Ocupação No Setor Público Brasileiro IPEA

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    N 110

    Ocupao no Setor Pblico Brasileiro:

    tendncias recentes e questes em aberto

    08 de setembro de 2011

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    Comunicados do Ipea

    Os Comunicados do Ipea tm por objetivoantecipar estudos e pesquisas mais amplasconduzidas pelo Instituto de PesquisaEconmica Aplicada, com uma

    comunicao sinttica e objetiva e sem apretenso de encerrar o debate sobre ostemas que aborda, mas motiv-lo. Em geral,so sucedidos por notas tcnicas, textospara discusso, livros e demais publicaes.

    Os Comunicados so elaborados pelaassessoria tcnica da Presidncia doInstituto e por tcnicos de planejamento epesquisa de todas as diretorias do Ipea.Desde 2007, mais de cem tcnicosparticiparam da produo e divulgao detais documentos, sob os mais variados

    temas. A partir do nmero 40, eles deixamde ser Comunicados da Presidncia epassam a se chamar Comunicados do Ipea.A nova denominao sintetiza todo oprocesso produtivo desses estudos e suainstitucionalizao em todas as diretorias ereas tcnicas do Ipea.

    Governo Federal

    Secretaria de Assuntos Estratgicos daPresidncia da Repblica

    MinistroWellington Moreira Franco

    Fundao pblica vinculada Secretaria deAssuntos Estratgicos da Presidncia daRepblica, o Ipea fornece suporte tcnico einstitucional s aes governamentais possibilitando a formulao de inmeraspolticas pblicas e programas dedesenvolvimento brasileiro e disponibiliza,para a sociedade, pesquisas e estudosrealizados por seus tcnicos.

    PresidenteMarcio Pochmann

    Diretor de Desenvolvimento InstitucionalGeov Parente Farias

    Diretor de Estudos e Relaes Econmicase Polticas Internacionais, substitutoMarcos Antonio Macedo Cintra

    Diretor de Estudos e Polticas do Estado,das Instituies e da DemocraciaAlexandre de vila Gomide

    Diretora de Estudos e Polticas

    MacroeconmicasVanessa Petrelli de Correa

    Diretor de Estudos e Polticas Regionais,Urbanas e AmbientaisFrancisco de Assis Costa

    Diretor de Polticas Setoriais de Inovao,Regulao e Infraestrutura, substitutoCarlos Eduardo Fernandez da Silveira

    Diretor de Estudos e Polticas SociaisJorge Abraho de Castro

    Chefe de GabineteFbio de S e Silva

    Assessor-chefe de Imprensa e ComunicaoDaniel Castro

    URL: http://www.ipea.gov.brOuvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria

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    1. Introduo1

    Este Comunicado tem como objetivo analisar a poltica de revalorizao dos

    servidores pblicos, recomposio de pessoal e de sua remunerao procurando apontar

    os principais desafios dessa poltica para se avanar no processo de reestruturao doEstado e de sua capacidade de operar polticas na sociedade.,2Esta pesquisa Fruto dada

    parceria entre o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea) e a Secretaria de

    Recursos Humanos do Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto (SRH/MPOG),

    em 2008. Para isso, foram reunidas e organizadas informaes que tiveram como fonte:

    os Censos Demogrficos, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNADs), a

    Relao Anual de Informaes Sociais (Rais) e o Sistema Integrado de Administrao

    de Recursos Humanos (Siape).Os resultados deste estudo permitem afirmar que:

    1) O movimento de recomposio de pessoal no setor pblico brasileiro, observado

    durante toda a primeira dcada de 2000, foi importante, porm se mostrou

    apenas suficiente para repor, parcialmente, o mesmo estoque e percentual de

    servidores ativos existentes em meados da dcada de 1990.

    2) Ao longo desse perodo em estudo, houve, uma preocupao em conferir maior

    capacidade burocrtica ao Estado brasileiro, mediante o reforo de carreiras em

    reas estratgicas, tais como: advocacia pblica, arrecadao e finanas, controle

    administrativo, planejamento e regulao.

    Com a retomada dos concursos pblicos, o nmero de servidores civis ativos da

    administrao federal voltou ao patamar de mais de 600 mil que vigia na primeira

    1Colaboraram para este Comunicado Jos Celso Cardoso e Roberto Nogueira, da Diretoria de Estudos doEstado, das Instituies e da democracia (Diest), Luciana Acioly e Andr Calixtre, da Assessoria Tcnicada Presidncia do Ipea (Astep). A finalizao deste documento contou com o apoio da Assessoria deComunicao do Ipea (Ascom).2Ver CARDOSO JR., J. C. (Org.) Burocracia e ocupao no setor pblico brasileiro, volume 5. Braslia:Ipea, 2011 (Srie Dilogos para o Desenvolvimento). Neste comunicado foram atualizados os dados parao ano de 2010. Importante destacar que os Comunicados IPEA de nmeros 19 (Emprego Pblico noBrasil: comparao internacional e evoluo recente, de 30 de maro de 2009) e 37 (Salrios no SetorPblico versus Salrios no Setor Privado no Brasil, de 10 de dezembro de 2009) j trataram, sob outros

    recortes, deste mesmo assunto.

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    metade dos anos 1990, vindo a compensar, portanto, o nmero dos que se aposentaram

    anualmente ao longo dessas duas dcadas (Grfico I). Contudo, o pico de cerca de 680

    mil servidores civis ativos de 1992 ainda no foi alcanado.

    Grfico I - Servidores Civis Ativos da Administrao Federal, 1991-

    2010

    450500

    550

    600

    650

    700

    1991

    1992

    1993

    1994

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    Milhares

    Fonte: Boletim Estatstico de Pessoal, SRH/MPOG. Elaborao Ipea

    O significado da retomada do concurso pblico para crescimento e fortalecimento

    da capacidade de Estado evidenciada no grfico II, que consolida a srie de servidores

    pblicos civis federais admitidos anualmente, a partir dos governos Collor e Itamar.Durante estes ltimos, no houve admisso de servidores por concurso. Entre, 2003 e

    2010, no entanto, 155 mil novos servidores foram admitidos. O nmero de servidores

    ativos em 2010 ainda era menor que no incio da dcada de 1990, entre outros fatores,

    porque houve ao menos trs momentos importantes de corrida aposentadoria que, de

    modo geral, coincidem com perodos que precederam ou acompanharam reformas

    previdencirias: 1991; 1995 a 1998 e 2003.

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    Grfico II - Servidores civis federais: aposentados e admitidos por

    concurso

    05

    10152025303540

    4550

    1991

    1992

    1993

    1994

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    Milh

    ares

    Aposentados Admitidos por concurso pblico

    Fonte: Boletim Estatstico de Pessoal, SRH/MPOG. Elaborao Ipea

    Em 2010, nota-se um prenncio de nova elevao do nmero das aposentadorias,

    que se coloca acima de 10 mil por ano. Isto acontece porque os servidores em condies

    legais de se aposentarem retardam ou antecipam sua solicitao conforme a conjuntura

    lhes parea mais ou menos favorvel aos seus direitos.

    3) Tampouco se deduz dos dados analisados que os gastos com pessoal tenham

    sado do controle do governo federal, pois, em termos percentuais (grfico III),esta rubrica permaneceu praticamente constante ao longo da primeira dcada de

    2000, num contexto de retomada relativa do crescimento econmico e tambm

    da arrecadao tributria.

    Grfico III - Despesas de pessoal como percentual da arrecadao

    0

    10

    20

    30

    4050

    2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009Percentualdareceitato

    tal

    Governo Geral Governo Federal

    Fonte: Tesouro Nacional

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    4) Do ponto de vista qualitativo, a pesquisa indica que este movimento atual de

    recomposio de pessoal no setor pblico deve trazer melhorias gradativas ao

    desempenho institucional, ainda pouco perceptveis em funo do tempo

    insuficiente de maturao deste novo contingente de fora de trabalho a servio

    do Estado, devido a:

    vem sendo selecionado a partir de critrios meritocrticos, por meio de

    concursos pblicos, e mais para atividades-fim, que exigem nvel superior de

    escolarizao, do que para atividades-meio, indicando a possibilidade de

    maiores impactos sobre a produtividade agregada do setor pblico; e

    tem assumido a forma de vinculao estatutria, em detrimento seja do

    padro celetista, seja de vrias formas de contratao irregulares ouprecrias, o que o coloca sob direitos e deveres comuns e estveis, podendo

    com isso gerar maior coeso e homogeneidade no interior da categoria como

    um todo, aspecto este considerado essencial para um desempenho

    satisfatrio do Estado no longo prazo.

    2. Tendncias da ocupao no setor pblico brasileiro

    O marco de referncia analtico para este estudo provm de uma interpretao de

    conjunto das polticas pblicas adotadas no perodo e no s da descrio das polticas

    de administrao de pessoal explicitadas em cada contexto governamental. Com isso, o

    pressuposto adotado que as polticas econmicas e sociais tm maior potencial para

    gerar tendncias e problemas peculiares ocupao do setor pblico do que as polticas

    propriamente administrativas.

    Pode-se afirmar que as tendncias de ocupao so expresses dessas polticaspblicas mais amplas, embora em muitas situaes faltem dados confiveis para se

    chegar a uma concluso definitiva a seu respeito e para se estabelecer qualquer relao

    de causalidade entre um aspecto e outro. Por outro lado, os problemas da ocupao

    pblica devem ser entendidos como geradores de impasses polticos que tampouco

    podem ser resolvidos mediante medidas derivadas unicamente da poltica administrativa

    de gesto de pessoal, visto que tais problemas esto relacionados fundamentalmente ao

    cenrio macroeconmico e s estratgias adotadas para o desenvolvimento do pas.

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    Entre 1995 e 2010, os governos Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Incio

    Lula da Silva estabeleceram polticas de administrao de pessoal cujos efeitos se

    desdobram para alm da ocupao na esfera federal, no s porque algumas dessas

    polticas consubstanciaram-se em novas bases constitucionais e legais, como tambm

    porque deram origem a medidas e incentivos que afetaram o crescimento, a distribuio

    e o modo de vinculao de pessoal em todo o mbito federativo.

    No primeiro mandato do governo FHC, houve esforo concentrado de produo de

    documentos e diretrizes explcitas que tinham sua fundamentao no Plano Diretor da

    Reforma do Estado de 1995. A administrao gerencial preconizada neste plano

    apresenta um conjunto de diretivas bem conhecidas: autonomia financeira e

    administrativa de certas entidades pblicas no estatais, retorno do regime contratual(celetista) para funes no essenciais de Estado, generalizao da avaliao de

    desempenho dos servidores, possibilidade de demisso do servidor por insuficincia de

    desempenho e excesso de quadros, reorganizao das carreiras, especialmente nas

    funes essenciais do Estado etc. Algumas dessas diretivas foram inicialmente

    implementadas na Emenda Constitucional n 19, de 1998. De forma paralela e mais

    clere em seus efeitos institucionais, a poltica de desestatizao levou criao das

    agncias reguladoras, inicialmente nos setores de telecomunicaes e de energia

    eltrica, mas logo se estendendo as reas mais ou menos tradicionais como sade e

    transportes.

    Foram concebidos, neste mesmo perodo, os planos de demisso voluntria (PDVs)

    dos servidores federais (e de outros nveis de governo), de acordo com modelo encetado

    no governo Collor. O governo federal buscou dar o exemplo para as demais esferas

    federativas, ativando seus planos de demisso em conformidade com seus objetivos de

    conteno global dos gastos pblicos. No entanto, o resultado desses planos, em termos

    da diminuio do estoque de pessoal ativo, foi bem menor do que o esperado. A medida

    mais significativa para a reduo do pessoal ativo deu-se simplesmente atravs da

    conteno do nmero de ingressados por concurso pblico e do aumento das

    aposentadorias em funo da expectativa de perdas salariais por parte dos servidores.

    No segundo mandato do governo FHC, num contexto de sria crise cambial,

    prevaleceu uma orientao caracterizada por fortes restries ao gasto com pessoal. Isso

    culminaria, em 2000, com a edio da Lei de Responsabilidade Fiscal, que consolidouvrios dispositivos legais anteriores, como a Lei Camata, em vigor desde 1995. De

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    modo geral, entre 1999 e 2002, as prioridades fiscais impuseram-se no campo da gesto

    de pessoal do setor pblico e tiveram poder predominante em relao s propostas de

    modernizao do aparato administrativo de Estado. Por exemplo, na esfera federal, no

    houve praticamente admisso de novos servidores nem mesmo para as carreiras

    essenciais de Estado, to incentivadas pelo plano da reforma administrativa.

    No segundo mandato de FHC, toda a nfase poltica posta inicialmente na

    modernizao gerencial da administrao pblica deslocou-se para duas outras

    prioridades: a conteno fiscal das despesas pblicas, especialmente as de pessoal, e a

    desestatizao modernizadora, acompanhada do fortalecimento do papel das agncias

    reguladoras. Segundo dados da RAIS, existiam em 1991 mais de 20 mil trabalhadores

    celetistas contratados por empresas de economia mista do governo federal, que foramreduzidos, em 2003, a cerca de seis mil, graas ao processo de desestatizao, que no

    se constituiu numa medida de administrao de empresas pblicas pelo Estado, mas

    num componente estratgico da poltica de liberalizao econmica que visava a

    transferir ao setor privado parte importante do estoque de ativos do setor pblico

    produtivo estatal.

    Em contraposio ao primeiro mandato do governo FHC, as polticas de gesto de

    pessoal do setor pblico no governo Lula, no obstante terem trazido elementos novos,foram tratadas de modo muito sumrio e em escassos documentos, como reflexo da

    ausncia de consenso mais geral acerca de qual estratgia poltica seguir para o tema

    dos recursos humanos no setor pblico. Diversas medidas de modernizao

    administrativa continuaram a ser praticadas, mas pouco se escreveu sobre o assunto e a

    todo custo se evitou o uso da expresso reforma do Estado. A poltica de gesto

    pblica como um todo assumiu alguns contornos de continuidade, embora, algumas

    vezes, tenha sido inovadora.

    O aspecto de continuidade deve-se, sobretudo, preservao da orientao fiscal,

    um dos trs pilares essenciais da poltica macroeconmica, ao lado da manuteno do

    cmbio apreciado e do combate inflao pelo regime de metas. Contudo, o novo

    cenrio de crescimento da economia que teve incio em 2004 favoreceu o incio de uma

    fase de expanso do quadro de pessoal da administrao federal, bem como a poltica de

    ajustes graduais da remunerao dos servidores. Simultaneamente, decidiu-se pela

    reabertura dos concursos pblicos dirigidos para pessoal permanente e temporrio emreas prioritrias, incluindo carreiras estratgicas e as agncias reguladoras. Esses

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    concursos tiveram como objetivo adicional substituir os chamados terceirizados, ou

    seja, os contratados informais de cooperativas e entidades privadas diversas, bem como

    os contratados via agncias internacionais. Em vrios momentos, desde o final do

    governo FHC, o objetivo de substituir os terceirizados por concursados foi acertado com

    o Ministrio Pblico (MP) e o Tribunal de Contas da Unio (TCU) mediante a

    assinatura de Termos de Ajuste de Conduta (TACs). Ainda assim, em 2009, o TCU

    produziu um relatrio demonstrando a persistncia de 28.567 servidores em situao

    irregular na administrao federal direta e indireta3.

    Um dos aspectos inovadores da poltica de pessoal do governo Lula surgiu da

    adoo de mesas de negociao com servidores federais, no mbito do Ministrio do

    Planejamento, Oramento e Gesto (MPOG) que funcionaram com regularidade. Esseministrio tambm se dedicou a formular novas bases para a autonomia gerencial da

    administrao pblica indireta. Para tanto, elaborou um projeto especfico em torno da

    figura jurdica da fundao pblica de direito privado (conhecido como Fundao

    Estatal), j regulamentado por vrias unidades federadas (UFs), mas ainda postergado

    sine die em sua votao pelo Congresso Nacional devido a presses exercidas pelas

    corporaes de servidores. Seguindo em direo similar, de apoio ao crescimento do

    espao de autonomia administrativa e financeira da administrao pblica, foram

    divulgadas as diretrizes produzidas por uma comisso de juristas que se prontificaram a

    colaborar com o MPOG na montagem de uma proposta de nova Lei Orgnica da

    Administrao Pblica Federal.

    Como sntese, o quadro 1 distingue as principais diretrizes de administrao pblica

    e de poltica de pessoal nos perodos 1994-2002 e 2003-2010.

    3No admitidos por meio de concurso pblico

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    Quadro 1: Governos FHC e Lula principais diretrizes nos campos da

    administrao pblica e das polticas de pessoal.

    Autonomia gerencial nas entidades pblicas no estatais em contrato de gesto

    (organizaes sociais so criadas pioneiramente pelo Estado de So Paulo, em 1998)

    Demisso e licena temporria incentivadas

    Limites legais fixados para despesas com pessoal de acordo com a Lei de

    Responsabilidade Fiscal de 2000

    Empregados celetistas admitidos por processo seletivo pblico

    Avaliao do desempenho individual do servidor ou empregado

    Possibilidade de demisso por insuficincia de desempenho e por excesso de quadros,

    avaliado segundo limites fiscais

    Carreiras e concursos pblicos organizados para as funes essenciais de Estado

    Governo FHC

    Criao das agncias reguladoras e seu quadro de pessoal prprio

    Autonomia gerencial em entidades pblicas da administrao indireta (projeto de

    Fundaes Estatais e proposta de Lei Orgnica da Administrao Federal)

    Mesas de negociao para questes de gesto de pessoal

    Reabertura de concursos para servidores temporrios e permanentes de rgos pblicos

    e agncias reguladoras

    Realocao de pessoal na estrutura de carreiras e ordenamento das carreiras de Estado

    Substituio de pessoal ocupado em atividades-fins com contrato informal ou contratado

    via agncias internacionais

    Limites legais fixados para despesas com pessoal de acordo com a Lei de

    Responsabilidade Fiscal de 2000

    Governo Lula

    Reajustes graduais da remunerao, com destaque para carreiras de Estado

    Fonte: Elaborao Ipea.

    Estreitamente relacionadas aos objetivos de conteno de gastos com pessoal,

    embora pelo uso de aposentadorias e penses, as reformas do sistema previdencirio

    tiveram forte impacto sobre a estrutura da ocupao no setor pblico. Os perodos de

    discusso legislativa e de aprovao dessas reformas foram marcados por grande

    crescimento da demanda por aposentadorias, provocando uma diminuio considervel

    do nmero de servidores ativos. Para ilustrar os resultados destes fatores polticos, de

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    acordo com quatro diferentes contextos governamentais, o quadro 2 apresenta a

    evoluo anual do estoque de ativos, das aposentadorias e dos admitidos por concurso

    pblico.

    Quadro 2: Brasil, Administrao Federal, 1991 a 2010 Evoluo anual doestoque de ativos (militares e servidores civis), das aposentadorias e dos admitidos

    por concurso.

    Contexto econmico e

    polticoAno

    Total de Ativos

    (civis e militares)

    Total de Ativos

    (apenas civis)

    Aposentados

    no ano

    Admitidos por

    concurso pblico no

    ano

    Var. %

    Ativos

    (civis)

    1991 991.996 661.996 46.196 -

    1992 998.021 683.618 21.190 -

    1993 969.096 654.723 14.199 -Crise e estagnao

    1994 964.032 641.564 17.601 -

    -2,8

    1995 951.585 630.763 34.253 19.675

    1996 929.375 606.952 27.546 9.927

    1997 900.128 578.680 24.659 9.055Reforma do Estado

    1998 841.851 564.320 19.755 7.815

    -10,5

    1999 866.799 545.333 8.783 2.927

    2000 864.408 536.321 5.951 1.524

    2001 857.283 531.296 6.222 660Restrio fiscal

    2002 809.975 530.662 7.465 30

    -2,7

    2003 856.236 534.392 17.453 7.220

    2004 884.091 538.077 6.486 16.122

    2005 873.447 548.210 5.789 12.453

    2006 887.579 573.341 6.658 22.112

    7,3

    2007 896.333 573.727 8.156 11.939

    2008 913.417 583.367 10.654 19.360

    2009 926.799 601.117 10.384 29.728

    Fortalecimento da

    capacidade de Estado

    2010 970.605 630.542 13.722 36.600

    4,8

    Fonte: Boletim de Recursos Humanos, Ministrio do Planejamento. Elaborao Ipea.

    A despeito do crescimento do estoque total de ativos obtido no perodo dos dois

    mandatos do governo Lula, o nmero de militares e servidores civis registrado em 2010ainda foi inferior ao de 1991. Percebe-se por este quadro o efeito de diminuio do

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    pessoal ativo provocado pela corrida aposentadoria, que ocorreu associada s fases

    de votao das reformas previdencirias, nos anos 1991, 1995 a 1998 e 2003.

    Sabe-se que o principal determinante da ocupao no setor pblico a

    disponibilidade oramentria para custeio e investimento. No entanto, a dimensofinanceira da manuteno de pessoal ativo e inativo depende das trs dimenses de

    polticas pblicas, j mencionadas, que interagem entre si: polticas administrativas,

    previdencirias e fiscais. Essas dimenses no tm sido congruentes entre si e geraram

    problemas diversos, tais como a corrida para a aposentadoria e a utilizao de pessoal

    irregular. A partir de 2003, o nmero de admitidos por concurso, apesar dos

    compromissos assumidos perante o MP e o TCU, no foi suficiente para eliminar o

    problema do pessoal irregular, como j mencionado, o que uma situao grave doponto de vista do princpio da legalidade da ao do Estado.

    As esferas administrativas dos estados e municpios so afetadas por cada uma das

    conjunturas mencionadas do governo federal, como tambm o so por determinantes

    gerais que se situam nos planos das polticas pblicas, especialmente nas polticas

    fiscais e previdencirias. Quando se examina o conjunto da ocupao no setor pblico

    brasileiro a partir de 1995, destacam-se vrias tendncias que a seguir sero

    identificadas atravs de dados procedentes da RAIS, e comentadas de forma bastantesinttica.

    2.1. Enquadramento metodolgico e principais tendncias

    Metodologicamente, a ocupao no setor pblico est constituda pela somatria dos

    que mantm vnculo institucional direto e indireto com a administrao pblica. O

    vnculo direto corresponde ao pessoal militar, aos estatutrios e aos no estatutrios, que

    por sua vez, incluem os celetistas e os informais, ou seja, os que esto em situao

    irregular. O contrato de trabalho para prestao de servios finais de uma dada

    instituio caracterizado como irregular pelo Ministrio Pblico (MP) sempre que

    contraria a norma constitucional que requer a admisso por intermdio de concurso.

    Neste caso, a categoria de informalidade ou precariedade do trabalho no implica

    necessariamente a no observncia de direitos do trabalhador, mas, sim, condio

    contrria ao princpio da legalidade da ao do Estado. Observa-se, ademais, que o

    conceito de ocupao direta na administrao pblica exclui os vnculos de trabalho

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    com empresas estatais e de economia mista, embora tais vnculos possam ser

    considerados para efeito de comparao.

    O vnculo indireto resulta de relaes contratuais criadas pelas instituies de

    Estado com entidades privadas, com ou sem fins lucrativos, que colaboram para oalcance de suas funes. Pode originar-se por meio de empresas que fornecem mo de

    obra para servios gerais (copeiros, serventes, porteiros etc.), bem como pela

    intervenincia de fundaes de apoio, organizaes sociais e entidades similares que

    compem o setor pblico no estatal, conforme a nomenclatura adotada pelo projeto

    de Reforma Administrativa de 1995. Esta distino relevante neste contexto de

    discusso, porque, em anos recentes, verifica-se a tendncia a substituir os ocupados

    com vnculo direto pelos ocupados com vnculo indireto, embora ela seja identificadaapenas em estudos de reas especficas, como, por exemplo, a de gesto do Sistema

    nico de Sade (SUS), ou, de modo mais geral, em estudos de recorte municipal.

    Do modo como foi definido, o conceito de ocupao no setor pblico busca evitar

    conflito e contradio de acepes, representando alternativa ao conceito de emprego

    pblico. No contexto jurdico-administrativo nacional, emprego pblico corresponde

    ao vnculo celetista, segundo consta da Constituio, por contraposio ao vnculo

    estatutrio. O servidor estatutrio, que hoje a grande maioria, no um empregado, nosentido estrito da palavra, porque ele se caracteriza por submeter-se a um estatuto que

    descreve seus deveres e direitos e, portanto, juridicamente no mantm relao

    contratual de emprego com a administrao pblica.

    2.2. Evoluo da ocupao no setor pblico

    Entre 2003 e 2010, a ocupao na administrao pblica brasileira registrou um

    acrscimo de 30,2%, de acordo com os dados da RAIS/MTE (tabela 2). O maior

    crescimento ocorreu no setor municipal (39,3%), seguido do federal (30,3%) e do

    estadual (19,1%). Por sua vez, as empresas estatais registraram neste perodo um

    modesto aumento (11,5%), o que demonstra a persistncia da diretriz poltica de baixa

    estatizao do setor produtivo estatal, implantada na dcada de 1990.4

    4A classificao de natureza jurdica das organizaes pblicas e privadas aqui utilizada foi introduzidana RAIS em 2003 e, portanto, impossibilita comparaes com perodos anteriores.

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    Pelo lado do setor organizacional privado, observa-se que o nmero de vnculos em

    empresas aumentou em 62,3%, mais que o dobro do crescimento da ocupao da

    administrao pblica, desempenho que seguramente resulta da significativa expanso

    das atividades produtivas ocorrida nesse perodo.

    Desta forma, pode-se afirmar que os motivos pelos quais o aumento dos vnculos no

    setor pblico foi significativamente menor que no setor privado, que transparecem

    igualmente no quadro 3, so:

    i) o percentual de vnculos nas trs esferas pblicas em relao ao total de vnculos

    formais da economia diminuiu, passando de 25,2 a 21,8%;

    ii) a taxa de crescimento da ocupao da administrao pblica (25,2%) bem

    menor que a taxa do conjunto do setor privado (58,6%);

    iii)a taxa de crescimento da ocupao da administrao pblica (25,2%)

    comparvel taxa de crescimento dos vnculos das entidades sem fins

    lucrativos (28,1%).

    iv)em 2010, os trs setores da administrao pblica acumulavam somente 21,8%

    do total de vnculos, enquanto o setor privado representava 76,3%.

    Quadro 3: Brasil, 2003 e 2010 - evoluo dos vnculos de trabalho nos setores

    pblico e privado da economia

    Natureza Jurdica 2003 2010 Var (%)

    2003-10

    Part.

    (%)

    2003

    Part. (%)

    2010

    Administrao Pblica 7.221.733 9.399.738 30,2 25,2 21,8

    Setor Pblico Federal 727.547 947.936 30,3 2,5 2,2

    Setor Pblico Estadual 2.946.374 3.508.835 19,1 10,3 8,1

    Setor Pblico Municipal 3.547.812 4.942.967 39,3 12,4 11,5

    Empresas Estatais 738.424 823.341 11,5 2,6 1,9

    Setor Privado Organizacional 20.734.028 32.887.395 58,6 72,3 76,3

    Empresas Privadas 18.489.218 30.012.389 62,3 64,4 69,6

    Entidades Sem Fins Lucrativos 2.244.810 2.875.006 28,1 7,8 6,7

    Total dos Setores Organizacionais 28.694.185 43.110.474 50,2 100,0 100,0

    Fonte: RAIS/MTE

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    2.3 Processo de municipalizao da ocupao pblica

    De acordo com o quadro 4, em 2010, os vnculos municipais passaram a representar

    52,6 % do total do setor pblico. A desconcentrao desses vnculos no perodo

    examinado deu-se principalmente a partir dos estados para os municpios, criando umanova realidade para as polticas de controle do gasto publico assim como benefcios

    considerveis para a efetividade das polticas sociais.

    Envolvendo atualmente um contingente muito expressivo, de cerca de 5 milhes de

    vnculos, a expanso da ocupao no setor municipal a principal tendncia observada

    na administrao pblica, constituindo-se em evidncia de que a prestao de servios

    aos cidados cada vez mais realizada pelas prefeituras municipais, envolvendo reas

    intensivas em gerao de vnculos de trabalho tais como educao, sade e assistnciasocial. No perodo analisado, as ocupaes que mais cresceram foram: psiclogos,

    professores do ensino fundamental, tcnicos de programao, enfermeiros,

    fisioterapeutas e advogados.

    Quadro 4: Brasil, 1995, 2002 e 2010 - Percentual de vnculos diretos da ocupao

    do setor pblico, segundo esfera administrativa

    Ocupao no setor pblico 1995 2002 2010

    Nmero de vnculos diretos 5.515.594 6.998.140 9.399.738

    Federal (%) 15,6 11,5 10,1

    Estadual (%) 45,3 41,5 37,3

    Municipal (%) 39,1 47,0 52,6

    Fonte: RAIS. Exclui empresas estatais e entidades pblicas autnomas Elaborao Ipea

    2.4 Aumento proporcional dos vnculos estatutrios

    No perodo situado entre 1995 e 2010, ao contrrio do previsto nas diretrizes da

    Reforma Administrativa, os vnculos estatutrios afirmaram-se como os preferenciais

    no setor pblico brasileiro. Por sua vez, os empregados celetistas tornaram-se uma

    parcela reduzida, representando cerca de 10% dos estatutrios. Processos seletivos

    pblicos para contratao de celetistas, conforme previstos na Emenda Constitucional n

    19, no foram aplicados e a queda no nmero desses vnculos deu-se de forma

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    inexorvel por efeito da aposentadoria de seus ocupantes. Assim, o percentual de

    estatutrios em relao a celetistas cresceu de 78,5% para 90% nesse perodo(quadro 5).

    Entre 1995 e 2002, verificam-se a diminuio acentuada do nmero de celetistas (-

    29,3%) e a diminuio discreta dos estatutrios (-2%). Mas na segunda fase desseperodo, entre 2002 e 2010, a expanso do estoque de ativos do setor pblico fez-se

    mediante acentuado crescimento do nmero de estatutrios (19,7%). De sua parte, os

    celetistas mantiveram-se em processo de reduo (-33,3%).

    Quadro 5: Brasil, 1995, 2002 e 2010 - Percentual de vnculos celetistas e

    estatutrios no conjunto setor pblico

    Tipo de vnculo 1995 2002 2010 Var. 95-02 Var. 02-10

    Celetistas

    permanentes

    1.235.540 873.583 582.673

    -29,3-33,3

    Estatutrios 4.516.170 4.427.177 5.300.760

    -2,019,7

    % Estatutrios 78,5 83,5 90,0 - -

    Fonte: Rais. Exclui empresas estatais e entidades pblicas autnomas. Elaborao Ipea

    2.5 Elevao do nvel de escolaridade no setor pblico

    Com o propsito de avaliar o nvel de educao geral utilizado aqui o indicador

    que consiste no percentual dos vnculos com escolaridade acima do nvel mdio. Este

    indicador compe-se pela proporo de todos os vnculos com curso superior

    incompleto e completo e, ainda, os com ps-graduao, em relao ao total de vnculos

    de cada esfera administrativa.

    As informaes da RAIS para o perodo evidenciam uma melhoria da educao

    geral nas trs esferas administrativas, registrada especialmente no perodo 2002 a 2010

    (Quadro 6). No mbito federal, houve uma queda do nvel de educao geral, entre 1995

    e 2002, de 46,1% para 38,9%. Isto significa que foram os trabalhadores com maior nvel

    de escolaridade que mais se aposentaram neste perodo. Contudo, no perodo seguinte,

    eleva-se o nvel de escolaridade, alcanando 50,7% em 2010.

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    Os municpios lograram uma melhoria de 100% nesse ndice de escolaridade geral,

    que entre 1995 e 2010, passou de 27,0% para 41,3%. Em 2010, os que trabalhavam na

    esfera estadual apresentavam praticamente o mesmo nvel de escolaridade dos que se

    situavam na esfera federal. De sua parte, os municpios obtiveram os avanos mais

    significativos neste quesito entre 2002 e 2010, tendo o indicador passado de 15,6% para

    33,7%.

    Quadro 6. Brasil, 1995, 2002 e 2010 Percentual de vnculos diretos da ocupao

    do setor pblico com educao maior que ensino mdio por esfera administrativa

    Esfera 1995 2002 2010

    Federal 46,1 38,9 50,7Estadual 29,7 39,7 49,4

    Municipal 15,6 21,6 33,7

    Total 27,0 31,1 41,3

    Fonte: RAIS. Exclui empresas estatais e entidades pblicas autnomas. Elaborao Ipea

    2.6 Diminuio de ocupados em funes administrativas (atividades-meio)

    A tendncia diminuio dos ocupados em funes administrativas intermedirias

    um fenmeno conhecido e que decorre da utilizao crescente de tecnologias da

    informao (TI). Uma srie de atividades que antes tinham o carter de apoio

    administrativo e eram exercidas tipicamente por secretrios, escriturrios, datilgrafos, e

    auxiliares administrativos puderam ser incorporadas ao perfil dos diferentes tipos de

    profissionais ocupados em cargos de direo, assessoria e controle, que so obrigados a

    lidar cotidianamente com a TI para o exerccio de suas tarefas.

    Todavia, segundo os dados da RAIS, as afirmaes acima so validadas apenas para

    as esferas federal e estadual, nas quais houve um decrscimo dos vnculos de servios

    administrativos, respectivamente, de 9,1% e 21,8%, entre 2002 e 2010 (quadro 7). J

    nos municpios, o nmero de trabalhadores administrativos cresceu 11,4% nesse

    perodo. De um lado, uma hiptese a considerar diante deste resultado que o processo

    de difuso da TI tem sido mais lento na administrao municipal, por fatores diversos.

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    Quadro 7. Brasil, 2002 e 2010 Trabalhadores de servios administrativos por

    esfera administrativa

    Esfera 2002 2010 % Var.

    Federal 250.493 227.753 -9,1

    Estadual 844.906 660.583 -21,8

    Municipal 836.180 931.630 11,4

    Total 1.931.579 1.819.966 -5,8

    Fonte: RAIS. Elaborao Ipea.

    De outro, vem crescendo a demanda por pessoal tcnico-profissional para apoio s

    funes de TI. A diminuio do nmero de pessoal administrativo corresponde, assim, tendncia em sentido inverso, que o aumento dos profissionais e tcnicos de

    informtica, em ritmo acelerado. O nmero do pessoal especializado em TI mais

    elevado na esfera estadual, mas a taxa de crescimento maior se verifica no mbito

    federal. Nos municpios, observa-se um nmero ainda reduzido de tcnicos de TI.

    2.7 Tendncias de gnero

    A ocupao do setor pblico faz-se de modo diferenciado quanto ao gnero, sendo

    que as mulheres constituem minoria na administrao federal e maioria nos estados e

    municpios (quadro 8). O que explica tal participao diferenciada o nmero de

    mulheres predominante nas funes de sade, assistncia social e educao, as quais,

    como j referido, so assumidas em maior parte pelos estados e municpios. A tendncia

    evidenciada pelos dados aponta para diminuio da participao feminina nos estados e

    aumento nos municpios e na esfera federal.

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    Quadro 8: Brasil, 1995, 2002 e 2010 Participao percentual feminina por esfera

    administrativa do setor pblico

    Esfera 1995 2002 2010

    Federal 31,9 32,1 35,1

    Estadual 59,6 58,4 57,3

    Municipal 61,7 62,4 64,0

    Total 56,6 57,2 58,6

    Fonte: RAIS. Elaborao Ipea.

    A despeito da participao feminina menor no nvel federal, registra-se um

    percentual maior de mulheres ocupando cargos superiores e de direo nesta esfera. Nos

    estados, os homens tm uma participao semelhante das mulheres e, nos municpios,

    os homens tm participao relativa maior nessas funes hierarquicamente superiores.

    Outro resultado em relao a gnero que, medida por salrios mnimos, a renda

    mdia mensal das mulheres ultrapassa a dos homens na esfera federal, sendo o inverso

    nas duas outras esferas (Quadro 9). Portanto, no governo federal, as mulheres,

    proporcionalmente ao seu nmero, ocupam funes mais elevadas na hierarquia e tm

    renda maior que a dos homens.

    Quadro 9. Brasil, 2010 - Renda mdia mensal (em salrios mnimos) por gnero e

    por esfera administrativa do setor pblico

    Ano 2010

    Esfera Homens Mulheres

    Federal

    11,1 12,2Estadual

    6,2 4,6

    Municipal3,0 2,7

    Total5,5 3,9

    Fonte: Rais. Elaborao Ipea.

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    2.8. Dimenso e controle das despesas com pessoal

    A questo sobre o suposto gasto pblico elevado com pessoal suscita muito

    interesse por tornar-se um divisor de guas entre diferentes vises polticas acerca do

    papel do Estado no processo de desenvolvimento. A nica regra que se observa nahistria recente, porm, que, em momentos de expanso da atividade econmica e da

    concomitante arrecadao tributria, os governos sentem-se mais estimulados a

    aumentar os gastos com o aparato administrativo como um todo e, portanto, no s com

    pessoal; e em momentos de crise fiscal, por outro lado, impem ou acatam medidas

    legais de limitao desses gastos. Ou seja, a ocupao do setor pblico s pode ser

    considerada excessiva quando avaliada com os resultados de uma conjuntura de

    crescimento econmico reduzido e queda da arrecadao.No se pode ignorar, no entanto, que gastos do Estado so importantes para reativar

    o crescimento em tal conjuntura, especialmente em face de um mercado de trabalho

    com ampla parcela informal e baixa renda, como o caso do Brasil. Deste modo, o

    diagnstico de excesso de pessoal no d base suficiente de conhecimento para amparar

    uma poltica administrativa de gesto da fora de trabalho no setor pblico.

    Outra advertncia diz respeito s comparaes internacionais. O Brasil tem um

    excelente sistema de monitoramento de gastos com pessoal, mas comparaesinternacionais s deveriam ser realizadas se a metodologia comparativa descontar as

    peculiaridades da composio desses gastos e do prprio mercado de trabalho brasileiro.

    Como esta uma tarefa que extrapola os objetivos sintticos deste estudo, aqui s ser

    empreendida uma breve descrio das dimenses e das tendncias do gasto com pessoal

    e dos problemas relacionados com seu controle pelas polticas fiscais.

    Para fins de monitoramento das despesas de pessoal do governo geral no Brasil,

    pode-se recorrer a duas fontes de dados: o Sistema Nacional de Contas (SNC) do IBGE

    e a Secretaria do Tesouro Nacional (STN). O primeiro informa as despesas com salrios

    e benefcios, enquanto os dados da STN apresentam em forma agregada as despesas

    com ativos e inativos, na medida em que esto voltados para o acompanhamento do

    cumprimento da LRF.

    A partir dessas duas fontes (grfico IV) conclui-se que as despesas com pessoal das

    trs esferas administrativas (governo geral) decresceram relativamente a partir de 2002,

    mas voltaram a aumentar a partir de 2005, sem, contudo, alcanar o patamar de 2002.

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    H uma tendncia similar para o governo federal, quando se consideram as despesas

    com ativos e inativos como percentual do Produto Interno Bruto (PIB).

    As despesas com pessoal, como percentual do PIB, foram mais elevadas no ano

    final do governo FHC. No governo Lula, houve um aumento em 2005, mas a partir deento se observa uma discreta diminuio desses gastos, tomando como referncia o

    PIB do ano corrente.5

    Grfico IV - Despesas com pessoal como percentual do PIB

    0

    5

    10

    15

    20

    2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

    PercentualdoPIB

    Governo Geral Governo Federal

    Tesouro Nacional Elaborao Ipea

    Um retrato da situao atual quanto ao conjunto dessas despesas aparece no Quadro

    10, para 2009 (ltimo dado disponvel), um ano de retrao da economia. O governo

    geral, composto pelas trs esferas administrativas, apresentou despesas com pessoal que

    equivaleram a 41,2% do total de despesas e a 42,1% do total das receitas.

    5Um fator que tem pesado nos custos salariais a mdia elevada de idade da fora de trabalho ativafederal que se encontra em grande parte nas classes mais altas das carreiras e, portanto, usufruindo denveis salariais mais elevados. Alm disso, a reorganizao e expanso das carreiras de Estadopressupem oferta de cargos com salrios competitivos em relao ao mercado de trabalho do setorprivado, o que tambm implica maiores despesas dessa natureza.

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    Quadro 10: Brasil, 2009 - Despesas nominais do governo geral (Em R$ mil)*

    TIPO DE DESPESA Governo geral

    (trs esferas)

    Federal Estadual Municipal

    Total das receitas 1.226.901.202 737.062.261 424.915.547 256.910.195

    Total das despesas 1.162.752.222 696.996.253 406.439.348 251.303.423

    Pessoal (valor) 482.549.217 151.652.813 207.934.962 122.961.442

    Pessoal (% das

    receitas)

    42,1 24,9 50,9 44,7

    Pessoal (% das

    despesas)

    41,5 21,8 51,2 48,9

    Pessoal (% do PIB) 14 4,3 6,2 3,5

    Fonte: STN e Banco Central do Brasil (BCB). *No inclui as operaes do Banco Central nem de empresas estatais. Grau decobertura de 94,12% dos municpios brasileiros. O resultado consolidado exclui as transferncias intergovernamentais.

    Por fim, com base no grfico V, verifica-se que a massa salarial no setor pblico em

    relao ao setor privado no apresenta uma tendncia clara de crescimento. Com efeito,

    a massa salarial nas trs esferas da administrao pblica e, isoladamente, na esfera

    federal, elevou-se a partir de 2006, mas voltou a cair em 2010, mantendo

    aproximadamente a mesma frao, ou seja, sem gerar descompasso flagrante com a

    dinmica do setor privado. Isto quer dizer que os gastos com pessoal no setor pblico

    vm acompanhando o ritmo de crescimento do emprego e, portanto, da massa salarial,

    do setor privado. um indcio de que o ciclo econmico um determinante poderoso

    do ritmo e magnitude de crescimento do emprego pblico como um todo, bem como

    dos gastos pblicos relacionados a ele.

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    Grfico V - Evoluo da massa salarial do setor pblico como

    percentual do setor privado

    0

    10

    20

    30

    40

    2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Trs esferas Adm. Federal

    Fonte: Rais. Elaborao Ipea

    3. Questes em aberto

    Para alm das informaes e consideraes resumidas acima, outras podem ser

    extradas do livro Burocracia e Ocupao no Setor Pblico Brasileiro, a saber: i)

    aquelas a respeito da formao histrica da burocracia pblica no pas; ii) das diretrizes

    recentes em termos tanto de salrios e vencimentos quanto da ocupao em cargos

    comissionados no poder pblico federal; iii) de fenmenos sociais e demogrficos

    importantes em curso dentro do Estado, como, por exemplo, as tendncias de

    municipalizao da ocupao no setor pblico, de maior escolarizao e

    profissionalizao, de ampliao da presena feminina e de rejuvenescimento da fora

    de trabalho, sobretudo em mbito federal, entre outras.

    importante, tambm, registrar abaixo questes que se constituem em novas pautas

    de pesquisa aplicada e assessoramento governamental por parte do Ipea, a saber:

    Em que condies vm se dando os processos seletivos nas trs esferas degoverno, em especial no nvel federal? Os atuais formatos de seleo por

    concursos pblicos padronizados vm conseguindo atrair e filtrar candidatos

    com perfis adequados natureza pblica da ocupao e ao cumprimento das

    exigncias institucionais do Estado, em todos os seus nveis?

    H, nas diversas instncias do Estado, planos de cargos ou carreiras, progresso

    funcional e vencimentos, capacitao permanente, flexibilizao funcional e

    preparao para a aposentadoria, considerados adequados e satisfatrios aosdiversos objetivos estratgicos do Estado no mdio e longo prazo?

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    Como instaurar e cultivar ou desenvolver uma cultura de aprimoramento

    permanente de desempenho institucional do setor pblico, inclusive passvel de

    ser monitorado ao longo do tempo por meio de indicadores (quantitativos e

    qualitativos) de desempenho (efetividade, eficcia e eficincia), aplicveis aos

    trs nveis federativos e tambm aos trs grandes poderes da repblica?

    Essas questes merecero esforos institucionais de pesquisa e assessoramento

    governamental por parte do Ipea (e outros rgos), visando a qualificar a discusso

    corrente sobre temas complexos e intrincados, mas absolutamente fundamentais para o

    Estado brasileiro e seu desafio histrico de retomada de posturas e atitudes mais ativas

    para o desenvolvimento nacional.

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