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SOCIETE OGBONI – NIGÉRIA Informação sobre a sociedade Ogboni, incluindo o seu histórico, a sua estrutura, os seus rituais e as suas cerimônias; adesão e conseqüências associadas a uma recusa de juntar-se a esta sociedade. (Abril 2000-juillet de 2005 - Direções das Investigações, Comissão da Imigração e o Estatuto de Refugiados, Ottawa,). Durante entrevistas telefônicas com a Direção das investigações, dois universitários forneceram informações sobre: A "sociedade secreta" Ogboni. Um deles é professor de antropologia e diretor do departamento dos estudos afro-americanos da Universidade do Estado de Nova Iorque, em Buffalo, e foi diretor do departamento antropologia da Universidade de Ibadan de 1978 até 1983. É Nigeriano de nascimento e alguns dos seus amigos são ogbonis. O outro universitário é professor substituto de antropologia no Colégio Franklin Marshal, em Lancaster na Pensilvânia. As suas investigações versam sobre a antropologia simbólica e histórica; a cosmologia, os sexos e o espaço; a etnografia igbo bem como a África ocidental. Afirmaram terem habitado na Nigéria no fim anos 1980 e acrescentaram que entre seus vizinhos nessa época havia ogbonis. As suas informações sobre os ogbonis por conseguinte são fundadas sobre os seus conhecimentos gerais e antropológicos da Nigéria. Em seus estudos e pesquisas os professores concluíram que os membros da "sociedade" Ogboni recusavam-se a qualificarem a sua sociedade de "seita" ou de "sociedade secreta", e que utilizavam antes, o termo "câmara", como fazem os francos-maçons (13 avr. 2000). O professor substituto de antropologia explicou que são os nigerianos que qualificam freqüentemente o Ogboni de "sociedade secreta", mas que os

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SOCIETE OGBONI – NIGÉRIA

Informação sobre a sociedade Ogboni, incluindo o seu histórico, a sua estrutura, os seus rituais e as suas cerimônias; adesão e conseqüências associadas a uma recusa de juntar-se a esta sociedade. (Abril 2000-juillet de 2005 - Direções das Investigações, Comissão da Imigração e o Estatuto de Refugiados, Ottawa,).Durante entrevistas telefônicas com a Direção das investigações, dois universitários forneceram informações sobre: A "sociedade secreta" Ogboni.Um deles é professor de antropologia e diretor do departamento dos estudos afro-americanos da Universidade do Estado de Nova Iorque, em Buffalo, e foi diretor do departamento antropologia da Universidade de Ibadan de 1978 até 1983. É Nigeriano de nascimento e alguns dos seus amigos são ogbonis. O outro universitário é professor substituto de antropologia no Colégio Franklin Marshal, em Lancaster na Pensilvânia.As suas investigações versam sobre a antropologia simbólica e histórica; a cosmologia, os sexos e o espaço; a etnografia igbo bem como a África ocidental. Afirmaram terem habitado na Nigéria no fim anos 1980 e acrescentaram que entre seus vizinhos nessa época havia ogbonis. As suas informações sobre os ogbonis por conseguinte são fundadas sobre os seus conhecimentos gerais e antropológicos da Nigéria. Em seus estudos e pesquisas os professores concluíram que os membros da "sociedade" Ogboni recusavam-se a qualificarem a sua sociedade de "seita" ou de "sociedade secreta", e que utilizavam antes, o termo "câmara", como fazem os francos-maçons (13 avr. 2000). O professor substituto de antropologia explicou que são os nigerianos que qualificam freqüentemente o Ogboni de "sociedade secreta", mas que os ogbonis designar-se-iam antes, como um clube social onde os membros ajudam-se mutuamente nas atividades do comércio, no casamento, etc. Por conseguinte, nesta apresentação, o termo "sociedade" será empregado para designar a comunidade dos ogbonis. O professor substituto acrescentou que, em decorrência dos francos-maçons serem numerosos na Nigéria e que existem este país desde o início do século XX, teria havido

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uma troca de informações entre si e outros grupos como o Ogboni. Os dois universitários indicaram que os ogbonis são empenhados em manter esta relação. De acordo com o professor, a fundação da sociedade atual dos ogbonis remonta aos anos 1930; foi nessa época que um grupo de elevados funcionários nigerianos formaram esta associação para criar um correspondente aos clubes sociais europeus da época que excluíam os nigerianos. Sempre de acordo com o professor, os nigerianos desejavam formar um grupo no qual poderiam se beneficiar dos privilégios conferidos pela posição que ocupavam na Nigéria. O fundador foi um padre metodista, e os membros da sociedade compreendiam não somente elevados funcionários, mas também médicos, advogados, autoridades policiais graduadas, bem como outros membros da elite nigeriana. Os dois professores afirmaram que, embora a sociedade Ogboni tenha sido fundada por Yorubas, pessoas dos outros grupos étnicos nigerianos também  fazem parte da sociedade. De acordo com o professor substituto de antropologia, as mulheres agora são admitidas no grupo. Sobre a Nigéria, no relatório final da 8ª. Conferência Européia de Informação Sobre os Países de Origem, conferência organizada pelo Austrian Center for Country of Origin and Asylum Research and Documentation - ACCORD e o Elevado Comissariado das Nações Unidas para os refugiados (ACNUR), Heinz Jockers do Instituto de estudos africanos (Institute for African Studies), em Hamburgo, explicou que ainda se sabe pouca coisa sobre a sociedade Ogboni tradicional que não deve ser confundida com a sociedade de pessoas influentes. No entanto, o Senhor Jockers forneceu a informação seguinte: “A sociedade Ogboni tradicional fazia parte do sistema de controle e manutenção de equilíbrio dos reinos Yorubas. Os seus membros elegiam os reis e dispunham de funções religiosas e judiciais. Dispunham igualmente do poder de destronar o OBA (o rei) e podiam ordenar-lhe que se suicidasse ou se envenenasse”.Os trabalhos etnográficos sobre o seu papel e a sua função remontam ao início século, fixando-se principalmente nos anos 30. Conseqüentemente, não há nenhum conhecimento mais detalhado da estrutura e dos regulamentos internos da sociedade após a independência. Crê-se que exercem ainda, uma importante influência de âmbito local, fazendo parte da rede tradicional do poder que governa as sociedades e controla os recursos. Supõe-se que através da sua adesão, os membros passam a usufruir igualmente, de relações de poder na estrutura oficial do Estado (polícia, sistema judicial, universidades) (ACORDO/ACNUR Novembro de 2002). No fim de Dezembro de 2000, “The Guardian” assinalou que o chefe Adeleke Oyenuga, que ocupa um posto e OLUWO na Confraria dos Aborígines Ogbonis da Nigéria (Ogboni Aborigene Fraternity of Nigéria), não sabia dizer com certeza em que momento os ogbonis surgiram na Nigéria. O Senhor Oyenuga enumerou os seguintes grupos de ogbonis, dizendo-se membro de todos eles, exceto do ROF.O primeiro grupo, o Osougbo Gbede considerado normalmente como pertencente aos obas. É de acesso exclusivo dos chefes e da competência dos Obas. Existe ainda a Confraria dos Aborígenes Ogbonis da Nigéria, o Iwoule Ogboni, o Ogboni Otou Ifé, o Ogboni Arapa Nika, que veio de Akoko no Estado de Ondo, o Ogboni Ara Ife, o Ogboni Akala, o Ogboni Agamasa, o Ogboni Ogenete e também a Confraria Reformada dos Ogbonis (Reformed Ogboni Fraternity - ROF) que é procedente da Confraria dos Aborígenes Ogbonis. Respondendo a uma pergunta sobre as diferenças entre as distintas sociedades, o Senhor Oyenuga declarou o que segue: Existem inúmeras diferenças já que os cultos não são semelhantes, embora todos venerem o “Edan” que é como um Deus.

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Assim, um membro da Confraria dos Aborígines que não seja membro da Ogboni Osougbo, não pode participar de uma cerimônia dos Osougbos. Se desobedecer sofrerá as conseqüências. E esta regra é válida para todos os grupos.No entanto, os osougbos, já que são os chefes dos obas, podem assistir nas cerimônias da Confraria Aborígine porque são os membros mais respeitados da sociedade. Por conseguinte, não é possível que um membro de um grupo introduza-se à força num outro grupo. Os membros da Confraria dos Aborígines podem, na maioria dos casos, participarem numa cerimônia do ROF porque esta é procedente da Confraria dos Aborígines e podem falar a mesma língua. É a linguagem (modo de comunicação), que trai todo aquele que procura usurpar uma identidade. O Senhor Oyenuga apresentou-se como "tradicionalista na alma" e declarou que se tornou um membro do Ogboni devido à ajuda que este grupo proporciona "em momentos difíceis" e também devido à ajuda recíproca entre os membros. Interrogado sobre a data da fundação do grupo Ogboni tradicional, o chefe Emmanuel Olatounji Akinyemi, Oluwo do Iledi (assembléia local) Iyadamilola e dos Aborígines Ogbonis de Imota, declarou que ninguém sabia quando a Sociedade Ogboni foi criada, afirmando ainda que “... O que se sabe dos ogbonis, é que existiam antes da era colonial, que reinavam com os obas, que governavam e decidiam as questões de acordo com os usos tradicionais e que eram tão meticulosos que, quando os colonizadores chegaram, julgaram o seu sistema tão robusto que não puderam alterá-lo..." Os universitários americanos afirmaram não conhecer rituais e cerimônias de nenhum grupo Ogboni em razão do segredo com que os guardam os seus membros.Espelhando-se em seus conhecimentos de outros grupos semelhantes, o professor substituto de antropologia indicou que os rituais de iniciação compreendem certamente, aspectos místicos assim como “... certas transformações físicas..." Relações com a comunidade -  O professor substituto de antropologia explicou que em geral, o nigeriano de classe média não entra em contacto com a sociedade. De acordo com ele, o Nigeriano comum teme esta sociedade e crê que os seus membros podem fazer uso de bruxaria para chegar aos seus objetivos. Contudo, indicou que ignorava se os membros da sociedade fazem uso da violência a exemplo das seitas universitárias; no entanto, certos nigerianos crêem que as seitas universitárias constituem bacias de recrutamento para organizações semelhantes ao Ogboni.Adesão - Os universitários afirmaram que as despesas de adesão são muito elevadas, que os membros já devem possuir muito dinheiro antes de juntar-se à sociedade, e que lá não entra quem quer. O professor substituto de antropologia explicou que, de acordo com que pode compreender, uma pessoa que possui "dinheiro e bom relacionamento" pode comunicar o seu interesse a um membro do grupo que irá apresentar a proposta de adesão à sociedade que então decidirá se o candidato será admitido ou não. e que os membros não fazem geralmente mistério da sua inscrição. De acordo com os dois universitários, as relações familiares podem às vezes influenciar a decisão, mas o professor afirmou que o convite para aderir dependia mais dos círculos de amigos. Os dois professores sublinharam que os membros da sociedade Ogboni fazem parte da elite financeira nigeriana e que a adesão à sociedade constitui freqüentemente para o membro um bom meio para entrar em contacto com pessoas susceptíveis de melhorar a sua situação financeira ou de aumentar o seu poder. De acordo com o professor Politologie, são as vantagens e privilégios que atraem os membros para o Ogboni. Por seu lado, o professor substituto de antropologia afirmou que a sociedade constitui um clube social e uma "alavanca" da qual os membros servem-se para fazer negócios aproveitando o contato com pessoas que detêm poder e dinheiro Ao seu parecer, as alegações segundo as quais o presidente Obasanjo pertencia ao Ogboni constituíam uma maneira de vinculá-lo "aos que comem bem" na Nigéria.A organização serve igualmente de "alavanca" nas disputas entre os seus membros: Decide os conflitos internos e assegura que os membros enquadram-se às normas de

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conduta fixadas pela sociedade. O professor substituto de antropologia contudo não soube precisar quais eram estas normas de conduta em razão de os membros não conversarem assuntos ligados ao Ogboni com os não-membros. Um artigo de 31 de Dezembro de 2000 do jornal The Guardian assinala o que segue: “Ainda que o nome ”Ogboni" seja comum a todos, as práticas diferem, da mesma maneira que as qualidades dos candidatos aceitos para a iniciação. Por exemplo, ainda que o ROF não aceite os homens com menos de 21 anos e as mulheres com menos de 30 anos, os outros grupos podem admitir pessoas mais jovens”. De acordo com Otunba David Adekunle Olaiya Adeniji, “Olori Apena” do ROF, esta organização tende a não admitir que as pessoas que crêem em Deus e que rejeitam o feiticismo como modo de vida. Não se sabe se os outros grupos aderem a este princípio. A respeito da possibilidade de que os filhos dos membros sejam obrigados a juntar-se a um grupo ogboni, The Guardian assinala igualmente o que segue: “... Em certas regiões do país, e notadamente na parte do Estado de Kwara onde se fala o igbo, considera-se que qualquer membro de um grupo ogboni tem pensamentos diabólicos e seria capaz de prejudicar aos outros. Crê-se, ainda, que qualquer membro recruta, quer a um seu filho, quer a uma pessoa próxima, a intervalos regulares. As pessoas crêem igualmente que quando um membro idoso da seita cumprimenta alguém colocando a sua mão sobre a cabeça da pessoa, isso significa que a seita vai recrutá-la. Ainda que os ogbonis encontrem-se na maior parte regiões do país, incluindo nas regiões do Kwara onde se fala o igbo, os membros da seita efetuam as suas atividades em segredo”."...É desta maneira que os ogbonis agiram no passado. Não se dão a conhecer. Não é necessário anunciar-se como membro e pode-se ser admitido na sociedade apenas quando já se tenha suficiente maturidade para guardar um segredo ou para receber a punição apropriada se o revelar...", explica o chefe Adeleke Oyenuga, olori olouwo d'Ogboni Olufe, simultaneamente Oluwo Alakoso de la Confrérie des Aborigènes Ogbonis du Nigéria, division Ikorodu (Ogboni Aborigine Fraternity of Nigéria, Ikorodu Division. Recrutamento forçado - Em relação à possibilidade de pessoas serem forçadas a aderir à sociedade Ogboni, o professor Politologie afirmou não conhecer nenhum caso recente deste tipo, mas sabia de um caso ocorrido em Benin City, no fim anos 1950, época onde o Ogboni estavam em conflito direto com um outro grupo. De acordo com ele, das pessoas de Benin City foram forçadas, nessa época, a aderirem à sociedade para reforçar a luta contra os membros de outro grupo.). No entanto, de acordo com o professor Politologie, esta prática obstruiu os ogbonis das outras regiões da Nigéria. O professor substituto de antropologia afirmou que a adesão forçada na sociedade Ogboni é possível, mas que não se trata de uma prática corrente. De acordo com ele, certos membros poderiam esperar que seus filhos juntem-se à sociedade; nestes casos, estes pais poderiam exercer uma pressão considerável sobre os filhos de modo que estes aderissem à sociedade. Em contrapartida, o professor Politologie afirmou conhecer um membro da sociedade que não queria mais que os seus filhos aderissem à sociedade, apesar de um deles exprimir o desejo juntar-se ao grupo. O professor substituto de antropologia sublinhou que, em geral, o Ogboni não aceitava crianças como membros. Precisou que a sociedade dá preferência à adesão dos mais velhos ou de pessoas na força da idade, privilegiando as que são casadas e tenham filhos, porque estas pessoas são consideradas como "pessoas completas”. O professor substituto de antropologia declarou que ao seu conhecimento, há apenas uma situação onde a sociedade poderia forçar uma pessoa a aderir contra a sua vontade. Trata-se da situação onde os pais tenham  "dedicado" o seu filho à sociedade, às vezes mesmo antes do seu nascimento. Em tal caso, a sociedade poderia obstinar-se sobre esta pessoa e forçá-la a juntar-se ao grupo a fim de garantir o respeito ao compromisso dos seus pais.

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O professor substituto de antropologia indicou que tal pessoa pode ser criada sem nunca saber que os seus pais são membros do Ogboni, e a sociedade a fará ciente apenas no momento em que julgar que esteja pronta para tornar-se membro, talvez na idade entre 30 ou 40 anos. O professor substituto de antropologia acrescentou que era relativamente certo que os ogbonis com quem conviveu na Nigéria estavam na faixa dos trinta anos quando aderiram à sociedade. Estas informações foram fornecidas pela Direção das investigações através informações extraídas nas fontes que estão à disposição do público, e às quais a Direção das investigações pôde ter acesso nos prazos prescritos. Esta matéria não traz, nem não pretende trazer, provas conclusivas quanto ao fundamento de um pedido de asilo. Queiram encontrar abaixo a lista das outras fontes consultadas para a pesquisa atualmente apresentada. Referências:Austrian Centro for Country of Origin and Asylum Research and Documentação/Elevado Comissariado das Nações Unidas para os refugiados (ACORDO/ACNUR). Novembro de 2002. "<st1:country-region><st1:place>Nigeria</st1:place></st1:country-region>:" Country Adiamento ".“Final Report on the 8th European Country of Origin Information Seminar. [Data de consulta: 7 juill. 2005] The Guardian [Lagos]. 31 de Dezembro 2000a. Lekan Fadeyi. "We Are Misunderstood, Says Oyenuga". [Data de consulta: 14 févr. 2001] _____. 31 December 2000b. Lekan Fadeyi. "Perceptions of Ogboni". [Data de consulta: 14 févr. 2001] de Professor Substituto de antropologia, Colégio Franklin e <st1:City><st1:place>Marshall</st1:place></st1:City>, <st1:place><st1:City>Lancaster</st1:City>, <st1:State>Pennsylvania</st1:State></st1:place>. 14 de Abril de 2000. Entrevista telefônica. Professor Politologie, universidade do Estado de Nova Iorque em Buffalo. 13 de Abril de 2000. Entrevista telefônica. Outras fontes consultadas: Dinamarca. Janeiro de 2005. Serviço da imigração da Dinamarca. Adiamento ele Human Rights Procedente dentro Nigéria: Juntada British-Danish Fact-finding Missão to Abuja and Lagos, Nigéria, 19 October - 2 November 2004. (1/2005 ENG) [Data de consulta: 16 de Junho 2005]  Noruega. Outubro de 2004. Direção da imigração e Comissão da imigração. Report from a Fact-Finding Trip to Nigeria (Abuja, Kaduna and Lagos) 23-28 February 2004. D.Y. 2000. Religious Encounter and the Making of the Yoruba. Indiana University Press. Sítios Internet, incluindo: All Africa.com, BBC News, FACTIVA, Ingenta Connect, Redes de informação regionais integradas (IRIN).

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O território iorubano é composto por vários reinos, onde os direitos sobre o uso da terra são patrilineares. O termo Yoruba foi difundido a partir do século XIX para designar os povos que, além da mesma língua, tinham a mesma cultura e tradições originárias de Ilé-Ifè, onde, segundo os mitos, o primeiro rei iorubá, Odùduwà, estabeleceu-se, vindo do leste.Apesar disso, essas cidades nunca tiveram uma centralização política e esses povos não se chamavam entre si por um único nome. Aqui no Brasil, os escravos de origem iorubá foram mais conhecidos por nagô (corruptela de ANAGO – sujos, maltrapilhos) e em Cuba por lucumi. Após a partilha colonial da África (Congresso de Berlim de 1884-85), esses povos ficaram divididos e hoje estão localizados em cinco países: a maioria no sudoeste da Nigéria, uma parte na República Popular do Benim (ex-Daomé) e alguns grupos no Togo, em Gana e Serra Leoa (cf. Verger 1981: 11-16; Adékòyà 1999: 13-57).A associação Ògbóni, (Não devemos confundir a associação Ògbóni, tradicional entre os iorubás - conhecida na literatura inglesa como "Aboriginal Ògbóni Fraternity - A.O.F." - com a "Reformed Ogboni Fraternity - R.O.F.", que foi criada em 1914 por um padre anglicano, o Reverendo Thomas Adésínà Jacobson Ògúnbíyí, que revisou os rituais e o simbolismo tradicional para ser aceitável aos cristãos, muçulmanos e indivíduos não-iorubás (Lawal 1995: 39).

Também chamada de Òsùgbó, é, como já mencionamos, uma instituição com funções religiosas, judiciais e políticas. Ela é uma espécie de assembléia de anciãos da cidade, unidos ritualmente, que regem um importante culto estruturado a partir da cosmogonia dos iorubás - o culto a Ilè (terra), que, às vezes, é tida como mais poderosa do que os orixás, e até mãe de todas as deidades iorubanas (cf. Morton-Williams 1960: 364 e Lawal

1995: 41-43).

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Não se sabe ao certo quando essa associação foi criada, mas Ulli Beier (apud Costa e Silva 1996: 569) afirma que ela deve ter sido uma "ressonância" de uma religião anterior às mudanças políticas efetuadas pela chegada de Odùduwà (o "primeiro rei", ou "fundador

da sociedade") e seus descendentes - aqueles que instituíram o culto dos orixás. De acordo com Costa e Silva, os sacerdotes Ògbóni conservaram o poder e o prestígio dentro do novo sistema porque sabiam pacificar Ilè e mantê-la fértil. Os sacerdotes Ògbóni, no

segredo de suas reuniões, teriam continuado a praticar sua fé, cuidar da ordem e estabilidade social e da manutenção dos velhos costumes. Por isso, conforme o autor,

"os novos reis viram-se obrigados a prestar homenagem aos ONILES, ou 'donos da terra'".Notamos a semelhança desses dados com os colhidos e publicados por Morton-Williams (1960: 364), que segundo a tradição, “a Terra (...) existiu antes das divindades e o culto Ògbóni antes da realeza. A Terra é a mãe a quem os mortos retornam. A Terra e os ancestrais, não as divindades (orixás), são as fontes da lei moral".9 O texto mais antigo a que tivemos acesso sobre a associação Ògbóni é do Coronel Ellis, que data de 1894. Nessa obra, ele já aponta dois aspectos dessa associação que foram questão de controvérsia durante todo o século XX e sobre os quais, até hoje, não há consenso entre os africanistas: a denominação de "sociedade secreta" e a ambivalência de sua competência que compreende, ao mesmo tempo, assuntos religiosos e seculares. Ellis (1894: cap. V, 2º §) vê a Ògbóni como uma instituição tirânica: "acredita-se popularmente que os membros possuam um segredo do qual deriva seu poder, mas o único segredo parece ser o de uma poderosa e inescrupulosa organização".10 Frobenius

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(apud Morton-Williams 1960: 362), explorador e viajante alemão, partilhava concepções semelhantes quando, em 1913, caracterizou a Ògbóni da cidade de Ibadan como uma "Companhia de Decapitação Ltda".11

Esses dois autores reproduzem as ideologias evolucionistas reinantes na virada do século XIX para o XX, acreditando que as sociedades européias estavam num estágio "superior" de civilização. Deste modo, todas as práticas culturais que se afastavam do padrão ocidental, principalmente os assuntos concernentes ao Cristianismo, eram prontamente consideradas como prova da "inferioridade" de tais povos, e, conseqüentemente, essas práticas culturais eram desprezadas, estando, nessa época, seus praticantes sujeitos à perseguição severa do governo colonial. Arewa e Stroup assinalam opiniões diferentes quando se referem às idéias de Webster, que vê essa associação como "o último desenvolvimento da sociedade tribal", e também de Dennett, que sugere "um aspecto senatorial" para essa associação, o qual protegeria o interesse público do despotismo do oba (rei) (Webster, Dennett apud Arewa e Stroup 1977: 274-276). William Bascom (apud Morton-Williams 1960: 362 e apud Arewa e Stroup 1977: 274-276) refuta a classificação de "sociedade secreta" e afirma que, sociologicamente, a associação é semelhante a outros grupos ou associações religiosas iorubás como dos Egúngún e Agemo. Ele acredita que essa classificação é imprópria e advenha da distinção rigorosa que as culturas ocidentais fazem entre a Igreja e o Estado. E, mesmo que considere a associação Ògbóni como religiosa, admite o papel político que ela tem na organização social iorubá.Morton-Williams (1960: 362), por sua vez, acredita que ela seja uma típica "sociedade secreta" pelos seguintes motivos: seus membros têm poderes seculares porque proclamam poderes místicos, o que lhes outorga privilégios em relação aos não associados; acredita, também, que ela seja seletiva, que exige algumas qualidades e feitos dos que pleiteiam integrá-la; e, ainda, que seus dirigentes tenham o direito de impor sansões àqueles que revelam seus segredos e procedimentos ou quebram os acordos firmados. Essa associação tem poderes maiores que os do oba, pois são seus sacerdotes que fazem os funerais e o processo de entronização, cujos ritos são fundamentais na instauração, legitimação e manutenção da ordem social e política . Há um festival anual na Nigéria, em que o Basòrun, chefe do Òyó Misi12 (Conselho de Estado da cidade de Òyó externos à realeza e, necessariamente, membros Ògbóni.) joga Ifá13

para saber se o duplo espiritual do oba ainda suporta sua estadia na Terra. Estando inapto para governar, o oba é levado a cometer suicídio, fazendo-se envenenar (Morton-Williams 1960: 364).A Ògbóni possui dois graus de iniciação e participação: o "júnior" ou We-we-wee o "sênior", Ologboni ou Alowo. Um membro que entra no We-we-we não faz parte dos rituais secretos até ser um graduado quando, então, recebe o título de Ologboni. Um Ologboni é especialmente nomeado como Apènà, sendo ele o responsável pelas funções judiciais do culto. Há um pequeno grupo de mulheres existentes na associação, bem menos numeroso em relação ao dos homens, elas nunca presidem os rituais. São chamadas Erelú e representam os interesses das mulheres da cidade nas reuniões (Morton-Williams 1960: 365-370). O título de Erelú aparece no Brasil atribuído à dirigente da associação feminina Guèlédé que também existiu na Bahia até os anos 1930 (Carneiro 1967: 64).14 De acordo com Lawal (1995: 37), pode-se dizer, em síntese, que a associação Ògbóni cultua o "espírito da Terra", Ilè, para assegurar a sobrevivência humana, a paz, a felicidade, a estabilidade social da comunidade, a prosperidade e a longevidade. Isso dissolve, definitivamente, a impressão pejorativa com que ela foi descrita pela antiga etnografia. A maior parte de nossas informações vieram de Peter Morton-Williams, que fez pesquisas na cidade de Òyó, Nigéria, em 1948, e as publicou em 1960. Foi quem primeiro descreveu a associação Ògbóni com maiores detalhes, delineando seu papel

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político e descrevendo rituais e crenças religiosas que sustentam a sua função no poder secular. Destacam-se, porém, outros autores de referência cuja leitura foi de grande importância para nosso trabalho: Dennis Williams, que, entre 1962 e 1963, fez entrevistas com membros Ògbóni e com os Akedanwaiye, estudando os objetos em campo e em coleções, tais quais as da Universidade de Ibadan e do Museu Nigeriano de Lagos; L.E. Roache, que pesquisou durante os anos de 1968 e 1969 na área rural de Ijebu-Ode, Nigéria; e, finalmente, Babatunde Lawal, que pesquisou durante os anos de 1966 e 1991 em diversas cidades da Nigéria, utilizando a tradição oral para interpretar questões polêmicas como o significado do lado esquerdo e o gênero de Ilè).A escultura ògbóni se diferencia da escultura feita para os orixás. Primeiramente, há diferença no material usualmente empregado. Enquanto as estatuetas de orixás, ou de outras entidades dos iorubás, seriam feitas de fibras, ferro ou madeira -16 materiais facilmente degradáveis -, a grande maioria das estatuetas Ògbóni é feita com ligas de cobre - um material relativamente mais durável (Williams 1964: 161).17

A escultura e seu usoComo dissemos anteriormente, as esculturas Ògbóni têm múltiplos usos. A literatura relata que o EDAN pode ser usado, por exemplo, para: prever o futuro; curar doenças; afastar "maus espíritos"; julgar cidadãos; enterrar defuntos, entre outros usos. O edan é o elo que une a comunidade a Ilè.