos que seria relativamente estvel ao longo dessas ltimas cinco eleies.

    Uma proposio importante de Melo e Cmara , partindo da ideia de Mair de que o cerne de todo sistema partidrio enquanto sistema cons-titudo pela estrutura da competio pelo controle do Executivo (Melo e Cmara, 2012, p. 78) a de que a competio pelo governo federal tem servido como ponto de amarrao do sistema (Melo e Cmara, 2012, p. 74). Outros trabalhos (Braga, 2006; Cortez, 2009 e 2012; Melo, 2010; Limongi e Cortez, 2010) apresentam dados sustentando que as estratgias partidrias nas eleies para governador, em particular, esto articuladas com as estra-tgias partidrias nacionais. Limongi e Cortez, por exemplo, mostram que, especialmente nas eleies para governador em 2010, boa parte das disputas se deu entre um dos partidos do bloco PT-PSB e um dos partidos do bloco PSDB-DEM, ou entre um dos partidos de um desses dois blocos e o PMDB, que seria o nico partido relevante nas eleies para governador que tem uma estratgia para disputar com os membros daqueles dois blocos. Concluem:

    [A] simplificao do quadro partidrio visvel. So poucos os partidos que realmente contam. A clivagem poltica nacional se reproduz nos estados. PT e PSDB esto pre-sentes, diretamente ou por meio de representantes, em todos os estados. A oferta de candidaturas viveis pelos partidos se reduz a dois tanto no mbito nacional como no estadual. O resto o resto (Limongi e Cortez, 2010, p. 37).

    Apresento a seguir as concluses de algumas anlises, bem como alguns dados prprios, que vo em sentido oposto ao apontado por esses trabalhos,

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    em relao ao papel da polarizao entre coligaes encabeadas por PT e PSDB no mbito da eleio presidencial como ponto de amarrao do sistema (no que se refere estruturao da competio eleitoral para outros cargos).

    Anastasia, Nunes e Meira (2010) mostram que nas eleies para prefeito aumentou consideravelmente o nmero de coligaes entre PT e PSDB (de 452 em 2000 para 1061 em 2008). Peixoto (2010) indica que cresceu entre 2000 e 2008 o nmero de coligaes a prefeito e a vereador envolvendo partidos que se encontram em polos opostos no que se refere ao governo federal. Miguel e Machado (2010) mostram que, das coligaes feitas pelo PT nas eleies para prefeito entre 2000 e 2008, aquelas que envolviam os principais partidos da oposio aumentaram. Carreiro e Nascimento (2010), analisando as eleies para governador, senador, deputado federal e deputado estadual, entre 1986 e 2006, verificaram que, considerando apenas as coligaes entre os seis maiores partidos, aquelas que envolviam simultaneamente partidos de apoio e oposio ao governo foram as mais frequentes no conjunto do perodo, exceto para PT e PDT. Ribeiro (2005), analisando as coligaes para prefeito entre 1996 e 2004 nas cidades com mais de 150 mil eleitores, aponta tendncias complexas: algumas parcerias em mbito nacional, como, por exemplo, entre PSDB e PFL, em 1994 e 1998, e entre PT e PL, em 2002, tiveram contrapartida nas coligaes seguintes para prefeito. De outro lado, aumentaram as coligaes de PSDB e PFL, de um lado e partidos de apoio ao governo Lula, como PSB e PDT, de outro. Em trabalho posterior, Ribeiro, analisando as coligaes feitas nas eleies para prefeito entre 1996 e 2008 nas capitais e nos municpios com mais de 200 mil eleitores, conclui que nos grandes municpios as alianas costuradas nacionalmente tm maior probabilidade de envolver contrapartidas nesses municpios do que nos menores (Ribeiro, 2010, p. 319). Mas no deixa de apontar, ao longo de sua anlise, que o prprio PT passou a se aliar com mais frequncia tambm com o PFL/DEM e, em menor escala, com o PSDB (Ribeiro, 2010, p. 318). Em sentido diferente vo as concluses de Miranda, que, analisando as coligaes para os cargos de governador, senador e de-putado federal durante o perodo 1990-2010, mostra que h poucas coliga-es, especialmente entre PT e PCdoB, de um lado e PSDB e PFL/DEM, de outro, concluindo pela existncia de uma resistncia poltica que orienta os clculos coligacionistas dos componentes nucleares dos dois blocos que se tm alternado no Governo Federal (Miranda, 2012, p. 24). Seus dados

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    mostram que essa resistncia aumentou ao longo do tempo. Assim, embora haja alguma concluso em direo contrria, h um forte predomnio, na literatura, apontando o aumento das coligaes, para diferentes cargos, entre partidos que apoiam e partidos que se opem ao governo federal.

    Alm da meno a esses trabalhos, como contribuio emprica deste artigo so apresentados a seguir alguns dados relativos a coligaes que in-cluem as eleies de 2010 (no analisadas na quase totalidade dos trabalhos mencionados acima).20

    Se a disputa para presidente o principal elemento de estruturao do sistema partidrio brasileiro, pode-se esperar, ento, que as coligaes para outros cargos (como os de governador, senador, deputado federal e estadual) em boa medida sigam as coligaes feitas na eleio presidencial. Melo e Cmara (2012) postulam que a disputa para presidente tem se estru-turado (a partir de 1994) em torno de trs blocos: o primeiro formado por PT, PDT, PSB e PCdoB (que chamarei Bloco-PT); o segundo por PSDB, PFL/DEM e PPS (que chamarei Bloco-PSDB); e o terceiro por um bloco de partidos (PMDB, PP, PTB e PR) disponveis para fazer coalizes com qualquer um dos blocos anteriores que eleger o presidente. Na realidade, porm, as coligaes que foram efetivamente realizadas nas eleies entre 1994 e 2010 no nos levam a corroborar essa postulao: como mostra o quadro 2, apenas em 1998 e em 2010 a coligao de apoio ao candidato do PT a presidente incluiu os quatro partidos (PT, PCdoB, PSB e PDT) do Bloco-PT. O PDT em duas dessas eleies (1994 e 2006) lanou candidato prprio e em uma (2002) apoiou candidato do PPS (que compe o Bloco--PSDB); o PSB em 2002 lanou candidato prprio e em 2006 preferiu no apoiar nenhum candidato. Quanto aos partidos do Bloco-PSDB, apenas em 2010 a coligao de apoio ao candidato do PSDB incluiu os trs partidos (PSDB, DEM e PPS). O PPS em 1994 apoiou Lula (candidato do PT, do

    20 Segui aqui o procedimento utilizado por Miranda, que, com base em Sartori (1982), distingue o comportamento dos micropartidos do comportamento dos partidos relevantes, isto , aqueles que apresentaram, ao longo do perodo analisado (1990-2010), potencial para a formao de coalizes governativas ou oposicionistas no nvel federal (Miranda, 2012, p. 3). A anlise ir considerar apenas os mesmos 11 partidos considerados relevantes por aquela autora: PT, PDT, PSB, PCdoB, PPS, PSDB, PMDB, DEM, PP, PR e PTB. Esses partidos os mesmos indicados por Melo e Cmara (2012) como formando os trs blocos de partidos que estruturam a disputa presidencial e, tambm, os mesmos considerados como mais institucionalizados por Braga (2006) - sero chamados, nessa anlise, de relevantes e os demais sero denominados pequenos partidos. A classificao das candidaturas utilizando todos os partidos, inclusive os menores, poderia superdimensionar o grau de inconsistncia das coligaes, tanto a partir da dimenso ideolgica (esquerda-direita), quanto da dimenso governo-oposio.

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    bloco oposto) e em duas outras eleies (1998 e 2002) lanou candidato prprio; em 2006 preferiu no apoiar nenhum candidato. O PFL em 2002 e 2006 no apoiou nenhum candidato.

    Quadro 2. Coligaes nas eleies presidenciais (1994/2010)

    ano coligaes PT coligaes PSDB

    1994 PT- PCdoB- PSB-PPS-PV-PSTU PSDB-PFL-PTB

    1998 PT- PCdoB-PSB- PDT PSDB-PFL-PTB-PPB-PSD

    2002 PT- PCdoB-PL-PCB-PMN PSDB-PMDB

    2006 PT- PCdoB-PRB PSDB

    2010 PT- PCdoB-PSB-PDT-PMDB-PR-PRB-PTN-PSC-PTC PSDB-DEM-PPS-PTB-PMN-PTdoB

    Fonte: Site Jairo Nicolau (1994-2006) e TSE (2010).Obs: Outras candidaturas dos partidos relevantes: 1994, PMDB, PDT, PPR; 1998, PPS; 2002, PSB; PPS-PDTPTB; 2006,

    PSOL-PDT; 2010, PV.

    Mesmo em relao s coalizes governamentais (quadro 1), no h tam-bm uma coincidncia entre os partidos que formam os blocos propostos por Melo e Cmara e o comportamento dos partidos em relao polaridade governo/oposio em cada uma das 11 diferentes coalizes durante os dois governos FHC e os dois governos Lula. O PPS, por exemplo, no participou da base do governo FHC em nenhum momento; o PDT esteve por vrios momentos fora do governo Lula. Por isso, preferi tomar como referncia para a anlise as coligaes efetivamente realizadas e no blocos de partidos clas-sificados a partir de critrios que no correspondem ao seu comportamento nem em relao s coligaes, nem s coalizes governamentais.

    Considerando apenas aqueles 11 partidos relevantes definidos mais acima, a tabela 3 apresenta, para o conjunto dos quatro cargos em anlise, as propores de coligaes inconsistentes21 com as coligaes

    21 Foram consideradas inconsistentes, para cada um dos quatro cargos e tomando apenas os 11 partidos considerados relevantes: a) as coligaes feitas por um partido que apoiou o candidato do PT na eleio presidencial que envolvessem pelo menos um partido que apoiou o candidato do PSDB na eleio presidencial (e vice-versa); b) no caso de partidos que no participaram das coligaes de apoio aos candidatos a presidente do PT nem do PSDB, as coligaes (para um desses quatro cargos em questo) que envolvessem simultaneamente partidos que apoiaram cada um desses candidatos. No foram consi-deradas inconsistentes as coligaes, para cada um daqueles cargos, que envolvem simultaneamente um partido que tenha lanado candidato prprio presidncia e um partido que tenha participado de uma das coligaes que apoiaram candidatos a presidente do PT ou do PSDB. Se tivessem sido consideradas, aumentaria significativamente o grau de inconsistncia das coligaes para os cargos em estudo.

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    feitas nas eleies presidenciais (apresentadas no quadro 2), em 1994, 1998 e 2010.22

    Tabela 3. Coligaes inconsistentes segudo dimenso governo/oposio - governador, senador, deputados federal e estadual (1994-1998-2010) (%)

    ano PT PDT PSB PCdoB PSDB PFL/DEM PPS PPB/PP PMDBPL/PR

    PTB

    1994 6 26 22 28 40 8 21 7 26 12 16

    1998 13 31 30 22 28 15 16 15 10 20 24

    2010 28 39 48 30 46 50 52 44 47 43 55

    Fonte: TSE. Obs: foram considerados apenas os 11 partidos considerados relevantes.

    A evoluo das porcentagens de coligaes inconsistentes entre 1994 e 1998 varia segundo o partido. Mas notvel o aumento da inconsistncia das coligaes entre 1998 e 2010, a partir do critrio aqui proposto. Em 2010 as coligaes inconsistentes so bastante frequentes, representando para quase todos os partidos percentuais entre 39% e 55%, as excees sendo PT e PCdoB, para os quais elas representam 28% e 30% das candidaturas de que participaram, respectivamente. Nas eleies para governador (que so objeto de estudo de vrios dos trabalhos aqui comentados), o crescimento entre 1998 e 2010 ainda mais acentuado, tendo os percentuais de coligaes variado entre 37% (PT) e 74% (PTB) nessa ltima eleio.23

    Antes de concluir este tpico, so necessrias algumas observaes me-todolgicas. Os resultados da anlise feita aqui, bem como das comentadas anteriormente, dependem fortemente da maneira de sua operacionalizao. Melo e Cmara (2012) optaram por enfatizar trs blocos de partidos (que, como j mencionado, nem sempre correspondem ao comportamento efetivo dos partidos em suas coligaes ou coalizes). No que se refere consistncia das estratgias, um deles (PMDB-PP-PL/PR-PTB) estaria dispensado disso, pois se trata de um bloco de partidos disponveis para se associar a qualquer um dos outros dois blocos. Na prtica, portanto, apenas

    22 Como em 2002 e 2006 vigorou a regra da verticalizao das coligaes, para os principais partidos os valores para esses anos seriam zero na tabela. Como esse resultado seria determinado basicamente pela regra eleitoral em vigor e no por decises autnomas dos partidos, esses dados no entraram na anlise.

    23 Dados no mostrados aqui por problemas de espao.

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    os partidos pertencentes a esses dois que coordenariam suas estratgias com a estrutura da disputa presidencial. Os partidos que compem esses blocos elegeram apenas 52% dos parlamentares do Congresso Nacional em 2010. Limongi e Cortez (2010) apresentam uma estrutura da competio, nas eleies para governador, que seria polarizada entre PT e PSB, de um lado, e PSDB e DEM, de outro, com o PMDB como uma terceira fora, independente, ora lanando candidato prprio, ora apoiando candidatos de um ou outro desses dois blocos. Considerando apenas PT, PSB, PSDB e DEM, ficamos com 40% dos congressistas eleitos em 2010. Quanto ao PMDB, seguindo a argumentao dos autores, no se pode dizer que coordena sua estratgia com a dos partidos daqueles blocos, j que tem estratgia diversificada em relao a eles, conforme os estados. Assim, a concluso de que as estratgias nas eleies para governador so coorde-nadas em acordo com a estrutura da disputa presidencial , grosso modo, vlida para alguns partidos que se coligam em torno do PT e do PSDB, mas isso significa deixarmos de fora os demais partidos, que correspondem a 48% ou 60% (conforme a argumentao de cada um dos trabalhos) dos representantes no Congresso Nacional. Quando os inclumos, a consis-tncia da coordenao entre as eleies presidenciais e as eleies para os outros cargos diminui sensivelmente.

    Outro aspecto a ser considerado o de que os dados aqui produzidos mostram tambm que a volatilidade ainda muito alta nas eleies para governador (tabela 1). Cortez (2012) afirma, a meu ver corretamente, que boa parte da instabilidade partidria encontrada nessas disputas decorre justamente da nacionalizao da disputa24 e das migraes partidrias de lideranas importantes em mbito estadual; quanto a esse segundo fator, a instabilidade partidria encobriria uma estabilidade maior no plano das elites que disputam efetivamente as eleies para governador. Quanto ao primeiro fator, a coordenao pr-eleitoral realizada pelos partidos acaba realmente criando uma disputa para o cargo de governador com poucos concorrentes, o que facilita a deciso do eleitor. O problema em relao ao segundo fator, porm, que a migrao frequente de lideranas estaduais importantes (mais recentemente, especialmente com a criao de PSD, PROS

    24 Partidos como PT e PSDB decidem se lanam candidatos prprios ou apoiam candidatos a governador de partidos que apoiam seus candidatos a presidente. Como essas decises baseiam-se em avaliaes pontuais, que podem ser diferentes a cada ano eleitoral em cada estado, isso gera volatilidade eleitoral.

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    e Solidariedade) torna difcil a formao de imagens partidrias claras pelo eleitorado e gera um cenrio em que a cada eleio o panorama da disputa (em termos partidrios) bem diferente do das disputas anteriores. Essa fluidez contribui para corroborar (parcialmente, j que as migraes no ocorrem to generalizadamente e a coordenao mencionada acima a limita) a concluso de Melo sobre as disputas para os Executivos estaduais:

    no mbito das eleies para governador em muitos estados, ao contrrio do que vem ocorrendo no plano nacional, no foram os partidos que estiveram no controle da disputa majoritria este papel coube aos grupos e lideranas polticas que se mo-vimentavam com desembarao entre as legendas. O resultado, nesses locais, foi um quadro de partidos em constante fluxo, mas no necessariamente um sistema partidrio (Melo, 2010, p. 37, grifos meus).

    Concluindo este ponto, a afirmao de que a eleio presidencial estru-tura o sistema partidrio brasileiro tem certa dose de verdade j que, a partir da estrutura da competio para a Presidncia da Repblica, pode-se prever que os partidos que predominantemente compem os dois principais blocos (em torno do PT e do PSDB) no realizem muitas coligaes entre si nas disputas para outros cargos estaduais mas precisa ser vista tambm com certa cautela, j que, pelo menos atualmente, boa parte dos partidos relevantes em mbito nacional, ao decidir suas estratgias de coligao em eleies para outros cargos, d importncia apenas relativa estrutura da disputa presidencial. Alm disso, as decises partidrias visando coordenar as estratgias estaduais com a nacional, em conjunto com a migrao partidria de lideranas estaduais, no contribuem para a estabilidade dos sistemas partidrios em mbito estadual.

    O papel da ideologia na estruturao do sistema partidrioUma discusso relevante e que tem sido tema de debate recente (Power e

    Zucco Jr., 2008; Zucco Jr., 2011; Lucas e Samuels, 2011; Melo e Cmara, 2012) sobre a evoluo do papel da ideologia na estruturao de nosso sistema partidrio. Lucas e Samuels afirmam que o sistema partidrio brasileiro tem se tornado relativamente mais incoerente (Lucas e Samuels, 2011, p. 61).25 Melo e Cmara, por outro lado, postulam que a varivel ideologia

    25 Os autores baseiam suas concluses principalmente em respostas de parlamentares a seis surveys da

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    deve ser levada em conta se pretendemos entender a estrutura assumida pela competio no sistema partidrio brasileiro (Melo e Cmara, 2012, p. 100).26 Dialogando com Lucas e Samuels, sustentam que a tese de que o sistema encontra-se mais incoerente hoje do que antes equivocada (Melo e Cmara, 2012, p. 73).27 Apresento a seguir as concluses de algumas anli-ses, bem como alguns dados prprios sobre coligaes eleitorais, coalizes governamentais e migraes partidrias que tendem a corroborar a tese de Lucas e Samuels de que o sistema partidrio brasileiro tem se tornado ideologicamente mais incoerente.

    Um primeiro aspecto relativo s coligaes eleitorais. Vrios trabalhos tm mostrado a pouca relevncia da ideologia partidria na formao de coligaes, em eleies de mbito estadual (Sousa, 2006, 2010; Carreiro e Nascimento, 2010; Krause e Godoi, 2010) e municipal (Dantas, 2007). Mesmo alguns estudos que apontam ainda certa relevncia dos posicionamentos ideolgicos dos partidos nas decises sobre coligaes indicam tambm o crescimento das coligaes inconsistentes28, ao longo do tempo (Ribeiro, 2005, 2010; Carreiro, 2006; Machado, 2007; Miguel e Machado, 2007, 2010; Machado e Miguel, 2008; Machado, 2010; Leoni, 2011; Miranda, 2012).

    Como contribuio emprica deste trabalho, apresento a seguir alguns dados sobre coligaes que incluem as eleies de 2010, seguindo o mesmo procedimento anterior, de incluir apenas os partidos considerados relevan-tes. Como mostra a tabela 4, embora haja algumas variaes em especial as situaes de PSB, PMDB e PSDB em 2002 , a tendncia mais geral de

    Pesquisa Legislativa Brasileira (ver Power e Zucco, 2011). Essa concluso vai contra a de Power e Zucco (2008), que, com base nos cinco primeiros desses mesmos surveys, afirmavam que o ordenamento dos principais partidos brasileiros com base em uma escala esquerda-direita manteve-se basicamente constante entre 1990 e 2005.

    26 Suas concluses baseiam-se principalmente em dados de surveys realizados pelo Centro de Estudos Legislativos (UFMG) na Cmara dos Deputados, em 2005 e 2010. Alm disso, os dados so consistentes com o que ocorre no mundo real: sem levar em conta a clivagem ideolgica no seria possvel enten-der por que o ento PFL no seguiu o caminho do PP e aderiu ao governo petista, ou por que o PPS deslocou-se para a oposio, ou mesmo por que a bancada do PDT continuou, de forma majoritria, votando com o governo mesmo estando fora da coalizo na maior parte do primeiro mandato de Lula (Melo e Cmara, 2012, p. 100).

    27 No fica claro se essa ltima afirmao refere-se especificamente ideologia. De toda forma, cabe mencionar que os autores matizam suas concluses, ao admitir que a distncia entre esquerda e di-reita no Congresso efetivamente diminuiu desde os anos 1980. Alm disso, admitem tambm que a clivagem ideolgica no tem nada a dizer sobre as motivaes de PMDB, PP, PTB e PR para participar da coalizo constituda pelo PT (Melo e Cmara, 2012, p. 100-101).

    28 Em termos de ideologia, aquelas que envolvem simultaneamente partidos de esquerda e de direita.

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    crescimento significativo das propores de coligaes ideologicamente inconsistentes realizadas pelos partidos relevantes (entre si) ao longo do perodo 1994-2010 no conjunto das eleies para os cargos de deputado federal, deputado estadual, senador e governador.29

    Tabela 4. Coligaes ideologicamente inconsistentes entre partidos relevantes - governador, senador, deputado federal e estadual (1994-2010) (%)

    ano PTPC

    do BPDT PSB PPS PSDB PMDB

    PL/PR

    PTB PPB/PPPFL/DEM

    1994 0 14 29 13 17 20 13 26 37 15 18

    1998 6 17 25 21 34 26 18 40 33 24 18

    2002 64 63 62 7 59 0 0 70 70 32 22

    2006 47 47 23 46 56 30 22 68 52 35 40

    2010 67 63 64 65 67 49 54 71 56 72 62

    Fonte: TSE. Critrio: classificao considerando apenas partidos relevantes.

    Um dado comparativo que mostra isso com muita clareza o seguinte: o percentual mximo de coligaes inconsistentes em 1994 (37%, relativo ao PTB) bem menor do que o mnimo em 2010 (49%, relativo ao PSDB). O salto visvel se d em 2002, quando a coligao PT-PL (mas no s) se repe-te em muitos estados. Por fim, cabe destacar que na ltima eleio (2010), para os cargos em anlise, os percentuais so bastante elevados, variando de 49% (PSDB) a 71% (PR). Enfim, de 2002 para c, a ideologia partidria no parece central para estruturar a competio, pelo menos para os cargos de governador e senador e deputado federal.30

    No que se refere s coalizes de governo (em mbito federal), a trajetria, em termos da ideologia dos partidos que as compem, semelhante encontrada no comportamento partidrio relativo s coligaes eleitorais. Santos (2006),

    29 A classificao dos partidos no continuum esquerda-direita aqui utilizada segue a proposta em Krause, Dantas e Miguel (2010), que foi fruto de consenso entre um nmero significativo de pesquisadores. Esquerda: PCdoB, PCB, PCO , PDT, PHS, PMN, PPS, PSB, PSOL, PSTU, PT e PV; centro: PMDB e PSDB; direita: todos os demais. Os percentuais da tabela foram calculados sobre o nmero total de candidaturas, incluindo as isoladas (quando no h coligao). Quando calculamos apenas sobre o conjunto das coligaes (excluindo as candidaturas isoladas), os percentuais de coligaes inconsistentes aumentam consideravelmente, especialmente no incio do perodo em estudo.

    30 A inconsistncia bem menor nas coligaes para as eleies de deputado estadual. Para deputado federal a inconsistncia apenas um pouco menor do que para os cargos majoritrios.

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    Santos e Vilarouca (2008), Figueiredo e Limongi (2007) mostram que aps 2003 houve uma mudana dos padres encontrados para o perodo 1986-2002. O grau de consistncia ideolgica na composio partidria do governo (minis-trios) e nas coalizes nas votaes em plenrio declinou bastante aps a posse do presidente Lula. As coalizes em plenrio s tendem a ser ideologicamente consistentes, se a composio dos governos (formao de ministrios) for ide-ologicamente consistente. E a trajetria a de uma inconsistncia ideolgica crescente na composio de governos em mbito federal.31

    Zucco Jr. (2011), a partir da anlise da evoluo das opinies de parla-mentares nos surveys da Pesquisa Legislativa Brasileira, conclui que o que era esquerda em 1987 praticamente desapareceu, o centro e a direita ocupam quase a totalidade da escala ideolgica. E, ao analisar o comportamento concreto dos partidos, em votaes nominais na Cmara entre 2007 e 2009, afirma que possivelmente por conta desse

    maior consenso substantivo entre esquerda e direita, a clivagem estratgica e no ideo-lgica entre governo e oposio parece ter ocupado o papel predominante na estrutura das disputas polticas na Cmara dos Deputados (...) embora as elites continuem reco-nhecendo uma estrutura ideolgica em seu meio, suas preferncias e comportamentos esto muito menos associados a esta estrutura do que no passado (Zucco Jr., 2011, p. 58).

    Outro aspecto do comportamento dos polticos brasileiros que tem tido impacto significativo sobre o sistema partidrio relativo s migraes partidrias. Em seu estudo sobre o assunto, na Cmara dos Deputados, abrangendo o perodo de 1985 a 2002, Melo afirma que a mudana de partido tornou-se endmica no cenrio poltico brasileiro (Melo, 2004, p. 161). Quanto ao padro ideolgico das migraes, conclui que

    apenas no caso dos congressistas eleitos por partidos de direita, revelou-se verdadeira a suposio de que a maioria das migraes teria como destino um partido situado no

    31 Enquanto at 2002 apenas um partido de esquerda (PSB) fez parte de coalizes de governo de centro--direita durante alguns meses no governo Itamar, durante todo o governo Lula e no governo Dilma houve partidos de direita na coalizo. Na primeira coalizo do primeiro mandato do governo Lula havia dois partidos de direita: PL e PTB. Na ltima coalizo do segundo mandato j havia quatro: PP, PTB, PR e PRB. Quanto ao comportamento em plenrio, os ndices de semelhana nas votaes na Cmara entre deputados do PP (PPB) e do PT, por exemplo, variaram, no perodo de 1986 a 2002, entre um mnimo de 14,3% e um mximo de 29,8%. J no primeiro mandato de Lula esse ndice salta para 79,3% (Figueiredo e Limongi, 2007). Esse tipo de salto acontece tambm no ndice de semelhana entre PMDB e PT.

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    interior do mesmo campo ideolgico. No caso dos deputados migrantes eleitos pela esquerda, uma minoria optou por partidos ideologicamente prximos; um tero deles terminou a legislatura no outro extremo do espectro partidrio (Melo, 2004, p. 165).32

    A deciso do TSE (referendada pelo STF), em 2007, que permite aos partidos reivindicar a vaga no caso de um deputado migrar para outro partido, reduziu o volume de migraes, embora no tenha eliminado esse fenmeno. A criao e registro do PSD (2011), do PROS e do Solidariedade (2013), alm da tentativa de registro de outros partidos, sugere que a deciso do TSE parece ter tido como efeito perverso o estmulo criao de novos partidos, estratgia que atende o anseio de maior segurana por parte dos polticos que desejam migrar de partido. As migraes passaram a ocorrer no atacado mais do que no varejo.

    A tabela 5 que mostra a origem ideolgica dos partidos de origem dos deputados federais que migraram para o PSD, o PROS e o Solidariedade (SDD)33 revela o ecletismo ideolgico na formao desses partidos, j que foram significativas as porcentagens de deputados de partidos de direita e de esquerda (simultaneamente) que formaram a bancada federal de cada um desses partidos. No conjunto, 37% dos deputados que migraram para esses partidos vieram de partidos de esquerda e 52% de partidos de direita.

    Tabela 5. Migraes partidrias para PSD, PROS e Solidariedade (2011-13) (%)

    partido de destinocampo ideolgico do partido de origem

    total (n) esquerda centro direita

    PSD 32,2 10,2 57,6 (59)

    PROS 42,9 4,8 52,4 (21)

    SDD 42,9 23,8 33,3 (21) (1)

    total 36,6 11,9 51,5 (101)

    Fonte: Levantamento realizado pelo autor no site da Cmara dos Deputados.(1) Na realidade, 24 deputados migraram para o Solidariedade at 17 de outubro de 2013. No inclu na tabela um

    deputado oriundo do PSD e dois do PEN, por no ter classificado esses partidos ideologicamente.

    32 Roma (2007), por outro lado, sustenta que a incoerncia no era alta.33 Levantamento realizado pelo autor em 17 de outubro de 2013 junto ao site da Cmara (Histrico

    de Movimentao Parlamentar), relativo ao perodo de 1 de fevereiro de 2011 a 17 de outubro de 2013. As migraes incluem alguns suplentes; no caso do PSD, vrios deputados j saram do partido, mais recentemente.

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    Finalizando este tpico, o que os dados relativos a aspectos do com-portamento efetivo das elites polticas coligaes, coalizes e migraes partidrias mostram que a ideologia perdeu peso ao longo do perodo em que vigora o atual sistema partidrio, tornando-o, portanto, pelo menos nesses aspectos, mais incoerente ideologicamente, como defendido por Lucas e Samuels (2011) e por Zucco Jr. (2011).34

    Consideraes finaisO presente trabalho busca contribuir para uma avaliao da dinmica

    do atual sistema partidrio brasileiro, dialogando com alguns dos trabalhos recentes que, ao tomarem como referncia terico-metodolgica uma lite-ratura at ento pouco discutida no Brasil, renovaram o debate sobre o grau em que nosso sistema partidrio cumpre algumas das funes que dele se espera. Tentei problematizar alguns dos aspectos presentes nesses diagns-ticos, apresentando argumentos e dados relativos a alguns indicadores gerais da dinmica do sistema partidrio que, julgo, levam a uma avaliao menos otimista do que a presente em alguns daqueles trabalhos.

    Das concluses da literatura analisada, me parece que se destacam alguns sinais efetivamente positivos em relao ao sistema partidrio brasileiro:

    1) o principal que foi constituda de 1994 para c certa regularidade no padro da disputa eleitoral mais importante no pas, a eleio para a Presidncia da Repblica, com coligaes em torno de PT e PSDB dando o tom da disputa;

    2) nas eleies para governador tem ocorrido uma tendncia de maior coordenao das disputas em boa parte dos estados, seguindo de perto a polarizao nacional entre os blocos liderados por PT e PSDB, como mos-tram vrios estudos;

    34 Um aspecto muito importante, no analisado aqui, o das polticas pblicas. Certamente h diferenas significativas nas polticas implementadas nos governos tucanos e petistas, em especial no que se refere aos temas do papel do Estado na economia e da poltica social. Mas h tambm continuidades importantes, em aspectos relevantes da poltica econmica. Do ponto de vista temporal, certamente se pode dizer que, em termos de polticas, a diferena proclamada pelo PT em relao ao PSDB, quando o PT ainda era oposio, era bem maior do que a diferena que acabou se materializando quando o partido chegou ao governo. Assim, tambm em relao a esse aspecto, a concluso me parece a mesma: a ideologia ainda conta, mas bem menos do que 20 ou 30 anos atrs. Alm disso, embora tambm no tenha sido tema enfatizado aqui, h indcios relevantes (Carreiro, 2008; Zucco, 2010) de que a ideologia tambm vem perdendo sua capacidade de facilitar aos eleitores o mapeamento do campo poltico, o que dificulta suas escolhas eleitorais.

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    3) h tambm uma tendncia de declnio dos nveis de volatilidade nas eleies para os cargos de presidente e deputado federal;

    4) diferenas de opinies dos deputados federais brasileiros pertencentes a diferentes partidos em relao a temas importantes, o comportamento efetivo de alguns partidos no Congresso e ainda certo grau de resistncia ideolgica nas coligaes para alguns cargos apontam para certa relevncia, ainda, da dimenso ideolgica, que de alguma forma ajuda a estruturar o sistema partidrio.

    Mas possvel realar um conjunto de consideraes apresentadas aqui que caminham em sentido contrrio ao de algumas outras concluses dessa literatura e pelo menos matizam algumas dessas tendncias acima:

    1) os indcios de institucionalizao de vrios dos partidos brasileiros (individualmente), apontados por Tarouco (2010), me parecem frgeis, por a autora no levar em conta de forma adequada o critrio da competitividade desses partidos;

    2) da mesma forma, alguns dos indcios de institucionalizao (ou esta-bilizao) do sistema partidrio brasileiro (como um todo) me parecem no levar em considerao suficiente a ideia de que um sistema partidrio implica padres relativamente estveis de relacionamento entre os partidos (Tarouco, 2010), ou no avaliar adequadamente a dinmica de alguns indicadores do sistema partidrio brasileiro relacionados ideia de institucionalizao (Bra-ga, 2010; Bohn e Paiva, 2009; Ferreira, Batista e Stabile, 2008). Quanto a isso:

    a) no parece haver razo para otimismo com os nveis de volatilidade eleitoral encontrados nas eleies recentes, j que ainda so altos, em com-parao internacional, mesmo nas eleies para a Cmara dos Deputados. Especialmente altos so os nveis agregados de volatilidade para os cargos de governador e senador, mas tambm so elevados para os demais cargos, quando analisamos a volatilidade em nveis mais desagregados de mensura-o. Alm disso, para os cargos de senador e deputado estadual, as tendncias mais recentes no so de declnio da volatilidade;

    b) quando comparado com outros pases democrticos, o Brasil o pas com maior grau de fragmentao partidria nas eleies para deputado federal (Payne, 2007; Dalton, Farrell e McAllister, 2011); a fragmentao partidria nas Assembleias Legislativas ainda maior do que na Cmara dos Deputados. Alm disso, essa fragmentao crescente; isso no um indcio de estabilidade, mas de aumento da instabilidade do sistema. Junto

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    com outras caractersticas de nosso sistema poltico, a alta fragmentao dificulta as decises dos eleitores principalmente nas eleies proporcionais no pas, gerando problemas de accountability, com repercusses sobre a qualidade da representao;

    3) quanto estrutura de competio para presidente e a relao entre essa competio e a formao de governos, argumentei que no caso brasi-leiro os sinais no so unvocos: se a estrutura da competio nas eleies presidenciais de 1994 em diante efetivamente aponta para maior estabilidade (em relao a 1989), o processo de formao de governos aps 2003, porm, parece ser mais aberto e apontar para maior imprevisibilidade;

    4) quanto tese de que a disputa presidencial funciona como um ponto de amarrao do sistema partidrio como um todo, os indcios tambm so contraditrios:

    a) em primeiro lugar, a quase totalidade dos estudos mostra que nas eleies para prefeito tm aumentado ao longo do tempo os percentuais de coligaes envolvendo simultaneamente partidos que apoiam e que se opem ao governo em mbito federal;

    b) em relao s eleies para os cargos de senador, deputado federal e deputado estadual e especialmente o de governador, necessrio tomar com cautela a afirmao de que as estratgias de coligao so coordenadas com a disputa presidencial, j que, quando inclumos na anlise, alm dos principais aliados de PT e PSDB, o conjunto de partidos relevantes em mbito nacional, verificamos que boa parte deles, ao decidir suas estratgias de coligao em eleies para outros cargos, no leva em grande considerao a estrutura da disputa presidencial. Alm disso, nas eleies para governador as prprias decises partidrias visando coordenar as estratgias estaduais com a na-cional, em conjunto com a migrao partidria de lideranas regionais, no contribuem para a estabilidade dos sistemas partidrios em mbito estadual;

    5) a ideologia ainda tem certa relevncia na estruturao do sistema partidrio, mas est perdendo importncia ao longo do tempo, tanto na di-ferenciao das opinies das elites polticas brasileiras, quanto na formao de coligaes para os diversos cargos em disputa e nas coalizes de governo em mbito federal. A pouca considerao quanto ideologia parece persis-tir ou mesmo aumentar no que se refere s migraes partidrias, a julgar pela procedncia partidria dos deputados federais que formaram os mais recentes partidos registrados junto ao TSE.

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    Do ponto de vista das abordagens tericas que visam analisar o grau de estabilidade/estruturao dos sistemas partidrios, as crticas em relao noo de institucionalizao proposta por Mainwaring e colaboradores parecem pertinentes: essa noo envolve vrias dimenses que, alm de se referirem a unidades distintas (os partidos e o sistema partidrio), nem sempre caminham numa mesma direo no que se refere a uma maior ou menor estabilidade (ver Tarouco, 2010, Braga, 2010, Bardi e Mair, 2010, Luna e Altman, 2011, e Melo e Alcntara, 2012). Algumas das alternativas propostas na literatura podem ser mais interessantes.

    Argumentando que os sistemas partidrios so mais bem entendidos como fenmenos multidimensionais, Bardi e Mair (2010, p. 227) postulam que pode haver mais de um sistema partidrio em um mesmo sistema po-ltico, dependendo de trs tipos de diviso que podem ocorrer no interior do corpo poltico: divises verticais, quando h uma clivagem separando dois eleitorados distintos (como na Blgica ou no Canad); divises hori-zontais, em sistemas polticos fortemente descentralizados, nos quais as unidades inferiores gozam de considervel autonomia no exerccio de suas prerrogativas polticas (Bardi e Mair, 2010, p. 239); divises funcionais, em que o padro das interaes varia consideravelmente entre diferentes arenas funcionais (em particular as arenas eleitoral e parlamentar). Mo-bilizar essas ideias para a anlise do caso brasileiro pode ser um caminho proveitoso. Sem postular a existncia de mais de um sistema partidrio no Brasil, a anlise aqui apresentada sugere que h certo grau de descolamento dos sistemas partidrios estaduais em relao ao sistema partidrio nacional (diviso horizontal); alm disso, como foi visto, no mbito da presidn-cia h tambm certo grau de descolamento entre a disputa eleitoral (que se estrutura mais a partir de 1994) e a formao de coalizes de governo (que se tornam mais instveis a partir de 2003). possvel que esse tipo de diviso funcional ocorra tambm nos mbitos estadual e municipal, em diferentes medidas.

    Melo e Alcntara (2012), por seu turno, seguindo Luna e Altman (2011), sugerem que se analisem separadamente a dimenso da competio eleitoral e a dimenso do enraizamento dos partidos. No trabalho aqui analisado decidem assim como, em grande medida, Braga (2010) e Tarouco (2010) centrar sua anlise na estrutura da competio partidria. A anlise em separado de diferentes dimenses do processo de estruturao do sistema

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    partidrio tambm um caminho profcuo. O que o trabalho pretendeu mostrar que, mesmo privilegiando a anlise da estrutura da competio e de sua relao com a formao de governos (abandonando a concepo de institucionalizao proposta por Mainwaring), no parece claro que esteja-mos caminhando para um processo de estruturao do sistema partidrio brasileiro, j que os indcios so contraditrios.

    Os trabalhos com que dialoguei apresentam diagnsticos parcialmente diferenciados entre si, dando menor ou maior destaque nesse ltimo caso esto especialmente os trabalhos de Melo (2010) e Melo e Alcntara (2012), de cujas concluses me parece que o presente trabalho se aproxima mais aos problemas enfrentados por nosso sistema partidrio. A perspectiva geral, porm, me parece ser a de que est presente a uma avaliao excessivamente positiva da dinmica recente do sistema partidrio brasileiro. Meu objetivo aqui foi tentar dar o devido destaque tambm s tendncias que, ao apontar em direo oposta, matizam aquela avaliao.

    Vrios autores j apontaram que muitas das dificuldades enfrentadas pelo sistema partidrio brasileiro no so especificidades suas, estando relaciona-das com tendncias internacionais gerais que afetam tambm democracias mais consolidadas. Num contexto internacional em que as dificuldades para consolidar um sistema partidrio so muito grandes, as tendncias positivas apontadas pelos trabalhos com que aqui dialoguei devem, realmente, ser valorizadas. Mas importante indicar tambm as limitaes existentes em nosso sistema partidrio, at porque elas esto relacionadas a problemas de representatividade poltica e de accountability (principalmente nas eleies proporcionais), com efeitos negativos na qualidade da representao e no grau de legitimidade dos partidos e das instituies polticas questes que no so novas no debate, mas que talvez valha a pena relembrar.

    Lista de siglas e abreviaturas de partidosArena - Aliana Renovadora NacionalDEM - Democratas PBR - Partido Progressista Brasileiro.PCB - Partido Comunista Brasileiro PCdoB - Partido Comunista do Brasil PCO - Partido da Causa Operria PDS - Partido Democrtico Social

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    PDT - Partido Democrtico Trabalhista PEN - Partido Ecolgico NacionalPFL - Partido da Frente Liberal PHS - Partido Humanista da SolidariedadePLB - Partido Liberal BrasileiroPL - Partido LiberalPMDB - Partido do Movimento Democrtico BrasileiroPMN - Partido da Mobilizao Nacional PP - Partido Progressista PPB - Partido Progressista BrasileiroPPR - Partido Progressista Renovador PPS - Partido Popular SocialistaPRB Partido Republicano BrasileiroPRN - Partido da Reconstruo Nacional PRONA - Partido de Reedificao da Ordem Nacional PROS - Partido Republicano da Ordem Social PR - Partido da Repblica PSB - Partido Socialista BrasileiroPSC Partido Social CristoPSDB - Partido da Social Democracia BrasileiraPSD - Partido Social Democrtico PSOL - Partido Socialismo e Liberdade PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado PTB - Partido Trabalhista BrasileiroPTC - Partido Trabalhista Cristo PTdoB - Partido Trabalhista do Brasil PTN - Partido Trabalhista Nacional PT - Partido dos Trabalhadores PV - Partido Verde

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    Editora FGV.AMORIM NETO, Octavio (2000). Gabinetes presidenciais, ciclos eleitorais

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    de formao e recrutamento ministerial, controle de agenda e produo legislativa, em NICOLAU, Jairo & POWER, Timothy (orgs.). Instituies representativas no Brasil: balano e reforma. Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ.

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