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O

Sonho

de

BentinhoAluno: Emerson Benedito Ferreira

Disciplina: Teoria da Educação: Aportes de Africanidades

Mestrado – Universidade Federal de São Carlos - UFSCar

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Era uma vez, um menino chamado Bentinho.

Bentinho era órfão e vivia na capela da vila de Monte Castelo. Era criado pelo padre Amaro.

Ele era um menino muito obediente e dedicado aos estudos.

Esforçado, estudava em uma conceituada escola de Monte Castelo.

- Padre. Por que eu nasci negro? Algumas crianças zombam de mim na escola por que não tenho a cor branca. Existe um menino malvado que diz que eu não sou igual a ele. A minha professora tenta explicar que somos todos iguais, e que eu sou assim porque meus pais também eram assim. Mas eu queria ser da cor do senhor e não desta cor. Eu fico lendo a bíblia e acho que até Jesus Cristo não gostava de negros. A bíblia não fala que existem pessoas negras ao lado dele!

- Padre Amaro, será que um dia eu vou conseguir ser feliz sendo negro, porque eu já pedi para Jesus me deixar branco, mas acho que ele não me ouve. Talvez ele não me escute pela minha cor.

- Bentinho meu filho. Como sua professora falou, as pessoas nascem com cores diferentes, mas são todas iguais. Veja o seu amiguinho hauní. Ele tem a pele avermelhada por que os pais dele viveram nesta terra a muitos e muitos anos. O hirochi tem a pele mais amarelada do que a maioria dos meninos e tem os olhinhos puxados, mas ele também é igual a você e aos outros. Acredite em sua professora, não dê ouvidos a este menino. Acho que ele não gosta de ninguém, nem dele mesmo. Ele não segue os ensinamentos da bíblia. Na bíblia fala que Jesus foi tentado pelo demônio no deserto e morreu na cruz para que sua mensagem prosperasse. E sua mensagem era exatamente a igualdade Bentinho. Ele queria que todos fossem iguais, pois nosso espírito não tem cor.

Sempre lia a Bíblia na esperança de entender as desigualdades do mundo.

Não entendia o preconceito de seus amigos por ele ser negro. Buscava respostas.

Padre Amaro sofria todas as noites com seus intermináveis interrogatórios:

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- Meu filho. Quando ficar lembrando a voz deste menino, lembre-se que a Bíblia diz que Cristo também passou por esta provação. Ele foi para o deserto porque precisava pensar em sua vida e ficou jejuando por vários dias. Tentou não pensar em nada além do que necessitava, mas teve fome e tinha pouco o que comer. Teve sede e tinha pouco o que beber. Ele ficou pensando em sua vida, na sua família, nos seus amigos e no seu povo. Jesus tinha que voltar com os pensamentos positivos para ensinar a todos a importância da compaixão e do amor ao próximo. Estava se preparando espiritualmente para isso.

- Mas Padre, eu acho que no fundo, no fundo, Jesus acabou sendo morto em vão. As pessoas continuam sendo más umas com as outras, e agora ele já morreu, ele não pode fazer mais nada por nós.

- E este menino que não sai da minha cabeça. Fico escutando sua voz o tempo todo dizendo: - “Bentinho seu Negrinho”.

- Tenho muita raiva dele. Fico com raiva dele, mas eu não quero ter raiva. Aí, fico com raiva de mim mesmo Padre .

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- E a Bíblia fala que quando Jesus estava conseguindo pensar em como ajudar o seu povo, passou a ter pensamentos negativos, e alguma coisa lhe dizia que as respostas que ele procurava não estavam ali. Dizia que ele passava fome e sede por nada, e que se ele desejasse, poderia ter ajuda. A voz dizia que Jesus poderia ter mais poderes se fosse mau.

- E a voz dizia que se Jesus lhe seguisse, poderia conquistar reinos, conseguir riquezas imensuráveis, nunca mais teria que passar fome e nenhum tipo de privação. Bastava olhar a vida com outros olhos. Os olhos do egoísmo, da inveja, do pecado e da diferença entre os povos e as pessoas, exatamente como este amiguinho seu está fazendo Bentinho. E é exatamente o que Jesus Cristo combateu a vida dele toda.

- Isto se chama preconceito Bentinho e você não pode dar ouvido a isso.

- E o que Jesus Cristo fez com essa voz padre Amaro. Ele a transformou em vinho ou em sapo?

- Não meu querido. Jesus não era este tipo de mágico não. Ele não podia fazer mal a quem quer que seja, pois se o fizesse, tudo o que ele acreditava passaria a ficar sem valor.

- Ele apenas pediu para que aquela voz negativa se afastasse, e disse que amava Deus sobre todas as coisas e que continuaria a fazer o bem e a combater o mal.

Assim, o negativo viu que palácios e riquezas eram bens banais para Jesus, então se afastou e não mais o incomodou.

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- É padre. Admiro muito Jesus, mas como o senhor sabe, ele era branquinho, e tinha até olhos azuis. É fácil falar em igualdade e fraternidade sem ter alguém que fique o tempo todo lhe dirigindo ofensas. Até agora não conheço ninguém negro que possa me despertar esperanças. Jesus, os Santos, todos eles eram brancos. Tudo que é importante é branco. Todos os homens importantes e amados são brancos.

- Bentinho, e quem te disse que Jesus Cristo era branco? Aliás, existem pesquisas que contradizem estas afirmações. Pesquisadores relatam que na terra de Cristo seria quase impossível existir alguém naquela época com as características do Jesus que vemos com freqüência pintado em quadros.

- Além do mais, existem sim santos católicos negros.

- Um exemplo é São Benedito. Ele teria nascido na Sicília em 1524 e dedicado toda sua vida á igreja. Era pobre e sua família era formada por escravos vindos da Etiópia. Fazia votos de pobreza e castidade e andava descalço pelas ruas. Foi cozinheiro do Convento dos Capuchinos. Era leigo e analfabeto. Praticou várias atividades caridosas e a ele são atribuídos diversos milagres. Morreu em 1589 com 65 anos de idade. Geralmente é representado carregando o menino Jesus em seus braços.

- Mas a nossa Santa negra mais conhecida é Nossa Senhora Aparecida. Encontrada em 1717 pelos pescadores Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso poucos minutos depois deles terem rezado para Nossa Senhora para encontrar peixes. Primeiro resgatou o corpo da imagem e jogando a rede de pesca pela segunda vez, resgatou a cabeça. Em conseqüência, pegaram tantos peixes que foram obrigados a voltar de sua pesca.

- Em meados de 1850, um escravo chamado Zacarias, preso por grossas correntes, ao passar pela igreja onde se encontrava a imagem de Nossa Senhora Aparecida, pede ao feitor permissão para rezar. Recebendo autorização, o escravo se ajoelha diante de Nossa Senhora Aparecida e reza fervorosamente.

- Durante a oração, as correntes, milagrosamente, soltam-se de seus pulsos deixando Zacarias livre. - Depois de muitos milagres Bentinho, o Santuário foi elevado á Basílica pelo Papa João Paulo II em 1980, e é um dos maiores templos religiosos do mundo. Nossa Senhora Aparecida seria a mesma Nossa Senhora, mãe de Jesus, mas só que aqui no Brasil, ela é negra Bentinho.

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- Nossa Padre! Que histórias bonitas. Nunca mais vou esquecer Nossa Senhora Aparecida e São Benedito. Tenho orgulho deles. Mas, padre, eles são santos, eles não contam. O negro que não é santo sofre muito e não tem ninguém que os represente. Sinto-me órfão duas vezes.

- Hei menino, você não se convence mesmo hein! Você tem que conhecer a sua história. A história de seus ancestrais. Você conhece a história de Zumbi dos Palmares? Ou a história de Chico Rei?

- Não Padre Amaro. Quem são eles?

- Eles representam a luta de um povo Bentinho, seu povo. - Zumbi nasceu no Estado de Alagoas, em União dos Palmares em 1655. Foi criado como você, por um religioso português, a quem foi entregue aos 6 anos após ser capturado. Neste ambiente de Igreja, foi batizado “Francisco”, aprendeu português e latim, e ajudava na celebração das missas todos os dias.

- Mas em 1670, Francisco foge e retorna a União dos Palmares. Ele era um grande lutador e tornou-se líder daquele local.

- Para acabar com a liderança de Zumbi, foi recrutado para combatê-lo o sertanista paulista Domingos Jorge Velho.

- Este homem era temido por todos e organizou a invasão do quilombo. Em 1694, as tropas destroem o vilarejo e ferem Zumbi que sobrevive, mas é traído e morto em 1695.- Em sua homenagem e por sua bravura, foi promulgada a Lei 12.519 de 10 de novembro de 2011, onde institui o dia 20 de novembro como o dia Nacional do Zumbi e da Consciência Negra.

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- Padre, e o tal do Chico Rei?

- Esta história também é muito bonita meu filho. Dizem que Chico Rei era rei em seu país que se chamava Congo e ficava no continente africano.

- Vivia no Congo com sua esposa, familiares e amigos. Foi preso em sua tribo por traficantes de escravos e colocado no navio negreiro, o navio Madalena, juntamente com integrantes de sua família, incluindo mulher e filhos.

- Com uma tempestade tomando a embarcação, algumas mulheres foram jogadas ao mar para que o a Nau atravessasse a grande tormenta, dentre elas a esposa de Chico Rei a rainha Djalô e sua filha Itulo. Chico só tomou conhecimento do que tinha acontecido quando chegou no rio de Janeiro pelos tripulantes do navio. - Chega ao Brasil em 1740, localizando apenas um de seus filhos. A família toda estava morta.

- Francisco e seu filho, juntamente com os sobreviventes de sua tribo foram comprados por Major Augusto e foram transferidos para Vila Rica para trabalharem como escravos na mina da Encardideira. Chico era muito forte e trabalhava também em suas horas de descanso. Minerava para si próprio.

- Assim, Chico Rei consegue comprar sua liberdade, juntando dinheiro pelas horas a mais que trabalhava sem descanso. - Torna-se liberto e embrenha-se sozinho na mata em busca de ouro.

- Chico Rei consegue encontrar ouro e a primeira coisa que faz é comprar a liberdade de seu filho. - Juntos, pai e filho dão início ao trabalho, novamente embrenhando-se na mata em busca de ouro e o fazem até encontrar uma quantidade razoável.

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- E então, Chico rei compra a liberdade de todos os sobreviventes de sua tribo. Contam que ele libertou inclusive escravos de tribos rivais. Compra então a lavra da Encardideira.

- Chico ainda teria patrocinado através desta cooperativa de ouro a Igreja do Rosário em Vila Rica e a Irmandade de Santa Efigênia, uma vez que seus membros eram adeptos do “culto católico”. - Como era do Congo, criou festividades denominadas Congado, em homenagem a Santa Efigênia, festividades estas que até nos dias atuais, ainda acontecem todos os anos.

- Entendeu Bentinho como é importante você estudar suas origens. - Tenho certeza que o seu amiguinho que tanto te incomoda não conhece a história de seus antepassados, nem mesmo as de seu próprio povo. - Com conhecimento de nossos antepassados, conseguimos mudar nossa história presente menino.

- Mais Padre Amaro. Será que é verdade mesmo tudo isso! A professora nunca me ensinou estas histórias. E se eu for abrir a minha boca sobre isso na escola, todos vão dizer que estes personagens são de outros tempos. - Eu não consigo ver ninguém de cor negra importante na atualidade padre.

- Menino, você tem que conversar mais com esse velho. Vou te dar alguns nomes que foram exemplo da luta pela igualdade no mundo: Martin Luther King, Malcolm X, Nelson Mandela, etc.. No Brasil, existem vários negros em cargos de alto escalão que dão orgulho a todos, como o Ministro Joaquim Barbosa, Por exemplo.

- Quem é ele padre?

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- Ele é ministro do Supremo Tribunal Federal Bentinho, entidade máxima do direito em nosso país, como dizem, “Suprema Corte Judiciária”, e ele é negro.

- O nome completo dele é Joaquim Benedito Barbosa Gomes. Nasceu em Paracatu, Minas Gerais em 1954. É advogado, professor, jurista e magistrado. No final de 2012, ele assumirá a Presidência do Supremo Tribunal Federal.Seu pai era pedreiro e sua mãe dona de casa. Ele saiu de casa com 16 anos, fez mestrado, doutorado, passou em concurso público para Procurador da República e hoje é Ministro do Supremo Tribunal Federal. Além disso, toca piano e é fluente em 4 línguas.

- Está em evidência por ser o relator do chamado mensalão, denominada Ação Penal 470, onde aceitou a denúncia contra 40 réus de alto escalão do legislativo brasileiro e pediu a condenação de todos. - Veja Bentinho, isso demonstra que as coisas estão mudando e que o negro passa a ser reconhecido por sua inteligência, inobstante sua cor.

- Não podemos deixar de destacar ainda o trabalho incansável do ativista social Abdias do Nascimento. Nascido em Franca - SP, Abdias foi político, ator, professor e o maior defensor da cultura e igualdade da população afro-descendente no Brasil. Funda em 1944 o Teatro experimental do Negro, e em 1978, cria o Movimento Negro Unificado. Em 2006, idealiza e implementa no Estado de São Paulo o “dia da consciência negra”, comemorada doravante em todos os dias 20 de novembro de cada ano. Morre em 24 de maio de 2011 no Rio de Janeiro, aos 97 anos de idade.

- Que lindo Padre Amaro. Mas ainda tenho uma pergunta: Por que nas escolas estas vidas não são mostradas? Teria orgulho de dividir com meus amiguinhos a história passada e os acontecimentos presentes destes homens que honram o meu povo. Por que a professora não conta estas histórias de nossos antepassados e dos homens e mulheres que fazem nossa história tão bonita no presente?

- E não são somente homens não Bentinho. Mulheres negras sempre lutaram para serem reconhecidas como mulheres e como negras, luta esta ainda mais difícil pelo machismo e racismo da sociedade. Mas graças a estas pessoas, em breve você já estará aprendendo sobre seu povo nas escolas Bentinho, veja por que.

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- Em 10 de março de 2004 é aprovado o parecer CNE/CP n. 3/2004 que tratava das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico – Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Este parecer foi confeccionado pelo Conselho Nacional de Educação formado pelos seguintes educadores: Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva (relatora), Carlos Roberto Jamil Cury, Francisca Novantino Pinto de Ângelo e Marília Ancona Lopes.- Este parecer, dentre outras coisas, buscou inspirar no ordenamento Brasileiro “políticas de ações afirmativas e de reparações e o combate ao racismo”.

- Buscou-se com esta atitude Bentinho, principalmente, “o direito dos negros se reconhecerem na cultura nacional”, combatendo práticas tácitas de “branqueamento da população”, educando os negros de tal maneira que eles possam ingressar, permanecer e ter sucesso nas escolas. - Então, sua pergunta foi respondida bentinho. De agora em diante, você terá sim mais informações de sua gente pela sua professora e todos poderão conhecer a sua história.

- Nossa Padre. Quanta coisa está sendo feita para que eu aprenda mais sobre minhas origens. Acho que eu reclamo muito mesmo, não é. Tanta gente importante de tantas áreas, eu tenho que aprender mais com o senhor.

- E olha que nem falamos sobre esportes hein menino. Nos esportes vários negros se destacam em várias modalidades. O homem mais rápido do mundo, Usain Bolt é negro. No Brasil, o João Paulo de Oliveira, conhecido como João do Pulo, era negro também.

- E no futebol, temos um “rei”. Edson Arantes do Nascimento, conhecido no mundo todo como Pelé é considerado o rei do futebol. Ele nasceu na cidade Mineira de Três Corações em 1940 e com 18 anos já era campeão mundial pelo Brasil. Marcou 1281 gols em sua carreira e foi considerado por uma instituição internacional o “Futebolista do Século”.

- Agora chega menino. Você me perguntou quase tudo que deveria aprender no primário da escola e eu te respondi o que sabia. Não dá pra saber tudo Bentinho, você aprenderá com o tempo. Vá dormir, já são quase 10 da noite. Amanhã você tem aula e eu tenho missa cedinho. Boa noite meu filho.

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E Bentinho dormiu...

E Bentinho sonhou...

E em seu sonho, Bentinho estava em sua escola. Enxergava muitas crianças, algumas suas amiguinhas, outras, ele nunca vira antes. O seu colega, aquele que tanto lhe criticava por sua cor estava ao lado de uma menina negra. Índios, japoneses, negros, albinos, muitas crianças diferentes.

Bentinho observou que todos estavam alegres e brincavam juntos. As brincadeiras não eram mais aquelas de outrora. Agora todos podiam opinar e brincar sobre coisas diferentes.

Mas uma coisa chamou a atenção de Bentinho. Ele não conseguiu encontrar no meio das crianças sua professora. Aliás, não havia nenhum adulto lá. De adulto, Bentinho apenas conseguiu ver um homem se afastando. Ele usava roupas estranhas e incomuns. O menino resolveu ir ao seu encontro e perguntar:

- Senhor, senhor, por favor. Procuro a minha professora senhor. É que eu não estou encontrando ela, e os meus amiguinhos estão brincando com crianças que não são desta vila. O padre Amaro sempre diz para tomarmos cuidado com gente estranha e nunca ficarmos brincando sozinhos, sem a presença de um adulto. Como o senhor é o único adulto por perto, vim lhe pedir para chamar a minha professora. Senhor, crianças tão diferentes brincando juntas, eu tenho medo que briguem e que os fortes acabem batendo nos mais fracos.

- Querido Bentinho, por que se assusta! Não era você que sonhava em ver os seus irmãozinhos brincando todos de mãos dadas, sem importar sua cor, raça, religião e tamanho? Não se preocupe meu filho, eles não brigarão. Quanto a mim, sou negro, branco, vermelho, amarelo; sou desprovido de uma cor única. Todos podem me ver, me enxergar de acordo como querem me ver. Você sonha em ser igual. Sou igual a você Bentinho. Sou uma mistura de Abdias, Chico, Edson, Zumbi, Benedito, Petronila, Joaquim Barbosa. Sou todos porque todos estão comigo e todos contribuem para que este mundo em que você vive caminhe para ser igual, onde a compaixão reine absoluta contra o egoísmo narcisista. Eu sou todos e estou em todos os lugares. E quando finalmente todas as raças, todos os cleros, todas as cores e todas as nações representarem o amor, eu o verei de novo Bentinho...

E quando o homem se vira em direção a Bentinho, o coração do menino dispara. Aquele homem que possuía vestimentas estranhas, que estava com uma túnica branca e sandálias nos pés, aquele homem, único adulto em meio a tantas crianças que brincavam como Bentinho nunca vira antes, aquele homem era o próprio Cristo. E o mais surpreendente, ele era negro. E o homem assim falou: