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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 O TERRITÓRIO REFORMADO PELO CAPITAL FINANCEIRO: O CASO DOS ASSENTAMENTOS RURAIS DA REFORMA AGRÁRIA EM SAPÉ-PB Rômulo Luiz Silva Panta Universidade Federal da Paraíba – UFPB [email protected] Ivan Targino Moreira Universidade Federal da Paraíba – UFPB [email protected] INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por o objetivo compreender o processo de monopolização do território pelo capital na agricultura camponesa, a partir da ação territorial do PRONAF, em Assentamentos rurais da Reforma Agrária localizados em Sapé-PB. Este trabalho é produto da pesquisa do projeto de dissertação do Mestrado em Geografia, que está em fase de qualificação, sendo desenvolvido pela Universidade Federal da Paraíba. O referido projeto de pesquisa buscou atender especificamente os seguintes objetivos: a) Analisar o processo de monopólio e dependência do território dos assentamentos ao capital financeiro através da formatação das políticas de crédito que subordinam e integram os lotes dos assentamentos ao circuito mercantil e subjugando a renda da terra ao capital; b) Identificar e caracterizar as formas de resistência, recriação e reprodução camponesa a partir da organização da produção e do trabalho nos lotes dos Assentamentos; c) Analisar o processo de endividamento dos assentamentos, procurando identificar as causas do endividamento e d) Compreender a ação territorial e os impactos (resultados e implicações- autonomia e dependência) sobre a produtividade ocorrida a partir da aplicação dos créditos de custeio e investimento do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento a Agricultura Familiar). 505

O território reformado pelo capital financeiro: o caso dos ...6cieta.org/arquivos-anais/eixo2/Romulo Luiz Silva Panta, Ivan... · FINANCEIRO: O CASO DOS ASSENTAMENTOS ... (resultados

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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

O TERRITÓRIO REFORMADO PELO CAPITALFINANCEIRO: O CASO DOS ASSENTAMENTOSRURAIS DA REFORMA AGRÁRIA EM SAPÉ-PB

Rômulo Luiz Silva Panta

Universidade Federal da Paraíba – UFPB

[email protected]

Ivan Targino Moreira

Universidade Federal da Paraíba – UFPB

[email protected]

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por o objetivo compreender o processo de

monopolização do território pelo capital na agricultura camponesa, a partir da ação

territorial do PRONAF, em Assentamentos rurais da Reforma Agrária localizados em

Sapé-PB. Este trabalho é produto da pesquisa do projeto de dissertação do Mestrado em

Geografia, que está em fase de qualificação, sendo desenvolvido pela Universidade Federal

da Paraíba.

O referido projeto de pesquisa buscou atender especificamente os seguintes

objetivos: a) Analisar o processo de monopólio e dependência do território dos

assentamentos ao capital financeiro através da formatação das políticas de crédito que

subordinam e integram os lotes dos assentamentos ao circuito mercantil e subjugando a

renda da terra ao capital; b) Identificar e caracterizar as formas de resistência, recriação e

reprodução camponesa a partir da organização da produção e do trabalho nos lotes dos

Assentamentos; c) Analisar o processo de endividamento dos assentamentos, procurando

identificar as causas do endividamento e d) Compreender a ação territorial e os impactos

(resultados e implicações- autonomia e dependência) sobre a produtividade ocorrida a

partir da aplicação dos créditos de custeio e investimento do PRONAF (Programa Nacional

de Fortalecimento a Agricultura Familiar).

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No que se refere aos aspectos conceituais, se evidenciará os seguintes conceitos:

campesinato, assentamento, resistência, recriação, espaço e território (estes dois últimos se

apresentam para a ciência geografia também como categoria de análise) e monopólio do

território. Sobre o conceito de campesinato, se fará uso das diferentes apreciações as quais

envolvem este conceito. Neste sentido, e em observância aos paradigmas que envolvem

questão agrária e o modo de produção capitalista, a análise conceitual do campesinato

partirá da perspectiva marxista, onde a mesma se orienta por duas concepções diferentes

quanto ao seu futuro com desenvolvimento do capitalismo na agricultura.

Na concepção ortodoxa, o campesinato está em processo de aniquilamento, o

que preconiza o desaparecimento do camponês em detrimento da consolidação de duas

classes sociais no campo, os proprietários e o proletariado. Contudo na concepção

heterodoxa, enfatiza-se a resistência do campesinato ao modo de produção capitalista,

tendo em vista seu desenvolvimento se estruturar de maneira desigual e contraditória,

permitindo a essa classe social se reproduzir a partir de uma lógica diferenciada

concomitante ao modo de produção dominante.

Sobre assentamento, tem-se uma difícil missão quanto sua conceituação dada

sua natureza diversa, que permeia desde o processo de luta pela terra passando pelo

acampamento, e aos diversos processos de luta que envolve tal experiência. O conceito de

assentamento compreende-se como a criação de novas unidades agrícolas, visando o

reordenamento do uso da terra, por meio de políticas governamentais, ou seja, é um

território produto do Estado, diferentemente de seu aspecto inicial de acampamento.

Contudo, optou-se pelo conceito estabelecido a partir de Moreira e Ivan (2013),

que compreendem assentamento como uma “nova territorialidade, onde se estabelecem

novas relações espaciais”, contudo, é “um território dentro de um território maior dominado

pelo capital”, fruto do conflito estabelecido entre classes no espaço agrário. Os autores

ainda acrescentam este território como “lugar de morada, de produção de base familiar, da

policultura”, porém não deixando de haver uma subordinação, como diz Mitidieiro Jr. (2011),

um território de “resistência subordinada”.

No que se refere a espaço, estabeleceu-se os referenciais conceituais a partir de

Lefebvre (2008), que compreende o espaço como um “produto do trabalho e da divisão do

trabalho, a esse título, ele é o lugar geral dos objetivos produzidos, o conjunto das coisas

que o ocupam e de seus subconjuntos, efetuado, objetivado, portanto, funcional”.

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Para o conceito de território, partiu-se da construção de Raffestin e Quani. Esses

autores compreendem o conceito de território a partir da ação contraditória de forças,

emanadas pelas relações de poder.

No que se refere ao monopólio do território, o trabalho traz seu referencial a

partir de Ariovaldo Umbelino de Oliveira (2000). A conceituação desse referencial se faz sob

a perspectiva do monopólio do território pelo capital. Nessa concepção “o capital

monopoliza o território sem, entretanto, territorializar-se”. (OLIVEIRA, 2000, p. 478-479).

Sobre a concepção de resistência e recriação camponesa, optou-se pela

abordagem realizada por Fabrini (2008), que compreende a resistência camponesa como

“um processo que se expande para além dos movimentos sociais e que também é

influenciado por forças locais materializadas no território”. Esse processo dá suporte à

recriação do campesinato que é fruto do processo contraditório do próprio movimento do

modo de produção capitalista.

MÉTODO E METODOLOGIA

A abordagem metodológica proposta se orientou a princípio de dois tipos de

métodos. Um método de interpretação da realidade frente aos sujeitos e objetos em análise

e o método de pesquisa que se refere à instrução que conduziu os passos metodológicos.

Nesse sentido, entende-se “método como fruto da associação de concepções filosóficas à

ciência”, ou seja, o método é a lente de percepção e investigação adotada pelo pesquisador

para ler e compreender seu objeto em análise.

Aqui se optou pelo materialismo histórico- dialético como método de

interpretação da realidade, fundamentado nos princípios da Geografia de posição crítica.

Este método é eleito tendo em vista que seus recursos e concepções de análise que poderão

prover uma melhor explicação sobre a problemática envolvendo sujeitos, objetos e

fenômenos verificados.

Nessa perspectiva, o materialismo histórico dialético tem como um princípio

básico “a ideia materialista do mundo, reconhecendo que a realidade existe

independentemente da consciência” (TRIVIÑOS, 1987, p. 50), sendo assim a realidade se

constitui a priori como matéria em si, para depois desenvolver a consciência do que é vivido.

Como método de pesquisa, que é compreendido como a técnica de pesquisa e

leitura do objeto, será utilizado o método etnográfico, amparado nos princípios da

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antropologia. Como instrumento metodológico, será utilizada a pesquisa de campo como

prática que aproximará o objeto da teoria.

Como procedimento metodológico se fez uso do trabalho de campo, que se

materializa como ferramenta que “aproximará o objeto da teoria, pois essa experiência

permite compreender as inter-relações existentes no espaço e no território, enquanto

conceitos chaves da Geografia” (LIMA, 2008, p. 5). Este instrumento orientará uma leitura

concreta material do objeto analisado ultrapassando assim, os referencias conceituais, a

partir da práxis que é estabelecida em decorrência da realização da pesquisa de campo.

Dessa maneira, o trabalho de campo se torna um procedimento de pesquisa

imprescindível, principalmente do ponto de vista da ciência geográfica e das relações que

esta ciência mantém com seu vasto universo de pesquisa.

Ainda na compreensão sobre o entendimento do trabalho de campo, Alentejano

diz:

O trabalho de campo é instrumento chave para a superação dessas

ambiguidades, não priorizando nem a análise dos chamados fatores naturais

nem dos fatores humanos (ou “antrópicos”). O trabalho de campo deve se

basear na totalidade do espaço, sem esquecer os arranjos específicos que

tornam cada lugar, (...) uma articulação particular de fatores físicos e humanos

em um mundo fragmentado, porém (cada vez mais) articulado (ALENTEJANO,

2006, p, 10).

Em continuidade a esta discussão, compreende-se o trabalho de campo, como

leitura concreta material do objeto analisado, sendo estruturado sob o seguinte recorte

escalar, compreende três assentamentos rurais da Reforma Agrária localizados em Sapé PB

(Santa Helena, Boa Vista e Rainha dos Anjos), sendo analisada a amostra de 30% do público

assentado que corresponde a cinquenta e cinco famílias. Esses referenciais trouxeram os

resultando que consubstanciaram os objetos resultaram na pesquisa, mesmo que em fase

inicial.

DISCUSSÕES

Os debates sobre a necessidade de soluções para o problema agrário no Brasil

não são recentes. Eles remontam ao século XIX, por ocasião da luta abolicionista (TARGINO,

2002). No entanto, a intensificação desse debate é relativamente recente. Durante os quatro

primeiros séculos de sua história (XVI-XIX), a sociedade brasileira viveu sob a égide

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socioeconômica do modelo agroexportador colonial, que se caracterizou pelas grandes

extensões de terras nas mãos dos latifundiários, sob o conceito de produto capitalizado, o

qual devia gerar receitas e obedecer aos regulamentos capitalistas da produção e

acumulação.

Durante o século XX, “foi preciso que o campesinato se consolidasse como classe

social e se proliferasse enquanto um contingente social expressivo, para que suas

demandas aparecessem elaboradas em forma de teses políticas” e se iniciassem os debates

sobre as condições conjunturais e estruturais de sua reprodução material e de sua ação

política. Neste sentido, “surgiu o embrião dos movimentos sociais que se consolidaram com

o Cangaço, as Ligas Camponesas, e posteriormente, a CPT e o MST” (STEDILE, 2005, p.13).

A partir das pressões dos movimentos sociais e da organização dos

trabalhadores, surgem os Assentamentos rurais, que se constituem como experiências de

luta, de resistência, que se posicionam contra o medo e contra o modelo capitalizado de

tratar a terra como mercadoria. Essas experiências, que antes eram embriões, hoje são

espaços com identidade, conteúdo estrutural e material, bem como imaterial e simbólico,

que produzem alimentos, esperanças e vidas.

Conforme antes já informado a pesquisa se concentra em analisar a ação

contraditória do capital nos Assentamentos Rurais da Reforma Agrária: Santa Helena, Boa

Vista e Rainha, Assentamentos estes constituídos a partir do processo de luta e frente ao

monopólio da terra, todos localizados em Sapé.

O município de Sapé pertence à Mesorregião da Zona da Mata Paraibana, que

compreende uma área de 5.231,0 km² (9,3% do território paraibano) que se estende desde o

Oceano Atlântico até os limites com a Mesorregião do Agreste Paraibano. Faz parte da

Microrregião Sapé que compreende 09 municípios (Sapé, Cruz do Espírito Santo, Mari,

Sobrado, Riachão do Poço, São Miguel de Taipu, São José dos Ramos, Pilar e Juripiranga)

(MELO; RODRIGUES, 2003, p. 9-16). (Mapa 01).

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Mapa 01: Localização do município de Sapé PB

Fonte: adaptado - Pamela Stevens, 201

Sapé limita-se ao Norte com os municípios de Cuité de Mamanguape, e Capim;

ao Sul com Sobrado e Riachão do Poço; a Leste com os municípios de Cruz do Espírito Santo

e Santa Rita; e a Oeste com Marí (RODRIGUÊS, 2001).

Referindo-se aos Assentamentos em questão, os mesmos foram originados em

detrimento do fechamento da Usina Santa Helena, a qual produzia açúcar e álcool, ao

mercado interno e externo. A Usina era integrante do Grupo “CIA. Agro Industrial Santa

Helena (CAIENA)”, concentrador fundiário da região, seu fechamento seu deu em 1993.

“Aponta-se como uma das causas para o fechamento da Usina, problemas de ordem

econômica, devido ao corte de subsídios e incentivos fiscais durante o Governo do

Presidente da República Fernando Collor de Melo (1990-1992)”, atingindo o setor canavieiro,

bem como a Usina supracitada (MOREIRA 1997, p.332). Ou seja, nesse movimento cíclico do

capital estes Assentamentos se terriorializaram e se constituíam como espaço de luta e de

vida.

Entretanto, quando se investiga o processo contraditório que envolve as reais

condições de sua infraestrutura, manutenção, desenvolvimento e reprodução dos

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Assentamentos, percebe-se a essência do problema da subordinação produtiva e territorial

da agricultura camponesa ao capital. Capital este que consegue manter, articuladamente, os

elementos opressores e o lastro de domínios nestes territórios, continuando a extrair a

renda da terra e limitando assim estes territórios enquanto unidades de manutenção e

reprodução social.

Por este prisma, esse trabalho, que se deriva do projeto de pesquisa do

mestrado justifica-se no intuito de procurar compreender a dialética que envolve os

Assentamentos Rurais da Reforma Agrária. Esses Assentamentos que, após o processo de

luta, apropriação e controle territorial, deveriam prover melhores condições e qualidade de

vida para os camponeses, bem como prover a justiça social. Contudo, dadas condições

estruturais e à conjuntura socioeconômica se mostram contraditoriamente limitados.

Nesse sentido, e na tentativa de dirimir estas tensões, o Estado passa a intervir

nestes territórios através de seus programas e políticas públicas, instigando a produção

agrícola de base familiar permitindo sua recriação, a partir da implementação dos seus

programas. Contudo, o Estado, (representa a hegemonia capitalista), através de seus

programas, a exemplo do PRONAF, “não possui ações que visam romper como o padrão de

desenvolvimento agrícola hegemônico produtivista vigente” (GAZOLLA e SCHNEIDER, 2005,

p.6).

O PRONAF surge na década de 1990 como um programa que tinha como

“objetivo promover o desenvolvimento sustentável do segmento rural construído pelos

agricultores familiares, de modo a propiciar-lhes o aumento da capacidade produtiva, a

geração de empregos e a melhoria de renda”, em respostas aos apelos dos agricultores e

manifestações ocorridas na mesma década (PRONAF, 1996, p.01).

No plano teórico, vários intelectuais do porte de Ricardo Abramovay, Maria

Nazareth Baudel Wanderley e José Eli da Veiga envidaram esforços com o objetivo de

fortalecer este programa e a categoria de agricultor familiar, “advogando a importância

econômica do agricultor familiar, sujeito este que até bem pouco tempo fazia parte das

preocupações do Estado, somente de maneira muito tímida. Utilizando principalmente, o

argumento da eficiência produtiva de tais sujeitos” (TOLENTINO, 2013, p. 24). Para dessa

forma, ratificar o quão é produtivista a agricultura familiar e, portanto passível de receber

investimentos.

Sob este plano de compreensão Neves comenta:

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(...) no Brasil, o termo agricultura familiar corresponde estão à convergência de

esforços de certos intelectuais, políticos e sindicalistas articulados pelos

dirigentes da Confederação Nacional dos Trabalhadores na agricultura,

mediante apoio de instituições internacionais, mais especificamente a

Organização das Nações Unidades para a Agricultura e Alimentação (FAO) e o Banco

Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). Consagrado para dar

visibilidade ao projeto de valorização dos agricultores e trabalhadores rurais sob

condições precárias de afiliação ao mercado e de reprodução social, diante de

efeitos da interdependia entre agricultura a indústria e do processo de

concentração da propriedade dos meios de produção no setor agropecuário.

Nessa conjunção de investimentos político, os portavozes de tal projeto fizeram

demonstrativamente reconhecer a racionalidade econômica e social da pequena

produção agrícola; a capacidade adaptativa dos agentes produtivos e novas

pautas éticas de conduta econômica (NEVES, 2007, p. 230) (grifo nosso)

Contudo, o PRONAF continua a financiar o processo de aquisição de tecnologias,

insumos e produtos que foram, em grande parte, responsáveis pelo processo de fragilização

da agricultura familiar camponesa. A sua instrumentalização está voltada ao processo de

mercantilização, não deixando explícito o tipo de fortalecimento que ele quer gerar na

agricultura. Seu pacote de estímulos conduz ao processo de subordinação dos territórios à

ação monopolista do capital sem haver necessariamente sua territorialização, sujeitando,

todavia a renda da terra.

Nessa perspectiva, a pesquisa objetivou-se em analisar o processo de

monopolização do território pelo capital na agricultura camponesa, verificando os processos

de dependência e recriação da agricultura camponesa nos Assentamentos rurais da

Reforma Agrária em Sapé-PB, a partir do PRONAF, levando em consideração a ação

territorial do capital financeiro.

Desta maneira, é propósito desta pesquisa procurar compreender os processos

dialéticos e transformações que ocorrem no interior dos Assentamentos Rurais da Reforma

Agrária em Sapé (PB), analisando as contradições existentes entre capital-trabalho que

subordina e monopoliza as estruturas produtivas e o território a sua lógica de dominação,

mediadas pelo Estado a partir dos seus programas de estímulo à produção agrícola.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Oliveira (2004), fazer análise sobre o campo significa mergulhar no

debate político, ideológico e teórico. A pesquisa se orientará sob a perspectiva teórica da

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corrente do Paradigma da Questão Agrária (PQA)1. Os principais autores que escreveram

obras seminais sobre este paradigma são Kautsky e Lênin.

No debate proposto por este paradigma, encontram-se duas concepções de

análise distintas: “de um lado uma corrente que acredita na inevitável destruição do

campesinato e, do outro lado, os que acreditam na continuidade da existência de relações

não-capitalistas, como as relações camponesas de produção" (CAMACHO, 2011, p. 19).

Neste paradigma são trazidos elementos teóricos como a renda da terra,

monopolização do território pelo capital, a diferenciação econômica do campesinato, a

desigualdade social gerada pelo desenvolvimento do capitalismo e o movimento desigual e

contraditório do capitalismo no campo. Elementos estes norteadores para a compreensão

da problemática pesquisada.

Na ciência geográfica, o Paradigma da Questão Agrária traz em seu bojo o

processo de transformação no campo discutido a partir do processo de

construção-domínio-controle territorial. Neste sentido, optou-se pelo território como

categoria de análise geográfica. A compreensão de território, aqui proposta, se constrói a

partir de Raffestin, Quani, Moraes e Oliveira. Estes autores trabalham a categoria em análise

a partir do processo contraditório, das relações de poder, uso e dominação de uma porção

apropriada do espaço geográfico. Nesta perspectiva, o território possui funções políticas,

econômicas e culturais, carregando em si identidade e experiência.

Para Moraes (2000), a categoria território está inserida na perspectiva histórica

da relação sociedade e espaço, sendo ele, o território, o elemento de análise que permite a

compreensão de uma totalidade geográfica:

(...) o território é antes de tudo uma escala de análise da sociedade e da relação

sociedade espaço, isto é, um recorte analítico que objetiva uma visão angular∕

específica da história. Em tal entendimento, o território emerge como uma

totalidade para a geografia, um espaço dotado de historicidade própria que

corresponderia à espacialidade de uma dada “formação econômica social”.

(MORAES, 2000, p. 21).

1 Esta pesquisa se desenvolverá sobre o debate do PQA, contudo, se faz necessário lembrar a existência do PCA (Paradigma do Capitalismo Agrário), que surgiu na década de 1990 a partir das reflexões de Ricardo Abramovay. “Na Obra “Paradigmas do capitalismo agrário em questão” (1998), Abramovay aponta que o campesinato tem que buscarformas de se integrar ao capital para continuar existindo”, transformando-se em agricultores familiares que se adaptam às exigências do mercado por meio do capital, das relações externas e do progresso técnico. (FERNANDES, 2009, apud CAMACHO 2011).

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Em Oliveira (1999), o território se contextualiza como abordagem referencial de

totalidade, que deve ser compreendido como um processo dialético das transformações das

relações de produção social:

O território deve ser apreendido como síntese contraditória, como totalidade

concreta do processo-modo de produção-distribuição-circulação-consumo e

suas articulações e mediações (...). O território é assim produto concreto da luta

de classes travada pela sociedade no processo de produção de sua existência

(...). Dessa forma, são relações sociais de produção que dão a configuração

histórica específica ao território. Logo o território não é um prius ou um a priori,

mas a contínua luta da sociedade pela socialização igualmente continua da

natureza. (OLIVEIRA, 1999, p.74).

Com base nestas perspectivas, pode-se compreender o território como um

elemento chave para apreensão da totalidade nos estudos em geografia, dado seu princípio

elementar de que todas as relações humanas (construção- desconstrução) sejam nas

instâncias políticas, ideológicas, sociais e econômicas se processam sobre uma base

territorial, sobre a terra. Essas relações estão imbuídas de concepções e significados que

carregam a multidimensionalidade do poder2, que é a característica inerente da categoria

território.

Em continuidade à perspectiva teórica, a pesquisa traz o referencial teórico do

monopólio do território pelo capital a partir de Ariovaldo Umbelino de Oliveira (2000),

referencial este basilar dada à natureza dialética da pesquisa e necessário para o

atendimento dos seus objetivos. Nesta compreensão teórica “o capital monopoliza o

território sem, entretanto, territorializar-se, criando e se recriando, definindo e se

redefinindo nas relações de trabalho e produção camponesa”, sujeitando a renda da terra3

ao capital. (OLIVEIRA, 2000, p. 478-479).

Oliveira (2000) para fundamentar esta teoria baseia-se na acumulação primitiva

continuada de Rosa Luxemburgo, entendendo que no processo produtivo, “os capitais estão

2 O poder é inerente às relações sociais, que substantivam o campo de poder. O poder está presente nas relações humanas, das instituições, nas empresas, enfim nas relações sociais que se efetivam na vida cotidiana, visando ao controle e à dominação. É uma abordagem também multidimensional das relações de poder que se traduz numa compreensão múltipla do território e da territorialidade. (SAQUET, 2007).

3 Este conceito se dá partir de Ricardo que define renda da terra como a parcela do produto total que fica para o proprietário da terra depois de pagas todas as despesas, de qualquer tipo, referentes a seu cultivo, inclusive os lucros do capital empregado, estimados segundo a taxa usual e ordinária de lucro do capital agrícola no período considerado. A rendada terra é o excedente do preço sobre o que é necessário para pagar os salários do trabalho e os lucros do capital empregados no cultivo da terra.

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envolvidos em dois processos distintos: na reprodução do capital, através do trabalho

assalariado, e na produção do capital com a sujeição da renda da terra gerada através do

trabalho familiar camponês” (CORREIA, 2011, p. 98).

Por compreensão teórica, a pesquisa procurará entender a problemática da

ação monopolista do capital industrial, comercial e financeiro no território, que se apropria

da fragilidade estrutural dos Assentamentos do ponto de vista da produção e das relações

de trabalho, subordinando-as aos seus interesses e a sua lógica de dominação.

Logo se faz necessário colocar que, o território em evidência, trata-se do

território capitalista, onde permanecem as relações de dominação, subordinação e

espoliação. Neste sentido, os Assentamentos em discussão se constituem como uma fração

deste território apropriada e controlada pelos camponeses, porém, permanecem

subordinados à lógica capitalista e, ao monopólio da terra.

Contudo, apesar do processo de monopolização do território pelo capital, o

capitalismo não transforma, necessariamente, todas as relações sociais em relações

capitalistas de produção, ou seja, não irão transformar todos os camponeses em pequenos

capitalistas, agricultores profissionais, que adquirem a fisionomia impessoal de agente de

mercado.

Neste sentido, para que se possa explicar o que está acontecendo no campo

atualmente, é necessário entender como é o desenvolvimento do capitalismo no Brasil e

quais são suas estratégias para a acumulação do capital. Optou-se então, pela corrente que

compreende o desenvolvimento do capitalismo no campo a partir da teoria do

desenvolvimento desigual e contraditório. Neste prisma, compreende-se que o

desenvolvimento do “capitalismo para se recriar de forma ampliada permite a existência de

relações não tipicamente capitalistas, para assim garantir sua reprodução” (OLIVEIRA, 2004,

apud CAMACHO, 2011, p. 25).

O desenvolvimento do modo capitalista de produção, “para garantir sua

expansão” mantém alguns traços “produtivos não capitalistas particularmente em sua etapa

monopolista, onde ele cria, recria e domina estas relações não capitalistas de produção”

(OLIVEIRA, 1987, p.12). Ou seja, utiliza-se deste arranjo como uma reserva para prover a

reprodução do capital. Camacho concorda com a posição de Oliveira, ao afirmar: “Por isso,

acreditamos na tese de que o processo de desenvolvimento do modo de produção

capitalista no território brasileiro é contraditório e combinado e /ou desigual e contraditório”

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(CAMACHO, 2011, p. 25).

Por esta perspectiva, e em atendimento aos objetivos da pesquisa, se pretende

analisar o Programa de Fortalecimento a Agricultura Familiar (PRONAF4), no intuito de

entender as contradições derivadas a partir da implementação deste programa, que

originalmente inaugurou um marco histórico da intervenção do Estado na agricultura

brasileira. “Programa este que foi criado e direcionado aos agricultores familiares, por se

apresentam como uma categoria social específica, reconhecida e legitimada pelo Estado,

categoria esta, até então, alijada das políticas públicas” (GAZOLLA e SCHNEIDER, 2005, p. 3).

Entretanto, quando se parte para análise das contradições pertinentes ao

programa, no sentido de compreender em que medida ele está contribuindo para o

fortalecimento da produção familiar, principalmente para a produção de

autoprovisionamento para a reprodução do homem do campo, enquanto agricultor familiar

camponês percebe-se que:

(...) o programa não possui ações que visam romper com o padrão de

desenvolvimento agrícola hegemônico instaurado, ou seja, ele continua a

reforçar o processo de desenvolvimento produtivista vigente. Neste sentido, o

pronaf continua a financiar o processo de aquisição de tecnologias, insumos e

produtos que foram em grande medida, responsáveis pelo processo de

fragilização da agricultura familiar. Assim, o PRONAF exacerba o processo de

mercantilização e de externalização junto aos agricultores familiares (GAZOLLA e

SCHNEIDER, 2005, p. 6).

Por este prisma, compreende-se o programa como uma proposta de Estado em

fomentar uma política agrária assentada na lógica das correntes teóricas que defendem a

viabilidade da agricultura familiar articulada ao mercado financeiro e comercial e, baseada

no incentivo ao progresso técnico. Esta corrente foi influencia pelas ideias de Abramovay e

advém da matriz teórica do Paradigma do Capitalismo Agrário (PCA), corrente esta que se

estrutura na compreensão de que o desaparecimento dos camponeses seria previsto pela

metamorfose em agricultores familiares, onde “o ambiente no qual se desenvolve a

agricultura familiar contemporânea é exatamente aquele que vai asfixiar o camponês,

obrigá-lo a se despojar de suas características constitutivas”. (ABRAMOVAY, 1998, p. 131).

4 O PRONAF surge como uma política pública com ações voltadas para dar suporte à agricultura familiar, criada pelo Decreto Presidencial nº 1.946 de 28 de junho de 1996, durante o primeiro governo do ex- Presidente Fernando Henrique Cardoso.

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Contudo, quando a análise se debruça a compreender a ação territorial e os

impactos no que se refere aos resultados e as implicações (autonomia e dependência) sobre

a produtividade ocorrida a partir da aplicação dos créditos de custeio e investimento do

PRONAF, percebe-se que há um processo de reprodução do “campesinato como uma forma

social não plenamente capitalizada, embora a lógica, seja capitalista” (OLIVEIRA, apud

ALMEIDA, 2003, p.75).

Esta reprodução se dá a partir da subversão da lógica produtivista de mercado.

Neste sentido, o processo de subversão é compreendido a partir da destinação que é dada

ao crédito, que é redirecionado aos interesses e as necessidades na unidade familiar. Ou

seja, enquanto o desenho do programa prevê que a aplicação dos recursos será voltada à

perspectiva de mercado sob o modelo da especialização produtiva, a práxis se processa de

maneira controversa.

Na realidade, a aplicação destes recursos está sendo conduzida para o

atendimento das aspirações e das necessidades da unida familiar. São utilizados tanto para

dar sustentação às atividades produtivas, quanto para financiar itens do consumo familiar,

tais como aquisição de eletrodomésticos. Na prática, os camponeses subvertem a lógica

produtivista do Programa ao ampliar a sua utilização de modo a atender também às

necessidades de consumo familiar. Apesar das restrições impostas pelo Programa, os

camponeses fazem prevalecer à lógica da sua organização interna, onde o consumo da

família ocupa uma posição estratégica. Pode-se falar, então, os camponeses assentados têm

em vista a criação e recriação das condições que garantem a reprodução do grupo familiar e

não a busca do lucro, conforme orientação do Programa.

Para o entendimento deste processo contraditório, buscou-se compreensão a

partir da vertente teórica que se orienta pelas ideias de Rosa Luxemburgo (1985) e

Chayanov (1981). Estes autores compreendem o campesinato dentro do desenvolvimento

do capitalismo por outro prisma. Esta corrente do marxismo heterodoxo preconiza que o

desenvolvimento do capitalismo no campo, contraditoriamente, é responsável pela criação e

recriação de relações não tipicamente capitalista de produção. É neste sentido que se está

sendo pensado o processo de resistência, recriação e reprodução camponesa nos

interstícios do modo de produção capitalista.

Em Rosa Luxemburgo este processo se compreende a partir dos “espaços

vazios”, deixados por Marx onde:

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(...) a acumulação de capital é o processo de troca de elementos que se realiza

entre modos de produção capitalistas e os não capitalistas. Sem estes modos, a

acumulação de capital não pode efetuar-se. Sob este prisma, ela consiste na

multiplicação e assimilação dos mesmos, e daí resulta que a acumulação do

capital não pode existir sem as formações não-capitalistas, nem permite que

estas sobrevivam a seu lado. (...) O processo de acumulação tende sempre a

substituir onde que seja, a economia natural pela economia mercantil simples,

esta pela economia capitalista, e esta pela economia capitalista, levando a

produção capitalista – como modo único e exclusivo de produção – domínio

absoluto em todos os países e ramos produtivos. E é nesse ponto que começa o

impasse. Alcançando o resultado final – que continua sendo uma simples

construção teórica -, a acumulação torna-se impossível: a realização e

capitalização da mais-valia transformam-se em tarefas insolúveis. No momento

que o esquema marxista corresponde, na realidade, à reprodução ampliada, ele

acusa o resultado, a barreira histórica do movimento de acumulação, ou seja, o

fim da produção capitalista. A impossibilidade de haver acumulação significa, em

termos capitalistas, a impossibilidade de um desenvolvimento posterior das

forças produtivas e, com isso, a necessidade objetiva, histórica, do declínio do

capitalismo (LUXEMBURGO, 1985, p. 285).

Na sua obra “Sobre a teoria dos sistemas econômicos não capitalistas” (1981),

Chayanov fundamenta sua análise sobre o funcionamento econômico das unidades

camponesas russas, afirmando que a lógica da organização das unidades camponesas de

produção (que se dá pelo equilíbrio interno entre trabalho e consumo), não pode assim ser

entendida a partir do cálculo capitalista do lucro. Neste sentido, ele considera que o

campesinato desenvolve uma “forma de produzir” de maneira distinta, tipicamente não

capitalista. É exatamente pela busca do equilíbrio entre trabalho e consumo no seio da

unidade camponesa, através das relações de produção e de trabalho que lhe são

características, que ela consegue coexistir e se recriar no capitalismo (CHAYANOV 1981).

A pesquisa pretende compreender o processo de recriação do campesinato a

partir das formas de resistência que se dá na organização da produção e do trabalho, onde

as relações capitalistas de produção dialogam com as relações não capitalistas para

completar o ciclo reprodutivo do capital.

RESULTADOS PARCIAIS

A pesquisa que originou este trabalho ainda se encontra em fase inicial no que

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refere à compreensão da problemática estudada, que compreende o processo de

monopolização do território pelo capital financeiro. Até o momento, foram efetuadas

apenas duas entrevistas e três visitas ao campo. A primeira entrevista foi dirigida ao Banco

do Nordeste, o agente de estado responsável pela administração do crédito e inserção do

PRONAF. A outra entrevista foi realizada com as lideranças dos Assentamentos pesquisados.

Outro procedimento de continuidade da pesquisa compreendeu pesquisa e coleta

documental efetuada aos dois sujeitos já mencionados. Com estes elementos conseguiu-se

apanhar os seguintes resultados prévios:

A autonomia produtiva é sensivelmente comprometida face o direcionamento e

a formatação na aplicação do crédito. Ou seja, o que plantar ainda é determinado, limitado e

ofertado institucionalmente. Logo nem sempre o projeto implantado corresponde aos

interesses e aprendizados acumulados dos camponeses, esse aspecto identificado dilui a

proposta participativa do PRONAF.

Outro aspecto é a articulação institucional, onde o banco busca cumprir apenas

metas financeiras. Ou seja, o território é reformado eminentemente aos interesses de

mercado e não as necessidades de sobrevivência do camponês assentado.

A aplicação dos recursos é totalmente atrelada aos grandes oligopólios do setor

agropecuário que fornecem os insumos e os defensivos agrícolas. Este processo se dá de

maneira encadeada com a norma institucional do agente de crédito que direciona a

aplicação dos recursos ao cumprimento dos padrões fundamentados a lógica produtivista

de mercado. A ruptura com esta lógica decorre na interpelação do crédito e

consequentemente na perda de programas assistenciais como o seguro safra e bolsa

família. Neste sentido, os recursos são pulverizados pelas exigências institucionais

resultando nas seguintes situações, a seguir observadas:

Na pesquisa documental foi percebido que 95% dos assentados já contraíram o

teto do valor do crédito ofertado pelo programa. Ou seja, os assentados estão maciçamente

endividados, contudo sem haver o tão propagandeado (de)senvolvimento. Outro ponto

tocante refere-se ao nível de inadimplemento, 82% dos assentados estão em condições de

inadimplência vetando a possibilidade de novos créditos em toda rede financeira e lojista do

país.

Desta maneira, a produção se orienta de forma deficitária e subordinada as

condições do programa, onde suas propostas de estruturação produtivista e de

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rentabilidade na prática se desintegram dada a situação de precariedade produtiva

implantada de forma maquiada nos assentamentos pelo programa, dada sua ação e

intenção produtivista incompatível com as reais condições e necessidades camponesas.

Concretamente, tomando por base os elementos até aqui observados, a pesquisa começa a

sinalizar a ocorrência dos processos de subordinação e monopolização do território a ação

do capital.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho partiu de uma reflexão acerca das contradições que evolvem o

espaço agrário nordestino, sendo aqui evidenciado especificamente o espaço agrário da

Zona da Mata paraibana compreendendo três Assentamentos Rurais da Reforma Agrária

em Sapé PB. As análises partem das representações de desenvolvimento que envolve o

PRONAF enquanto uma política pública e um programa de crédito, sua ação no territorial e

os usos que os camponeses fazem desse programa a partir da prática.

Conforme apontaram os resultados prévios da pesquisa in locun, o PRONAF faz

parte de um pacote fechado de políticas neoliberais estabelecidas no Governo de Fernando

Henrique Cardoso, sendo ampliado pelos governos do PT (Partido dos Trabalhadores) a

partir das diversas linhas de crédito, no sentido colocar a agricultura camponesa de

produção familiar no circuito da economia mercantil mundializada, com isso combater os

movimentos sociais rurais e mascarar a questão agrária dificultando, ou mesmo, impedindo

a Reforma Agrária.

O PRONAF conforme Tolentino (2013, p. 57), foi pautado no “modelo de

desenvolvimento pós-fordista de acumulação flexível tal como proposto no capitalismo”, o

que pressupõe uma estrutura originada nos “países dominantes que pode ser

compreendida como veiculadora de representações que pressupõem uma dominação”.

Foram estes modelos, que para continuar a reproduzir o capital, tiveram de ir ao

mundo, como uma norma que, ao mesmo tempo em que é impositiva, só se faz

a partir do convencimento. Modelos de desenvolvimento são, na nossa

compreensão, não apenas a forma como o capitalismo opera estruturalmente

nos níveis econômicos e político, mas portam também representações que o

justificam. Enfim, os modelos de desenvolvimento hegemônicos guardam as

formas ideológicas pelos quais o capital tenta convencer que é o melhor

caminho (TOLENTINO, 2013, 57).

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Dessa maneira, o programa que ora foi criado para substabelecer às

necessidades dos camponeses, quanto a sua aplicação, na verade, subordina o campesinato

as amarras do capital. Sua real proposta se dá de maneira linear, subjulgando o território e

terra de trabalho aos interesses do capital.

No processo de obtenção dos financiamentos, os camponeses se inserem no

processo de metamorfização sob a perspectiva do agente de mercado, integrados ao

circuito mercantil. Esse processo de se dá através da ação articulada entre as políticas de

Estado, os agentes financeiros e os oligopólios internacionais.

Cada financiamento, seja do tipo custeio e ou investimentos, possui tramites das

liberações dos recursos que estão atrelados às exigências de mercado, subordinando os

camponeses aos interesses de uma cadeia produtiva, criada e estabelecida pelo Estado e

pelos oligopólios do setor agrícola internacional.

Os recursos tem periodicidade semestral quanto sua aplicação. As liberações se

dão para determinadas de culturas, as que estejam integradas na cadeia produtiva e não as

culturas conhecidas e já trabalhadas de forma habitual pelo camponês e sua família, não

havendo possibilidades de mudanças por parte do agente financeiro, com a justificativa de

evitar possíveis “riscos” nos processos de produção e comercialização.

Conforme pesquisa efetuada ao Banco do Nordeste, caso o “agricultor familiar”

que não se integre a este processo, o recurso não é aplicado e, devolvido a Estado, pois

segundo o agente de crédito, os estudos de racionalidade e viabilidade econômica indicam

uma ineficiência produtiva e, classifica como cultura de risco. Tal essência veta as

possibilidades de recriação camponesa a partir do programa e subordina o território aos

interesses do capital, numa espécie de desumanização posta pela tentativa de

“economicizar”.

Isso demonstra que o PRONAF cada vez mais se orienta atrelado ao mercado,

com racionalidade empresarial, “na tentativa de produzir um homo economicus, ignorando

que os camponeses não dirigem empresas e sim reproduzem seu habitar, que não é

estático e, sim construído a partir de um habitus”. (TOLENTINO, 2013, p. 229).

Ainda se tratando dos financiamentos, pôde-se perceber que as parcelas das

liberações estão vinculadas a aquisição compulsória dos pacotes de tarifas bancárias, dos

serviços, seguros, títulos de capitalização, tendo sua sequência vinculada ao cumprimento

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dessas exigências, ou seja, ao pagamento compulsório das tarifas bancárias.

Em verificação a esse processo de liberação dos recursos, percebeu-se que cada

parcela liberada está associada à aquisição de aplicação de adubos, intensivos agrícolas de

grupos oligárquicos como a Syngenta e Monsanto, com o pretexto de melhorar as condições

das lavouras, contudo não fornecem ou admitem práticas de melhoramento agrícola

alternativas, baseadas no conhecimento camponês e/ou na agroecologia.

Dessa maneira, mais uma vez, o território e agora o processo de produtivo do

campesinato está subordinado e subsumido pelo capital, pois as outras parcelas dos

recursos só se concretizam com a apresentação das notas ficais de aquisição dos

implementos agrícolas e do cumprimento das exigências dos fiscais do banco. Caso a

fiscalização do banco verifique incorreções nestes tramites, o fiscal interpela o projeto e

prejuíza5 o financiamento.

Nesta situação o camponês para se adequar as exigências do PRONAF que são

as mesmas do circuito mercantil, subjulga a renda da terra aos bancos e compromete sua

condição financeira, pois os mesmo tem que efetuar os pagamentos das parcelas ou

pagamento inteiro do financiamento como no caso dos custeios, caso contrário, todo seu

investimento, todo seu trabalho é subtraído aos ditames do capital financeiro.

Nesse sentido, conforme a lógica e as necessidades camponesas são reversas e

não se adequarem a esta modalidade de crédito, os níveis de prejuízamento e inadimplência

ultrapassam os 85%, inviabilizando a vida financeira do camponês e consequentemente, na

prática, impossibilitando o tão propalado desenvolvimento proposto pelo programa.

Neste sentido, nos cabe colocar aqui uma discussão. Quando se trata de

inadimplemento e endividamento, existe em toda região os discursos ocultos; as

resistências silenciosas que resultam do habitus dos camponeses, no sentido de

entenderem o PRONAF como recursos a fundos perdidos, ou em alguns assentamentos a

partir dos discursos mais politizados, o não pagamento se dá pela espera do perdão da

dívida. Tais elementos levam conforme já encontrado na pesquisa um elevado percentual de

inadimplemento e endividamento.

Contudo, contrariando os discursos que emergem e se espacializam no

5 O termo prejuízar significa a ação do agente financeiro (banco) em vetar as liberações futuras do financiamento e contabilizar a operação financeira como vencida sendo corrigida a indexações de juros de atraso e mora, bem com, exige o imediato pagamento. Caso contrário, a operação financeira é notificada e encaminhada ao registro do SERASA, bloqueando o CPF do Assentado e possíveis créditos futuros em outras instituições bancárias, ou mesmo nocomércio.

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município de Sapé. O endividamento e o não pagamento, em sua maioria, se dão pela

situação da própria existência camponesa. Sua produção é destinada a manutenção

familiar, sua preocupação é com presente, com o futuro inserto e não com o futuro

abstrato, derivado de um pensamento empresarial.

No contrário se sua produção fosse destinada ao pagamento da dívida, ele teria

a renda da terra, seu trabalho, seu habitus subsumido ao capital. Tendo em vista que para

sanar a situação de inadimplente o camponês teria que destinar todo resultado da

produção ao pagamento das dívidas, para evitar seu bloqueio financeiro, ou se endividar

cada vez mais, na tentativa de conseguir ergue-se e tentar se colocar em situação de

adimplência. Contudo, suas necessidades vitais não se encaixam em tal lógica produtivista,

si trabalha todo dia, para si ter o comer todo dia.

Desta maneira, os níveis de inadimplemento e, de endividamento, não são

propositais ou orientados por um discurso, que até existe, más são, resultado da própria

formatação do programa e, sobretudo táticas de sobrevivência simples do campesinato.

“Comer e viver ou, pagar e tentar sobreviver”.

Tal compreensão se fundamenta a partir da análise das racionalidades

estabelecidas entre o PRONAF e os camponeses. O PRONAF obedece à racionalidade de um

cálculo empresarial, tomando por sujeito o homo economicus, o que demarca as distâncias

em relação a grande parte do seu público-alvo. Os camponeses por sua vez estão imbuídos

em uma lógica das previdências do que das previsões empresariais. O cálculo camponês se

funda na experiência, naquilo que foi passado por gerações, num saber-fazer (cf.

Woortmann e Woortmann, 1997).

Ainda na compreensão desenvolvimentista do programa compreende-se que o

mesmo é fruto das relações de um Estado capitalista e das alianças estabelecidas para

manutenção do mesmo, portanto, todos pseudobenefícios estão atrelados ao atendimento

dessas alianças, com os grupos, incorporações e oligopólios que sustentam o capitalismo.

Nesse caso:

(...) por mais vantajoso que possa parecer um determinado investimento em que

o uso do capital resulte em aumento de ganhos, isso não representa,

necessariamente, um estímulo para o camponês. Ele não trabalha com o

princípio capitalista de valorização do capital e, sim, com uma análise do

balanço-consumo que é subjetiva porque baseada nas necessidades da família

(PAULINO E ALMEIDA, 2010, p. 36-37).

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Contudo, em contramão a todo esse processo as táticas de recriação

camponesa, continuam a existir, isso dado a grande capacidade de resistir e graças a grande

arte de saber sobreviver. O que para o programa e para o agente financeiro é entendido

como transgressão, para o camponês é o atendimento emergencial de suas necessidades,

como, por exemplo, subverter a ordem formal do programa, mudar o destino dos recursos,

a cultura a ser plantada dada a época agrícola, a quantidade de chuvas, ao tipo de solo, a

quantidade de mão de obra e de pessoas a alimentar.

James Scott comenta em “As armas dos fracos”, como os camponeses se utilizam

das táticas de resistência e da desordem para se apropriarem da sua ordem, da sua lógica

existencial para poder sobreviver, fazer frente ao dominador e continuar a lutar. Segundo

Scott, até mesmo uma leitura casual da “literatura sobre desenvolvimento rural propicia

uma rica colheita de esquema e programas governamentais impopulares levados à extinção

pela resistência passiva do campesinato” (SCOTT, 2011, p. 4).

Nesta situação:

(...) entende-se que a equação do desenvolvimento seja frequentemente

reduzida a um jogo de soma zero. Como mostrou este estudo, os vencedores

desses jogos não são sempre, de modo algum, os dirigentes. O camponês (...) é

dificilmente um herói, na perspectiva do pensamento corrente sobre

desenvolvimento, mas ele frequentemente derrotou as autoridades por meio do

uso de suas habilidades para enganar (HYDEN, 1980, p. 231 apud SCOTT 2011, p.

4).

Dessa maneira, compreende-se a proposta de Luxemburgo, onde o modo de

produção capitalista dominante, subordina, monopoliza se subordina da renda da terra,

mais não aniquila todas as formas de produção não capitalistas, pois necessita delas para

reproduzir o capital. O processo de resistência desses segmentos se faz tão necessário

quanto, para haver a reprodução ampliada do capital, pois mesmo ocorrendo de forma

subordinada garante a reprodução, portanto, se faz necessária dada sua apropriação pelo

modo de produção dominante, pois essas são umas das características basilares do modo

de produção capitalista. Contudo, as formas de produção e sociedades não capitalistas,

resistem, e, reinventam o controle social para além do capital. Essa resistência será maior

compreendida a partir dos avanços da pesquisa.

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O TERRITÓRIO REFORMADO PELO CAPITAL FINANCEIRO: O CASO DOS ASSENTAMENTOS RURAIS DA REFORMA AGRÁRIA EM SAPÉ-PB

EIXO 2 – Dinâmicas e conflitos territoriais no campo e desenvolvimento rural

RESUMO

Os debates sobre a necessidade de soluções para o problema agrário no Brasil não são recentes.

Eles remontam ao século XIX, por ocasião da luta abolicionista (TARGINO, 2002). A partir das

pressões dos movimentos sociais e da organização dos trabalhadores, surgem os Assentamentos

rurais, que se constituem como experiências de luta, de resistência, que se posicionam contra o

medo e contra o modelo capitalizado de tratar a terra como mercadoria. Entretanto, quando se

investiga o processo contraditório que envolve as reais condições de sua infraestrutura,

manutenção, desenvolvimento e reprodução, percebe-se a essência do problema da

subordinação produtiva e territorial da agricultura camponesa ao capital. A pesquisa objetiva

analisar o processo de monopolização do território pelo capital na agricultura camponesa,

verificando os processos de dependência e recriação da agricultura camponesa nos

Assentamentos rurais da Reforma Agrária em Sapé-PB, a partir do PRONAF, levando em

consideração a ação territorial do capital financeiro. No tocante à metodologia, a proposta se

orientará pelo materialismo histórico e dialético como método de interpretação da realidade que

leve em consideração a interação entre os sujeitos e os objetos da análise. O recorte escalar

compreende quatro assentamentos rurais da Reforma Agrária localizados em Sapé-PB (Santa

Helena, Boa Vista e Rainha dos Anjos), sendo analisada a amostra de 30% do público assentado

que corresponde a cinquenta e cinco famílias. A pesquisa ainda se encontra em fase de

qualificação. Até o momento percebeu-se que a autonomia produtiva é sensivelmente

comprometida face o direcionamento e a formatação na aplicação do crédito. Ou seja, o que

plantar ainda é determinado, limitado e ofertado institucionalmente. Logo nem sempre o projeto

implantado corresponde aos interesses e aprendizados acumulados dos camponeses, esse

aspecto identificado dilui a proposta participativa do PRONAF. Outro aspecto é a articulação

institucional, onde o banco busca cumprir apenas metas financeiras. Ou seja, o território é

reformado eminentemente aos interesses de mercado e não as necessidades de sobrevivência

do camponês assentado.

Palavras-chave: território; capital; assentamento.

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