18
PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 1 OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS PARQUES NAS CIDADES Beatriz da Silva Correia aluna do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – PPGTE/CEFET-PR; Maclovia Corrêa da Silva – professora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – PPGTE/CEFET-PR; Milton Magnabosco – aluno do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – PPGTE/CEFET-PR; Resumo Este trabalho pretende discutir as relações dos cidadãos com o espaço urbano público e qual seria o papel do simbolismo deste espaço em relação à identidade social, papel esse, avaliado em base ao conceito de identidade simbólica do espaço urbano como forma de gerar e consolidar identidades sociais urbanas em relação ao entorno. Desde o que chamamos “simbolismo”, se analisam as fontes do significado simbólico, como expressão do poder tal qual construção social. Para tal, partiremos da apresentação e análise de um exemplo de intervenção urbana internacional e outro nacional, sendo o primeiro, visto sob o ângulo da revitalização de áreas de moradias de baixa renda e carentes de infra-estrutura, e o segundo, como áreas de grande interesse de preservação ambiental. Nos dois casos se pôde comprovar claramente o fenômeno da revalorização urbana e mercadológica, que modificaram a identidade dessas comunidades. Orgulho Urbano O orgulho urbano é feito do entrelaçamento entre a cidade real e a cidade imaginada, sonhada por seus habitantes e por aqueles que a trazem à luz, detentores de poder, celebridades e artistas (Le Goff, 1998, p.119). Poderíamos dizer que o orgulho urbano está diretamente relacionado com o conceito de identidade urbana ou identidade social. Muitas vezes, se procedemos de um lugar do qual não nos orgulhamos, não estamos interessados em revelar nossas origens.

OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 1

OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS PARQUES NAS CIDADES

Beatriz da Silva Correia aluna do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – PPGTE/CEFET-PR;

Maclovia Corrêa da Silva – professora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – PPGTE/CEFET-PR;

Milton Magnabosco – aluno do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – PPGTE/CEFET-PR;

Resumo

Este trabalho pretende discutir as relações dos cidadãos com o espaço urbano público e qual seria o papel do simbolismo deste espaço em relação à identidade social, papel esse, avaliado em base ao conceito de identidade simbólica do espaço urbano como forma de gerar e consolidar identidades sociais urbanas em relação ao entorno. Desde o que chamamos “simbolismo”, se analisam as fontes do significado simbólico, como expressão do poder tal qual construção social. Para tal, partiremos da apresentação e análise de um exemplo de intervenção urbana internacional e outro nacional, sendo o primeiro, visto sob o ângulo da revitalização de áreas de moradias de baixa renda e carentes de infra-estrutura, e o segundo, como áreas de grande interesse de preservação ambiental. Nos dois casos se pôde comprovar claramente o fenômeno da revalorização urbana e mercadológica, que modificaram a identidade dessas comunidades.

Orgulho Urbano

O orgulho urbano é feito do entrelaçamento entre a cidade real e a cidade imaginada, sonhada por seus habitantes e por aqueles que a trazem à luz, detentores de poder, celebridades e artistas (Le Goff, 1998, p.119). Poderíamos dizer que o orgulho urbano está diretamente relacionado com o conceito de identidade urbana ou identidade social. Muitas vezes, se procedemos de um lugar do qual não nos orgulhamos, não estamos interessados em revelar nossas origens.

Page 2: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 2

Da mesma maneira que um só golpe de vista sobre um lar, no qual uma família recebe a seus visitantes, diz muito de seus gostos, também uma única olhadela nas ruas, praças, parques e jardins de uma cidade, pode revelar o valor da sociedade que nela vive. “Os espaços públicos são, para começar, as vitrines ou o cenário em que a sociedade urbana se exibe e retrata”. (Arturo Soria Y Puig, 1999)

Identidade Social

Se acaso nos sentarmos em um banco de jardim público, ao lado de um estranho e dermos início a uma conversação amigável, depois de certo tempo de amenidades, com toda probabilidade, viria uma pergunta tal como: “De onde você é?”, ou ainda, “ Onde você vive?”, ou seja, os processos que configuram e determinam a identidade social dos indivíduos e grupos partem, entre outros elementos, do entorno físico no qual as pessoas se localizam, e que constitui um marco de referência que categoriza e determina uma identidade social (Valera, 1993).

Poderíamos, em primeiro lugar, partir de uma definição de Tajfel para identidade social: “é aquela parte do auto-conceito de um indivíduo que se deriva do conhecimento de seu pertencimento a um grupo ou grupos sociais, juntamente com o significado valorativo e emocional associado a este pertencimento.” (Tajfel, 1981, p. 292). Dentro desta definição podemos inserir perfeitamente o conceito de “entorno”, de maneira que a identidade social de um indivíduo também possa derivar-se desse seu sentido de pertencimento a um entorno ou entornos concretos, juntamente com o significado emocional e de valor associado a esse sentimento.

Na base desta estrutura se encontra o “passado ambiental” do indivíduo, assim como os significados socialmente elaborados destes espaços, que a pessoa foi integrando em suas relações espaciais. Este depósito de percepções que configuram a identidade do lugar e do qual o indivíduo não é consciente, até que veja sua identidade ameaçada, lhe permitirá reconhecer propriedade dos entornos novos que se relacionam com seu “passado ambiental”, favorecer um sentido de familiaridade e a percepção de estabilidade no ambiente, dar indícios sobre como atuar, determinar o grau de apropriação ou a capacidade para modificar o entorno e, por último, favorecer um sentimento de controle e segurança ambiental. (Proshansky, 1983).

Porquê o espaço público?

O espaço público nunca foi considerado o “lado negativo” das moradias, e sim o “lado positivo” das cidades. O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho, do jogo, do encontro, da conversa, da religião, do carnaval, da música. A praça medieval é um magnífico exemplo: ali se apresentavam os autos de fé, as feiras dos melhores produtos locais, orgulho dos cidadãos, quando eram convidados ilustres estrangeiros. A mesma praça dava lugar ao mercado. Assim, nobres e revendedores, inquisidores e bruxas, legumes e cavalos, se sucediam dia a dia, no mesmo espaço urbano. A praça medieval, em suma, constituía-se num lugar vital que permitia múltiplas funções, um espaço para todo tipo de atos e toda classe de cidadãos, concretização perfeita da equivalência entre cidade e espaço público.

Page 3: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 3

Além de permitir a realização de uma série enorme de funções, o espaço público, como lugar, teve e ainda hoje tem, um caráter simbólico indispensável na vida urbana. É uma referência na qual os cidadãos, por um lado se reconhecem como membros de uma comunidade, reencontram e recriam sua história coletiva e, por outro lado, se vêem confrontados com as mudanças e as inovações, elementos essenciais de uma cidade. A praça pública resume o passado, o presente e o futuro, orgulho e símbolo da cidade.

O espaço público e as desigualdades

Todas as cidades européias foram marcadas positivamente por estes espaços, aglutinadores e simbólicos, eficazes representantes e mediadores do conjunto das cidades. O caráter aglutinante destes espaços públicos centrais foi essencial na história dessas cidades. Mas esse mesmo espaço público, cumprido outras múltiplas funções, de outra escala, mais distante da escala global da cidade, e mais perto do mundo de cada indivíduo, atua como complemento do espaço privado de suas casas. A rua e a praça foram sempre o prolongamento da casa, especialmente das casas pequenas, das casas dos mais desfavorecidos.

O espaço público ao qual têm acesso e direito, reequilibra em parte, as desigualdades econômicas. Através dele se articula uma das possíveis vias de redistribuição de riqueza. Assim, o espaço público aberto nos interessa aqui, enquanto campo de atuação para as administrações, no qual se pode aplicar uma política de intervenções destinada a reduzir as desigualdades econômicas, sociais e de qualidade de vida. Como é lógico observar, o espaço público não é o único fator que contribui a definir e melhorar os três campos mencionados, nos quais atua – como um contenedor ativo da sociabilidade, como valor simbólico e aglutinador coletivo e como corretor de desigualdades. Mas, em todos esses casos, se a intervenção no espaço público não é suficiente, não deixa de ser, por isso, necessária e indesculpável.

Contra o espaço público e a cidade

Desde antes da Primeira Guerra Mundial, alguns indícios anunciam o final da maneira de pensar o espaço público urbano, que havia caracterizado a segunda metade do século XIX. Os primeiros congressos internacionais sobre auto-estradas esboçam regras dirigidas a garantir a segurança e, sobretudo, a fluidez do tráfico de automóveis. Tudo começa a ser pensado prioritariamente em função do automóvel e do motorista. Alteram-se as relações de superfície entre pavimento e calçada, e o que é realmente importante é a velocidade, considerada como um valor por si mesmo e independente de qualquer outra variável. Neste sentido, seguem as afirmações produzidas nos foros que introduzem a ideologia que une, inexoravelmente, o automóvel ao progresso, onde tudo é justificável para favorecer o que é considerado prioritário: “l´apanage essentiel de l´automobile est la vitesse, et lui interdire trop vigoureuseument, la pratique constitue une régression dans la voie de ce que la plupart de nos contemporains regardent à tort ou à raison comme le progrès” (Espuche, 1999). Assim, de forma convencida, a via pública, tal como o século XIX a havia concebido, perde seu caráter plurifuncional. Havia servido para distribuir os serviços públicos e para facilitar uma nova dimensão da sociabilidade, uma dimensão moderna e cosmopolita. Ao reduzir suas capacidades à

Page 4: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 4

dimensão de circulação, a rua se converte em uma auto-estrada e renuncia à sua vocação de espaço público.

A revalorização do espaço público e a busca de outras identidades

A revalorização do espaço público que está tendo lugar nas cidades européias e também em algumas cidades latino-americanas pretende muito mais que recuperar esteticamente os espaços abertos da cidade. Mas as dificuldades destas intervenções ficam visíveis quando as estudamos em detalhe. Os graus de irreversibilidade nas atuações efetuadas na cidade são muito elevados. Caminhar para trás ou corrigir erros do passado é difícil, quando não impossível em muitos casos. Interferir para retificar é sempre muito caro!

O compromisso entre o ideal e o possível, portanto, é o que acabará primando. Se o compromisso e as soluções a meio caminho acabam inevitáveis, as melhores iniciativas serão aquelas mais flexíveis, suscetíveis de serem aperfeiçoadas com um custo aceitável, em direção à sustentabilidade e que possam condicionar minimamente o futuro das cidades.

“Existe algum prazer que toda pessoa possa encontrar em todo o momento e em qualquer parque?”, se perguntaram em 1866 Olmstead e Vaux, os autores do Central Park de Manhattan. Existe! Foi sua resposta, destacando o “sentimento de alívio que experimentam aqueles que penetram neles (os parques), escapando dos apertos, limites e controles das ruas da cidade”, na “sensação de maior liberdade” que produzem, e o prazer está também na impressão de se ter um “limite indefinido”. (sobre Olmstead e Vaux, ver Arturo Soria Y Puig, 2000). Em princípio, consideraram que era tarefa do desenho interior do parque, a de transmitir essa “impressão”. Mas logo se disseram: Por que contentar-se com a “impressão” e não buscar a maneira de que os parques sejam realmente indefinidos e proporcionem ainda maior sensação de alívio e liberdade? Assim vislumbraram a idéia de um sistema de parques urbanos e já em 1868 propuseram e executaram o primeiro deles, em Buffalo, cidade dos Estados Unidos da América.

A Natureza como Fetiche

Nosso aparelho psíquico se constitui pela ordenação das coisas. Ao nascermos, os processos autônomos nos governam e a imaturidade neurológica de então começa a sua estruturação, premida pela angústia da sobrevivência e das primeiras gratificações. O mundo se divide em dois, o bom e o mau, o que satisfaz a fome que dói e o que não se apresenta na hora da necessidade (Klein, 1920). As experiências boas e más vão fazendo traços de memória e ordenando o mundo guiado pelas vivências internas, das exigências biológicas, e das externas, de contato e de contenção que a mãe propicia. Cada coisa tem um nome, mesmo as intangíveis experiências de dor, de sono, de fome, de felicidade. É a ordenação do mundo externo, em especial pela linguagem, que se reflete na ordenação do mundo interno. A estruturação que dá segurança de saber o que vem antes e depois, a necessária antecipação para o preparo da defesa. Tudo funciona como um relógio, e, quando assim não é, a angústia é o primeiro sintoma.

A ordenação das coisas é uma necessidade psíquica. Somos classificadores natos e tudo no mundo é classificado segundo ordens conhecidas. A estrutura é a organização das

Page 5: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 5

coisas. Aquilo que não é estruturado é caótico e o caos é algo com que não sabemos lidar, pois é da ordem do desconhecido, do selvagem.

A ordenação da natureza segue este princípio. Tentamos dominar a natureza pela sua estruturação. Classificamos os animais, vegetais e minerais segundo ordens, classes, famílias. Segundo formas, cores, sabores, cheiros. Segundo utilidade, proximidade e periculosidade. E recriamos a natureza segundo nossos critérios de seleção. Construímos parques, zoológicos, herbários e aquários onde apresentamos nossa classificação. E é nesta natureza, ordenada, que nos sentimos seguros. O perigo está cercado, a ameaça controlada.

No entanto, esta ordenação não é a natureza, pois esta é desordenada por princípio e segue suas próprias regras. A natureza tem leis que não são as nossas, criadas a partir da observação dos fatos. A natureza segue seu ritmo e rumo independente de nossa vontade e este é um dos fatores de nossa infelicidade, conforme observou Freud. (Freud, 1926) a impossibilidade de domínio absoluto sobre a ordem das coisas torna o homem infeliz, quando pensa estar esta sua felicidade no controle da vida. Mas este controle é uma ilusão como é ilusão a ordenação total.

A própria ordem cria sua desordem interna numa metáfora do funcionamento psíquico consciente- não consciente. A cidade, tão organizada na sua concepção retilínea, cria bolsões desordenados, onde se instalam espaços de liberdade. São os terrenos baldios onde a vida selvagem toma conta, são os campos de futebol onde a criança pode exercer criatividade, são lugares consentidos de depósito do lixo urbano, é onde vivem os sem teto, são os lugares de violência, de desordem, de selvageria, designação própria do que é natural.

A natureza conservada no parque da cidade também é uma ilusão na medida em que se torna um fetiche da natureza real. O parque é “vendido” como “natureza”, com canteiros recortados, árvores nativas conservadas e outras plantadas, animais soltos e pássaros voando. No entanto, nada aqui é selvagem. Não há predadores, não há competição. O parque é uma criação, uma ordenação desde a fixação dos seus limites até quais plantas podem nele viver. E é nesta ordenação que nos vemos refletidos. A natureza passa a ser nosso reflexo e é assim que nela nos sentimos seguros. Aquela outra, a intocada, a natural, é selvagem demais para que possamos admirá-la. Exemplo disto pode-se extrair dos depoimentos obtidos ao final deste trabalho. É nesta natureza, a do parque, que as pessoas se sentem felizes, seguras, podem caminhar, fazer novos amigos, contemplar e, acima de tudo, dizer que “estão em meio à natureza”. Eis como se toma a parte pelo todo, definição do fetiche. A parte que não é o todo, mas mero símbolo da grandiosidade e da magnitude do que é o mundo natural, nos satisfaz como representante pobre, pasteurizado, no engodo de que a felicidade está ali no parque, ao dobrar a esquina da cidade. É uma natureza idealizada, e a sua idealização passa necessariamente pela sua ordenação.

Na sua prodigalidade, a natureza ainda assim nos retribui ao se ver preservada em parques e jardins, e floresce e viceja. Nossa necessidade deste contato, de sentirmo-nos parte integrante do mundo e da vida nos leva aos parques para partilhar este contato. A idéia da vastidão do lugar aberto é assustadora e desafiante. Os limites a que estamos habituados e nossa necessidade de continente nos trazem de volta. Somos seres feitos para viver em ambientes internos, com limites definidos e conhecidos. Mas também somos seres sociais que partilham vivências e experiências, que necessitam do outro

Page 6: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 6

para a sua própria completude, embora o outro seja o seu inferno (Sartre, 1940). E a convivência nos parques, onde as defesas podem alçar vôo e permitir uma sensação de liberdade, ilusoriamente são mais intensas.

Barcelona, Catalunya, Espanha

Com o fim da Guerra Civil Espanhola, de 1936, Barcelona sofreu uma forte ruptura com seu passado mais imediato, representado pelas ambições e as ilusões que haviam rodeado à República de 1931. A vida cotidiana da cidade prosseguiu durante os primeiros anos do pós-guerra, entre os racionamentos, cinemas populares e festas de rua, para preencher os longos anos de penúria e repressão da nova ditadura.

Durante a década de 50, a Barcelona rodeada de barracos e bairros periféricos, viu como a diversificação industrial punha em marcha novos complexos, e como a televisão começava a invadir ruas e casas, respectivamente, enquanto os grandes acontecimentos da década se mantinham sintetizados na greve de tranvias (bondes elétricos) de 1951 e no Congresso eucarístico do ano seguinte.

Apesar de tudo, a cidade se estendia para definir uma área metropolitana que abraçava Barcelona e 26 municípios vizinhos. Uma metrópole com um centro que se degradava, alguns bairros residenciais e comerciais, e uma periferia crescente que dava passo a grandes polígonos como Bellvitge, Sant Idelfons, La Guineueta, El Bon Pastor ou Les Cases del Congrés. Era a Barcelona que começava a protestar e que ia engolindo as novas ondas de imigrantes de maneira caótica e monumental.

Parque de Canyelles em Barcelona

Canyelles é o último polígono de moradias construído no distrito de Nou Barris. A data de 1974 faz com que não seja casualidade que sua construção, realizada precisamente um ano antes da morte de Franco, encerrasse um período caracterizado pelo desenvolvimento e a especulação selvagem.

Sua localização, em plena montanha Collserola, e as características de sua urbanização, com blocos de apartamentos enormes e uma carência quase total de infra-estruturas e serviços ao princípio, o convertem em um exemplo perfeito do urbanismo especulativo

Page 7: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 7

do franquismo. Hoje em dia, não obstante, Canyelles se converteu em um dos bairros com maior projeção de futuro do distrito, graças às obras de infra-estrutura urbana que se seguiram às múltiplas intervenções urbanísticas, a fim de converter o bairro em um expoente digno da cidade de Barcelona.

Iniciado em 1974 pelo Patronat Municipal de L´Habitatge, o polígono ocupou una zona de 24 ha com dificuldades topográficas na Sierra de Collserola. As 2600 habitações construídas deram moradia aos barraquistas do núcleo da Guineueta Vella, que ocupavam os terrenos do centro do polígono. Os vizinhos reivindicaram converter o novo espaço vazio (dos barracos) em zona verde para o bairro. A pressão vicinal conseguiu que fosse aceita a proposta e se rejeitasse a idéia inicial de construir um novo grupo de vivendas de baixa densidade.

A zona verde e de equipamentos funciona como um passeio central, e permite alojar feiras e outras atividades frequentes no bairro de Canyelles. Deu-se especial ênfase no tratamento do relevo e da vegetação, em respeitar tanto os desníveis naturais do terreno quanto a aqueles gerados por extrações de terra anteriores à construção do parque. A turfa e as diferentes plantas se combinam sobre as grandes superfícies verdes que aparecem entre os caminhos interiores do parque e que facilitam a conexão com as ruas do bairro.

A associação de vizinhos e da municipalidade chegaram a um acordo sobre o futuro do novo espaço. Aproveitando sua centralidade em relação ao polígono, na ordenação do parque se incluiu um conjunto de equipamentos: estacionamento subterrâneo de 400 lugares para os vizinhos, creche, igreja, e um centro municipal de manutenção. Ademais, a zona verde contribuiria para melhorar a comunicação entre os extremos do bairro, prejudicada até então pela própria configuração do

terreno.

Mas de 20 anos depois do início de sua construção, o polígono Canyelles goza de um espaço público de qualidade, e que foi resultado, em boa parte, da reivindicação da comunidade local. O parque cumpre perfeitamente as funções previstas no projeto de ser por sua vez, um parque para estar e passear, e ser a praça central do bairro, um lugar de encontro e relacionamento. Se propõe ainda, como futuro objetivo que aproveitando sua privilegiada situação, sirva de conexão entre o parque de La Guineueta e o parque de Collserola.

Page 8: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 8

O Parque de Canyelles - Objetivos

O Bairro de Canyelles foi o último grande polígono construído de Barcelona, entre os anos de 1973 e 1978, só comparável às operações de vivendas massificadas da “ Obra Sindical del Hogar” da época franquista.

O polígono Canyelles se iniciou com a construção de edifícios residenciais em torno do antigo bairro da La Guineueta, que mais tarde se desapropriaria e seus moradores se re-alojariam nos novos blocos. Em fases posteriores, e uma vez demolidas as casas, estava prevista a construção de novos blocos e alguns equipamentos. Esta situação se manteve até 1982.

A construção por fases e a demolição do antigo bairro fez possível, graças às reivindicações dos moradores e ao novo contexto político, com o Ayuntamiento democrático, que seus habitantes conquistasse o grande espaço que havia ficado vazio, para fazer um parque, evitando assim a construção de mais blocos de edifícios em um bairro já demasiado denso: 18.000 habitantes em 20 ha, o que equivale a uma densidade de (952 hab/10.000 m²), ou quase um habitante a cada 10 m². O Ayuntamiento democrático , depois de uma proposta de construção de vivendas de baixa densidade, iniciou em 1987, um processo de recondução do polígono de Canyelles, de acordo com as reivindicações vicinais, aceitando retirar qualquer proposta de contrução de mais casas e destinando os 40.000 m² livres a parque e equipamentos.

O investimento municipal começou em 1987 com a construção do mercado junto à Via Favència e a urbanização da Calle Miguel Hernández frente a uma quadra de 240 m de comprimento e 10 edifícios. No mesmo ano negociaram a localização do novo Centro de Manutenção Municipal, em frente à Via Favència que substituiria ao que existia na Via Icaria, transladado à raiz da construção da Vila Olímpica. A permissão de construção desse edifício levou ao compromisso político de construir o parque, as bases e o programa do qual já se estabeleceram então um anteprojeto que incluía dois equipamentos mais: a creche e a igreja, já prevista no plano do polígono. Durante o início do projeto e por demanda dos moradores , em 1988 se decidiu construir um estacionamento no subsolo do parque.

Todo esse longo processo reivindicativo defendeu o direito de viver na cidade e não na desurbanização que havia caracterizado aos polígonos daquela época fez possível a existência do parque de Canyelles e recuperou o que já deveria existir muito tempo antes e que os promotores do empreendimento se esqueceram no momento da construção!

Valorização de Resultados

O Bairro de Canyelles mantém a mesma densidade elevada de há 15 anos atrás, os blocos de edifícios são os mesmos, mais ou menos bonitos ou completamente feios, mas tudo mudou! Seguramente existe uma ilusão e um certo orgulho de seus moradores por viver em Canyelles.

Certamente são os mesmos habitantes e mesmos metros quadrados de superfície, mas agora esses 40.000 m² de parque, já não são um terreno ermo, senão um espaço melhor para se viver.

Page 9: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 9

Os blocos são os mesmos, mas é evidente que a cara do denominado polígono é outra. O espaço público ganho não é algo à margem das vivendas, pois se conseguiu que seja, em muitos sentidos, um prolongamento das moradias. Atualmente muito apartamentos foram reformados em um efeito claro de “contágio” e também por sua revalorização, devida à melhora da qualidade de vida.

Este efeito de equilíbrio entre o público e o privado é conseqüência do melhor relacionamento entre os investimentos da iniciativa privada que, a curto prazo se seguem aos investimentos públicos no espaço urbano. Em Barcelona está comprovado, mas em Canyelles este fato é duplamente evidente, depois de tantos anos de espera.

Tipologia da Intervenção: Parque urbano – Espaço público em polígonos

Data das Obras: 1990-1995

Autores do Projeto: Cinto Hom, Carles Casamor

Colaboradores: Santiago Gassó

Direção da Obra: Direção de Projetos e Obras / Ayuntamiento de Barcelona

Promotor: Ayuntamiento de Barcelona

Superfície: 57.286 m²

Simbolismo do espaço, participação e apropriação a partir do exemplo do Parque de Canyelles

Muitas vezes se pressupôs uma maior participação para uma melhor conservação do entorno (Brower, 1980). Em alguns casos, se tratou de estimular uma certa participação “domesticada”, instrumentalizada , a partir dos meios de poder, sem muito sucesso. No entanto, a participação “real” e profunda, aquela que parte da ação social, pode mostrar excelentes resultados. Com base em alguns estudos realizados com métodos observacionais e entrevistas com membros da comunidade de Canyelles, organizações vicinais e alguns responsáveis pela administração municipal foi possível identificar alguns resultados.

Se tratava de um bairro marginal, humilde, de baixo nível cultural, maioritariamente de imigração e castigado pela falta de infra-estrutura. Aos finais dos anos setenta, começo dos oitenta, quando a população começou a enraizar-se e vertebrar-se suficientemente no tecido social, se registrou essa forte reivindicação vicinal de espaços verdes, parques, praças, infra-estrutura enfim. Por essa pressão da comunidade local, aquela área, inicialmente destinada á construção de mais vivendas, desta vez de baixa densidade, foi transformada em um agradável parque, para o qual os vizinhos colaboraram decididamente nas tomadas de decisões sobre o desenho e sua manutenção.

Tradicionalmente se atribui às classes baixas certa incapacidade de manter o bom estado de seus espaços públicos. De fato, a maioria dos bairros humildes apresentam um aspecto lamentável. No caso de Canyelles, depois de mais de 10 anos, o estado de conservação do parque é excelente, em grande medida facilitado por um forte nível de controle social e de proteção daquilo que consideram seu.

Não muito longe de Canyelles, há mais ou menos uns 8 ou 9 anos atrás, no bairro de La Capa, sem descontinuidade social em relação ao primeiro bairro, se construiu uma nova

Page 10: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 10

quadra inteira , acondicionando-se em seu interior um espaço público. Além de vivendas sociais, compreende uma casa assistida para a terceira idade e alguns serviços sociais municipais. Seu desenho foi concebido pelos arquitetos como uma praça “ dura”, dominada pelo cimento mais que pela vegetação, sem nenhuma participação dos potenciais usuários. Obviamente, os futuros usuários das novas casas não estavam no lugar, mas sim os da vizinhança, que foram os primeiros a utilizar esse espaço público. No momento da abertura, o espaço já estava totalmente vandalizado. A vegetação desapareceu por completo e os sub-espaços formados por elementos construtivos “duros” foram preenchidos de grafites e outras porcarias, ou se arrancaram as lajotas e corrimãos... (Pol, 1987).

Como se explica este comportamento tão distinto de uma mesma população? Sem dúvida, a estrutura física, o tipo, a qualidade do desenho e a construção têm algo que ver, mas não é o suficiente para explicá-lo. No caso de Canyelles um espaço público altamente apropriado, La Capa não. Em Canyelles se deu um elevado nível de ação-transformação que se originou de uma forte identificação com o espaço por parte dos membros daquela comunidade, en La Capa não. Provavelmente se dê com o tempo, quando tenham passado duas ou três gerações e o tecido social o tenha integrado em seu espaço simbólico, como próprio, como ocorreu em outros bairros operários de Barcelona e de tantas outras cidades. A conclusão aqui, foi o fator chave do comportamento, totalmente distinto em relação aos dois casos, que estava nos processos de participação que haviam potencializado a apropriação do espaço de Canyelles, transformando-se em um elemento emblemático das possibilidades de sucesso, quando se dá uma ação coletiva bem orientada, ou seja, uma construção social do simbolismo do espaço.

Curitiba, Paraná, Brasil

Curitiba é vista como a capital ecológica do Brasil por seu comprometimento e consciência ambiental e um desenvolvimento urbano sustentável. O êxito de Curitiba e seu reconhecimento internacional por seu modelo urbanístico não teria sido possível sem o legado de uma forte liderança urbana e a presença de um plano inovador que é seguido e modernizado ao longo de aproximadamente 40 anos. Trata-se de uma cidade que soube balancear preservação ambiental com desenvolvimento econômico e social, cujo sucesso ambiental atraiu negócios e indústrias do mundo todo.

Os esforços dessa cidade sul-brasileira tiveram sua merecida repercussão, apesar de que se reconhece o caráter vago e pouco operativo do conceito de desenvolvimento sustentável, processo cujo fim é a

Page 11: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 11

sustentabilidade, e sua importância radica em que, à parte de considerar os direitos dos ainda não nascidos, tem um potencial integrador de problemas antes analisados em separado, tais como as mudanças climáticas globais, a superpopulação, o desflorestamento, o efeito estufa, a desertificação, as necessidades básicas para existência humana, a pobreza do terceiro mundo, o consumo per-capita e a produção massiva dos países mais industrializados.

Curitiba - A Identidade que se faz urbana

O tema identidade urbana remete aos outros desde diferentes níveis. Nos anos 20, Cooley (1922), consciente de que a identidade se constrói na interação mútua com outras pessoas, a descreve como um self (si mesmo) especular, o qual, visto em termos de ecologia simbólica de Hunter (1987), equivale a dizer que a identidade desde um nível comunitário é construída na interação com os de fora, para constituir comunidades simbólicas. Todas as pessoas participam de uma rede de relações sociais, sejam espacialmente próximas ou distantes. Desde essa perspectiva coletiva, as mesmas elaboram uma concepção de si (self), como estabeleceu Mead (1934).

A partir desses conceitos, pode-se concluir que Curitiba teve êxito em seu comprometimento ecológico e sustentável, bem como na construção de uma identidade social . Seu inegável reconhecimento nos âmbitos regionais, nacionais e internacionais produziu em sua população, esteja ela próxima ou afastada das áreas premiadas com as melhores intervenções, aquilo que chamamos no início, de orgulho urbano.

Duas instituições foram fundamentais para o êxito de Curitiba – o IPPUC, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba e a Universidade Livre do Meio Ambiente. Mas muito mais forte , mais importante que instituições governamentais, foi imprescindível e se fez presente, a vontade e força políticas, o respaldo de sua comunidade o desejo pelas iniciativas visionárias e corajosas. Trata-se de uma população que já se habituou pelo inventivo, pelo criativo e inovador. Tem sede disso...

Curitiba está atualmente desenvolvendo um plano metropolitano estratégico buscando transformá-la em um centro mundial de Eco-Tecnologia.

Sistema Urbano de Parques

Composto por 12 parques com uma área total maior que 18 milhões de metros quadrados, 12 florestas totalizando 589,15 metros quadrados e mais de 600 jardins públicos, o sistema de parques e jardins urbanos de Curitiba é um dos melhores exemplos de excelência ambiental urbana (Cities Hub 2002).

Iniciado em 1973, sob a administração do então prefeito / arquiteto Jaime Lerner, o projeto de parques urbanos foi lançado a fim de proteger as riquezas naturais da cidade e preservar esse patrimônio dos projetos de urbanização massiva que freqüentemente acompanham os grandes incrementos populacionais.

O visionário paisagista Burle Marx, sabiamente recomendou que Curitiba deveria esforçar-se a superar, não unicamente a taxa brasileira de 20 m2 de área verde por habitante, mas superar inclusive a taxa internacional recomendada. Por volta de 1975, a cidade tinha cerca de 38 m2 de área verde por habitante, o que casava com a

Page 12: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 12

necessidade de determinar áreas lineares de parque em cada lado dos principais rios de Curitiba a fim de protegê-los. Hoje em dia, o excepcional sistema de parques urbanos de Curitiba oferece mais de 50 m2 de área verde por habitante. As múltiplas funções desse sistema incluem proteção das regiões aqüíferas e flora e fauna nativas, criação de meios naturais de controle de inundações, provê eco-turismo e instalações de educação ambiental, mais que oferecer a seus habitantes uma extraordinária qualidade de vida.

Parque Barigui- o primeiro de uma seqüência

No idioma dos índios que habitavam a região antes mesmo da fundação de Curitiba, Barigüi significava "Rio do Fruto Espinhoso”. Hoje, com 1,4 milhão de metros quadrados de área, é um dos maiores parques da cidade e, seguramente, o mais freqüentado. A antiga "sesmaria" pertencente ao desbravador Mateus Martins Leme foi transformada em parque em 1972. Não são apenas os moradores da cidade e os turistas que procuram descanso no parque. Nos três bosques constituídos por capão de floresta primária nativa e por florestas secundárias, procuram refúgio preás, socós, garças brancas, gambás, tico-ticos, sabiás e dezenas de outros animais nativos que fazem do Barigüi a sua morada.

Simbolismo do espaço, participação e apropriação a partir do exemplo do Parque Barigui

Através das imagens da época do início da implantação do Parque Barigui, onde vislumbramos a ocupação de entorno do lago, naquele momento em execução, comparando-as com as imagens atuais da região totalmente já ocupada, e o padrão econômico dessa ocupação já podemos avaliar os efeitos das intervenções ali realizadas.

Alguns descendentes de antigos proprietários contam seus “causos” memoráveis. Um deles, o “ seu” Foltran, dono de uma boa parcela de terreno de frente para o que é hoje o lago, trocou uma parte dessa área, equivalente a uns 600m2 , por uma simples geladeira! Hoje, essa mesma parcela de terra , naquele mesmo ponto do lago, teria de ser trocada por algo em torno de 200.000 geladeiras! Essa mesma valorização, contada aqui a título de ilustração, em moeda de geladeiras, ocorreu não somente ao redor do lago – como pode ser visto pelas imagens – e contagiou as áreas e bairros vizinhos. O bairro que hoje é chamado elegantemente de Ecoville (Campina do Siqueira), previa no código de zoneamento urbano, área para habitações populares. Alguns especuladores compraram grandes parcelas de terra e as guardaram. Em negociações posteriores com a prefeitura conseguiram algumas alterações na lei de zoneamento, que abriu um precedente nas taxas de ocupação – mesmo assim com pouca densidade – nascendo assim o bairro ecológico, com edifícios de classe alta e média alta, inseridos em terrenos de grandes extensões, com vista privilegiada para toda a cidade. Do parque deriva o hipermercado, que influencia o novo bairro Ecoville, do novo bairro deriva o novo shopping center, o maior e mais moderno da cidade, e assim por diante...

Page 13: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 13

Aqueles depoimentos tomados por Simone demonstram que o "estar junto" dos grupos/indivíduos em territórios de significação nas cidades pode favorecer a vida coletiva e os laços de sociabilidade. Por conseqüência este "estar junto" pode oportunizar, além de um cotidiano mais significativo, também, uma espécie de mapeamento simbólico do movimento da vida, o qual conduz os sujeitos a refletir sobre a complexidade do dia-a-dia de forma mais leve, isto é, por intermédio de trocas sociais amistosas através do exercício de práticas de interação articuladas especialmente em torno das relações de amizade. Os processos de práticas sociais interativas e associativas que se apresentam no Parque Barigüi, as quais são carregadas de significação, configuram-se em lugares propícios para o enraizamento de experiências comunitárias e para reordenação de um viver coletivo qualitativo nas cidades. (Rechia, 2003.)

A história por trás das estórias- uma ‘receita’ de intervenção urbana

Eram tempos de ditadura militar. Ney Amintas de Barros Braga, então governador e militar, nomeia o jovem arquiteto Jaime Lerner como prefeito de Curitiba. Jaime tem então, uma boa retaguarda diretamente ligada ao poder máximo em Brasília e pode “experimentar”. Tinha como aliados e parceiros um grupo de jovens talentos, entre eles – incluindo o próprio - alguns que haviam estudado engenharia em Curitiba e partido a Paris, berço do iluminismo, da luz, das grandes experiências urbanísticas que haviam influenciado toda a Europa (Barão Haussmann) para complementar seus estudos em arquitetura.

O governo Geisel disponibilizou uma grande soma de dinheiro para investimentos exclusivos em saneamento. A solução usual e corrente era a de “encamizar” os rios, colocar uma cobertura em concreto e resolvia-se o problema. A iniciativa desse grupo de jovens “revolucionários” , influenciados pela vivência européia, foi bastante diferente desse usual e as suas intenções também. Aqui o que se detecta claramente é que o que buscavam não era a solução de problemas mas a invenção de soluções!

Page 14: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 14

O argumento frente ao governo federal foi o de que se estaria realizando uma obra de saneamento para conter as enchentes que se refletiam no centro da cidade. Essa seria a “roupa” com a qual vestiriam suas idéias, porque assim tinha que ser. Desde o princípio sabiam o quê pretendiam e onde queriam chegar – o Sistema Urbano de Parques. Nicolau Klupel (conhecido ainda hoje como Nicolago) teve a idéia de formatar um lago ao redor do qual aconteceria o parque. Em

1972 começam as obras e o lago e o parque se configuram.

A então esposa do Presidente Geisel, numa visita a Curitiba, passaria pelo recém constituído Parque Barigui, a fim de verificar a “apropriação do povo” em relação ao parque, fato que justificaria o volume dos investimentos. Acontece que a Curitiba então profundamente provinciana não compreendia e não havia se apropriado daquilo que chamavam de parque. Um dos arquitetos que participaram do plano, a pedido do prefeito, desesperadamente produziu então 10 caiaques – uma novidade completa – juntou 10 grandes amigos e convocou-os a instalarem-se remando no novo lago, todo um dia , a fim que a esposa do presidente, quando por ali passasse, “casualmente” pudesse verificar que o “povo” já havia se apropriado da nova criação , realizada em seu benefício, justificando assim tamanho investimento. Mas a ilustre senhora não passou, e os 10 grandes amigos do jovem arquiteto conseguiram uma bela insolação e dores por todo o corpo por remar um dia inteiro.

Para aquela Curitiba provinciana, parque significava roda gigante, chapéu mexicano e quem sabe, pedalinhos...Não compreendia uma porção de terra cercada de “natureza” – já que natureza ainda era abundante. Para quê? O curitibano era o típico time que jogava na retranca, aquele que só se defende, aquele que não marca gol, desconfia de tudo. Aqui começa a construção gradativa daquilo que chamamos significados. Haviam construído uma pista estreita e asfaltada ao redor do lago, que chamavam “ciclovia”. Porquê? Curitiba não tinha o hábito de utilizar a bicicleta para fins de lazer, a não ser as crianças, que ganhavam suas bicicletas no Natal, e que era apenas um símbolo de prêmio a seu bom comportamento. Mas agora havia um grande número de crianças vivendo em apartamentos e que não tinham onde fazer uso de seus novos brinquedos, já que as ruas se tornaram perigosas. As crianças seriam então levadas pelos pais, e daí por diante. A estratégia de marketing – que não é aqui nada mais que um instrumento criador de novos significados – começa por aí: a ciclovia. Mas o número de pais e filhos com suas bicicletas não eram suficientes para justificar a criação de um parque com tão grandes dimensões. Seria necessário buscar novos significados.

As soluções em geral estão debaixo do nariz, ou são aquilo que chamamos de óbvio – ninguém costuma acreditar no óbvio – as pessoas estão habituadas a fazer e não a

Page 15: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 15

absorver, a realizar e não a observar. Resolver problemas é algo que parte de uma atividade cerebral, de um lado do cérebro apenas. A percepção não ocorre necessariamente no cérebro. O cérebro interpreta a percepção e então sim, pode dar dimensão, pode criar ferramentas. Aquele pequeno grupo de pensadores havia caminhado bastante à frente do que o curitibano provinciano era capaz de compreender. Quando a massa está muito longe da compreensão daquilo que os visionários conseguem ver, ela acredita na existência de um abismo entre ela e o objeto criado. A massa tem medo de cruzar o abismo imaginário e paralisa. É preciso construir pontes virtuais, com elementos identificáveis, a título de induzi-la a aproximar-se. Essa é uma das principais razões do insucesso de muitas intervenções urbanas– a falta de observação, a incapacidade de fabricar essas pontes, ou os mecanismos através dos quais se poderá entender a proposta! Essas pontes são as fábulas, as parábolas, as analogias.

A partir da ciclovia foram criadas novas pontes, novos significados: a lanchonete, que começou como local de aulas de grupos de estudantes de arquitetura, que passaram a levar suas namoradas/os, seus grupos de amigos de bairro, a cerveja no domingo. A roda gigante lá está até hoje, ao lado do chapéu mexicano e dos cisnes-pedalinhos, ainda objetos significativos de “parque” para boa parte da população. Mas ainda era pouca a ocupação para justificar uma área tão grande – negócios – era necessário trazer negócios. Surgiu mais um visionário que acreditou naquilo e construiu um centro de exposições com soluções arquitetônicas que hoje podem parecer precárias, mas que na época era o que havia de mais moderno para grandes vãos cobertos, o que exigia um centro de exposições. Churrasqueiras espalhadas por toda a área de bosques trariam as famílias dos apartamentos para seu momento “ar livre” de fim de semana. E aí , um famoso senhor chamado “Cooper” e seu filho aparecem no mundo e em Curitiba, afirmando que correr é o melhor remédio para a manutenção da saúde e o prolongamento da vida (mais tarde afirmará que saudável não é correr e sim caminhar – porque ele mesmo estará mais velho). Correr na cidade em meio aos carros e seus gases poluentes não é saudável. Agora correr 3,3km ao redor de um lago passa a fazer todo o sentido. Criação de novos significados – significados fabricados, pontes virtuais em direção à inovação – marketing.

O marketing aqui não é apresentado como uma personagem má, que manipula o indivíduo a fazer aquilo que ele não quer e não precisa. Ao contrário, a necessidade existe, o que não existe é a compreensão da solução encontrada para uma demanda real e não identificada. Fica bastante claro e confirmado, inclusive com o histórico deste empreendimento - o parque Barigui - que o quê realmente importa não é o objeto, mas seu significado. Possuir um objeto e não atribuir a ele significado não lhe atribui nenhum valor. E é o significado que constrói aquilo que chamamos de identidade social, e, neste caso particular, de orgulho urbano. (1)

O parque , enquanto símbolo, pode ser comparado a um templo. Um espaço sagrado no qual o indivíduo vai tratar de outro espaço, seu templo interior. Enquanto ele está caminhando ou correndo, está varrendo seu templo. É também como um campo de experimentação química, uma usina de componentes tais como a endorfina, entre outros.

Algumas Considerações

Page 16: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 16

Temos aqui então dois exemplos de sucesso – Canyelles, construído a partir do desejo de uma comunidade que já tinha uma idéia prévia de seus significados e que soube mantê-los; o Parque Barigui, construído a partir da visão de um grupo privilegiado em termos de visão de mundo, onde os significados tiveram que ser fabricados pouco à pouco. Temos também um pequeno exemplo de insucesso – La Capa - um espaço público criado e imposto sem a preocupação da criação de significados. É possível que se possa pensar então, que temos uma receita, temos também modos de preparo para cada receita, e que seria simples partir a propor e executar empreendimentos semelhantes em diferentes comunidades, e que, certamente teriam êxito. Não necessariamente!

Para quase tudo que necessita parar em pé, dois pés não são suficientes. É necessário no mínimo, um tripé. Tal qual o tripé tese-hipótese-antítese, onde não é suficiente construir uma boa tese, formular daí uma hipótese aceitável, se não houver a antítese a tentar destruí-la e verificar o que sobra – aquilo que realmente será útil. Assim é, do mesmo modo, necessário proceder em relação às intervenções urbanas, e à criação de espaços públicos: a receita, o modo de preparo e as analogias, que nada mais são que a invenção dos significados. É necessário criar estímulos formais de identificação. Aqueles que possuem a capacidade de enxergar muito à frente , têm a obrigação de olhar para trás e observar, usar de toda sua habilidade na construção de suas pontes. E é graças a uma pequena porção de visionários, às vezes considerados loucos ou oportunistas, que grandes idéias se fazem realidade. Aquele que é sábio não somente na criação de projetos fantásticos, mas também na elaboração dos seus significados, constrói a história e junto com ela uma porção de estórias. (2)

Entrevistas

"Olha, nosso grupo é composto por sete pessoas. Nós fizemos amizade dentro do parque caminhando, depois resolvemos freqüentar a academia da prefeitura aqui do parque[...] Faz 15 anos que nós mantemos nossos laços de amizade. A gente faz jantares, confraternizações de final de ano, festa junina, tudo aqui no espaço do parque. Nossas festas são realizadas ali nas churrasqueiras do bosque. Este aqui é o nosso espaço; nós cuidamos, ajudamos a manter e usufruímos." (Carmim, 48 anos, funcionária pública). "Nos somos reconhecidas aqui como as "parqueiras". Somos em cinco. A gente vem para cá para conversar. Caminhamos, paramos, tomamos água de coco, falamos do marido, da empregada, de política, do trabalho, trocamos receitas, fofocamos, enfim este é nosso ponto de encontro diário, depois vamos para casa com a cabeça bem descansada." (Neuci, dona-de-casa, faz parte de um grupo de senhoras que freqüentam o parque há 10 anos).

"Nosso grupo de caminhada aqui do parque foi se formando espontaneamente. Éramos em duas, eu e minha vizinha, depois fomos encontrando outras vizinhas aqui no parque, e nos juntando, hoje somos em seis. Considero a caminhada um pretexto para nos encontrarmos. Esse grupo é mesmo um "grupo de terapia". Quanto alguém está com um problema, deixamos a pessoa falar, extravasar, simplesmente ouvimos. Ás vezes todo mundo dá opinião ou relata um caso pessoal semelhante o que de certa forma diminui o tamanho do problema. A gente troca muito durante a caminhada, alegrias e tristezas." (Zélia, professora aposentada).

Page 17: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 17

"Eu e minha amiga estamos aqui no parque quase todos os dias. Gosto de vir com ela porque além de colocarmos todas as conversas em dia, falamos um pouco sobre a vida, desabafamos, é muito legal ter um ombro amigo para chorar as mágoas ou comemorar as vitórias. Somos amigas há anos e o tempo que encontramos para conversar e manter nossos laços de amizade foi através da caminhada. A gente une o útil ao agradável. Ao mesmo tempo em que fazemos uma atividade física, conversamos e curtimos a natureza." (Sandra, 45 anos, funcionária pública). "Tenho 70 anos, e na minha idade é difícil encontrar alguém com tempo para conversar. Então venho pro parque, por que sei que aqui vou encontrar meus amigos que assim como eu tem tempo livre durante o dia para caminhar. Vou caminhando e encontrando as pessoas durante a caminhada, sempre bato um papinho, dou uma paradinha, um tchauzinho, ou simplesmente um oi. Sinto-me bem aqui porque as pessoas se reconhecem e se tornam amigas. Sento aqui no banco e passo horas contemplando a natureza, conversando com as pessoas, acho este parque a uma maravilha porque além disso, posso respirar um ar um pouco mais puro e fazer alguns alongamentos." (José, militar aposentado). (Parques públicos de Curitiba: a relação cidade-natureza nas experiências de lazer/ Simone Rechia. - Campinas, SP: [s.n.], 2003.)

Notas

(1) Eduardo Lozano, phd – Arquiteto e Urbanista, professor das Universidades de Harvard e Princetown, conselheiro do Departamento de Estado Norte Americano, do Banco Mundial e do Bid, em conferência ‘ Una estrategia para Buenos Aires’, Buenos Aires, 1998.

(2) Muitas das informações foram fornecidas aqui, por Fernando Canalli, arquiteto do IPPUC por muitos anos, e membro das equipes fomentadoras das principais idéias para Curitiba, tanto de Jaime Lerner, como de Rafael Greca e Cássio Taniguchi, ex-prefeitos de Curitiba.

Bibliografia

Arturo Soria Y Puig, El seguinte paso. artigo para a revista Espai Public Urbá, Institut d´Edicions, Disputació de Barcelona),1999

Brower, S. Territory in Urban Settings. In Altman et al. (eds.), Human Behavior in the Environment: Advances in Theory and Research. NewYork: Plenum, 1980 v. 4.

CITIES HUB 2002, Proyecto Cities, Fundacion Metropoli, Madrid, Spain, 2002..

Cooley, C. H.. Human nature and social order (Rev. ed.). New York: Scribners, 1922.

Espuche, A G. La Reconquesta D´Europa: Espai Públic Urbá. Barcelona: Institut d’Édicions, 1999

Freud, S. O Mal Estar na Civilização. Coleção Standard das Obras

Page 18: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E NATUREZA: OS … · O espaço público apareceu e foi criado para ser o lugar da assembléia, do mercado, da festa, da justiça, do teatro, do trabalho,

PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 05, dezembro 2007 18

Hunter, A.. The symbolic ecology of suburbia. In I. Altman & A. Wandersman (Eds.), Neighborhood and community environments, human behavior and environment, 1987, v. 9.

Klein, M. Amor, Culpa e Reparação. Editora Imago, Rio de Janeiro, RJ, Edição de 1996.

Le Goff, J. Por amor às cidades: conversações com Jean Lebrun. São Paulo: Editora da Unesp, 1998.

Mead, G.H. (1990). Espíritu, persona y sociedad. México: Paidós, 1990 (Edición original en inglés 1934).

Pol, E. Espais simbòlics a priori i a posteriori. Conferencia en el Colegio Oficial de Arquitectos de Cataluña, 1987.Freud, Sigmund. Inhibition, symptôme et angoisse, Presses Universitaires de France - PUF (1 décembre 1999- rep. 1926)

Proshansky, H. M., Fabian, A. K., & Kaminoff, R.. Place identity: Physical world socialization of the self. Journal of Environmental Psychology,1983.

Rechia, S.. Parques públicos de Curitiba: a relação cidade-natureza nas experiências de lazer. Campinas, [s.n.], 2003.

Sartre, J.P. O Ser e o Nada. 1938. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, RJ, 1991.

Tajfel, H. . Psicología social y proceso social. En J.R. Torregrosa y B. Sarabia (Dirs.). Perspectivas y contextos de la psicología social. Barcelona: Hispano Europea, 1983

Valera, S. The concept of Urban Social Identity: an approach between Social Psychology and Environmental Psychology, tese doutoral não publicada, Universidad de Barcelona, 1993

Nota dos Editores

Os artigos publicados em PAISAGENS EM DEBATE não refletem opinião ou concordância dos professores da FAU nem da equipe editorial da revista, sendo o conteúdo e a veracidade dos artigos de inteira e exclusiva responsabilidade de seus autores, inclusive quanto aos direitos autorais de terceiros.

Os autores ao submeterem os artigos a PAISAGENS EM DEBATE consentem no direito de uso e publicação dos mesmos por meios eletrônicos e outros pela Área de Paisagem e Ambiente (eventualmente em parcerias com terceiros), com finalidades acadêmicas, de debate e divulgação de informação. Ou seja, os artigos publicados passam a fazer parte do acervo da Área.