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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012 1 O USO DE GRAVURAS EM SEQUÊNCIA COMO RECURSO PARA A PRODUÇÃO DE HISTÓRIAS COERENTES POR ESCOLARES EM FASE DE ALFABETIZAÇÃO OLIVEIRA, Jáima Pinheiro de (UNICENTRO) 1 BONKI, Eveline (UNICENTRO) 2 INTRODUÇÃO A frequência de queixas escolares e o encaminhamento de alunos para os setores de saúde têm aumentado demasiadamente. Essas queixas, em sua grande maioria, estão voltadas para a linguagem, tanto em sua modalidade oral, quanto escrita. Por isso, faz-se necessário refletir sobre a forma como são abordadas “essas alterações”, que envolvem aspectos subjetivos e, fundamentalmente, relacionados à interação social. Diante disso, o objetivo da Fonoaudiologia Educacional – promover o desenvolvimento da comunicação (oral e escrita) – deve ser contemplado na educação, com propostas voltadas para o coletivo (OLIVEIRA et al., 2010; CALHETA, 2005; ZORZI, 2001), enfatizando o papel cultural da linguagem. Dentro desse contexto, as pesquisas atuais que envolvem a interação entre a Fonoaudiologia e a Educação, avançam, com o intuito de contemplar ações que problematizem essas questões, dentro da escola. Essas ações envolvem compromissos de assessoria, fundamentados na formação continuada e em serviço. Partindo desses pressupostos e abordando a linguagem escrita, concordamos com Koch (1995), ao mencionar que o gênero textual narrativo parece ser o que mais possibilita a formação de um leitor reflexivo. Sabemos que a complexidade presente nos comportamentos de ler e de escrever tem sido amplamente analisada por pesquisadores e ainda é motivo de muita controvérsia, especialmente no que diz respeito à existência de diagnósticos que levam 1 Docente do Departamento de Fonoaudiologia e do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Irati, PR. 2 Fonoaudióloga do Estágio Pedagógico Voluntário da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Irati, PR.

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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

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O USO DE GRAVURAS EM SEQUÊNCIA COMO RECURSO PARA A

PRODUÇÃO DE HISTÓRIAS COERENTES POR ESCOLARES EM

FASE DE ALFABETIZAÇÃO

OLIVEIRA, Jáima Pinheiro de (UNICENTRO)1

BONKI, Eveline (UNICENTRO)2

INTRODUÇÃO

A frequência de queixas escolares e o encaminhamento de alunos para os setores de

saúde têm aumentado demasiadamente. Essas queixas, em sua grande maioria, estão voltadas

para a linguagem, tanto em sua modalidade oral, quanto escrita. Por isso, faz-se necessário

refletir sobre a forma como são abordadas “essas alterações”, que envolvem aspectos

subjetivos e, fundamentalmente, relacionados à interação social. Diante disso, o objetivo da

Fonoaudiologia Educacional – promover o desenvolvimento da comunicação (oral e escrita) –

deve ser contemplado na educação, com propostas voltadas para o coletivo (OLIVEIRA et al.,

2010; CALHETA, 2005; ZORZI, 2001), enfatizando o papel cultural da linguagem.

Dentro desse contexto, as pesquisas atuais que envolvem a interação entre a

Fonoaudiologia e a Educação, avançam, com o intuito de contemplar ações que

problematizem essas questões, dentro da escola. Essas ações envolvem compromissos de

assessoria, fundamentados na formação continuada e em serviço.

Partindo desses pressupostos e abordando a linguagem escrita, concordamos com

Koch (1995), ao mencionar que o gênero textual narrativo parece ser o que mais possibilita a

formação de um leitor reflexivo. Sabemos que a complexidade presente nos comportamentos

de ler e de escrever tem sido amplamente analisada por pesquisadores e ainda é motivo de

muita controvérsia, especialmente no que diz respeito à existência de diagnósticos que levam

1 Docente do Departamento de Fonoaudiologia e do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Irati, PR. 2 Fonoaudióloga do Estágio Pedagógico Voluntário da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Irati, PR.

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em consideração as manifestações, ao longo do processo de aquisição e desenvolvimento da

linguagem escrita.

De acordo com Koch e Elias (2010), a familiaridade com a habilidade de narrar

eventos coloca a criança em contato com um gênero textual que lhe será apresentado

posteriormente, sem que ela saiba. Quer dizer, o desempenho da criança em relação ao gênero

textual narrativo advém dos modelos aos quais ela foi exposta socialmente, ao longo de seus

comportamentos linguísticos (KOCH, 1995; KOCH; ELIAS, 2010).

Por isso, à medida que é desenvolvida a capacidade de narrar fatos e eventos, essa

habilidade se aprimora a tal ponto que a criança passa não somente a relatar experiências

vivenciadas, mas também a recontar histórias e utilizar-se dessa capacidade para criar novos

cenários e personagens (BROCKMEIER; HARRÉ, 2003; SHIRO, 2003). Em função dessa

estreita relação da criança com o gênero textual narrativo, muito antes de sua entrada na

escola, é que optamos por trabalhar em nossas investigações, com as histórias.

No entanto, sabemos que as “chamadas produções espontâneas” são mais difíceis de

serem elaboradas, especialmente se a criança já apresenta dificuldades no processo de

aquisição e desenvolvimento da linguagem. Por isso, pensamos que o apoio pictográfico pode

ser um importante recurso ao longo desse aprendizado, seja em relação á linguagem oral ou à

escrita. Estudos anteriores tem confirmado que seu uso pode melhorar, sobremaneira, o

desempenho de escolares sem queixa (FERREIRA, CORREIA, 2008; FERIGOLO, 2005) e

também de escolares com dificuldades no processo de aprendizagem (OLIVEIRA, 2010).

Diante disso, essa pesquisa investigou os efeitos do uso de gravuras em sequência

como apoio para a produção de histórias orais e escritas de escolares sem queixa no processo

de alfabetização.

ASPECTOS METODOLÓGICOS

Caracterização do estudo

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Esse estudo foi classificado como descritivo de caráter exploratório (MARCONI,

1996), com a utilização da técnica de nomeação espontânea de figuras para emergência de

narrativas orais e escritas.

Cuidados éticos

A presente pesquisa respeitou todas as normas estabelecidas pela Resolução 196/96,

acerca dos aspectos éticos em pesquisas com seres humanos e está aprovada pelo Comitê de

Ética da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), sob o protocolo número

207/2010.

Local e participantes

A pesquisa foi realizada em uma escola de ensino público de uma cidade do interior

do Estado do Paraná.

Participaram desse estudo 10 crianças, de ambos os sexos, matriculadas regularmente

nos 2° e 3° anos do Ensino Fundamental. Para incluir essas crianças neste estudo, houve

critérios específicos, tais como: a criança deveria estar cursando 2° e/ou 3° ano, do Ensino

Fundamental; não deveria apresentar alterações fonológicas ou outro tipo de queixa escolar

que sugerisse um quadro de alteração de linguagem, seja em sua modalidade oral ou escrita.

Coleta de dados

A coleta de dados foi iniciada com uma visita à instituição, a fim de esclarecer o

objetivo do estudo e obter autorização para sua realização.

Para a coleta das amostras de narrativas, cada criança era chamada individualmente

para uma sala disponível na escola. O pesquisador disponibilizava a história ilustrada para a

criança, explicava que os desenhos, ao serem colocados em sequência, formavam uma história

e, em seguida, fornecia um tempo de dois a três minutos para a criança observar as figuras

relacionadas à história. Em seguida, pedia à criança, para que ela contasse aquela história. As

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histórias narradas eram gravadas em MP4 e transcritas na íntegra. Num segundo momento, a

pesquisadora fornecia à criança uma folha de papel sulfite e a solicitava que escrevesse aquela

história que ela tinha acabado de narrar oralmente. As figuras ficavam disponíveis para

consulta, caso a criança quisesse manuseá-las novamente. Essas produções foram tomadas

para análise nesse estudo.

Análise de dados

Inicialmente, as produções das crianças foram analisadas do ponto de vista da

presença dos elementos que a formam, de acordo com Morrow (1986). Ou seja, foi observado

se nestas histórias estavam presentes os seus elementos fundamentais: cenário, tema, enredo e

resolução. Foi analisada também a sequência destes elementos nessas narrativas. O critério

mínimo para que a narrativa produzida fosse considerada como coerente, foi a presença dos

elementos principais dessa produção (tema e enredo), segundo Morrow (1986) e Spinillo e

Martins (1997).

Os resultados obtidos inicialmente foram apresentados por meio de quadros e tabelas,

indicando a presença/ausência de coerência nas histórias produzidas. Esses dados foram

discutidos, posteriormente, a partir da literatura apresentada e de estudos complementares.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

a) Histórias orais produzidas pelos escolares

Participantes Transcrição da história Presença de tema e

enredo

P1

Era uma vez um cachorinho que se chamava Totó. Ele queria um osso. Depois ele tava indo passear e se sujo na lama e a menininha lavo ele. Depois ele foi na casinha e acho um osso.

Sim

P2

Era uma vez um cachorinho chamado totó,que queria come um osso. Daí na casinha dele tinha um osso, ele foi lá e tava comendo. Daí aqui ele tava saindo da casinha tava indo passea e se sujo no baro. Aqui a dona dele tava lavando ele. Aí ela amarou ele na corente, tava lavando para ele ficar limpo. Aqui

Sim

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ela...ele tinha comido o osso e tinha outro...ele foi dormi e a dona dele fico feliz.

P3

Era uma vez um cachorinho que tinha achado um ossinho. Daí levo lá na casinha dele. Daí ele tinha fugido e caiu na poça de lama. Daí ele chego apressado na casa dele. Daí a menina deu um banho nele e ele foi dentro da casinha dele.

Sim

P4

Era uma vez um cachoro com osso chamado totó fugiu de casa e caiu na lama. Ai ela acho o Totó e daí foi da banho nele. E aqui ele tava com o osso.

Sim

P5

Era uma vez o Totó tava entrando na casinha dele buscar o osso. Um dia ele saiu corendo e caiu na lama. A dona dele pegou e amarou na corente e deu um banho nele. E depois ela pegou e colocou ele dentro da casinha para dormir.

Sim

P6

Era uma vez um cachorrindo chamado Totó. Ai ele saiu da casinha dele e foi brincar na lama. Daí a mãe dele pegou amarou ele na corente e deu um banho nele. Depois ela colocou ele na casinha e colocou o osso do lado.

Não

P7

Era uma vez um cachoro que se chamava totó. Ele fugiu da sua da sua Dona para brincar na lama. Daí sua dona pegou colocou na corente e deu um banho. Daí o cachoro ficou dentro da casinha e ficou tudo bem.

Não

P8

Era uma vez um cachorrinho que se chamava totó. Ele fugia da sua casinha pra brincar na lama. Uma vez sua Dona achou ele brincando na lama e amarrou ele na corrente e deu um belo banho nele e depois do banho colocou ele na casinha e ele nunca mais fugiu.

Não

P9

Era uma vez um cachoro chamado Totó. Ele vivia indo na sua casa. Uma vez ele fugiu e se rolou tudo na lama. Daí a mulher amarou ele e deu um banho nele. Daí ela amarou por dentro e ele fico lá e coloco o osso bem pertinho.

Sim

P10

Era uma vez Totó...ai pra sua casa. Daí ele saiu da casa pra brinca na poça de lama. Daí a menina prendeu ele e deu um banho nele. Daí a menina prendeu ele com a colera dentro da casinha.

Não

Quadro 1 – Caracterização das narrativas orais produzidas pelos escolares; Fonte: coleta da própria pesquisa.

b) Sobre a coerência das histórias orais produzidas

Tabela 1 – Distribuição das histórias orais pela presença/ausência de coerência

Categorias Frequência absoluta Frequência relativa

Histórias coerentes 6,0 60,0%

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Histórias incoerentes 4,0 40,0%

Total 10,0 100,0%

Fonte: coleta da própria pesquisa.

c) Histórias escritas produzidas pelos escolares

Participantes Transcrição das histórias Presença de tema e enredo

P1

O caozinho totó Era uma vez um caõzinho chamado totó, ele sempre estava em sua cazinha. Um dia ele saiu de sua casinha e foi brincar na lama que tinha perto de sua casinha e se sujou todo. Sua dona ficou muito brava e foi dar um banho em seu caozinho. Totó foi para sua casinha muito limpinho.

Sim

P2

O totó

Uma vez um cachorro que tinha um osso e o osso caiu na lama e o cachorro se sujou de lama. E depois a sua dona de um banho depois no cachorro.E depois o cachorro ficou na sua cozinha com o seu osso.

Sim

P3

O cachorro chamando totó

Era uma vez um cachorro chamando totó, sua dona tinha acabado de tomar banho.E ele saiu da cozinha e se sujou todo em um banhado. E sua dona amarou ele numa coleira e deu mais um banho. E totó não saiu mais de sua cazinha.

Sim

P4

Totó

Era uma vez um cachorro chamado totó Ele gostava de comer osso. Ootro dia ele foi brincar na lana e ele se suchou na lama. A dona do cachorro chamando. Totó deu um banho ao totó ele ficou limpo. A dona do totó amarou totó ele ficou endrento da casinha dele.

Sim

P5

Sem título

Era uma vez um cachorro chamando totó ele tinha uma casa muito bonita e ele sempre dormia drento dela. Um dia ele saiu para dar uma volta e pissou em uma possa de água e se molhou todo e a dono dele ficou brabo e foi da uma banho nele e dai ele foi dormi.

Sim

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P6

O cão chamado totó

O totó tinha sua casinha e o seu osso, ele estava indo comer o seu osso na sua casinha. Certo dia totó saiu para dar uma volta e acabou se sujando tudo numa poça de lama, quando chegou em casa a sua dona amarrou na corente para lavar e a sua dona amarou na corente e amarou a corente na casinha e ele não saiu mais para se sujar.

Sim

P7

Sem título Era uma vez um cachorrinho chamado totó e ele tinha um osso e um dia ele perdeu o osso. E dai ele foi procurar o seu osso e uma posa de barro que ele tinha pulado e ele se sujou muito e ele foi para a casa e a sua dona ficou com do dele. E ela foi lavar ele com uma mangeira E depois do banho ele foi para a sua casinha.

Sim

P8

Totó

Era uma vez um cachorro chamando totó, ele morava numa casinha ele guardava os ossos dele. Um dia ele saiu para passear e tinha uma poça de lama ele passou por sima e se sujou todo. O Totó voltou para casa toso sujo e sua dona deu um banho e ficou limpinho. E totó dormiu na sua casinha.

Sim

P9

Totó

Era uma vez um cachorinho chamando totó, um dia e estava passeando pela rua e se sujou tudo. A sua dona viu o chachorinho todo sujo e foi lavar, pigou uma tornera e lavou o cãozinho. O cachorinho foi para sua casinha todo limpinho.

Sim

P10

O Totó

Era uma vez uma cachorinho chamando totó, Ele estava indo dantro de sua casa. Toto saiu para passear. Ele se sujou dentro de uma poça de barro. Sua dona prendeu ele em uma corrente e lavou-o. E ele foi dentro de sua casinlha camendo seu ossinho.

Sim

Quadro 2 – Caracterização das narrativas escritas produzidas pelos escolares; Fonte: coleta da própria pesquisa.

d) Sobre a coerência das histórias escritas produzidas

Tabela 2 – Distribuição das histórias escritas pela presença/ausência de coerência

Categorias Frequência absoluta Frequência relativa

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Histórias coerentes 10,0 100,0%

Histórias incoerentes 0,0 0,0%

Total 10,0 100,0%

Fonte: coleta da própria pesquisa.

Observa-se, no Quadro 1, que as histórias orais elaboradas pelas crianças apresentam

uma introdução de uma cena, personagens e alguns marcadores linguísticos convencionais de

começo de história, embora ainda seja um esquema elementar de histórias (SPINILLO, 1991;

1993). Verifica-se, ainda, que nas produções há uma fidelidade em relação às gravuras

(Apêndice 1), confirmando que esse apoio auxiliou na emergência dessas produções.

Por outro lado, algumas crianças (P3, P4, P5, P9, P10) descreveram as gravuras de

maneira direta, sem fazer uma articulação dessas descrições com o objetivo de elaborar uma

história. É o caso de P10. Nesse caso, há uso de expressões que se repetem e indicam que a

criança está apenas descrevendo a gravura. [...] Era uma vez Totó...ai pra sua casa. Daí ele

saiu da casa pra brinca na poça de lama. Daí a menina prendeu ele e deu um banho nele.

Daí a menina prendeu ele com a colera dentro da casinha[...].

Em alguns casos essas descrições são consideradas como não-histórias, consistindo em

frases soltas, sequência de ações, às vezes, relatos pessoais, sem a presença de marcadores

linguísticos típicos de histórias (SILVA, SPINILLO, 2000).

Essas situações tratam-se, por outro lado, de indicadores de momentos nos quais é

possível se intervir. Essa intervenção, segundo estudos da área, deve se fundamentar em

elementos metalinguísticos, ou seja, que indiquem à criança aspectos da estrutura da história.

No caso de se tratar de uma história escrita, seriam aspectos metatextuais (OLIVEIRA, 2010).

Na Tabela 1, observa-se que a maioria (60%) das histórias orais produzidas foi

coerente. Isso significa que continham em sua estrutura pelo menos tema e enredo. Para

Spinillo e Simões (2003), os elementos tema e enredo são os mais difíceis de surgirem nas

produções narrativas de crianças. Porém, é preciso ressaltar que estas autoras estão falando

sobre as “produções espontâneas”.

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No Quadro 2, observamos que as histórias escritas parecem ser mais elaboradas do que

as histórias orais. Sabemos, de fato, que a elaboração escrita exige uma série de competências

de ordem linguística e de uso dessa habilidade. E, talvez por isso, essa produção chame mais a

atenção. Além disso, sabemos também que a narrativa escrita, de acordo com Silva, kauchakje

e Gesueli (2003), é um dos principais tipos de textos produzidos pelas crianças dentro do

espaço escolar. Talvez em razão disso, sua elaboração escrita seja mais comum e mais

aperfeiçoada.

Outro dado interessante é que a coerência das histórias escritas foi de 100%,

confirmando nossas afirmações e inferências anteriores.

De modo geral, os resultados obtidos indicaram que as gravuras confeccionadas

contribuíram com o desenvolvimento das narrativas (orais e escritas) das crianças por meio de

alguns aspectos, tais como: a introdução de novos marcadores linguísticos nas narrativas das

crianças, produção de períodos. Ou seja, o apoio pictográfico específico favorece uma melhor

elaboração da história em relação aos seus elementos (OLIVEIRA, BRAGA, 2009;

CORREIA, 2007). Além disso, é possível que o uso contínuo desse material possa aperfeiçoar

essa produção.

Em outros estudos, como o de Oliveira e Braga (2009) as autoras alertaram para outro

fator importante: trata-se da qualidade das gravuras utilizadas. Estas devem focar os

elementos da narrativa, ou seja, a elaboração das gravuras deve fornecer as características de

cada elemento que a organiza. Isso facilitaria ainda mais a articulação entre essas descrições,

por meio da intervenção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados dessa análise permitiram concluir que o uso das gravuras facilitou a

emergência de narrativas orais e escritas. Permitiram concluir, também, que esse

favorecimento parece ser mais evidente, em relação às produções escritas, já que todas elas

foram elaboradas de maneira coerente.

Consideramos que o estudo indicou que esse material pode ser utilizado nos contextos

escolar e clínico para fins de aquisição e aperfeiçoamento de habilidades narrativas orais e

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escritas. Sem dúvida, essa seria uma das maiores contribuições desse material, ainda que o

mesmo necessite de aperfeiçoamento. Sugere-se, por fim, o uso de gravuras em sequência em

pesquisas futuras que tenham como objetivos a consolidação e o aperfeiçoamento das análises

de narrativas orais e escritas de escolares com e sem dificuldades nessas habilidades. Isso

poderá indicar importantes contribuições para o processo de produção textual de crianças em

fase de alfabetização.

REFERÊNCIAS BROCKMEIER, J.; HARRÉ, R. Narrativa: problemas e promessas de um paradigma alternativo. Psicol. Refl. Crít., Porto Alegre, v. 16, n. 3, p. 525-535, set.-dez. 2003. CALHETA, P. P. Fonoaudiologia e Educação: sentidos do trabalho de assessoria a escolas públicas. In: CESAR, C. P. A. H. R.; CALHETA, P. P. (Orgs.). Assessoria e Fonoaudiologia: perspectivas de ação. 1. ed. Rio de Janeiro: Revinter, p. 103-15, 2005. CORREIA, J. A. F. Escrita de histórias por crianças de escola pública e particular em diferentes situações de produção - [Dissertação de Mestrado] – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife/PE, 2007, 76p. FERIGOLO, J. Fatores determinantes no desenvolvimento da linguagem infantil: comparação entre a narração de uma história realizada por duas crianças. Rev. Idéia, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 78-91, 2005. FERREIRA, S. P. CORREIA, J. A influência de diferentes contextos de intervenção na escrita de histórias por crianças, Estudos de Psicologia, Campinas, 25(4), 547-555, out/dez, 2008. KOCH. I. V.; ELIAS, V. M. Ler e escrever – estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2ª Ed, 2010. KOCH, I. V. Aquisição da escrita e textualidade. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, 29, p. 109-117, jul/dez, 1995. MARCONI, Mariana de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, analise e interpretação de dados. 3. ed. Sao Paulo: Atlas, p.231, 1996. MORROW, L. M. Effects of structural guidance in story retelling on children's dictation of original stories. Journal of Reading Behavior, 18 (2), 135-152, 1986.

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Apêndice – Gravuras da história utilizada

O cachorrinho Totó

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