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Federal University of Rio Grande do Sul, Brazil From the SelectedWorks of Paulo S. Peres 2000 Sistema Partidário e Institucionalização Democrática: Análise da Teoria de Sistemas Partidários, do Conceito de Institucionalização e de suas formas de Mensuração Paulo S. Peres, Federal University of Rio Grande do Sul, Brazil Available at: hps://works.bepress.com/pauloperes/16/

Sistema Partidário e Institucionalização Democrática

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Federal University of Rio Grande do Sul, Brazil

From the SelectedWorks of Paulo S. Peres

2000

Sistema Partidário e InstitucionalizaçãoDemocrática: Análise da Teoria de SistemasPartidários, do Conceito de Institucionalização ede suas formas de MensuraçãoPaulo S. Peres, Federal University of Rio Grande do Sul, Brazil

Available at: https://works.bepress.com/pauloperes/16/

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Universidade de São Paulo – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Departamento de Ciência Política – Programa de Pós-Graduação

Sistema Partidário e Institucionalização Democrática: Análise da Teoria de Sistemas Partidários, do Conceito de Institucionalização e de suas Formas de Mensuração*

PAULO PERES Departamento de Ciência Política – Programa de Pós-Graduação – FFLCH/USP Resumo: Neste texto discuto a teoria de sistemas partidários, de forma a ser ressaltado seu caráter competitivo e a importância de sua institucionalização para a estruturação das preferências político-eleitorais. Para isso, a exposição toma como eixo o debate em torno da definição do conceito de institucionalização e das propostas de sua mensuração empírica, incluindo-se o uso cada vez maior do índice de volatilidade eleitoral.

Introdução

As definições tradicionais de sistema partidário apresentam-no como dotado das seguintes características básicas: a interação e a competitividade entre as partes desse “todo” político, em que o importante para a constatação de sua efetividade enquanto sistema é auferir se há ou não tal competição, além, obviamente, das formas e as modalidades que esta assume entre os partidos, ou, mais objetivamente, como ocorrem as interações de uns com os outros. Ou seja, como enfatiza Maor (1997, 30), “the properties of the party system are not just those of its component parts; they also involve the totality of inter-party relationships. These relationships can be seen as streams of interaction, justifying a definition of the party system as the system of interactions resulting from inter-party competition”. Pressupõe-se, portanto, uma interação dinâmica dos partidos, na qual estes orientar-se-iam por objetivos definidos, sempre ou quase sempre ligados à obtenção de algum tipo de espaço de poder político. Além disso, por ser um enfoque sistêmico, ou seja, no conjunto de partes em interação na mecânica de um todo, conseqüentemente, a premissa adotada é a de que cada partido agiria orientado a determinados fins, avaliando contínua e estrategicamente as ações dos outros partidos. O funcionamento do sistema, por sua vez, estaria condicionado em sua mecânica pelas “engrenagens” que lhe conferem determinado movimento, ou, mais precisamente, pelo conjunto de regras fixadas para a competição partidária: sistema eleitoral.

Então, de um modo geral, um sistema partidário seria definido pelas seguintes características: (1) dinamicidade, (2) competitividade, (3) sistematicidade por um conjunto de regras e (4) visibilidade dinâmico-competitiva eleitoral. Aliás, isso aparece bastante explícito em Eckstein (1968), quando este aponta que a temática relativa ao sistema de partidos se baseia em modelos de interação das organizações eleitorais, algo característico dos governos representativos. A função política principal do sistema seria a de conferir legitimidade básica (eleitoral) a uma autoridade política. Tal concepção pressupõe uma analogia sistêmica para a interação partidária em moldes competitivos. Tomando-se o * Texto produzido em 2000. Agradeço à FAPESP pelo apoio financeiro à pesquisa que levou à redação deste texto e também a Fernando Limongi pelos comentários críticos e pelas sugestões.

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sistema partidário como um conjunto em interação competitiva, torna-se importante considerar seu mecanismo ou as regras que o colocam em funcionamento de determinada maneira, como fatores importantes a serem considerados no que se refere às suas influências sobre os padrões de interação e competição. Evidentemente, do ponto de vista empírico, teria que se buscar, então correlacionar outra variável adjacente ao processo de competição e inerente ao sistema de partidos, qual seja, o sistema eleitoral, na tentativa de se traçar algumas relações de influências recíprocas (Maor: 1997; Nohlen: 1994).

Portanto, é possível afirmar que a literatura temática confere grande importância analítica à interação dinâmica e competitiva dos partidos (cf. Sartori: 1982; Maor: 1997; Nohlen: 1994, Eckstein: 1968) – embora deva ser destacado que há alguns autores que consideram igualmente relevantes o que chamam de “sistemas monopartidários” (cf. Riggs: 1968), a despeito da aparente contradição desse termo e do fato de que esses não são competitivos, pelo menos de maneira inter-partidária. É possível afirmar também que a literatura dá grande relevo à influência do sistema eleitoral no sistema partidário, tanto em seu formato como em sua “mecânica” (cf. Duverger: 1970; Sartori: 1968, 1996; Maor: 1997). Há ainda a abordagem sociológica que condiciona a estruturação dos sistemas partidários à suposta função partidária de “tradução” de clivagens sócio-econômicas (Sartori: 1990; Maor: 1997; Nohlen: 1994; Lipset e Rokkan: 1990) no sistema representativo, o que leva à consideração de outros aspectos na análise desse objeto. Por último, a abordagem da Ciência Política complementa o conjunto teórico que se ocupa desse fenômeno, sendo sua preocupação mais imediata a apreensão dos sistemas partidários em sua dinâmica própria, com suas determinações endógenas, de modo que os pesquisadores dessa linha de investigação o consideram como uma variável independente (cf. Sartori: 1972, 1990; Maor: 1997; Nohlen: 1994).

Diante dessas considerações sintéticas gerais, meu objetivo neste texto é discutir a teoria de sistemas partidários, de forma a ser ressaltado seu caráter competitivo e a importância de sua institucionalização para a estruturação das preferências político-eleitorais. Para isso, a exposição toma como eixo o debate em torno da definição do conceito de institucionalização e das propostas de sua mensuração empírica, incluindo-se o uso cada vez maior do índice de volatilidade eleitoral.

Estratégia Competitiva e Transformação Sistêmica

Objetivamente, um sistema partidário pode ser analisado em três aspectos: a) a lógica dos partidos [sua estrutura interna, sua organização (Michels: 1974, Duverger: 1970, Sartori: 1982; Panebianco: 1988)], b) sua interação sistêmica com outros partidos [no processo legislativo, nas relações entre Executivo e Legislativo, entre Oposição e Governo, ou ainda pela sua função executiva (Pedersen: 1990; Strøm and Müller 1999)] e, c) sua interação ambiental (a competição eleitoral e sua função representativa (Panebiamco: 1988; Strøm: 1990, Bartolini and Mair: 1990; Powell Jr.: 1994; Maor: 1997)]. Em razão disso é que podemos apreender os partidos como agentes dinâmicos1 de três tipos, quais sejam, office-seeking, policy-seeking e vote-seeking (Strøm and Müller: 1999).

1 Apreender os partidos como agentes dinâmicos significa, em termos bastante diretos, apreendê-los em ação, como atores coletivos estrategicamente orientados à busca de algum espaço de poder político. Isso é diferente de apreender os partidos como atores estáticos e auto-centrados, como no caso da abordagem que mira seu

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Em relação à ação estratégica de office-seeking, há uma lógica de busca de postos de comando ou de espaços de poder por meio de coligações ou de formação de coalizões. As coligações são pré-eleitorais e podem ser orientadas também por uma ação do tipo vote-seeking. A formação de coalizões são ad-hoc e referem-se estritamente às ações office-seeking, embora possa haver uma estratégia de médio prazo orientada à alguma eleição, escondendo uma escolha racional de vote-seeking, e esta pode estar contida na lógica dos “jogos ocultos” salientados por Tsebelis (1998). Portanto, a interação objetiva dos partidos para a formação de um governo ou de gabinetes encerra a natureza estratégica da busca de cargos, controle de verbas e políticas, de posições de status, ou seja, de coisas que fundamentam a constituição de uma estrutura de poder político que articula partidos e políticos em torno dos recursos de poder ou dos recursos de patronagem.

A formação de coalizões majoritárias com a negociação de recursos de patronagem pode envolver também uma ação orientada ao policy-seeking, tanto pelo partido que encabeça o governo como pelos partidos que formam o bloco governista. Os partidos negociam cargos, verbas e apoios para a obtenção de poder político e, conseqüentemente, para a implementação de determinadas políticas, sejam clientelistas ou não. Então, as ações de office-seeking e de policy-seeking estão interligadas e podem ser medidas a partir dos processos de formação de coalizões e da interação objetiva dos partidos no Legislativo. Acompanhar as votações de medidas, a formação de gabinetes e o apoio dos partidos ao Executivo são maneiras objetivas de se apreender o sistema partidário, a fim de se verificar sua efetividade real.

Em relação às ações do tipo vote-seeking, os partidos atuam na esfera de intermediação das preferências políticas dos eleitores com o sistema político, no âmbito do qual estas podem ser implementadas. A interação competitiva dos partidos nas eleições mostra a importância do sistema partidário não apenas na legitimação da democracia representativa, como também na estruturação das escolhas e da participação, além da institucionalização do conflito e da estabilização política. Nessa esfera, o importante é medir o quanto o sistema partidário confere coerência e regularidade à competição política,

foco em sua estrutura organizacional. Claro que essa abordagem é extremamente importante, especialmente se combinada com a perspectiva que enfoca os partidos também como agentes políticos que competem com outros partidos. Enquanto atores dinâmicos, podemos perceber se a ênfase dos partidos é dada mais à sua ideologia – o que o levaria a ser classificado como um partido de ação orientada à policy-seeking –, se é um agente do tipo officie-seeking – o que evidenciaria sua atuação como um ator co-adjuvante no processo eleitoral, com o objetivo apenas de buscar espaços políticos por meio de alianças. Podemos ainda verificar em que medida o partido se orienta mais por uma ação do tipo vote-seeking, pela qual a estratégia básica é dirigida à competição eleitoral, em que o partido busca os meios mais viáveis para ganhar postos executivos ou cadeiras no parlamento, seja com alianças, seja com mudanças pragmáticas em seus programas. É evidente que um partidos sempre age orientado por esses três tipos de ação, contudo, sua classificação depende da ênfase que é dada a determinado curso de ação. Um partido altamente ideológico e que, portanto, põe a ênfase de sua ação em uma estratégia policy-seeking, dificilmente aceitaria se aliar a um partido de ideologia diferente apenas para conquistar o poder e implementar sua política – o que o levaria a ser também vote-seeking. Esse é o caso, por exemplo, do PT, que busca se mover atualmente para uma ação também vote-seeking, tentando estabelecer alianças mais amplas com o centro; mas, mesmo assim, encontra grandes dificuldades internas para. Esse exemplo, aliás, evidencia a importância de se analisar também a estrutura organizacional de um partido, afinal, ela é um fator de grande relevância na determinação do tipo de orientação estratégica que o partido adota na esfera eleitoral.

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Sistema Partidário

Função Executiva

Office-Seeking Policy-Seeking

Função Representativa

Policy-Seeking Vote-Seeking

o que significa dizer o quanto o sistema institucionaliza a participação e, assim, institucionaliza-se a si mesmo.2 O esquema abaixo sintetiza esses pontos.

Esquema 1

A Dupla Função do Sistema Partidário Segundo a Literatura Temática

A Dinâmica Competitiva A definição dinâmica de sistema partidário se articula mais com um tipo de partido cujo perfil seja estratégico ou pragmático, como no modelo do catch-all party, de Kirchheimer (1966), do que com o clássico partido de massas, da tipologia de Duverger (1970). Isso fundamentalmente porque o foco da definição sistêmica é a ação partidária no momento da competição eleitoral ou da interação partidária pós-eleitoral no parlamento e no governo. Os partidos de massas, por outro lado, também exerceriam dupla função, a de socialização política e a de doutrinação. Portanto, haveria uma atividade intensa, de natureza ideológica e extra-eleitoral. Contudo, a aceitação do enfoque centrado no aspecto eminentemente competitivo teria duas justificativas. A primeira, um tanto precária, pois análises empíricas refutam-no (Wolinetz: 1990; Pedersen: 1990), é a de que a própria emergência e prevalência de um partido catch-all validaria tal enfoque, uma vez que tratar-se-ia de sistemas com partidos essencialmente estratégicos e competitivos. A segunda, mais consistente, é a de que a abordagem do sistema partidário deve ser sistêmica – embora isso pareça redundante – e, portanto, diferente e mais abrangente do que a simples abordagem estrutural das unidades partidárias. Como enfatiza Maor (1997, 30), “the properties of the party system are not just those of its component parts; they also involve the totality of inter-party relationships. These relationships can be seen as streams of interaction, justifying a definition of the party system as the system of interactions resulting from inter-party competition”.

Assim, fica evidente que análises que tratam do sistema partidário a partir de uma derivação sub-sistêmica das estruturas dos partidos individualmente, sem a consideração da 2 A institucionalização do sistema partidário, sua estabilidade, pode ser verificada pela análise do índice de volatilidade eleitoral (Pedersen: 1980, 1990; Bartolini and Mair: 1990).

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interação sistêmica entre os partidos, miram seu foco em uma unidade de análise equivocada. Uma coisa é conceber a origem dos partidos e sua estrutura interna, salientando até mesmo que isso influenciaria seu desempenho sistêmico e suas modalidades de interação (Duverger: 1970); outra coisa é analisar o conjunto dos partidos em sua dinâmica interativa, mediada por uma lógica competitiva em que se busca também a interação com o ambiente eleitoral (Sartori: 1982). No primeiro caso, temos uma análise genética ou estrutural dos partidos, portanto, interna às unidades partidárias; no segundo caso, temos uma abordagem sistêmica, externa às unidades partidárias, em que se busca analisar sua interação. Dessa forma, o incentivo (objetivo) é a conquista do poder político e o constrangimento (obstáculo) institucional é a competição eleitoral. Como Panebianco (1988) salienta, apesar de seu enfoque ser na estrutura partidária e não no sistema de partidos, a especificidade desse tipo de organização em relação às outras é justamente seu ambiente, seu habitat eleitoral e dinâmico, sempre a exigir adaptações. Mesmo Duverger (1970) sugeriu essa diferenciação, uma vez que seu objetivo principal foi o de tipificar a evolução das estruturas de partidos para estabelecer, em termos sistêmicos, suas relações recíprocas, sua função social e sua interação com o Estado. Assim, o autor sugere uma abordagem que tenha como eixo metodológico a classificação dos partidos e dos sistemas de partidos.

Na verdade, poderíamos classificar o enfoque durvergeniano como “onto-genético”. Ontológico na medida em que tenta apreender o partido enquanto “ser”, enquanto estrutura existente. Genético na medida em que busca mapear o ambiente social, econômico e político de sua emergência – o contexto no qual o partido foi “gerado”, sua origem. A partir desse “código genético”, digamos assim, é que seria possível estender a análise ao ponto da previsibilidade, e compreender a evolução dos partidos ao longo do tempo, bem como suas modalidades de interação competitiva. Para o autor, “um sistema de partidos é definido por certa relação entre todos esses caracteres. Como se determinam diversos tipos de estrutura, trata-se de determinar certos tipos de sistemas” (ibid., 239). O sistema, assim, seria caracterizado pela competição e pela coexistência de partidos e deve ser enfocado em duas vertentes: (1) as diferenças e semelhanças entre as estruturas de cada partido, e (2) as características sistêmicas, especialmente quanto ao formato que o sistema assume a partir da interação de cada partido, o que significa dizer o número de partidos e o espaço ideológico no qual eles se posicionam.

Sartori (1982), por sua vez, também se concentrou no formato do sistema e ressaltou a importância da dimensão ideológica. Contudo, discutiu de forma mais contundente a dimensão competitiva como condição sine qua non de um sistema partidário. Embora o autor considere que possa existir sistema competitivo sem competitividade, segundo ele, não é válido que possa haver competitividade em um sistema sem competição. Dessa maneira, Sartori (1982, 246) distingue competição de competitividade, ressaltando que “a competição é uma estrutura ou uma regra do jogo [e] a competitividade é um estado particular do jogo. (...) Assim, a competitividade é uma das propriedades ou atributos da competição”. Kirchheimer (1966) é outro autor que também ressaltou a dimensão competitiva do sistema, apontando-a como a causa principal da “catchallnização” dos partidos europeus. De forma tácita, ele indica a relevância do padrão de mudança dos partidos e, conseqüentemente, do sistema de partidos na estrutura competitiva do ambiente eleitoral, resultante do aumento da complexidade da estrutura social. A integração que os partidos catch-all passariam a realizar seria não mais a coletiva ou de base classista, mas

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individual, buscando o que Downs (1999) chamou de “maximização de votos”. Por esse processo competitivo, os partidos do tipo catch-all promoveriam, por extensão, a transcendência tanto dos grupos de interesse como dos objetivos estritamente de classe, para se submeterem às preferências individuais dos atores políticos.

Competição Eleitoral e Instabilidade Sistêmica Assim como os partidos de massas representaram mudanças no padrão de competição e de competitividade, os partidos do tipo catch-all também significariam mudanças nos mesmos moldes. Contudo, sua atuação efetiva seria na busca do consenso, e não do realinhamento, como seria o caso dos partidos de massas, sendo tais partidos o resultado de mudanças externas ou do seu ambiente. Conforme salienta Panebianco (1988), a “catchallnização” dos partidos europeus teria surgido justamente em resposta às mudanças do ambiente eleitoral, mais complexo e mais competitivo. Por outro lado, segundo Kirchheimer (1966), essa especialização eleitoral provocaria um distanciamento dos cidadãos em geral em relação aos partidos e a destruição das condições concretas de identificação partidária. Vislumbrando a necessidade competitiva do ambiente eleitoral é que tanto Kirchheimer (1966) como Panebianco (1988) percebem o processo duplo transformativo das estruturas partidárias: (1) a emergência de partidos adaptados a esse ambiente, os partidos do tipo catch-all ou profissional-eleitoral, e (2) a desestruturação partidária e a conseqüente desarticulação entre partidos e eleitores, levando a uma crise dos sistemas partidários europeus evidenciado pelo aumento da instabilidade eleitoral.

De certa forma, é a partir da premissa das mudanças estruturais da sociedade e das mudanças estruturais das organizações partidárias que decorrem todas as análises que vaticinam que os sistemas partidários europeus passariam por um processo de “desinstitucionalização” (cf. Bartolini and Mair: 1990). De um lado, alguns analistas se posicionaram favoravelmente à validade empírica da tese do congelamento dos sistemas europeus (Wolinetz: 1990; Rose and Urwin: 1990; Bartolini and Mair: 1990), apresentada por Lipset e Rokkan (1990); de outro lado, analistas críticos a essa tese, apresentaram dados que buscavam refutá-la, pelo menos parcialmente (cf. Pedersen: 1990). Mas, na verdade, o que estava em questão era o fato de que a mudança no padrão de competição e o aumento da competitividade sistêmica teriam ou não, conforme o caso e o tipo de análise, imposto certas transformações nos sistemas partidários europeus e, como alguns teóricos salientavam (Kirchheimer: 1966; Panebianco: 1988), isso teria levado ao desencadeamento de uma grave crise nos partidos enquanto instituições representativas.

Do ponto de vista conceitual, o que decorre disso, como conseqüência dedutiva, é que o aspecto competitivo do sistema partidário é de importância vital, seja teórica ou empírica, especialmente no caso em que o que se pretende é a apreensão da dinâmica do sistema e o padrão da competição. A partir disso torna-se possível captar também o padrão ou a ausência de um padrão de preferências eleitorais e seu grau de estabilidade, assim como um possível processo de transformação do sistema, seja em termos de realinhamento seja em termos de desestruturação; e, com isso, duas coisas passavam a ser de grande importância. A primeira é a verificação da possível “desinstitucionalização” dos sistemas

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partidários sujeitos ao aumento da competição, como no caso europeu; a segunda é a aplicação de uma medida operacional que pudesse apreender esse fenômeno.3 Institucionalização Sistêmica e Instabilidade Eleitoral A noção de institucionalização de um determinado sistema é sempre apresentada como um processo de padronização de crenças, expectativas ou comportamentos (Huntington: 1975; Przeworski: 1975; Linz: 1973; Lima Jr.: 1982; Powell Jr.: 1994; Diamond: 1988; O’Donnell: 1996a, 1996b; Mainwaring and Scully: 1994, 1995; Mainwaring: 1995, 1999). Isso nos remete ao fato lógico de que o que se pretende medir quando se propõe a aferição do grau de institucionalização de alguma coisa é seu nível de estabilidade ou de estabilidade de suas funções (Pedersen: 1980, 1990; Mair: 1990). Então, a análise do sistema de partidos sob essa perspectiva impõe a mensuração do grau de estabilidade da função representativa do sistema, do quanto este é capaz de estruturar e estabilizar o comportamento eleitoral. Institucionalização Sistêmica Há uma grande polêmica teórica em torno do conceito de institucionalização política. Com o objetivo de contornar os nós dessa discussão, tentarei colocá-la de forma bastante objetiva e direta. Assim, o que mais me interessa é o ponto de consenso em torno de sua definição e sua aplicação à análise empírica. Portanto, minha intenção neste tópico é apresentar uma definição mínima desse conceito e discutir as possibilidades de sua operacionalização para uma análise empiricamente orientada.

A origem do conceito de institucionalização é sociológica, e põe em foco a natureza, digamos assim, dos grupos, processos, comportamentos e valores sociais. A primeira preocupação mais sistemática quanto a isso, salvo engano, pode ser encontrada em Durkheim. Segundo esse autor, o conjunto de processos e valores sociais, ou seja, suas instituições, teria passado de um modelo centrado em um tipo de solidariedade, baseado nas similitudes, na coesão coletiva e mecanicamente orientada, para outro, baseado nas diferenças, nas especializações, na coesão individual e organicamente orientada. No primeiro pólo, temos uma sociedade simples (tradicional); no segundo, uma complexa (moderna). O aumento da complexidade social, entendido como a situação de modernidade, representaria a proliferação de novas instituições, centradas em uma divisão de funções e especialidades tais que poderia gerar “desequilíbrios” ou disfunções, ou ainda, anomia. Impunha-se, assim, o velho problema da estabilidade e da coesão social.

De certo modo, foi a partir da teoria da ação geral parsoniana que procurava fundir a proposição durkheimiana, o organicismo spenceriano e a sociologia compreensiva weberiana, que o conceito de institucionalização iria adquirir o status de uma articulada teoria dos sistemas sociais. O sistema político passaria, dessa forma, a ser um subsistema do sistema social global. Esse é o recorte que Huntington (1975) também apresenta ao se preocupar com a institucionalização política. Seu processo engloba não apenas a especialização da atividade política como um todo que deveria se tornar autônomo e 3 No caso das democracias recentes, como a brasileira, por exemplo, a medida também é importante para a verificação de um processo inverso ao europeu, que seria a possível institucionalização do sistema de partidos.

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exclusivo em relação às outras esferas sociais, como engloba a própria especialização de cada uma de suas subunidades, como os partidos e o sistema partidário. A institucionalização política demandaria a institucionalização de suas subunidades, o que significa dizer que suas partículas deveriam se mostrar autônomas, especializadas, diferenciadas e interagir de maneira organicamente articulada, interdependente e estável. Dessa forma, a sociedade complexa se basearia em especialidade de funções e em um sistema de crenças que lhe atribuíssem legitimidade. Da articulação das funções orgânicas com um coerente sistema de valores, resultaria um padrão de interação ritualístico, sedimentado; resultaria um determinado equilíbrio sistêmico, ou seja, teríamos um padrão de comportamento estabilizado. Daí a preocupação de Huntington (1975) com a institucionalização das organizações políticas. Para o autor, “as instituições são padrões de comportamento estáveis, válidos e recorrentes. (...) A institucionalização é o processo pelo qual as organizações e os processos adquirem valor e estabilidade” (ibid., 24). A estabilidade guardaria relação proporcional com sua capacidade mesma de gerar padrões de comportamento recorrentes, portanto, previsíveis o máximo possível. Estabilidade, assim, é um indicador da institucionalização política. As organizações, que, na verdade, são os atores coletivos, como os partidos e o sistema partidário, e as práticas, como as eleições, é que seriam as responsáveis pela estabilização do comportamento político e, como tal, pelo próprio processo de institucionalização democrática, na medida mesma em que se tornariam institucionalizadas.

O’Donnell (1991) também nos oferece uma discussão a respeito desse conceito, seguindo as mesmas perspectivas. Segundo o ele, as instituições referem-se a “(...) padrões regularizados de interação que são conhecidos, praticados e aceitos regularmente por agentes sociais dados, que, em virtude dessas características, esperam continuar interagindo sob as regras e normas incorporadas (formal ou informalmente) nesses padrões” (ibid., 27). Entendidas assim, tais instituições cumpririam formalmente funções primordiais para o desenvolvimento eficaz do processo democrático, entre as quais, duas seriam de vital importância: (1) as instituições estabilizariam os agentes e as expectativas, gerando cooperação competitiva e o reconhecimento da legitimidade dos competidores; e (2) ampliariam as perspectivas temporais dos atores políticos. Enquanto estruturas de ações padronizadas e objetivadas em práticas e leis, tais instituições obteriam legitimidades subjetivas. Diamond (1988, XV-XVI) concorda com essa posição e adere à argumentação de Linz (1978) e Stepan (1988), afirmando que “they posit overlapping behavioral, attitudinal, and constitutional, and even psychological life, as well as in political calculations for achieving success”. Diamond (1988, XVI-XVII) ainda faz suas as palavras de Linz, ao entender “(...) democratic consolidation as a discernible process by which the rules, institutions and constraints of democracy come to constitute the only game in town, the one legitimate framework for seeking and exercising political power”.

Então, tal como Huntington (1975), Przeworski (1975), O’Donnell (1991, 1997) Diamond (1988) e Linz (1978) a definem, a institucionalização democrática aparece em dois níveis: (a) em um nível mecânico-institucional, no qual a estabilidade, a durabilidade e a regularidade da competição político-eleitoral, com suas regras de competição, são efetivas; e (b) em um nível “atitudinal”, em que representa um sistema de crenças e de valores orientados a esse tipo de jogo político competitivo como algo legítimo e desejável. Outro ponto importante é que, desde sua origem teórica, o conceito de institucionalização traz em si uma forte componente organicista, pois a preocupação com a estabilidade o

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apresenta como um processo pelo qual a instabilidade e a incerteza devem ser declinantes e previsíveis. No caso dos teóricos do desenvolvimento político, a instabilidade deve ser mesmo controlada. Como conseqüência prática, a estabilidade é buscada por meio do desenvolvimento político, e a institucionalização passa a ser a preocupação fundamental para o diagnóstico e a intervenção institucional (sistema eleitoral, sistema partidário). Sua definição mínima também passa a ser consensual na medida em que, na verdade, retrata o processo de estabilização dos comportamentos políticos – do comportamento eleitoral e da estrutura de preferências políticas. E assim, como observa Przeworski (1975, 49), “the process of institutionalization is frequently viewed as quintessence of political development. Perhaps no other value is as solidly entrenched within various developmental perspectives as institutionalization, stability, continuity, or their near synonyms”.

Sendo assim, se a institucionalização do sistema político, em grande medida, é uma variável dependente da institucionalização de seus subsistemas – e tomo isso como um pressuposto lógico inerente à própria teoria de sistemas –, temos que esses subsistemas ganham um relevo considerável. Nesse caso, podemos também reduzir o foco e considerar os subsistemas do sistema político como um sistema global. O sistema político é o responsável pelos processos políticos de formulação, de deliberação e de implementação de decisões. Suas funções são inteligíveis apenas na medida em que esse sistema é apreendido enquanto um sistema que atua primordialmente como o responsável pelas ações políticas que a sociedade como um todo está inapta, por várias razões, a executar diretamente. Por conseqüência, um sistema político democrático “moderno” é fundamentalmente um sistema político representativo, no qual o mecanismo de representação surge como o fator de mediação entre a sociedade e o sistema político.4 Devido a isso, os partidos e o sistema de partidos constituem-se como subunidades representativas do sistema político e, como tal, surgem como os responsáveis diretos pela institucionalização dos padrões de comportamento político dos atores. Os partidos, por sua vez, são subunidades do subsistema partidário, e este somente é um sistema na medida em que é apreendido como o conjunto dos partidos interagindo dinamicamente (Sartori: 1982; Maor: 1997), e neste caso em uma dinâmica competitiva orientada pela lógica eleitoral, por um lado, e pelo sistema eleitoral, por outro. Portanto, a redução do foco analítico nos leva à consideração do subsistema partidário, de maneira a apreendê-lo como um sistema, que é, na verdade, um sistema representativo.

A partir das considerações acima, e voltando à questão da institucionalização do sistema político enquanto uma variável dependente da institucionalização de suas subunidades, temos que a institucionalização do sistema partidário é de vital importância para a institucionalização do sistema político como um todo. Ou seja, a institucionalização do sistema partidário e a consolidação democrática estão fortemente relacionadas, conforme observam Mainwaring e Scully (1995, 22):

(...) The institutionalization of a party system is important if for no other reason than what its opposite implies for how democracies function. Where the party system is more institutionalized, parties are key actors that structure the political process; when it is less institutionalized, parties are not so dominant, they do not structure the political process as much, and politics tends to be less institutionalized and therefore

4 Este é o princípio da proposta sistêmica de Easton (1953, 1968, 1970), em que o sistema político aparece interagindo com a sociedade em um fluxo de demandas e respostas.

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more unpredictable. Democratic politics is more erratic, establishing legitimacy is more difficult, and governing is more complicated.

A alegação de que o sistema partidário é uma peça fundamental na consolidação da

democracia e de que a institucionalização do sistema de partidos é o que conduz à estabilidade política, ao padronizar as preferências eleitorais, leva os autores à crítica da simples adoção dos modelos clássicos de análise de sistemas partidários na investigação das democracias recentes, como as da América Latina. As abordagens de Duverger (1970) e Sartori (1980) impõem uma análise estática, uma vez que a variável espacial (formato, ideologia, relevância relativa) é privilegiada em detrimento da variável temporal. Assim, no caso das novas democracias, a dimensão mais relevante, e que poderia verdadeiramente diferenciar o sistema partidário de um país em relação ao de outro, seria o grau de institucionalização de seu sistema de partidos. Com isso, também seria possível avaliar comparativamente em que medida a consolidação democrática estaria mais ou menos ameaçada em cada país. Se as democracias européias prescindiriam desse critério, uma vez que seriam democracias antigas e mais institucionalizadas, as da América Latina, ao contrário, demandariam primordialmente a institucionalização de seus sistemas de partidos, como parte dos esforços institucionais de consolidação democrática.

Sob tal aspecto, a proposta de Mainwaring e Scully (1994, 1995) – também desenvolvida monograficamente por Mainwaring (1999) – trouxeram uma contribuição importante à análise de sistemas partidários. Eles aplicaram o problema huntingtoniano acerca da institucionalização política em geral aos sistemas de partidos, de forma que propuseram não apenas uma nova dimensão para a investigação empírica do fenômeno, mas igualmente um novo eixo para a analise comparativa. Assim como no caso do sistema político, Mainwaring e Scully (1995, 04) concebem que “party system institutionalization [also] implies stability in interparty competition, the existence of parties and elections as the legitimate institutions that determine who governs, and party organizations with reasonably stable rules and structures”. Portanto, por derivação lógica, a institucionalização do sistema de partidos também aparece como um processo de estabilização sistêmica, de padronização de comportamentos.

Para Bartolini e Mair (1990), essa estabilidade adviria da formação de um consenso básico, relativo à aceitação das instituições representativas. O sistema partidário cumpriria duas funções absolutamente relevantes nesse mecanismo, ou seja, a) promover a participação política indireta e b) produzir o “encapsulamento” do conflito social. Quanto a este último aspecto, por exemplo, os autores (ibid., 02) salientam que “in many countries, the institutionalization of democracy has been achieved through the encapsulation of conflict rather than through their political pacification as such (...)”. Haveria, assim, não uma anulação do conflito enquanto tal, mas uma forma de controlá-lo e de institucionalizá-lo na arena política, o que também implica na busca da estabilidade. Para isso, o número de atores deve ser limitado e previsível (Sartori: 1968, 1972) e o “encapsulamento” deve se dar de forma que os custos do conflito fora da esfera institucional sejam elevados (Bartolini and Mair: 1990). Portanto, o sistema partidário incentivaria a participação política por meios institucionais – o que quer dizer de forma padronizada e controlada –, seja por meio da “pacificação” pura e simples do conflito social, seja por meio de seu “encapsulamento” no sistema de representação. De uma forma ou de outra, a tônica fundamental seria a busca de estabilidade e previsibilidade, afinal, ainda segundo Bartolini e Mair (1990, 02), “(...) it

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Institucionalização

Adaptabilidade/Rigidez • Cronológica • Geracional • Funcional

Complexidade/Simplicidade

• Multiplicação • Hierarquização • Diferenciação

Autonomia/Subordinação • Independência • Dependência

Coesão/Desunião • Disciplina

• Indisciplina

is clear that a strong structuration of the vote and the fundamental stabilization of electorates can ben seen as essential to the process of conflict encapsulation and democratic institutionalization. In sum, electoral stability or even electoral stalemate appears as a necessary prerequisite for democratic consolidation”. Algumas Formas de Mensuração da Institucionalização Sistêmica A partir da constatação teórica anterior, surge um problema de natureza analítica: como operacionalizar e conceito de institucionalização, ou seja, quais instrumentos possibilitariam sua observação empírica e sua mensuração. O nível de recorrência ou de padronização de comportamentos socialmente orientados é um contínuo que pode se deslocar de um mínimo a um máximo qualquer. Assim, a estabilidade pode também variar de um máximo, que significa que os comportamentos são constantes, até um mínimo absoluto, o que significa que os comportamentos são tão variáveis até um ponto caótico, no qual sua aleatoriedade se tornaria uma constante. Entre um extremo e outro temos comportamentos variáveis mais ou menos estáveis/instáveis. Dessa forma, quando se trata do nível de institucionalização política, o que se coloca é a mensuração do grau de estabilidade/instabilidade dos padrões de comportamento dos atores políticos.

Huntington (1975, 24-25) é um dos autores que propõem uma medida dicotômica de inspiração, de inspiração aparentemente parsoniana.5 Sua definição operacional sugere a verificação dos seguintes fatores. Com relação à adaptabilidade/rigidez, o autor sugere fatores de três ordens: a) cronológica, b) geracional e c) funcional. O Esquema abaixo sumariza seu modelo.

Esquema 2 Modelo de Mensuração Huntingtoniana da Institucionalização Sistêmica

5 Com relação às dicotomias adaptabilidade/rigidez, complexidade/simplicidade, autonomia/subordinação e coesão/desunião; podemos perceber o quanto Durverger (1970) também se inspirou no organicismo e o quanto Panebianco (1988) fôra influenciado por Duverger. Com relação às possibilidades de análise comparativa que o conceito permite, temos a filiação bastante clara de Mainwaring e Scully (1995) à proposta huntingtoniana e à concepção de desenvolvimento político.

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Com relação à complexidade/simplicidade, o autor sugere como fatores relevantes a) a multiplicação de subunidades, b) a hierarquização funcional e c) a diferenciação. No que se refere à autonomia/subordinação, ele indica, um tanto vagamente, a análise de interesses específicos das organizações partidárias e políticas em relação à sociedade em geral. Finalmente, com relação à coesão/desunião, ele propõe a mensuração da disciplina dos atores em relação às instituições.

Embora possuam uma grande coerência lógica, em termos práticos, os critérios de mensuração da institucionalização política definidos por Huntington (1975) apresentam inconsistências que dificultam a abordagem empírica do problema. Reis (1995, 42), por exemplo, observa que “(...) além de complexidades analíticas que suas discussões conceituais só apreendem equivocadamente, parte substancial do interesse de seu envolvimento com o tema da institucionalização política e suas ramificações consiste em alguns erros gritantes de avaliação por ele cometidos e na dramatização que assim involuntariamente faz das ambigüidades e dificuldades do sistema”. Com relação aos requisitos de “autonomia” e “adaptabilidade”, Reis (1995, 43) salienta também que “(...) a tensão entre os dois requisitos, e o equilíbrio a ser buscado nas relações entre eles não pode ser senão problemático: instituições políticas demasiado autônomas não poderão ser apropriadamente adaptáveis, enquanto excessiva adaptabilidade resultará necessariamente na perda de autonomia”. Ou seja, além das dificuldades lógicas inerentes aos seus critérios, há enormes problemas quanto à operacionalização e verificação de suas variáveis.

Mainwaring e Scully (1995) avançam um pouco mais com relação às possibilidades de mensuração da institucionalização de um sistema partidário. Os autores propõem quatro critérios para a análise empírica desse objeto. O primeiro é a estabilidade das regras e da competição interpartidária. De acordo com sua argumentação (ibid., 05), “patterns of party competitions must manifest some regularity (...)”. O segundo critério é o enraizamento social estável dos maiores partidos, pois, para os autores, “(...) otherwise, they do not structure political preferences over time and there is limited regularity in how people vote. (...) These linkages between citizens and parties help provide regularity” (ibid.). O terceiro critério é a atribuição de legitimidade às eleições e aos partidos, afinal, “in an institutionalized party system, parties are key actors in determining access to power” (ibid.). Por último, os maiores partidos devem apresentar uma estrutura organizacional estabelecida e nacionalmente ampla, fundamentalmente porque “(...) in an institutionalized party party system, party organization matter” (ibid.).6

6 Poderíamos questionar a premissa dos autores de que em um sistema partidário institucionalizado os partidos devem ter uma organização independente e com financiamento próprio. Até mesmo o partido trabalhista inglês, símbolo dos partidos de massas, surgiu financiado extensivamente pelos sindicados (Beer: 1956; Webb:1995) e, atualmente, é financiado em grande parte pelo Estado (Webb: 1995, 1996). Os autores partem de um critério normativo de que os partidos de massas seriam os partidos mais desenvolvidos e aptos, portanto, à favorecer a institucionalização do sistema. Contudo, não está demonstrado que somente um partido de massas seria capaz de estabilizar o comportamento eleitoral (Bartolini and Mair: 1990) – embora, em parte, seja essa a grande polêmica instaurada por Kirchheimer (1966) e atiçada por Lipset e Rokkan (1990), e que levou à difusão do “espectro da instabilidade” dos sistemas partidários europeus (Mair: 1990). A idéia básica dos autores é a de que os partidos de massas desenvolveriam maiores vínculos com o eleitor e, então, estabilizariam as preferências por meio da identificação partidária. Daí seu (segundo) critério de “enraizamento” social dos partidos. Perceba-se que não se trata de “enraizamento” apenas, trata-se de um “enraizamento” social – o que nos remete aos vínculos orgânicos e estáticos entre partido e classe. Outra premissa interessante é a terceira, que sugere que em um sistema partidário institucionalizado os partidos são

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Grau de Institucionalização do Sistema Partidário

Estabilidade Eleitoral Volatilidade Eleitoral

Enraizamento Social dos Partidos

Diferença entre a Votação para Presidente e para o Congresso

Legitimidade Partidária e Eleitoral

Surveys sobre a Cultura Política

Partidos de Massas • Coesão Partidária

• Disciplina Partidária • Migração dentre Partidos

Para a conferência do primeiro critério, Mainwaring e Scully (1995) indicam a utilização do índice de volatilidade eleitoral, de Pedersen (1980, 1990). Para o segundo, propõem como índice a diferença entre a votação para presidente e a votação para o legislativo. Pela lógica dos autores, um baixo enraizamento social dos partidos significaria um índice elevado, mostrando um descompasso em termos partidários entre os votos para Presidente e para o Congresso. Para o terceiro critério, propõem a verificação do quanto os cidadãos e os grupos de interesses organizados consideram os partidos e as eleições como meios legítimos de conquista do poder e de implementação de políticas. Para o quarto critério, sugerem a verificação dos graus de migração e de disciplina partidárias. A partir da articulação desses quatro critérios, os autores apresentam um índice de institucionalização sistêmica. Esquematicamente, seu critério de mensuração pode ser assim ilustrado.

Esquema 3 Mensuração da Institucionalização Sistêmica de Mainwaring e Scully

Um ponto falho importante desse modelo operacional é que não há nenhuma indicação do que se levou em consideração para atribuição dos pesos dados a cada indicador na construção do índice de institucionalização. Mais importante ainda é ressaltar que, apesar dos autores salientarem que a medida mais importante do grau de institucionalização de um sistema partidário é o índice de volatilidade eleitoral, eles consideram com o mesmo peso as outras três medidas propostas para a construção de seu

os atores principais para o acesso ao poder, além de que as eleições devem ser consideradas por todos os atores políticos os meios legítimos para tanto. Parece-me que os autores estão mais a falar de um critério básico para a democracia do que para a institucionalização do sistema partidário. Se estamos preocupados com a institucionalização do sistema de partidos é porque, no mínimo, estamos em um ambiente em que existem eleições competitivas.

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índice.7 Na verdade, a própria consistência interna de sua proposta para a operacionalização das variáveis que mensuram a institucionalização do sistema de partidos pode ser questionada. Excluindo-se seu primeiro critério, a estabilidade eleitoral, se analisarmos criticamente seus outros três indicadores podemos perceber que, de certa forma, eles são relativamente inócuos ou redundantes. No caso do enraizamento partidário, poderíamos perguntar: desde quanto a diferença entre as votações para Executivo e Legislativo em um mesmo partido pode ser algum indicador de enraizamento social partidário?8

Em relação ao Brasil, os autores desconsideram as diferentes lógicas que regem o comportamento eleitoral de acordo com os níveis de disputa – se majoritário ou proporcional, o que envolve as magnitudes eleitorais – e com as esferas de competição, se municipal, se estadual ou se federal – algo que foi salientado tanto por Lima Jr. (1983) como por Lavareda (1991), que mostraram a heterogeneidade e a complexidade do sistema brasileiro. No caso das coligações, por exemplo, seria ausência de enraizamento social votar no candidato do PSDB à presidência da República, no candidato ao senado pelo PMDB e no candidato do PFL à Câmara Federal, dado que fazem parte da mesma coligação? Além disso, o enraizamento é um conceito que coloca em evidência o quanto um partido é um instrumento institucionalizado de representação política estável, o que pode perfeitamente ser medido também pelo índice de volatilidade eleitoral.

Outro problema é que seu critério de legitimidade, com o qual propõem medir o quanto os atores políticos consideram as eleições e os partidos como os únicos instrumentos legítimos de conquista do poder, mede muito mais a legitimidade do sistema político como um todo e da democracia enquanto um conjunto de práticas e de mecanismos institucionais do que a legitimidade do sistema partidário em si mesmo. Seu último critério, que é o de buscar medidas de institucionalização das estruturas internas das organizações partidárias,

7 Um outro grande problema na análise dos autores se refere à esfera empírica. Trata-se da pouca consistência de alguns dados. Por exemplo, tomemos seu quarto critério, com relação às organizações partidárias. Segundo os próprios Mainwaring e Scully (1994, 58), “há poucos estudos a respeito da vida interna dos partidos na América Latina. Apesar da necessidade de novas pesquisas, é óbvio que na Venezuela, Costa Rica, Chile, Uruguai, México e Paraguai os partidos são mais fortes e mais institucionalizados, contam com a lealdade das elites políticas e a disciplina partidária na legislatura é bastante sólida”. Por outro lado, “as organizações partidárias são muito fracas na Bolívia, no Brasil, no Equador e no Perú. No Brasil e no Equador, o personalismo e o populismo prevalecem e as elites políticas manifestam pouca lealdade aos partidos. (...) as agremiações partidárias são menos disciplinadas em sua conduta no Congresso” (ibid.). Com relação à disciplina ou à coesão partidária no caso brasileiro, apesar de constar na referência bibliográfica de seu trabalho, Mainwaring (1999) parece nem dar atenção aos dados apresentados por Figueiredo e Limongi (1999) quanto a isso, visto que mantém-se firme na sua posição. Com relação à “óbvia” força dos partidos em alguns países e à débil institucionalização em outros, como o Brasil, o que poderíamos dizer? Ainda nas referências bibliográficas dos autores (Mainwaring e Scully: 1994, 1995; Mainwaring: 1999), as análise acadêmicas sobre partidos brasileiros citadas são os trabalhos clássicos sobre os partidos do sistema 45-64. Quanto aos partidos mais recentes, há referências ao trabalho de Kinzo (1988) sobre o MDB/PMDB e aos vários feitos sobre o PT – aliás, não é por menos que o PT aparece em sua argumentação como o único partido brasileiro digno desse conceito. Como, a partir apenas de pesquisas sobre dois partidos do atual sistema partidário brasileiro, e ainda em processo de formação, os autores podem considerar “óbvia” sua constatação de que todos os partidos seriam débeis? Como dados com essa “consistência” podem compor um índice de institucionalização sistêmica e com o mesmo peso que foi atribuído aos outros indicadores? 8 Na verdade, parece que os autores indiretamente pretendem sugerir um critério que mensure o grau de nacionalização dos partidos. Mas, quanto a isso, seu indicador não é consistente. Para tanto, os autores poderiam ter calculado a proporção de unidades da Federação em que cada partido aparece como um partido efetivo.

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utilizando os graus de disciplina e de fidelidade partidárias são medidas sub-sistêmicas e não medidas do sistema como um todo. Além disso, esse indicador se aplica à função governativa do sistema e não à sua função representativa.

Dessa forma, seus dois primeiros critérios, no fundo, mensuram a mesma coisa – a capacidade do sistema partidário estruturar as preferências políticas e dar um mínimo de estabilidade ao comportamento eleitoral. Seus dois últimos critérios não se aplicam à mensuração sistêmica, pois o terceiro mede a legitimidade da democracia e o quarto leva a um erro de unidade de análise, uma vez que propõe-se a medir o sistema por meio de um foco sub-sistêmico. Por exemplo, o que iríamos concluir se encontrássemos dois grandes partidos dentro do critério de partidos de massas e dois partidos grandes fora do critério? E partidos que se enquadram em grande parte dos critérios, mas que não se enquadram totalmente, como poderíamos classificá-los? Como classificaríamos o próprio sistema nesses casos?

Em minha perspectiva, considero que a proposta de se verificar o grau de estabilidade das preferências eleitorais e, portanto, do próprio comportamento eleitoral, é a maneira mais objetiva e mais aproximativa de operacionalização para o conceito de institucionalização de um sistema partidário, a despeito de vários problemas tanto metodológicos como interpretativos envolvidos nisso, os quais não é o caso de tratar aqui. Diante disso, o índice de volatilidade eleitoral parece ser o melhor instrumento de mensuração desse processo. O comportamento eleitoral padronizado, em nível agregado, pode ser encontrado na expressão de preferências via sistema partidário por meio dos votos, que são a expressão concreta de uma escolha para uma representação política, uma vez que “voters in particular become addicted in this fashion once having made a choice of a party to vote for they are more likely to vote for this party in the next election” (Przeworski: 1975, 49). Guardadas as devidas proporções e especificidades, qualquer outro sistema partidário se mostraria institucionalizado na medida em que expressasse um determinado padrão de votos, uma estabilização das preferências. Como argumenta Przeworski (ibid. 52), “to characterize the institutionalization of a party system, at least with regard to voting, one can observe the extent to which the patterns of voting behavior are fixed in a given system. Institutionalization is a property of patterns of behavior. The more stable these patterns, the higher the institutionalization. In extreme case, perfect institutionalization occurs when everybody behaves the same way all the time”.9 Foi com tal perspectiva que Lipset e Rokkan (1990) apontaram para o congelamento do sistema partidário europeu, evidenciado pela estabilização das preferências ou a institucionalização da clivagem capital/trabalho.

Por último, o índice de volatilidade eleitoral, acima de tudo, apresenta a vantagem de lidar com dados eleitorais consolidados, portanto, aborda o comportamento eleitoral 9 Lima Jr. (1982) foi o primeiro a utilizar essa medida com tal finalidade. O autor a utiliza como um “índice de desestabilização” na análise da dinâmica do sistema partidário de 54-64. Santos (1977) já havia buscado mensurar o grau de instabilidade daquele sistema, mas sugeriu outra medida que ponderasse os efeitos provocados pela inclusão de novos eleitores no sistema. Assim, enquanto a proposta de Przeworski (1975) era justamente a de mensurar a instabilidade provocada pela mobilização de novos eleitores, Santos (1977) pretendia verificar a instabilidade dos eleitores já mobilizados. Lima Jr. (1982) utiliza as duas medidas, a fim de verificar se a instabilidade que o autor apreende naquele sistema seria causada pela entrada de eleitores com preferências diferentes em relação àquelas já existentes ou se seria causada pela mudança na estrutura das preferências dos eleitores que já participavam do processo eleitoral.

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objetivo e efetivo. Por isso, é amplamente utilizado pela literatura internacional, já que viabiliza a padronização e a análise comparativa, além de ser um indicador simples que possibilita vários tipos de testes estatísticos. Claro que há limitações, especialmente porque se trata de uma medida agregada, e também porque, no caso do Brasil, a medida é utilizada para mensurar um processo diferente daquele para o qual o índice foi proposto. Contudo, as vantagens suplantam os problemas, conforme mostram algumas análises sobre o sistema partidário brasileiro que utilizaram esse índice (Lima Jr.: 1982, 1997; Coutinho: 1995; Figueiredo: 1995; Mainwaring and Scully: 1994, 1995; Nicolau: 1998; Mainwaring: 1999; Roberts and Wibbels: 1999; Peres: 2000).

Conclusão A discussão que apresentei estabeleceu alguns pontos que julgo importantes em relação ao sistema partidário e à consolidação democrática. Em primeiro lugar, a institucionalização política implica algum tipo de estabilidade de práticas e de comportamentos; em segundo lugar, a institucionalização do sistema político democrático depende, em grande medida, da institucionalização do sistema representativo – partidos e sistema partidário; em terceiro lugar, a institucionalização do sistema partidário também implica em estabelecer um padrão de comportamento eleitoral e de interação sistêmica competitiva dos partidos, o que significa estabilizar ou estruturar estavelmente as preferências políticas dos eleitores. Finalmente, em quarto lugar, o grau de estabilidade/instabilidade do sistema partidário pode ser mensurado de forma consistente pelo índice de volatilidade eleitoral.

Assim, se a efetividade da democracia e sua consolidação dependem, em grande parte, da institucionalização do sistema partidário, um alto grau de estabilidade eleitoral poderá indicar um processo de consolidação sistêmica. Afinal, conforme observa Powell Jr. (1994, 80), “where voting support does undergo volatile shifts, it is likely that voter mobilization will be uneven and uncertain, that governing will be made more difficult by uncertainties about future support, and that turmoil will be more frequent”. Devido a isso, aliás, é que “most observers view rapid changes in the pattern of support for parties as evidence of weakness in party systems” (Ibid., 96). Por isso mesmo, uma definição minima e consensual do conceito de institucionalização, assim como modelos de operacionalização empírica desse conceito e formas de mensuração empírica desse fenômenos são questões teóricas e metodológicas extremamente relevantes para as analyses de política comparada.

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