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GOVERNO DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE JOSÉ SIQUEIRA DA MATA OAC POLÍTICAS NEOLIBERAIS: SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO LONDRINA/PR DEZEMBRO/2007

OAC - gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br · ações de maneira a diagnosticar o problema e faça a intervenção antes ... do mercado e o destino da educação das maiorias. In Gentilli

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GOVERNO DO PARANÁSECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃOCOORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE

DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

JOSÉ SIQUEIRA DA MATA

OAC

POLÍTICAS NEOLIBERAIS: SUA INFLUÊNCIA NA

EDUCAÇÃO

LONDRINA/PRDEZEMBRO/2007

IDENTIFICAÇÃO

Autor: José Siqueira da Mata

Professora orientadora: Ana Lúcia Ferreira Aoyama

Estabelecimento: Colégio Estadual Leonardo Francisco Nogueira

Ensino: Médio e Profissionalizante

Disciplina: Organização do Trabalho Pedagógico

Conteúdo estruturante: Poder, política e ideologia

Conteúdo específico: Políticas neoliberais, sua influência na educação

1. Recursos de Expressão

Quem determina as Diretrizes para a Educação Nacional? Você

conhece a influência dos organismos internacionais na educação

brasileira?

As políticas neoliberais: sua influência na educação

O modelo educacional que temos hoje começou a ser pensado a

partir da década de 1970 e foi implantado em meados da década de 1990

em nosso país. É o resultado de acordos previamente estabelecidos entre

as agências multilaterais, num momento em que a economia mundial

estava dando sinal de exaustão e tem a finalidade de adequar à escola ao

sistema produtivo. O serviço educacional é mais uma mercadoria. Cabe ao

indivíduo escolher o tipo de mercadoria que quer e pagar por ela.

Presenciamos na década de 1990 profundas mudanças na

economia mundial que influenciaram a área social e educacional em nosso

país. Essas crises aconteceram na década de 1970, cujo sistema de

produção era taylorista/fordista – que consistia na organização racional do

trabalho e a produção em série onde cada trabalhador produzia parte do

produto – e começa a se pensar num outro sistema produtivo neoliberal: o

Toyotismo.

Esse novo sistema exige um trabalhador mais qualificado que tenha

conhecimento de todo o processo produtivo e não apenas de uma parte,

ou seja, além do conhecimento prático, é necessário também o

conhecimento científico para que o trabalhador ao perceber alguma

situação de anormalidade na máquina na qual trabalha, oriente suas

ações de maneira a diagnosticar o problema e faça a intervenção antes

que esta venha a agravar-se.

A ideologia neoliberal prega a participação mínima do Estado nas

atividades econômicas do país, pois “considera a concorrência fator

essencial para garantir o bem-estar da sociedade e a perfeita harmonia

entre o público e o privado, ou seja, a economia é o centro regulatório e o

Estado não deve intervir nesta liberdade” (PERES e CASTANHA, 2006,

p.234)

Na educação, a política neoliberal surge atacando a escola pública.

Assim,

[...] a partir de uma série de estratégias privatizantes mediante a aplicação de uma política de descentralização autoritária e ao mesmo tempo, mediante uma política de reforma cultural que pretende apagar o horizonte ideológico de nossa sociedade a possibilidade de uma educação democrática, pública e de qualidade para a maioria. (GENTILLI, 2005, p. 242).

Faz parte da estratégia neoliberal a transferência para o mercado de

“questões referentes à saúde, educação, transporte e os serviços sociais

em geral alegando que o governo não sabe gerenciar essas questões e dá

prejuízo, mas proporciona lucro na iniciativa privada” (PERES e

CASTANHA, 2006). Nesse sentido, as reformas neoliberais são:

[...] centradas na desregulamentação dos mercados, na abertura comercial e financeira, na privatização do setor público e na redução da influência do Estado. Medidas estas

recomendadas pelo Banco Mundial, aceitas praticamente por todos os países da América Latina (SOARES, 2003, p. 19).

A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 213 estimula a

iniciativa privada a atuar na educação. Pudemos observar a partir da

década de 1990 o aumento de escolas particulares em nosso país,

principalmente as instituições de ensino superior.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB, Lei

9394/96), cujo projeto inicial,

[...] foi elaborado pela comunidade educacional e atrelado aos anseios que viessem atender a maioria da população defendendo a primazia da escola pública, que tramitou no legislativo quase uma década, foi derrotada, e em seu lugar foi implementado o projeto do senador Darci Ribeiro, que vinha a atender a reivindicação dos empresários da educação (ANZOLIN, 2006, p.272).

Estavam dadas as diretrizes para a privatização da educação em

nosso país. Privatização esta que foi acenada anteriormente na

Conferência Jontiem. Em 1990 foi realizado em Jomtien na Tailândia, a

Conferência Mundial de Educação para Todos patrocinada e financiada

pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência

e a Cultura), UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Banco

Mundial e PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)

que se comprometeram a garantir uma educação básica de qualidade

para todos.

Para garantir essa educação os países teriam que investir em

reformas de seus sistemas educativos para adequá-los a ofertar

conhecimentos e habilidades exigidos pelo setor produtivo, tais como:

flexibilidade para adaptar-se às diversas tarefas, capacidade de inovação,

comunicação e respeito às diversidades. Essas competências e

habilidades estão contempladas nos PCNs (Parâmetros Curriculares

Nacional). Nesse sentido,

[...] a partir da mediação microeletrônica com seus impactos na forma toyotistas de organizar o trabalho, esse passa a significar enfrentar eventos, o que desloca o eixo da competência de memorização de procedimentos a serem repetidos para o enfrentamento de situações anormais, com um maior ou menor grau de previsibilidade. Competência passa a ser resolver questões não previstas e até mesma desconhecidas, que articulem conhecimentos tácitos e científicos adquiridos ao longo da vida através de formação escolar, profissional e da experiência laboral (NAGEL, 2007, s.p.).

Outro importante documento é o relatório Delors. Este relatório

propõe um novo conceito de educação: uma educação ao longo de toda a

vida. Recomenda que seja usado o potencial educativo dos meios de

comunicação, da profissão, cultura e lazer. A escola não é mais o único

lócus educativo. “Essa educação seria alcançada a partir de quatro tipos

de aprendizagens: aprender a conhecer, aprender a ser, aprender a fazer

e aprender a viver juntos” (SHIROMA, 2002, p. 67). São competências e

habilidades úteis ao setor produtivo.

Como vivemos numa sociedade da informação torna-se necessário a

aquisição e constante atualização dos conhecimentos sendo necessário

então uma formação básica que dê suporte para aprendizagens futuras.

Na educação de nível médio as recomendações do relatório Delors

têm como objetivo:

[...] a revelação de talentos, preparar técnicos e trabalhadores para os postos de trabalho existentes e a adaptação a estes trabalhos, sendo o aluno um futuro empreendedor. A duração dos cursos é flexível. Sua organização deve-se dar em parceria com os empregadores. Recomenda também este relatório o treinamento para reforçar um conjunto de idéias como nacionalismo aliado ao universalismo, preconceitos étnicos e culturais resolvidos com tolerância e pluralismo (SHIROMA, 2002, p. 67)

Além das competências profissionais, exige-se do professor:

a pesquisa em nível superior que não precisa ser realizado na academia O relatório recomenda também que o professor exerça outras profissões além da sua para que haja uma maior mobilidade de ser empregável. O exercício de outras profissões deve-se dar nos períodos de licença,

férias ou fora do seu horário de trabalho (SHIROMA, 2002, p. 69).

Em se tratando do Banco Mundial, este recomenda “a reforma do

financiamento da educação e a busca de novas fontes de recurso,

canalizando os recursos para o nível básico E mais atenção aos resultados

da avaliação.” (SHIROMA, 2002, p. 65).

Para financiar a educação básica, o governo criou em 1996 o

FUNDEF (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de valorização do Magistério) que financia o ensino

fundamental de 1ª a 8ª séries no país, utilizando como critério para o

repasse de recursos aos estados e municípios, o número de alunos

matriculados nessas séries.

Vimos que as políticas impostas na década de 1990 pelo FMI,

UNESCO e Banco Mundial aos países da América Latina e Caribe têm a

função de:

[...] desobrigar o Estado de seu papel mantenedor dos serviços sociais, transferindo responsabilidade à sociedade civil, contribuindo assim para a exclusão de uma grande parcela da população que vive em condições precárias de moradia, saúde e educação, legitimando assim a primazia neoliberal de mercado, fazendo com que a classe trabalhadora perca os direitos outrora conquistados (VIRIATO, 2004, p.13).

Conseqüentemente podemos concluir que houve um

descompromisso do Estado em relação às políticas educacionais visando

implantar as políticas neoliberais. O Estado afastou-se de suas

responsabilidades no que concerne às políticas sociais e vem atribuindo

estas funções à sociedade. Houve grande proliferação de escolas

particulares, cursos de formação à distância, tudo isso para contemplar os

acordos realizados e às grandes empresas das áreas de comunicação que

já haviam sido privatizadas.

A educação é mais uma mercadoria e como tal, cada um deve

procurar a mercadoria que pode pagar, pois esta está à venda no

mercado.

Referências Bibliográficas

ANZOLIN. Iraci et all. Possibilidades e limites de um planejamento educacional frente às políticas educacionais. EDUCERE ET EDUCARE. Unioeste, Vol. I, jan/jul 2006, p. 271-276

GENTILI, Pablo. Adeus à escola Pública. A desordem neoliberal, a violência do mercado e o destino da educação das maiorias. In Gentilli. Pedagogia da exclusão: crítica do neoliberalismo em educação. Ed.Vozes. São Paulo, 2005.

NAGEL. Lízia H. Ideologia e Mídia. II Seminário PDE. Maringá. Out. 2007

PERES. Claudio A. CASTANHA André P. Educação: Do liberalismo ao neoliberalismo. EDUCERE ET EDUCARE. Unioeste, Vol I, jan/jul 2006, p. 233-238

SHIROMA, Eneida et alli. Política educacional: os arautos da reforma e a consolidação do consenso: anos 1990. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p.53-86.

SOARES Laura Tavares. O Desastre Social - Os porquês da desordem Mundial, Editora Record, Rio de Janeiro, 2003

VIRIATO. Edaguimar Orquizas Estado e Política Educacional, n .05, UNIOESTE, 2004, p.13

2. RECURSOS DE INVESTIGAÇAO

2.1 Educação e o mundo do Trabalho

O texto recomendado do professor da UNESP Giovanni Alves,

Reestruturação produtiva, Novas qualificações e Empregabilidade, mostra

que nossa civilização vem se desenvolvendo através do trabalho, que

permite o intercâmbio do homem com a natureza na luta pela subsistência

para satisfazer suas necessidades.

Desde a antiguidade até os dias atuais, a humanidade passou por

diversas formas históricas de trabalho, passando do feudalismo ao

capitalismo. Isso requer relações sociais diferentes.

O modo de produção capitalista exige novas formas de produção

de mercadorias priorizando a relação do homem com os instrumentos de

trabalho, exigindo novas habilidades e capacidades.

De acordo com estas perspectivas cabe a educação preparar os

cidadãos para o mercado de trabalho, para a empregabilidade. Atribui o

fracasso ao indivíduo, sem considerar os fatores que levaram a isso, onde

sobrevive o mais forte.

Com isso, as políticas educacionais vão sendo aligeiradas,

privilegiando o saber fazer, baseado na espontaneidade, no imediatismo e

negando a ciência, o conhecimento científico, sistematizado.

O toyotismo vem romper com o processo de produção do sistema

capitalista taylorista/fordista, exigindo novas qualificações e

empregabilidade. Passa a exigir conhecimentos práticos e teóricos,

capacidade de tomar decisões e saber comunicar, responsabilidade e

interesse pelo trabalho.

Atribui ao individuo a responsabilização pela qualificação

profissional, sem, contudo garantir sua inserção no mercado de trabalho.

Para um melhor aprofundamento sobre este novo modelo de

produção capitalista acesse http://www.pde.pr.gov.br/modules/noticias/:

Publicações

2.2 As práticas pedagógicas nas escolas

Toda prática pedagógica tem um objetivo em comum que é a

aprendizagem do aluno. Dependendo a teoria pedagógica que embasa

essa prática pedagógica a função do professor e do aluno varia. Ora cabe

ao professor conduzir a aprendizagem ao fazer a mediação do conteúdo

historicamente acumulado para que o aluno assimile esses

conhecimentos, ora essa iniciativa cabe ao aluno, ora ambos são meros

executores de tarefas que foram elaboradas por instâncias superiores.

Luckesi (1994, p. 21) afirma que:

[...] a educação é uma prática humana direcionada por uma determinada concepção teórica, que está articulada com uma pedagogia que é uma concepção filosófica da educação que ordena os elementos que direcionam a prática educacional.

Essas teorias pedagógicas predominaram em diferentes contextos

históricos sempre influenciados pelo modelo econômico vigente para

atender aos interesses de quem está no poder. Têm em comum o

propósito que é direcionar as ações pedagógicas.

Estas teorias estão classificadas segundo Saviani (1987, p.7) “em

dois grupos denominados de teorias não-críticas e teorias críticas

reprodutivistas”.

As teorias não-críticas consideram a marginalidade como um

desvio e a educação têm a função de corrigir esses desvios. Não considera

a influência do meio social sobre o indivíduo.

Faz parte das teorias não-críticas a Pedagogia Liberal Tradicional, a

Pedagogia Nova e a Pedagogia Tecnicista.

A Pedagogia Tradicional surgiu no século XVI e influencia os

educadores até hoje. Baseava-se no princípio que a educação é um direito

de todos e dever do Estado e era resultado do tipo de sociedade

condizente aos interesses da burguesia que se firmava no poder. A

finalidade da escola era transformar súditos em cidadãos, superando a

ignorância, considerada como fator de marginalidade.

A essa teoria correspondia também determinada maneira de

organizar a Escola. Na sala de aula o professor era centro do processo

ensino-aprendizagem. Ao aluno cabia a execução das tarefas propostas

pelo professor sem questionar.

Mas este modelo de escola não conseguiu alcançar a

universalização e nem todos que concluíam seus estudos conseguiam se

ajustar ao tipo de sociedade que se queria consolidar. É preciso buscar um

novo modelo de escola.

Surge a Pedagogia da Escola Nova. Essa tendência começa a

ser implantada no Brasil a partir da década de 20, mas vem à tona mesmo

na década de 50, com a finalidade de escolarizar os trabalhadores para a

indústria que estava em plena expansão em nosso país, cujo modelo de

produção era o taylorista/fordista.

Para implantar este modelo, a escola deveria agrupar os alunos e

selecionar os conteúdos de acordo com os seus interesses. Isso provocou

o afrouxamento das disciplinas e a despreocupação com os conteúdos.

Considerava importante aprender a aprender.

Para essa tendência, marginalizado não é o ignorante como na

tendência anterior, mas o rejeitado.

A Pedagogia Tecnicista surgiu após o escolanovismo dar sinal

de exaustão no final da década de 60. Tinha o objetivo de implantar o

modelo empresarial nas escolas, de modo a adequar o processo

educativo, tornando-o objetivo e operacional.

O objetivo é o treinamento. O trabalhador deve adaptar-se ao

processo de trabalho executando determinadas tarefas na linha de

montagem. O importante é aprender a fazer.

Na escola a burocratização aumentou bastante, professores e

alunos são meros executores de programas/tarefas cujo planejamento

está a cargo de especialistas.

Nessa tendência, marginalizado é o incompetente, o ineficiente e

improdutivo.

Teorias crítico-reprodutivistas. Essas teorias consideram

importantes os determinantes sociais no fenômeno educativo, ou seja, a

educação é influenciada pela sociedade. Procuram explicar o mecanismo

da escola tal como ela está constituída.

Podemos citar dentro dessa teoria a Pedagogia Libertadora de

Paulo Freire e a Pedagogia Histórico-crítica de Dermeval Saviani.

Ambas as pedagogias estão preocupadas com a transformação da

sociedade. A pedagogia Libertadora de Paulo Freire tem como princípio

que toda educação é um ato político. Professores e alunos aprendem um

com outro.

A Pedagogia Histórico-crítica considera como de fundamental

importância a construção do conhecimento com base nos conteúdos

historicamente acumulados pela sociedade. O ponto de partida e o ponto

de chegada é a prática social. Compreendida agora não com uma visão

sincrética, mas de maneira mais elaborada, pois foi instrumentalizado pelo

professor.

Referências Bibliográficas

LUCKESI. C.C. Filosofia da Educação. São Paulo. Cortez, 1994

SAVIANI. Dermeval. Escola e Democracia. São Paulo. Cortez, 1987

______. Pedagogia Histórico-crítica. Autores Associados, Campinas,

2005.

2.3 Contextualização

Influências das políticas neoliberais na prática pedagógica

Vivemos numa sociedade capitalista que leva as pessoas a sempre

quererem mais, a nunca estarem satisfeitas. A “ânsia do consumo perde

toda a relação com as necessidades reais do homem, o que faz com que

as pessoas gastem sempre mais do que tem” (ARANHA e MARTINS, 2000,

p. 64). O apelo ao consumo está no comércio que facilita a compra de um

determinado produto, nas mais diversas formas de pagamento.

Mas, e a grande parcela da população que não pode comprar e fica

apenas com o desejo de consumir, por que se mantém na passividade?

Essa parcela da população não reage porque:

(a) própria sociedade impede a sua tomada de consciência que alimenta a esperança de um dia pelo trabalho e educação conseguir chegar lá. E se não conseguir chegar é porque não teve sorte e competência. O torvelinho produção-consumo em que mergulha o homem contemporâneo impede-o de ver com clareza a própria exploração e a perda de liberdade, de tal modo que se acha mergulhado na alienação, perdendo a capacidade de contestação, da crítica, sendo destruída a possibilidade de

oposição no campo da política, da arte, da moral (ARANHA e MARTINS, 2000, p. 64).

Na década de 80, segundo o professor Newton Duarte (2007):

[...] a educação brasileira foi invadida por um conjunto de concepções das idéias americanas, centradas nas pedagogias do aprender a prender onde as discussões e o conhecimento das teorias pedagógicas não tiveram lugar na escola” (I Seminário Temático PDE – Londrina).

Essas idéias colaboraram para não mostrar as contradições da

sociedade capitalista e o conhecimento da sua ideologia.

Tudo gira em função do mercado, segundo VITOR PARO (1998),

“há uma crença entre boa parte dos educadores que a escola só ganha

status se contribuir com algum retorno para o sistema econômico”.

O fato das pessoas não conseguirem vaga no mercado de trabalho

é atribuído à falta de escolarização levando a crer que a “escola possa

criar empregos que o sistema produtivo por conta da crise do capitalismo

não conseguiu criar” (PARO, 1998, s.p.), como se todos os escolarizados

estivessem inseridos no mercado de trabalho. Os empregadores têm

usado a mídia para reclamar da falta de mão-de-obra especializada para

suas empresas, como se a escola devesse estar subordinada a eles,

preparando o trabalhador para suas empresas e com isso aumentar os

seus lucros. Por que eles mesmos não formam o profissional do qual

necessita?

Infelizmente as políticas educacionais têm procurado atrelar a

escola ao setor produtivo prejudicando a qualidade da educação ofertada

nos estabelecimentos de ensino, moldando todo o gerenciamento desses

estabelecimentos ao de uma empresa, como se o objeto de trabalho fosse

o mesmo, num “momento em que mais precisaria introduzir a

contradição, a crítica e o questionamento” (PARO,1998, s.p.) da sociedade

que aí está.

O trabalho alienado na escola, implícito na pedagogia do aprender

a aprender (Escola Nova, Tecnicista, Construtivista) cuja finalidade é

disseminar o ideário neoliberal é responsável pelo próprio fracasso do

sistema educacional, ou esse fracasso é a razão do seu sucesso,

(ao) concorrer para imbecilizar as pessoas envolvidas, impedindo a reflexão sobre o real, ao vir embutido numa concepção de mundo a sua ideologia, que procura fazer crer que não há salvação possível fora do mercado (PARO, 1998, s.p.)

Isso tem refletido na prática pedagógica do professor, deixando-o

sem um referencial teórico – o que é bom para o sistema capitalista – que

norteie seu trabalho e à mercê das políticas governamentais, não se

sentindo sujeito do processo educativo, mas mero executor de decisões

localizadas em níveis hierárquicos superiores.

O saber historicamente produzido que permite que a humanidade

não tenha que “reinventar tudo a cada nova geração, que precisa ser

repassado, para as gerações subseqüentes, mediado pela educação,

entendido como apropriação do saber historicamente produzido” (PARO,

1997b, p. 108) deixou de ser importante. Prega-se que a aprendizagem

que se adquire sozinho tem maior valor que a que se realiza por meio de

alguém, ou seja, o método de aquisição do conhecimento é mais

importante que o conhecimento existente na sociedade.

Newton Duarte comenta a entrevista dada por Perrenoud (2000) à

Revista Nova Escola que este afirma que os “professores devem parar de

pensar que dar aulas é o cerne de sua profissão. Ensinar hoje, deveria

consistir em conceber, encaixar e regular situações de aprendizagem,

seguindo os princípios ativos e construtivistas”.

É preciso resgatar a função social da escola: “acesso à cultura

letrada” transformando-a “em cultura escolar” (SAVIANI, p.27) de caráter

científico. Aida Monteiro (2006, p.169) afirma “ser imprescindível que se

rediscuta o que é específico do mundo da educação e o que é específico

do mundo dos negócios, pois se isto não ficar bem claro é bem provável

que um setor coloque o outro a reboque de si”. Portanto, a escola precisa

dar conhecimentos aos seus alunos para que estes possam compreender

as contradições da sociedade e tenham condições de fazer suas próprias

escolhas e conseqüentemente se inserir no mercado de trabalho.

Referências Bibliográficas

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução a Filosofia. Editora Moderna. São Paulo, 2000

Duarte, Newton. As pedagogias do aprender a aprender e algumas ilusões da assim chamada sociedade do conhecimento. www.pde.pr.gov.br. Publicações Acesso em 10/12/2007

SAVIANI, D. Sentido da Pedagogia e papel do pedagogo. In revista ANDE, São Paulo, n.9, p.27-28, 1985.

SILVA. Aida Maria Monteiro et al. XIII ENDIPE, p. 161-184. Edições Bagaço, Recife, 2006.

PARO. Vitor Henrique. Seminário Trabalho, Formação e Currículo. PUC/SP, 24-25/08/1998.

______. Gestão democrática da escola pública. São Paulo. Ática. 1997b.

3. RECURSOS DIDÁTICOS

3.1 As pedagogias do aprender a aprender e algumas ilusões da

chamada sociedade do conhecimento

Disponível em: www.pde.pr.gov.br Publicações. Acesso em 21/11/07

O autor faz uma crítica às chamadas pedagogias das competências que

valorizam o método, mas não o conteúdo e desqualificam o trabalho do

professor, produzindo a falsa ilusão que estamos vivendo numa sociedade

do conhecimento levando as pessoas a não questionar o seu sistema

excludente.

3.2 Sons e Vídeos

Daens - Um grito de justiça

Stiin Coninx, Favourite films, duração 2h18min, Bélgica, 1993

O filme Daens - Um grito de Justiça se passa numa cidade da Bélgica de

nome Aalst no final do século XIX, cujos trabalhadores da indústria têxtil

são explorados pelos empresários que demitem os homens e contratam

mulheres e crianças para trabalhar nas mesmas aumentando a carga

horária e reduzindo os salários. O padre Daens assume a igreja local e

sensibilizado com a situação de opressão não exita em ficar a favor da

população explorada. Usa o jornal católico para denunciar a situação de

exploração. A comunidade se une e exige o direito ao voto. O padre é

eleito pelos operários e começa a denunciar no parlamento as situações

desumanas em que estes são submetidos.

Comentário

Como seria a sociedade atual se os seus intelectuais fizessem como o

Padre Daens, ficassem a favor dos oprimidos? O professor deve mostrar

as contradições da atual sociedade para que o cidadão tenha

conhecimento e saiba reivindicar seus direitos.

3.3 Áudio

Cidadão (Zé Ramalho)

Composição: Lucio Barbosa

Disponível em www.letras.terracom.br/ze-ramalho . Acesso em

20/11/07

Tá vendo aquele edifício moço

Ajudei a levantar

Foi um tempo de aflição

Eram quatro condução

Duas prá ir, duas prá voltar

Hoje depois dele pronto

Olho prá cima e fico tonto

Mas me vem um cidadão

E me diz desconfiado

"Tu tá aí admirado?

Ou tá querendo roubar?"

Meu domingo tá perdido

Vou prá casa entristecido

Dá vontade de beber

E prá aumentar meu tédio

Eu nem posso olhar pro prédio

Que eu ajudei a fazer...

Tá vendo aquele colégio moço

Eu também trabalhei lá

Lá eu quase me arrebento

Fiz a massa, pus cimento

Ajudei a rebocar

Minha filha inocente

Vem prá mim toda contente

"Pai vou me matricular"

Mas me diz um cidadão:

"Criança de pé no chão

Aqui não pode estudar"

Essa dor doeu mais forte

Por que é que eu deixei o norte

Eu me pus a me dizer

Lá a seca castigava

Mas o pouco que eu plantava

Tinha direito a comer...

Tá vendo aquela igreja moço

Onde o padre diz amém

Pus o sino e o badalo

Enchi minha mão de calo

Lá eu trabalhei também

Lá foi que valeu a pena

Tem quermesse, tem novena

E o padre me deixa entrar

Foi lá que Cristo me disse:

"Rapaz deixe de tolice

Não se deixe amedrontar

Fui eu quem criou a terra

Enchi o rio, fiz a serra

Não deixei nada faltar

Hoje o homem criou asa

E na maioria das casas

Eu também não posso entrar

Fui eu quem criou a terra

Enchi o rio, fiz a serra

Não deixei nada faltar

Hoje o homem criou asas

E na maioria das casas

Eu também não posso entrar"

Comentário

O conteúdo desta música é bem atual. Reflete as condições históricas do

neoliberalismo, onde o trabalhador constrói a riqueza do país com o seu

trabalho, mas não se beneficia do progresso que ajudou a construir,

ficando à margem dos benefícios sociais.

3.3 Proposta de atividades

Atividade 1.

As políticas neoliberais refletem na maneira como o professor vai

trabalhar na sala de aula. Tivemos ao longo da nossa história da educação

a Pedagogia Liberal Tradicional, a Pedagogia da escola Nova e a

Pedagogia Tecnicista. Caracterize em cada uma delas o papel do

professor, do aluno, a seleção dos conteúdos, a metodologia.

Atividade 2

Em seu livro História e Democracia, Dermeval Saviani, historicizou as

pedagogias supracitadas demonstrando que elas tiveram como

conseqüência política a justificação de privilégios. Propõe uma pedagogia

para além dos métodos novos e tradicionais, ou seja, a pedagogia

histórico crítica e estabelece também uma metodologia na apresentação

dos conteúdos. Quais as características dessa pedagogia? Qual a

metodologia usada para levar o aluno a um conhecimento mais

elaborado?

Atividade 3

Na música Cidadão de Zé Ramalho, qual passagem que ilustra este

comentário: “em vez de humanizar, o trabalho muitas vezes acaba

desumanizando as pessoas?”

Atividade 4

Comente a estrofe da música supracitada relacionando com os dias atuais:

“hoje o homem criou asas e na maioria das casas eu também não posso

entrar”.

3.4 Imagens

http://www.culturabrasil.pro.br/cap

etalismo.htm Acesso 18/11/07

“Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.”Érico Veríssimo, "Solo de Clarineta”

http://www.culturabrasil.pro.br/ca

petalismo.htm Acesso 18/11/07

Atividade 5

O princípio do neoliberalismo é a liberdade. Você é livre para andar, vestir

e alimentar. Observando a imagem acima e os textos que você leu,

comente este princípio do neoliberalismo.

Atividade 6

Leia o texto de Érico Veríssimo ao lado da imagem. Qual seria o papel do

professor nesse contexto?

4. RECURSO DE INFORMAÇÃO

Sugestão de Leitura

4.1.1 O desastre social – os porquês da desordem mundial

Soares, Laura Tavares. Record, Rio de Janeiro, 2003

A autora mostra que a implantação do sistema neoliberal aniquila

os direitos sociais conquistados causando uma desordem social. Saúde,

educação, transporte, moradia, tudo isso virou mercadoria e o cidadão

deve pagar por ela. Faz um diagnóstico da atual situação e propõe

algumas soluções.

4.1.2 Neoliberalismo e educação

Disponível em: www.cefetsp.br/edu/eso/neoeducacao/html. Acesso em

21/11/07

A autora Sonia Alem Marrach comenta que a ideologia neoliberal procura

desfazer todos os direitos do cidadão, trata-o como consumidor, prega a

reforma do Estado e exige o máximo de liberdade econômica e um

mínimo de direitos sociais. Os problemas sociais se resolvem com

gerência eficiente

4.1.3 Repasse de recursos a Estado e Municípios

Disponível em:

www.tesouro.fazenda.gov.br/estados_municipios/municipios.asp Acesso

em: 05/12/2007

Comentário

A grande vantagem da tecnologia é o acesso às informações. Atualmente,

você acessando a internet, pode saber o quanto cada Estado e município

brasileiro recebem mensalmente do FUNDEB para aplicar em educação.

4.2 Noticias

4.2.1 Mudanças à vista no Ensino Superior

“Idealizador de uma nova organização universitária, o reitor da

Universidade Federal da Bahia explica como futuros professores poderão

estudar, em breve, lado a lado com estudantes de Medicina e de outras

áreas”

A evasão nas universidades brasileiras é assustadora. Nas públicas, 40%

dos alunos desistem dos cursos de graduação porque os currículos não

atendem às necessidades e expectativas de cerca de 30% dos

matriculados. Na Universidade Federal de Brasília (UFBA), da qual Naomar

Monteiro de Almeida Filho é reitor desde 2002, 37% dos estudantes

abandonam o sonho de ter um diploma. “Não podemos ser mais

coniventes e omissos. O sistema atual é ultrapassado e injusto. O Ensino

Superior precisa mudar”, afirma ele, colocando em pauta a necessidade

de universalizar o acesso às faculdades e revisar os currículos. Nos últimos

três anos, a missão desse médico epidemiologista tem sido de divulgar em

encontros uma proposta de combate a epidemia de evasão, da má

qualidade de educação e da falta de vagas. O movimento conhecido como

Universidade Nova foi adotado pelo Ministério da Educação (MEC) num

decreto assinado em agosto que instituiu o Programa de Apoio a Planos de

Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). “Uma

conquista sem precedentes”, comemora o reitor. A meta, em dez anos é

dobrar (de 680 mil para 1,4 milhão) o número de estudantes de

graduação.

Saiba mais sobre essa proposta na Revista Nova Escola, outubro de

2007, p. 32-37.

Comentário

O reitor da UFBA defende mudanças no Ensino Superior e aprova o

decreto do MEC, conhecido como Universidade Nova que terá ciclo de

Formação Geral com disciplinas de diferentes áreas do conhecimento e no

último ciclo será contemplado a profissionalização.

4.2.2 Lucro dos bancos é aberração

Jornal Folha de Londrina, 25/11/07, p.3

Nunca os banqueiros ganharam tanto. Para o diretor do Sindicato dos

bancários de Curitiba, Pablo Diaz, lucro é excessivo: ativos dos bancos

representam 60% do PIB nacional.

Os quatro maiores bancos brasileiros (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e

Santander) já têm ativos que somados, chegam a U$ 670 bilhões – o

equivalente a R$ 1,2 trilhão, ou quase 60% do Produto Interno Bruto (PIB)

do país. Os dados são da consultoria economática. Os lucros dessas

instituições, que crescem ano a ano, não têm similar na economia

nacional, - com exceção da Petrobrás, que é a maior empresa brasileira.

Confira a entrevista:

O lucro dos bancos é excessivo?

Vejo da seguinte maneira: é sintoma da concentração do mercado. A

partir dos anos 80 os bancos deixam de ser instituições com função

específica para tornarem grandes conglomerados. As antigas empresas

seguradoras e de outros produtos foram sendo absorvidas. Outra coisa:

nos EUA um banco pode ter no máximo 10% do ativo total do país. Aqui os

cinco maiores bancos detém 70%. Aprofundando essa estrutura de

oligopólio, os bancos têm maior poder de fogo e manipulação.

E a taxa de juro?

Também contribui, claro. E há ainda um problema mais grave. Muito do

dinheiro que saiu do país pelas contas CC5 (de forma irregular pelo antigo

Banestado), transformou-se em fundo de investimentos e vem sendo

repatriados como se fosse de investimentos internacionais. Há uma

pressão extremamente grande para manter o juro muito alto e remunerar

essa mesma elite que sempre locupletou e hoje ganha com a especulação.

A gente sabe que o STF ainda está sentado em cima do problema (as

contas CC5) e ninguém abre isso.

Os juros altos também influenciam os preços ao consumidor?

Sem dúvida. A formação do preço de venda leva em conta os custos fixos

e variáveis. No caso dos variáveis, o juro é um componente muito forte. E

há outros problemas: no Brasil, o bom e o mau pagador são tratados com

o mesmo parâmetro e juros e praticamente não há financiamento de

longo prazo. Não há compromisso estrutural dos bancos, até porque é

mais interessante manter este nível de exploração. A taxa básica está em

11%, por exemplo, mas para capital de giro é difícil encontrar a menos de

25% ao ano.

Lucros bancários menores poderiam significar lucros maiores para

a economia real?

Sim. Um exemplo que é o paroxismo da especulação: as pessoas estão

pegando dinheiro no Japão a 1% e aplicando no mercado financeiro daqui.

E para piorar elas não pagam impostos de renda, vêm e saem tranqüilas.

Já o investidor nacional, para a mesma operação, pagaria imposto de

renda. Essa política de juro suicida obviamente prejudica todas as demais

atividades econômicas e beneficia uma pequena casta financeira. Por isso,

temos essa má distribuição de renda no país com um potencial de crescer

até 11% ao ano, refém de um mercado financeiro que só prima por seus

interesses.

Qual é a fonte de recursos que remunera o investidor

internacional?

Dinheiro público, claro, justamente dos impostos. O dinheiro que você

arrecada aqui, a própria CPMF, grande parte desse dinheiro está indo para

juros. O Brasil tem duas bolsas, a bolsa família e a bolsa juros.

Para o futuro, a tendência é de juros bancários ainda maiores?

Eu vejo lucros progressivos porque os bancos têm um outro subterfúgio

que são as tarifas: elas mais de 1.000% nos últimos 10 anos. O que nesse

país subiu assim? Isso é uma aberração econômica. É reflexo de que? De

autoridade que deveriam fazer pressão através de suas próprias

instituições. Mas os bancos públicos (BB e CEF), ao invés de darem o

exemplo, vão a reboque e cobram as mesmas tarifas que se paga nos

demais bancos.

Comentário

O neoliberalismo prega a livre concorrência. Sem a intervenção do Estado,

as grandes empresas absorvem as pequenas e reinam absolutas no

mercado devido ao poder de manipulação que detém. Porque a mídia que

tanto critica a CPMF não faz o mesmo com os bancos?

4.3 Destaques

Cartilha do FUNDEB

Disponível em:

www.mp.rs.gov.br/areas/financas/arquivo/cartilhafundeb.pdf . Acesso em

05/12/2007

Em dezembro de 2006 foi criado o FUNDEB que repassa recursos

diretamente aos Estados e Municípios para atender desde a educação

infantil até o ensino Médio e o EJA. Também estabelece a criação de um

piso salarial nacional para os profissionais da educação.

4.4 PARANÁ

Reflexos das políticas neoliberais na educação do Paraná

O Paraná foi um dos pioneiros em implantar as políticas neoliberais.

Em outubro de 1996, a SEED/PR adiantando-se a legislação federal,

ordena o fechamento de todos os cursos profissionalizantes, incluindo

também o curso de Magistério. “Impõe o Programa Expansão, Melhoria e

Inovação no Ensino Médio do Paraná (PROEM), que previa a estruturação

do ensino profissionalizante com Pós-Médio para os egressos do Ensino

Médio" (SEED/DEP 2003), materializando-se o processo de privatização da

rede de ensino profissionalizante.

O governo Lerner,

Para motivar as APMs a assumirem a responsabilidade de conseguir recursos para a escola cria o prêmio de

excelência das Escolas públicas do Paraná que estabelece critérios de pontuação das escolas , formando um ranking de melhores e piores escolas(SILVA, 2000, s.p.)

Conseqüentemente estabelece uma competição entre cada escola

atribuindo a cada uma delas a responsabilidade para solucionar os seu

problemas e buscar a superação.

Com o fenômeno da globalização, no governo de Jaime Lerner

(1995-2002), no Paraná o papel do Estado foi o de coordenador das

políticas públicas enquanto a comunidade local assume a sua execução. O

sistema neoliberal defende a idéia de que o Estado é ineficiente e o setor

privado é eficiente na condução de políticas sociais introduzindo,

[...] mecanismo de mercado no sistema educacional, segundo teóricos dos organismos internacionais, fará com que as unidades escolares busquem desenvolver experiências inovadoras que contribuam para a melhoria a qualidade do ensino (HIDALGO; SILVA, 2001, p. 172).

A busca pela qualidade fica a cargo de cada estabelecimento. Não

há uma política para a educação pública e sim um sistema competitivo

entre as escolas visando o atendimento das necessidades imediatas de

aprendizagem.

Passa a ser cobrada a “responsabilidade pela inovação da unidade

escolar isoladamente, enquanto os sistemas de avaliação se encarregam

da divulgação dos melhores resultados” (HIDALGO e SILVA, 2001, p. 175)

formando um ranking das melhores escolas sem considerar as

especificidades de cada uma.

No governo Lerner isso se efetivou através de “dois projetos

implantados: o Projeto de Qualidade do Ensino Básico (PQE) e o Programa

de Expansão de Melhoria e Inovação do Ensino Médio (PROEM)” (HIDALGO;

SILVA, 2001, p.177).

O PQE (Projeto Qualidade do ensino Básico do Paraná) parte do

pressuposto que a expansão do sistema de ensino acarretou ao Estado

inúmeras atribuições que não permitem a oferta de um ensino de boa

qualidade. Propõe-se então a municipalização e a participação da

comunidade na gestão da escola. Adota-se um sistema centralizador ao

aperfeiçoar os sistemas de informações e avaliação e ao determinar que

as escolas funcionem nos moldes de uma empresa.

No PROEM (Programa Expansão, Melhoria e Inovação no Ensino

Médio do Paraná), para ajustar a oferta à demanda do sistema produtivo e

a necessidade de recursos são mobilizados as unidades escolares,

segmentos do governo e da sociedade para a elevação da qualidade.

Extinguem-se os cursos profissionalizantes. Cria-se uma agência social

privada com a qual estabelece um contrato de gestão e também o

PARANAEDUCAÇÃO.

Na gestão Lerner (1995-1998) foi criada:

[...] PARANATEC – agência social autônoma destinada a gerenciar o Ensino Técnico, o PARANAEDUCAÇAO – agência social autônoma destinada a administrar os recursos humanos do sistema público de Ensino Fundamental e Médio, que passa a contratar professores e demais trabalhadores da educação por tempo determinado e sem vínculos diretos com o Estado, embora o financiamento dessa agência social continue sendo com o dinheiro público (SILVA, 2000, s.p)

A seleção e avaliação dos professores e do pessoal técnico

administrativo para trabalhar nas escolas eram realizadas no próprio

estabelecimento.

No que se concerne a Gestão, a SEED (Secretaria de Estado da

Educação) promoveu através das APMs (Associação de Pais e Mestres) a

“captação de recursos juntos aos pais dos alunos para o financiamento

das atividades escolares” (HIDALGO, 2001, p. 183) para o

desenvolvimento do ensino, ou seja, fazer com que a comunidade “arque

com o ônus do financiamento da escola” (HIDALGO, 2001, p.184)

A SEED atribui as APMs (Associação de Pais e Mestres) das escolas

que encontrem formas alternativas de manutenção e expansão das

atividades escolares, se responsabilizando pela qualidade do ensino e

sugere a cobrança de mensalidade. Com isso, as escolas com maiores

dificuldades, situadas em regiões cuja comunidade é mais carente e que

não podia pagar são prejudicadas.

O conselho escolar teve seu papel reduzido. “É acionado pelo

diretor quando este tem um problema com o professor ou aluno, para

legitimar suas decisões ou tirando do diretor os desgastes que a situação

poderia ocasionar” (HIDALGO; SILVA, 2001, p. 190)

O diretor é uma liderança que deve canalizar as potencialidades

dos profissionais da escola e de toda a comunidade externa para a

obtenção de melhorias e fazer com que a sua escola se destaque das

demais. A escola que mais se destaca recebe prêmios. O diretor/gestor

das escolas destacadas é aquele que “assume uma postura de

administrador de empresas, que centraliza o controle sobre todas as

atividades e que tem sempre a última palavra” (HIDALGO; SILVA, 2001, p.

193).

Utilizou-se de Faxinal do Céu como capacitação dos professores

para impor sua ideologia, subordinando o processo ensino-aprendizagem à

lógica do mercado e fortalecendo a competição.

Referências bibliográficas

Hidalgo. Ângela Maria; SILVA. Ileizi Luciana Fioreli. Educação e Estado: as mudanças nos sistemas de ensino do Brasil e Paraná na década de 90. Londrina. Ed UEL, 2001

SEED/DEP. Proposta Curricular do Curso de Formação de Docentes da educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental em Nível Médio. p. 13. Curitiba, 2003

SILVA. Ileizi Luciana Fioreli. Reforma ou Contra-reforma no Sistema de Ensino do Paraná?Uma análise da Meta da Igualdade social nas políticas educacionais dos anos 90. XXIV Encontro Anual da ANPOCS, out.2000.