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Pré-projeto: as olarias e o documentário em desconstrução Conselho aos dramaturgos... Tente ser original na sua obra e tão diligente quanto lhe seja possível, mas não tenha medo de se mostrar pateta. Devemos ter liberdade de pensamento e só é um pensador emancipado aquele que não tem medo de escrever patetices [...] Escreva. As moscas purificam o ar, e as obras, a moral. Anton Tchekhov (Letters on the short story, the drama na other literary topics. Nova York: Minton Balch and Co., 1924, p. 170-80) a) Proposta: Você conhece uma olaria? A proposta é apresentar como é o funcionamento de uma olaria e trazer luz a uma das mais antigas práticas profissionais, mostrando suas curiosidades por meio de metáforas de imagens do cotidiano dos trabalhadores. Junto disso, o trabalho pretende desconstruir o próprio documentário, pois trará detalhes de produção e a constante interferência da equipe técnica na busca de alcançar o resultado final do projeto - numa espécie de making of do filme. Evidenciaremos a importância da sinergia entre o ofício dos oleiros e dos documentaristas para a construção do produto audiovisual.

Olarias e o documentário em descontrução

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Projeto de documentário sobre o cotidiano de olarias do interior de São Paulo

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Pré-projeto:as olarias e o documentário em

desconstrução  

Conselho aos dramaturgos... Tente ser original na sua obra e tão diligente quanto lhe seja possível, mas não tenha medo de se mostrar pateta. Devemos ter liberdade de pensamento e só é um pensador emancipado aquele que não tem medo de escrever

patetices [...] Escreva. As moscas purificam o ar, e as obras, a moral.

Anton Tchekhov (Letters on the short story, the drama na other literary topics. Nova York: Minton Balch and Co., 1924, p. 170-80)

 

  

a) Proposta:

Você conhece uma olaria? A proposta é apresentar como é o funcionamento de uma olaria

e trazer luz a uma das mais antigas práticas profissionais, mostrando suas curiosidades por meio de metáforas de imagens do cotidiano dos trabalhadores. Junto disso, o trabalho pretende desconstruir o próprio documentário, pois trará  detalhes de produção e a constante

interferência da equipe técnica na busca de alcançar o resultado final do projeto - numa espécie de making of do filme.

Evidenciaremos a importância da sinergia entre o ofício dos oleiros e dos documentaristas para a construção do produto audiovisual.

O foco principal será uma família de Barbosa, interior de São Paulo, onde a atividade movimenta grande parte do fluxo econômico local e se confunde com a história da formação da cidade. Aproximadamente 320 pessoas vivem e trabalham diretamente nas olarias do pequeno município, que tem aproximadamente 6.500

habitantes. O documentário acompanhará a rotina dos trabalhadores para mostrar a vida bucólica, a infância nos vilarejos, as condições de trabalho, o contexto histórico, o processo de

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produção, a utilização final nas construções e as inúmeras questões judiciais.

Anseios, experiências, contos e a realidade dos responsáveis

pela fabricação de tijolos como objeto da produção. Exploraremos detalhes captados sobre personagens da região na tentativa de obter um trabalho de humanização e aproximação entre diferentes realidades sociais (visando unir o espectador aos trabalhadores).

Durante dois ciclos do tijolo (um mês, em média), iremos vivenciar o cotidiano das olarias para apresenta-lo da maneira mais

intimista possível no documentário. Vamos aprender os detalhes do ambiente para conseguir extrair o ponto de vista mais interessante e, assim, traduzir para a linguagem audiovisual o melhor ângulo de visão da vida por lá (em todos os aspectos) através das imagens da

beleza local, que irão compor a narrativa da história.Pensando nisso, a produção e roteirização do documentário serão

idealizadas fotograficamente. Gravações do cotidiano cobrirão a maioria dos Offs [Referência: “Estamira” - Marcos Prado, 2004].

As entrevistas para a composição da story line acontecerão a todo tempo (o importante será a captação de áudio, que poderá se dar por meio de conversas realizadas longe das câmeras). No intuito de deixar o trabalhador a vontade para discorrer sobre seu cotidiano, sem ter a preocupação e a timidez por estar com um aparelho ligado em sua frente, apenas alguns mini-recortes de imagens do momento das entrevistas serão utilizados. 

O processo de filmagem estará focado no diálogo fotográfico – imagens falando por si – e será representado por planos-sequências dotados de informações visuais harmoniosas / conturbadas, tomadas limpas e passagens marcadas com personagens das olarias [exemplo no pré-roteiro: cena de abertura e encerramento do documentário]. As câmeras utilizadas serão as fotográficas Canon 5D Mark II.

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Embora algumas passagens tenham sido planejadas com a utilização de Steadycam (suporte), as câmeras estarão livres dos tripés na maior parte do tempo para documentar o cotidiano. A ideia é trazer movimento constante às cenas, em um sentido de interação. O silêncio, os sons ambientes e as músicas de sucesso das rádios locais irão compor a trilha sonora.

O trabalho dos cinegrafistas-fotógrafos será subjetivo, documental e estará livre para passear pelos ambientes, percebendo e captando detalhes dos locais de acordo com o que o que for mais

contundente para o documentário. A câmera será uma personagem com interesses próprios [Referência: Teatro Oficina], narrando as percepções para auxiliar no desenvolvimento das histórias – que serão ouvidas em Off. Essas características construirão uma bela estética fotográfica de interação entre as partes envolvidas no processo de produção e recepção do nosso produto.

Detalhes de produção, como cinegrafista, voz vazada, microfone, etc, poderão aparecer no documentário para explorar a metalinguagem. A ideia de manter estes ruídos visa marcar a relação estabelecida entre a equipe e o objeto retratado, trazer a

sensação de documentário ainda em construção, fazendo do ruído uma mensagem e tornando o trabalho mais realista [referência: Dogma 95 - Lars von Trier e Thomas Vinterberg]. O processo de roteirização, filmagem, edição e montagem estará explícito no resultado final [exemplos que estão no pré-roteiro: tomadas da equipe e dos oleiros trabalhando em conjunto, divisão em capítulos, off da produção narrando abertura, preparação da bancada do jornal das crianças, etc]. Nossa equipe será uma espécie de personagem que conduzirá o espectador ao longo do filme. Buscaremos

estabelecer preceitos de interatividade com o público, que serão percebidos através de diálogos entre câmeras [exemplo no capítulo 2], offs e passagens que dialogarão direto com o espectador.

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O documentário será estruturado hipertextualmente, contará com prólogo, cinco capítulos e epílogo inter-relativos, porém

independentes. A subdivisão surge como reflexo da linguagem fragmentada da comunicação e dramaturgia contemporânea [Referência: Da criação ao roteiro, Doc Comparato]. Cada um dos capítulos seguirá uma linguagem diferente dos demais, formado espécies de sub-documentários unidos em uma única produção  sobre  o mesmo assunto.

A diferenciação de linguagem se dará por meio de opções de enquadramento, efeitos de luz, edição, tratamento de imagens, áudio, roteiro, etc. Essa estrutura fragmentada contextualizará a

diversidade de relações estabelecidas entre o homem e a olaria e sustentará a proposta de desconstrução do documentário (explicitando nossas opções da montagem através das subdivisões). Os capítulos sempre terminarão com fade out, seguido do título do próximo trecho e o Off.

O trabalho trará como base as ideias de eterno retorno [representada através do prólogo e epílogo, que serão a mesma cena - começo e final da mesma passagem entrecortados pelos 5 capítulos] e de fusão entre realidade e ficção [mostrada pelo making of da produção]. A montagem seguirá apenas o roteiro pré-estabelecido e cada história será retratada de uma maneira diferente,

valorizando as diversas peculiaridades percebidas.

As formas básicas das obras ficcionais (seguindo definição do crítico e teórico alemão Anatol Rosenfeld) serão inseridas na realidade das olarias. O filme apresentará, por meio do diálogo entre personagens reais, momentos dramáticos que criarão – e situarão – o

tempo e espaço aos quais as vidas dos oleiros estão inseridas. O lirismo será buscado ao explorarmos a subjetividade dos trabalhadores e alcançarmos o seu íntimo, quase captando seu estado de espírito [sobretudo no capítulo 5]. A narração, ora da

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equipe de produção ora dos próprios oleiros, trará traços épicos ao documentário. 

b) Eleição e descrição do(s) objeto(s)

- Oleiros x Olarias: a relação estabelecida entre os trabalhadores e seu local de trabalho, que é também o lugar onde vivem, será o principal foco de abordagem do documentário. A narrativa será construída por meio da rotina das famílias. Para tal, a equipe de produção realizará uma verdadeira imersão no cotidiano dos oleiros para perceber / captar o dia-a-dia de seu ambiente - que, além de força de trabalho, reúne homens e mulheres repletos de experiências curiosas, desejos e histórias guardadas em seu repertório de vida. Suas vozes ganharão força e serão objetos de uma construção, desta vez, audiovisual.

  

- Oleiro pré-selecionado para fio condutor do documentário: Roberto, 43 anos (todos vividos em olarias). Oleiro desde criança, quando trabalhava com sua família, hoje mora com sua esposa e filha. Sua rotina de trabalho, entre carregar e enfornar tijolos, muitas vezes começa na madrugada “para fugir do calorão da cidade”, afirma. Fora disso, frequenta semanalmente cultos evangélicos e vai esporadicamente à cidade para compras e para resolver questões de ordem pessoal. Seu rendimento mensal aproximado é, dependendo das encomendas, R$ 2.000, número alto para um município de pouco mais de 6 mil habitantes. Basta uma pergunta sobre o processo de produção dos tijolos e Roberto descreve detalhadamente seu ofício – com a entonação mais orgulhosa possível.

Contudo, diversos outros personagens surgirão ao longo do documentário (o planejamento é trabalhar com uma pessoa como foco para cada subdivisão de capítulos do trabalho). O número de

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funcionários diretos das olarias de Barbosa somam, aproximadamente, 320. Com suas respectivas famílias, a estimativa sobe para 500 pessoas. Um bom sinal de interessantes histórias em vista.

  

- Equipe de produção e a interferências na construção do documentário: serão recorrentes as aparições de cinegrafistas, entrevistadores, técnicos e intervenções explícitas realizadas na edição do trabalho. A intenção é situar o espectador sobre o processo de realização deste projeto, apresentando nossa participação na tentativa de conduzi-lo ao longo dos detalhes percebidos durante a convivência nas olarias.

  

- Proprietários das olarias: são os responsáveis pela manutenção dos espaços. Alguns trabalham no setor desde sua infância e herdaram o ofício dos pais, outros optaram por investir na área tendo em vista a rentabilidade de negócios. Todos são administradores, recursos humanos e, por vezes, trabalhadores braçais. No papel de gestão, têm a responsabilidade, além de manter em dia a folha de pagamento, sobre questões empregatícias e judiciais – para assegurar o cumprimento de leis (que são inúmeras), por exemplo.

O documentário terá a olaria Irmãos Marques como base (sede), uma vez que Roberto, personagem central da história, vive e trabalha no local. João Marques, o proprietário que mora com toda sua família no lugar, é um daqueles que vem trabalhando no intuito de melhorar a condição de vida dos oleiros, embora admita que seus funcionários ainda não estejam 100% inseridos nos padrões adequados para a atividade. Porém, ele caminha neste sentido, mas nem todos seguem o mesmo fluxo de pensamento e atuação. Inúmeros trabalhadores

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ainda enfrentam situações, digamos por enquanto, difíceis em busca do ganha-pão.

  

- Crianças: a maioria destas passa grande parte de sua vida nas olarias. O cerco ao trabalho infantil vem aumentando a cada ano na região, porém, ainda é recorrente a presença de menores envolvidos no processo de trabalho. Personagens principais para a continuidade das tarefas dos pais, visto que a maioria dos trabalhadores crescem nestes locais, as crianças apresentam uma visão lúdica, mas não romantizada, do cotidiano de trabalho dos familiares. E de cedo aprendem o ofício. Mas como é tratada a questão da educação? Da exploração infantil? Como brincam? O que desejam ser quando adultas?

  

- Responsáveis judiciais: não são poucos os processos enfrentados pelas olarias, seja por más condições de trabalho ou mesmo por exploração de força infantil. Além das tradicionais obrigações trabalhistas, como registro, abertura de firma, emissão de notas e escritório para contabilidade, diversos fatores burocráticos normatizam o funcionamento de uma olaria. A argila utilizada para a fabricação do tijolo deve ter autorização de retirada, não é permitido o uso de raspas de couro de boi no processo de queimada dos fornos, existem variadas medidas a serem tomadas no combate a impactos ambientais, etc. O descumprimento destes acarreta em multa e, em alguns casos, fechamento do local.

Para questões judiciais, dois nomes ganham destaque entre os oleiros da cidade: Dra. Guiomar, procuradora do Ministério Público do Trabalho de Araçatuba / SP, e o promotor Maturana (de Bauru / SP). Outros advogados e representantes públicos ligados ao assunto

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também serão ouvidos para que possamos construir um painel, apresentando versões e fatos sobre o exercício profissional.

- Primeiros trabalhadores: existe uma espécie de primeiro time dos oleiros, aqueles que trabalharam nos locais por muito tempo e hoje estão “aposentados” (e as aspas podem ser interpretadas com uma certa ironia, pois muitos nunca tiveram condições dignas de trabalho). São neles que residem os contos mais curiosos das olarias. Figuras conhecidas na cidade, como a carismática “Nega Pelé”, mãe de 13 filhos e com história de vida ímpar, serão personagens que incrementarão a narrativa da história.

  

- Olarias x Barbosa: a trajetória da pequena cidade do interior de São Paulo está intimamente ligada com a das olarias, onde os trabalhos tiveram início muito antes da emancipação do município. Algumas entrevistas com administradores de Barbosa irão acrescentar informações adicionais para a reconstrução da história da tradição oleira.

c) Eleição e justificativa para a(s) estratégia(s) de abordagem:

Olaria: como a vida dos oleiros está ligada às olarias, praticamente tudo acontece nelas. Será com um trabalho de imersão no local que conseguiremos perceber o ambiente da maneira mais intimista possível. Trata-se de uma tarefa subjetiva – e sempre acompanhada pela câmera – de conhecer e entender o espaço para apresentar seus detalhes com clareza. A veracidade será buscada por meio da convivência cotidiana, que terá o intuito de mostrar o campo de vista mais bonito, o ângulo mais real dos acontecimentos diários.

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Entrevistas com oleiros: serão o fio condutor do documentário. A realização do projeto acontecerá através da narrativa de suas histórias e de metáforas imagéticas captadas de seus cotidianos. Desejos, experiências, contos e suas realidades servirão como alicerce para a produção.

As entrevistas não acontecerão da maneira tradicional (quando câmera, iluminação e microfone são preparados), mas sim ao passo da evolução de nossa relação com os trabalhadores - o importante, em algumas partes, será a captação de áudio, que poderá se dar por meio de conversas realizadas longe das câmeras com mini-gravadores. A idéia é deixar o trabalhador a vontade para discorrer sobre seu cotidiano.

Equipe de produção: também serão personagens – que orientarão os espectadores – na construção do documentário. Irão conduzir entrevistas, processos de edição, escolhas de continuação de passagens, etc (todas estarão explícitas do produto final).

Fotografia: o documentário é todo concebido fotograficamente para explorar a grande riqueza e força de imagens do local. Se a narrativa dos oleiros guiará a story line, as tomadas diárias irão compor a cena.  A vida nas olarias será apresentada através de gravações de sua rotina, imagens estas que serão partes de imensa importância na construção da montagem do documentário. As câmeras estarão livres para vagar pelas olarias em busca de informações visuais que complementem a história.

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Epílogo e prólogo: começaremos o trabalho de desconstrução do documentário já em sua cena de abertura, que será marcada com Roberto, alguns oleiros e mais um caminhão. Já no black inicial de introdução do prólogo – e do filme –, uma voz off (do cinegrafista que estiver realizando as imagens do trabalhador) irá marcar a passagem da cena, com o oleiro e para o espectador.

 - Exemplo do off inserido no início do pré-roteiro: “Roberto, a câmera vai entrar em close no rosto do senhor. Conta até três e começa aquilo que combinamos”. Após a contagem em off, aparecerá em quadro o rosto do trabalhador, que, então, começará a passagem combinada. Duas câmeras simultâneas captarão a cena e, a partir de um ponto, dividirão a tela do documentário. Assim, a equipe de produção aparecerá nos dois quadros do vídeo – apresentando a primeira metalinguagem visual do trabalho.

Em um determinado momento, esta tomada irá terminar para dar início ao próximo capítulo. Após a quinta parte, valores, aparecerá no black inicial o título de todos os capítulos e, em seguida, epílogo. Então, a cena do início será revista por uma câmera grande angular colocada em um ponto em que a “atuação” das duas equipes de filmagens e dos oleiros possa ser vista por inteiro.

Capítulo 1 – O tijolo: será descritivo, a narrativa dialogará com as cenas. Teremos a narração (obtida na entrevista) do processo de produção do tijolo composta por imagens captadas durante todo o processo descrito em off – gravações de entrevistas com áudio ambiente serão intercaladas.

Capítulo 2 – O homem: a maior parte das imagens serão captadas em câmera grande angular para dar uma dimensão mais próxima a

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grandiosidade e dificuldade enfrentadas pelos oleiros (e também para situar o espectador no ambiente de trabalho).

Neste capítulo não utilizaremos apenas off coberto – imagens de entrevistas realizadas com os trabalhadores em ação irão compor este trecho. Em diversas tomadas, realizadas por uma terceira câmera (grande angular), a equipe de produção aparecerá trabalhando na realização do documentário juntamente aos oleiros – reforçando a idéia de trabalho em conjunto para a finalização do produto audiovisual (desconstrução). Abriremos espaço neste trecho para o surgimento de novos personagens. Será aqui que os primeiros trabalhadores das olarias aparecerão no documentário.

Capítulo 3 – Aprendizado: imagens de trabalho infantil não aparecerão no documentário (salvo a utilização de tais passagens se tornem de extrema importância para a construção do projeto). Neste trecho, as crianças aparecerão apenas em momentos de diversão – soltando pipa, jogando futebol, nadando no lago, etc - reforçando um tom lúdico.

Contudo, assuntos pesados relacionados a exploração da força de trabalho infantil serão abordados durante todo o off do capítulo. As imagens da composição da cenas fotográficas serão obtidas com gravações das brincadeiras infantis e também com a utilização de edição em after effects.

Capítulo 4 – Justiça: única parte em que serão utilizadas as formas tradicionais de gravação de entrevistas, uma vez que o capítulo todo será uma espécie de reportagem (com off, passagem de repórter, etc) sobre as questões judiciais enfrentadas pelas olarias.

Tais assuntos serão apresentados numa espécie de telejornal improvisado que iremos propor durante a brincadeira das crianças no

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final do capítulo anterior (elo de ligação entre os trechos). Como boa parte das celeumas enfrentadas pelas olarias são relativas a presença de crianças realizando atividades de oleiro, serão elas que apresentarão o “jornal” – reforçando o lúdico entre a brincadeira infantil e a necessidade de trabalhar. Representantes legais apresentarão as condições e situações jurídicas.

Capítulo 5 – Valores: para apresentar, por fim, quem é o homem que trabalha na olaria. O que ele faz fora dali, como se diverte, no que acredita, o que pensa e assim por diante. O tratamento de imagens aqui será o mais bonito, com cenas de cores saturadas, vivas e pulsantes (explorando a beleza da simplicidade da vida dos trabalhadores). Aqui, vamos para a igreja, às festas, encontros de amigos, compras, etc. Também apresentaremos o vínculo entre o ofício do oleiro e a história da cidade de Barbosa.

 

d) Estrutura (pré-roteiro):

O documentário será dividido em prólogo, 5 capítulos e epílogo, que serão independentes, porém correlatos, com duração entre 5 e 10 minutos cada – totalizando, aproximadamente, 50 minutos.

Os capítulos serão espécies de sub-documentários, terão linguagens e pontos de abordagem diferentes, embora o assunto tratado interligue as transferências de temas.

> Prólogo:

É a cena de abertura do documentário (e, ao mesmo tempo, a de encerramento). Com o black, aparece escrito PRÓLOGO e já

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começa um Off do tipo: "Teste, som. O microfone está funcionando direito? Roberto, a câmera vai gravar em close no rosto do senhor. Conta até três e começa aquilo que combinamos”. Após a contagem, surgirá a imagem em close do rosto do trabalhador [CÂMERA 1], que:1) começará a ler uma passagem de um livro; OU2) cantará uma música ou hino; OU3) narrará uma história da olaria; OU4) fará uma introdução do documentário OU etc.

Então, ele sairá andando para o local onde o caminhão de tijolos costuma estacionar. A câmera irá seguindo-o, sempre explorando a beleza do local. Enquanto isso, uma outra câmera [CÂMERA 2], posicionada na parte superior da boleia do caminhão, irá mostrar um trecho do caminho percorrido até chegar à olaria (rodovia, entrada de Barbosa, estrada de terra e a chegada).

As imagens serão interpostas simultaneamente (misturando o áudio do trabalhador com o som ambiente do automóvel na estrada). Quando o caminhão estiver chegando na olaria e o cinegrafista CÂMERA 1 passar a aparecer nas imagens da CÂMERA 2, a tela será dividida para que as duas componham o quadro [a brincadeira com as câmeras, por vezes uma filmando a outra, pode gerar um resultado interessante de metalinguagem visual]. A CÂMERA 2, então, irá virar para a caçamba do caminhão para acompanhar a colocação dos tijolos. A CÂMERA 1 continuará acompanhando o trabalho de carregamento.Obs.:- Poderemos obter resultado interessante caso o trabalhador opte por cantar algum hino da igreja, pois, no final (epílogo), o motorista poderá ligar o rádio do caminhão em uma música (forró ou sertaneja) que fale algumas besteiras;- Tempo: aproximadamente 3 minutos.- Operacionalização: as gravações do caminhão na estrada não precisam acontecer simultaneamente as do trabalhador na olaria.

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Elas só serão simultâneas no momento da entrada do caminhão no olaria – marcar passagem;- A cena termina com o fade out. Então, surgirá: Capítulo 1: o tijolo (junto do áudio do capítulo).

> 1° capítulo - O tijolo:

Aqui, vamos explicar o processo de produção do tijolo de forma didática (narrativa dialogando com as cenas);- áudio: Roberto narrando (“a produção tijolo começa...”) / imagens captadas durante todo o processo descrito;- offs irão se intercalando com sons ambientes das tomadas que descreverão o processo (dialogando entre si);- aproximadamente: 6 min.

> 2° capítulo - O homem:

Esta parte irá apresentar as condições de trabalho dos profissionais e também tratará a chegada da tecnologia (e a redução dos empregos);- off do Roberto falando sobre sua relação com o trabalho (horários, salário, dificuldades, há quando tempo?, etc) coberto por imagens captadas somente com grande angular [Câmera 3] - para dar dimensão da realidade do trabalho dos oleiros;- utilização de imagens das entrevistas nas Câmeras 1 e 2 realizadas enquanto os oleiros trabalham - não só off coberto;- diálogos entre as câmeras (metalinguagem: ao aparecer um cinegrafista no quadro a imagem da tela muda diretamente para aquela que sua câmera está captando);- realizar algumas tomadas da equipe de produção “trabalhando” junto com os oleiros [Câmera 3 – grande angular];- aparece em quadro uma imagem da Câmera 1 captando a cena do

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visor da Câmera 2, com os oleiros trabalhando ao fundo. Então, poderemos fazer uma pequena menção a questão do patrocínio;- surgirão outros personagens da olaria;- gravar uma tomada do Roberto saindo do trabalho e indo na direção de sua casa para almoçar (a conversa continua em off). Quando encontrarmos com a esposa dele trataremos o assunto sobre a relação entre crianças e as olarias - e também a questão da educação.- Off da conversa continua e entra um black com a chamada do próximo capítulo;

> 3° capítulo - Aprendizado:

Como é a relação das crianças com o trabalho dos pais? Este capítulo irá abordar assuntos relativos aos jovens das olarias. Aqui surgirão muitos problemas judiciais, porém o documentário apresentará apenas imagens de crianças brincando (independente do assunto tratado no off) - imagens de trabalho infantil serão utilizadas apenas se for de suma importância.- off das entrevistas coberto com imagens das crianças felizes (brincadeiras no barro, futebol, pipa, na lagoa, indo pra escola, etc);

- fazer este capítulo apenas em after effects?

Em uma das passagens, vamos chegar com a [Câmera 1] em um grupo de crianças brincando. Então, vamos propormos uma brincadeira diferente: “que tal montar um jornalzinho da olaria?”. Assim, mostraremos trechos da preparação da montagem do telejornal: buscar lugar para armarmos bancada, escolher o apresentador, etc.- [Câmera 2] vai se afastar da cena, mostrando a armação do jornal. Fade out.

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> 4° capítulo -  Justiça:

Tratar dos problemas judiciais que as olarias enfrentam através de um telejornal apresentado pelas crianças. Este capítulo será o documentário jornalístico em essência. Vamos realizar uma reportagem telejornalística completa, abordando as questões que as olarias enfrentam na justiça;- Após a chamada para o capítulo, entra uma vinheta de jornal;- na bancada, duas crianças apresentarão um telejornal e chamarão a reportagem sobre as questões judiciais envolvendo as olarias;- reportagem jornalística séria - com passagem, entrevistas, offs, etc – tratando dos assuntos judiciais;- a imagem então voltará para as crianças, que agradecerão os telespectadores e se despedirão.- Black para o próximo capítulo;

> 5° capítulo - Valores:

Neste capítulo, focaremos no que acredita e como vive o trabalhador da olaria, no intuito de humaniza-lo. Vamos mostrar detalhes pessoais, como ir à igreja, festinhas em casa, o forró, visitas a Barbosa, opiniões sobre assuntos gerais, etc. Também apresentaremos como a história de Barbosa está ligada a história das olarias.- será o momento mais bonito do documentário. As imagens retratarão a beleza da vida simples dos oleiros, valorizando detalhes de seu cotidiano.- Este capítulo será baseado no formato comercial de margarina, apresentando a vida na olaria por meio de seus aspectos mais bonitos e humanos;- Extrair beleza em meio a vida do oleiro;

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> Epílogo:

É a "conclusão" da construção do documentário. - Após Epílogo, todos os títulos reaparecerão na tela (Prólogo também, marcando o retorno à cena inicial filme (na olaria). Então, uma voz em off: “Agora vamos rever a cena de abertura do documentário através da grande angular da Câmera 3”. Vamos rever a cena de abertura por outro ângulo (CÂMERA 3), que estará posicionada um pouco distante da cena e registrará o trabalho das equipes (criação de nova metalinguagem).- Os trabalhadores terminarão de encher o caminhão e a CÂMERA 1 passará a acompanhar o motorista (indo para dentro da cabine) - a CÂMERA 2 continuará em cima da boleia.- Desenvolveremos um assunto com o caminhoneiro durante a viagem ao destino final dos tijolos. Vamos entregar um cd (ou fita) de músicas para ouvirmos no caminho (será a trilha do documentário). Nesse ponto, poderemos relembrar algumas imagens do filme.- Chegando no local da entrega, a CÂMERA 1 continuará acompanhando (agora o descarregamento). A tela, então, será dividida e numa das metades mostraremos uma entrevista (CÂMERA 2) com o mestre de obras, que explicará alguns detalhes da construção (essa entrevista deverá acontecer enquanto o caminhão é descarregado, mostrando, ao fundo, nossa equipe registrando o trabalho).- Depois, com a tela preenchida apenas pela CÂMERA 1, o cinegrafista irá se afastando da cena do trabalho e voltará ao caminhão (com a câmera ligada acompanhando o afastamento). Lá, a imagem mostrará a mão dele ligando o rádio. A música que o caminhoneiro estava escutando estará no finalzinho, em seguida começará uma nova (que já será o Off predominante). A CÂMERA 1, assim, voltará para as obras e os créditos, sobre as imagens, aparecerão.

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e) Extras:

- Exposição fotográfica: realizaremos fotografias durante as gravações. As imagens serão apresentadas em uma exposição, que será marcada para a estréia do_documentário.

- Resumo dos capítulos: 

Prólogo: cena de abertura. Trabalhador lendo um texto ou cantando uma música ou contando alguma história importante da vida ou etc -  duas câmeras, uma na parte superior da boleia do caminhão, acompanhando o automóvel da rodovia até a olaria (passando entrada de Barbosa, caminho de terra, etc), e outra acompanhando o trabalhador; 1° capítulo - O tijolo: explicar o processo de produção do tijolo; 2° capítulo - O homem: mostrar as condições de trabalho dos profissionais; 3° capítulo - Aprendizado: a relação das crianças com o trabalho; 4° capítulo - Justiça: trazer os problemas judiciais que as olarias enfrentam; 5° capítulo - Valores: apresentar o que acredita o trabalhador da olaria; (humanizar os trabalhadores, mostrar detalhes pessoais - como ir à igreja, festinhas em casa, o forró, etc -, visitas a Barbosa, opiniões sobre assuntos gerais, etc) e mostrar como a história de Barbosa está ligada a história das olarias da cidade;Epílogo: volta à cena do início (epílogo) e acompanha a viagem do caminhão até o local onde o tijolo será utilizado para construção (com recurso de acelerar a imagem, mostrar o resultado final do tijolo: a obra pronta);

 

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f) Locações:

Fotografias das olarias de Barbosa, dos trabalhadores e do cotidiano da produção de tijolos.

Roberto

Olaria Dois Irmãos

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Bruno Castro é formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como repórter, redator e fotógrafo em revistas de São Paulo (Movie, Investidor Institucional, Pesca & Cia, About, etc) e portais de internet. Com o documentário “Anhangabaú da Feliz Cidade”, realizado para o Trabalho de Conclusão de Curso, passou a integrar a equipe do Teatro Oficina (assessoria de comunicação e cinegrafista). Participou dos seguintes cursos/workshop na área de produção audiovisual: iluminação e fotografia de cena com Zé Bob; a história do documentário com o professor Pedro Ortiz; direção de arte e figurino na construção do universo visual com Marjorie Gueller; a linguagem cinematográfica (SescSP); telejornalismo realizado pela emissora NBC no Brasil (2008).

[email protected] / www.flickr.com/bhcastro / 11-9250.8289