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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE ANHANGUERA RODRIGO DE ALMEIDA PUPO O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA SÃO PAULO 2013

o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

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Page 1: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

UNIVERSIDADE BANDEIRANTE ANHANGUERA

RODRIGO DE ALMEIDA PUPO

O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA FORMAÇÃO

CONTINUADA DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

SÃO PAULO

2013

Page 2: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

RODRIGO DE ALMEIDA PUPO Mestrado em Educação Matemática

O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA FORMAÇÃO CONTINUADA DO

PROFESSOR DE MATEMÁTICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

da Universidade Bandeirante Anhanguera, como exigência

parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação

Matemática, sob orientação da Profª Drª Maria Elisabette

Brisola Brito Prado.

SÃO PAULO

2013

RODRIGO DE ALMEIDA PUPO

Page 3: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

Pupo, Rodrigo de Almeida. P986u O uso das tecnologias digitais na formação continuada do

professor de matemática / Rodrigo de Almeida Pupo. -- São Paulo: Universidade Bandeirante Anhanguera, 2013.

xiii, 104 f.; 30 cm.

Dissertação (MESTRADO) – Universidade Bandeirante Anhanguera, 2013.

Orientadores: Profª. Dra. Maria Elisabette Brisola Brito Prado.

Referências bibliográficas: f. 95-99.

1. Programação. 2. GEOGEBRA. 3. Conhecimento profissional. 4. Formação continuada. 5. Observatório da educação. I. Prado, Elisabette Brisola Brito. II. Universidade Bandeirante Anhanguera. III. Título.

CDD 370.71

Page 4: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA FORMAÇÃO

CONTINUADA DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA.

Este Trabalho foi julgado e aprovado para obtenção do título de

Mestre em Educação Matemática da Universidade Bandeirante

Anhanguera - UNIBAN.

São Paulo, ____/_____/_______

Profa. Dra. Maria Elisabette Brisola Brito Prado (Presidente-Orientadora) Universidade Bandeirante Anhanguera - UNIBAN

Profa. Dra. Odete Sidericoudes (1º Titular Externo) SEE/SP

Prof. Dr. Ruy Cesar Pietropaolo (1ºTitular Interno) Universidade Bandeirante Anhanguera - UNIBAN

Page 5: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

MEUS AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela vida e pelo Senhor Jesus Cristo seu filho, que veio do

alto céu como homem e sofreu para que possamos ter a chance da vida eterna.

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade

Bandeirante Anhanguera de São Paulo e a Coordenadora do curso Professora Dra.

Tânia Maria Mendonça Campos que ofereceu toda a estrutura necessária durante o

curso.

Ao projeto do Observatório da Educação da UNIBAN financiado pela

CAPES, sob a coordenação do Prof. Dr. Ruy Cesar Pietropaolo, que me proporcionou

a realização dessa a pesquisa.

A Dirigente e aos professores da Diretoria de Ensino – Região Norte II

juntamente com a professora Rosana Jorge Monteiro Magni, responsável por esse

projeto na Diretoria de Ensino em questão.

À Professora Doutora Nielce Meneguelo Lobo da Costa pelo apoio do meu

ingresso no programa de mestrado.

Pela dedicação, amizade e paciência durante toda a pesquisa no trabalho de

orientação e escrita da professora Doutora Maria Elisabette Brisola Brito Prado.

Ao professor Dr. Ruy Cesar Pietropaolo, que considero como um pai

acadêmico.

Aos meus professores do Programa de Mestrado em Educação Matemática

da Universidade Bandeirante Anhanguera de São Paulo, que tive o prazer de

conhecer e foram contribuintes em minhas decisões como aluno, professor,

formador e pesquisador.

Aos profissionais da secretaria do Programa, que sempre auxiliaram de

forma clara as dúvidas relacionadas às documentações exigidas.

À Diretoria de Ensino Região de Sumaré, com direção da Dirigente Regional

de Ensino, professora Dirceuza Biscola Pereira, pelo apoio durante o curso.

Aos meus pais, que com amor me educaram, ensinaram e continuam

ensinando sobre a vida.

Aos meus irmãos, que me deram sempre força em meus estudos.

À Fátima Dias, amiga a quem sempre me ajudou e continua me ajudando em

assuntos profissionais e pessoais.

À Marinês Yole Poloni, que conheci durante o mestrado e tenho um carinho

especial.

Ao casal de Pastores Myckon e Andreia, amigos sempre presentes dos quais

recebo diversos ensinamentos da palavra de Deus.

À minha esposa, a quem escolhi amar e suportou os meus momentos de

estudos.

Page 6: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

RESUMO

Esta pesquisa foi desenvolvida no âmbito da linha de Formação de Professores que ensinam Matemática, no contexto do Projeto Observatório da Educação da UNIBAN, financiado pela CAPES. O objetivo foi verificar as potencialidades do software GEOGEBRA para o processo de ensino e aprendizagem de Simetria Axial. Participou da pesquisa um grupo de quinze professores de Matemática que atuam na Educação Básica. A metodologia de caráter qualitativo integrou elementos da abordagem do Design Experiment de Cobb e utilizou como instrumentos de coleta questionário de perfil e de diagnóstico, bem como os protocolos das atividades de intervenções realizadas pelo formador-pesquisador durante a Oficina de Simetria com o uso do software GEOGEBRA. O referencial teórico constituiu-se de dois temas centrais, Informática na Educação, com foco na atividade de programação baseada nos princípios construcionistas de Papert e Conhecimento profissional do professor, com destaque nas ideias de Shulman e no modelo do TPACK de Koelber e Mishra. A análise dos dados iniciais mostrou, durante a fase de diagnóstico, a existência de compreensões equivocadas sobre o conceito de Simetria. Isto foi fundamental para nortear as atividades de intervenção utilizando materiais concretos e digitais, especialmente, o software GEOGEBRA. O uso desse software permitiu ao grupo de professores manipular Objetos, Retas, Ponto e Figuras, observar suas propriedades e fazer conjecturas as quais instigaram a busca de novas compreensões sobre o conteúdo de matemática. Uma estratégia didática desafiadora para o grupo foi a criação do Botão de Simetria. Essa atividade confirmou o potencial da programação, pelo seu caráter reflexivo e de “empodeiramento” do homem sobre o computador (Papert e Valente). O resultado da pesquisa mostrou que por meio da atividade de programação, o grupo de professores pode vivenciar a espiral de aprendizagem e a reconstrução do conhecimento integrado das tecnologias digitais e o conteúdo matemático.

Palavras-chave: Programação – GEOGEBRA – Conhecimento Profissional –

Formação Continuada – Observatório da Educação.

Page 7: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

ABSTRACT

This research was conducted within the Teacher Training online that teach mathematics in the context of the Project Centre for Education UNIBAN, funded by CAPES. The objective was to verify the potential of GEOGEBRA software for the teaching and learning of Axial Symmetry. Participated in the research group of fifteen teachers of mathematics involved in basic education. The qualitative methodology incorporated elements of the approach of Design Experiment Cobb and used as instruments of questionnaire listing and diagnostic collection as well as the protocols of interventions by the trainer - researcher activities during the workshop Symmetry using the software GEOGEBRA . The theoretical framework consisted of two central themes, Computers in Education, with a focus on programming activity based on the principles of constructionist Papert and professional knowledge of the teacher, especially the ideas of Shulman and model of the TPACK of Koelber and Mishra. The initial analysis of the data showed that during the diagnostic phase, the existence of misunderstandings about the concept of symmetry. This was essential to guide intervention activities using concrete materials and digital, especially GEOGEBRA software. Using this software allowed the group of teachers manipulate Objects , Lines , Point and Figure , observe their properties and make conjectures which prompted the search for new understandings of math content . A challenging teaching strategy for the group was the creation of the Symmetry button . This activity confirmed the potential of programming for its reflective nature and "empodeiramento" man on the computer ( Papert and Valente ) . The research result showed that through activity programming, the group of teachers can experience the learning spiral and reconstruction of integrated digital technologies and mathematical content knowledge.

KeyWords: Programming - GEOGEBRA - Professional Knowledge -

Continuing Education - Education Observatory.

Page 8: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................ 14

CAPÍTULO UM – INTRODUÇÃO ..................................................................... 16

1.1 Trajetória ............................................................................................. 16

1.2 A Questão da Pesquisa ....................................................................... 19

1.3 Procedimentos Metodológicos ............................................................ 19

1.4 Sujeito da Pesquisa............................................................................. 20

1.5 Instrumentos da Coleta ....................................................................... 20

1.6 Justificativa .......................................................................................... 21

CAPITULO DOIS – REFERENCIAL TEÓRICO ............................................... 26

2.1. Informática na Educação ..................................................................... 26

2.2. A Programação ................................................................................... 28

2.3. O Construcionismo .............................................................................. 31

2.4. A formação e conhecimento profissional do professor ........................ 33

CAPÍTULO TRÊS – O GEOGEBRA ................................................................. 37

3.1. O Software .......................................................................................... 37

3.2. Utilizando O Software .......................................................................... 38

CAPÍTULO QUATRO – DIAGNÓSTICO .......................................................... 51

4.1. Oficina de Simetria – Fase de diagnóstico. ......................................... 51

4.2. Diagnóstico do aluno – na visão do professor ..................................... 53

4.3. Diagnóstico do conteúdo de Simetria Axial – na visão do professor ... 54

CAPÍTULO CINCO – INTERVENÇÃO ............................................................. 62

5.1. Oficina de Simetria – Fase de intervenção. ......................................... 62

5.2. Atividade um de intervenção ............................................................... 62

5.3. Atividade dois de intervenção ............................................................. 64

5.4. Atividade três de intervenção .............................................................. 67

Page 9: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

5.4.1. Resolução com o uso de materiais concreto ....................................... 68

5.4.2. Resolução com o uso do software GEOGEBRA. ................................ 72

5.5. A programação e a simetria ................................................................ 77

5.6. Questionário de utilização do GEOGEBRA ......................................... 84

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 92

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 95

Apêndice I – Questionário de Perfil. ............................................................ 100

Apêndice II – Questionário de Simetria 1 .................................................... 101

Apêndice III – Conjunto de Atividade I ........................................................ 102

Apêndice IV – Conjunto de Atividade II ....................................................... 103

Apêndice V – Questionário de utilização do software ................................ 104

Page 10: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Espiral da aprendizagem e a atividade de programação. ................. 30

Figura 2 - Tela Inicial do GEOGEBRA ............................................................. 38

Figura 3 – Inserir ponto pela barra de ferramenta. ........................................... 39

Figura 4 – Inserir ponto pela caixa de entrada. ................................................ 40

Figura 5 - Controle deslizante .......................................................................... 41

Figura 6 - Manipulando o controle deslizante ................................................... 42

Figura 7 - Construção do quadrado .................................................................. 43

Figura 8 - protocolo de construção do quadrado .............................................. 44

Figura 9 – Ferramenta de simetria. .................................................................. 46

Figura 10 - Exemplo de utilização da ferramenta Reflexão em relação a uma

reta ................................................................................................................... 47

Figura 11 - Resolução do exemplo da ferramenta Reflexão em relação a uma

reta. .................................................................................................................. 48

Figura 12 – Ocultar a ferramenta de reflexão. .................................................. 49

Figura 13 - Comparação de tela do GEOGEBRA. ........................................... 49

Figura 14 - Protocolo do professor T ................................................................ 58

Figura 15 - Protocolo do professor X ................................................................ 59

Figura 16 - Protocolo do professor Y ................................................................ 59

Figura 17 - Protocolo do professor W ............................................................... 59

Figura 18 - Protocolo do professor Z. ............................................................... 60

Figura 19 - Atividade de eixo simétrico ............................................................ 63

Page 11: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

Figura 20 - Resolução com espelho ................................................................. 64

Figura 21 – Protocolo 1 de resolução da atividade de intervenção dois .......... 66

Figura 22 - Protocolo 2 de resolução da atividade de intervenção dois ........... 66

Figura 23 - Protocolo professor A da atividade de intervenção três do primeiro

conjunto. ........................................................................................................... 69

Figura 24 - Protocolo professor B da atividade de intervenção três do primeiro

conjunto.. .......................................................................................................... 70

Figura 25 - Protocolo professor A da atividade de intervenção três. ................ 71

Figura 26 - Protocolo professor A da atividade de intervenção três. ................ 73

Figura 27 - Protocolo professor B da atividade de intervenção três ................. 74

Figura 28 - Comparativo professor A ............................................................... 75

Figura 29 - Comparativo Professor B ............................................................... 75

Figura 30 - Atividade 1 no GEOGEBRA ........................................................... 77

Figura 31 - Codificação da linguagem matemática para a linguagem do

GEOGEBRA ..................................................................................................... 78

Figura 32 - Atividade 2 no GEOGEBRA ........................................................... 79

Figura 33 - Resolução da atividade 2 no GEOGEBRA .................................... 80

Figura 34 - Resolução da atividade 3 no GEOGEBRA .................................... 81

Figura 35 - Atividade 1 do questionário de utilização do GEOGEBRA ............ 84

Figura 36 - Protocolo do professor A do questionário de utilização do

GEOGEBRA ..................................................................................................... 85

Figura 37 - Protocolo do professor B do questionário de utilização do

GEOGEBRA ..................................................................................................... 85

Figura 38 - Protocolo do professor C do questionário de utilização do

GEOGEBRA ..................................................................................................... 86

Page 12: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

Figura 39 - Protocolo do professor D do questionário de utilização do

GEOGEBRA ..................................................................................................... 86

Figura 40 - Protocolo do professor C na questão da linguagem ...................... 87

Figura 41 - Protocolo do professor D na questão da linguagem ...................... 88

Figura 42 - Protocolo do professor UM sobre a contribuição do GEOGEBRA . 89

Figura 43 - Protocolo do professor DOIS sobre a contribuição do GEOGEBRA

......................................................................................................................... 89

Figura 44 - Protocolo do professor TRÊS sobre a contribuição do GEOGEBRA

......................................................................................................................... 90

Figura 45 - Protocolo do professor QUATRO sobre a contribuição do

GEOGEBRA ..................................................................................................... 90

Page 13: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Uso do computador feito pelo grupo de professores ...................... 52

Gráfico 2 - Dificuldade dos alunos em relação à Simetria axial ........................ 53

Gráfico 3 - Quantidade de eixos simétricos no quadrado ................................. 55

Gráfico 4 - Quantidade de eixos simétricos no retângulo não quadrado .......... 56

Gráfico 5 - Quantidade de eixos simétricos de um círculo ............................... 57

Gráfico 6 - Questão sobre simetria axial .......................................................... 58

Page 14: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Atividade de completar figuras ........................................................ 65

Quadro 2 - Conjunto de atividades da intervenção três .................................. 67

Quadro 3 - Script de resolução da atividade 1 do GEOGEBRA ...................... 78

Quadro 4 - Script de resolução da atividade 2 do GEOGEBRA ...................... 80

Quadro 5 - Script de um professor da atividade 4 no GEOGEBRA .................. 82

Page 15: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

14

APRESENTAÇÃO

Esse trabalho intitulado “O uso das Tecnologias Digitais na Formação

Continuada do Professor de Matemática” foi desenvolvido no âmbito da linha

de pesquisa de Formação de Professores que ensinam Matemática do

Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade

Bandeirante Anhanguera.

Essa pesquisa teve como objetivo verificar as potencialidades do

software GEOGEBRA para o processo de ensino e aprendizado de noções

relativas à Simetria Axial. Participou da pesquisa um grupo de professores de

Matemática que atuam na Educação Básica. E o que levou a esse objetivo

foram basicamente os seguintes questionamentos:

Como a formação continuada pode favorecer aos professores o

aprendizado dos recursos tecnológicos indo além dos aspectos

operacionais do software no sentido de propiciar a reflexão e

conceituação de conteúdos matemáticos?

Como podemos utilizar o GEOGEBRA para o ensino e

aprendizagem conceitual de Simetria Axial?

A partir dessas indagações, construímos a questão norteadora da

pesquisa:

Quais são as potencialidades do software GEOGEBRA para o

desenvolvimento de conceitos da Simetria Axial dos professores?

Para responder a essas questões, a pesquisa se desenvolveu adotando

a metodologia qualitativa e interpretativa das ações realizadas em um contexto

formativo com um grupo de professores que lecionam matemática da educação

básica.

Para tanto, este trabalho está estruturado em cinco capítulos, descritos a

seguir com uma breve apresentação:

Page 16: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

15

Capítulo Um – Introdução.

O capítulo apresenta a trajetória do pesquisador, como originou a

questão da pesquisa e a justificativa da mesma, bem como os procedimentos

metodológicos utilizados, os sujeitos da pesquisa e os instrumentos de coleta.

Capítulo Dois – Fundamentação Teórica.

Este capítulo aborda de forma sucinta o percurso da Informática na

Educação, o papel da atividade de programação no processo de

aprendizagem, os princípios construcionistas e a formação com ênfase no

conhecimento profissional do professor.

Capítulo Três – Software GEOGEBRA.

Apresenta o software GEOGEBRA, destacando alguns de seus recursos

e possibilidades de uso para explorar conceitos matemáticos. Alguns exemplos

são enfatizados com visualização de telas juntamente com as barras de

menus, barras de ferramentas e uma breve descrição de como utilizá-lo.

Capítulo Quatro – Oficina de Simetria – Fase de diagnóstico.

Este capítulo descreve e analisa as questões e atividades de diagnóstico

que ocorreram na fase inicial da Oficina de Simetria Axial desenvolvida para os

professores participantes dessa pesquisa.

Capítulo Cinco – Oficina de Simetria – Fase de intervenção.

Este capítulo descreve e analisa as atividades realizadas durante a fase

de Intervenção da Oficina de Simetria Axial desenvolvida pelos professores

participantes dessa pesquisa, destacando o uso do software GEOGEBRA e a

atividade de programação.

Considerações finais

Apresenta a análise das possíveis potencialidades do uso do software

GEOGEBRA para o aprendizado de simetria axial.

Page 17: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

16

CAPÍTULO UM – INTRODUÇÃO

1.1 Trajetória

No ano de 2000, tive a oportunidade de participar de um curso de 30

horas, voltado para o uso do software Cabri Geometri II1, que me permitiu

conhecer e explorar suas ferramentas. Nessa época era estudante do segundo

ano da licenciatura de Matemática, onde conclui a graduação em 2002.

Senti um encantamento pela possibilidade da movimentação que o

software permitia, pois o mesmo tem características de Geometria Dinâmica

(GD) - Figura com movimento mantendo as suas propriedades.

Minhas indagações para o uso da tecnologia com os alunos iniciaram

em 2004, como professor coordenador em uma unidade escolar estadual do

município de Hortolândia no Estado de São Paulo.

Nessa época constatei que a unidade escolar em que atuava estava

recebendo computadores e os professores não estavam preparados para a

utilização com os alunos. Alguns professores aventuravam a levar seus alunos

para utilizarem os computadores, mas poucos trabalhavam algo específico do

currículo. Trabalhavam com editor de texto, sala de bate papo na internet e

alguns softwares comprados pelo Estado.

Esse foi um momento muito importante, porém não justificava o

investimento dos equipamentos. As esferas governamentais (Federal e

Estadual) disponibilizaram cursos para um melhor aproveitamento desses

recursos, mas a utilização com os alunos era baixa.

Como Coordenador Pedagógico em uma unidade escolar do município

de Hortolândia, trabalhava com todos os professores de todas as disciplinas da

1 O Cabri-Géomètre é um software que permite construir todas as figuras da geometria

elementar que podem ser traçadas com a ajuda de uma régua e de um compasso – trecho retirado do site http://www.cabri.com.br/oquee.php em 15/01/2013.

Page 18: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

17

escola, mas minha formação específica me levava a uma conversa mais

amiúde com os professores de matemática, bem como sugerir atividades com

o uso dos computadores em suas atividades de sala de aula. Os softwares

mais utilizados para a matemática eram: Building Perspective, Divide and

Conquer, Factory, Graphers, Jogos de Funções, Siracusa, Thales.

Ficava evidente que os alunos gostavam de ir à sala dos computadores,

mas os professores nem tanto devido a vários fatores, tais como: a dinâmica

que ocorria dentro da sala, certa perda de controle dos professores com os

alunos, fragilidade dos equipamentos, como quebra e travamento, o que

desmotivava o corpo docente a utilizarem os equipamentos.

Apesar dessas dificuldades, a tecnologia na escola provocou algumas

mudanças na prática do professor e favoreceu algumas reflexões sobre os

processos de ensino e aprendizagem, bem como experiências inovadoras, mas

de forma pontual. E, mesmo com a evolução dos últimos anos dos meios de

comunicação, especialmente da internet, onde informações são trocadas,

colaboradas, formadas e divulgadas, as escolas apresentam dificuldades para

utilizar de forma sistemática as tecnologias digitais. Nesse momento em que

ser torna cada vez mais visível na sociedade a presença das tecnologias

digitais, a educação poderia aproveitar seu potencial na utilização das

diferentes mídias e linguagens, tais como: imagens, sons e vídeos, para

trabalhar pedagogicamente com os alunos que são nativos dessa cultura

digital.

Atualmente existe uma grande quantidade e diversidade de recursos

pedagógicos digitais que são disponibilizados pela internet. O Governo Federal

mantém um ambiente on-line para professores e alunos com diversas

ferramentas e objetos de aprendizagem, denominado Portal do Professor2.

2 O Portal do professor http://portaldoprofessor.mec.gov.br foi criado em 2008, com objetivo

de contribuir com a prática pedagógica dos professores, disponibilizando diversos materiais e propiciando a troca de experiências realizadas nas escolas.

Page 19: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

18

Foi nesse cenário da educação que fui convidado para participar de uma

entrevista na Diretoria de Ensino para ocupar a função de Professor

Coordenador de Tecnologia Educacional na Oficina Pedagógica da Diretoria de

Ensino da Região Sumaré. Iniciei essa função com um novo desafio:

desenvolver a formação dos professores de toda a Diretoria para uso das

Novas Tecnologias de Comunicação e Informação, conhecida como TIC.

Éramos três professores com a mesma função, eu com licenciatura em

Matemática e alguns cursos na área de servidores, redes e sistemas

operacionais, e outras duas professoras com muito conhecimento pedagógico

e na utilização desses recursos na educação, sendo uma delas com formação

em licenciatura também em Matemática e outra em Letras, mas ambas não

possuíam cursos técnicos.

Foi nessa função que aprendi com ambas as professoras o cuidado que

devemos ter em como utilizar os softwares, quais suas finalidades, que

conceitos trabalhar e como trabalhar. E foi observando e aprendendo com as

duas professoras, que percebi a diferença da formação que obtive no curso do

Cabri Geometri II e a formação realizada na Oficina Pedagógica. No curso em

que fui aluno (Cabri Geometri II), a ênfase era totalmente técnica, não se

discutia os conceitos matemáticos que poderiam ser explorados.

Comecei então a refletir sobre como deveriam ser as formações para o

uso da tecnologia para os professores de matemática. Atualmente no curso de

mestrado, na linha de formação de professores, tive a oportunidade de

aprofundar sobre estas questões que têm me instigado a compreender como a

formação continuada pode preparar o professor de matemática para integrar os

recursos da tecnologia aos conteúdos curriculares.

Para tanto, delimitando esta questão, o objetivo da investigação é de

verificar as potencialidades do software GEOGEBRA para o conteúdo de

Simetria Axial com um grupo de professores de Matemática que atua na

Educação Básica.

Page 20: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

19

1.2 A Questão da Pesquisa

Com base nas seguintes indagações:

Como a formação continuada pode favorecer aos professores o

aprendizado dos recursos tecnológicos indo além dos aspectos

operacionais do software no sentido de propiciar a reflexão e a

conceituação de conteúdos matemáticos?

Como podemos utilizar o GEOGEBRA para o ensino e aprendizagem

conceitual de Simetria Axial?

Estas foram às questões que norteavam meus pensamentos, de modo

delinear à questão central desta pesquisa: Quais são as potencialidades do

software GEOGEBRA para o conteúdo de Simetria Axial?

1.3 Procedimentos Metodológicos

A metodologia dessa pesquisa de natureza qualitativa integra elementos

da abordagem do Design Experiment de Cobb et al. (2003), que se constitui de

maneira dinâmica, interativa e cíclica permitindo ao pesquisador reformular as

atividades a partir das resoluções feitas pelos professores durante as ações

formativas.

Nesta abordagem metodológica, o pesquisador pode adotar

simultaneamente o papel de formador e pesquisador no contexto das ações

formativas desenvolvidas na Oficina sobre Simetria com o uso do software

GEOGEBRA voltado para professores da Educação Básica participantes do

Projeto do Observatório da Educação da UNIBAN.

Assim, a Oficina de Simetria Axial com a utilização do software

GEOGEBRA foi realizada como parte das atividades do Projeto do

Observatório da Educação, com duração de cinco encontros presenciais

quinzenais nos espaços da Diretoria de Ensino Região Norte-2.

Page 21: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

20

Essa Oficina constituiu-se de dois momentos: um voltado para o

diagnóstico e outro para a intervenção junto ao grupo de professores

participantes dessa pesquisa.

1.4 Sujeito da Pesquisa

Participaram dessa pesquisa um grupo de quinze professores de

matemática que lecionam no Ensino Fundamental II e Ensino Médio da rede

Estadual de São Paulo.

Esse grupo de professores, já vem participando de várias ações

formativas, realizadas por meio de Oficinas temáticas que se desenvolveram

ao longo do período de vigência do Projeto Observatório da Educação.

1.5 Instrumentos da Coleta

Os instrumentos de coleta dos dados utilizados na pesquisa foram:

Questionário de perfil (apêndice I) com a finalidade de conhecer os

participantes em relação à sua formação acadêmica, experiência como

professor, nível de utilização de computadores e de software

educacionais.

Questionário de Diagnóstico (apêndice II) com a intencionalidade de

fazer um diagnóstico dos professores participantes sobre o seu

conhecimento específico e pedagógico de Simetria Axial.

Protocolos de Intervenção: Conjunto de atividade I (apêndice III) e o

Conjunto de atividade II (apêndice IV), ambos com a finalidade de

observar, intervir e analisar o processo de resolução das situações

propostas relacionadas à Simetria Axial, bem como o uso de materiais

concretos (réguas e compassos) e do software GEOGEBRA.

A coleta desses dados foi realizada no primeiro semestre de 2012.

Page 22: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

21

1.6 Justificativa

Os recursos tecnológicos estão cada vez mais atrelados no nosso

cotidiano, seja no trabalho, em nossos lares ou em nosso lazer. E nas escolas

não é diferente, pelos dados apresentados do SIGETEC (Sistema de Gestão

Tecnológica)3 até 2006 existiam 201.657 unidades escolares com laboratório

de informática e atualmente com as novas políticas públicas e o rápido avanço

das tecnologias digitais esse número se amplia constantemente, além de

diversificar os recursos implementados nas escolas.

Vale recordar que no início da chegado dos computadores nas escolas

era comum ouvir os professores e gestores perguntarem: o que vamos fazer

com esses computadores? Agora que os laboratórios estão equipados, a

internet conectada e a sala de aula com possibilidades de ter acesso a diversos

recursos tecnológicos os questionamentos continuam, tais como: De que

maneira vamos utilizar pedagogicamente essas tecnologias digitais?

Essa é uma questão que vem sendo estudada por vários pesquisadores.

Destacamos os estudos de Fugimoto e Altaé, (2009) que relatam a existência

de muitas escolas ainda terem a preocupação em propiciar aos professores o

aprendizado operacional do computador. Embora o aprendizado técnico seja

necessário, ele não é suficiente para que o professor possa inserir o uso do

computador na sua prática pedagógica, dando ênfase ao processo de

construção do conhecimento dos alunos.

Muller (2001) retrata em sua tese de Doutorado que somente a

utilização dos novos recursos tecnológicos não são suficiente para mostrar a

sua importância no ambiente educacional. É necessário que haja o

envolvimento e a participação dos educadores para que essa tecnologia seja

efetivamente um fator importante nesse atual cenário.

3 http://sip.proinfo.mec.gov.br/sisseed_fra.php

Page 23: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

22

Isto significa que a implementação das tecnologias digitais envolve

outros aspectos que precisam ser considerados, uma vez que:

O problema com que defrontamos não é o simples domínio instrumental da técnica para continuarmos a fazer as mesmas coisas, com os mesmos propósitos e objetivos, apenas de uma forma pouco diferente. Não é tornar a escola mais eficaz para alcançar os objetivos do passado. O problema é levar a escola a contribuir para uma nova forma de humanidade, onde a tecnologia esteja fortemente presente e faça parte do cotidiano, sem que isso signifique submissão à tecnologia (Ponte, 2004, apud Kenski, 2007, p.67).

As práticas pedagógicas com computadores, segundo Valente (1993),

podem oscilar entre dois polos: instrucionista e construcionista. A abordagem

instrucionista se desenvolve na direção do ensino que prioriza o computador e

o software que ensina ao aluno. Nessa situação, o controle do ensino é feito

pela tecnologia, considerada uma máquina de ensinar na perspectiva

skinneriana, a qual transmitir informações e conteúdos organizados para que o

aluno memorize e reproduza respostas corretas.

A abordagem construcionista (que será melhor detalhada no capítulo

dois) definida por Papert (1985), que criticou os métodos instrucionistas,

enfatiza o uso do computador como uma ferramenta para construção de

conhecimentos. Nessa abordagem, o aluno ensina o computador, por meio de

um software para representar conhecimentos, expressar ideias, aplicar

conceitos e desenvolver estratégias de resolução de problemas.

Na perspectiva construcionista, Papert (1985) desenvolveu uma

metodologia e linguagem de programação denominada LOGO. Foi com o uso

dessa linguagem que os primeiros projetos de informática na educação no

Brasil foram implantados nas escolas públicas.

A partir dessa distinção de abordagens educacionais que fundamenta o

uso do computador, vários softwares foram desenvolvidos procurando

contemplar os princípios construcionistas, inclusive isto se tornou possível

também pelos estudos e proximidade de pesquisadores das áreas de

Page 24: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

23

conhecimentos afins (computação, psicologia, sociologia, linguística,

educação).

Dentre os softwares educacionais que podem favorecer o aprendizado

do aluno na perspectiva da construção do conhecimento, especificamente

matemáticos, destacamos o Cabri, Winplot, Geogebra. Tais software, segundo

Lobo da Costa et al (2013).

permite ao aluno visualizar propriedades, assim como perceber relações e particularidades entre os elementos envolvidos e as variáveis, favorecendo a discussão, argumentação, experimentação, entendida como verificação de conjecturas, que auxiliam na construção e na representação de conceitos (s/nº).

A pesquisa de Castro (2011) abordou o uso do software Winplot para

trabalhar função quadrática com os professores de matemática da educação

básica. Durante as ações formativas, a autora percebeu a necessidade de

retomar o conteúdo especialmente quando se trata de integrar as funções de

várias representações. Os professores tiveram dificuldades quando novas

representações conceituais foram abordadas, mostrando com isso que a

integração das tecnologias aos conteúdos curriculares não é simples, pois

requer novas construções de conhecimento.

Em relação à utilização do software GEOGEBRA, a pesquisa de

Rodrigues (2008) sobre a formação de professores de matemática, mostrou

que o trabalho com o software envolvendo conceitos de Geometria foi restrito

uma vez que não faz parte do cotidiano escolar desenvolver atividades sobre

tal conceito.

Vale ressaltar que a maioria das atividades teve como foco a álgebra, apenas uma proposta de atividade abordou conteúdo de geometria. O que retrata a realidade de nossas escolas, a falta de se trabalhar com régua e compasso no dia a dia escolar foi refletido no ambiente informatizado, mostrando que recursos tecnológicos são insuficientes quando os conceitos

matemáticos não estão bem definidos.” (p. 8).

Page 25: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

24

Nesse caso, a utilização do software deixou transparente que outras

tecnologias, materiais concretos, não estão sendo utilizados, ou os professores

de matemática não estão trabalhando os aspectos conceituais do conteúdo de

Geometria. Isto nos alerta para que a formação do professor não deve estar

somente voltada para a operacionalização dos recursos do software e sim para

o contexto de uso do software que envolve conteúdos específicos.

Trabalhar com materiais concretos e digitais pode ser um estratégia

pedagógica interessante, pois cada tipo de materiais possue características

próprias, que dependendo da realidade escolar, podem ser utilizados inclusive

de forma complementar. O importnte é fazer o uso desses materiais – concreto

e/ou digital - tendo clareza da intencionalidade pedagógica, de modo a

contribuir para que o aluno possa atribuir sentido para aquilo que estiver

aprendendo.

Outra pesquisa analisada trata-se da dissertação de mestrado de Fialho

(2010), que foi desenvolvida com alunos do terceiro ano do Ensino Médio

usando o GEOGEBRA. Em seus estudos, ficou evidenciada a existência de

construções geométricas equivocadas. E, isto foi possível de ser constatado

devido as propriedades dinâmicas que o software possibilita. O autor, diante

dessas constatações, sugeriu a realização de um pré-curso para ser trabalhado

os conceitos matemáticos antes de explorar os recursos do ambiente dinâmico

e estático.

A proposta de Filho (2010) em realizar um pré-curso sobre Geometria

Plana para depois utilizar o software Geogebra é totalmente contrária a

proposta pedagógica construcionista da qual defendemos. Os princípios

construcionistas norteadores de prática pedagógica destacam a importância de

o aluno utilizar as tecnologias para “aprender-fazendo”, por meio da vivência

do ciclo de aprendizagem.

A pesquisa de Silva (2010), desenvolvida também com o uso do

software GEOGEBRA com alunos, teve a finalidade de analisar as correções

de aprendizagem sobre o conteúdo de Simetria Axial. Seus estudos mostraram

Page 26: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

25

que antes de utilizar o software é indicado trabalhar no ambiente estático, ou

seja, utilizar materiais concretos (papel, réguas e compasso).

Tais estudos mostraram que o uso de softwares voltados para o

trabalho com os conteúdos matemáticos não são tarefas fáceis. Cabe

investigar sobre as potencialidades dos mesmos no sentido de compreender

como o seu uso pode favorecer no processo de construção do conhecimento

da matemática, sem perder de vista que

[...] a atitude de um professor no que diz respeito às tecnologias é multifacetada e que uma combinação ótima para a integração das TIC no currículo resulta de uma mistura balanceada de conhecimentos a nível científico ou dos conteúdos, a nível pedagógico e também a nível tecnológico.

(COUTINHO, 2012, p. s/nº).

Considerando essa complexidade da integração é que a presente

pesquisa busca identificar e compreender as potencialidades do software

GEOGEBRA para o conteúdo de Simetria Axial com um grupo de professores

de Matemática que atuam na Educação Básica.

A escolha do conteúdo de Simetria Axial se deu em conformidade das

observações que a simetria está presente na arte, na natureza e na arquitetura

com proporções impecáveis permitindo que um material seja dividido em partes

iguais utilizando propriedades geométricas como retas, segmentos de retas,

retas perpendiculares e ângulos, além de estar presente na proposta curricular

do Estado de São Paulo.

Page 27: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

26

CAPITULO DOIS – REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Informática na Educação

A Informática na Educação teve como marco o primeiro projeto de

pesquisa EDUCOM apoiado pelo governo brasileiro que se desenvolveu na

década dos anos 80. Nesse início da história foi fundamental a vinda de dois

pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT-USA), Seymour

Papert e Marvin Minsky ao Brasil, em 1975, a convite do Professor Ubiratan

D’Ambrósio, que na época era diretor do IMECC (Instituto de Matemática,

Estatística e Ciências da Computação) na UNICAMP. Esses pesquisadores

vieram para apresentar e discutir com um grupo de pesquisadores brasileiros

ideias poderosas e inovadoras acerca do uso do computador com crianças,

embasadas em pressupostos teóricos norteadores da metodologia da

Linguagem de Programação Logo (VALENTE, 1999).

A Linguagem LOGO foi desenvolvida na década de 60 por um grupo de

pesquisadores coordenado por Seymour Papert e se destacou no cenário

educacional pelo fato de ter sido criada com bases em princípios educacionais

distintos da visão mecanicista e reprodutora. O LOGO contrapõe

[...] o uso do computador como máquina de ensinar, onde o

aluno, um usuário passivo manipula uma máquina detentora de um “saber” coletado e organizado por uma especialista, que é apresentado ao aluno para propiciar-lhe a aquisição de habilidades ou conhecimento (ALMEIDA, et al, 1998, p. 13).

Papert (1985, 1994) defendeu o uso do computador como uma

ferramenta para construção de conhecimentos e desenvolveu uma abordagem

denominada construcionismo para orientar educacionalmente o trabalho com a

linguagem de programação LOGO.

Page 28: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

27

Nos anos finais da década de 80 o LOGO foi utilizado em vários Projetos

de implantação dos computadores nas escolas públicas e particulares. Dentre

eles, destacamos o Projeto Gênese no município de São Paulo e o Projeto

Eureka na cidade de Campinas, que tiveram como base fundamental as

experiências e pesquisas desenvolvidas no Projeto EDUCOM

(SIDERICOUDES, 1993; RIPPER, et al, 1993).

As experiências realizadas no contexto do Projeto EDUCOM, trouxeram

também subsídios para outras iniciativas do MEC na década de 90 com a

criação do Programa Nacional de Informática na Educação, responsável pela

disseminação da Informática na Educação no país. Nessa época foram criados

os Centros de Tecnologia Educacional em vários estados e municípios, para

acompanharem e darem suporte técnico e pedagógico na implantação dos

laboratórios de informática nas escolas públicas. Esse momento de

disseminação gerou a necessidade da formação de professores e

multiplicadores para atuarem pedagogicamente com os recursos do

computador (linguagem de programação Logo, aplicativos e alguns softwares

educacionais) nas escolas e nos Centros de Tecnologia Educacional.

Desde essa época o governo federal passou a investir em vários

programas de formação continuada de professores na área de Informática na

Educação, promovendo cursos de especialização e extensão desenvolvidos

em parceria com as Secretarias de Educação dos Estados e Universidades.

Essa formação continua até os dias atuais com novas propostas de cursos e

envolvendo diversas parcerias, principalmente porque as tecnologias digitais

avançam rapidamente exigindo do professor novas aprendizagens para lidar

com a variedade de equipamentos (lousa interativa, netbook, projetor, tablet),

softwares educacionais, objetos de aprendizagem, recursos educacionais

abertos e da Web, no contexto da escola.

Desde o início da formação, Valente (1993) destaca que a área de

Informática na Educação apresenta peculiaridades que precisam ser

consideradas nos cursos. O fato da Informática na Educação envolver

conhecimentos de áreas distintas requer uma forma de lidar com isto numa

Page 29: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

28

perspectiva integradora dessas duas áreas. Para isto, o participante do curso

deve vivenciar situações que propiciem tanto o domínio tecnológico como os

aspectos educacionais, que envolve compreender o que significa o

aprendizado e ensino usando os tais recursos, considerando as novas

maneiras de representação do conhecimento.

A Informática na Educação tem cerca de 30 anos de experiências e de

estudos desenvolvidos buscando encontrar caminhos que tornem viáveis e

efetivos o uso dos recursos das tecnologias digitais aos processos de ensino e

aprendizagem. O interessante é que mesmo com o avanço das tecnologias, os

princípios do Construcionismo criados por Papert continuam orientando as

análises e propostas de uso das tecnologias na educação, assim como, a

atividade de programação que teve seu auge nos anos 80 e que atualmente, é

retomada por meio de novas versões de softwares educacionais.

2.2. A Programação

Existem dois níveis de Linguagem de programação, um de alto nível e

outro de baixo nível. Essa classificação está atrelada ao processador e sua

arquitetura computacional. Uma linguagem de alto nível significa que está

distante do processador e mais próxima do usuário e a linguagem de baixo

nível, ao contrário, está mais distante do usuário e próxima da arquitetura do

processador. Portanto, uma linguagem indicada para ser utilizada no contexto

da educação e por usuários que não são programadores é a de alto nível,

como por exemplo, o LOGO.

Outra característica da programação refere-se ao paradigma subjacente

à linguagem, que merece ter uma atenção especial, no caso de ser usada em

contextos educacionais. Existem diferentes paradigmas de programação, tais

como: procedural, funcional, orientado a objeto e lógica. Cada um deles

envolve um tipo de representação da solução de um problema. O procedural

envolve escrever uma série de ações (usando o código da linguagem) que ao

ser executadas sequencialmente levam à solução. No paradigma funcional,

programar significa definir funções e conhecer o comportamento de funções na

Page 30: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

29

máquina, ou seja, os mecanismos de controle passam de iterativo a recursivos.

Já o paradigma orientado ao objeto simula o mundo real, ou seja, é mais

próximo de como expressamos as coisas na vida real (BARANAUSKAS, 1993).

Esse paradigma de programação vem sendo usado mais recentemente nas

novas versões da linguagem Logo, tal como o Squeak e o Scratch.

A linguagem LOGO, mais conhecida pelo seu uso educacional, possui

em toda sua estrutura computacional dois paradigmas de programação: a parte

gráfica representada pelo micromundo da Geometria da Tartaruga, que é

baseada no paradigma procedural, e a parte simbólica derivada da linguagem

Lisp, que requer outra maneira de representação da solução de um problema e

baseia-se no paradigma funcional.

Para entender algumas das implicações educacionais da atividade de

programação Logo, no paradigma procedural, que é acessível para ser usada

na educação básica, Valente (1999, 2002) criou um modelo explicativo da

espiral da aprendizagem. Essa espiral é constituída por um movimento

dinâmico de pensamentos e ações envolvendo: Descrição-Execução-Reflexão-

Depuração- (nova) Descrição que ocorre quando o sujeito interage com o

computador para resolver determinado problema, como ilustra a figura 1:

Page 31: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

30

Figura 1: Espiral da aprendizagem e a atividade de programação. Fonte: Prado, 2008, p. 61

Na figura 1, o sujeito para programar descreve, via comandos da

linguagem computacional, a resolução do problema e, o computador executa

de imediato os comandos na tela. O sujeito pode confrontar e ter o feedback

daquilo que pensou e descreveu com o resultado na tela do computador. Se o

resultado for o esperado, o ciclo pode continuar sem necessariamente provocar

a reflexão e a depuração. Mas, se o resultado for diferente do esperado o

sujeito (espontaneamente ou com a mediação do professor) passa a refletir

sobre a descrição da resolução do problema e a depurar aquilo que pensou em

relação à aplicação de conceitos e estratégias.

Nesse movimento cíclico, quando o resultado é diferente do esperado,

significa que algo está errado, mas na atividade de programação Logo, o erro

tem uma conotação diferente e é visto como parte do processo de

aprendizagem.

O processo de achar e corrigir o erro constitui uma oportunidade para o aluno aprender sobre um determinado conceito envolvido na solução do problema ou sobre as estratégias de resolução (VALENTE, 1993, p.35).

Page 32: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

31

A análise e a compreensão do erro levam a depuração que envolve o

aluno “... pensar sobre o conteúdo representado e a sua forma de

representação – pensar sobre o pensar...” (ALMEIDA, 2002, p. 24).

Outro aspecto importante destacado por Valente (1999, 2002) refere-se

ao feedback do computador que tem um caráter lógico, próprio da linguagem

computacional e, portanto, nem sempre pode ser suficiente para provocar a

reflexão. O autor chama atenção sobre a necessidade de o sujeito receber

feedback de seus pares e professores para que a reflexão e a depuração

aconteça de modo a propiciar o movimento da espiral de aprendizagem.

Essa explicação da espiral da aprendizagem na atividade de

programação, segundo os vários autores salientam (Valente, 1999; Almeida,

2002; Prado, 2003; Maltempi, 2004), pode ser aplicada em situações com o

uso de outros softwares e aplicativos. O importante é que as situações de

aprendizagem permitam ao sujeito envolver-se em ações significativas e

reflexivas, tendo a oportunidade de receber feedback, bem como a mediação

do professor, baseada na abordagem construcionista.

2.3. O Construcionismo

O termo construcionismo refere-se a uma teoria desenvolvida por

Seymour Papert (1985), que desde o início da Informática na Educação, mais

especificamente da criação da Linguagem de Programação Logo e de sua

abordagem educacional seus princípios vem norteando a mediação do

professor junto aos alunos usando as tecnologias.

Segundo Valente (1999), na abordagem construcionista o computador é

usado com foco diferente, ou seja, como uma ferramenta em que o aluno

ativamente possa explorar suas hipóteses, seu conhecimento intuitivo e/ou

formal, explicitar suas ideias, registrar seus pensamentos e conclusões, de

modo que neste processo o aluno possa construir conhecimentos. Uma

situação de aprendizagem baseada no construcionismo permite que o aluno

Page 33: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

32

construa um produto (um texto, como um relato, um desenho, um blog, um

gráfico, um vídeo) usando o computador.

O construcionismo é uma forma de conceber e utilizar as tecnologias de informação e comunicação em educação que envolve o aluno, as tecnologias, o professor, os demais recursos disponíveis e todas inter-relações que se estabelecem constituindo um ambiente de aprendizagem que propicia o desenvolvimento da autonomia do aluno, não direcionando a sua ação, mas auxiliando-o na construção de conhecimentos por meio de explorações, experimentações e descobertas

(ALMEIDA, 2002, p.25).

Nessa abordagem o papel do professor é diferente daquele que

transmite informação, ele passa a atuar como mediador do processo de

aprendizagem do aluno. O professor cria situações e propõe desafios

significativos para que os alunos possam construir conhecimentos. “... a melhor

aprendizagem ocorre quando o aprendiz assume o comando de seu próprio

desenvolvimento em atividades que sejam significativas e lhe despertem o

prazer” (PAPERT, 1985, p. 29).

Segundo Prado (2003, 2008), os princípios construcionistas foram

criados com base nos pressupostos de Piaget, que concebem o processo de

construção do conhecimento a partir das interações do sujeito com outras

pessoas e objetos.

Para a construção de um novo conhecimento, o sujeito precisa vivenciar situações nas quais possa relacionar, comparar, diferenciar e integrar os conhecimentos. Isso implica colocar em ação os processos funcionais de regulações, abstrações e equilibração que desenvolvem novas estruturas mentais de assimilação e acomodação (PRADO, 2008, p. 56).

A autora também salienta que Papert trouxe da pedagogia

desenvolvimentista as ideias de Dewey, que valorizam o interesse, a liberdade

do aluno e o aprender-fazendo. O aprender-fazendo é destacado por Prado

(2008) como sendo uma ideia chave na teoria do construcionismo, pelo fato de

envolver ações que tenham sentido para o aluno “possibilitando-lhe questionar,

Page 34: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

33

problematizar, refletir e desenvolver uma atitude de busca constante do

conhecimento” (p.57)

Assim, o construcionismo, que orienta as situações de aprendizagem

com o uso do computador, enfatiza a importância de propiciar ao aluno a

vivenciar o “hands-on” e “head-in”, que pode ser traduzido por mão-na-massa

e mente envolvida (PRADO, 2008). E, nessa situação, a mediação do professor

é fundamental, porém, não é simples. A mediação requer do professor o

domínio integrado do conhecimento pedagógico e tecnológico como tem

enfatizado (ALMEIDA; VALENTE, 2011). Entretanto, para que ocorra essa

integração é necessário repensar a formação considerando o conhecimento

profissional do professor.

2.4. A formação e conhecimento profissional do professor

A prática pedagógica efetiva e de qualidade exige um professor bem

preparado para trabalhar com os alunos e lidar as demandas que surgem no

cotidiano da escola. Por esta razão é preciso entender que a formação não

acaba ao término de um curso de graduação, quando no caso do professor, ele

é legitimado a assumir a docência. O aprendizado de qualquer profissional

deve ocorrer ao longo da vida, ou seja, deve fazer parte da sua trajetória. Isso

significa que a formação do professor precisa ser contínua, principalmente se

considerarmos as inovações científicas da sociedade atual.

A formação continuada deve propiciar aos professores o

desenvolvimento de ações reflexivas e investigativas sobre sua prática, de

modo que contribua para sua qualificação profissional.

O papel do professor torna-se cada vez mais complexo diante dos

avanços das tecnologias e das características da sociedade atual.

Particularmente, uma questão preocupante diz respeito ao professor das

series/anos iniciais do Ensino Fundamental, que geralmente são formados em

Pedagogia para atuarem como polivalentes, ou seja, para lidar com as

diferentes áreas do conhecimento e mais recentemente para integrá-las ao uso

Page 35: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

34

dos recursos das TDIC. Essa preocupação, também se estende com os

professores de matemática que se deparam cada vez mais com novos

recursos tecnológicos, os quais demandam novas saberes e práticas.

É fundamental entender o que o professor precisa saber para ensinar de

forma que o aluno possa aprender e desenvolver-se integralmente. Shulman

(1986) discute a base do conhecimento profissional do professor e organiza em

três categorias de conhecimentos necessários à docência: conhecimento do

conteúdo específico, conhecimento pedagógico geral e conhecimento

curricular. Posteriormente, Sztajn (2002) o autor incluiu mais uma categoria

denominada o conhecimento pedagógico do conteúdo. Esta última categoria

significa, por exemplo, que para ensinar matemática, o professor precisa

compreender o conteúdo e saber transformá-lo em algo pedagogicamente

viável para ser ensinado aos alunos.

Shulman (1987) elencou de forma mais detalhada essas categorias do

conhecimento profissional:

Conhecimento de Conteúdo: refere-se ao conteúdo específico da

matéria a ser ensinada;

Conhecimento Pedagógico Geral: constitui os princípios e estratégias

de manejo de sala de aula e organização, que transcendem a matéria

específica;

Conhecimento de Currículo: refere-se ao entendimento dos materiais

e programas que servem de ferramenta de trabalho para o professor;

Conhecimento de Conteúdo Pedagógico: que traz uma mistura

especial entre conteúdo e pedagogia;

Conhecimento sobre os alunos e suas características: implica em

conhecer como o aluno aprende, envolvendo os aspectos cognitivos,

emocionais e sociais.

Conhecimento do contexto educacional: envolve conhecer desde a

organização dos trabalhos com grupos ou classes, a administração e

finanças da unidade escolar até as características e cultura da

comunidade, onde está inserida a unidade escolar;

Page 36: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

35

Conhecimento das finalidades e propósitos educacionais: referem-se

os valores educacionais e sua base filosófica e histórica.

Sobre o conhecimento profissional Gauthier et al (1998) também

enfatizam que:

Pensar que ensinar consiste apenas transmitir um conteúdo a um grupo de alunos é reduzir uma atividade tão complexa quanto o ensino a uma dimensão, aquela que é mais evidente, mas é, sobretudo, negar-se a refletir de forma mais profunda sobre a natureza desse ofício de outros saberes que lhe são necessários (p. 20-21).

Esses autores, assim como Tardif (2002), destacam que os saberes que

são colocados em ação no contexto real do ensino referem-se a um saber

plural, heterogêneos e naturais da formação profissional. Tardif também

salienta aqueles saberes decorrentes das experiências passadas e atuais do

cotidiano da prática do professor. Nesse sentido, podemos entender que os

saberes profissionais são temporais e personalizados, são adquiridos na

experiência de vida de cada professor, conjugado com o modo de agir e ser,

uma vez que “carregam as marcas do ser humano” (p. 13).

Em se tratado das características da sociedade atual, permeadas pelas

novas tecnologias digitais, os processos de ensino e aprendizagem demandam

ampliações do conhecimento profissional do professor. E, nesse sentido, mais

recentemente, os pesquisadores Mishra e Koehler (2009) partiram do modelo

da base do conhecimento de Shulman e criaram um modelo denominado

TPACK - Technology, Pedagogy and Content Knowledge, que constitui pela

integração entre os três conhecimentos fundamentais: Conhecimento do

Conteúdo (CK), Conhecimento Pedagógico (PK) e Conhecimento Tecnológico

(TK).

Nesse modelo estrutural do TPACK, as autoras Prado e Lobo da Costa

(2013) enfatizam a sua importância no sentido de nortear os programas de

formação continuada do professor, com vistas propiciar o uso das TDIC na

prática do professor de matemática.

O TPACK é a base para a integração das TIC ao conteúdo curricular. E nessa abordagem a prática do professor que ensina matemática deve ser desenvolvida para propiciar a

Page 37: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

36

visualização de conceitos e propriedades, que evidenciam as relações e particularidades entre os elementos envolvidos e as variáveis, favorecendo a discussão e argumentação, bem como a experimentação, entendida como verificação de conjecturas, que auxiliam na construção e na representação de conceitos (PRADO & LOBO DA COSTA, 2013, s/nº).

Por esta razão as propostas de formação continuada de professores

com o uso da TDIC, nos dias de hoje, devem ser concebidas na perspectiva de

envolver as dimensões relacionadas aos saberes de Tardif (2002) e ao

conhecimento desse profissional comutativamente com a estrutura TPACK.

Page 38: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

37

CAPÍTULO TRÊS – O GEOGEBRA

3.1. O Software

O GEOGEBRA é um software de matemática com propriedades

dinâmicas, distribuição gratuita e de código fonte aberto, que utiliza recursos

como a régua, o compasso, as retas e círculos de forma digital permitindo a

construção de figuras geométricas.

O processo de construção das figuras é feito mediante o uso de menus em linguagem natural da geometria – ponto, reta passando por dois pontos,retas paralelas, retas perpendiculares, círculos, transformações geométricas, por exemplo. A régua virtual é dada no recurso Reta por Dois Pontos e o compasso virtual é dado no recurso Círculo com

Centro e Ponto. (Gravina et al, 2012,p.38-39).

O software pode ser adquirido no endereço eletrônico

http://www.geogebra.org e ser instalado no computador, tanto para o Sistema

Operacional Microsoft Windows como para o Sistema Linux. Existe também a

possibilidade de utilizar o software sem fazer a instalação, ou seja, ele pode ser

executado pelo navegador de internet.

O fato de possuir o código fonte aberto, possibilita fazer alterações de

suas funções padronizadas, deste o layout até a criação de novas ferramentas.

Por ter essa característica, é comum muitos programadores contribuírem

gratuitamente para a melhoria do software, gerando novas versões do mesmo.

Nessa pesquisa foi utilizada a versão 4.0. Segue uma breve descrição

de algumas ferramentas e funções ilustradas nas telas do GEOGEBRA:

A figura 2 mostra a tela inicial do GEOGEBRA que possui uma Barra de

Menus: Arquivo, Editar, Exibir, Opções, Ferramentas, Janela e Ajuda; uma

Barra de Ferramentas com 12 blocos e cada bloco possui outras funções;

Page 39: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

38

uma janela de álgebra, uma janela de visualização e uma caixa de entrada,

conforme a Figura 2:

Figura 2 - Tela Inicial do GEOGEBRA

3.2. Utilizando O Software

A utilização do software é considerada bem intuitiva pelos

usuários da área matemática. Por exemplo, caso queira inserir um ponto basta

clicar na barra de ferramentas deslizar o mouse para a segunda opção,

selecionar Novo Ponto e clicar na Janela de Visualização, conforme mostra

a Figura 3 que segue:

Page 40: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

39

Figura 3 – Inserir ponto pela barra de ferramenta.

Outra possibilidade de inserir um novo Ponto é pela caixa de entrada.

Para isso, o usuário deve digitar A = (2,2) e será inserido um ponto A na

Janela de visualização com a respectiva localização (2,2). E na Janela de

álgebra é possível verificar sua representação algébrica, conforme a Figura 4.

Page 41: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

40

Figura 4 – Inserir ponto pela caixa de entrada.

Essa ação também ocorre para equações e possibilita mostrar para o

usuário a relação de representação no plano cartesiano e no sistema algébrico.

[...] equações e coordenadas podem ser introduzidas diretamente com o teclado. O GEOGEBRA tem a vantagem de trabalhar com variáveis vinculadas a números, vetores e pontos. Permite determinar derivadas e integrais de funções e oferece um conjunto de comando próprio da análise matemática, para identificar pontos singulares de uma função, como raízes ou extremos. (HOHENWARTER e PREINER, 2007, p.5).

No caso da função y=x podemos digitá-la na caixa de entrada e na

janela de visualização será apresentado o gráfico correspondente. Como o

GEOGEBRA se configura um software dinâmico, pode-se utilizar a função de

controle deslizante com a finalidade de mostrar uma translação de um gráfico,

como mostra a figura 5:

Page 42: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

41

Figura 5 - Controle deslizante

Como exemplo, a variável b representa um número com intervalo [-5,5] e

ao deslizar horizontalmente segue uma progressão aritmética com razão 0,5.

Definidos os atributos para a variável b, e digitar y = x + b na caixa de

entrada, o GEOGEBRA permite apresentar o movimento do gráfico que ocorre

para a função y = x + b, com b=[-5,5], razão=0,5 para b de uma progressão

aritmética.

A Figura 6 que segue apresenta o valor b=0, logo y = x, ao deslizar a

variável b para o valor 1 ocorre y = x + 1, podendo ser trabalhado a translação,

propriedades da função, os intervalos como exemplo.

Page 43: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

42

Figura 6 - Manipulando o controle deslizante

Para a construção de um quadrado utilizando o GEOGEBRA uma das

possibilidades é utilizar as funções de criação de pontos, retas, retas

perpendiculares e círculo, conforme Figura 7:

Page 44: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

43

Figura 7 - Construção do quadrado

A figura formada pelos pontos ABEC são os vértices de um quadrado e,

pode-se observar, que na janela de álgebra os objetos estão representados

algebricamente, como no caso do ponto A = (0.68, 3.98) e na janela de

visualização podemos visualizar o ponto A.

Outra opção que pode ser interessante é utilizar a função protocolo de

construção localizada na barra de menu Exibir, que mostra as definições que

foram criadas e para o exemplo do quadrado, como mostra a Figura 8:

Page 45: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

44

Figura 8 - protocolo de construção do quadrado

Nesse exemplo o Ponto A e Ponto B foram criados sem dependências.

Foi selecionado com o mouse a função novo ponto e clicado em um lugar

qualquer da janela de visualização. Por esse motivo não possui definição, não

pode ser comparada com a definição de ponto da Geometria Euclidiana.

Semelhante ao item 3, reta a é definida pelo GEOGEBRA como Reta

AB, ou seja, reta a é o nome do objeto criado e definido como uma reta que

passa pelos pontos AB (Reta AB).

No caso do item 7 temos na coluna nome Ponto C e também de nome

Ponto D (aparentemente o software duplicou o número do item 7, isso ocorre

devido a definição ser a mesma) não se trata de qualquer ponto e sim de um

ponto de interseção de um círculo (d) com a reta c.

Page 46: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

45

Na definição do item 8 (Reta e) definida pelo GEOGEBRA (Reta

passando por C e perpendicular a c), temos um código escrito e deve ser

decodificado, o que é C ( C maiúsculo) e c ( c minúsculo)? O C (C

maiúsculo) é um ponto e o c (c minúsculo) uma reta, assim a definição “Reta

passando por C e perpendicular a c” remete a uma reta que passa pelo

ponto C e é perpendicular à reta c.

O GEOGEBRA apresenta uma linguagem de codificação que

aparentemente pode ser uma ferramenta favorável a uma aprendizagem

relacional e com alto nível de abstração. Aprendizagem relacional definido

pelas próprias ideias de suas palavras: aprendizagem – ato de aprender,

relacional – ato de relacionar.

Essa pesquisa utilizou o GEOGEBRA para trabalhar com o conteúdo de

Simetria Axial, uma vez que este software oferece ferramentas específicas de

Simetria com possibilidades de explorar várias funções, tais como:

Reflexão em relação a uma reta;

Reflexão em relação a um ponto;

Reflexão em relação a um círculo (inversão);

Rotação em torno de um ponto por um ângulo;

Translação por um vetor;

Homotetia dados centro e razão.

A figura 9 mostra as ferramenta de Simetria e as várias funções:

Page 47: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

46

Figura 9 – Ferramenta de simetria.

Tomamos um exemplo de utilização da ferramenta “Reflexão em

relação a uma reta”, para desenhar o simétrico da Figura A em relação à reta

que passa pelos pontos DE, conforme mostra a Figura 10:

Page 48: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

47

Figura 10 - Exemplo de utilização da ferramenta Reflexão em relação a uma reta

Os procedimentos utilizando a função do GEOGEBRA são:

Primeiro selecione a ferramenta “Reflexão em relação a uma

reta”;

Selecione a figura de vértice A, B e C;

Clique na reta que passa pelos pontos DE.

A Figura 11 mostra a resolução do exemplo na janela de visualização do

software:

Page 49: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

48

Figura 11 - Resolução do exemplo da ferramenta Reflexão em relação a uma reta.

Dependendo do objetivo do professor, a existência dessa função pode

prejudicar o trabalho conceitual da simetria e de suas propriedades, mas o

software permite que a mesma possa ser ocultada, assim como, qualquer outra

ferramenta que desejar.

Para ocultar uma ferramenta, basta selecionar o menu Ferramentas no

GEOGEBRA, optar pela ação Configurar Barras de Ferramentas, escolher a

ferramenta que deseja ocultar e clicar no botão remover, como mostra a Figura

12.

Page 50: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

49

Figura 12 – Ocultar a ferramenta de reflexão.

Pode-se observar na Figura 13, em ambas as telas do GEOGEBRA, que

uma está com o botão Simetria visível, e pode ser acionado para utilizar as

várias funções e, que a outra, está sem a visualização do botão Simetria, ou

seja, o botão ficou oculto na tela.

Figura 13 - Comparação de tela do GEOGEBRA.

Conforme já mencionado, qualquer função pode ser ocultada. Esse

exemplo é uma alternativa que o professor pode utilizar dependendo de seus

objetivos pedagógicos, principalmente quando tiver a intenção de propiciar ao

aluno desenvolver a prática de programação.

Page 51: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

50

No próximo capítulo será apresentada a fase de diagnóstico

desenvolvida na Oficina de Simetria Axial para os professores da educação

básica participantes da pesquisa.

Page 52: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

51

CAPÍTULO QUATRO – DIAGNÓSTICO

4.1. Oficina de Simetria – Fase de diagnóstico.

Para o diagnóstico foram utilizados dois instrumentos de coleta, o

primeiro contém dois questionários, sendo um de perfil (apêndice I), com

questões relacionadas à formação dos professores participantes com o uso das

TDIC tanto pessoal como profissional. Mais especialmente, sobre a prática

desenvolvida com os alunos e sobre as dificuldades de aprendizagem em

relação à simetria. O outro instrumento (apêndice II) foi constituído por um

conjunto de questões específicas de simetria axial, que visa saber como os

professores lidam com esse conteúdo na prática pedagógica.

Os dados do questionário do Perfil dos professores mostraram em

relação à situação funcional que seis professores lecionam no Ensino

Fundamental, seis no Ensino Médio e três professores nos dois tipos de

ensino. E em relação ao tempo de atuação, ou seja, de experiência em sala de

aula com alunos, seis professores atuam com mais de quinze anos de

experiência, seis até cinco anos e três nesse intervalo de tempo.

Quanto à formação acadêmica, os quinze professores têm curso

superior e, desses, apenas dois não possuem graduação em Matemática,

sendo graduados em administração e engenharia mecânica. Outro fato que

chamou atenção foi que desse grupo de professores, treze deles já

participaram de algum curso de formação continuada durante a sua trajetória

profissional.

Estes dados demonstraram que esse grupo possui experiências como

professores na educação básica e busca o aperfeiçoamento profissional

participando de cursos de formação continuada. Este fato se confirma pela

participação nas várias ações formativas desenvolvidas pelo Projeto do

Page 53: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

52

Observatório da Educação, sendo uma destas ações o contexto em que esta

pesquisa se realiza.

Neste diagnóstico foi também constatado o tipo de uso que o grupo de

professores faz do computador, conforme mostra o gráfico 1.

Gráfico 1 - Uso do computador feito pelo grupo de professores

Observa-se nesse grupo de professores que é quase unânime o uso da

internet, mas é restrito em relação ao uso de aplicativos e softwares

educacionais. Especificamente, se tratando de planilhas eletrônicas, apenas

cinco professores utilizam esse recurso, fato que nos chamou atenção por ser

um aplicativo que possui recursos que envolvem manipulação de fórmulas

matemáticas. Da mesma maneira, para o uso de softwares educacionais,

apenas quatro professores utilizam essa ferramenta, uma vez que existem

vários softwares voltados para área de matemática como, por exemplo,

GEOGEBRA, CABRI GEOMETRI, WINPLOT, FACTORE e outros simuladores

on-line.

Entendemos que existem várias causas que impedem e/ou dificultam o

uso de aplicativos e softwares educacionais na prática docente. Considerando

que a maioria do grupo, dez professores, não teve contato com o computador

durante a formação inicial, este fato pode ter influenciado, uma vez que o uso

dos recursos tecnológicos requer o desenvolvimento de novas práticas

Page 54: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

53

pedagógicas. E isto não é simples, pois mudar a prática, muitas vezes, pode

tirar o professor de uma “zona de conforto”, como salienta BORBA;

PENTEADO (2001). Segundo esses autores, a “zona de conforto” é aquela em

que o professor sente que pode prever e controlar quase todos os eventos que

surgem na sua prática de sala de aula. Com a presença das TDIC na prática

pedagógica, fica mais difícil assumir atitudes previsíveis e de controle sobre o

encaminhamento da aula; muitas vezes o professor vivencia uma “zona de

risco”, pois precisa lidar com situações inusitadas.

Por essa razão é necessário propiciar cursos de formação continuada,

de modo que preparem o professor tanto para aprender a operacionalizar os

recursos do computador como para compreender as implicações pedagógicas

envolvidas.

4.2. Diagnóstico do aluno – na visão do professor

Em relação ao conhecimento pedagógico da Simetria Axial sete

professores reconheceram que os alunos apresentam dificuldades de

aprendizagem, seis professores indicaram que os alunos não têm dificuldades

e dois não souberam fornecer esta informação, conforme mostra o gráfico 2.

Gráfico 2 - Dificuldade dos alunos em relação à Simetria axial

Page 55: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

54

Com o objetivo de saber dos professores participantes quais recursos

didáticos podem auxiliar na aprendizagem da Simetria, dez professores

responderam que existem softwares educacionais e cinco professores não

responderem essa questão. E, quando questionados se conhecem algum

software específico para o ensino e aprendizagem de simetria, treze

professores responderam desconhecer.

Nota-se que os professores reconheceram que existem dificuldades de

aprendizagem por parte dos alunos em relação à simetria e também

expressaram que o uso de software pode auxiliar nos processos de ensino e

aprendizagem. Entretanto, o que nos chamou atenção foi o fato da maioria

responder que acredita no potencial dos softwares mesmo sem conhecer

softwares destinados ao conteúdo matemático em questão.

Esse fato indica que possivelmente existe expressa uma crença já

arraigada no âmbito educacional de que softwares educacionais podem

contribuir nos processos de ensino e aprendizagem sem a devida

compreensão de suas potencialidades e restrições pedagógicas.

4.3. Diagnóstico do conteúdo de Simetria Axial – na visão do

professor

O segundo instrumento de diagnóstico se constituiu de algumas

atividades específicas sobre simetria a serem realizadas pelos professores.

Foi solicitado que os professores respondessem o número de eixos

simétricos de algumas figuras, como mostra as questões que seguem:

a) Quantos eixos de simetria tem um quadrado?

b) Quantos eixos de simetria tem um retângulo não quadrado?

c) Quantos eixos de simetria tem um paralelogramo não retângulo?

d) Quantos eixos de simetria tem um círculo?

Page 56: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

55

A intenção destas questões era de conhecer o que os professores

sabiam sobre eixo simétrico.

Em relação aos eixos de simetria de um quadrado, houve três tipos de

resolução, conforme mostra o gráfico 3.

Gráfico 3 - Quantidade de eixos simétricos no quadrado

A maioria, nove professores, considerou que a figura do quadrado

apresenta apenas dois eixos simétricos, sendo um eixo horizontal e outro na

vertical.

Somente quatro professores responderam adequadamente, quatro eixos

simétricos e, estranhamente, dois professores consideraram existir um eixo

simétrico na horizontal, outro na vertical e um eixo na diagonal. Tais respostas

demonstraram que existem dúvidas sobre esse assunto.

Quanto aos eixos de simetria de um retângulo não quadrado, tivemos

dois tipos de respostas, conforme mostra o gráfico 4.

Page 57: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

56

Gráfico 4 - Quantidade de eixos simétricos no retângulo não quadrado

Apesar de quatorze professores terem respondido adequadamente que

a figura do retângulo não quadrado possui dois eixos simétricos, esta

conclusão não surgiu prontamente. Houve um momento de discussão, fazendo

conjecturas e experimentações (dobrando a folha da atividade) para

certificarem suas respostas. Mesmo assim, um dos professores manteve sua

opinião de que a figura tem três eixos simétricos. Foi esse professor que

também identificou três eixos na figura do quadrado, mostrando com isso uma

compreensão equivocada dos eixos simétricos.

Na questão sobre a quantidade de eixos de simetria de um

paralelogramo não retângulo, nove professores responderam adequadamente

dois eixos simétricos, cinco não responderam essa atividade e um professor

respondeu que não existe eixo simétrico para essa figura, conforme o registro

na folha de atividade: “se não é retângulo não tem eixo de simetria”.

Considerando essa fala do professor e aqueles que não responderam a

questão, podemos interpretar que, possivelmente, esses professores tiveram

dificuldades para visualizarem a figura de um paralelogramo não retângulo.

Em relação ao eixo de simetria de um círculo houve quatro tipos de

respostas, conforme mostra o gráfico 5.

Page 58: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

57

Gráfico 5 - Quantidade de eixos simétricos de um círculo

Somente dois professores responderam adequadamente que existem

infinitos eixos simétricos de um círculo, quatro professores responderam um

eixo, seis professores responderam dois eixos e três professores responderam

quatro eixos.

O grupo de professores que respondeu existir dois e quatro eixos

simétricos interpretamos que, possivelmente, os professores fizeram algum tipo

de relação equivocada com base nas atividades anteriores (eixos simétricos do

quadrado e do retângulo não quadrado).

Esse conjunto de questões envolvendo a quantidade de eixos simétricos

em diversas figuras mostrou que existem, por parte de alguns professores,

compreensões equivocadas que precisam ser revistas para que possam

explorar o conceito de simetria axial, através de diversos recursos na prática

pedagógica.

Para verificar a compreensão dos professores, sobre simetria axial, foi

apresentada uma questão aberta para que pudessem explicitar, por meio da

escrita, a sua compreensão incluindo exemplos.

Page 59: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

58

Em relação a essa questão houve três tipos de respostas, conforme

mostra o gráfico 6.

Gráfico 6 - Questão sobre simetria axial

Somente dois professores responderam adequadamente, nove

professores responderam de forma não adequada e quatro professores

responderam que não lembram.

Para exemplificar as respostas inadequadas dos professores, seguem

cinco protocolos e sua transcrição para uma melhor visualização:

Figura 14 - Protocolo do professor T

“Simetria em relação a um eixo fixado de acordo com sua referência, conveniência, para mostrar um detalhe, um corte.” (transcrição do protocolo do professor T).

Page 60: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

59

Figura 15 - Protocolo do professor X

“Quando o lado são exatamente iguais, como por exemplo personalidades tem a face/face do rosto exatamente iguais na simetria, ou seja a simetria axial” (transcrição do protocolo do professor X).

Figura 16 - Protocolo do professor Y

“É uma isometria, segue abaixo três tipos: - Simetria pelo eixo de simetria; - Simetria por rotação; - Simetria por translação” (transcrição do protocolo do professor Y).

Figura 17 - Protocolo do professor W

“Projeção de pontos de uma figura para o outro lado (como se fosse espelho)” (transcrição do protocolo do professor W).

Page 61: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

60

Figura 18 - Protocolo do professor Z.

Nota-se nos protocolos das atividades dos professores que existem

compreensões frágeis e equivocadas sobre o conceito de Simetria Axial.

Esse fato nos instigou a fazer um levantamento com o grupo para saber

se o tema Simetria estava inserido no currículo de suas unidades escolares.

Quatorze professores responderam que esse conteúdo consta no currículo, os

professores do Ensino Fundamental responderam que Simetria aparece a partir

do sexto ano e os professores que lecionam no Ensino Médio explicitaram que

utilizam a simetria no estudo da função quadrática. Apenas um professor

respondeu que a simetria não fazia parte do currículo da escola.

Considerando que o conteúdo de simetria faz parte do currículo, foi feito

um levantamento de como os professores trabalhavam esse assunto com os

alunos, ou seja, quais recursos eram utilizados e que tipo de atividades eram

propostas. E as respostas foram agrupadas por similaridades:

Com espelhos planos;

Com imagens de pirâmides;

Utilizando softwares educativos, folhas quadriculadas;

Pontos opostos com o mesmo módulo;

Reta numérica;

Eixo que divide uma parábola no meio;

Utilizando dominó

Page 62: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

61

De fato, todos estes recursos apontados pelos professores podem ser

utilizados no ensino de simetria. Mas, em suas respostas não ficou claro como

o uso de tais recursos era feito, ou seja, não ficou esclarecido as dinâmicas e

estratégias pedagógicas.

Em suma, a fase de diagnóstico mostrou que esse grupo possui

experiências em sala de aula, mas não utiliza aplicativos e softwares

educacionais, apesar de expressar reconhecimento da sua importância como

ferramenta para o ensino e aprendizagem. Em relação à Simetria Axial não

ficou claro como é trabalhado com os alunos e quanto ao conhecimento do

conteúdo do professor sobre esse conceito há indícios de que existem

fragilidades e equívocos. A partir dessas constatações, foi elaborada e

desenvolvida a segunda fase da Oficina, envolvendo a intervenção do

formador-pesquisador.

No capítulo a seguir apresentamos as atividades propostas, suas

resoluções e as estratégias pedagógicas utilizadas incluindo o uso do software

GEOGEBRA.

Page 63: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

62

CAPÍTULO CINCO – INTERVENÇÃO

5.1. Oficina de Simetria – Fase de intervenção.

Esta fase da Oficina, caracterizada de intervenção constituiu de

atividades com objetivos relacionados ao conceito de Simetria Axial, por meio

da exploração do uso de várias ferramentas concretas (réguas, compasso e

espelhos) e do software GEOGEBRA.

Durante as Oficinas foram apresentadas várias atividades para os

professores de forma gradativa, permitindo resoluções intuitivas, das quais

eram discutidas e analisadas no grupo visando a identificação e a

sistematização das propriedades da simetria axial.

5.2. Atividade um de intervenção

Como a metodologia da oficina se desenvolveu baseada nos elementos

de Design Experiment, a primeira atividade de intervenção resgatou uma

questão que foi trabalhada no questionário de diagnóstico relacionada à

quantidade de eixos de simetria de algumas figuras geométricas.

O objetivo foi de propiciar aos professores a identificação da quantidade

de eixos de simetria nas figuras do quadrado, do retângulo não quadrado, do

paralelogramo não retângulo e do círculo.

A estratégia utilizada foi de permitir aos professores a exploração de

materiais concretos, no caso, o espelho para que pudessem visualizar a

quantidade de eixos simétricos das figuras apresentadas.

As dúvidas mais recorrentes dessa atividade estavam em saber:

Se as diagonais de um quadrado são eixos de simetria?

Page 64: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

63

E se as diagonais de um retângulo propriamente dito também são

eixos de simetria?

Para esclarecer essas dúvidas, os professores utilizaram os espelhos e

puderam confirmar visualmente que as diagonais do quadrado são eixos de

simetria e as diagonais do retângulo propriamente dito, não são eixos de

simetria.

Em relação às figuras paralelogramo não retângulo e o círculo, os

professores puderam certificar a quantidade de eixos de simetria existente e

também reconheceram que foi esclarecedora essa experiência com o uso do

espelho, porque permitiu fazer explorações relacionadas ao eixo simétrico.

Como essa experiência foi significativa para os professores, eles

imediatamente manifestaram que poderia ser uma estratégia interessante para

ser aplicada em sala de aula de modo a contribuir para a aprendizagem dos

alunos. Mas, logo em seguida perceberam que no contexto da escola o uso

dos espelhos não seria adequado, por uma questão de segurança, pois os

alunos poderiam se machucar com o manuseio dos espelhos.

Dando continuidade às atividades com o uso dos espelhos foi

apresentada uma nova situação como mostra a Figura 19:

Figura 19 - Atividade de eixo simétrico

Nessa atividade os professores, a partir do reconhecimento de que a

figura do círculo possui infinitos eixos, transportaram essa mesma ideia para a

Page 65: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

64

resolução da atividade acima, ou seja, focaram apenas a figura do círculo e

não da imagem representada na figura 19. A resposta correta é que a figura

apresenta apenas um eixo de simetria, mas não foi essa a resolução da

maioria dos professores, mesmo utilizando o espelho. Nesse momento o

formador-pesquisador interveio pontualmente explicando o motivo de a imagem

ter apenas um eixo de simetria, conforme ilustra a Figura 20:

Figura 20 - Resolução com espelho

Embora a figura seja um círculo, a mesma apresenta uma parte de sua

área pintada (ranchurada), logo a propriedade de infinitos eixos simétricos para

um círculo não atende para essa figura. Provavelmente a dúvida dos

professores deve ter ocorrido pelo fato de estarem com o pensamento centrado

na certificação vista apenas dos eixos simétricos do círculo, não identificando

as propriedades de simetria, que vai além da visualização.

Considerando a necessidade de explorar e compreender as propriedades

de simetria, foi proposto para os professores um novo conjunto de atividades.

5.3. Atividade dois de intervenção

O objetivo foi de propiciar aos professores a vivência de situações que

valorizam a identificação das propriedades de figuras simétricas.

Para isto foi utilizada como estratégia a apresentação de algumas

figuras que deveriam ser complementadas, conforme consta no quadro 1.

Page 66: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

65

Essas atividades poderiam ser feitas com apoio de materiais concretos, no

caso, papel, lápis e régua.

Quadro 1- Atividade de completar figuras

Nos itens 1 e 2 do quadro 1 de atividades, os professores resolveram com

facilidade, mas as resoluções dos itens 3 e 4, ao contrário, demonstraram

dificuldades. Possivelmente isto aconteceu devido à inclinação do eixo de

simetria.

Os procedimentos utilizados pelo grupo de professores valorizavam a

manipulação do objeto, dos quais dobravam as folhas para resolverem as

atividades. Mesmo sem a presença dos espelhos a dobradura simulava a

imagem refletida no papel, como mostra na Figura 21:

Page 67: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

66

Figura 21 – Protocolo 1 de resolução da atividade de intervenção dois

A figura 22 mostra diferentes estratégias de resolução: uma delas, o

professor dobra a folha para ajudar a visualizar a parte complementar da figura

e, em outras, faz várias tentativas com o auxílio de régua, lápis e compasso.

Figura 22 - Protocolo 2 de resolução da atividade de intervenção dois

O procedimento de dobrar a folha na resolução da atividade se mostrou

funcional, porque ao dobrar a folha no eixo simétrico é possível marcar os

pontos simétricos refletidos, permitindo completar a figura. Mas esse método

não coloca na luz as propriedades, ou seja, as distâncias, os ângulos e retas

perpendiculares. A ação em dobrar a folha é concreta, no entanto, essas

propriedades permanecem ocultas e, logo, abstratas.

A ideia de dobrar a folha pode ser vista, a princípio como uma estratégia

interessante para resolver a atividade, mas é restrita porque não deixam

visíveis as marcações de ângulos, retas e medidas.

Outros professores que resolveram sem a ação de dobrar a folha

utilizando réguas e compassos se apoiaram apenas em uma das propriedades

“à distância”, não apresentando sucesso em suas resoluções.

Page 68: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

67

Dessa forma foi necessário desenvolver outra atividade de intervenção

com a finalidade de propiciar aos professores identificar a existência de todas

as propriedades contidas na simetria axial.

5.4. Atividade três de intervenção

O objetivo dessa atividade foi semelhante da anterior, ou seja, de

propiciar aos professores a vivência de situações que valorizam todas as

propriedades simétricas, de forma mais direta e clara.

Foi utilizado um conjunto de três atividades, conforme mostra o quadro

2, para serem resolvidas utilizando duas diferentes estratégias: uma com o uso

de materiais concretos (folha de papel, régua, compasso) e, a outra, com o

software GEOGEBRA.

Quadro 2 - Conjunto de atividades da intervenção três

Page 69: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

68

5.4.1. Resolução com o uso de materiais concreto

As atividades 1 e 2 apresentam duas figuras simétricas (figura A e figura

B) separadas por um eixo simétrico. A tarefa para os professores participantes

era de anotar suas observações acerca das propriedades geométricas

identificadas. A atividade 3 apresenta apenas a figura A e um segmento de reta

para que os professores possam construir a figura B simétrica à figura A.

Nota-se que nesse conjunto de atividades os professores puderam

identificar algumas propriedades de simetria, uma vez que as mesmas se

apresentavam de forma mais visível para essa situação. Assim os professores

puderam relatar suas observações, conforme mostram os registros dos

protocolos dos professores nas figuras 23 e 24 a seguir:

As Figura 23 e Figura 24, referem-se aos protocolos de dois professores

sobre a resolução da atividade 1 do quadro 2, juntamente com as transcrições

de suas anotações para melhor visualização:

Page 70: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

69

Figura 23 - Protocolo professor A da atividade de intervenção três do primeiro

conjunto.

- Distância através do eixo; -Retas // nos feixes entre si; - Perpendiculares ao eixo dado; -Os ângulos se mantém; -Se mantém as retas, inclinação, distância, perpendicularidades. (transcrição do protocolo professor A).

Page 71: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

70

Figura 24 - Protocolo professor B da atividade de intervenção três do primeiro

conjunto..

1- Pontos simétricos (A e A’) com igual distância do eixo IJ; 2- Linhas perpendiculares ao eixo IJ; 3- O mesmo procedimento acima para todos os pontos. (transcrição do protocolo professor B).

Os registros nos protocolos dos professores A e B mostraram as

resoluções referentes à atividade 1 do quadro 2. Na resolução do professor A

(figura 23), identificamos que ele observou as relações das Retas // nos feixes

entre si, além das Distâncias através do eixo, das Perpendiculares ao eixo

dado e da manutenção dos ângulos.

A resolução do professor B (figura 24) evidencia que não foram utilizadas

as propriedades da medida do ângulo, a sua resolução se deu com base nas

distâncias dos pontos e da linha perpendicular em relação ao eixo.

Podemos perceber que as resoluções da atividade 1 (quadro 2) foram

próximas. O que causou certa estranheza para os professores foi a atividade 2

(motivo pela qual o eixo apresentava-se inclinado) a qual contribuiu para a

discussão e visualização da propriedade reta perpendicular em relação ao eixo

simétrico.

Em relação à atividade 3, a resolução do professor A (figura 25) mostrou

que foram utilizadas as propriedades observadas anteriormente nas atividade 1

Page 72: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

71

e 2. Isso indica que o processo de observar a figura simétrica e identificar as

relações existentes auxiliou o professor a utilizar o pensamento mais

matemático, ou melhor, utilizar outras formas de resolver o problema. Nessa

resolução o professor A não fez o uso do procedimento de dobrar a folha de

papel para encontrar a figura simetria e sim utilizou as propriedades

geométricas mais visíveis, como mostra a figura 25 que segue:

Figura 25 - Protocolo professor A da atividade de intervenção três.

Ficou evidenciado que o conjunto das três atividades realizadas com o

uso de materiais concretos (papel, régua, compasso) nesta oficina durante a

fase de Intervenção, favoreceu ao grupo de professores a retomada de

conceitos geométricos por meio da exploração, experimentação e discussão de

ângulos e retas. Esse contexto de estudo em que o grupo de professores fez

registro dos procedimentos de resolução e pode discuti-los com os colegas e o

formador-pesquisador mostrou-se bastante propício para a utilização do

software GEOGEBRA, saindo da situação estática das figuras e entrando para

algo mais dinâmico, utilizando uma nova estratégia de ensino e aprendizagem.

Page 73: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

72

5.4.2. Resolução com o uso do software GEOGEBRA.

O mesmo conjunto de atividades apresentado no quadro 2 foi trabalhado

com os professores participantes com o uso do softwares GEOGEBRA. Isto

porque o objetivo dessa pesquisa foi de verificar as potencialidades do uso do

GEOGEBRA nos processos de ensino e aprendizagem do conceito de simetria

axial.

Além disso, vale destacar que os professores tinham expectativas,

conforme constatado no diagnóstico, que o trabalho com o software poderia

auxiliar na aprendizagem dos alunos, embora ainda não tivessem feito o uso

dessa ferramenta. De fato, as pesquisas mostraram que o uso dessa aplicação

pode possibilitar o desenvolvimento de novas estratégias de aprendizagem por

meio da exploração dos recursos de movimento, visualização e simulação.

Considerando tais aspectos e o fato de os professores participantes não

terem familiaridade com o GEOGEBRA, inicialmente, ou seja, antes de

elaborarem as atividades do quadro 2, o formador-pesquisador propôs algumas

atividades exploratórias do software, tais como: ponto, retas, ângulos e os

movimentos. Nesse momento pontual de exploração não foi tratado do

conteúdo de simetria axial, pois a intenção foi apenas propiciar aos professores

o manuseio de alguns recursos do GEOGEBRA.

Assim, terminado o momento de exploração do software, o próximo passo

da intervenção foi a apresentação da proposta com as atividades do quadro 2

para serem feitas pelos professores participantes, agora usando o software

GEOGEBRA. No entanto, cabe ressaltar que o formador-pesquisador, como

tinha a intenção de trabalhar com o conceito de simetria axial integrado com a

tecnologia, usou como estratégia pedagógica ocultar o botão de simetria da

barra de menu do GEOGEBRA. Essa estratégia utilizada criava um novo

desafio para os professores, pois o fato da função não estar disponível, eles

teriam que explorar as ferramentas auxiliares, tais como retas, ângulos e

circunferências para resolver as atividades propostas (quadro 2).

Page 74: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

73

A seguir, são apresentados dois protocolos da atividade 1 do quadro 2

(figura 26 e figura 27) realizadas pelos professores A e B. Salientamos que

foram os mesmos professores que realizaram a atividade elaborada no papel,

mas agora suas manipulações e anotações foram feitas com as ferramentas do

software GEOGEBRA.

Figura 26 - Protocolo professor A da atividade de intervenção três.

Na resolução da atividade, o Professor A utilizou das seguintes

ferramentas existentes no software:

Reta definida por dois pontos;

Após selecionar a ferramenta, o professor clicou em dois pontos e

o software traçou a reta;

Ângulos.

Após selecionar a ferramenta, o professor clicou em três pontos e o

software marcou no segundo ponto a medida do ângulo.

Na ferramenta ângulos, o professor A mencionou a praticidade do

GEOGEBRA em executar essa ação (“... nossa o programa além de marcar o

ângulo também já mostra o valor.”).

Page 75: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

74

Figura 27 - Protocolo professor B da atividade de intervenção três

Na resolução da atividade, o Professor B utilizou das seguintes

ferramentas:

Segmento definido por dois pontos;

Após selecionar a ferramenta, o professor clicou em dois pontos e

o software traçou o segmento.

Círculo dados Centro e Um de seus Pontos.

Após selecionar a ferramenta, o professor clicou em dois pontos e

o software traçou o círculo.

O professor B destacou a facilidade em desenhar o círculo com o

software dizendo “...como é fácil fazer um círculo no GEOGEBRA”.

Houve comentário de outros professores de que o software também

poderia ajudar no ensino de geometria, uma vez que à falta de materiais

concretos por parte dos alunos.

Mas, o interessante nessa atividade foi de poder constatar e comparar a

resolução do professor A e do professor B, feita no papel e com o uso do

GEOGEBRA.

Page 76: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

75

A figura 28 apresenta as duas resoluções feitas pelo professor A,

utilizando ferramentas diferentes, que apesar de o professor ter escrito as

propriedades simétricas com a utilização de lápis e régua, suas anotações

geométricas basearam-se em retas que passavam por alguns pontos,

enquanto com a utilização do GEOGEBRA nota-se visualmente a existência de

pontos marcados e medida dos ângulos, conforme mostra a Figura 28.

Figura 28 - Comparativo professor A

A figura 29 apresenta as duas resoluções feitas pelo professor B e mostra

poucas anotações geométricas feitas com papel e lápis. Esse fato pode indicar

que ele possivelmente relacionou os pontos simétricos e apresentou nomes

aos mesmos, enquanto que com a utilização do GEOGEBRA suas emendas

complementares foram maiores. Podemos observar que foram utilizadas as

seguintes ferramentas: pontos, segmentos de reta e circunferência (nesse caso

o software nomeia círculo), como mostra a Figura 29:

Figura 29 - Comparativo Professor B

Page 77: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

76

Durante a resolução da atividade percebemos que a utilização do

GEOGEBRA não propiciou apenas maior detalhamento das observações e/ou

anotações das propriedades. Foi um momento em que ocorreram discussões

interessantes entre os participantes que expressavam suas hipóteses acerca

das possíveis resoluções, em especial quando utilizavam as possibilidades de

movimento que o software permite.

Os professores manusearam a figura virtualmente girando, alterando as

dimensões e observaram que as propriedades se mantêm. Esse uso do

software que permite fazer e desfazer, aumentar e diminuir, medir e conferir,

enfim, experimentar hipóteses acerca daquilo que pensam sobre um

determinado problema e receber o resultado na tela é que caracteriza o uso da

tecnologia na perspectiva de Papert (1994) e Valente (2002) sobre o pensar

com e pensar sobre aquilo que faz e produz.

Vivenciando essa nova forma de aprender, os professores demonstraram

estar envolvidos com a atividade, pois se sentiram desafiados e instigados para

compreenderem o processo de resolução da atividade diante do resultado que

visualizaram na tela do computador. Nesse momento, houve diversos

comentários, dentre eles, destacamos algumas falas:

“...com o software a formalização e a conceitualização é mais

rápido devido à possibilidade de movimento que o software

permite.” (Professor D).

“Estou achando incrível, pois com o software estou explorando e

ao mesmo tempo formalizando conceitos.” (Professor D).

“... no inicio tinha uma ideia de como fazer, mas quando vi o

resultado percebi que não era esse caminho, revi com minha

colega e chegamos a mesma conclusão que não poderia

alterar...” (Professor E)

Page 78: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

77

Essas falas dos professores ilustram como a tecnologia pode ser utilizada

nas atividades pedagógicas de modo que o aprendiz sinta-se ativo e seja

construtor do conhecimento. Mas, para isto, é preciso ter atividades

problematizadoras que desafiem cognitivamente e, ao mesmo tempo, ter um

ambiente favorável para que possa mostrar e lidar com os erros, equívocos e

fragilidades como parte do processo de construção do conhecimento.

5.5. A programação e a simetria

Dando continuidade às atividades da fase da intervenção e

considerando o engajamento dos professores participantes com o uso do

GEOGEBRA foi proposta uma situação de aprendizagem bastante desafiadora.

Os professores deveriam criar um botão no software que ao ser clicado

pelo usuário, a sua função era de mostrar o simétrico do ponto em relação à

reta, conforme mostra a Figura 30:

Figura 30 - Atividade 1 no GEOGEBRA

Vale lembrar que embora já exista esse botão no GEOGEBRA, o mesmo

foi ocultado pelo formador-pesquisador, uma vez que o propósito dessa

atividade era de propiciar aos professores vivenciar situações que permita

transportar os conceitos de simetria axial para a linguagem de programação do

software.

Com a finalidade de construir um botão que ao clicar nele, mostra o

simétrico do Ponto A em relação a uma reta dada, os professores poderiam

Page 79: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

78

criar uma relação com as propriedades exigidas e a linguagem de programação

do software.

Para isto foi necessário que o formador-pesquisador mostrasse a

codificação da linguagem matemática para a linguagem do software. A

dinâmica utilizada foi de resolver a atividade 1 no GEOGEBRA (figura 30) e

utilizando o flipsharp para mostrar à relação de ambas as linguagens, conforme

segue a Figura 31:

Figura 31 - Codificação da linguagem matemática para a linguagem do

GEOGEBRA

Quadro 3 - Script de resolução da atividade 1 do GEOGEBRA

s = perpendicular[r,A]

Uma reta s passando pelo ponto A sendo perpendicular a reta r.

p = intersecão[s,r]

Um ponto p na intersecção da reta s e r.

segmentoAP = segmento[A,P]

Um segmento chamado de segmento AP, com extremidades dos pontos A e

P.

Page 80: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

79

Ressalto que a escrita da palavra circunferência nos textos acima não

pertence à linguagem do software, logo para que possamos ter as mesmas

ideias e funcionalidades no software, sua escrita deve ser círculo.

Ao executar o script (quadro 3), o programa realiza todos os comandos de

forma sequencial apresentando o ponto B, sendo simétrico ao ponto A em

relação à reta r.

Depois dessa relação e experimentação, os professores realizaram a

atividade 2 (Figura 32) com poucas interferências do formador-pesquisador,

pois era necessário utilizar os mesmos conceitos e ideias da orientação

apresentada anteriormente.

Figura 32 - Atividade 2 no GEOGEBRA

Além dos conhecimentos da Simetria Axial e da comparação ou

relacionamento dos conceitos matemático para a linguagem do software, é

necessário uma abstração dos acontecimentos para elaborar o script ou a

programação. Isto porque a escrita do programa ocorre sem a visualização do

efeito de cada procedimento descrito, ou seja, é necessário finalizar a escrita

de procedimentos para que seja executado o código elaborado. O quadro 4

mostra o script ou o código da resolução da atividade de programação do

GEOGEBRA elaborado por um professor:

Page 81: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

80

Quadro 4 - Script de resolução da atividade 2 do GEOGEBRA

s = Perpendicular [A, r]

t = Perpendicular [B, r]

M = Interseção [r, s]

L = Interseção [r, t]

segmentoMA = Segmento [M, A]

segmentoLB = Segmento [L, B]

C_1 = Círculo [M, segmentoMA]

H_2 = Círculo [L, segmentoLB]

Y = Interseção [C_1, s]

Q = Interseção [H_2, t]

segmentoYQ = Segmento [Y_2, Q_2]

Assim, ao clicar no botão criado é executado o script do quadro 4, sendo

apresentado na janela de visualização um segmento Y2Q2 simétrico ao

segmento AB em relação a reta r, conforme mostra a Figura 33:

Figura 33 - Resolução da atividade 2 no GEOGEBRA

Para dar continuidade nas atividades de programação no GEOGEBRA, foi

proposta para os professores elaborarem em casa (fora do horário da Oficina)

a atividade 3 que se apresenta de forma semelhante a anterior (atividade 2),

apenas com um elemento mais complexo, pois a imagem da figura era de um

Page 82: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

81

polígono convexo. Elemento mais complexo devido à exigência de maior grau

na abstração da resolução da atividade.

Vejamos um exemplo da atividade realizada pelo professor E na Figura

34. Observe que o professor denominou o botão como boto cor de rosas, isso

mostra que o professor percebeu que ele possui o controle, podendo atribuir

qualquer nome a esse botão.

Figura 34 - Resolução da atividade 3 no GEOGEBRA

Os conceitos matemáticos envolvidos na atividade 3 são os mesmos das

atividades 1 e 2, sendo: a perpendicularidade das retas, as mesmas distâncias

e os mesmos ângulos. Por se tratar de uma figura com mais elementos

comparada com as atividades anteriores, existe a necessidade de trabalhar

com esses novos elementos, que aparentemente pode mostrar que a atividade

é mais complexa no teor matemático, mas verdade mostra maior grau de

abstração na programação.

Page 83: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

82

Quadro 5 - Script de um professor da atividade 4 no GEOGEBRA

s = Perpendicular [A, r]

t = Perpendicular [B, r]

u=Perpendicular [C, r]

M = Interseção [r, s]

L = Interseção [r, t]

N = Interseção [r, u]

segmentoMA = Segmento [M, A]

segmentoLB = Segmento [L, B]

segmentoNC = Segmento [N, C]

C_1 = Círculo [M, segmentoMA]

H_2 = Círculo [L, segmentoLB]

G_3 = Círculo [N, segmentoNC]

Y = Interseção [C_1, s]

Q = Interseção [H_2, t]

O = Interseção [G_3, u]

segmentoOQ = Segmento [O_2, Q_2]

segmentoOY = Segmento [O_2, Y_2]

segmentoYQ = Segmento [Y_2, Q_2]

Polígono = Polígono [O_2, Y_2, Q_2]

Para descrever passo-a-passo a resolução da atividade, por meio da

linguagem de programação do GEOGEBRA, foi necessário escrever dezenove

linhas de comandos da linguagem, utilizando somente as propriedades

matemáticas de simetria. Isto significa que os professores tiveram que pensar

matematicamente nas propriedades envolvidas abstraindo e descrevendo a

sequência de ações para a execução do programa.

A atividade de programação mostra um tipo de uso da tecnologia nos

processos de ensino e aprendizagem que permite ao usuário (professores

nesse caso) ativamente colocar em ação suas hipóteses sobre aquilo que

pensa e sabe sobre a resolução do problema de acordo com a sintaxe da

linguagem computacional. Essa possibilidade de comandar e controlar o

Page 84: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

83

programa propicia ao usuário sentir-se o que Papert (1985) denomina de

“empodeiramento” sobre o computador. Isto acontece quando o aprendiz

realiza atividades investigativas, baseadas em resoluções de problemas, mais

especificamente quando vivencia os princípios do construcionismo e reconhece

ser produtor do conhecimento.

Ao programar o computador fica evidenciado que o “saber fazer” para

resolver um determinado problema o usuário se depara com uma situação em

que é necessário representar o conhecimento de uma nova maneira e

expressá-lo via linguagem computacional. O “saber fazer” e o “saber

compreender” precisam caminhar juntos para que as relações entre as

linguagens (matemática e computacional), bem como as relações entre os

comandos sejam descritos de forma a produzirem o resultado esperado na tela

do computador.

Outro aspecto constatado pela reação dos professores durante as

atividades de programação foi o fato de como lidaram com o erro. Ao executar

os scripts depararam algumas vezes com o resultado diferente do esperado e,

isto causou surpresa e ao mesmo tempo indagações e questionamentos.

Nesses momentos o grupo começou a intensificar a discussão e a reflexão

sobre os conceitos envolvidos, debatendo suas conjecturas e buscando

compreender como poderiam encontrar as soluções mais adequadas para a

criação do botão de simetria. Esse momento ficou bastante claro que os

professores participantes da pesquisa vivenciaram a espiral de aprendizagem,

explicitada por Valente (2002).

Ao final da fase de intervenção foi apresentado para os professores um

questionário visando conhecer como resolveriam uma atividade de criação de

botão sem digitar a sequência dos comandos da linguagem de programação do

GEOGEBRA, para que ficasse evidenciada a compreensão das propriedades

da simetria axial.

Page 85: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

84

5.6. Questionário de utilização do GEOGEBRA

O objetivo desse questionário estava em saber como os professores

resolveriam uma atividade de criação de botão sem a utilização do

GEOGEBRA e após o trabalho com software na oficina, quais eram seus

entendimentos sobre a programação e a utilização dessa ferramenta para a

simetria axial.

A proposta da questão 1, Figura 35, envolve a escrita no papel de como

deveriam criar um botão que tivesse a função de achar o eixo simétrico de um

segmento de reta.

Escreva como devemos programar no software para achar o simétrico do

segmento AB em relação à reta r

Figura 35 - Atividade 1 do questionário de utilização do GEOGEBRA

A partir da questão colocada, os professores deveriam escrever o script

da resolução relacionando as propriedades do conceito de simetria axial e a

estrutura lógica da linguagem de programação, sem visualizar as funções

Pontos, Retas e Círculos que o software GEOGEBRA disponibiliza.

Alguns professores realizaram esta atividade fazendo a relação entre o

conceito matemático e a linguagem computacional, construindo fora do

computador a sequência de programação, como exemplificam os protocolos

dos professores A e B nas figuras 36 e 37 a seguir:

Page 86: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

85

Figura 36 - Protocolo do professor A do questionário de utilização do

GEOGEBRA

Figura 37 - Protocolo do professor B do questionário de utilização do

GEOGEBRA

Esse processo mental é mais complexo, porque requer pensar nos

conceitos matemáticos envolvidos e, ao mesmo tempo, na forma de

representá-los, traduzindo-os na lógica da linguagem computacional.

Page 87: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

86

Esse tipo de resolução foi feita apenas por alguns professores, pois a

maioria utilizou a descrição da resolução do problema na linguagem

matemática, como exemplificam os protocolos dos professores C e D nas

figuras 38 e 39 a seguir:

Figura 38 - Protocolo do professor C do questionário de utilização do

GEOGEBRA

Figura 39 - Protocolo do professor D do questionário de utilização do

GEOGEBRA

Page 88: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

87

É importante destacar que essa antecipação da sequência de passos,

conforme mostraram os protocolos dos professores C e D, retratam a descrição

das propriedades do conceito de simetria axial, demonstrando que houve

compreensões do conteúdo matemático. Isto aconteceu numa situação de

aprendizagem que o usuário (nesse caso, o professor) estava envolvido com o

fato de ensinar o computador o conceito de simetria. A dificuldade apresentada

pelos professores se deu no processo de fazer a integração conteúdo

específico (matemático) e o tecnológico (linguagem de programação) que

requer a construção de uma lógica própria computacional. Quando isto ocorre

significa que houve a construção do conhecimento Tecnológico do Conteúdo

(TCK) enfatizado por Koehler e Mishra (2009) referindo-se a intersecção entre

os conhecimentos do Conteúdo Específico e Tecnológicos.

Entretanto, essa construção não é simples de ocorrer, principalmente

quando o conhecimento do conteúdo específico for pautado em resoluções que

envolvem apenas a memorização de fórmulas sem que se tenha a

compreensão conceitual do objeto matemático para poder saber representá-lo

de nova maneira e de forma articulada com outros saberes.

Assim, retomando as questões das atividades apresentadas para os

professores, ficou também evidenciado, quando foram questionados sobre qual

seria o maior nível de abstração: a linguagem matemática ou a linguagem de

programação. O professor C respondeu conforme o protocolo na figura 40, a

seguir:

Figura 40 - Protocolo do professor C na questão da linguagem

Para o professor C o maior grau de abstração está na articulação das

linguagens, o que implica, como já foi mencionado, uma nova forma de

representação do conhecimento. E sobre essa mesma questão, o professor D,

Page 89: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

88

conforme protocolo da figura 41, reconhece que a programação requer

abstração do conceito matemático, mas que a passagem de uma linguagem

para outra (matemática - computacional) é mais difícil, devido ao não

conhecimento pleno da linguagem de programação.

Figura 41 - Protocolo do professor D na questão da linguagem

A transição de uma linguagem para a outra requer conhecimento de

ambas, semelhante à representação de uma função, podendo ser

algebricamente ou geometricamente, mas o fator de aprendizagem dessa

transição é o que prevalece.

Outra questão, depois de os professores terem escrito os procedimentos

da programação no papel e no ambiente computacional do GEOGEBRA, foi em

relação ao uso pedagógico do software para propiciar a aprendizagem da

simetria axial.

Essa questão tinha a finalidade de instigar aos professores a refletirem

sobre a experiência vivenciada na Oficina e se a mesma poderia ser

recontextualizada em suas práticas docentes, ou seja, se o uso do software

GEOGEBRA poderia contribuir para a aprendizagem dos alunos sobre a

simetria axial.

De uma forma geral o grupo manifestou que o uso do software

GEOGEBRA pode contribuir para aprendizagem do aluno, mas fez algumas

ponderações, tais como exemplificam os protocolos dos professores nas

figuras 42, 43 e 44.

Page 90: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

89

Figura 42 - Protocolo do professor UM sobre a contribuição do GEOGEBRA

O professor Um reconheceu que a atividade pode contribuir, porque

requer a escrita, que na verdade é a descrição da resolução do problema que

se refere a explicitação daquilo que se entende com vistas a obter o produto

final. A explicitação envolve conhecer os conceitos matemáticos envolvidos e

saber representá-los na linguagem computacional.

O professor Dois, além de concordar que a programação leva a

abstração, relata a existência da relação criada entre cada comando com a

propriedade simétrica, situação que leva a realizar comparações de

representações. Também descreve uma opção de utilização, a verificação se

duas figuras são simétricas por meio de propriedades, como mostra o protocolo

na figura 43 a seguir:

Figura 43 - Protocolo do professor DOIS sobre a contribuição do GEOGEBRA

O professor Três não destacou a programação, mas valoriza a

característica dinâmica do GEOGEBRA e o saber conceitual da simetria, como

mostra o protocolo na figura 44 a seguir:

Page 91: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

90

Figura 44 - Protocolo do professor TRÊS sobre a contribuição do GEOGEBRA

Essa constatação no momento em que a tônica era a programação nos

dá um indício de que a reflexão desse professor estava centrada nas

características e nas potencialidades dos recursos do GEOGEBRA. De fato

suas características, permitindo o movimento da figura ampliam as

possibilidades de olhar e analisar os detalhes e as diferentes perspectivas,

oportunizando a visualização e a compreensão das propriedades da figura.

O professor Quatro reconheceu que o uso do software pode contribuir

para a aprendizagem do aluno. No entanto, a sua estratégia de ensino não

espelha a vivência que teve durante a Oficina. Podemos perceber como mostra

o protocolo da figura 45 que o professor pretende explicar passo-a-passo para

o aluno, ao invés de propiciar ao aluno vivenciar a espiral de aprendizagem.

Figura 45 - Protocolo do professor QUATRO sobre a contribuição do

GEOGEBRA

Esta situação mostra que até esse momento da Oficina, provavelmente

não tenha ocorrido a construção do conhecimento do TPACK (Technology,

Pedagogy and Content Knowledge) na perspectiva dos autores Koehler e

Mishra (2009), que enfatiza a sua ocorrência pela intersecção desses três

conhecimentos: Conteúdo, Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo. Para tanto,

o professor precisa:

Page 92: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

91

Saber o conteúdo: o conceito matemático envolvido indo além das

definições, fórmulas e resoluções padronizadas;

Saber tecnológico: o que determinado software permite, no caso do

GEOGEBRA, tanto em termos da visualização de conceitos e

propriedades como das novas formas de representação, o que

implica conhecer a lógica e a sintaxe da programação;

Saber pedagógico: as estratégias didáticas adequadas (saber

como o aluno aprende, quais são seus conhecimentos prévios e

suas dificuldades) para que o aluno compreenda e construa

conhecimento.

Embora o conhecimento Tecnológico, Pedagógico do Conteúdo na

perspectiva do TPACK seja necessário, o que ficou evidenciado durante a

Oficina de Simetria na fase de diagnóstico foi a fragilidade do conhecimento do

conteúdo. Na fase de intervenção essa fragilidade foi superada, por meio das

várias atividades desenvolvidas pelos professores. Essas atividades

proporcionaram aos professores se envolverem e experenciarem novas formas

de aprender usando materiais concretos e, principalmente, manipulando os

recursos tecnológicos do GEOGEBRA e as propriedades da Simetria.

Esse processo de aprendizagem e de (re)construção do conceito de

Simetria se desenvolveu de forma interativa no grupo e com o formador-

pesquisador, favorecendo a explicitação de conjecturas, de estratégias de

resolução, de reflexões sobre as compreensões equivocadas e de

compartilhamento de novas descobertas, mostrando com isso que a integração

entre o conteúdo específico e os recursos tecnológicos por meio da atividade

de programação contribuiu para a formalização do conceito de simetria axial.

Page 93: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

92

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso pedagógico das Tecnologias Digitais da Informação e

Comunicação - TDIC na Educação Básica ainda é algo inovador, em fase de

apropriação, tanto dos recursos tecnológicos como na forma de integrar esses

recursos aos conteúdos curriculares.

O avanço das TDIC caminha muito rápido e cada vez mais se torna

disponível uma grande diversidade de softwares educacionais, sendo muitos

deles gratuitos, favorecendo a sua utilização no contexto escolar. Entretanto, o

seu uso ainda é restrito nos processos de ensino e aprendizagem e este fato

não se justifica pela dificuldade de acesso às TDIC.

O problema é que para utilizar um determinado software educacional

não basta ter o acesso, é necessário saber operacionalizar e compreender

suas potencialidades pedagógicas e como fazer essa integração das TDIC aos

conteúdos curriculares. A importância dessa integração vem sendo enfatizada

por vários autores pelo fato dessas tecnologias digitais não serem vistas

apenas como mais uma ferramenta pedagógica, mas pelo seu papel enquanto

estruturante na forma de pensar, de comunicar e de representar o

conhecimento (ALMEIDA; VALENTE, 2011).

A questão, portanto, que norteou o desenvolvimento dessa pesquisa foi

de verificar quais são as potencialidades do software GEOGEBRA para

trabalhar com o conceito de Simetria Axial junto a um grupo de professores da

Educação Básica que participam do Projeto do Observatório da Educação.

Para isto, foi realizada uma Oficina com a intenção de propiciar aos

professores participantes aprenderem a utilizar o software GEOGEBRA tendo

como foco a conceitualização do conteúdo matemático, nesse caso de Simetria

Axial. As ações formativas foram organizadas em duas fases, sendo a primeira

de diagnóstico e, em seguida a de intervenção.

Page 94: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

93

Na fase de diagnóstico ficou evidenciada a existência de compreensões

equivocadas sobre o conteúdo de Simetria por parte de alguns professores.

Diante dessa constatação a fase de intervenção se desenvolveu explorando

atividades de Simetria utilizando materiais concretos e digitais presentes no

software GEOGEBRA.

O fato de os professores terem explorado as características do

GEOGEBRA, permitindo que Retas, Ponto e Figuras fossem manipuladas e

suas propriedades mantidas, trouxe à tona no coletivo do grupo vários

questionamentos e conjecturas, as quais demonstravam ora esclarecedoras de

compreensões equivocadas, ora afirmativas das hipóteses e dos argumentos.

Nesses momentos os professores sentiam instigados a conhecer mais

detalhadamente as possibilidades do software GEOGEBRA. Mostrando uma

grande riqueza no movimento existente do trabalho concreto ao Digital.

Essa pesquisa mostrou que a atividade de programação do software

GEOGEBRA requer do usuário (nesse caso, o professor) abstração, pois para

descrever a sequencia de resolução de um determinado problema, é preciso

antecipar o efeito de cada comando e em relação ao outro comando,

integrando as propriedades do objeto matemático envolvido no problema na

lógica computacional.

Em outras palavras, pode-se dizer que na atividade de programação

ocorre a relação do CODEC (Codificação e Decodificação), a todo momento

existe uma translação da codificação e decodificação, a linguagem matemática

sendo codificada para a linguagem do software e ao escrever a linguagem do

software entender a linguagem matemática e suas representações.

Uma situação forte evidenciada na Oficina foi a criação do Botão de

Simetria. Essa estratégia didática utilizada confirmou o potencial da atividade

de programação, pelo seu caráter reflexivo, de “empodeiramento” do homem

sobre o computador. Essa ideia da atividade de programação, defendida por

Papert e Valente, constituir-se em uma situação rica de aprendizagem em que

Page 95: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

94

o usuário (professor, aluno) pode aprender-fazendo, vivenciado a espiral de

aprendizagem que precisa ser revista nas práticas pedagógicas escolares.

Mas para isto as TDIC precisam ser vistas e tratadas de forma integrada

ao currículo. Essa visão nos remete ao TPACK que representa a intersecção

de três diferentes conhecimentos como sendo necessária para o professor

atuar com as TDIC nos processos de ensino e aprendizagem.

A análise dos dados da pesquisa mostrou que houve a intersecção entre

dois diferentes conhecimentos – conteúdo específico e o tecnológico,

viabilizado pela atividade de programação. Mas o conhecimento pedagógico

não foi enfatizado na Oficina devido às fragilidades encontradas e que foram

sendo superadas em relação ao conhecimento específico.

Enfim esse entendimento do conhecimento profissional do professor e

da sua complexidade indica que os processos formativos precisam ser

repensados criando estratégias e abordagens que permitem vivenciar novas

dinâmicas de aprendizagens com o uso das TDIC e a compreender suas

potencialidades para que possa reconstruir a sua prática pedagógica.

Page 96: o uso das tecnologias digitais na formação continuada do professor

95

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Apêndice I – Questionário de Perfil.

QUESTIONÁRIO

01. Dados pessoais:

Nome:

____________________________________________________________________

E-mail:

____________________________________________________________________

02. Situação funcional:

Escola onde leciona:

__________________________________________________

Níveis de Ensino que leciona:( ) E.F – I ( ) E.F – II ( ) E.M

03. Formação Acadêmica:

Graduação: Sim ( ) Não ( )

Curso:

_____________________________________________________________

Participou de cursos após sua graduação: Sim ( ) Não ( )

Quais:

04. Em relação ao computador, você utiliza: ( ) Não uso. ( ) Até uma vez por

semana. ( ) Raramente. ( ) Frequentemente.

05. Ações que utiliza o computador: ( ) Internet. ( ) Editor de texto. ( ) Planilha

eletrônicas. ( ) Softwares educacionais.

06. Há quanto tempo você atua como professor?

07. O conteúdo de simetria apresenta alguma dificuldade de compreensão para os alunos?

Quais?

08. Quais recursos didáticos você acredita que possa auxiliar a aprendizagem de simetria?

Por quê?

09. Você conhece algum software que pode ser utilizado para o ensino e aprendizagem de

Simetria?Sim ( ) Não ( )Quais? Você já utilizou algum?

10. Na graduação, teve contato com algum software educacional?Sim ( )Não ( )Quais:

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Apêndice II – Questionário de Diagnóstico

1. Responda as questões a seguir.

Observação: use os espaços em branco para fazer figuras, caso você julgue conveniente;

Não apague essas figuras

a) Quantos eixos de simetria tem um quadrado?

b) Quantos eixos de simetria tem um retângulo não quadrado?

c) Quantos eixos de simetria tem um paralelogramo não retângulo?

d) Quantos eixos de simetria tem um círculo?

2. Como você explicaria a noção de simetria aos seus alunos?

3. O tema simetria faz ou fez parte do currículo de Matemática de sua

escola? Em caso afirmativo, em qual ano?

4. O que é simetria axial? Dê exemplos.

5. Obtenha o quadrilátero simétrico ao da figura pela reta r

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Apêndice III – Conjunto de Atividade I

Imaginando que o segmento de reta AB é um espelho, complete as figuras.

1.

2.

3.

4.

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Apêndice IV – Conjunto de Atividade II

O que podemos observar das figuras simétricas ao segmento IJ?

Obtenha a imagem simétrica da figura A com relação ao segmento IJ

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Apêndice V – Questionário de utilização do software

1 - Escreva como devemos programar no software para achar o simétrico do

segmento AB em relação à reta r

2 - A utilização do software pode contribuir para o aprendizado dos conceitos

de simetria axial? Comente sua resposta.

3- Quando usamos a ferramenta de programação, “criar um botão”, ocorreram

duas situações, a linguagem do software e o conceito matemático, nessa

atividade qual das duas situações houve maior grau de abstração?

4 - Se o aluno não tiver o conhecimento do conceito de simetria axial, ele

conseguiria programar? Comente sua resposta