10
Oeiras: ainda quem queira ressuscitar oSATU Sistema de transporte acumulou prejuízos e não passageiros. Hoje está ao abandono. P

Oeiras: ainda há quem queira ressuscitar oSATU · O SATU é uma obra do regime autárquico de Isaltino Morais, que trouxe para Paço de Arcos, ... Para o professor do Instituto Superior

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Oeiras: ainda há quem queira ressuscitar oSATU · O SATU é uma obra do regime autárquico de Isaltino Morais, que trouxe para Paço de Arcos, ... Para o professor do Instituto Superior

Oeiras: aindahá quem queiraressuscitaroSATUSistema de transporteacumulou prejuízos e nãopassageiros. Hoje está aoabandono. P

2

Page 2: Oeiras: ainda há quem queira ressuscitar oSATU · O SATU é uma obra do regime autárquico de Isaltino Morais, que trouxe para Paço de Arcos, ... Para o professor do Instituto Superior

MobilidadeOeiras: fim da linhaparaoSATU?PlBa2l

Page 3: Oeiras: ainda há quem queira ressuscitar oSATU · O SATU é uma obra do regime autárquico de Isaltino Morais, que trouxe para Paço de Arcos, ... Para o professor do Instituto Superior

Fim da linhapara o SATU?O SATU é uma obra do regime autárquico de Isaltino Morais, que trouxe para Paço deArcos, Oeiras, um sistema de transporte que viu em Sydney. Acumulou prejuízos em vezde passageiros (mais de 40 milhões de euros) e fechou. Está ao abandono há três anos,mas há quem queira ressuscitá-10, como o grupo que hoje sai à rua para o defender

Por Inês Ameixa c Ruben Martins texto ejoão Catarino ilustração

Page 4: Oeiras: ainda há quem queira ressuscitar oSATU · O SATU é uma obra do regime autárquico de Isaltino Morais, que trouxe para Paço de Arcos, ... Para o professor do Instituto Superior

U^^f^™ "^B u não desisti de SATUI nenhum". A garantiaI * édo presidente da

L^^ Câmara de Oeiras,¦^^^ Isaltino Morais, que nu-¦ .ma entrevista recenteI ã ao PÚBLICO anunciou

i^^^^^^B que o sistema de trans-

porte que apadrinhou há mais de dez anos podevir a ser reactivado. Certo é que o projecto demobilidade "do futuro" em Oeiras está preso a

um passado de prejuízos. O SATU - acrónimode Sistema Automático de Transporte Urbano

-, que era um dos seus eixos mais polémicos,acabou abruptamente pouco mais de um qui-lómetro depois de ter começado. Hoje, é ummono de betão e metal que serpenteia por entrecasas e prédios. As marcas de vandalismo e deabandono são indisfarçáveis naquela que foi "a

menina dos olhos" de Isaltino.Na mesma conversa com o PÚBLICO, o pre-

sidente da câmara diz ter ficado "surpreendido

porque não havia lá guarda", apontando o de-do à anterior gestão da autarquia, liderada peloseu antigo "delfim", Paulo Vistas, "que não

salvaguardou devidamente aquele patrimó-nio". Agora, para que o SATU volte aos carris,é preciso um novo investimento que recupereo que foi sendo destruído ou deixado ao aban-dono: "Foi desligado o ar condicionado ondehavia equipamentos informáticos importan-tes, e ao longo da via houve roubo de materialeléctrico". 0 veículo não circula desde 2015 e

a empresa que o fabricava também faliu. Ain-da assim, Isaltino Morais garante que está a

"estudar a hipótese de repor o SATU", depoisdas suas promessas eleitorais que prometiama reposição "prioritária" do sistema. Mas o

transporte pode não ser exactamente comoera, isto porque o grupo de trabalho criado pelaautarquia vai estudar "outras hipóteses", quepodem passar por "um eléctrico rápido".

A ideia do SATU surgiu depois de o actual

presidente da Câmara Municipal de Oeiras ter

viajado até Sydney, onde conheceu o SydneyMonorail, a inspiração que por cá prometiamelhorar a mobilidade no interior do conce-lho para residentes e para quem trabalha nos

parques tecnológicos aí localizados. A obra foi

pensada por Isaltino Morais para ligar Paçode Arcos, na Linha de Cascais, ao Cacem, naLinha de Sintra. Com o sistema obsoleto e, se-

gundo a autarquia, a não poder ser colocadonovamente a funcionar sem obras de fundo,o autarca prometeu uma solução alternativae temporária: uma espécie de "vaivém", as-

segurado por autocarros, para estabelecer a

ligação até aos parques empresariais, como o

Lagoas Park e o Tagus Park. A ideia de IsaltinoMorais de criar um novo sistema de transporteparte também da falta de alternativas para os

trabalhadores daqueles parques empresariais,que não têm um sistema de transporte própriopara os seus funcionários se deslocarem, ape-sar dos milhares que diariamente viajam paraesses pólos.

Um transporte "pouco sustentável"

Para o professor do Instituto Superior TécnicoFernando Nunes da Silva, a ligação entre as

linhas de Sintra e Cascais é "justificada", masentende que "é fundamental o transporte che-

gar ao Cacem para ser viável", e que, atravésde cabo como estava a ser construído, o SATU"não é exequível do ponto de vista técnico".

Page 5: Oeiras: ainda há quem queira ressuscitar oSATU · O SATU é uma obra do regime autárquico de Isaltino Morais, que trouxe para Paço de Arcos, ... Para o professor do Instituto Superior

Lm fim abruptoO viaduto doSATU terminaabruptamentedepois doShopping OeirasParque. Quandofoi inaugurado,em 2004, havia a

promessa de quepoucos mesesdepois a obraarrancava até aoLagoas Park, o quenunca aconteceu

Ao P2, este especialista, que tem com umvasto trabalho na área dos transportes, diz queIsaltino só avançou para este projecto "porqueno final da década de 90 a Câmara de Sintrasaiu de uma eventual candidatura conjunta afundos comunitários que estava a ser prepa-rada". Existiam planos comuns das autarquiasde Cascais, Oeiras, Amadora e Sintra para criarnovas redes de transportes que resolvessem os

problemas de mobilidade nestes concelhos.Mas a então autarca de Sintra, Edite Estrela(PS), "não esteve de acordo e o plano ficousem efeito", um recuo que, para o especialista,é "ainda hoje difícil de perceber".

Em relação à obra que foi construída, Nunesda Silva garante que "demolir a infra-estruturado SATU custaria uns milhões de euros". 0 en-

genheiro assegura ainda que "não é justificávelgastar milhões de euros a demolir uma infra-

-estrutura que pode ter outro aproveitamento",e sugere que o próximo modelo de transporteescolhido siga em via exclusiva criada pelo via-duto já construído, "pelo menos até passar aauto-estrada (A5)". Ainda assim, o especialistaem transportes deseja que "Isaltino Morais nãotome a decisão já amanhã", porque são ne-cessários estudos e "não se pode cair de novono mesmo erro" do SATU. Diz ainda, em tomde brincadeira com a situação existente, que"quem demora hoje 45 minutos para ir do Ta-

guspark ao nó da auto-estrada, se fosse a pé,chegava lá primeiro".

Os parques empresariais em Oeiras e aquelaszonas urbanas "foram planeadas sem se pen-sar em transportes, o que é igual a dizer 'paravirem para aqui têm de vir de carro'". Quem o

diz é Rosário Macário, especialista em transpor-tes e também professora no Instituto SuperiorTécnico. Ao P2, a especialista em transportesé peremptória: o SATU é "claramente inviável:

percurso curto, procura baixíssima e um pre-

ço muito elevado". Os três factores combina-

dos, diz, resultaram no fracasso do projecto.A propósito do sistema de mobilidade es-

colhido, Rosário Macário diz que "há muitas

tecnologias disponíveis, mas a viabilidade nãoé uma coisa inerente à tecnologia, mas, sim,ao contexto onde a tecnologia é aplicada". Co-

mo o sistema do SATU nunca passou além dos

1150 metros, criou-se "a ideia entre a populaçãode que era uma experiência-piloto". Ano apósano, o sistema foi perdendo a (já pouca) procu-ra que rinha. "No início, houve um conjunto decuriosos que deixaram de ser curiosos quandoperceberam que o SATU não se encaixava nas

suas rotinas", justifica a especialista em trans-

portes. Para Macário, "partir para a construçãosem estudos [como aconteceu quando Isaltinodecidiu iniciar o processo na Câmara de Oei-

ras] não é normal". Assim como "também nãoé normal não se fazer um concurso públicopara uma obra deste tipo", como aconteceu.

Em 2015, o bilhete de ida e volta para via-

jar de SATU da estação de Paço de Arcos aoCentro Comercial Oeiras Parque custava 1,65euros (mais 15 cêntimos do que na abertura,em 2004). O percurso fazia-se em menos decinco minutos, uma opção cara para o percur-so construído. A necessidade de comprar umcartão recarregável, que não era compatívelcom nenhum outro meio de transporte, e ainexistência de um passe mensal fizeram doSATU um "sistema-ilha", sem ligação com o

resto dos transportes do concelho.Para quem faz o percurso entre o Oeiras

Parque e a estação de Paço de Arcos (percursoaté onde chegou a ser construída a estrutura),não passa despercebido o viaduto em betão,com longas torres, como se de uma barreirase tratasse. "Evidentemente que causa polui-ção visual", explica ao P 2um arquitecto -*

Page 6: Oeiras: ainda há quem queira ressuscitar oSATU · O SATU é uma obra do regime autárquico de Isaltino Morais, que trouxe para Paço de Arcos, ... Para o professor do Instituto Superior

paisagista, que prefere não ser identificado e

que chegou a ser passageiro do SATU. "Custa-me mais porque esse mal não é um mal me-nor, porque não é um bem maior, ou seja,não presta um serviço efectivo, não tem umamais-valia técnica como transporte". Para es-

te profissional - que faz parte da AssociaçãoPortuguesa dos Arquitectos Paisagistas - aescolha de um comboio não tripulado "é umaopção muito mais política do que técnica".

Caso lhe fosse pedido um parecer sobre a

obra, o arquitecto paisagista diria que à parti-da o SATU não seria um projecto viável, con-siderando "que não era a opção mais interes-sante", embora fosse necessário "ver quais asalternativas em cima da mesa". Questionadosobre o que fazer àquela estrutura, caso con-tinue abandonada e desactivada, o arquitectopaisagista não vê outra alternativa que nãoseja a demolição, apesar de ser receptivo aoutras ideias.

"Votei no Isaltino paraele acabar o SATU"A Rua Joaquim Quirino, em Paço de Arcos, a

menos de dez minutos a pé do Centro Comer-cial Oeiras Parque, é uma das várias artériasonde surgem as grandes torres que suportam a

estrutura do SATU. Os moradores com quem oP 2falou não se sentem incomodados com elas.Não lhes importa que aquela estrutura perma-neça ali, como seja fosse natural na paisagem.

Inês e Carlota, duas jovens, descem a rua quevai do centro comercial em direcção à estaçãode Paço de Arcos. Chegaram a utilizar o SATUe afirmam que hoje só voltariam a fazê-lo ca-so "os preços fossem mais acessíveis". "É umsistema muito giro e o Isaltino podia ser esper-to e pôr isto mais barato, que isto andava...",afirma Inês, enquanto empurra um carrinhode bebé rua abaixo.

Uma redução do custo dos bilhetes face

ao preço que era pago quando o SATU aindaestava activo é o factor mais apontado pe-los moradores. Joaquim está sentado numbanco de jardim e nunca chegou a andarno SATU. Hoje diz que "se estivesse a fun-cionar experimentava, mas só se fosse maisbarato". O morador da Rua Joaquim Quiri-no revela que o transporte não fazia ruídoquando ainda estava activo, e sublinha que"para as pessoas mais idosas até era bom!".

Mas também há opiniões em sentido contrá-rio. "0 SATU é um monstro autêntico, um caos,um disparate do ponto de vista paisagístico",aponta outro morador, Manuel, que diz queaquele transporte "era útil", mas reconhece

que é "absurdo" pagar o preço que cobravampelos bilhetes. "Fechou porque não se justifica-va para um percurso tão pequeno e tão caro".Questionado sobre se a solução seria destruirtoda a estrutura, Manuel responde categorica-mente: "Deitar abaixo? Já pensou em quantoé que isso custava?..."

Hermínia e Roselhe caminham pela rua ladoa lado, enquanto dizem que o SATU "era umaobra muito boa se continuasse". Uma delasafirma: "Eu votei no Isaltino para ele acabar oSATU". Sendo moradoras de uma rua ao lado,a estrutura não as incomoda, e dizem que nãoouviam ruído quando o SATU ainda funciona-va. "Não tinha muita adesão porque era caro.Mas é uma alternativa para desafogar o trânsitonas horas de ponta" que ali se acumula todosos dias, dizem.

A construção do SATU também influen-ciou a venda de habitações na zona. De acor-do com um consultor imobiliário contactadopelo P2, "o SATU prejudica um bocadinho,mas não é por isso que as pessoas deixaramde comprar casas" nas imediações. A mesmafonte fala num condomínio que vendeu nazona há poucos dias e revela que, por causado SATU, houve dificuldades em vendê-10.

Page 7: Oeiras: ainda há quem queira ressuscitar oSATU · O SATU é uma obra do regime autárquico de Isaltino Morais, que trouxe para Paço de Arcos, ... Para o professor do Instituto Superior

"Com as mesmas características, vender-se-ia por mais 30 ou 40 mil euros se não tivesseo SATU", revela. Apesar de a construção daobra ter influenciado a venda de habitações,o consultor imobiliário diz que nesta altu-ra "as casas se valorizam em todo o lado".

"Prioritário" ou "buraco sem fundo"

As últimas eleições autárquicas tiveram noregresso do "dinossauro autárquico" IsaltinoMorais um dos principais focos de atenção. So-mando quase um quarto de século à frente daCâmara Municipal de Oeiras, o ex-presidentevoltaria a ganhar as eleições no concelho emOutubro de 2017. Isaltino encontrava-se iso-lado na reposição do SATU como objectivode mandato, tendo sido mesmo o único, dosvários candidatos autárquicos a Oeiras, a de-fender que a "sua" obra era para continuar.O anterior presidente, Paulo Vistas, que antesesteve ao lado de Isaltino, dizia então à agên-cia Lusa que reactivar o SATU era criar um"buraco sem fundo".

O P 2falou com alguns elementos da opo-sição no Município de Oeiras, dois deles ad-versários de Isaltino nas eleições, e que fica-ram como vereadores na autarquia: JoaquimRaposo, candidato pelo PS, e Heloísa Apoló-nia, candidata da CDU. Para Joaquim Raposo,"o SATU era a menina dos olhos de Isaltino,mas o certo é que a menina não cresceu". Overeador defende que aquele é um "sistemafalhado, que não faz sentido" e que "quan-do as coisas falham, não vale a pena insistirnaquilo que falhou". Apesar disso, JoaquimRaposo entende que é importante encontraruma "forma alternativa" que ligue a Linha deCascais à Linha de Sintra. Ainda na campa-nha autárquica, a proposta do candidato so-cialista consistia num metrobus, como o quefoi proposto pelo Governo para Coimbra em

MoradoresdivididosOs moradores daTapada do Mochodividem-se entreos que pedem a

continuação doprojecto e os quequerem que a obraseja demolida

[O SATU] éclaramenteinviável:percursocurto, procurabaixíssima eum preço muitoelevadoRosárioMacário,especialistaem transportes

substituição do Metro Mondego. Na prática,tratar-se-ia de um sistema de autocarros quecirculam numa via dedicada com prioridadede passagem em cruzamentos.

Page 8: Oeiras: ainda há quem queira ressuscitar oSATU · O SATU é uma obra do regime autárquico de Isaltino Morais, que trouxe para Paço de Arcos, ... Para o professor do Instituto Superior

43 milhões de eurosPrevisão do custo da ligação de Paço deArcos ao Lagoas Park, valor semelhanteaos prejuízos da SATUOeiras nos quaseonze anos de funcionamento

1,65 eurosCusto do bilhete de ida evolta para um percursode 1150 metros

Sobre o SATU, Raposo defendia, e ain-da defende, um referendo local, sendo queconsidera apenas duas soluções: "É preci-so envolver a população, perguntar o quequer. Caso o SATU não funcione mais, é

preciso perguntar se, por um lado, as pes-soas estão dispostas a suportar os custos da

demolição, ou então realizar um concursode ideias para fazer um aproveitamento da-

quela estrutura". Raposo sublinha que, co-mo está, o SATU é um "verdadeiro atentadovisual e uma desvalorização do património".

Heloísa Apolónia, também vereadora sem

pelouros eleita pela CDU, diz ao P 2que o SATUnão passa de uma "teimosia de Isaltino". Pa-

ra a deputada dos Verdes, "este projecto nãoserve os interesses de Oeiras" e "continuarcom ele era continuar a insistir nos prejuí-zos". À semelhança de Joaquim Raposo, He-loísa Apolónia entende que, ainda assim, "éessencial ligar a Linha de Cascais à de Sintra",mas que o SATU "é um modelo de mobilidade

que não serve". Daniel Branco, membro daAssembleia Municipal de Oeiras, eleito tam-bém pela CDU, adianta que as respostas dadasaos deputados municipais eram no sentidode "não ser possível reiniciar o processo doSATU porque a estrutura estava vandalizada".0 engenheiro diz ainda que, caso o projectotivesse conhecido uma fase mais avançada,"o percurso entre Paço de Arcos e o Cacemduraria entre 35 e 40 minutos, sendo que lu-

gares sentados no SATU eram oito". Por isso

questiona: "Já viram o que era fazer todo esse

percurso de pé?" Para Daniel Branco, aqueletransporte "era uma solução tecnicamente

má", e "não é por grande parte do dinheiroda obra poder vir de fundos comunitários quese tornaria boa."

Em Abril de 2015, o Governo liderado porPedro Passos Coelho deu ordens para extin-guir todas as empresas públicas que acumula-vam prejuízos há três anos consecutivos. Era ocaso da SATUOeiras, que geria o sistema. Foi

nessa altura que surgiu uma página de Face-book de defesa de um transporte que fizesse

a ligação entre Paço de Arcos e o Cacem, co-mo estava inicialmente projectado. A páginaMetro Oeiras Paço de Arcos - Cacém/Sintra jánão defende directamente a reactivação doSATU, como contaram ao P 2as duas adminis-tradoras do site, Teresa Dávila Soares e MariaJosé Capela. "0 que é inconcebível para nós énão haver em Oeiras uma rede viável de trans-

portes públicos. O que existe é o monopólioda Vimeca, que pratica preços exorbitantes".As antigas utilizadoras do SATU são assertivas

na hora de apontar o que falha, falando numa"política intencional dos Governos de desfavo-

recimento" e que "todos os investimentos no

país são em estradas, auto-estradas e PPP."A "grande falta de informação" sobre o

funcionamento do sistema é apontada pelasadministradoras da página como o principalmotivo pelo qual o SATU, nos anos em queesteve activo, registou pouca adesão por parteda população, recusando assim que o baixonúmero de utilizadores se devesse directa-mente ao modo de transporte em si ou ao

preço dos bilhetes. "As pessoas nem sonha-

vam. Não foram informadas, nem sabiam dos

preços", dizem as duas representantes da pá-

Page 9: Oeiras: ainda há quem queira ressuscitar oSATU · O SATU é uma obra do regime autárquico de Isaltino Morais, que trouxe para Paço de Arcos, ... Para o professor do Instituto Superior

gina, questionando-se também: "É lógico quesó houvesse uma média de 500 passageiros

por dia... Se o SATU não chegava mais longe,como é que podia ir buscar as pessoas?"

Sobre relatos de ruído e poluição visual de

alguns moradores, Teresa Dávila Soares afirma

que "isso é tudo fumaça para tapar", alertan-do para os interesses que estão por detrás dadecisão de pôr fim ao projecto do SATU. "O

empresário político está perfeitamente estabe-

lecido aqui, e existe um lobby muito forte das

estradas e dos carros". Além disso, "ninguémse dedicou ao SATU, foi ignorado e despreza-do". Para as duas antigas passageiras, "umaestrutura leve, barata, rápida e ecológica nãointeressa a ninguém, porque quem ganhariacom isso seriam os contribuintes".

Oeiras "não pagou um cêntimo"

Quando o SATU foi inaugurado, em 2004, pelaentão presidente Teresa Zambujo (uma vezque Isaltino saiu da Câmara para integrar oGoverno de Durão Barroso), havia promes-sas de que poucos meses depois se iniciariaa segunda fase da construção que levaria o

transporte até ao Lagoas Park. Nos mapas das

estações, era deixada a promessa de que anova fase estaria pronta "a partir de 2005".As obras nunca foram para o terreno e a cons-

trução do viaduto do SATU terminaria poucodepois da estação que servia o Centro Comer-cial Oeiras Parque.

A empresa SATUOeiras, que geria o sistema,resulta de uma parceria entre a autarquia e

a Teixeira Duarte (que detinha uma partici-pação de 49%, sendo os restantes 51% da Câ-

mara de Oeiras). O sistema pertence agorana totalidade ao município, que o comprouà construtora por um valor simbólico de dois

euros (as infra-estruturas, equipamentos fixos

e circulantes custaram um curo e os inventá-rios o mesmo valor). Inicialmente, a TeixeiraDuarte tinha investido 23 milhões de euros

para que a obra saísse do papel e, no fim, fi-

cou com os prejuízos. 0 interesse inicial daconstrutora era levar o projecto até ao LagoasPark, que detém, como forma de valorizaçãoimobiliária.

Uma obra obsoleta

Isaltino Morais garantiu ao PÚBLICO, comonoutras ocasiões, que Oeiras "nunca pagouum curo", tendo a Teixeira Duarte ficado coma fatia dos prejuízos, que rondam os 42 mi-lhões de euros (o novo Museu dos Coches, emLisboa, custou 40 milhões). "O que correumal foi o Governo não ter tido visão", disse oautarca. Para a câmara, defendeu Isaltino, foi

um bom negócio: "Se houve parceria público-privada em Portugal que defendeu o interesse

público, o SATU foi a única". Contactada peloP2, a Teixeira Duarte afirmou que a empresa"não tem qualquer comentário a fazer sobreeste tema".

A candidatura a fundos europeus chegou a

ser várias vezes ponderada, a última delas aoquadro europeu 2014-2020, mas nunca chegouà fase de concretização. Ao Tribunal de Contas,a Câmara de Oeiras dizia: "O desenvolvimentodo Sistema SATU encontra-se fortemente de-

pendente da disponibilidade de financiamentocomunitário para a sua execução".

Os custos de manutenção do SATU ronda-vam os 40 mil euros mensais, o sistema con-tava ainda com um seguro, necessário parao seu funcionamento, e que chegou a rondaros 25 mil euros anuais. 0 SATU esteve activodurante pouco mais de dez anos e os númerosmostram que se registavam pouco mais de500 utentes por dia e que, com o passar dos

anos, eram cada vez menos os que optavampor este meio de transporte. As três estaçõesconstruídas estão fechadas, com marcas devandalismo como vidros rachados e graffi-ti, conservando ainda equipamentos no seuinterior, como as máquinas de bilhetes. Nas

portas, encontram-se ainda afixados editais,datados de 4 de Maio de 2015, assinados peloex-presidente da câmara, Paulo Vistas, quemarcava como data da morte do SATU o últi-mo dia desse mês.

Este modelo de transporte é pouco comumna Europa. Curiosamente, o Sydney Monorail,transporte automático que Isaltino decidiu co-

piar numa viagem à Austrália, fechou em 2013e foi desmantelado - o que não aconteceu como fecho do SATU, a 31 de Maio de 2015. Numartigo de então, o The Daily Telegraph escrevia

que o monorail de Sydney "era consideradofeio e intrusivo", e que era "um dos sistemasde transporte público mais dispendiosos domundo".

Para este domingo, 3 de Junho, está agen-dado um encontro organizado pela página deFacebook Metro Oeiras Paço de Arcos - Cacem/Sintra, no Jardim de Paço de Arcos, para rei-vindicar um transporte que ligue as Linhasde Cascais e Sintra, e que não seja "sobrerodas". Na convocatória do encontro parti-lhada na mesma rede social pode ler-se quea intenção é lutar "pelo SATU ou outro mo-notrilho (sic)". "Em princípio, Isaltino estará

presente", adiantam ao P 2as administrado-ras Teresa Dávila Soares e Maria José Capela.

Esta é também uma forma de pressão numaaltura em que se desenvolvem estudos sobre o

futuro do SATU, mas uma coisa parece certa:

Page 10: Oeiras: ainda há quem queira ressuscitar oSATU · O SATU é uma obra do regime autárquico de Isaltino Morais, que trouxe para Paço de Arcos, ... Para o professor do Instituto Superior

caso a solução apresentada não passe pela uti-

lização do viaduto já construído, surge aindaum problema maior por resolver: o que fazercom a grande estrutura de betão que, sem uti-lização e manutenção, poderá vir a tornar-seperigosa, com João Pedro Pincha

[email protected]