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FACULDADE CÁSPER LÍBERO
Renato Fontes Groger
O TEXTO E A INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA
A narrativa escrita na era da imagem
São Paulo
2012
RENATO FONTES GROGER
O TEXTO E A INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA
A narrativa escrita na era da imagem
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Faculdade Cásper Líbero, Linha de Pesquisa B, “Produtos midiáticos: jornalismo e entretenimento”, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Comunicação, sob a orientação do Prof. Dr. Dimas A. Künsch.
São Paulo
2012
Groger, Renato Fontes O texto e a informação jornalística: a narrativa escrita na era da imagem / Renato Fontes Groger. – São Paulo, 2012. 200 f. ; 30cm. Orientador: Prof. Dr. Dimas A. Künsch Dissertação (mestrado) – Faculdade Cásper Líbero, Programa de Mestrado em Comunicação 1. Comunicação. 2. Jornalismo. 3. Epistemologia compreensiva. 4.Narrativa
escrita. 5. Imagem. I. Künsch, Dimas A. II. Faculdade Cásper Líbero, Programa de Mestrado em Comunicação. III. Título.
À minha esposa Graciela, com quem tenho tido o privilégio de adentrar aquele tempo diferenciado pelo qual é possível escaparmos às superficialidades da vida acelerada de nossos dias. Tal tempo nos ensina que, embora a imagem seja importante, um relacionamento que se
almeja duradouro certamente precisa ir além dela.
AGRADECIMENTOS
A Deus, em primeiro lugar, por sua perceptível (embora invisível) presença e atuação nos momentos mais importantes da minha vida.
À minha esposa Graciela, pela paciência e compreensão nos consideráveis períodos de tempo envolvidos na elaboração deste trabalho. Suas palavras e atitudes de carinho, elogio e
incentivo de algum modo se encontram misturadas ao conteúdo das páginas que seguem.
Ao Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), por me oferecer a oportunidade de começar uma carreira docente, bem como pelo apoio moral e financeiro que me concedeu no
sentido de poder cursar e concluir o mestrado.
Ao Prof. Dr. Martin Kuhn, coordenador do curso de Comunicação do Unasp, pelo estímulo para que eu cursasse o mestrado da Faculdade Cásper Líbero.
Ao Prof. Dr. Luís Mauro Sá Martino, pela exemplar condução da disciplina de Metodologia de Pesquisa, na qual se abriram para mim horizontes epistemológicos mais amplos quanto ao
campo da Comunicação.
Ao Prof. Dr. Claudio Novaes Pinto Coelho, que, em sua excelente exposição de obras clássicas do campo comunicacional, deixou claro que as antigas reflexões podem se revelar
muito mais atuais do que cultura da novidade permite enxergar.
Ao Prof. Dr. José Eugenio de Oliveira Menezes, pela notável cortesia e extrema competência como professor. Seu auxílio foi precioso para a seleção de diversos autores e argumentos
essenciais para o desenvolvimento desta dissertação.
Um agradecimento especial ao Prof. Dr. Dimas A. Künsch, coordenador do Programa de Mestrado da Faculdade Cásper Líbero, a quem tenho a honra de ter como orientador. O
presente trabalho, em relação ao projeto original, não apenas ganhou fôlego, mas tomou um rumo novo e muito mais significativo com as suas sugestões. Por influência do Dr. Dimas, o
tema da epistemologia compreensiva, tão caro a ele, extrapolou o âmbito meramente acadêmico para fazer parte do meu projeto pessoal de vida.
Finalmente, aos Professores Doutores Milton Pelegrini, José Eugenio de Oliveira Menezes e Dimas Antônio Künsch, componentes de minha banca de qualificação, pelas sensatas e
valiosas observações para o aprimoramento deste trabalho.
Em sua forma atual, a fantasia serve apenas para transformar tudo que vai ser numa imagem do que já foi. O futuro vivo é sacrificado ao passado morto. Em vez de corpos mortais que
fazem parte de uma vida outrora inimaginável e imprevisível, logo haverá somente imagens eternas que caem sob a pressão do arquivo e sobrecarregam a capacidade de armazenamento. Assim, o sacrifício do tempo obriga a educar um imaginário social que tem de conservar todo
o entulho da história humana para todo o sempre.
Dietmar Kamper (2002)
Se a gente se identifica com uma narrativa que nos diz respeito, que nos é solidária porque é do nosso tempo, e nós de alguma forma nos encontramos lá dentro, então essa narrativa é altamente positiva. Não é tão simples praticar a linguagem do diálogo social, porque nós
temos tendência ao monólogo, a nos fecharmos dentro de nós mesmos com determinadas verdades, concepções e juízos de valor sobre o mundo. [...] Entretanto, essa linguagem
dialógica é o fato principal de cultivo numa profissão como a do jornalista.
Cremilda Medina (2011 – entrevista ao autor deste trabalho)
RESUMO
O presente trabalho se ocupa da narrativa jornalística escrita, tal como é ensinada nas escolas de jornalismo na chamada “era da imagem”, em que se dá uma iconização do mundo, dos objetos e do homem, e em que o texto audiovisual assume crescente preponderância sobre o texto escrito. Autores incluídos no quadro referencial da pesquisa sugerem que a proliferação exacerbada (hipertrofia) de imagens no mundo contemporâneo, tecnologicamente proporcionada e intensificada pelos meios de comunicação eletrônicos, constitui um fator significativo para a atrofia da capacidade de leitura e escrita linear, atividades caracterizadas historicamente pelo tempo lento da decifração e reflexão. A intenção principal deste estudo é a de verificar se pode ser encontrada em cursos de jornalismo uma reprodução do cenário contemporâneo de opção preferencial pelas imagens rápidas como instrumentos privilegiados da comunicação, e como esses cursos têm lidado com o ensino do texto narrativo escrito num contexto de hipertrofia imagética. São tomados como objeto de estudo três cursos de jornalismo do Estado de São Paulo: o da Faculdade Cásper Líbero (de 1947 e de cunho privado), o da Universidade de São Paulo (de 1968 e de cunho público) e o do Centro Universitário Adventista de São Paulo (de 2000 e de cunho privado). A abordagem consiste em: 1) estudo das matrizes curriculares e planos de ensino dos cursos escolhidos; 2) entrevistas em profundidade com os coordenadores dos cursos e com professores cujas disciplinas sejam especialmente relevantes para o trabalho; 3) levantamento das possibilidades laboratoriais ligadas aos cursos, nas quais os alunos podem aprimorar o texto escrito jornalístico; 4) levantamento dos TCCs realizados nos últimos anos; e 5) estudo da influência dos vestibulares em relação ao tema. Entre as referências teóricas fundamentais para o entendimento do tema da hipertrofia imagética e suas consequências, conta-se com obras de Vilém Flusser, Dietmar Kamper, Norval Baitello Jr, Harry Pross, Vicente Romano e Zygmunt Bauman, entre outros. Como referencial de qualidade textual narrativa é tomada a chamada narrativa “complexo-compreensiva”, conforme estudada pelo grupo de pesquisa “Comunicação, Jornalismo e Epistemologia da Compreensão”, da Faculdade Cásper Líbero, a partir de autores como Dimas A. Künsch, Cremilda Medina, Edgar Morin e Walter Benjamin. Palavras-chave: Comunicação. Jornalismo. Epistemologia compreensiva. Narrativa escrita. Hipertrofia imagética.
ABSTRACT
This study focuses on the written narrative journalistic, as is taught in journalism schools in the "era of the image", in which occurrs a iconization the world, of objects and of man, and in which the audiovisual text assumes increasing preponderance above the written text. Authors that were included in the referential framework of the research suggest that the exacerbated proliferation (hypertrophy) of images in the contemporary world, technologically provided by electronic media, is a significant factor for the atrophy of the ability to read and write in a linear form, activities historically characterized by the slow time of deciphering and reflection. The intention was to verify if in these journalism courses can be found a reproduction of the contemporary setting of preferential option for the quick images as privileged means of the communication, and how these courses have dealt with the teaching of narrative text written in a context of imagetic hypertrophy. Were taken three journalism courses of the State of São Paulo as object of study: Faculdade Cásper Libero (from 1947 and of private nature), Universidade de São Paulo (from 1968 and of public nature) and Centro Universitário Adventista de São Paulo (from 2000 and of private nature). The approach consists of: 1) study of curricular grid and teaching plans of the courses chosen, 2) in-depth interviews with the coordinators of the courses and teachers whose disciplines are particularly relevant to the work, 3) survey of the laboratory possibilities related to courses, in which students can improve journalistic written text, 4) survey in works of completion of course made in recent years, and 5) study of the influence of vestibular related to the topic. Among the fundamental theoretical references for understanding the theme of imagery hypertrophy and its consequences, this study relies on works of Vilém Flusser, Dietmar Kamper, Norval Baitello Jr., Harry Pross, Vicente Romano and Zygmunt Bauman, among others. As benchmark of textual narrative quality, this study chooses the narrative called "complex-comprehensive", as studied by the Research Group "Communication, Journalism and Epistemology of Comprehension", of the Faculdade Cásper Libero, based on authors such as Dimas A. Künsch, Cremilda Medina, Edgar Morin and Walter Benjamin. Keywords: Communication. Journalism. Comprehensive epistemology. Written narrative. Imagetic hypertrophy.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 9
1 A REPRODUÇÃO HIPERTRÓFICA DE IMAGENS.............................. 15
1.1 Técnica, democracia estética e manipulação cultural................................... 15
1.2 O paradoxo da visibilidade........................................................................... 24
1.3 Tempo e espaço na civilização dromoimagética.......................................... 38
2 UM NARRAR AUSENTE DOS MANUAIS DE JORNALISMO............ 50
2.1 Fundamentos: complexidade e compreensão............................................... 50
2.2 A narrativa jornalística e o diálogo da alma................................................. 59
3 DA IMAGEM À CURA PELA PALAVRA................................................ 70
3.1 Implicações da iconofagia para o texto linear.............................................. 70
3.2 Uma proposta narrativa contra a violência simbólica.................................. 80
4 TEXTO ESCRITO E IMAGEM NOS CURSOS DE JORNALISMO 91
4.1 Do comportamento curricular à opção discente........................................... 91
4.2 O sentido da imagem pela palavra: a universidade e seu papel crítico...... 110
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 119
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 125
ANEXOS......................................................................................................... 129
9
INTRODUÇÃO
O autor deste trabalho é um amante do texto escrito. Se fossem escavadas as raízes
dessa relação, elas certamente alcançariam no passado o período da infância, modesta
economicamente, mas rica no exemplo maternal e paternal de leitura. A mãe, professora de
escola básica, ensinou as primeiras letras ainda em casa, enquanto o pai... bem, ele raras vezes
foi visto à noite sem um livro a segurar entre as mãos enormes e calejadas pelo serviço pesado
da marcenaria. Óculos diante dos olhos, interesse e prazer que não podiam passar
despercebidos, convidando à imitação... Tributo inicial se preste aqui a esse casal simples, por
abrir ao filho as portas daquele que ainda constitui um meio principal de aquisição de
conhecimento, expressão de ideias, anseios e sentimentos, além de ser um instrumento capital
de inserção cidadã no contexto social.
Como não poderia ser diferente, a primeira coisa de gente grande verdadeiramente
relevante lida por este autor foi de José de Alencar, o eleito escancarado do querido
marceneiro. Havia na estante da sala a coleção inteira, mas a memória falha quanto ao título...
Senhora, O Guarani... ou foi Iracema? Quase todos foram lidos. Mais tarde alçaram-se os
voos mais altos, já dependentes da pequena biblioteca da cidade. Machado, Graciliano, Érico
Veríssimo, Guimarães Rosa, dentre tantos outros. Quase vinte anos de leituras depois, o
Grande sertão ainda continua ocupando o posto de obra literária predileta. Maravilhoso
documento humano.
As traduções também encontraram lugar de destaque. Victor Hugo, Walter Scott,
Gustave Flaubert, Alexandre Dumas, Dostoiévski, Jane Austen, Oscar Wilde, George
Orwell... a lista é realmente extensa. A ausência de Tolstói na galeria ainda causa certo
embaraço, mas o vazio não demorará a ser preenchido. É projeto apenas temporariamente
engavetado.
Uma ressalva se faz necessária. A menção desses gigantes do texto passa a léguas de
distância da pretensão de impressionar ou iludir. Nada disso. O autor desta dissertação assume
sua posição de artífice em constante aperfeiçoamento do seu ofício. E quanto há a crescer!
Que o leitor, portanto, não vasculhe as páginas seguintes em busca do consagrado escritor,
mestre na arte da palavra. No máximo, encontrará o aprendiz que já andou um pequeno
pedaço do caminho, mas que ama honesta e intensamente o objeto do seu aprendizado.
Retorne-se só mais um pouco às lembranças, pois constituem preâmbulo importante.
Já na faculdade, cursando Jornalismo, os primeiros contatos com o texto acadêmico não
10
deixaram de representar um desafio penoso, embora o tenham sido muito mais para aqueles
que não possuíam uma vivência literária anterior significativa. É preciso confessar que os
mesmos trabalhos de Benjamin e Adorno apresentados na primeira seção inicial do primeiro
capítulo desta dissertação permaneceram naquela época parcialmente enigmáticos para o
jovem estudante universitário. Outros se afiguraram totalmente indecifráveis. Com o tempo,
superaram-se as dificuldades e veio a fluência nesse tipo de texto. Perdura até hoje, entretanto,
a convicção de que o hermetismo e excessiva erudição característicos de grande parte do
material científico que se redige mundo afora deveriam dar lugar a uma exposição mais
simples e direta que facilitasse o alcance e compreensão. Foi confortador descobrir há pouco
que nos altos escalões da academia há gente que pensa da mesma maneira.
No campo da literatura, a influência de professores e colegas do bacharelado conduziu
a escritores mais recentes: Clarice Lispector, Fernando Sabino, Autran Dourado e Moacyr
Scliar, entre os brasileiros; Garcia Márquez e Umberto Eco, entre os estrangeiros. Diga-se, de
passagem, que se a versão cinematográfica de O nome da rosa é passível, por um lado, de
receber elogios pela cuidadosa produção e boas atuações, por outro revela inapelável
superficialidade quando comparada à obra original. E não é para menos. A riqueza de detalhes
e a gama de efeitos provocados pelo apelo dos variados recursos textuais à imaginação
dificilmente se prestariam à transposição para a tela.
Fique bem clara a inexistência de qualquer espécie de aversão pessoal contra o cinema
por parte deste autor. Em sua escala de preferência, aliás, a chamada sétima arte é uma paixão
apenas um pouco inferior à da leitura e escrita. Na sequência, vêm as artes plásticas. Isto de
antemão deve esclarecer algo importante ao leitor das páginas que seguem: o autor deste
trabalho ama o texto escrito, mas também ama a imagem.
A opção pelo jornalismo aconteceu de modo bastante natural, como um
desdobramento direto do gosto pela escrita. Igualmente natural foi o trabalho jornalístico por
quase uma década em veículos impressos, após a formatura universitária. A atuação, por fim,
à frente de uma editora e como professor da disciplina de Jornalismo Impresso em um curso
de Comunicação Social parece de fato encaixar-se em uma evolução profissional coerente
com a inclinação pessoal deste autor. Aliás, a inquietação que motivou o presente trabalho
surgiu justamente dessa experiência docente no Centro Universitário Adventista de São Paulo,
campus de Engenheiro Coelho, uma instituição superior particular localizada no interior do
Estado de São Paulo.
Lecionando a disciplina de Jornalismo Impresso a partir do primeiro semestre de 2009,
e a partir de conversações com os outros professores e coordenação de curso, o autor notou
11
um quadro preocupante: encontrava-se fortemente disseminada entre os estudantes, do
primeiro ao último semestre, uma flagrante deficiência no manejo da linguagem a ser
utilizada em redações escritas para mídia impressa (assim como em outros trabalhos que
exigem texto mais longo, elaborado ou de cunho mais reflexivo). Dentre os problemas mais
recorrentes apurados nas correções das tarefas solicitadas aos alunos, foi possível destacar os
seguintes:
1) Referentes à forma:
- presença crônica de erros de sintaxe, ortografia e vocabulário;
- dificuldade para expressar os pensamentos por meio do texto escrito – presença de
frases dúbias ou que diziam exatamente o contrário do que o candidato a repórter
intencionava;
- repetições empobrecedoras não somente de palavras, mas de ideias.
- sérias dificuldades com as padronizações próprias do texto jornalístico;
- pobreza ou inabilidade quanto ao uso dos recursos de discurso direto e indireto na
exposição das declarações das fontes.
2) Referentes ao conteúdo:
- dificuldade tanto para iniciar quanto para concluir o texto;
- inabilidade para organizar as informações ao longo do texto (frequentemente as
informações apareciam fora de ordem lógica e jornalística), bem como para articular
ideias, detalhes, histórias;
- problemas crônicos de coesão e coerência textuais relativas tanto à “amarração” das
frases no interior do parágrafo, quanto dos parágrafos ao longo do texto;
- falta de criatividade e sensibilidade na construção da narrativa; presença de
reducionismos, generalizações ou juízos de valor gratuitos e sem comprovação.
Como é possível perceber, as lacunas na elaboração da narrativa jornalística por parte
daqueles jovens claramente transcendiam o mero desconhecimento ou inabilidade gramatical.
O problema não se circunscrevia apenas ao manejo da ferramenta linguística, muito embora
essa deficiência se mostrasse flagrante. Estava também no campo das ideias, da linearidade de
raciocínio, do repertório cultural, da ética, da sensibilidade e da capacidade de tecer
adequadamente todos esses fios numa trama narrativa harmoniosa e significativa.
Por outro lado, considerando o contexto mais amplo do curso – incluindo as demais
disciplinas e as atividades abertas, tais como as “jornadas” de comunicação e as apresentações
12
de TCCs –, foi percebida uma maior desenvoltura das turmas no cumprimento de requisitos
relacionados com a mídia eletrônica. Os alunos normalmente atendiam muito bem às
necessidades de criatividade e linguagem ágil/sintética próprias de veículos como o rádio
(oralidade) e, sobretudo, o vídeo (oralidade/imagem). E aqui se encontra o ponto que chamou
em especial a atenção: as turmas, desde as iniciais até as de formandos – com pouquíssimas
exceções entre os alunos –, manifestavam uma evidente preferência pelo trabalho jornalístico
com a imagem, ao passo que assumiam uma atitude de desdém ou de derrotismo (“não tenho
capacidade”) em relação à produção do texto jornalístico narrativo em formato escrito.
A problematização da pesquisa passou por um longo período de gestação, boa parte
dele já ambientado no curso de mestrado da Faculdade Cásper Líbero, iniciado em março de
2010. Após muitas páginas de leitura e diálogo com os professores, dois eixos teóricos por
fim se consolidaram, um relacionado à imagem e o outro relacionado à escrita, mais
especificamente a narrativa escrita, que está no cerne da atividade jornalística. Verificar como
esses dois eixos se aproximam um do outro e afetam um ao outro tem sido uma das
experiências acadêmicas mais instigantes por que este autor tem passado nos últimos anos.
Quanto à questão da imagem, importantes estudiosos (a exemplo de Dietmar Kamper,
Vilém Flusser, Christoph Wulf e Norval Baitello Jr.) apontam no sentido de uma proliferação
exacerbada (inflação) da imagem no mundo contemporâneo, tecnologicamente proporcionada
e intensificada pelos meios de comunicação visuais. Na visão desses autores, tal
superexposição, unida à velocidade cada vez maior de produção e veiculação imagéticas,
constitui um fator significativo para a volatilização dos vínculos relacionais e para o
decréscimo da capacidade de leitura e escrita, atividades caracterizadas historicamente pelo
tempo lento da contemplação, decifração e reflexão. Velozes e fugidias, as imagens técnicas
não estariam mais permitindo esse tempo.
O segundo eixo toma como referencial de qualidade textual narrativa a chamada
narrativa “complexo-compreensiva”, conforme estudada pelo grupo de pesquisa
“Comunicação, Jornalismo e Epistemologia da Compreensão”, da Faculdade Cásper Líbero, a
partir dos autores Dimas Künsch, Cremilda Medina, Edvaldo Pereira Lima e Walter
Benjamin, entre outros. Este autor deve ao professor Dimas Künsch, coordenador do grupo e
orientador desta dissertação, a iniciação nesse fantástico universo teórico e prático.
Embora o terreno das sínteses muitas vezes se mostre pouco firme, antecipe-se aqui
como boa narrativa aquela capaz de tocar o ouvinte ou o leitor, fazendo-o de alguma forma se
identificar com a história, o que só se pode obter mediante o mergulho relacional-dialógico no
mundo em torno. Ao lidar com as situações e interlocutores (o outro) na busca pelo material
13
de sua narrativa, o narrador tem a possibilidade de colher frutos extraordinários da
aproximação compreensiva, da atitude dialógica e da abordagem sensivelmente aberta aos
diversos sentidos possíveis. Tempo e proximidade relacional, portanto, são características
cruciais para o ato de narrar. A atrofia narrativa é mais ampla do que a pobreza formal por si
só é capaz de sinalizar, e sua amplificação como desdobramento da hipertrofia imagética é
uma proposição que certamente demanda investigação séria.
Os primeiros três capítulos do trabalho são destinados à apresentação teórica dos
assuntos acima expostos.
O capítulo 1 se ocupa inicialmente da reprodutibilidade técnica, discutida a partir de
pontos de vista divergentes sustentados por Walter Benjamin e Theodor Adorno em dois
textos clássicos das teorias da comunicação. Em seguida, faz-se uma abordagem da
proliferação exacerbada de imagens técnicas no mundo contemporâneo, e de como,
contraditoriamente, esse aumento não é acompanhado do incremento do potencial de
visibilidade das mesmas, e sim de sua atrofia. Iconofagia, perda do tempo presente e
imaterialização do corpo são algumas consequências humanas descritas. O capítulo conclui
apresentando as formas como tempo e espaço são afetados pela comunicação em tempo real e
pela aceleração imagética.
O capítulo 2 desenvolve o tema da narrativa complexo-compreensiva, com ênfase
especial em sua inserção no fazer jornalístico. Primeiramente se retomam os fundamentos
teóricos dessa reflexão sobre a arte de narrar, destacando-se entre eles a proposição de um
novo paradigma científico, que leve em conta a questão da complexidade humana (Morin). Na
sequência, em meio às ponderações costuradas sobre o gesto de narrar, sugere-se uma
libertação dos esquematismos e reducionismos que ainda se encontram amalgamados ao
exercício narrativo do jornalismo atual.
O capítulo 3 retoma os temas anteriores e os relaciona entre si. Como ponto
preliminar, aborda-se de forma mais ampla a metáfora da iconofagia cunhada por Norval
Baitello Jr., destacando-se suas implicações sobre a leitura e produção do texto escrito. Em
sua segunda seção, o capítulo sugere o uso da palavra dialógica e compreensiva manifestada
na construção narrativa jornalística como um meio possível de resgate da alteridade, ou seja,
da interação significativa com o outro, prejudicada atualmente pela interposição da imagem
no seu contexto hiperinflacionário.
O ponto chave do trabalho se encontra no capítulo 4 e está diretamente vinculado
àquelas preocupações iniciais de professor acima mencionadas. Considerando que o
jornalismo depende em grande medida da narrativa escrita para a difusão da informação, uma
14
pesquisa de campo procura respostas (sem pretendê-las necessariamente definitivas), para as
seguintes perguntas:
1) é possível verificar nos cursos de Jornalismo uma reprodução do cenário
contemporâneo de opção preferencial pelas imagens rápidas como instrumentos
privilegiados da comunicação?
2) nesse contexto, como as escolas de jornalismo têm lidado com o ensino do texto
narrativo escrito na chamada “era da imagem”?
Para fins metodológicos, foram selecionados como objeto de estudo três cursos de
jornalismo paulistas, com diferentes características e, por isso, representativos enquanto
amostragem. A abordagem consistiu nos seguintes passos: 1) um estudo das matrizes
curriculares e planos de ensino dos cursos escolhidos; 2) entrevistas em profundidade com os
coordenadores dos cursos e com professores cujas disciplinas sejam especialmente relevantes
para o trabalho; 3) levantamento das possibilidades de produção laboratorial ou experimental
oferecidas pelos cursos, nas quais os alunos tenham oportunidade de desenvolver o texto
escrito jornalístico; 4) levantamento dos TCCs realizados nos últimos anos nos três cursos,
com indicação da modalidade jornalística escolhida em cada caso; e, finalmente, 5) um estudo
da influência do vestibular de cada instituição sobre os números obtidos no levantamento
anterior.
A presente pesquisa, da forma como está estruturada, encontra lugar entre as reflexões
teóricas atuais sobre os caminhos do jornalismo na sociedade contemporânea. Sua relevância
e ineditismo reside na abordagem do tema “imagem/texto escrito” pelo viés do ensino nas
escolas de comunicação, as quais, como tal, devem por excelência constituir fórum de debates
e proposição de soluções ou alternativas para os problemas contemporâneos nessa área. Se
este trabalho de alguma forma puder auxiliar os cursos de jornalismo a pensar ou repensar
seus currículos no tocante tanto ao ensino do texto jornalístico de qualidade, quanto à
comunicação imagética nos dias atuais, o autor se considerará plenamente satisfeito.
15
1 A REPRODUÇÃO HIPERTRÓFICA DE IMAGENS
1.1 Técnica, democracia estética e manipulação cultural1
1.1.1 A reprodutibilidade técnica
Produções fundamentais na evolução do pensamento acerca da chamada cultura de
massa, dois trabalhos datados ainda da primeira metade do século XX consolidaram nas
décadas seguintes um lugar de prestígio permanente entre os referenciais teóricos para a
produção intelectual contemporânea na área das ciências sociais, em especial no campo da
comunicação. São eles: A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, de Walter
Benjamin, e A indústria cultural: o iluminismo como mistificação das massas, de Max
Horkheimer e Theodor Adorno.2
O primeiro desses textos constitui um ensaio publicado em 1936 (poucos anos,
portanto, antes da morte de Benjamin, em 1940) na revista Zeitschrift für Sozialforschung, do
Instituto de Investigação Social da Universidade de Frankfurt, a qual passara a ser editada em
Paris por Theodor Adorno e Herbert Marcuse em função do impedimento imposto pelo
nazismo na Alemanha. Nele o autor discute com visão política perceptivelmente otimista as
novas possibilidades abertas à arte pelo desenvolvimento das técnicas de reprodução. Para
Benjamin, ao mesmo tempo em que certamente implica em uma perda – e aqui entra a sua
noção de “aura”, valor cultual e critério de autenticidade da obra de arte –, a reprodutibilidade
técnica também inaugura uma era de democratização estética.
1 Esta seção foi originalmente apresentada como trabalho de conclusão da disciplina Mídia e Sociedade Contemporânea, do curso de mestrado da Faculdade Cásper Líbero, sob condução do Prof. Dr. Claudio Novaes Pinto Coelho, e se encontra publicada como capítulo de livro. Referência: GROGER, Renato. Técnica, democracia estética e manipulação cultural. In: MENEZES, J. E. O.; MARTINO, L.M.S. (Orgs.). Processos e Produtos Midiáticos. São Paulo: Plêiade, 2010, p. 29-42. 2 Doravante nesta seção ambos os textos serão referidos de forma abreviada respectivamente como A obra de arte e A indústria cultural. Todos de ascendência judaica, os três teóricos pertenceram à que ficou conhecida como Escola de Frankfurt, de orientação neo-marxista, particularmente associada ao Instituto de Investigação Social da Universidade de Frankfurt, Alemanha. Sob direção de Max Horkheimer, o Instituto teve de ser transferido em 1933 para Genebra, dada a impossibilidade de permanência na Alemanha após a ascensão de Hitler ao poder. No ano seguinte, o Instituto é radicado em Nova Iorque, onde permanecem Horkheimer, Adorno e outros integrantes da escola até 1950, quando retomam atividades na Alemanha. Mais ligado ao Instituto de Investigação Social como um colaborador do que propriamente como um membro (embora admitido como tal em 1935), Benjamin refugiou-se inicialmente na Itália e, posteriormente, na França. Em 1940, obtém, por intermédio de Adorno, visto de emigração para os Estados Unidos, mas o grupo de fugitivos no qual se encontrava foi interceptado pela polícia franquista na fronteira espanhola. Temendo ser entregue à Gestapo, suicidou-se por envenenamento (ASSOUN, 1991).
16
Sem prejuízo da publicação do material, a leitura do manuscrito de A obra de arte
provocou flagrante azedume em Adorno, cuja relação com Benjamin já sofrera certo
estremecimento em 1934 devido a divergências quanto ao papel dos intelectuais interessados
na revolução. Adorno chegou a escrever a Horkheimer sugerindo que as ideias apresentadas
no manuscrito revelavam a influência a seu ver danosa de Bertold Brecht, aquele “selvagem”,
conforme se referiu. De fato, a partir do ano de 1934, Benjamin várias vezes passou longos
períodos na casa do dramaturgo (WIGGERSHAUS, 2002:220).
Pouco mais de dez anos separam A obra de arte de A indústria cultural. Publicado em
coautoria, no ano de 1947, por Horkheimer e Adorno, este segundo trabalho faz parte da obra
intitulada Dialética do iluminismo: fragmento filosófico. De elaboração textual mais densa,
marcada por um pessimismo sombrio, toma um caminho claramente oposto ao trilhado por
Benjamin a reflexão de Horkheimer/Adorno sobre os destinos da arte e da humanidade em
meio às mudanças tanto experimentadas como antecipadas pela evolução tecnológica que
permite a produção cultural em série. Embora jamais negassem que os meios técnicos
contivessem um potencial democrático e progressista, esses teóricos afirmaram que não era
nessa direção que se desenvolveriam. Para eles, “a pretendida democratização da cultura
promovida pelos meios de comunicação é motivo de embuste, porque esse processo tende a
ser contido pela sua exploração com finalidades capitalísticas” (RÜDIGER, 2001:137).
A presente seção pode ser encarada como um preâmbulo às reflexões sobre a
hipertrofia imagética que serão apresentadas nas seções seguintes, salientando-se que a
disseminação avassaladora de imagens na contemporaneidade está diretamente relacionada
com o desenvolvimento das técnicas de reprodução.
Pretende-se aqui realizar uma revisão dos principais argumentos e conceitos que
aparecem em cada uma das duas obras acima mencionadas, paralelamente traçando uma
comparação entre os posicionamentos assumidos por seus autores. Para tanto, tomam-se como
objeto as traduções integrais em português de A obra de arte e A indústria cultural constantes
na seleção organizada por Luiz Costa Lima em seu Teoria da Cultura de Massa.3 Reduz-se os
comentários e contribuições de outros autores acerca dos textos examinados ao mínimo
necessário para esclarecimento do leitor.
3 A tradução de A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica que figura na referida obra foi feita por Carlos Nelson Coutinho, enquanto a de A indústria cultural: o iluminismo como mistificação das massas foi realizada por Júlia Elisabeth Levy, esta última com revisão de Luiz Carlos Lima e Otto Maria Carpeaux.
17
1.1.2 O desaparecimento da ‘aura’
De acordo com Luiz Costa Lima, os primeiros estudiosos do fenômeno da
massificação4, ou seja, da importância e consequências socioculturais das transmissões de
mensagens feitas com alto poder de alcance e/ ou reprodução, analisavam os veículos de
massa comparando-os valorativamente com a arte que conheciam, e que haviam introjetado
como realidade estética. “Aprisionavam-se, desse modo, no círculo de fogo de suas prenoções
e se impediam de buscar a identidade da comunicação e da cultura de massa” (LIMA,
2002:14).
Walter Benjamin destaca-se como significativa exceção em meio a tais reflexões na
medida em que demonstra originalidade analítica ao evitar uma conformação total com as
concepções preestabelecidas, permitindo-se antes um diálogo amigável com o novo. Tal
disposição intelectual levou Lima, em comentário introdutório ao ensaio de Benjamin
selecionado para sua já citada compilação em português de alguns dos principais textos sobre
cultura de massa, a apontá-lo como o “mais antigo e, ao mesmo tempo, mais novo dos aqui
recolhidos” (LIMA, 2002:217). Observe-se, a propósito, parte da conclusão da seção primeira
de A obra de arte:
Com o século XX, as técnicas de reprodução atingiram um tal nível que estão agora em condições não só de se aplicar a todas as obras de arte do passado e de modificar profundamente seus modos de influência, como também de que elas mesmas se imponham como formas originais de arte (BENJAMIN, 2002:224).
A partir da seção seguinte de seu texto, Benjamin define e discorre sobre três
elementos que sempre teriam caracterizado no passado a relação do ser humano com a obra
artística. O primeiro deles é a autenticidade, ou seja, a unicidade de sua presença no próprio
local onde a obra se encontra. Benjamin afirma que tudo que a obra continha de
originariamente transmissível e que lhe conferia autoridade, desde sua duração material até o
seu poder de testemunho histórico, é dissolvido pela reprodução técnica, como é o caso, por
exemplo, da fotografia. Se por um lado, entretanto, essa autoridade é abalada, por outro a
reprodução aproxima a obra do espectador na medida em que ressalta aspectos do original que
escapam ao olho humano, além de poder ser transportada para situações nas quais o original
jamais poderia estar.
4 O autor refere-se ao período anterior aos anos 1940, quando desponta nos Estados Unidos grande interesse sobre o assunto, multiplicando-se as publicações nesse sentido.
18
O segundo elemento da obra a entrar em decadência diante da reprodução é a sua
“aura”, definida como “a única aparição de uma realidade longínqua, por mais próxima que
ela possa estar” (BENJAMIN, 2002:227). Trata-se de uma reverente distância, além dos
sentidos imediatos, que a obra autêntica impõe ao observador, a qual desaparece frente à
exigência das massas de que as coisas se lhes tornem mais próximas, bem como à tendência
das mesmas em acolher a reprodução e depreciar o que lhes é proporcionado apenas uma vez.
Neste sentido, “a massa”, diz Benjamin (2002:250),
é uma matriz de onde brota, atualmente, todo um conjunto de novas atitudes em face da obra de arte. A quantidade tornou-se qualidade. O crescimento maciço do número de participantes transformou seu modo de participação. Que essa participação apareça inicialmente sob forma depreciativa, é algo que não deve absolutamente enganar o observador do processo. Pois são numerosos os que, não tendo ainda superado esse aspecto superficial das coisas, denunciaram-no apaixonadamente.
Estreitamente ligado à “aura” vem o terceiro elemento, que é o valor cultual. Benjamin
argumenta que a obra de arte surgiu para servir a uma função ritual, advindo daí o fato de ser
“inaproximável” por natureza. Segundo o autor, essa função impunha à obra de arte uma
existência “parasitária” da qual a reprodutibilidade técnica teria vindo libertá-la.
Emancipando-se de seu uso cúltico, reservado para poucos, a obra agora pode ser exposta em
ocasiões cada vez mais numerosas a um número cada vez maior de observadores. Toda a
função da arte é subvertida: “Em lugar de repousar sobre o ritual, ela se funda agora sobre
uma outra forma de práxis, a política” (BENJAMIN, 2002:230).
Escrevendo sobre as colocações de Benjamin, Francisco Rüdiger explica que a obra
artística gerava mitologias porque permanecia fora do alcance das massas. “A sociedade
burguesa não fez mais do que reforçar essa dimensão, ao relacioná-la com o conceito de gênio
individual” (RÜDIGER, 2001:137). Ao tornar cotidianas as expressões plásticas, musicais ou
teatrais, as técnicas de reprodução estabelecem um relacionamento entre a arte e o sistema
industrial, relacionamento este que poderia acarretar melhoramento estético e intelectual do
conjunto da população. Rüdiger (2001:135) afirma que, para Benjamin, o capitalismo criou as
condições para uma democratização da cultura, ao tornar os bens culturais objeto de
reprodução industrial.
1.1.3 O papel do cinema
A partir da seção VII de seu texto, Benjamin dedica grande espaço para discutir a obra
de arte do ponto de vista da reprodução cinematográfica.
19
Começando pela questão da “aura”, o autor chama a atenção para o fato de que ela
ainda pode ser sentida pelo espectador de um espetáculo na pessoa do ator teatral, mas
necessariamente se extingue no caso do intérprete cinematográfico. Isto ocorre por duas
razões: (1) o público, substituído pela parafernália técnica destinada à gravação, não mais tem
contato direto com o ator, o qual, por sua vez, está impossibilitado de adaptar sua
representação com base nas reações dos espectadores; e (2) a atuação do intérprete não é
contínua, mas fragmentária, precisando ser submetida a uma série de testes óticos (tomadas)
que compõem o material a partir do qual se faz a montagem final da película.
Longe de lastimar tais mudanças, o autor as aprecia sob um ponto de vista elogioso.
Primeiramente comparando o cinema com a pintura, ele raciocina:
O pintor observa, em seu trabalho, uma distância natural entre a realidade dada e ele mesmo; o cameraman penetra em profundidade na própria trama do dado. As imagens que obtém diferem extraordinariamente. A do pintor é global, a do cameraman fragmenta-se num grande número de partes, cada uma das quais obedece a leis próprias. Para o homem de hoje, a imagem do real fornecida pelo cinema é infinitamente mais significativa, pois – se ela atinge este aspecto das coisas que escapa a qualquer aparelhagem (o que é uma exigência de toda a obra de arte) – ela só o consegue precisamente à medida que usa aparelhos para penetrar, do modo mais intensivo possível, no próprio coração desse real (BENJAMIN, 2002:243).
O inventário, portanto, que o cinema pode fazer acerca da realidade é muito mais
preciso no cinema que na pintura. Igualmente, o cinema supera o teatro ao possibilitar que
seja isolado um maior número de elementos constituintes:
Realizando o inventário da realidade mediante seus grandes planos, sublinhando os detalhes ocultos em acessórios familiares, explorando meios vulgares sob a genial direção da câmera, o cinema, se por um lado nos faz melhor perceber as necessidades que dominam nossa vida, conduz por outro a abrir um campo de ação imenso e de que não suspeitávamos (BENJAMIN, 2002:246).
Voltando à pintura, Benjamin lembra que essa forma de arte convida à contemplação,
as pessoas abandonando-se em sua presença às suas próprias associações de ideias.
Diferentemente, quando se assiste a um filme, o olhar não se pode fixar em apenas uma cena
devido à velocidade de substituição das imagens. Esse efeito, que exige que o espectador
esteja paradoxalmente atento e distraído, presente e ausente, provoca uma transformação
positiva em seu poder crítico (ASSOUN, 1991:93). Para Benjamin, esse efeito “de choque”
característico do cinema corresponde à vida cada vez mais perigosa que se oferece aos
homens da moderna sociedade capitalista, proletarizados e concentrados maciçamente nos
agitados espaços urbanos (BENJAMIN, 2002:249).
20
1.1.4 A indústria cultural
A respeito do momento histórico em que foi gerada a obra Dialética do iluminismo5,
escreve Rüdiger (2001:132-133): Era 1944, a Segunda Guerra estava em curso. A revolução social em que [Horkheimer e Adorno] acreditavam fracassara em todas as partes, e em todas as partes já não havia mais a figura do Estado liberal. Na Europa, a barbárie nazista ainda não terminara, e o socialismo consumira-se no despotismo burocrático. Refugiados nos Estados Unidos, os pensadores do grupo puderam perceber, porém, que, não obstante distintas, também nos regimes formalmente democráticos havia tendências totalitárias.
O pessimismo derivado da experiência pessoal de Horkheimer e Adorno com o
nazismo ganhou corpo em sua visão de que a sociedade americana segue justamente os passos
da teoria da manipulação anteriormente formulada para a compreensão dos mecanismos de
dominação na Alemanha. Cunhando o conceito de “indústria cultural” – o qual é
desenvolvido detalhadamente no capítulo de mesmo nome do mencionado livro –, os autores
analisam a produção industrial dos bens culturais como meio de manipulação popular pelas
classes econômicas dirigentes:
A liberdade formal de cada um é garantida. Ninguém deve dar conta oficialmente do que pensa. Em troca, todos são encerrados, do começo ao fim, em um sistema de instituições e relações que formam um instrumento hipersensível de controle social. Quem não quiser soçobrar deve não se mostrar muito leve na balança do sistema. Doutro modo, perde terreno na vida e termina por afundar (HORKHEIMER; ADORNO, 2002:197).
Concebidos como mercadorias, os produtos culturais (filmes, programas radiofônicos,
revistas, etc.) são oferecidos serial e padronizadamente às massas não como “resultado de
uma lei da evolução da tecnologia enquanto tal, mas de sua função [controle social] na
economia atual” (MATTELART, 2005: 78). Para Horkheimer e Adorno (2002:182), a massa
consumidora é formada por operários, empregados, fazendeiros e pequenos burgueses
“aprisionados de corpo e alma” pela totalidade das instituições de tal forma que não podem
oferecer resistência alguma e acabam por sucumbir diante de tudo o que lhes é oferecido.
5 Resumidamente, a ideia geral que caracteriza a assim chamada dialética do iluminismo é a de que os homens são seres livres e com potencial para construir uma sociedade que permita a todos uma vida justa e a realização individual. Adorno e Horkheimer defenderam que a modernidade, ao reivindicar a capacidade de autodeterminação do ser humano, gerou um projeto coletivo no sentido de libertá-lo das autoridades míticas e das opressões sociais. Entretanto, observaram que o progresso econômico, científico e tecnológico verificado a partir do século XIX opôs-se fortemente a tal projeto na medida em que criou novas sujeições e problemas culturais que estão na base dos conflitos políticos, crises econômicas e sofrimentos coletivos e individuais (RÜDIGER, 2001:133-134).
21
Claudio Coelho (2002:36), em sua leitura de A indústria cultural, aponta a ideia de
que a diferenciação é uma característica apenas da aparência, da superfície dos bens (inclusive
culturais) produzidos pelo capitalismo, enquanto a padronização seria sua característica
essencial, estrutural. Aplicando a argumentação de Horkheimer e Adorno a exemplos
pinçados da contemporaneidade, o pesquisador afirma que
a diferença entre o programa Big Brother Brasil, da Rede Globo, e o programa Casa dos Artistas, do SBT, é ilusória, assim como a diferença entre os provedores de internet Universo On Line e America On Line. Mas essa ilusão é socialmente necessária: a crença na existência da concorrência e na liberdade de escolha é um componente essencial da ideologia dominante do capitalismo. A vigência atual do neoliberalismo não é fruto do acaso, é uma consequência do grau de desenvolvimento alcançado pelas relações sociais capitalistas e pela própria indústria cultural (COELHO, 2002:36).
Segundo os autores frankfurtianos, a estandardização ainda regula a relação cultural
com o passado, ou seja, a novidade do estágio da cultura de massa diante do liberalismo tardio
é justamente a exclusão do novo. “A máquina gira em torno do seu próprio eixo. Chegando ao
ponto de determinar o consumo, afasta como risco inútil aquilo que ainda não foi
experimentado” (HORKHEIMER; ADORNO, 2002:182). A novidade e a surpresa
apregoadas por meio dos elementos ritmo e dinamismo da produção e reprodução mecânica
são igualmente ilusórias, uma vez que se prestam à manutenção do sempre igual.
Quanto aos monopólios culturais, Horkheimer e Adorno (2002:183) sublinham sua
debilidade e dependência dos setores mais potentes da indústria, devendo-lhes satisfazer as
exigências sob pena de perder sua esfera na sociedade de massa. Fazendo-se “astuciosa e
respeitável”, a indústria cultural “desapiedadamente obriga cada marginal à falência ou a
entrar na corporação”. Afastando-se do pensamento benjaminiano, esses autores sustentam
que a sociedade, dentro da nova lógica mercantil de dominação, assiste à incontornável
derrocada da arte. Dois trechos são particularmente emblemáticos:
Filme e rádio não têm mais necessidade de ser empacotados como arte. A verdade, cujo nome real é negócio, serve-lhes de ideologia. Esta deverá legitimar os refugos que de propósito produzem. Filme e rádio se autodefinem como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores-gerais tiram qualquer dúvida sobre a necessidade social de seus produtos. [...] A racionalidade técnica hoje é a racionalidade do domínio, é o caráter repressivo da sociedade que se autoaliena (HORKHEIMER; ADORNO, 2002:170). A indústria cultural se desenvolveu com a primazia dos efeitos, do exploit tangível, do particular técnico sobre a obra, que outrora trazia a idéia e que foi liquidada. O particular, ao emancipar-se, tornara-se rebelde, e se erigira, desde o Romantismo até o Expressionismo, como expressão autônoma, da revolta contra a organização. [...] A isso põe fim a indústria cultural. Só reconhecendo os efeitos, ela despedaça a sua isubordinação e os sujeita à
22
fórmula que tomou o posto de obra (HORKHEIMER; ADORNO, 2002:174).
Traduzindo esse esfacelar-se artístico, duas mudanças essenciais são apontadas em A
indústria cultural: em lugar do prazer estético, emerge a ideia do tomar parte e do estar em
dia, assim como o valor de uso da obra de arte é substituído pelo seu valor de troca. Conforme
a argumentação dos autores,
o consumidor torna-se o álibi da indústria de divertimento, a cujas instituições ele não pode se subtrair. [...] Tudo é percebido apenas sob o aspecto que pode servir a qualquer outra coisa, por mais vaga que possa ser a ideia dessa outra. Tudo tem valor somente enquanto pode ser trocado, não enquanto é alguma coisa per se (HORKHEIMER; ADORNO, 2002:205).
De acordo com Horkheimer e Adorno (2002:184), a produção cultural em série reduz
a arte e o divertimento (elementos para eles inconciliáveis, ao contrário do que pensava
Benjamin [2002:250-252]), a um falso denominador comum: a repetição. Tal redução é usada
pela indústria cultural para gerar conformismo. Os desenhos animados, por exemplo, seriam
produzidos de molde a habituar os sentidos e “martelar” nos cérebros a condição da vida
social, que se caracteriza pelo mau trato contínuo e o fim de toda resistência individual
(HORKHEIMER; ADORNO, 2002:186).
Discutindo especificamente o efeito dos filmes, novamente os teóricos divergem de
Benjamin ao afirmar que o cinema paralisa as faculdades de imaginação e espontaneidade dos
consumidores culturais, não lhes permitindo ao pensamento qualquer liberdade de
movimento. Ao mesmo tempo em que a sucessão vertiginosa de imagens exige do espectador
rapidez de percepção e capacidade de observação, ela é feita de modo a impedir sua atividade
mental. “Divertir-se significa que não devemos pensar, que devemos esquecer a dor, mesmo
onde ela se mostra. Na base do divertimento planta-se a impotência” (2002:186). Em síntese,
o critério de efeito da produção cinematográfica é o de “fazer crer que o mundo lá fora é o
simples prolongamento daquele que se acaba de ver no cinema” (2002:175).
Os teóricos dedicam as páginas finais do texto de A indústria cultural para tecer
considerações sobre a publicidade na sociedade de massas. Para eles, a legítima função social
que deveria caracterizar a publicidade no sentido de orientar o comprador numa sociedade
competitiva, facilitando-lhe a escolha e ajudando o fornecedor a se colocar no mercado, é
substituída por uma nefasta vala onde se entrincheira o domínio do sistema:
[A propaganda] reforça o vínculo que liga os consumidores às grandes firmas. Só quem pode rapidamente pagar as taxas exorbitantes cobradas pelas agências publicitárias e, em primeiro lugar, pelo próprio rádio, ou seja, quem já faz parte do sistema, ou é expressamente admitido, tem condições de entrar como vendedor no pseudomercado. [...] a publicidade é hoje um
23
princípio negativo, um aparato de obstrução, tudo o que não porta o seu selo é economicamente suspeito (2002:209).
1.1.5 Imagem e conhecimento
A breve revisão aqui apresentada dos textos de A obra de arte na época de sua
reprodutibilidade técnica e A indústria cultural: o iluminismo como mistificação das massas,
revela duas visões distintas acerca das técnicas de reprodução em escala industrial. Percebe-se
nessas abordagens evidente tensão entre os polos da democratização estética (Benjamin), e da
manipulação/exploração das massas (Horkheimer/Adorno).
Independentemente das diferenças de posicionamento eventualmente levantadas numa
comparação entre os referidos textos, bem como de particulares percepções quanto à
inadequabilidade de certos pontos de vista ali expostos quando apreciados à luz do estágio
tecnológico-mercantil atual, ambos os trabalhos continuam a impactar o leitor contemporâneo
por sua impressionante atualidade em muitas de suas ponderações.
O autor deste trabalho aceita a posição benjaminiana de que a reprodução da obra de
arte pela imagem fotográfica ou cinematográfica (hoje também se poderia incluir a
videográfica) é positiva no sentido de possibilitar ao menos o acesso indireto das populações à
obra, por mais incompleto que se julgue o tipo de fruição advindo desse contato. A imagem
obtida pela reprodução técnica pode ser uma importante janela para o conhecimento do
mundo e sua diversidade de paisagens, pessoas, culturas, etc.
Por outro lado, fica difícil não concordar, ao menos em parte, com a “ótica da
dominação” enfatizada por Horkheimer e Adorno quando se observa flagrantes exemplos de
manipulação ideológica tais como a propaganda nazista, na primeira metade do século XX, e
a propaganda “bélico-messiânica” norte-americana, amplificada nas décadas subsequentes,
ambas despejadas sobre os povos pela via audiovisual. Além disso, a imagem multiplicada de
forma exacerbada e padronizada pode assumir inadvertidamente o próprio lugar do mundo
real, dos objetos reais, dos vínculos humanos reais, como será visto ao longo desta
dissertação.
Por ora, fica aqui a reflexão de Armand e Michéle Mattelart (2005:78), que
reconhecem a “clarividência” de Horkheimer e Adorno na análise dos fenômenos culturais,
mas ressalvam que uma superestimação do papel revolucionário da arte os levou a perceber
apenas um aspecto [a mistificação das massas] da conjunção entre arte e tecnologia. Tal
aspecto sem dúvida é fundamental, contudo insuficiente para dar conta de toda a realidade dos
24
fatos. Concebido, por sua vez, com mais de uma década de antecedência, talvez falte ao texto
de Benjamin a força denunciadora das mazelas apontadas pelos companheiros. Segue, no
entanto, em equivalente posição de destaque por saber reconhecer nas mudanças um novo
tempo, além de um novo horizonte cultural para a humanidade.
A próxima seção introduzirá o assunto da imagem, investigando sua presença no
mundo desde a origem até sua multiplicação veloz e exacerbada por meio das técnicas de
reprodução altamente sofisticadas da civilização contemporânea. Em função de sua
importância para os estudos sobre a hipertrofia imagética e suas consequências humanas, as
reflexões de Vilém Flusser, Dietmar Kamper e Norval Baitello Jr. serão detidamente
examinadas e postas em diálogo.
1.2 O paradoxo da visibilidade6
1.2.1 Imagem, presença e representação
“A coisa mais difícil é, sem dúvida, uma existência sem imagens.” A afirmação do
filósofo e sociólogo alemão Dietmar Kamper (2001:12) sugere que a existência das imagens
no mundo está necessariamente vinculada à própria experiência do ser humano sobre a face
do planeta. De fato, a capacidade que o homem possui de criar imagens para si mesmo e para
os outros é singular e tem sido, pelo menos desde Platão, objeto de reflexões filosóficas e
teológicas.
Na compreensão do pensador tcheco-brasileiro Vilém Flusser7 (2002), imagens são
superfícies8 que pretendem representar algo que se encontra no espaço e no tempo. Resultam,
inicialmente, do esforço de se abstrair duas das quatro dimensões espaço-temporais a fim de
se conservarem apenas as dimensões do plano, ou seja, a bidimensionalidade. A essa
6 Esta seção, aqui revisada e ampliada, se encontra publicada como artigo completo. Referência: GROGER, Renato. Hipertrofia imagética: sobre o paradoxo da visibilidade e suas consequências humanas. Acta Científica, v. 20, n. 1, p. 23-35, 2011. 7 Nascido em Praga, em 1920, o filósofo Vilém Flusser desenvolveu parte importante de sua obra no Brasil, onde viveu de 1940 a 1972. A partir de então, residiu em Robion, na Provença, de onde viajava para ministrar conferências na Alemanha e em outros países. Data desse segundo período de sua produção o reconhecimento como filósofo dos novos media. Recebendo um convite para uma conferência em Praga, sua cidade natal, faleceu ali, em 1991, vítima de um acidente automobilístico (MENEZES, 2010:60). 8 Como fica evidente do uso da palavra “superfície”, Flusser preferiu pensar sua noção de imagem no nível visual. Baitello Jr. e Contrera (2006), por outro lado, se valem das pesquisas do neurologista Antonio Damásio a fim de estender o conceito para qualquer modalidade sensorial, o que permitiria o reconhecimento de imagens não somente visuais, mas também auditivas, táteis, olfativas e gustativas.
25
capacidade de abstração específica, o filósofo dá o nome de “imaginação”, faculdade que
também possibilitaria a reconstituição mental das dimensões abstraídas na imagem. Tem-se,
portanto, que a “imaginação é a capacidade de fazer e decifrar imagens” (FLUSSER, 2002:7).
Ao explorar a origem etimológica da palavra “imagem” na língua alemã (bild),
Kamper (2001) chamou a atenção para o caráter ambíguo do termo: se, por um lado, o antigo
vocábulo bilidi significava “essência”, “sinal”, “forma”, por outro também carregava o
sentido de “cópia”, “reprodução”. Essa posição mutável entre a ordem “mágica” da plena
presença, na qual a imagem é idêntica àquilo que representa, e a ordem da representação, na
qual ela é, no máximo, semelhante (uma impressão, um espelho), nunca se teria perdido de
todo. Admite-se, no entanto, “uma passagem histórica e biográfica da magia à representação,
do ‘realismo da imagem’ que compreende a realidade como um ‘ser na imagem’, à moderna
‘doutrina dos sinais’” (KAMPER, 2001:2).
A duplicidade de sentidos da palavra “imagem” emanada da língua alemã encontra
certa correspondência em línguas mais antigas. Assim, tanto o grego eikon quanto o latim
imago podiam significar a efígie impressa em um selo, a imagem refletida ou mesmo a
sombra de uma pessoa. Tal gama de acepções necessariamente alude a graduações ou níveis
de semelhança.
Há, porém, um sentido arcaico mais específico da palavra latina imago, que a liga ao
retrato de uma pessoa morta. Para o pesquisador brasileiro Norval Baitello Jr.9 (2005a:45), o
caráter “permanente” da imagem criada sobre a superfície virtualizaria uma “segunda
existência”, uma tentativa de perpetuação em face do medo ancestral da morte. “Neste
sentido, imagem e escrita10 são a própria negação da morte, pois a durabilidade dos materiais
garante a sobrevivência dos registros ali deixados por corpos que não durarão tanto tempo”
(BAITELLO JR., 2005a:33). Dessa forma, ao utilizar um objeto para comunicar os seus
sinais, a sua informação, o homem consegue criar a presença na ausência, ou seja, perpetuar-
se no tempo. Observe-se o pensamento mais ampliado de Kamper a respeito:
Ambígua desde o começo, “imagem” significa, entre outras coisas, presença, representação e simulação de uma coisa ausente. [...] “Presença” é a dimensão mágica, “representação” reúne as forças da imitação, da capacidade de colocar as imagens como imagens, o inteiro arsenal dos disfarces engenhosos, e “simulação” é um assunto da ilusão, incluída a autoilusão (KAMPER, 2001).
9 Docente dos programas de mestrado e doutorado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Desde 2007, é coordenador da área de Comunicação e Ciências da Informação da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). 10 O texto escrito também é imagem. Uma imagem que, entretanto, perdeu uma terceira dimensão espaço-temporal e agora passa a existir na linha. Esse assunto será exposto adiante.
26
A referência à “dimensão mágica”, “enfeitiçante” remete aos ritos ancestrais de
invocação e possessão pela imagem, na qual residiria o chamado “duplo” do ser representado.
Por meio de processos simbólicos, a imagem tornava possível aproximar-se desse ser,
representá-lo, agir sobre ele ou possuí-lo. Tal função não seria característica somente arcaica
da imagem, ou mesmo uma função imagética restrita aos ambientes cultuais. Pelo contrário,
conforme sustentam Baitello Jr. e Malena Contrera (2006:4),
sabe-se que esse potencial enfeitiçador da imagem é amplamente usado em nossos dias pela televisão, pelo cinema, pela internet, pela publicidade, pela moda. E isto lança uma luz, por exemplo, sobre os mecanismos de vinculação e seus efeitos psicológicos e cognitivos que constituem o recente fenômeno da teleparticipação e da teledependência, permitindo compreendê-los melhor. Assim os hard-users11 poderiam ser comparados a zumbis contemporâneos, enfeitiçados pelas imagens ao extremo, a ponto de perder a própria identidade, que se funde psicologicamente ao universo simbólico da mídia eletrônica.
1.2.2 A criação das imagens
Imagens se formam, em primeiro lugar, no universo interior do ser humano, a partir da
percepção que lhe vem diretamente do mundo através dos sentidos, ou que lhe vem da palavra
(discurso) que fala do mundo (BAITELLO JR., 2005a:46). Essas imagens interiores, que
migram para a consciência e são partilhadas pelos diferentes mecanismos de tradução, podem
ser denominadas endógenas. As imagens exógenas, diferentemente, são aquelas criadas para
existir no universo exterior, sobre suportes materiais fixos ou móveis. De acordo com Hans
Belting12 (2007: 14), esta duplicidade de significado de imagens internas e externas não pode
ser separada do conceito de imagem:
Uma imagem é mais que um produto da percepção. Manifesta-se como resultado de uma simbolização pessoal ou coletiva. Tudo o que passa pela vista ou diante do olho interior pode assim se entender como uma imagem ou transformar-se em uma imagem. Devido a isso, se o conceito de imagem for considerado seriamente, unicamente pode tratar-se de um conceito antropológico. Vivemos com imagens e entendemos o mundo em imagens. Esta relação viva com a imagem se estende de igual forma à produção física de imagens que desenvolvemos no espaço social, que, poderíamos dizer, se vincula com as imagens mentais como uma pergunta com uma resposta.
Acerca especificamente das imagens exógenas, escrevem Baitello Jr. e Contrera
(2006:6):
11 Usuários considerados exímios no manejo e articulação dos recursos técnicos da computação, bem como das múltiplas possibilidades oferecidas pela internet em suas variadas ferramentas e interfaces. A denominação refere-se ainda ao tempo gasto diante do computador por esses usuários. 12 Antropólogo e historiador das artes visuais alemão.
27
Seu percurso histórico e seu papel social se confundem e se mesclam com a história humana de registrar suas imagens, desde as primeiras representações paleolíticas conhecidas, passando pela criação de figuras de culto, pelas transformações pictográficas que darão origem à escrita, pelos diversos sistemas de escrita e pelas recentes formas da imagem mediática.
Notáveis considerações acerca do surgimento das imagens exógenas e sua utilização
pela humanidade perpassam a obra de Vilém Flusser. Para o autor (2007), é possível
identificar três fases mais ou menos distintas na história da criação e uso de imagens, sendo
que a primeira delas consiste na passagem da tridimensionalidade dos objetos para a
bidimensionalidade das superfícies imagéticas.
O gesto inaugural teria se configurado quando o homem, pela primeira vez, afastou-se
do objeto, olhou para ele e fixou essa visão fugidia para que outros pudessem depois
reconhecê-la. Essa sequência de passos aponta para o fato de que a criação da imagem só se
completa quando aquilo que é visto é codificado em símbolos e fixado em uma memória (a
parede de uma caverna, por exemplo), a fim de que possa ser decifrado por outros. O
propósito daquele gesto inaugural teria sido o de usar a visão fixada como modelo (“quadro
orientador”) para uma ação posterior.
Flusser salienta que a elaboração da imagem requer não somente o distanciamento do
objeto, mas também um voltar-se para si mesmo. Assim, a imaginação também poderia ser
definida como “a singular capacidade de distanciamento do mundo dos objetos e de recuo
para a subjetividade própria; é a capacidade de se tornar sujeito de um mundo objetivo”
(FLUSSER, 2007:163).
Na segunda fase identificada por Flusser, a imagem dá um salto da bidimensionalidade
para a unidimensionalidade. Surge, assim, a escrita. A mudança pode ser vista como motivada
por alguns inconvenientes das imagens bidimensionais: 1) o ponto de vista a partir do qual se
criam (imaginam) as imagens faz com que a objetividade daquilo que é visto seja
questionável; 2) os códigos imagéticos são necessariamente conotativos, permitindo
interpretações contraditórias; 3) as imagens são mediações entre o sujeito e o mundo objetivo
e, sendo assim, elas tendem a obstruir o caminho em direção àquilo que é mediado por elas.
Isso teria gerado uma inversão de atitudes do homem frente à imagem:
Agora, em vez de se utilizar da circunstância expressa nas imagens como modelo para uma orientação no mundo dos objetos, o homem começa a empregar sua experiência concreta nesse mundo para se orientar nas imagens. Em vez de basear-se nelas para lidar com o mundo dos objetos, ele começa a tomar como base sua experiência com o mundo concreto para poder lidar com as imagens (FLUSSER, 2007:166).
Em obra anterior, o autor explicou mais detalhadamente essa inversão:
28
O homem “existe”, isto é, o mundo não lhe é acessível imediatamente. Imagens têm o propósito de representar o mundo. Mas, ao fazê-lo, entrepõem-se entre mundo e homem. Seu propósito é serem mapas do mundo, mas passam a ser biombos. O homem, ao invés de se servir das imagens em função do mundo, passa a viver em função de imagens. Não mais decifra as cenas da imagem como significados do mundo, mas o próprio mundo vai sendo vivenciado como conjunto de cenas (FLUSSER, 2002: 9).
Flusser concebe a escrita linear como uma imagem unidimensional oriunda da
simplificação/estilização de imagens bidimensionais, surgida justamente como uma tentativa
humana de denotar, clarificar, explicar, tornar transparentes as imagens bidimensionais
(2007:168). Com a escrita, inaugurou-se a concepção de história, na qual o mundo é como
que representado por linhas, na forma de um processo. E não apenas isso: o gesto de escrever
e ler o que se escreve impactou os mecanismos do pensamento e do raciocínio, ensejando o
aparecimento do “homem unidimensional” e da “consciência histórica” (2007:103).
O texto escrito teve sua hegemonia entre a difusão dos tipos móveis e a primeira
metade do século XX. A partir daí, passou a perder terreno para as superfícies, presentes nas
telas de cinema, nas telas de televisão, nos outdoors, nos cartazes e nas páginas das revistas
ilustradas e impressas em cores.
Essa terceira fase na história da criação das imagens poderia se haver caracterizado por
um poderoso retorno à bidimensionalidade. No entanto, com o incremento das técnicas de
informática na contemporaneidade, a produção de imagens entrou no seu processo mais agudo
de abstração. Como observa o pesquisador alemão Siegfried Zielinski13 (2006:301), a
informação enviada pelos usuários via código binário do computador digital é imaterial, quer
essa informação venha na forma de números, imagens, textos ou sons. Hoje as imagens
técnicas não passam, em realidade, de fórmulas, números e algoritmos que se preenchem com
conteúdos imateriais, virtuais (FLUSSER, 2007). São, por conseguinte, imagens disseminadas
por aparatos nulodimensionais; suas dimensões são ilusoriamente produzidas na tela pela
tecnologia eletrônica.
A mesma perversão apontada por Flusser como propiciadora do surgimento da escrita
volta, então, a se verificar na atualidade, mas com força muito maior. Kamper a denomina
“insurreição dos signos”, situação na qual as imagens podem encobrir o que elas mostram:
“Imagens do mundo colocam-se na frente do mundo de tal modo que nada mais resta dele. As
imagens das coisas fazem desaparecer as coisas [...] Precisamente o exagero da
13 Professor de Teoria dos Media da Universidade Técnica de Berlim (MENEZES; MARTINEZ, 2011).
29
imaterialização do mundo e do homem faz com que as imagens se tornem adversárias”14
(KAMPER, 2002).
Considerações semelhantes emergem dos escritos de Baitello Jr.. O autor alerta contra
uma lógica comunicativa que teria passado a ser ditada na contemporaneidade pela imagem,
que passa a ser tanto intermediária quanto atravessadora entre o ser humano e o mundo
(BAITELLO JR., 2005b). Tomando emprestadas as expressões cunhadas por Flusser, o
pensador brasileiro afirma que a hipertrofia dos sistemas de mediação baseados nas imagens
faz com que elas deixem de exercer a “função janela”, que consiste numa abertura para o
outro, para os objetos e para o mundo, e passem a exercer “função biombo”, que, em última
instância, implica numa inviabilização do contato e diálogo com o mundo.
Dessa forma, as imagens se tornam autorreferentes, ou seja, a representação de um
objeto não se restringe à representação de algo (concreto ou abstrato) existente no mundo,
mas também constitui uma reapresentação dos modos como esse algo já foi representado. “Ao
invés de remeter ao mundo e às coisas, elas passam a bloquear seu acesso, remetendo apenas
ao repertório ou repositório das próprias imagens” (BAITELLO JR., 2005:54). A propagação
gráfica de beldades obtidas pela intervenção direta de programas como o Photoshop, por
exemplo, há muito demonstra que a beleza tecnicamente padronizada deixou de ter seu lastro
natural na realidade, produzindo mesmo certa insatisfação ou aversão contra a realidade. O
que se convenciona socialmente como imperfeito logicamente incomoda. A baixa autoestima
feminina levada aos consultórios psicológicos e os casos de anorexia que volta e meia
aparecem nos noticiários são apenas duas das múltiplas manifestações do problema.
1.2.3 Imagens invisíveis
Com base em suas observações, Flusser concluiu no final dos anos 1980 que uma nova
civilização da imagem já estaria em vias de florescer.15 As linhas escritas, apesar de haverem
se tornado muito mais frequentes do que em décadas anteriores, já mostravam uma tendência
de se tornar menos importantes para as massas do que as superfícies imagéticas. “E essa
tendência é bastante clara: as imagens se tornam cada vez mais transportáveis, e os receptores
cada vez mais imóveis” (FLUSSER, 2007:153).
14 Em outro texto, Kamper observa que as imagens podem ser consideradas como “substitutas daquilo que falta, que é ausente, sem nunca alcançar a dignidade daquilo que substituem” (KAMPER, 2001). 15 Vale lembrar que Flusser faleceu em 1991, o que permite qualificar como altamente visionário o seu pensamento sobre as novas tecnologias de comunicação, em especial no tocante à informática e à Internet. Essas tecnologias e as mudanças globais provocadas por elas apenas se esboçavam naquele período.
30
Hoje as imagens impressas em papel ou exibidas em suportes eletrônicos chegam aos
seres humanos tão facilmente quanto os textos escritos. Seu apelo visual, porém, é muito mais
intenso do que o desses últimos. Um exemplo notável da relação entre texto escrito e imagem
pode ser aqui mencionado como evidência desse apelo privilegiado. A diagramação das
primeiras páginas dos jornais impressos, bem como de parte significativa de suas páginas
internas, tende cada vez mais, nos últimos anos, a enfatizar a imagem bidimensional sobre o
texto escrito, procurando atrair não pelo conteúdo, mas pela apresentação visual. Temos,
assim, que numa cultura cada vez mais propensa às visualidades, o próprio texto escrito
(títulos, subtítulos, caixas de texto etc.) assume contornos imagéticos, conforme demonstra
emblematicamente a última reforma gráfico-editorial do jornal O Estado de S. Paulo.16 O
próprio texto escrito, em certa medida, passa a ser lido como se fosse uma imagem em meio a
uma construção que procura proporcionar uma identidade artificial entre o conjunto visual
impresso na capa do jornal e o design das páginas dos sites da Internet.
É impossível deixar de constatar que o avanço no desenvolvimento das tecnologias de
reprodução e veiculação eletrônicas favoreceu um aumento hiperinflacionário de imagens
exógenas. O impacto desse processo sobre a consciência histórica, segundo argumenta
Kamper (2001), é corrosivo: “O imaginário é aquele querer esquecer que recorda e aquele
querer recordar que esquece. E precisamente quanto menos imagens (a favor de uma única
imagem), melhor a lembrança, e quanto mais imagens, menor a memória.”
Dessa forma, paradoxalmente, a proliferação desenfreada de imagens, ao invés de
aumentar sua capacidade de apelo visual, vem produzindo a rarefação da mesma. O fenômeno
acontece porque a informação visual acaba dissolvida na quantidade, ou seja, quanto mais
imagens, menos visibilidade. E quanto menos visibilidade, maior é o desespero por se
produzir mais imagens:
O advento das imagens repetidas e idênticas que se distribuem no espaço público (ao invés daquelas que devem ser buscadas no espaço restrito do recato e do sagrado, da intimidade e da concentração) inaugura o trânsito das imagens em superexposição à luz. Inaugura-se, com este trânsito, também sua transitoriedade, que por sua vez abre um vazio17. E o correspondente déficit emocional gerado por sua ausência faz com que novas imagens sejam geradas para suprir a sensação do vazio e iludir a sua transitoriedade por meio de novas transitoriedades (BAITELLO JR., 2005a:13).
16 Essa reforma data de março de 2010. 17 Isso implica dizer que a imagem não é apenas a “presença de uma ausência”, mas também o seu oposto: a “ausência de uma presença”. Essa condição ambígua é, sem dúvida, notável: uma fotografia ou um vídeo, embora representem, por exemplo, a pessoa querida que faleceu ou está longe, trazendo-a simbolicamente para perto, sempre estará longe de suprir a ausência dessa pessoa.
31
Em paralelo com o contínuo movimento de exteriorização imposto pelo uso
exacerbado das imagens exógenas, a atenção dedicada às imagens endógenas tende a minguar
(BAITELLO JR.; CONTRERA, 2006). Assim, em vez de cumprir o papel de alimentar o
âmbito externo, as imagens endógenas passam a servir de espelho indiscriminado e acrítico
das imagens exógenas.
Poderia parecer lógico que o efeito de uma descontrolada inflação das imagens
exógenas (“iconização” da comunicação) conduzisse ao enriquecimento da imaginação, mas
Baitello Jr. argumenta que se dá justamente o contrário, ou seja, a atrofia da capacidade de
ressonância endógena. Assim, quanto mais proliferam as imagens externas, propondo-se
como substitutas dos objetos e, inclusive, dos corpos dos seres humanos, tanto mais se
intimidam as imagens internas, restringindo-se a apenas repetir:
Para nos livrar do ataque das imagens exógenas em desenfreada inflação, entra em colapso nossa capacidade de gerar imagens nossas. A reprodução acelerada das imagens exógenas termina por sufocar, recalcar o fluxo das imagens endógenas, que processam, digerem, aproveitam e descartam os nutrientes para sua própria “animação interior”; como elas não mais dão tempo para esta animação, apenas ecoam, reverberam e retornam sem nenhuma ruminação. Uma vez que as imagens exógenas não recebem, por outro lado, o alimento da “ruminação” e da “animação interior”, da vida, dos corpos, do cerne e do discernimento da própria imagem e da escrita, do cerne e do discernimento do tempo lento, das matrizes da memória, elas terminam por se alimentar de si mesmas, criando uma lógica perversa do eco (BAITELLO JR., 2005b:26).
1.2.4 Tempo lento e perda do espaço
A ideia do tempo lento mencionada na citação acima é bastante significativa para as
reflexões de Baitello Jr. sobre a imagem na contemporaneidade, estando ligada à Teoria dos
Media desenvolvida pelo pesquisador alemão Harry Pross. Esse autor considera a existência
de três tipos de mídia: primária, secundária e terciária. A primeira delas diz respeito à
comunicação realizada com o próprio corpo, exigindo a presença dos interlocutores no mesmo
ambiente, dependendo todos eles “‘exclusivamente’ de seu próprio aparato físico-
psicológico” (PROSS, 1999:76). Esse tipo de comunicação face a face ocorre no tempo
presente (aqui e agora) e se caracteriza pela formação de um espaço presencial comunicativo,
com alto potencial relacional.
A mídia secundária, por outro lado, é aquela na qual o conteúdo comunicacional é
registrado pelo corpo em um suporte que pode ou não ser transportável. Trata-se do grupo de
signos que só precisam de um sinal para a produção, mas não para a recepção, bastando para
32
isso o aparato perceptivo natural. “A folha de papel, o caderno, o livro que transporta os
signos podem ser postos diante dos olhos e seu conteúdo, assim, ser decifrado” (PROSS,
1999:77).
Fazem parte deste grupo as superfícies imagéticas e a escrita, as quais substituem o
corpo como meio. Ambas ampliaram no tempo e no espaço o alcance comunicativo do
homem e inauguraram um tempo lento de decifração, contemplação, reflexão e análise, que é
irmão do tempo lento necessário para a interação humana no nível primário. Na comunicação
secundária, o espaço é igualmente ampliado em função de o receptor precisar deslocar-se até a
mídia, ou esta ser transportada até o receptor.
A mídia terciária é representada pelos meios de comunicação eletrônicos. Nesse tipo
de comunicação, todos os corpos envolvidos precisam, tanto para emissão quanto para
recepção, de “aparatos compatíveis, vinculados entre si por ondas eletromagnéticas” (PROSS,
1999:79). Sinais acústicos e imagéticos são convertidos em impulsos elétricos equivalentes.
Com esses meios, o tempo se acelera vertiginosamente18 (é possível hoje comunicar-se
em tempo real com qualquer ponto do planeta), não mais exigindo ou mesmo não mais
permitindo o tempo lento e individualizado da decifração. Pross (1999:79) chama a atenção
para o fato de que
a técnica da comunicação acelerada através de grandes distâncias para grandes quantidades de receptores dispersos leva à simplificação dos signos em imagens e abreviaturas. Deste modo, diminuem as possibilidades de decifrá-las, enquanto, ao mesmo tempo, novas abreviaturas sobrecarregam a percepção, e, se se permite a metáfora, exigem demasiado da memória.
Na mídia terciária são eliminados os obstáculos de espaço, ou seja, deixa de ser
necessário o trânsito dos suportes que carregam os sinais, uma vez que os sinais são
transmitidos sem seus suportes. Tem-se a impressão de que um local que fica do outro lado do
globo é logo ali. De qualquer parte do planeta, por exemplo, foi possível assistir à colisão do
segundo avião contra o World Trade Center, no próprio instante do atentado perpetrado em
2001.
Ocorre, no entanto, que a vida se desenvolve e se torna significativa para o ser humano
justamente no tempo lento. De acordo com Ciro Marcondes Filho (2005:58), a prova do
existir acontece “na capacidade de ouvir, de dar chance às pessoas e às coisas, de permitir que
se instale um espaço para outras vozes irromperem”. É preciso, portanto, tempo para que esse
espaço se forme e a interação num nível mais profundo aconteça. Dificilmente alguém
18 A questão da aceleração do tempo e encurtamento dos espaços será retomada mais detalhadamente na seção seguinte.
33
discordaria do fato de que só é possível conhecer e tornar-se conhecido numa relação entre
alteridades após algum tempo de proximidade face a face. Compreender o outro vai além das
palavras; está no brilho olhar, na expressão facial, nos gestos, nas atitudes corriqueiras, no
contexto de vida etc.
Entretanto, uma vida maquínica, que não permite aos seres humanos “perder” tempo,
tem se tornado marca cada vez mais acentuada da civilização contemporânea:
Parece que nos tornamos máquinas de funcionamento permanente, que não permitem descanso, que precisam funcionar no trabalho, em casa, no lazer, no esporte, no sexo, no sono, em todos os momentos sem pausa. [...] A ideia de parar nos é aterrorizante, sufocante, ela sequer é considerada. [...] Queremos nos tornar máquinas, queremos que tudo em nós funcione bem lubrificado, que não desaponte, que esteja sob nosso comando. O sexo tem de funcionar, não podemos errar nos horários, na memória, não são toleradas falhas ou desvios. Queremos, na verdade, ser mais máquinas que as próprias máquinas, pois, afinal, fomos nós que as criamos; precisamos realizar nossa função, dar conta do solicitado, estar sempre de prontidão, não ser acometido de problemas psicológicos, de depressões, de angústias, de ansiedades, nada disso pode nos deter, afinal, somos um sistema perfeito (MARCONDES FILHO, 2005:59-61).
O autor ainda argumenta que a “inércia frenética” na qual o mundo mergulhou oferece
apenas uma ilusão de atividade, de vida, de vivência real. Desvanece-se, em meio a essa
agitação múltipla, a satisfação de “sentir o tempo, o presente, o prazer da permanência, do
não-pensar-no-futuro, do deixar-a-coisa-passar”, enfim, de “sentir estar presente no planeta”
(MARCONDES FILHO, 2005:67).
Do ponto de vista imagético, o tempo da decifração é necessário para o confronto e
diálogo entre as imagens exteriores e as imagens interiores19, sendo que é nesse diálogo que
nós aprendemos a ver, a nos ver e a ver o mundo. Com a anulação do espaço e a aceleração
temporal proporcionadas pela mídia terciária,
ao invés de as imagens nos alimentarem o mundo interior, é nosso mundo interior que vai servir de alimento para elas, girar em torno delas, servir de escravo para elas. Transformamo-nos em sombras das imagens, ou objetos de sua devoração. No momento em que não as deciframos, não nos apropriamos delas e elas nos devoram (BAITELLO JR., 2005:35).
A metáfora da devoração proposta por Baitello Jr. corresponde a uma tentativa de
explicar as relações de apropriação que envolvem as imagens e os seres humanos. Encontra-se
em curso, segundo o autor, um processo de “iconofagia” (devoração imagética) 20, a qual pode
19 Imagens interiores (também chamadas de endógenas) são aquelas formadas no interior do ser humano, a partir da percepção que lhe vem diretamente do mundo através dos sentidos (BAITELLO JR., 2005:46). 20 O pensamento de Baitello Jr. acerca da iconofagia, apresentado aqui de forma esboçada, será desenvolvido mais detalhadamente na primeira seção do capítulo 3.
34
ser dividida em três tipos: 1ª ) devoração das imagens pelas imagens, na qual se utilizam
imagens precedentes como referência para a construção de novas imagens, em vez de se
buscar essa referência no mundo concreto; 2ª ) devoração das imagens pelos seres humanos,
na qual não se consomem mais coisas, mas seus atributos imagéticos (marcas, modas, grifes,
tendências, adjetivos, figuras, ídolos, símbolos, logomarcas, etc.); 3ª ) devoração dos seres
humanos pelas imagens, que é forma mais radical da iconofagia, representada pelo fato de
que não são mais os seres humanos que buscam as imagens como em eras passadas, mas elas
é que agora procuram e se apropriam dos seres humanos no contexto da economia predatória
global.
Voltando à “função janela” da imagem, ela pode também ser entendida como “função
vinculadora”, que só é possível em meio à criação de imagens endógenas portadoras de
sentido para o homem imaginante. Para Baitello Jr. e Contrera, as imagens sem sentido da era
atual são uma evidência do desespero das sociedades modernas superpopulosas e
isolacionistas pela criação de vínculos:
Quando a consciência está subalimentada pelas imagens endógenas, ou seja, quando não há vida simbólica interior, vida reflexiva, o sistema cognitivo pessoal acaba se colocando mais no papel de mero consumidor das imagens exógenas oferecidas pelo mercado do que como receptor e transformador dessas imagens, extraindo delas apenas os seus significados funcionais, e não os demais significados mais complexos que elas poderiam evocar. E no final as imagens exógenas restam ocas e inúteis, obtendo apenas resposta de padrões psíquicos autômatos e inconscientes como os padrões maníacos do consumo (BAITELLO JR.; CONTRERA, 2006:8).
1.2.5 Imaterialização: vitória de Pirro do olhar
Uma flagrante divisão na interface entre a superfície das imagens e o espaço corpóreo
foi apontada por Kamper como resultante de uma lógica sígnica hipertrófica. As raízes da
preferência pelas imagens ao corpo certamente antecedem em séculos a era eletrônica,
retrocedendo, segundo o autor, à época da explosão pictórica renascentista e ao surgimento da
impressão de livros como o Orbis Pictus21 (KAMPER, 1998). Contudo, a tentativa de
exoneração do corpo através de sua substituição pelas imagens é um fenômeno
eminentemente contemporâneo:
A transformação dos corpos em imagens de corpos teve lugar numa série de graus de abstração. Abstração significa aqui "subtrair o olhar a" (absehen von). [...] Os corpos que nos circundam foram inicialmente distanciados e
21 O título “Mundo em Imagens” (tradução livre) refere-se a uma espécie de enciclopédia ilustrada para crianças, publicada originalmente no século XVII em latim e alemão, mas posteriormente difundida em diversas outras línguas. Muitos a consideram precursora das modernas técnicas visuais utilizadas no ensino infantil.
35
estilizados em retratos, estátuas e corpos ideais (Bildkörpern); depois fotografados em superfícies e transformados em imagens corporais (Körperbildern); e finalmente projetados sobre suportes de imagens de diversos materiais, da tela de linho à da TV, sendo aqui irresistível a tendência à imaterialidade (KAMPER, 2002).
Ao ceder ao assédio imagético contemporâneo, os seres humanos acabam por se
converter em imagens, isto é, em seres sem interioridade e sem tempo. Baitello Jr. (2005a)
explica que o corpo, como expressão de vida, passa a não mais possuir vida própria, porém
uma vida vivida em função da imagem: aparência física, profissão, vestuário, gostos, tudo
deve ser uma imagem perfeita segundo os padrões ditados por uma cultura pretensamente
universal, pasteurizada e homogeneizada.
Segundo Kamper, a passagem do mundo corpóreo táctil para as superfícies imagéticas
visíveis, que desde as telas dos pintores até a do computador só pôde apresentar ilusões de
espaço, “apresentou consequências gigantescas e incomensuráveis, que hoje ex negatio
manifestam-se na forma de distúrbios da imagem” (KAMPER, 1998). Existe hoje, em função
do olhar, uma estranha e contraditória “obrigatoriedade espontânea” de se transformar tudo o
que existe em uma imagem. Essa “obrigatoriedade espontânea” não permite àqueles que se
sentem “parte da sociedade” qualquer chance de fuga: “Constituiu-se um círculo vicioso. Para
participar do processo da visibilidade ampliada, os indivíduos aceitam perder as
corporalidades multidimensionais de suas vidas. Eles mesmos se condenam a apenas existir
na tela22” (KAMPER, 2000).
Uma daquelas consequências apontadas por Kamper seria a da substituição do refletir
próximo, para o refletir à distância. Aqui suas considerações novamente convergem com as de
Baitello Jr.. De acordo com o pesquisador brasileiro, a visão (e, de forma menos intensa, a
audição) é um sentido de distância, diferentemente do que acontece com os sentidos do olfato,
paladar e tato, que exigem o contato, a presença física imediata (corporeidade). A visão
dispensa qualquer presença, permitindo sua troca pelas imagens. O preço relacional a ser pago
pela vitória do olhar, conforme denuncia Baitello Jr., é bastante alto:
Ao contrário do que se esperava, a crescente eletrificação das comunicações não ampliou o espaço nem o tempo das relações de proximidade. Mães e pais têm menos tempo para seus filhos e para seus amigos. Pequenas esferas de contato elementar, o bate-papo, a prática esportiva, a prática lúdica, têm perdido sistematicamente terreno para a diversão chamada eletrônica, mediada por aparelhos de comunicação sim, mas criadores de distância (BAITELLO JR., 2005a:39).
22 Seja a tela do cinema, da televisão ou do computador.
36
Tratando da mesma questão, o colombiano Luís Carlos Restrepo (2001:32) afirma que
a separação histórica no Ocidente entre intelecção e afetividade tem sua origem na preferência
consolidada ao longo dos séculos pela obtenção do conhecimento por meio dos “receptores de
distância” (olhos e ouvidos). A censura medieval ao sentido do tato produziu frutos que
perduram até os dias atuais. Em muitos círculos escolares, por exemplo, ainda é possível
verificar certa suspeição contra a intromissão do tato, paladar e olfato no processo de
aprendizagem, “pois a cognição ficou limitada aos sentidos que podem exercer-se mantendo a
distância corporal”.
1.2.6 Uma cultura do inobjeto
Um dos efeitos mais evidentes do desenvolvimento das técnicas de reprodução
eletrônicas na contemporaneidade é a chamada hipertrofia imagética. A histórica ascendência
da visão sobre os outros sentidos em termos de preferência perceptiva humana, aliada à
facilidade atual de criação e circulação de imagens por meio da chamada mídia terciária,
provocou uma proliferação exacerbada, global e indiscriminada de imagens técnicas. O
assunto foi abordado acima principalmente a partir da perspectiva de Vilém Flusser, Dietmar
Kamper e Norval Baitello Jr. O tom sombrio de grande parte das considerações apresentadas
reflete uma aguda preocupação desses autores para com as consequências socioculturais da
ênfase exagerada na imagem, em prejuízo dos objetos (e, em especial, do próprio corpo
humano).
A gradativa remoção dos objetos do campo de interesse humano e sua concomitante
substituição pelos “inobjetos” não encontra equivalente na história da humanidade. “Isto é
sumamente incômodo: como, sem termos exemplos, imaginar como será a vida de quem
manipula informações, códigos, símbolos, modelos e quem despreza objetos? Que tipo de
gente será ele? Que tipo de vida será essa?”, questionava Flusser (2006:33) no final dos anos
1980, quando a cibercomunicação apenas ensaiava os primeiros passos. Vinte anos depois, a
produção acelerada das imagens técnicas assumiu contornos, por assim dizer, pandêmicos.
Todavia, aquelas perguntas de Flusser ainda motivam a reflexão e o debate.
Uma possibilidade sinistra se depreende dos estudos de Baitello Jr., que, em nossos
dias, pode ser mencionado como um dos principais articuladores das discussões propostas por
Flusser e Kamper. Aprofundando e ampliando os estudos empreendidos por aqueles autores, o
pensador brasileiro adverte contra uma crescente volatilização dos laços relacionais humanos
em função da preponderância da visão como sentido de distanciamento. Transformado em
37
imagem, o corpo perde sua capacidade, enquanto mídia primária, de criar espaços relacionais
significativos pela via da comunicação face a face no tempo presencial. Essa preocupação
encontra consonância em Restrepo (2001:11), para quem o direito à ternura nas relações
humanas só poderá ser efetivamente assegurado mediante uma “inversão da vista como
sentido ordenador da realidade ao tato como analisador privilegiado da proximidade”.
Assim, uma vinculação da perda do corpo, do espaço e do tempo presente com a
escalada global da violência, cuja indicação é hoje fortemente amparada com números, não se
afiguraria imprópria. O próprio Kamper (2000) já sugeria que essa violência estaria associada
de forma cada vez mais intensa com os códigos da visibilidade: quanto mais exposição,
menos vinculação e, portanto, mais violência.
Por outro lado, e aqui se encerra esta seção, seria extremamente prematuro assumir
uma posição fatalista do tipo “a humanidade está perdida”. Bem como constituiria leviandade
intelectual afirmar que não existem quaisquer aspectos positivos na utilização das imagens
técnicas. Aliás, os autores estudados em nenhum momento sinalizam nesse sentido. De
qualquer forma, os argumentos por eles defendidos parecem encontrar ressonância na
realidade imagética atual e, como ainda não se pode prever até onde chegará o avanço
tecnológico e as mudanças por ele acarretadas, mereceriam uma atenção mais acurada.
A seção seguinte colocará em paralelo as noções de dromocracia e glocal investigadas
pelo pesquisador Eugenio Trivinho e as reflexões sobre a aceleração imagética
contemporânea presentes na obra de Vilém Flusser, Norval Baitello Jr. e Christoph Wulf.
Segundo esses autores, a comunicação mediática em tempo instantâneo afetou de forma
essencial o tempo e o espaço, provocando consequências ainda não completamente mapeadas.
Uma vez que, nesse contexto, as imagens velozes se apresentam como uma barreira entre os
seres humanos e o mundo, comprometendo os relacionamentos, a seção também contará com
as reflexões sobre “amor líquido” de Zygmunt Bauman.
38
1.3 Tempo e espaço na civilização dromoimagética23
1.3.1 Sob o império da velocidade
A vida, deslocando-se em marcha lenta através das eras, de repente pisou no
acelerador e esqueceu-se dos freios.
A mais leiga observação da condição humana na contemporaneidade pode facilmente
levar à conclusão de que o ritmo da vida em geral vem se intensificando. A experiência dos
seres humanos encontra-se atualmente sob o imperativo inapelável da velocidade, cujo
emblema é a comunicação em tempo real (instantâneo) proporcionada pela tecnologia
eletrônica. Originalmente esboçada no final dos anos 1970 pelo filósofo francês Paul Virilio
(1997), a noção de dromocracia24 reveste-se de sentido muito mais incisivo com o advento
dos fluxos tecnoimagéticos do universo cibercultural.
Sem dúvida, a busca humana pelo incremento da velocidade de transporte, produção e
comunicação não constitui característica recente na história do planeta.25 A esse respeito,
Dimas Künsch (2009b) lembra, acertadamente, que a percepção de que “o mundo jamais será
o mesmo” invariavelmente tem acompanhado os momentos mais especialmente inventivos da
história. Comparativamente falando, entretanto, data de pouquíssimo tempo (do século XIX,
mais precisamente) o gigantesco e decisivo salto cinético representado pela inserção cultural
do espectro eletromagnético como campo aberto para os fluxos simbólicos e imaginários
através do globo (TRIVINHO, 2007:55).
É bem verdade que a hodierna superaceleração da vida se deve, em grande medida, ao
processo de racionalização tecnoburocrática e científica configurada pelas diretrizes
ideológicas das políticas industriais taylorista e fordista.26 Ideologicamente mantidos por tal
23 Esta seção, aqui revisada e ampliada, foi originalmente apresentada, em meados de agosto de 2011, como trabalho de conclusão da disciplina Comunicação, Tecnologia e Cidadania Digital, do curso de mestrado da Faculdade Cásper Líbero, sob condução do Prof. Dr. José Eugenio de Oliveira Menezes. Encontra-se publicada como artigo completo. Referência: GROGER, Renato. Tempo e espaço na civilização dromoimagética. Acta Científica, v. 20 n.3, p. 85-92, 2011. 24 Dromocracia é o termo obtido pela junção do prefixo grego dromos (velocidade) com o sufixo kratos (poder), oriundo da mesma língua. A noção vem sendo aprofundada desde o início da última década no Brasil pelos estudos em cibercultura empreendidos pelo pesquisador Eugenio Trivinho, docente do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 25 A “dromocratização” progressiva da existência humana pode ser mapeada desde tempos muito antigos, podendo-se destacar como pontos cruciais a domesticação de animais para transporte, a invenção da roda e, mais tarde, a conquista dos oceanos no período das grandes navegações. A relação, portanto, entre o ser humano e a dimensão dromológica da existência está ligada à descoberta de vetores de movimentação geográfica de corpos, objetos e valores materiais ou simbólicos (TRIVINHO, 2007:52). 26 Os modelos de produção em massa idealizados nos Estados Unidos por Frederick Taylor e Henry Ford consolidaram, na primeira metade do século XX, a ideia mais acabada e até hoje disseminada de produtividade,
39
processo, os fundamentos das metanarrativas iluminista e liberal se instalaram nas estruturas
de produção e, daí, nas relações sociais em geral. Assim, o aperfeiçoamento das técnicas de
emissão de sinais acelera e multiplica os contatos, reforçando as vantagens de poder de países
e grupos que controlam a “economia da informação”27, buscando alcançar no tempo mais
curto, através dos espaços mais amplos, um público cada vez mais numeroso, com o maior
número possível de mensagens e segundo o princípio do menor custo (ROMANO, 2004).
A possibilidade de envio e recepção de informação pela via ondulatória
inquestionavelmente significou a vitória do movimento tanto sobre o tempo, quanto sobre o
espaço geográfico, vitória esta confirmada pela proliferação comercial dos meios eletrônicos
de comunicação em tempo instantâneo, principalmente a partir da segunda metade do século
XX. Siegfried Zielinski (2006:49) observa que
todas as técnicas para reprodução de mundos existentes e para a criação artificial de novos mundos são, num sentido específico, mídia do tempo. A fotografia congelava o tempo que passou pela câmara num retrato bidimensional, não num momento, visto que o momento possui uma extensão temporal não mensurável. A telegrafia encolhia o tempo necessário para a transmissão das informações, transpondo grandes distâncias em não mais do que um instante. A telefonia complementou a telegrafia por meio de trocas vocais em tempo real. A vitrola e os discos tornavam o tempo permanentemente disponível, na forma de gravações sonoras. [...] No filme, o tempo que passou tecnicamente foi tornado repetível à vontade; a seta do tempo de um evento ou processo podia ser revertida; períodos de tempo que se tornaram uma informação visual podiam ser reproduzidos, expandidos ou acelerados. A televisão eletromecânica combinava todos esses conceitos em um novo meio, e a televisão eletrônica deu um passo além.
Semelhantemente à televisão, os computadores representam uma síntese de diversas
tecnologias existentes. Na internet convergem praticamente todas as mídias anteriores, as
quais, entretanto, ainda sobrevivem independentemente das máquinas e dos programas
conectados em rede. Descarta-se aqui, portanto, a visão triunfalista de progresso mediático
que relega os meios anteriores ao campo da obsolescência. Por outro lado, uma pergunta se
faz apropriada em relação ao incremento das tecnologias eletroeletrônicas: se, em 1871, o
tempo de cinquenta minutos que durou o envio de um telegrama de Karachi, no Paquistão28,
para Londres já provocou uma estranha e, ao mesmo tempo, instigante sensação de
encurtamento do mundo (KÜNSCH, 2009b), o que dizer da atual possibilidade de realização
de uma videoconferência a partir vários pontos do globo, com os participantes interagindo em
tempo real? que é a de maximização de resultados em grande escala, no menor período de tempo possível e com base no menor esforço. 27 A expressão é usada por Harry Pross. 28 Na época, território da Índia sob controle britânico.
40
Essa dimensão dromológica da civilização contemporânea ostenta como seu produto
provavelmente mais distintivo a categoria fenomenológica chamada de glocal29. O
pesquisador Eugenio Trivinho (2007:259 e 284) caracteriza o fenômeno como “uma solução
tecnológica de vínculo umbilical entre o espaço local e o universo global”, isto é, no glocal
justapõem-se de forma invisível e irreversível o contexto concreto imediato da vida (ambiente
da experiência de acoplamento entre o ser humano e o equipamento eletrônico que permite o
acesso/recepção/retransmissão comunicacional) e o contexto mais amplo da cultura mundial
satelitizada (o universo dos conteúdos audiovisuais da rede global de massa ou interativa).
Tal fenômeno, embora claramente distinguível nos ambientes da telefonia, do rádio e
da televisão, pode hoje ser percebido de forma mais marcante no cyberspace30, denominação
que corresponde ao espaço-tempo imaterial socialmente produzido pela rede planetária de
computadores criada no final dos anos 196031, a internet, a qual entrou em sua fase
hipermediática (web) a partir dos anos 1990. O motivo dessa glocalização mais veemente no
âmbito da internet dificilmente poderia ser exposto em termos mais convincentes:
Seja na conversação online com alteridades virtuais, seja na exploração dos dispositivos automatizados da web, seja ainda em outro recorte contextual do cyberspace com propriedades de ação bidirecional em tempo real, observa-se excessiva taxa de promiscuidade corporal entre ente humano e máquina. Tal acoplamento [...] caracteriza-se não somente pela maior proximidade do corpo e do cérebro em relação à tela, mas também, e principalmente, por uma radical individualização da relação com o equipamento de base. [...] Essa configuração prática do contexto de acesso ao cyberspace é o sintoma exponencial de um acoplamento ainda mais significativo, mais visceral, por assim dizer, o acoplamento simbólico e imaginário, verdadeira indexação pós-industrializada das singularidades pessoais aos fluxos das máquinas capazes de rede, caudal de uma promiscuidade civil e proliferada com o tecnicismo objetivado jamais vista na história da vida cotidiana (TRIVINHO, 2007:246-47).
1.3.2 Anulação de espaço e tempo
O glocal, enquanto invenção tecnocultural (ou sociotécnica) própria da era das
telecomunicações, diz respeito às tecnologias capazes de tempo real, que é um “tempo técnico
instantâneo de articulação simultânea de contextos locais socialmente fragmentários”
29 Neologismo formado pela aglutinação da primeira sílaba da palavra “global” com a sílaba final da palavra “local”. Foi empregado de forma crítica em ciências humanas, pela primeira vez, por Paul Virilio. 30 Conserva-se aqui a grafia inglesa do termo, em vez de sua versão em língua portuguesa (ciberespaço), em respeito à opção epistemológica de Trivinho (2007:337). 31 Em pleno contexto da Guerra Fria, o governo norte-americano financiou intensas pesquisas em tecnologia de compartilhamento de informação para suas forças armadas. Assim, em 29 de outubro de 1969, foram interconectados os primeiros elos da ARPANET, considerada a primeira rede da história da internet atual.
41
(TRIVINHO, 2007:284). O espaço, portanto, se pulveriza em microrrecortes caracterizados
pelo isolamento corporal perante a tela, o qual é compensado pela sensação imaginária de
gregarismo produzido pela situação de conexão. “A socioespacialização da tela contribui
sensivelmente para instituir a visibilidade mediática como nova modalidade de real, no fundo
o real que conta, em última instância” (TRIVINHO, 2007:253). Além disso, na medida em
que a consciência humana se centra naquela socioespacialização, o ambiente local, ou seja, a
espacialização imediata, acaba permanecendo fora do foco da percepção visual. É como se o
espaço de fato desaparecesse, convertido em um reduto (bunker) glocal (2007:253-54).
Semelhantemente, o tempo sofre reconfiguração contundente no processo de
glocalização do cotidiano humano. Antes, porém, de considerarmos essa modificação, será
proveitoso apreciar diferentes acepções da palavra “tempo”32.
Segundo Zielinski (2006:47), existe o tempo cronológico, palavra derivada de Kronos,
da mitologia grega, que significa “duração, extensão de tempo, que dispõe da vida ao
consumi-la”. Ou seja, é o tempo da história, um tempo astronômico matematicamente
cartografado, disposto em períodos lineares, de sucessão contínua, passível de representação
instrumental espacializada (relógio, calendário) e de representação teórico-analítica (passado,
presente e futuro). E, para todos os efeitos, é o tempo que nos mata, “porque não somos feitos
de matéria duradoura, e vamos morrer”.
A segunda acepção, igualmente advinda da mitologia grega, é a do tempo Aion, que se
diferencia do Kronos por ser um “tempo que se estende muito, muito além do período de vida
dos seres humanos e do planeta Terra” (ZIELINSKI, 2006:48). É um tempo que aponta tanto
o passado remoto quanto o futuro distante. Também é, portanto, o tempo da história, vista
agora sob uma perspectiva mais ampla.
A propósito dos sentidos de “tempo” vistos acima, o historiador francês Fernand
Braudel (1978 apud MENEZES; MARTINEZ, 2011) distingue na história três camadas,
assim como ocorre com o mar: a superfície representaria os rápidos acontecimentos do
cotidiano; o leito do mar seria comparável às décadas, mais facilmente percebidas pelo sujeito
histórico, uma vez que suas mudanças são mais vagarosas; e, finalmente, a zona abissal
representaria as grandes transformações sociais, que precisam de séculos ou milênios para se
processar, e o mesmo tempo para ser notadas pelo sujeito histórico. Colocando-se em paralelo
as considerações de Zielinski e Braudel, teríamos que o tempo cronológico é tanto o tempo do
cotidiano, quanto o da passagem das décadas que perfazem o período de vida de um ser
32 Cumpre frisar que existem outras acepções e nomenclaturas além das abordadas neste trabalho.
42
humano. Já as grandes mudanças históricas estariam compreendidas no tempo aiônico,
embora esse tempo (cósmico, por assim dizer) extravase o período de duração da própria
Terra.
Apesar de a noção de tempo utilizada nas pesquisas de Trivinho perfilar-se com as
acepções acima – o que fica evidente ao observarmos que as mudanças, seja no nível das eras
ou no nível das décadas, estão se processando em intervalos cada vez mais curtos a partir do
século XIX –, ainda resta mencionar uma terceira forma de se encarar o tempo. O Kairos não
é um tempo linear, matematicamente mensurável, que se esvai sequencialmente. Trata-se do
momento oportuno, que “nos desafia a tomar uma decisão. [...] Quando Kairos passa, já é
muito tarde” (ZIELINSKI, 2006:48). Esse momento não tem extensão temporal, não é
mensurável, sendo simplesmente o “tempo adequado”.
Voltando ao glocal, assim como o espaço é contraído ao “mínimo denominador
comum” possível, o tempo também se reduz ao tempo da instantaneidade da luz, o tempo real,
melhor representado pela sua variante dialógica/bidirecional (quando há abertura para a
interação mediada entre alteridades humanas), e, em menor grau, pela variante unidirecional
(transmissão televisiva live ou em VT; disponibilização de dados na web). O tempo real da
comunicação eletrônica contemporânea é uma simulação muito bem feita do “tempo-que-
passa” ou “tempo-que-se-esvai” do dia a dia. Em resumo:
Releiam-se os fatos: com ele [o glocal], o espaço geográfico se reduz, em termos absolutos, ao lugar imediato do acesso, que se reduz à socioespacialização tecnoimagética, que se reduz ao tempo real, que não se põe numa ordem de sucessão passado-presente-futuro, mas como fluxo contínuo, sem começo nem fim, “pleno”, se assim se pode dizer (quase como algo “dado”), imensurável, que, por isso, se caracteriza como um tempo atemporal, acrônico, um tempo autorrevogatório, autossupressivo, um “tempo sem tempo” [...], tanto mais assim reconfirmado quanto maior for o investimento imaginário do receptor nos fluxos imagético-informacionais. [...] O espaço é zero porque não é senão tempo-luz, tempo que é luz continuamente expressa (TRIVINHO, 2007:256).
Em termos mercadológicos, tem-se que o espaço e o tempo na atualidade se
transformaram em produtos culturais, mais especificamente em mercadorias abstratas, as
quais constituem o sustentáculo da civilização mediática como um todo (2007: 257). Viraram
dinheiro. Nas palavras de Jean-François Lyotard (1987 apud ZIELINSKI, 2006:301), “nossa
cultura valoriza e encena a única performance que, aos seus olhos, constitui um evento: o
momento da troca, o imediato e direto, o blockbuster, o tempo real”.
Mas, como já foi visto, tempo e espaço são imprescindíveis para que a interação
humana aconteça. Sem dúvida, a construção e manutenção dos relacionamentos pressupõe
43
algum nível de investimento pessoal a ser feito em termos, por exemplo, de afeto, atenção,
dedicação, paciência, comprometimento e autocontrole. Tal investimento só pode acontecer
no tempo lento e é muito mais significativo no espaço presencial da comunicação primária.
Entretanto, o esvaziamento do tempo e do espaço no ambiente da rede favorece os
“relacionamentos de bolso”, os quais, segundo afirma Zygmunt Bauman (2004) com certa
ironia, não envolvem “riscos” como o da decepção e da culpa. Para o sociólogo, é possível
notar na civilização atual uma forte tendência de as pessoas enxergarem os relacionamentos
como se fossem espécies de hipotecas. Quanto menor a hipoteca, menos insegurança se
produzirá em meio às flutuações do mercado financeiro. Da mesma forma, “quanto menos
[se] investir no relacionamento, menos inseguro [você] vai se sentir quando for exposto às
flutuações de suas emoções futuras” (BAUMAN, 2004:37).
As “relações”, “parentescos” e “parcerias” (entre outras noções similares), ressaltam o
engajamento mútuo, ao mesmo tempo em que silenciosamente excluem ou omitem o seu
oposto, a falta de compromisso. A rede, ao contrário, serve de matriz tanto para a conexão,
quanto para a desconexão; a facilidade tanto para uma, quanto para a outra é a mesma, ou
seja, no cyberspace se entra e se sai da interação com um simples clique, como se essa
interação jamais houvesse ocorrido:
A palavra “rede” sugere momentos nos quais “se está com contato” intercalados por períodos de movimentação a esmo. Nela as conexões são estabelecidas e cortadas por escolha. A hipótese de um relacionamento “indesejável, mas impossível de romper” é o que torna “relacionar-se” a coisa mais traiçoeira que se possa imaginar. Mas uma “conexão indesejável” é um paradoxo. As conexões podem ser rompidas, e o são, muito antes que se comece a detestá-las. Elas são “relações virtuais”. [...] Parecem feitas sob medida para o líquido cenário da vida moderna, em que se espera e se deseja que as “possibilidades românticas” (e não apenas românticas) surjam e desapareçam numa velocidade crescente e em volume cada vez maior, aniquilando-se mutuamente e tentando impor aos gritos a promessa de “ser a mais satisfatória e a mais completa”. Diferentemente dos “relacionamentos reais”, é fácil entrar e sair dos “relacionamentos virtuais” (BAUMAN, 2004:12).
Outra observação importante de Bauman quanto às conversações online é a de que nos
“circuitos” dos chats não são as mensagens trocadas que constituem em si a mensagem, mas o
seu ir e vir, ou seja, sua circulação. “Nós pertencemos ao fluxo constante de palavras e
sentenças inconclusas (abreviadas, truncadas para acelerar a circulação). Pertencemos à
conversa, não àquilo sobre o que se conversa” (BAUMAN, 2004:52). Embora a conexão
pareça ter vida curta, o seu excesso provoca a impressão da indestrutibilidade e, portanto, da
segurança em meio aos contatos efêmeros.
44
Diante do exposto acima, surge uma pergunta: se a rede aparentemente possibilita pelo
virtual um contato mais limpo, rápido e seguro do que o da “coisa autêntica”, porque será que
o atual “boom do aconselhamento” tem como um dos seus principais motores justamente os
relacionamentos? Não será porque o erro e a decepção fazem parte do processo de
crescimento humano e de formação da identidade, valendo a pena arriscar-se a vivê-los na
esperança de encontrar no convívio a mão amiga, ou a mão amorosa, com que se possa contar
tanto nos momentos de alegria, quanto nos dias de aflição? “A redução dos contatos pessoais,
isto é, o aumento da solidão, sempre afeta a saúde mental” (ROMANO, 2004:11).
É óbvio que a proximidade virtual torna as conexões humanas mais frequentes, mas,
ao mesmo tempo, também as torna mais breves e banais, o que impossibilita sua conversão
em laços. Uma vez que é da natureza humana a busca por relacionar-se, não é de admirar que
a fuga dos relacionamentos autênticos traga, a curto ou a longo prazo, solidão e sofrimento.
1.3.3 A nulodimensionalidade
Observe-se mais atentamente, a partir deste ponto, um elemento-chave dentro do
processo de dromocratização vigente: a imagem33. Para Vilém Flusser (2002:7), conforme
vimos na seção anterior, imagens são superfícies que objetivam representar algo que se
encontra no espaço e no tempo, resultadas, inicialmente, do esforço de se abstrair duas das
quatro dimensões espaço-temporais, a fim de se conservarem apenas as dimensões do plano,
ou seja, a bidimensionalidade.
Em virtude da importância do pensamento flusseriano para este trabalho, será
vantajoso recapitularmos aqui as três fases identificadas pelo autor na história da criação e uso
de imagens. Enquanto a primeira fase se caracterizou pela passagem da tridimensionalidade
dos objetos para a bidimensionalidade das superfícies imagéticas (quando o ser humano
codificou pela primeira vez em símbolos aquilo que via), na segunda fase as imagens
bidimensionais se simplificaram e estilizaram, dando origem à escrita, que é unidimensional.
Concebida no sentido de denotar, clarificar, explicar, “tornar transparentes” as
imagens bidimensionais (FLUSSER, 2007:168), a escrita teria inaugurado a concepção de
história e exerceu tremendo impacto sobre o pensamento e o raciocínio, propiciando o
aparecimento da “consciência histórica” (FLUSSER, 2007:103). Como desdobramento
complementar, a cultura escrita disseminada principalmente a partir dos gregos começou a
33 Trabalha-se aqui com o conceito de imagem em sua acepção exógena, ou seja, imagem criada para existir sobre suportes materiais fixos ou móveis no universo exterior ao ser humano.
45
alçar a vista à condição de sentido hierarquicamente dominante, sobrepujando a cultura oral
anteriormente tão marcante na civilização humana (WULF, 2007).
A partir da virada do século XIX para o XX, houve um breve período de retorno à
bidimensionalidade, devido à perda de terreno sofrida pela escrita em relação às imagens
projetadas nas telas de cinema e impressas sobre papel. Na sequência desse pequeno
interlúdio, o desenvolvimento avassalador dos meios de comunicação eletrônicos,
especialmente das técnicas de informática, marca a fase nulodimensional contemporânea do
processo de criação e uso das imagens, o qual entra em seu grau mais agudo de abstração. Em
meio à imaterialidade/virtualidade das imagens produzidas e disseminadas por meio de
aparatos técnicos cada vez mais sofisticados, a hipertrofia da vista atinge seu nível mais
intenso.
Essas imagens, cada vez mais consumidas do que produzidas pelas pessoas, são
assinaladas por Christoph Wulf34 (2000:9-10) em seu caráter de simulação técnica no
contexto mercadológico contemporâneo:
Nos dias de hoje, tudo tende a se tornar imagem: até corpos opacos são transformados, perdem sua opacidade e espaço e se tornam transparentes e fugidios. Processos de abstração desembocam em imagens e sinais imagéticos. Por toda a parte se os encontram: nada mais é tão estranho e avassalador. Imagens fazem desaparecer coisas, “realidades”. [...] Elas tornam o mundo uma miniatura e possibilitam a experiência específica do mundo como imagem. Representam uma nova forma da mercadoria e estão submetidas aos princípios econômicos do mercado. Elas mesmas são então produzidas e negociadas quando os objetos a que se referem não se tornaram mercadorias.
A observação acima encontra interessante paralelo na visão de Trivinho (2007:251),
para quem a imagem virtual em tempo real alcançou, a partir dos anos 1990, uma posição
privilegiada:
Na ordem infoeletrônica atual, a imagem já não figura como uma superfície para ser somente vista ou contemplada. Ela se põe como uma socioespacialização tecnológica que cartografa o público-alvo de maneira distinta do passado: ela se converteu num campo de atuação humana. Doravante, o ente humano é previsto não somente para postar-se diante dela, mas também para “inserir-se” nela, ou melhor, para interferir concretamente nos fluxos sígnicos que a presidem, ajudando na construção das tendências possíveis desses fluxos. [...] Observa-se aí um claro deslocamento da sedução: decréscimo de sedução da cena histórico-política das zonas urbanas em prol da sedução da cena transpolítica do universo mediático (TRIVINHO, 2007:251).
34 Christoph Wulf é docente do programa de doutorado da Universidade Livre de Berlim, Alemanha.
46
1.3.4 Mídia terciária e dromoimagem
Recordemos e ampliemos aqui a noção de mídia primária, secundária e terciária de
Harry Pross (1999), apresentada na seção anterior. Referindo-se à emissão e recepção por
meio do próprio corpo (a mídia mais rica e complexa de todas), a comunicação pela mídia
primária requer a presença de interlocutores no mesmo espaço e no tempo presente. Esse
espaço presencial possui evidente potencial vinculador, uma vez que a relação com o outro, o
diálogo, o intercâmbio de pareceres e sentimentos (ou simplesmente o desejo de ser ouvido) –
necessidades naturais do ser humano – se efetuam mais intensamente no contato elementar
(ROMANO, 1999).
Já a mídia secundária é aquela em que o emissor se serve de um suporte para registrar
sinais, que são decodificados pelo receptor através dos órgãos dos sentidos. O aparecimento
das superfícies bidimensionais imagéticas inaugura o uso desse tipo de mídia, ao qual
pertence também a escrita registrada sobre suportes materiais fixos ou móveis. Substituindo o
corpo como meio, tanto a imagem como a escrita ampliaram no tempo e no espaço o alcance
comunicativo do ser humano, além de inaugurar um tempo lento de decifração, introspecção e
reflexão. O fato, entretanto, de o receptor ter de se deslocar até a mídia ou esta ter de se
deslocar até ele impõe a dificuldade da superação das longas distâncias.
Na era da eletricidade, desenvolveram-se sistemas de mediação mais sofisticados,
utilizando-se um aparato para emissão e outro para captação da mensagem. Surgiu, então, a
chamada mídia terciária, desde o telégrafo, o telefone, o rádio, a televisão até rede atual de
computadores. Nessa categoria comunicativa, o corpo (mídia primária) mais o aparato
emissor, servindo-se da imagem ou da escrita (ou transformando o próprio corpo em imagem
ou escrita), as transportam instantaneamente por meio da eletricidade para um outro aparato,
que as capta e as apresenta a outro corpo (também mídia primária), o qual pode estar na casa
em frente, em outro bairro, em outro estado ou em qualquer outro ponto do mundo. Embora a
mídia terciária possa facilitar a aproximação com o outro, bem como o acesso à informação
disponibilizada pelo outro, sua utilização afeta o tempo, o espaço e o comportamento das
imagens de forma, no mínimo, perturbadora:
Enquanto o tempo da mídia primária, que é presencial, é o tempo do aqui e agora; enquanto tempo e espaço criam a presença e o presente, condições indispensáveis para a comunicação primária, e enquanto na mídia secundária o tempo se torna mais lento, na mídia terciária esse tempo se acelera vertiginosamente. E, com isso, zera-se o espaço. Quando mandamos uma mensagem via internet para o Japão, ela chega em um tempo desprezível, agora mesmo. Tem-se a sensação de que o Japão é ali mesmo. [...] O que
47
ocorre então com as imagens na mídia terciária? Elimina-se o tempo da decifração e da contemplação em favor de uma sonoridade e uma visualidade em ritmos acelerados. A mídia terciária decreta o fim do tempo contemplativo e individualmente diferenciado. Igualmente eliminam-se os obstáculos do espaço em sua concretude e em sua gravidade, uma vez que não se transportam os suportes que carregam os sinais, mas se transmitem os sinais sem seus suportes (BAITELLO JR., 2005:34).
Estabelecendo-se um ponto de intersecção entre essas considerações e as de Trivinho,
temos que na civilização glocalizada o tempo presente se desdobra em tantas dimensões e
possibilidades, que termina por se esvanecer oferecendo infinitas possibilidades de escape e
fuga (BAITELLO JR., 2005:43; cf. TRIVINHO, 2007:253-54). E, numa inversão
surpreendente, com o desaparecimento do tempo lento dialógico e contemplativo ocasionado
pela comunicação terciária, em vez de as imagens alimentarem o mundo interior das pessoas,
é esse mundo interior que passa a servir de alimento para essas imagens35 (BAITELLO JR.,
2005:35).
1.3.5 As duas faces da moeda dromológica
No tocante à comunicação, o desenvolvimento das tecnologias eletroeletrônicas
representou, principalmente a partir das duas últimas décadas, um “encurtamento” das
distâncias geográficas entre as pessoas até o espaço zero, e a redução do tempo para envio,
recepção e retransmissão de mensagens até à instantaneidade. O outro lado do mundo se
encontra aqui e agora. A comunicação possibilitada pelo advento do cyberspace, em sua
peculiar imaterialidade espaço-temporal globalmente estabelecida pela rede de computadores
interconectados, é o grande fator atual de aceleração (dromologização) da existência humana.
As imagens técnicas distribuídas pelos aparatos nulodimensionais, em sua
hiperinflação e autorreferência, tornaram-se um dos mais importantes vetores da velocidade
tecnológica atual. Imagens expostas de forma tão rápida e sucessiva (principalmente nas telas
dos televisores e computadores), que não dão tempo para que se as decifre. Elas assumiram
preponderância sobre os textos como veículos privilegiados da comunicação e não mais se
prestam a simplesmente ser observadas e contempladas como janelas para o mundo. Passaram
a reger a vida humana numa lógica espetacular de iconização dos objetos, do mundo e das
próprias pessoas. Desprovidos de seus referentes, os signos imagéticos, “dissolvem as coisas”,
criando um mundo de aparência e fascinação que se desprende da “realidade” e promove uma
estetização dos âmbitos da vida (WULF, 2000:10). 35 Acerca do tema da iconofagia, ver primeira seção do capítulo 3.
48
As implicações de mudanças tão drásticas na etapa contemporânea da civilização,
chamada nesta seção de “dromoimagética” pelos motivos acima expostos, ainda não foram
inteiramente mapeadas. Do ponto de vista positivo, costuma-se mencionar o incremento das
possibilidades de contato entre as pessoas, bem como a facilitação do acesso às informações
por elas disponibilizadas e também à cultura e ao conhecimento de forma geral.
Tal visão certamente é verdadeira... porém incompleta. A moeda tem uma outra face,
não tão alvissareira assim. Essa face é mantida fora de foco pelo entusiasmo contido na ideia
de um progresso técnico inexorável – dir-se-ia quase natural –, que estaria apenas abrindo
(democratizando) aquelas possibilidades positivas acima mencionadas. De acordo com
Zielinski (2006:19), entretanto, as histórias que há décadas vêm sendo escritas sobre a
evolução da mídia não passam de fábulas genealógicas sobre um futuro brilhante, “onde tudo
o que já existiu está subjugado à noção de tecnologia”:
A noção de progresso contínuo, do inferior ao superior, do simples ao complexo, deve ser abandonada, junto com todas as imagens, metáforas e iconografia que foram – e ainda são – usadas para descrever o progresso. [...] A história da mídia não é o resultado do avanço previsível e necessário de um aparato primitivo para um aparato complexo (ZIELINSKI, 2006:22-23).
Como vimos nesta seção, o tempo se acelerou, reduzindo-se à instantaneidade. Numa
época em que as tecnologias de alta velocidade permeiam o ensino, a pesquisa, o trabalho e o
entretenimento, o tempo tornou-se a commodity mais valorizada (ZIELINSKI, 2006). Mas
quantos têm acesso efetivo a essa commodity, e beneficiam-se dela? Alguns autores afirmam
já ser possível observar em andamento um processo mundial de segregação de um formidável
contingente de “dromoinaptos”, os analfabetos e semianalfabetos tecnológicos (TRIVINHO,
2007). Embora feitas mais de uma década atrás, continuam inquietantemente atuais as
considerações do pesquisador espanhol Vicente Romano (1999:32):
Os meios eletrônicos, ou o uso que até agora se faz deles, não têm contribuído para reduzir as desigualdades, nem a infelicidade humana criada por elas. Ao contrário, as aumenta cada vez mais. Como se pode facilmente observar, as inovações tecnológicas são para as empresas, os organismos governamentais de controle e algumas universidades e centros de investigação dos países ricos. Também se beneficiam delas certos profissionais e membros das classes abastadas desses países privilegiados. Mas a maioria dos seus cidadãos e a quase totalidade da população do resto do mundo nem sequer pode sonhar com o acesso a essas tecnologias. [...] Os que carecem de acesso à rede mediática são também sem terra, sem trabalho, sem teto, sem escolas, sem médicos, sem água, sem afeto, e mais e mais “sem”.
Zielinski (2006), em sua proposta de uma “anarqueologia da mídia”, propõe excursões
pelo que ele chama de “tempo profundo” dos meios, buscando no velho – isto é, nas histórias,
49
artefatos e sistemas descartados dos primeiros sonhadores e modeladores das mediações –
algo de novo. Em interessante (e subversiva) contraposição ao pensamento estabelecido de
que tudo sempre esteve presente, só que de forma menos elaborada, e de que a passagem dos
séculos apenas aprimora e aperfeiçoa boas ideias arcaicas, o autor sugere que se busque no
registro arqueológico da mídia momentos dinâmicos cuja riqueza em heterogeneidade possa
ser posta em relacionamento tensional com diversos momentos atuais, relativizando-os e
tornando-os mais significativos (2006:28).
Parece adequado sugerir uma aproximação entre aquele tempo lento necessário para a
decifração dos textos e das imagens (tão relevante do ponto de vista do próprio contato
relacional entre as pessoas), o tempo Kairos das oportunidades significativas a ser agarradas,
e esse tempo profundo da mídia, que, embora esteja um tanto esquecido em função da
aceleração da existência imposta pelas tecnologias de comunicação contemporâneas, continua
significativo para a vida humana em meio aos próprios media.
Imagine-se, por exemplo, uma pessoa, residente em uma cidade do interior, que
necessite digitalizar documentos importantes a fim de enviá-los via e-mail para um
determinado local em outro estado, e se veja impossibilitada de fazê-lo por problemas com o
acesso à internet e inexistência de aparelhos de fax na região. Precisará recorrer ao sistema de
entrega de correspondência por carta, um meio de comunicação que, guardados os avanços
nas tecnologias de transporte, existe no mundo há milênios. Se a mesma pessoa tiver
necessidade de dar um recado importante para alguém da família, que, no entanto, esteja com
problemas em seu aparelho de telefone e em sua conexão online, terá de deslocar-se até essa
outra pessoa para entrevistar-se com ela presencialmente. Talvez se perca nisso um tempo em
princípio considerado precioso. Entretanto, o contato pessoal (e suas múltiplas possibilidades
afetivas em termos de beijos, abraços, apertos de mão, sorrisos, palavras de apreço etc.) pode
tornar essa aparente perda de tempo muito compensadora.
Zielinski enfatiza em sua Arqueologia da mídia (2006:28) que não pretende pleitear a
desaceleração do ritmo. Entretanto, considerando esse último ângulo dos fatos visto acima,
embora não se pretenda aqui atribuir contornos apocalípticos ao estágio tecnocomunicacional
contemporâneo, retoma-se neste ponto a metáfora inicial da seção: talvez, a esta altura, não
fosse má ideia um acionamento de freios.
50
2 UM NARRAR AUSENTE DOS MANUAIS DE JORNALISMO
2.1 Fundamentos: complexidade e compreensão36
2.1.1 O “cosmos” humano
“Viver de morte, morrer de vida.” Na visão de Edgar Morin (1996), a intrigante
sentença formulada por Heráclito há cerca de 2.700 anos traduz apropriadamente uma das
diferenças capitais entre o sistema vivo – especificamente o ser humano – e o sistema
artificial. Esta última se caracteriza por sua organização controlada, em que a manufatura e a
conexão de peças ocorrem de forma sumamente confiável, obedecendo aos melhores padrões
de resistência e durabilidade. Paradoxalmente, entretanto, passa a degradar-se tão logo
começa a funcionar.
O sistema vivo, por outro lado, a despeito da aparentemente baixa confiabilidade de
seus componentes – as moléculas degradam-se com facilidade –, é capaz de promover o
rejuvenescimento das células pela fabricação constante de novas moléculas, que substituem as
que se perdem. Vivemos, por assim dizer, da morte dessas moléculas e células. Mas, com o
tempo, rejuvenescer se torna um processo extremamente cansativo, sobrevindo a degeneração
e, por fim, a morte do indivíduo. Assim, também morremos de vida.
Outra grande diferença sustenta Morin, diz respeito à previsibilidade. O
comportamento da máquina artificial pode ser previsto com segurança, ainda que seja possível
não se conhecer o funcionamento das peças no seu interior. Os seres humanos, por outro lado,
embora possam exercer comportamentos triviais facilmente previsíveis na maior parte de sua
vida, praticam em diversas ocasiões atos totalmente inesperados, o que exemplifica uma
complexidade37 que lhes é peculiar. Enquanto a máquina artificial não tolera a desordem, a
máquina viva tem na desordem, por exemplo, um elemento de liberdade criativa e inventiva.
36 Esta seção foi originalmente apresentada, em fevereiro de 2011, como trabalho de conclusão da disciplina Mídia, Narrativas Contemporâneas e Conhecimento, do curso de mestrado da Faculdade Cásper Líbero, sob condução do Prof. Dr. Dimas A. Künsch. 37 O termo complexidade começou a ser utilizado por Edgar Morin a partir dos anos 1960, emprestado da teoria da informação, da cibernética, da teoria dos sistemas e do conceito de auto-organização. Em seu sentido original, a palavra se refere ao “que é tecido junto”. Conforme Morin ensina, “existe complexidade, de fato, quando os componentes que constituem um todo (como o econômico, o político, o sociológico, o afetivo, o mitológico) são inseparáveis e existe um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo entre as partes e o todo, o todo e as partes” (MORIN, 2005a:14).
51
E, nesse caso, toda criação e invenção humanas são, em certo sentido, um desvio em relação
ao sistema previamente estabelecido.
Além disso, a vida cotidiana é uma vida onde cada um joga vários papéis sociais,
segundo esteja em seu lar, em seu trabalho, com familiares, com amigos ou com
desconhecidos. Ou seja, cada um leva em si mesmo uma multiplicidade de identidades e
personalidades, um mundo de sonhos e fantasias que acompanham sua vida. Decorre dessa
constatação a metáfora pela qual é possível compreender o ser humano como “um verdadeiro
cosmos. Não só porque a profusão de interações em seu cérebro seja maior que todas as
interações no cosmos, mas também porque leva em si um mundo fabuloso e desconhecido”
(MORIN, 1996:282).
De fato, a concepção do sujeito humano deve necessariamente ser complexa:
É evidente que cada um dentre nós pode dizer “eu”; todo mundo pode dizer “eu”, mas cada um só pode dizer “eu” para si próprio, ninguém pode dizê-lo pelo outro. [...] O fato de poder dizer “eu”, de ser sujeito, significa ocupar um lugar, uma posição onde a gente se põe no centro de seu mundo para poder lidar com ele e lidar consigo mesmo. É o que se pode chamar de egocentrismo. Claro, a complexidade individual é tal que quando nos colocamos no centro de nosso mundo, nós ali colocamos também os nossos: isto é, nossos pais, nossos filhos, nossos concidadãos, somos mesmo capazes de sacrificar nossa vida pelos nossos. Nosso egocentrismo pode se encontrar englobado numa subjetividade mais ampla (MORIN, 2005b:65-66)38.
A própria noção de autonomia humana, para Morin, é complexa, uma vez que ela
depende de condições culturais e sociais. As pessoas constroem sua identidade (ou
identidades, no plural) a partir do aprendizado de uma linguagem, de uma cultura e de
variados saberes que permitem reflexão autônoma e escolha. Assim, tal autonomia se
alimenta da dependência de uma educação, de uma linguagem, de uma cultura, de uma
sociedade, e mesmo de um cérebro, que, por sua vez, é produto de um programa genético. Ao
mesmo tempo que somos capazes de liberdade, ou seja, de examinar hipóteses de conduta, de
fazer escolhas, de tomar decisões autônomas, essa liberdade é, em parte, apenas aparente, uma
vez que está vinculada às forças sociais e culturais que a geram e controlam (MORIN, 2005b).
No ser humano, o concreto e o abstrato se entrelaçam. O homem é simultaneamente
biológico (faculdades físicas) e não-biológico (faculdades psíquicas e sociais, entre outras),
amalgamando-se em sua mente o pensamento racional-empírico-técnico e o pensamento
simbólico-mitológico (MORIN, 1996). Por um lado, somos seres anatômicos e fisiológicos, e,
por outro, somos seres evidentemente culturais e metabiológicos, que vivemos em um
38 O livro Introdução ao pensamento complexo, do qual é tirada parte expressiva das considerações de Morin para este artigo, constitui um reagrupamento de diversos textos do autor, publicados entre os anos 1970 e 1980.
52
universo de linguagem, de idéias e de consciência. Pela ótica moriniana, essa dualidade
inseparável é um dos fatos que melhor expõem a inconsistência da fragmentação e
compartimentalização do conhecimento ainda predominantes no sistema de pensamento atual.
2.1.2 Inteligência cega e complexidade
Em seus escritos, Morin denomina o paradigma de conhecimento vigente de
“simplificador”. Tal paradigma, cuja expressão filosófica ganhou corpo a partir do século
XVII com Bacon, Galileu e Descartes, entre outros, é constituído em suas linhas gerais pelos
princípios de disjunção e redução:
O paradigma simplificador é um paradigma que põe ordem no universo, expulsa dele a desordem. A ordem se reduz a uma lei, a um princípio. A simplicidade vê o uno, ou o múltiplo, mas não consegue ver que o uno pode ser ao mesmo tempo múltiplo. Ou o princípio da simplicidade separa o que está ligado (disjunção), ou unifica o que é diverso (redução) (MORIN, 2005b:59).
Controlando há quatro séculos o pensamento ocidental, o paradigma simplificador sem
dúvida permitiu enormes progressos ao conhecimento científico e à reflexão filosófica. O
pensador francês reconhece esse fato, mas contrapõe a ele uma perniciosa consequência do
mesmo paradigma: o isolamento radical dos três grandes campos do conhecimento científico,
“a física, a biologia e a ciência do homem” (MORIN, 2005b:11).
Uma lógica fragmentadora dificilmente deixaria de conduzir à hiperespecialização39,
traduzida hoje no desenvolvimento de peritos que em geral só demonstram excelência na
resolução de problemas que estejam dentro dos limites de sua especialidade, e desde que não
surjam interferências de fatores pertencentes a especialidades vizinhas. O romancista Mario
Vargas Llosa (2011) comenta o prejuízo que a especialização do conhecimento representa
para o que ele chama de “denominadores comuns da cultura”, dentre os quais a narrativa
literária ocupa posição de destaque:
Vivemos numa época de especialização do conhecimento, causada pelo prodigioso desenvolvimento da ciência e da técnica, e da sua fragmentação em inumeráveis afluentes e compartimentos estanques. A especialização permite aprofundar a exploração e a experimentação, e é o motor do progresso; mas determina também, como consequência negativa, a eliminação daqueles denominadores comuns da cultura graças aos quais os homens e mulheres podem coexistir, comunicar-se e se sentir de algum modo solidários.
39 Morin entende a hiperespecialização como “a especialização que se fecha em si mesma sem permitir sua integração em uma problemática global ou em uma concepção de conjunto do objeto do qual ela considera apenas um aspecto ou uma parte” (MORIN, 2005a:13).
53
Para Morin (2005a), essa situação não somente impede a visão do todo – fragmentado
em partes –, mas o dilui naquilo que lhe é essencial. Ora, os problemas essenciais do mundo
não são passíveis de parcelamento: problemas particulares precisam ser posicionados e
pensados em seus contextos, e os próprios contextos devem ser posicionados no contexto
planetário:
Efetivamente, a inteligência que só sabe separar fragmenta o complexo do mundo em pedaços separados, fraciona os problemas, unidimensionaliza o multidimensional. Atrofia as possibilidades de compreensão e de reflexão, eliminando assim as oportunidades de um julgamento corretivo ou de uma visão a longo prazo. Sua insuficiência para tratar dos nossos problemas mais graves constitui um dos mais graves problemas que enfrentamos (MORIN, 2005a:14).
Voltando ao exemplo da constituição humana, Morin observa que o sistema de
pensamento atual nos obriga a separar a realidade biológica da realidade cultural, além de
reduzir o mais complexo ao menos complexo. Dessa forma, empreende-se o estudo do
homem biológico no departamento de biologia e do homem cultural no departamento de
ciências humanas e sociais. Estuda-se o cérebro como órgão biológico e a mente como função
ou realidade psicológica. “Esquecemos que um não existe sem a outra, ainda mais que um é a
outra ao mesmo tempo, embora sejam tratados por termos e conceitos diferentes” (MORIN,
2005b:59).
Um produto flagrante do modelo simplificador/fragmentador, segundo o filósofo, seria
o que ele chamou de “inteligência cega”:
A inteligência cega constrói os conjuntos e as totalidades, isola todos os seus objetos do seu meio ambiente. Ela não pode conceber o elo inseparável entre o observador e a coisa observada. As realidades-chave são desintegradas. Elas passam por entre as fendas que separam as disciplinas. As disciplinas das ciências humanas não têm mais necessidade da noção de homem. E os pedantes cegos concluem então que o homem não tem existência, a não ser ilusória. Enquanto que os mídias produzem a baixa cretinização, a universidade produz alta cretinização (MORIN, 2005b:12).
Ao separar o ser humano do universo, em vez de situá-lo nele, a inteligência cega
ignora que todo conhecimento, para ser pertinente, deve contextualizar seu objeto. Assim,
“‘Quem somos nós?’ é inseparável de ‘Onde estamos, de onde viemos, para onde vamos?’”
(MORIN, 2005a:37). Essas grandes questões existenciais são partilhadas por toda a
humanidade, independentemente de época ou cultura, e não poderiam jamais deixar de ser
tomadas em consideração em qualquer projeto de compreensão do ser humano.
54
2.1.3 Ciência e outros saberes
Colocando em discussão o saber científico em sua inserção, sentido e propósito na
sociedade dita pós-moderna, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos acrescenta às
observações de Morin a de que a ciência atravessa atualmente uma crise de degenerescência,
segundo nomenclatura por ele sugerida (SANTOS, 1989). Essa espécie de crise seria muito
mais profunda do que as chamadas crises de crescimento anteriormente propostas por Thomas
Kuhn, circunscritas às matrizes disciplinares de determinadas disciplinas científicas.40
Para Santos, diferentemente, a crise de degenerescência atinge a ciência como um
todo, pondo em questão a própria forma de inteligibilidade do real proporcionada pelo
paradigma em voga. A controvérsia produzida por tal crise tende a enviesá-la “no sentido de
considerar o conhecimento científico como uma prática de saber entre outras, e não
necessariamente a melhor” (SANTOS, 1989:18). Assim, o senso comum, o discurso estético,
a religião e o mito, por exemplo, também seriam fontes cognitivas igualmente legítimas, cada
uma em sua esfera. Ou seja, o autor sinaliza na direção de uma mudança paradigmática.
Em apoio à sua proposição, Santos argumenta com uma lista de características do
paradigma científico moderno, que o tornam incompatível com uma proposta de pensamento
melhor condizente com os tempos atuais. O paradigma tradicional, segundo ele, pressupõe a
ciência – em sua invariavelmente salientada objetividade experimental – como única forma de
conhecimento válida; tende a reduzir o universo dos observáveis ao universo dos
quantificáveis; se arroga o direito de definir o que é relevante e o que é irrelevante,
negligenciando aquilo que não quer ou não pode conhecer; avança pela especialização e pela
profissionalização do conhecimento, provocando a marginalização dos leigos, uma vez que
lhes nega as competências cognitivas que conferem poder; se orienta pelos princípios da
racionalidade formal ou instrumental, irresponsabilizando-se pela eventual irracionalidade
subjacente ao conhecimento que gera; e, finalmente, “produz um discurso que se pretende
rigoroso, antiliterário, sem imagens nem metáforas, analogias ou outras figuras de retórica,
mas que, com isso, corre o risco de se tornar, mesmo quando falha na pretensão, um discurso
desencantado, triste e sem imaginação, incomensurável com os discursos normais que
circulam na sociedade” (SANTOS, 1989:34-35).
40 As crises de crescimento, segundo a ótica de Kuhn, têm lugar no nível da matriz disciplinar de determinado ramo científico, e se revelam numa insatisfação metodológica ou conceitual que gera a busca por alternativas viáveis. Tais crises, ao contrário das de degenerescência (nível paradigmático), perfilam-se no sentido de “afirmar e dogmatizar a autonomia do conhecimento científico em relação às demais formas e práticas do conhecimento” (SANTOS, 1989:18).
55
À luz de uma ponderação sobre essas características, cabe aqui a ideia de uma
“sacralização” do saber científico ancorado no paradigma simplificador. O pesquisador Dimas
Künsch aponta para o modo como a hierarquização do conhecimento lhe confere um status
divino:
Uma mera crença, um estado de espírito que advoga e determina arbitrariamente para si o privilégio do rigor, da objetividade e da certeza. Lembra a famosa frase de Santo Agostinho: Extra ecclesiam nulla salus, fora da Igreja não há salvação. Uma crença absoluta, tal como um saber absoluto, leva à prática da violência contra o diferente (KÜNSCH, 2009a:48).
De acordo com Künsch (2010b), o discurso científico aferrou-se ao poder e aos vícios
da tradição teológico-filosófica construída sobre o conceito desumano de um Deus Todo-
Poderoso, Todo-Verdade, e utilizou-se dessa tradição para afirmar seu próprio poder,
hegemonia e mesmo “divindade”. De fato, ao impor a inquestionabilidade dos conceitos de
rigor e certeza, primeiramente no âmbito acadêmico, e, depois, nos outros setores do
conhecimento na sociedade, a ciência acabou por assumir contornos divinos, onipotentes:
Quem ousa contestar a divina ciência? Suas intenções mais elementares, no entanto, só poderiam ser de verdade levadas a sério se a racionalização do pensamento que se erigiu em paradigma exclusivo de compreensão do mundo não tivesse se transformado, de verdade, em religião. Heresia científica. É sintomático o fato de Augusto Comte, tendo rejeitado o pensamento mítico-religioso como marca de uma fase dita atrasada da humanidade, ter proclamado o nascimento glorioso da Religião Positiva. Na ausência de uma visão complexa da pessoa, da realidade, dos tempos e dos espaços, a cobra (como metáfora para o conhecimento) acaba por morder o próprio rabo (KÜNSCH, 2009b:35).
O paradoxo notado pelo autor é, no mínimo, intrigante, pois “se algo vem
acompanhado com o selo irretocável da verdade, não há bem o que debater e discutir. Nem
ciência é” (KÜNSCH, 2010b:14).
Quanto à alteração que sugere no modelo de pensamento, Santos chama o paradigma
emergente de ciência pós-moderna. Aludindo à proposta filosófica de Martin Buber, ele
afirma que o conhecimento deverá doravante ser cada vez mais norteado pelo desejo de
diálogo entre o sujeito e o objeto da reflexão – relação “eu-tu” em substituição à relação “eu-
coisa (isso)”. O objeto, por conseguinte, deve nos “falar”
numa língua não necessariamente a nossa mas que nos seja compreensível, e nessa medida se nos torne relevante, nos enriqueça e contribua para aprofundar a autocompreensão do nosso papel na construção da sociedade, ou, na expressão cara à hermenêutica, do mundo da vida (SANTOS, 1989:12).
56
Já que se mencionou o tema da relação, cabe ainda colocar aqui o fato de que, embora
nos últimos séculos o conhecimento de tipo intelectual venha sendo fortemente desvinculado
da afetividade, como se esta fosse incompatível com aquele, nem sempre essa dissociação
ocorreu na história dos povos, conforme lembra Restrepo (2001:30). É profundamente
significativa, por exemplo, a palavra utilizada no Novo Testamento, para designar o que
sentia o rabi (mestre) Jesus pelos enfermos e miseráveis com quem entrava em contato:
splacnisomai, que, literalmente, significava em grego koiné41 “sentir com as tripas”,
costumando ser traduzida como “mover-se de íntima compaixão”. Talvez um pouco dessa
ternura e misericórdia caíssem bem no ventre de muitos homens de ciência de hoje em dia,
escondidos atrás de sua pretensa neutralidade racional:
Não se trata de levantar a bandeira de um novo sentimentalismo contra os excessos da razão. Trata-se muito mais de compreender que há sempre na emoção algo de razão e na razão um tanto de emoção, embora se tente, a partir de diferentes óticas, afirmar o contrário. Os sentimentos não podem continuar confinados ao terreno do inefável, do inexprimível, enquanto a razão ostenta uma certa assepsia emocional, apatia que se coloca acima das realidades mundanas (RESTREPO, 2001:37).
2.1.4 Signo da explicação
Interessante conexão pode ser traçada entre a crítica empreendida por Santos e a
leitura feita por Vilém Flusser, para quem a crise atual do paradigma científico se traduz, em
última instância, numa crise da escrita. De acordo com Flusser, embora o propósito de
escrever seja dar significado, explicar as imagens, os textos podem tornar-se “inimagináveis”
e, então, constituir barreiras entre o homem e o mundo na medida em que seus vetores de
sentido se viram e apontam para seus autores, em vez de apontar para o mundo.
Tal inversão na escrita seria mais claramente observável justamente nos textos de
caráter científico. O autor enfatiza que trabalhos desse gênero são marcados pela presença de
explicações que, se, por um lado, espelham a estrutura do pensamento esclarecido, por outro
são existencialmente destituídas de significado, chegando a constituir uma espécie de “parede
de biblioteca paranóica que aliena triplamente o homem de seu mundo” (FLUSSER,
2007:145).
41 O grego que ainda era falado nos primórdios da era cristã.
57
O pensamento de Michel Maffesoli (2007)42 converge, nesse sentido, com o de Flusser
ao defender que se deve opor a “moleza” da noção à “rigidez” do conceito. Isso quer dizer
que a lógica dos conceitos e explicações, redutora, mutiladora e totalitária, é insuficiente para
dar conta das realidades. Difundiu-se desde o século XVII, por assim dizer, uma mania de que
tudo tem necessariamente de ser explicado e categorizado de forma objetiva no universo das
certezas. No entanto, conforme salienta Morin,
a complexidade se apresenta com os traços inquietantes do emaranhado, do inextricável, da desordem, da ambiguidade, da incerteza (2005b:13). Era próprio da ciência, até o momento, eliminar a imprecisão, a ambiguidade, a contradição. Ora, é preciso aceitar certa imprecisão e imprecisão certa, não apenas nos fenômenos, mas também nos conceitos... (2005b:36).
Tendo o dilema do conhecimento como pano de fundo, Maffesoli denuncia a crescente
“preguiça” e “autismo” intelectuais, alimentados na academia, a seu ver, pela indisposição
para se ler trabalhos de colegas, pelas intrigas, pelos mexericos malévolos, pelas acusações de
diletantismo e, ainda, pela reputação conquistada. Longe de democratizar o conhecimento,
essa situação o estaria enclausurando. “É necessário empenho para que nossas pesquisas,
nossos livros e nossas palestras venham a interessar, sem qualquer perda de seu rigor
científico, a diversos protagonistas sociais” (MAFFESOLI, 2007:43).
Antevendo horizontes auspiciosos, o autor discorre sobre a crise paradigmática
anunciando uma “nova arte de pensar em vias de emergir ante nossos olhos” (MAFFESOLI,
2007:23). De acordo com ele, a história das idéias registra sobressaltos que acompanham as
mudanças de valores que ocorrem nas sociedades, sendo, de tempos em tempos, necessário
regenerar coletivamente um modo de pensar há muito debilitado43.
2.1.5 Uma não conclusão: epistemologia compreensiva
Ao contrário do que pode parecer de uma leitura superficial das considerações
expostas até aqui nesta seção, não se pretende aqui rechaçar de forma sumária e irrefletida a
concepção de ciência calcada no racionalismo filosófico e no positivismo lógico. A despeito
das mazelas mundiais que muitos poderiam creditar, com excelentes argumentos, ao chamado
42 Convém mencionar que Maffesoli dedicou a Edgar Morin seu livro O conhecimento comum, do qual se extrai suas contribuições para a elaboração deste artigo. De fato, a ideia do pensamento complexo moriniana é claramente perceptível em toda a obra. 43 Morin já antevia a mudança de paradigma em 1976: “A busca que empreendi levou-me cada vez mais à convicção de que tal superação deve implicar uma reorganização em cadeia do que entendemos pelo conceito de ciência. Para dizer a verdade, uma mudança fundamental, uma revolução paradigmática parecem-nos necessárias e próximas” (MORIN, 2005b:18).
58
progresso técnico-científico, também foi gerada a partir dele múltipla e significativa gama de
benefícios à humanidade.
Questiona-se, antes, a eleição da ciência como única forma de conhecimento legítima,
em detrimento dos outros saberes, julgados inferiores por elites intelectuais. Crescente
número de pesquisadores, entretanto, vêm sugerindo de formas variadas a necessidade de uma
ampliação do diálogo entre o conhecimento científico e aqueles outros saberes, inclusive
como forma de se afinar o discurso da ciência com os chamados “discursos normais” da
sociedade (SANTOS, 1989).
É preciso, entretanto, evitar a tentação de se sacralizar também o pensamento
complexo. Morin é absolutamente claro ao caracterizar como ilusão “confundir complexidade
e completude” (MORIN, 2005b:6). É bem verdade que o pensamento complexo aspira ao
conhecimento multidimensional, mas, ao mesmo tempo, reconhece a onisciência como uma
impossibilidade mesmo em teoria. Em linha de raciocínio paralela, registre-se a ressalva feita
por Künsch a respeito:
Dialogar é preciso, com a consciência de que nenhum modelo epistemológico pode se imaginar senhor absoluto e onipotente da verdade sobre o conhecimento humano. [...] O que é próprio de todo conhecimento que se propõe científico deve ser retomado aqui, numa perspectiva que condena todo egoísmo e toda arrogância, essas moedas nada raras em olim-pianos espaços acadêmicos. Portanto, e de novo, a proposta que advoga a necessidade de compreensão e de diálogo não pode assumir como ponto de partida epistemológico a afirmação dogmática de uma certeza, ou o modelo fácil dos caminhos únicos (KÜNSCH, 2007a:57).
A noção, aliás, de compreensão, encontra-se intimamente ligada à da complexidade
moriniana na obra de Künsch. Advinda do vocábulo latino comprehendere, a palavra traz em
si a ideia de juntar, abranger, abraçar. “Compreensivo, intelectualmente falando, é o
pensamento abrangente, aberto, dado ao confronto com a polissemia e a polifonia do
conhecimento e do próprio real” (KÜNSCH, 2007a:58). Tal noção, como se verá adiante, é
compatível e mesmo fundamental à construção da narrativa, destacadamente a narrativa do
presente, verdadeira fibra com que se urde o tecido jornalístico.
O pesquisador chama a atenção para dois sentidos importantes e complementares do
termo compreensão (KÜNSCH, 2008). O primeiro deles é do tipo intelectual, cognitivo,
dizendo respeito a uma linha de pensamento não reducionista e mais afeta ao geral que à
parcelização: “Fazendo conversar o uno e o múltiplo, as partes e o todo, o singular e o plural,
um pensamento compreensivo lembra, assim, o quanto propõe a própria noção de
epistemologia da complexidade, sua parceira” (KÜNSCH, 2005:46).
59
A outra dimensão fundamental da palavra refere-se à intersubjetividade humana,
convidando a uma reumanização (ou melhor, a uma “desdesumanização”) das relações entre
os sujeitos do conhecimento:
[...] a compreensão deve ser percebida também pelo lado, não menos nobre, da intersubjetividade, da atitude compreensiva frente ao outro, ao diferente, aos povos, às nações, às culturas – da atitude compreensiva, é preciso acrescentar, frente aos próprios objetos de conhecimento, uma vez que o mundo não está aí para servir de objeto para a depredadora idéia de domínio e transformação a qualquer custo (KÜNSCH, 2007a:58).
Dentro dessa concepção, uma ética compreensiva assume, segundo o autor, estatuto
epistemológico. A partir de sua multiplicidade de sentidos nas áreas do respeito, cidadania,
solidariedade e paz, tal ética torna-se necessária como instrumento de combate à arrogância,
ao desprezo, ao egoísmo e às falsas seguranças. Assim, “o sujeito do conhecimento predispõe-
se ao exercício do diálogo, com resultados positivos para o conhecimento do mundo, da
natureza e da cultura, da vida e de si mesmo em todas essas relações” (KÜNSCH, 2009a:49).
O encerramento desta seção não é, portanto, o espaço das conclusões. Fica melhor
como o espaço das interrogações e possibilidades do que das respostas definitivas. O universo
em si mesmo é inatingível para a compreensão humana, só existindo por meio da mediação
dos discursos, dos sentidos, das representações simbólicas. Assim sendo, o fortalecimento da
vinculação entre as ideias de conceito e noção torna-se obviamente necessário, inclusive
como alicerce de uma verdadeira postura cognitiva que favoreça o diálogo entre os diferentes.
As explicações e definições são necessárias. O mundo, porém, não pode ser reduzido a elas.
2.2 A narrativa jornalística e o diálogo da alma44
“C... era um jovem estudante cheio de sonhos, mas também cheio de dúvidas quanto
ao futuro. Ele sabia que chegara o momento de tomar uma das decisões mais importantes de
sua vida, mas sentia-se esmagado pelo peso de tão grande desafio. Certo dia uma pessoa o
procurou e lhe fez uma proposta...”
Afiadíssima, a lâmina sonora emitida pelo orador vinte minutos após o início de sua
fala fez uma incisão no ar que preenchia o interior do imenso auditório universitário. No 44 Esta seção, aqui revisada e ampliada, foi originalmente publicada como ensaio em livro do grupo de pesquisa “Comunicação, Jornalismo e Epistemologia da Compreensão”, da Faculdade Cásper Líbero, sob coordenação do Prof. Dr. Dimas A. Künsch. Referência: GROGER, Renato . A narrativa jornalística e o diálogo da alma. In: KÜNSCH, Dimas A; MARTINO, L.M.S. (Orgs.). Comunicação, Jornalismo e Compreensão. São Paulo: Plêiade, 2010, p. 65-76.
60
mesmo instante cessou por completo o burburinho proveniente das já centenas de
conversações paralelas que cresciam ameaçadoramente às margens da palestra. Quase a
totalidade do público ali presente se compunha de estudantes entre os seus 17 e 20 anos –
jovens levando em si a mistura de entusiasmo, angústias e perplexidades quanto ao futuro tão
comuns a essa faixa etária. A identificação foi imediata. A partir daquele momento, em meio
ao silêncio expectante, dois mil pares de olhos colaram-se ao palco, enquanto os ouvidos (ou
seria o coração?) aguardavam atentamente o que viria a seguir. Todos, de alguma forma,
sentiam-se representados. Era a história de cada um.
A experiência se repete há eras. Conte uma boa história e você terá a atenção das
pessoas.
2.2.1 Narrativa e vida
As narrativas sempre exerceram poderoso fascínio sobre a mente humana. Uma
extraordinária e estimulante influência capaz de colocar em movimento a imaginação do
homem, colorir seu íntimo com os mais diferentes matizes emocionais e conduzi-lo à
compreensão/reflexão sobre si mesmo e o mundo tem caracterizado o ato de narrar em todas
as épocas, em todos os lugares, em todas as sociedades. Inseparavelmente ligado a qualquer
civilização do passado ou do presente se encontra um significativo repertório de histórias que
procuram explicar origens, valores, relações e estruturas de sua cultura. O ser humano precisa
narrar e fruir narrativas para dar sentido à vida.
Considerando o enredo de uma história como uma sucessão de eventos que leva a uma
conclusão mais ou menos definida, a razão para o interesse universal que existe pelas
narrativas talvez se concentre nos parâmetros mais amplos do grande enredo da vida humana.
Todos nascem, vivem e, um dia, morrerão. Nesse meio tempo crescem, compreendendo-se
como seres humanos inseridos em um contexto social; aprendem a relacionar-se, a trabalhar e
a respeitar determinados valores e hierarquias; lutam por afirmação e colocação na sociedade;
iniciam vida sexual e, em muitos casos, constituem família; experimentam em si mesmos ou
no mundo que os cerca uma infinidade de sentimentos e circunstâncias que transcendem os
limites de tempo e cultura, tais como amizade, companheirismo, amor, ódio, aceitação,
rejeição, desilusão, alegria, tristeza, inveja, bondade, ganância, perdão, vingança, simpatia,
desprezo, coragem, medo, orgulho, ternura, saúde, enfermidade, vigor, cansaço, etc. Assim,
os anseios e conflitos que caracterizam a vida humana, embora vistam roupagens
diferenciadas e se traduzam em situações particulares segundo época e local, são basicamente
61
os mesmos. É por isso que os seres humanos param para ouvir histórias: elas remetem a
aspectos relevantes de sua própria existência.
A narrativa é interessante porque a vida interessa. Pode-se dizer que depois daquilo
que garante de forma mais imediata a sustentação da vida física (ar, água, etc.), não existe
nada no mundo, pelo menos no plano da realidade natural, mais importante para as pessoas do
que as próprias pessoas. É na relação com o outro que nos realizamos, nos compreendemos,
nos construímos como seres humanos.45 E isso não se dá somente de forma direta, pessoal,
nos eventos de nossa vida e na do outro, mas também por meio do contato com histórias
protagonizadas pelo outro, sejam reais ou fictícias. Sem entrar na questão da intensidade, o
toque proporcionado no íntimo do ser pelas histórias de amor, altruísmo, perseverança,
vitória, humor, drama ou suspense (por mais triviais que se afigurem), extrai sons da lira da
vida tão verdadeiramente quanto o faria a própria vivência ou testemunho pessoal de eventos
ligados aos mesmos temas.
2.2.2 Narrativa e cura
Por que as histórias mexem tanto com o ser humano? Roteirista de sucesso em
Hollywood, Christopher Vogler (2006) buscou a resposta na obra do famoso estudioso de
mitologia comparada Joseph Campbell. Após debruçar-se sobre a tradição oral e a literatura
escrita da humanidade, esse autor afirmou que todas as narrativas, conscientemente ou não,
obedecem a um padrão que pode ser localizado desde as mais antigas narrativas registradas
pelo ser humano. Todas as histórias seriam, em realidade, a mesma história, contada em
diversidade de detalhes e variações infinitas, mas conservando sempre a mesma forma básica.
Destacando-se como espinha dorsal desse esqueleto narrativo, sublinha Campbell, emerge a
figura arquetípica do Herói, que representaria a todos nós no processo de crescimento em
direção à completude, na superação dos inúmeros obstáculos impostos pela vida e na
exploração da própria mente. Nesse sentido, todas as histórias seriam “psicologicamente
válidas e emocionalmente realistas, mesmo quando retratam acontecimentos fantásticos,
impossíveis ou irreais” (VOGLER, 2006:49).
A antiguidade é pródiga em exemplos que demonstram o papel central da narrativa nas
práticas culturais humanas. Os povos de origem semita, por exemplo, especialmente os árabes
e os hebreus, utilizavam com frequência as histórias de vida e as parábolas como ferramentas
45 O tema da relação com o outro será mais amplamente desenvolvido na segunda seção do capítulo 3 deste trabalho, com enfoque especial na filosofia de alteridade de Martin Buber.
62
muito úteis para o ensino e conhecimento do mundo. Assim, mais do que servir a finalidades
de entretenimento (o que não deixa de ser uma dimensão importante), a narrativa vem
desempenhando, desde tempos remotos, um importante papel pedagógico e cognitivo.
Segundo Walter Benjamin (1987:200),
o senso prático é uma das características de muitos narradores natos. [...] Ela [a narrativa] tem sempre em si, às vezes de forma latente, uma dimensão utilitária. Essa utilidade pode consistir seja num ensinamento moral, seja numa sugestão prática, seja num provérbio ou numa norma de vida – de qualquer maneira, o narrador é um homem que sabe dar conselhos.
Em décadas recentes, essa relação entre a narrativa e o conhecimento/sabedoria parece
estar sendo resgatada por diversas correntes teóricas da educação ocidental, destacadamente
no que respeita ao ensino infantil. Isto é bastante significativo, considerando que Benjamin,
nos anos 1930, escreveu que a arte de narrar estava definhando justamente porque a sabedoria
estaria em extinção. “É como se estivéssemos privados de uma faculdade que nos parecia
segura e inalienável: a faculdade de intercambiar experiências” (BENJAMIN, 1987:198).
Nada poderia ser mais danoso para a capacidade de produzir narrativas, uma vez que, para o
autor, o conselho é tecido na experiência, e a experiência (tanto a própria quanto a relatada
pelos outros) constitui o alicerce do que se narra.
Existe um outro aspecto oriundo do mundo antigo que merece consideração especial.
Constituía elemento essencial de uma tradição de medicina alicerçada em Hipócrates (c. 460-
370 a.C.) a exigência de que o médico, antes de emitir seu parecer, dedicasse bastante tempo
para ouvir o que a pessoa afligida por algum tipo de mal tinha para contar, auxiliando-a nessa
tarefa como um mediador (KÜNSCH, 2008:185-186). “Conte-me a sua história.” Oculta na
convidativa solicitação do médico hipocrático subjazia a noção, apropriada muitos séculos
depois como um dos alicerces da práxis psicológica, de que a narrativa tem valor terapêutico.
A palavra cura. Ou, como sublinha a professora Cremilda Medina (2003:47-48), na medida
em que produz sentidos, a narrativa “organiza o caos em um cosmos”, consistindo numa
forma de o ser humano se expressar e afirmar-se diante da “desorganização e as inviabilidades
da vida”.
2.2.3 Narrativa e jornalismo
A força sociocultural da narrativa, que nos parece tão clara e decisiva na história dos
povos quando observamos esses exemplos, não logrou impedir que a arte de contar histórias
entrasse em declínio em tempos recentes, afetada por uma distorcida forma de compreensão
63
do conhecimento chamado científico. Tal visão, embora gestada em séculos anteriores,
consolidou-se como hegemônica no pensamento ocidental a partir do século XIX (e no
restante do mundo no século seguinte), insistindo em caracterizar a ciência em oposição com
os outros saberes, julgados inferiores46.
Embora os sinais de sua crise sejam cada vez mais perceptíveis, predomina até nossos
dias um paradigma científico que, besuntado de positivismo filosófico e preparado no forno
da racionalidade formal e instrumental, admite como concretos e válidos apenas os dados
passíveis de observação e experimentação. Em outras palavras, apenas na ciência deve ser
buscada a verdade última.
A compartimentalização do conhecimento, por sua vez, produz incomunicabilidade
social, na medida em que fragmenta o conjunto de seres humanos em guetos culturais de
técnicos e especialistas:
Não é necessário se concentrar tanto no ramo nem na folha, a ponto de esquecer que eles fazem parte de uma árvore, e esta de um bosque. O sentido de pertencimento, que conserva unido o corpo social e o impede de se desintegrar em uma miríade de particularismos solipsistas [individualistas], depende, em boa medida, de que se tenha uma consciência precisa da existência do bosque. E o solipsismo – de povos e indivíduos – gera paranoias e delírios, as deformações da realidade que sempre dão origem ao ódio, às guerras, aos genocídios. A ciência e a técnica não podem mais cumprir aquela função cultural integradora em nosso tempo, precisamente pela infinita riqueza de conhecimentos e da rapidez de sua evolução que levou à especialização e ao uso de vocabulários hermético (LLOSA, 2011).
Sob a égide da precisão, da objetividade e da quantificação, tal paradigma provocou a
marginalização dos leigos e difundiu o menosprezo tanto pelo senso comum (SANTOS,
1989) quanto pelo mito (KÜNSCH, 2007b), que perfazem justamente uma das principais
fontes de onde bebem as narrativas.
Como não poderia deixar de ser, as sombras projetadas por esse eclipse narrativo
atingiram uma atividade cujo alcance e influência assumiu contornos planetários também a
partir do século XIX: o jornalismo. Inserida no contexto do aparecimento das sociedades
urbanas e industriais, essa transposição moderna das seculares narrativas do presente imediato
se caracterizou pela conversão da informação de atualidade em mercadoria, produzida em
série para veiculação em larga escala a um público cada vez mais numeroso e difuso
(KÜNSCH, 2005).
A influência da racionalização do conhecimento e da lógica mercantil sobre a
produção e veiculação da notícia provocou três implicações sobre a narrativa que merecem 46 A seção anterior estudou mais detidamente essa crise paradigmática, apresentando a proposta de uma epistemologia complexo-compreensiva como fundamentadora de um novo paradigma de conhecimento.
64
especial atenção. A primeira delas diz respeito a uma natureza um tanto presunçosa que o
jornalismo adquiriu ao definir-se historicamente como “atividade que apura acontecimentos e
difunde informações de atualidade”, buscando “captar o movimento da própria vida”
(BULHÕES, 2007:11). Seria da natureza do jornalismo apresentar a existência como um
produto digno de credibilidade, tomando-a como algo observável, investigável, comprovável
e objetivamente transponível. Com essa tarefa diante de si, o jornalista deveria concentrar-se
na apuração dos acontecimentos, esforçando-se por captar a realidade de forma neutra,
imparcial.
Tem sido demonstrado, porém, que o texto (oral, escrito ou imagético) pelo qual se
narra um fato definitivamente não se presta à utópica objetividade propalada a partir do final
do século XIX pela imprensa norte-americana e abraçada nas décadas seguintes em todo o
globo como o grande trunfo do marketing jornalístico. O texto narrativo é uma construção
simbólica, uma representação da realidade. É uma história que se converte em signos
linguísticos, do que decorre que um texto narrado é aquele pelo qual se conta uma
determinada história, não sendo, contudo, a própria história (MOTTA, 2004). A realidade,
portanto, sempre passa pelo filtro mediador da pessoa que narra. O jornalista/mediador, que
capta o mundo à sua volta pela observação e coleta de depoimentos, relatos, declarações,
opiniões e interpretações, deveria assumir de forma responsável seu papel autoral no ato do
narrar (MEDINA, 2006).
Embora se discorde aqui da posição benjaminiana de que a informação jornalística
seja necessariamente incompatível com o espírito da narrativa (BENJAMIN, 1987:203), é
forçoso concordar com sua colocação de que a ânsia pela plausibilidade e, mais ainda, pela
verificabilidade e exatidão do texto tem, realmente, efeito potencialmente deletério para a
liberdade expressiva do narrador. Nesse sentido, o jornalista ganharia muito em sua
experiência se procurasse aprender a contar histórias à maneira oral dos narradores anônimos
de todas as eras:
A narrativa, que durante tanto tempo floresceu num meio de artesão – no campo, no mar e na cidade –, é ela própria, num certo sentido, uma forma artesanal de comunicação. Ela não está interessada em transmitir o “puro em si” da coisa narrada como uma informação ou um relatório. Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso (BENJAMIN, 1987:205).
É claro que não se defende aqui o desprezo pela apuração conscienciosa dos detalhes
concernentes aos fatos atuais, mas o reconhecimento de que o olhar do repórter-narrador
invariavelmente reclama sua justa posição como “personagem” da narrativa jornalística.
65
Frequentemente esse olhar sobre a complexidade da vida e dos eventos encontra na conotação
um meio muito mais adequado de expressão. A proscrição, portanto, das metáforas, analogias
e outras figuras de linguagem em nome da neutralidade simplesmente despoja o texto
jornalístico dos traços de beleza ética e estética tão fundamentais no sentido de afinar o
discurso segundo a frequência da alma.
O resultado é o mesmo discurso “desencantado, triste e sem imaginação” que
Boaventura Souza Santos (1989:35) denuncia como um produto do paradigma da ciência
moderna. A vida e a realidade são categorias por demais complexas para serem explicadas
pelos mecanismos objetivos do conceito uno, fechado. Seria melhor que se buscasse
compreendê-las através de uma aproximação criativa aberta à polissemia. Vista por este
prisma, a queixa de Benjamin assume contornos de extrema lucidez:
Cada manhã recebemos notícias de todo o mundo. E, no entanto, somos pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos já nos chegam acompanhados de explicações. Em outras palavras, quase nada do que acontece está a serviço da narrativa, e quase tudo está a serviço da informação. Metade da arte da narrativa está em evitar explicações.
Ao invés, portanto, de fechar a compreensão do destinatário da informação em um
único sentido, o jornalista deveria considerar os benefícios de uma aproximação dos
acontecimentos sob perspectivas diferentes, sem prejuízo da verossimilhança. Aliás, é comum
que os acontecimentos por si exijam essas diferenciadas aproximações.
Recupere-se neste ponto algo mais a respeito das sociedades orientais, com seu
ancestral e apuradíssimo gosto por amalgamar a experiência de vida com a metáfora. Desde o
passado longínquo esses povos se deram conta de que muitos aspectos, situações e
sentimentos que integram o mosaico da vida humana tornam-se mais compreensíveis
mediante a liberdade poética proporcionada pelo uso da comparação. Esta é uma das lições
mais preciosas que o jornalismo contemporâneo poderia aplicar à arte de narrar o presente.
A palavra não é mero suporte a servir de base para um determinado conteúdo, mas a
palavra é conteúdo. É nela que reside o poder da narrativa. É pelo manejo sensível, consciente
e criativo das palavras que o narrador consegue obter o grande efeito sobre a alma humana.
De novo a palavra cura, põe ordem no caos da existência. E, uma vez que “uma frase só existe
quando é a extensão em letras da alma de quem a diz” (BRUM, 2006:36), tem-se que a
relação entre o narrador e o fruidor da narrativa é uma relação entre duas almas. O jornalismo
engessado pela ditadura da objetividade e dos esquematismos técnicos carece de alma.
66
2.2.4 Lead e pirâmide invertida
A segunda implicação acima mencionada é o surgimento e difusão de um modelo de
elaboração textual que se, por um lado, pode haver diminuído os custos e agilizado o trabalho
das agências na transmissão de notícias via telégrafo entre o final do século XIX e início do
século XX, por outro significou o aprisionamento da narrativa do presente numa verdadeira
camisa de força esquemática, à qual, desventuradamente, ainda se presta tributo em muitos
círculos jornalísticos em pleno século XXI. A técnica da “pirâmide invertida”, como se tornou
conhecida, compreende a disposição pré-moldada das informações no texto noticioso em
ordem decrescente de importância, reservando-se aquilo que é considerado mais relevante
para figurar na “cabeça” (lead), enquanto o que se julga menos importante é varrido para o pé
do texto, de onde pode com facilidade ser descartado na edição.
No coração desse esquema, o lead funcionaria então como uma miniatura padronizada
de narrativa (!) onde os detalhes considerados essenciais do acontecimento se encontram
resumidamente disponibilizados logo na abertura para o leitor/telespectador/ouvinte. É
interessante observar que Othon Garcia (1996:240) entende a narrativa como sendo o relato
de um episódio real ou fictício em que estejam presentes os seguintes elementos (ou, pelo
menos, os dois primeiros): o fato ou ação (o quê); personagens (quem); a forma como a ação
se desenvolve (como); o momento em que a ação ocorreu (quando); o lugar em que ocorreu
(onde); o motivo do acontecimento (por quê); e o resultado da ação (por isso). Aqui estão os
mesmíssimos elementos que, pela teoria jornalística, deveriam estar presentes em um lead
bem estruturado.
É preciso reconhecer acerca do lead clássico e da “pirâmide invertida” certa
funcionalidade no tocante à aceleração do ritmo da vida observável nas sociedades modernas.
As pessoas têm cada vez menos tempo para fruir narrativas de cunho mais longo e elaborado,
então buscam e contentam-se com o fragmento travestido de resumo. No entanto, é
precisamente no caráter fragmentário que se encontra a grande fragilidade desse esquema
textual. A grande massa de notícias há mais de um século despejada sobre as pessoas ao redor
do globo tem se caracterizado pela descontextualização e carência de aprofundamento. Mas a
humanidade diariamente está envolvida em situações-limite cuja amplitude de sentidos
extrapola as fronteiras do recorte arbitrário feito pelo jornalista em meia dúzia de linhas. E
saliente-se que tais situações podem ser encontradas tanto na grande catástrofe natural que
vitima milhares, quanto na briga de boteco que termina no encerramento prematuro de uma
única vida anônima. Um repórter-narrador sensível às necessidades e dilemas universais
67
saberá encontrar na mais prosaica situação, escondido sob a capa da aparente mesmice, o
detalhe humanamente relevante. A percepção que atribui insignificância aos acontecimentos
cotidianos é uma das cláusulas da velha convenção jornalística que ainda aguarda ampla
revogação.
2.2.5 Sede de narrativa e de compreensão
Há que se identificar, ainda, uma terceira implicação do problema. A simplificação
humana embutida em uma “ética rigorosamente regida por preceitos, códigos, normas de
conduta” (MEDINA, 2003:36), padronizados pela racionalidade lógico-analítica na cultura
ocidental desde o pensamento grego, recusa aceitar uma moralidade que também emerja
democraticamente dos afetos, desejos e intuições. Uma moralidade que ultrapasse os
paradigmas classificatórios, reducionistas e maniqueístas que ainda exercem considerável
força sobre a experiência de fenômenos e instituições da contemporaneidade, a exemplo do
jornalismo. O discurso narrativo jornalístico predominante ainda se encontra aprisionado às
regras de uma razão instrumental que produz conceitos dogmáticos, conserva preconceitos
ideológicos, atrofia os sentidos de relação, deslegitima a emoção como uma força motriz do
ser humano e, afinal, dissolve a marca da autoria pela passividade técnico-burocrática
disseminada nas redações (MEDINA, 2003). Nessas condições, como contar uma boa
história, que ultrapasse a superfície da vida para alcançar sentidos mais profundos?
Uma das respostas possíveis, segundo estão convencidos José Eugenio de Oliveira
Menezes e Monica Martinez, está justamente no trabalho com o tempo profundo47 na
produção da reportagem. Isto significa experimentar nos acontecimentos, e, depois, transmitir
no texto, uma temporalidade diferente daquela marcada pela “extrema velocidade de apuração
e risco de superficialidade” na “descrição linear” desses acontecimentos (2011).
Como exemplo bem sucedido de tempo profundo no jornalismo atual, os
pesquisadores apontam a reportagem especial de televisão “Buriti”, assinada pelo jornalista
Nelson Araújo e veiculada no programa Globo Rural, da Rede Globo. Nesse belo trabalho, a
contextualização apurada resgata as origens históricas e geográficas do tema, misturando
prosa e poesia ao longo do texto que se completa na exuberância das imagens. Inserções de
discurso na oralidade regional conferem charme ainda maior à apresentação. A linearidade
óbvia (e, muitas vezes, maçante) da construção narrativa esquematizada é subvertida pela
47 Noção proposta pelo pesquisador alemão Siegfried Zielinski, já exposta na terceira seção do capítulo 1.
68
modelagem surpreendentemente artística do texto. E (pasmem os burocratas da notícia!), em
resultado, a arte se prova totalmente compatível e até mesmo necessária ao fazer jornalístico
do repórter. Impossível não se deixar arrebatar pela riqueza de matizes humanos ali captados,
entre os quais se incluem as contradições destrutivas de políticas governamentais equivocadas
de ocupação territorial. Escrevem Menezes e Martinez (2011) acerca do trabalho de Araújo:
Sua postura de escuta atenciosa dos protagonistas das reportagens permite a construção de cenários sonoros e imagéticos que cultivam o tempo lento e profundo, vão muito além de simples descrições repletas de imagens captadas sob regime de urgência e prontas para consumo. Seu trabalho possibilita, diante da televisão ou dos vídeos disponíveis na Internet, o envolvimento criativo dos interlocutores, muitas vezes ainda limitadamente chamados de telespectadores, em cenários sonoros e imagéticos que entrelaçam a postura profissional dos que produzem a reportagem com os saberes ou sabedorias dos protagonistas entrevistados.
Assim como no exemplo acima, reações ao secular esquematismo burocrático que
toma conta das redações felizmente têm surgido ao longo da história do jornalismo. Primeiro
o gênero reportagem apareceu nos anos 1920, nos Estados Unidos, oferecendo maior espaço e
maior flexibilidade na exploração dos fatos pelos repórteres. Quatro décadas depois, o
chamado New Journalism despontou como uma proposta ousada de aproximação do
jornalismo com a literatura, ganhando a classificação de romance de não ficção em virtude de
suas características charmosamente híbridas. Debaixo de forte oposição, seus principais
iniciadores defenderam o gênero como sendo tão verdadeiro como a mais exata matéria
jornalística, a despeito da liberdade desfrutada pelo jornalista de intrometer-se na narrativa
segundo o determinarem sua sensibilidade e poder criativo. Embora haja muito material fajuto
tentando se passar por New Journalism, essa arte fez escola e gera dividendos positivos até os
dias atuais. No entanto, acertar o tom requer repertório (de vida e de cultura), sensibilidade e
aprendizado técnico.
Em equilibrado artigo publicado recentemente no jornal O Estado de S. Paulo, Carlos
Alberto Di Franco (2011) afirma que ninguém resiste à matéria inteligente e criativa:
Defendo a urgente necessidade de complicar as pautas. O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir da TV ou na internet. Ele quer qualidade informativa: o texto elegante, a matéria aprofundada, a análise que o ajude efetivamente, a tomar decisões. Quer também mais rigor e menos alinhamento com unanimidades ideológicas. [...] É preciso encantar o leitor com matérias que rompam com a monotonia do jornalismo declaratório. Menos Brasil oficial e mais vida. Menos aspas e mais apuração. Menos frivolidade e mais consistência. Além disso, os leitores estão cansados do baixo-astral da imprensa brasileira. A ótica jornalística é, e deve ser, fiscalizadora. Mas é preciso reservar espaço para a boa notícia. Ela também existe. E vende jornal.
69
Como diria Gay Talese, um dos pioneiros do New Jornalism, apesar de a notícia não
ser ficção, ela deveria ser escrita à maneira das melhores ficções. Jornalistas deveriam
escrever tão bem como os romancistas, procurando tornar-se, como eles, hábeis artífices na
arte de trabalhar a palavra e proporcionar prazer e encantamento ao leitor. Aliás, jornalistas
podem aprender muito com os romancistas, como fica evidente da seguinte reflexão de
Vargas Llosa (2011):
A literatura [...] é, foi e continuará sendo, enquanto existir, um desses denominadores comuns da experiência humana, graças ao qual os seres vivos se reconhecem e dialogam, independentemente de quão distintas sejam suas ocupações e seus desígnios vitais, as geografias, as circunstâncias em que se encontram e as conjunturas históricas que lhes determinam o horizonte. Nós, leitores de Cervantes ou de Shakespeare, de Dante ou de Tolstoi, nos sentimos membros da mesma espécie porque, nas obras que eles criaram, aprendemos aquilo que partilhamos como seres humanos, o que permanece em todos nós além do amplo leque de diferenças que nos separam.
Seria tolice resistir à tentação de concluir este capítulo de maneira otimista. Nesse
caso, torna-se proveitoso mencionar que a explosão atual de publicações do gênero livro-
reportagem, com características marcadamente literárias, é forte indício da sede que a
sociedade tem de compreender a realidade pela via da narrativa. Muitos profissionais do
jornalismo, como “historiadores da vida contemporânea”, têm acordado para o seu dever de
reumanizar (ou, numa expressão ainda mais incisiva, “desdesumanizar” [Künsch]) as pautas e
relacionar as múltiplas causalidades dos fatos sociais, dando a eles sentido de conjunto dentro
da moldura da vida e da experiência tanto do autor do texto como do fruidor do mesmo. As
histórias de vida bem narradas falam com sensibilidade de coisas que são humanamente caras
para os dois sujeitos dessa relação. Por quê? Porque elas, de alguma forma, nos representam a
todos. São as histórias de todos nós.
No fim das contas, enquanto houver ser humano sobre a face deste planeta, a
experiência continuará a se repetir. Conte uma boa história e certamente você terá o coração
das pessoas.
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3 DA IMAGEM À CURA PELA PALAVRA
3.1 Implicações da iconofagia para o texto linear48
3.1.1 A inversão da ‘aura’
Conforme se viu no primeiro capítulo desta dissertação, em seu célebre ensaio A obra
de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, datado da terceira década do século XX,
Walter Benjamin (2002) vislumbrou na revolução cultural inaugurada pela difusão da cópia
em escala industrial uma era de democratização estética sem precedentes na história da arte.
Entre outros argumentos, o autor propôs o de que a reprodução destituiria a obra de arte
daquilo que ele chamou de “valor cultual”49, estreitamente ligado ao seu caráter único, que a
tornava uma realidade distante por mais próxima que estivesse do observador (aura).
A despeito das objeções que possam ser evocadas quanto às considerações
apresentadas no referido ensaio,50 parece difícil não concordar ao menos em parte com a visão
benjaminiana diante da possibilidade de se contemplar, por exemplo, uma obra-prima como o
“Retábulo de Gand”, dos irmãos Van Eyck. Sem o uso das técnicas de reprodução imagética,
tal ato só seria concretizável mediante uma visita pessoal ao santuário de Saint-Bavon, na
Bélgica. Hoje, entretanto, se pode não apenas fruir o impressionante conjunto de painéis em
praticamente qualquer parte do mundo, a qualquer momento, como também apreciar-lhe
detalhes que por questões de tempo e iluminação permaneceriam totalmente encobertos ao
olhar.
É possível ampliar o exemplo para abranger inúmeras outras obras universais da
pintura, arquitetura, escultura, música, literatura, teatro, etc. De fato, as reproduções 48 Esta seção, aqui revisada e ampliada, foi originalmente apresentada como trabalho de conclusão da disciplina Teorias da Comunicação, do curso de mestrado da Faculdade Cásper Líbero, sob condução do Prof. Dr. José Eugenio de Oliveira Menezes, encontrando-se já publicada como artigo completo. Referência: GROGER, Renato. Iconofagia e escrita: implicações da devoração imagética para o texto linear. Comtempo, v. 3, p. 1-10, 2011. 49 Segundo Benjamin, a obra de arte surgiu para servir a uma função ritual, transcendente, derivando daí o fato de ser “inaproximável” por natureza. Mesmo que historicamente a obra artística passasse a servir também a finalidades seculares, seu uso conservou aquela característica. 50 Ainda na primeira metade do século XX, por exemplo, Theodor Adorno e Max Horkheimer – expoentes do famoso Instituto de Investigação Social da Universidade de Frankfurt, que contou por algum tempo com a colaboração de Benjamin – analisaram a reprodutibilidade a partir de uma perspectiva fortemente pessimista, focada na produção industrial em série. Cunhando a expressão “indústria cultural”, esses pensadores enxergaram na tecnologia em desenvolvimento um meio de manipulação e exploração das massas pelas classes econômicas dirigentes. A esse respeito veja a primeira seção do capítulo 1 desta dissertação.
71
virtualmente51 aproximaram essas “realidades” do observador por mais distantes que os
originais estejam dele no espaço planetário ou no tempo. Ocorre na atualidade, portanto, uma
inversão da aura.
Vale sublinhar que o poder democratizante da reprodutibilidade, segundo sugere o
texto de Benjamin, não estaria restrito à dimensão artístico-estética, estendendo-se ao
conhecimento como um todo. Para ele, portanto, a quebra daquela função ritual, ancorada ao
longo dos séculos na reserva das obras e documentos humanos para poucos, deveria tornar o
conhecimento acessível a um número cada vez maior de observadores-fruidores,
independentemente do meio de veiculação: texto escrito, fotografia, cinema, gravações de
áudio, entre outros.
Naturalmente, a leitura acima constitui apenas uma das possíveis. Mais de setenta anos
passados desde a primeira publicação do texto de Benjamin, os avanços tecnológicos
ocorridos em escala vertiginosa principalmente nas duas últimas décadas impõem ângulos
diferentes de análise para a questão da reprodutibilidade técnica. Assim, esta seção retomará e
ampliará o tema da iconofagia, difundido no Brasil e no exterior pelo pesquisador Norval
Baitello Jr. Conforme visto na segunda seção do capítulo 1, o fenômeno é apresentado como
uma consequência perversa da multiplicação exacerbada de imagens visuais na
contemporaneidade. Em apoio à revisão dessa noção, recorre-se novamente aqui a textos de
Dietmar Kamper atinentes ao tema, visto tratar-se de um dos referenciais teóricos mais
frequentes na construção do pensamento daquele autor.
Num segundo momento, considerando que o próprio Baitello Jr. menciona uma crise
da escrita decorrente do exagero imagético, esta seção procura costurar suas considerações
com a visão apresentada por Vilém Flusser, que dedicou parte de sua obra à reflexão sobre o
futuro da escrita em meio ao incremento da informatização ora em curso.
3.1.2 A devoração imagética
Ao considerar os desdobramentos da reprodutibilidade técnica, Baitello Jr. reconhece a
relevância do trabalho de Benjamin, embora enfatize que houve um “desvio de rota” quanto
ao seu prognóstico otimista (BAITELLO JR., 2005a). Ao invés de democratizar o acesso à
informação e ao conhecimento, a difusão em larga escala da cópia teria passado a causar uma
51 Diz-se “virtualmente” levando em conta o chamado analfabetismo cultural e a dificuldade de acesso aos meios de veiculação que ainda persistem no tocante a um grande contingente populacional por motivos ideológicos e político-econômicos os quais não é propósito deste trabalho explorar.
72
crise de visibilidade das imagens paradoxalmente ligada ao excesso das mesmas. Isso implica
em que a comunicabilidade das imagens na sociedade contemporânea esteja se aproximando
do grau zero. Segundo o autor,
o advento das imagens repetidas e idênticas que se distribuem no espaço público (ao invés daquelas que devem ser buscadas no espaço restrito do recato e do sagrado, da intimidade e da concentração), inaugura o trânsito das imagens em superexposição à luz. Inaugura-se, com este trânsito, também sua transitoriedade, que por sua vez abre um vazio. E o correspondente déficit emocional gerado por sua ausência faz com que novas imagens sejam geradas para suprir a sensação do vazio e iludir a sua transitoriedade por meio de novas transitoriedades (BAITELLO JR., 2005a:13).
Assim, a rápida proliferação de imagens por toda parte vem produzindo a rarefação de
sua capacidade de apelo visual (quanto mais imagens, menos visibilidade). Essa situação
segue a lógica perversa da inflação de comunicações na contemporaneidade, que, ao invés de
enriquecer o conhecimento, contribui para diminui-lo na medida em que a hiperabundância de
signos fragmentários torna insegura a interpretação dos mesmos (ROMANO, 2004:91). O
conteúdo informacional se dissolve na quantidade, conforme o exemplifica a paisagem
publicitária urbana representada por faixas, cartazes, outdoors e outros suportes para a
exposição imagética exacerbada e indiscriminada. Uma vez que o apelo é minado, passa-se a
necessitar de mais e mais imagens a fim de se alcançar os mesmos efeitos. Segundo Künsch
(2009b:41),
tudo vemos (onividência), tudo presenciamos, e estamos em toda parte (onipresença), com essa profusão crescente de câmeras e imagens, assediando-nos ad nauseam, imagens que nos arrebatam e às vezes nos arrebentam. No mundo Google, nada parece existir que ainda não tenha ou não possa ser visto. Poderoso, o olhar onividente faz do ser humano um devorador de imagens, em ritmo alucinante. [...] De tanto ver, às vezes já não vemos. Vor lauter Bäume sieht man Wald nicht mehr (De tanta árvore já não se consegue ver o bosque).
Para Baitello Jr. (2005a:52), “a reprodutibilidade possibilitada pelos recursos técnicos
obedece a uma lógica do eco, da repetição das sílabas finais, dos sons finais, das impressões
finais e superficiais. Não há memória profunda, há apenas lembranças epidérmicas.” Tem-se
então uma multiplicação de imagens superficiais produzidas para serem vistas, mas um
decréscimo em igual proporção da capacidade humana de visualizá-las. Esse crescente
“desvalor” imagético gera, por sua vez, um desespero pela visibilidade a qualquer custo.
Numa tentativa de explicar as relações de apropriação que envolvem as imagens e os
seres humanos, o pesquisador propõe a metáfora da devoração. Encontra-se em curso,
segundo ele, um processo de “iconofagia” (devoração imagética), a qual pode ser dividida em
73
três dimensões complementares. Na primeira, imagens devoram imagens, o que remete à
utilização de imagens precedentes como referência para a construção de novas imagens.
Tomando emprestadas as reflexões de Flusser, Baitello Jr. afirma que as imagens não
mais se oferecem como “janelas” 52 para o mundo, mas para si próprias: “Ao invés de remeter
ao mundo e às coisas, elas passam a bloquear seu acesso, remetendo apenas ao repertório ou
repositório das próprias imagens” (BAITELLO JR., 2005a:54). Assim, as imagens se tornam
autorreferentes: a representação de um objeto não se restringe à representação de algo
(concreto ou abstrato) existente no mundo, mas também constitui uma re-apresentação dos
modos como esse algo já foi representado.
A segunda dimensão ocorre quando seres humanos devoram imagens. Não mais são
consumidas as coisas, mas seus atributos imagéticos, isto é, a imagem em sua superficialidade
epidérmica. Trata-se de uma compulsão exacerbada de apropriação gerada nos receptores pela
difusão exagerada e indiscriminada de imagens em todos os tipos de espaços mediáticos:
Consumimos imagens em todas as suas formas: marcas, modas, grifes, tendências, atributos, adjetivos, figuras, ídolos, símbolos, ícones, logomarcas (BAITELLO JR., 2005a:54). O hodierno mecanismo de consumo de marcas e grifes, imagens criadas com base em procedimentos unilaterais de valoração em laboratórios de marketing, demonstra à exaustão a presença de uma iconofagia patológica. Igualmente o demonstram as cotas de audiência das programações televisivas ordinárias, nas quais qualquer sentido de aquisição de não-coisas, mas com referências, isto é, com lastro na história ou perspectiva de futuro, se perdeu por completo (BAITELLO JR., 2005a:96).
3.1.3 A perda do corpo
A terceira dimensão da iconofagia inverte a direção do processo: as imagens devoram
seres humanos. Já não são os olhos, como “janelas da alma”, que buscam as imagens como
em eras passadas, em paredes, em quadros, em livros. Agora são as imagens que nos
procuram e de nós se apropriam. Tal processo de inversão iconofágica é assim descrito por
Baitello Jr. (2000):
52 Rever a segunda seção do capítulo 1. A repetição ao longo deste trabalho da noção flusseriana das imagens-janelas e das imagens-biombos não é acidental. De acordo com Flusser (2007:166), na medida em que são mediações entre o sujeito e o mundo objetivo, as imagens “imaginam os objetos que apresentam”, tendendo, portanto, a obstruir o caminho em direção àquilo que é mediado por elas. Kamper (2002), da mesma forma, acreditava que as imagens podem encobrir o que elas mostram: “Imagens do mundo colocam-se na frente do mundo de tal modo que nada mais resta dele. [...] Precisamente o exagero da imaterialização do mundo e do homem faz com que as imagens se tornem adversárias.”
74
Quanto mais elas se oferecem como alimento, mais aumenta a avidez por imagens. Quanto mais aumenta a avidez, menos seletiva e menos crítica se tornam a sua recepção e a sua oferta. Quanto menos seletiva e menos crítica sua recepção, tanto menos vínculos e relações, tanto menos fios e elos, tanto menos horizontes e expectativas, tanto menos consideração por tudo que está ao lado, tanto menos ética, tanto menos história. No desgaste e na perda da capacidade de vincular, de relacionar, é que se dá a inversão do processo devorador: de devoradores indiscriminados de imagens passamos a ser indiscriminadamente devorados por elas.
A violência por trás desse mecanismo é sutil, mas efetiva. Ao ceder ao assédio
imagético, os seres humanos se transformam em imagens, ou seja, em seres sem interioridade
e sem tempo. “Somos obrigados a viver uma abstração, um corpo sem matéria, sem massa,
sem volume, apenas feito de funções abstratas como trabalho, sucesso, visibilidade, carreira,
profissão, fama” (BAITELLO JR., 2005a:56).
Dietmar Kamper já apontava nos anos 1990 para a perda do corpo em meio à
problemática da “crise da invisibilidade”. Em citação traduzida por Baitello Jr. de seu livro
Unmögliche Gegenwart (Presente Impossível), o autor alemão argumentou que a aceleração
da figurativização (transformação da matéria em imagem53) teve início efetivo no período
renascentista, mas foi só no início do século XX que o processo enviesou para a tentativa de
exoneração do corpo através de sua substituição, isto é, da preferência das imagens ao corpo
(KAMPER apud BAITELLO JR., 2005a:44).
Hoje, o corpo, como expressão de vida, passa a ser uma imagem, não possuindo mais
vida própria, porém uma vida vivida em função da imagem: aparência física, profissão,
vestuário, gostos, tudo deve ser uma imagem perfeita segundo os padrões de “uma assim
chamada cultura universal, pasteurizada e homogeneizada” (BAITELLO JR., 2005a:9).
Juntamente com o corpo, conforme já vimos no primeiro capítulo, perde-se também o espaço:
Os homens perdem com seus corpos o espaço enquanto circundância e não conservam nada mais do que o campo visual e o plano da imagem. O sujeito que está sentado e se vê confrontado a uma tela onde aparece ou desaparece a imagem do mundo conforme a pressão de um botão é a própria metáfora de uma perda desmedida. O triunfo da superfície sobre o espaço evidencia de um modo peculiarmente estrondoso aquele jogo de poder que hoje desemboca numa violência aniquiladora (KAMPER, 2000).
Baitello Jr. enuncia uma das consequências mais nocivas dessa situação: a supressão
da comunicação de proximidade, interpessoal, familiar, fraternal, a qual é de suma
importância para a resolução das tensões e conflitos individuais (BAITELLO JR., 2005a:30).
53 Kamper (2001) define “imagem”como “presença, representação ou simulação de uma coisa ausente”. Sua origem estaria relacionada ao medo ancestral da morte, e, portanto, aos desejos humanos de imortalidade.
75
Segundo o pesquisador, a visão é um sentido de distância, diferentemente do que ocorre com
o olfato, paladar e tato. Ao contrário desses sentidos, que exigem a presença física
(corporeidade), a visão dispensa qualquer presença, permitindo sua substituição por imagens.
Conforme visto no primeiro capítulo desta dissertação, embora devessem atuar no preparo
para a proximidade afetiva, os olhos perdem essa função no processo iconofágico,
especialmente no que diz respeito à diversão eletrônica, que furta cada vez mais espaço às
esferas de contato relacional.
Vicente Romano (2004:19) tem denunciado de forma contundente o grande prejuízo
representado pelo fato de os espaços da experiência humana estarem cada vez mais sendo
definidos de maneira medial:
As experiências mediais têm uma importância secundária na formação da personalidade, na aprendizagem da capacidade de relacionar-se e da competência comunicativa. Podem, inclusive, opor-se a estas caso se careça de espaço suficiente para interagir com o entorno natural e social. Por tudo isso, se deve reivindicar, proteger e fomentar os espaços públicos, contra a “redificação” [rede, tecido] telemática da sociedade.
As relações naturais entre corpos tridimensionais tendem a se esvanecer em meio à
bidimensionalidade imagética predominante que, justamente em seu caráter mediador, acaba
se interpondo como barreira. Se, como afirma Romano (2004), o ser humano é, em grande
medida, produto da comunicação graças à qual compensa suas carências afetivas e cognitivas
na interação com os demais, então a hipertrofia imagética manifestada especialmente na rede
pode estar minando um dos principais fatores que conferem humanidade às pessoas.
As informações [sobretudo as imagéticas, segundo apontam as reflexões costuradas nesta dissertação] se apresentam desvinculadas umas das outras, sem nenhuma conexão entre elas, como verdades parciais. Essa fragmentação de uma realidade que é coerente não pode senão confundir e reforçar a desorientação e desinformação da maioria da população. [...] São difundidas de maneira persistente e monótona mensagens que promovem a individualização, a desconfiança contra o entorno social, a separação entre o indivíduo e os seus companheiros. [...] Essa fragmentação não pode senão ilhar e incapacitar o ser humano para a ação solidária (ROMANO, 2004:66-67).
Em resumo, os próprios corpos, pressionados pela proliferação de imagens, são
levados a perder suas características palpáveis, táteis, históricas, na medida em que migram
para aquele mundo atemporal das superfícies planas, onde é cada vez mais solapado o senso
de profundidade. O contato elementar passa a ser rejeitado pelo corpo “assimilado” pelas
imagens em trânsito dromológico. A carência, no entanto, gerada pela falta ou insuficiência
desse contato, não pode ser suprida de nenhuma outra forma.
76
3.1.4 O destino da escrita
A invenção da escrita sem dúvida representou gigantesco impacto para a vida humana.
Flusser (2010:29) define o ato de escrever como sendo
uma transcodificação do pensamento, de uma tradução do código de superfície bidimensional das imagens para o código unidimensional das linhas, ou seja, do compacto e confuso código das imagens para o claro e distinto código da escrita, das representações por imagens para os conceitos, das cenas para os processos, de contextos para os textos.
Para o filósofo, é impossível se orientar no mundo sem que se faça antes uma imagem
dele. No entanto, imagens são mediações que obstruem o caminho para aquilo que é mediado
por elas, característica acentuada pelo fato de os códigos imagéticos serem necessariamente
conotativos, isto é, permitirem interpretações diversas. A escrita teria surgido, então, como
uma tentativa de denotar o código imagético, ou, em outras palavras, de explicar, clarificar a
imagem, tornando-a transparente em relação ao mundo dos objetos (FLUSSER, 2007:166
e167).
Escreve-se, diz Flusser, “para se colocar os pensamentos nos trilhos corretos”
(2010:20). A impressão invariavelmente provocada pelo uso do código alfanumérico da
escrita linear é a de algo organizado, enfileirado. O ato de escrever, ou seja, de organizar e
traduzir o mundo em linhas inaugurou a chamada “consciência histórica”, que concebe a
realidade como um processo.54 A escrita, então,
evidencia a consciência histórica, que se deixa fortalecer e aprofundar por meio de uma escrita contínua, e o escrever, por sua vez, torna-se mais forte e mais denso. Esse feedback entre aquele que escreve e a consciência histórica proporciona à consciência uma tensão que se intensifica sempre, e que lhe permite cada vez mais avançar. Essa é a dinâmica da história. [...] A história é uma função do escrever e da consciência que expressa no escrever (FLUSSER, 2010:23).
Marshall Mcluhan acentua que a escrita alfabética foi responsável pela implantação de
muitos padrões básicos da cultura ocidental, como, por exemplo, considerar a cadeia de
inferências como a marca da lógica e da razão:
Somente as culturas letradas dominaram as sequências lineares concatenadas como formas de organização psíquica e social. A fragmentação da experiência em unidades uniformes aptas a produzir ações e mudanças formais mais rápidas (conhecimento aplicado) tem sido o segredo do domínio ocidental tanto sobre o homem como sobre a natureza. Esta é a razão por que o planejamento industrial do Ocidente parece tão militar, ainda que involuntariamente, enquanto os planos militares têm muito de industrial.
54 A invenção da imprensa, ao popularizar o albabeto e, portanto, ao estender às grandes massas a possibilidade de leitura, acentuou essa consciência histórica (FLUSSER, 2007:103).
77
Ambos são moldados pelo alfabeto, em sua técnica de transformação e controle e que consiste em tornar todas as situações uniformes e contínuas. Este processo, manifesto inclusive na fase greco-romana, intensificou-se com a uniformidade e repetibilidade da descoberta de Gutemberg (MCLUHAN, 2011:105).
Além disso, como uma intensificação e extensão da função visual, milênios antes das
imagens em sua reprodução hipertrófica atual, o alfabeto fonético já reduzia o papel dos
sentidos da audição, do tato, do paladar e do olfato nas culturas letradas (MCLUHAN, 2011).
Segundo Baitello Jr., com a invenção da escrita os corpos passaram a se inscrever na
história humana e, dessa forma, a também se transformar em linhas, reduzindo-se a uma
realidade unidimensional. Essa condição pode ser verificada até os dias atuais. “Nossas vidas
muitas vezes se resumem a uma simples carreira, a um currículo, a um traçado lógico
preestabelecido” (BAITELLO JR., 2005a:66).
A reprodutibilidade técnica atingiu tanto a imagem quanto o texto escrito no tocante à
sua difusão. No entanto, Flusser (2007) observou que embora sejam muito mais frequentes do
que antes, as linhas escritas perdem cada vez mais rapidamente sua importância diante das
massas, cujo interesse migrou para as superfícies (imagens bidimensionais).
Esse detalhe é extremamente significativo à luz do conceito de iconofagia. Conforme
explica Baitello Jr. (2005a), embora seja mídia secundária55 e, portanto, esteja limitada pela
sua transportabilidade, a escrita fixada sobre suportes materiais permanentes exige o tempo
lento56 de decodificação e decifração, permitindo a escolha entre entrar ou não em seu mundo.
A imagem, pelo contrário,
não exige uma senha de entrada, pois o seu tributo é a sedução e o envolvimento. A imagem nos absorve, nos chama permanentemente a sermos devorados por ela, oferecendo o abismo do pós-imagem, pois após ela sempre há uma perspectiva em abismo, um vazio do igual (ou, como diria Walter Benjamin, uma “catástrofe” do sempre igual”), um vácuo de informações, um buraco negro de imagens que suga e faz desaparecer tudo o que não é imagem (BAITELLO JR., 2000).
Essa consideração é muito mais verdadeira no caso das imagens veiculadas pela mídia
terciária, pois a sonoridade e visualidade aceleradas proclamam o fim do tempo contemplativo
55 Conforme se viu no Capítulo 1, trata-se de um conceito extraído da Teoria dos Media desenvolvida por Harry Pross. Para benefício do leitor, tome-se aqui o didático resumo dessa teoria feito pelo pesquisador José Eugenio de Oliveira Menezes (2007:22 e 23): a “mídia primária” se refere às relações face a face, à interação direta entre os corpos, sendo que o próprio corpo atua como mídia. Por outro lado, tem-se a “mídia secundária” quando um corpo usa uma ferramenta para se comunicar com o outro. Finalmente, a “mídia terciária” existe quando todos corpos envolvidos no processo precisam de ferramentas, como os meios eletrônicos. 56 Flusser (2007:106) chama esse tempo de “tempo histórico”, o qual é mais lento do que aquele exigido para a contemplação da imagem registrada sobre um suporte material, embora este último tempo também se caracterize por algum grau de lentidão.
78
e individualmente diferenciado. Quando não se tem mais esse tipo de tempo, o imaginário
humano deixa de ser alimentado pelas imagens exteriores que, em sua função medianeira,
deveriam existir como uma forma simbólica de acesso ao mundo. O imaginário é que passa a
servir de alimento para tais imagens, girando em torno delas (BAITELLO JR., 2005a).
Resta mencionar o prognóstico feito por Flusser (2010) de que a revolução da
informática provocará o desaparecimento da cultura escrita. Para o filósofo, os avanços
infotecnológicos estão quebrando o “pensar tipográfico” baseado na linha de caracteres
enfileirados sequencialmente. Assim, tornaram-se arcaicos na sociedade contemporânea tanto
o gesto de impressão como a mentalidade que se expressa nesse gesto. Uma nova forma de
pensar e uma nova consciência, portanto, encontram-se em processo de gestação:
A revolução da informática torna a tipografia, o alfabeto e esse pensamento supérfluos. Ela leva a um novo modo de pensar, ainda não evidente, mas já pressentido. Embora possa soar como uma asserção, é, na realidade, uma questão que nos inquieta e nos enche de esperança em direção ao futuro (FLUSSER, 2010:68).
3.1.5 Imagens-reflexos
Introduziu-se esta seção com a visão otimista de Walter Benjamin quanto aos
horizontes que a reprodutibilidade técnica prometia nos anos 1930. No entanto, ao tratar nas
linhas seguintes do cenário desenhado na atualidade pela proliferação inflacionada e
indiscriminada de imagens, as considerações aqui apresentadas não podem deixar de produzir
algum grau de apreensão quanto ao futuro humano.
Na visão do pesquisador Norval Baitello Jr., estamos testemunhando um processo de
iconofagia, no qual imagens devoram (se apropriam ou destroem) imagens, seres humanos
devoram imagens, e, em sua forma mais perversa, imagens devoram seres humanos,
convertendo-os de sujeitos para meros objetos. Nesse processo, a quantidade de informação
(principalmente visual) é avassaladora, mas o grau de comunicabilidade dessas imagens tende
para a nulidade.
É impossível desconsiderar o poderoso (e perigoso) efeito que a imagem exerce sobre
os corpos, transformando-os em imagens-reflexos do padrão difundido, como é o caso da
aparência física, do vestuário, do modelo de sucesso profissional, apenas para mencionar
alguns exemplos. O movimento no sentido da visibilidade sem dúvida tem uma força
tremenda em meio à conjuntura de esvaziamento visual e efemeridade que as imagens em
excesso configuram. Também os laços relacionais tendem a se volatilizar (ou “liquefazer”,
79
para resgatar aqui a metáfora da modernidade líquida usada por Zygmunt Bauman) na medida
em que a ênfase no olho provoca um recuo dos sentidos de proximidade.
Bauman, a esse respeito, adverte que quanto mais atenção humana e esforço de
aprendizado forem absorvidos pela variedade virtual de proximidade (na qual impera a
veiculação imagética), “menos tempo se dedicará à aquisição e exercício das habilidades que
o outro tipo de proximidade, não virtual, exige” (BAUMAN, 2004:84). O desuso dessas
habilidades certamente geram atrofia das mesmas, cabendo aqui uma preocupante observação
de Romano (2004:88) acerca da influência das imagens televisivas sobre as crianças:
As crianças se sentem facilmente seduzidas pelas imagens móveis, e isto as leva a utilizar rapidamente o televisor como interlocutor. Mas isso implica, por sua vez, em que o televisor se converta em obstáculo para a comunicação entre as crianças e seus pais. O risco não reside tanto nos comportamentos que a tela induz ou produz, mas naqueles que impede: conversas, jogos, discussões etc., através dos quais a crianças aprende e conforma seu caráter.
Estamos perdidos? Esta certamente seria uma conclusão apressada. Ainda é possível
notar resistência cultural contra a homogeinização. A própria mídia (que intrinsecamente não
é nem boa, nem má), de quando em vez, surpreende ao emitir lampejos no sentido dessa
resistência. Além disso, o espaço do encontro social e familiar não deixou de existir. Talvez
apenas precise ser melhor cultivado.
Na parte final da seção foi apresentado um dos desdobramentos iconofágicos mais
interessantes: o do desaparecimento do tempo lento de contemplação e decifração
proporcionado pela escrita, paulatinamente engolida pelo turbilhão imagético proporcionado
via mídia terciária. Parece adequado admitir que o imperativo da velocidade das imagens
exerça certo nível de impacto deletério sobre o ato de escrever. Os anos vindouros poderão
lançar algum esclarecimento sobre a questão.
Qual será então o futuro do texto linear numa sociedade mediática iconofágica? Vilém
Flusser sugere que o escrever em linhas alfanuméricas tem seus dias contados, argumentando
que a era da informatização inaugurará, mais cedo ou mais tarde, uma nova forma de pensar.
Estaríamos mesmo prestes a contemplar o aparecimento de uma pós-escrita? Sem pretensão
de responder em definitivo a essa pergunta, deve haver algum significado no fato de, quinze
anos depois da publicação do livro A Escrita, vários setores da vida humana ainda
permanecerem forte ou totalmente dependentes da cultura escrita convencional.
A próxima seção abordará as formas pelas quais as imagens podem se tornar barreiras
entre o ser humano e o outro na comunicação contemporânea. A argumentação tomará como
referência de relação significativa o encontro “Eu-Tu”, presente na filosofia de Martin Buber,
80
e trabalhará com a ideia de que a aparência traduzida em imagem pode representar prejuízo
para esse tipo de relação. Sugere-se, na última parte, uma possibilidade de resgate da
alteridade nos dias atuais por meio da palavra dialógica e compreensiva, que pode manifestar-
se de um modo muito especial na construção da narrativa jornalística.
3.2 Uma proposta narrativa contra a violência simbólica57
3.2.1 Ameaça ao diálogo
O sentido mais profundo da vida humana se revela na relação cotidiana com o outro, a
qual pressupõe o diálogo, que, por sua vez, se manifesta por meio da palavra e gestos. Ao
propor a expressão “Eu-Tu” para designar uma das duas possibilidades de o ser humano
realizar a sua existência (a outra foi chamada de “Eu-Isso”, referindo-se à experiência do
homem como sujeito diante do conhecimento, dos objetos ou dos seres que se lhe apresentam
como objetos), Martin Buber58 (2004) alcançou a plena maturidade de suas reflexões
ontológicas. De acordo com seu pensamento, a relação “Eu-Tu” consiste num ato essencial do
ser humano, uma atitude de encontro entre dois parceiros com base na reciprocidade e na
confirmação mútua. Trata-se do fundamento da existência humana.
Embora o filósofo admitisse outras esferas de ocorrência do encontro “Eu-Tu”, tais
como a relação entre a pessoa e os seres da natureza ou mesmo entre a pessoa e os objetos
(com os quais certamente é possível “dialogar”, numa acepção mais expandida do termo),
pode-se afirmar que é no encontro entre seres humanos59 que a palavra dialógica mais
especialmente encarna o sentido de portadora do ser. É, por excelência, nas relações inter-
humanas com o “Tu” que o “Eu” verdadeiramente se constitui e se situa no mundo. Sendo
assim, nada se faz obstáculo mais problemático para a experiência dialógica do que a
dualidade do ser e do parecer. Buber distingue duas espécies de existência humana: a vida a
partir do ser, ou seja, aquela determinada por aquilo que se é; e a vida a partir da imagem,
determinada pelo que se quer parecer. Quando a simulação prevalece, a existência humana é
ameaçada: 57 Esta seção foi originalmente apresentada, em meados de agosto de 2011, como trabalho de conclusão da disciplina Comportamento e Subjetividade na Sociedade Midiática, do curso de mestrado da Faculdade Cásper Líbero, sob condução do Prof. Dr. Dimas A. Künsch. 58 Filósofo e pedagogo judeu de origem austríaca, falecido em 1965, em Jerusalém. 59 A esfera da espiritualidade (Deus) também ocupa lugar importante na obra de Buber.
81
Qualquer que seja em outros campos o sentido da palavra “verdade”, no campo inter-humano ela significa que os homens se comunicam um-com-o-outro tal como são. Não importa que um diga ao outro tudo que lhe ocorre, mas importa unicamente que ele não permita que entre ele e o outro se introduza sub-repticiamente alguma aparência. Não importa que um “se abandone” perante o outro, mas importa que ele permita ao homem com o qual se comunica participar do seu ser. É a autenticidade do inter-humano que importa: onde ela não existe, o humano também não pode ser autêntico (BUBER, 2009:143).
Saliente-se o fato de que as considerações acima foram trazidas a lume ainda na
primeira metade do século XX. Buber não chegou a presenciar as mudanças que, em sua
época, apenas se esboçavam. Quase meio século após sua morte, o desenvolvimento das
tecnologias da indústria eletrônica, especialmente no que se refere à comunicação virtual em
tempo instantâneo, provocou uma vertiginosa aceleração do ritmo da vida em praticamente
todos os seus aspectos, inclusive naquele que se tornou uma das marcas distintivas da
civilização contemporânea: o consumo.
Em curto sumário, tem-se que a lógica consumista, gestada no período mercantilista
(séculos XVI e XVII), nasceu e teve os fundamentos esboçados durante a Revolução
Industrial (séculos XVIII e XIX), consolidou-se ideologicamente a partir das diretrizes das
políticas taylorista e fordista na primeira metade do século XX, e, finalmente, atingiu
intensidade avassaladora nas décadas seguintes, especialmente dos anos 1990 em diante, com
o estabelecimento e popularização do ciberespaço. Na visão de Zygmunt Bauman, o
consumismo em seu estágio atual embaçou a divisão clássica anteriormente feita entre as
coisas a serem escolhidas e os que as escolhem, ou seja, as coisas a serem consumidas e os
seres humanos que as consomem. Hoje,
ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável. A “subjetividade” do “sujeito”, e a maior parte daquilo que essa subjetividade possibilita ao sujeito atingir, concentra-se num esforço sem fim para ela própria se tornar e permanecer uma mercadoria vendável (BAUMAN, 2008:20).
Em outras palavras, a lógica do consumo extrapolou o âmbito mercadológico e se
infiltrou nas relações humanas, mercantilizando-as. Considerando a compulsão
autopromocional gerada por essa situação, parece pertinente a observação de que a
invisibilidade, no contexto civilizatório atual, equivale, em última instância, à morte do
indivíduo. A imagem pessoal tornou-se hoje algo a ser trabalhado e “vendido” em uma
sociedade “notória por eliminar a fronteira que antes separava o privado e o público, por
transformar o ato de expor publicamente o privado numa virtude” (BAUMAN, 2008:9).
82
Trivinho (2011:114-115), por sua vez, observa que a evidência da existência se
indexou, na civilização glocalizada60, à sua condicionante mediática, ou seja, tornou-se uma
injunção o fazer-se presente para a alteridade (seja individual, grupal ou massificada) ainda
que ela não conceda a atenção requerida. Esse tornar-se visível na tela vai além do fazer-se
apropriável apenas pelo olhar; significa também “existir de alguma forma (como simulacro)
perante o conjunto dos sentidos percepcionais da alteridade”. A presença, então, passa a ser
operada exclusivamente por signos (textos, sons, imagens): embora o corpo e toda a
materialidade da vida social permaneçam à margem da fronteira eletrônica, são “‘inoculados’
e representados da visibilidade mediática por seus equivalentes espectrais”.
Ponderando essas inquietações à luz da filosofia de alteridade proposta por Buber, a
presente seção parte da ideia de que a imagem vem se firmando como uma das mais
importantes (se bem que sutis) barreiras relacionais entre o ser humano e o outro. Como
possível implicação contemporânea dessa interposição, a imagem pode estar associada, de
alguma forma, à escalada da violência global e local em diversas de suas facetas.
3.2.2 Objetividade ilusória da imagem
Ao abordar o desenvolvimento histórico do processo criador das imagens, Vilém
Flusser (2002; 2007) sublinha um gradativo aumento do seu nível de abstração, começando da
passagem do mundo tridimensional dos objetos para a bidimensionalidade das imagens
registradas sobre superfícies. O propósito desse gesto original teria sido o de que as imagens
servissem de instrumentos para orientar o ser humano na realidade exterior.
O tempo passou, e, segundo Flusser, o caráter eminentemente conotativo das imagens
tornou necessária a elaboração de uma linguagem que pudesse clarificar-lhes o sentido,
tornando-as transparentes. Dessa forma, a partir de sua simplificação e estilização, surgiu a
escrita, que é unidimensional61. No entanto, se, por um lado, a incapacidade do homem para
decifrar as imagens como significados do mundo provocou uma inversão da função dos
códigos imagéticos (o mundo passou a ser vivenciado como conjunto de cenas), com os textos
escritos ocorreu algo semelhante: criados para ser mediações entre o ser humano e as
imagens, eles passaram a tapá-las na medida em que também deixaram de ser decifráveis,
como é o caso, por exemplo, do hermetismo do discurso científico. Da idolatria, ou seja, a
60 Ver a terceira seção do primeiro capítulo deste trabalho. 61 Conforme já visto, Flusser (2002:9) lembra que a invenção da escrita inaugura a consciência histórica, caracterizada pela concepção da realidade como um processo.
83
vida em função da imagem, o ser humano passou à textolatria, a vida em função do texto
(FLUSSER, 2002:11).
O passo seguinte foi a invenção das imagens técnicas, veiculadas inicialmente pela
fotografia e pelo cinema, mas hoje tornadas onipresentes no mundo através da televisão e da
rede mundial de computadores interconectados. Ao contrário das imagens tradicionais (pré-
históricas), elas não se originam diretamente da observação humana do mundo, mas de textos
alfanuméricos (são, portanto, pós-históricas). De acordo com Flusser (2002:13-14), as
imagens técnicas prestam-se ainda menos à decifração:
Elas são dificilmente decifráveis pela razão curiosa de que aparentemente não necessitam ser decifradas. Aparentemente, o significado das imagens técnicas se imprime de forma automática sobre as superfícies, como se fossem impressões digitais onde o significado (o dedo) é a causa, e a imagem (o impresso) é o efeito. [...] Aparentemente, pois, imagem e mundo se encontram no mesmo nível do real: são unidos por cadeia ininterrupta de causa e efeito, de maneira que a imagem parece não ser símbolo e não precisar de deciframento. Quem vê a imagem técnica parece ver seu significado, embora indiretamente.
Imagens técnicas precisam ser decifradas a fim de que seu significado seja captado,
pois são símbolos altamente abstratos. Em realidade, o que se vê ao se contemplar uma
imagem técnica não é o mundo, mas certos recortes e conceitos relativos ao mundo, a despeito
da automaticidade da impressão do mundo sobre a superfície imagética. Sua aparente
objetividade é ilusória, uma vez que elas são tão simbólicas quanto qualquer imagem.
“Quando essas imagens são corretamente decifradas, surge o mundo conceitual como sendo o
seu universo de significado” (FLUSSER, 2002:14) Contudo, as pessoas tendem a confiar
nelas como confiariam nos seus próprios olhos. É o triunfo da fascinação.
Relativamente à decodificação imagética, interessante ponte une a filosofia de Flusser
aos estudos empreendidos por Norval Baitello Jr. Conforme vimos no primeiro capítulo, este
último autor defende que tanto as imagens quanto os textos registrados sobre suportes
materiais fixos ou móveis se caracterizaram secularmente pela exigência de um tempo lento
para leitura e decifração (BAITELLO JR., 2005:35). Trata-se do tempo da introspecção e
reflexão necessário para o confronto e diálogo entre essas imagens e as imagens interiores62,
operações necessárias para que o indivíduo aprenda a se ver e a ver o mundo.
Ocorre que o processo de reprodução técnica na presente era da comunicação em
tempo real provocou uma proliferação inflacionária dessas imagens nulodimensionais, cuja
velocidade de apresentação não mais estaria permitindo o tempo lento da decifração. Nas 62 A respeito das imagens endógenas e exógenas, bem como da relação entre elas, rever a segunda seção do Capítulo 1.
84
palavras de Ciro Marcondes Filho (2005:28), a civilização contemporânea tem se tornado a
“civilização da imagem”: “ver se tornou a grande diversão das massas, parece que não há
outra coisa na vida a não ser ver, Ver, ver, ver. Estamos inundados de imagem, sufocados por
tantas ilustrações, de tantas projeções, de tantas cenas, de tantos espetáculos.”
3.2.3 Violência imagética contra os vínculos
A inflação imagética consolidou a hegemonia da visão sobre os outros sentidos.
Orientada para a visibilidade, exterioridades e demonstratividades, a razão humana passou a
ter como uma das suas variantes mais atuais o princípio video ergo sum. Assim,
ser visto, aparentar, enfim, ser uma imagem, passam a ser o grande imperativo da era da orientação em seu apogeu. A coerção para transformar pessoas complexas, corpos vivos em imagens torna-se cada dia mais forte, irresistível mesmo, como uma forma estratégica de conquista. Transformados em imagens, os corpos devem integrar uma nova lógica de produção, passam a participar sem resistência desta nova ordem social. [...] Não importa ser, importa parecer. [...] As estratégias da imagem caminham lado a lado com as estratégias da produção e da economia predatórias (BAITELLO JR., 2005:20-21).
Distribuídas de modo cada vez mais invasivo pela disseminação do imaginário que
acompanha todo movimento cultural, as imagens estariam transformando os seres humanos
em imagens deles mesmos, imagens de corpos, imagens de profissionais, imagens de pais,
filhos, cidadãos, etc. O que vestir, o que comprar, o que comer, que silhueta corporal ter, com
o que brincar, apenas para mencionar alguns exemplos, deixam de ser decisões pessoais
humanas e passam a ser decisões pré-fabricadas e oferecidas pela publicidade mediática.
Mas isso ainda não é o pior. Segundo Baitello Jr. (2005:29), a lógica imagética atual
não representa apenas uma forma de violência contra a integridade do corpo e da vontade,
mas também contra as possibilidades de vínculos dialógicos entre os seres humanos: “as
imagens que nos cercam restringem nossa capacidade e autonomia de gerar vínculos mais
sadios, reais, de carne e osso, que nos alimentem a necessidade humana de fazer parte de um
tempo e um espaço de vida”. Em paralelo com essa última consideração e perfeitamente
alinhado à proposta filosófica do “Eu-Tu” de Buber, Marc Augé (2006:114) lembra que a
dependência da imagem isola o indivíduo e lhe propõe simulações do próximo:
Quanto mais eu estou na imagem, menos invisto na atividade de negociação com o próximo, que é, na reciprocidade, constitutiva de minha identidade. [...] O fato novo hoje em dia, em que reside o problema, é que com frequência a imagem já não representa um papel de mediação com o outro, mas, sim, se identifica com ele. A tela não é um mediador entre mim e os
85
que me são apresentados por ela. Não cria reciprocidade entre eles e eu. Vejo-os, mas eles não me veem. Esta mediação, naturalmente, pode existir em outro caso; posso ter um nexo familiar, político, amistoso ou intelectual com os que vejo na tela. O incômodo começa quando o simulacro se instala, quando a ficção faz as vezes de real, quando tudo acontece como se não houvesse outra realidade além da imagem.
Na sociedade da comunicação mediática, de acordo com Vicente Romano (1999), a
necessidade básica humana de relação com o outro é cada vez menos satisfeita. As pessoas
tentam, então, a compensar ficticiamente, ou virtualmente, suas carências e sua solidão
através dos meios que o desenvolvimento tecnológico atual lhes disponibilizou. De acordo
com o autor, a enorme demanda de “chat rooms”63 na Internet
revela a insatisfação de uma das primeiras necessidades humanas nesta sociedade do capitalismo avançado, o capitalismo tardio: a necessidade de espaços e tempos públicos para a relação social, de lugares para encontro, para conversação informal. É aí que se pode descobrir o que se têm em comum com os demais: gostos, insatisfações, desejos de mudar as coisas, em suma, gerar a solidariedade. Por isso se privatizam cada vez mais esses espaços e tempos a fim de fazer negócio com eles e enriquecer-se com as carências e os sentimentos humanos (ROMANO, 1999:34).
A propósito, os defensores da comunicação online argumentam que a Internet derruba
as barreiras à comunicação face a face, tais como a cor da pele, a idade, a posição social e os
títulos acadêmicos. Ou seja, em nenhum lugar é tão simples contatar pessoas de todo o mundo
e transmitir-lhes o que se queira. Um contraponto, porém, não pode ser desdenhado: o do
vazio gerado pela não presença. Sejam de onde forem, as pessoas tendem a organizar-se de
acordo com aqueles que compartilham os mesmos problemas, angústias e carências, sendo
esta comunicação plenamente possível apenas na proximidade face a face (ROMANO,
1999:36).
O que acontece quando esse tipo de contato elementar é substituído por textos escritos
e imagens? Harry Pross (1999:79) salienta um aspecto importante: o sinal perceptível emitido
via mídia terciária é diferente da sua interpretação, “a qual permite qualquer mentira devido à
distância entre produtor e consumidor, circunstância esta incontrolável”. Ao se apresentarem
umas às outras através de recursos imagéticos, as pessoas, por assim dizer, substituem-se por
imagens, o que lhes facilita aparentar o que não são.
O pesquisador Christoph Wulf, da Universidade Livre de Berlim, trabalha com a
noção de “promiscuidade das imagens”. Segundo ele, as imagens propagadas na atualidade à
velocidade da luz consistem numa nova forma de mercadoria, que torna o mundo uma
miniatura a ser vivenciada como imagem: 63 Espaços para conversar online.
86
Imagens são misturadas, são trocadas por outras, são remetidas mimeticamente a outras; nelas são tomadas partes de imagens e compostas de outra maneira; são produzidas imagens fractais que formam novas unidades a cada vez. Movimentam-se, remetem umas às outras. Sua aceleração as equipara: mimese da velocidade. Imagens diversas tornam-se semelhantes devido à sua pura bidimensionalidade, a seu caráter eletrônico e miniaturizante, apesar das diferenças de conteúdo (WULF, 2000:10).
Para Wulf (2000:10), o observador contemporâneo é arrebatado no turbilhão de
imagens que dissolve as coisas e as transporta para o mundo da aparência, estetizando a
política, a cultura e o social. Cada vez mais se produzem imagens sem lastro algum na
realidade, apenas como referência a imagens precedentes (autorreferência imagética; cf.
BAITELLO JR., 2005:54).
Sem contexto referencial, tais imagens são fractais: fascinam num jogo alucinante de
simulações. Não é de admirar que numa cultura vivida na imagem, as pessoas cada vez mais
se assemelhem umas às outras, à medida que sua individualidade também é dissolvida
(WULF, 2000:11-12). Nesse contexto, a mente humana acaba por criar verdadeiras molduras
nas quais enquadram o mundo e os semelhantes à sua volta:
É o que acontece num casal cujo relacionamento está desgastado: marido e mulher já não conseguem mais se comunicar: um vê no outro apenas uma imagem fixa desse outro que ele pôs na cabeça. Não se ouvem mais, não notam as diferenças ou as mudanças, não veem o outro, veem apenas aquele quadro imutável que está em sua cabeça (MARCONDES FILHO, 2005:31).
Somado a essa predeterminação imagética está o fato de que as imagens veiculadas
pelos media tendem a igualar os acontecimentos e nublar as fronteiras entre o real e a ficção
(AUGÉ, 2006:113). A notícia, por exemplo, da morte de milhares de pessoas num terremoto
real muitas vezes é apresentada como tendo o mesmo peso da notícia de um fracasso da
seleção brasileira e de milhares de mortos no enredo de um filme catástrofe. Tal confusão
certamente é prejudicial para a capacidade humana de se comover com a dor do outro.
Desprendendo-se, então, da realidade, surge um mundo da aparência e da fascinação
no qual se tenta convencer o público de que a imagem é pura reprodução do real, quando se
trata apenas de um simulacro (WULF, 2000:10-11; cf. FLUSSER, 2002:13). Como fica a
imaginação (a faculdade humana de criar e decifrar imagens) nesse contexto? Certamente
prejudicada, na visão de Wulf. Os textos sempre precisaram ser complementados por imagens
imaginadas, mas hoje a produção e transmissão de textos imagéticos impõe um óbvio limite à
imaginação. “Cada vez menos pessoas são produtoras, cada vez mais pessoas se tornam
consumidoras de imagens pré-fabricadas que praticamente não desafiam a fantasia” (WULF,
2000:11).
87
Finalmente, medite-se na seguinte consideração de Restrepo (2001:24) acerca da
condição necessária para que a ternura aconteça:
Continuando com o inventário de símbolos apreciados pelo Ocidente, símbolos que se opõem à enunciação da ternura, cabe mencionar ainda o Eu e a Identidade, que, em seu afã por concentrar imagens e manter a unidade em meio das provocações sensoriais e afetivas do ambiente, se constituem em diques que dificultam a vivência da fratura afetiva. Pois, por implicar uma descentração, um estar aberto ao outro, um deixar-se assaltar pelas intensidades ambientais que chegam ao nosso corpo, a ternura só pode enunciar-se a partir da fratura, vivenciada a partir de um ser atravessado pelo mundo.
As impressões do mundo proporcionadas pelo contato com as imagens multiplicadas
pelos media à nossa volta, embora possam constituir uma importante forma de conhecimento
na civilização contemporânea, jamais se prestarão a substituir o contato direto com mundo.
Um viver na imagem sempre será obstáculo para uma terna interação com o outro.
3.2.4 Restabelecendo a alteridade pela palavra
Sombrio como possa parecer o cenário pintado pelos autores mencionados acima, nem
eles nem este trabalho advogam no sentido de uma postura ingenuamente beligerante contra a
produção e veiculação das imagens técnicas. Como afirmou Dietmar Kamper (2001:12), “a
coisa mais difícil é, sem dúvida, uma existência sem imagens”. Flusser (2007:167), de igual
modo, deixou clara a centralidade da imaginação tanto para as ações do ser humano quanto
para sua compreensão do mundo: “Pode-se dizer o seguinte: que não é possível se orientar no
mundo sem que se faça antes uma imagem dele.” Fatos inteiramente condizentes com o
estágio atual de desenvolvimento tecnológico da humanidade, a difusão da imagem técnica e
sua participação na vida das pessoas são marcas indeléveis da civilização contemporânea.
Não obstante, os rumos tomados pela disponibilização e consumo da imagem exigem
na atualidade a pavimentação de caminhos alternativos que neutralizem ou, no mínimo,
arrefeçam os efeitos desagregadores da disfunção imagética “desdialogicizante”. Uma vez que
na filosofia de Martin Buber a palavra é dialógica por excelência, horizontes mais plenamente
luminosos para o encontro inter-humano talvez estejam parcialmente escondidos precisamente
nela. Diz-se parcialmente porque é possível encontrar estimulantes exemplos da palavra
relacional em ação. Mesmo hoje, nos veículos da comunicação eletrônica instantânea.
Como já vimos na segunda seção do capítulo 2, sabe-se, pelo menos desde Hipócrates
(c. 460-370 a.C.), que a palavra detém um poder dinâmico para o restabelecimento da saúde,
que se traduz em harmonia. Não foi à toa que a tradição hipocrática de medicina perpetuou
88
como uma de suas mais importantes características – a despeito do deplorável testemunho
oferecido pelas consultas-relâmpago tão em voga em nossos dias – o convite do médico para
que o paciente narrasse detalhadamente sua história (KÜNSCH, 2008:186). O ato de falar
sobre si mesmo e a realidade circundante, somado à interação com a palavra do médico,
constituía o primeiro passo em direção à cura. O seguinte parágrafo da jornalista e professora
Cremilda Medina (2003:47-48), já aludido neste trabalho, sintetiza com beleza e precisão a
importância do narrar para a existência humana:
Um dado incontestável que registro na trajetória das últimas décadas: a arte de narrar acrescentou sentidos mais sutis à arte de tecer o presente. Uma definição simples é aquela que entende a narrativa como uma das respostas humanas diante do caos. Dotado da capacidade de produzir sentidos, ao narrar o mundo, a inteligência humana organiza o caos em um cosmos. O que se diz da realidade constitui outra realidade, a simbólica. Sem essa produção cultural – a narrativa – o humano ser não se expressa, não se afirma perante a desorganização e as inviabilidades da vida. Mais do que o talento de alguns, poder narrar é uma necessidade vital.
Palavra que harmoniza. Texto que cura. Cura pela narrativa. Não seria exagero afirmar
que, enquanto campo articulador de narrativas originadas no presente real, o jornalismo se
mostra terreno fértil para o desenvolvimento e propagação do encontro “Eu-Tu” na
civilização contemporânea. Impregnada dessa certeza, a trajetória de Cremilda Medina
distingue-se pelo ensino da reumanização das pautas, da valorização da reportagem de
aprofundamento e da busca pela compreensão do cotidiano. Segundo ela, o grande desafio
narrativo que o jornalista da era tecnológica tem diante de si diz respeito ao abandono do
conforto representado, de um lado, pelas fórmulas engessadas nos manuais jornalísticos64, e,
de outro, pela facilidade de se obter informações sem o contato direto com as situações e
protagonistas sociais (MEDINA, 2003:40).
Carlos Alberto di Franco, ao refletir sobre a crise do jornalismo contemporâneo,
menciona o pensamento do jornalista Gay Talese acerca da ameaça representada pela internet
ao jornalismo de qualidade. De acordo com esse pioneiro do New Jornalism, a internet faz o
trabalho dos jornalistas parecer fácil, na medida em que o laptop lhes dá a sensação de
estarem conectados ao mundo. No entanto, seu mundo está dentro de uma sala e sua cabeça
está numa pequena tela, sendo esse o seu universo:
“Quando querem saber algo, perguntam ao Google. Estão comprometidos apenas com as perguntas que fazem. Não se chocam acidentalmente com nada que estimule a pensar ou a imaginar. Às vezes, em nossa profissão,
64 Veja-se, por exemplo, a fórmula da pirâmide invertida, que reduz o fato polissêmico por natureza a um recorte muitas vezes reducionista e superficial (MEDINA, 2003:36).
89
você não precisa fazer perguntas. Basta ir às ruas e olhar as pessoas. É aí que você descobre a vida como ela realmente é vivida” (DI FRANCO, 2011).
Reconhecendo-se como aprendiz e herdeiro das preocupações de Medina, o
pesquisador Dimas A. Künsch (2010a) sustenta que o pensamento compreensivo é aquele que
navega na contramão da nociva compulsão analítico-explicativa que nasceu do cientificismo
dogmático e migrou para os outros discursos da sociedade, incluindo aí o discurso
jornalístico. Tal como ocorre com o fenômeno imagético, os textos jornalísticos passaram a
ser vendidos pelas corporações comunicadoras como transcrições objetivas (reproduções) do
real, quando, na verdade, são construções tão simbólicas quanto o são as imagens (KÜNSCH,
2005:44).
Sendo assim, ao assumir o seu papel ao mesmo tempo mediador e autoral, o repórter
não deveria se envergonhar de produzir uma narrativa de tipo “cósmico”, “polifônico” ou
“polissêmico”. Longe de configurar um atentado contra a fidedignidade da informação, uma
narrativa desse porte estaria mais próxima de um diálogo com as possibilidades e incertezas
da vida cotidiana. Resumindo, as narrativas de cunho compreensivo,
além de lançar luz sobre os sentidos possíveis das coisas, conseguem revelar o teor das interrogações que os seres humanos levantam sobre as grandes e às vezes muito ordinárias questões que os preocupam e ocupam. Articulam sentidos possíveis em um dado momento da história e da cultura. Abrem, não fecham (KÜNSCH, 2010a:21).
Abertura... O termo parece mesmo apropriado e um exemplo levantado pelo próprio
Künsch talvez esclareça o motivo. Ao preparar sua tese de doutorado, defendida em 2004 na
USP, o pesquisador estudou mais de mil páginas de matérias sobre a guerra contra o Iraque,
publicadas nas três maiores revistas semanais brasileiras de informação geral entre setembro
de 2002 e setembro de 2003. Constatação reveladora: um único acorde dissonante destacou-se
em toda a massa orquestral. Opondo-se ao tom guerreiro uniforme, permeado de rasgos
opinativos dogmáticos, não raro entretecidos com explicações reducionistas e
preconceituosas, uma única reportagem65 buscou ouvir a voz das pessoas comuns nas ruas de
Bagdá.
Uma única narrativa genuinamente compreensiva captou dos iraquianos imagem bem
diferente daquela transmitida pelo jornalismo mediático brasileiro e, em geral, absorvida de
forma acrítica pelo imaginário popular. Eles também sentem dor, alegria, tristeza e amor.
Podem divertir-se com coisas tão prosaicas quanto uma partida de futebol e indignar-se com
65 A reportagem, de autoria da jornalista Beatriz Costa Barbosa, foi publicada na edição de 23/10/2002 da revista Isto é, com o título “Iraque, um país sitiado: população vive há 11 anos cotidiano de embargo econômico e agora enfrenta nova ameaça de guerra”.
90
coisas tão humanamente injustas quanto crianças morrendo de fome e enfermidade, vítimas de
um embargo econômico altamente mutilador. Apesar de tudo, continuam trabalhando,
formando famílias, nutrindo expectativas quanto ao futuro, enfim, vivendo a vida em suas
dimensões comuns a todos os seres humanos. Também são gente. A atitude compreensiva
abriu espaço para um novo sentido possível a partir da realidade e do outro. A atitude
compreensiva é antídoto contra a violência simbólica. Palavra que cura.
Vários outros trabalhos jornalísticos como esse sem dúvida têm aparecido nos media,
mas em quantidade ainda proporcionalmente reduzida. Isso sugere um desafio crucial tanto
para as instituições comunicadoras dos dias atuais, quanto para as escolas que formam os
profissionais desse setor: desafiar o narrador das histórias do presente quanto à importância
essencial do efetivo encontro dialógico com o outro, sem a interposição de imagens
preestabelecidas em sua mente ou definidas pela aparência superficial dos fatos e indivíduos.
É aí que se reserva entesourada a grande contribuição que o jornalismo pode oferecer contra a
incompreensão alimentada, em grande parte, pela difusão imagética autorreferente e
padronizadora. Ao reassumir, assim, seu posto mediador original, a palavra escrita poderia
evocar imagens que de fato aproximassem o ser humano do mundo e dos seus semelhantes.
Retomando nestas últimas linhas a proposta de relação inter-humana significativa
incentivada pela obra de Buber, cabe aqui, não a título de finalização, mas justamente de
abertura, mais condizente com a proposta de um conhecimento que se pretenda compreensivo,
a poética metáfora cunhada por Restrepo (2001:17). A palavra dialógica envolvida no
encontro de tipo “Eu-Tu”, sem prejuízo da força e solidez, pode revestir-se de ternura,
simpatia e vitalidade emotiva, de modo que verdadeiramente acaricie, em vez de violentar.
91
4 O TEXTO ESCRITO E A IMAGEM NOS CURSOS DE JORNALISMO
4.1 Do comportamento curricular à opção discente
Os três capítulos anteriores expuseram o cenário hipertrófico de imagens que
respeitados pesquisadores apontam como tendo se estabelecido na civilização contemporânea.
Também foi vista a importância milenar da narrativa para a vida humana e como o ato de
narrar é ameaçado pelas consequências perniciosas da exposição exagerada de imagens pelos
meios de comunicação (principalmente eletrônicos).
Contar uma história (em especial do presente imediato, mas não só dele) é a operação
mais básica pela qual se manifesta a atividade jornalística, e a palavra escrita ainda é um dos
meios mais profícuos de transmissão daquilo que se conta. A ideia de que o melhor material a
ser usado na tessitura da narrativa geralmente provém da experiência interativa do narrador
com o outro, com o mundo e com os acontecimentos se reveste de força muito particular no
jornalismo. Na medida em que se posicionam como verdadeiras barreiras por meio dos
diversos mecanismos e características discutidas neste trabalho, as imagens impedem o acesso
direto ao outro e aos fatos, fragilizando o próprio alicerce do fazer jornalístico.
O exemplo relatado no final do capítulo anterior mostrou como um conjunto de
imagens técnicas produzidas a partir de uma determinada forma de olhar para um evento (e
veiculadas pelos media como se este, de fato, fosse o único olhar possível) consolidou
ideologicamente um padrão de distorção e preconceito que definiu o direcionamento de
praticamente todas as abordagens jornalísticas sobre o referido evento no período apontado.
Da mesma forma, diversos outros exemplos de interferência imagética e
empobrecimento da narrativa poderiam ser pinçados do jornalismo dito profissional de nossos
dias, a começar pelo péssimo costume disseminado entre as empresas de comunicação de
abusar coletivamente das imagens difundidas por agências de notícias. A difusão do olhar uno
e padronizado sempre atentará contra uma das mais importantes qualidades jornalísticas: a
captação criativa dos múltiplos ângulos, sentidos e significados possíveis nos acontecimentos.
Sem dúvida, a crise narrativa e sua relação com a reprodução veloz, hiperinflacionária
e indiscriminada da imagem podem ser facilmente observadas no jornalismo cotidiano,
bastando ligar a televisão, acessar a internet ou ler algumas páginas de jornais e revistas
impressas. Mas e quanto aos cursos de Comunicação, que preparam os profissionais que a
92
cada ano entram para o mercado de trabalho jornalístico? Como se comportam as escolas de
Jornalismo diante do problema imagético e textual que desafia hoje a produção da boa
reportagem? Somente um estudo mais detido poderia revelar algo a respeito.
Esta seção investigará uma amostra significativa de cursos de Jornalismo brasileiros,
não tanto com o objetivo de estabelecer uma resposta final e definitiva para a pergunta acima
(o que, aliás, não se harmonizaria com uma aproximação compreensiva do tema), mas de
levantar elementos para uma reflexão conjunta das escolas sobre o seu papel no ensino da
narrativa escrita de qualidade numa época em que, como afirma Kamper (1998), a sociedade é
amplamente afetada pelos distúrbios da imagem.
As três escolas selecionadas cobrem representativamente um espectro amplo de cursos
de jornalismo, tanto da esfera pública quanto privada. A primeira delas é a Faculdade Cásper
Líbero (São Paulo, SP), de cunho privado. Normalmente tido como um dos melhores do país
(quando não o melhor), o curso de Jornalismo da instituição ainda conta com o privilégio
histórico de ser o mais antigo em atividade, datando sua fundação de 1947.
A segunda é a Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo
(São Paulo, SP), de cunho público. Iniciado em 1968, o curso de Jornalismo da instituição é
um dos cursos universitários mais concorridos do Brasil. Finalmente, o Centro Universitário
Adventista de São Paulo (Engenheiro Coelho, SP) representa aqui as escolas particulares mais
recentes de ensino de Jornalismo. Seu curso de Jornalismo iniciou as atividades no ano de
2000.
Como metodologia de estudo, escolheu-se aproximar do objeto inicialmente pelas
matrizes curriculares dos cursos. Através da identificação das disciplinas que são oferecidas,
bem como da quantidade de horas para elas reservadas, buscou-se levantar as modalidades
jornalísticas e conhecimentos que recebem maior ênfase em cada curso. A seguir, foi feita
uma verificação dos planos de ensino de cada disciplina oferecida para obtenção de detalhes
mais precisos de conteúdo que possibilitassem distinguir mais claramente o comportamento
do currículo em relação a imagem e texto escrito.
Concluída a pesquisa curricular, realizou-se um levantamento dos Trabalhos de
Conclusão de Curso apresentados em cada instituição num determinado período, com o
objetivo de descobrir que modalidades jornalísticas são preferidas pelos alunos para a
confecção de seus projetos ao final do curso. E, fechando esta parte de análise documental, foi
feita uma averiguação da forma como se desenvolvem os processos seletivos que definem o
ingresso de alunos nos três cursos mencionados.
93
Finalmente, o último recurso metodológico para o estudo dos cursos foi o da entrevista
em profundidade, realizada com coordenadores e professores. Embora esta seção já antecipe
alguns trechos dessas conversas, elas estão reservadas para a seção de encerramento deste
capítulo.
4.1.1 Faculdade Cásper Líbero
4.1.1.1 Componentes curriculares a ser destacados
O curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero mantém uma grade curricular com
35 disciplinas em dinâmica anual66 de curso (com apenas uma exceção, cada disciplina conta
com 64 horas/aula por ano), perfazendo um total de 2.304 horas/aula ao final dos quatro anos.
Além das disciplinas, estão previstas 384 horas para atividades complementares distribuídas
ao longo do curso, e 448 horas para o desenvolvimento do projeto experimental no quarto
ano, o que totaliza 3.136 horas de curso.
Uma apreciação da grade curricular do curso67 revela, em primeiro lugar, uma
preocupação evidente com o texto, representada pelo fato de haver, durante os quatro anos (ou
oito semestres), disciplinas voltadas especificamente para os estudos da linguagem e da
produção textual. Assim, nos dois primeiros anos do curso, existe a matéria de Língua
Portuguesa (I e II), sendo que a carga horária para a disciplina no primeiro ano é o dobro (128
horas) da carga oferecida para as demais disciplinas (64 horas). Em seguimento, nos dois
últimos anos é oferecida a matéria de Técnica de Redação (I e II).
O plano de ensino da disciplina de Língua Portuguesa coloca como objetivo “exercitar
o domínio das modalidades oral e escrita em diferentes gêneros textuais”, procurando
relacionar o conhecimento sobre produção textual com o discurso jornalístico. Além disso,
busca “criar condições para que os alunos se tornem redatores proficientes”, com domínio da
“norma culta”, “dos recursos expressivos da língua”, dos “registros adequados à situação de
uso”, dos “recursos que proveem o texto de coesão e coerência”. Literatura, gramática e
66 O coordenador do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, professor Igor Fuser, informou, em entrevista concedida em 16/8/2011 ao autor desta dissertação (vide anexos), que está em andamento um processo de debates envolvendo o corpo docente do curso no sentido de uma reformulação curricular. Uma das mais importantes alterações previstas é a passagem do regime anual para o semestral das disciplinas. 67 As matrizes curriculares das três instituições tomadas aqui como objeto de pesquisa podem ser conferidas nos anexos desta dissertação. Evitou-se anexar os planos de ensino das disciplinas em função da quantidade excessiva de páginas que os mesmos ocupariam.
94
jornalismo se conjugam, segundo a proposta de aula, no sentido de enriquecer o fazer
redacional dos alunos. A quantidade e qualidade dos textos produzidos constituem um dos
principais instrumentos pelos quais se dá a avaliação na disciplina (também se utilizam os
seminários e as provas escritas).
A disciplina de Técnica Redacional objetiva aprofundar o aprimoramento do futuro
jornalista nas habilidades analítica e discursiva. Considerando “o enlace entre as normas culta
e coloquial” exigido pela linguagem veicular jornalística, a disciplina se propõe “oferecer
fundamentos linguísticos por meio dos quais se asseguram a eficácia da comunicação e a
criatividade do profissional que informa, interpreta e opina”. Um ponto interessante que
consta dos objetivos específicos da disciplina é o exame das aproximações e diferenças entre
os discursos jornalístico e literário; tal exame se concretiza no estudo de Poética, Estilística,
Retórica, Gramática e Teoria Literária. A produção de textos é a única forma de avaliação dos
alunos.
A matriz curricular da Faculdade Cásper Líbero, surpreendentemente, não prevê uma
disciplina específica com o nome de Jornalismo Impresso. Esse ramo jornalístico aparece,
com maior ou menor intensidade, em certas disciplinas. Assim, a ênfase da disciplina de
Técnicas e Gêneros Jornalísticos (Jornalismo Básico I), oferecida no primeiro ano, está em
“fornecer ao aluno as teorias e técnicas elementares de jornalismo, especialmente na
modalidade impressa, além de uma visão geral do exercício da profissão” (grifo nosso). O
estudo se dá a partir de quatro ações fundamentais: pauta, reportagem, redação e edição. A
avaliação se dá por meio de três exercícios bimestrais escritos, os quais são corrigidos e
comentados pelo professor ao longo do ano.
Na continuação da disciplina de Técnicas e Gêneros Jornalísticos (Jornalismo Básico
II), embora não se mencione de forma direta no plano de ensino um destaque para o
Jornalismo Impresso, ele fica claro especialmente no último bimestre do curso, quando são
abordadas as especificidades dos veículos jornal e revista. Entre outros exercícios, quatro
reportagens são solicitadas pelo professor, sendo as duas últimas reportagens de profundidade.
Chama a atenção o objetivo indicado de “propiciar um contato com os desafios cotidianos da
reportagem e do texto jornalístico”.
No seu terceiro ano (Jornalismo Básico III), a disciplina conta com exercícios práticos
“em laboratórios de apuração, fotografias, redação, edição e design, tanto para veículos em
papel (jornal e revista), como também – e principalmente – para as novas mídias digitais”
(grifo nosso). Assim, embora a ênfase esteja na produção jornalística voltada para as mídias
digitais (o plano de ensino prevê a construção de um veículo online para divulgação de
95
conteúdos), a disciplina não deixa de valorizar a reportagem bem apurada, escrita e editada
que caracteriza há mais de um século a melhor face do jornalismo impresso.
As mídias digitais sem dúvida consistem num campo vasto e promissor para
veiculação jornalística, não podendo mais deixar de ser contempladas em qualquer currículo
de Jornalismo. Nesse sentido, a disciplina de Jornalismo Básico III desenvolve-se de forma
interdisciplinar com a matéria de Novas Tecnologias de Comunicação. Como projeto
conjunto, as disciplinas lançaram no primeiro semestre de 2011 o jornal digital Paulista
90068, focado na cobertura jornalística da região da Avenida Paulista. Chama atenção nesse
site a diversidade das pautas e a qualidade textual das matérias.
O principal veículo laboratório de jornalismo do curso pertence à modalidade
impressa. O jornal Esquinas de S.P. foi lançado em 1996 e, em 2007, mudou seu formato,
passando a ser uma revista semestral intitulada apenas Esquinas69, com 72 páginas.
Editorialmente falando, trata-se de um produto requintado, com alto padrão gráfico (impresso
em papel couché, miolo inteiro em quatro cores, tamanho 31 x 23cm). Embora a diagramação
se utilize de forma ampla e profissional das cores, ilustrações e fotografias, o ponto forte do
material, sem dúvida, está no texto. Bem cuidadas do ponto de vista de forma e conteúdo, as
reportagens evidenciam um trabalho acurado de pauta, apuração, escrita, edição e revisão. A
estruturação das pautas em torno de um tema escolhido por edição proporciona agradável
sensação de unidade e continuidade. Recentemente, foram incluídos o ensaio, a crônica, o
conto e a charge como possibilidades de produção textual para o periódico.
A revista Esquinas não é uma atividade obrigatória no curso, mas alunos de todos os
anos podem participar, aproveitando esse tempo como horas complementares. Devido à
inexperiência dos alunos de primeiro ano e da preocupação dos alunos de quarto ano com
TCC, predominam no veículo laboratorial os discentes do terceiro e quarto anos. Além do
óbvio benefício da participação dos alunos nos diversos estágios da produção e edição da
reportagem (desde a sugestão do tema geral e reuniões de pauta até a finalização editorial das
matérias), essa integração entre alunos de diversos anos do curso parece bastante salutar.
Criatividade, visão crítica e pontualidade também são fortemente estimulados pela equipe
editorial, formada por professores e alunos. Em média, participam 100 alunos por edição.
Menos festejado que a revista Esquinas, outro veículo impresso laboratorial da
instituição tem importância por ser o mais antigo jornal-laboratório para alunos de Jornalismo
68 O jornal disponível no endereço: <http://www.paulista900.com.br>. Acesso em: 9 jan. 2012. 69 A versão digitalizada da revista Esquinas (incluindo os números anteriores) se encontra disponível no endereço: <http://www.casperlibero.edu.br/canais/index.php/revista-esquinas,c=262>. Acesso em: 10 jan. 2012.
96
do Brasil. Trata-se do jornal bimestral A Imprensa, fundado em fevereiro de 1949, e que se
tornou uma revista mensal de 12 páginas a partir do ano de 1996. Após um período com
alguns hiatos, o periódico tornou-se, desde 2004, um house organ, integrando todas as áreas
da Fundação Cásper Líbero, o que inclui as demandas dos funcionários da instituição.
O segundo veículo laboratorial de jornalismo mais importante da faculdade é o jornal
televisado Edição Extra. O programa conta com a vantagem de a fundação manter um canal
de televisão aberta, a TV Gazeta, que transmite o programa desde dezembro de 1996 nas
madrugadas do primeiro domingo de cada mês. A partir de 2005, o jornal passou a poder ser
visto também pela internet. O objetivo desse projeto é possibilitar aos alunos (não somente de
Jornalismo, mas também de Rádio e TV) a participação em todo o processo de produção de
um programa. Os próprios alunos sugerem, produzem, editam e apresentam as próprias
matérias sob acompanhamento de um professor responsável. A exemplo das revistas
anteriores, a participação dos alunos nas edições desse jornal televisado é livre.
Cumpre mencionar ainda a Rádio Universitária Gazeta AM, que tem seu espaço na
Rádio Gazeta 840 KHz AM. A rádio funciona desde 1996 e, em 1999, tornou possível a
participação de estudantes universitários de outras regiões do país. A partir de março de 2011,
suas programações passaram a ocupar todas as manhãs, com a participação de seis alunos
fixos e 45 colaboradores dos diversos cursos da faculdade, que ficam responsáveis pelo
preenchimento do horário.
Além da disciplina de Fotojornalismo, cujo plano de ensino reserva um tópico de aula
para o tratamento semiótico da imagem fotográfica, a única disciplina do curso de Jornalismo
da Faculdade Cásper Líbero que reserva em seu programa algum espaço para teoria da
imagem é Design Gráfico e Jornalismo em Revista, oferecida no último ano de curso. Eis
alguns pontos destacados da ementa: “A cultura da imagem e os modos de ver. A educação do
olhar. A comunicação visual em revista e os elementos do design: texto e imagem, tipografia,
fotografia, a utilização das cores. [...].” Entre os itens especificados na proposta de plano de
aulas, estão “as leis da visualidade e a Gestalt do objeto”, “o que é imagem no design editorial
– leis do jornalismo visual”, “o texto em revista – o ritmo e o casamento com o visual”. A
matéria prevê a elaboração de uma revista pelos alunos divididos em grupos.
4.1.1.2 Trabalhos de conclusão de curso
A Faculdade Cásper Líbero oferece a possibilidade de os alunos se organizarem em
grupos para a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso. Na prática, esses grupos
97
atingem, no máximo, quatro componentes. Segue abaixo a divisão dos TCCs de Jornalismo da
instituição, do ano de 2007 a 201070, segundo a modalidade jornalística escolhida para sua
realização.
Faculdade Cásper Líbero - TCCs dispostos por modalidade
ANO 2007 2008 2009 2010
Projetos em jornalismo impresso / número de livros reportagem produzidos entre eles
45/39 48/44 30/26 35/22
Videodocumentários 12 5 14 19
Monografias 5 9 5 4
Webjornalismo 5 - 1 3
Podcast (áudio) 3 - - -
Radiojornalismo 1 3 4 2
Projeto para Celular 1 - - -
Assessoria de imprensa 1 - - -
Não identificados 2 1 1 -
TOTAL 77 66 55 64
De acordo com a tabela acima, de 2007 a 2010, foram apresentados pelos alunos
egressos de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, 262 trabalhos de conclusão de curso, dos
quais 158 (60,3%) foram projetos de jornalismo impresso. Desse total, houve uma maioria
esmagadora de 131 trabalhos (83%) na modalidade de livro reportagem, sendo quase todo o
restante dividido entre revistas impressas e almanaques (realizaram-se apenas 2 trabalhos na
modalidade de jornal impresso).
Se subtrairmos do total as revistas (para as quais há possibilidade de uma ênfase maior
no conteúdo imagético), e acrescentarmos as 23 monografias que também foram apresentadas,
teremos, no mínimo, 156 (59,5%) trabalhos finais privilegiando o texto escrito produzido para
ser lido em página impressa. Nas palavras do próprio coordenador do curso, professor Igor
Fuser, esse tipo de texto, em relação àqueles produzidos para outras modalidades, requerem
mais profundidade, um conhecimento mais completo, mais denso. Elaborar uma longa matéria, com 20, 30 parágrafos, articulando todo um pensamento, mesmo um pequeno ensaio sobre determinado assunto, é muito diferente do que produzir 20 linhas para jogar na internet. [...] A capacidade de comunicação desses dois meios (rádio e TV) é impressionante. No entanto, a
70 A coordenação do curso de Jornalismo informou não possuir um histórico dos TCCs anteriores a 2007.
98
tradição que se formou é de uma abordagem superficial dos assuntos. Quanto tempo dura uma notícia num telejornal? 15 segundos, 30 segundos? Um minuto já é uma notícia de fôlego na televisão. Uma matéria de 3 minutos, 5 minutos é praticamente um especial, um documentário. [...] A profundidade está relacionada com o tempo; tempo para as ideias serem expostas, as informações serem expostas e para as ideias serem processadas pelo receptor71 (informação oral).
Os videodocumentários perfazem 19% (50 trabalhos) do total de TCCs, vindo na
sequência os projetos radiojornalísticos (3,8%) e para a web (3,4%).
Esses números expõem uma opção preferencial dos alunos de Jornalismo da
Faculdade Cásper Líbero, ao término do curso, pelo trabalho com o texto escrito de grande
envergadura. O fato de metade dos TCCs no período observado consistirem em livros
reportagem parece ser coerente com a ênfase que o curso coloca no trabalho com a produção
textual, conforme se vê em seu programa curricular.
Certamente o exame vestibular72 da instituição, realizado em apenas uma fase, tem
participação nesses resultados. A redação exigida no exame representa 50% do total da nota
do vestibular, ou seja, a Faculdade Cásper Líbero valoriza muito mais o nível de escrita para a
seleção de candidatos do que as outras instituições pesquisadas, conforme se verá abaixo.
Juntamente com esse fator, a expressiva relação candidato/vaga (11,14 para o período diurno
e 6,32 para o período noturno no processo seletivo de 2012) e o valor da mensalidade definida
para o curso (R$ 1.068,00 em 2011 – o que pressupõe, em geral, acesso de alunos com melhor
poder aquisitivo e, por conseguinte, melhor escolarizados), garantem normalmente o ingresso
de alunos com bons níveis de texto.
4.1.2 Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
4.1.2.1 Componentes curriculares a ser destacados
O curso de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de
São Paulo desenvolve-se em dinâmica semestral, oferecendo 30 disciplinas obrigatórias
(cinco delas laboratoriais) com cargas horárias diferenciadas, perfazendo um total de 3.390
71 Entrevista concedida pelo professor Igor Fuser ao autor deste trabalho em 16 de agosto de 2011. Vide anexos. 72 O manual do Vestibular 2012 da faculdade pode ser acessado em < http://www.casperlibero.edu.br/ rep_arquivos/2011/10/17/1318874337.pdf>. Acesso em 15 jan. 2012.
99
horas/aula, conforme pode ser visto em sua matriz curricular73. Para os projetos
experimentais, a instituição reserva 675 horas no último semestre do curso, que, somadas às
horas previstas para as disciplinas, totaliza 4.065 horas. Além dessa estrutura curricular
obrigatória, os alunos ainda têm a possibilidade de cursar até 525 horas de disciplinas
optativas livres, segundo sua escolha.
Em relação ao tema desta dissertação, dois aspectos principais podem ser inicialmente
destacados de um estudo da matriz curricular do curso. O primeiro deles é o fato de a ECA
(ao contrário da Faculdade Cásper Líbero) manter apenas três semestres (ou períodos)
dedicados ao estudo específico da língua e do texto por meio das disciplinas de Ciências da
Linguagem – Fundamentos das Práticas Midiáticas I, II e III.
A ênfase geral dessa matéria, de acordo com os respectivos planos de ensino74, está no
estudo filosófico da linguagem, semiologia, semiótica da língua e análise do discurso. O
segundo semestre, no entanto, prevê uma exploração da noção de narrativa, contemplando
suas estruturas, funções, eixos e elementos articuladores, além de reservar espaço para tratar
das peculiaridades narrativas do meio impresso e do meio audiovisual.
Somente no terceiro semestre (Ciências da Linguagem III) é que a disciplina cobra
com finalidade avaliativa a produção de textos jornalísticos pelos alunos. O programa de aulas
contempla outros pontos relevantes para a produção da narrativa jornalística, tais como “o
prazer do texto”, “a questão da autoria/limites da intervenção”, “relação entre literatura e
jornalismo”, “informação como forma cultural e arena simbólica”, “linearidade e não
linearidade textuais”. O item “do verbal ao visual: narrativas hipertextuais” parece conter
alguma discussão sobre a relação entre o ato de narrar e a imagem.
Em entrevista concedida ao autor deste trabalho em 17 de agosto de 2011, o professor
José Coelho Sobrinho, chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA, afirmou
que a escola vem notando, nos últimos anos, um gradativo empobrecimento linguístico das
turmas de Jornalismo, situação que tem motivado discussões docentes no sentido da
reinserção no currículo da disciplina de Língua Portuguesa:
Eles [os alunos] já vêm do ensino médio com dificuldade de se expressar. Nós não tínhamos Língua Portuguesa no nosso currículo. Agora haverá dois semestres antes de Ciências da Linguagem, porque o que todos temos notado é que os alunos não estão mais conseguindo montar os períodos. Estamos sugerindo que essa disciplina retorne fazendo um estudo não apenas das
73 Vide Anexos. 74 A ECA-USP é a única das três escolas aqui pesquisadas que disponibiliza online todos os planos de ensino das disciplinas oferecidas no curso, tanto as obrigatórias como as optativas livres. O acesso pode ser feito pelo endereço: <http://www3.eca.usp.br/graduacao/cursos>. Data do último acesso: 17 jan. 2012.
100
regras, mas da argumentação. Os alunos têm dificuldade até de dar o título...75 (informação oral).
O segundo aspecto acima aludido é o de que a matriz curricular da ECA coloca ênfase
notável no jornalismo impresso. Existe uma disciplina laboratorial intitulada Jornalismo
Impresso em quatro semestres do curso, com uma quantidade de horas comparativamente
maior em relação com o tempo previsto para outras modalidades.
Assim, a partir do terceiro semestre, a escola oferece Laboratório de Jornalismo
Impresso I (240 horas), II (330 horas) e III (225 horas). Após o intervalo de um semestre, a
disciplina volta no sétimo período com o título de Laboratório de Jornalismo Impresso –
Revista (210 horas). Ao todo, portanto, Jornalismo Impresso ocupa nada menos que 1.005
horas/aula das 3.390 totais do curso (cerca de 30%). Considerando que a disciplina de
Laboratório de Iniciação ao Jornalismo, oferecida no primeiro semestre, tem por objetivo
iniciar os alunos nas técnicas e conceitos do jornalismo através da experiência prática de um
jornal impresso com edição quinzenal76, contando com 240 horas/aula, essa porcentagem sobe
para cerca de 37% (1.245 horas) do total.
Voltando às matérias laboratoriais de Jornalismo Impresso, o primeiro semestre da
disciplina (terceiro período na matriz curricular) propõe exercícios, relatórios, debates e a
alimentação de uma agência de notícias online77, trabalhando pauta, apuração de dados,
estrutura da notícia, título e edição. Entretanto, é em Laboratório de Jornalismo Impresso II
(quarto período) que os alunos têm oportunidade de produzir o principal veículo laboratorial
de jornalismo da ECA: o Jornal do Campus. Trata-se de um jornal de oito páginas em
formato standard (52,5 x 29,7cm de mancha), com edição quinzenal, todo impresso em quatro
cores e em papel jornal. A ênfase temática das pautas está no próprio dia a dia na Cidade
Universitária, vista em suas múltiplas facetas, embora também haja presença de temas gerais
das áreas cultural, esportiva, econômica e política. O fato de só haver uma outra disciplina
(História do Jornalismo II, com 90 horas) nesse semestre, favorece o compromisso dos alunos
com a produção do periódico.
A disciplina de Laboratório de Jornalismo Impresso III (quinto período) produz um
suplemento em formato tabloide, também com oito páginas e em quatro cores, intitulado
75 Entrevista concedida pelo professor José Coelho Sobrinho ao autor deste trabalho em 17 de agosto de 2011. Vide anexos. 76 Trata-se do jornal “Notícias do Jardim São Remo”, distribuído na comunidade do Jardim São Remo, em São Paulo. 77 Trata-se da Agência Universitária de Notícias (AUN), disponível em: <http://www.usp.br/aun/_reeng/ quem.php?cod_menu=quem>. Acesso em: 16 jan. 2012.
101
Claro!, que é encartado nas edições quinzenais do Jornal do Campus. É um produto cujas
pautas se organizam em torno de um tema, normalmente tratado com bom humor e liberdade
criativa. Tanto o Jornal do Campus quanto o suplemento Claro! possuem sites com design
próprio78, nos quais os alunos podem desenvolver conhecimentos práticos em jornalismo para
web. Todo o conteúdo, incluindo as edições anteriores está ali disponibilizado.
A disciplina de Laboratório de Jornalismo Impresso – Revista (sétimo período)
também possui um instrumento laboratorial, que é a revista semestral Babel, publicada nas
versões impressa e online79. Com proposta de um tema por edição e foco em reportagens de
profundidade, a revista se caracteriza pela elaboração criativa e inusitada das pautas, bem
como pelo tratamento caprichado das narrativas jornalísticas. A revisão e edição são
primorosas. O objetivo geral da disciplina é “consolidar a capacitação do aluno para o uso das
linguagens mais sofisticadas do Jornalismo Impresso, com particular valorização das
exigências técnicas, estéticas, éticas e intelectuais das atividades de edição, redação e criação
visual”. Embora haja um item relativo a design para revista no programa, este está
basicamente focado em experimentar linguagens de vanguarda para a construção da narrativa
e argumentação jornalística na comunicação impressa.
Em comparação com o jornalismo impresso, as modalidades radiofônica e televisiva
de jornalismo recebem tratamento mais modesto no currículo da ECA, a começar pela
quantidade de horas/aula. No caso do jornalismo televisivo, há duas disciplinas semestrais,
que são Telejornalismo (quinto período), com 120 horas, e Projetos em Televisão (sexto
período), com 180 horas. Para jornalismo radiofônico, as disciplinas são Radiojornalismo
(quinto período), com 150 horas, e Projetos em Rádio (sexto período), com 150 horas.
Somando a quantidade de horas/aula dessas disciplinas com as 120 horas da disciplina
introdutória de Jornalismo no Rádio e na TV, oferecida no segundo período como requisito
para elas, teremos um total de 720 horas dedicadas a rádio e TV. Caso acrescentemos a essas
horas, as 120 previstas para Jornalismo Online (sexto período), chegaremos a uma
constatação relevante: enquanto o currículo de Jornalismo da ECA reserva, no mínimo, 1.005
horas/aula apenas para a modalidade impressa, divide 840 horas entre as três outras
modalidades jornalísticas contempladas.
Outra diferença entre o programa de jornalismo impresso e o das demais disciplinas
está em que estas últimas não possuem nenhum instrumento laboratorial específico e
78 Os sites são, respectivamente, os seguintes: <http://www.jornaldocampus.usp.br/> e <http://www.claronline. com.br/>. Ambos acessados em: 16 jan. 2012. 79 Disponível em: <http://www.eca.usp.br/babel/>.
102
destacado, que seja veiculado de forma extraclasse. Tanto a disciplina de Projetos em Rádio,
quanto a de Projetos em Televisão preveem a elaboração de programas e análise crítica dos
resultados, mas tudo no próprio âmbito das aulas.
Cabe uma última observação quanto ao currículo de Jornalismo da ECA. Não há no
programa de qualquer das aulas nenhuma discussão crítica mais aprofundada sobre o uso das
imagens. Os conteúdos previstos sobre o tópico, em geral, gravitam em torno dos aspectos
mais técnicos da teoria da imagem, tais como cor e composição. Apenas um item no programa
de Fotojornalismo se refere a “análise e edição de imagens”.
4.1.2.2 Trabalhos de conclusão de curso
A Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo estipula em seu
regulamento dos Projetos Experimentais a elaboração individual dos trabalhos: cada aluno
deve desenvolver o seu próprio projeto. Do ano de 2006 a 201080, os TCCs de Jornalismo da
ECA, segundo a modalidade jornalística escolhida para sua elaboração, se distribuíram da
seguinte forma:
ECA (USP) - TCCs dispostos por modalidade
ANO 2006 2007 2008 2009 2010
Projetos em jornalismo impresso / número de livros reportagem produzidos entre eles
17/15 26/22 16/13 8/8 11/7
Videodocumentários 5 3 6 6 7
Monografias 17 15 17 16 10
Radiojornalismo 3 1 - - -
Não identificados 1 5 9 14 31
TOTAL 43 50 48 44 59
Segundo a tabela acima, foram apresentados pelos alunos formandos de Jornalismo da
Escola de Artes de Comunicações da USP 141 TCCs, dos anos de 2006 a 2008. Desse total,
80 Uma vez que o Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA não mantém qualquer controle documental dos Projetos Experimentais apresentados pelos alunos formados, a saída foi tentar localizá-los na biblioteca da escola, uma tarefa cansativa e demorada. Por exiguidade de tempo, vários TCCs dos anos de 2009 e, sobretudo, de 2010, ficaram sem identificação da modalidade jornalística. Considerando, porém, que a relação de projetos apresentados de 2006 a 2008 se encontra praticamente completa, e que as listas levantadas de 2009 e 2010, embora incompletas, indicam a mesma tendência verificada nos anos anteriores, decidiu-se preservá-las aqui.
103
59 projetos (42%) foram em jornalismo impresso, sendo que 50 deles (a grande maioria,
portanto) foram desenvolvidos na modalidade de livro reportagem. Essa constatação não deve
surpreender, levando-se em conta a marcante ênfase curricular que o curso coloca na área do
jornalismo impresso. Não bastasse esse destaque, a matriz curricular ainda contém uma
disciplina específica para elaboração de livros reportagem (Especialização em Jornalismo:
Livro Reportagem, com 90 horas, oferecida no quinto período).
O segundo dado que chama a atenção na listagem é o número expressivo de
monografias verificado no período. De 141 projetos experimentais, 49 (34%) foram trabalhos
monográficos. Dois motivos podem ser apontados para essa opção: 1) o cuidado com o texto
escrito que obviamente é demonstrado pela instituição tanto nos conteúdos de aulas quanto
nas diversas atividades laboratoriais; e 2) a vocação histórica da instituição como um todo
(USP) pela área da pesquisa acadêmica.
Se somarmos os 59 projetos em jornalismo impresso com as 49 monografias listadas,
teremos 108 trabalhos majoritariamente centrados em texto escrito, o que representa 76,5% do
total de 141 TCCs apresentados. Quanto à porcentagem restante, a única modalidade que se
afigura relevante, de acordo a relação de TCCs apresentados no período, é a de
videodocumentário, com 14 trabalhos (10% do total).
Saliente-se que as listas de TCCs de 2009 e 2010, embora tenham ficado com um
número elevado de lacunas (principalmente a de 2010), parecem indicar a mesma tendência
de preferência textual escrita na escolha dos alunos.
Resta acrescentar alguma informação sobre o exame vestibular para ingresso no curso
de Jornalismo da ECA-USP, que é realizado pela Fuvest (Fundação Universitária para o
Vestibular), órgão cuja competência na estruturação das provas é amplamente reconhecida.
Tradicionalmente, esse o curso de Jornalismo da USP tem sido um dos mais concorridos do
país, o que mais uma vez se verificou na relação candidato/vaga no vestibular Fuvest 2012:
disputaram cada vaga 39,78 candidatos81. Mesmo que a USP mantenha programas de inclusão
social relacionados ao processo seletivo82, uma concorrência tão alta às vagas oferecidas pela
instituição certamente deve favorecer os candidatos melhor escolarizados e, em decorrência
disso, provavelmente com melhor qualidade de produção de texto.
81 Informação disponível em: <http://www.fuvest.br/estat/insreg.html?anofuv=2012>. Acesso em: 17 jan. 2012. 82 O Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp) possibilita o acréscimo de um bônus de até 8% nas notas das provas realizadas por alunos que tenham cursado todo o ensino médio em escola pública. Já pelo Programa de Avaliação Seriada da USP (Pasusp), os alunos que tenham cursado também o ensino fundamental em escola pública podem ter um bônus de até 15% acrescido às notas das provas. Fonte: Manual do Candidado Fuvest 2012, disponível em: <http://www.fuvest.br/vest2012/manual/manual.stm>. Acesso em: 17 jan. 2012.
104
Por outro lado, diferentemente do que ocorre com o vestibular da Faculdade Cásper
Líbero, o exame da Fuvest reserva peso bem menor à redação no processo seletivo. No caso
específico de Jornalismo, o vestibular se divide em quatro provas valendo 100 pontos cada
uma: 1) prova de múltipla escolha (1ª fase); 2) prova de português e redação; 3) prova geral
de conteúdos vistos no ensino médio; e 4) prova específica de Geografia e História. A redação
responde por 50% apenas da nota da segunda prova.
4.1.3 Centro Universitário Adventista de São Paulo
4.1.3.1 Componentes curriculares a ser destacados
A matriz curricular do curso de Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São
Paulo (Unasp) é constituída de 56 disciplinas de regime semestral (oito semestres),
distribuídas na forma de créditos ou horas/aula semanais. A escola oferece 20 horas de aulas
por semana, que somam 360 horas/aula a cada semestre e 2.880 horas/aula durante todo o
curso, das quais 216 horas (12 créditos) são reservadas no último semestre para os projetos
experimentais. A carga horária é completada com 500 horas de atividades complementares
extraclasse, sendo 50 horas por semestre nos quatro primeiros semestres, e 75 horas por
semestre nos quatro últimos semestres. Ao todo, portanto, o curso se concretiza em 3.380
horas.
Uma diferença evidente entre esta instituição e as duas anteriores diz respeito ao seu
caráter confessional, o qual se reflete em certas peculiaridades do planejamento semanal de
aulas e da matriz curricular. A cada semestre, por exemplo, dois créditos/aula são reservados
semanalmente para disciplinas de ensino religioso; no caso de Jornalismo, essas disciplinas
ocupam 288 das 2.880 aulas totais do curso.
O curso de Jornalismo do Unasp oferece Língua Portuguesa apenas nos dois primeiros
semestres. No primeiro, a disciplina de Interpretação Textual aborda as concepções de
comunicação, linguagem e leitura; as funções da linguagem (com ênfase nas funções poética e
emotiva, próprias do texto “artístico”); estilo e estilística; noção de texto e níveis de leitura. O
plano de ensino prevê leitura e produção de textos de diversos gêneros. No segundo semestre,
a disciplina de Produção Textual intensifica o estímulo à confecção de textos pelos alunos,
concentrando-se na reflexão sobre as peculiaridades e variações da língua, bem como no
tratamento das regras que estabelecem a norma culta.
105
Há somente uma terceira disciplina (Oficina de Redação Jornalística), oferecida no
primeiro semestre do segundo ano, que também cuida especificamente dos aspectos
linguísticos e estilísticos relacionados ao aperfeiçoamento da capacidade redacional dos
alunos. O objetivo principal da matéria é aprimorar a capacidade de redigir nas modalidades
da redação jornalística, com ênfase nas questões de padronização enunciativa e estilística no
jornalismo.
Como as três disciplinas são de três créditos, totalizam no conjunto 162 horas/aula ou
5,6% do total de horas/aula do curso, enquanto na Faculdade Cásper Líbero, por exemplo,
essa porcentagem sobe para 14% ao somarem-se as duas disciplinas de Língua Portuguesa e
as duas de Técnica de Redação constantes do seu currículo. Ainda que se adicionasse àquelas
162 horas as 72 horas/aula (quatro créditos) da disciplina de Livro Reportagem – oferecida no
sexto semestre do curso do Unasp, com forte ênfase técnica e estética sobre a construção
textual narrativa –, a proporção ainda seria significativamente menor: 8% do total de aulas.
Portanto, a matriz curricular do Unasp parece revelar uma preocupação bem mais modesta
com relação ao ensino do texto de qualidade.
É bem verdade que o curso conta com uma premiada83 agência júnior de Jornalismo, a
ABJ (Agência Brasileira de Jornalismo), criada com o objetivo de “aperfeiçoar a qualidade
editorial e de produção dos alunos em diversos setores da área” e servir como “importante
ferramenta de preparo de alunos para o mercado de trabalho”84. A agência mantém um blog
jornalístico (o ABJ.Notícias85) com alto nível de reportagens, entrevistas e colunas; um jornal
mensal de oito páginas (Jornal da ABJ.) destinado a publicar as melhores reportagens
produzidas pelos alunos na agência; uma assessoria de imprensa júnior, que presta serviço
para a instituição; e seu produto mais importante: a revista eletrônica Canal da Imprensa86,
um veículo voltado para crítica de mídia. A ABJ sem dúvida funciona como um excelente
laboratório para o aperfeiçoamento do texto jornalístico, mas, na prática, o acesso de alunos à
agência restringe-se basicamente àqueles que são bolsistas da instituição e aos que já tenham
um bom nível de produção textual.
83 A ABJ participou, em 2010, da Expocom (Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação), promovida pela Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares em Comunicação). Na etapa regional, realizada em maio na Universidade Federal do Espírito Santo - UFES (ES), a agência conquistou o prêmio de melhor agência júnior de jornalismo da região sudeste do Brasil. Em setembro do mesmo ano, a última etapa da exposição foi realizada na Universidade de Caxias do Sul (RS), dando também à ABJ o prêmio de melhor agência júnior de jornalismo do Brasil. 84 Fonte: <http://www.unasp-ec.edu.br/conheca/abj/>. Acesso em: 19 jan. 2012. 85 Endereço: <http://abj-noticias.blogspot.com/>. Acesso em: 19 jan. 2012. 86 A revista, que pode ser acessada pelo endereço <http://www.canaldaimprensa.com.br/>, já conquistou três prêmios Set Universitário (Famecos – PUCRS): em 2005 e 2007 como melhor produto de jornalismo online, e, também em 2007, como melhor artigo publicado.
106
O currículo do Unasp reserva apenas dois semestres para a disciplina de Jornalismo
Impresso (terceiro e quarto períodos), sendo quatro créditos por semestre, ou 144 horas/aula
totais no curso. Enquanto o conteúdo de planejamento gráfico e diagramação, tanto na
Faculdade Cásper Líbero quanto na ECA-USP, recebe tratamento destacado, em disciplina
própria, esse conteúdo, no caso do Unasp, se encontra diluído no programa geral de
Jornalismo Impresso.
Quanto à prática laboratorial ligada à disciplina de Jornalismo Impresso, o plano de
ensino prevê a divisão da turma de segundo ano em grupos pequenos para a produção de uma
página por semana (formato standard), durante os dois semestres, para o jornal O Regional (o
maior jornal da cidade vizinha, Artur Nogueira, com o qual o Unasp tem parceria). A
participação dos alunos diz respeito à produção da pauta, apuração e redação das matérias,
cobertura fotográfica e diagramação das páginas. A edição normalmente é feita pelo professor
da matéria, em classe. No ano de 2009, a disciplina ganhou um jornal laboratório de 12
páginas em formato tabloide berliner (47 x 31cm), intitulado Segunda Impressão.
Inicialmente semestral, o periódico tornou-se trimestral a partir de 2011.
Melhor estruturadas do ponto de vista laboratorial, as disciplinas de Radiojornalismo e
Telejornalismo também se desenvolvem em dois semestres cada uma, respectivamente no
segundo no terceiro ano. No entanto, ambas têm espaço privilegiado no curso em relação a
Jornalismo Impresso, começando pela carga horária: cinco créditos cada uma, ou 180
horas/aula do total de aulas do curso. Se somarmos as 180 horas de Telejornalismo com as 72
horas previstas para a disciplina de Videodocumentário no sétimo semestre, teremos 252
horas/aula totais no curso voltadas à produção em vídeo, contra 180 de jornalismo radiofônico
e 144 de jornalismo impresso. Conclui-se, portanto, que a matriz curricular do curso de
Jornalismo do Unasp, privilegia claramente a modalidade audiovisual de veiculação
jornalística.
Há dez anos, praticamente, existe no Unasp um núcleo de Comunicação com ilhas
modernas de edição em áudio e vídeo amplamente utilizado para as gravações dos programas
propostos pelas disciplinas. Nesse estúdio, a Rádio Unasp87 funciona com ampla participação
de alunos de todos os anos. Algumas parcerias mantidas com emissoras radiofônicas locais
possibilita que a programação jornalística diversificada preparada pelos alunos seja ouvida em
toda a região metropolitana de Campinas.
87 Trata-se de uma emissora online, veiculada através do site: <www.radiounasp.com.br>. Em 2010, a emissora conquistou o prêmio Set Universitário de melhor programa de rádio.
107
No caso da produção videográfica, além do laboratório de jornalismo televisivo,
também instalado no núcleo de Comunicação, o Unasp oferece a quaisquer alunos dos cursos
de Jornalismo e Publicidade e Propaganda que se interessem a oportunidade de aprender a
operar equipamento profissional de gravação. Tanto a igreja universitária88, como os diversos
setores acadêmicos da instituição realizam durante todo o ano programações de vários
gêneros que demandam abundante cobertura em vídeo, boa parte da qual ganha veiculação
pelo canal Novo Tempo da organização adventista89.
4.1.3.2 Trabalhos de conclusão de curso
O regulamento para os Projetos Experimentais no curso de Jornalismo do Centro
Universitário Adventista de São Paulo permite a realização dos TCCs em grupos de até seis
alunos. Segue abaixo a divisão dos TCCs desse curso segundo a modalidade jornalística
escolhida para a sua elaboração, do ano de 2006 a 2010. Levando em consideração a
quantidade reduzida de alunos por turma, a possibilidade de organização de grupos numerosos
e a distribuição extremamente desigual de alunos por modalidade de TCC90, insere-se aqui
também o número de alunos envolvidos em cada tipo de trabalho a fim de se ter uma ideia
melhor do comportamento das turmas em relação às modalidades jornalísticas.
Unasp - Número de TCCs por modalidade (número de alunos envolvidos)
ANO 2006 2007 2008 2009 2010
Revistas ou jornais impressos 2 (7) - 1 (6) - -
Livros reportagem - 6 (9) 1 (1) 2 (3) 3 (4)
Fotolivro 1 (1) 1 (1) -
Videodocumentários 1 (5) 2 (4) 2 (6) 3 (13) 1 (3)
Monografias 2 (2) - 3 (4) - 2 (2)
Radiojornalismo - 1 (3) - 1 (5) -
TOTAL 5 (14) 9 (16) 8 (18) 7 (23) 6 (9)
88 A igreja universitária do Unasp-EC é o maior templo adventista da América Latina, veiculando em seu site (<www.igrejaunasp.org.br>) diversas programações de cunho religioso. 89 A TV Novo Tempo é transmitida em sinal aberto para cerca de 300 cidades do país e, em sinal fechado, pelo canal 21 da Sky. 90 Na Faculdade Cásper Líbero, diferentemente, a distribuição dos grupos (em número de até quatro componentes) ocorre de maneira mais equilibrada entre as diversas modalidades de TCC, o que se explica, em parte pela quantidade muito maior de alunos formandos. Por esse motivo, não se julgou necessário detalhar, em relação a essa faculdade, a quantidade de alunos envolvidos em cada modalidade de TCC.
108
De 2006 a 2010, foram realizados no Unasp 35 projetos experimentais por 80 alunos
formandos em Jornalismo. Uma contagem simples revela que a modalidade jornalística que
mais se destacou na opção dos alunos foi a de videodocumentário, com nove trabalhos
realizados por 31 alunos (39% do total). O ano de 2009 foi o mais expressivo para essa
modalidade: 13 alunos se envolveram na produção de videodocumentários, enquanto os dez
restantes se ocuparam dos trabalhos apresentados nas outras modalidades.
Em segundo lugar, aparecem os projetos em jornalismo impresso, com ênfase no texto
escrito, somando 15 trabalhos elaborados por 30 alunos, ou seja, 37,5% do total de inscritos.
Desses 15 trabalhos, 13 foram livros reportagem. Se os sete trabalhos monográficos da lista,
desenvolvidos por oito alunos, forem adicionados aos 30 anteriores, representarão, em relação
ao total, 47,5% de alunos envolvidos com TCCs focados no texto escrito. Radiojornalismo só
apareceu em dois anos: 2007 (três alunos) e 2009 (cinco alunos).
O empate técnico que ocorre nos TCCs de Jornalismo do Unasp entre o número de
alunos envolvidos com trabalhos em vídeo e o número de alunos envolvidos com projetos de
jornalismo impresso com ênfase no texto escrito é bastante significativo. Um motivo flagrante
para essa preferência tão grande pelo jornalismo visual – e, ao mesmo tempo, para uma
porcentagem de opção pelo texto produzido para ser lido tão menor em comparação com que
se viu acima no caso da Faculdade Cásper Líbero e, sobretudo, da ECA-USP – está na força
que o jornalismo televisivo tem no currículo de Jornalismo do Unasp (aulas e experiência
prática laboratorial).
Resta acrescentar que as exigências do vestibular91 do Unasp quanto à capacidade
textual dos candidatos são mais suaves em comparação com os vestibulares vistos
anteriormente. O exame acontece em apenas uma fase, sendo dividido em 50 questões de
múltipla escolha e uma redação. No caso específico dos candidatos ao curso de Jornalismo, as
questões de Língua Portuguesa e a redação têm peso diferenciado, sendo a nota multiplicada
por 2. Entretanto, apenas a nota zero na redação pode desclassificar um candidato.
Deve-se mencionar, ainda, que o exame vestibular do Unasp, na medida em que possui
uma relação candidato/vaga muito pequena em relação às duas outras instituições (1,53
candidatos por vaga em Jornalismo no processo seletivo para 2012), sem dúvida, permite que
ingresse no curso um número maior de candidatos oriundos de instituições com nível mais
baixo de ensino e, portanto, menos hábeis no texto escrito. Esse fator deve influir em alguma
91 Informações disponíveis em: <http://www.processoseletivo.unasp.edu.br/>.
109
medida para que boa parte das turmas demonstre resistência, no decorrer do curso, contra
atividades ou modalidades jornalísticas que demandem texto mais longo e elaborado.
4.1.4 Nota: o debate curricular em torno do TCC em Jornalismo
Antes de passar à seção de encerramento deste capítulo, faz-se relevante alguma
informação sobre o debate em andamento sobre a regulamentação dos Trabalhos de
Conclusão de Curso nas graduações de Jornalismo. De acordo com a legislação vigente, o
Ministério da Educação (MEC) permite que as próprias escolas estabeleçam as regras de
elaboração dos projetos pelos alunos.
No início de 2009, o MEC instituiu, após consultas com as principais entidades
representativas da categoria dos jornalistas, uma comissão de especialistas em ensino de
Jornalismo92, conferindo-lhe a incumbência de revisar e propor alterações nas diretrizes
curriculares para o curso. Essa comissão ouviu, por ocasião de três audiências públicas,
representantes das comunidades acadêmica e profissional do universo jornalístico, bem como
representantes da sociedade civil organizada brasileira.
O relatório final da comissão (BRASIL, Ministério da Educação, 2009) foi acolhido
pelo então ministro Fernando Haddad em 18 de setembro do mesmo ano, em audiência
realizada em Brasília. Entre as principais mudanças propostas pelo documento estão as
seguintes: 1) maior autonomia do curso de Jornalismo em relação ao campo acadêmico da
Comunicação Social; 2) estabelecimento de estágios supervisionados para os alunos de
Jornalismo em instituições públicas, privadas ou do terceiro setor, e 3) definição de regras
gerais para a produção dos TCCs em nível nacional.
Quanto a este último ponto (especialmente interessante para a presente seção), a
comissão de especialistas propôs que os Trabalhos de Conclusão de Curso passem a ser
desenvolvidos de forma necessariamente individual pelos alunos, envolvendo “a concepção,
planejamento e execução de um projeto experimental constituído por um trabalho prático de
cunho jornalístico, acompanhado necessariamente por relatório, memorial ou monografia que 92 Dentre as principais entidades consultadas, estavam a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Associação Nacional de Revistas (Aner), a Sociedade Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo (SBPJOR) e o Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo (FNPJ). A composição da comissão de especialistas ficou da seguinte forma: José Marques de Melo (Universidade Metodista de São Paulo), Alfredo Vizeu (Universidade Federal de Pernambuco), Carlos Chaparro (Universidade de São Paulo), Eduardo Meditsch (Universidade Federal de Santa Catarina), Luiz Gonzaga Motta (Universidade de Brasília), Lucia Araújo (Fundação Roberto Marinho/Canal Futura), Sergio Mattos (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) e Sonia Virginia Moreira (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
110
realize uma reflexão crítica sobre sua execução” (BRASIL, Ministério da Educação, 2009:22
– grifo nosso).
Por ocasião da referida audiência, o ministro ventilou a possível implementação das
novas diretrizes para os cursos de Jornalismo já em 2010, após encaminhamento do relatório
para o Conselho Nacional de Educação (CNE).93 Entretanto, a proposta de alteração
curricular provocou nos meses seguintes forte contraposição da parte de entidades como a
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós). Além de
criticar a concepção de jornalismo emanada do documento apresentado ao MEC, bem como
aquilo que considerou como uma “perspectiva separatista” discernível no mesmo (COMPÓS,
2009:2), a associação discordou veementemente da proposta de definição do TCC ali
redigida:
Como essa formulação, as monografias, tais como desenvolvemos hoje, desaparecem. Um TCC não poderá ser constituído, seja por um trabalho científico sobre o jornalismo, seja por um trabalho de crítica jornalística. Ele tem que ser necessariamente um trabalho prático – se tomarmos em consideração a concepção “profissional” do documento, os TCCs se restringiriam ao trabalho da reportagem, edição e, claro, assessoria de imprensa. Como a crítica cultural, a docência e a pesquisa estão fora da concepção profissional de jornalismo que guia o documento, os TCCs já não poderão ser um espaço de iniciação científica que abre o caminho às gerações futuras de docentes e pesquisadores em jornalismo (COMPÓS, 2009:6).
Em decorrência da reação negativa à proposta de novas diretrizes, foi suspensa pelo
MEC a implementação do documento. Dois anos depois, os debates em torno do tema seguem
sem que se tenha chegado a um denominador comum para mudança curricular.
4.2 O sentido da imagem pela palavra: a universidade e seu papel crítico
Acerca do tema abordado no presente trabalho, este autor entrevistou pessoalmente
coordenadores de curso e professores de Jornalismo ligados às instituições de ensino
pesquisadas. Essas entrevistas em profundidade94, dispostas aqui segundo a data do encontro,
foram as seguintes: Prof. Dr. Carlos Roberto da Costa, coordenador do curso de Jornalismo da
Faculdade Cásper Líbero, de 2007 a 2010 (entrevistado em 10 de agosto de 2011); Prof. Dr. 93 Como se pode verificar em notícia publicada no site do MEC no próprio dia da audiência, a qual pode ser acessada pelo endereço <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14333>. Acesso em 29 jan. 2012. 94 As entrevistas podem ser conferidas na íntegra, juntamente com as informações curriculares mais importantes dos entrevistados, nos anexos desta dissertação.
111
Igor Fuser, atual coordenador do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero
(entrevistado em 16 de agosto de 2011); Prof. Dr. José Coelho Sobrinho, chefe do
Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP
(entrevistado em 17 de agosto de 2011); Profa. Dra. Cremilda Celeste de Araújo Medina,
recentemente aposentada de suas atividades na ECA (entrevistada em 29 de agosto de 2011),
e Prof. Ms. Ruben Dargã Holdorf, professor no curso de Jornalismo do Centro Universitário
Adventista de São Paulo (entrevistado em 16 de setembro de 2011).
Esta seção apresenta e eventualmente coloca em diálogo as principais impressões e
considerações dos professores entrevistados.
4.2.1 Sobre as maneiras de ler o mundo
A exemplo dos autores enfocados neste trabalho, o professor Carlos Costa observa que
a cultura da geração atual é eminentemente visual. Para ele, uma vez que esse público jovem
de hoje leu menos em papel e trabalhou menos o texto escrito, em comparação com as
gerações anteriores, suas leituras tendem a não seguir uma lógica linear:
Eles estão muito mais informados do que eu estava na idade deles. [...] Eles estão fazendo um outro tipo de leitura – essa coisa meio sináptica, de ligar pontos e fazer conexões que antes nós não tínhamos. Eu ainda acho que nós somos muito lentos em fazer a leitura de alguns textos, enquanto a molecada já sacou pra onde aquilo vai. Eu acredito que nós estamos falando de um outro patamar, e eu não diria que um é melhor e o outro é pior. No nosso mundo foi melhor, mas, agora, no mundo deles, eu acho que vai ser um pouco diferente – essa capacidade que eles têm de dedução. De ouvir uma coisa, ouvir outra e fazer misturas.
Costa sustenta que a mudança representada por essa fragmentação não seria
necessariamente um sinal de empobrecimento. Ela poderia ser encarada, por exemplo, como
uma libertação do padrão de leitura analógica, sequencial, de um texto, em direção a um
universo em que se capta muitas informações ao mesmo tempo e em que se faz muito mais
conexões que no passado: “Sem querer você se informa”. Entretanto, ele admite que tanto
essa quantidade quanto essa velocidade de difusão e apreensão de informações não podem
deixar de vir ligadas a uma superficialidade da leitura.
Ainda de acordo com Costa, pelo menos nos cursos de Jornalismo, não se pode falar
em preferência pela imagem em detrimento do texto. Em sua opinião, a velocidade cada vez
mais acelerada do mundo contemporâneo afeta a ambos. Desse modo, a deficiência de leitura
pode ser percebida tanto no caso do texto escrito quanto da imagem:
112
Eles acham que entendem o global, mas por algumas palavras eles passam batido, mais ou menos como a gente faz com as fotos. Quanto tempo você parou para analisar uma foto num outro tempo que não fosse aquele tempo dinâmico da televisão, ou da revista, ou da internet? Aquela história de voltar a ver: quantas vezes você voltou a ver um filme? Precisamos educar os alunos quanto a essa complexidade de leitura da imagem. É preciso fazer um trabalho de parar para analisar o que a imagem está me dizendo, o que há de estranho nessa imagem, e também educá-los para ler um texto e saber o que esse texto está dizendo. Há uma deficiência dos dois. Não é que a cultura da imagem eliminou a cultura do texto. Nós estamos perdendo a cultura de ler um texto com calma, com gosto, porque a velocidade do mundo (não só da imagem) está fazendo a gente não parar para pensar. E isso se estende para as relações de amizade, para as relações familiares. Quantas vezes você não vê alguém tendo uma conversa pelo celular com a mãe, uma conversa que deveria ter pessoalmente. É uma reflexão que vai além do jornalismo. Aprender a pensar com clareza, objetividade é uma tarefa fundamental da escola de jornalismo, seja para o aluno editar imagens ou escrever textos. Aliás, se ele não souber escrever textos, vai ser um péssimo repórter de impresso, de rádio, de televisão ou internet.
O professor José Coelho Sobrinho, coordenador do Departamento de Jornalismo e
Editoração da ECA, concorda com Costa sobre o acesso das pessoas à informação ter
aumentado nas últimas décadas em função principalmente do incremento da comunicação
eletrônica. De acordo com ele, se, por um lado, esse acesso maior é positivo do ponto de vista
democrático, não se pode esquecer de que a forma como essa informação está sendo oferecida
ao público também tem relevância em termos de uma democracia efetiva. A construção
errada, tanto em termos de linguagem quanto de argumentação, na medida em que tem poder
de ser perpetuada na mídia e na mente das pessoas, é altamente danosa. A esse respeito, veja-
se a posição semelhante manifestada por Costa:
O erro tem uma capacidade muito grande de propagação. Por que se barateou a linguagem? Muitas vezes, a falta de uma revisão/reflexão no jornalismo diário faz com que a mentira tenha uma sobrevida... Por outro lado, no sistema de trabalho nas grandes redações, onde havia o foca e o foca aprendia, um cara reescrevia a matéria para ele (um trabalho que o Jânio de Freitas fez no Rio de Janeiro com gerações de repórteres, incluindo o Fernando Gabeira, que foi um grande jornalista antes de ser exilado e, depois, se tornar político). Essa história de você aprender e depois alguém mandar você refazer... hoje em dia ninguém manda refazer. Terminou, graças a Deus! Tá na hora, manda embora!... O volume de erros é muito grande; realmente é chocante até em revistas. Erros de informação que criam verdades que são erros.
Apesar de acreditar que os jovens de hoje leiam pouco e estejam menos informados
que os de décadas passadas, o professor Igor Fuser também salienta a questão da
superficialidade, argumentando que a profundidade normalmente está relacionada com o fator
tempo. Meios como o rádio e, sobretudo, a televisão demandam produção de informação curta
113
e rápida, o que pressupõe um tratamento superficial dos conteúdos, apesar da possibilidade
que oferecem de despertar emoção e mobilizar o receptor usando recursos que o texto escrito
não possui. A produção do texto escrito, principalmente aquele mais longo presente nos
veículos impressos, exige um conhecimento mais denso dos assuntos.
Fuser acredita que o nível de leitura da população piorou nas últimas décadas, e que
esse decréscimo afeta a incorporação de cultura geral pelas pessoas. Essa característica,
segundo ele, pode ser percebida claramente nos alunos que ingressam nos cursos de
Jornalismo (não somente o da Cásper Líbero):
No dia a dia, no seu tempo de lazer, mesmo os alunos mais inteligentes, mais inquietos, têm uma leitura de pior qualidade, uma leitura dispersa em Facebooks da vida, enfim, é uma geração educada na base do videogame. É uma geração que tem muito mais acesso a filmes, mas viu menos do que a nossa. Isso é um aspecto. Um outro aspecto é a despolitização. [...] Não há ninguém que se disponha a um compromisso mínimo com uma causa coletiva, porque é uma geração mais individualista, uma geração que já foi formada dentro do modelo neoliberalista. O neoliberalismo é uma vertente mais radical do capitalismo, em que os valores do dinheiro, do sucesso individual, da posse individual dos bens, da carreira, são elevados ao extremo. Então é natural que ninguém se disponha a participar de reuniões. A despolitização impede o acesso do jovem a uma dimensão importante da vida, que é a dimensão política.
Quanto à profusão informacional de nosso tempo, o coordenador de Jornalismo da
Faculdade Cásper Líbero a comenta a partir da perspectiva imagética. Segundo ele, a imagem
técnica (fotografia, cinema, vídeo) exerce um apelo que obviamente supera o da escrita em
função da capacidade de reprodução visual. O avanço da imagem em relação à palavra –
embora pareça estar havendo uma revalorização da palavra escrita, mesmo que num nível
aparentemente tosco e fragmentário, através do e-mail, twitter, blogs etc. – teria contribuído
para criar a ilusão de que “ver” é sempre suficiente.
O que a gente vive hoje, eu não sei como classificar, se é um fenômeno patológico ou se sou eu que estou sendo saudosista, é uma saturação imagética do nosso cotidiano, a respeito da qual eu não conheço estudos, mas que intuitivamente imagino que cause o risco de causar uma certa atrofia da capacidade de raciocínio. Você não pode mais ficar num lugar simplesmente imerso nos seus pensamentos – qualquer lugar para onde você olha tem uma televisão ligada. Você não consegue ficar na sala de espera de um aeroporto, esperando uma pessoa sem que uma televisão ali invada a sua mente, o seu imaginário, a menos que você feche os olhos.
De acordo com Fuser, o “encantamento” estabelecido pela imagem constitui um
prejuízo para a comunicação devido ao fato de relegar a segundo plano aquilo que se deveria
reconhecer sempre como central: a palavra. “O texto escrito é a base, a comunicação
jornalística se dá pela palavra; a imagem é sempre um complemento”, ou seja, é a palavra que
114
dá sentido à imagem. No entanto, sustenta ele, o que tem acontecido com a comunicação
contemporânea é que ela está cada vez mais sendo usada de forma alienante por grupos
políticos e econômicos no sentido de “distrair as pessoas, como um sedativo para as
contradições da vida concreta”, e isso explicaria, ao menos em parte, o abuso da vertente
comunicacional imagética.
Fuser insiste no papel crítico que a universidade tem a exercer no sentido de se situar
na contracorrente do movimento hegemônico de alienação e superficialidade. Esse papel
consiste em “chacoalhar as consciências, despertar o espírito crítico, mostrar que o mundo não
é apenas o mundo que a Rede Globo e a editora Abril veiculam”:
Ao contrário, a Indústria Cultural nas mãos de grandes grupos não somente veicula uma representação falsa da realidade, como essa representação falsa não chega a você inocentemente – existem intenções por trás. Intenções mesmo de apaziguar os conflitos, de diluir o contato das pessoas, diluir a capacidade de reflexão, porque os donos do poder sabem que se as pessoas refletirem sobre sua realidade, o passo seguinte vai ser o de elas começarem a interagir umas com as outras, coletivizar essas reflexões; e as reflexões, quando se coletivizam, levam à ação coletiva. Tudo o que eles não querem é ação coletiva, transformadora. Isso tudo não acontece por acaso, essas televisões em todos os lugares.
4.2.2 Saturação imagética e verbal
A professora Cremilda Medina, escritora de diversas obras enfocando temas como
jornalismo, texto narrativo e conhecimento, discorda fortemente da ideia de que a reprodução
veloz e inflacionária de imagens seja responsável por um decréscimo da capacidade de
reflexão e pensamento linear:
Apesar do esforço linear gutemberguiano, nós sempre estivemos dentro de uma realidade verbal mosaico, fragmentada. Não é culpa da civilização imagética ou da hipertrofia imagética. A contundência do mosaico, ou do caos, ou da fragmentação está aí, na complexidade das coisas e a chave para a gente sair dessa hipertrofia, seja de palavras ou de imagens, é você se situar no mundo e tentar narrá-lo, organizar alguma coisa, produzir um discurso, uma narrativa. O ato fundante da narrativa é o mergulho no caos do mundo, na fragmentação. Enfim, há uma sedução no sentido de se hipervalorizar o visual no nosso momento, mas eu tendo a pensar que sempre esteve presente, desde a pré-história.
Para a autora de A arte de tecer o presente, as reflexões no sentido do aparecimento de
uma suposta fragmentação da realidade nos tempos contemporâneos (seja em decorrência da
difusão imagética, ou de outros fatores) têm suas raízes numa mentalidade que ela costuma
chamar no âmbito acadêmico de “principismo” ou “genesismo”. Tal mentalidade
115
hiperestimaria a superação histórica de um modelo sobre outro, desprezando a recorrência
histórico-cultural dos modelos (ou seja, “as coisas sempre voltam...”).
De fato, não se pode negar essa tendência genesista na civilização contemporânea, e os
estudos de Siegfried Zielinski (2006) apresentados em seu Arqueologia da mídia também se
contrapõem de forma contundente a tal disposição. No entanto, mesmo admitindo que o
mosaico ou a fragmentação do conhecimento seja algo que reaparece de forma circular ao
longo das eras, cabe questionar, com base nos autores trabalhados nesta dissertação, se a
fragmentação perceptiva derivada da superexposição a imagens feitas para ser vistas rápida e
acriticamente pelas pessoas não se apresenta na contemporaneidade com intensidade e
impacto diversos daqueles encontrados no passado. O autor deste trabalho pensa que sim, e
que tal impacto precisa ser melhor investigado.
Medina também se mostra resistente contra a concepção de que o cenário hipertrófico
de imagens esteja sobrepujando o marco civilizatório representado pela atividade de escrever,
uma vez que também se pode verificar no mundo atual um quadro de saturação verbal:
Eu não vejo como suprimir a escrita, ela é o principal aprendizado do sapiens. Como deixar de lado um código linguístico que já está gramaticalizado, organizado já cientificamente através das diferentes disciplinas da língua e da linguística? Eu vejo a escrita como o acervo mais disciplinado no sentido estrito da palavra. Embora os códigos não linguísticos sejam hoje também muito estudados, e haja na semiologia e semiótica campos muito importantes de leitura dos outros códigos, o código linguístico permanece sendo aquele que nos transmite uma herança mais sólida. Veja bem, existe uma necessidade relacionada com a própria cidadania: não é possível o sujeito ser um cidadão pleno numa sociedade sem passar pela escolarização que basicamente lhe oferece a escrita como patamar fundamental.
Recorde-se aqui que o próprio Flusser (2007) registrou ter observado em sua última
década de vida (1980) uma explosão de textos escritos, tanto no papel quanto na tela dos
computadores que, naquele período, entravam em franco processo de difusão. No entanto, o
autor também salientou que as imagens já se impunham como meios privilegiados, sendo sua
multiplicação muito mais significativa devido ao poder de apelo visual. De qualquer maneira,
as considerações da professora Medina se fazem pertinentes quando se leva em conta que
Flusser (2010) previu o fim da escrita para um futuro ainda não definido, em favor de um
novo tipo de código ligado aos avanços tecnológicos no campo da informática. Realmente os
rumos do texto escrito, desde seu surgimento até a atualidade, não parecem sinalizar nessa
direção.
Em relação a um possível empobrecimento do texto escrito de alunos de Jornalismo,
Medina volta a evocar a noção da recorrência, afirmando que em sua experiência com oficinas
116
de narrativas sempre foi possível notar uma certa “formatação” inicial na cabeça dos jovens,
presos a determinadas fórmulas de escrita, preconcepções, juízos de valor e reducionismos.
Quando esses alunos “se encontram e se contaminam com a arte, liberam rapidamente sua
criatividade, sem desprezar os códigos tradicionais, e começam a degustar a liberdade da
língua”. A professora, portanto, prefere olhar a situação pelo ângulo da responsabilidade das
escolas em propiciar ao aluno os instrumentos cognitivos a partir dos quais essa emancipação
pode se concretizar e a liberdade autoral de cada um emergir. Esse crescimento individual do
narrador na arte de organizar o caos do presente em histórias que tocam as pessoas por fazê-
las sentir-se representadas, ultrapassa a questão meramente gramatical, a qual é importante,
mas não é o principal:
Uma coisa é aprender a rigidez gramatical, a rigidez jornalística e ir naquilo a vida inteira, e outra coisa é você passar por isso, que é um aprendizado, e se libertar. Porque a língua viva das pessoas é muito mais do que a gramática, supera a gramática. Essa libertação é muito bonita de acompanhar.
Vale a pena, a esse respeito, mencionar que o exercício da narrativa é de natureza
técnica, estética e ética (MEDINA, 2003). Certamente existem bons e consolidados esquemas
de trabalho com o código a fim de transmitir o material narrativo, mas nenhum desses padrões
se afigura indispensável para o ato do narrar. Por exemplo, em ambientes rurais ainda é
possível se ouvir as mais cativantes histórias da boca de indivíduos evidentemente distantes
dos esquemas normativos gramaticais. Por outro lado, a própria norma culta pode ensejar
situações arrebatadoras pelo manejo hábil e artístico das palavras. Assim como o jornalista
tem muito que extrair das possibilidades da língua normativa, ele também tem muito a
aprender da simplicidade irresistível dos contadores de histórias (BENJAMIN, 1987).
4.2.3 A propagação do erro
A preocupação ética ao se narrar o presente é o aspecto mais destacado pelo professor
José Coelho Sobrinho quanto à atividade jornalística. Para ele, o jornalismo é feito
essencialmente de apuração, e quanto mais minuciosa for essa apuração, melhor. Entretanto, a
ânsia que consolidou entre as empresas jornalísticas de passar à frente do concorrente vem
ocasionando a transmissão ao público de material jornalístico resultante de apuração
deficiente por sua superficialidade:
A notícia não tem que ser exclusiva, porque a notícia é da sociedade, não é da empresa, não é do jornalista. Ela é da sociedade. É um direito fundamental do cidadão o acesso à informação. E quando você escolhe uma
117
notícia para pôr no ar, você tem de escolhê-la com critérios: além dos critérios editoriais, é preciso escolhê-la por critérios de interesse público. Não é interesse do público, é interesse público [grifo nosso]. Por que eu estou colocando essa matéria no ar? É simplesmente porque eu estou desafiando meu concorrente? Ou é porque isso é importante para a sociedade? [...] Infelizmente, o jornalismo está perdendo porque as pessoas estão confundindo jornalismo com informação. Informação está aí à disposição de todo mundo. Agora, tomar essa informação e dizer: “Isso é importante pra sua vida, cara. Presta atenção!”, isso é coisa de jornalista.
Cremilda Medina menciona dois outros aspectos eminentemente prejudiciais ligados
também à pressa e ao esquematismo burocrático dos programas jornalísticos. Um deles é o da
dicotomia de informações a favor e contra, a qual ela enxerga como uma encenação operada
para ocultar a deficiência total do diálogo. “O que se faz por telefone hoje em dia (e sempre se
fez) é uma encenação que ludibria o consumidor, que recebe então um relato dicotômico da
realidade que não corresponde à complexidade, à multiplicidade de sentidos da realidade”,
argumenta.
O outro aspecto ressaltado pela autora é o da dependência exagerada que muitos
jornalistas nutrem em relação à máquina. Referindo-se aqui ao uso do computador e ao acesso
indireto pela internet às informações que subsidiarão a matéria, Medina alerta contra a atrofia
da inteligência natural, que passa a raciocinar por fórmulas de redução da realidade e,
principalmente, contra a perda do trânsito vivo de contato dos sentidos com o mundo:
Se nós ficamos atrás da máquina, presos à nossa monocultura, à nossa claustrofobia, monologia (tudo mono, um só, eu) a gente perde o contato com o outro. E de que vive o jornalismo senão desse contato? Eu acho que a tecnologia veio ajudar em muitos sentidos práticos, de operação e de velocidade, mas não me venham dizer que vai resolver o problema do acesso ao outro. O acesso ao outro se dá pelos sentidos, pelo tato, pelo olfato, pelo paladar, por uma escuta aberta e uma observação sem catarata.
Tomando como gancho a consideração acima, observe-se a posição do professor
Ruben Holdorf, do curso de Jornalismo do Unasp, assumida a partir de observação das
atividades dos alunos e da atuação profissional de colegas jornalistas:
Ao observar os colegas em campo, percebe-se que o bloquinho de anotações desaparece gradativamente. Entre os alunos, em muitos cursos, o costume de anotar impressões, declarações, opiniões em algum bloco ou rascunho, parece jamais ter existido. A coqueluche é fazer as anotações em iPod, iPhone, SmartPhone, iPad, netbook. E anotações em uma linguagem cifrada, mal-escrita, ininteligível, uma deturpação da normalidade. A geração Y, quando associada às novas tecnologias, e o convívio com as redes sociais e suas limitações textuais estão provocando a deterioração textual. É nítida a queda na qualidade de produção textual verificada nas escolas de Jornalismo. Alguns acadêmicos e profissionais da imprensa cogitam ser esse um período de entressafra na classe e que mesmo nas redações o problema se configura cada vez mais grave. Seja qual for a causa, o fato é que o problema de
118
agressão à ferramenta de trabalho coincide com a emergência dessas tecnologias.
Para Holdorf, a queda na qualidade do texto jornalístico, tanto na graduação quanto no
mercado de trabalho, está em parte vinculado à insuficiência ou mesmo inexistência de
programas dentro dos cursos estimulando a produção jornalística:
Os cursos precisam ter não apenas professores com experiência prática, mas estruturas que viabilizem os estágios, como agências noticiosas, impressos, revistas eletrônicas, emissoras de rádio de tevê (mesmo que sejam online), convênios com veículos jornalísticos da região na qual se localiza a instituição e um projeto pedagógico coerente com as propostas do curso, exigências profissionais e tendências mercadológicas. Isso é ótimo para os alunos, para os professores desconectados das redações e também para aqueles mestres sem prática.
Voltando à entrevista com o professor Sobrinho, sua observação sobre a preferência
dos alunos é totalmente coerente com os resultados da pesquisa documental exposta acima
sobre a matriz curricular e planos de ensino de Jornalismo da ECA-USP. Não existe em
andamento, tanto da parte do currículo da escola, quanto dos alunos, uma substituição do
texto escrito pela imagem. “Eu acho que está havendo um casamento maior do texto com a
imagem”, afirma o professor em alusão à produção dos alunos nos diversos espaços
laboratoriais que a universidade propicia aos alunos de Jornalismo. Esse é um modelo ideal
que, como coloca Holdorf, está longe de ser uma realidade em muitos cursos mais jovens.
119
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diz o aforismo que uma imagem vale mais que mil palavras. No entanto, se a bela
Sherazade das famosas mil e uma noites pudesse ser indagada quanto a essa ideia,
dificilmente ela a aceitaria sem reservas. Jóia de peculiar esplendor em meio ao tesouro
narrativo mundial, a história conta de um poderoso rei persa, que, enfurecido ao descobrir a
traição de sua rainha, manda matá-la juntamente com seu amante. Não satisfeito, toma a
decisão trágica de também tirar a vida, daquele dia em diante, de todas as mulheres com quem
se casasse, logo após as respectivas noites de núpcias.
Quando quase todas as virgens do reino já haviam sido mortas, Sherazade, filha do
primeiro-ministro, arquiteta um plano para reverter as intenções do rei. Ao ser desposada por
ele, pede-lhe na noite de núpcias que permita despedir-se de sua irmã Duniazade antes que
raie o dia e tenha de cumprir seu terrível destino.
Sob concessão real, Duniazade é introduzida na câmara e, depois de poucos minutos, a
rainha começa a lhe contar uma história. Como planejara, a narrativa imediatamente cativa a
atenção do rei, que também a estava ouvindo. À medida que o som das palavras cortava
musicalmente o ar, as mais vívidas imagens e cenas se iam projetando em sua mente,
conforme a imaginação lhe era estimulada. Dir-se-ia que o monarca fora transportado para um
outro lugar e um outro tempo, tão completamente entregue à história se encontrava ele. Ao
nascer do sol, porém, Sherazade interrompe abruptamente a narrativa sob o pretexto de já
haver chegado a sua hora. “O carrasco pode esperar”, protesta o rei, sendo forçado, em
seguida, a recostar-se em seu leito por causa do sono.
À noite, quando ele ordena que a rainha finalize sua história, esta o faz tomando a
estratégica precaução de entrelaçá-la com o início de outra. Mas novamente a narrativa é
interrompida, obrigando o rei a adiar uma vez mais a morte da esposa: a curiosidade e
profundo interesse gerados pelo desenrolar-se das cenas superavam em seu coração o
sentimento de vingança. E, assim, o tempo vai passando, uma narrativa sucedendo a outra, até
que mil e uma noites se completam. A esta altura, Sherazade já dera ao rei dois belos filhos e
ele, dando-se conta do amor que brotara em seu coração, decide finalmente revogar o cruel
edito.
A palavra organizando o caos...
120
* * *
Como se viu neste trabalho, faz parte da natureza humana apreciar as narrativas, pois
elas constituem uma dimensão importante da construção do ser como pessoa individual, e, ao
mesmo tempo, em relação com os seus semelhantes, com a natureza e com o mundo. Narrar é
uma arte que tem se concretizado ao longo dos tempos eminentemente pela ação da palavra,
que é o principal agente pelo qual se estabelece a relação humana com o outro. Palavra falada
e, mais tarde, escrita. O aparecimento do gesto de escrever foi de crucial importância no
sentido da preservação milenar do conhecimento em seus diversos gêneros textuais, mas,
sobretudo, das narrativas.
É certo que a palavra escrita – principalmente a partir de Gutemberg, quando o acesso
a ela passou a difundir-se em escala cada vez maior – tem desempenhado um papel muito
destacado no desafio e estímulo à imaginação e ao pensamento de gerações. Ainda é assim
nos dias de hoje. Uma visita a uma boa livraria para um levantamento simples das novidades
editoriais poderá confirmá-lo.
No entanto, uma vez que a produção e o acesso às imagens, mais recentemente,
também vêm passando por vertiginoso processo de intensificação, é natural que, em termos
cognitivos, a via imagética assuma na cultura contemporânea um espaço preponderante tanto
em relação à palavra escrita, quanto à palavra falada. E não é porque se fale/ouça menos ou se
escreva/leia menos do que se fazem/veem imagens. A questão crucial é a do apelo
diferenciado que as visualidades bidimensionais exercem sobre o imaginário humano.
O ser humano, em geral, só “entra” no universo de um texto escrito por sua própria e
soberana decisão. Para isso, ele precisa parar e dedicar-se à tarefa de ler e decifrar. Há,
obviamente, a exceção daquelas palavras ou sequências muito pequenas de palavras usadas
especialmente na publicidade para chamar a atenção do público. Nesse caso, a palavra assume
contornos de imagem bidimensional, a qual, quando colocada diante do ser humano, não lhe
permite o exercício da decisão. A imagem (e seu conteúdo) simplesmente invade a mente a
partir de sua captação pelo aparelho ocular, obrigando o ser humano a entrar nela. Mesmo que
não se pare, a imagem é assimilada.
Ocorre que a imagem, assim como o texto escrito, também deveria ser lida pelas
pessoas, e essa leitura, tanto num caso como no outro, exige que se gaste tempo. A grande
crítica que se pode extrair das considerações propostas pelos autores aqui estudados é a de
que, uma vez multiplicadas a uma velocidade e quantidade espetaculares na cultura
contemporânea, as imagens tecnicamente feitas e veiculadas pelos media, por um lado, não
121
estão mais permitindo o tempo adequado para sua decifração, dada a rapidez com que são
consumidas. Por outro lado, essas imagens, em sua repetição autorreferente e, por vezes,
destituída de sentido em relação à realidade, paulatinamente estão deixando de alimentar o
mundo imagético interior do ser humano. Ou seja, essas imagens, por assim dizer, se
apropriam (ou “consomem”, para usar a metáfora iconofágica) do imaginário das pessoas; ao
preencher esse imaginário, atrofiam o desejo e a capacidade de se fazer leituras adequadas de
textos escritos e textos falados.
Socialmente falando, o problema ainda tem uma faceta mais perversa. Especialistas de
diversas áreas, além de estudiosos dos fenômenos comunicacionais, há anos já vêm apontando
um elo entre a dissolução dos laços familiares e o fato de as crianças estarem cada vez mais
expostas aos videogames, desenhos animados, internet e outras formas de entretenimento
eletrônico. A imagem perigosamente vem substituindo o outro pela via do tempo de
exposição, e o déficit de vínculos significativos de carne e osso gerado por essa troca
certamente é raiz de diversos tipos e graus de violência.
É óbvio que nem tudo é distúrbio imagético. Precisamos das imagens para nos orientar
no mundo em que estamos inseridos. Nesse sentido, a reprodutibilidade proporcionou uma
conquista inegável à civilização humana ao possibilitar a produção de imagens técnicas. Já
não é possível pensar uma sociedade sem fotografias e vídeos. Uma vez, porém, que a
imagem é invasiva, há que se discutir a criação de meios de defesa crítica da sociedade contra
os seus efeitos iconofágicos.
* * *
O jornalismo, enquanto difusor das narrativas do presente imediato, consolidou um
espaço privilegiado na cultura contemporânea. Embora as imagens fotográficas e
videográficas sejam hoje amplamente utilizadas na veiculação dos produtos jornalísticos, a
palavra continua sendo o principal meio pelo qual as informações são apresentadas ao
público. Dificilmente a imagem fala por si mesma em jornalismo. A legenda, o texto, o
comentário, a passagem, enfim, são as palavras que conferem sentido, explicam, clarificam as
imagens colocadas diante do ser humano.
Fala-se muito atualmente em crise do jornalismo. E não é para menos. A atividade
jornalística parece ter sido apanhada um tanto desprevenida pela popularização do
ciberespaço. Antigamente, o jornalista se arrogava a missão de selecionar aquilo que é
importante para a sociedade, aquilo que deve ser notícia. Hoje, no entanto, se vê forçado a
122
rever suas concepções e redefinir suas tarefas e responsabilidades, já que qualquer pessoa
munida de um computador com acesso à internet pode produzir e veicular informação muito
facilmente, em qualquer momento, e em tempo real.
A despeito da diversidade de gêneros textuais possíveis na atividade jornalística, pode-
se dizer que narrar está na alma da profissão. Principalmente por escrito. Se, em todas as
épocas, as melhores narrativas sempre foram aquelas que tocaram os ouvintes/leitores pelo
fato de se verem, de alguma forma, representados, inseridos nas histórias, com o repórter-
narrador não é diferente. Cabe a ele assumir o seu papel de organizar o caos da vida
contemporânea e tecer o presente em narrativas contextualizadas, cúmplices e afetas ao povo
e aos protagonistas sociais que o cercam. Uma aproximação compreensiva, de preferência
face a face, in loco, respeitando o tempo necessário para a captação polissêmica das
informações junto às fontes e aos fatos, é requisito básico para a construção de um texto
narrativo jornalístico de qualidade. Especialmente considerando que a característica
diferencial a ser buscada pelo público no jornalismo cada vez menos será o “furo” noticioso e
cada vez mais será o aprofundamento e olhar múltiplo na exposição dos ângulos possíveis.
Assim, o trânsito das informações em tempo instantâneo não deixa alternativa ao jornalismo
senão interromper os desvios de rota e enveredar definitivamente por aquele que sempre
deveria ter sido o seu caminho.
* * *
Uma palavra agora sobre o ensino universitário de jornalismo. A investigação das
matrizes curriculares e, sobretudo, dos planos de ensino das disciplinas estruturadas para os
cursos de Jornalismo das três instituições representativas selecionadas como objeto de
pesquisa desta dissertação, revelou, em primeiro lugar, que o texto escrito continua reinando
praticamente absoluto no processo de ensino-aprendizagem desses cursos. Absolutamente
todas as disciplinas têm na produção textual escrita (seja em provas ou em trabalhos) o seu
instrumento central de avaliação dos alunos. Se, por um lado, cresceu a participação dos
recursos audiovisuais em apoio didático-metodológico para a atividade docente, o processo de
conhecimento ainda se concretiza majoritariamente pela leitura de textos escritos, seja no
papel ou na tela do computador, e pela exposição oral do professor.
Outra constatação é a de que, embora nas últimas décadas o currículo haja incorporado
disciplinas voltadas para as novas tecnologias de comunicação ou novas mídias (que, a rigor,
a essa altura já deixaram de ser novas), ainda prevalecem as disciplinas de formação
123
humanística geral. A tendência dos cursos, inclusive, é a de diminuir a carga horária
dispensada ao ensino de conteúdo técnico ou manejo das ferramentas tecnológicas de
veiculação de informação na civilização contemporânea, para abrir mais espaço para as
humanidades. Recorde-se aqui o fato de a ECA-USP estar reinserindo no currículo de
Jornalismo a disciplina de Língua Portuguesa.
Após averiguação curricular dos cursos selecionados, o autor deste trabalho não
acredita ser possível afirmar que se está reproduzindo neles o mesmo cenário de ênfase
exagerada na imagem como veículo privilegiado da comunicação que os autores estudados
nos capítulos anteriores denunciam a partir de suas observações dos fenômenos mediáticos.
Em geral, o espaço reservado à imagem é muito pequeno em comparação com o espaço
ocupado pelo texto escrito, o que se manifesta claramente na preferência dos alunos pelo texto
escrito e impresso no momento de escolher a modalidade de TCC ao final do curso. Mesmo
no curso de Jornalismo do Unasp, onde o telejornalismo recebe um tratamento evidentemente
mais destacado do que o dispensado às outras modalidades, a quantidade de alunos que se
enveredam pelo videojornalismo ainda se equipara com a de alunos que optam por trabalhos
em jornalismo impresso com ênfase no texto escrito. Não se pode falar, portanto, em um
ocaso do texto escrito em nenhuma das três instituições.
Infelizmente, por outro lado, os três currículos passam por alto o processo iconofágico
ora em andamento (e amplamente discutido nesta dissertação), como se, de fato, o problema
ainda não tenha sido identificado pelos corpos docentes dessas escolas. Como as questões
atinentes à hipertrofia de imagens e à devoração imagética estão intrinsecamente ligadas ao
campo da Comunicação, sendo já há anos trabalhadas academicamente por autores brasileiros
e estrangeiros, admira essa completa ausência do tema no âmbito da graduação. Falta,
inclusive, às disciplinas diretamente relacionadas com o uso de imagens em jornalismo (tais
como Fotojornalismo, Telejornalismo e Projetos Gráficos), discussões no sentido de uma
visão crítico-social mais profunda sobre a presença das imagens no cotidiano do ser humano
contemporâneo.
De novo, este não é o espaço das conclusões fechadas, mas da abertura para o debate.
Registre-se, então, um último ponto a ser considerado nas futuras reflexões sobre o preparo
acadêmico dos narradores do presente. Somente nos planos de ensino de Jornalismo da
Faculdade Cásper Líbero e da ECA-USP foi possível encontrar elementos conteudísticos que
se aproximam da proposta de narrativa complexo-compreensiva em jornalismo, conforme
esboçada nos capítulos 2 e 3 deste trabalho. Nesse sentido, definitivamente cai por terra a
ideia estereotipada (tão em voga em tempos de rápidas mudanças tecnológicas) segundo a
124
qual “coisa velha é coisa ultrapassada”. O cuidado com as possibilidades linguísticas e com a
aproximação polissêmica dos fatos e atores sociais, verificado em diversos momentos do
conteúdo programático dos cursos de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero e da Escola de
Comunicações e Artes da USP tornam essas casas de ensino, pelo menos a esse respeito, boas
referências para muitas escolas de jornalismo mais jovens.
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ANEXOS
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Entrevista com o Prof. Dr. Carlos Roberto da Costa. Data: 10/08/2011. Jornalista, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Coordenador do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero no período de 2007 a 2010. Atualmente é professor titular de História da Comunicação na graduação e de cursos de edição de texto de media criticism na pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero. É autor do livro Cidadania e democracia: o que acontece nas cidades em que o PT é governo (IPP Florestan Fernandes, 2000). É editor da revista Diálogos e Debates, da Escola Paulista de Magistratura, e da revista Cásper, da Faculdade Cásper Líbero.
O que caracteriza uma boa narrativa jornalística no formato escrito?
Carlos Costa: Clareza. Frases curtas; uma narrativa que seja muito pontuada; um cuidado muito grande em se evitar palavras da mesma família (ex: chegou chegando, cumprimentou cumprimentando), o que é muito frequente. Um cuidado de se evitar a repetição de verbos (ex. verbo ter, o verbo fazer). O verbo fazer é um verbo “bombril”, tem mil e uma utilidades. É aquela história: a boa narrativa tem clareza, fica clara para todo mundo, não tem pegadinhas ou textos obscuros. Ela pode ser até entendida em níveis diferentes, por públicos heterogêneos, porque você não está usando uma linguagem muito específica; então, ela tem que ter essa preocupação de ser uma linguagem clara.
Em segundo lugar, ela tem que ser concisa. Nós temos uma tendência muito grande de entrar em explicações que às vezes não respeitam a inteligência do leitor. E algumas explicações que são desnecessárias, que ficam excessivas e tornam a leitura menos fluida. A boa narrativa evita elementos que não sejam pertinentes a ela. E há um cuidado estilístico muito importante, que se consegue numa tarefa de releitura. Ou seja, escrever é colocar um borrão que você vai trabalhar em cima, e um desses trabalhos de voltar na reescrita é tentar buscar maneiras mais simples e menos confusas. Por exemplo, “o último disco da Gal Costa” faz entender que ela não vai gravar mais ou que ela morreu. Então, na verdade, seria “o disco mais recente da Gal Costa”, provavelmente haverá outros.
Trata-se, então, de uma série de coisas que demandam uma convivência com o texto dia a dia. Eu dou um curso na pós-graduação que se chama Editar e Escrever para todas as Mídias, que é um curso para melhorar o português na narrativa escrita. No semestre passado teve 20 alunos, e neste semestre tem 44. Eu não sei como vou dar o curso para tantos alunos – vou precisar refazer as propostas de dinâmicas porque não vou conseguir ler e dar conta de tantos trabalhos. Mas uma das coisas que ficam muito evidentes pra mim é que o primeiro passo da escrita, que é colocar no papel um projeto de texto, um rascunho, às vezes é considerado o texto final. Aí você recebe de volta um trabalho cheio de correções e coisas apontadas apenas porque você não releu. Então você escreve “a maioria dos alunos chegaram”... tá errado, “a maioria dos alunos chegou”. Dificilmente numa primeira leitura você acerta todos os casos gramaticais. Por isso é importante uma segunda leitura, quando você não está mais aflito de colocar a história no papel (você já colocou). Poucos profissionais fazem esse trabalho de burilar, um trabalho que eu chamo de “violino fino”.
O trabalho de escrever, mesmo para mídia instantânea (como um jornal que é para o dia seguinte) é um trabalho em que você tem que fazer um esforço para ter uma interrupção mínima e voltar a ler aquele texto sem a preocupação de quem está querendo escrever, para ver se a história ficou clara. Tem muitas histórias que são ambíguas, eu pontuo muito isso na conversa com alunos, pegando o que eles estão dizendo no outro sentido que eles não perceberam: “Ah, quer dizer que ela não vai gravar nenhum disco, você falou que era o último”...
A sua pergunta é uma pergunta muito complexa. Recapitulando, em primeiro lugar, você tem que pensar e ter clareza do que quer contar. Mentalize, reflita ou mesmo escreva um esboço à mão do que você quer contar e qual é o roteiro que você vai seguir, tomando cuidado para não seguir por vertentes paralelas. Por exemplo, “o cara tinha uma bicicleta, a bicicleta era da marca Caloi. A Caloi, aliás, tinha uma fábrica aqui na Granja Viana”, você entendeu? Corta, corta... Depois que se escreveu, a maior
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qualidade do texto é clareza. O texto não pode dar lugar a dúvida, mas às vezes a gente se perde e não entende o que o autor quis dizer. Clareza é fundamental.
O segundo elemento, reforçando, é a concisão. Frases curtas dão conta do recado; frases longas começam a criar um cipoal que faz você ter de olhar lá em cima para lembrar quem era. Os alunos costumam repetir muito o substantivo, quando o pronome está justamente criado para ficar no lugar do nome. Então, em vez de falar “o ministro das Telecomunicações”, você diz “ele” e evita repetir o nome.
Seria correto afirmar que a elaboração do texto jornalístico destinado a ser lido pelo público (ex. veículos impressos e internet) exige mais do autor que a produção do texto para o rádio e a televisão?
Carlos Costa: Eu tenho certa dificuldade de responder com muita autoridade porque eu apenas fiz um programa de rádio e nunca trabalhei na televisão. Clareza de raciocínio e clareza de enunciado é fundamental para qualquer meio, seja internet, televisão, rádio... É essa virtude de você ter clareza do que você quer contar, se ater ao núcleo da história e deixar de fora todos os assessórios que às vezes são mais para o autor brilhar do que para história ser compreendida. Eu aprendi a trabalhar com narrativas de períodos curtos com o rádio. No rádio você não pode dizer quando, entretanto, enquanto isso, por outro lado, porque o ouvinte se perde.
Tem um senhor que escreveu um texto pra mim, chamado Washington Olivetto, que me deixou pasmo. Nenhuma frase dele tinha mais do que cinco palavras, era quase telegráfico. Em algum momento chegava a incomodar – mas é uma escola. Você tem que ser claro e evitar gordura no texto: “Eu estou muito preocupado”. Tira o muito. “Eu estou preocupado”. Precisa falar o “muito”? Você sabe que eu estou preocupado. “Um grande abraço”... “um abraço”, porque o meu abraço tem que ser pequeno, é grande, tá implícito! Você tem que limar, sobretudo, adjetivos e advérbios de modo. Por exemplo, “paralelamente”. “Enquanto isso” é melhor. E tem pessoas que chegam a usar três advérbios de modo numa única frase. E ficam frases chatas de ler. Então: textos curtos, frases mais simples.
O Roger Black, que é um designer norte-americano (passou pela revista Rolling Stone, Time etc. e fez o redesenho da revista Placar, da Editora Abril, numa determinada época em que ela ficou grandona), diz num dos livros dele o seguinte: a única pessoa que vai ler um texto grande até o fim é a sua mãe. Porque nem você vai ler, porque já escreveu, já foi publicado, já está fazendo outra matéria, já está em outro trabalho... É claro que quando o texto é saboroso, foi bem contado, tem uma urdidura, você lê por prazer. Um dia desses eu li uma matéria numa revista chamada piauí, que é uma revista de leitura excelente, da qual eu gosto de algumas coisas (ex-alunos meus escrevem lá). Mas tem algumas matérias que são tão grandes, que você para e pensa: eu preciso saber tudo isso sobre esse touro? Eu me refiro a uma matéria sobre um touro que teve alguma coisa como 4 mil filhos sem nunca ter copulado, porque vendiam o sêmen dele. Era uma matéria engraçada, mas na metade da matéria eu pensei: até aqui está bom, chega.
Eu li duas matérias sobre o Supremo Tribunal Federal do Roberto Maklouf Carvalho (um grande repórter, autor de um livro chamado Cobras criadas). O presidente do Supremo é meu amigo de outras datas – eu faço uma revista para a Escola Paulista de Magistratura. Eu conheço muitos dos personagens do Supremo. O Peluso é meu amigo... O anterior, Gilmar Mendes, indicado pelo Fernando Henrique, eu o entrevistei. Então, eu me senti meio que ouvindo fofocas desses personagens. A revista Carta Capital fez uma campanha terrível contra ele [Gilmar Mendes] como coronel em Diamantina, no Mato Grosso. O irmão dele é prefeito e parece que tem capangas lá, essas coisas. Eu li as duas matérias por obrigação de ofício, eu precisava saber o que foi dito porque isso repercute no ambiente onde eu faço uma revista. Mas, francamente, a matéria não entrou em coisas fundamentais e o Roberto Maklouf é um grande repórter. Ele não falou da tendência de voto do Supremo – se o Supremo tende a votar em favor do governo, em favor de grandes empresas ou em favor dos pobrezinhos... Isso é um trabalho de pesquisa e tem gente que faz essa análise das súmulas do STF. O que interessa se a mulher do Gilmar Mendes é funcionária de um outro escritório? Quer dizer, interessa porque tem a intermediação de favores aí, mas entrou em tanta firula, em tanta fofoquinha, que a matéria se perdeu.
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Será que eu preciso contar tudo isso para o meu leitor? Se eu vou escrever uma matéria sobre vodka, mesmo que eu tenha feito uma degustação de vodka numa fábrica da Rússia e entenda muito sobre vodka, eu vou ler ainda mais sobre vodka pra tirar daí o mínimo necessário para o leitor. Pensar no leitor é importante. Depois de escrever, é preciso voltar atrás e reler, pois o trabalho não sai de primeira. Sai de segunda ou de terceira. Toda a vez que você lê um trabalho, você percebe alguma coisa que poderia estar um pouquinho melhor. Essa é a coisa da carpintaria ou da ourivesaria de fazer um texto. Claro que no dia a dia você faz o que é possível.
O senhor enxerga com bons olhos esse enxugamento textual feito pela Folha de S.Paulo em sua última reforma?
Carlos Costa: Aí nós entramos numa discussão que é um pouco mais complexa. Eu não sei se a minha neta vai ler a Folha de S.Paulo. Eu tenho quase certeza de que vou poder guardar alguns exemplares da Folha de S.Paulo para ela saber que existiu esse jornal. É verdade que houve um decréscimo de publicações impressas em toda a Europa e EUA, enquanto houve um crescimento em Brasil, China e Índia. É muito interessante, mas é um episódio que não invalida o que eu penso: o jornal impresso não é uma mídia do futuro. Então, a reforma da Folha e também do Estadão, há uns dois ou três anos (fazendo com que o jornal se parecesse muito com internet, a navegabilidade e todos uns comandos que são de araque), são tentativas válidas. O Estado de S. Paulo tem uma performance melhor do que a da Folha – a Folha tem uma tiragem maior, mas o custo do envio para as diversas partes do país faz com que o lucro seja menor. O Estadão vende em São Paulo mais do que a Folha e com isso ele ganha mais dinheiro. Economicamente, o Estadão está bem gerenciado. Vamos dizer que no crescimento dessa mídia impressa contam os jornais gratuitos que te dão na rua. Eu não vejo nenhuma vantagem, quer dizer, o nosso déficit de leitor é uma coisa meio crônica que não tem solução. Nós nunca seremos um grande país leitor de livros e revistas; podemos até ser um grande país de usuários de mídias alternativas, de internet, tablets etc. E parece que em internet a posição do Brasil é realmente diferenciada, porque esta geração é uma geração de uma cultura visual, e as leituras que eles fazem são leituras não seguidas de uma lógica linear – eles estão muito mais informados do que eu estava na idade de deles. Eles não apenas têm muito acesso a outdoors (aqui em São Paulo um pouco menos com a Lei da Cidade Limpa), mas têm acesso a celular, internet e mecanismos de comunicação que a nossa geração não tinha. Eu trabalhei numa época em que você tinha que cortar o pedaço errado da lauda e colar o pedaço corrigido para não ter que refazer a lauda inteira. E, às vezes, o editor pedia pra você colocar o pedaço do fim no começo, e você se embaralhava e não lembrava mais. Hoje, com o computador, você sobe, desce, altera com uma facilidade que consome minutos. Se bem que às vezes você se confunde porque o computador tem uma leitura que não é aquela leitura espacial – ela é linear. Quando você tira um pedaço do texto e leva para outro arquivo, deve primeiro fazer uma cópia e chamá-la de matéria em construção, porque se você se embaralhar, é possível voltar ao primeiro texto pra saber o que tinha acontecido.
De que forma a construção do texto narrativo tem sido afetada pelas mudanças nas tecnologias de informação?
Carlos Costa: É uma consequência muito forte, porque nós temos uma geração que leu menos em papel, trabalhou menos texto escrito. Na minha época, você tinha que copiar textos a mão. Depois talvez até você passasse para uma máquina de escrever, mas esse texto não ficava armazenado num arquivo que você abria, atualizava, aumentava. As possibilidades de você pegar uma informação e trazer para o teu texto e fazer disso uma mistura são tantas que dá até uma dificuldade de dizer que é plágio... Você não está plagiando, está fazendo um trabalho de reelaboração de um texto de teoricamente passa a ser teu. O Shakespeare fez isso com o livro Lendas medievais. Ele não deu crédito aos autores de Romeu e Julieta; se aproveitou de um relato que eu não sei se chegou para ele de forma escrita. O Walt Disney trabalhou uma série de personagens criados pelos irmãos Grimm – inclusive, alguns personagens, como a Branca de Neve, foram “melhorados” por ele, porque o conto era muito mais agressivo, com passagens que chamaríamos hoje de obscenas. Ele fez uma água edulcorada e nunca pagou direitos autorais para a família dos irmãos Grimm. A empresa Disney é uma
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das empresas mais sacanas... ela fez o congresso americano mudar a lei dos direitos autorais, passando de 75 para 100 anos o período estipulado para uma obra cair no domínio público. Vai chegar a hora em que o Mickey e o Pateta cairão no domínio público e essa empresa vai fazer um escarcéu. Ou seja, ela pirateou na origem e não quer ser pirateada. E a tendência da comunidade da informação é a de que os textos sejam de domínio livre: eu pego um texto de alguém, trabalho esse texto, dou uma outra concepção, acrescento coisas. Esse trabalho não é uma paráfrase, é mais do que isso: é uma apropriação que eu faço desse texto, fazendo-o virar meu.
Há quem defenda que o texto escrito vem perdendo qualidade em função da velocidade que atualmente se impõe aos múltiplos aspectos da vida humana (entre eles, o da comunicação). O senhor concorda com essa visão?
Carlos Costa: O texto escrito está perdendo qualidade por um certo barateamento da mídia. Outro dia, no portal do Uol, a frase principal estava escrita com erro. Em outra ocasião, havia um foto do Hitler com o papa Pio XII. A foto daquele personagem podia ser a de um mandatário da Igreja, mas não era o Pio XII. Sabe, eu nasci em 1950, e na minha casa houve uma imagem do Pio XII na parede durante muitos anos. Eugenio Pacelli era o nome dele, então eu sei que essa informação estava errada. Na TV Metrô eu li uma notícia falando sobre a lei das 200 milhas marítimas que são consideradas território brasileiro. O Médici mudou para as 200 milhas. Então o texto dizia assim: “em tal dia de março, há tantos anos, era estendido o mar territorial brasileiro para 200 milhas pelo então presidente Emílio Geisel”. Estava assim. Os nomes confundidos são dos anos 70: Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel. Mas, para a molecada que está fazendo jornalismo hoje (aliás, ganhando um salário de miséria), Emílio Geisel está legal e ninguém da TV Metrô enviou um e-mail ou um torpedo dizendo: olha, vocês erraram. E é possível que alguém lendo “Emílio Geisel” grave o nome de um presidente que não existiu. O erro tem uma capacidade muito grande de propagação.
Por que se barateou a linguagem? Muitas vezes, a falta de uma revisão/reflexão no jornalismo diário faz com que a mentira tenha uma sobrevida... Por outro lado, no sistema de trabalho nas grandes redações, onde havia o foca e o foca aprendia, um cara reescrevia a matéria para ele (um trabalho que o Jânio de Freitas fez no Rio de Janeiro com gerações de repórteres, incluindo o Fernando Gabeira, que foi um grande jornalista antes de ser exilado e, depois, se tornar político). Essa história de você aprender e depois alguém mandar você refazer... hoje em dia ninguém manda refazer. Terminou, graças a Deus! Tá na hora, manda embora!... O volume de erros é muito grande; realmente é chocante até em revistas. Erros de informação que criam verdades que são erros.
O senhor acha que essa linguagem rápida, “cifrada” da internet, twitter, celulares, etc., contribui para o empobrecimento do texto escrito?
Carlos Costa: Uma das coisas que você tem que bater muito com os alunos é que em hipótese alguma eu aceito qq como qualquer. A palavra qq não quer dizer nada. E eu faço correção de trabalhos na disciplina de História da Comunicação com a atenção de um professor de português. O aluno perde ponto porque está escrevendo errado. Eu acho que a escrita revela a capacidade que você tem de concentração, de abstração, de buscar clareza e de contar uma história sem grandes delongas, sem sair do leito.
Considerando sua experiência como professor de Jornalismo, o senhor vem notando algum nível de queda na qualidade do texto produzido pelos alunos?
Carlos Costa: É difícil você tirar uma conclusão porque o Vestibular da Cásper Líbero, por exemplo, é um vestibular muito exigente e a redação conta mais pontos do que qualquer outra coisa. Algumas questões são questões complexas. Uma vez eu corrigi uma parte das provas e havia uma em que a garota fez uma citação de tudo quanto era autor possível para dizer que ela entendia de comunicação. Só que ela não respondeu a questão, que era sobre a espetacularização da notícia. Ela não entendeu, ela quis se exibir. E é muito comum até jornalistas famosos sucumbirem à tentação de sair do foco. E
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isso é uma coisa mais ou menos generalizada. O ensino básico perdeu muito das virtudes que ele tinha no passado, o que não impede que o Colégio Bandeirantes e o Dante formem pessoas hiperpreparadas. Entretanto, na média houve uma queda sim e a minha preocupação é a de que isso não se reverta. A escola primária é o fundamento de tudo o que se vai construir depois.
O senhor acredita que o trabalho das escolas de jornalismo com o texto escrito junto aos alunos tem perdido terreno em função da inserção no currículo de matérias voltadas para as novas tecnologias da comunicação eletrônica?
Carlos Costa: Na realidade eu acho que aí se opera com um erro que é o seguinte: O suporte (que são as novas tecnologias ou papel impresso e coisa e tal) está ganhando um peso que faz com que a mensagem, que é a finalidade do suporte, fique descuidada. Eu comandei uma reforma curricular que não foi ao ar na minha edição, mas está sendo feita agora, e a preocupação era a seguinte: dois anos de jornalismo televisado é muito; dois anos de radiojornalismo é muito; dois anos de novas tecnologias é muito. Mas se juntarmos tudo isso numa convergência de mídias, certamente ganharemos espaço para outro tipo de disciplina, que pode ser literatura universal, autores, alguma coisa de geografia humana etc. O importante é você ter conteúdo na cabeça. A técnica vai mudar.
Houve um grande movimento (isso quem diz é a Beatriz Sarlo num livro chamado Tempo presente) das escolas argentinas no sentido de investirem muito fortemente nessa coisa de informática e programação de computador. Então a Argentina teve um período em que saía da escola todo ano uma massa de programadores de computador. Naquele tempo, os programas exigiam que você fizesse uma programação (Word 5, Word Star etc.). Só que uma empresa chamada Microsoft lançou um programa chamado Windows e hoje em dia ele já vem pronto – sabe, você começa a clicar e ele te explica, abre uma janela, você não precisa aprender programação, a fazer matemática, a ter um pensamento claro, a fazer deduções lógicas... Se mudar para celular ou para uma outra plataforma, isso é problema dos engenheiros, você tem capacidade de aproveitar a ferramenta. Acho que os cursos de jornalismo estão muito preocupados com a ferramenta e às vezes se esquecem um pouco do conteúdo, o que vai entrar na cachola do cara para depois ele não escrever bobagem, ou ter senso crítico – isso não casa com aquilo.
O filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser identifica um período de hegemonia absoluta do texto escrito como veículo privilegiado da comunicação, que iria do século XV ao início do século XX. A partir daí, segundo o autor, a escrita começou a perder terreno para as imagens técnicas. Como o senhor avalia hoje a comunicação imagética em relação à comunicação pelo texto?
Carlos Costa: Também é uma pergunta altamente complexa essa. Tem um italiano chamado Giovanni Sartori, que tem um livro chamado Homo videns: televisão e pós-pensamento, no qual ele diz que a televisão é uma fábrica de criar burros porque a imagem digital te dá a coisa pronta. Então, se eu falo para você que a mulher morreu com uma facada nas costas, você não precisa pensar, uma vez que existe a foto. Agora imaginemos que eu fale em vez de mostrar uma imagem, narrando para você pela linguagem escrita que a mulher chegou em casa, a casa estava em uma semiobscuridade e detrás da porta sai um vulto alto com uma faca na mão e a golpeia nas costas. O texto escrito provocará na sua cabeça a necessidade de decodificar o que é um vulto, o que emerge, o que é um facão, quem é a essa mulher... e você vai dar uma cara pra essa mulher. E, provavelmente, a cara dessa mulher é parecida com a cara de algumas das mulheres que passaram pela sua vida (sua irmã, sua professora, sua mãe). A faca com que o assassino está apunhalando a mulher tem a ver com muitas das facas que você já viu na sua vida. Pode ser a faca com que o pai matava porco; com que a mãe tirava escama do peixe... Você está usando e está se apropriando de imagens pra entender essa história. Se eu mostrar isso num vídeo, você não tem que pensar nada. Está lá: a roupa da mulher é vermelha, a faca é enferrujada, o cara não tem 1,90m, tem 1,70m – foi você que imaginou 1,90 porque eu falei um vulto alto. Quer dizer, 1,70m pra mim é 11cm a mais do que eu, já para um cara de um 1,90, não. Assim, o texto analógico pressupõe uma subjetividade, eu preciso ler e decifrar para entender. Então eu paro muito em aula e pergunto paro aluno quanto a um texto sobre um tacão de Vargas – todo mundo leu o texto, mas que é tacão? Mas todo mundo leu o texto, mas ninguém sabe o que é tacão? Eles deduzem, e às
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vezes deduzem errado – tacão é o salto do coturno. Existe, então, a necessidade de se entender o texto, porque o texto é analógico e se você não entende uma imagem, você faz uma ideia errada. O texto é complexo. E o Giovanni Sartori diz que a televisão te dá tudo pronto e você não precisa pensar: estamos perdendo a capacidade de raciocínio, ou seja, uma visão muito apocalíptica. Outros autores já falam da imagem complexa, ou seja, nós não sabemos ainda ler uma imagem. Há todo um passo de tentar reconhecer o suporte, o fundo... Eu tenho um artigo, que vou apresentar na próxima Intercom, em que faço a análise de um retrato, de uma tela e de três fotos: a questão é saber por que a gente olha uma imagem e já passa para outra, a gente não se deteve naquela, a gente não sabe ler imagem. Mas realmente hoje há uma queixa muito grande dos professores de que os alunos não leem. Mas, na realidade, os alunos leem muito mais do que líamos no nosso tempo. Só que eles não leem do jeito que a gente lia. É uma leitura randômica; não superficial, porque, ao mesmo tempo, eles têm umas sacadas maravilhosas, têm elaborações muito ricas, porque eles não estão presos àquele padrão da leitura digital, analógica de um texto que você tem que interpretar e coisa e tal. Eles leem muitas coisas ao mesmo tempo e fazem muitas conexões. Eu acho que é um estudo que não foi feito ainda. As pessoas leem mais, só que de uma maneira diferente. Sem querer você se informa. Toda vez que você vai abrir um e-mail, acaba lendo uma notícia, fica sabendo de algo. Agora, ler em profundidade, acontece o mesmo com ler imagem. É tudo muito superficial.
Alguns autores trabalham com o argumento de que tanto a leitura da imagem produzida no passado, como a leitura e produção de textos escritos, são atividades caracterizadas por um tempo característico, um tempo lento necessário para decodificação e reflexão. Eles afirmam que a onipresença na atualidade de imagens feitas para serem vistas de forma rápida, fugidia, está começando a interferir nesse tempo lento e atrofiando a capacidade de leitura e escrita. O senhor concordaria com isso?
Carlos Costa: Provavelmente isso está atrofiando a capacidade de leitura. Eles estão fazendo um outro tipo de leitura – essa coisa meio sináptica, de ligar pontos e fazer conexões que antes nós não tínhamos. Eu ainda acho que nós somos muito lentos em fazer a leitura de alguns textos, enquanto a molecada já sacou pra onde aquilo vai. Eu acredito que nós estamos falando de um outro patamar, e eu não diria que um é melhor e o outro é pior. No nosso mundo foi melhor, mas, agora, no mundo deles, eu acho que vai ser um pouco diferente – essa capacidade que eles têm de dedução. De ouvir uma coisa, ouvir outra e fazer misturas. Eu fico admirado de ler um trabalho de um aluno e ver o nome de uma fulana de quem eu nunca ouvi falar. Aí eu tenho que fazer uma pesquisa do Google pra ver que é uma cantora que está “bombando”, e já há dois meses. Eles já chegaram lá e a gente não. Aí, quando eu descubro que existe uma cantora inglesa chamada Amy Winehouse, ela morreu. Não posso mais esperar para me interessar por algumas coisas. Ora, eu não quero mais saber de tudo porque não dou conta de saber de tudo. Eu prefiro fazer a minha leitura lenta, tomando nota de algumas coisas. Não sei se essa molecada vai fazer isso. Seguramente não.
O senhor nota alguma preferência dos alunos de jornalismo atualmente pelas imagens como veículos privilegiados da comunicação?
Carlos Costa: Não sei se é possível ter isso como muito claro. Eu acho que há uma deficiência de leitura de imagem e de texto, porque a leitura de texto a gente aprendeu a fazer. Agora eles não sentem a obrigação de ir fazer uma pesquisa sobre o significado de uma frase ou de uma palavra. Eles acham que entendem o global, mas por algumas palavras eles passam batido, mais ou menos como a gente faz com as fotos. Quanto tempo você parou para analisar uma foto num outro tempo que não fosse aquele tempo dinâmico da televisão, ou da revista, ou da internet? Aquela história de voltar a ver: quantas vezes você voltou a ver um filme? Eu estava há pouco fazendo um trabalho sobre a imagem e a imagem não se esgota. É o caso, por exemplo, de um filme do Quentin Tarantino chamado Bastardos e inglórios, que é um filme engraçado porque realiza um sonho meio psicanalítico, colocando uma bomba num cinema que mata todo o Terceiro Reich e a 2ª Guerra Mundial acaba ali. Só que isso é uma fantasia. Nesse cinema, onde está havendo a pré-estreia de um filme, e ele põe um letreiro com uma flexinha para o expectador saber que aquele ator está imitando o (agora não me
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lembro dos nomes dos personagens) – quer dizer, a imagem não deu conta e o Tarantino, que é um cara safo, percebeu que muitos expectadores não sabiam quem era. E ele pôs uma flexinha e as letrinhas.
Eu tenho um amigo que mora hoje na Carolina do Norte, EUA, veterano de guerra. Eu fui para a Rússia agora nas férias e no metrô de lá eu vi dois caras que achei engraçadíssimos, um era sósia do Stálin e o outro do Lênin, sentados e com uma terceira cadeira vazia. Eu me aproximei e eles falaram “200 rublos”. Eu disse “tudo bem”, e um amigo meu começou a tirar fotos. Macaqueei bastante com os dois. Pois bem, eu peguei uma dessas fotos em que aparecem o Lênin e o Stálin e mandei para aquele meu amigo dos EUA. Ele me perguntou quem eram aqueles dois caras que estavam comigo. Um cara que tem 60 anos e participou da guerra do Vietnã. Eu perguntei se era gozação e não foi. Eu precisaria ter feito uma legenda.
Precisamos educar os alunos quanto a essa complexidade de leitura da imagem. É preciso fazer um trabalho de parar para analisar o que a imagem está me dizendo, o que há de estranho nessa imagem, e também educá-los para ler um texto e saber o que esse texto está dizendo. Há uma deficiência dos dois. Não é que a cultura da imagem eliminou a cultura do texto. Nós estamos perdendo a cultura de ler um texto com calma, com gosto, porque a velocidade do mundo (não só da imagem) está fazendo a gente não parar para pensar. E isso se estende para as relações de amizade, para as relações familiares. Quantas vezes você não vê alguém tendo uma conversa pelo celular com a mãe, uma conversa que deveria ter pessoalmente. É uma reflexão que vai além do jornalismo. Aprender a pensar com clareza, objetividade é uma tarefa fundamental da escola de jornalismo, seja para o aluno editar imagens ou escrever textos. Aliás, se ele não souber escrever textos, vai ser um péssimo repórter de impresso, de rádio, de televisão ou internet.
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Entrevista com o Prof. Dr. Igor Fuser. Data: 16/08/2011. Jornalista, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Coordenador do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, onde também atua como professor na graduação e na pós-graduação. Escreveu, entre outras obras, A arte da reportagem (Scritta, 1996) e Geopolítica: o mundo em conflito (Salesiana, 2006). Foi editor no jornal Folha de S.Paulo, e nas revistas Veja e Época.
Qual é a importância do texto escrito para o trabalho do jornalista?
Igor Fuser: O texto escrito é a base do trabalho do jornalista. Historicamente o jornalismo surge e se desenvolve nos últimos dois ou três séculos com base no texto escrito. Depois, a partir do século XX, começa a surgir o texto falado primeiramente no rádio, e, depois, falado e acompanhado da imagem viva na televisão, e agora as novas mídias que misturam tudo etc. Agora, o texto escrito é a base, a comunicação jornalística se dá pela palavra; a imagem é sempre um complemento, não é o principal no trabalho jornalístico, em hipótese alguma. Hoje, mesmo com a CNN, mesmo com todos os recursos que a imagem proporciona, sem a palavra, nada feito. Sem a palavra, a imagem pode ser qualquer coisa. É a palavra que dá sentido à imagem; o principal é a palavra, seja escrita, seja falada.
Qual impacto o desenvolvimento das tecnologias de informação (internet, celulares, etc.) têm exercido sobre o gesto de escrever?
Igor Fuser: As novas tecnologias mudam o tipo de comunicação que a gente tem com o público. Em muitas situações, o nosso público deixa de ser formado apenas por receptores passivos, quer dizer, existe a possibilidade de interatividade; existe uma multiplicidade de atores no campo comunicacional, que não existiam antes... esse público acostumado a se comunicar pela internet e a utilizar novos instrumentos como o Facebook, Twitter, navega numa quantidade enorme de sítios na internet, muda de sítios com uma rapidez enorme, um público saturado de informação. Então, a comunicação com esse público tende a ser mais telegráfica para você conseguir se comunicar. Esse público tem mais dificuldade de ler textos longos, quer dizer, você é obrigado a adaptar o seu texto e, com raras exceções, o texto jornalístico se torna mais fragmentado para você ter uma chance de se comunicar. Hoje você tem a possibilidade de links, coisa que não tinha antigamente; a interação com a imagem é mais intensa, então você pode colocar um trecho filmado acompanhando o seu texto. Então aquela velha tradição do longo texto jornalístico, articulado, elaborado, com longos parágrafos, longos raciocínios etc., esse tipo de texto fica cada vez mais confinado a algumas publicações muito específicas. Mas uma comunicação de massa por escrito, ela se fragmenta. Acho que esse é o grande impacto que as novas mídias têm sobre o texto especificamente.
Essa situação representa prejuízo para a escrita?
Igor Fuser: Sem a menor dúvida. Nós somos obrigados a nos adaptar a essas novas condições. Em compensação, a gente tem hoje a possibilidade de ter mais leitores.
Em sua experiência como professor, o senhor tem verificado um empobrecimento da qualidade do texto jornalístico dos estudantes?
Igor Fuser: Sem dúvida. Os alunos leem hoje muito menos, isso é unânime, você pode perguntar pra qualquer um. O aluno, ao chegar aqui, teve uma bagagem anterior de leitura menor do que a de gerações anteriores e ele continua lendo pouco, e sua leitura é fragmentada. É um leitor que tem menos paciência, menos tolerância para permanecer longos períodos de tempo lendo a mesma coisa. É um aluno que tem um vocabulário muito mais pobre; é um aluno menos informado. E existem tem outros fatores que não têm a ver com as novas mídias: trata-se de um aluno muito menos politizado, é um aluno menos crítico, mais conformista. A minha geração se rebelava contra os valores dos pais, a
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maior parte da geração atual reproduz os valores dos pais. Votam nos mesmos candidatos dos pais, defendem a mesma ideologia que os pais, muitas vezes até de uma forma inconsciente. É uma geração mais conformista essa que nós temos hoje na faculdade e essa não é uma realidade só da Cásper, eu dei aula em outras faculdades, tenho contato com professores que trabalham em outras faculdades, e o cenário é o mesmo.
Seria correto afirmar que a elaboração do texto jornalístico destinado a ser lido pelo público (ex. veículos impressos e internet) exige mais do autor que a produção do texto para o rádio e a televisão?
Igor Fuser: Sem a menor dúvida. É preciso mais profundidade, um conhecimento mais completo, mais denso. Elaborar uma longa matéria, com 20, 30 parágrafos, articulando todo um pensamento, mesmo um pequeno ensaio sobre determinado assunto, é muito diferente do que produzir 20 linhas para jogar na internet. Quer dizer, a informação no rádio ou na televisão, eu não se se por natureza, mas concretamente, a tradição que se formou é de uma informação mais superficial, que você ganha em agilidade, rapidez; você ganha em alcance, consegue atingir um público muito maior; você ganha em emoção, na medida em que você alia o texto ao som e a imagem. A capacidade de comunicação desses dois meios (rádio e TV) é impressionante. No entanto, a tradição que se formou é de uma abordagem superficial dos assuntos. Quanto tempo dura uma notícia num telejornal? 15 segundos, 30 segundos? Um minuto já é uma notícia de fôlego na televisão. Uma matéria de 3 minutos, 5 minutos é praticamente um especial, um documentário. Então é necessariamente mais superficial, não tem como: a profundidade está relacionada com o tempo; tempo para as ideias serem expostas, as informações serem expostas e para as ideias serem processadas pelo receptor. Não adianta você querer a Crítica da razão pura de Kant em 15 segundos. Há uma relação entre tempo e profundidade, não há dúvida. Em compensação, os meios que trabalham com a imagem e com o som têm uma possibilidade de despertar emoção, de mobilizar mais completamente o seu receptor usando recursos que quem escreve não tem. Têm oportunidades maiores de conseguir um efeito mais impactante para os conteúdos que emitem.
A que se deve, então, essa queda de qualidade da escrita?
Igor Fuser: Os alunos basicamente leem menos do que se lia há 20, 30 anos. Eles têm menos cultura geral. Isso está ligado também à educação, porque já na escola eles leem menos. E no dia a dia, no seu tempo de lazer, mesmo os alunos mais inteligentes, mais inquietos etc., têm uma leitura de pior qualidade, uma leitura dispersa em Facebooks da vida, enfim, é uma geração educada na base do videogame. É uma geração que tem muito mais acesso a filmes, mas viu menos do que a nossa. Isso é um aspecto. Um outro aspecto é a despolitização. Aqui na faculdade, por exemplo, atualmente nós estamos sem centro acadêmico porque não há alunos dispostos a assumir sua direção. Não é porque eles são reprimidos, é porque o individualismo é total. Ninguém se dispõe a se dedicar uma causa coletiva, ainda que seja uma causa coletiva no seu entorno imediato. Não estamos falando do mundo, mudar o sistema político, acabar com as injustiças do mundo. Estamos falando de um nível sindical muito básico, de defender melhores condições de ensino, dentro do que eles consideram que sejam as reivindicações deles. Mas não há ninguém que se disponha a um compromisso mínimo com uma causa coletiva, porque é uma geração mais individualista, uma geração que já foi formada dentro do modelo neoliberalista. O neoliberalismo é uma vertente mais radical do capitalismo, em que os valores do dinheiro, do sucesso individual, da posse individual dos bens, da carreira, são elevados ao extremo. Então é natural que ninguém se disponha a participar de reuniões. A despolitização impede o acesso do jovem a uma dimensão importante da vida, que é a dimensão política: disputar uma eleição numa chapa, participar de congressos estudantis, ir a manifestações públicas, sair à rua defendendo uma causa qualquer que seja ela. Isso é um aprendizado, uma escola. Você perde esse aprendizado. E isso é uma pena, pois junto com esse aprendizado vem uma porção de coisas: aprende-se a falar em público com desembaraço, aprende-se a discutir, a ouvir o outro, a defender uma ideia, a persuadir os outros de que o seu ponto de vista é o melhor, a negociar, fazer concessões etc. Espero que as próximas gerações recuperem esse nível de vivência política. Isso acaba evidentemente deixando lacunas na formação. Digo isso sem me gabar, mas os melhores na minha época estavam engajados no
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movimento estudantil. Isso nos dava uma visão de mundo, uma visão de história, de sociedade, independentemente dos méritos dessa visão. Uma visão do todo, você sabia que o que você estava fazendo aqui estava articulado com o que estava acontecendo na Coréia do Sul; que a sua vida tinha um lugar na história. Isso tudo é uma perda de referências muito grande.
A inserção no currículo de matérias voltadas para as novas tecnologias da comunicação eletrônica provocou perda de espaço para o trabalho com a construção do texto nas escolas de Jornalismo?
Igor Fuser: Eu não diria isso, porque acontece o seguinte: não estamos lidando com escolas de jornalismo ideais. A Cásper Líbero hoje é infinitamente melhor do que a Cásper Líbero em que eu estudei. Eu passei aqui pela Cásper e aprendi muito pouco. Os professores eram muito ruins, um ou outro se salvava. Hoje temos um bom corpo de professores. O currículo naquela época era completamente defasado; era um currículo que nos anos 40 já era defasado. Sempre há espaço para críticas, mas hoje temos um currículo que acompanha o debate e a prática da nossa época. Realmente temos aberto espaço para as chamadas novas tecnologias: temos atualmente um ano para uma matéria chamada Novas Tecnologias – estamos discutindo o currículo e esse nome Novas Tecnologias vai desaparecer, porque elas já não são novas (eu uso e-mail há mais de 10 anos – a internet tem mais do que isso e, quanto aos computadores, nem se fala). As mídias digitais ou virtuais, comunicação digital, webjornalismo, nós estamos dobrando a carga horária pra esse campo de conhecimento. Agora, isso também não é nada radical – isso significa que o aluno, em vez de ter uma aula de 1h30 por semana, vai ter duas aulas de 1h30 por semana, mas esse aumento não está se dando em detrimento das matérias mais voltadas para o desenvolvimento do texto jornalístico. Estamos fazendo isso de uma maneira muito racional. Algumas disciplinas que não precisavam ocupar um ano, vão se tornar semestrais, de maneira que vai haver um equilíbrio, sem prejuízo algum para o desenvolvimento do texto.
Num contexto de novas tecnologias (internet, por exemplo) “preguiça jornalística” [entendida aqui como a negligência na apuração e no aprofundamento, além da fuga do contato direto com os fatos e protagonistas sociais] é uma tentação significativa?
Igor Fuser: Infelizmente é. O jovem jornalista, ainda na faculdade, percebe que há uma defasagem muito grande entre o que nós professores ensinamos na faculdade como sendo o bom jornalismo e o jornalismo real: o jornalismo que se pratica nas empresas de jornalismo, na imprensa comercial, nos sites de informação e assim por diante. No estágio eles aprendem a encarar como normal a matéria feita por telefone, o repórter apurar cinco ou seis pautas por dia de qualquer jeito, reportagens que são feitas de uma forma burocrática ou coisas muito piores, coisas que envolvem infrações de ética, manipulação da informação (então você liga pra uma fonte porque você quer que a fonte te diga uma frase que vai justificar o enfoque político que você já tem a priori na sua matéria – vão te pressionar a dizer essa frase, e se você não disser, vão manipular o que você disse para tirar um pedaço da sua frase e colocar como se você tivesse dito alguma coisa. Então você é citado na imprensa como que dizendo alguma coisa que na realidade expressa o contrário do que você pensa, ou do significado que você atribuiu às suas palavras. E o jovem jornalista desde cedo aprende a ser desonesto. Muito do que nós ensinamos na faculdade, ele desaprende no mercado de trabalho.
O filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser identifica um período de hegemonia absoluta do texto escrito como veículo privilegiado da comunicação, que iria do século XV ao início do século XX. A partir daí, segundo o autor, a escrita começou a perder terreno para as imagens técnicas. Em relação aos alunos de Jornalismo da Cásper, o senhor nota preferência pela imagem (a televisão, por exemplo) como veículo privilegiado da comunicação?
Igor Fuser: Cada vez mais as novas gerações são formadas pelas imagens. Evidentemente a imagem tem um apelo que a escrita não tem... uma coisa é você descrever uma paisagem, outra coisa é você mostrar uma fotografia. Por melhor que você descreva a paisagem, nada vai se comparar à reprodução
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do real com o recurso técnico da fotografia, que depois se reproduz no cinema, na televisão e assim por diante. É uma cultura imagética, mas ela não é de hoje. Isso já vem do cinema e, depois, da televisão – do aperfeiçoamento técnico da televisão com recursos cada vez maiores. Eu acredito até que, de dez anos pra cá, tem havido uma revalorização da palavra escrita, porque o e-mail, o Twitter etc, não deixam de ser um texto. Então a gente não pode dizer que a imagem vai destruir a palavra. Há até um contra-ataque da palavra, num nível muito tosco, muito precário, que também tem suas vantagens, agilidade, capacidade de síntese – tem que lidar com tudo isso. O avanço da imagem em relação à palavra contribuiu para criar a ilusão de que você ver resolve. Você se informa apenas vendo. Então a televisão vai te mostrar as imagens da guerra. Aquelas imagens em si mesmas não dizem nada. O que vai atribuir sentido àquelas imagens é a palavra, é a análise, é a reflexão, que só pode ser abstrata. Então: “uma imagem vale mil palavras”? Mentira. Dependendo de quais são as palavras, uma imagem não vale mil palavras.
Alguns autores trabalham com o argumento de que tanto a leitura da imagem produzida no passado, como a leitura e produção de textos escritos, são atividades caracterizadas por um tempo característico, um tempo lento necessário para decodificação e reflexão. Eles afirmam que a onipresença na atualidade de imagens feitas para serem vistas de forma rápida, fugidia, está começando a interferir nesse tempo lento e atrofiando a capacidade de leitura e escrita. O senhor concordaria com isso?
Igor Fuser: Concordo plenamente. O que a gente vive hoje, eu não sei como classificar, se é um fenômeno patológico ou se sou eu que estou sendo saudosista, é uma saturação imagética do nosso cotidiano, a respeito da qual eu não conheço estudos, mas que intuitivamente imagino que cause o risco de causar uma certa atrofia da capacidade de raciocínio. Você não pode mais ficar num lugar simplesmente imerso nos seus pensamentos – qualquer lugar para onde você olha tem uma televisão ligada. Você não consegue ficar na sala de espera de um aeroporto, esperando uma pessoa sem que uma televisão ali invada a sua mente, o seu imaginário, a menos que você feche os olhos. Eu me lembro de uma vez em que eu estava esperando minha filha no aeroporto, de madrugada, e estava passando uma luta livre; os caras dando pancada um no outro. Eu não queria ver aquilo, entende? Minha cabeça não estava nesse clima. Mas eu estou ali, esperando minha filha chegar de uma viagem, com saudade, e sou obrigado a ver dois babacas se espancando na televisão. Eu, como indivíduo, como cidadão, que paga os impostos, paga a taxa de estacionamento do aeroporto, eu me sinto sacaneado com isso, me sinto invadido e violentado. Eu quero ter o direito de comer um sanduíche na padaria sem ter uma televisão na minha frente. Mas eu sou minoria, a maioria gosta. Você pega o ônibus, está lá... você pega o metrô, está lá... já tem uma imagem ali. É claro, porque aí todo mundo fica calminho, ninguém fica nervoso porque o metrô tá atrasado, porque o trânsito não anda, porque o ônibus está cheio. Tem ali uma televisão para te distrair. A comunicação cada vez mais está sendo usada na sua forma alienante – ela é utilizada para distrair as pessoas, como um sedativo para as contradições da vida concreta.
O que faculdade poderia fazer para melhorar a questão da despolitização e do empobrecimento da escrita?
Igor Fuser: A faculdade deve ter um papel crítico. A universidade deve se situar na contracorrente desse movimento hegemônico de alienação, de superficialidade. O papel da faculdade é chacoalhar as consciências, despertar o espírito crítico, mostrar que o mundo não é apenas o mundo que a rede Globo e a editora Abril veiculam. Ao contrário, a Indústria Cultural nas mãos de grandes grupos não somente veicula uma representação falsa da realidade, como essa representação falsa não chega a você inocentemente – existem intenções por trás. Intenções mesmo de apaziguar os conflitos, de diluir o contato das pessoas, diluir a capacidade de reflexão, porque os donos do poder sabem que se as pessoas refletirem sobre sua realidade, o passo seguinte vai ser o de elas começarem a interagir umas com as outras, coletivizar essas reflexões; e as reflexões, quando se coletivizam, levam à ação coletiva. Tudo o que eles não querem é ação coletiva, transformadora. Isso tudo não acontece por acaso, essas televisões em todos os lugares. Existe uma política por trás. O papel da universidade é
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desconstruir esse programa de alienação. Ao mesmo tempo, a faculdade tem outros papéis também. As pessoas procuram a faculdade com o objetivo de se preparar para ingressar no mercado de trabalho. É legítimo isso também, fornecer para elas esses conhecimentos, mas oferecer para elas também as ferramentas para que elas possam ter uma visão crítica e tomar as suas decisões. A gente não vai dizer qual é o tipo de jornalista que cada um deve ser - cada um vai saber que tipo de jornalista, ou pessoa ou cidadão vai ser. Mas que todos tenham acesso aos instrumentos para que possam ter uma reflexão crítica e se colocar no mundo real de uma forma consciente, da maneira como cada um quiser, com total liberdade.
Fale um pouco sobre o recente processo de reformulação curricular do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. Que mudanças tem se achado necessárias?
Igor Fuser: É um processo muito interessante, em primeiro lugar porque está sendo um processo coletivo, com a participação de todos os professores, com alto grau de consenso, um processo que se deu sem conflitos, sem grandes contradições. A gente chegou a um resultado bastante bom – eu diria o melhor resultado para as condições que nós temos. Uma atualização do currículo, mantendo o quadro atual de professores, respeitando os direitos legítimos de cada um e melhorando muito o nosso curso, que é o mais importante. Enfim, reforçando ainda a interdisciplinaridade, introduzindo novas disciplinas que estavam faltando, reduzindo ou eliminando aquelas que não eram tão importantes e dando mais ênfase para a possibilidade de experimentação, elaboração de produtos – mudanças que favorecem a interdisciplinaridade e a articulação de conteúdos entre as diversas disciplinas com vistas à elaboração de produtos jornalísticos. Uma dinâmica semestral que favorece pedagogicamente é mais interessante: você não tem o desgaste de um ano inteiro com um professor (em geral, o segundo semestre é mais fraco do que o primeiro). Os alunos acabam tendo aulas com mais professores, o que é bom. É claro que há um limite, mas você dá ao aluno a oportunidade de interagir com um número maior de professores e isso é muito bom porque cada professor vai trazer uma experiência diferente, uma visão de mundo diferente, conteúdo diferente. Uma das grandes qualidades aqui desta faculdade é a diversidade do seu corpo de professores, diversidade em todos os sentidos que você puder imaginar, desde a diversidade de experiência profissional, ideológica, origem social, de formação acadêmica. Possibilitar ao aluno o contato com essa diversidade é realmente muito bom.
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Entrevista com o Prof. José Coelho Sobrinho. Data: 17/08/2011. Jornalista, livre-docente e doutor em Comunicação pela Universidade São Paulo (USP). Pós-doutor em Comunicação pela Universidade Fernando Pessoa, Porto. Atualmente é chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP, à qual está ligado como professor na graduação e na pós-graduação desde 1972. Coorganizou vários livros, dentre os quais Produção em programação gráfica (Paulus, 1996) e Edição em jornalismo impresso (Edicon, 1998). Desenvolve pesquisa em estrutura curricular e metodologia de ensino-aprendizagem em Jornalismo.
Qual é a importância do texto escrito para o trabalho do jornalista?
Coelho Sobrinho: O texto escrito aparece em todos os momentos. Ele é importante porque ao construir a frase, você pensa nas consequências e nas causas daquilo que está fazendo. Você está pensando no seu leitor, praticando a sua função de agendar o leitor e fazer uma filtragem do conjunto de informações que ele tem. O texto escrito é a alma do jornalismo, porque mesmo para você se comunicar na televisão, há um teleprompter que te dá o texto... Ele é importante enquanto instrumento pelo qual se cria a argumentação, não tem jeito de fugir dele.
Que impacto o desenvolvimento das tecnologias de informação (internet, celulares, etc.) têm exercido sobre o gesto de escrever? O texto mais perdeu ou ganhou com o incremento dessas tecnologias?
Coelho Sobrinho: Pra mim ele perdeu. Perdeu porque você tem uma restrição técnica muito grande para desenvolver toda a sua argumentação a respeito daquilo que está comunicando. Jornalismo não é mídia, é comunicação. Mesmo quando você encontra um texto cheio de hipertextos, em que se quebra toda a sequência de pensamento e não se dá para o leitor o conjunto de argumentos para que ele também se convença de que você está mostrando pra ele o mundo em que ele está vivendo.
Alguns autores sugerem que o pensamento linear está se perdendo por conta da fragmentação dos discursos na era da comunicação pelas novas tecnologias...
Coelho Sobrinho: Eu concordo com isso.
Seria correto afirmar que a elaboração do texto jornalístico destinado a ser lido pelo público (ex. veículos impressos e internet) exige mais do autor que a produção do texto para o rádio e a televisão?
Coelho Sobrinho: Eu não diria que exige mais. É que são coisas diferentes. O texto para o rádio e para a televisão tem uma muleta. A muleta do rádio é a interpretação do texto que você escreveu. E na televisão, além da interpretação, da tonalidade de voz, você tem o gesto, a troca de olhares entre os apresentadores como hoje é feito... e você tem a imagem. Não dá pra comparar essas coisas, porque elas usam do mesmo repertório, da mesma base, mas esse mesmo repertório e essa mesma base tem um valor agregado no caso do rádio e no caso da televisão.
Considerando sua experiência como professor de Jornalismo, o senhor vem notando algum nível de queda na qualidade do texto produzido pelos alunos? Caso afirmativo, a que se deve essa queda?
Coelho Sobrinho: Ah, é muito diferente, primeiro porque boa parte dos alunos entendem que escrever para jornal é basicamente emitir opinião. E não é isso. O jornalismo é feito essencialmente de apuração. O que a gente está notando é que as pessoas estão perdendo o senso de apuração, elas não estão buscando fazer uma pauta decente, uma pauta apurada, profunda, buscando a contextualização
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do fato. O que tem acontecido é que na ânsia de chegar alguns décimos de segundos à frente do concorrente, o veículo coloca aquilo que vem primeiro. Ocorre que o que vem primeiro não está bem elaborado, não foi bem apurado e você está jogando para o público uma coisa para consumo muito rápido. Se, porventura, algum erro foi cometido na matéria, você não garante que o seu leitor vai voltar para verificar o conserto do erro cometido. As coisas são muito rápidas... E essa concorrência que é feita... um site entrar mais rapidamente que outro com uma notícia (que aliás não é nem notícia, é informação porque as coisas não são apuradas, a pessoa recebe e coloca logo no ar para falar “eu cheguei primeiro”, ou então, na tela da televisão, “exclusivo”. A notícia não tem que ser exclusiva, porque a notícia é da sociedade, não é da empresa, não é do jornalista. Ela é da sociedade. É um direito fundamental do cidadão o acesso à informação. E quando você escolhe uma notícia para por no ar, você tem de escolhê-la com critérios: além dos critérios editoriais, é preciso escolhê-la por critérios de interesse público. Não é interesse do público, é interesse público [grifo nosso]. Por que eu estou colocando essa matéria no ar? É simplesmente porque eu estou desafiando meu concorrente? Ou é porque isso é importante para a sociedade? A sociedade precisa saber que está havendo malandragem no Ministério do Turismo, no Ministério da Agricultura... Mas para você chegar agora e colocar essa malandragem perante o público, é preciso apurar. Não é simplesmente dizer que existe. É checar, verificar a documentação do que tem ocorrido, e assim por diante. Infelizmente, o jornalismo está perdendo porque as pessoas estão confundindo jornalismo com informação. Informação está aí à disposição de todo mundo. Agora, tomar essa informação e dizer: “Isso é importante pra sua vida, cara. Presta atenção!”, isso é coisa de jornalista.
Num contexto de novas tecnologias (internet, por exemplo) “preguiça jornalística” [entendida aqui como a negligência na apuração e no aprofundamento, além da fuga do contato direto com os fatos e protagonistas sociais] é uma tentação significativa?
Coelho Sobrinho: Eu volto a insistir que se trata de uma disputa prejudicial à sociedade. Sair correndo na frente do outro para dizer que você chegou primeiro, que você está apresentando um assassinato ao vivo, como já aconteceu várias vezes na televisão (e fica o tempo todo piscando lá “exclusivo”, “exclusivo”), isso não interessa. Eu acho que está havendo prejuízo para a sociedade, não propriamente para o jornalismo. Outro dia eu li um artigo que dizia o seguinte: não é o mercado de trabalho que está doente, quem está doente é o jornalismo. A gente precisa curar o jornalismo e não o mercado de trabalho... o mercado de trabalho é consequência. Hoje você tem aí emissoras de televisão que usam o jornalismo para fazer com que determinadas intenções não reveladas sejam atingidas... é muito grave. Veja-se, por exemplo, o caso de uma emissora de televisão que foi feita para colocar notícias no ar e o seu dono, independentemente de ser ou não evangélico, aluga para um canal evangélico e esse canal fica o tempo todo só fazendo isso... e o direito que você tem de ser informado? E o direito que você tem, inclusive, ao lazer? Por que estão te impingindo isso? É claro que podem falar: “bom, vê o canal 21 quem quiser”. Tudo bem, vê quem quiser. Mas a forma que eles usam pra fazer com que esse canal seja visto é prejudicial à sociedade. Mesma coisa a Rede Vida. Não são só os evangélicos, mas é que eles vão com muito mais sedo ao pote.
A inserção no currículo de matérias voltadas para as novas tecnologias da comunicação eletrônica pode ter provocado perda de espaço para o trabalho com a construção do texto nas escolas de Jornalismo?
Coelho Sobrinho: É claro que quando você põe alguma coisa nova, alguém tem que perder. Hoje você tem que ensinar o aluno a trabalhar com In-Design. O seu aluno vai entrar, daqui a alguns dias, sabendo como operar o In-Desing, porque a coisa é tão interativa, tão fácil, que ele vai saber... é a geração que vem vindo aí. Hoje você precisa dar um curso de Photoshop. Vai chegar um momento em que o Photoshop vai ser tão interativo que não vai atrapalhar em nada, vai fazer parte da sua vida. Agora, não existe algo que facilite a comunicação, o texto. Eu acho que passei por várias mudanças tecnológicas. Eu costumo dizer pros meus alunos: você já imaginou tomar banho sem ter o chuveiro e água quente, chegar em casa e não ter uma geladeira, não ter luz elétrica? São coisas que hoje fazem parte da vida das pessoas. Mas, em um determinado período, eu morei num sítio em que não havia
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geladeira, não tinha luz elétrica. Para estudar, eu tinha de fazê-lo com lamparina e, depois, para ir à escola, eu lavava o nariz umas trezentas vezes porque ele ficava impregnado da fuligem do querosene e do pano. Para tomar banho, tinha que esquentar a água no fogão a lenha, colocá-la dentro de uma lata, abrir uma torneira e a água, então, caía em cima. A tecnologia é isso aí. Hoje as coisas são tão interativas que você não vai precisar ter curso. Mas a comunicação, a palavra, o jeito de você construir, isso você tem que passar para as pessoas. O que tem acontecido é que tem se criado palavras na internet cada vez mais complicadas e as pessoas estão perdendo o sentido da norma culta da língua. Tudo o que você escreve, se deu para a outra pessoa entender, então tudo bem... ninguém mais corrige nada. Isso tem sido muito prejudicial. Há um lado positivo que é o de que as pessoas tem mais acesso à informação (não à notícia, mas à informação). Agora, a qualidade da notícia tem que ser melhorada, senão a gente vai ficar num círculo vicioso. A pessoa pega uma construção ruim, tanto linguística quanto de argumentação, e, depois, ela vai repetir isso, devolver isso pra um grupo de leitores, esse grupo vai replicar isso novamente e as coisas vão virando um caos.
O filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser identifica um período de hegemonia absoluta do texto escrito como veículo privilegiado da comunicação, que iria do século XV ao início do século XX. A partir daí, segundo o autor, a escrita começou a perder terreno para as imagens técnicas. Em relação aos alunos de Jornalismo da USP, o senhor nota preferência pela imagem (a televisão, por exemplo) como veículo privilegiado da comunicação?
Coelho Sobrinho: Não, não creio que aconteça isso. Veja, nossos alunos consideram esse jornal aqui [o Jornal do Campus], por enquanto, o projeto mais importante do aprendizado deles. Esse jornal é dirigido por um professor só, que sou eu. Eu não quero saber de diagramação, embora eu seja professor de diagramação e artes gráficas. Do meu ponto de vista, eles já devem chegar no jornal sabendo. Em relação às imagens, nós não temos nenhuma disciplina de infografia infelizmente, mas você pode ver que existe uma preocupação de infográficos. Existe, inclusive, uma preferência do infográfico e tabela à fotografia. E é uma turma nova. Eu não sinto exatamente uma troca, eu acho que está havendo um casamento maior do texto com a imagem. Mas não é também a imagem de uma fotografia estática, existe a preocupação de fazer com que a imagem seja explicativa, quer dizer, você ter um estágio a mais em relação à linguagem escrita: também a linguagem visual.
Alguns autores trabalham com o argumento de que tanto a leitura da imagem produzida no passado, como a leitura e produção de textos escritos, são atividades caracterizadas por um tempo característico, um tempo lento necessário para decodificação e reflexão. Eles afirmam que a onipresença na atualidade (superexposição) de imagens feitas para serem vistas de forma rápida, fugidia, está começando a interferir nesse tempo lento e atrofiando a capacidade de leitura e escrita. O senhor concordaria com isso?
Coelho Sobrinho: Eu tenho sentido isso nos meus alunos. Quando eles me mandam uma matéria, eu leio a matéria como leitor. Eu não fico pegando a matéria com eles e lendo, e falando “faça isso, faça aquilo”... Do meu ponto de vista, jornalismo não tem regras, mas existem princípios: bom-senso, ética, interesse público e direitos fundamentais do cidadão. O resto é consequência. Hoje eu discuti pauta com eles. Agora eles me mandam uma matéria e eu faço uma leitura da matéria deles como leitor. Então eu pego o título e digo: “Bom, pelo seu título, você está prometendo uma matéria com essas características, daí o lead ou abertura”... “olha, o seu lead está incompleto, está faltando nexo, não está claro, falta precisão”. Às vezes, o meu comentário é maior do que a matéria que eles me mandaram. A minha preocupação é fazer com que eles pensem sobre o texto deles, eu não estou dizendo para eles mudarem. Eu trabalho em cima do ensino centrado no estudante. Cada pessoa é uma pessoa, por isso eu arquivo todos os textos deles, pois assim eu consigo ver onde eles estão mais fracos, onde eles melhoraram ou pioraram e vou mandando para eles. E digo para eles fazerem as mudanças que acharem necessárias. Não são obrigados a concordar comigo, não. Do meu ponto de vista, essa questão depende muito da parte didática e pedagógica daquilo que é ensinado ao aluno. A nossa preocupação em relação à nossa grade é uma transversalidade, quer dizer, fazer com que todos os conteúdos (de língua portuguesa, comunicação linguística, fotojornalismo...) todos eles tenham uma
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discussão sobre interesse público e direitos fundamentais do cidadão, e a gente está retirando uma parte de comunicação linguística e acrescentando português, justamente porque a gente acha que os alunos estão precisando disso. Eles já vêm do ensino médio com dificuldade de se expressar. Nós não tínhamos língua portuguesa no nosso currículo. Agora haverá dois semestres antes de Ciências da Linguagem. Porque o que temos notado é que os alunos não estão mais conseguindo montar os períodos. Agora estamos sugerindo que essa disciplina retorne, fazendo um estudo não apenas das regras, mas da argumentação. Os alunos têm dificuldade de dar título... É nosso dever fazer com que o aluno se conheça e depois decida como ele quer se comunicar e que a comunicação seja a melhor possível. Se ele tem uma personalidade visual, a gente aconselha ele a segurar essa personalidade pelo tempo necessário. Mas se ficarmos ditando regras, regras, regras, então todo mundo vai ser igual, e não é isso que nós queremos.
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Entrevista com a Prof.ª Dr.ª Cremilda Celeste de Araújo Medina. Data: 29/08/2011. Jornalista, livre-docente e doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Foi editora de Artes e Cultura no jornal O Estado de S. Paulo, de 1975 a 1985. Atuou de 1986 até sua aposentadoria, em 2011, como professora (graduação e pós-graduação) e pesquisadora do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP, destacando-se, nesse período, seu trabalho com as oficinas “Narrativas da Contemporaneidade”, a partir das quais publicaram-se diversos volumes da série “São Paulo de Perfil”. Produziu grande quantidade de livros, dentre os quais Entrevista, o diálogo possível (Ática, 1986), A arte de tecer o presente: narrativa e cotidiano (Summus, 2003), e Ciência e Jornalismo: da herança positiva ao diálogo dos afetos (Summus, 2008). Continua orientando teses de doutorado.
Do ponto de vista do conhecimento, bagagem cultural, experiência de vida, a senhora nota alguma mudança no perfil dos alunos que atualmente entram para o curso de Jornalismo em relação com aqueles que entravam há 20 ou 30 anos?
Cremilda Medina: O que eu posso te dizer acerca dos últimos dez anos é que estive um pouco à margem dos alunos de jornalismo porque eu passei a trabalhar com o espaço interdisciplinar na ECA, onde eu recebi para a disciplina de Narrativas da Contemporaneidade alunos de várias áreas de conhecimento, e com esses alunos eu fui fazendo o prolongamento da série “São Paulo de Perfil”, que é um livro que já está na 27ª edição. O contato, então, com a graduação nesses últimos dez anos foi um contato interdisciplinar, não especificamente de jornalismo. Mas até o final dos anos 90, início dos 2000, eu sempre tive um contato muito estreito com os alunos de jornalismo, porque a minha graduação era no Departamento de Jornalismo. Só a partir de 1998 é que há essa mutação interdisciplinar. Mas já nos 90 há uma mudança substantiva. Dos 80 para os 90. O período é o da implantação das tecnologias atuais, toda a informatização, toda a questão da internet... então, há uma mudança significativa, desse ponto de vista, no sentido de que os alunos, que tradicionalmente se orientavam para um campo de trabalho específico da mídia tradicional, com predomínio da mídia impressa, mas também as mídias eletrônicas (rádio e televisão), passam a transitar ou a se preocupar com sua inserção no campo das novas tecnologias digitais. E isso acompanha também uma mudança de mercado de trabalho ou de concepção de trabalho. Se até os anos 90 nós tínhamos uma mentalidade que procurava o emprego no sentido da empresa jornalística, a partir dessas mutações do contexto geral das sociedades pós-industriais (não apenas das tecnologias), passa a haver um interesse por criar frentes de trabalho. Nesse sentido, os alunos da ECA-USP são exemplares porque eles sempre tiveram uma facilidade de inserção no mercado tradicional, ou seja, nas grandes empresas jornalísticas, como Folha de S.Paulo, Rede Globo de televisão, O Estado de S. Paulo, rádios como CBN, Eldorado, etc. Então, essa massa de alunos vai migrar para espaços criados de trabalho, não propriamente empregos, mas frentes de trabalho, tendo como suporte a possibilidade de formar redes sociais, assessorias de comunicação, sites... Enfim, essa mutação do mercado de trabalho vai dar origem a um aluno que eu já acompanhei nos anos 90, mas que hoje eu percebo aí nos diversos ambientes de trabalho que precisa se implantar muito mais como um criador do que propriamente como um técnico adestrado para uma determinada empresa jornalística. Essa mutação eu percebi. Embora dos 2000 em diante eu não esteja diretamente ligada aos jovens do jornalismo da USP, eu mantive contato muito estreito com trabalhos de conclusão de curso de outras universidades, convidada para bancas às quais eu compareci num espírito de observação das tendências. Eu posso citar o caso típico do Mackenzie, onde eu tenho ido frequentemente a bancas em que os jovens apresentam trabalhos de conclusão de curso muito criativos do ponto de vista de autonomia de uma formação que não está presa a uma determinada empresa jornalística, mas que está muito mais alçando um voo de autonomia de trabalho e se implantando como um sujeito criador, um sujeito que é capaz de se inserir no mercado sem aqueles limites empresariais estabelecidos pela tradição. O que não quer dizer que não continuem saindo profissionais para as empresas do Brasil todo, porque eu tenho muito contato com as outras universidades (públicas e privadas) pela pós-graduação, onde eu acompanho os professores de jornalismo de outras universidades. O que se verifica é que ainda saem muitos alunos para o mercado de trabalho
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tradicional – essa história da regulamentação não alterou em nada isso aí porque com o sem regulamentação, a empresa tradicional será contraproducente (para não dizer pouco inteligente) se não receber esses jovens jornalistas, uma vez que eles têm possibilidade de realizar o trabalho jornalístico que outros que não possuem a formação não têm. Mesmo especialistas, como os médicos, não podem fazer reportagem de jornalismo; eles não vão deixar seu consultório, a sua especialidade e o seu campo específico de conhecimento para ir ao mercado entrevistar outros médicos e ser repórteres. Então, essa história de que o jornalismo pode ser executado, profissionalizado através de outros que não o jornalista é um pouco ilusória e já deu com os burros n’água em outros momentos históricos, quando certas empresas jornalísticas fizeram a tentativa de “cadernizar” determinados conteúdos com especialistas em Saúde e Economia, entre outros. Portanto, não dá para substituir aquele que vai ouvir um número máximo de fontes por um especialista que está preso a uma determinada especialidade e a um campo teórico específico. Sempre haverá necessidade de jornalistas profissionais formados em jornalismo. Mas, ao mesmo tempo, hoje há um campo muito mais largo para além das empresas tradicionais, que são esses espaços criados, implantados pelos jovens jornalistas que não se prendem ao emprego tradicional, que criam frentes de trabalho.
O trabalho com a narrativa está na base do jornalismo. Por que narrar é tão importante?
Cremilda Medina: Eu tenho uma concepção de narrativa que é muito simples ou simplória, mas que me satisfaz. O fato de você narrar o mundo à sua volta é uma tentativa de organizar o caos que aí está. Toda vez que você colhe uma série de informações, observa uma série de situações e comportamentos, você fica meio despreparado para explicar o que está acontecendo, mas você pode se preparar para compreender e organizar aquele caos numa determinada narrativa, num relato, que toma forma de notícia, que toma forma de reportagem ou de narrativa jornalística. Assim também é com o historiador, o antropólogo ou o sociólogo. Só que o jornalista tem a premência de organizar o caos imediatamente contemporâneo, numa velocidade contemporânea que o historiador, o antropólogo, o psicólogo, enfim, todos os outros cientistas do humano não têm possibilidade por precisarem de um tempo maior. Então o que nós temos de desenvolver é essa narrativa emergente e veloz, em que a gente se prepara a vida inteira para dar uma organização ao caos contemporâneo.
O que caracteriza uma boa narrativa?
Cremilda Medina: Eu não saberia identificar do ponto de vista de boa ou má, mas o que se percebe, e isso através de pesquisa – eu cito a pesquisa da leitura contínua do São Paulo de Perfil por leitores externos à universidade – é que pode ou não haver uma identificação com essa narrativa. Essa identificação eu considero um valor positivo. Se a gente se identifica com uma narrativa que nos diz respeito, que nos é solidária porque é do nosso tempo, e nós de alguma forma nos encontramos lá dentro, então essa narrativa é altamente positiva. Não é tão simples praticar a linguagem do diálogo social, porque nós temos tendência ao monólogo, a nos fecharmos dentro de nós mesmos com determinadas verdades, concepções e juízos de valor sobre o mundo. Você sair dessa claustrofobia monológica para a dialogia exige da gente um desprendimento, uma cumplicidade, um exercício permanente de um atleta do diálogo. Entretanto, essa linguagem dialógica é o fato principal de cultivo numa profissão como a do jornalista. É interessante que esses problemas do diálogo atravessam todas as outras profissões. Eu tenho um retrospecto muito curioso: quando eu escrevi um trabalho que foi parte da minha tese de doutorado em 1986 (O diálogo possível), que está ativo pela editora Ática, tão logo saiu eu fui chamada à Paulista de Medicina para ter um papo com os médicos e professores de Medicina, porque eles encontraram nesse meu texto uma plataforma de discussão muito próxima das dificuldades do diálogo médico-paciente no consultório. Então, a dialogia é uma questão que atravessa todas as profissões. Eu sempre tenho trabalhado muito com o educador e o educando do ponto de vista de metodologia de ensino (e até metodologia do ensino superior) porque efetivamente a dialogia é a chave. Não é o professor que tem que passar um discurso pronto, um conhecimento empacotado, transmitido, para o aluno, mas é a oficina dialógica da construção do conhecimento em que o educador e o educando fazem o intercâmbio – o educador é muito mais um animador da descoberta do conhecimento do educando e para isso deve haver diálogo. Nesse sentido, eu acho que não há outra
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técnica a não ser o laboratório; a oficina e não a aula expositiva, de transmissão. Isso que se passa na Medicina, na Educação, é ponto fundamental do jornalismo. O jornalismo em si é diálogo social – uma possibilidade de se armar uma rede de vasos comunicantes em que o discurso preparado pelo jornalista seja atravessar esses vasos comunicantes através do diálogo. Daí que receber informações a favor e outra contra (uma dicotomia de informações) me parece uma encenação que está ocultando a deficiência total do diálogo – o diálogo não se esgota a favor e contra. O que se faz por telefone, por e-mail hoje em dia (e sempre se fez) é uma encenação que ludibria o consumidor, que recebe então um relato dicotômico da realidade que não corresponde à complexidade, à multiplicidade de sentidos da realidade. Para você construir então uma narrativa dialógica é necessário queimar as pestanas, correr atrás de uma polifonia, uma multiplicidade de vozes que trazem consigo uma polissemia, uma multiplicidade de sentidos e não se chega a uma verdade única e, sim, a um conflito de inúmeras verdades. Toda essa questão nos leva aqui à narrativa de tensão dialógica e não um relato de pirâmide invertida para mencionar uma técnica tradicional do século XIX, em que se faz um lead, uma cabeça de informação (de notícia) que tenha síntese dos fatos mais importantes e depois vai decrescendo para o menos importante. Isso é hoje, do ponto de vista do nosso conhecimento construído, da nossa epistemologia, simplesmente ridículo. A realidade não tem essa forma de coisas menos significantes e as coisas mais significantes ficarem resumidas lá em cima. Por essa razão, a pirâmide invertida tem que ser totalmente dinamitada para que a gente construa um relato em que tudo é significativo, muito tenso, denso, sintético, mas onde tudo é significativo. Você pega na literatura um gênero qualquer como, por exemplo, o romance, ou um conto ou uma crônica, e vai dizer para o escritor fazer isso na forma de uma pirâmide invertida? Não. Eu tenho que chegar ao fim do romance com o mesmo interesse com que comecei; eu tenho que chegar ao final do conto com o mesmo interesse com que entrei, e a crônica, da mesma maneira, ou mesmo o poema. Nada é desprezível para se jogar assim na rabeira da pirâmide. Eu acho que a arte tem a narrativa mais exemplar; a literatura, no caso, mas também outras artes (o cinema, as artes plásticas, a música). Eu sempre trabalhei com a arte porque ela é altamente inspiradora no mínimo por dois aspectos (haverá outros): primeiro porque você tem esse grau de identificação. O artista está identificado, está cúmplice com sua sociedade, com sua cultura. E, segundo, porque tem uma densidade tensa e uma síntese que me leva à condição humana, me leva ao principalmente e não àquilo que é secundário. Os meus alunos tanto na graduação quanto na pós-graduação convivem a meu convite com a fruição da arte. Se vai ao cinema e o filme em cartaz te dá essa aproximação de uma realidade cultural, social, sociológica e comportamental, você fica mais desperto, mais atilado para o que você busca na compreensão do seu contemporâneo, da mesma forma que um romance, uma obra poética e tal. Assim, não perco tempo com análise estética da obra de arte porque essa estética da identificação é muito mais forte do que um estruturalismo analítico de uma obra de arte. O importante é que, ao sentirmos essa obra de arte e a fruirmos, nós nos inspiremos para compreender melhor o mundo. Eu trabalho a arte com os meus alunos porque um povo está muito bem representado nas personagens artísticas. O artista representa muito bem a sociedade e isso para um jornalista é fundamental. Se o artista não tem um compromisso com a realidade contemporânea, o jornalista tem, mas ele se prepara melhor para compreender o que se passa à sua volta se ele estiver próximo do artista, que é uma antena muito mais sutil para a realidade, a cultura e a sociedade de determinado povo. Eu trabalho hoje muito com a América Latina e não sei trabalhar sem me aproximar da arte. Tenho um orientando, que está fazendo doutorado, que é professor do Mackenzie, o Édson Capuano, que está trabalhando com as redes sociais dos jornalistas latino-americanos, mas está procurando encontrar neles mitos fundantes que dão a cada um deles uma diferença, porque, com a globalização, a tendência é dizer que todos os jornalistas têm mais ou menos a mesma visão de mundo. E ele está mostrando em seu trabalho que um jornalista boliviano e um jornalista mexicano, argentino ou brasileiro tem como base da sua visão de mundo os mitos fundantes que estão presentes na arte, na literatura, sobretudo. O Ésdon está mergulhando nesses mitos fundantes da América hispânica e essa rede social dos jornalistas que estão em diálogo com ele tentando reencontrar-se com sua identidade profunda, que é uma camada que está muito mais profundamente enraizada do que a coisa da globalização, de todos serem iguais, e coisa e tal, de não haver mais fronteiras, da espacialidade ter destruído inteiramente a cosmovisão de cada nacionalidade. Isso não procede. Nós carregamos (e a arte mostra isso com muita sutileza) uma identidade profunda de mitos fundantes, de configurações culturais que definem o nosso rosto, daí os personagens: um povo está muito bem representado nos personagens que arte nos traz. E não dá pra confundir, porque você não vai pegar um
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Riobaldo, do Grande Sertão Veredas, e vai dizer que ele é alemão, japonês ou norte-americano. Ele é mineiro. Então, a configuração mítica de uma personagem como essa resiste a qualquer homogeinização possível. Ele emerge das possibilidades de homogeinização com uma personalidade, e eu acho que isso é o que o jornalista deve procurar para poder narrar com muito mais cumplicidade, com mais afeto o povo que o cerca, os protagonistas sociais que o cercam. E quando eu falo de afeto é “estar afeto a” ou “estar desafeto a” – não é uma coisa assim piegas da minha parte, como alguns achavam ou ainda acham que é um idealismo esse negócio de eu falar de afeto. Não: é muito simples e muito realista. Ou eu estou afeto a você que está aqui do meu lado, ou eu me distancio e não ligo a mínima, ou seja, estou desafeto. O jornalista desafeto aparece na sua frieza, no seu relato sem vida, sem identidade, sem identificação, enquanto que o jornalista que tem essa ânsia de se contextualizar no seu povo, estar junto a, ele salta, seja na televisão, no rádio, na internet ou numa mídia impressa (jornal ou revista): são os autores que a gente percebe com luz, com uma linguagem que tem vida, que vibra e isso pode acontecer em qualquer mídia, mas é autoral. Não é política de uma determinada empresa ou uma determinada frente de trabalho (“Agora eu quero ser assim”), é uma questão que sai da própria concretude autoral e não das intenções político-ideológicas.
A questão da objetividade jornalística é falaciosa nesse contexto...
Cremilda Medina: Sempre é, mas isso não é o jornalismo que tem que discutir agora, uma vez que a física já discutiu nos primeiros anos do século XX. A física quântica já demonstrou que o observador do cosmos, da matéria, está “em relação com” e, portanto, interfere. Agora, essa interferência pode ser autoritária ou cúmplice. A intersubjetividade, a relação sujeito-sujeito, é aquela que os médicos daquela época procuravam no consultório, porque o médico e o paciente são o sujeito-médico e um objeto-paciente – trata-se daquela relação da objetividade... desafetuosa. Enquanto que se o sujeito e o sujeito estão em diálogo, há uma intersubjetividade, e é essa intersubjetividade que a ideologia procura – nem sempre a gente consegue, mas ao menos nós temos que nos voltar para essa oficina, essa oficina de respeitar o sujeito que está na nossa frente, seja o sujeito-humano, seja o sujeito-animal, seja o sujeito-natureza. A questão ambiental é relação sujeito-sujeito, não é mais objetiva. A objetiva era a de que o sujeito humano interferia para “melhorar” a natureza, e isso deu no que deu. Então hoje é “sujeito-sujeito”, uma relação, um ato relacional dialógico (signo da relação). A questão da objetividade está posta muito antes do jornalismo. O jornalismo vem meio a reboque de uma ideologia cientificista do século XIX – eu tento falar disso nesse meu livro mais recente, Ciência e Jornalismo: do positivismo ao diálogo dos afetos. Eu procuro abordar esse paralelismo entre a ciência e o jornalismo e a herança positivista, que é essa da pretensa objetividade. Mas aí não se pode cair no extremo da subjetividade (o jornalista diz o que ele quer ou faz o que ele quer – o que interessa é ele como sujeito), não é isso. É a relação sujeito-sujeito, que oferece uma série de dificuldades para que você concretize a famosa dialogia. O diálogo não é uma coisa dada, é um discurso que se aplica, um laboratório, uma oficina. Para chegar lá a gente tem que trabalhar a vida inteira.
Em obras como A arte de tecer o presente e O signo da relação a senhora faz uma abordagem do impacto que o racionalismo e do cientificismo modernos exerceram sobre a arte de narrar, contribuindo em algum nível para provocar uma atrofia dessa arte. Que tipo de impacto o desenvolvimento das tecnologias de informação nas últimas décadas têm exercido sobre a capacidade narrativa humana?
Cremilda Medina: Primeiro, a sedução de que as tecnologias resolvem tudo. Elas apenas aceleram o tempo, facilitam certas operações concretas, práticas. Mas o que está por trás dessa aceleração do tempo, essa questão de facilitar uma operação? Está por trás a inteligência humana. Você não imprimiria um texto se você não tivesse pensado esse texto, formulado com a sua inteligência natural. Então, quando as pessoas se seduzem pela tecnologia (e eu senti muito isso nas gerações de 80 para 90) tendem a desprezar a inteligência natural. Eu sinto que há muitos reducionismos na cabeça dos jovens por acharem que com a máquina tudo se resolve. Não. A máquina a gente opera, aproveita da velocidade, mas precisamos alimentar a inteligência natural, senão nós caímos numa inteligência natural atrofiada, que raciocina em bloco, que raciocina por reducionismos, ou seja, fórmulas de
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redução da realidade, e, principalmente, perdemos o trânsito vivo de contato dos sentidos com o mundo. A atrofia dos sentidos é uma denúncia que já está muito bem documentada pelo colombiano Luís Carlos Restrepo, em seu livro O direito à ternura , onde ele faz um diagnóstico contundente da atrofia dos sentidos. Se nós ficamos atrás da máquina, presos à nossa monocultura, à nossa claustrofobia, monologia (tudo mono, um só, eu) a gente perde o contato com o outro. E de que vive o jornalismo senão desse contato? Eu acho que a tecnologia veio ajudar em muitos sentidos práticos, de operação e de velocidade, mas não me venham dizer que vai resolver o problema do acesso ao outro. O acesso ao outro se dá pelos sentidos, pelo tato, pelo olfato, pelo paladar, por uma escuta aberta e uma observação sem catarata (risos).
Qual é a importância da narrativa escrita para o trabalho do jornalista?
Cremilda Medina: A escrita permanece sendo o grande marco da humanidade, porque se você vai para a internet, você precisa da escrita. Se você vai para o cinema, precisa da palavra escrita, seja na legenda (se for um filme estrangeiro), seja no roteiro. Enfim, a escrita é um marco fundamental que divide a pré-história da história. Então não me parece que a escrita esteja destronada. O código linguístico permanece sendo o principal instrumento de organização do caos. Eu leio a realidade por uma escrita, nem que seja a escrita mental. Agora, o Antonio Damásio, que é um grande estudioso de cérebro, neurocientista, em seu último livro, em que escreve sobre o cérebro consciente (e a consciência humana é o ponto fundamental do sapiens) nos dá essa consciência como uma escrita mental que nos leva a uma decisão perante a vida, uma decisão que pode entortar ou ir num rumo ético. Eu não vejo como suprimir a escrita, ela é o principal aprendizado do sapiens. Como deixar de lado um código linguístico que já está gramaticalizado, organizado já cientificamente através das diferentes disciplinas da língua e da linguística? Eu vejo a escrita como o acervo mais disciplinado no sentido estrito da palavra. Embora os códigos não linguísticos sejam hoje também muito estudados, e haja na semiologia e semiótica campos muito importantes de leitura dos outros códigos, o código linguístico permanece sendo aquele que nos transmite uma herança mais sólida. Veja bem, existe uma necessidade relacionada com a própria cidadania: não é possível o sujeito ser um cidadão pleno numa sociedade sem passar pela escolarização que basicamente lhe oferece a escrita como patamar fundamental. E os problemas que nós encontramos hoje de cidadania e educação estão muito ligados à deficiência desse aprendizado (a escola não está dando conta). Não é possível ser cidadão sem o verbo para a decisão política (diria Damásio) e o ato autônomo de inserção na sociedade. A escrita está ligada a isso.
Considerando sua experiência como professora de Jornalismo, a senhora nota algum nível de queda na qualidade do texto produzido pelos alunos?
Cremilda Medina: Eu sempre trabalhei com oficinas de narrativa e as questões são mais ou menos comuns em todos os tempos (risos). As pessoas vêm com uma cabeça mais ou menos formatada, com determinadas fórmulas de escrita (a escola é muito responsável por isso – a escola que não se saiu muito bem em criatividade e inovação). Então o jovens têm essa concepção meio dura, mas quando se encontram e se contaminam com a arte, liberam rapidamente sua criatividade, sem desprezar os códigos tradicionais (gramática, língua oficial), começam a degustar rapidamente a liberdade da língua. Porque uma coisa é aprender a rigidez gramatical, a rigidez jornalística e ir naquilo a vida inteira, e outra coisa é você passar por isso, que é um aprendizado, e se libertar. Porque a língua viva das pessoas é muito mais do que a gramática, supera a gramática. Essa libertação é muito bonita de acompanhar. Os meus alunos que passam pela oficina de narrativas têm uma transformação para essa liberdade autoral – é um texto daquele autor. E eu fico sempre me trazendo casos de Imprensa corrente, diária; eu acho que o Estadão de domingo sempre tem um ou outro autor que me encanta do ponto de vista de narrativa, e não é pela questão formal, é justamente pela densidade e cumplicidade com o outro. Isso exige uma linguagem de criação e não uma fórmula técnica estratificada.
A inserção no currículo de matérias voltadas para as novas tecnologias da comunicação eletrônica pode ter provocado perda de espaço para o trabalho com a construção do texto nas escolas de Jornalismo?
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Cremilda Medina: Acho que não, porque precisa de texto. Por outro lado, perdeu-se muito tempo (e isso agora já está reavaliado, sob a luz crítica dos próprios professores) se achando que era necessário aprender especificamente a mexer com a máquina, quando a máquina a gente aprende muito rapidamente. Um aluno universitário bem alimentado, com o cérebro funcionando, com toda aquela vontade de conquistar o mundo e coisa e tal, em questão de meses aprende qualquer técnica dessas. Então isso não é problema.
Num contexto de novas tecnologias (internet, por exemplo) “preguiça jornalística” [entendida aqui como a negligência na apuração e no aprofundamento, além da fuga do contato direto com os fatos e protagonistas sociais] é uma tentação significativa?
Cremilda Medina: Não é um problema de tentação não; não é uma questão moral. É um problema de atrofia de cérebro. A tendência, quando se delega para a máquina a operação, é um desligamento da nossa inteligência natural. O problema é a inteligência não ser motivada para desenvolver toda essa operação e é por isso que eu estou muito próxima das neurociências e de neurocientistas como o Damásio e a Gil Taylor, que salientam com muita contundência a importância de você trazer o seu cérebro atualizado e em permanente estado de funcionamento e de sensibilização perante o mundo. Agora, se você entrega para a máquina essa energia, você se atrofia. É aquela dúvida que sempre surge quando a gente usa gravador: “Será que tá gravando, será que não está?” “A minha cabeça foi pra outro rumo...” “Eu acho que não peguei e o gravador falhou...” (risos). Então esse dilema é tipicamente representativo de que a gente, com a máquina, pode se desligar da nossa inteligência perceptiva. No meu exercício profissional eu tenho essa idiossincrasia: nunca usei gravador. E fiz entrevistas da maior responsabilidade possível, de presidentes da República a escritor que nunca tinha dado entrevista pra ninguém... Eu relato o caso do Drummond em A arte de tecer. O Drummond nunca tinha dado entrevista e quando ele soube que eu não usava gravador, ele respirou aliviado e foi aí que a coisa aconteceu... (risos). Mas, enfim, eu reconheço que isso é uma idiossincrasia minha. De qualquer maneira, pela minha prática e pela questão toda de aprendizado e oficinas, entregar para a máquina a operação jornalística é condenar a sua inteligência natural à atrofia.
O filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser identifica um período de hegemonia absoluta do texto escrito como veículo privilegiado da comunicação, que iria do século XV ao início do século XX. A partir daí, segundo o autor, a escrita começou a perder terreno para as imagens técnicas. Hoje as imagens estão praticamente onipresentes no mundo à nossa volta. A saturação imagética pode, de alguma forma, prejudicar a capacidade de narrar?
Cremilda Medina: Eu acho que a saturação imagética é tão saturada quanto a saturação verbal. Nós vivemos com saturação verbal. Eu moro com um escritor aqui... que é um verbalóide constante (risos). Nós vivemos a necessidade de organizar o caos seja com o universo verbal (a escrita verbal) seja com a escrita imagética, que apresenta os mesmos dilemas: organizar, fazer frases em uma sintaxe imagética no sentido de imagens (porque tem toda a questão do imaginário que mistura tudo – o verbal com o não verbal). Eu fiz nos anos 70 a Revista da Fotoptica, que era uma revista bonita, grande, e, ao falar com o fotógrafo Cristiano Mascaro, que trabalhava na Veja (depois ele foi professor e hoje só faz exposições)... então eu fui conversar com ele para publicarmos um ensaio que não era o que ele publicava na Veja. Ele queria escrever frases fotográficas (como ele faz hoje em seu trabalho com grafismo urbano) – o que significa organizar um caos imagético. Desse modo, é uma escrita, seja ela linguística ou não linguística, e qualquer uma delas é um esforço de organização do caos. Essa é que me parece a chave, e não é uma chave substitutiva (ou seja, que a gente deixe de organizar a escrita verbal para organizar a escrita visual ou a escrita digital). A própria escrita digital é um caos que ainda se está em fase de se procurar como escrita. Certamente não abandonará a verbal. Eu hoje estava às voltas para ver a minha milhagem na TAM. O meu caos não foi imagético na internet, foi totalmente verbal, a confusão verbal para eu entrar no site da TAM para encontrar o caminho para chegar na minha milhagem. Tudo verbal. A internet ainda é pesadamente linguística. Não sei se estou sendo muito dura, mas penso que o desafio é o mesmo: criar uma narrativa para poder caminhar no mundo.
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Alguns autores trabalham com a ideia de que a hipertrofia de imagens interfere na capacidade de reflexão e de pensamento. A escrita linear teria interferido no sentido de inaugurar uma forma de pensamento linear, enquanto o pensamento orientado nas imagens é um pensamento por contiguidades, mais fragmentário...
Cremilda Medina: Esse dilema é velho. E eu me lembro do Abraham Moles, que a gente estudava nos anos 60 e 70. Ele falava da fragmentação da civilização mosaico, depois da civilização gutemberguiana linear. Passaram-se décadas e eu não vi isso acontecer no sentido de que o mosaico preexistia a este momento e está aí também no verbal. Apesar do esforço linear gutemberguiano, nós sempre estivemos dentro de uma realidade verbal mosaico, fragmentada. Não é culpa da civilização imagética ou da hipertrofia imagética. A contundência do mosaico, ou do caos, ou da fragmentação está aí, na complexidade das coisas e a chave para a gente sair dessa hipertrofia, seja de palavras ou de imagens, é você se situar no mundo e tentar narrá-lo, organizar alguma coisa, produzir um discurso, uma narrativa. O ato fundante da narrativa é o mergulho no caos do mundo, na fragmentação. Enfim, há uma sedução no sentido de se hipervalorizar o visual no nosso momento, mas eu tendo a pensar que sempre esteve presente, desde a pré-história. Nas cavernas, não era tudo visual, cercando o sujeito? Eu cada vez mais partilho a opinião de que as coisas são muito mais circulares do que um degrau sobre o outro, que vai superando o anterior... Essa é uma mentalidade que eu costumo chamar em nossos encontros de pós-graduação de “principismo” ou de “genesismo”: isso aqui veio depois disso, isso aqui está mais atrasado, este aqui está um degrau adiante... Essa mentalidade do degrau, da escadinha, de que começou aqui, depois se alterou, é uma grade mental que desenvolvemos para enquadrar as coisas, mas que não satisfaz. Quando a gente vai ficando mais velha, percebe que há um certo movimento, no mínimo, espiral. E eu acho que essa interdisciplinaridade tem me ajudado muito, porque um geólogo que já morreu escreveu um livro cujo título já dizia tudo: Seta do tempo, círculo do tempo. Ao mesmo tempo em que há uma seta (a tal da evolução), há também um círculo, uma recorrência. Esse geólogo cavou um diálogo no século XVIII do Newton com um sujeito que era transcendental, religioso, místico, um diálogo respeitosíssimo. O Newton representava a seta do tempo, e o outro, o círculo do tempo, e as duas coisas se encontravam. Ao mesmo tempo em que você tem uma evolução, você tem uma recorrência histórica, cultural, as coisas sempre voltam... Então, eu desconfio dessa história de que certa coisa superou outra coisa. Ou assim: “começou em tal época, com tal fulano” – isso é genesismo, mania de que tem que ter um princípio e depois vai evoluindo para um grau maior. Você termina numa ideologia que é terrível para se lidar socialmente (o jornalista, principalmente), que é a ideologia dos atrasados e dos avançados. Tal comunidade, povo é atrasado, outro é adiantado, pós-moderno, sei lá...
É possível que os narradores do presente no jornalismo, em alguma medida, estejam tomando a imagem (que é uma construção simbólica) como se ela fosse o próprio outro (alteridade), ou como se ela fosse a própria realidade?
Cremilda Medina: A gente vai a campo com uma certa predisposição e prefiguração do que vai encontrar e aí depende da sua disponibilidade, do seu exercício permanente de se despojar disso diante de quem você encontra. De certa forma, a gente sai com a cabeça-feita, com uma ideologia, uma predisposição quanto ao que vai encontrar, o que vai encarar... Agora há que se ter humildade para se desmontar isso e ser permeável ao outro e respeitá-lo. Ou seja, é a relação sujeito-sujeito.
Alguns autores trabalham com o argumento de que tanto a leitura da imagem produzida no passado, como a leitura e produção de textos escritos, são atividades caracterizadas por um tempo característico, um tempo lento necessário para decodificação e reflexão. Eles afirmam que a onipresença na atualidade (superexposição) de imagens feitas para serem vistas de forma rápida, fugidia, está começando a interferir nesse tempo lento e atrofiando a capacidade de leitura e escrita. A senhora concordaria com isso?
Cremilda Medina: Se você pensa num repórter de guerra ou num repórter de uma grande catástrofe, tanto no passado quanto no presente, de que vale a tecnologia diante do impacto da aceleração de uma catástrofe, ou de um terremoto, de uma guerra... No caso de um repórter da Globo que está em Trípoli,
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na Líbia, a minha curiosidade não é saber se ele tem um celular ou um equipamento capaz de superar a distância. Quero saber como ele está reagindo à falta de água, que é um problema que não está sendo resolvido por nenhuma tecnologia. A sensibilidade em campo é um desafio permanente, não há tecnologia que resolva esse desafio. O repórter do passado, numa situação dessas, não é diferente ou menos ou mais competente que o repórter de hoje, só porque este tem outra tecnologia para mandar as informações. A sensibilidade humana é a mesma. A percepção de mundo é a mesma. E a aceleração, inclusive, é a mesma em situações limite. É uma aceleração ditada internamente pelo organismo humano e não pela máquina. A adrenalina é que está acelerando de dentro para fora e não de fora para dentro. A recorrência, então, é contundente: não há nada de novo no pedaço. Os desafios são permanentes para o exercício de qualquer ação humana, seja jornalística ou cotidiana, embora a seta do tempo tenha oferecido certas facilidades tecnológicas. Mas se um avião está caindo, por mais que ele seja avançado, num desastre aéreo o que se passa com o ser humano não está nem um pouco relacionado com o avião, está relacionado com alguma coisa de muito misteriosa que eu não sei descrever, o sentir humano de que está morrendo... Enfim, eu acho que na medicina isso também é muito forte... porque você não tem a mínima segurança de que as coisas vão ser resolvidas num diagnóstico de leucemia só porque hoje nós temos um avanço científico dessa ordem. O que se passa dentro de um doente é exatamente o que se passava três séculos atrás. Não vai ser diferente. Mas isso é uma percepção que me chega pela força da recorrência histórica. Eu prefiro me voltar mais para esse círculo do tempo, embora eu não seja reacionária contra essa seta do tempo. Eu reconheço os benefícios da seta do tempo, da trajetória da ciência e da evolução humana, dos avanços e tal. Eu fiquei mais desperta para esse problema da recorrência em relação à seta do tempo quando os psiquiatras contemporâneos passaram a encarar de frente a questão do mal diante dos descalabros que hoje se conhecem com muita rapidez pelos meios de comunicação. São descalabros que não combinam com a civilização. Combinariam com os tempos selvagens. Mas depois que se fez o discurso iluminador da civilização ocidental, a Europa como carro-chefe dessa civilização, o mal estaria superado. Não haveria mais lugar em um ser civilizado para fazer o que faz o que a gente está vendo por aí... Na época daquele caso dos Nardoni, eu vi a contundência desse discurso psiquiátrico e filosófico também: a grande reflexão daquele momento era de perplexidade e de desmonte de um discurso que estava sempre prontinho, que era o de que só aconteciam essas coisas do mal por problemas sociais, por miséria. E assim uma série de outras coisas que começaram a despertar a consciência crítica e filosófica e até mesmo científica (medicina) de que o discurso da seta do tempo evolucionista não correspondia à realidade. A realidade é contundente, contraditória e desmonta essa falácia de que uns são civilizados e outros são atrasados. Essa questão de como uma pessoa pode ser tão perversa a ponto de fazer isso ou aquilo desmonta um pouco do critério do evolucionismo e o civilizacionismo (o discurso norte-americano, por exemplo). A realidade desmente essa falácia de progressismo, que é levado por alguém que acha estar num estágio superior.
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Entrevista com o Prof. Ms. Ruben Dargã Holdorf. Data: 16/09/2011. Jornalista, doutorando em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Nos anos 1990, foi articulista e editor nos jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná. Desde 2000 é docente no curso de Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Escreveu os livros Liberdade vigiada: questão de opinião (Unaspress, 2002), No olho do furacão (Tempos, 2005) e História da comunicação adventista no Brasil (Unaspress, 2009).
Qual é a importância do texto escrito para o trabalho do jornalista?
Ruben Holdorf: Em primeiro lugar, o texto escrito não pode ser desprezado, independente da mídia na qual atua o profissional. Trata-se da principal ferramenta de trabalho e deve ser objeto de relacionamento íntimo e amigável, prazeroso, e não motivo de tormento pessoal. “Escrever é uma técnica”, esclarece o jornalista e professor Carlos Costa, acrescentando que “exige suor”. Outro jornalista, Fernando Torres, confessa que “escrever dói”. Não no sentido da dificuldade, mas do desgaste para aquele profissional comprometido com a arte de construir enunciados. Tudo o que se faz com dedicação exige “suor” e “sangue”. A metáfora do “suor e sangue” explica o desgaste mental, os conflitos éticos e de valores, a necessidade de conhecimento do arcabouço linguístico e cultural a fim de emoldurar a notícia, a reportagem, a entrevista, o documentário, o infográfico e até mesmo uma nota de coluna ou legenda de foto, concedendo-lhe consistência e sentido. Mesmo que um jornalista se encontre na profissão como repórter cinematográfico, diagramador, editor de imagem, editor de áudio, paginador, ilustrador, chargista, a compreensão da relevância da escrita devidamente elaborada o posicionará à frente de outros colegas em situação similar e que não percebem tal importância. Parte da força do jornalismo se encontra em um texto coerente, de fácil assimilação e estimulante. Sem isso, os leitores, telespectadores e radioouvintes não se convencem e desistem de ir avante. Essa é uma característica da mídia performativa ao mostrar um saber e ser capaz de fazer o leitor acreditar naquele saber, desejando-o também. E para isso, o domínio da técnica de escrever, somado ao conhecimento das categorias de texto, torna-se imprescindível para quem pretende singrar os mares do jornalismo.
Em sua visão, que impacto o desenvolvimento das tecnologias de informação (internet, celulares, etc.) têm exercido sobre o gesto de escrever? O texto jornalístico mais perdeu ou ganhou com o incremento dessas tecnologias?
Ruben Holdorf: Ao observar os colegas em campo, percebe-se que o bloquinho de anotações desaparece gradativamente. Entre os alunos, em muitos cursos, o costume de anotar impressões, declarações, opiniões em algum bloco ou rascunho, parece jamais ter existido. A coqueluche é fazer as anotações em iPod, iPhone, SmartPhone, iPad, netbook. E anotações em uma linguagem cifrada, mal-escrita, ininteligível, uma deturpação da normalidade. A geração Y, quando associada às novas tecnologias, e o convívio com as redes sociais e suas limitações textuais estão provocando a deterioração textual. É nítida a queda na qualidade de produção textual verificada nas escolas de Jornalismo. Alguns acadêmicos e profissionais da imprensa cogitam ser esse um período de entressafra na classe e que mesmo nas redações o problema se configura cada vez mais grave. Seja qual for a causa, o fato é que o problema de agressão à ferramenta de trabalho coincide com a emergência dessas tecnologias. Se isso tem alguma influência, acredito em uma longa fase de ausência de talentos na arte de escrever. Eu ousaria afirmar que nos encontramos numa zona cinzenta, nebulosa, na qual não se tem uma noção clara de quando o nevoeiro irá passar.
Considerando sua experiência como professor no curso de Jornalismo do Unasp, o senhor nota algum nível de queda na qualidade do texto produzido pelos alunos? Em caso afirmativo, a que se deve essa queda?
Ruben Holdorf: A resposta anterior explica parte dessa questão. Acrescento ao “vício incontrolável” pelas novas tecnologias a abstinência e até mesmo o horror à leitura. Desconheço pessoas com o
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saudável “vício da leitura” que não consigam produzir um texto aceitável. A não ser que esse hábito se molde sobre qualquer lixo literário. Se acaso o leitor se acostuma com o lixo como alimento, o seu pensamento lógico se pauta em função dessa leitura rasteira e isso, invariavelmente, compromete a qualidade textual.
O hábito do gosto pela leitura se constrói em casa e por estímulo da escola primária – deveria adicionar aqui o papel da mídia, mas não é o exemplo brasileiro. O esforço pessoal é consequente dos anteriores. Não será no curso de Jornalismo que o aluno sem essa cultura irá, por uma ação milagrosa, incorporar tal prática e tampouco desenvolver o gosto pela escrita. Os professores até estimulam, fazem a sua parte enquanto orientadores, educadores, mas os perfis percebidos são sempre os mesmos e raramente contrariam as estatísticas. Dia desses, eu me assustei ao conhecer a dimensão do desconhecimento de uma turma de terceiro ano, alheia à produção do escritor Cristovão Tezza, único brasileiro a conquistar o Grand Slam da Literatura Portuguesa e vencedor pela terceira vez do Prêmio Jabuti. Se eles não conhecem o principal nome da língua pátria na atualidade, como desejam produzir conteúdo de qualidade? Um terceiro item que explica essa queda na qualidade do texto é a própria inexistência de programas dentro dos cursos estimulando a produção jornalística. Como boa parte dos cursos no Brasil se estrutura com professores sem experiência de mercado (refiro-me às empresas jornalísticas e não às assessorias ou trabalhos como free lancers), apenas com a titulação, o desenvolvimento profissional do aluno de Jornalismo fica comprometido. Os cursos precisam ter não apenas professores com experiência prática, mas estruturas que viabilizem os estágios, como agências noticiosas, impressos, revistas eletrônicas, emissoras de rádio de tevê (mesmo que sejam online), convênios com veículos jornalísticos da região na qual se localiza a instituição e um projeto pedagógico coerente com as propostas do curso, exigências profissionais e tendências mercadológicas. Isso é ótimo para os alunos, para os professores desconectados das redações e também para aqueles mestres sem prática.
A inserção no currículo de matérias voltadas para as novas tecnologias da comunicação eletrônica pode estar provocando perda de espaço para o trabalho com a construção do texto escrito nas escolas de Jornalismo?
Ruben Holdorf: Os cursos de Jornalismo não podem se manter em casulos conservadores, iludindo-se que fora do círculo acadêmico o mundo permanece estagnado. Há necessidade de acompanhamento das tendências. Todavia, não se deve olvidar das mídias tradicionais, por que elas também continuam em processo de readaptação. O que é necessário articular junto aos futuros profissionais – e isso tem a ver com a atualização constante dos professores -, é que as mídias tradicionais perderão suas características estanques. Isto é, quem não tem perfil multimidiático, encontra-se à margem do mercado, das redações e da profissão. Portanto, essa é a tendência mais importante. O que não se perde e continua tradicional é a prática textual.
Num contexto de novas tecnologias (internet, por exemplo), a “preguiça jornalística” [entendida aqui como a negligência na apuração e no aprofundamento, além da fuga do contato direto com os fatos e protagonistas sociais] é uma tentação significativa?
Ruben Holdorf: A internet, aliada às alternativas do Skype e chats, não se esquecendo do “velho” telefone, engana a nova geração, que considera suficiente estar na redação, ou em casa, para produzir uma matéria. Se existe algo que não mudou com as novas tecnologias é a necessidade de apuração longe da redação. Como os cursos estão lotados de professores-doutores e mestres sem um mínimo de prática, a consequência se percebe na ausência de atitude dos alunos.
O filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser identifica um período de hegemonia absoluta do texto escrito como veículo privilegiado da comunicação, que iria do século XV ao início do século XX. A partir daí, segundo o autor, a escrita começou a perder terreno para as imagens técnicas. Em relação aos alunos de Jornalismo do Unasp, o senhor nota preferência pela imagem (a televisão, por exemplo) como veículo privilegiado da comunicação?
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Ruben Holdorf: Sem dúvida alguma. E pior: são incapazes de produzir laudas bem-escritas e coerentes. Escaladas pobres, passagens medíocres e textos rasteiros resultam dessa ilusão, de que “jornalismo de verdade” só pode ser executado à frente da telinha. Sem o domínio textual, eles sequer conseguem apresentar um telejornal lendo o teleprompter, muito menos se expressar de improviso. É lamentável esse desvio provocado pela própria desinformação da academia. E essa constatação não é recente, vem de longa data.
Alguns autores trabalham com o argumento de que tanto a leitura da imagem produzida no passado, como a leitura e produção de textos escritos, são atividades caracterizadas por um tempo característico, um tempo lento necessário para decodificação e reflexão. Eles afirmam que a onipresença na atualidade (superexposição) de imagens feitas para serem vistas de forma rápida, fugidia, está começando a interferir nesse tempo lento e atrofiando a capacidade de leitura e escrita. O senhor concordaria com isso?
Ruben Holdorf: Eu não tenho uma opinião formada a respeito disso. Eu precisaria acessar algum material para verificar o que se pesquisou, quais as conclusões, a fim de formar um ponto de vista mais equilibrado. À primeira vista, baseado num empirismo familiar, em torno do que acontece com os filhos de parentes, eu arriscaria afirmar que a superexposição de imagens atrofia a capacidade de leitura, escrita e até de reflexão e relacionamento. Dois de meus filhos vivem essa realidade da superexposição. Ciente da impossibilidade em cerceá-los do convívio com as mídias, o que seria uma agressão e demonstração da incapacidade como pai e professor, eu optei por contra-atacar estimulando a leitura de qualidade, a produção textual e a discussão de temas os mais variados possíveis. Com os alunos eu procuro ser um orientador atualizado, mas sem perder o vínculo com as necessidades básicas de cada um, partindo do princípio de que a leitura é fundamental para se erigir o talento da escrita.
Considerando que a qualidade da narrativa jornalística está ligada à capacidade de proximidade, aprofundamento e interação real (dialógica mesmo) do repórter-narrador com os fatos e protagonistas sociais, o senhor vê possibilidade de a imagem (seja a imagem preconcebida pelo jornalista, seja a aparência da qual os próprios fatos e indivíduos podem se revestir) se interpor entre o jornalista e a realidade que pretende narrar?
Ruben Holdorf: Duas coisas permeiam a produção jornalística. Marques de Melo chama de filtros. Shoemaker e Vos denominam de portões (os gates). Não importa o termo, a política editorial e a formação cultural do jornalista têm influência nos fazeres requeridos pela pauta. Isso é inevitável. Daí a existência de uma hierarquia, na qual, mais acima, um editor – que também não se encontra isento – vai polir o material entregue pelo repórter. Esse processo de desbaste, de cortes, acréscimos e ajustes, seguindo padrões determinados, emoldura o material jornalístico, dando-lhe forma, sentido e coesão. Nunca será perfeito, mas não se pode usar como desculpa a parcialidade a fim de se produzir um produto sem qualidade.
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MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE JORNALISMO DA FACULDADE CÁSPER LÍBERO
Disponível em: <http://www.facasper.com.br/noticias/index.php/2009/09/14/grade-curricular-do-curso-de-jornalismo,n=1514.html>
1º ANO
DISCIPLINAS HORA/AULA A/S
FILOSOFIA 64 2
LÍNGUA PORTUGUESA I 128 4
SOCIOLOGIA GERAL E DA COMUNICAÇÃO 64 2
TEORIA DA COMUNICAÇÃO 64 2
FOTOJORNALISMO 64 2
TÉCNICAS E GÊNEROS JORNALÍSTICOS - JORNALISMO BÁSICO I 64 2
ANTROPOLOGIA 64 2
HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO 64 2
HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO I 64 2
ATIVIDADES COMPLEMETARES 96 HORAS
2º ANO
COMUNICAÇÃO COMPARADA 64 2
REALIDADE SÓCIO-ECONÔMICA E POLÍTICA BRASILEIRA 64 2
LÍNGUA PORTUGUESA II 64 2
RADIOJORNALISMO I 64 2
TÉCNICAS E GÊNEROS JORNALÍSTICOS - JORNALISMO BÁSICO II 64 2
COMPUTAÇÃO E PLANEJAMENTO GRÁFICO EM JORNALISMO 64 2
HISTÓRIA DA ARTE 64 2
HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO II 64 2
MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA 64 2
ECONOMIA 64 2
ATIVIDADES COMPLEMENTARES 96 HORAS
158
3º ANO
ADMINISTRAÇÃO DE PRODUTOS EDITORIAIS 64 2
JORNALISMO ESPECIALIZADO I 64 2
NOVAS TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO 64 2
RADIOJORNALISMO II 64 2
TÉCNICAS E GÊNEROS JORNALÍSTICOS - JORNALISMO BÁSICO III 64 2
TELEJORNALISMO I 64 2
CIÊNCIA POLÍTICA 64 2
CULTURA BRASILEIRA 64 2
LEGISLAÇÃO E PRÁTICA JUDICIÁRIA 64 2
TÉCNICA DE REDAÇÃO I 64 2
ATIVIDADES COMPLEMENTARES 96 HORAS
4º ANO
DESIGN GRÁFICO - JORNALISMO EM REVISTAS 64 2
ÉTICA JORNALÍSTICA 64 2
JORNALISMO ESPECIALIZADO II 64 2
TELEJORNALISMO II 64 2
TÉCNICA DE REDAÇÃO II 64 2
JORNALISMO OPINATIVO 64 2
PROJETOS EXPERIMENTAIS 448 14
ATIVIDADES COMPLEMENTARES 96 HORAS
159
MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE JORNALISMO DA ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Disponível em: <http://www3.eca.usp.br/graduacao/cursos>
DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS
1º Período Ideal Créd. Aula
Créd. Trab. CH
CJE0502 Legislação e Deontologia do Jornalismo 2 0 30 CJE0508 Teoria da Comunicação I 2 0 30 CJE0510 Fundamentos Teóricos da História 2 0 30 CJE0518 Pensamento Filosófico 2 0 30 CJE0522 Técnicas Gráficas em Jornalismo 3 2 105 CJE0585 Ciências da Linguagem - Fundamentos das
Práticas Midiáticas I 3 0 45
CJE0587 Laboratório de Iniciação ao Jornalismo 8 4 240 Subtotal: 22 6 510
2º Período Ideal Créd.
Aula Créd. Trab. CH
CJE0506 Fundamentos de Economia 2 0 30 CJE0517 História das Doutrinas Políticas 2 0 30 CJE0586 Ciências da Linguagem - Fundamentos das
Práticas Midiáticas II 3 0 45
CJE0600 Jornalismo no Rádio e na Tv 4 2 120 CJE0615 Ética 2 0 30 CJE0629 Teoria da Comunicação II 2 0 30 CJE0508 - Teoria da Comunicação I - REQUISITO
Subtotal: 15 2 285 3º Período Ideal Créd.
Aula Créd. Trab. CH
CJE0432 Gerenciamento de Empresas Jornalísticas 2 0 30 CJE0469 História do Jornalismo I (geral) 2 2 90 CJE0563 Conceitos e Gêneros do Jornalismo 2 4 150 CJE0589 Elementos de Fotojornalismo 3 4 165 CJE0590 Laboratório de Jornalismo Impresso I 6 5 240 CJE0587 - Laboratório de Iniciação ao Jornalismo - REQUISITO CJE0623 Ciências da Linguagem - Fundamentos das
Práticas Midiáticas III 3 0 45
Subtotal: 18 15 720 4º Período Ideal Créd.
Aula Créd. Trab. CH
CJE0442 História do Jornalismo II (Brasil) 2 2 90 CJE0602 Laboratorio de Jornalismo Impresso II 12 5 330 CJE0590 - Laboratório de Jornalismo Impresso I - REQUISITO
Subtotal: 14 7 420 5º Período Ideal Créd.
Aula Créd. Trab. CH
CJE0524 Laboratório de Jornalismo Impresso III 5 5 225 CJE0602 - Laboratorio de Jornalismo Impresso II- REQUISITO CJE0526 Telejornalismo 4 2 120 CJE0600 - Jornalismo no Rádio e na Tv - REQUISITO CJE0597 Especialização em Jornalismo: Livro-
Reportagem 2 2 90
CJE0603 Radiojornalismo 4 3 150 CJE0600 - Jornalismo no Rádio e na Tv - REQUISITO
Subtotal: 15 12 585
160
6º Período Ideal Créd. Aula
Créd. Trab. CH
CJE0532 Projetos em Rádio 4 3 150 CJE0603 - Radiojornalismo - REQUISITO CJE0533 Projetos em Televisão 8 2 180 CJE0526 - Telejornalismo - REQUISITO CJE0599 Jornalismo On-line 4 2 120
Subtotal: 16 7 450 7º Período Ideal Créd.
Aula Créd. Trab. CH
CJE0601 Laboratório de Jornalismo Impresso - Revista
8 3 210
CJE0602 - Laboratorio de Jornalismo Impresso II - REQUISITO CJE0604 Documentários em Vídeo 8 3 210 CJE0526 - Telejornalismo - REQUISITO CJE0533 - Projetos em Televisão - REQUISITO CJE0600 - Jornalismo no Rádio e na Tv - REQUISITO
Subtotal: 16 6 420 8º Período Ideal Créd.
Aula Créd. Trab. CH
CJE0411 Projeto Experimental Em Jornalismo 5 20 675 CJE0432 - Gerenciamento de Empresas Jornalísticas - REQUISITO CJE0442 - História do Jornalismo II (Brasil) - REQUISITO CJE0469 - História do Jornalismo I (geral) - REQUISITO CJE0502 - Legislação e Deontologia do Jornalismo- REQUISITO CJE0506 - Fundamentos de Economia - REQUISITO CJE0508 - Teoria da Comunicação I - REQUISITO CJE0510 - Fundamentos Teóricos da História - REQUISITO CJE0517 - História das Doutrinas Políticas - REQUISITO CJE0518 - Pensamento Filosófico - REQUISITO CJE0522 - Técnicas Gráficas em Jornalismo - REQUISITO CJE0524 - Laboratório de Jornalismo Impresso III - REQUISITO CJE0526 - Telejornalismo - REQUISITO CJE0532 - Projetos em Rádio - REQUISITO CJE0533 - Projetos em Televisão - REQUISITO CJE0563 - Conceitos e Gêneros do Jornalismo - REQUISITO CJE0585 - Ciências da Linguagem - Fundamentos das Práticas Midiáticas I - REQUISITO CJE0586 - Ciências da Linguagem - Fundamentos das Práticas Midiáticas II - REQUISITO CJE0587 - Laboratório de Iniciação ao Jornalismo - REQUISITO CJE0589 - Elementos de Fotojornalismo - REQUISITO CJE0590 - Laboratório de Jornalismo Impresso I - REQUISITO CJE0597 - Especialização em Jornalismo: Livro- Reportagem - REQUISITO CJE0600 - Jornalismo no Rádio e na Tv - REQUISITO CJE0601 - Laboratório de Jornalismo Impresso - Revista - REQUISITO CJE0602 - Laboratorio de Jornalismo Impresso II - REQUISITO CJE0603 - Radiojornalismo - REQUISITO CJE0604 - Documentários em Vídeo - REQUISITO CJE0615 - Ética - REQUISITO CJE0623 - Ciências da Linguagem - Fundamentos das Práticas Midiáticas III - REQUISITO CJE0629 - Teoria da Comunicação II - REQUISITO
Subtotal: 5 20 675
161
DISCIPLINAS OPTATIVAS LIVRES
1º Período Ideal Créd. Aula
Créd. Trab. CE
CJE0247 Metodologia para Produção Editorial Impressa
2 0 30
CJE0584 Marketing em Empresas Informativas e Editoriais
2 0 30
CJE0606 Design Editorial II 2 2 90 CJE0614 Estudo de Caso - Imprensa Diária 3 0 45 CJE0618 Estudo de Caso - o Radiojornalismo 2 0 30 CJE0622 Políticas Públicas em Comunicação e Leitura 2 2 90 CJE0626 Introdução à Editoração 2 2 90 CJE0627 Artes Visuais e Editoração 2 2 90 CJE0633 Jornalismo Popular e Comunitário 2 0 30 CJE0635 Fundamentos do Jornalismo 4 4 180
2º Período Ideal Créd. Aula
Créd. Trab. CE
CJE0382 Edição de Artes 2 2 90 CJE0395 Cultura e Literatura Brasileira I 4 2 120 CJE0499 História da Ciência 2 0 30 CJE0617 Introdução à Pesquisa Científica 2 2 90 CJE0619 Estudo de Caso - o Telejornalismo 3 0 45 CJE0621 Design Editorial I 2 2 90 CJE0625 História da Editoração II 2 0 30
3º Período Ideal Créd. Aula
Créd. Trab. CE
CJE0249 História da Editoração I 2 0 30 CJE0330 Legislação e Ética da Indústria Editorial 2 0 30 CJE0396 Cultura e Literatura Brasileira II 4 2 120 CJE0556 Leitura e Produção de Textos 2 2 90 CJE0630 Jornalismo Social 2 0 30 CJE0632 Estudo de Caso: Jornalismo em Televisão 2 0 30 CJE0637 Jornalismo e Cultura: Inter-relações e
Confluências 2 2 90
4º Período Ideal Créd. Aula
Créd. Trab. CE
CJE0381 Indústria Editorial e Planejamento em Comunicação
2 0 30
CJE0489 Jornalismo Econômico 4 2 120 CJE0506 - Fundamentos de Economia CJE0539 Editoração em História-em-quadrinhos 3 3 135 CJE0551 Jornalismo Científico 3 2 105 CJE0620 Ciência e Informação Jornalística 2 0 30 CJE0631 Jornalismo e Políticas Públicas Sociais 2 0 30
5º Período Ideal Créd. Aula
Créd. Trab. CE
CJE0561 Edição de Texto em Revistas 2 2 90 CJE0575 Jornalismo e Saúde: A Experiência Brasileira 3 0 45 CJE0576 Jornalismo em Agribusiness e Meio Ambiente
no Brasil 3 0 45
162
6º Período Ideal Créd. Aula
Créd. Trab. CE
CJE0434 Jornalismo Sindical 2 0 30 CJE0564 Edição de Imagem em Revistas 2 2 90 CJE0583 História e Estética da Fotografia 2 2 90 CJE0610 Cultura e Literatura Brasileira III 4 4 180 CJE0634 Jornalismo Esportivo - a pauta além do
futebol 1 1 45
163
MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO
Disponível em: <http://www.unasp-ec.edu.br/curso/jornalismo/>
1º SEMESTRE
DISCIPLINAS CRED./AULA TOTAL
JORNALISMO: CONCEITOS E GÊNEROS 3 54
HISTÓRIA DA IMPRENSA BRASILEIRA 2 36
FORMAÇÃO PROFISSIONAL I 1 18
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL 3 54
METODOLOGIA DE PESQUISA 3 54
COSMOVISÃO BÍBLICO-CRISTÃ 2 36
PENSAMENTO FILOSÓFICO CONTEMPORÂNEO 3 54
CRIATIVIDADE APLICADA 3 54
ATIVIDADES COMPLEMETARES NO SEMESTRE 50
TOTAL GERAL 410
2º SEMESTRE
TÉCNICAS DE ENTREVISTA E REPORTAGEM JORNALÍSTICA 3 54
FOTOJORNALISMO 3 54
FORMAÇÃO PROFISSIONAL II 1 18
PRODUÇÃO TEXTUAL 3 54
PSICOLOGIA DA COMUNICAÇÃO 3 54
ANTROPOLOGIA CRISTÃ 2 36
ÉTICA E LEGISLAÇÃO 2 36
FERRAMENTAS DE PRODUÇÃO: MÍDIAS ELETRÔNICAS E DIGITAIS 3 54
ATIVIDADES COMPLEMETARES NO SEMESTRE 50
TOTAL GERAL 410
164
3º SEMESTRE
RADIOJORNALISMO: TEORIA E TÉCNICA 5 90
JORNALISMO IMPRESSO I 4 72
OFICINA DE REDAÇÃO JORNALÍSTICA 3 54
SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO 2 36
CIBERCULTURA 3 54
FUNDAMENTOS DO CRISTIANISMO 2 36
FORMAÇÃO PROFISSIONAL III 1 18
ATIVIDADES COMPLEMETARES NO SEMESTRE 50
TOTAL GERAL 410
4º SEMESTRE
RADIOJORNALISMO: CONCEPÇÃO E PRODUÇÃO 5 90
JORNALISMO IMPRESSO II 4 72
JORNALISMO ECONÔMICO 3 54
FORMAÇÃO PROFISSIONAL IV 1 18
TEORIAS DA COMUNICAÇÃO 3 54
INTERPRETAÇÃO BÍBLICA DA HISTÓRIA 2 36
PRODUÇÃO CIENTÍFICA 2 36
ATIVIDADES COMPLEMETARES NO SEMESTRE 50
TOTAL GERAL 410
5º SEMESTRE
CRÍTICA DE MÍDIA 3 54
POLÍTICA INTERNACIONAL 2 36
TELEJORNALISMO: TEORIA E TÉCNICA 5 90
JORNALISMO ESPORTIVO 2 36
JORNALISMO POLÍTICO 3 54
165
FORMAÇÃO PROFISSIONAL V 1 18
COMUNICAÇÃO E PODER 2 36
PRINCÍPIOS DE VIDA SAUDÁVEL 2 36
ATIVIDADES COMPLEMETARES NO SEMESTRE 75
TOTAL GERAL 435
6º SEMESTRE
JORNALISMO CIENTÍFICO E AMBIENTAL 2 36
TELEJORNALISMO: CONCEPÇÃO E PRODUÇÃO 5 90
JORNALISMO CULTURAL 3 54
FORMAÇÃO PROFISSIONAL VI 1 18
LIVRO REPORTAGEM 4 72
COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL 3 54
CIÊNCIA E RELIGIÃO 2 36
ATIVIDADES COMPLEMETARES NO SEMESTRE 75
TOTAL GERAL 435
7º SEMESTRE
PROJ. EXPERIM. EM JORNALISMO: CONCEPÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO 4 72
JORNALISMO OPINATIVO 3 54
JORNALISMO MULTIMÍDIA 4 72
FORMAÇÃO PROFISSIONAL VII 1 18
VIDEODOCUMENTÁRIO 4 72
RELIGIOSIDADE E COMPETÊNCIA PROFISSIONAL 2 36
GESTÃO EM EMPRESAS DE COMUNICAÇÃO 2 36
ATIVIDADES COMPLEMETARES NO SEMESTRE 75
TOTAL GERAL 435
166
8º SEMESTRE
PROJ. EXPERIM. EM JORNALISMO: PRODUÇÃO 12 216
EDUCAÇÃO PARA A MÍDIA 3 54
ÉTICA CRISTÃ E PROFISSIONAL 2 36
FORMAÇÃO PROFISSIONAL VIII 1 18
EMPREENDEDORISMO 2 36
ATIVIDADES COMPLEMETARES NO SEMESTRE 75
TOTAL GERAL 435
167
LISTA DE TCCS DO CURSO DE JORNALISMO DA FACULDADE CÁSPER LÍBERO
ANO: 2007
Número
Título Gênero Alunos/Turno Professor Orientador
01 Sob a sombra da morte
Livro reportagem Diego Luis Domanico Vega - 4JOA Mariana Sanches de Abreu - 4JOB [email protected] Turno: Manhã
Igor Fuser Média parcial: 10 Final:
02 Revista Unique Revista Janaína Demarque da Silva/Maria Julia de Mendonça/ Priscila Perez 4JOB Turno: Manhã
Rosangela Petta Média parcial: 10 Final:
03 O discurso feminino na Revolução Farroupilha
Monografia Izabelle Cristine Carbonar do Prado - 4JOA Turno: Manhã
Luís Mauro Sá Martino Média parcial: 10 Nota final: 10
04 Meu braço esquerdo queimado de Sol/Sobre Caminhoneiros
Livro reportagem Bruno Pamplona Polizio - 4JOD [email protected] Turno: Noite
Rosangela Petta Média parcial: 10 Final:
05 Quatro quartos Vídeo-documentário
Eduardo Barros Pinto - 4JOD [email protected] Turno: Noite
Tatiana Ferraz Média parcial: 8/8/9 8 Final:
06 O mundo é Sírio Livro Reportagem
Demétrio Vecchioli - 4JOC [email protected] Jean Nicolau (4JOD) Turno: Noite
Carlos Costa Média parcial: Demétrio: 8/8,5/10 Final: 9 Jean: ? Final:
07 Guia de Games.com
Site Chibly Michel Haddad Filho - 4JOB [email protected] Turno: manhã
Daniela Ramos Média parcial: 8,5 Final:
08 Raios e Trovões! Almanaque André Cid de Oliveira - 4JOC Victor Bianchin de Oliveira (manhã) - 4JOA [email protected] Turno: noite
Luís Mauro Sá Martino Média parcial: 10 Final:
09 Lixo: problemas e soluções
Série especial de reportagens
Diogo Sponchiato - 4JOB Gabriel Mitani Igor Paulin [email protected] Turno: manhã/orientação noite
Rosangela Petta Média parcial: 10 Final:
10 A conquista da América
Livro Reportagem
Heloisa de Guide – 4JOA Henrique Ribeiro – 4JOB Lissandra Laila – 4JOB Natalie Gedra - 4JOC [email protected] [email protected] Turno: manhã
Celso Unzelte Média parcial: 9 Final:
11 Meu nome é Yuba Vídeo Documentário
Bruno Barbosa Castanho - 4JOB Juliana Kirihata [email protected] Turno: manhã
Pedro Ortiz Média parcial: 9 Final:
168
12 Memórias do Leste
Livro Reportagem
Alexandre Albert Gonçalves - 4JOA [email protected] Turno: manhã
Welington Andrade Média parcial: 9.5 Final:
13 A emoção sobrevivente
Livro Reportagem
Guilherme Conte - 4JOB [email protected] Turno: manhã
Welington Andrade Média parcial: 9 Final:
14 A evolução da moda em São Paulo
Livro Reportagem
Bruna Nicolielo – 4JOA Mariana Shirai Vieira [email protected] Turno: manhã
Igor Fuser Média parcial: 10 Final:
15 Verdurada: revolução sóbria do punk
Vídeo Documentário
Guilherme Frimm - 4JOA Rafael Takano Paulo Henrique Marçaioli [email protected] Turno: manhã
Pedro Ortiz Média parcial: 9 Paulo Henrique: 8 Final:
16 Abrem-se as cortinas
Livro/Biografia Giovanna Rodrigues- 4JOD Ranata Cavalcante Sara Tavares [email protected] Turno: noite
Celso Unzelte Média parcial: 9 Final:
17 Almanaque da Lusa
Almanaque Érico Loreto - 4JOC Marcio Monteiro - 4JOC Rafael Ribeiro- 4JOC Thiago Azevedo - 4JOD [email protected] [email protected] Turno: manhã (orientação)
Celso Unzelte Média parcial: 8 Final:
18 Jornalismo Digital no celular
Celular Nina Weingrill - 4JOB Paula Paulenas [email protected] Turno: manhã
Daniela Ramos Média parcial: 9.5 Final:
19 Playoff Portal Alexander Vestri - 4JOB Daniel Neves de Souza - 4JOC Jorge Fernando Corrêa - 4JOC Rafael dos Santos Bragança - 4JOC Tiago Silva Dantas - 4JOA Victor Luiz Pinto Fontana - 4JOB [email protected] Turno: manhã (orientação)
Celso Unzelte Média parcial: 10 Final:
20 Histórias de bares e botecos antigos de São Paulo
Livro Reportagem
Daniela Landin Baffi - 4JOB Mayra Rossi Kallás - 4JOC Paula Dume - 4JOB [email protected] Turno: manhã (orientação)
Luís Mauro Sá Martino Média parcial: 10 Final:
21 No balanço do sambra-rock’
Livro Reportagem
Filipe Vilicic - 4JOA [email protected] [email protected] Turno: manhã (orientação)
Mônica Brincalepe Campo Média parcial: ? Final:
22 Central de Periferia: o singular e o plural na televisão acadêmica
Monografia Ana Carolina Silva Andrada [email protected] Turno: manhã (orientação)
Pedro Ortiz Média parcial: 9,5 Final:
169
23 Mercado Moda Suplemento para jornal
Glauco Sabino - 4JOC Paula Lourenço Rebeca de Moraes [email protected] Turno: noite
Rosangela Petta Média parcial: 10 Final: 9,5
24 A obra cavada no chão
Livro Reportagem
Danilo Javarotto - 4JOC [email protected]
Carlos Costa Reprovado
25 Big Bands Vídeo Documentário
André Seiti Maria Teresa Cruz Paula Desgualdo Thiago Rosemberg [email protected] Turno de orientação: manhã
Pedro Ortiz Média parcial: 9 Final:
26 Análise da produção de notícias nos jornais Destak e Metrô News
Monografia Carlos Andrade Rivas Gutierrez Diego Moreno Salmen [email protected] Turno de orientação: noite
Luís Mauro Sá Martino Média parcial: 10 Final:
27 O santo é de barro
Livro Reportagem
João de Freitas - 4JOC Thais Arbex Pinhata [email protected] [email protected] Turno de orientação: noite
Rosangela Petta Média parcial: 10 Final:
28 Um médico de fôlego – uma biografia do médico José Rosemberg
Livro Reportagem - Biografia
Ana Carolina do Prado - 4JOD Bruno Brando Francisco Filho Giuliano Yano [email protected]
Carlos Costa Média parcial: 10/9/9 Final:
29 A sexualidade das Princesas Disney
Livro-reportagem Cíntia Aparecida Bazzan [email protected] Turno de orientação: noite
Welington Andrade Média parcial: 8,5 Final:
30 O mito do biquíni brasileiro
Vídeo Documentário
Carolina Monterisi - 4JOA Jaqueline Fernandes Marília Taufic Nadja Bium Yuri Ikeda [email protected] Turno de orientação: noite
Rosangela Petta Média parcial: 10 Final:
31 Dandaras Revista Paola Prandini - 4JOD Cinthia Gomes - 4JOA Felipe Jordani [email protected] Turno de orientação: noite
Carlos Costa Média parcial: 10/9 Final:
32 Mudança de cena Livro Reportagem
Alessandra Perrechil - 4JOC Marcela Rosa Mastrocola [email protected] [email protected] Turno de orientação: noite
Luís Mauro Sá Martino Média parcial: 8,5 Final:
33 Passaporte Livro Reportagem
Maria Carolina Thomazzi - 4JOB Thais Terumi Ito - 4JOD [email protected] Turno de orientação: noite
Welington Andrade Média parcial: 9 Final:
34 10 anos de orgulho – histórias de Parada Gay de São Paulo
Livro Reportagem
Mariana Zafalon Ferreira - 4JOB Roberta Messa Benzati Thaís Manarini Costa [email protected] Turno de orientação: noite
Rosangela Petta Média parcial: 10 Final:
170
35 Show de calouros – os vestibulandos de Medicina
Vídeo Documentário
Anaí Montanha - 4JOB Felipe Arruda Mortara Adriana Condota [email protected] Turno de orientação: noite
Tatiana Ferraz Média parcial: 8,5 Final: 9
36 Histórias da relação entre homens e animais de estimação
Livro Reportagem
Danielle Sanches - 4JOC [email protected] Turno de orientação: noite
Luís Mauro Sá Martino Média parcial: 10 Final:
37 Geração Bendita Livro Reportagem
Aline Ridolfi - 4JOC Ana Paula Canestrelli Tatiana de Mello Dias [email protected] Turno de orientação: noite
Welington Andrade Média parcial: 9,5 Final:
38 Mulher e homem: discutindo a relação na revista UMA
Monografia Mariana de Carvalho Marcondes de Souza – 4JOB [email protected] Turno de orientação: manhã
Dulcília Buitoni (pós) Média parcial: 9 Final:
40 Nota oficial – Vida executiva além do escritório
Site Caio Ferracina - 4JOD Otávio Muniz Pedro Martins [email protected] Turno de orientação: noite
Renato Delmanto Média parcial: 8 Final:
41 Você em destaque
Site Amanda Gomes - 4JOD Thaís Pontes [email protected] Turno de orientação: noite
Luís Mauro de Sá Martino Média parcial: 10 Final:
42 Enquanto houver luar – serestas e seresteiros
Livro reportagem Carolina Canossa - 4JOA Hugo Vecchiato Roberto Mahn César Tizo [email protected] Turno de orientação: manhã
Welington Andrade Média parcial: 9,5 Final:
43 Mário Palmério: Memórias, causos e outras histórias
Livro reportagem Fernanda Freitas - 4JOD [email protected] Turno de orientação: noite
Welington Andrade Média parcial: 8 Final:
44 Para onde anda a fila?
Série especial de reportagem/ Rádio
Ana Carolina Cortez - 4JOC Viviane Biondo - 4JOC Tiago Varella - 4JOA [email protected] Turno de orientação: noite
Vera Fiordoliva Média parcial: 10 Final:
45 Copan – 50 anos Livro reportagem Fábio de Paula Assis - 4JOD João Burlamaqui Loes [email protected] Turno de orientação: noite
Jorge Paulino (Cultura Geral) Média parcial: 10 Final:
46 Aloysio Biondi – resistência ética e grandeza no Jornalismo
Livro reportagem - Biografia
Thais Sauaya Pereira - 4JOC [email protected] Turno de orientação: noite
Nanami Sato Média parcial: 10 Final:
47 Amálgama de Vidas
Livro reportagem Felipe Manzan – 4JOD Turno de orientação: noite
Nanami Sato Média parcial: 10 Final:
48 Farrapos e Augustos
Livro reportagem Carmen de Andrade Guerreiro - 4JOD [email protected] Turno de orientação: noite
Welington Andrade Média parcial: 9 Final:
171
49 Lourenço Mutarelli Livro reportagem Daniela Dias Ferreira - 4JOC [email protected] Turno de orientação: noite
Carlos Costa Média parcial: 9,5/9,5 Final:
50 Explosão do movimento neopentecostal
Vídeo Documentário
Ana Paula Rodrigues - 4JOD Cristiane Vilas Boas - 4JOC Mariana Ribeiro – 4JOC [email protected] Turno de orientação: noite
Tatiana Ferraz Média parcial: 8,5 Final:
51 Espaço do autor
Vídeo Documentário
Aline Fernandes da Silva - 4JOD Bruna Valensia - 4JOD [email protected] Turno de orientação: noite/manhã
Pedro Ortiz Média parcial: 9 Final:
52 Círculo de Giz no Brasil
Livro reportagem João Guilerme Massaro - 4JOD Mônica Aquino [email protected] Turno de orientação: noite
Welington Andrade Média parcial: 8,5 Final:
53 O castelinho da Rua Apa
Livro reportagem Juliana Guimarães Elias - 4JOB [email protected] Turno de orientação: manhã
Igor Fuser Média parcial: 10 Final:
54 Kidcasting Podcast Lícia de Souza Soares - 4JOC Silvio Vidoto Junior [email protected] [email protected] Turno de orientação:noite
Pedro Vaz Média parcial: 8,5 Final:
55 Escritora e Mulher: Lygia Fagundes Telles
Vídeo Documentário
Flávia Pucciarelli - 4JOA Leonardo Desideri Renato Telles Wilker de Souza [email protected] Turno de orientação: manhã
Pedro Ortiz Média parcial: 9 Final:
56 Filhos da Aids Livro reportagem Ana Carolina Moura - 4JOA Camila Arakaki - 4JOC Caroline da Silva Michele Dovoezem [email protected] Turno de orientação: noite
Carlos Costa Média parcial: 10/10 Final:
57 O rock delas Livro reportagem Fabiana Guena - 4JOA Juliana Destro - 4JOC Paula Bassi - 4JOC [email protected] Orientação: noite
Rosangela Petta Média parcial: 10 Final:
58 Vozes da Amazônia
Livro reportagem Carolina Derivi - 4JOC [email protected] Orientação: noite
Igor Fuser Média parcial: 10 Final:
59 Confissão de Madas em recuperação
Livro reportagem Amanda Santoro - 4JOD Kátia Lessa Mariana Gandolfi Marina Mendonça [email protected] Orientação:noite
Igor Fuser Média parcial: 10 Final:
60 A realidade fora da realidade - esquizofrenia
Livro reportagem Larissa Soriano - 4JOD Rafael Freire Rafaela Ito Rodnei Corsini [email protected] Orientação:noite
Welington Andrade Média parcial: 10 Final:
61 Celular, testemunha ocular
Monografia Cíntia Toledo Costa - 4JOD [email protected] Orientação: noite
Daniela Ramos Média parcial: 8 Final:
172
63 Anellu Assessoria Assessoria de Imprensa
Daniela Gonzalez - 4JOD Cinthia Prather - 4JOA [email protected] Orientação: noite
Renato Delmanto Média parcial: 8 Final:
64 Quilombo da Caçandoca:remanescentes em conflito
Livro Reportagem
Camila Marques Andrade - 4JOB Francisco Ennis Marcella Petrere Duarte Verônica Andréa Buratini [email protected] Orientação: manhã
Celso Unzelte Média parcial: 9,5 Final:
65 João Antônio, 70 anos
Livro Reportagem
Gabriel Arantes Falcione - 4JOC [email protected] Orientação: noite
Carlos Costa Média parcial: 8/10/10 Final: 9
66 Made in Brazil – música eletrônica
Vídeo Documentário
Carolina Silveira - 4JOD Suellen Adur [email protected] [email protected] Orientação: noite
Mônica Brincalepe Média parcial: 8,5 Final:
67 Mia Couto Livro Reportagem
Fábio Salem - 4JOD Rodrigo Turrer Rodrigo Antonio [email protected] Orientação: noite
Igor Fuser Média parcial: 10 Final:
68 A voz do Brasil Vídeo Documentário
Lucas Krauss - 4JOD [email protected] Orientação: manhã
Ismael Pfeifer Média parcial: 9 Final:
69 Hospital das Clínicas
Vídeo Documentário
Camila Gomes Teixeira Pinto - 4JOA Andrés Schablatura [email protected] Orientação: manhã
Pedro Ortiz Média parcial: 9 Final:
70 Hospital Heliópolis Livro Reportagem
Paulo Saldaña - 4JOD Wanderley Sobrinho Filipe Vilisic [email protected] Orientação: noite
Igor Fuser Média parcial: 10 Final:
71 Spod Podcast Daniela B. Silva - 4JOC Maria Cavalcanti - 4JOC Natália Garcia - 4JOC Paulo Paladino - ? Roberta Campassi - ? [email protected] Orientação: manhã
Celso Unzelte Média parcial: 8,5 Final:
72 Relatos da noite underground paulistana
Livro Reportagem
Hugo José Toni dos Santos - 4JOD Camilla Sarmento da Silveira [email protected] Orientação: noite
Mônica Brincalepe Média parcial: 7 Final:
73 Um certo olhar sobre a música popular contemporânea de São Paulo
Livro Reportagem
Fábio Eitelberg – JOA [email protected] Orientação: manhã
Welington Andrade Média parcial: 8,5 Final:
74 Revoluções por segundo
Almanaque André Rizzato Cameira 4JOC
76 Jornais Livres Projeto Especial/Site/Comunidade
Marcelo Tadeu Marchi [email protected]
Média parcial: 9 Final:
77 Basquete Livro reportagem Jean Nicolau Carlos Costa 7/7/7 Média final: 7
173
ANO: 2008 Número Título Gênero Alunos/Turno Professor
Orientador 01 Aprovado Na rota da cerveja Livro
reportagem Ingrid Calderoni Costa 4JoC
Carlos Costa
02 Aprovado
José rápido, seu jornal gratuito de esportes
Jornal gratuito Alessandro Cristo (manhã); JOD Bruno Ferrari Denis Sanches Guilherme Pavarin Luana Alves Marco Aurélio Zanni
Celso Unzelte
03 Aprovado
Fazendo uma escola - Aborto
Livro reportagem
JOD Danielle Bambace Danielle Fonseca Ramos Karla Mamona Roberta Vilas Boas
Welington Andrade
04 Aprovado
Fora do padrão Livro reportagem
JOD Beatriz Bourroul de Salles Vanessa Gomes de Lima
Welington Andrade
05 Aprovado
Um olhar estrangeiro sobre São Paulo
Livro reportagem
JO D Gladys Magalhães Isabella Alberto Luciana Akemi
Celso Unzelte
06 Aprovado
A história de Canfundó Reportagem multimídia
JOC Juliana Mir Tonello Pedro Araújo Lilian Gomes Kamilla Bandeira
Celso Unzelte
07 Aprovado
Em teu lar, interlagos Livro reportagem
JOA Andrei Sant’Anna Spinassé
Celso Unzelte
08 Aprovado
A palestina é aqui Livro reportagem
JOB Carolina Montenegro
Igor Fuser
09 Aprovado
Educar - caderno semanal para jornal
Série especial para jornal
JOC Lucas Bessel Marcel Gugoni
Carlos Costa
10 Aprovado
A diferença que constrói
Livro Reportagem
JOD Daniel Freire Bucceroni Mariana Rodrigues de Salve
Welington Andrade
11 Aprovado
Tendências teórico-metodológicas na produção científica da Faculdade Cásper Líbero
Monografia JOD Ana Paula Rodrigues dos Santo
Ana Maria Camargo Figueiredo
12 Aprovado
Incomunicação - o conflito entre tecnologia e informaçã
Monografia JOA Guilherme Pichonelli
José Eugênio Menezes
13 Aprovado
Versão Brasileira - histórias, personagens e vozes dos 70 anos da dublagem no Brasil
Série de reportagem para Rádio
JOC Bárbara de Araújo Luciana Bertolli Talita Ângulo Marchão
Tatiana Ferraz
14 Aprovado
Doação.org.br Série de reportagens para rádio
JOD David Eduardo do Prado Pessa JOA Joana Mendes do Carmo
Tatiana Ferraz
15 Aprovado
Marginália paulista Livro reportagem
JOD Camila Hungria Renata D’Elia
Welington Andrade
16 Aprovado
Teatro oficina - resistência e renovação
Documentário para rádio
JOC Danilo Cruz Dainezi Frederico Antonelli Larissa Coldibeli
Pedro Vaz
17 Represa de Livro JOB Igor Fuser
174
Aprovado Guarapiranga reportagem Fábio Zemann Samira Menezes
18 Aprovado
Los tres amigos Livro reportagem
JOC Emanuel Colombari Igor Nishikiori Leonardo Filomeno Yuri Bucaretchi
Gilberto Maringoni/Welington Andrade
19 Aprovado
Toque - o sistema Braille
Videodocumentário
JOA Ana Paula Schleier Caroline Dulley Janaína Rodrigues Vivien Zumckeller
Pedro Ortiz
20 Aprovado
Nós vamos invadir sua praia
Livro Reportagem
Gabriel Yamamoto Nanbu RA 202285
Gilberto Maringoni
21 Aprovado
Pólos - a realidade da depressão bipolar
videodocumentário
JOB Janaína Harada Sarah Lee Yolanda Fordeloni JOD Leandro Buarque
Tatiana Ferraz
22 Aprovado
Túlio Maravilha Livro reportagem
JOB Allan Farina Diego Ribeiro José Renato Gimenes
Celso Unzelte
23 Aprovado
Infoestética - a forma a serviço do conteúdo na grande imprensa brasileira
Monografia JOA Daniel Gasparetti Camila Yokoo
Carlos Costa
24 Aprovado
Elis Regina - o falso brilhante da MPB
Livro Reportagem
JOB Gabriel Cunha Fabbri
Pedro Vaz
25 Aprovado
Rumo a Pequim - preparação da seleção de futebol feminino
Vídeodocumentário
JOB Alexandre Salvador Rafael Marques JOA Gabriel Mandel
Pedro Ortiz
26 Aprovado
Samba de instituição Livro reportagem
JOD Gustavo Godoy Simon JOA Isabel Marcondes Kawage
Welington Andrade
27 Aprovado
Imprensa santista Livro Reportagem
JOD Eduardo Oliveira Verzoni
Newton Molon
28 Aprovado
Maria Candelária Livro Reportagem
JOD Ana Luísa Westphalen Bianca Pinto Lima Milton Costa
Celso Unzelte
29 Aprovado
Auge e decadência - Cine Marabá
Livro reportagem
JOB Julio Henrique Silvestre Simões
Celso Unzelte
30 Aprovado
Todavia me queda voz - refugiados cubanos em SP
Livro reportagem
JOB Filipe Domingues Luisa Pécora Renata Helena Rodrigues
Carlos Costa
31 Aprovado
Há vida na UTI Livro reportagem
JOB Daniel Alcencar Marques Marcelo Rezende Cobra
Welington Andrade
32 Aprovado
O futebol e a vida nas crônicas esportivas de Tostão
Monografia JOB Gilson Yoshioka
Welington Andrade
33 Aprovado
Etanol Livro Reportagem
JOB Mauricio Martins JOC Vanessa Dezem Pietra Nabarrete
Eum Yung Park
34 Aprovado
A TV como pré-escola: estudo de caso da série Rá Tim Bum
Monografia JOA Lígia Amélia Souza Marília Scriboni
Luís Mauro Sá Martino
175
35 Aprovado
O método de entrevista de Eduardo Coutinho
Monografia JOA Elisa Pinheiro Tozzi Mônica Brincalepe
36 Aprovado
Hoje tem marmelada! Videodocumentário
JOD Luiza Fagá Maysa Marques Silvio Crespo JOB Bruno Romano JOA Roberto Campos
Regina Soler
37 Aprovado
Arte do faz-de-conta: a cena do teatro infantil em São Paulo
Livro Reportagem
JOB Diana Szylit Helena Galante Paula Rothman
Carlos Costa
38 Aprovado
Angra 3: visões sobre o paradigma atômico no Brasil
Livro reportagem
JOC Marcus Vinícius Brasil/Renata Macedo Silva JOA Patrícia Rezende
Dimas Kunsch
39 Aprovado
Einstein em prova Livro reportagem
Mário José da Rocha Borges Igor Fuser
40 Aprovado
Estação Pinheiros: vidas em risco
Livro reportagem
JOA Filipe Rodrigues JOC Ravi Santana JOD Eliana dos Anjos Nivaldo Souza
Heitor Ferraz
41 Aprovado
Fotojornalismo e os avanços tecnológicos
Monografia JOB Vinicius Brandini
Erivam de Oliveira
42 Aprovado
O mercadão Livro reportagem
JOB Thais de Oliveira Sant´Ana
Luís Mauro Sá Martino
43 Aprovado
Histórias do hardcore Livro reportagem
JOA Gustavo Pelogia Heitor Ferraz
44 Aprovado
A biografia de Lanny Gordin
Livro reportagem
JOB Adriano Conter/André Spera/Juliano Coelho
Heitor Ferraz
45 Aprovado
Das sapatilhas de ponta aos palcos
Livro reportagem
JOB Laís Taliberti/Renata Sagradi
Carlos Costa
46 Aprovado
Giafrancesco Guarnieri - uma vida em cena
Livro reportagem
JOB Juliana Soares Elias Rosangela Petta
47 Aprovado
Um grande do samba: perfil de Elton Medeiros
Livro reportagem
Felipe Mendes 4 JoB Mariana Romão 4 JoB
Carlos Costa
48 Aprovado
Minha memória dos outros - cinema brasileiro
Vídeo documentário
JOD: Natália Albertoni JOA Barbara Moreira/Kanucha Barbosa/Danilo Javarotto
Rosangela Petta
49 Aprovado
Subjetividade na crítica teatral - FSP, Estado e Bravo!
Monografia JOA Vanessa Martins Andrade Medeiros
Luís Mauro Sá Martino
50 Aprovado
A informação e os meios de comunicação nas histórias em quadrinhos Mafalda
Monografia JOA Talita Rodrigues Costa
Luís Mauro Sá Martino
51 Aprovado
Volúpia: revista sobre sexo voltada às balzaquianas das metrópoles brasileiras
Revista JOA Danielle Lourenço Marilin Novak Samantha de Tommaso
Rosangela Petta
52 Aprovado
Na trave - os craques da várzea paulistana preteridos pelo futebol profissional
Livro reportagem
Christian Baines 4 JoA Gabriel Mestieri 4 JoD Renato Godoy de Toledo 4 JoD
Igor Fuser
53 Aprovado
O PSOL hoje Livro reportagem
JOA Juliana Sada JOC Júlio Delmanto
Maria Goreti Frizzarini
54 Aprovado
Historialistas e jornaliadores
Livro reportagem
JOB Lygia Barsotti Carlos Costa
176
55 Aprovado
50 anos do Teatro Oficina
Vídeo Documentário
JOA Bruno Henrique de Castro Lígia Ramos Roca JOC Marcela Farras Vinícius Cardoso
Pedro Ortiz
56 Aprovado
Jazz e música instrumental: um panorama da cena paulistana
Livro reportagem
JOC Bruno D´Andrade Lofreta Adriano Sanches
Pedro Vaz
57 Aprovado
Barato Lícito - histórias de dependentes de medicamentos controlados
Livro reportagem
JOC Diógenes Adolpho Muniz Gustavo Nicoletta JOA Felipe Machado
Heitor Ferraz
58 Aprovado
Do zero: história e memória no marco zero da cidade de São Paulo
Livro reportagem
JOB Juliene Codognotto
Celso Unzelte
59 Aprovado
A alma dos muros Livro reportagem
JOD Felipe Matos Eduardo de Andrade
Carlos Costa
60 Aprovado
Techno – De Detroit a Berlim
Livro reportagem
JOC Monique Oliveira
Liráucio Girardi Jr.
61 Aprovado
Carlos Zéfiro
Livro reportagem
JOA Lucas Frasão Márcio Orsolini
Heitor Ferraz
62 Aprovado
Análise da recepção e apropriação do conteúdo da animação japonesa pelos fãs e a sua aplicação no cotidiano
Livro reportagem
JOD Bruno Paiva Teixeira
Luís Mauro Sá Martino
63 Aprovado
Imigração Boliviana em São Paulo
Livro Reportagem
JOA Lucien Adedo JOD Bruno Fuschini Daniel Ferrero
Rosangela Petta
64 Aprovado
Mário Palmério: memórias, causos e outras histórias
Livro Reportagem
JOD Fernanda Fatureto Freitas
Gilberto Maringoni
65 Aprovado
Café com Mutarelli Livro Reportagem
JOC Daniela Dias Ferreira
Heitor Ferraz
66 Aprovado
Brasileiros em Portugal Livro Reportagem
Eurico Brás Welington Andrade
ANO: 2009 Carlos Costa Aluno Turma Projeto Diogo Bercito JOA J´lem
Livro Reportagem Gabriella de Luca, Mariana Pasini, Nathália Moraes (JOD) Samantha FerreiraTommaso
JOA Revista de Design
Felipe Lessa e Lívia Ascava JOD Belair: cinco meses, cinco filmes, Livro reportagem
Luís Mauro Sá Martino Aluno Turma Projeto Beatriz Nakashima, Lucas Grafite em São Paulo: das ruas
177
Bombana ( JOD) e Yuri Machado de Azevedo Bossonaro (JOB)
para as galerias Livro Reportagem
Lecticia Maggi Silveira
JOD Rua nossa de todo dia - histórias de pessoas que sobrevivem na rua Livro reportagem
Priscila Harumi (JOC) e Vanessa Medeiros (JOA)
Almanaque de TV: as 100 principais séries de 1990 até hoje Livro reportagem
Nathália Augusta Rosa Florêncio
JOC A interação estabelecida entre crianças e o conteúdo editorial infantil online Monografia
Maysa Cunha Rodrigues
JOB As apropriações do conceito "indústria cultural" nos estudos recentes... Monografia
Mario Barra JOC Einstein em prova Livro reportagem
Cristiane da Silva Rocha, Laura Cattucci Chinellato e Talitha Iamamoto
JOD Fruto permitido: as comunidades carismáticas católicas de São Paulo Livro Reportagem
Aline Simone Rapassi e Maíra Lie Chão
JOC A imagem da mulher no jornalismo esportivo Monografia
Monica Brincalepe Aluno Turma Projeto Geoffrey Scarmelote (JOC), Jacqueline Manfrin (JOB), Stela Jordy (JOB)
Vocacional: 40 anos depois Vídeo Documentário
Tatiana Ferraz Aluno Turma Projeto Felipe Trautwein Barbosa, Henrique Mafei Guidi, Pedro Ferreira de Belo e Theo Ruprecht
JOA José Silvério - A cara do pai do gol Vídeo Documentário
Camila Tiemi Taira (JOD), Cézar Katsumi Hirashima (JOB) e Eduarda Peccinatti (JOB), Phillip Dântom Costa Almeida (JOB)
Nikkei em foco: projeto de revista eletrônica voltada ao público nipo-brasileiro Programa de TV
Belisa Rotondi, Fernanda Simas, Mariana Agunzi (JOA) e Patrícia Monteiro (JOD)
A comunicação televisiva no mundo infantil Série de reportagens para TV
Pedro Ortiz Aluno Turma Projeto Camilla Chevitarese, Kátia Dutra, Mirela Mazzola, Tânia Vinhas e Tauana de Campos – JOB
JOB Personagens do Brasil - a criação dos personagens de Mauricio de Sousa Vídeo Documentário
Gabriela Ferreira Forte e Juliana Kunc Dantas
JOA Justiça restaurativa - a política de conciliação como caminho à cultura de paz Série de reportagens para TV
Nathalia Pazini, Raquel Porongaba, Rodrigo Vinagre e Talita Xavier
JOD A greve dos queixadas Vídeo Documentário
Antonio Costa Junior, Caroline Cavalcante Zilli (JOB), Beatriz Luz Correa (JOD) e Eduardo Duarte Zanelato (JOA)
Pedofilia - o não crime do código penal Série de reportagens para TV
178
Ana Cristina von Gusseck Kleindienst, João Ricardo Cotrim Dias, Julia Almeida Alquéres e Natália Manczyk
JOB (Positivo) Documentário para TV
Gilberto Maringoni Aluno Turma Projeto Ivan Torraca
JOD Nos trilhos da revolução - a vida de Raphael Martinelli Livro reportagem
Celso Unzelte Aluno Turma Projeto Anna Carolina Oliveira, Daniela Rosolen, Lygia Haydée e Priscila Zuini
JOA Fila de espera de transplante de órgãos Livro Reportagem
Karina Sérgio Gomes
JOB Anamorfose - um perfil da artista plástica Regina Silveira Livro Reportagem
Felipe Held
JOD Maria Esther Bueno - 70 anos de vida da andorinha que conquistou o mundo Livro Reportagem
Felipe de Queiroz D´Angelo Carlos
JOD Rolo-Compressor: a história do primeiro grande esquadrão do São Paulo Livro Reportagem
William Correia
JOC Valdir de Moraes - um pioneiro nas artimanhas do gol Livro-reportagem
Allan Brito (JOC), André Teixeira (JOD), Eduardo Carneiro (JOD) e Lucas Mello (JOC)
O futuro em jogo: a realidade das categorias de base do futebol brasileiro Livro Reportagem
Welington Andrade Aluno Turma Projeto Camila Augusto Gonçalves e Mariana Lima Pereira
JOD Histórias de afeição entre livros e pessoas Livro Reportagem
Maira Giosa
JOA O mundo de Tolkien - influências mitológicas do livro O Senhor dos Anéis Monografia
Paula Montefusco Scoton
JOD Jô Clemente - a história do surgimento da APAE Livro reportagem
Thiago Bronzatto (JOB) e Thiago Borges (JOD) Wagner de Morais Pimenta (JOB)
Homens ao mar - o dia-a-dia dos trabalhadores nas plataformas de petróleo Livro Reportagem
Karina Betencourt, Thais Yamashita Guilherme Belarmino
JOC Minhocão Livro Reportagem
Camila Mamede (JOC) e Camila Ploennes (JOA)
Traços femininos: as mulheres cartunistas Livro reportagem
Renata Sagradi
JOB Capricha no make - truques de maquiagem para o dia a dia Almanaque
Fabricio Augusto Andrade
JOC Bruno Tolentino: a vida como poesia Perfil Biográfico
Paula Montefusco Scoton e JOD Meditações sobre Tietê
179
Silvia Nougués Wargaftig
Livro Reportagem
Luiz Tarcisio de Freitas, Rafael Gonçalves Gobbo e Daniela Maria Dotta de Barros Mainardi
JOC Eta, vida Marvada! – relatos da cultura caipira na região do Médio Tietê Livro Reportagem
Regina Soler Aluno Turma Projeto Juliana Couto Melo, Letícia de Areia Menezes, Roseani Vieira Rocha, Wanise Dionísio Martinez (JOD) e Fernanda de Moraes Bonadia (JOB)
Índios professores - o ensino da língua portuguesa em aldeias indígenas paulistas Vídeo Documentário
Andressa Fernandes, Eloá Orazem, Fernanda Santis e Izabel Oliveira
JOC Mulheres e envelhecimento Vídeo Documentário
Bonie Cristal dos Santos, Monali Bassoli e Vanessa Sarzedas
JOB Barbie: um padrão de mulher Vídeo Documentário
Rosangela Petta Aluno Turma Projeto Raquel Setz
JOA De Beléleu a PretoBrás: uma biografia musical de Itamar Assumpção Livro Reportagem
Ana Paula de Deus e Anna Carolina Malatesta
JOC Vila União - A história de um bairro sucateado desde a construção Livro Reportagem
Heitor Ferraz Aluno Turma Projeto Fernanda de Almeida Silva e Karina Tambellini
JOC A Barca - expedição musical rumo ao maravilhoso Livro Reportagem
Camilo Cavalcanti e Nicolas Brandão
JOC Moacir segundo Cleonice - Uma vida em relatos Livro Reportagem
Thais Folego Gama
JOC Identidade negra embalada pela música dos anos 70 Livro Reportagem
Sheyla Miranda (JOC) e Isabela Gaia Gonçalves (JOB)
José Paulo Paes, um discreto polígrafo Livro Reportagem
Silvio Barbosa Aluno Turma Projeto Felipe Pontes (JOA), Leandro Miranda (JOB) e Guilherme Pereira Pinto (JOC)
Os técnicos do interior paulista Documentário para TV
Bruno Lazaretti (JOC), Carolina Ribeiro de Vasconcellos (JOB) e Claudio Alves Ferreira Júnior (JOC)
Residência - a vida dos residentes do Hospital das Clínicas Vídeo Documentário
Liráucio Girardi Jr. Aluno Turma Projeto Daniel Tomiate e Talita de Moraes
JOC Arte Urbana em São Paulo Livro reportagem fotográfico
180
Fernando Solano Aluno Turma Projeto Claúdia Fusco Ferraz, Fernanda Mariotti Fadel, Gabriela Brasileiro do Nascimento e Gustavo de Oliveira Antônio
JOB De NX ao Timão - um especial sobre paixões Série de reportagens para Rádio
Michelle Sze (JOA), Camila Valduga Gomes (JOB) e Maria Cecília Arra (JOB)
Recontando Brás, Bexiga e Barra Funda Série de reportagens para Rádio
Amon Borges, Raphael Henrique (JOA), Gabriel Ramos (JOB), Felipe Tau e Priscilla Haikal (JOD) e Fernando Cecconello (JOC)
Humor negro: os personagens que fizeram do preconceito uma piada Série de reportagens para Rádio
Pedro Vaz Aluno Turma Projeto Marcus Felipe Rodrigues e Rodrigues e Raquel Vara Faila
JOC Compulsões Modernas - Os novos vícios da Sociedade de Hoje Série de reportagens para Rádio
Daniela Osvald Ramos Aluno Turma Projeto Monique Oliveira Danilo Javarotto (JOC)
Produção Musical Site
Dulcília Buitoni Aluno Turma Projeto Caroline Arice Gaudêncio da Silva
JOA Jornalismo em mutação: o audiovisual na internet Monografia
ANO 2010
Grupo/Turmas Título Provisório Gênero Orientador
Camila Mendonça (JOC) Vidas à sombra das letras - perfis Livro reportagem Welington Andrade
Henrique Marcelo Moretti Filho, Thiago Cherubini Rodrigues Peres, Thiago Lopes Faé e Daniela Guidi (JOC)
Um Sírio do Brasil para o mundo - A história do único título mundial interclubes de basquete nacional Livro Reportagem Gilberto Maringoni
Felipe Vilasanchez (JOA), Marcelo Cabrera, Francisco Spagnolo (JOB) e Mônica Pestana
A saga de Clara Crocodilo Livro Reportagem Heitor Ferraz
Gabriel Henrique de Paula Carneiro (JOD)
Almanaque do filme B: A ficção científica na Guerra Fria (1950-64) Almanaque Monica Brincalepe
181
Fernanda Amalfi, Janaína Lopes e Marcelo Braga (JOA)
O humor está de pé - Retrato do Stand Up Comedy em São Paulo Documentário Tatiana Ferraz
Danilo Vital (JOA) , Juliana Ranciaro de Melo
Pela madrugada! Perfis dos trabalhadores que viram a noite na cidade de São Paulo Livro Reportagem Celso Unzelte
André Sousa Sender, Luiz Eduardo Giaconi, Murilo Silva Aquino de Almeida e Tossiro Yamamoto Neto (JOB)
Do limbo à gloria: as filas do Trio de Ferro. A história dos jejuns de títulos de São Paulo, Palmeiras e Corinthians Livro Reportagem Celso Unzelte
Leonam Bernardo, Mariana Pereira Gabellini e Mariana Vendrame Carrera (JOB)
A vida depois da cadeia Documentário Pedro Ortiz
Diego Pires, Guilherme Solari, Luis Fernando Betti e Aline Khouri (JOC)
Fora de cena - Um estudo do submundo dos atores em São Paulo e do fascínio com o teatro Documentário Silvio Barbosa
Carla Destro e Mariana Levenhagen (JOA)
Trovadores urbanos - O renascimento da cultura serenista Livro Reportagem Heitor Ferraz
Evandro Pimentel (JOA), Gustavo Uribe (JOA) e Raíra Venturieri (JOA)
Vade retro! A relação entre a palavra e a magia no léxico brasileiro Documentário Tatiana Ferraz
Felipe Figueiredo, Paulo Gomes, Rodrigo Simões e Rubens Nogueira (JOC)
Gazeta do esporte universitário paulista Site Celso Unzelte
Renata Cardarelli Gabrielli (JOA)
Todos os sotaques de Renato Teixeira Livro Reportagem Celso Unzelte
Fernanda Abrão, Ludmila Pazian e Mariane Battistetti
Bella - revista customizada Revista Carlos Costa
Alexandre Ciszewski, Aryanna dos Santos Oliveira, Luiz Felipe Silva e Rodrigo Pedroso (JOD) Mais (+) Timão
Jornal semanal gratuito Celso Unzelte
Ivna Baracho (JOD) São Paulo a seus pés Site Daniela Ramos
Julia Corradi e Rodolfo Segundo (JOA)
São Marcos: a história de um goleiro Livro Reportagem Celso Unzelte
Pedro Zambarda de Araújo (JOB), Rodrigo Pinto Ribeiro, Thiago Dias (JOC) e Alexandre Facciolla (JOD)
Geração gamer - Jogadores geradores de bits e memórias Livro Reportagem Luís Mauro Sá Martino
Diego Sammarco Martins (JOB) e Natália Dourado Silvério (JOA)
A montanha de lixo - Alternativas após o fechamento do aterro sítio São João Livro Reportagem Gilberto Maringoni
Mariana Zapella (JOA) Predestinados Livro Reportagem Heitor Ferraz
182
Amanda Cardoso, Arícia Martins, Fernanda Carpegiani e Ana Luiza Baars
Barba e batom: a vida de cinco drag queens paulistanas Livro Reportagem Welington Andrade
Marina Zan e Cláudio Molinari (JOD)
Um grupo caprichoso - a história do Grupo Rumo Livro Reportagem Welington Andrade
Laís Clemente (JOD), Lívia Hayama e Marília Passos (JOB)
Almanaque do pós-Beatles Almanaque Luís Mauro Sá Martino
Amanda Sampaio, Marcelle Sansão, Douglas Rodrigues e Vanessa Satie Kiyan (JOD) Saque Viagem Portal Celso Unzelte Bruna Quintanilha, Leticia Martines e Danielle Lourenço (JOA)
The Joy: Revista de Cultura Pop Revista Helena Jacob
Beatriz Behar (JOD) Põe na tela! Monografia Welington Andrade
Eduardo Tavares Paes Lopes
Corinthians/MSI - A parceria que afundou o timão Livro Reportagem Celso Unzelte
Guilherme Diniz Baida (JOD) Darío Pereyra Livro Reportagem Celso Unzelte Letícia Gonçalves e André Cruz de Mello (JOD) Água Bento Documentário Pedro Ortiz Juliana Macarenco, Nathalie Folco Bruno e Gonçalves Santos (JOD) Jamaica Paulistana Série para Rádio Tatiana Ferraz Daniele Pechi, Gabriel Ferreira, João Victor C. Carioca e Ralph Izumi (JOC)
O carnaval que ninguém vê Documentário Pedro Ortiz
Leonardo Paraíso Vilela Carvalho
A cultura vista da periferia Monografia Liráucio Girardi Jr.
Julio Lamas (JOC), Raphael Sassaki, Thiago Crepaldi e Felipe Gomide
Grafitti Paulistano - Seus Artistas e Sua História Documentário Regina Soler
Mariana Faria Palma, Eduardo Lobato, Thalita Fleury (JOA), Amanda Oliveira
A cobertura da mídia televisiva no sequestro de Eloá Cristina Pimentel e Nayara Silva Documentário Pedro Ortiz
Camila Rolim, Cristiana Uehara e Thaís Harari (JOB)
Dança na TV - Revista eletrônica sobre dança Programa de TV Tatiana Ferraz
Andrezza Czech Alves e Samanta Aziz Lobo (JOB)
Explodiram a sala preta Documentário Pedro Ortiz
Cecília do Lago e Luca Contro (JOB) Depois da aula Programa de Rádio Tatiana Ferraz
Daniella de Souza Dolme, Rafael Gamito Mury, Daniela de Angelo Morás e Roberta Russo (JOA)
A.R.T.E - A Revolução Transforma a Existência Documentário Pedro Ortiz
Felipe Cordeiro das Neves, Laisa Beatris Pereira, Murilo Machado, Daniella Fernandes e Lígia Marques (4JoD)
A nova alta dos presídios
Reportagem Multimídia Daniela Ramos
Guilherme dos Santos, Rafael Onori e Tássia Sena (JOC) Jair Rodrigues Documentário Silvio Barbosa
Helton Gomes (JOD), Karina Gomes e Paulo Scheuer
Refugiadas e egressas Documentário Pedro Ortiz
183
(JOB)
Carolina Giovanelli e Flora Paulo (JOA) São Paulo Dança Livro Reportagem Heitor Ferraz
Lidiane Ferreira (JOA) e Luis Fernando Carrasco (JOB) Por uma cabeça Livro Reportagem Celso Unzelte
Guilherme Ceciliano (JOA)
1982: Quando os melhores do mundo foram derrotados Livro Reportagem Monica Brincalepe
Marina Finicelli, Paula Russo, Thiago Magalhães e Filipe Pereira (JOD) Mulheres da Fila Documentário Regina Soler
Sarah Mund (JoC) Lugar de mulher é no Tatame Livro Reportagen Luís Mauro Sá Martino
Arthur Anderman, Heloísa de Oliveira (JOC) e Marília Kodic (JOB), Nathália Butti e Rodrigo Russo (JOC)
Daspu: moda para dar e vender Documentário Silvio Barbosa
Gustavo Jreige, Vinicius Saccomani e Júlia de Moraes Aronchi de Souza (JOB)
Repórter Outros Olhos Blog reportagem Celso Unzelte
Bruna Bopp, Flávia Elisa, Paola Mastrofrancisco e Mariana Caldas (JOA)
Debaixo dos seus olhos Documentário Pedro Ortiz
Stefanie Gaspar e Tainá Tonolli (JOA) Casa de Criadores Documentário Pedro Ortiz Lílian Matos, Santiago Sabella, Juliana Borba e Núbia Basílio (JOC)
A formação do voluntário Documentário Regina Soler
Henrique Mendes Gonçalves Um Bildungsroman Não-Ficcional Livro Reportagem Heitor Ferraz
Fabíola de Fátima Munhoz (JOC)
Agrovilla III - Histórias de luta e cooperação Livro reportagem Gilberto Maringoni
Juliana Dias (JOA) Literatura de Cordel Monografia Welington Andrade
Natali Chiconi Alvares, Thiago de Almeida Moreno (JOD)
Reiventando a roda - os melhores textos dos 49 anos da Revista Quatro Rodas Livro-reportagem Celso Unzelte
(Beatriz Nakashima) Júlia Tessari
Em defesa da moradia digna Livro-reportagem Carlos Costa
Ivan Torraca (JOD)
Nos trilhos da revolução - a vida de Raphael Martinelli Livro-reportagem Gilberto Maringoni
Fernando Martines, Lucas Rizzi e Rafael Cabral
Por trás do lugar comum - Cultos brasileiros do século XX Livro-reportagem
Sandra Goulart/ Welington Andrade
Luisa Pollo de Oliveira e Marilin Novak
Cultura em qualquer canto
Reportagem Multimídia Daniela Ramos
Luiza Calandra Jugdar
Decidindo no mercado de capitais brasileiro Livro reportagem Rodolfo Amstalden
184
Daniella Cornachione e Natália Guaratto (JOC)
Tragédia e reconstrução em São Luiz do Paraitinga Livro reportagem Monica Brincalepe
Daniel Perseguim de Oliveira Operários em luta Livro-reportagem Igor Fuser
Carolina Montenegro A Palestina é aqui Livro-reportagem Carlos Costa
Adriana Amorin
Manifestações Religiosas no Futebol Monografia Daniela Ramos
185
LISTA DE TCCS DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO
2005
• VIDEOCUMENTÁRIO – Adriano Luz da Silva, Jairo do Souza e Myldred Delker de
Oliveira – Documentário Milton Afonso, do sonho à realidade de meio ambiente nas
revistas semanais.
• REVISTA IMPRESSA – Aleikiane Rocha Santos, Anelize Baliani Barbosa e Liliane
Silveira – revista Junventude e fé.
• LIVRO REPORTAGEM – Cleia Kattwinkel dos Santos – Boa Vista do Guillerme: a
conquista de uma terra e o florescer de novas vidas.
• LIVRO REPORTAGEM – Diogo de Araújo Cavalcanti – Livro reportagem: “História de
Aparecida”.
• VIDEOCUMENTÁRIO – Érika Gonçalves e Lísye Rizziolli – As faces da moda no Brasil e
sua influência na Igreja Adventista do Unasp no século XXI.
• LIVRO REPORTAGEM – Loriza Nascimento Kettle – Livro reportagem Uma igreja na
selva.
• REVISTA FOTOGRÁFICA IMPRESSA – Mani Maria Pereira, Thiago de Melo e Vivian de
Lima vergílio – Revista fotográfica online click cultural.
• MONOGRAFIA – Vanessa Candia Moura – Jornalismo apocalíptico: uma análise do
perfil das reportagens de meio ambiente nas revistas semanais.
• MONOGRAFIA – Wendel Thomaz Lima – O sagrado em pauta: uma análise da
abordagem da revista Veja sobre o fenômeno religioso
2006
• REVISTA IMPRESSA – Cristiane Sá Pacheco, Edilene Aparacedia Caciano, Jaime Edson
Silva Rios, Megh Barreto da Costa e Paulo César Tetzner – Revista Conexão Rural.
• JORNAL TELEVISADO – Dayse Bezesrra, Elmer Guzman, Jeanne Moura, Lêda Maria e
Thiago Campossano – Gênero TV Canal da Imprenssa na TV.
186
• REVISTA IMPRESSA – Geander Polettini e Odair Leonello – Negócios &
Oportunidades.
• MONOGRAFIA – Gladiston do Nascimento – Uma análise do jornalismo esportivo sob
os olhos do sensacionalismo e a cultura da sociedade do espetáculo.
• MONOGRAFIA – Marisa Martins Ferreira – Comunicando a mensagem adventista em
língua portuguesa no mundo.
2007
• LIVRO REPORTAGEM – Ana Carolina Riguengo – Bechara – Pioneiro da Comunicação
Adventista no Brasil.
• LIVRO REPORTAGEM – Caroline Ferrz, Daniel Liidtke, Delmar Reis e Natiéli Schaffer –
Livro reportagem retrato Unasp-Ec 25 anos.
• RADIOJORNALISMO – Franciele Mota da Silva, Maurício Adirano Pértille e Tahísa Elis
de Souza – Raio X: Uma revista eletrônica jovem para a rádio Unasp 91,3 FM.
• LIVRO REPORTAGEM – Guilherme Almeida – Renascer de um ideal.
• LIVRO REPORTAGEM – Lale Clitas Azevedo Oliveira – Elon Garcia: O homem do rádio
e da televisão, a história de um dos pioneiros da mídia paranaense.
• VIDEOCUMENTÁRIO – Joelmir Rossi de Melo, Larissa Jansson e paulo Henrique Lopes
da Silva – Memórias feridas de uma nação.
• VIDEOCUMENTÁRIO – Maria Aparecida Amado – Ellen Gold White – A mulher além
de seu ministério.
• LIVRO REPORTAGEM – Milena Vieira da Silva – Centro White Brasil 20 anos:
Preservando a memória adventista.
• LIVRO REPORTAGEM – Tiago Cabreira – Deus é atual: histórias de fé na pós-
modernidade.
2008
• MONOGRAFIA – Rodrigo de Galiza Barbosa – CD Jovem: cultura de massa na Igreja
Adventista do 7º Dia.
187
• MONOGRAFIA – Tales Augusto Queiroz Tomaz – Crítica de mídia na cibercultura:
como o Observatório da Imprensa vê o papel do usuário no Jornalismo da internet.
• LIVRO REPORTAGEM – Maria Aparecida Barbosa de Souza – A saga da perseverança.
• MONOGRAFIA – Kimberly Jubanski de Santana e Meire Ellen Duarte Araújo –
Herança sensacionalista na Impresa popular: um estudo comparativo entre os jornais
Notícias populares, Extra, Agora São Paulo, Diário Gaúcho e Super Notícia.
• PROJETO IMPRESSO – Alexandre Ferreira Vieira, Caroline da Silva Tambosi, Cássila
Batista de Carvalho, Gilene Teixeira, Jetro Fajardo Pires, Rosemiere Braga Lopes –
Comunicação corporativa.
• JORNAL TELEVISADO – Deyse Fagundes de matos Raquel Canedo da Silva, Rosemeire
Féliz – TV Unasp.com: TV web e convergência de mídias.
• VIDEOCUMENTÁRIO – Jocielma Carlos, Mirian Lopes e Rodrigo Chagas – A vida por
um fio.
• LIVRO FOTODOCUMENTÁRIO – Lonara Wichinheski – A inclusão da pessoa com
síndrome de Down no mercado de trabalho em Campinas/SP.
2009
• LIVRO REPORTAGEM – Ariel Cahen – Compasso urbano: a vida de quem transforma
asfalto em palco e necessidade em arte.
• LIVRO REPORTAGEM – Cristiane Campo Fonseca, Pricilla Stelling de Oliveira –
Silenciosos gritos de Ismael: versões ignoradas da guerra civil do Líbano.
• LIVRO FOTODOCUMENTÁRIO – Audrey Cristina Salatti e Raphael Augusto Vaz dos
Santos – Traços da Fé: a imagem da devoção em Aparecida.
• VIDEOCUMENTÁRIO – Anderson Bastos, Marison Roberto e Rodrigo Torres –
Opostos de uma mesma história.
• VIDEOCUMENTÁRIO – Carina Bentlin, Josemar Campos, Luciene Bonfim, Moabe
Giudice, Patrícia Matter – Lúcidos.
• VIDEOCUMENTÁRIO – Denys Borguette, Ellen Ribeiro, Jonathan Bispo, Luzia paula,
Patrícia Ferreira – Percepções do fim: o enigma da morte sob a ótica religiosa.
• REVISTA ELETRÔNICA (WEB RÁDIO) – Pricilla Baracho – Click.
188
2010
• VIDEOCUMENTÁRIO – Allan Ferreira Rodrigues, Bianca Batista Carvalho, Joyce
Meirelles de Araújo – Eh mentira?
• IMPRESSO – Jordane Graciela Perdoncini, Suellen Timm – Mídia-Educação (manual
para análise da mídia em sala de aula).
• LIVRO REPORTAGEM – Emmanuelle Sales Cordeiro – A história de Sangue Bom, o
assassino, traficante e chefe de quadrilha que começou a viver depois que levou onze
tiros.
• MONOGRAFIA – Jefferson Paradello – O fim das distâncias e a comunicação : análise
crítica da aproximação em tempo real.
• MONOGRAFIA – Cleber Pereira Caires – A linguagem religiosa na editora esportiva
brasileira: o misticismo presente nas cosntruções jornalísticas do Globo Esporte.
• LIVRO REPORTAGEM – Leonardo Siqueira – Volto já: histórias de brasileiros na terra
do Tio Sam.
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Jornalismo/N
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Jornalismo/M
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Jornalismo/M
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Monografia
Jornalismo/N
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Jornalismo/N
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Jornalism
o/Matutino
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Jornalismo/M
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Monografia
Jornalismo/N
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Jornalism
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Jornalismo/N
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o/Noturno
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Jornalismo/M
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Jornalism
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Jornalism
o/Matutino
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Jornalism
o/Noturno
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Jornalismo/M
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Jornalism
o/Noturno
2010
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Jornalismo/M
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Jornalismo/N
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Jornalismo/M
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Jornalism
o/Matutino
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Jornalismo/N
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Jornalismo/N
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Jornalismo
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Jornalismo/N
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Jornalismo/M
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Jornalismo/M
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Jornalismo/M
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Monografia
Jornalismo/M
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Jornalismo/M
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Jornalismo/M
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Jornalism
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Jornalismo/N
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