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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS O uso das TICs no Ensino Superior e suas contribuições para a Educação Estatística JOSNEY FREITAS SILVA Orientador: Prof. Dr. Juliano Schimiguel Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências. SÃO PAULO 2014

O uso das TICs no Ensino Superior e suas … · 1.2 Fundamentos de Educação Estatística .....32 1.3 Cenários de Investigação e o Trabalho com Projetos.....36 1.4 Guidelines

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS

O uso das TICs no Ensino Superior e suas contribuições

para a Educação Estatística

JOSNEY FREITAS SILVA

Orientador: Prof. Dr. Juliano Schimiguel

Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências.

SÃO PAULO

2014

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

S58u

Silva, Josney Freitas. O uso das TICs no ensino superior e suas contribuições para a

educação estatística / Josney Freitas Silva. -- São Paulo; SP: [s.n], 2014.

115 p. : il. ; 30 cm. Orientador: Juliano Schimiguel. Dissertação (mestrado) - Programa de Pós-Graduação em

Ensino de Ciências, Universidade Cruzeiro do Sul. 1. Educação estatística – Processo de ensino-aprendizagem 2.

Tecnologia da informação e comunicação (TIC) 3. Administração – Ensino superior 4. Pesquisa qualitativa I. Schimiguel, Juliano. II. Universidade Cruzeiro do Sul. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências. III. Título.

CDU: 519.22:372(043.3)

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

O uso das TICs no Ensino Superior e suas contribuições

para a Educação Estatística

Josney Freitas Silva

Dissertação de mestrado defendida e aprovada

pela Banca Examinadora em 14/02/2014.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Juliano Schimiguel

Universidade Cruzeiro do Sul

Presidente

Profa. Dra. Celi Aparecida Espasandin Lopes

Universidade Cruzeiro do Sul

Prof. Dr. Ricardo Shitsuka

Universidade Federal de Itajubá

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À

Minha Família e,

Especialmente, aos meus pais José e Zeneide.

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor Juliano Schimiguel, pela primorosa orientação, pelo inesgotável e contínuo incentivo e pela dedicação ao desenvolvimento deste trabalho.

Aos Professores participantes da Banca de Qualificação e Defesa, Dra. Celi Espasandin Lopes, Dr. Djalma de Oliveira Bispo Filho e Dr. Ricardo Shitsuka pelas valorosas sugestões e contribuições a esta pesquisa.

Ao corpo docente do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências da Universidade Cruzeiro do Sul, pela oportunidade inigualável de aprendizado e novas experiências.

À Secretaria da Pós-graduação, pelo apoio incondicional em todos os momentos.

Aos estudantes do Curso de Administração da Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, pela contribuição à realização desta pesquisa.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG, pela concessão de uma bolsa em nível de Mestrado.

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“Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando

a ele algo que fazemos.”

PAULO FREIRE (1921-1997)

Educador e filósofo brasileiro.

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SILVA, J. F. O uso das TICs no ensino superior e suas contribuições para a educação estatística. 2014. 115 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências)– Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2014.

RESUMO

O presente trabalho discute a utilização de Tecnologias de Informação e

Comunicação (TICs) em duas turmas do Curso de Administração de uma

universidade pública do Estado de Minas Gerais. Nossa proposta da pesquisa foi

elaborada e implementada enquanto ministrávamos a disciplina de “Métodos

Quantitativos em Administração”. Nosso objetivo foi o de avaliar o uso e a integração

das TICs ao conceito de Educação Estatística na construção de um ambiente de

investigação como contributo para o processo de aprendizagem no Ensino Superior.

A questão central de pesquisa deste trabalho consiste em identificar “Quais

contribuições o uso de tecnologias em um Projeto de Investigação Estatística traz à

Educação Estatística dos estudantes em uma disciplina do curso de Administração?”

Metodologicamente, a pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa. A coleta de

dados foi realizada por meio da aplicação de um questionário inicial aos estudantes

e do relatório do Projeto de Investigação Estatística, apresentado ao final da

disciplina-objeto, momento em que os estudantes, organizados em grupos,

escolheram um tema relacionado ao Curso de Administração. A partir daí, então, se

organizou, resumiu e apresentou o resultado por meio de um relatório elaborado por

cada um dos grupos. O Projeto de Investigação Estatística foi analisado por meio da

Análise de Conteúdo dos relatórios elaborados por cada grupo. Ao encerrarmos a

disciplina, observamos que a possibilidade de aproximar a teoria ao cotidiano dos

estudantes contribuiu para a aprendizagem. Ao final, percebemos que o trabalho

com dados contextualizados, aliado ao uso das TICs, ao conceito de Educação

Estatística e ao ambiente de investigação possibilitou um índice de aprovação na

disciplina supra, alcançando um patamar superior ao apresentado antes da

implementação desta proposta.

Palavras-chave: Tecnologia de informação e comunicação, Ensino superior,

Educação estatística.

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SILVA, J. F. The use of ICTs in higher education and his contributions to statistical education. 2014. 115 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências)– Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2014.

ABSTRACT

This paper discusses the use of Information and Communication Technologies (ICTs)

in two groups of the Administration Course of a public university in the state of Minas

Gerais. Our research proposal was developed and implemented while ministering the

discipline of "Quantitative Methods in Management". Our objective was to evaluate

the use and integration of ICTs to the concept of Statistic Education to build a

research environment as a contribution to the learning process in higher education.

The central research question of this study is to identify "What contributions the use

of technologies in a Statistical Research Project brings Statistic Education students in

a Administration Course?" Methodologically, the research presents a qualitative

approach. Data collection was performed by applying an initial report to students and

Statistical Research Project, presented at the end of the subject - object, quiz time

students, organized into groups, chose a theme related to the Administration Course.

From there, then, organized, summarized and presented the results through a report

prepared by each group. The Statistical Research Project for was analyzed through

content analysis of the reports for each group. As we close the discipline, we see that

the possibility of bringing theory to the everyday life of students contributed to

learning. At the end, we realized that working with contextualized data, along with the

use of ICTs, the concept of Statistic Education and research environment allowed an

approval rating in the discipline above, reaching a higher level than shown before the

implementation of this proposal.

Keywords: Information and communication technology, Higher education, Statistic

education.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Esquema de desenvolvimento de um projeto. ................................ 39

Figura 2 – Calculadora HP-12C. .......................................................................... 65

Figura 3 – Estratégias da proposta e tecnologias ............................................. 76

Figura 4 – Parte do Questionário aplicado junto aos estudantes da

disciplina Métodos Quantitativos em Administração ..................... 77

Figura 5 – Gráfico da Frequência Percentual das Idades dos estudantes

em Classes ......................................................................................... 78

Figura 6 – Gráfico sobre o uso da Calculadora HP-12C ................................... 79

Figura 7 – Gráfico sobre o conhecimento do Microsoft Excel ......................... 79

Figura 8 – Conhecimentos sobre conceitos estatísticos no Excel .................. 80

Figura 9 – Página do blog de um dos grupos apresentando o tema

"Administração - Profissão do Futuro" ............................................ 84

Figura 10 – Página do questionário eletrônico elaborado a partir do

“Formulário” do Google Docs do grupo que teve como tema

"Administração - Profissão do Futuro" ............................................ 85

Figura 11 – Uso do Facebook para divulgar os temas do Projeto de

Investigação Estatística de alguns grupos. ..................................... 86

Figura 12 – Uso do Facebook para divulgar o link do blog do Projeto de

Investigação Estatística dos grupos. ............................................... 87

Figura 13 – Uso do Facebook para troca de conhecimento entre os

estudantes. ......................................................................................... 88

Quadro 1 – Instituições, Grupos de Pesquisa e Área predominante de

Pesquisa relacionado à Educação Estatística. ................................ 30

Quadro 2 – Registros e Valor Estatístico na HP-12C .......................................... 66

Quadro 3 – Unidades Significativas constantes nos Relatórios do Projeto

de Investigação Estatística ............................................................... 89

Tabela 1 – Turmas por Sexo ................................................................................ 78

Tabela 2 – Categorização das Unidades de Registro ........................................ 90

Tabela 3 – Distribuição de Frequência Absoluta dos estudantes que

concluíram a disciplina no semestre. ............................................... 96

Tabela 4 – Distribuição de Frequência Relativa dos estudantes que

concluíram a disciplina no semestre. ............................................... 97

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAE Afetividade na Aprendizagem de Estatística

ABE Associação Brasileira de Estatística

ASA American Statistical Association

AVALE Ambiente Virtual de Apoio ao Letramento Estatístico

EE Educação Estatística

EPEMAT Estudos e Pesquisas em Educação Matemática

FEDERAMINAS Federação das Associações Comerciais e Industriais do Estado

de Minas Gerais

FESF Fundação Educacional de Ensino Superior de Frutal

GEPEE Grupo de Estudos, e Pesquisas em Educação Estatística

GPEE Grupo de Pesquisa em Educação Estatística

GPEMEC Grupo de Pesquisa em Educação Matemática, Estatística e

Ciências

IASE International Association for Statistical Education

IBILCE Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas

ISI International Statistical Institute

OTFPM O Trabalho e a Formação do Professor de Matemática

PEA-MAT Processo de Ensino-Aprendizagem da Matemática na Educação

Básica

PEAEM Processos de Ensino-Aprendizagem em Educação Matemática

PIE Projeto de Investigação Estatística

PSIEM Psicologia e Educação Matemática

PRAPEM Prática Pedagógica em Matemática

PUC – SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

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PUCCAMP Pontifícia Universidade Católica de Campinas

SEBRAE – MG Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TICs Tecnologias de Informação e Comunicação

UEMG Universidade do Estado de Minas Gerais

UESC – BA Universidade Estadual de Santa Cruz – BA

UFMT Universidade Federal do Mato Grosso

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

ULBRA Universidade Luterana do Brasil

UNESP Universidade Estadual Paulista

UNIBAN Universidade Bandeirantes

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UNICSUL Universidade Cruzeiro do Sul

USJT Universidade São Judas Tadeu

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13

Da Trajetória Profissional ao Problema de Pesquisa ........................................... 15

Alguns Pressupostos Teóricos .............................................................................. 21

Objetivo Geral .......................................................................................................... 23

Objetivos Específicos ............................................................................................. 24

Síntese da Dissertação ........................................................................................... 25

1 DA EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA AO TRABALHO COM PROJETOS NO

ENSINO SUPERIOR ...................................................................................... 26

1.1 Evolução ........................................................................................................ 26

1.2 Fundamentos de Educação Estatística ...................................................... 32

1.3 Cenários de Investigação e o Trabalho com Projetos ............................... 36

1.4 Guidelines Para Educação Estatística no Ensino Superior (GAISE)........ 41

1.5 Diretrizes Curriculares do Curso de Administração .................................. 44

2 USO DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA ........................ 48

2.1 Uso de Softwares .......................................................................................... 52

2.2 Internet ........................................................................................................... 54

2.2.1 Redes Sociais ............................................................................................... 57

2.2.2 Blogs .............................................................................................................. 59

2.2.3 Google Docs .................................................................................................. 61

2.3 Uso da Calculadora HP-12C ......................................................................... 62

3 METODOLOGIA ............................................................................................. 68

3.1 Material e Métodos........................................................................................ 68

4 DESENVOLVIMENTO E ANÁLISE DE DADOS ............................................ 75

4.1 Desenvolvimento do Projeto de Investigação Estatística ......................... 82

4.2 Análise dos Relatórios do Projeto de Investigação Estatística ................ 88

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 99

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REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 105

APÊNDICES ........................................................................................................... 112

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INTRODUÇÃO

O mundo vive em constante evolução. A todo o momento dados provenientes

das mais variadas fontes e presentes nas mais diversas áreas são divulgados em

jornais impressos, revistas, rádio, televisão e internet. Analisar e interpretar estes

dados requer competências e habilidades que estão presentes no currículo da

educação, dando-lhe suporte do ensino que parte das séries iniciais e vai até o

Ensino Superior.

Numa conjuntura complexa como esta, em que se vive imerso e praticamente

dependente de uma enormidade de artefatos de alta tecnologia, seria razoável se

esperar que todos nós devêssemos estar preparados para encarar com naturalidade

e interpretar corretamente qualquer sumário tabular de dados, gráficos estatísticos,

medidas de variabilidade ou compreender facilmente a inferência estatística.

Contudo, quando se trata do confronto direto com os números, parece que a

aludida tecnologia computacional ou eletroeletrônica, por exemplo, jaz apartada dos

demais procedimentos tecnológicos da sociedade. Isto porque, grande parte da

população se vê atormentada pelo medo de não conseguir entender os conceitos e

formulações comuns a esta ou àquela área do conhecimento que se relacione, direta

ou indiretamente, com a Matemática, com os cálculos, com os gráficos etc.

Por isso, é comum elas ou o leigo em geral, confundir Estatística com

Matemática, cálculo com geometria e assim por diante e, embora todas estas áreas

do conhecimento possuam características tão similares quanto diferentes e

constituírem ciências distintas, o temor inicialmente devotado à Matemática ou aos

cálculos ou às figuras geométricas parece, de algum modo, contaminar, também, os

processos de aprendizagem de conteúdos relacionados à Estatística.

A educação superior tem como uma de suas finalidades a formação de

profissionais em diferentes áreas do conhecimento, tornando os estudantes aptos a

ingressar no mercado de trabalho ou a se tornarem cientistas para, assim,

participarem do desenvolvimento da sociedade, incentivar o trabalho de pesquisa e

investigação científica, com vistas ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia,

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contribuindo para a construção de melhores entendimentos sobre o homem e sobre

o meio em que vivemos.

Silva e Schimiguel (2012) apresentam argumentos a partir dos quais se

depreende que o ensino da Matemática é um dos grandes desafios na vida dos

professores que trabalham com cursos de áreas como Ciências Sociais Aplicadas

ou Ciências Humanas, pois, estes, em casos particulares, trazem componentes

curriculares, cujas dificuldades são próprias de disciplinas da área de Ciências

Exatas como a “Matemática” ou mesmo a “Estatística”. Ao se defrontarem com

disciplinas que têm tais características, o estudante tende a diluir para todas as

áreas do conhecimento aquela ressalva afetiva que, para ele, se tornou um

verdadeiro trauma desde o Ensino Fundamental e que poderá acompanhá-lo até a

Universidade.

De acordo com Campos, Wodewotzki e Jacobini (2011, p. 09), a “Estatística”

é uma disciplina obrigatória em diversos campos de formação acadêmica, sobretudo

nas Ciências Sociais e nas Ciências Humanas. Enfatizam ainda que no Curso de

Administração, a Estatística é “uma importante ferramenta para estudo e análise dos

diversos fenômenos de interesse geral e interesses específicos da formação

profissional”.

Contudo, percebemos que o ensino de Estatística vem se apresentando como

uma disciplina-problema, uma vez que, para os estudantes, as dificuldades a ela

inerentes soam praticamente como barreiras intransponíveis para a absorção de

seus conteúdos em qualquer nível de ensino.

Segundo estes autores, as dificuldades dos estudantes em assimilar os

conteúdos estatísticos, verificáveis pelos relatos de professores e pesquisadores em

diversos eventos acadêmicos, compõem um rol de temeridades no universo da

ensinança que se assemelha ao que se conhece como “ansiedade matemática”.

Concordamos com Lopes (2012, p. 02) quando relata que já não é mais

suficiente praticarmos somente aquela ação formativa centrada em fórmulas,

algoritmos e exercícios de fixação. Ele complementa o raciocínio, dizendo ainda que

o educador “deve prever um processo de ensino e aprendizagem de conteúdos pela

resolução de problemas, por simulações e experimentos” permitindo-se, assim, que

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o estudante tenha a oportunidade de construir seu próprio conhecimento a partir do

momento em que este passe a estabelecer relações com as informações

provenientes de seu cotidiano, donde, aliás, advém todo o contato que ele tem com

diferentes linguagens e distintas formas de expressão, itens que se tornam

referenciais imprescindíveis para a construção do conhecimento e não para a sua

reprodução.

É comum a associação entre Matemática e Estatística, contudo, ambas, além

de serem ciências distintas, possuem objetos de estudo diferenciados. Assim, o

pensamento estatístico distingue-se do pensamento matemático por recorrer, a

ciência “Estatística”, a diferentes estatutos e fundamentos adstritos à esfera do

pensar, pois os dados estatísticos não correspondem apenas a números, como

ocorre com a Matemática, já que em “Estatística”, os dados constituem-se de

números acompanhados de um contexto (LOPES, 2012). Logo, o ensinar Estatística

também é diferente do ensinar Matemática.

Assim, alicerçados na afirmação de Souza e Lopes (2011) sobre a

necessidade de se lançar novos olhares ao processo de ensino e aprendizagem de

“Estatística” numa escola cada vez mais inserida na sociedade tecnológica

contemporânea, procuramos identificar diferentes estratégias para aproximar as

Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) do todo do processo de

aprendizagem na disciplina de “Métodos Quantitativos em Administração”. Isto é,

buscando despertar junto aos estudantes um maior interesse pelo conteúdo,

contextualizamos o conteúdo desta disciplina no curso de Administração, por meio

dos conceitos que norteiam a Educação Estatística.

Da Trajetória Profissional ao Problema de Pesquisa

Compartilhar o conhecimento acumulado ou adquirido sempre foi uma

constante em nossa vida. Desde a época em que estudávamos no Ensino

Fundamental e Médio, sempre fomos procurados por colegas que tinham um pouco

mais de dificuldade na resolução dos exercícios e, desde muito cedo, aprendemos

que compartilhar o pouco que sabíamos logo se tornaria uma atividade muito

gratificante.

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Por isso, acredito, ingressei no curso de Graduação em Licenciatura em

Matemática no IBILCE/UNESP – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas /

Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, na cidade de São José do

Rio Preto – SP.

Lá, não demorou muito, também, para que fixássemos a impressão de que as

disciplinas do Departamento de Educação ocupavam a menor porção da grade

curricular que seria estudada durante a graduação toda. Durante o Estágio

Obrigatório, fizemos questão de realizá-lo na escola onde havíamos concluído o

Ensino Médio, a Escola Estadual João Kopke, de 1° e 2° Graus, no Município de

Fronteira – MG. Nesta escola, também, tivemos o privilégio de participar de um

programa de recuperação realizado em janeiro de 1998, semanas antes de nossa

formatura na Universidade.

Em fevereiro deste mesmo ano de 1998, participamos de um concurso para

Professor de Matemática, realizado pela Prefeitura Municipal de Frutal – MG,

conquistando a aprovação e iniciando os trabalhos, no mês de março de 1998,

atuando em duas escolas da Zona Rural. Uma, a Escola Municipal Odílio Fernandes

e, a outra, a Escola Municipal Belmiro Batista Miranda, ocupando um cargo de 20

horas semanais.

Em função disto, permanecemos por mais seis anos junto à Rede Municipal

de Ensino, sempre trabalhando em escolas localizadas nos distritos e povoados do

município.

Porém, em 2002, frustrado pelo constante atrito com os estudantes, os quais

se expressavam por meio de comportamentos não muito adequados para uma sala

de aula, procuramos cursar uma pós-graduação que não tivesse relacionamento

com a área educacional.

Assim, iniciei uma Pós-graduação Lato Sensu em Gestão de Pequenas e

Médias Empresas, numa instituição denominada UNORP, localizada na cidade de

São José do Rio Preto – SP. Vale a lembrança de que, ao término deste curso,

exoneramos nosso cargo junto à Prefeitura Municipal de Frutal – MG, em julho de

2004, momento em que desistimos de outro cargo em que havíamos sido

aprovados, mas que ainda não havíamos assumido.

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A partir daí, dedicamo-nos a outros projetos envolvendo a FEDERAMINAS –

Federação das Associações Comerciais e Industriais do Estado de Minas Gerais e

ao SEBRAE – MG (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas),

onde atuamos como consultor externo, trabalhando com palestras, cursos e

programas de capacitação. Ou seja, o que apresentamos neste breve histórico

pessoal, é a nossa forte ligação com os trabalhos relacionados com o ensino e a

transmissão do conhecimento, justamente por sempre objetivarmos o crescimento

intelectual do próximo.

Em agosto de 2004, enviamos nosso currículo para a FESF – Fundação

Educacional de Ensino Superior de Frutal, entidade esta que iniciava as atividades

da UEMG – Universidade do Estado de Minas Gerais no Município de Frutal e que, à

época, estava selecionando professores para o curso de Administração.

Fomos selecionados para ministrar as disciplinas de “Métodos Quantitativos

em Administração”, “Matemática Financeira” e “Sistemas de Informações

Gerenciais”. Ao iniciarmos estas atividades, em fevereiro de 2005, eis que

novamente envolvidos com os processos de ensino e aprendizagem, mas, desta

vez, no Ensino Superior.

Iniciar a docência no Ensino Superior foi uma empreitada tão gratificante

quanto desafiadora. Ao adentrarmos a sala de aula da primeira turma do Curso de

Administração, percebemos que esta nova experiência não seria como a que

tivemos no Ensino Fundamental. Por se tratar da primeira turma da recém-

inaugurada FESF e, também, do primeiro curso da UEMG (parceira da FESF na

cidade), o corpo discente era formado por empresários proprietários de

organizações já consolidadas, por servidores públicos, por pais, avós, e também por

jovens que tinham a oportunidade de cursar uma universidade sem ter que deixar

sua cidade.

Muitos destes estudantes estavam sem estudar, há anos, outros, acabaram

de terminar o Ensino Médio. A primeira disciplina que trabalhamos com esta turma

foi a de “Métodos Quantitativos em Administração”, desenvolvida no segundo

semestre do curso.

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Eles haviam cursado a disciplina de “Matemática Aplicada” no período

anterior. Estavam assustados por terem que estudar tanta matemática num curso de

Administração e isso se configurava num cenário de problemas, pois, ao escolherem

o curso de Administração, pensavam que não teriam contato com tantos números.

As dificuldades, contudo, eram diversas e iam muito além das dificuldades e

das decepções quanto aos “inesperados” conteúdos matemáticos. Porém,

percebíamos que tudo isso se tornava etapa vencidas à medida que procurávamos

exemplificar melhor cada explicação, buscando contextualizar os dados e mostrando

a importância de se conhecer mais a fundo o conjunto de dados por meio das

ferramentas que a Estatística Descritiva lhes oferecia, munindo-os, assim, de

informações fundamentais para a tomada de decisão, ação basilar para futuros

administradores no exercício de sua profissão.

Mas, a luta diária era grande, as novas turmas foram ficando cada vez mais

jovens e as dificuldades de aprendizado foram aos poucos se transformando.

Contextualizar os dados com situações costumeiras às empresas não fazia mais

sentido para aqueles que nem tinham conquistado o primeiro emprego.

Se a dificuldade não era apenas com os métodos e processos matemáticos

empregados na “Estatística”, mas, também, a de entender e interpretar o que

aqueles conjuntos de dados queriam demonstrar, seria, então, preciso ir além das

fronteiras convencionais. Era necessário buscar formas de envolver os estudantes

no processo, motivá-los a dar mais um passo, para que abrissem a mente ao novo e

seguissem mais seguros rumo ao conhecimento, a entender a dimensão do poder

dos Métodos Quantitativos aplicados ao cotidiano da Administração, o qual eles

ainda não faziam parte.

Desde o início, trabalhávamos com a Calculadora Científica para realizar os

diversos cálculos, usando apenas as funções matemáticas básicas, como a

exponenciação e a radiciação, além das quatro operações fundamentais: adição,

subtração, multiplicação e divisão. A calculadora era um instrumento necessário,

mas poderia ser utilizada de outra maneira. Foi, então, que um dos professores que

trabalhava com uma disciplina nos últimos períodos do curso sugeriu que os

estudantes fossem incentivados a adquirir a Calculadora Financeira HP-12C, já nos

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anos iniciais, uma vez que, no final do curso, eles precisariam realizar alguns

cálculos avançados com esta calculadora. Mas, como fazer isso de modo eficiente,

que realmente agregasse valor à aprendizagem dos estudantes, se eles não sabiam

fazer nem os cálculos mais simples?

Ao ingressar no Curso de Mestrado em Ensino de Ciências, na Universidade

Cruzeiro do Sul, mais precisamente na Linha de Pesquisa Tecnologias de

Informação e Comunicação no Ensino de Ciências e Matemática, tivemos a

impressão de que nossa antiga angústia estaria próxima de uma solução.

No decorrer do Mestrado, tivemos a oportunidade de cursar as disciplinas de

“Tópicos de Estatística” e “Tópicos de Modelagem em Ciências e Matemática”,

ambas ministradas pela Professora Dra. Celi Espasandin Lopes, bem como a

disciplina “Tendências do Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação no

Ensino”, ministrada pelos Professores Dr. Juliano Schimiguel, Dr. Ismar Frango

Silveira e Dr. Carlos Fernando de Araújo Júnior.

Participando de seminários e de algumas disciplinas, percebemos que não

bastaria apenas usar a Calculadora Financeira HP-12C para contribuir com a

aprendizagem de nossos estudantes. Seria preciso inserir a tecnologia de uma

maneira efetiva e alicerçada em uma teoria específica voltada para o ensino e dentro

da área da disciplina em que trabalhamos estivesse inserida, ou seja, a Educação

Estatística.

Na trajetória destes aprendizados, percebemos que o ensino de “Estatística”

necessita de uma atenção especial, uma vez que os métodos de ensino aplicados

ao ensino da “Matemática” não são totalmente adequados ao ensino da “Estatística”.

Ao que parece, a “Estatística” utiliza em seu desenvolvimento, ferramentas

matemáticas, contudo, as formas de ensino precisam ser diferentes. Ambas as

disciplinas (a “Estatística” e a “Matemática”) trabalham com números, porém, cada

uma possui uma visão diferente sobre o que estes números representam.

Para a “Estatística”, os números não podem ser analisados sem serem

contextualizados com sua origem ou com um problema específico. Por isso, levar os

estudantes à busca destes dados em suas respectivas fontes pode colaborar

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significativamente para uma melhor compreensão dos conceitos estatísticos e suas

ferramentas de análise.

A “Estatística”, como ciência de análise de dados, é para os Administradores

um instrumento de fundamental importância no processo de tomada de decisão, que

consiste em uma das atividades primordiais exercidas por estes profissionais que

são responsáveis pela direção de empresas em todo o mundo.

A Pesquisa de Mercado, o Controle de Qualidade e a Análise de Contas são

apenas algumas das situações em que um Administrador precisa de conhecimentos

estatísticos para tomar decisões acertadas, as quais podem alterar

significativamente o futuro de uma empresa e de seus colaboradores internos e

externos.

Deste modo, compreendemos a real necessidade de se conceber uma

abordagem didática em que o ensino de “Estatística” seja diferente do ensino de

“Matemática”. A mecanicidade do método, muito comum na “Matemática”, deve dar

lugar à interpretação dos resultados obtidos por meio dos cálculos, buscando-se

compreender o que eles querem expressar diante dos dados coletados, posturas,

estas, normalmente exigidas pela “Estatística”.

Assim, chegamos ao seguinte problema de pesquisa: Quais contribuições o

uso de Tecnologias em um Projeto de Investigação Estatística traz a Educação

Estatística dos estudantes em uma disciplina do curso de Administração?

Deste modo, caminhando nesta linha de pensamento, procuramos identificar

um ambiente de aprendizagem em que o estudante pudesse contextualizar os

conceitos estatísticos com situações reais, atuando ativamente no processo de

aprendizagem. Assim, adotamos a definição oferecida por Skovsmose (2000) para o

Cenário de Investigação, que consiste num ambiente de aprendizagem propício à

realização de investigações.

E, assim como em Mendonça e Lopes (2011), autores que apresentam

esclarecimentos sobre um ambiente de aprendizagem ótimo para a implantação da

Educação Estatística no Ensino Médio, acreditamos que esta mesma perspectiva

seja propícia para a sua aplicação à Educação Estatística e, neste caso, no Curso

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de Administração. Isso, especialmente, se aliada ao uso de recursos tecnológicos

como calculadoras científicas, financeiras (HP 12C) e softwares como o Microsoft

Excel, R, PSPP e aplicativos como o de auxílio para elaboração de formulários do

Google Docs.

Alguns Pressupostos Teóricos

Ao longo da caminhada no mestrado, chamou-nos atenção o tipo de

abordagem referente à importância do desenvolvimento profissional dos professores

que ensinam conteúdos de Estatística e o papel deles na integração entre a teoria e

a prática. Estas variáveis se manifestam na ação, uma vez que alicerçadas no

estudo, na vivência e na reflexão dos conceitos sobre Estatística e Probabilidade e

que resultam em benefícios ao desenvolvimento profissional e à prática pedagógica

presentes em Lopes (2003).

Da busca pela prática no ensino de “Estatística”, nos deparamos a com o

conceito de Educação Estatística, em que Campos (2007), ao nos apresentar seus

fundamentos teóricos da didática da “Estatística”, coloca em evidência o

desenvolvimento de três competências: a literacia, o pensamento e o raciocínio

estatístico. Reafirma ainda que, sem estas competências, não é possível

desenvolver com sucesso uma relação ensino e aprendizagem desta disciplina.

Noutros termos, temos que, da problematização e tematização do ensino, do

trabalho com dados reais, contextualizados, do debate e do diálogo, da

democratização do ambiente de sala de aula, da preparação do estudante para

interpretar o mundo e praticar a responsabilidade social e a linguagem crítica,

Campos (2007) concebe a chamada Educação Estatística Crítica.

Ainda, à procura de um referencial para o ensino de “Estatística” no Ensino

Superior, nos deparamos com Guidelines for Assessment and Instruction in Statistics

Education (GAISE) College Report, da American Statistical Association (ASA). Este

importante documento norte americano, nos levou a pesquisadores que têm como

objeto de estudo o desenvolvimento das competências citadas anteriormente: a

literacia, o pensamento e o raciocínio estatístico. Deste modo, Cobb (1993), Chance

(1997), Rumsey (2002) e Broers (2006), assim como em Lopes (2012), eles

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descrevem uma necessidade urgente de alterações na forma de ensinar “Estatística”

nos diversos níveis de ensino, desde a educação básica até o Ensino Superior.

Neste sentido, o desenvolvimento de um Projeto de Investigação Estatística

visando ao revigoramento da Educação Estatística, do modo como nos foi

apresentada em Mendonça (2008), ao nosso entender, refletiria esta busca pela

aproximação da teoria com a prática, numa atitude que necessariamente precisa ser

pautada na experiência vivencial e uso de temas do cotidiano dos estudantes.

Este trabalho de experimentação foi realizado no Ensino Médio. Porém,

Jacobini (1999) apresenta outra aplicação baseada em Modelação Matemática no

ensino de “Estatística” em Cursos de Graduação, minimizando os efeitos das

tensões dos estudantes que apresentam formação deficiente em “Matemática”. O

que é aprimorado com a adoção da Modelagem Matemática como estratégia de

ensino e aprendizagem, possibilita o crescimento político dos estudantes, por meio

de ambientes de aprendizagem denominados de Cenários de Investigação

(JACOBINI, 2004).

Skovsmose (2001) trabalha com os Cenários de Investigação, já que pautado

no movimento da Educação Matemática Crítica, fundamentando-se nos aspectos

políticos da Educação Matemática. Desperta, com isso, a questão do paradigma do

exercício, em contraponto com uma abordagem investigativa lida em Skovsmose

(2008).

Igualmente, vê-se que a Educação Matemática Crítica também pode ser

aplicada por meio do Trabalho de Projetos, principalmente em uma sociedade cada

vez mais moldada pelas tecnologias, visão apresentada, novamente, no trabalho de

Skovsmose (2011).

A contextualização da “Matemática” com a finalidade de melhorar a

aprendizagem, por meio do Trabalho com Projetos, é discutida em D’Ambrosio

(2011). A aproximação entre Educação Estatística e Modelagem Matemática

também é apresentada em termos de teoria e prática na obra de Campos,

Wodewotzki e Jacobini (2011). A intersecção entre Pedagogia de Projetos e

Modelagem é discutida por Meyer, Caldeira e Malheiros (2011).

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Ponte, Brocardo e Oliveira (2009) enfatizam o papel essencial da “Estatística”

na educação para a cidadania, constituindo-se de um ferramental importante para a

realização de projetos e investigações em diversos domínios. Os autores citados

acima apresentam uma investigação estatística aplicada em sala de aula e

discorrem sobre o lugar que as investigações estatísticas podem ocupar na prática

dos professores.

O uso de Tecnologias na Educação também tem sido fonte de muitas

pesquisas, desde Presky (2001), que aborda a questão dos nativos e imigrantes

digitais até Gabriel (2013), que retrata a revolução digital na educação e os meios

com que os educadores podem aproveitar para tornar o ensino uma atividade

dinâmica e eficiente.

Destacam-se nesta linha Moran, Masetto e Behrens (2010) que apresentam

as novas tecnologias e a mediação pedagógica, Sallum, Cavalari Júnior e

Schimiguel (2011) que apresentam questões relativas à necessidade de se

aperfeiçoar o ensino de “Matemática”, por meio de recursos tecnológicos, assim

como Kenski (2007), que aborda a questão da possibilidade de mediar educação

pelas novas tecnologias de informação.

Mais precisamente, nos baseamos na utilização do software Excel, presente

no trabalho de Capela e Capela (2011) e Viali e Sebastiani (2010), no uso da

internet, apresentado por Dinis (2007), no Facebook como ferramenta de auxílio na

educação, em Werhmuller e Silveira (2012), Juliani et al (2012), Zancanaro et al

(2012) e Fernandes (2011), no uso de blogs por meio de Santos (2005), e no

trabalho de Serafim, Pimentel e Souza do Ó (2008) sobre o Google Doc’s, que agora

é armazenado no Google Drive. E, para tratar do uso de calculadoras no ensino,

nos baseamos em Albergaria e Ponte (2008), Melo, (2008) e Guinther (2009).

Objetivo Geral

A presente pesquisa tem como objetivo avaliar o uso e a integração das

Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para uma Educação Estatística

no Ensino Superior, a partir da construção de um ambiente de investigação. Para

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tanto, apresentamos uma proposta baseada em três estratégias distintas: o uso de

calculadora, o uso de software e o Projeto de Investigação Estatística.

Objetivos Específicos

Como objetivos específicos, temos:

Estabelecer um ambiente de investigação propício ao desenvolvimento

da Educação Estatística.

Proporcionar aos estudantes o uso e a manipulação de dados de

origem de seu próprio cotidiano.

Implementar o uso de diferentes tecnologias como ferramentas para o

ensino de “Estatística”.

Proporcionar aos estudantes o entendimento do processo de

elaboração de uma pesquisa, desde a definição do problema até a

organização e análise dos dados.

Complementar / sistematizar os conhecimentos de “Estatística”

trabalhados na disciplina.

Valorizar a “Estatística” como instrumento para compreender o mundo.

Analisar a necessidade de um ensino contextualizado e a importância

das interações.

Estes objetivos estão alinhados à questão central de pesquisa deste trabalho,

relacionando o uso de Tecnologias ao desenvolvimento do Projeto de Investigação

Estatística, consolidando um ambiente de investigação que proporcione o

desenvolvimento da Educação Estatística junto aos estudantes de uma disciplina em

um curso de Administração.

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Síntese da Dissertação

No Capítulo I, tratamos da Educação Estatística, sua evolução e

fundamentos. Apresentamos a diferenciação entre “Matemática” e “Estatística”, os

conceitos de Educação Matemática Crítica, Cenários de Investigação, Trabalho com

Projetos, as Diretrizes para a Educação Estatística em Cursos Introdutórios de

Estatística no Ensino Superior (GAISE), bem como o panorama sobre as Diretrizes

Curriculares do Curso de Administração.

No Capítulo II, apresentamos o uso das diferentes Tecnologias de Informação

e Comunicação no contexto da educação, sua relação com a Educação Estatística.

Abordamos temas sobre o uso de software, internet, redes sociais, Google Docs,

blogs e o uso de calculadoras como ferramentas aptas ao ensino de “Estatística”.

O Capítulo III compreende a metodologia utilizada, explicitando a construção

dos dados, o desenvolvimento da pesquisa, a descrição dos instrumentos de coleta

de dados, a caracterização dos entes pesquisados.

O Capítulo IV apresenta a Análise de Dados e o desenvolvimento da

pesquisa, a qual compreende a implementação de três estratégias: o uso da

calculadora, o uso de software, a implementação do Projeto de Investigação

Estatística e a Análise de Conteúdo dos relatórios dos alunos.

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1 - DA EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA AO TRABALHO COM PROJETOS

NO ENSINO SUPERIOR

Neste Capítulo, apresenta-se uma revisão sobre o que se tem apontado sobre

a Educação Estatística no Ensino Superior, sua evolução ao longo dos tempos, seus

fundamentos teóricos, a diferenciação entre “Matemática” e “Estatística”, sua relação

com Cenários de Investigação e o Trabalho com Projetos, as diretrizes para cursos

introdutórios de “Estatística” no Ensino Superior, publicado em 2005, e financiado

pela American Statistical Association (ASA), nos Estados Unidos, bem como as

Diretrizes Curriculares do Curso de Administração, no que tange às expectativas

quanto aos Métodos Quantitativos e sua relação com as tecnologias.

1.1 Evolução

Dificilmente, ao abrir-se um jornal, uma revista ou mesmo lermos uma

propaganda impressa, não nos depararemos com uma informação expressa em

forma de uma tabela, um gráfico ou uma porcentagem, índices financeiros e

econômicos, inflação etc. Tomar decisões no mundo contemporâneo requer

conhecimento prévio de informações, fruto de comparações e análises que

certamente exigem algum conhecimento estatístico expresso em quaisquer destes

formatos a que nos referimos.

Entretanto, o ensino de “Estatística” não tinha sua importância reconhecida,

figurando sempre no final dos livros didáticos, quase nunca contemplados pelos

planos de ensino de professores na Educação Básica. Outrora, recebia tratamento

mecânico, técnico, instrumental.

Em 1948, o International Statistical Institute (ISI) criou o Statistical Education

Committee que, em 1991, se transformou no International Association for Statistical

Education (IASE). Estas instituições internacionais disponibilizam várias publicações

como Newsletters, Journals e Papers, conforme Campos (2007).

Sensivelmente até aos anos de 1950 e de 1960, o ensino de Estatística era dominado por fortes preocupações centradas nas ferramentas e nos métodos necessários para resolver os problemas presentes nos mais

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variados contextos e para os quais a Estatística era considerada um instrumento importante que permitia aos mais variados setores da sociedade, medir, descrever e classificar. O mérito da Estatística restringia-se aos serviços prestados às outras áreas do conhecimento. Consequentemente, naquela altura, o seu ensino tendia a refletir essa visão instrumental, segundo a qual a Estatística é um conjunto de noções e técnicas matemáticas rigorosas, que podem utilizar forma objetiva, estando a atividade estatística circunscrita a uma utilização formal e mecanicista dessas noções e técnicas (LOPES; CARVALHO, 2009, p. 78).

Na década seguinte, entre 1960 e 1970, a “Estatística” tem seu foco voltado

aos seus aspectos matemáticos. Época em que houve uma grande preocupação em

desvincular a “Estatística” das Ciências Sociais, ressaltando na disciplina de

“Estatística” suas características de objetividade e rigor, a ela atribuídos pela

influência matemática, conforme apresentam Lopes e Carvalho (2009).

As autoras supra mencionadas, complementam a informação, dizendo que o

ensino da “Estatística” naquela época centrava-se na resolução de classes de

problemas semelhantes entre si. Desta forma, os estudantes aprendiam a

reconhecer vários tipos de problemas, a reproduzir procedimentos e a utilizar os

conceitos, valorizando aspectos numéricos, provenientes de ferramentas

estatísticas. A análise exploratória de dados, então, surge no ensino e na

aprendizagem de “Estatística” a partir dos anos de 1970 e 1980.

Segundo Cazorla, Kataoka e Silva (2010), a partir de 1970, surge um

movimento de repercussão mundial que reconhece a importância do raciocínio

probabilístico, bem com a relevância de se alavancar o seu desenvolvimento. Do

mesmo modo, ressalta-se como importante o desvencilhar a “Estatística” de uma já

arraigada cultura, historicamente oriunda das aulas de matemática, igualmente

vinculadas a práticas docentes centradas no determinismo.

Assim, a dimensão política e ética atribuída à “Estatística” e a sua introdução

na educação básica se faz paulatinamente e com vistas aos aspectos didáticos, isto

em vários países.

A “Estatística”, em uma sociedade cada vez mais informatizada, recebe

prestígio e importância na formação científica e ética de seus cidadãos. Tal

importância se reflete na sua introdução oficial nos Parâmetros Curriculares

Nacionais da Educação Básica, donde se enfatiza seu ensino desde a infância.

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No entanto, professores e pedagogos e, em suma, todos os licenciados em

“Matemática” ou que trabalham com esta fase educacional, não foram preparados

para enfrentar este desafio (CAZORLA, 2006).

Desde a década de 1990, inúmeros pesquisadores têm sido incentivados a

buscar as origens das dificuldades pedagógicas dos estudantes em relação à

“Estatística”, momento em que aparecem as investigações envolvendo o ensino e a

aprendizagem nesta área, culminando na formulação de uma nova área de atuação

pedagógica, a Educação Estatística.

Esta é, atualmente, objeto de análise em centros de pesquisa como no

American Statistics Association (ASA) e no International Association for Statistical

Education (IASE), tendo como finalidade a promoção do entendimento e do avanço

da Educação Estatística e o fomento do desenvolvimento de serviços educacionais

que envolvam educadores estatísticos e instituições educacionais por meio de

contatos internacionais entre indivíduos e organizações.

Diversos centros de pesquisas no mundo têm a Educação Estatística como

objeto de estudo, promovendo o seu entendimento e o seu avanço, fomentando o

desenvolvimento de serviços educacionais efetivos e eficientes entre indivíduos e

organizações, educadores estatísticos e instituições de ensino (CAMPOS;

WODEWOTZKI; JACOBINI, 2011).

Segundo Cazorla (2006), a Conferência Internacional "Experiências e

Expectativas do Ensino de Estatística – Desafios para o Século XXI", realizada na

Universidade Federal de Santa Catarina1 (UFSC, 1999) é um marco na Educação

Estatística no Brasil, área que começa a se consolidar enquanto assunto de

pesquisa.

No Brasil foram criados diversos grupos de pesquisas desenvolvendo estudos

sobre as condutas pedagógicas em sala de aula. Destacam-se grupos de pesquisa

como o GT 12, da Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM); o Grupo

de Pesquisa em Educação Estatística (GPEE), sediado na UNESP, campus de Rio

Claro; o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Estatística (GEPEE) da

1 http://www.inf.ufsc.br/cee/

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UNICSUL – SP; o grupo de Processo de Ensino-Aprendizagem da Matemática na

Educação Básica (PEA-MAT) da PUC-SP; o de Prática Pedagógica em Matemática

(PRAPEM) da UNICAMP – Campinas e o Grupo de Pesquisa em Educação

Matemática, Estatística e Ciências (GPEMEC) da UESC – BA, entre outros, além da

Associação Brasileira de Estatística (ABE). Nestes grupos, professores e

pesquisadores têm avançado na construção de estudos que permitam identificar

quais são os elementos que necessitam ser valorizados no processo de ensino e

aprendizagem de “Estatística”, procurando minimizar os problemas relacionados a

esta disciplina em sala de aula (CAMPOS; WODEWOTZKI ; JACOBINI, 2011).

Segundo Cazorla, Kataoca e Silva (2010) existem 11 grupos de pesquisa

vinculados à área de Educação Estatística no Brasil, envolvendo pesquisadores do

GT12 e outros cadastrados no Diretório de Pesquisa do CNPq (Quadro 1).

Lopes e Carvalho (2009), mencionando Scheaffer (2000) consideram que a

“Estatística”, tradicionalmente, tem sido alvo de uma prática de ensino pautada em

um conjunto de técnicas em detrimento ao modo de pensar sobre o mundo. Assim,

reconhecem que tanto professores quanto estudantes tendem a enfatizar

[...] aspectos particulares por oposição a princípios e aprender procedimentos e fórmulas em vez de metodologias e formulações mais amplas. As técnicas continuam a ser úteis e talvez sejam uma parte importante da instrução, podendo mesmo ser um ponto de partida, mas atualmente o ensino de Estatística tem de ir além do livro texto ou dos procedimentos [...] a educação estatística moderna tem de ter a Análise Exploratória de dados no seu meio (SCHEAFFER, 2000, p. 158 apud LOPES e CARVALHO, 2009, p. 80).

Instituição de Ensino Superior (IES)

Grupo de Pesquisa Área predominante de pesquisa

PUC – SP Processo de Ensino-Aprendizagem da Matemática na Educação Básica (PEA – MAT)

Educação

PUCCAMP Estudos e Pesquisas em Educação Matemática (EPEMAT)

Educação

UESC – BA Grupo de Pesquisa em Educação Matemática, Estatística e Ciências (GPEMEC) / Ambiente Virtual de Apoio ao Letramento Estatístico (AVALE)

Educação / Probabilidade e Estatística

UFMT O Trabalho e a Formação do Professor de Matemática (OTFPM)

Educação

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ULBRA Grupo de Pesquisa em Educação Estatística (GPEE)

Educação

UNESP, campus de Rio Claro

Grupo de Pesquisa em Educação Estatística (GPEE)

Matemática

UNIBAN Processos de Ensino-Aprendizagem em Educação Matemática (PEAEM)

Educação

UNICAMP – Campinas

Prática Pedagógica em Matemática (PRAPEM)

Educação

UNICAMP – Campinas

Psicologia e Educação Matemática (PSIEM)

Psicologia

UNICSUL – SP Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Estatística (GEPEE)

Educação

USJT Afetividade na Aprendizagem de Estatística (AAE)

Educação

Quadro 1 – Instituições, Grupos de Pesquisa e Área predominante de Pesquisa relacionado à Educação Estatística.

(Adaptado de CAZORLA, KATAOKA e SILVA, 2010).

Em contraponto aos anos de 1970, quando a análise exploratória de dados

era trabalhada junto à análise descritiva, constata-se que, na atualidade, a ênfase se

dá na organização, na descrição, na representação e na análise, especialmente

naquele tipo de exame em que se destacam os aspectos visuais como diagramas,

gráficos, tabelas e mapas, conforme apontam Lopes e Carvalho (2009).

Do mesmo modo, Ponte, Brocardo e Oliveira (2009, p. 91) reconhecem que a

Estatística, mesmo sendo considerada sob o ponto de vista da pesquisa docente

como esfera científica ou recorte temático recente, “desempenha um papel essencial

na educação para a cidadania”, enfatizando que a “Estatística”

[...] constitui uma importante ferramenta para a realização de projetos e investigações em numerosos domínios, sendo usada no planejamento, na recolha e na análise de dados e na realização de inferências para tomar decisões.

Ponte, Brocardo e Oliveira (2009, p. 104) reconhecem ainda a forte evolução

da “Estatística” no ensino, fato que, no final dos anos 50, permitiu que ela passasse

a ser integrada no currículo do ensino secundário, por possuir estreita relação com

as Probabilidades, voltando-se, neste último caso, ao estudo dos testes de

hipóteses.

Posteriormente, introduzida no ensino primário, enfocaria as formas de

representação de dados e medidas de tendência central. A perspectiva de encarar a

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“Estatística” como “trabalho com dados” surgiu em alguns países mais tarde,

culminando em três vertentes no ensino que temos hoje em dia:

(i) com ênfase no processo de Análise de Dados, tal como ela é utilizada no dia a dia na sociedade (é o caso da Inglaterra); (ii) como capítulo da Matemática, frequentemente designado por Estocástica, sublinhando aspectos conceptuais e / ou computacionais (como na França); e (iii) como ‘state’ istics, ou seja, como instrumento auxiliar para o estudo dos mais variados assuntos e disciplinas escolares (caso da Suécia). A última tendência refere-se à forma como a Estatística é usada por outras disciplinas – o que assume grande importância, se ela recebe reduzida atenção em Matemática. As duas primeiras tendências dizem respeito ao modo como a Estatística é abordada na disciplina de Matemática – com ênfase nos aspectos matemáticos ou na sua utilização em diversos campos.

Deste modo, percebe-se o quanto a “Estatística” e a Educação Estatística

ocupam gradativamente, posições de destaque nos currículos, tanto da educação

básica, quanto do Ensino Superior. Entretanto, ainda existem vertentes com pontos

de vista divergentes em diferentes países no mundo.

Apesar de inserida num contexto de divergências conceituais que, aliás, é

próprio do fazer científico, concordamos com Ponte, Brocardo e Oliveira (2009, p.

105) ao defenderem, assim como muitos outros autores, que a Educação Estatística

deve se deslocar do campo do cálculo e da realização de tarefas para o processo de

investigação.

Os autores citam Richard Snee, estudioso e estatístico que aponta como

ênfases a “recolha de dados, a compreensão e a modelação da variação,

representação gráfica de dados, experimentação, questionamento”, priorizando

assim o “modo como o pensamento estatístico é usado na investigação de

problemas do mundo real”.

Assim, podem-se desenvolver os conteúdos estatísticos, levando os

estudantes a compreenderem o verdadeiro papel da “Estatística” em nossa

sociedade. Mais precisamente, poderemos tornar o ensino de estatística em

disciplinas introdutórias dos cursos de graduação mais focados em aplicações

específicas das respectivas áreas em questão, como no caso desta investigação,

que se desenvolveu em um curso de Administração.

Considera-se, ainda, confuso e contraditório apresentar aplicações do uso da

“Estatística” na área de enfermagem em um curso de engenharia, por exemplo.

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Deste modo, trabalhando com dados reais e aplicações do cotidiano relacionado ao

curso em que a disciplina está sendo oferecida, é provável que tenhamos um

aprendizado bem mais contextualizado e significativo ao estudante.

1.2 Fundamentos de Educação Estatística

É bem comum se imaginar que a “Estatística” e a “Matemática” teriam a

mesma dinâmica didático/pedagógica, uma vez que a primeira é parte da segunda,

considerando o contexto escolar. É certo que ambas possuem alguma peculiaridade,

porém, várias considerações devem ser feitas visando enfatizar divergências,

principalmente relacionadas à didática da “Estatística”.

Em geral, os conteúdos e valores trabalhados na “Estatística” são distintos

aos da “Matemática”. Os entes matemáticos, em casos assim, figuram como

coadjuvantes em ações específicas da “Estatística”, conforme apresenta Campos

(2007).

Seguindo, portanto, o percurso teórico de Lopes (2003), vemos que este

autor, ao perceber que a “Estatística”, assim como a “Matemática” e a Educação

manifestam-se em uma relação recíproca dependente, de onde origina a Educação

Estatística e o desenvolvimento de seus objetivos, concentra-se no pensamento

probabilístico e estatístico.

Segundo Batanero (2002), em uma sociedade instável e imprevisível como a

que vivemos, sentimo-nos inseguros sobre qual a melhor forma de preparar nossos

jovens e sobre quais são as matérias e conteúdos que devemos ensinar. Mas o que

pode parecer essencial e que nos faz dedicarmos grande parte de nosso tempo de

ensino, pode se tornar obsoleto em um período curto de tempo. Salienta o autor, que

todos nós temos experiência em dedicar muitas horas de nosso estudo ao

aprendizado de algoritmos de cálculos estatísticos, que hoje em dia são

desnecessários, devido à existência de calculadoras e computadores.

Segundo Campos, Wodewotzki e Jacobini (2011), a Educação Estatística teve

início como uma importante área de pesquisa para trabalhar o ensino e a

aprendizagem em todos os níveis escolares dos diversos conteúdos de “Estatística”.

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Assim, verifica-se a relevância em aproximar as pesquisas e o trabalho do

professor em sala de aula. Para estes autores, o uso de tecnologia no ensino, bem

como o desenvolvimento de conceitos, os problemas de avaliação, a

contextualização entre a “Estatística” e a vida real e a formação de um cidadão

crítico são de fundamental importância para a Educação Estatística.

Campos, Wodewotzki e Jacobini (2011) asseveram, como dito anteriormente

neste trabalho, sobre a ocorrência de três competências que devem estar presentes

no planejamento de cursos de “Estatística” (a literacia estatística, o raciocínio

estatístico e o pensamento estatístico), as quais são indispensáveis ao aprendizado

dos conceitos fundamentais desta disciplina. Noutros termos, diz-se que a habilidade

de ler, compreender, interpretar, analisar e avaliar textos escritos referentes à

“Estatística” é considerada por Campos, Wodewotzki e Jacobini (2011) como

literacia estatística. Ou seja, à habilidade de argumentar usando a terminologia

estatística de forma correta, sendo ainda capaz de organizar dados, construir e

apresentar tabelas e trabalhar com diferentes representações dos dados como

tabelas e gráficos. O uso de tecnologia nos cálculos é incentivado pelos autores,

portanto, para valorizar as interpretações dos resultados. Neste sentido, os autores

alertam para a importância dos estudantes tomarem as rédeas de seu próprio

aprendizado, tendo a oportunidade de que estes produzam seus próprios dados e

que encontrem os resultados básicos.

Segundo Mallows (1998, apud Campos, 2007), o pensamento estatístico pode

ser compreendido como sendo a capacidade de relacionar dados quantitativos com

situações reais, concretas, levando em consideração a existência da variabilidade e

da incerteza, deixando explícito o que os dados podem dizer sobre o problema em

questão.

O juízo estatístico é definido como “a maneira tal qual uma pessoa raciocina

com ideias estatísticas e faz sentido com as informações estatísticas” (GARFIELD,

2002, apud CAMPOS, WODEWOTZKI e JACOBINI, 2011, p. 29). Ou seja, o

entendimento estatístico se relaciona ao ato de realizar interpretações com base em

conjuntos de dados, representações ou sumários estatísticos dos dados organizados

em forma de gráficos e tabelas, por exemplo.

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34

De modo sintetizado, a literacia estatística pode ser compreendida como

sendo o entendimento e a interpretação da informação estatística em questão. Já, o

raciocínio estatístico, por sua vez, estaria relacionado à habilidade de trabalhar com

as ferramentas e os conceitos aprendidos.

O pensamento estatístico, assim decomposto, permite uma compreensão

global da dimensão do problema, possibilitando ao estudante questionar

criticamente a realidade observada por meio da “Estatística”. Tais competências são

objetos de estudos de Cobb (1993), Chance (1997), Rumsey (2002), Broers (2006),

Lopes (2012), que apontam como necessidade premente mudanças no ensino de

“Estatística”, numa ação abrangente que parta da educação básica e atinja,

primordialmente, o Ensino Superior.

Cobb (1993) relata em sua pesquisa que, na maioria das vezes, quem está à

frente da sala de aula de uma disciplina de “Estatística” não é um estatístico e que,

em alguns casos, nem é um matemático, mas engenheiros ou profissionais de

outras áreas, que não tiveram em sua formação acadêmica, ferramentas

pedagógicas apropriadas para o ensino de “Estatística”.

Deste modo, estes professores promovem um ensino pautado na resolução

de exercícios de aplicação de fórmulas, completamente descontextualizados da

verdadeira aplicabilidade da “Estatística” a qual estas disciplinas introdutórias

deveriam abordar.

Chance (1997) afirma que o processo de avaliação das disciplinas de

“Estatística” também precisa ser revisto, pois em sua maioria, não retratam o que

realmente precisa ser assimilado sobre o conhecimento adquirido pelos estudantes.

Por isso, Chance propõe o que chama de avaliação autêntica, em que os estudantes

são incentivados a compreender todo o processo estatístico. Esta etapa

compreende fases como a da formulação da pergunta inicial, a da definição da

população e amostragem, a da coleta e a da organização de dados, chegando-se às

análises e inferências. A interpretação de análise realizada pelo computador se dá,

assim, sempre com vistas ao desenvolvimento das competências citadas

anteriormente, principalmente a literacia estatística.

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35

Rumsey (2002) acredita que os cursos introdutórios de “Estatística” devem

proporcionar aos estudantes um aumento na conscientização sobre os dados na

vida cotidiana, preparando-os para a carreira profissional na “era da informação”.

Para isso, Rumsey propõe trabalhar dois objetivos estratégicos, sendo que o

primeiro diz respeito à literacia estatística, e o segundo, ao desenvolvimento de

habilidades de pesquisa científica.

Todos os estudantes necessitam ter conhecimento sobre o uso do método

científico, pois todos, de uma forma ou de outra, precisam ter a capacidade de

identificar as perguntas, coletar evidências (dados), descobrir e aplicar as

ferramentas para interpretar os dados e comunicar e trocar resultados. Todavia,

muitos dos nossos estudantes nunca irão realizar um estudo científico, porém, é

difícil imaginar um estudante na sociedade de hoje que nunca se perceberá diante

de dados ou resultados estatísticos ao longo de uma carreira.

A “Estatística” envolve todos os aspectos do método científico e também deve

ser levado em consideração que as estatísticas apresentadas em nossas vidas

diárias são baseadas no uso adequado ou inadequado do método científico.

Acredita-se ainda, segundo o viés revelador de Rumsey (2002) que para os

estudantes alcançarem aos objetivos estratégicos, precisam entender e utilizar as

ideias estatísticas em muitos níveis diferentes.

Para começar, eles precisariam de certo nível de competência, ou uma

melhor compreensão das ideias básicas, termos e linguagem estatística. Mas, ser

um bom cidadão e pesquisador estatístico, requer mais do que isso, exige que o

estudante seja capaz de explicar, decidir, julgar, avaliar e tomar decisões sobre a

informação, num conjunto de atos que lhes exige habilidades adicionais em

raciocínio e pensamento estatístico, donde a base para se desenvolver essas

habilidades deve dar-se primeiramente ao nível da literacia estatística.

Neste contexto, percebe-se que para o desenvolvimento destas habilidades,

faz-se necessário o uso de uma prática pedagógica que possibilite uma experiência

vivencial em alguma temática que seja objeto de estudo, num ambiente próprio de

investigação.

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36

1.3 Cenários de Investigação e o Trabalho com Projetos

Segundo Skovsmose (2008), a educação matemática tradicional está ligada

ao paradigma do exercício, isto é, do aprendizado por repetição. Num ambiente de

aprendizagem assim, impregnado de ranços didáticos e arcaísmos culturais, os

próprios livros didáticos colaboram para que se perpetue esta prática, com o agravo

de que os exercícios que eles trazem foram elaborados por uma autoridade externa

à sala de aula, culminando na prerrogativa de que existe apenas uma, e só uma

resposta correta.

Contrapondo-se ao paradigma do exercício, a abordagem de investigação

possibilita o trabalho com projetos em um ambiente de aprendizagem diferente, que

oferece recursos para que os estudantes realizem investigações. Esta abordagem

de investigação está relacionada à Educação Matemática Crítica, que visa ao

desenvolvimento da materacia, conceito que se refere à “competência de interpretar

e agir numa situação social e política estruturada pela matemática” (SKOVSMOSE,

2008, p.16), não se restringindo apenas a habilidades matemáticas.

De maneira análoga, as disciplinas de introdução à “Estatística” no Ensino

Superior também se baseiam grandemente no paradigma do exercício. Os livros

didáticos, comumente, trazem exercícios que, não raro, não são contextualizados

com os cursos em que são ministrados, construindo uma barreira entre os

estudantes e o conteúdo estudado. Deste modo, por não identificarem aplicações

práticas dos conceitos estatísticos em problemáticas específicas de sua futura área

de atuação, as ferramentas estatísticas postas à disposição dos estudantes caem no

esquecimento e nunca tornam a fazer parte da vida destes estudantes.

A seu turno, os livros didáticos também já trazem os dados coletados e,

muitas vezes, reorganizados segundo os critérios do autor do material e não

atendendo a demandas específicas associáveis aos contextos estudantis. Assim, os

estudantes também não conseguem assimilar o modo como aqueles números, que

possuem um significado importante para a resolução dos problemas propostos,

foram coletados e organizados. Por isso, o processo fica truncado, refletindo no seu

desenvolvimento de forma negativa. A contextualização e a participação do

estudante em todo o processo, desde a coleta de dados, passando pela

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organização, resumo e análise dos dados, colaboraria significativamente para um

aprendizado mais eficiente.

De acordo com Campos, Wodewotzki e Jacobini (2011), a Educação Crítica

vai ao encontro deste tipo de abordagem, pois objetiva nos levar a um caráter social,

que procura, democraticamente, dar significado aos conteúdos estatísticos,

incentivando os estudantes a desenvolverem a criticidade, a responsabilidade ética

e a consciência politica.

Sob a luz dos pressupostos da Educação Crítica, Jacobini (2004) considera

improdutivos os cursos que mantiverem como essência a preocupação exclusiva

com a transmissão de conhecimento. Assim, demonstra-se que o Trabalho com

Projetos em sala de aula situa-se no contexto em que, por um lado, descaracteriza o

ensino baseado apenas na transmissão do conhecimento e, por outro lado,

aproxima-se dos preceitos da Educação Crítica. É fato, portanto, que este tipo de

estratégia contribui para o desenvolvimento de uma aprendizagem alicerçada na

participação ativa dos estudantes por meio do estudo de situações contextualizadas

com o cotidiano.

Do mesmo modo, Ponte, Brocardo e Oliveira (2009) realizam estudos, cujos

apontamentos dizem que o ensino de “Estatística” deve assumir uma perspectiva

investigativa, objetivando o desenvolvimento da capacidade de formular e conduzir

averiguações que recorram aos dados de natureza quantitativa.

Em ambientes assim elaborados, os estudantes participam melhor de todas

as fases do processo, trabalhando com dados reais, desde o início do processo, na

formulação do problema, na escolha dos métodos para a coleta de dados, se

envolvendo na organização, representação, sistematização e interpretação das

informações, etapas estas que permitem acesso aos diversos modos utilizáveis para

que a obtenção das conclusões finais. Esse processo, segundo os autores, pode ser

chamado de “ciclo de investigação”.

Assim, ao trabalhar com projetos, o professor deixa de ser o mero transmissor

do conhecimento para se tornar um importante elo entre o estudante e a construção

de seu conhecimento. O estudante passa a ter uma posição mais ativa em sala de

aula e fora dela.

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Skovsmose (2008) chama de “cenário de investigação” ao ambiente que

possibilita um trabalho de investigação e o define como “aquele que convida os

estudantes a formularem questões e a procurarem explicações” (p. 21). Deste modo,

a dinâmica de uma sala de aula em que se desenvolve um cenário de investigação é

extremamente diferente daquela baseada no modelo tradicional do paradigma do

exercício e da repetição.

D’Ambrosio (2011), por sua vez, considera a contextualização da

“Matemática”, essencial a todos, salientando ainda que é impossível deixar de

relacionar os Elementos de Euclides ao panorama cultural da Grécia antiga.

Complementa que o conhecimento de um grande número de instrumentos e

técnicas intelectuais, quando devidamente contextualizado, proporciona maior

capacidade de enfrentar situações e de resolver problemas novos, de simular uma

situação real e chegar a uma possível solução. E, assim, se define uma

“aprendizagem por excelência”, como sendo aquele tipo de capacidade em que o

estudante se faz mais apto a explicar, aprender, compreender criticamente e a

enfrentar situações novas. Desse modo, “aprender”, segundo este autor, não é o ato

considerado apenas como o simples domínio de técnicas e de habilidades, nem tão

pouco a memorização de algumas explicações e teorias, mas uma construção

sociocultural complexa que põe em regime de interação todos os itens apreendidos

em sua relação com o mundo.

Mendonça (2008), citando Batanero e Diaz (2004), considera que o trabalho

com projetos possibilita contextualizar os conteúdos com situações reais, integrando,

desta forma, o ensino de “Estatística” a um processo de investigação, constituindo

uma prática pedagógica que possui pontos positivos como:

Contextualiza a Estatística, e isso torna mais relevante, já que os dados surgem de um problema, e têm que ser interpretados.

Os projetos despertam o interesse, principalmente se é o estudante que escolhe o tema. O estudante quer resolver o problema, não imposto pelo professor.

Aprende-se melhor porque são dados reais, e introduzem ideias que não aparecem com os dados ‘inventados pelo professor’: precisão, variabilidade, confiabilidade, possibilidade de mediação e viés.

Mostra-se que a Estatística não se reduz a conteúdos matemáticos (BATANERO e DIAZ, 2004, p. 09, apud MENDONÇA, 2008, p. 58).

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Assim, Batanero e Diaz (2004), citadas por Mendonça (2008), acreditam que

os estudantes desenvolvem a capacidade de aplicar seus conhecimentos por meio

do trabalho com projetos e entendem que deste modo, instiga-se aos estudantes a

buscarem informações necessárias para resolverem os problemas e para

estabelecerem hipóteses, questionando os resultados encontrados e comparando-os

com outros já conhecidos.

Os conhecimentos prévios ganham significado ao passo que servem como

subsídio para a solução do problema em questão e assim sucessivamente. Logo,

verifica-se a importância dos temas serem realistas e estarem ao nível dos

estudantes, sendo abertos e proporcionando o desenvolvimento da criatividade.

Com este efeito, as autoras apresentam um esquema destacando as principais

etapas de desenvolvimento de um projeto (Figura 1).

Figura 1 – Esquema de desenvolvimento de um projeto. (BATANERO e DIAZ, 2004, apud Mendonça, 2008, p. 60).

Entretanto, Mendonça (2008) ressalta que as etapas destacadas neste

esquema não seguem necessariamente esta ordem ou desta forma, uma vez que

podem sofrer variações de acordo com a situação estudada. Esclarece também que,

ao trabalhar com uma situação real, nem sempre se pode garantir que o problema

Começo

Problema Recolha dos

dados

Elaborar as

perguntas

Organizar,

analisar e

interpretar os

dados

Resolveu o

problema?

Comunicar os

resultados

sim

não

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foi solucionado, pois obtemos aproximações de acordo com o recorte efetuado e das

variáveis escolhidas.

Para Biajone (2010, p. 178), ensinar “Estatística” por meio de um projeto pode

proporcionar a possibilidade de transpor a ênfase tradicional baseada “nos cálculos,

nos procedimentos e nos algoritmos para um processo de investigação deste saber”

que permite,

por intermédio de suas fases, o uso da coleta, da organização e da análise de informações, da adoção e da discussão de estratégias, da resolução de problemas, da tomada de decisões e da comunicação, quer seja oral ou escrita, dos resultados obtidos.

De Meyer, Caldeira e Malheiros (2011, p. 111) recuperamos o discurso de

que “a existência de uma meta, o fato de ele ser uma atividade desejada,

intencional, de interesse daqueles que vão desenvolvê-lo, além da possibilidade de

descoberta de algo novo, são fundamentais e que sem eles não há projeto”, uma

vez que esta fala vai ao encontro de nossos propósitos. Isto é, tal abordagem é

relevante por atribuir significação às ações da aprendizagem por parte dos alunos,

pois se alia a ela, ainda, a autenticidade, a existência de complexidade, de

atividades de resolução de problemas, tudo disposto em fases bem delimitadas

durante o desenvolvimento, características essenciais, enfim, que acompanham os

projetos.

Também se acredita, assim como estes autores, que o desenvolvimento de

um projeto em sala de aula deve estar estritamente relacionado a problemas

cotidianos, de interesse dos estudantes neste processo, fazendo com que estes se

tornem atores mais ativos no processo de aprendizagem.

Neste sentido, consideramos a afirmação de Meyer, Caldeira e Malheiros

(2011, p.113) em que “um projeto é uma atividade na qual o interesse dos

estudantes é primordial” e ressaltamos que sua execução deve partir de uma

situação, tema ou problema, por intermédio de uma negociação pedagógica com

orientação docente, permitindo a abertura exploratória e demais possibilidades

didáticas frente às questões relacionadas a outras áreas do conhecimento.

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E, para complementar, motivados pela convergência entre as características

de Modelagem e Projetos, adotamos a definição apresentada por Meyer, Caldeira e

Malheiros (2011, p. 113):

Fazer modelagem baseia-se em três passos principais: o da formulação do problema, o do estudo de sua resolução e o da avaliação, [...]. Esses passos podem estar inseridos no desenvolvimento dos projetos. Assim, quando o ‘fazer’ Modelagem se torna parte do desenvolvimento de um projeto, podemos dizer que são feitos Projetos de Modelagem.

A abordagem didático-metodológica do Trabalho com Projetos possibilita aos

estudantes a experiência vivencial de participar de todas as etapas de um processo

de investigação com finalidade estatística, uma vez que desde a definição do

problema de pesquisa até a análise e interpretação dos dados, os estudantes

estarão envolvidos e articulados com os métodos e ferramentas necessários à

realização do projeto, de forma ativa e dinâmica.

1.4 Guidelines Para Educação Estatística no Ensino Superior (GAISE)

A dificuldade dos estudantes em aprender “Estatística” preocupam os

pesquisadores desta linha de investigação, assim como a crescente falta de

habilidade que estes estudantes demonstram em pensar ou raciocinar

estatisticamente (BEN-ZVI; GARFIELD, 2004, apud CAMPOS et al., 2011).

Em função disso, professores e pesquisadores promovem esforços em busca

de novas técnicas de exploração de dados aliadas ao uso de tecnologia, procurando

mudar o ensino de “Estatística” em todos os níveis educacionais.

Neste contexto, os estudiosos recomendam o desenvolvimento de três

competências: a literacia estatística, o pensamento estatístico e o raciocínio

estatístico. Competências que devem ser estimuladas pelo ensino de “Estatística”,

como propõe o Guidelines for Assessment and Instruction in Statistics Education

(GAISE) College Report, aprovado em 2005, pela American Statistical Association

(ASA), como afirma Campos et al. (2011).

O GAISE – College Report apresenta um breve histórico dos cursos

universitários introdutórios e um resumo do relatório de George Cobb, apresentado

em 1992, intitulado Heeding the call for Change: Suggestions for Curricular Action,

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que tem sido considerado como um conjunto de recomendações para o ensino

destes cursos. Retrata o resultado de pesquisas sobre o ensino em cursos

introdutórios de “Estatística” e oferece uma lista de objetivos para os estudantes,

baseado no que significa serem estatisticamente alfabetizados, ao que conhecemos

como literacia estatística (ALIAGA et al., 2010).

Uma das principais contribuições do GAISE – College Report são as seis

sugestões para o ensino nos cursos universitários introdutórios de “Estatística”, as

quais, por sua vez, são alicerçadas nas premissas do relatório de Cobb, sendo

assim descritas:

Enfatizar a literacia estatística e desenvolver o pensamento estatístico;

Usar dados reais;

Realçar a compreensão conceitual, em vez de mero conhecimento de

procedimentos;

Promover a aprendizagem ativa em sala de aula;

Usar a tecnologia para o desenvolvimento da compreensão conceitual e

análise de dados; e,

Fazer o uso das avaliações para melhorar e avaliar a aprendizagem dos

estudantes.

Quando trata da apresentação dos objetivos para os estudantes de cursos

introdutórios, o GAISE – College Report revela que o ensino de “Estatística” pode ter

diferentes ênfases, ora inclinados a ensinar para que os estudantes sejam

consumidores estatisticamente alfabetizados e conhecedores de dados, ora

inclinados a ensinar os estudantes a se tornarem produtores de análises estatísticas.

A propósito, ressaltamos que a maioria dos cursos se configura sob uma mistura de

componentes do consumidor e do produtor, porém, é o saldo desta combinação que

vai determinar a importância de cada uma das recomendações apresentadas

(ALIAGA et al., 2010).

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O que os cursos introdutórios de “Estatística” desejam é produzir estudantes

estatisticamente educados, ou seja, estudantes mais aptos a desenvolver a literacia

estatística e a capacidade de pensar estatisticamente. Os objetivos apresentados

pelo GAISE – College Report descrevem o que os estudantes precisam saber e

entender, e, atingir este conhecimento exige o aprendizado de algumas técnicas

estatísticas. Contudo, é no processo de aprendizagem de tais técnicas que se

concentram os principais esforços, não sendo apresentadas, portanto, a cobertura

de tópicos específicos.

O documento demonstra ainda, que os estudantes devem acreditar e

entender que: os números em “Estatística” são contextualizados; a variabilidade é

natural, previsível e quantificável; a amostragem aleatória possibilita que os

resultados de pesquisas e experimentos sejam estendidos para a população da qual

a amostra foi colhida; associação não é causalidade; significância estatística não

implica necessariamente importância prática, especialmente quando trabalhamos

com grandes amostras e estudos com amostras de pequenas dimensões merecem

grande atenção.

O GAISE enfatiza que os estudantes devem reconhecer fontes comuns de

vício em pesquisas e experimentos; como determinar a população para a qual os

resultados de inferência estatística podem ser estendidos, se houver, levando-se em

consideração como os dados foram coletados; como determinar quando a inferência

de causa-e-efeito pode ser extraída, a partir de uma associação com base em como

os dados foram coletados; que palavras como “normal”, “acaso” e “correlação” têm

significados específicos em “Estatística” e que podem ser diferentes do uso comum.

Recomenda-se que os estudantes devam entender as partes do processo por

intermédio do qual as estatísticas trabalham para responder às perguntas, ou seja,

como obter ou gerar dados; como representar graficamente os dados como um

primeiro passo na análise de dados, e como saber quando isso é suficiente para

responder à questão de interesse; como interpretar resumos numéricos e exibições

gráficas de dados, tanto para responder às perguntas e verificar as condições para

usar os procedimentos estatísticos corretamente; como fazer o uso apropriado de

uma inferência estatística; como comunicar os resultados de uma análise estatística

(ALIAGA et al., 2010).

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Para o GAISE, os estudantes devem compreender as ideias básicas de

inferência estatística, incluindo o conceito de uma distribuição de amostral e de

como aplicar para fazer inferências estatísticas baseadas em amostras de dados

(incluindo a ideia de erro padrão); o conceito de significância estatística, incluindo

níveis de significância; o conceito de intervalo de confiança, incluindo a interpretação

do nível de confiança e margem de erro.

E, finalmente, o GAISE afirma que os estudantes devem conhecer como

interpretar os resultados estatísticos no contexto, como criticar as notícias e artigos

de jornal que incluem informações estatísticas, incluindo a identificação do que está

faltando na apresentação e as falhas nos estudos ou métodos usados para gerar as

informações; quando pedir ajuda de um estatístico.

Deste modo, ao seguir estas recomendações, procuramos tornar mais

significativo o ensino de “Estatística”, de uma maneira em que os estudantes

realmente compreendam os fundamentos e conceitos desta disciplina, saibam

utilizar ferramentas estatísticas e as tecnológicas e, principalmente, que utilizem

estes conhecimentos no cotidiano e na vida profissional.

1.5 Diretrizes Curriculares do Curso de Administração

A Resolução nº 4, de 13 de junho de 2005, que institui as Diretrizes

Curriculares Nacionais do Curso de Administração, traz em seu Art. 3º, o perfil

desejado ao formando, como sendo a “capacitação e a aptidão para compreender as

questões científicas, técnicas, sociais e econômicas da produção e de seu

gerenciamento, observando os níveis graduais do processo de tomada de decisão”.

E, em seu Art. 5º, revela que os Cursos de Administração devem contemplar

[...] conteúdos que revelem inter-relações com a realidade nacional e internacional, segundo uma perspectiva [...] contextualizada de sua aplicabilidade no âmbito das organizações por meio da utilização de tecnologias inovadoras que atendam aos diversos campos interligados de formação.

Entre estes conteúdos, destacam-se os de “Estudos Quantitativos e suas

Tecnologias”, abrangendo modelos matemáticos e estatísticos e a aplicação de

tecnologias que possam contribuir para a definição e utilização de estratégias e

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procedimentos provenientes das atividades relacionadas à Administração (SILVA e

SCHIMIGUEL, 2013).

Neste sentido, Peter Drucker, um dos mais respeitados administradores de

todos os tempos, alerta:

As grandes decisões empresariais requerem um período cada vez maior para apresentar resultados. Já que não se pode prever o futuro, a direção das organizações só poderá tomar decisões sensatas e responsáveis selecionando, formando e colocando à prova os homens e mulheres que se encarregarão da respectiva execução – os futuros administradores (PETER DRUCKER, 2002, p. 410).

Um curso de graduação voltado para a formação de administradores deve,

então, contemplar não só o oferecimento de teorias administrativas e correlatas,

mas, também, abordar as ferramentas específicas e, entre elas, as estatísticas, por

meio de métodos de ensino eficientes, munindo os futuros administradores de um

arsenal poderoso e que lhes permita uma tomada de decisão eficaz.

Segundo Drucker (2002), a tomada de decisão é uma das muitas coisas que

estão a cargo dos executivos. Entretanto, somente eles as tomam. Ser capaz de

tomar decisões eficazes constitui-se a primeira aptidão para administrar. Na visão

deste renomado administrador, incontáveis são os livros voltados às técnicas para a

tomada de decisão, assim como diversos métodos lógicos e matemáticos de

considerável complexidade são concebidos para aplicações relativas ao processo

decisório. Contudo, a preocupação com a própria essência do processo decisório é

pequena.

Por isso, diversos autores enfatizam o uso de ferramentas estatísticas em

vários segmentos da Administração, como aparato auxiliar na pesquisa de marketing

ou na previsão de vendas, por exemplo.

Segundo Longenecker et al. (2007, p. 128), um plano de marketing baseado

em pesquisa, sem dúvida, será mais consistente do que um plano sem essa

referência. Os autores indicam os passos usuais do processo de pesquisa de

marketing, a saber: “(i) identificar a necessidade de informação, (ii) pesquisar dados

secundários, (iii) coletar dados primários e (iv) interpretar os dados obtidos”. Neste

último, Longenecker et al. relatam que:

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Depois de os dados necessários terem sido coletados, eles devem ser transformados em informações úteis. Sem interpretação, uma grande quantidade de dados é somente um fator isolado. Métodos de resumo e simplificação de informações para usuários incluem tabelas, quadros e outros gráficos. Estatísticas descritivas (por exemplo, a média) são muito úteis durante esse passo no processo de pesquisa. (LONGENECKER et al., 2009, p. 130).

Segundo Daft (1999), os administradores geralmente são considerados como

tomadores de decisão. Embora muitas decisões sejam estratégicas, os

administradores também deliberam sobre outros aspectos nas empresas, observam

problemas e sabem como resolvê-los, monitoram as consequências para identificar

possíveis decisões adicionais. O autor considera que a “tomada de decisão certa é

parte vital da boa administração, porque as decisões determinam como a

organização resolve seus problemas, aloca recursos e atinge suas metas” (DAFT,

1999, p. 166).

Daft (1999) afirma ainda que uma decisão consiste em uma escolha feita

entre alternativas disponíveis. E complementa que muitas pessoas acreditam que

fazer uma escolha é a principal parte de uma tomada de decisão, contudo, fazer

uma escolha consiste em apenas uma parte do processo. A tomada desta ou

daquela posição sobre certa situação é um processo fundamentado na identificação

de problemas e oportunidades para, então, resolvê-los. Ou seja, envolve esforços

tanto antes quanto depois da escolha concreta. Se considerarmos um mundo

perfeito, todas as informações necessárias para tomar uma decisão estariam à

disposição dos administradores. Porém, nem tudo é conhecido e algumas decisões

não serão capazes de resolver o problema ou alcançarão o resultado desejado.

Desta forma, os administradores tentam descobrir informações sobre

alternativas para reduzir a incerteza da decisão. Uma escala relacionando a

disponibilidade de informações e a possibilidade de falhas pode ser aplicada a cada

situação de decisão. Quatro, então, seriam as posições nesta escala: certeza, risco,

incerteza e ambiguidade:

Certeza significa que todas as informações de que o tomador de decisão necessita estão completamente disponíveis. [...] Risco significa que uma decisão tem metas bem definidas e dispõe de boas informações, mas os resultados futuros associados com cada alternativa dependem do acaso. [...] Análises estatísticas podem ser usadas para calcular as probabilidades de sucesso ou de falha. [...] Incerteza significa que os administradores sabem as metas que eles desejam alcançar, mas as informações sobre alternativas e eventos futuros são incompletas. [...]

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Ambiguidade significa que as metas a serem alcançadas ou o problema a ser resolvido não está claro, as alternativas são difíceis de definir e não há informações sobre os resultados (DAFT, 1999, p. 167, grifo nosso).

Ao lado disso, para um profissional da área de Administração, o

conhecimento de métodos e ferramentas que possibilitem a coleta, a organização, o

resumo, a análise e a interpretação de dados constituem elementos indispensáveis à

sua formação profissional.

Tomar decisão é uma tarefa costumeira a um administrador e deve ser

efetuada com exatidão, de forma responsável, sem a possibilidade de falhas.

Quanto mais familiaridade o administrador tiver com estes métodos e ferramentas

estatísticas, mais apto a tomar decisões ele estará. Com a mesma importância,

sabemos que é imprescindível o conhecimento e a prática do uso de recursos

tecnológicos, capazes de munir este profissional de um arsenal que o colocará em

posição de destaque no cenário competitivo que as empresas enfrentam nos dias de

hoje.

Neste Capítulo, apresenta-se conceitos relacionados à Educação Estatística,

aplicados ao Ensino Superior, a diferenciação necessária ao ensino de Matemática e

o ensino de “Estatística”, a evolução da Educação Estatística no exterior e no Brasil,

a fundamentação teórica sobre a Educação Estatística, o uso de Cenários de

Investigação e o Trabalho com Projetos no Ensino Superior.

Trata-se, também, das diretrizes para o Ensino de Estatística em disciplinas

de “Introdução à Estatística” em cursos de graduação, constantes no GAISE, e

discutimos as diretrizes curriculares do curso de Administração, no tocante às

recomendações sobre os Métodos Quantitativos e o uso de Tecnologias como

ferramentas ao processo de tomada de decisão.

No Capítulo seguinte, estudam-se as diferentes oportunidades do uso de

Tecnologias de Informação e Comunicação como o uso de softwares, internet e

calculadoras como a HP12-C, objetivando munir o administrador de ferramentas que

possam auxiliar na coleta de dados e nos cálculos estatísticos, proporcionando

atenção especial à interpretação dos resultados sobre os dados estudados.

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2 - USO DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA

Neste Capítulo se apresentam conceitos e aplicações sobre o uso das

tecnologias no ensino, na Educação Matemática e mais especificamente na

Educação Estatística. Iniciamos com uma visão geral sobre a evolução das

tecnologias e suas aplicações no ensino. Tratamos do uso do software Excel, da

Microsoft, no ensino de “Estatística”, do uso da internet, especificando as diferentes

contribuições das redes sociais, dos blogs e do Google Docs. Por fim, apresentamos

o uso de calculadoras no ensino, destacando a HP-12C.

Consideramos nesta pesquisa as Tecnologias, ou as Tecnologias de

Informação e Comunicação (TICs) como sendo os computadores e suas interfaces

como softwares como Microsoft Excel, simuladores como o da calculadora HP-12C,

aplicativos web como o Google Docs, sites específicos para criação de blogs e redes

sociais, bem como as próprias calculadoras científicas e financeiras como a HP-12C.

Segundo Silva e Schimiguel (2013), vivemos em um mundo que evolui

constantemente. Novas tecnologias surgem em diversas áreas do conhecimento a

todo instante. Na área da Educação, esta evolução não acontece de modo diferente.

Distintas metodologias surgem ao longo do tempo, assim como correntes

teóricas e também equipamentos diversos, sempre procurando propiciar melhorias

significativas no processo de ensino e aprendizagem. Desde o pergaminho da

antiguidade aos e-books de hoje, do quadro negro à lousa interativa, da prática

conservadora à progressista, as inovações na esfera educacional não possuem

limites.

De acordo com Gabriel (2013, p. 04), “o sistema educacional baseado no livro

e no professor como provedores primordiais da educação está desmoronando em

virtude da penetração das tecnologias digitais no cotidiano das pessoas”. Assim, é

preciso buscar novos métodos de ensino que comportem os avanços tecnológicos e

que proporcionem aos estudantes o desenvolvimento de sua criticidade.

Segundo Kenski (2007, p.17), “os vínculos entre conhecimento, poder e

tecnologias estão presentes em todas as épocas e em todos os tipos de relações

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sociais”. Não há como deixar de lado os avanços tecnológicos, quando tratamos das

relações de ensino. É preciso incorporar a tecnologia à sala de aula, aos métodos de

ensino e ao cotidiano. Assim, “a convergência das tecnologias de informação e de

comunicação para a configuração de uma nova tecnologia, a digital, provocou

mudanças radicais” (p. 33). Por isso, é possível representar e processar qualquer

tipo de informação, pois, nos ambientes digitais, concentram-se “a computação, as

comunicações e os diversos tipos, formas e suportes em que estão disponíveis os

conteúdos” (p. 33).

Conforme afirma Behrens (2010), todas as instituições sofrem influência do

processo de mudança paradigmática, especialmente a educação e o ensino, em

diversos níveis, nas universidades, inclusive. E estas mudanças exigem da

população uma aprendizagem constante. Consequentemente, as pessoas precisam

estar preparadas para aprender sempre, sendo possível intervir, adaptar-se e criar

novos cenários.

As universidades não comportam mais um ensino caracterizado pela prática

pedagógica conservadora, repetitiva e acrítica, principalmente pelo advento da

globalização da economia, da influência dos avanços dos meios de comunicação e

dos recursos de informática aliados à mudança de paradigma da ciência.

Masetto (2010) afirma que em educação, o uso de tecnologia visando tornar o

processo de ensino e aprendizagem mais eficiente e mais eficaz, ainda hoje, não é

valorizado. No Ensino Superior, valoriza-se a transmissão de informações,

experiências, técnicas, pesquisas de um determinado profissional para a formação

de novos profissionais.

O uso de tecnologia adequada ao processo de aprendizagem não é tão

comum. Os professores do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, ao ministrarem

suas aulas, o fazem como seus próprios professores, dando aulas expositivas ou

aplicando alguns trabalhos em grupo sem muita orientação.

Para Prensky (2001), houve uma mudança radical em nossos estudantes e

considera que nosso sistema educacional não foi criado para os estudantes de hoje,

pois estes estão extremamente integrados à chegada e à rápida difusão da

tecnologia digital ocorrida no final do século XX. Isto é, das séries iniciais à

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faculdade, os estudantes atuais cresceram acompanhados por esta tecnologia,

vivendo cercados por computadores, vídeo, games, aparelhos de música digital, e

telefones celulares, entre outras ferramentas originadas na era digital, como os

computadores, o e-mail, a internet, as mensagens instantâneas, partes integrais de

suas vidas na contemporaneidade.

Segundo Prensky (2001), os estudantes atualmente podem ser chamados de

“Nativos Digitais”, pois são todos “falantes nativos” desta linguagem digital presente

no mundo dos computadores, dos vídeos, dos games e da internet. Por outro lado,

aqueles que não nasceram no mundo digital, são chamados de “Imigrantes Digitais”,

por terem afinidade, fascínio ou por terem adotado as novidades tecnológicas,

sempre sendo comparados em contraponto aos Nativos Digitais.

E é aqui que se instala um dos maiores problemas enfrentados no espectro

de análise recente da educação: nossos professores são Imigrantes Digitais que, em

função disso, utilizam uma linguagem ultrapassada, contudo, querem ensinar os

Nativos Digitais que, por sua vez, “falam” uma linguagem totalmente nova – como,

então, devemos proceder?

Para os Nativos Digitais, receber informações de forma rápida é algo rotineiro.

Realizar tarefas múltiplas e processar mais de uma coisa por vez é habitual.

Visualizar gráficos antes do texto é preferível ao invés do contrário. Preferem

acessar aleatoriamente os conteúdos, como hipertextos, por exemplo, e só

trabalham melhor quando estão conectados a uma rede de contato (PRENSKY,

2001).

De fato, é preciso repensar os conceitos, métodos, ambientes e os próprios

currículos dos cursos, buscando inserir os avanços da era digital ao contexto

educacional, assimilando os benefícios da tecnologia à formação profissional,

promovendo a integração, a criatividade, a criticidade e a cidadania.

Neste sentido, Sallum, Cavalari Júnior e Schimiguel (2011) afirmam que a

educação atual vem recebendo novos recursos tecnológicos a todo instante, sendo

desenvolvidos a partir de duas necessidades: de se aperfeiçoar o ensino e a

aprendizagem na Educação Matemática e aparelhar e modernizar o ensino na

modalidade presencial ou à distância.

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A proliferação de tecnologias digitais e plataformas de Tecnologias de

Informação e Comunicação constituem um fenômeno marcante que temos

testemunhado nesta última década, além da hiperconexão e da explosão do

conteúdo, como afirma Gabriel (2013).

Como exemplos que se popularizaram na última década, a autora relaciona:

Páginas digitais (site, minissite, hostside, portal, blog, perfil, etc);

E-mail;

Realidades mistas (realidade aumentada, virtualidade aumentada);

Realidade virtual;

Tecnologias mobile;

Plataformas digitais de redes sociais;

Plataformas digitais de busca;

Games e entretenimento digitais;

Tecnologias inteligentes de voz;e,

Vídeo digital / TV digital / Vídeo imersivo (GRABRIEL, 2013, p. 37).

Gabriel (2013) reconhece que a proliferação das tecnologias e plataformas

digitais, aliadas às plataformas e tecnologias tradicionais, oferece um cenário fértil à

diversificação de qualquer área do conhecimento, desde a medicina à arte e

educação.

Considera também que a possibilidade de mensuração que o ambiente digital

proporciona consiste em uma grande vantagem em relação aos ambientes

materiais, uma vez que o digital permite sincronicidade. Entretanto, se faz

necessário conhecer a tecnologia para poder utilizá-la com maestria, e aqui reside

um dos grandes problemas deste cenário digital: a velocidade de mudança que

prejudica a capacidade dos usuários quanto ao conhecimento das opções e

particularidades das tecnologias disponíveis.

Ponte, Brocardo e Oliveira (2009, p. 106) consideram que as TICs têm

exercido um papel de grande influência no ensino de “Estatística”, uma vez que

possibilitam a realização de cálculos e facilitam o uso de variadas formas de

representação.

Os autores salientam que as TICs “permitem o tratamento de dados reais, em

vez de trabalhar apenas com amostras de pequena dimensão, com valores

escolhidos artificialmente de modo a proporcionar cálculos simples”.

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Consequentemente, acreditamos que seja fundamental não só o uso, mas,

primordialmente, o domínio de Tecnologias de Informação e Comunicação que

possibilitem ao profissional da Administração identificar de forma rápida questões

que podem influenciar positivamente ou negativamente a posição estratégica das

empresas e/ou departamentos sob sua responsabilidade.

Mesmo em empresas de pequeno porte, em que os recursos são mais

escassos, há a possibilidade de se fazer o uso de recursos tecnológicos eficientes,

até mesmo sem ocasionar ônus financeiro à empresa, permitindo-se tomar decisões

mais acertadas e de modo mais eficiente.

2.1 Uso de Softwares

Sallum, Cavalari Júnior e Schimiguel (2011) observam que a Tecnologia da

Informação se tornou um elemento primordial na evolução da relação ensino e

aprendizagem, oferecendo a esta relação novas possibilidades para a educação.

Prescrevem tais autores que se têm como elementos mediadores os

professores, as técnicas, as metodologias e as TICs, a exemplo de softwares

educativos, denominação atribuída a qualquer programa computacional que possa

ser considerado como produto educacional, a partir do momento que este seja

usado com esta finalidade, mesmo que tenha sido criado para fim comercial.

Os softwares podem ser criados com finalidades educacionais, comerciais ou

atendendo a ambas, como é o caso do Microsoft Excel. Considerado como uma

planilha eletrônica, o Excel reúne diversas ferramentas como gráficos e tabelas

dinâmicas, bem como possibilita o uso de fórmulas matemáticas, lógicas, financeiras

e estatísticas. É, em suma, a planilha eletrônica mais conhecida em todo o mundo,

mas que, entretanto, poucos sabem utilizar eficientemente como uma ferramenta

auxiliar no tratamento estatístico de dados e construção de gráficos estatísticos.

Sua utilização, no que tange à manipulação de arquivos como rotinas para

abrir, salvar, fechar arquivos, ou mesmo procedimentos para formatar fontes é muito

semelhante ao uso do editor de textos Word, também produzido pela Microsoft.

Assim, sua popularização entre os usuários de microcomputadores é enorme,

tornando-o relativamente adequado ao uso com finalidades educacionais quando se

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pretende trabalhar com o ensino de “Estatística” junto aos acadêmicos de

Administração.

Segundo Capela e Capela (2011), o uso de planilhas eletrônicas como o

Excel pode ser de grande utilidade para ampliar as aplicações da “Estatística”, assim

como facilitar o aprendizado estatístico para um grande número de usuários de um

laboratório de informática, como foi o caso desta pesquisa.

Os autores ainda ressaltam que, por se tratarem de softwares populares e de

fácil acesso, as planilhas eletrônicas possibilitam aos usuários uma maior interação

com as funções elementares da “Matemática” e da “Estatística” do que os softwares

estatísticos em geral. Entretanto, a experiência tem mostrado que tanto estudantes

quanto profissionais não utilizam as planilhas eletrônicas por desconhecerem o

potencial deste recurso computacional.

Para Capela e Capela (2011), as planilhas eletrônicas são consideradas como

ferramentas de grande utilidade para o ensino de conceitos estatísticos, uma vez

que possibilitam alterações de alguns aspectos em determinado raciocínio,

possibilitando a visualização imediata dos efeitos destas mudanças.

Relatam também, que as experiências no ensino de “Estatística” usando

especificamente a planilha eletrônica para a elaboração de Box-plot tem alcançado

bons resultados no curso de graduação e pós-graduação do Instituto de Química da

Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara. Assim, concluem que a

planilha possibilita a construção ou simulação deste tipo de gráfico, permitindo a

avaliação de simetria dos dados de dispersão e da existência ou não de outliers.

Viali e Sebastiani (2010), em sua investigação com 21 estudantes no terceiro

ano do Ensino Médio, também adotou a planilha eletrônica ao desenvolver

atividades de Estatística Descritiva no laboratório de informática.

A variedade de recursos oferecidos pelas planilhas para organizar, resumir e

apresentar conjuntos de dados foram características que pesaram pela opção desta

tecnologia. Segundo estes autores, o uso da planilha possibilita abordar problemas

reais com conjunto de dados grandes, o que seria impossível de se realizar

manualmente. Mesmo não sendo um software específico para o ensino de

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“Estatística”, a planilha é considerada um recurso adequado ao uso em aulas com

esta intenção, principalmente em se tratando da Estatística Descritiva, que tem

como finalidade básica a organização, o resumo e a apresentação de dados.

A rapidez, a facilidade e a praticidade no desenvolvimento dos cálculos e na

obtenção dos resultados, potencializados pelo uso da planilha motivaram os

estudantes, que eliminaram o trabalho braçal na construção de tabelas e gráficos

utilizando régua e calculadora, conforme relatam Viali e Sebastiani (2010).

A criatividade dos estudantes também foi percebida pelos autores quando

observaram a utilização de diversos recursos para a formatação de tabelas e

gráficos.

A utilização da planilha eletrônica permite maior flexibilidade na manipulação

de grandes conjuntos de dados, assim como na oportunidade de organizar e

apresentar, de diferentes formas, os resultados obtidos por meio das análises

realizadas a partir destes dados. A assimilação dos conceitos estatísticos também é

beneficiada pela possibilidade de simulação, que permite alterar dos dados e

analisar o novo comportamento destes ao observar as alterações nas tabelas de

distribuição de frequência ou em gráficos gerados, comparando o antes e o depois.

Nesta pesquisa, utilizamos o Excel, da Microsoft. Optamos por este software

pela sua popularidade, relativa facilidade de uso, quantidade de recursos estatísticos

e gráficos, bem como a familiaridade com o editor de texto Word, também da

Microsoft.

2.2 Internet

Há que se acreditar que “as exigências e expectativas dos jovens perante um

professor e perante a escola tradicional se modificaram” (GABRIEL, 2013, p. 06).

Desta forma, concordamos com a autora quando aquela afirma que o modo como

realizamos as coisas se modifica por conta das novas tecnologias, assim como

nossos modelos e paradigmas.

Consequentemente, é de se esperar que as expectativas e os

relacionamentos educacionais sejam alterados pelas mesmas modificações

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significativas e perceptíveis que temos presenciado em nossas vidas cotidianas

nesta nova estrutura sociotecnológica, conforme afirma Gabriel (2013).

Assim, o processo de educação atual foi formado, gradativamente, por

inúmeras tecnologias ao longo da história da humanidade. E cada nova tecnologia

empregada na educação coexistiria com as tecnologias anteriores, acumulando-se,

complementando-se e contribuindo com a transformação da educação que temos

hoje.

Entretanto, a autora destaca deste universo da evolução histórica da técnica,

três tecnologias importantes que marcaram as eras educacionais: a fala,

representando a linguagem oral; o livro, representando a linguagem escrita e a

internet, representando as tecnologias digitais (GABRIEL, 2013).

As grandes inovações tecnológicas podem desencadear uma série de

mudanças de paradigma em que a tecnologia atua como um agente de mudanças

socioculturais. A rede de computadores conhecida como internet é um bom exemplo

desta inovação, conforme relatam Sallum, Cavalari Júnior e Schimiguel (2011).

Estes autores acreditam que a internet veio para promover uma mudança de

paradigma na forma em que as pessoas aprendem, provocando,

consequentemente, uma grande mudança no ensino, refletindo-se na forma como os

materiais pedagógicos são projetados, desenvolvidos e entregues às pessoas que

desejam ter acesso ao aprendizado. Ponte (2000) argumenta exatamente sobre a

influência que as tecnologias exercem sobre as interações humanas. Ressalta que

esta reverberação é particularmente acentuada após o surgimento da internet.

A sociedade da informação é indissociável a ligação em rede de

computadores e redes, em escala global, permitindo acesso à informação e serviços

de forma imediata. E complementa, ressaltando que a internet permite a integração

dos indivíduos, denotando uma dimensão social.

Dinis (2007) entende que se deve aprofundar a discussão para que se possa

refletir sobre o acesso à informação, democratizada pelo do uso da internet,

considerando que ela pode ser utilizada como uma biblioteca virtual.

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Em se tratando de Educação, pode-se pesquisar por informações de um tema

qualquer, permitindo a interação, a comunicação e a disseminação de materiais.

Destaca ainda, especificamente sobre Educação Matemática, algumas

funcionalidades que podem auxiliar no ambiente de aprendizagem de um cenário de

investigação como a democratização de ideias, proporcionando uma perspectiva de

cidadania, a harmonia, a possibilidade de troca de mensagens de modo síncrono ou

assíncrono, envio de arquivos contendo textos, planilhas eletrônicas, sons, imagens

e vídeos.

Deste modo, Dinis (2007) acredita que estas funcionalidades permitem aos

estudantes uma maior interação entre os integrantes de atividades desenvolvidas

em grupos, proporcionando condições para que estes colaborem com maior

possibilidade de interferências e modificações diretas, sendo rapidamente informada

aos demais integrantes constituindo uma comunicação dinâmica e eficiente.

Ponte, Brocardo e Oliveira (2009) também consideram a internet como um

excelente recurso para o ensino e aprendizagem de “Estatística”, pois contém uma

imensa variedade de dados estatísticos disponíveis, como no caso do site português

ALEA – Ação Local de Estatística Aplicada2.

Segundo Ponte (2000), a internet pode ser utilizada como: recurso

estruturante de disciplinas, complemento ao ensino presencial e trabalho de projeto

por meio da produção de páginas pessoais.

Os recursos oferecidos pela internet potencializam não só o ambiente

educacional, como também o ambiente empresarial, tornando mais ágil e rápida as

relações entre estudantes e professores, estudantes e estudantes e posteriormente,

profissionais e suas redes de contato, com finalidades específicas, em seus

respectivos momentos.

Quando se faz o uso destes recursos tecnológicos em sala de aula,

aproximamos os ambientes educacional e profissional, bem como possibilitamos aos

estudantes, aulas mais participativas e dinâmicas, sem abrir mão do conhecimento

relevante, que passa a ser construído pelos estudantes.

2 http://alea-estp.ine.pt

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Em nossa investigação, utilizamos como recursos complementares ao

ambiente educacional o Facebook (como representante das redes sociais), os blogs

e o “Formulário” do Google Docs.

2.2.1 Redes Sociais

O ser humano tem conquistado um grande avanço em sua evolução natural,

proporcionado pelo uso de Tecnologias de Informação e Comunicação, uma vez que

o homem tem procurado constantemente o aprendizado formal ou até mesmo

informal, conforme apresenta Werhmuller e Silveira (2012).

Os autores ressaltam que na era cibernética na qual vivemos,

especificamente se referindo aos ambientes virtuais, podemos perceber muitas

possibilidades formais de aprendizado na Web, como sites de treinamento de

empresas credenciadas, cursos a distância de entidades educacionais, aplicativos

educativos e jogos interativos, utilizados como ferramentas de apoio em disciplinas

de cursos educacionais.

No Brasil, os softwares de redes sociais possuem elevada audiência,

conforme apresenta Juliani et al. (2012), que analisa em seu estudo diversos

aspectos relacionados com a utilização do Facebook para suportar atividades

educacionais em uma instituição de Ensino Superior que, precipuamente, seria uma

ferramenta empregada para a promoção do contato entre estudantes, professores,

empresas e comunidade.

As citação de Juliani são precisas ao afirmar que os softwares colaborativos

como as redes sociais fazem parte da rotina dos jovens e que tais tecnologias

podem e devem ser utilizadas com o intuito de auxiliar no processo de ensino e

aprendizagem, principalmente no Ensino Superior.

Juliani et al. (2012) complementa que os estudantes estão familiarizados com

as redes sociais e que por mais que não estejam interessados em juntar educação e

lazer, eles possuem conhecimento de como utilizar estas ferramentas, facilitando o

acesso a estas ferramentas. Tem-se assim, a extensão do espaço físico da sala de

aula, onde o estudante não fica limitado ao tempo de uma aula, podendo ampliar

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seu campo de pesquisas por temas que realmente sejam de seu interesse e

diminuindo as barreiras entre professores a estudantes.

Deste modo, a utilização das redes sociais não tem apenas a finalidade de

distrair e entreter seus usuários, mas pode contribuir para tornar o aprendizado algo

efetivo e dinâmico, possibilitando a interação em tempo real entre estudantes e

professores, aproximando estes fora da sala de aula e ampliando o tempo de

contato entre estes, mesmo a distância, oportunizando ao estudante a identificar e a

pesquisar por temas que lhe despertam real interesse.

O Facebook é uma rede social que tem como finalidade integrar seus

usuários em rede, sendo considerada como a rede mais utilizada e popular entre

estudantes universitários. A possibilidade de estar ligado a um grande número de

usuários leva estes a desenvolverem laços emocionais devido ao tempo que

passam conectados nestas redes, aumentando a frequência de visitas

(FERNANDES, 2011).

Segundo Fernandes (2011), o Facebook pode proporcionar a colaboração no

processo educativo, sendo explorado como ferramenta pedagógica importante,

permitindo a construção partilhada, crítica e reflexiva de informação e conhecimento

distribuídos em benefício da inteligência coletiva. Minhoto (2012) demonstra que

devido à familiaridade com o contexto do Facebook, ao usar os recursos de redes

sociais durante uma disciplina, a interação dos estudantes proporcionou a

construção ativa de conhecimento. Da mesma forma, Zancanaro et al. (2012), relata

que os estudantes obtiveram grande motivação e agregação de valor devido às

facilidades presentes no Facebook, donde eles próprios puderam retomar assuntos

discutidos virtualmente.

Os estudantes, nesta pesquisa, utilizaram o Facebook para divulgar o link dos

questionários que eles elaboraram para a realização do Projeto de Investigação

Estatística, auxiliando no levantamento de dados para posterior análise e

interpretação. Assim, eles conseguiram atingir suas amostras, oportunizando a

coleta destes dados. Também utilizaram o Facebook como meio de tirar dúvidas

entre os próprios estudantes, conforme apresentado na seção 4.4.

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2.2.2 Blogs

Os blogs, dentre as diversas mídias hoje existentes, podem representar as

Tecnologias de Informação e Comunicação na mediação pedagógica, assim como

os recursos como chats, fóruns ou a utilização de portais. Ao utilizar estas

ferramentas no processo ensino e aprendizagem, o professor possibilita a

dinamização da transposição didática, o que, consequentemente, permite a

assimilação de conteúdos por parte dos estudantes (CALHEIROS, 2010).

Conforme relata Santos (2005), os weblogs, ou apenas blogs são interfaces

que permitem a criação, a publicação e a atualização de mensagens em tempo real

(online). Sua utilização não requer grandes habilidades na área de informática, nem

do ponto de vista de criação, tão pouco quanto da atualização. São geralmente

utilizados por aqueles que querem dar publicidade por meio de práticas

comunicacionais como, por exemplo, o jornalismo online, o uso de sites pessoais e

institucionais, os diários de pesquisa e os álbuns de fotografias (que evoluíram para

os fotologs). Podem ser utilizados para manipular e editar imagens, permitindo aos

autores criar histórias ilustradas, possibilitando a utilização de hipertextos.

Para Calheiros (2010), o blog é um tipo especial de página publicada na

internet, cuja origem confunde-se com o nascimento da própria Web. Porém, apenas

recentemente, com o aparecimento da Web 2.0 é que o blog foi considerado como

um fenômeno, sendo uma ferramenta mais difundida e utilizada. Possui várias

diferenças em relação aos sites que normalmente visualizamos na Web, já que são

dinâmicos e apresentam todo o conteúdo mais recente na primeira página, em forma

de textos curtos, chamados de postagens ou posts, organizados em ordem

cronológica reversa. Apresentam poucas divisões internas, geralmente contendo

links para arquivos que guardam os conteúdos mais antigos e para uma página que

contém a descrição do blog e de seu autor. Contudo, também podem apresentar

grande número de links para outras páginas, que geralmente são outros blogs.

Destaca que outra característica dos blogs é a facilidade com que podem ser

criados, editados e publicados, exigindo pouquíssimos conhecimentos técnicos,

sendo uma das premissas para ser considerado como Web 2.0 e estão disponíveis

na internet mediante um simples cadastro em forma de ferramentas disponibilizadas

de modo gratuito ou não, podendo ser hospedados e publicados.

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Em sua pesquisa, Santos (2005) utilizou um blog que permitiu criar tanto um

diário de campo quanto um diário de aula na pesquisa-formação, retratando a

possibilidade, na atualidade, da utilização desta ferramenta na Educação, indicando

potencialidades concretas na mediação de processos reflexivos em cenários de

formação.

O diário de campo é um dispositivo de caráter pessoal que permite refletir e registrar o ocorrido, impulsionando o pesquisador a investigar a própria ação por meio do registro e análise sistemática de suas ações e reações, bem como seus sentimentos, impressões, interpretações, explicações, atos falhos, hipóteses e preocupações envolvidas nessas ações (SANTOS, 2005, p. 214).

Segundo Zabalza (2004, apud SANTOS, 2005), a consolidação das

Tecnologias de Informação e Comunicação na área educacional reforçou

consideravelmente a possibilidade de se utilizar o blog como um recurso para que o

professor possa acompanhar as experiências dos estudantes, num tipo de espaço,

inclusive, em que estes possam compartilhar suas experiências com os outros

estudantes. Desta forma, o blog pode funcionar como um meio eficiente de

divulgação de resultados das pesquisas realizadas pelos estudantes, compondo o

Cenário de Investigação.

Calheiros (2010) assegura que o uso de recursos como os blogs e

agregadores de conteúdo e redes sociais instigam os estudantes à coautoria e à

aprendizagem significativa, trabalhando a criatividade, habilidade que estimula a

participação em atividades colaborativas na internet. Já a sociabilidade, que se

refere ao modo como as Tecnologias de Informação e Comunicação incentivam os

estudantes a investigar as diversas mídias à procura da informação desejada,

favorece a produção de conteúdo e estimula o inicio de um processo de colaboração

entre os estudantes que participam seguem os blogs, assim como aqueles que

participam de comunidades virtuais e listas de discussão para buscar , produzir e

partilhar informações adicionais sobre assuntos de seu interesse.

Uma rede de partilha de conhecimentos pode surgir como reflexo da

participação colaborativa de estudantes e professores, de modo que os que sabem

mais poderão compartilhar seus conhecimentos, atuando como coautores auxiliando

na condução do desenvolvimento das disciplinas ministradas, proporcionando

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autonomia por parte de uns, colaboração por parte de outros e aprendizado por

parte de todos (CALHEIROS, 2010).

Calheiros (2010) considera que o blog possui competências que nos

permitem considerá-lo como um recurso da Web 2.0, como interfaces de usuários,

modelos de desenvolvimento e modelos de negócios leves, confirmados pela sua

facilidade de criação e usabilidade.

Outra característica apresentada por Calheiros (2010) refere-se à

possibilidade dos blogs serem individuais (que são em sua maioria) ou coletivos. Os

blogs coletivos permitem que vários indivíduos registrados possam publicar artigos

ou escrever comentários, o que possibilita, em nossa pesquisa, a participação

coletiva na elaboração do blog, pois os estudantes, organizados em grupos, criaram

blogs para apresentar suas pesquisas, fruto do Projeto de Investigação Estatística,

no encerramento da disciplina.

2.2.3 Google Docs

A internet disponibiliza uma série de ferramentas, aplicativos e simuladores.

Muitos destes podem ser utilizados de forma gratuita. Assim, pode-se utilizar

recursos informacionais visando à integração e interatividade entre estudantes,

professores e pesquisadores com finalidade de educacional, desde que se tenha

acesso a um computador ligado à internet.

O Google Docs, agora armazenado online e gratuitamente no Google Drive, é

um pacote de aplicativos do Google que funciona totalmente online e diretamente no

navegador da internet. Oferece aplicativos compatíveis como o Microsoft Office e o

OpenOffice.org, composto de um editor de texto, um editor de apresentações e um

editor de planilha eletrônica (SERAFIM; PIMENTEL; SOUZA DO Ó, 2008).

O Google Drive permite o armazenamento de arquivos na web, nos

dispositivos móveis e no disco rígido de computadores, sendo atualizado em todos

os dispositivos em que ele estiver instalado. O usuário pode também escolher outras

pessoas para terem acesso aos seus arquivos, sem que você, por exemplo, tenha

que enviá-los por e-mail (GOOGLE, 2013).

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Outro aplicativo muito interessante do Google Docs é o editor de formulários.

Trata-se de uma ferramenta útil para planejar eventos, realizar pesquisas, aplicar

testes, tudo online. Nele, é possível criar um formulário vinculado a uma planilha do

Google Docs, podendo ser disponibilizado por um link na internet, alocado em um

site, um blog, em redes sociais ou mesmo enviado por e-mail. Deste modo, pode-se

direcionar este link aos respondentes desejados, sendo toda a população ou a uma

amostra destra população, escolhida por meio de métodos de amostragem.

De acordo com Serafim, Pimentel e Souza do Ó (2008), os usuários do

Google Docs têm se beneficiado da possibilidade de interatividade e colaboração

entre aqueles que o utilizam. Contudo, não é somente da integração e colaboração

que estão avançando, mas, também, a aprendizagem dos estudantes, pois eles

constroem e reconstroem seus textos, permitindo a ressignificação de conceitos e a

elaboração de novos saberes por meio de sua utilização.

Estes autores afirmam que o acesso a informações e recursos pode ser

considerado como um fator de liberdade para que os estudantes possam entrar em

contato com ambientes de conhecimento, tendo acesso a informações necessárias

para o confronto com a informação acumulada ao longo de suas vidas.

Nesta pesquisa, os estudantes utilizaram o Google Docs para elaboração do

relatório na atividade do Projeto de Investigação Estatística, que foi implementado

ao longo do desenvolvimento da disciplina “Métodos Quantitativos em

Administração” e apresentado no seu encerramento.

A principal utilização esteve relacionada ao recurso de “Formulário”

disponibilizado pelo Google Docs, onde os grupos elaboraram o questionário e o

disponibilizaram por meio de um link aos seus entrevistados, também compondo

uma das atividades do Projeto de Investigação Estatística.

2.3 Uso da Calculadora HP-12C

As calculadoras surgiram como uma ferramenta para auxiliar nos cálculos

matemáticos, principalmente aqueles mais complexos ou que envolvem números de

grandeza considerável. Entretanto, a sua relação com a Educação sempre contou

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63

com grande resistência por parte dos docentes, por estes entenderem que sua

utilização seria prejudicial ao desenvolvimento cognitivo dos estudantes.

Há indícios que apontam para o fato de que além de resistentes ao progresso,

ignoravam também o fato de que as próprias Diretrizes Curriculares do curso de

Administração incentivam o uso desta tecnologia, como já descrito anteriormente, e

também que diversos pesquisadores, em diferentes países, apresentavam

resultados interessantes quanto à utilização de calculadoras nos mais variados

níveis de escolarização, conforme aponta Albergaria e Ponte (2008), Melo (2008),

Guinther (2009), entre outros.

Até pouco tempo atrás, havia apenas dos algoritmos escritos como processo

de cálculos. Consequentemente, o meio de ensino nas escolas era baseado nestes

algoritmos, como apresentam Albergaria e Ponte (2008).

Não obstante, o surgimento das tecnologias nos obrigou a repensar esta

situação, pois, “a forma como o sentido do número se expressa varia segundo

diferentes dimensões da atividade matemática” (ALBERGARIA; PONTE, 2008, p.

02). Assim, a opção por um processo de cálculo adequado depende do grau de

complexidade de desenvolvimento do sentido do número, bem como a correta

interpretação e utilização dos resultados provenientes dos resultados obtidos por

quaisquer que sejam os métodos utilizados.

Consequentemente, a utilização dos algoritmos escritos assume uma nova

perspectiva com o surgimento da calculadora e do computador, que passam a ser

empregados para cálculos com números de grandeza elevada, com muitos dígitos

ou muitas casas decimais. Entretanto, a capacidade de realizar cálculos mentais é

essencial a todos no dia-a-dia. Vale lembrar a este respeito, que o uso de

estratégias e referências pessoais se traduz na utilização de números com sentido.

Segundo Guinther (2009), aqueles que se dedicam à Educação Matemática

debatem o uso da calculadora e ocupam a atenção com maior visibilidade. Mesmo

Malba Tahan, em 1961, em seu livro “Didática da Matemática”, já abordava o uso de

máquinas de calcular para resolver cálculos mais trabalhosos e intrincados.

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Guinther (2009) ressalta também que o argumento para não utilizar a

calculadora no ensino se prendia ao seu alto custo, praticamente inacessível aos

estudantes em geral, além do que se acreditava, desprovido de investigação

consciente, que o uso da calculadora em sala de aula deixaria os estudantes

preguiçosos e que estes desaprenderiam os algoritmos e deixariam de raciocinar,

conforme também relata Melo (2008).

Estas crenças só serviram para distanciar ainda mais os detentores do

conhecimento e tecnologia daqueles que foram privados na escola do acesso a esta

tecnologia. Por isso, concordamos com Guinther (2009, p. 60) ao afirmar que “de

nada adianta uma máquina nas mãos de uma pessoa que não sabe quais cálculos

deve efetuar”, pois, assim como a régua e o compasso, a calculadora é uma

ferramenta que se pode utilizar para resolver determinadas tarefas em um dado

contexto. Se instruções equivocadas forem introduzidas na calculadora, o resultado

não será satisfatório. Logo, é necessário saber interpretar os números e identificar

qual operação deve-se efetuar.

De acordo com Melo (2008), o professor pode trabalhar com situações

numéricas que só seriam possíveis com a utilização da calculadora, evitando

problemas causados pela utilização de cálculos que recaiam em resultados que não

sejam exatos, momento em que muitos estudantes questionam a veracidade.

O pensamento de Melo (2008), portanto, se encontra com o nosso objeto de

estudos, uma vez que declara, Melo, que muitos profissionais fazem uso de

calculadoras ou de outro tipo de tecnologia para executarem suas atividades,

aproveitando ao máximo delas hoje, desfrutando de muitos benefícios, mas que,

entretanto, na Educação, ainda lidamos com preconceito pelo uso deste instrumento

primordial e fundamental em nossa era, a da tecnologia.

Do mesmo modo, referindo-nos agora, especificamente, aos acadêmicos do

curso de Administração e à calculadora HP-12C (Figura 2), entendemos a relação

estreita que existe entre eles, uma vez que a calculadora consiste em uma

ferramenta de extrema importância aos profissionais que enveredam para a área

financeira.

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65

Enquanto acadêmicos que são, todos os estudantes devem cursar as

disciplinas obrigatórias como “Administração e Análise de Custos”, “Gestão

Financeira”, “Gestão Orçamentária”, “Contabilidade Gerencial”, “Contabilidade

Empresarial” e “Matemática Financeira”. Em todas estas disciplinas, o uso da

calculadora HP-12C se faz necessário, principalmente em alguns cálculos que não

são possíveis de serem realizados apenas com lápis e papel, seguindo algoritmos

escritos, dado a complexidade de cálculos e grandeza de valores ou, por outro lado,

pela utilização de índices infinitesimais.

Figura 2 – Calculadora HP-12C.

A Calculadora Financeira HP-12C (figura 2) apresenta certa complexidade

quanto a sua forma de operacionalização, pois ela utiliza a Notação Polonesa

Inversa – RPN – Reverse Polish Notation (Hewlett-Packard Company, 2008). Assim,

sua utilização não é tão intuitiva quanto às outras calculadoras financeiras ou

científicas encontradas no mercado.

Os cálculos estatísticos uni e bi-variados são contemplados por esta

calculadora, uma vez que o conjunto de dados é armazenado em sua memória por

meio da tecla [Σ+], que automaticamente calcula e armazena estatísticas dos dados

nos registros de armazenamento R1 a R6, denominados registros estatísticos. Em

cálculos estatísticos uni-variados, para cada dado, denominado “valor de x”,

digitamos o valor de x, seguido da tecla [Σ+]. Quando estamos trabalhando com

cálculos bi-variados, para cada par ordenado, denominado “valores de x e y”,

digitamos inicialmente o valor de y, seguido da tecla “Enter”, depois digitamos o

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valor de “x”, seguido da tecla [Σ+]. O Quadro 2 apresenta onde as estatísticas

acumuladas são armazenadas (HEWLETT-PACKARD COMPANY, 2004).

É possível calcular a média aritmética, média ponderada, o desvio-padrão, o

coeficiente de correlação e a estimação linear. Trata-se de uma excelente

ferramenta aos administradores, considerando seu potencial tanto em cálculos

financeiros, motivo pelo qual esta calculadora é de grande utilidade a estes

profissionais, quanto em cálculos estatísticos, que poucos sabem como utilizar estes

recursos.

Registro Valor Estatístico

R1 n: número de dados acumulados

R2 Σx: soma dos valores de x

R3 Σx2: soma dos quadrados dos valores de x

R4 Σy: soma dos valores de x

R5 Σy2: soma dos quadrados dos valores de y

R6 Σxy: soma dos produtos dos valores de x e valores de y

Quadro 2 – Registros e Valor Estatístico na HP-12C. (Fonte: Hewlett-Packard Company, 2004)

Nesta pesquisa, utilizamos as calculadoras não somente como ferramentas

de auxílio na realização de contas, mas priorizamos a utilização das funcionalidades

oferecidas tanto pela Calculadora Financeira HP-12C quanto pela Calculadora

Científica que os estudantes utilizavam em sala de aula.

No Capítulo II apresentamos as Tecnologias de Informação e Comunicação e

seu uso no Ensino Superior, especificamente no auxílio em disciplinas como a

“Estatística”. Tratamos do uso de softwares, como o Excel, do uso da internet, como

as redes sociais, os blogs e o Google Docs, bem como o uso de calculadoras no

ensino, como a HP-12C.

O referencial aqui apresentado é fruto de pesquisas com aplicações em

diversas áreas do conhecimento e contribui para compreender como as TICs,

aplicadas de forma planejada e assistida, podem servir de ferramentas ao ensino de

“Estatística” em um curso de Administração.

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Para o desenvolvimento desta pesquisa, associamos o referencial teórico

sobre Educação Estatística ao uso das TICs em um curso de Administração. No

próximo Capítulo, apresentaremos os pressupostos metodológicos que nortearam

esta pesquisa, a construção dos dados e a técnica de análise utilizada.

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3 - METODOLOGIA

Após apresentarmos as justificativas e os objetivos desta pesquisa na

Introdução, com alicerce da fundamentação teórica oferecida nos Capítulos que a

ela se seguira, apresentamos os procedimentos metodológicos que utilizamos na

coleta de dados aos critérios de análise desenvolvidos neste estudo.

Tais procedimentos foram utilizados, com o intuito de responder à questão

central de pesquisa. No estudo deste problema se objetiva identificar quais

contribuições o uso de Tecnologias, em um Projeto de Investigação Estatística,

trazem à Educação Estatística dos estudantes de uma disciplina do curso de

Administração.

Inicialmente, falaremos da abordagem metodológica desta pesquisa, que é de

caráter qualitativo. Logo após, descrevemos os instrumentos e a forma de como os

dados foram coletados e analisados nesta investigação.

3.1 Material e Métodos

Assim como Severino nos sugere (2007, p. 119), preferimos nortear esta

pesquisa pelos rumos da “abordagem qualitativa”, especialmente quando nos

referimos ao “conjunto de metodologias, envolvendo, eventualmente, diversas

referências epistemológicas”. Opondo-se ao modelo de conhecimento denominado

positivista, que é baseado em formulações matemáticas e que exprime uma relação

quantitativa, nossa investigação leva em consideração o homem na condição

específica como sujeito, situação na qual o método experimental-matemático não

seria considerado eficaz.

Para tanto, recorremos à colocação de Oliveira (2008), que discute um

posicionamento metodológico em que leva em conta que “o ser humano não é

passivo, mas sim que interpreta o mundo e vive continuamente”. E complementa:

“Esse ponto de vista encaminha estudos que têm como objeto os seres humanos,

aos métodos qualitativos, sendo chamado de Interpretacionismo” (OLIVEIRA, 2008,

p. 02, grifo do autor).

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Como se vê em Moreira e Caleffe (2008), uma das principais distinções entre

os métodos qualitativo e quantitativo é que o primeiro explora e interessa-se por

características de indivíduos e cenários que não podem ser expressos

numericamente, dispondo de amostras coletadas pela observação ou descrição.

Enquanto o segundo explora características e situações descritas por dados

numéricos, resultantes de mensuração e estatísticas.

Conforme apresentam Borba e Araújo (2012), as pesquisas levadas a termo

segundo uma abordagem qualitativa fornecem informações mais descritivas, cujo

significado dado às ações é que recebem atenção especial.

Martins (2006), assim como Borba e Araújo (2012), citando Bogdan e Biklen

(1994), dão especial atenção às pesquisas qualitativas por considerarem que: a

fonte direta de dados neste tipo de abordagem é o ambiente natural, onde o

instrumento principal é constituído pelo pesquisador; que a investigação qualitativa

baseia-se na descrição; que o interesse dos investigadores qualitativos recai sobre

os resultados ou processos; que as análises de seus dados são realizadas de forma

indutiva e que o significado assume importância vital em uma abordagem qualitativa.

Assim, consideramos que nossa investigação caracteriza-se pela abordagem

qualitativa, pois o seu desenvolvimento se deu no ambiente natural aos sujeitos

pesquisados: a sala de aula. Nossa investigação é baseada na descrição dos

relatórios do Projeto de Investigação Estatística elaborados pelos alunos e na

Análise de Conteúdo destes relatórios, que descreveremos no Capítulo IV.

Igualmente, nosso interesse baseia-se no processo, uma vez que a presente

proposta introduz outros elementos na forma de ministrar as aulas, sem provocar

alterações nos conteúdos prescritos na ementa da disciplina em questão.

A análise dos dados ou do conjunto de dados coletados e construídos neste

processo de investigação se dá por indução, uma vez que, a partir de fatos

concretos, resultante de um processo de observação e análise destes eventos,

podemos chegar a um princípio universal, constituindo uma generalização, conforme

descrito por Severino (2007).

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A presente pesquisa se deu com os estudantes do segundo período do curso

de Administração, devidamente matriculado na disciplina de “Métodos Quantitativos

em Administração”, em uma universidade pública do Estado de Minas Gerais – MG.

Este alunato, formado por duas turmas, sendo uma no período matutino e outra no

período noturno, denominadas, doravante, de Turma A e Turma B, respectivamente.

A população investigada (unidade de análise) consistiu de 28 estudantes no

turno matutino e 45 estudantes no período noturno (estudantes matriculados nesta

disciplina no início do semestre letivo). A temporalidade da investigação

correspondeu ao intervalo de agosto a dezembro de 2012.

A disciplina em questão possui carga horária correspondente a oitenta horas,

tendo as aulas ministradas em quatro horas semanais distribuídas em dois dias por

semana. As avaliações, segundo as normas da universidade constituem-se de duas

etapas, em que à primeira é atribuído um valor de quarenta (40,00) pontos e à

segunda, sessenta (60,00) pontos, considerando que nenhuma das avaliações em

cada etapa pode exceder a quarenta (40,00) pontos.

Optamos por distribuir as avaliações em dois Simulados, duas Provas e o

Projeto de Investigação Estatística.

As provas foram realizadas individualmente, enquanto os simulados foram

realizados em grupos de até quatro integrantes e o Projeto de Investigação

Estatística em grupos de até seis integrantes.

Deste modo, determinamos como instrumentos de coletas de dados nesta

pesquisa as respostas dos estudantes, dadas ao questionário online aplicado no

início do semestre letivo, além do relatório do Projeto de Investigação Estatística

elaborado por cada grupo.

Segundo Moreira e Caleffe (2008), o questionário pode oferecer como

vantagens ao professor/pesquisador o uso eficiente do tempo, o anonimato para o

respondente, a possibilidade de uma alta taxa de retorno das respostas e a

padronização das perguntas.

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Optamos, então, por este instrumento, por se tratar de uma forma eficiente,

rápida e organizada de coletar estes dados, bem como a facilidade de acesso dos

estudantes a esta ferramenta disponibilizada por meio da internet.

Para isso, utilizamos o aplicativo “Formulários”, disponibilizado pelo Google.

Por meio deste aplicativo, as questões elaboradas ficam disponíveis aos estudantes,

os quais podem acessá-las e também ao questionário utilizando um link. Este link foi

disponibilizado aos estudantes por uma mensagem enviada ao sistema de

gerenciamento acadêmico da universidade, o WebGiz. Assim, garantimos a

participação da maioria dos estudantes das duas turmas pesquisadas, oferecendo

anonimato aos participantes, o que lhes possibilitou maior tranquilidade e

desprendimento ao responder as questões propostas.

Como técnica de análise da produção dos estudantes, optamos pela Análise

de Conteúdo. Sobre as produções realizadas pelos estudantes, Cury (2008, p. 19)

afirma que “A análise das produções escritas dos estudantes vem sendo realizada

sob diferentes enfoques, dependendo dos pressupostos teóricos predominantes nas

diversas épocas e locais em que foram desenvolvidas”. Salienta que, além de ser

uma metodologia de pesquisa, a análise das respostas também pode ser

considerada como uma metodologia de ensino, caso seja empregada em sala de

aula. Assim, ao analisar as produções escritas dos estudantes, independentemente

das teorias que fundamentam a pesquisa e da forma como as respostas se

apresentam, analisamos o conteúdo da produção dos estudantes, empregando uma

metodologia de análise de dados denominada “análise de conteúdo”. Trata-se de um

método de investigação sistematizado, hoje empregado por pesquisadores das

áreas de Educação, Sociologia, Psicologia, Linguística e Comunicação (p. 62).

Severino (2007) considera como Análise do Conteúdo uma metodologia de

tratamento e análise de informações constantes em um determinado documento,

que pode estar em formato de discursos pronunciados em diferentes linguagens

como a escrita, a oral ou por imagens e gestos. Constitui-se, assim, de um conjunto

de técnicas de análise oriunda das comunicações e que trata de compreender

criticamente seu sentido manifesto ou oculto.

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Bardin (1977, p. 42) define a metodologia de análise de conteúdo como

sendo:

[...] Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção / recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Segundo Cury (2008), as produções dos estudantes, como a demonstração

de um teorema ou mesmo uma solução de um problema podem ser analisadas “com

base em procedimentos sistemáticos, para inferir conhecimentos sobre as formas

com que aquele estudante construiu um determinado saber matemático”. Nesta

análise das respostas dos estudantes, o que importa são as formas de se apropriar

de um determinado conhecimento, que podem evidenciar dificuldades de

aprendizagem, detectáveis a partir das produções dos estudantes. A construção de

novos patamares de conhecimento pode ser alcançada a partir do momento em que

se procura entender as formas de como o estudante produziu a resposta.

Optamos por utilizar três etapas assinaladas por Bardin (1977, p. 95), Bardin

(1979, apud CURY, 2008) e Bardin (2006, apud MOZZATO e GRZYBOVSKI, 2011)

para realizar a Analise de Conteúdo, a saber: 1) pré-análise, 2) exploração do

material e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Na primeira

etapa, foi realizada uma leitura “flutuante” (BARDIN, 1977, p. 96; CURY, 2008, p. 63;

LOPES, 2013, p. 244), identificando os conteúdos estatísticos presentes nos

Relatórios do Projeto de Investigação Estatística elaborado pelos estudantes,

“deixando-se invadir por impressões e orientações” (BARDIN, 1977, p. 96). A

escolha dos documentos, neste caso, os relatórios do Projeto de Investigação

Estatística, se deu pelo fato de serem estes relatórios os documentos capazes de

sintetizar a mobilização de conhecimentos estatísticos assimilados pelos estudantes.

Assim, delimitou-se o corpus, ou seja, o conjunto de documentos sobre o qual o

pesquisador irá analisar.

Vale ressaltar que a delimitação do corpus desta pesquisa satisfaz as regras

de exaustividade, homogeneidade e pertinência, expostas por Bardin (1977). A

primeira delas versa sobre a importância de se considerar todos os documentos

relacionados, uma vez definido o campo do corpus, neste caso, os relatórios. A

segunda regra trata da necessidade de os documentos serem homogêneos, ou seja,

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obedecerem a critérios precisos de escolha, sem demonstrar demasiada

singularidade fora dos critérios de escolha. Por fim, a terceira regra trata da

adequação dos documentos, enquanto fonte de informação, correspondendo ao

objetivo da análise.

Na fase de exploração do material, procedemos a um estudo mais

aprofundado do corpus, executando procedimentos de unitarização e categorização

(TRIVIÑOS, 1987, apud CURY, 2008; SEBASTIANI; VIALI, 2011). Segundo Bardin

(2009, apud SEBASTIANI e VIALI, 2011), nesta etapa as unidades de registro são

definidas e as categorias são formadas. O processo de reler o material para, só

então, definir as unidades de análise é chamado de unitarização, conforme Moraes

(1999, apud CURY, 2008).

A individualização de cada unidade e sua separação do corpus na releitura

possibilita a categorização (CURY, 2008), procedimento que permite fornecer uma

representação simplificada dos dados brutos (BARDIN, 1977). A investigação das

respostas dos estudantes na releitura do material codificado permite destacar as

unidades de análise, possibilitando a construção de relações entre estas unidades,

reagrupando o que se tem em comum, constituindo as categorias (CURY, 2008).

Na fase de tratamento dos resultados, efetuamos a descrição das categorias

por meio da apresentação de tabelas com indicação de distribuições de frequência,

assim como a produção de um “texto-síntese” para a compreensão do significado da

classe e interpretações (CURY, 2008; SEBASTIANI; VIALI, 2011).

Utilizamos a análise interpretativa para explorar o relatório do Projeto de

Investigação Estatística elaborado por cada grupo, conforme Mondoni e Lopes

(2009) e Oliveira e Lopes (2012).

Segundo Severino (2007), a análise interpretativa visa tomar uma posição

própria em relação às ideias apresentadas pelo autor, superando a literal mensagem

do texto, buscando identificar o que o autor quer dizer nas entrelinhas, procurando

estabelecer um diálogo com o autor, explorando suas ideias codificadas no texto.

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Neste Capítulo, apresentamos os pressupostos metodológicos que nortearam

o desenvolvimento desta pesquisa. No próximo Capítulo passaremos a discorrer

sobre a construção dos dados e sua análise.

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4 - DESENVOLVIMENTO E ANÁLISE DE DADOS

O referencial teórico e metodológico até aqui apresentado serve como base

para a apresentação de uma proposta para o uso das TICs na construção de um

ambiente de aprendizagem norteado pelos conceitos da Educação Estatística para

ser aplicado em uma disciplina no Ensino Superior em um curso de Administração.

A proposta aqui apresentada é composta por três estratégias distintas, que

interagem entre si ao longo do desenvolvimento das atividades (Figura 4), a saber:

o uso de calculadoras;

o uso de software e internet;

o Projeto de Investigação Estatística.

A disciplina foi planejada buscando utilizar, em diferentes momentos,

tecnologias diferenciadas (Figura 4), como o uso de softwares (Microsoft Excel), e

internet (Redes Sociais, blogs, Google Docs) e as calculadoras (Científica e HP-12C,

esta última, imprescindível a outras disciplinas do curso de Administração).

Também foi proposto aos estudantes um Projeto de Investigação Estatística.

Separados em grupos, os estudantes escolheram temas de seus interesses,

relacionados à Administração, elaboraram e aplicaram questionários, tabularam as

respostas e procederam a análises estatísticas simples, buscando organizar e

interpretar os resultados. Por fim, cada grupo elaborou um relatório e criou um blog

para divulgar o resultado de suas pesquisas.

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Figura 3 – Estratégias da proposta e tecnologias. Fonte: Próprio autor.

Iniciamos as atividades solicitando aos estudantes que respondessem ao

questionário com informações sócio demográficas, educacionais e sobre o uso de

tecnologia. Utilizamos o “Formulário” do Google Docs para levantar dados junto aos

estudantes das duas turmas participantes (Figura 4). Um link foi disponibilizado junto

ao sistema acadêmico disponibilizado pela universidade, chamado de WebGiz. Nele,

os estudantes têm acesso às suas notas e anotações sobre a frequência e os

professores podem enviar mensagens eletrônicas aos estudantes, de forma geral ou

individual.

A escolha das questões da presente pesquisa se deu pela necessidade de se

conhecer a experiência anterior dos estudantes, visando estabelecer relações entre

conhecer e saber usar as tecnologias, identificar características sócio demográficas,

bem como traçar um paralelo entre o conhecimento prévio e o tipo de ensino

frequentado pelos estudantes.

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Figura 4 – Parte do Questionário aplicado junto aos estudantes da disciplina

Métodos Quantitativos em Administração. Fonte: Próprio autor.

Os dados aqui coletados, além de servirem como meio de se conhecer

previamente os estudantes, permitiu que os mesmos pudessem entender como são

coletados os dados em uma pesquisa que utiliza como instrumento de coleta o

questionário. Mais a frente, estes dados foram organizados em tabelas e gráficos e

em seguida foram analisados pelos próprios estudantes durante o desenvolvimento

das aulas.

Todos os estudantes das duas turmas investigadas foram convidados a

responder ao questionário. Entretanto, só o fizeram, 22 estudantes do matutino e 42

estudantes do noturno. Trata-se de uma amostra bem representativa, composta de

45,31% do sexo masculino e 54,69% do sexo feminino (Tabela 1). Quanto ao Ensino

Médio, 75% declarou estudar na escola pública, 21,88% na escola particular e

3,13% estudou parte na escola pública e parte na escola particular.

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Tabela 1 – Turmas por Sexo

Sexo

Turmas Total

Matutino Noturno

N % N % N %

Masculino 10 45,45 19 45,24 29 45,31

Feminino 12 54,55 23 54,76 35 54,69

Total 22 100,00 42 100,00 64 100,00 Fonte: Próprio autor.

A Figura 6 apresenta a distribuição das idades dos estudantes organizadas

em classes. Buscamos, nesta prática, a contextualização e a aplicação prática dos

conceitos estatísticos junto aos estudantes.

Em relação à faixa etária, 78,13% possuem entre 16 e 25 anos, sendo

60,94% de 16 a 20 anos e 17,19% de 21 a 25 anos (Figura 5). Apenas 21,88% dos

estudantes possuem 26 anos ou mais, evidenciando que se trata de um perfil jovem,

provavelmente com pouca experiência no mercado de trabalho, conforme relatado

anteriormente.

Figura 5 – Gráfico da Frequência Percentual das Idades dos

estudantes em Classes. Fonte: Próprio autor.

A Figura 6 mostra que, dos estudantes que responderam ao questionário,

apenas 3% sabiam utilizar a Calculadora Financeira HP-12C no início da disciplina.

Considerando que esta calculadora deve ter destaque como uma das ferramentas

mais úteis ao egresso do curso de Administração, acreditamos ser este um

percentual muito baixo. Fato que justificaria a utilização desta calculadora desde o

primeiro ano do referido curso, incentivando o domínio de sua operacionalidade não

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só para cálculos financeiros como também para os cálculos estatísticos, uma vez

que ela compreende funcionalidades para estas duas linhas de conhecimentos.

Figura 6 – Gráfico sobre o uso da Calculadora HP-12C Fonte: Próprio autor.

Na Figura 7, verificamos que 80% dos estudantes conhecem o Microsoft

Excel.

Figura 7 – Gráfico sobre o conhecimento do Microsoft Excel Fonte: Próprio autor.

Porém, quando indagados sobre o que sabem fazer com este software,

apresentaram conhecimentos simples, que mereceriam ser aperfeiçoados.

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Figura 8 – Conhecimentos sobre conceitos estatísticos no Excel. Fonte: Próprio autor.

Percebemos, segundo análise das respostas ao questionário aplicado junto

aos estudantes que participaram desta investigação, que 18,15% não sabem utilizar

o Excel e 8,06% sabem utilizar funções estatísticas prontas. Também é possível

verificar que 2,02% sabem criar Tabelas Cruzadas e que 5,04% sabem elaborar

Diagramas de Dispersão utilizando o Excel. Índices muito baixos estes, que

demonstram, aliás, haver espaço para o desenvolvimento de um estudo mais

aprofundado sobre a utilização deste software com aplicações voltadas para as

funcionalidades estatísticas.

Cabe ressaltar que esta questão aceitava mais de uma resposta por

participante, o que permite que a soma dos percentuais seja superior a 100%

(Figura 8).

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Os resultados obtidos com os dados do questionário foram organizados em

tabelas e gráficos durante as aulas com as duas turmas. Deste modo, os conceitos

estatísticos trabalhados utilizaram dados reais, coletados junto aos próprios

estudantes, criando uma atmosfera contextualizada e aplicada, tornando o ensino

mais agradável, interessante e com significado, como em Jacobini e Wodewotzki

(2001) e recomendado pelo GAISE.

As aulas ocorreram tanto em sala de aula quanto no laboratório de

informática. Ambos equipados com Datashow para apresentação de slides e

reprodução da tela do computador utilizado para realização dos cálculos e uso dos

softwares.

Em sala de aula, os estudantes utilizaram os recursos estatísticos da

Calculadora Financeira HP-12C e da Calculadora Científica (nos anos anteriores à

implementação desta proposta, os estudantes utilizavam a Calculadora Científica

para efetuar os cálculos).

No laboratório de informática, os procedimentos para organização e análise

dos dados foram efetuados por meio do Microsoft Excel e também do simulador da

calculadora HP-12C. O laboratório possui ainda uma tela interativa, que também

proporciona aulas mais interessantes e participativas.

Procuramos, no desenvolvimento das atividades propostas junto aos

estudantes, seguir as recomendações sugeridas pelo Guidelines for Assessmentand

Instruction in Statistics Education (GAISE) CollegeReport, já citadas na seção 2.4.

Os conteúdos trabalhados enfocaram a Estatística Descritiva, contemplando a

organização e análise de dados qualitativos e quantitativos em tabelas de

distribuição de frequência, frequência relativa, frequência percentual e frequência

cumulativa, gráficos de barras e colunas, setor grama e histograma, ogivas, gráfico

de pontos, apresentação caule e folha, tabulações cruzadas, diagramas de

dispersão, medidas de tendência central (média aritmética, média geométrica, média

harmônica, mediana e moda), medidas de posição (quartis e percentis) e medidas

de variabilidade (variância, desvio-padrão, coeficiente de correlação e coeficiente de

variação).

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Após desenvolver todos estes conceitos estatísticos junto aos estudantes, foi

proposta a realização de um Projeto de Investigação Estatística, a partir do qual os

estudantes, separados em grupos, teriam que escolher um tema relacionado à área

da Administração, elaborar um questionário, aplicar este questionário, tabular,

organizar e interpretar os dados e apresentá-los em um blog criado também por

cada grupo.

4.1 Desenvolvimento do Projeto de Investigação Estatística

O Projeto de Investigação Estatística foi pautado no uso da “Estatística” para

investigar a temática de interesse dos estudantes, mas que estivesse relacionada ao

profissional de Administração. Tal projeto justifica-se por ser a “Estatística” um

conhecimento indispensável nos dias de hoje, auxiliando a mapear os estudos em

diversas áreas de estudo. Como objetivos do Projeto de Investigação Estatística,

pretendemos: complementar / sistematizar os conhecimentos de “Estatística”

trabalhados na disciplina; valorizar a “Estatística” como instrumento para

compreender o mundo; analisar a necessidade de um ensino contextualizado e a

importância das interações, tal como recomendado pelo GAISE e de acordo com o

conceito de Educação Estatística já apresentado anteriormente no Capítulo I.

Os conteúdos solicitados foram: Estatística Descritiva, Medidas Estatísticas,

Gráficos Estatísticos e Medidas de Variabilidade. Como Plano de Trabalho,

apresentamos aos estudantes os seguintes tópicos:

Formar grupos de até seis integrantes.

Pensar / discutir qual tema / assunto gostariam de pesquisar. Devem levar

em consideração qual a questão gostariam de obter uma resposta.

Elaborar a questão que irá nortear o trabalho. Lembrando que seria

interessante que essa pesquisa fosse importante não só para os estudantes, mas

para outras pessoas também.

Identificar a população pretendida.

Determinar a amostra de acordo com os estudos já realizados.

Realizar pesquisa bibliográfica sobre o tema escolhido.

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Elaborar um questionário ou um roteiro de entrevista que atinja o objetivo do

projeto.

Efetivar a pesquisa.

Com a ajuda do Excel, tabular os dados, construir tabelas e gráficos, calcular

medidas de tendência central e grandezas estatísticas que auxiliem a tirar

conclusões e fazer considerações.

Produzir um relatório apresentando as etapas da pesquisa e as conclusões

geradas pelo processo de análise.

Preparar e elaborar um blog para a apresentação.

Apresentar a pesquisa aos pares no final do semestre.

Os grupos apresentaram seus projetos na próxima aula após a prova final. A

este projeto, foi atribuído um valor de 20 pontos, correspondendo a 20% do total

atribuído no período letivo. Alguns grupos utilizaram o “Formulário Eletrônico” do

Google Docs para coletar os dados do Questionário, disponibilizaram um link deste

formulário em redes sociais como o Facebook e elaboraram um blog para

apresentar os resultados de suas pesquisas. Entre os temas abordados, destacam-

se “O que os estudantes do 1° ano do curso de Administração esperam da futura

profissão”, “Visão dos estudantes do 8° período de Administração sobre o mercado

de trabalho”, “As competências necessárias para um profissional na Administração”,

“Como as pessoas sem curso superior conseguiram o sucesso financeiro”,

“Administração – profissão do futuro” (Figura 9), “Oportunidade no mercado de

trabalho após a formação em Administração”, entre outros.

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Figura 9 – Página do blog de um dos grupos apresentando o tema

"Administração - Profissão do Futuro".

Cada grupo utilizou métodos específicos para a coleta de dados para a

realização do Projeto de Investigação Estatística. O grupo que teve como tema de

pesquisa “Administração – Profissão do Futuro” elaborou um questionário para

coleta de dados utilizando o “Formulário” do Google Docs (Figura 10).

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Figura 10 – Página do questionário eletrônico elaborado a partir do

“Formulário” do Google Docs do grupo que teve como tema "Administração - Profissão do Futuro".

Para divulgar o tema de pesquisa do Projeto de Investigação Estatística, bem

como os integrantes de cada grupo, os estudantes foram incentivados a utilizar o

Facebook como forma de dar publicidade aos temas (Figura 11). Esta iniciativa

impediu que grupos diferentes pesquisassem sobre o mesmo tema e auxiliou os

grupos na formulação de outros temas, além de permitir que eles identificassem

estudantes que estavam sem grupos, por exemplo.

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Figura 11 – Uso do Facebook para divulgar os temas do Projeto de

Investigação Estatística de alguns grupos.

O Facebook também foi utilizado para divulgar o link do blog elaborado para

divulgação do Projeto de Investigação Estatística por alguns grupos, conforme a

Figura 12.

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Figura 12 – Uso do Facebook para divulgar o link do blog do Projeto de

Investigação Estatística dos grupos.

A cooperação entre os estudantes também foi observada na utilização do

Facebook, conforme a Figura 13, site em que uma aluna coloca uma questão e pede

auxilio em sua solução, sendo atendida por outro estudante que colabora com a sua

resolução.

Podemos considerar este fato como aprendizado informal, de acordo com o

que discute Werhmuller e Silveira (2012), nos remetendo ao fato de que os

estudantes, de forma espontânea e livre, buscam o conhecimento. Neste caso, o

aprendizado pode ser classificado como próprio, uma vez que ele procura aprender

sobre um determinado tema sem a presença do facilitador, mas tendo auxílio de

uma pessoa como fonte de consulta. Este aprendizado também é considerado como

intencional e consciente, pois o estudante quer aprender e tem noção de que precisa

aprender algo.

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Figura 13 – Uso do Facebook para troca de conhecimento entre os

estudantes.

Para analisar o Projeto de Investigação Estatística realizado pelos grupos,

procedemos à Análise de Conteúdo, tendo como corpus os relatórios elaborados

pelos estudantes. Esta análise permitirá conhecer um pouco mais sobre o

conhecimento adquirido pelos estudantes ao percorrer as etapas do processo de

investigação estatística propostas nesta atividade

4.2 Análise dos Relatórios do Projeto de Investigação Estatística

Com o intuito de identificar como se deu a mobilização do conhecimento

estatístico por parte dos estudantes, conforme explicitado no Capítulo III, os

Relatórios do Projeto de Investigação Estatística foram submetidos à Análise de

Conteúdo, seguindo o método apresentado por Bardin (1977).

Após a delimitação do corpus a ser analisado, procedeu-se a uma leitura

“flutuante”, visando conhecer o material a ser analisado. A partir de então, passou-se

à “exploração do material”, momento em que se definiu a unidade de registro como

sendo a “palavra”.

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O material a ser analisado foi, então, codificado para se realizar a

enumeração das palavras-chave identificadas no corpus. Para tanto, utilizou-se

como regra de enumeração a frequência. O Quadro 3 apresenta as cinquenta

unidades de registro identificadas nos Relatórios do Projeto de Investigação

Estatística que constituem o corpus.

Unidades Significativas

1°Quartil Graduação

3°Quartil Gráfico

Administração Instrumentos

Amostra Introdução

Área de Estudo, Formação Maior Valor

Blog Mediana

Classes Menor Valor

Conhecimento Mercado de Trabalho

Considerações Finais Metodologia de Pesquisa

Curso / Ensino Superior Múltipla Escolha

Dados Negócios

Descrição Objetivo

Desvio Padrão Oportunidades

Entrevistados Pesquisa

Especialização, Pós, MBA População

Estabilidade Financeira Profissão

Facebook Público alvo

Formação Acadêmica Questionário

Frequência Absoluta Resposta

Frequência Cumulativa Sucesso / bem sucedido

Frequência Percentual Tabela

Frequência Relativa Tema

Frequência Relativa Cumulativa Trabalho

Futuro Universidade / Faculdade

Google Docs Variância

Quadro 3 – Unidades Significativas constantes nos Relatórios do Projeto de Investigação Estatística.

Fonte: Próprio autor.

Ao debruçarmo-nos sobre as unidades de registro observadas no corpus

analisado, identificaram-se sete categorias, a saber: Administração, Ensino Superior,

Estatística, Metodologia de Pesquisa, Metodologia do Trabalho Científico,

Tecnologias de Informação e Comunicação e Outros (Tabela 2).

A categorização consiste na operação de classificação das unidades de

registro identificadas no corpus. O critério de categorização adotado nesta pesquisa

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foi o semântico, ou seja, as categorias reúnem unidades de registro que possuem

aproximação por semelhança de significado.

Tabela 2 – Categorização das Unidades de Registro

Categorias Unidades Significativas % Unid. % Categorias

Estatística

1°Quartil 0,15%

10,00%

3°Quartil 0,15%

Amostra 1,23%

Classes 0,46%

Dados 0,62%

Desvio Padrão 0,15%

Frequência Absoluta 1,85%

Frequência Cumulativa 0,15%

Frequência Percentual 1,85%

Frequência Relativa 1,85%

Frequência Relativa Cumulativa 0,15%

Gráfico 0,31%

Maior Valor 0,15%

Mediana 0,15%

Menor Valor 0,15%

População 0,15%

Tabela 0,31%

Variância 0,15%

TICs

Blog 0,77%

1,38% Facebook 0,31%

Google Docs 0,31%

Metodologia do Trabalho Científico

Considerações Finais 0,62%

4,00%

Descrição 0,15%

Instrumentos 0,15%

Introdução 0,31%

Metodologia de Pesquisa 0,77%

Objetivo 0,92%

Tema 1,08%

Metodologia de Pesquisa

Entrevistados 0,46%

16,31%

Múltipla Escolha 0,15%

Pesquisa 1,38%

Público alvo 0,15%

Questionário 6,15%

Resposta 8,00%

Administração

Administração 13,54%

34,31%

Mercado de Trabalho 5,23%

Negócios 3,54%

Profissão, profissional 6,00%

Trabalho 6,00%

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Ensino Superior

Área de Estudo, Formação 2,92%

21,08%

Curso / Ensino Superior 12,46%

Especialização, Pós, MBA 1,69%

Formação Acadêmica 0,92%

Graduação 1,23%

Universidade / Faculdade 1,85%

Outros

Conhecimento 5,69%

12,92%

Estabilidade Financeira 0,92%

Futuro 2,15%

Oportunidades 0,92%

Sucesso / bem sucedido 3,23%

Total 100,00%

Fonte: Próprio autor.

Segundo Bardin (1977), a categorização é um processo estruturalista

composto por duas etapas: o inventário e a classificação. Na primeira etapa, as

unidades de registro são isoladas. Na segunda, as unidades de registros são

organizadas segundo critérios estabelecidos pelo pesquisador, neste caso, conforme

já exposto, o critério adotado foi o semântico.

Após a “exploração do material”, que culminou na categorização apresentada

na Tabela 2, passou-se ao “tratamento dos resultados”, objetivando dar significado

aos resultados brutos de modo a torná-los significativos e válidos.

Observando a categoria estatística, vemos que a mesma corresponde a 10%

das categorias identificadas, ressaltando que esta categoria possui o maior número

de unidades de registro. Mesmo não apresentando o maior percentual entre as

categorias, a estatística esteve presente em todos os relatórios apresentados, seja

em forma textual, em gráficos e também em tabelas. Isto nos leva a inferir que

houve uma mobilização do conhecimento estatístico por parte dos estudantes.

Com a realização do Projeto de Investigação Estatística, os estudantes

mobilizaram outros tipos de conhecimentos, evidenciados pela Análise de Conteúdo

como assuntos relacionados à área de Administração, à “Metodologia de Pesquisa”

e à “Metodologia do Trabalho Científico” e ao Ensino Superior, bem como às

Tecnologias de Informação e Comunicação.

Os grupos, ao desenvolverem o Projeto de Investigação Estatística, seguiram

as etapas de desenvolvimento de projetos, apresentadas por Batanero e Dias (2004,

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apud MENDONÇA, 2008, p. 60): proposta já citado neste trabalho, por meio da

Figura 1, no Capítulo I, Seção 3. Assim, os grupos iniciaram o Projeto de

Investigação Estatística com a definição do problema de pesquisa que iriam

investigar. Passaram a elaborar as perguntas que auxiliariam o grupo a responder

seu problema de pesquisa. Com o questionário finalizado, procederam a recolha dos

dados. De posse dos dados, passaram a organizar, analisar e interpretar os dados

e, finalmente, os grupos verificaram se o problema de pesquisa foi respondido,

passando a comunicar os resultados. Para desenvolver cada uma destas etapas,

por vezes, os grupos se valeram da utilização de recursos tecnológicos como o uso

do aplicativo para elaboração de Formulários do Google Docs e para a divulgação

dos resultados por meio de um blog.

As sugestões para o ensino, nos cursos introdutórios de Estatística, em nível

de Ensino Superior, apresentado pelo GAISE, conforme descrito anteriormente, são

identificadas no desenvolvimento do Projeto de Investigação Estatística. Os

estudantes, ao identificarem um problema de pesquisa e ao elaborarem perguntas

que respondessem a este problema, iniciaram um processo de desenvolvimento do

pensamento estatístico. Ao aplicarem o questionário à amostra, passaram a ter

contato com dados reais. Estes, por sua vez, serão manipulados pelos estudantes

que, por meio da compreensão de conceitos e não apenas do mero conhecimento

de procedimentos, usam recursos tecnológicos para análise de dados.

Ao proceder a uma Análise Interpretativa de cada relatório apresentado,

iniciando pelo Grupo I, que teve como tema “Visão dos alunos do 8° período de

Administração da universidade “X” sobre o mercado de trabalho”, observamos que o

grupo procurou contemplar os itens solicitados para a elaboração do relatório,

conforme as instruções divulgadas aos estudantes. No que diz respeito ao esquema

de desenvolvimento de um projeto (Figura 1), proposto por Batanero e Diaz (2004,

apud Mendonça, 2008, p. 60), já citado no Capítulo 1, seção 1.3 deste trabalho, o

grupo iniciou o Projeto de Investigação Estatística com um problema, que seria o de

descobrir a visão dos alunos do último período do curso de Administração, de uma

determinada universidade, sobre o mercado de trabalho. Elaboraram um

questionário e aplicaram este questionário junto à amostra, consistindo na etapa de

recolha dos dados. Assim, usaram dados reais e também utilizaram de recursos

tecnológicos para a organização e análise dos dados, conforme sugerido pelo

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GAISE. Contudo, cometeram um grave equívoco, quando organizaram os dados

provenientes das respostas ao questionário aplicado junto à amostra. O grupo

apresentou gráfico de barras, histogramas, gráfico de pizza, tabelas de distribuição

de frequência, frequência relativa, frequência cumulativa e ogiva. Porém, ao

organizar as respostas às questões de múltipla escolha, eles misturaram as

respostas a perguntas diferentes, agrupando todas as respostas à alternativa (a),

depois à alternativa (b) e assim por diante. O questionário foi bem elaborado e

disponibilizado em formato impresso aos entrevistados. O grupo apresentou tabelas

e gráficos que foram construídos por meio do Microsoft Excel. Apesar de bem

construídos, pelo equívoco na organização dos dados, se tornaram inconclusivos.

O Grupo II apresentou o tema “Administração Profissão do Futuro”. O relatório

segue as recomendações, contendo a introdução, a metodologia, as considerações

finais e as referências. Quanto às etapas do desenvolvimento de um projeto,

proposto por Batanero e Dias (Figura 1), o grupo teve como problema de

investigação a satisfação dos estudantes do curso de Administração quanto ao

futuro profissional após concluírem o curso que escolheram. O questionário foi

elaborado e disponibilizado por meio do aplicativo “Formulários” do Google Docs,

conforme sugerido pelo GAISE, no tocante ao uso de recursos tecnológicos para

organização e análise de dados, bem como o uso de dados reais. A organização dos

dados foi apresentada também por meio do Google Docs, contendo gráficos como

setor grama e histogramas. O grupo, que pensava que os resultados não fossem

positivos, percebeu que os estudantes de Administração “estão satisfeitos com o

curso que escolheram e que essa é uma área que abrange várias possibilidades de

mercado de trabalho, podendo fazer com que lhes proporcione estabilidade

financeira” (relatório do grupo II). Deste modo, concluíram as etapas do esquema de

desenvolvimento de um projeto, conforme proposto por Batanero e Dias (Figura 1).

O Grupo III teve como tema “Como as pessoas sem curso superior

conseguiram sucesso financeiro”. Neste caso, descreve-se bem a população e

amostra e apresenta as etapas de elaboração do relatório, contendo a introdução, a

metodologia, e as considerações finais. Este grupo também segue as etapas de

desenvolvimento de um projeto, propostas por Batanero e Dias (Figura 1) e as

recomendações do GAISE, no tocante ao uso de recursos tecnológicos para

organização e análise dos dados, além do uso de dados reais. O questionário foi

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bem elaborado, permitindo responder ao problema de pesquisa investigado pelo

grupo, que utilizou o Google Docs para coletar suas respostas junto à amostra

previamente definida. Apresentaram setor gramas, também elaborados pelo

aplicativo do Google Docs. O grupo concluiu que, apesar dos entrevistados não

terem cursado uma graduação e obterem sucesso em seus empreendimentos,

“cerca de 80% disseram que os primeiros anos foram muito difíceis, que poderiam

ser amenizados caso tivessem um maior conhecimento”. O grupo reconhece que a

universidade “oferece ferramentas que auxiliam para iniciar e conduzir um negócio

de maneira mais organizada e evitar surpresas futuras” (relatório do grupo III).

O Grupo IV investigou o tema “O que os alunos do 1° ano de Administração

das universidades “X” e “Y” esperam da futura profissão”. O relatório apresentado

não segue as recomendações divulgadas entre os estudantes, apresentando cada

pergunta do questionário que o grupo elaborou conjuntamente aos gráficos

produzidos e suas considerações sobre cada questão. No entanto, observam-se

respeito às etapas do esquema de desenvolvimento de um projeto, propostas por

Batanero e Dias (Figura 1). O grupo, seguindo as recomendações do GAISE,

trabalhou com dados reais e fez o uso de recursos tecnológicos para a coleta e

análise de dados. Utilizou o Google Docs para coletar as respostas junto à amostra.

A apresentação dos gráficos e as considerações do grupo são coerentes e utilizou o

Microsoft Excel para elaboração dos gráficos. O grupo identificou que nem todos os

alunos do curso ingressam na universidade já trabalhando na área e que acreditam

estarem prontos para assumir responsabilidades após a formação.

O Grupo V trabalhou o tema “As competências necessárias para um

profissional na Administração obter sucesso em sua carreira”. A elaboração do

relatório segue as recomendações, apresentando a introdução, a metodologia de

pesquisa, a representação dos dados e as considerações finais. Trazem à tona

também medidas de variabilidade, como Desvio-padrão e Variância e medidas de

posição, como o menor valor, 1° quartil, mediana, 3° quartil e maior valor sobre uma

das variáveis analisadas. O grupo segue o esquema de desenvolvimento de um

projeto, do modo como apresentado por Batanero e Dias (Figura 1) e faz uso de

dados reais e de recursos tecnológicos, conforme sugerido pelo GAISE. O

questionário foi disponibilizado pelo Google Docs para coleta das respostas junto à

amostra e a apresentação dos dados por meio de tabelas de distribuição de

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frequência absoluta, relativa e percentual. Igualmente, os gráficos foram elaborados

com a utilização do Microsoft Excel. O grupo conclui, com base nas respostas do

questionário proposto, que a maioria dos respondentes trabalha em empresas

privadas e possui visão empreendedora, pois “os resultados mostram que as

habilidades mais frequentes são a adaptação à transformação, criatividade e

inovação; as atitudes são: comprometimento, determinação e persistência” (relatório

do grupo V), concluindo que estas são características empreendedoras.

O Grupo VI investigou as opiniões sobre as oportunidades obtidas após a

graduação em Administração. O relatório apresentado pelo grupo não seguiu as

recomendações propostas para a sua elaboração. Contudo, seguiram as etapas

para o desenvolvimento de um projeto, identificando um problema, elaborando um

questionário, recolhendo os dados, organizando-os e apresentando suas análises,

conforme sugerido por Batanero e Dias (Figura 1). Uma descrição sumarizada

retratou como a pesquisa ocorreu. O público alvo da pesquisa (amostra) foram os

egressos do curso de Administração, que receberam o questionário elaborado pelo

aplicativo “Formulários” do Google Docs e disponibilizado via blog e Facebook,

conforme sugerido pelo GAISE, ao recomendar o uso de recursos tecnológicos para

organização e análise de dados. O relatório apresenta uma breve descrição das

respostas obtidas, destacando que a grande maioria trabalha na área de

Administração e acreditam que o referido curso deveria ser estudado por todos, pois

o mesmo abrange muitas oportunidades. O grupo apresenta uma tabela contendo

todas as perguntas, as respostas possíveis, a distribuição de frequência absoluta e

percentual e os gráficos elaborados por meio do Microsoft Excel.

Todos estes grupos apresentaram seus projetos por meio de um blog

elaborado por cada grupo, conforme solicitado. Durante as apresentações de cada

grupo, percebemos o entusiasmo dos participantes ao demonstrarem os resultados

de seus Projetos de Investigação Estatística. Diferentemente de outras

oportunidades, em que os estudantes apresentam seus trabalhos, na maioria das

vezes, com predominância teórica, desta vez, os grupos apresentaram o fruto de

suas próprias investigações. Cada grupo teve contato com a realidade investigada e

mesmo contendo equívocos em procedimentos ou tratamentos estatísticos, os

grupos demonstraram evolução e mobilização dos conhecimentos estatísticos desde

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o início da disciplina, em que a grande maioria conhecia, por exemplo, o Microsoft

Excel, mas poucos sabiam utilizá-lo além das funcionalidades básicas.

Os estudantes também puderam conhecer e aprender a utilizar a Calculadora

Financeira HP-12C, recurso amplamente utilizado por profissionais da

Administração, principalmente no tocante às funcionalidades financeiras,

características deste tipo de calculadora. Entretanto, neste caso, os estudantes

utilizaram as funções básicas e as funcionalidades do pacote estatístico desta

calculadora, promovendo a introdução deste recurso tecnológico ao universo destes

estudantes, que adiante ao seu percurso formativo, a utilizarão em outras

disciplinas, desta vez, justo às funcionalidades financeiras.

Como resultados finalísticos da implementação desta proposta, salientamos

que todos os estudantes que concluíram a disciplina foram aprovados (24 no

período diurno – Turma A –, e 39 no período noturno – Turma B), conforme

apresentado na Tabela 3. Dos estudantes matriculados nesta disciplina, no início do

semestre letivo, 04 estudantes do diurno e 06 estudantes do noturno trancaram suas

matrículas no curso ou abandonaram a disciplina ao longo do semestre. Estes

estudantes não foram contabilizados como reprovados, uma vez que não chegaram

a cursar a disciplina até o final do semestre.

Tabela 3 – Distribuição de Frequência Absoluta dos estudantes que concluíram a disciplina no semestre.

Com a implementação da

proposta apresentada

Sem a implementação da

proposta apresentada

Estudantes Turma A Turma B

Turma

A + B Turma A Turma B

Turma

A + B

Aprovados 24,00 39,00 63,00 21,00 39,00 60,00

Reprovados - - - 4,00 4,00 8,00

Total 24,00 39,00 63,00 25,00 43,00 68,00

Fonte: Próprio autor.

No ano anterior, dos 68 estudantes que concluíram a disciplina, 08 foram

reprovados, representando 11,76%, conforme apresentado na Tabela 4. Assim,

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percebemos que, dos estudantes que cursaram a disciplina até o final, obtivemos

um aprendizado suficiente para aprovação destes estudantes.

Tabela 4 – Distribuição de Frequência Relativa dos estudantes que concluíram a disciplina no semestre.

% Com a implementação da

proposta apresentada

% Sem a implementação da

proposta apresentada

Estudantes Turma A Turma B

Turma

A + B Turma A Turma B

Turma

A + B

Aprovados 100,00 100,00 100,00 84,00 90,70 88,24

Reprovados - - - 16,00 9,30 11,76

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: Próprio autor.

A proposta apresentada por esta pesquisa procurou alicerce sobre os

conceitos da Educação Estatística, aliados ao trabalho com projetos e ao uso das

tecnologias. Fundamentados na hipótese de que ensinar Estatística seja diferente de

ensinar Matemática, buscou-se trabalhar com números que tivessem algum

significado aos estudantes. Mais que isso, em sala de aula, utilizou-se de dados

coletados junto aos próprios estudantes, por meio do questionário aplicado no início

das atividades desenvolvidas. Assim como sugerido pelo GAISE, foram utilizados

dados reais, contextualizados com o cotidiano dos estudantes. Também foram

utilizados recursos tecnológicos, conforme sugerido pelo GAISE, como o uso do

Microsoft Excel, o Formulário do Google Docs e a própria Calculadora Financeira

HP-12C. O desenvolvimento do Projeto de Investigação Estatística proporcionou

estabelecer um ambiente onde os estudantes puderam aplicar as etapas do

desenvolvimento de um projeto, apresentado por Batanero e Dias (2004, apud

Mendonça, 2008, p. 60). Assim, os estudantes tiveram contato com o “pensamento

estatístico” citado por Mallows (1998, apud Campos, 2007) relacionado à

capacidade de relacionar dados quantitativos com situações reais e levando em

consideração a possibilidade da variabilidade e da incerteza, já mencionados no

Capítulo 1.

Ao trabalhar com dados reais, deixou-se de lado o paradigma do exercício,

apresentado por Skovsmose (2008), também citado no Capítulo 1, e priorizando-se

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o estabelecimento de um ambiente de investigação, principalmente quando os

estudantes vão a campo coletar dados para a realização de seus Projetos de

Investigação Estatística. Características amplamente difundidas pelo GAISE, quando

das recomendações de se usar dados reais, enfatizar a literacia estatística e

desenvolver o pensamento estatístico, usar a tecnologia para o desenvolvimento da

compreensão conceitual e análise de dados.

A Tomada de Decisão, ação tão presente no cotidiano de um Administrador,

mencionado por Druker (2002) no Capítulo 1, esteve contemplada durante o

desenvolvimento do Projeto de Investigação Estatística, uma vez que os estudantes,

durante todo o processo, estiveram envolvidos com escolhas, desde a definição do

problema, da elaboração do questionário e da seleção de recursos tecnológicos para

a recolha, organização e análise dos dados até a definição do blog a ser utilizado

pelo grupo para divulgação dos resultados obtidos.

Neste Capítulo apresentamos o desenvolvimento da pesquisa e a análise dos

dados provenientes do desenvolvimento de atividades compostas por três

estratégias: o uso de calculadoras, o uso de software e internet e o Projeto de

Investigação Estatística. Estas três estratégias, fundamentadas no referencial teórico

apresentado nos Capítulos 1 e 2, foram analisadas à luz da metodologia

apresentada no Capítulo 3. Descrevemos o desenvolvimento do Projeto de

Investigação Estatística e apresentamos a análise dos relatórios produzidos pelos

alunos concluindo o Projeto de Investigação Estatística. A seguir, apresentamos as

considerações finais deste trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao iniciarmos o desenvolvimento deste trabalho, objetivamos responder à

seguinte questão de pesquisa: Quais contribuições o uso de tecnologias em um

Projeto de Investigação Estatística traz a Educação Estatística dos estudantes em

uma disciplina do curso de Administração? Tal questão de pesquisa norteou todos

os passos que culminaram no presente trabalho, desde a fundamentação teórica a

escolha dos procedimentos metodológicos e recursos tecnológicos utilizados. Isto

posto, passamos a apresentar as considerações que emergem desta pesquisa,

imbuídos da esperança de que este trabalho possa contribuir para a disseminação

da Educação Estatística como contributo à formação profissional de futuros

Administradores, bem como a outros profissionais que desta área da Ciência se

utilizem.

Ao trabalharem os conceitos de População, Amostra, Inferência Estatística e

Estatística Descritiva utilizando os dados coletados por meio do questionário, os

estudantes conseguiram compreender melhor a aplicação dos conceitos e identificar

o comportamento dos dados, pois eles eram os próprios entes analisados.

Desta forma, quando se analisou as idades, organizando-as em classes, os

estudantes souberam identificar quem era o único estudante na classe de 41 a 44

anos. Assim, esta dinâmica proporcionou um maior envolvimento dos estudantes,

que estavam analisando dados que eles conheciam e que faziam parte de seu

cotidiano, possibilitando, assim, que a construção de seu próprio conhecimento

quanto esta proposta de pesquisa ocorresse de modo mais robusto.

O envolvimento e a participação ativa dos estudantes durante o processo

investigativo, utilizando tanto a Calculadora Científica e a Calculadora Financeira

HP-12C, quanto à utilização do Microsoft Excel para a organização e análise dos

dados, foi bem intenso, tanto durante as aulas realizadas em laboratório de

informática quanto nas aulas em classe com o uso das calculadoras.

O desenvolvimento do Projeto de Investigação Estatística proporcionou aos

estudantes a possibilidade de: elaborar um questionário que respondesse ao

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problema de pesquisa que o grupo decidiu estudar; aplicar o questionário junto à

população estabelecida; organizar e interpretar os dados coletados, aplicando os

conceitos estatísticos estudados e apresentá-los em um blog criado por cada grupo.

Aqui, visualizamos a relação existente entre o referencial teórico elucidado por

Batanero e Dias (2004, apud MENDONÇA, 2008, p. 60) e a prática apresentada

quando do desenvolvimento do Projeto de Investigação Estatística. Também

observamos que as sugestões propostas para o ensino em cursos introdutórios de

Estatística pelo GAISE também estiveram presentes no desenvolvimento do projeto

de Investigação Estatística, como a ênfase a literacia estatística e ao

desenvolvimento do pensamento estatístico, o uso de dados reais, o uso de

recursos tecnológicos para a compreensão conceitual e análise de dados e a

utilização de avaliações diferenciadas para avaliar a aprendizagem dos estudantes.

Analisando o resultado final apresentado por cada grupo, observamos que,

apesar de terem trabalhado em sala de aula, conceitos como Medidas de Tendência

Central (Média Aritmética, Média Harmônica, Média Geométrica, Mediana) e

Medidas de Variabilidade (Variância, Desvio-Padrão, Coeficiente de Variação), os

estudantes, em seus projetos, não se utilizaram destes conceitos, apenas

organizando-os em Tabelas de Distribuição de Frequência, Gráficos de Barras,

Histogramas e Gráficos de Pizza. Entendemos que, neste caso, os estudantes não

exploraram todos os conceitos trabalhados em sala de aula, mesmo tendo

demonstrado seu aprendizado nas avaliações aplicadas durante e no final do

período letivo.

Uma das suposições do professor-pesquisador para esta ocorrência deve-se

ao fato de que o Projeto de Investigação Estatística foi apresentado pelos

estudantes uma semana após a aplicação das provas finais e a nota atribuída ao

Projeto de Investigação Estatística correspondia a 20% da nota total atribuída àquele

período letivo. Muitos já não precisavam mais de nota para aprovação na disciplina,

contudo, como o desenvolvimento do Projeto de Investigação Estatística se deu

durante o desenrolar do período letivo, a elaboração do questionário e coleta de

dados já estavam prontos, restando a organização dos dados, as análises e a

finalização.

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Dentre as tecnologias utilizadas, ou seja, a Calculadora Científica e a

Calculadora Financeira HP-12C, bem como o Microsoft Excel e o aplicativo

“Formulários” do Google Docs, acreditamos que os alunos souberam identificar em

quais situações cada ferramenta tecnológica é mais adequada. Isto, pois, quando da

utilização do laboratório para as aulas sobre a utilização do Microsoft Excel, alguns

alunos apresentaram certa dificuldade em assimilar esta tecnologia, externando sua

preferência ao uso da calculadora.

Entretanto, o uso da calculadora para a execução do Projeto de Investigação

Estatística seria mais trabalhoso, uma vez que a calculadora não permite o

arquivamento dos dados e a cada novo cálculo com outros dados, os dados dos

cálculos anteriores são perdidos, característica que não ocorre quando da utilização

do Microsoft Excel, ferramenta em que os dados coletados podem ser armazenados

para reutilização posterior ou sempre que se fizer necessário. Já, em situações mais

instantâneas, como em resolução de exercícios em sala de aula ou em avaliações, a

calculadora é mais eficiente, dado a sua mobilidade e eventual facilidade de

manuseio.

Concluímos que o objetivo principal desta pesquisa foi alcançado, ao

observarmos que um ambiente de investigação foi estabelecido e a Educação

Estatística foi contemplada pela mobilização dos conhecimentos estatísticos

apresentados pelos estudantes no decorrer da disciplina, seja nas avaliações,

situação em que destacamos a aprendizagem dos conceitos estatísticos pelo uso

das tecnologias como o Microsoft Excel e o uso da Calculadora Financeira HP-12C,

seja nas aulas em laboratório e no Projeto de Investigação Estatística, onde a

aprendizagem é percebida pelo trabalho com projetos.

Nestas situações, foram utilizados dados reais e pertencentes ao cotidiano

dos estudantes, houve o envolvimento destes com a coleta de dados utilizados nos

cálculos estatísticos durante o desenvolvimento da disciplina. Também houve a

utilização de diferentes tecnologias aliadas ao ensino da “Estatística”, como

ferramentas de auxílio tanto na coleta como na organização dos dados e sua

apresentação em tabelas, gráficos e cálculos, permitindo que os estudantes se

voltem à interpretação do que os dados querem transmitir.

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Houve um fazer particular da “Estatística” na resolução dos Projetos de

Investigação Estatística, e é aqui que entra a contribuição das Tecnologias de

Informação e Comunicação desta proposta, pois os estudantes mostraram, por meio

da utilização do aplicativo “Formulários” do Google Docs, da disponibilização do link

do questionário para coleta de dados junto à amostra de cada grupo e a posterior

elaboração dos blogs para a divulgação de suas pesquisas, que estas tecnologias

podem auxiliar na utilização dos conceitos estatísticos abordados durante o

desenvolvimento da disciplina, permitindo aos estudantes interpretarem de forma

mais eficiente o que os dados analisados querem expressar.

Ressaltamos que o aprendizado dos estudantes de um curso de

Administração sobre os conceitos estatísticos se faz amplamente necessário à

tomada de decisão, uma vez que aqueles, ao assumirem suas posições no mercado

de trabalho, sejam eles na esfera pública ou particular, terão que tomar decisões

continuamente. Neste contexto, sobressairão aqueles que mobilizarem os

conhecimentos estatísticos por meio da contextualização proporcionada pelo Projeto

de Investigação Estatística, bem como na utilização de dados reais, uso de

tecnologias e demais contribuições provenientes da Educação Estatística.

Por fim, acreditamos que o uso de diferentes tecnologias aliadas ao Projeto

de Investigação Estatística possibilitou aos estudantes uma experiência didática

diferente, colocando-os em contato direto com a coleta dos dados, com a elaboração

dos questionários de pesquisa e a posterior organização, apresentação e

interpretação destes dados.

No Projeto de Investigação Estatística, os estudantes apresentaram seus

projetos com entusiasmo e se mostraram felizes com o resultado que cada grupo

ofereceu, principalmente por terem participado desde a definição do problema de

pesquisa, da elaboração do questionário, da coleta de dados e da organização

destes dados utilizando os conceitos de Estatística Descritiva.

A implementação desta proposta gerou uma aprovação de 100% dos

estudantes que chegaram até o fim do semestre letivo, um resultado que

consideramos satisfatório.

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Deste modo, completamos, dizendo que a teoria, ao se aproximar da prática,

envolvendo os estudantes na coleta de dados e trabalhando com dados que fazem

parte do cotidiano deles ou que eles mesmos coletaram, aliada à utilização de

diferentes recursos tecnológicos pode contribuir para uma aprendizagem mais

eficiente e significativa dos conhecimentos estatísticos.

Acredita-se também que os objetivos específicos desta pesquisa foram

alcançados, uma vez que o ambiente de investigação propício ao desenvolvimento

da Educação Estatística foi estabelecido. Foi possível verificar que os ao usarem e

manipularem dados de origem de seu próprio cotidiano por meio da utilização dos

dados do questionário inicial respondido pelos estudantes e trabalhado em sala de

aula, puderam “fazer estatística” de um modo diferente do que era desenvolvido

antes da implantação desta proposta, momento em que o uso de dados reais,

contextualizados e com uso de recursos tecnológicos não era utilizado. Também foi

possível o uso de diferentes tecnologias para o ensino de “Estatística”, tanto em

suas modalidades físicas, como no caso das calculadoras, quanto nos formatos

virtuais, como no caso do uso de software e dispositivos da internet, como rede

social, e-mail, blogs e simulador da calculadora HP-12C.

O Projeto de Investigação Estatística também possibilitou complementar e

sistematizar os conhecimentos de “Estatística” que abordados no desenvolvimento

da disciplina, de tal modo a valorizar a “Estatística” como instrumento para

compreender o mundo, principalmente do cotidiano dos estudantes, por meio de

dados do seu dia-a-dia e do próprio levantamento de elementos realizado pelos

mesmos.

Também foi possível introduzir a ideia de criar modelos para resolver

problemas e fazer inferências. Por fim, acreditamos que o desenvolvimento desta

proposta permitiu identificar a importância das interações, tanto entre os estudantes,

quanto entre o uso de diferentes tecnologias, culminando na qualidade de um ensino

pautado no desenvolvimento humano e profissional, crítico e democrático.

Esta pesquisa revela que investigações precisam ser realizadas sobre a

elaboração e o incremento de propostas que visem à integração das Tecnologias de

Informação e Comunicação aos conceitos de Educação Estatística no

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estabelecimento de Cenários de Investigação e baseados na Modelagem de

Projetos em disciplinas ofertadas no Ensino Superior. Neste caso, adotando o

conceito de Modelagem de Projetos, conforme proposto por Malheiros (2008).

Revela também que outras investigações podem ser realizadas sobre a

elaboração e efetivação de uma proposta que possibilite a utilização do conceito

conhecido como Problem-Based Learning (PBL) ou Aprendizagem Baseada em

Problemas (ABP), aplicado ao Ensino a Distância, levando em consideração os

preceitos da Educação Estatística em disciplinas ministradas no Ensino Superior.

Espera-se ainda que esta proposta possa ser aplicada em outros cursos de

graduação, respeitando as especificidades de cada área, procedendo às

adequações necessárias e introduzindo outros conceitos, como a Modelagem

Matemática, a Aprendizagem Baseada em Problemas e outros procedimentos

didático-metodológicos que permitam melhorias efetivas do ensino e da

aprendizagem dos conceitos e ferramentas relacionadas à “Estatística”.

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APÊNDICES

APÊNDICE A – Roteiro 1 – Aula no Laboratório

AULA NO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA

1. Responda ao questionário que se encontra no endereço: https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dC1RVTY5djdxVEVqeFg1R

nhRamF3Znc6MQ

2. Resolva os exercícios da apostila utilizando o Excel: a. Exercício N° 06 da página 43; b. Exercício N° 08 da página 44; c. Exercício N° 14 da página 52; d. Exercício N° 16 das páginas 52 e 53; e. Exercício N° 30 das páginas 62 e 63; f. Exercício N° 32 da página 63;

3. Ao terminar os exercícios, salve seu arquivo com o seguinte nome: “lab1_” seguido de seu nome inteiro, sem espaços, como no exemplo a seguir:

“lab1_josneyfreitassilva.xlsx”

4. Envie seu arquivo para: [email protected]

5. Coloque no “Assunto” do e-mail [UEMG-MQ] Roteiro I Laboratório de Informática.

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APÊNDICE B – Roteiro 2 – Aula no Laboratório

MÉTODOS QUANTITATIVOS EM ADMINISTRAÇÃO Professor Josney Freitas Silva

2° Período

Roteiro: Dados / População / Cálculo de uma Amostra / Medidas de Posição / Medidas de Disperção

Dados: O primeiro passo no processo estatístico é a coleta de dados. Dados são informações coletadas para um estudo. Podem ser obtidos por meio de levantamentos, questionários ou entrevistas; observações; experimentos ou simulações; livros, jornais ou banco de dados. Normalmente os dados são reunidos para uma amostra da população.

População: é um grupo de pessoas ou coisas que está sendo estudado. Uma amostra é uma parte da população da qual a informação realmente será coletada.

Cálculo de uma amostra: a população envolvida numa pesquisa sobre a incidência de cárie em escolas de um certo município é apresentada no quadro abaixo:.

Escola População % Amostra A 500

B 300 C 460 D 540 1800

Estratifique uma amostra com 200 estudantes.

População total:

1800 estudantes

Escola A: 500 Razão entre Escola A e total

da população:

Escola A = População

Logo, a Escola A contribui com 28% da população. Com um procedimento análogo, calcule quantos estudantes das escolas B, C, D farão parte da amostra.

Outra Proposta:

Numa cidade com 40.000 habitantes, deseja-se fazer uma pesquisa entre pessoas com mais de 50 anos de idade, levando-se enconta o seu sexo.

a) Qual a população envolvida na pesquisa? b) Supondo que na cidade haja 8.000 mulheres e 6.000 homens com mais de 50 anos, determine

uma amostra com 700 pessoas.

Medidas de Posição: Média Aritmética / Moda / Mediana

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Proposta: Numa fábrica, os salários pagos são:

Cargos Quant. Salário Q. X S. Ao Presidente

50 Salários mínimos

Ao Diretor

40 Salários mínimos A cada um dos 6 gerentes 30 Salários mínimos A cada um dos 50 operários 2 Salários mínimos

Total

a) Qual o salário médio que esta fábrica paga?

S. Médio Soma Q x S

b) Qual a moda?

Quant.

c) Qual o salário mediano? d) O salário médio pago na fábrica, representa o que ganha a maioria dos funcionários?

e) Faça um gráfico de Barras representando os salários dos funcionários.

Medidas de Dispersão

Duas empresas (A e B) têm ao seu serviço 9 funcionários, cada uma. Cada um dos diretores afixou na respectiva empresa, a seguinte afirmação: "O salário médio dos funcionários é de R$ 540,00."

O sindicato da empresa B contestou a afirmação, dizendo que o salário médio era apenas de R$ 200,00. O sindicato da empresa A não levantou quaisquer problema. Por que razão isso aconteceu?

No caso da empresa B quem é que tem razão? A direção da empresa ou o sindicato?

Tabela de Salários

Funcionários Empr. A Empr. B XA-XiA XB-XiB (XA-XiA)2 (XB-XiB)2 A 550,00 200,00

B 510,00 210,00 C 580,00 220,00 D 560,00 3.410,00 E 540,00 150,00 F 510,00 240,00 G 560,00 130,00 H 530,00 160,00 I 520,00 140,00 Total

Média

a) Como justificar o protesto do sindicato B?

b) Os dois conjuntos têm a mesma média? No caso da empresa B, o salário mediano seria mais relevante do que a média?

c) Quais características que fazem com que a média seja significativa num caso e noutro não?

d) Complete a tabela acima criando uma coluna para cada empresa com as diferenças entre o salário de cada funcionário e a média da empresa (desvios ao redor da média).

e) Eleve ao quadrado cada valor da coluna E e cada valore da coluna F. Calcule a soma destas novas colunas e divida essa soma pelo total de funcionários (Variância).

f) Extraia a raiz quadrada do quociente acima e terá o Desvio-Padrão.

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APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro, por meio deste termo, que concordei em responder ao questionário, ser entrevistado(a) e

participar na pesquisa de campo referente ao projeto de pesquisa intitulado O Uso das TICs no

Ensino Superior: a integração de diferentes tecnologias à educação estatística desenvolvido por

Josney Freitas Silva. Fui informado(a), ainda, de que a pesquisa é orientada pelo Prof. Dr. Juliano

Schimiguel, a quem poderei contatar/ consultar a qualquer momento que julgar necessário através do

e-mail: [email protected].

Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer incentivo financeiro ou

ter qualquer ônus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa. Fui

informado(a) dos objetivos estritamente acadêmicos do estudo, que, em linhas gerais, busca avaliar o

uso e a integração das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) ao conceito de Educação

Estatística na construção de um ambiente de investigação como contributo para o processo de

aprendizagem no Ensino Superior.

Minha colaboração se fará de forma anônima, por meio das informações expressas no questionário,

autorização das imagens dos simulados e provas, dos blogs, orientações via facebook e do WEBGIZ

(AIX Sistemas), realizadas durante os encontros de desenvolvimento do projeto e na apresentação

pública do mesmo.

O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pelo pesquisador e seu orientador.

Autorizo a divulgação dos dados produzidos por meio de textos acadêmicos.

Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

São Paulo, ____ de agosto de 2012.

Nome por extenso do participante:_____________________________________________

CPF do participante: _______________________________________________________

Assinatura do(a) participante: ________________________________________________

Nome do Pesquisador: JOSNEY FREITAS SILVA _______________________________

Assinatura do pesquisador: _________________________________________________

Nome da Testemunha: _____________________________________________________

Assinatura da testemunha: __________________________________________________