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8/11/2019 O trabalho do psicólogo no Brasil.pdf http://slidepdf.com/reader/full/o-trabalho-do-psicologo-no-brasilpdf 1/500 O trabalho do psicólogo no Brasil A Artmed é a editora oficial da SBPOT.

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    O trabalhodo psiclogo

    no Brasil

    A Artmed a editora

    oficial da SBPOT.

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    T758 O trabalho do psiclogo no Brasil [recurso eletrnico] : um exame

    luz das categorias da psicologia organizacional e do trabalho

    / Antonio Virglio Bittencourt Bastos, Sonia Maria Guedes

    Gondin (organizadores). Dados eletrnicos. Porto Alegre :

    Artmed, 2010.

    Editado tambm como livro impresso em 2010.

    ISBN 978-85-363-2386-2

    1. Psicologia Trabalho Brasil. I. Bastos, Antonio Virglio

    Bittencourt. II. Gondin, Sonia Maria Guedes.

    CDU 159.9:331(81)

    Catalogao na publicao: Renata de Souza Borges CRB-10/1922

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    2010

    Antonio Virglio Bittencourt BastosSnia Maria Guedes Gondim

    e colaboradores

    O trabalhodo psiclogo

    no Brasil

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    Artmed Editora S.A., 2010

    Capa:Heybro design

    Preparao de originais:Marcos Vincius Martim da Silva

    Leitura final:Rafael Padilha Ferreira

    Editora snior Sade Mental:Mnica Ballejo Canto

    Editora responsvel por esta obra: Carla Rosa Araujo

    Editorao eletrnica:Formato Artes Grficas

    Reservados todos os direitos de publicao, em lngua portuguesa, ARTMEDEDITORA S.A.

    Av. Jernimo de Ornelas, 670 Santana90040-340 Porto Alegre RS

    Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070

    proibida a duplicao ou reproduo deste volume, no todo ou em parte,sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrnico, mecnico, gravao,fotocpia, distribuio na Web e outros), sem permisso expressa da Editora.

    SO PAULOAv. Embaixador Macedo Soares, 10.735 Pavilho 5 Cond. Espace Center

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    SAC 0800 703-3444

    IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

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    Antonio Virglio Bittencourt Bastos(org.) Doutor em Psicologia pela Univer-sidade de Braslia, com concentrao em Psicologia Organizacional e do Trabalho.Mestre em Educao pela Universidade Federal da Bahia. Psiclogo pela UniversidadeFederal da Bahia. Membro da Comisso de Psicologia do INEP e da comisso de rea daPsicologia na CAPES. Pesquisador I-A do CNPq. Professor Titular de Psicologia Socialnas Organizaes na Universidade Federal da Bahia.E-mail: [email protected]

    Snia Maria Guedes Gondim(org.) Doutora em Psicologia Social pela UniversidadeFederal do Rio de Janeiro. Estgio ps-doutoral na Universidad Complutense deMadrid e na University of Cambridge. Professora Associada no Instituto de Psicologiada Universidade Federal da Bahia. Bolsista em Produtividade em Pesquisa do CNPq.Atua na graduao e na ps-graduao dos programas de Psicologia, Gesto Sociale Administrao da Universidade Federal da Bahia. Vice-presidente da AssociaoBrasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho (SBPOT). Editora associadada Revista Psicologia: Organizaes e Trabalho (rPOT). Vice-diretora do Instituto dePsicologia da Universidade Federal da Bahia.E-mail:[email protected]

    COAUTORES

    Gardnia da Silva Abbad Doutora em Psicologia pela Universidade de Braslia.Mestre em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de Braslia. Pesquisadora ebolsista de produtividade do CNPq. Membro do Conselho Acadmico da Fundao EscolaNacional de Administrao Pblica (ENAP). Editora associada da Revista Psicologia:Organizaes e Trabalho (rPOT). Professora Adjunta na Universidade de Braslia.E-mail:[email protected]

    Jairo Eduardo Borges-Andrade M.Sc. e Ph.D. em Sistemas Instrucionais pelaFlorida State University, EUA. Psiclogo pela Universidade de Braslia. Fez estgiosps-doutorais no International Food Policy Research Institute, EUA, na University of

    Autores

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    Sheffield, Inglaterra, e na Rijksuniversiteit Grningen, Holanda. Professor Titular naUniversidade de Braslia.E-mail:[email protected]

    Janice Aparecida Janissek de Souza Doutora em Administrao pela UniversidadeFederal da Bahia. Mestre em Administrao pela Universidade Federal de Santa Catarina.Psicloga pela Universidade Catlica de Pelotas. Professora Adjunta na Universidade Federalde Mato Grosso. Integrante do Grupo de Estudos Indivduo, Organizaes e Trabalhona Universidade Federal da Bahia Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas emAdministrao (GEPAD) na Universidade Federal de Mato Grosso.E-mail: [email protected]

    Jos Carlos Zanelli Doutor em Educao pela Universidade Estadual de Campinas.

    Ps-doutorado em Psicologia pela Universidade de So Paulo e pela Pontifcia Univer-sidade Catlica de Campinas. Mestre em Psicologia Social das Organizaes pelo InstitutoMetodista de Ensino Superior de So Bernardo do Campo. Especialista em PsicologiaOrganizacional e do Trabalho pelo Instituto Sedes Sapientiae. Psiclogo pela Universidadede Braslia. Professor Associado na Universidade Federal de Santa Catarina.E-mail:[email protected]

    Ktia Barbosa Macdo Master en Psicologa Aplicada a Las Organizaciones, pelaEscuela de Administracin de Empresas de Barcelona. Doutora em Psicologia Social pelaPontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Mestre em Educao pela UniversidadeFederal de Gois. Psicloga pela Universidade Catlica de Gois. Professora Titular naUniversidade Catlica de Gois.E-mail:[email protected]

    Katia Puente-Palacios Doutora em Psicologia pela Universidade de Braslia.Graduao em Psicologia Industrial pela Pontifcia Universidade Catlica de Quito,Equador. Mestre em Psicologia pela Universidade de Braslia. Ps-doutorado emPsicologia pela Universidade de Valencia, Espanha. Professora Adjunta na Universi-dade de Braslia.E-mail: [email protected]

    Livia de Oliveira Borges Doutora em Psicologia pela Universidade de Braslia,com estgio ps-doutoral na Universidade Complutense de Madrid. Mestre em Admi-nistrao pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Psicloga pela UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte. Professora na Universidade Federal de Minas Gerais.Pesquisadora CNPq.E-mail: [email protected]

    Luciana Mouro Doutora em Psicologia pela Universidade de Braslia. Mestre emAdministrao pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora e pesquisadorana Universidade Salgado de Oliveira. Membro da Diretoria da Associao Brasileira de

    Psicologia Organizacional e do Trabalho (SBPOT).E-mail: [email protected]

    vi Autores

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    Maria do Carmo Fernandes Martins Doutora em Psicologia pela Universidade deBraslia. Mestre em Psicologia pela Universidade de Braslia. Psicloga pela Universidadede So Paulo. Professora Titular e pesquisadora da Universidade Metodista de So

    Paulo. Presidente da Associao Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho(SBPOT). Professora Colaboradora na Universidade Federal de Uberlndia.E-mail:[email protected]

    Maria Jlia Pantoja Doutora em Psicologia Organizacional e do Trabalho pelaUniversidade de Braslia. Mestre em Psicologia pela Universidade de Braslia. ProfessoraAdjunta e pesquisadora na Universidade de Braslia.E-mail:[email protected]

    Maria da Graa Corra Jacques Doutora em Educao pela Pontifcia UniversidadeCatlica do Rio Grande do Sul. Ps-doutorado em Psicologia Social pela UniversidadeAberta, Portugal. Mestre em Psicologia pela Pontifcia Universidade Catlica do RioGrande do Sul. Psicloga pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul.Professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.E-mail: [email protected]

    Mauro de Oliveira Magalhes Doutor em Psicologia do Desenvolvimento pelaUniversidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Psicologia pela Universidade Federaldo Rio Grande do Sul. Psiclogo pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande doSul. Professor no Programa de ps-graduao em psicologia do Instituto de Psicologia daUniversidade Federal da Bahia. Professor Adjunto na Universidade Luterana do Brasil.

    Certificado como Career Coachpelo Career Planning and Adult Development Network, EUA.E-mail: [email protected]

    Mirlene Maria Matias Siqueira Doutora em Psicologia pela Universidade deBraslia. Mestre em Psicologia pela Universidade de Braslia. Psicloga e Pesquisadorado CNPq. Professora Titular e pesquisadora na Universidade Metodista de So Paulo,Faculdade de Sade.E-mail:[email protected]

    Narbal Silva Doutor em Engenharia de Produo pela Universidade Federal de

    Santa Catarina. Mestre em Administrao pela Universidade Federal de Santa Catarina.Especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho pelo Conselho Federal dePsicologia. Psiclogo pela Universidade de Federal de Santa Catarina. ProfessorAdjunto na Universidade Federal de Santa Catarina. Coordenador do Programa de Ps-Graduao em Psicologia na Universidade Federal de Santa Catarina. Editor da RevistaPsicologia: Organizaes e Trabalho (rPOT).E-mail: [email protected]

    Oswaldo Hajime Yamamoto Doutor em Educao pela Universidade de So Paulo.Mestre em Educao pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Psiclogopela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Professor Titular na UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte.E-mail:[email protected]

    Autores vii

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    Roberto Heloani Doutor em Psicologia Social pela Pontifcia Universidade Catlicade So Paulo. Ps-doutorado em Comunicao pela Universidade de So Paulo. Mestreem Administrao pela Fundao Getulio Vargas de So Paulo. Psiclogo pela Pontifcia

    Universidade Catlica de So Paulo. Bacharel em Direito pela Universidade de So Paulo.Professor Titular da Faculdade de Educao da Universidade Estadual de Campinas.Professor no Departamento de Gesto Pblica da Fundao Getulio Vargas de SoPaulo. Livre-Docente em Teoria das Organizaes na Universidade de Campinas.E-mail:[email protected]

    Sigmar Malvezzi Doutor em Department Of Behaviour In Organizations ,Universityof Lancaster. Mestrado em Psicologia Social pela Pontifcia Universidade Catlica deSo Paulo. Psiclogo pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Professor doInstituto de Psicologia na Universidade de So Paulo. Professor visitante na Universidade

    Icesi de Cali, Colmbia. Professor visitante na Universidad de Belgrano, Argentina.Professor visitante na Universidad Tecnologica Nacional, Argentina.E-mail: [email protected]

    Talyson Amorim Tenrio de Carvalho Mestre em Psicologia pela UniversidadeFederal da Bahia. Especialista em Administrao de Recursos Humanos pelo CentroUniversitrio de Volta Redonda. Professor na Universidade Salvador.E-mail:[email protected]

    COLABORADORES

    Andr de Figueiredo Luna Psiclogo pela Universidade Federal da Bahia. Membrodo grupo de pesquisa Indivduo e Trabalho: processos micro-organizacionais.E-mail:[email protected]

    Ana Carolina de Aguiar Rodrigues Psicloga pela Universidade Federal da Bahia.Bacharel em Administrao pela Universidade do Estado da Bahia. Doutoranda emPsicologia pela Universidade Federal da Bahia. Professora Substituta na UniversidadeFederal da Bahia.E-mail:[email protected]

    Fabiana Queiroga Psicloga pela Universidade Federal da Paraba. Especialista emMatemtica e Estatstica pela Universidade Federal de Lavras. Doutoranda no programade Psicologia Social, do Trabalho e das Organizaes pela Universidade de Braslia.E-mail:[email protected]

    Graceane Coelho de Souza Psicloga pela Universidade Federal da Bahia. Alunade MBA em Gesto de Recursos Humanos pela Universidade Salvador.E-mail: [email protected]

    Liana Santos Alves Peixoto Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Psicologia

    da UFBA. Bolsista do grupo de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais.E-mail: [email protected]

    viii Autores

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    Louise Cristine Santos Sobral Mestranda do Programa de Ps-Graduao emPsicologia na Universidade Federal da Bahia. Bolsista Institucional da UniversidadeFederal da Bahia (Fapesb).

    E-mail: [email protected] e [email protected]

    Marissa Silva Lima Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia.E-mail: [email protected]

    Raphael Andrade Nunes Freire Psiclogo pela Universidade de Braslia. Certificadoem Gesto de Projetos peloPrince 2, Projects in Controlled Environments,EUA.E-mail:[email protected]

    Rosngela Cassiolato Ps-graduanda da Universidade Estadual de Campinas. Psic-

    loga pela Universidade So Judas Tadeu. Mestrado em Psicologia pela Universidade SoMarcos. Aperfeicoamento em Psicologia Clnica pela Universidade So Judas Tadeu.E-mail:[email protected]

    Suzana Tolfo Doutora em Administrao de Recursos Humanos pela UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul. Mestre em Administrao pela Universidade Federalde Santa Catarina. Especialista em Dificuldades de Aprendizagem pela Universidadedo Estado de Santa Catarina. Psicloga pela Universidade Federal de Santa Catarina.Professora Adjunta do na Universidade Federal de Santa Catarina.E-mail:[email protected]

    Autores ix

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    Prefcio.................................................................................................................................................... 13

    1 A profissionalizao dos psiclogos: uma histria de promoo humana............................ 17Sigmar Malvezzi

    2 Uma categoria profissional em expanso: quantos somos e onde estamos?........................ 32 Antonio Virglio Bittencourt Bastos, Snia Maria Guedes Gondim

    eAna Carolina de Aguiar Rodrigues

    3 A formao bsica, ps-graduada e complementar do psiclogo no Brasil

    .......................... 45

    Oswaldo Hajime Yamamoto, Janice Aparecida Janissek de Souza, Narbal SilvaeJos Carlos Zanelli

    4 Escolha da profisso: as explicaes construdas pelos psiclogos brasileiros................. 66 Snia Maria Guedes Gondim, Mauro de Oliveira Magalhes

    eAntonio Virglio Bittencourt Bastos

    5 Insero no mercado de trabalho: os psiclogos recm-formados........................................ 85 Sigmar Malvezzi, Janice Aparecida Janissek de Souza eJos Carlos Zanelli

    6 O exerccio da profisso: caractersticas gerais da insero profissional do psiclogo..... 107

    Roberto Heloani, Ktia Barbosa Macdo e Rosngela Cassiolato

    7 O psiclogo como trabalhador assalariado: setores de insero,locais, atividades e condies de trabalho................................................................................ 131

    Ktia Barbosa Macdo, Roberto Heloani eRosngela Cassiolato

    8 O psiclogo autnomo e voluntrio: contextos, locais e condies de trabalho.................. 151 Luciana Mouro e Maria Jlia Pantoja

    9 reas de atuao, atividades e abordagens tericas do psiclogo brasileiro............................ 174 Snia Maria Guedes Gondim, Antonio Virglio Bittencourt Bastos e Liana Santos Alves Peixoto

    10

    O psiclogo e sua insero em equipes de trabalho..................................................................... 200

    Maria do Carmo Fernandes Martins eKatia Puente-Palacios

    Sumrio

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    Uma profisso se constitui e se institu-cionaliza em funo das demandas sociaisque se responsabiliza por atender e que re-querem saber especializado, domnio de tec-nologias apropriadas e forte adeso a umconjunto de padres ticos fundamentais pa-ra garantir a qualidade dos servios que co-loca disposio da populao. O fato dearticular campo de conhecimento e demandade servios oriunda da sociedade faz comque as profisses, e a Psicologia em parti-cular, necessitem lidar com dois mundos emcontnua transformao e com ritmos demudana diferenciados, o que impe enor-me exigncia, tanto para o sistema de forma-o quanto para o sistema de acompanha-mento das aes profissionais.

    Os campos profissionais e a Psicologia,em especial, configuram-se como espaos

    mltiplos, diversificados, muitas vezes mar-cados por conflitos de diversas ordens te-ricos, tcnicos, polticos, ideolgicos e pelatenso de construir uma identidade prpriaa partir da diversidade que a distingue. Re-lacionar diversidade, processo de formao,atualizao permanente e necessidades quenem sempre se traduzem em demandas so-ciais o maior desafio para as entidades quese responsabilizam por zelar pela profisso.

    Essas caractersticas, que singularizam edefinem um campo profissional, ressaltam,por outro lado, a importncia das profisses

    se tornarem objeto constante de estudo e depesquisa cientfica que ofeream dados epromovam reflexes no s para avaliar oquanto seus compromissos sociais esto sen-do cumpridos, mas, sobretudo, para apontarproblemas, desafios e limites que possam im-pulsionar os seus processos de mudana.Sem investigao sistemtica faltaro insu-mos para se avaliar e rever a formao queest sendo oferecida aos profissionais exi-gncia fundamental de toda atuao respon-svel. Faltaro, tambm, elementos para adefinio, por parte das entidades cientficase profissionais, de polticas, de programas ede aes que possam dirigir a profisso paraos seus objetivos maiores e que, enfim, justi-ficam a sua existncia.

    As razes para o desenvolvimento do es-tudo cujos resultados se concretizam neste

    livro residem exatamente a: na conscinciada importncia de a Psicologia se conhecer,se analisar, dimensionar seu crescimento edefrontar-se com seus problemas. S assim,dispondo de informaes sobre o que fazemos seus profissionais, em que condies atuam,que dificuldades enfrentam e que relao es-tabelecem com os diversos segmentos sociais, que a Psicologia poder construir e recons-truir seu projeto futuro.

    Assim, com enorme prazer que apresen-tamos este livro a pesquisadores, docentes,profissionais, estudantes de psicologia e de-

    Prefcio

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    14 Bastos, Guedes e colaboradores

    mais interessados em conhecer e discutir ocenrio atual e o futuro da profisso de psi-clogo no Brasil.

    O livro fruto de uma ampla investigaoproposta por um Grupo de Trabalho (GT) dePsicologia Organizacional e do Trabalho(POT) (GT1) pertencente Associao Na-cional de Pesquisa e Ps-Graduao em Psi-cologia (ANPEPP), cuja histria data de1990, por ocasio do III Simpsio de Pesquisae Intercmbio Cientifico da ANPEPP. De lpara c, muitos projetos foram realizados,sempre com a preocupao de consolidarredes de pesquisa que pudessem produzirconhecimento relevante para o campo daPsicologia Organizacional e do Trabalho etornar tal conhecimento acessvel ao sistemade formao de psicologia. Desse ncleo nas-ceram, tambm, iniciativas importantes parainstitucionalizar a rea de PO&T*no Brasil,criando espaos institucionais como a SBPOTque passou a dar voz a um importante con-tingente de psiclogos no conjunto das en-tidades da categoria.

    O desenvolvimento de uma pesquisanacional sobre a profisso de psiclogo noBrasil sustentou-se na argumentao de quea rea de PO&T acumulara um amplo vo-lume de conhecimentos sobre distintasocupaes, profisses e contextos organiza-cionais. Seria oportuno, pois, tomar comoobjeto de estudo a nossa prpria categoriaprofissional. Ademais, a ltima pesquisa deabrangncia nacional sobre a profisso do

    psiclogo no Brasil havia sido feita no finalda dcada de 1980 pelo Conselho Federal dePsicologia, e duas dcadas depois o quadrobrasileiro poderia ter se alterado significa-tivamente, como por exemplo, com a expan-so dos cursos de psicologia e a emergnciade novos subcampos de conhecimento ereas de atuao. Tornava-se urgente realizarum estudo nacional que permitisse avaliar asmudanas ocorridas ao longo das ltimasdcadas para subsidiar melhor a elaborao

    de polticas no mbito da formao e daatuao profissional.

    A proposta do referido GT, apresentada

    sob o ttulo A Ocupao do Psiclogo: umexame luz das categorias da psicologia or-ganizacional e do trabalho, favoreceu a am-pliao de uma rede de pesquisadores dediversos pontos do pas e que estudavamdiversos temas tendo como foco o trabalho eas organizaes para, em conjunto, inves-tigarem a ocupao do psiclogo brasileirono cenrio atual e caracterizar as transfor-maes de nossa profisso. A pesquisa contoucom o apoio do CNPq no financiamento detrs subprojetos de pesquisadores integrantesdo GT. O leitor pode encontrar informaesmais detalhadas sobre a equipe do projeto, odesenvolvimento da pesquisa e os instru-mentos usados nos Apndices 1 e 2.

    Nossa expectativa, ao redigir este livro,foi a de que ele tivesse uma ampla utilizaopor todos os interessados na profisso, espe-cialmente pelo sistema de formao. Certa-mente, ele dever ser usado nas disciplinas

    introdutrias dos cursos de psicologia, permi-tindo ao aluno calouro conhecer aspectos im-portantes da realidade da profisso que esco-lheu, sob superviso de um docente que oajude a refletir criticamente sobre o cenrioatual da psicologia no Brasil. H captulosespecficos que seriam bastante contributivossobre os motivos de escolha da psicologia, ahistria da profisso no Brasil, o significadodo trabalho, as perspectivas de insero profis-

    sional nos dois primeiros anos de formados,as capacitaes e as competncias do psiclogoe as estratgias de qualificao, aprendizagemno trabalho e os dilemas ticos no exerccio daprofisso. Mais do que um simples panora-ma descritivo da situao do profissional, oaluno encontrar, nestes captulos, reflexestericas que, apoiadas nos dados gerados pelapesquisa, apontam os grandes problemas edesafios que enfrentamos como profissionaisem nossa insero no mundo do trabalho.

    *N. de R. Psicologia Organizacional e doTrabalho.

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    O trabalho do psiclogo no Brasil 15

    O livro poder ser usado tambm paraajudar em disciplinas de formao em pes-quisa. Para tanto, disponibiliza, em dois ane-

    xos, uma descrio do desenho da pesquisa eapresenta todos os instrumentos utilizadoscom informaes psicomtricas adicionais nocaso de uso de escalas. A deciso de deixarcomo apndice foi justamente para facultar aoleitor, docente, pesquisador, profissional oualuno a deciso de conhecer o contedo doestudo ou aprofundar-se na compreenso doprocesso de construo da pesquisa. Outrarazo para incluir as informaes detalhadassobre pesquisa, originou-se a partir dos resul-tados do Exame Nacional de DesempenhoAcadmico de 2006, que revelou que os es-tudantes de psicologia apresentam lacunasrelativas a competncias fundamentais parainvestigao cientfica. Um campo cientfico spode avanar se houver pesquisa, e incluir osapndices seria uma oportunidade de con-tribuir para despertar o interesse em pesquisae na realizao de futuras rplicas para testaros resultados obtidos. Na realidade, o exerccio

    profissional do psiclogo j objeto de pes-quisa por parte da nossa comunidade cientfi-ca. Dissertaes, teses e projetos de pesquisaestudam aspectos especficos importantes. Es-pera-se que este livro possa contribuir paraeste esforo coletivo de autoconhecimento daprofisso, favorecendo a consolidao de li-nhas de pesquisa que tomem as prticas profis-sionais como objeto legtimo de investigao.

    Finalmente, o livro poder ser largamente

    utilizado por alunos, docentes e profissionaisda rea da Psicologia Organizacional e doTrabalho. Aqui eles podero encontrar temasque so centrais no seu domnio aplicados realidade do exerccio profissional da Psico-logia. Escolha profissional, comprometimen-to com a profisso, identidade, sade e bem--estar, burnout, qualificao e aprendizagemso importantes temas de pesquisa na reaque aqui foram estudados em amostras depsiclogos brasileiros. Nesse sentido, o livrovai alm de uma simples descrio de umcampo profissional, o que, por si s, j seria

    temtica de interesse para a rea de PO&T.Ele oferece uma oportunidade rara de termosvrios fenmenos que estudamos em outros

    trabalhadores sendo discutidos a partir darealidade do profissional de Psicologia.Alm do suporte formao, o livro

    tambm rene informaes relevantes sobrea profisso que permitem ao Conselho Fe-deral de Psicologia, aos Conselhos Regionaise s diversas associaes cientficas extrareminsumos para a elaborao de polticas paraa categoria profissional e suas subreas. In-formaes sobre o psiclogo assalariado e oautnomo encontram-se apresentadas emdetalhes em captulos especficos. Indicado-res de sade do psiclogo brasileiro, comoburnout e bem-estar subjetivo, constam nestelivro. A forma de realizao do trabalho tam-bm contemplada no captulo que discutese o trabalho do psiclogo est sendo feitomais individualmente ou em equipes e, nesteltimo caso, com que profissionais est tra-balhando e que atividades realizam. Quais asorientaes tericas predominantes entre psi-

    clogos e se h diferenas entre reas deatuao permitem visualizar de modo claro adiversidade terico-metodolgica que amarca da psicologia brasileira. Enfim, inme-ras outras discusses sobre identidade profis-sional, comprometimento com a profisso erea de atuao, imagem social do psiclogoe intenes de mudana de profisso, reade atuao e emprego integram este amplopanorama da profisso na atualidade, ofere-

    cendo insumos significativos para fundamen-tar programas e aes das nossas entidadesrepresentativas.

    O livro estrutura-se em cinco segmentos.O primeiro inclui uma breve apresentaodo grupo de pesquisa e dos motivos que noslevaram a realizar o estudo cujo produto foieste livro e tambm um captulo inicial sobrea histria da psicologia como profisso. Osegundo segmento tem como foco a forma-o e a atuao do psiclogo. Nove captuloscompem esse segmento e discorrem sobre acaracterizao geral e de distribuio de psi-

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    16 Bastos, Guedes e colaboradores

    clogos no Brasil, a formao bsica, ps--graduao e complementar, a escolha daprofisso, a insero de recm-formados no

    mercado de trabalho, caracterizao geral dainsero de psiclogos, o psiclogo assala-riado, o psiclogo autnomo e o voluntrio,reas de atuao, atividades e orientaestericas do psiclogo brasileiro e finalizacom a insero do psiclogo em equipes uniou multidisciplinares de trabalho. O prxi-mo segmento enfoca o psiclogo como tra-balhador. Os captulos so reunidos versamsobre a identidade profissional do psiclo-go, o significado do trabalho, dilemas ticosna atuao profissional, comprometimentocom a profisso e rea de atuao, bem--estar subjetivo, sade e doena no trabalhodo psiclogo, aprendizagem no trabalho ecompetncias profissionais e estratgias dequalificao e requalificao. Os dois lti-mos captulos analisam a imagem social daprofisso e as mudanas no exerccio pro-fissional na psicologia brasileira que ocor-reram nas duas ltimas dcadas, compa-

    rando a pesquisa nacio-nal realizada peloConselho Federal de Psicologia no final dadcada de 1980 e a pesquisa atual realizada

    em 2006. O quinto e ltimo segmento composto de dois apndices cuja funo oferecer aos docentes, pesquisadores e de-mais interessados a oportunidade de acessoa informaes mais detalhadas sobre a pes-quisa que podero subsidiar desdobramen-tos futuros, potencializando a produo doconhecimento em psicologia.

    Em nome de toda a equipe do Grupode Pesquisa que representamos, agradece-mos o apoio do CNPq, do Sistema Conselhos

    de Psicologia, e dos estudantes de primeirosemestre da UFBA (2009-1) que contribu-ram de modo significativo na avaliao doscaptulos deste livro aos objetivos da disci-plina Psicologia, Cincia e Profisso, e a to-dos os demais colaboradores que ajudarama tornar realizvel este ousado projeto degrande mobilizao nacional.

    Antonio Virglio Bittencourt BastosSnia Maria Guedes Gondim

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    A Psicologia criou um campo frtil deconhecimento sobre a pessoa, largamenteevidenciado em seu visvel e contnuo de-senvolvimento ao longo dos ltimos 150

    anos, amplamente reconhecido por ineg-veis contribuies para o progresso da cin-cia (Machado et al., 2000; Bastos e Rocha,2007) e para a construo de uma sociedademais justa e humanizada (Bar, 1998; Ze-melman, 2002). A conscientizao das pes-soas sobre a vida pessoal e comunitria,sobre a sade, sobre o bem-estar e sobre aprpria participao na construo do fu-turo pessoal e da sociedade como um todo,

    observada nos ltimos 100 anos, fruto dasteorias e dos conceitos sobre os processospsquicos, e do trabalho dos psiclogos que,oferecendo explicaes sobre o funciona-mento psquico do ser humano, inspirou efundamentou projetos e atividades que con-triburam para o desenvolvimento da quali-dade de vida. Dominando o campo dos pro-cessos psquicos, os psiclogos mergulharamem aes afirmativas que construram estru-turas e modelaram processos diversos deinterveno, elaboraram e publicaram cr-ticas e denncias s injustias e s desi-

    gualdades, criaram instrumentos estrat-gicos para o funcionamento das comunida-des e apoiaram o trabalho de outros pro-fissionais. Investindo na compreenso da

    pessoa, no desenvolvimento das potencia-lidades da vida, no ajustamento indivduo-ambiente e na superao do sofrimento, aPsicologia integra os instrumentos requeri-dos pela construo consciente e respon-svel da sociedade. A criao da profis-so do psiclogo um dos resultados maispositivos e promissores do desenvolvimentoda Psicologia no Brasil.

    A profisso de psiclogo , hoje, um pa-

    trimnio onipresente em toda a sociedade,largamente reconhecida em sua potencia-lidade de servios, como revelado empiri-camente nos diversos captulos deste livro.A origem dessa profisso como espao tc-nico e especializado de conhecimentos e deservios est evidenciada em incontveisatividades nos campos acadmico, jurdico,social, da sade, do trabalho e da educao,desde a segunda metade do sculo XIX.Sua aceitao e sua consolidao ocorre-ram muito rapidamente pela atratividadedas questes implicadas na pesquisa do psi-

    A profissionalizao dos psiclogosuma histria de promoo humana

    1Sigmar Malvezzi

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    quismo humano, pela importncia dos pro-blemas que dependiam da compreenso docomportamento do sujeito, pela funciona-

    lidade e pela eficcia de tcnicas oriundasdo conhecimento dos processos psquicos epela confiana que mereceu das pessoas edas instituies. Em espao inferior a 50anos, a identidade do psiclogo tornou-sepresena marcante em diversos pases, lar-gamente integrada ao repertrio profissio-nal dos servios tcnicos requeridos porquase todos os setores da sociedade. Hoje,incio do sculo XXI, a profisso do psiclogo um territrio ocupacional regulamentado,institucionalizado e integrado dinmicada sociedade por significativa e crescentedemanda comercial em quase todos os cam-pos de atividades em que as pessoas atuam,como sujeito e como objeto de ateno e deestudo. O nascimento, o crescimento e aconsolidao da Psicologia e da profissodo psiclogo no Brasil ocorreram em con-comitncia com os mesmos fenmenos nospases mais desenvolvidos do planeta.

    A pesquisa sobre a profisso do psic-logo no Brasil, publicada neste livro, ofereceuma cartografia da realidade brasileira so-bre a profissionalizao do conhecimentocientfico focado no comportamento huma-no e, como tal, propicia subsdios para oenriquecimento da reflexo crtica sobre aprpria sociedade brasileira. O dinamismo,as peculiaridades e os contrastes presentesna sociedade brasileira seriam dificilmente

    compreendidos sem a contribuio dos co-nhecimentos produzidos pela pesquisa nocampo do comportamento e pelos serviosprestados pelos psiclogos. Os dados aquirevelados evidenciam a participao dospsiclogos nos mais diversos setores da so-ciedade brasileira e, explicitando como essaparticipao ocorre, revelam a convergn-cia das atividades para a definio da mis-so dos psiclogos no Brasil. Esses pro-fissionais contribuem para a realizao epara o bem-estar de todo o povo por meiodo fortalecimento do indivduo como su-

    jeito e da comunidade como espao de vida.O leitor deste livro, ao enxergar me lhor ainsero do psiclogo na sociedade brasilei-

    ra, alm de enriquecer sua capacidade paracolaborar com o desenvolvimento e a con-vivncia entre as profisses, estar maisapto a identificar e a criar solues maduraspara os problemas que circundam todos osbrasileiros. Agregando valor a essa tarefa,este captulo oferece algumas reflexes so-bre o contedo e a construo dessa pro-fisso. Essa reflexo poder estimular a sen-sibilidade do leitor para os desafios enfren-tados na manuteno e no desenvolvimentode uma profisso no contexto que se glo-baliza, se volatiliza e, por isso, reabastece ocombustvel dos conhecimentos e serviossobre os processos psquicos. A profisso dopsiclogo um espelho desse mundo, por-que com ele interage o profissional, acei-tando estudar seus problemas e se com-prometendo com a transformao requeridapara a construo da justia e do bem-estar,bem como com o reconhecimento da digni-

    dade das pessoas. Para realizar essa tare-fa, este captulo tentar responder a qua-tro questes: como a Psicologia foi institu-cionalizada na profisso de psiclogo? Co-mo o conhecimento sobre o comportamen-to evoluiu em nossa profisso? Quais os pro-blemas que desafiam o desenvolvimento des-sa profisso no sculo XXI? Por que a Psico-logia e os psiclogos merecem confiana?

    A PROFISSIONALIZAODO PSICLOGO

    A produo e a aplicao de conheci-mentos sobre os processos psicolgicos exis-tem desde os primrdios da histria huma-na, mas somente em meados do sculo XVIaparece pela primeira vez o vocbulo Psy-chologia, na lngua latina, para designaro estudo ou a cincia da alma, que era umcampo do saber integrado Teologia e Anatomia. A palavra Psychologia aparece

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    em textos escritos por pensadores comoFilip Melanchton, Johann-Thomas Fregiuse Rodolphe Goclnius, docentes nas uni-

    versidades protestantes de Marburg, na Ale-manha, e de Leyde, na Holanda (Carroy,Ohayon e Plas, 2006). Bem diferentementedaquilo que ocorre hoje, os fenmenos e oseventos compreendidos nesse neologismodo sculo XVI incluam questes como osfantasmas, a transmisso do pecado original,a ao da alma sobre o corpo e a possessodemona-ca. A alma era assumida como umelemen-to essencial da vida e inspirava asexplicaes sobre o funcionamento psquico.A atribuio de um vocbulo especfico parao conjunto de conhecimentos sobre a pessoafoi apenas uma das etapas importantes naconstruo que revelou a necessidade deum campo autnomo do saber dedicado aosprocessos psicolgicos. As questes sobre anatureza da realidade psquica e sobre aarquitetura de seus processos, ainda somotivos de importantes debates que man-tm a Psicologia na fronteira com outras

    cincias, como a Fisiologia (Poldrack e Wag-ner, 2008) e a Filosofia (McMahon, 2006).Naquele momento, a delimitao de um cam-po do conhecimento no foi de imediato cor-respondida ao desenvolvimento de um con-ceito. O vocbulo Psicologia representa-vaum conjunto de eventos a serem estudadosmais do que um sistema conceitual sobre aalma humana. Como conceito, a Psicologiafoi surgindo, pouco a pouco, a partir das

    contribuies dos filsofos como Descartes,Malbranche, Leibnitz e Locke, entre tantosoutros pensadores, que investigavam osprocessos psquicos, por meio da busca decritrios do conhecimento, das condiesprodutoras das certezas, da explicao daconscincia e da avaliao das transgresses.A evoluo dessas ideias alicerou a cons-tituio de um campo do conhecimento quesomente foi reconhecido como autnomona segunda metade do sculo XIX. Tal re-conhecimento foi uma etapa importanteporque abriu o espao necessrio para a

    criao da profisso do psiclogo. No Brasil,a Psicologia foi construda a partir do ter-ritrio da Medicina. Ainda no sculo XIX,

    nas Faculdades de Medicina da Bahia e doRio de Janeiro, j eram discutidas questescomportamentais como parte da ampliaodo conceito de sude para os problemas dehigiene, preveno e bem-estar individual esocial (Massini, 1990), como evidenciadona tese de doutorado do mdico baianoEduardo E. F. Frana, na Faculdade de Me-dicina de Paris, 1834.

    Os primeiros sinais de uma profissoemergente, alicerada no conhecimento so-bre o comportamento humano, apareceramainda no final do sculo XIX, em concomi-tncia com a reorganizao de outras ocupa-es j tradicionais, como aquelas dos m-dicos, engenheiros, administradores e advo-gados. Todas essas profisses foram insti-tucionalizadas nesse mesmo momento his-trico, como parte do movimento inercialde formao do Estado moderno e da adap-tao da sociedade como um todo ao mo-

    do de produo industrial. Espaos, papise fronteiras profissionais foram redefini-das para se ajustarem s novas demandasde recursos institucionais, ao imperativode problemas inditos vida quotidiana e disponibilidade de tecnologias que ofere-ciam esperana de controle de muitas ad-versidades. Ainda no final do sculo XIX, jeram encontrados, em diversos pases, la-boratrios, revistas, disciplinas acadmicas,

    congressos, associaes e servios profis-sionais que levavam o nome de Psicologia(Hearshaw, 1964; Koppes, 2007; Carroy,Ohaton e Plas, 2006). Esse conjunto de ins-trumentos oriundos da Psicologia foram ex-pandidos e constituram o repertrio de ati-vidades que veiculava a divulgao, o ensinoe a aplicao de conhecimentos no campoda Psicologia. Tais atividades fomentaram arepresentao de um novo profissional de-dicado aplicao dos conhecimentos sobreos processos psquicos aos problemas exis-tentes na sociedade.

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    Essa reorganizao das profisses foibalizada por dois fatores principais. O pri-meiro foi a guarida e o controle advindos

    da fora do paradigma burocrtico que nes-se momento se impunha ao Estado e aos ne-gcios como instrumento de eficcia ad-ministrativa. Por fora da racionalidade bu-rocrtica, as atividades eram reagrupadaspara corresponder lgica do conhecimentocientfico produzido nas distintas cincias.Esse reagrupamento promoveu significativadiferenciao ocupacional que foi dandocorpo territorializao das atividades emprofisses. O segundo fator foi a reorga-nizao das profisses que, embora produtosda burocracia, estimulavam a inovao porfora de novas descobertas nas diversasreas do conhecimento cientfico e das tec-nologias que, por sua vez, enriqueciam orepertrio de recursos tcnicos em todas asesferas da sociedade. O aparecimento dostestes psicolgicos nesse momento umadas evidncias mais explcitas dessa inova-o. Toda a sociedade se mobilizava para se

    ajustar s condies criadas pelo proces-so de industrializao, redesenhando ouadaptando estruturas e servios. As profis-ses foram um objeto peculiar dessa reor-ganizao porque ocupavam a funo deponte entre os problemas da sociedade e oavano cientfico e tecnolgico. O conheci-mento cientfico recebeu significativos in-vestimentos, foi desenvolvido rapidamentee aplicado, com certa eficcia, aos incon-

    tveis e crescentes problemas da sociedade.As tarefas se tornaram mais complexas e fo-ram pouco a pouco migrando para as mosde pessoas que tinham alguma formaocientfica. Essa reorganizao dos serviosprofissionais foi a alvorada da instituio edo conceito de carreira que apareceu na so-ciedade por fora de trajetrias e regulamen-taes criadas pela organizao do trabalhono contexto burocrtico e tcnico.

    At meados do sculo XIX, a mobilidadeentre atividades profissionais era reconhe-cida e restrita s instituies militares e reli-

    giosas. At ento, a vida profissional nopressupunha trajetrias e nem a movimen-tao entre cargos e tarefas era um fator

    importante, porque a vida e suas atividadeseram reguladas pelas tradies e pelos sis-temas sociais sem ser alvo de inovaes oupressionadas por mudanas. A partir da di-ferenciao ocupacional produzida nos dis-tintos campos de trabalho, como fruto daarquitetura burocrtica para o aproveita-mento do avano tecnolgico, o exerccio demuitas atividades ocupacionais foi paula-tinamente submetido a controles advindosda lgica emergente do prprio conhecimentocientfico, reificada no conceito de competn-cia tcnica. Essa condio incitou a criao ea visibilidade de trajetrias profissionais quese impunham sobre os indivduos e sobre osservios. Assim, a formao profissional for-mal, adquirida em alguma instituio aca-dmica apropriada, tornou-se etapa obriga-tria para o desempenho da grande maioriadas atividades tcnicas, j caracterizando aexistncia de alguma trajetria. No caso

    dos psiclogos, muitos foram buscar essaformao nos laboratrios da Alemanha,que nesse momento era reconhecida comoum centro de referncia sobre os estudos emPsicologia. W. Rivers e H. Watt, embora es-tivessem alocados no contexto ingls da Psi-cologia, foram estudar na Alemanha, quenessa poca atraa profissionais do mundotodo por seu avano na Psicologia Experi-mental (Hearshaw, 1964). Essas trajetrias

    foram legitimadas pelo engajamento profis-sional dos psiclogos em instituies comohospitais, fbricas e escolas, e da, rapida-mente acopladas s estruturas hierrquicas,ou aos sistemas destatus.

    Pouco a pouco, a mobilidade profissionaldeixou de ser um fato insignificante, ga-nhando o status de etapas do aprofunda-mento ou do avano no domnio do conhe-cimento e da instrumentalidade, ou do po-der gestionrio, fato que reforou a repre-sentao da carreira como mobilidade entreatividades profissionais e a territorializao

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    das profisses. Dentro dessa lgica, o traba-lho sob o vnculo do emprego e o trabalhoautnomo foram moldados como espaos

    substantivos, constitudos por tarefas e ins-trumentos especficos e, como tal, torna-ram-se fortes referncias para a avaliaodas competncias, da remunerao e dos vn-culos dos profissionais com as instituies ecom os clientes. As profisses, tal como hojeso conhecidas, nasceram dessa racionalidadeque foi ganhando fora e se tornando a basepara a organizao ocupacional (McKinlay,2002). Os dados da pesquisa publicada nestelivro oferecem pistas sobre como, desse pon-to, a profisso de psiclogo evoluiu para acondio atual. Esse conjunto de informaessobre a profisso do psiclogo esclarece aspec-tos como a diversidade que caracteriza a in-sero desse profissional, a etapa da formao,o incio da profisso, a identidade profissionale a abertura para o psiclogo evoluir em dis-tintas direes dentro dessa carreira.

    O investimento nessa racionalidade foigeneralizado e crescente, impactando sobre

    o sentido das estruturas e dos espaos deao, remodelando-os dentro de uma racio-nalidade que funcionava como cartilha paraa busca de estabilidade e eficcia. Essa remo-delagem foi legitimada e fortemente apoiadapelas comunidades intelectuais emergentesnos diversos campos do saber, tornando-seum paradigma no apenas para as organi-zaes industriais, mas tambm para outrasinstituies. Fortalecidos pela confiana nes-

    sa racionalidade, os diversos espaos profis-sionais, pouco a pouco assumidos como ati-vidades tcnicas, foram reconfigurados co-mo veculos apropriados para a aplicaodos conhecimentos cientficos tanto aos pro-blemas mais gerais quanto rotina da vi-da cotidiana. No Brasil, devido ao baixo n-mero de escolas de formao profissio-nal, eao ainda incipiente investimento em pesqui-sas, os jovens interessados no campo da Psi-cologia eram enviados Europa, onde pode-riam cumprir a primeira etapa de suas car-reiras.

    Em resumo, a profissionalizao da apli-cao do conhecimento produzido pela Psi-cologia ocorreu na virada do sculo XIX para

    o sculo XX, em um perodo aproximado de50 anos, no qual essas atividades profis-sionais foram sujeitadas a trajetrias e con-troles crescentemente rgidos e visveis den-tro das organizaes, sob a gide da lgicaadministrativa, como tambm fora destas,na oferta de servios profissionais autno-mos, sob a gide da lgica dos mercados. Aprofissionalizao das chamadas ocupaestradicionais expressava a aplicao do rigorexigido da pesquisa cientfica, no desempe-nho dos profissionais. Esse perodo entre amodelagem da sociedade pela burocracia ea fora de produo criada pela tecnologiaeletromecnica (1880) e o trmino da pri-meira grande guerra (1918) foi o palco paraa formatao e para a viabilizao dessasprofisses que assumiam o conhecimentotcnico como instrumento de intervenonos problemas da sociedade. A profisso depsiclogo integrou e foi produto dessa ra-

    cionalidade dentro desse palco. Os psiclogosforam chamados para contribuir com avalia-es diversas sobre a pessoa e com inter-venes para o ajustamento e o desenvolvi-mento dos indivduos frente aos mais diver-sos grupos sociais.

    A ELABORAO DO SABEROCUPACIONAL DO PSICLOGO

    Embora haja sinais esparsos, porm vis-veis, de servios profissionais focados nocomportamento humano, ainda no final dosculo XIX, somente nos anos que se segui-ram Primeira Guerra (1919), a Psicologiaaparece claramente configurada no reper-trio de atividades ocupacionais j sob oformato de profisso institucionalizada. Asinmeras associaes profissionais j conso-lidadas, as demandas regulares por parte domercado e a oferta de solues propostaspara tais problemas (que pouco a pouco se

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    tornavam generalizadas e poderiam ser apli-cadas em distintas situaes) indicavam si-nais de um territrio profissional autnomo.

    Nesse momento, profissionais que portavamo nome de psiclogos estavam presentes evisveis nos hospitais, nas universidades, nasfbricas e nas escolas e cuidavam de vastaamplitude de problemas que desafiavam asociedade, como as questes de sade ebem-estar, de marketing (Munsterberg) edas atividades militares (Yerkes). Alm dis-so, a partir dos conhecimentos que produ-ziam, os psiclogos se faziam visveis nessesdiversos campos, ora criticando trincheirastradicionais de outras cincias, como seconstata no trabalho pioneiro de GabrielTarde (1898) na esfera da Psicologia Socialfrente s ideias de E. Durkheim, ora contri-buindo com as polticas pblicas, comoocorreu na influncia dos trabalhos de Fer-dinand Buisson sobre o Ministro da EducaoJules Ferry na elaborao das leis escolaresque instituram a escola obrigatria e gra-tuita (Carroy, Ohayon e Plas, 2006, p. 99).

    No Brasil, as atividades de diversos profissio-nais, no incio do sculo XX, revelam o ali-nhamento com o avano da Psicologia naEuropa e nos Estados Unidos.

    Diversas obras evidenciam estudos eatividades profissionais, indicando que, noBrasil, da mesma forma que em outros pa-ses, a profisso de psiclogo tambm se for-matava. Na rea da sade mental, a tese deMaurcio Medeiros, intitulada Mtodos em

    Psicologia, apresentada no Rio de Janeiroem 1907; o laboratrio de Psicologia doHospital Eugnio de dentro, fundado em1923 por Gustavo Riedel, igualmente no Riode Janeiro; os trabalhos de Psicologia desen-volvidos por Francisco Franco da Rocha,na difuso das teorias psicanalticas, desde1918, em hospitais e na Faculdade de Me-dicina de So Paulo; as atividades e as pu-blicaes de Ulisses Pernambucano, em Re-cife, mostram a existncia de um grupo ativode profssionais, j dispersos pelo territriobrasileiro. O projeto de lei, proposto por

    Paulo Egdio Cmara legislativa da Provn-cia de So Paulo, em 1892, ao reorganizar aformao do magistrio primrio, previa

    criao da disciplina de Psicologia para aformao dos futuros professores de EscolasNormais, indicando a diversidade da refle-xo da Psicologia ao atingir tambm a esferada Educao.

    Essa visibilidade, j inegvel no Brasil ena Europa, se tornou ainda mais clara quan-do o desempenho dos psiclogos passou acriar instrumentos que poderiam ser genera-lizadamente aplicados aos problemas da so-ciedade. O artigo de Max Freyd, publicadoem 1923, no Journal of Personnel Research eseu impacto sobre as atividades dos psic-logos que atuavam no campo da ento deno-minada Psicologia da Indstria, revelam umcaso emblemtico de padronizao de solu-es tcnicas criadas pelos psiclogos pararesponder a uma demanda regular e espe-cfica da sociedade de seleo tcnica detrabalhadores, para as fbricas de telefonia ede automveis que se expandiam rapidamen-

    te nos dois lados do Atlntico. Situaes co-mo essa, nos campos da sade e da educao,foram os principais elementos que organiza-ram o saber ocupacional na profisso.

    Nesse texto, Freyd oferece uma anlisecientfica e tcnica da seleo de pessoal eprope uma sequncia de atividades paraser realizada quando da seleo de novostrabalhadores, fundamentada na lgica damensurao do comportamento disponvel

    na poca. Essa proposta era um modelo detrabalho tcnico, como outros que foramcriados na mesma ocasio nos campos dodiagnstico psicolgico, da terapia e da for-mao escolar fundamental. Alm de criarcategorias, anlises e o processo ritualizadode avaliao dos trabalhadores para com-preenso e realizao das atividades de sele-o, Freyd instituiu os testes psicolgicoscomo instrumentos especficos e seguros pa-ra a aferio das habilidades humanas decandidatos. Essa sequncia de atividadesproposta por Freyd foi generalizadamente

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    reconhecida como um caminho racional eseguro para ser aplicado como uma espciede paradigma a todos os processos de sele-

    o. A inovao contida nesse modelo deresposta a demandas da sociedade, por par-te das cincias aplicadas, fortaleceu o con-ceito de profisso como uma forma de agirfundamentada no conhecimento cientficoque poderia ser regulamentada e controladapela prpria sociedade. Assim como na reade seleo e de recrutamento de pessoal erapossvel criar solues tcnicas aplicveisaos problemas, nas outras reas, os rituais eos instrumentos eram desenvolvidos comigual empenho e esperana. Essa f na efi-ccia tcnica legitimava a lgica e a ideologiaburocrticas e, assim, se transformava emelemento vital na modelagem da Psicologiacomo profisso. O reconhecimento e a legi-timao dos servios tcnicos oferecidos pe-los psiclogos por parte das organizaes,foram fatores polticos que contribuiram demodo significativo para o desenvolvimentoe para a legitimidade dessa profisso. Esse

    casamento entre demanda de servios eoferta de solues tcnicas padronizadas ga-nhou espao e se consolidou de modo con-tnuo e consistente, modelando o trabalhode profissionais nos campos da sade, daeducao, da engenharia e dos negcios. Po-de-se assumir que, nesse momento, no qualmuitas solues padronizadas para as ques-tes comportamentais eram visveis e efica-zes, a profisso do psiclogo j era uma ati-

    vidade com os elementos bsicos previstospela institucionalizao de uma profisso.No final dos anos de 1920, os psiclogos jtinham um rosto, uma certido de nasci-mento e um espao para construir suas car-reiras. Essa etapa no significa que problemase desafios estavam superados, como seranalisado na prxima seo deste captulo.

    Embora seja difcil delimitar uma fron-teira para a existncia plena da profisso depsiclogo no Brasil, no h como negar queem meados do sculo XX, essa profisso,mesmo ainda no reconhecida em alguns

    pases, j apresentava regularidades nos pa-pis profissionais, representaes de suaidentidade na literatura cientfica, diversi-

    dade de subculturas em campos distintoscomo sade e indstria, alguns padres deconduta e farta base bibliogrfica decorrentede pesquisas experimentais e de propostastericas. Essa massa patrimonial tcnica,mercadolgica e poltica alimentou a deman-da de novos conhecimentos a serem pesqui-sados no campo do comportamento, estimu-lou a necessidade de novos profissionais parao mercado, fomentou o aprofundamento dassolues criadas para os problemas e forta-leceu o capital poltico para o ajustamentodas fronteiras com outras profisses. Dinami-zada pelos problemas que tornavam a socie-dade mais complexa e pelo desenvolvimentodo conhecimento cientfico sobre o comporta-mento humano, a Psicologia ampliou seu es-pao de atuao e sua legitimao como pro-fisso, tornando sua institucionalizao, des-se momento em diante, um fato irreversvelem todos os pases do planeta. Hoje, como

    atestam os dados empricos da pesquisa pu-blicada neste livro, o Brasil conta com 150mil psiclogos para uma populao de quase200 milhes de habitantes, situao quepermite concluir que o psiclogo uma pro-fisso necessria, legitimada e motivadora,embora ainda em contnuo processo de re-formatao interna e de definio de suasfronteiras com outras profisses.

    DIFICULDADES QUE AINDA RONDAMA PROFISSO DO PSICLOGO

    Embora consolidada de forma irrevers-vel, a profisso de psiclogo no esteve livrede obstculos externos e de desafios internosque dificultaram (e ainda dificultam) suacaminhada, ao mesmo tempo que a ajuda-ram a se enriquecer e se fortalecer. Algumasdessas dificuldades so analisadas a seguir.

    Por fora da diversificao das deman-das, desde seus primrdios, a profisso de

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    psiclogo foi institucionalizada na forma deidentidade polivalente. O psiclogo umprofissional da pessoa humana, onde quer

    que esta esteja e a qual atividade se dedique.Seu objetivo de trabalho promover e res-gatar o indivduo como sujeito. Essa identi-dade em parte explicada pela origemigualmente mltipla da Psicologia, comoproduto da juno dos campos da Filosofia eda Medicina (Plas, 2000). Interessados emexplicar o comportamento humano, os pio-neiros da Psicologia, mesmo imaginandorealizar algo diferente daquilo que j faziam,integravam as teorias oferecidas pela Filoso-fia ao avano do conhecimento experimentalfomentado pelo estudo das neuroses emhospitais, pelos experimentos laboratoriaisna esfera da biologia, como foi o caso da fa-diga nas fbricas e a pesquisa sobre a eficciadas atividades educacionais. Theodule Ri-bot, pioneiro da Psicologia na Frana podeser aqui colocado como um dos casos emque essa polivalncia predicado identit-rio do psiclogo. Ainda em pleno sculo

    XIX, Ribot oferece claras evidncias. Erafilsofo por formao e provavelmente porinteresse, em 1876, ele fundou aRevue Phi-losophique de la France et de ltranger; as-sumiu e atuou por muitos anos na primeiractedra de Psicologia do Collge de France,na disciplina intitulada Psychologie Expri-mental et Compare. Ao longo de sua car-reira, Ribot publicou diversos artigos sobreenfermidades, como Les maladies de la m-

    moire, em 1881, e Les maladies de la per-sonalit, em 1885. A experincia polivantede Ribot no foi a nica e revela o alcanceda prpria Psicologia, que diante da dificul-dade de definir e pesquisar seu objeto, nooferece resistncia alguma para examin-lo,ainda hoje, sob diferentes olhares como ocaso da Filosofia, da experimentao e dapesquisa-ao. Dentro da inrcia dessa poli-valncia, a Psicologia abrigou a produo deinstrumentos que poderiam ser aplicadosem muitas situaes, como o caso dos tes-tes e do aconselhamento psicolgicos. Os

    testes permitiram e fomentaram a genera-lizao do conceito de diagnstico psicol-gico como uma das atividades mais iden-

    tificadas com a profisso de psiclogo.Esse carter polivante alimentou o dina-mismo advindo de fontes distintas de refle-xo, de grande amplitude de problemas e dedistintos critrios de avaliao do desem-penho. Esse alargamento de fronteiras foisustentado, legitimado e fomentado pelacrescente demanda de informaes sobre ocomportamento humano, no somente naesfera das patologias, em hospitais, sana-trios e clnicas, mas tambm na estruturaodas rotinas de servio, como constatado nosterritrios das fbricas e das escolas. Ospsiclogos dessa poca foram solcitos, efi-cazes e rpidos na oferta de repostas a todasas demandas. No eram eles que selecio-navam as demandas, mas eles eram selecio-nados dentre outros profissionais e outrasinstituies disponveis no mercado, comoespecialistas em comportamento humano,para cuidar de problemas diversos que se

    espalhavam por todos os rinces da socie-dade. Essa flexibilidade de atuao estavaem parte associada s origens do estudo dapessoa humana. No havia consenso entreos intelectuais se a Psicologia seria umacincia autnoma, um ramo da Fisiologia ouse seria um dos braos da Filosofia. JohannF. Herbart, um dos pioneiros da Psicologiana Alemanha, publica, em 1825, um textointitulado A Psicologia como cincia nova

    fundada sobre a experincia, a metafsica ea matemtica, no qual ele situa a Psicologianesses distintos campos. Um pouco maistarde, Charcot funda a Societ de Psychologie

    Physiologique, em 1885, demonstrando adificuldade de delimitao de fronteira entredistintos fenmenos. Paul Janet publica em1888 um texto na Revue des Deux Mondes,no qual defende a existncia de uma psico-logia objetiva que complete a psicologiasubjetiva, mais uma vez evidenciando adificuldade de delimitao e de compreensodo objeto da Psicologia. Em todos esses tex-

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    tos, e em muitos dos que foram publicadosanos depois, sobram evidncias da poliva-lncia e da ambiguidade identitrias da Psi-

    cologia que se refletia na institucionalizaoda prpria identidade do psiclogo. Aindadentro dos anos de 1920, os psiclogos le-gitimaram as adjetivaes diversas em suasespecialidades, e as associaes comearama aceitar a departamentalizao interna co-mo forma de acomodar a diferenciao pro-movida pela polivalncia do trabalho dospsiclogos. Esse predicado identitrio estevidenciado em diversos dados da pesquisapublicada neste livro. A Psicologia umaprofisso que transcende as fronteiras insti-tucionais porque seus conhecimentos sorequeridos sempre que demandada algu-ma explicao sobre a pessoa e seus com-portamentos.

    Alm da polivalncia e de seu sucessona sociedade, essa jovem profisso enfrentoudias difceis devido ao dinamismo internodo prprio conhecimento sobre o comporta-mento humano que diferenciava os profis-

    sionais, alocando-os em caminhos epistemo-lgicos radicalmente distintos, como aque-les trilhados por Freud e por Watson. Essadiferenciao terica e epistemolgica foi,ao mesmo tempo, uma fonte de riqueza e dedificuldades para os psiclogos. Essa diferen-ciao foi exacerbada em alguns momentose angustiou muitos psiclogos, como se po-de verificar no livro de Daniel Lagache,

    LUnit de la Psycholgiepublicado em 1949,

    no qual ele intitula o primeiro captulo de Apsicologia e as cincias psicolgicas. Aquesto que Lagache apresenta como temadesse livro existiria a possibilidade deuniversalizao dos critrios epistemolgicospara a Psicologia? ainda est em p e semuma resposta. Hoje, tais diferenas conti-nuam existindo, mas a preocupao comelas menor, no sentido de que todos apren-deram a reconhecer e a conviver com as li-mitaes de sua prpria epistemologia, co-mo evidencia o estudo seminal de MichaelMahoney (1991) sobre a eficcia das psico-

    terapias. Nesse estudo, Mahoney demonstraas distncias que separam os psiclogos dospontos de vista tcnico e epistemolgico, e

    como eles se unem pela utilizao comumdo bom-senso. Apesar das diferenas abis-mais, o trabalho deles se aproxima no reco-nhecimento das limitaes de suas tcnicase da incerteza que os move a ser prudentese respeitosos com outras abordagens. Dessefato, pode-se concluir que a ambiguidadeidentitria da Psicologia no se mostra comoum obstculo, mas, antes, como um teste-munho da complexidade da pessoa huma-na. Seguramente, a Psicologia uma cinciamais rica por causa dessa diversidade, assimcomo os psiclogos dispem de mais recur-sos tcnicos e so instados a agir com pru-dncia diante da diversidade de opes quea prpria Psicologia lhes oferece.

    Alm da polivalncia e da diversidadecriadas pela interface com outros campos doconhecimento, outra dificuldade visvel noexerccio da profisso de psiclogo advmda abertura da Psicologia a muitas atividades

    para as quais os conhecimentos tericos po-dem ser aplicados. Assim, as dezenas de teo-rias de motivao podem ser aplicadas nacompreenso e na soluo de problemas naesfera do trabalho, da educao, das rela-es sociais, do cuidado consigo mesmo,entre muitos outros. Essa abertura decorreude seu prprio objeto, que era o estudo dosprocessos psquicos, no importando ondeestes ocorriam. Tal amplitude de campo de

    aplicao criou problemas, como foi o casoda introduo de categorias de anlise dapatologia na seleo de pessoal, da qual re-sultaram dificuldades srias, at mesmo denatureza tica. Aos poucos, os psiclogosaprenderam a questionar se o conhecimentosobre o comportamento poderia ser consi-derado fora de qualquer contexto. Comofruto desse aprendizado, os psiclogos ad-quiriram experincia sobre o valor das de-cises tticas e, consequentemente, diferen-ciaram, em um mesmo objetivo e em ummesmo problema, as nuanas de sincronia

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    geradas pela fora do contexto. Uma ilus-trao dessa dificuldade e do aprendizadoque se seguiu ao seu enfrentamento foi o

    afastamento da Psicanlise dos problemasda Psicologia aplicada ao trabalho. A pro-fundidade do diagnstico produzido dentroda abordagem psicanaltica complicava apossibilidade de administrao do desempe-nho e tornava quase impossvel a participaode outros profissionais das empresas na dis-cusso dos problemas. A gesto do desem-penho carecia de conhecimentos e de ins-trumentos para inserir o inconsciente narotina de capacitao e ajustamento das ta-refas. Essa situao foi superada recente-mente a partir de inmeros estudos (Men-zies, 1971; Enriquez, 1992; Pags et al.,1979) que evidenciaram como a reflexopsicanaltica pode tambm ser aplicada scondies estruturais, enriquecendo a com-preenso do jogo estratgico e, por conse-guinte, a compreenso do papel do desem-penho individual dentro dos processos so-ciais e polticos. O estudo de Steffy e Grimes

    (1992), comparando trs diferentes episte-mologias e suas consequncias prticas, evi-denciou como a polivalncia da Psicologiapermite a acomodao da ao dos psic-logos a diferentes ideologias e como estascontribuem para a legitimao das decisesprofissionais. Essas questes revelam comoo trabalho profissional do psiclogo com-plexo, exigindo dele no somente conheci-mentos de sua cincia, mas tambm do con-

    texto no qual ele atua. Essa condio aloca aprofisso de psiclogo, em si mesma, comoatividade multidisciplinar.

    Ainda outra dificuldade enfrentada pe-los psiclogos para administrar sua profis-sionalizao advm do avano do conhe-cimento e da crescente complexidade dasociedade, contingncias que dificultam aalocao de fronteiras, de critrios e de pa-dres de anlise. Desde o final da segundaguerra, mais particularmente a partir de1950, a contnua adaptao a constantesmudanas que, a cada ano se tornam mais

    rpidas e mais profundas na sociedade, temsido um crescente desafio para todos, sobre-tudo para os psiclogos. As alteraes que

    tm ocorrido desde a disseminao da tele-fonia celular e da rede eletrnica de infor-mao sugerem, como assume Guillebaud(1999), um processo de refundao do mun-do e, portanto, de refundao da profissodo psiclogo. A certeza que se tem sobreessa questo a de que tarefas, funes,fronteiras e categorias de anlise esto sobreviso. No contexto atual, quase impos-svel a oferta de solues como aquela ofe-recida por Freyd em 1923 para a seleo depessoal. Poucos procedimentos podem sergeneralizados, como Freyd props, para aseleo de pessoal. Essa volatilidade da so-ciedade e da profissionalizao dos conheci-mentos tem sido crescentemente intensi-ficada pela diferenciao de tecnologias eestimulada por ideologias emergentes como o caso da absolutizao dos resultados eda busca por inovao que caracterizam acultura do presente momento histrico.

    Nessas condies criadas na sociedadeatual, administrar e regulamentar uma pro-fisso mostram-se tarefas necessrias, pormquase impossveis diante da volatilidade eda fragmentao que enfraquecem as estru-turas e os vnculos tanto dos indivduosquanto das instituies. Um sintoma dessesproblemas a crescente demanda de inter-disciplinaridade como paradigma para aatuao profissional. Nos diversos campos

    nos quais os psiclogos atuam, essa integra-o de especialidades e de desempenhosprofissionais tem sido incentivada pelo cres-cimento da oferta dos servios e pela suadiferenciao em atividades subespecializa-das, duas condies que forjaram as ambi-guidades em todas as fronteiras, seja na di-viso de tarefas, seja na territorializaoentre as diversas profisses, isto , nos li-mites entre os campos do conhecimento,como fartamente evidenciados nas atividadesprofissionais oriundas dos campos da Psico-logia, da Medicina, da Pedagogia, da Admi-

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    nistrao e da Sociologia. comum que umprofissional de administrao, de sade oude educao tenha dvidas se as atividades

    que ele realiza pertencem ao territrio destaou daquela profisso. A regulamentao deuma profisso que abriga a responsabilidadesobre problemas que varrem todas as reasda vida humana do nascimento ao envelhe-cimento, do lazer ao trabalho, da guerra eda paz, da sade e da educao, das iden-tidades e das instituies uma tarefapara a prpria sociedade como um todo eno para uma profisso em particular. Essascondies tm estimulado e justificado a di-ferenciao de papeis profissionais, hoje di-fceis de serem analisados e categorizados,porque as atividades que constituem seuscontedos so complexas e podem ser inter-pretadas partir de diferentes contextos. Naprtica, tais atividades tm sido mais contro-ladas pela expectativa de valor agregadopela ao do profissional do que por umabase terica especfica, ou por uma regula-mentao especfica. Essas condies tm

    desestimulado os antigos ideais de profis-sionalismo e, assim, submetido a ao pro-fissional aos ventos do mercado. A evoluoda psicoterapia um caso emblemtico des-sa dinmica.

    O trabalho psicoteraputico foi inicial-mente uma atividade territorializada naprofisso mdica, que se estendeu para ospsiclogos, j no incio do sculo XX, porfora dos conhecimentos que eles apresen-

    tavam sobre os processos psquicos. A diver-sidade de problemas de ajustamento social ede integrao psquica cresceu significati-vamente a partir dos anos de 1980, dife-renciando a psicoterapia em atividades dis-tintas como o aconselhamento, o coaching,a Ioga, o acompanhamento teraputico, omentoring, a psicopedagogia e o tutoramen-to , condio que abriu espao para queessa atividade fosse gradativamente esten-dida a outras profisses. Hoje, no tarefasimples diferenciar a psicoterapia dessas ou-tras atividades. No h consenso sobre as

    diferenas entre esses distintos servios e,consequentemente, sobre os critrios de ter-ritorializao dos mesmos dentro das distin-

    tas ocupaes que abrigam tais atividades.Situao anloga ronda a territorializaodos testes psicolgicos. Administradores, so-cilogos, pedagogos, engenheiros e psic-logos tm produzido farta diversidade deinstrumentos de diagnstico em suas ativi-dades profissionais, tornando difcil a iden-tificao de critrios para diferenciar quandoesses instrumentos focam os processos ps-quicos e o territrio ao qual eles poderiampertencer. A interdisciplinaridade, a inova-o e a ideologia de busca por resultadostm dificultado essa tarefa.

    Essas relaes de fronteira, sejam inter-nas na atividade dos psiclogos, sejam narelao com outras ocupaes igualmenteinstitucionalizadas, (como a medicina, aeducao e a administrao que, concomitan-temente Psicologia, construram a profis-sionalizao de suas tarefas e de seus es-paos de trabalho dentro da racionalidade

    burocrtica ou do mercado), no aparecemna pesquisa relatada neste livro mas nodeixam de merecer alguma reflexo. Plas(2000) escreve que as relaes de vizinhanano incio da profissionalizao da Psicologiaforam difceis. Segundo seu testemunho,durante o perodo inicial de desenvolvimentoda Psicologia, os filsofos se mantinham in-formados dos progressos da Psicologia cien-tfica, no propriamente para enriquecer

    suas anlises sobre a pessoa atravs dos no-vos dados produzidos, mas para poder cri-ticar o trabalho experimental dos psiclogos.Esse fato mostra as tenses e a no legiti-mao entre diferentes campos profissionais,as relaes nem sempre foram amigveis,tal como ocorre hoje nas fronteiras da pro-fisso do psiclogo com algumas profisses.Ao longo de toda a histria da profisso depsiclogo, ocorreram disputas com mdicos,administradores, pedagogos e socilogos.No momento da reorganizao profissional,espaos e tarefas especficos, embora dispu-

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    tados por distintas profisses, comearam aser previstos e realizados como forma deviabilizao da aplicao de conhecimentos

    particulares a problemas pre sentes na vidahumana em seus diferentes aspectos. Dessemomento em diante, os espaos profissionaisemergentes no campo da Psicologia foramfortalecidos por causa do aprofundamento eda expanso do conhecimento e pela eficciadas solues que eram nele inspiradas e le-gitimadas. A elaborao de testes psicolgi-cos sustentados por teorias especficas daPsicologia contribu-ram muito para a iden-tificao do territrio profissional dos psic-logos, como especialistas em diagnsticos ena interveno para trabalhar a adaptao ea integrao psquicas. O desenvolvimentocientfico e tecnolgico agravou essa situa-o. Hoje, difcil delimitar onde terminauma profisso e uma outra comea. Os pro-blemas j no cabem dentro do territrio deuma cincia, demandando a contribuio deoutras, como essenciais. Para ilustrao dessadificuldade, tem-se, nos Estados Unidos, a le-

    gislao de trs estados permitindo aos psi-clogos a prescrio de medicamentos, aber-tura que pe mais combustvel na interfacecom os mdicos e os farmacuticos, assim co-mo as ambiguidades nos limites entre psico-terapias e diversas formas de aconselhamen-to borram os limites dos psiclogos com ou-tras profisses.

    Uma soluo emergente para essas ques-tes que tm crescido em alguns pases a

    criao de comunidades especializadas em de-terminados servios profissionais, hoje abri-gadas sob a alcunha de consultorias, empre-sas de servio profissional ou, simplesmente,de comunidades de ao. Esses grupos apre-sentam concentrao em uma profisso par-ticular, como psiclogo ou advogado, mas soenriquecidos por profissionais de diversas reasdo saber que trabalham juntos e se comple-tam nas informaes e nas tarefas requeri-das para o enfrentamento dos problemas(Faulconbridge e Muzio, 2008). Nesses gru-pos, a fluidez das fronteiras exponencia-

    da, tornando mais dificil a diferenciao dasidentidades profissionais e, por conseguinte,a regulamentao e o controle sobre as ati-

    vidades dos trabalhadores que oferecem ser-vios profissionais. A regulamentao de al-gumas profisses, como o caso do jornalis-mo, tem sido significativamente dificultadapelo direcionamento da evoluo da sociedade(Aldridge e Evetts, 2003).

    Se a identidade do psiclogo foi cons-truda e consolidada pela clara demanda deconhecimentos especializados sobre a pes-soa e a conduta humanas, aplicados em am-pla diversidade de problemas, fato que esti-mulou a oferta de diversas tarefas a essesprofissionais, hoje ocorre um processo inver-so. Dentro dessas empresas de consultoria ecomunidades de servios, a identidade dopsiclogo diluda pelo baixo reconheci-mento da existncia de fronteiras entre asprofisses e pela consequente atribuio detarefas a diversos profissionais, no impor-tando sua trajetria profissional formal, massuas competncias atuais. O critrio para a

    atribuio de tarefas se resume na compe-tncia que o problema em questo exige. Aintegrao entre demandas da sociedadeque apresentam problemas aos profissionaise a criatividade tcnica por parte destes jno formata papis e espaos que diferenciamtais profissionais de diversos ramos do saberentre si. No trabalho atravs de projetos quetem sido modelo crescente de atuao pro-fissional, a distribuio de tarefas tem ocor-

    rido por meio das competncias aferidas naequipe e no em critrios de profissionali-zao do conhecimento. Por isso, os profis-sionais no mais aparecem, a exemplo dosanos de 1920, como mediadores necessriosentre o conhecimento cientfico e as neces-sidades humanas da sociedade. Johnson(1972) identifica nessa mediao o germedo controle ocupacional que caracterizou asprofisses ao longo do sculo XX e que hojeno est mais rigidamente circunscrita aoindivduo portador do diploma, mas se es-tende quele que revela competncia para a

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    tarefa. Dentro dessa dinmica da ao porprojetos, a mediao preconizada por Johnsonentre o mercado e o conhecimento, os psi-

    clogos j no controlam com exclusivida-de mtodos, valores, critrios, referenciais,procedimentos e condies que constituemos elementos visveis que modelam e institu-cionalizam sua profisso. Como Guillebaudacredita, tal como o mundo e as outras pro-fisses, a profisso de psiclogo sofre algumtipo de refundao. Essa tendncia refor-ada pela diversidade e pela ampliao doscursos de especializao e ps-graduao.Programas de ps-graduao em Adminis-trao, em Psicologia Social admitem enge-nheiros, historiadores e mdicos, assim co-mo cursos de medicina e engenharia admi-tem outros profissionais. O conceito de fron-teira foi alterado, de um elemento que di-vide e diferencia, para um elemento queintegra. A brilhante anlise desenvolvidapor Amin Maalouf (1998) sobre as identida-des uma ilustrao contundente sobre odesafio da alocao de fronteiras no mundo

    atual. Se um indivduo psiclogo, traba-lhador social, educador, ou agente de sadedepende da articulao do contexto ondeele est alocado. Igualmente, a anlise deNicole Aubert (2003) sobre a influncia davalorizao do tempo (rotina, imediato, ur-gncia, prioridade) sobre os limites do podere da legitimidade da ao profissionais reve-la a relativizao da territorializao ocupa-cional diante dos imperativos do contexto

    oriundos da ideologia dos resultados.

    CONCLUSO

    A pesquisa divulgada neste livro ofereceuma viso da institucionalizao das ativida-des profissionais dos psiclogos a partir daqual se pode compreender a dinmica quecaracteriza as fronteiras interna e externadessa profisso e do processo de diferenciaode atividades necessrio para a sua carac-terizao como um territrio autnomo na

    sociedade. As mudanas que surgiram atra-vs do processo de globalizao complicaramos critrios de conceituao da autonomia e,

    consequentemente, a profissionalizao dopsiclogo tornou-se uma questo permanen-temente aberta. A evoluo dos eventos in-dica que o futuro da profisso do psiclogo(como ocorre com outras profisses) depen-der menos da regulamentao existente doque do desempenho dos psiclogos (e deoutros profissionais) no enfrentamento dasdificuldades que a refundao de sua(s)profisso(es) exige.

    Desde as reflexes pioneiras de Parsons(1939), as profisses tm sido conceituadascomo grupos de pessoas definidos pela fun-damentao de suas atividades em algumconhecimento especfico, cuja forma de atua-o caracterizada por certa autonomia quea coloca margem do controle puramenteburocrtico e significativamente diferenciadodo agir com base apenas no conhecimentointuitivo das pessoas (como ocorria antes daera das profissionalizaes). Balizados por

    esses dois fatores, tais grupos so reconhecidosna sociedade pelas tarefas especializadas quedesempenham, pela instrumentalidade espe-cfica que utilizam e pela forma colegiada deagir para organizar suas tarefas e controlar aprpria atuao. A possibilidade desse con-trole tem origem em algumas constantes que,segundo Freidson (2001), criam o tipo idealde profissional para cada ocupao, facili-tando sua identificao. Tais constantes esto

    materializadas no corpo de conhecimentosoficialmente reconhecidos como a base dalegitimidade do desempenho tcnico daquelaprofisso, na organizao de categorias deprtica da qual resultam a diviso de trabalhoe suas fronteiras com outros campos profis-sionais e no conjunto de normas, valores epadres ticos que regem a aplicao do co-nhecimento especfico daquele grupo. Almdisso, o desempenho profissional ocorre atra-vs da aplicao de habilidades complexasque so adquiridas a partir do aprendizadosistemtico de uma cincia, atravs de longa

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    formao acadmica. A profissionalizao dopsiclogo, como resumidamente analisadaneste captulo, ocorreu de acordo com essa

    representao.O atual estgio de desenvolvimento dasociedade se assemelha a um furaco, ouseja, criou foras poderosas, imprevisveis,impossveis de serem controladas, que obri-gam todos e tudo a adaptaes penosas ecujos efeitos atingem a funo e o sentidode vrias realidades. Diante disso, a questoque se impe : como fica a profisso dopsiclogo frente ao crescimento da multidis-ciplinaridade, da inveno de novas formasde trabalho por projetos, da comodificaoe do fcil acesso ao conhecimento que fa-cilita o desempenho profissional, mesmo ca-rente de competncia. Sem o devido apro-fundamento do conceito de autonomia quase impossvel responder a essa questo.Talvez a autonomia seja uma condio aser considerada a partir da intersubjetivi-dade e da dinmica da realidade.

    O desafio que esse furaco props aos

    psiclogos a defesa e a reconstruo desua identidade. Tal como ocorre nas car-reiras individuais, os profissionais vivenciama condio de nmades, no porque elesmigram, como o faziam os guaranis e osbedunos, mas porque a sociedade enfrentamudanas contnuas que alteram os critriosde julgamento e os limites entre as ativi-dades. O nmade um indivduo continua-mente desafiado a se readaptar e a se re-

    validar. Como se sabe, a identidade no uma condio permanente nem uma vari-vel diante da qual as pessoas so passivas eimpotentes. A identidade manifestadaatravs de predicados que so produzidosou reproduzidos atravs das atividades doindivduo e da relao deste com os outros(Ciampa, 1986). Assim, a identidade dos psi-clogos depender de suas atividades e doseventos presentes no contexto no qual ela sedesenvolve. Essa tarefa j foi constatada pe-la Psicologia em outras profisses, como foio caso do tipgrafo. Um indivduo que ini-

    ciou sua vida profissional nesse ofcio h 40anos, enfrentou trs metamorfoses, passandode arteso para digitador, e de digitador pa-

    ra controlador de mquinas. Por trs vezes,ele teve de reaprender suas ta-refas, radical-mente transformadas pelo desenvolvimentotecnolgico e pela relao com outros pro-fissionais com os quais suas atividades ti-nham fronteiras. O tipgrafo se constituiucomo um profissional diferente diante dasociedade.

    A profisso de psiclogo, como sujeitovivo e coletivo, criou e continuar recriandosua identidade porque no lhe faltam ques-tes para estudar; seu objetivo um vir-a--ser em contnua reconstruo devido di-nmica da sociedade, como outro sujeitovivo e coletivo com o qual ele tem interaontima. No se pode prever como ser a or-ganizao do trabalho numa sociedade for-temente robotizada e que variveis estaroafetando a subjetividade, mas esta estarsempre presente nela, demandando cuida-dos por parte de quem pesquisa e aplica

    os conhecimentos sobre o ser humano comosujeito de sua realizao e de sua histria.

    esse contnuo movimento que faz daPsicologia uma fora autocriadora. Movidapor esse constante desequilbrio ela se re-constri, porque somente descobre quemela a partir do conhecimento que produz,sobre seu objeto e sobre si mesma, ou seja, apartir de sua prpria ao.

    REFERNCIAS

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    Desde o seu reconhecimento, em 1962,a profisso do psiclogo vem experimen-tando um contnuo crescimento, quando seconsidera o nmero de profissionais ins-

    critos inicialmente no Ministrio de Edu-cao, e nos Conselhos Regionais e no Fe-deral, desde a sua instalao em 1974.Inicialmente de forma lenta, compatvelcom o reduzido nmero de cursos de for-mao existentes e fortemente concentradana regio sudeste, a categoria dos psiclo-gos passa a crescer em um ritmo maisacelerado na dcada de 1980, em um pri-meiro saltonumrico de cursos no sistema

    privado de ensino, ento no seu primeirociclo de expanso. A partir do final dosanos de 1990, verifica-se o segundo e maisimportante impulso de crescimento, agorafortemente centrado em instituies parti-culares e, cada vez mais, dirigindo-se parao interior do pas. Esse ciclo de expansoainda atual, como bem atestam as esta-tsticas de inscries de novos psiclogosno sistema de informaes do Conselho.

    Esse crescimento quantitativo pode servisto, em princpio, como um vetor positivopara a profisso, j que aponta, por um

    lado, maior reconhecimento do papel so-cial desempenhado pela Psicologia e, poroutro, destaca que a imagem social cons-truda ao longo da sua trajetria capaz

    de mobilizar interesses de um nmero ex-pressivo de jovens, adulto-jovens e adul-tos que imaginam encontrar nesse cam-po a oportunidade de realizao de seusinteresses vocacionais, suas habilidadese seus valores pessoais. As condies deexerccio da profisso, todavia, especial-mente aquelas diretamente ligadas ao mer-cado de trabalho de profissionais de nvelsuperior, no situam a psicologia entre as

    profisses mais valorizadas socialmente, oque indica o vetor negativo deste cresci-mento desordenado do sistema de ensino,que muitas vezes desconsidera as efeti-vas oportunidades de insero no mundodo trabalho.

    A isso, relaciona-se uma imagem socialque, ao priorizar um tipo de atuao es-pecfica e centrada na clnica psicolgica,induz a busca pelo curso menos por umprojeto de carreira profissional e mais pa-ra atender a necessidades de autoconhe-cimento, o que leva, em muitos casos, ao

    Uma categoria profissional em expansoquantos somos e onde estamos?

    2Antonio Virglio Bittencourt Bastos, Snia Maria Guedes Gondim

    eAna Carolina de Aguiar Rodrigues

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    abandono da profisso. Nos anos de 1980,j se constatava uma enorme defasagementre o nmero de psiclogos graduados

    pelas Instituies de Ensino Superior eos que se inscreviam nos Conselhos Re-gionais, sinal claro de que a concluso docurso no garantia a insero no mercadode trabalho.

    Para caracterizar o exerccio da pro-fisso de psiclogo no Brasil, este cap-tulo dedica-se a traar o perfil bsicodeste grupo ocupacional. Quantos somosatualmente? Como estamos distribudosno amplo territrio brasileiro? Quais asnossas caractersticas em termos de g-ne-ro, idade, tempo de formao? Qual a nos-sa origem social, considerando a escolari-dade de nossos pais? Tais questes soobjeto do presente captulo. Embora lidan-do com dados to simples, como vere-mos, possvel perceber importantes as-pectos da dinmica da nossa profisso emnosso pas.

    OCUPANDO O ESPAO NACIONAL

    Atualmente, h 236,100 psiclogos ca-

    dastrados no Conselho Federal de Psico lo-gia. Na Tabela 2.1, encontram-se o nmerode inscritos e o percentual de cada ConselhoRegional de Psicologia nos anos de 2009 ede 1987. importante destacar que a estru-tura do Conselho modificou-se bastantenesse perodo, devido criao de vriosconselhos regionais para atender ao cresci-mento do nmero de psiclogos inscritos emcada Estado. Em 1987, tnhamos oito conse-lhos regionais. Os dados de 1987, constantesna Tabela 2.1, foram extrados a partir donmero de psiclogos de cada Estado, consi-derando o territrio abarcado por ele. Valeassinalar ainda que, ao longo do processo derealizao deste estudo nacional sobre aprofisso do psiclogo, surgiu um novoConselho Regional (CRP17), abrangendoapenas o Estado do Rio Grande do Norte,fruto do desmembramento do CRP13.

    Tabela 2.1Distribuio dos psiclogos brasileiros inscritos no CRP nos anos de 2009 e de 1987

    Dados 2009 Dados 1987

    Inscritos % Inscritos %

    CRP01 (DF, AC, AM, RO, RR) 11,024 4,7 2,025 3,7

    CRP02 (PE) 5,317 2,3 2,056 3,8

    CRP03 (BA, SE) 6,554 2,8 953 1,8

    CRP04 (MG) 21,699 9,2 5,612 10,4

    CRP05 (RJ) 35,192 14,9 10,905 20,1

    CRP06 (SP) 83,225 35,2 23,469 43,3

    CRP07 (RS) 16,614 7,0 2,721 5,0CRP08 (PR) 14,293 6,1 2,401 4,4

    CRP09 (GO, TO) 5,642 2,4 771 1,4

    CRP10 (PA, AP) 2,753 1,2 253 0,5

    CRP11 (CE, PI, MA) 5,246 2,2 353 0,7

    CRP12 (SC) 16,748 7,1 445 0,8

    CRP13 (PB, RN) 3,530 1,5 806 1,5

    CRP14 (MT, MS) 3,867 1,6 567 1,0

    CRP15 (AL) 1,859 0,8 590 1,1

    CRP16 (ES) 2,537 1,1 212 0,4

    TOTAL 236,100 100,0 54,139 100,0Fonte: Conselho Federal de Psicologia, 1987, 2009.

  • 8/11/2019 O trabalho do psiclogo no Brasil.pdf

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    34 Bastos, Guedes e colaboradores

    A Tabela 2.1 ilustra de modo claro amudana no quadro do desenvolvimentoda profisso nas duas ltimas dcadas. Pri-

    meiro, houve um expressivo crescimento demais de 400% nesse perodo. Alm disso,esse aumento significou uma melhor distri-buio dos psiclogos pelos diferentes es-tados e regies do pas. Embora o Sudestemantenha-se como a regio que possui omaior nmero de profissionais inscritos noBrasil (60,4%), observa-se que essa propor-o inferior de 1987 (74,2%), em de-corrncia do crescimento das demais re-gies. So Paulo continua sendo o Estadocom o maior contingente de psiclogos, ul-trapassando, em 2009