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Justificativa

Aristóteles afirmara ser o homem um animal gregário. Esse pressuposto corrobora o fato de a vida em sociedade ser condição sine qua non para a realização das potencialidades das pessoas.

A construção do homem enquanto ser social perpassa, portanto, pelo contato com o próximo. E, num mundo desigual, são as relações igualmente díspares que proporcionam a aparição de hierarquias, com todos os construtos dela decorrentes.

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Um apólogo, de Machado de Assis

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.

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— Decerto que sou.

— Mas por quê?

— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?

— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...

— Também os batedores vão adiante do imperador.

— Você é imperador?

— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

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Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...

A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

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Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:

— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:

— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

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Confúcio e o menino sem nome, de Dong Sizhang

adaptação de Gilmar Luís

Confúcio se cansara de ensinar ao povo e decidiu então ir ao monte Jing. Encilhou uns búfalos e se pôs a trotear para seu descanso.

A subida por uma estrada estreita e tortuosa ofertava-lhe uma visão da beleza primaveril. Flores em profusão desabrochavam como se acordassem de um sono longo. O cimo da montanha, coberto de neblina, infundia nele a paz que tanto almejava.

Absorto na contemplação, não reparou num menino que brincava no meio do caminho. O garoto remexia na terra e, lentamente, tentava edificar uma muralha de barro.

Confúcio serenou o galope, emitindo um chiado, a plenos pulmões, até para chamar a atenção do rapazote. O menino divisou a carroça e, sem pestanejar, colocou-se atrás da pequena muralha.

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- Menino, estou passando. Não estás vendo?

- É o carro que deve contornar a muralha e não o contrário.

Confúcio, primeiramente, ficou enraivecido. Ora essa, os jovens de hoje não mais reverenciavam os mais velhos. Em seguida, riu-se, achando perspicaz a resposta do guri.

- Quantos anos tens?

- Sete.

- Apesar de ter somente sete anos, deste a mim uma boa resposta. Qual teu nome?

- Não tenho nome algum.

Confúcio adorava brincar com as palavras e com as ideias. Desceu da carroça. E cogitou testar a perspicácia do jovem.

- Sem Nome, dize-me uma coisa. Você conhece montanha sem pedra? Pé sem dedo? Céu sem passarinho? Água sem peixe?

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Saboreando cada pergunta, Confúcio sorria. O menino, incontinenti, abriu mais os pequenos olhos quando o outro cessara a saraivada de perguntas e disparou em tom quase melancólico:

- Uma montanha de terra não tem pedras. Pé de mesa não tem dedo nem unha. No céu da boca, pássaro não voa. A água do poço não tem peixe.

O sorriso de Confúcio sumiu. O menino desmontara a arapuca.

- Você tem resposta pra tudo. Vamos sair mundo afora para ver se todas as coisas são iguais?

- O mundo não pode ser igualado. No alto, erguem-se as montanhas; embaixo, correm os rios. De um lado, uns mandam; outros obedecem. Poderia o mundo ser mais igual, isso sim!

- Se aplainássemos as montanhas, teríamos rocha e terra para cobrir mar e rios. Poderíamos expulsar também os ricos e libertar os escravos. Nesse caso, o mundo seria igualado.

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- Se aplainássemos as montanhas, onde os animais se refugiariam? Se enchêssemos o mar e os rios, onde nadariam os peixes? Se expulsássemos os que tudo tem, quem lhes daria emprego? E, se todos os escravos fossem libertos, por que continuariam a lhe pedir conselhos?

Confúcio percebeu a sabedoria do menino e tratou de miná-la em embate mais simples.

- O que é esquerda e direita?

- O Leste e o Oeste – respondeu o jovem.

- O que é interior e exterior?

- O Sul e o Norte.

- Bom!, disse Confúcio. – Você não perde uma! Mas será que um menino de sete anos sabe se a mulher está mais perto do seu marido do que uma mãe de um filho?

- A mãe está mais perto de seu filho do que uma mulher do seu marido – riu o rapaz.

- Ah, essa não! A mulher está mais perto do marido do que a mãe do filho. Durante a vida, a mulher e o marido dormem juntos, na mesma cama. Quando morrem, são enterrados lado a lado no túmulo.

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- O senhor está enganado. A mãe está mais perto do filho do que uma mulher de seu marido. E provo o que estou dizendo. A mãe é para o filho como as raízes para as árvores. Uma mulher é para o marido como as rodas para o carro. Quando a mãe morre, é como se árvore ficasse sem raízes e fenecesse. Quando um marido fica viúvo, pode arrumar outra esposa, como um carro pode ter outras rodas.

Confúcio parecia atordoado. O menino levantou-se do chão e disse:

- Respondi a tudo, agora são as minhas perguntas.

- Sim, podes fazê-las.

- Como os marrecos e os patos podem nadar?

- Ora, porque eles têm as patas espalmadas!

- Não, palma existe na mão. As tartarugas também nadam e não possuem patas espalmadas.

Confúcio tossiu e esperou a outra pergunta.

- Como os grous e os gansos conseguem gritar?

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- Porque eles têm o pescoço comprido.

- Não, as rãs gritam e nem pescoço têm.

Confúcio sacudiu a cabeça. Não mais sorria. Cruzou os braços e aguardou mais um petardo.

- Quantas estrelas há no céu?

- Vamos falar de coisas que podemos ver. Tudo bem?

- Sim. Então quantos cílios o senhor tem nas pálpebras?

- Desisto, não consigo ganhar. Agora eu temo uma criança. Queres ser meu mestre?

O menino voltou ao barro e não respondeu.

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Atividades de interpretação

01. O texto de Machado de Assis se chama apólogo. A palavra, de origem grega, significa fábula. Toda história assim tem como objetivo a transmissão de uma moral. Qual o principal propósito da fábula?

02. O segundo texto também pode ser enquadrado na mesma categoria do primeiro (fábula ou não)?

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03. O primeiro texto remete a qual época da história do Brasil? Que elementos corroboram a sua resposta?

04. No segundo texto, há um claro embate (discussão, rixa, discórdia) entre Confúcio e um garoto. Através do conhecimento acerca de quem é Confúcio, tu achas isso um elemento intensificador na trama?

05. Confúcio muda o tom das perguntas quando percebe a argúcia (esperteza) do garoto?

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06. A palavra babados, no primeiro texto, possui qual sentido? Este se mantém hoje em dia? Há acepções novas atualmente?

07. Por que o menino, no segundo texto, não respondeu à última pergunta de Confúcio?

08. No dicionário Houaiss, arapuca é armadilha para caçar pequenos pássaros; geralmente uma pirâmide feita com pauzinhos ou talas de bambu. É este o sentido utilizado no segundo texto?

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09. Há semelhanças entre os dois textos?

10. No texto dois, a expressão sem nome aparece em maiúscula. Nomes próprios aparecerem em minúscula, como na frase “Ele é o judas da turma”. É um processo muito usado, principalmente em produtos industrializados. Tu lembras outro exemplo?

11. Do verbo temer originou-se o adjetivo temente, usual em textos bíblicos. Há relação similar em temer no segundo texto?

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De posse de histórias que valorizam a suposta supremacia (superioridade) de um sobre o outro por meio da retórica (arte de falar), convidamos os alunos a se reunir em dois grandes grupos e bolarem um texto, a ser lido oralmente, que defenda um possível candidato ao grêmio estudantil. Mas não com propostas ou promessas: a fala terá de convencer por meio de propaganda pessoal, ou seja, o que o candidato fez e/ou sabe que o credencie a ser o vencedor.

Atividade

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O texto argumentativo

O texto dos grupos deve-se enquadrar na tipologia argumentativo. Eis os elementos:

a) uso de palavras que nomeiam ideias e conceitos (trabalho, dever, direito, solidariedade etc). Os textos narrativos e descritivos tratam de seres em particular; o argumentativo aborda conceitos genéricos.

b) ausência de temporalidade: verbos no presente do indicativo com valor atemporal.

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O texto argumentativo

c) encadeamento de ideias: as frases se relacionam progressivamente com relações de causa, efeito, consequência, conclusão, oposição. Portanto, faz-se necessário o uso harmonioso das conjunções.

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Os autores

Elzira Schott, Gilmar Luís e Marianne Borges