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56 O USO DE MICROINGREDIENTES (ADITIVOS) NA FORMULAÇÃO DE DIETAS PARA SUÍNOS E SUAS IMPLICAÇÕES NA PRODUÇÃO E NA SEGURANÇA ALIMENTAR 1 Claudio Bellaver 2 1. Introdução Os países em desenvolvimento vem apresentando um aumento da produção de produtos de origem animal para satisfazer o mercado interno e também visando aumento de exportações. Esses países, devido a pressão globalizante da economia, devem apresentar melhorias constantes nos índices produtivos, sob pena, em caso contrário, de situarem-se num patamar inferior de desenvolvimento econômico. São países chamados de economia em transição e que caracterizam-se pela transformação da sociedade, em que o papel do Estado fica menos importante que o papel do setor privado. O aumento do fornecimento de produtos primários devido ao apetite crescente da população urbana para o leite, carne e ovos, leva ao crescimento econômico, que muitas vezes por ser pouco planejado, ocasiona danos ambientais, distúrbios da agricultura familiar e incertezas entre os produtores e consumidores. Esta situação chama pela necessidade de novas políticas de produção animal em termos de alimento saudável, boas práticas de produção animal e conservação ambiental. Algumas alternativas de produção tem aparecido, como por exemplo a agricultura orgânica, boi verde e o porco orgânico, porém todas necessitam melhor compreensão do que efetivamente representam, sem o viés apenas comercial, que alicerçado no nome promocional, objetiva melhorar apenas a comercialização. O patamar tecnológico existente hoje, representa o avanços tecnológicos alcançado principalmente nos últimos 30 anos e se algumas tecnologias forem banidas, é preciso ter em mente o custo econômico advindo de tal direcionamento. Portanto, esse trabalho visa mostrar, na opinião do autor, as implicações gerais do uso de microingredientes de alimentação a serem observados em função do conhecimento existente, do ambiente, da qualidade de vida dos produtores e consumidores, da qualidade da carne produzida e da rentabilidade do setor suíno. Com isso em mente, esse trabalho enfocará a questão dos microingredientes de formulação na alimentação de suínos, fazendo a opção por uma produção animal tecnologicamente correta, segura, sustentável e economicamente viável. 1 Palestra apresentada no Congresso Mercosur de Producción Porcina. Buenos Aires. 22 a 25/10/ 2000. 2 Med. Vet., PhD em Nutrição Animal. Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Concórdia SC - Brasil [email protected] .

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O USO DE MICROINGREDIENTES (ADITIVOS) NAFORMULAÇÃO DE DIETAS PARA SUÍNOS E

SUAS IMPLICAÇÕES NA PRODUÇÃO E NA SEGURANÇA ALIMENTAR1

Claudio Bellaver 2

1. Introdução

Os países em desenvolvimento vem apresentando um aumento daprodução de produtos de origem animal para satisfazer o mercado interno etambém visando aumento de exportações. Esses países, devido a pressãoglobalizante da economia, devem apresentar melhorias constantes nosíndices produtivos, sob pena, em caso contrário, de situarem-se numpatamar inferior de desenvolvimento econômico. São países chamados deeconomia em transição e que caracterizam-se pela transformação dasociedade, em que o papel do Estado fica menos importante que o papel dosetor privado. O aumento do fornecimento de produtos primários devido aoapetite crescente da população urbana para o leite, carne e ovos, leva aocrescimento econômico, que muitas vezes por ser pouco planejado,ocasiona danos ambientais, distúrbios da agricultura familiar e incertezasentre os produtores e consumidores. Esta situação chama pela necessidadede novas políticas de produção animal em termos de alimento saudável,boas práticas de produção animal e conservação ambiental. Algumasalternativas de produção tem aparecido, como por exemplo a agriculturaorgânica, boi verde e o porco orgânico, porém todas necessitam melhorcompreensão do que efetivamente representam, sem o viés apenascomercial, que alicerçado no nome promocional, objetiva melhorar apenas acomercialização. O patamar tecnológico existente hoje, representa oavanços tecnológicos alcançado principalmente nos últimos 30 anos e sealgumas tecnologias forem banidas, é preciso ter em mente o custoeconômico advindo de tal direcionamento. Portanto, esse trabalho visamostrar, na opinião do autor, as implicações gerais do uso demicroingredientes de alimentação a serem observados em função doconhecimento existente, do ambiente, da qualidade de vida dos produtores econsumidores, da qualidade da carne produzida e da rentabilidade do setorsuíno. Com isso em mente, esse trabalho enfocará a questão dosmicroingredientes de formulação na alimentação de suínos, fazendo a opçãopor uma produção animal tecnologicamente correta, segura, sustentável eeconomicamente viável.

1 Palestra apresentada no Congresso Mercosur de Producción Porcina. Buenos Aires. 22 a 25/10/ 2000.2 Med. Vet., PhD em Nutrição Animal. Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Concórdia SC - [email protected] .

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O conceito de sustentabilidade implica na aplicação de tecnologias eem manter o desenvolvimento econômico para as futuras gerações. Odesenvolvimento atual das nações desenvolvidas e daquelas que almejamsituar-se melhor no cenário econômico mundial, depende do crescimentoeconômico, o qual somente é alcançado com crescimento da produtividade ecom base nas inovações tecnológicas. Entretanto, a concepção dedesenvolvimento apenas como crescimento econômico começa a dar sinaisde insustentabilidade trazendo conseqüências prejudiciais do ponto de vistasocial e ambiental. Nas regiões onde predominam as pequenaspropriedades rurais, há um conflito entre a necessidade do aumento daescala de produção para atender as exigências da globalização da economiae a produção de alimentos agroecológicos que atendam a segurançaalimentar e preservem o ambiente. Tem se verificado uma tendência deaumento da escala de produção fazendo com que haja diminuição donúmero de propriedades rurais e de especialização por tipo de atividade.Isso fica bem evidenciado na produção de suínos de Santa Catarina.

Em todas as visões de desenvolvimento sustentável há anseios por umdesenvolvimento que concilie crescimento econômico e conservação dosrecursos naturais. Para alguns, o crescimento econômico se dará a partir damudança de paradigma tecnológico. Para outros, a mudança da concepçãopuramente econômica com regras de mercado, depende de aplicar àsregras, mecanismos de controle, como por exemplo a taxação da poluiçãoou selos de garantia de qualidade. Por exemplo, na Europa existem cotas deprodução definidas pelos níveis de N e P eliminados da produção. Portanto,a concepção moderna é de um desenvolvimento sustentável comdiversidade democrática em oposição a concepção puramente econômica.

2. Legislação sobre o uso de aditivos

Algumas publicações para consulta das normas de uso de aditivosestão disponíveis nos EUA, através do FDA (Code of Federal Regulations,Title 21) e Feed Additive Compendium e, no Canada, pelo "The compendiumof medicating ingredient brochures", todos referenciados no NRC (1998). OBrasil define as normas de inspeção e fiscalização de produtos destinados àalimentação animal através da lei 6.198 de 26-12-74 e seu subsequentedecreto 76.986 de 06-01-76. Afora isso, duas portarias ministeriaisregulamentam a questão dos antimicrobianos, que são: a portaria 193, de12-5-98, que trata da vedação ao uso de cloranfenicol, tetraciclinas esulfonamidas sistêmicas (em substituição a portaria 159 que incluía tambémpenicilinas) e a portaria 448, de 10-9-98, que proíbe a o uso, fabricação eimportação de cloranfenicol, furazolidona e nitrofurazona como aditivos emrações animais. Em adição existe o oficio circular 19/98 de 16/11/98 doMAA que suspende o uso de Avoparcina.

Segundo o Compêndio... (1998), um documento com o titulo de “MarcoRegulatório para Productos Destinados a la Alimentación Animal delMercosur”, foi iniciado, porém não concluído e que objetivava aharmonização de normas e procedimentos para produção e comercialização

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de produtos da alimentação animal no âmbito do Mercosul dandocompetitividade global ao bloco econômico.

3. Subsídios à produção agrícola

Os países desenvolvidos têm adotado uma política de proteção aosseus produtores rurais através de subsídios à produção. O Congresso e oSenado dos EUA, aprovaram para o ano fiscal de 99-00 uma ajudafinanceira aos produtores de 9 bilhões3. Por sua vez, na União Européia háevidências de que os subsídios agrícolas serão aumentados. No período2000/2006, o gasto global com a Política Agrícola Comum (PAC) será deUS$ 313,7 bilhões, ou seja, US$ 44,7 bilhões/ano4.

Se por um lado os países desenvolvidos se protegem com subsídios,por outro lado os mesmos países procuram se esquivar da proteção dosdemais, com artifícios que lhes protejam das proteções dos outros países. Éo caso dos EUA que em Julho do ano passado, impuseram taxa de 100%autorizada pela Organização Mundial do Comércio (OMC/WTO) sobre asimportações de vários produtos agrícolas da União Européia, em retaliação àproibição, pela União Européia, da carne tratada com hormônios.Autoridades dos Estados Unidos afirmaram que as sanções, no valor deUS$ 116,8 milhões, atingem produtos da França, Itália e Dinamarca, já queesses foram os países mais influentes na manutenção da proibição da carnecom hormônios por um período de dez anos (Gazeta Mercantil - 13/09/99).No Mercosul, vários incidentes tem sido registrados pela mídia nasfronteiras, principalmente com o frango, não cabendo aqui uma discussãopormenorizada.

4. Barreiras comerciais entre países

A proibição das importações européias de carne de países externos aUnião Européia (EU) tem como base os motivos técnicos, mas que no fundo,servem também de proteção àqueles mercados. Por exemplo, a ComissãoCanadense de Certificação de Produção Animal Orgânica (COCC, 1997)estabeleceu que entre outros aspectos, é proibido a alimentação dosanimais com o uso intencional de esterco e promotores de crescimentocomo antibióticos, hormônios, uréia e elementos traço utilizados paraestimular o crescimento dos animais. Na bovinocultura leiteira é tambémproibida a utilização de hormônios para aumento da produção de leite.Alguns países europeus suspenderam a compra de lotes de carnes tratadascom promotores, apesar de especialistas assegurarem que essassubstâncias não representam risco à saúde humana.

A visita ao Brasil, de avaliação da missão veterinária da ComissãoEuropéia (CE), realizada em Março de 1999 (Commission Européenne,1999), teve como objetivo detalhar as ações tomadas pelas autoridades 3 Gazeta Mercantil - 01/10/99;4 Gazeta Mercantil Latino-Americana - 23/08/99

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brasileiras para atender as diretivas 96/22 e 23 e 98/140 do conselho da CE,que pedem o controle de resíduos nos animais vivos e nos produtosdestinados a exportação para a CE. Os participantes da missão foram trêsespecialistas da CE acompanhados de uma autoridade brasileiracompetente. Foram visitados a Secretaria de Defesa Agropecuária emBrasília e nos Estados de SC e RGS, LARAs, LADETEC da UFRJ,abatedouros de bovinos, aves, Laboratório Oficial do RS e distribuidores demedicamentos veterinários.

O relatório concluiu que do ponto de vista de organizaçãoadministrativa o controle de resíduos é satisfatório. Entretanto, o plano decontrole de resíduos apresenta deficiências nas informações gerais, nafreqüência da amostragem, assim como nas substâncias pesquisadas. Oscritérios se baseiam em amostragens ao acaso, ao invés de serem tambémpor objetivo específico e não há um plano anual de amostragens. Segundo acomissão, as aves e os suínos vivos não são amostrados para resíduos. Arede de laboratórios públicos não é globalmente suficiente, mas hápossibilidade de ser otimizada. Nas deficiências foi constatado o controle dadistribuição de medicamentos veterinários, o qual aumenta o risco dapresença de resíduos nos alimentos.

As recomendações feitas pela comissão, pedem para: a) corrigir asdeficiências constatadas conforme a diretiva 290 96/23/CE; b) estender aamostragem de animais vivos aos suínos e aves a amostrar para busca deresíduos por critérios dirigidos a objetivos específicos e não ao acaso; c)melhorar a rede de laboratórios públicos em especial a formação de pessoalaumentando a relação com o meio científico externo e assegurando amelhoria da qualidade; d) desenhar um laboratório nacional de referênciacapaz de analisar com novos métodos analíticos, testando os resíduos inter-laboratorialmente para assegurar a qualidade dos testes e melhorar ocontrole de distribuição dos medicamentos. Além disso, a comissão pede àCE para verificar a correção das deficiências mencionadas nesse relatório econsiderar a ajuda dos países dos Estados membros da EU para formaçãode pessoal nos laboratórios de referência e comunitários do Brasil.

5. Certificação de qualidade dos produtos

As teorias de qualidade total implicam em fornecer produtos parasatisfazer às necessidades dos clientes, os quais ditam as especificaçõesque desejam. Tem-se notado recentemente que as informações sobre osalimentos são elemento chave para as organizações européias deconsumidores, as quais acreditam fortemente no direito do consumidor fazerescolhas com base em informações claras e corretas. A comissão européiade consumidores (Consumers Committee, 1997) entende que seja emitidoum certificado (selo) especial para cada categoria de alimentos contendoaditivos, precauções e efeitos negativos. Os consumidores europeus queremque os selos funcionais dos alimentos derivem das diretivas da CE e que aterminologia usada não leve a má informação com relação aos alimentos, ànutrição e relações de dieta com saúde. A informação nutricional contida

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nos selos deve ser obrigatória. Para que a informação dos selos sejaconsiderada verdadeira, os produtores de alimentos devem garantir asegregação desde a origem dos produtos primários até o consumidor,principalmente no caso de plantas geneticamente modificadas. Os selos dequalidade são importantes, porém não suficientes para os consumidoresfazerem uma boa escolha. Conhecimento e informações são parteimportante do mercado e os consumidores precisam ser educados com ainformação corrente sobre as relações da saúde com o consumo dealimentos, das alternativas de produção e dos efeitos na saúde e noambiente.

O comitê de consumidores europeus enfatiza sua intenção deeliminação do uso de antibióticos como promotores de crescimento comvistas a eliminar a resistência de bactérias aos antibióticos que, segundo oseu entendimento, seria um problema à saúde humana. Com respeito acrítica contida no relatório da WTO sobre restrição da importação pelaEuropa para carne tratada com hormônio, o comitê questiona a WTO sobrea impropriedade de que uma lei internacional diminua a segurança doconsumidor europeu e que a segurança deveria prevalecer em nívelinternacional. Ainda mais, o comitê questiona os padrões do CodexAlimentarius, sugerindo que os padrões da CE deveriam ser seguidos ecolocados no Codex, pois são mais rigorosos e tem por finalidade a maiorproteção dos consumidores.

A produção de carnes e ovos certificada pelas normas européiasimpõem condições unilaterias que podem inviabilizar a produção do ponto devista econômico, o qual precisa ser considerado. Por outro, a produçãoanimal deve ser exercida com o uso responsável dos microingredientes paraque as práticas correntes de produção animal sejam voltadas à melhoria daqualidade dos produtos atendendo a todos os mercados indiscrimina-damente. Essa prática salvaguarda a credibilidade junto aos consumidoresdomésticos e estrangeiros sobre a produção e transformação de produtos deorigem animal. Produtos verdadeiramente ditos orgânicos, tem em geral seupreço aumentado e, se certificado, deixa ao consumidor a opção de escolha.

6. Crescimento animal e resistência bacteriana

Microingredientes a base de sulfas e outros antibióticos têm sidoamplamente usados na produção suína para melhorias do crescimento e daeficiência alimentar. As vantagens percentuais de ganho médio de peso sãomaiores nas fases iniciais (> 21% ), diminuindo após na fase de crescimento(>10 % ). A eficiência alimentar também é aumentada em mais do que 5 %em qualquer fase (Rea, 1993). Devido a alta incidência de violações ao usodessas drogas as recomendações são para que sejam respeitados osperíodos de retirada da droga das rações, bem como, sejam tomados oscuidados com o controle dos pontos críticos. Uma perspectiva veterinária douso de antimicrobianos é dada no editorial do British Medical Journal(McKellar, 1998) que enfatiza o risco de resistência cruzada, embora essanão tenha sido quantificada. Salienta o editorial a importância do uso dos

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antimicrobianos que, se não usados, teriam efeito muito prejudicial naindústria animal e sugere que, somente os antimicrobianos não usados emmedicina devem ser usados em promoção do crescimento. Pedersen (1999),em sua carta ao mesmo jornal científico, salienta a resistência cruzada datilosina e espiramicina à eritromicina; da virginiamicina à estreptogramina eda avilamicina à everninomicina, antibióticos de uso humano. O assunto écontrovertido e Aarestrup et al. (1996) mostram que há resistência cruzadada vancomicina e avoparcina em isolados de Enterococcus de humanos eanimais. Woodford et al. (1998), pesquisando o cluster VanA deEnterococcus resistentes de humanos e produtos animais concluíram que hádiversidade na seqüência protéica de genes responsáveis pela resistência.

Como visto acima, existe uma preocupação crescente sobre o fato deque a alimentação com antimicrobianos em dietas de animais contribui paraa formação de um estoque de bactérias entéricas resistentes à drogas, quesão capazes de transferir a resistência para bactérias patogênicas,causando risco à saúde publica. A maior preocupação é com respeito apenicilina e tetraciclinas porque esses são usados em humanos. Em 1987,foi desenvolvido um estudo do FDA e instituto de Medicina da NAS paraavaliar o risco do uso de penicilina e tetraciclinas usadas em dosessubterapêuticas nas rações animais. O comitê não conseguiu alcançarevidências de perigo à saúde humana associado ao uso desses antibióticosnos alimentos animais. Embora a resistência a antibióticos em humanos sejaalta, não há evidências que o comportamento tenha mudado e que haja umclaro efeito desfavorável na saúde humana que possa ser relacionado aouso subterapêutico de antibióticos aos animais. Entretanto,independentemente disso, a comunidade européia encontra-se numa fasede banir o uso de antibióticos em dietas para animais.

A questão no momento concentra-se em quais os antibióticos queserão banidos e o efeito da restrição ao uso sobre a produtividade. NaSuécia em 1986, Dinamarca e Suíça em 98/99 e em outros países deverãoengrossar os não usuários de antibióticos em rações. Há uma parcela deinteresse comercial, evidenciada pela propaganda comercial desenvolvidapela Dinamarca que anuncia seus produtos suínos produzidos dentro damais absoluta higiene e num ambiente amigável aos suínos. A Dinamarcapretende ampliar sua parcela no mercado mundial (40%) baseada numacampanha de criação de animais em ambiente amigável. Além disso, a faltade interesse pelas questões de segurança alimentar (Salmonela), bem estaranimal e sem uso de antibióticos nos demais países, favorece o mercado daDinamarca. Essas tendências de produção suína têm implicaçõescomerciais severas, principalmente para a região Sul do Brasil que pretendeatingir o mercado externo com carne suína e de aves. Há, portanto, anecessidade obrigatória de serem observadas as normas em nívelinstitucional público e privado, devido às tendências modernas de produçãoanimal.

A resistência para os anticoccidianos foi bem discutida por Chapman(1998), no que se refere aos mecanismos de resistência. As drogas podemapresentar resistência rápida (quinolonas) ou lenta (sulfonamidas, ionóforose amprolium). O problema tem sido resolvido com a alternância de drogas

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similares na produção avícola. Esses produtos podem trazer resíduos e sãorequeridos períodos específicos de retiradas antes do abate com vistas adiminuir para a concentração aceitável.

Para Khachatourians (1998), o crescimento da resistência a antibióticosse dá pelo uso inapropriado de antibióticos em medicina humana e, também,por algumas práticas usadas na agricultura. O autor enfoca os mecanismosgenéticos da resistência às drogas e chama pela necessidade de vigilância euso prudente de antibióticos por médicos e por veterinários como forma decorrigir as distorções.

7. Regulamentação do uso de aditivos

É indispensável que as indicações técnicas de microingredientes deformulação sejam rigorosamente seguidas por todos aqueles quedeterminam o uso dos promotores de crescimento nas rações ou quetrabalhem na venda direta dos antibióticos e promotores. Entretanto, issonão é suficiente sendo necessário que se instale um programa efetivo decontrole de resíduos, nos moldes do que é feito no exterior.

No Brasil, segundo Porfírio (1998), são seguidas as normas própriasdo Ministério da Agricultura e do Codex Alimentarius da FAO/OMS paraseus programas de controle de resíduos em alimentos. Os pontos básicosapontados para o estabelecimento de um programa nacional de controle deresíduos são mostrados pelo autor com base no Codex. No Brasil oprograma de inspeção de resíduos apresenta deficiências no que concernea amostragem conforme os dados levantados pelo autor para análisesconduzidas no ano de 1997 e contrastadas com a indicação de monitoria deresíduos do USDA (1998).

O programa nacional de resíduos, conduzido pelo Serviço de Inspeçãode Segurança Alimentar do USDA (1998) tem por base um sistemacomposto por duas formas de testagem que são: a) o monitoramento e b) atestagem dirigida. O monitoramento envolve a amostragem de população deuma espécie ou categoria animal no período de um ano em base nacional. Aamostragem se dá ao acaso em carcaças que passaram como sadias nainspeção na linha de abate. Para cada classe de abate é feita uma amostracomposta de duplicata, sendo que um número de 300 amostras são colhidaspara detectar pelo menos uma amostra com níveis acima dos indicados,quando 1% da população está violando os limites estabelecidos. Osnúmeros de coletas necessárias é indicado na publicação do USDA (1998).Em 1996 foram executadas 31.748 análises de caráter monitoramento emtodas as espécies de produção animal dos EUA. O outro sistema é o detestes obrigatórios que consistem na análise de amostras individuais ou lotescom história prévia de violações no rebanho, ou com sinais clínicos, ou pordecisão regional, ou ainda por observações pessoais. Nesse sistema foramrealizadas 235.495 amostras no ano de 1996 para todas as espécies nosabatedouros americanos. Os níveis de violação encontrados no programa demonitoramento de resíduos são considerados baixos. Foram encontradas 51amostras fora dos limites, das quais 17 eram relativas a sulfonamidas e 14 a

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antibióticos. O programa de controle obrigatório dirigido de resíduos produziu2485 amostras com violações para antibióticos.

Não fica garantido que a proibição elimina o uso, uma vez que hádeficiência na fiscalização de venda e de uso dos antibióticos e promotoresde crescimento e também dificuldades pela estrutura oficial insuficiente paraaplicação de técnicas laboratoriais no país, conforme descrito no relatório devisita da equipe veterinária da Europa no Brasil (Commission Europpenne,1999).

Também nos EUA a pressão pela eliminação de aditivos nas raçõesanimais é grande. Em Março de 1999 foi enviada uma carta ao Dr. Henney,da direção do FDA, assinada por dezenas de médicos professores deHospitais Americanos e também por dezenas de associações, pedindo amudança na ação do FDA com vistas a proteger a efetividade dosantibióticos, limitando o uso de níveis subterapêuticos na agricultura (Carta,1999). Os peticionários citam que a OMS recomenda que qualquerantimicrobiano usado para promoção do crescimento dos animais deve serbanido se: a) for usado na terapêutica humana, ou b) conhecer-se que háresistência cruzada com antibióticos usados em medicina humana.

8. Definições sobre os aditivos (microingredientes) na alimentação animal

O Compendio ...(1998) tendo como base o trabalho de Rosen (1996),procura melhor descrever os microingredientes existentes para a fabricaçãode rações em categorias e grupos. Como visto nessas publicações o termoaditivo, muitas vezes vem associado a conotação de insegurança alimentare falta de clara definição de categorias de aditivos que podem serrenomeados como microingredientes de fabricação de rações. Numa formulacomercial existem dois grupos de ingredientes, a) os macroingredientes,representados pelos cereais, ingredientes protéicos, subprodutos daindustria, gorduras, fontes de oligo-minerais, pré-misturas vitamínicas e demicrolelementos e b) os microingredientes, onde se incluem os aditivos, osquais podem ser descritos em categorias como as propostas por Rosen(1996) e descritas na Tabela 1, correspondentes ao que é regulado na EU.O termo micro (10-6) é compatível com o que em geral é usado naformulação (mg/kg ou ppm). Outra proposta muito bem fundamentada é alevantada por Adams (1999), que classifica os alimentos em dois gruposprincipais, que são: a) nutrientes e b) nutracêuticos. Os nutrientesdispensam maiores esclarecimentos e compõem-se de carbohidratos,gorduras, proteínas, minerais, vitaminas e água. Os nutracêuticos sãocomponentes de alimentos, os quais exercem um efeito benéfico sobre asaúde, em vez de contribuição direta na nutrição. Os nutracêuticosimportantes são antioxidantes, antimicrobianos, peptidios, enzimas,oligosacarídios, emulsificantes, flavorizantes e colorantes. Os componentesdietéticos tem um claro e grande efeito sobre o sistema imunológico (SI)animal. Uma nutrição desequilibrada, pobre, contaminada reduz a proteçãooferecida pelo SI contra os efeitos ambientais. Excessiva estimulação do SI,

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leva a uma redução da taxa de crescimento dos animais. O desafio danutrição moderna é desenvolver dietas que mantenham o SI eficiente e quenão seja ativado desnecessariamente e que não perca a propriedade detolerância imunológica. Nessa nutrição há interesse em identificar edesenvolver agentes anti-estresse que possam proteger o organismo animalcontra doenças e mantê-lo em bem estar.

8.1. Nutrientes

Há vários nutrientes (e.g. vitaminas A, C, D, E elementos traço, sorbitol,celuloses, sais de ácidos orgânicos), cuja nomenclatura é muito clara sobresuas funções de nutrientes e outras adicionais definidas no grupo a quepertencem. Vitaminas, próvitaminas, substancias quimicamente definidas eaminoácidos sintéticos também usados em pequenas quantidades tem suasfunções bem definidas do ponto de vista de categoria de nutrientes.

8.2. Pró-nutrientes

São definidos como um microingrediente de uso em rações animais,que usados em pequena quantidade melhora o valor intrínseco da misturade nutrientes da dieta. Essas substancias trabalham em beneficio dosnutrientes. O termo está em acordo com a terminologia aceita e existente deantinutrientes, os quais pioram o performance animal. Portanto, os pró-nutrientes, melhoram o performance animal. Como um adjetivo, “pró-nutriente” serve para especificar uma função e natureza conjunta, como porexemplo, um pró-nutriente enzimático ou pró-nutriente antibiótico.

8.3. Coadjuvantes de elaboração

São substâncias ou preparações contendo substancias que tenhamefeito demonstrável nas características dos alimentos. São conhecidostambém com microingredientes tecnológicos e melhoram as propriedades dearmazenamento, organolépticas e mistura dos alimentos. Os coadjuvantesde elaboração permitirem o uso de mecânica, umidade temperatura eenergia no condicionamento do processo de fabricação de rações. Entre osexemplos estão os aromas, aglutinantes para pellets, antioxidantes,preservativos, emulsificantes e secantes para fluidez de misturas.

8.4. Profiláticos

Nessa categoria consta penas os anticoccidicos e antihistomonas, osquais também podem ser incluídos nas rações medicadas com o propósitode tratamento terapêutico.

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Rosen (1996), Compêndio...(1998), Lima (1999) e Adams (1999), sãoalgumas das fontes consultadas e que definem os grupos formados dentrodas respectivas categorias da seguinte maneira:

• Antibióticos

Os antibióticos são compostos produzidos por bactérias e fungos queinibem o crescimento de outros microorganismos. Quimioterápicos sãoprodutos quimicamente sintetizados para inibir o crescimento de certosmicroorganismos. Esses produtos dentro de uma classificação maior deantibicrobianos, podem ser antibacterianos, antiprotozoários e anticocídicos,inibindo ou tendo ação letal em bactérias, protozoários e coccídia,respectivamente. A origem do conhecimento do efeito dos antibacterianossobre o performance data de 1940, quando do uso de resíduos defermentação para produção de tetraciclinas, foi usado em aves parasuplementar vitamina B12. Logo verificou-se que o efeito não era davitamina mas ao resíduo de tetraciclina existente no alimento.(Stokestad andJukes, 1949 e 1950, citados por Commission...1997).

Eles podem ser utilizados sozinhos ou em conjunto comquimioterápicos para promover o crescimento e/ou a eficiência alimentar ouprevenir/controlar as doenças que afetam os suínos. Em geral, aceita-se quea ação benéfica desses compostos resulta da alteração seletiva dapopulação microbiana no intestino animal. Embora não se conheçaexatamente os mecanismos de ação desses compostos, existem sugestõesde como eles atuam:

Efeito metabólico. Esse efeito metabólico implica que o agenteantibacteriano melhora o desempenho dos animais através de efeito diretosobre o metabolismo do animal. Esse modo de ação parece não serapropriado para aqueles agentes antibacterianos que não são absorvidos eque permanecem na luz do trato intestinal, a não ser que a ação ocorrasobre as células do epitélio intestinal afetando a absorção de nutrientes.

Efeito nutricional. Certas bactérias que habitam o intestino sintetizamvitaminas e aminoácidos essenciais para o hospedeiro, enquanto outrascompetem com os animais por nutrientes. Alterações na populaçãomicrobiana intestinal podem promover maior disponibilidade de nutrientespara o hospedeiro. Por outro lado, tem sido observado que agentesantimicrobianos podem reduzir a espessura do epitélio intestinal favorecendoa absorção de nutrientes. Em adição, a massa intestinal de animaisalimentados com dietas com agentes antimicrobianos pode ser reduzida oque implica na necessidade de menor quantidade de nutrientes e de energiapara manutenção desses tecidos corporais.

Efeito sobre o controle de doenças. Agentes antibacterianos inibemo crescimento de bactérias intestinais que se aderem e produzem toxinasjunto ao enterócito, causando diarréias, doenças do edema e subclínicas. Aestimulação crônica do sistema imunológico para responder a doençaspodem promover redução no consumo de ração e demandam nutrientes quepoderiam ser direcionados para síntese de proteína. O controle dessas

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doenças subclínicas permite que os animais expressem ao máximo o seupotencial genético para crescimento e deposição de carne.

Há uma grande combinação de antibióticos e quimioterápicosaprovados pelo Food and Drug Administration (FDA) dos EUA e estãodisponiveis para uso em dietas de suínos conforme indicado no FeedAdditive Compendium5 o qual é publicado anualmente. É deresponsabilidade do FDA determinar se o produto é seguro, efetivo,propriamente identificado e se os produtos derivados de animais tratados éseguro para consumo.

A resposta e o nível de uso de um aditivo especifico depende de algunsfatores, como: a) estágio de crescimento, sendo menor a medida que oanimal cresce; b) prevalência de doenças dentro do rebanho; c) tipo deaditivo e d) do ambiente em que se encontra o rebanho, apresentandomenores efeitos quando o ambiente for bom.

Uma perspectiva americana é dada no trabalho de Cromwell (1999) emostrado na Tabela 2. Por outro lado, com inicio na Suécia em 1986 edepois expandindo o conceito pela EU, o assunto sobre aditivos tem sidobastante discutido e polêmico. Em 1997 a comissão de aditivosantimicrobianos para rações reuniu em seu relatório (Commission,...1997),as normas de uso de aditivos. Na Tabela 3 são mostrados quais os aditivosantimicrobianos são permitidos pelo conselho diretivo 70/524/EEC.

• Antioxidantes

São substâncias que visam evitar a auto-oxidação dos alimentos,preservando o alimento, retardando a sua deterioração, rancificação e perdade coloração devido a oxidação. A oxidação de óleos e gorduras provocaodor e paladar desagradáveis e torna os alimentos menos nutritivos. Alémde gorduras, os pigmentos e vitaminas ficam sujeitos a oxidação quando emcontato com o ar.

Os fatores umidade e calor são responsáveis pela aceleração daoxidação durante o processamento, o qual pode ser minimizado pela adiçãode antioxidantes. Segundo Rutz e Lima (1994), a ação dos antioxidantespode ser explicada por um ou mais dos seguintes mecanismos:

− Doação de H pelo antioxidante;− Doação de elétron pelo antioxidante;− Incorporação do lipídeo ao antioxidante;− Formação de um complexo entre o lipídeo e o antioxidante.

Os dois primeiros mecanismos (doação de H e elétrons) são osprincipais mecanismos de ação dos antioxidantes. É importante salientar quealguns compostos (ácido cítrico, ácido tartárico e ácido fosfórico)apresentam efeito sinérgico com antioxidantes, prevenindo a oxidação deóleos e gorduras. Portanto, é possível fazer uma mistura de antioxidantes ecompostos sinérgicos a fim de reduzir oxidação. Especificamente a formaçãode radicais livres, geralmente catalisada por íons metálicos, não pode ser

5 Miller Publishing Co, 12400 Whitewater Drive, Minnetonka, MN 55343

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evitada pelos antioxidantes, mas a incorporação de um agente quelante dácondições para tal, pois esse se complexa com os íons metálicos.

Antioxidantes devem ser adicionados aos alimentos e às rações o maisrápido possível para inibir o início da oxidação. Estes microingredientes nãopodem reverter o processo de oxidação, uma vez ocorrido. Entretanto, osantioxidantes podem retardar o processo oxidativo de maioresconseqüências.

A doação de H é um possível mecanismo de ação que os antioxidantesutilizam. Esta ação é exercida por antioxidantes naturais e artificiais. Avitamina E e o ácido ascórbico são exemplos de antioxidantes naturais,enquanto que BHT, BHA e Etoxiquim são exemplos de antioxidantessintéticos.

O butil-hidroxi-tolueno (BHT), etoxiquin e o butil-hidroxi-anisol (BHA)são utilizados na concentração de 100 a 150 g/t com a finalidade deantioxidante, podendo associarem-se e mostrarem sinergismo ao acidocítrico.

• Aromatizantes/palatabilizantes

O aroma é em muitos casos indicador de qualidade do alimento, sendosensorialmente possível detectar o aroma de alimentos naturais frescos, ouquando mofados, rancificados ou em putrefação. Os aromatizantes artificiaisou naturais, conferem o aroma ao produto destinado à alimentação,melhorando sua aceitação e, consequentemente, estimulando o seuconsumo pelo animal. Provocam as atividades de secreção das glândulas,favorecendo o aproveitamento do alimento pelo organismo. Já opalatabilizante, tem a função de melhorar o paladar dos produtos,estimulando o seu consumo. Alguns produtos podem ter ambas as funções(aromatizante e palatabilizante). São vários aromatizantes existentes nomercado e é necessário avaliar as indicações de uso fornecidas pelofabricante.

• Anticoccidianos

São produtos que adicionados aos alimentos tem a finalidade deprevenir a coccidiose, podendo ser ionóforos, químicos e associações. Osionóforos provocam o desequilíbrio osmótico das eimérias, com maior perdade energia na bomba de Na-K, ocorrendo sua vacuolização. Atuamgeralmente na fase inicial de vida das eimérias podendo ser coccidiostáticose/ou coccidicidas. Os produtos químicos atuam em diferentes pontos dometabolismo das eimérias em distintas fases do ciclo de vida das eimériaspodendo ser coccidiostáticos e/ou coccidicidas. Entre os produtos usados nocontrole da coccidiose estão: lasalocida, maduramicina, monensina,nicarbazina, narasina, salinomicina, semduramicina, diclazuril, robenidina,amprolium e etopabato. Todos esses produtos devem ser consultadosquanto a indicação de uso, sinergismos, antagonismos e precauções ecuidados quando do uso.

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• Emulsificadores, estabilizadores, espessantes e gelatinizante

Emulsificadores são muito usados na alimentação humana para manterfases distintas em sistemas coloidais. Muitos alimentos são variáveis doponto de vista de homogeneidade de mistura e portanto são necessáriasmoléculas que permitam a facilidade e estabilização de misturas e tambémsão importantes na digestão e absorção de nutrientes. Alguns exemplos deemulsificantes são os oligosacaridios, celulose, gomas, pectinas, caseína,gelatina esteres de ácidos graxos, mono e di-gliceridios e lecitina.

• Corantes e Pigmentantes

São substâncias que conferem ou intensificam a cor dos produtosdestinados à alimentação animal. Podem ser naturais, artificiais einorgânicos. Os pigmentos carotenóides, antocianina e polifenóis das frutase vegetais são moléculas importantes e que também em alguns casos tematividade antioxidante também. Os corantes e pigmentantes são poucoutilizados no preparo de rações para suínos. Os corantes naturais são oaçafrão, acido carmínico, carmim, índigo, páprika, urucum, caramelo.Existem corantes artificiais e minerais corantes, os quais não tem maiorinteresse em rações para suínos.

• Conservantes e(ou) Antifúngicos

Conservantes são substâncias que inibem ou controlam o crescimentobacteriano em produtos destinados a alimentação. Os antifúngicos previnemou eliminam a presença de fungos em matérias primas e rações destinadasa alimentação animal, evitando o aparecimento de micotoxinas, assim comoperdas de valor nutritivo. Alguns antifúngicos são o acido propiônico e seussais, formaldeído, diacetato de sódio, acido sórbico e violeta de genciana.Há que se verificar a legislação sobre o uso de alguns desses produtos naração.

• Vitaminas, Pró-vitaminas e Microminerais

Nesses grupos a função exercida pelos minerais ou vitaminas temefeito puramente nutricional, sendo incluídos como microingredientes deformulação dentro de prémisturas de vitaminas e minerais. Porém, algumasvitaminas podem ser classificadas noutros grupos como por exemplo asvitaminas E e C como antioxidantes.

O cromo tem sido usado como modificador da deposição de gordura nacarcaça (200 ppb). Mooney e Cromwell (1995) e Boleman et al. (1995)alimentando suínos em crescimento e terminação com 200 ppb de Cr-picolinato relatam um aumento no ganho de tecidos musculares e umamenor deposição de gordura nas carcaças. Porém, Ward et al. (1995) eLima et al. (1999) , não observaram diferenças entre fontes e níveis decromo em relação as características de carcaça dos animais.

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O cobre é exigido em pequenas concentrações como nutriente (6 a 11ppm), mas como promotor de crescimento nas fases iniciais e decrescimento dos leitões é indicado na concentração de 125 ppm com, efeitospositivos na performance ( Bellaver et al. (1982). Já o zinco é exigido emtorno de 60 ppm como nutriente, porém tem sido usado em doses maiorescomo preventivo das diarréia pós desmame por um período de 15 dias nadose de 2400 ppm de Zn na ração (Mores et al. 1998).

• Promotores de crescimento

Nessa categoria agrupam-se compostos usados como micro-ingredientes na ração e que tem a propriedade de promover o crescimentoatuando por:

a- modificar diretamente o processo metabólico do hospedeiro;b- reduzir a disponibilidade de nutrientes que são metabolizados

durante a fase de crescimento de microrganismos prejudiciais aometabolismo ( síntese de vitaminas, microminerais, aminoácidos);

c- aumentar a capacidade de absorção de nutrientes do trato GI;d- funcionar como quelantes intracelulares de microminerais

essenciais para o metabolismo de microrganismos patogênicos;e- agir como antimicrobianos de largo espectro com pronunciada

ação contra bactérias, fungos e alguns protozoários.f- modificação do ecossistema microbiano ruminal para aumento da

produção e eficiência.São compostos sintéticos orgânicos, compostos químicos ou

elementos inorgânicos simples administrados em pequenas quantidadescom a finalidade de melhorar a taxa de crescimento e/ou a conversãoalimentar. No grupo dos promotores podem existir substâncias cujo o efeitoseja de pró-nutriente como antimicrobianos e quimioterápicos ou ainda derepartidores de energia como o hormônio de crescimento e os beta-agonistas, os quais tem atividade especifica no metabolismo da proteína eda gordura, todos descritos em outros grupos dentro dessa classificação.Alguns desses microingredientes promotores de crescimento e/ou deeficiência alimentar podem ser empregados em doses mais altas naprevenção de doenças e dessa forma, passam a ser consideradosterapêuticos.

• Aglutinantes

Os aglutinantes são substancias naturais ou artificiais que auxiliam eaumentam a capacidade de peletização dos ingredientes, melhorando aqualidade do pelete, aumentando a durabilidade e permitindo a adição deóleos e gorduras em produtos prensados. Lignosulfonato, proteína isolada econdensado uréia-formaldeido são alguns aglutinantes.

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• Adsorventes

Os adsorventes são substâncias que não são absorvidas no tratogastro-intestinal e tem a capacidade de ligar-se a micotoxinas de modo atransportá-las sem absorção para fora do TGI e, consequentementeimpedindo a intoxicação por micotoxinas. Os aluminosilicatos, bentonita emananoligosacaridios são considerados adsorventes.

• Acidificantes

Acidificantes são ácidos orgânicos ou inorgânicos adicionados à dieta,visando redução do pH do trato digestivo com objetivo de facilitar a digestãoe controlar a flora microbiana. A quantidade de acidificante a ser adicionadaà ração depende do seu pH e de sua capacidade tamponante.

Dos diversos ácidos orgânicos utilizados na alimentação de suínos oácido fumárico e o ácido cítrico são os mais utilizados, enquanto o ácidofosfórico é o ácido inorgânico mais comum. Existem várias citações demelhoria no ganho de peso e eficiência alimentar com suínos. O modo exatode ação dessas ácidos não é exatamente conhecido mas há consenso nosseguintes aspectos:

a. A acidificação da dieta pode reduzir o pH estomacal e aumentar aação da pepsina na digestão de peptídeos;

b. Com a redução do pH estomacal há redução na taxa deesvaziamento do estômago, aumentando a digestão de peptídeos;

c. Essa redução de pH no estômago pode reduzir a proliferação depatógenos;

d. Os ácidos orgânicos e inorgânicos podem aumentar aconservação dos ingredientes e rações. Os ácidos cítrico e fumárico sãoacidificantes que podem ser empregados nas rações pré-iniciais. Entretanto,o efeito do acidificante na dieta sobre o desempenho dos suínos, dependeda idade dos animais, da composição da dieta e da presença ou ausência deantimicrobianos. As quantidades de acidificantes empregadas dependem dacapacidade em reduzir o pH.

• Enzimas

As enzimas digestivas promovem a hidrólise dos componentes dosalimentos tornando os nutrientes mais disponíveis para a absorção.Contudo, em muitas circunstâncias as enzimas são produzidas pelos suínosem quantidades insuficientes ou mesmo nem são produzidas, dificultando adigestão dos alimentos. Assim, a utilização de enzimas exógenas nasrações pode se constituir em ferramenta eficiente para melhorar a eficiênciade utilização dos alimentos pelos animais.

Fitases – Tem sido largamente estudada em dietas de suinos e aves.Nos vegetais cerca de 2/3 do P encontra-se ligado aos fitatos e em geral,seria suficiente para atender as funções essenciais dos suínos, não fossesua baixa disponibilidade, variando de 15 a 50% dependendo do vegetal.

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Isso ocorre devido ao fósforo estar presente na forma de fitato, o qual épraticamente indigestível, sendo eliminado nas fezes. Assim, hánecessidade de se suplementar P através de fontes inorgânicas paraatender as exigências para máximo desempenho. Obviamente, se os suínossão alimentados com quantidades de fósforo acima do requerido, o excessoé eliminado através dos dejetos, agravando-se o problema de contaminaçãoambiental. A fitase usada na quantidade de 466 FTU/kg de dietaproporcionou uma redução nas excreções de N, P e Ca em dietas de suinos(Ludke et al. 2000). O efeito da fitase sobre a melhoria da digestibilidade damatéria seca, proteina e energia foi estudado recentemente por Ludke et al.(1999) e Fialho et al. (2000).

Por isso a adição de fitases exógenas às dietas servem paradisponibilizar o P orgânico presente nos vegetais. Fitases são enzimas quepossuem a propriedade de romper a ligação do fósforo orgânico ligado aossais de acido fítico, tornando-o disponível biologicamente nas formas deinositol e ortofosfato. Mede-se a atividade das fitases (FTU) pela quantidadede micromoles de P inorgânico liberado pelo fitato de sódio, em um minuto,na temperatura de 37 oC e em pH de 5,5 (1 FTU = 1 µmol P inorgânico).

β-Glucanase e endoxilanase - β-glucanas e pentosanas solúveis (xilose+ arabinose), são observadas em diversos cereais e possuem a capacidadede formar géis, em contato com a água, dando origem a soluções viscosasque retardam a absorção de nutrientes. É postulado que as pentosanasformam ligações complexas com a fração albúmen da proteína. Também ésugerido que as pentosanas aumentam o volume da dieta em função de suacapacidade de reter água no trato gastrointestinal provocando umadepressão no consumo de alimentos.

A β-Glucanase é uma enzima que atua sobre o polisacarídio β-glucanopresente no cereal, liberando maior quantidade de açucares disponiveis.Uma unidade de β-Glucanase (BGU) é definida como a quantidade deenzima que em solução de 0,5% de β-glucano a 40 oC e pH de 3,5, libera0,278 µmol de açucares redutores por minuto, medido como glicose.

A endoxilanase é uma enzima que atua sobre as pentosanas presentesnos cereais, degradando-as em açucares de maior disponibilidade aosanimais. Uma unidade de endoxilanase (EXU) é definida como a quantidadede enzima que uma solução de xilano a 1%, a 40 oC e pH de 3,5, libera 1µmol de açúcar redutor medido como xilose.

Pectinases, Amilases e Proteases - são enzimas que agindo sobrepectina, amidos e proteínas, presentes nos produtos destinados aalimentação animal liberam respectivamente os sacarídios, aminoácidos epeptidios para melhor absorção animal.

• Probióticos

Probióticos são misturas de bactérias e/ou leveduras vivas que sãofornecidas através das dietas com o objetivo de estabelecer uma microfloradesejada para competir com bactérias deletérias no intestino. Existem váriosprobióticos comerciais disponíveis para inclusão nas dietas de suínoscontendo microorganismos pertencentes aos gêneros Streptococcus,

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Lactobacillus, Bacillus e Saccharomyces. A ação desses microrganismosparece ser através de inibição competitiva, principalmente de E. coli, oualteração do pH intestinal, através da formação de lactato, favorecendo odesenvolvimento daqueles microrganismos que favorecem o hospedeiro,promovendo aumento de ganho de peso e melhora da eficiência alimentar.Embora o uso de probióticos venha acontecendo há décadas nasuinocultura, os resultados científicos são muito variáveis. Algumas dasrazões para o aparecimento ou não de efeitos positivos do uso dessesmicroingredientes podem ser: baixa viabilidade de certas culturas utilizadas,doses empregadas, diferenças entre cepas, interação dos microorganismoscom nutrientes e outros microingredientes presentes na dieta e falta decontinuidade nas pesquisas com um determinado probiótico. Esporos ecélulas vivas de Bacilllus toyoi e subtilis, Lactobacillus acidophilus,Saccharomyces cerevisae e Streptococcus faecium tem sido empregadosem concentrações indicadas por fabricantes, como próbioticos.

• Repartidores de energia

A classificação de Rosen (1996) não identifica o grupo dos repartidoresde energia, porém esses, são compostos sintéticos de análogos hormonais(Ractopamina, um beta-agonistas), ou o próprio hormônio recombinante docrescimento suíno (pST). Ambos podem ser considerados como repartidoresde energia porque modificam as taxas de deposição de gordura e proteínado corpo animal. A Ractopamina é um composto granulado que pode serusado na ração e o pST deve ser injetado em doses diária por um períodode 28 dias pré-abate. Esses produtos ainda não tem registro de uso noBrasil, porém há tramitação de documentos nesse sentido junto ao Ministériode Agricultura.

Com os beta agonistas, o conteúdo de proteína aumenta de 4 a 8%, aárea de olho de lombo aumenta de 9 a 15% e a gordura total da carcaça éreduzida de 10 a 17% (Mitchael, et al., 1994). Segundo Sthaly (1990) amagnitude da resposta é função da dose aplicada e do tipo de beta-agonistautilizado. Os padrões de deposição de tecido protéico e adiposo sãoalterados de forma seletiva, especificamente é alterada a deposição demúsculos na carcaça mas não a deposição de pele e ossos. Similarmente adeposição de tecidos adiposos subcutâneo, abdominal e intramuscular sãoreduzidos, o mesmo não ocorre com a deposição de gordura intramuscular.

O pST tem sido estudado quanto aos seus efeitos em suínosprincipalmente na duas ultimas décadas e um sumário de 20 experimentosfoi feito por Holden (1994), no qual os benefícios do pST foram de 15.2 %mais ganho de peso, 21.1% melhor eficiência alimentar, 24.8% menosgordura, 18.5% mais área de olho de lombo e 9.8 % mais músculo.

9. Necessidades imediatas

Embora existam possibilidades de melhorias nos sistemas produtivospelo manejo adequado dos fatores de risco que diminuem o performance

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produtivo, esse aspecto não é objetivo deste trabalho. Quanto às dietas parasuínos e aves, essas deverão ser ajustadas às exigências da sociedadepara o terceiro milênio. Poderá ocorrer algumas mudanças no enfoque dadoà promoção do crescimento animal, sem que haja prejuízo na produçãoanimal e com vantagens sobre os seres humanos. Os grupos de produtoscomo, por exemplo, probióticos, enzimas, minerais orgânicos, poderão fazerparte do elenco de microingredientes alternativos menos polêmicos e maisaceitáveis na Europa. As mudanças têm por base a possibilidade de que ouso de alguns antimicrobianos podem causar resistência de bactérias aantibióticos necessários na terapêutica humana, mesmo que isso seja aindaquestionável. Antecipar-se aos acontecimentos previsíveis possibilita ummelhor posicionamento frente ao mercado global. Por isso, entende-se quealguns passos deveriam ser seguidos no que concerne ao uso deantibióticos como microingrediente de rações e que, resumidamenteenumeramos:

9.1. Formação de um comitê de gestão em segurança alimentar deprodutos de origem animal, onde todos os elos da cadeia devem estarrepresentados;

9.2. Criação de um fundo de recursos financeiros pró-custeio einvestimento com origem nos elos produtivo e de transformação, paraaplicação em laboratórios credenciados visando o controle de drogas dentrode uma estrutura oficial. Cada vez menos há recursos públicos para investirem pesquisa e fiscalização e, por isso, é indispensável que o fundo sejaimplementado com a finalidade acima descrita. Existem vários exemplos noexterior, e alguns no Brasil, que têm dado resposta desejável em benefíciodos produtos a que se destinam;

9.3. Estabelecer um plano de controle de resíduos de drogasusadas em produção onde sejam definidas a freqüência e objetivos daamostragem, tipos de substâncias pesquisadas, plano anual de amostragempor espécie;

9.4. Melhorar a rede de laboratórios públicos, em especial aformação de pessoal aumentando a relação com o meio cientifico externo eassegurando a melhoria da qualidade das análises;

9.5. Estabelecer um laboratório nacional de referência capaz deanalisar com métodos analíticos eficazes, testando os resíduosinterlaboratorialmente para assegurar a qualidade dos testes e melhorar ocontrole de distribuição dos medicamentos;

9.6. Fiscalizar a distribuição e uso de drogas de uso veterinário commaior participação dos conselhos de medicina veterinária nessa tarefa. Tem-se verificado um grande aumento de vendas diretas ao produtor semfiscalização oficial;

10. Considerações e conclusões

Com base no que foi anteriormente apresentado, há que se perguntarse os alimentos de origem animal produzidos nos atuais sistemas deprodução são: suficientes para os mercados interno e externo; seguros do

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ponto de vista de resíduos e do meio ambiente; produzidos dentro depadrões internacionais de qualidade e por fim tenham baixo preço, paragarantir competitividade internacional ?

Todas essas questões podem ter interpretações diferentes para osdistintos elos das cadeias animais e não é pretensão deste trabalho definircomo deve ser a utilização dos aditivos, mas contribuir sem tendências paraa melhoria final dos produtos animais. Assim, entendemos que todos os elosda cadeia de suínos falem a mesma linguagem e, para isso, é necessárioampliar as discussões, esclarecendo os pontos duvidosos na melhor formada ciência.

No caso dos microingredientes de fabricação de rações, ao nossoentender o uso responsável e prudente passa pelo respeito a legislaçãovigente, aos prazos de retirada do produto das rações, identificaçãolaboratorial de resíduos nos produtos animais (carne, leite e ovos) edeterminação da concentração do resíduo encontrado. Sabe-se que osmicroingredientes alimentares são eficientes na melhoria do performanceanimal e aumentam o lucro da produção animal e isso deve ser ponderadocom os eventuais pontos negativos do uso. Os antibióticos sãoparticularmente importantes e efetivos quando a sanidade do rebanho estáabaixo do normal, mas por outro lado, devem também ser buscadasmelhorias nos sistemas produtivos por meios que envolvam melhorias naambiência e conforto dos animais. Devem ser usados somentemicroingredientes aprovados, nos níveis recomendados e para espécies oufases recomendadas. Observar cuidados na mistura, as indicações de uso e,particularmente, cuidar o período de retirada, pois as pesquisas indicamessa necessidade.

A observância dos pontos acima trará como vantagem a maior aberturado mercado externo que é restritivo nos aspectos mencionados, e garantiráa satisfação do consumidor interno pela qualidade do produto ofertado. Comisso, aproximam-se os interesses dos elos da cadeia produtiva,consumidores e governo.

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Tabela 1. Classificação microingredientes de acordo com sua finalidade

Grupo Nutrientes Pró-nutrientes

CoadjuvantesElaboração Profiláticos

1. Antibióticos •2. Antioxidantes • • •3. Aromatizantes/palatabilizantes • •4. Anticoccidianos • •5. Estabilizadores, emulsificadores,

gelatinizante• • •

6. Corantes, Pigmentantes • • •7. Conservantes, Antifúngicos • • •8. Vitaminas, Pro-vit. e análogos •9. Elementos traço • •10. Promotores de crescimento •11. Aglutinantes, Adsorventes • • •12. Acidificantes • • •13. Enzimas •14. Probióticos •15. Repartidores de energia •Adaptado de Rosen (1996)

Tabela 2. Efeito do uso de antimicrobianos usados nas dietas como promotor decrescimento sobre o ganho de peso e a conversão alimentar de suínos a.Fase dos animais Controle Antibiotico % de melhoria

GMD, kg 0.39 0.45 16.40Inicial

( 7-25 kg) CA 2.28 2.13 6.90

GMD, kg 0.59 0.66 10.60Crescimento

(17-49 kg) CA 2.91 2.78 4.50

GMD, kg 0.69 0.72 4.20Crescimento–terminação (24-89

kg) CA 3.30 3.23 2.20a Dados de 453, 298, e 443 experimentos envolvendo 13632, 5783, e 13140 suínos, em cada fase,respectivamente. Dados adptados de Hays (1977) e Zimmerman (1986), citados por Cromwell(1999).

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Tabela 3. Antibacterianos para promoção do crescimento (Autorizados pela diretiva70/254/EEC)

Antibióticos Espécie Animaispor Categoria

IdadeMáxima

Conteúdo mínino-máximo mg/kg

Exemplos de outrascondições

Avilamicina Leitões 4 meses 20-40Suínos Abate 4-6 meses 10-20Aves 2,5-10

Bacitracina Poedeiras 15-100Perus 4 semanas 5-50Perus 26 semanas 5-20

Outras Aves 16 semanas 5-20 Excluídas certasEspécies

Leitões 4 meses 5-50Terneiros 16 semanas 5-50Terneiros 6 meses 5-20

Flavofosfolipol ( flavomicina, bambermicina)Poedeiras 2-5Perus 26 semanas 1-20Outras Aves 16 semanas 1-20 Excluídas certas Espécies

Leitões 3 meses 10-25 Somente substituto doleite

Leitões Abate 6 meses 1-20Terneiros 6 meses 6-16Bovinos 2-10

Espiramicina Perus 26 semanas 5-20Outras aves 16 semanas 5-20 Excluídas certas EspéciesTerneiros 16 semanas 5-50

6 meses 5-80 Somente substituto doleite

Leitões 4 meses 5-50Leitões Abate 6 meses 5-20

Tilosina(fosfato detilosina)

Leitões 4 meses 10-40

6 meses 5-20Virginiamicina Poedeiras 20

Perus 26 semanas 5-20Outras Aves 16 semanas 5-20 Excluídas certas EspéciesLeitões 4 meses 5-50Leitões Abate 6 meses 5-20Terneiros 16 semanas 5-50Bovinos 15-40

Monensina Bovinos 10-40Salinomicina Leitões 4 meses 30-60

Suínos Abate 6 meses 15-30Promotores de CrescimentoCarbadox Leitões 4 meses 20-50 Tempo da retirada 28 diasOlaquindox Leitões 4 meses 15-50 Tempo da retirada 28 dias

Leitões 4 meses 50-100 Somente substituto doleite

Commission... (1997)

BELLAVER, Cláudio. O uso de microingredientes (aditivos) na formulação de dietas para suínos e suasimplicações na produção e na segurança alimentar. Facultad de Ciencias Veterinarias da Universidad deBuenos Aires, Universidad Nacional de Rio Cuarto e Embrapa Suinos e Aves. In: CONGRESSO MERCOSURDE PRODUCCIÓN PORCINA, 2000, Buenos Aires. Pp 93-108.