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-i8- repetidas vezes o Atlantico meridional e o mar de Guiné. No estudo dos antigos geografos e cosmografos. classicos e do tratado da lmago mundi, do cardeal Pierre d'Ailly, por ele anotado, baseou-se na es- fericidade da terra para empreender o ciclo do Ol'i- ente pelo Poente, que realizou em 1492. Vítima de formida.veis intrigas dos invejosos de sua glória de vice-rei, foi prêso em 1500 por Fran- cisco Bobadilla e conduzido á Espanha, carregado de algemas, que ele conservava, dizendo serem "as reliquias e lembranças de seus serviços". Viu-se afinal reduzido a extrêma penuria, fale- cendo num hospital, em Valladolid, em 1506. Afir- mam alguns historiadores ter ele nacido em 1446, em Genova. Outros atribuem seu nacimento a 143& ou a 1441. PO TO I- LIÇÃO 3 a o DESCOBRIMENTO DO BRASIL Em virtude do litígio suscitado pelo feito de Colombo e consequente assinatura do tratado de Tordesillas (1494), enquanto não era o mesmo con- firmado (1506), buscou Portugal, na iminencia de Fompe!, hostilidades com a Espanha, resguardar sob sigilo diplomatico as descobertas feitas pelas explo- rações lusitanas, dentro das raias do meridiano convencional. Dificuldades surgiram na demarcação da área geografica partilhada entre Portugal e Espanha, devido ainda ao fato de não se especificar na bula de Alexandre VI qual a especie de unidade das 370 léguas marítimas, isto é, si a légua seria a cas- telhana ou a portuguesa.

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repetidas vezes o Atlantico meridional e o mar deGuiné.

No estudo dos antigos geografos e cosmografos.classicos e do tratado da lmago mundi, do cardealPierre d'Ailly, por ele anotado, baseou-se na es-fericidade da terra para empreender o ciclo do Ol'i-ente pelo Poente, que realizou em 1492.

Vítima de formida.veis intrigas dos invejosos desua glória de vice-rei, foi prêso em 1500 por Fran-cisco Bobadilla e conduzido á Espanha, carregadode algemas, que ele conservava, dizendo serem "asreliquias e lembranças de seus serviços".

Viu-se afinal reduzido a extrêma penuria, fale-cendo num hospital, em Valladolid, em 1506. Afir-mam alguns historiadores ter ele nacido em 1446,em Genova. Outros atribuem seu nacimento a 143&ou a 1441.

PO TO I - LIÇÃO 3a

o DESCOBRIMENTO DO BRASIL

Em virtude do litígio suscitado pelo feito deColombo e consequente assinatura do tratado deTordesillas (1494), enquanto não era o mesmo con-firmado (1506), buscou Portugal, na iminencia deFompe!, hostilidades com a Espanha, resguardar sobsigilo diplomatico as descobertas feitas pelas explo-rações lusitanas, dentro das raias do meridianoconvencional.

Dificuldades surgiram na demarcação da áreageografica partilhada entre Portugal e Espanha,devido ainda ao fato de não se especificar na bulade Alexandre VI qual a especie de unidade das370 léguas marítimas, isto é, si a légua seria a cas-telhana ou a portuguesa.

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A reserva de Portugal justificava-se, além disso,com relação a Luis XII de França, outro adversario,que cêdo se insurgiu contra essa partilha do mundodesconhecido, feita pelo papa entre os dois reinosibericos.

Francisco I, de França, após o reconhecimentodo Prata, pelo qual se completava o perfil do conti-nente sul-americano, protestou jámais ter visto aclausula do testamento de Adão, doando a Americaa.os reis de Espanha e Portugal.

Nesse sentido, enquanto se discutia. o tratado deTordesillas, dom Manuel, o Afortunado, resolveu, apósDuarte Pacheco Pereira, citado por Pandiá Caloge-ras como o verdadeiro descobridor do Brasil (For-mação Hisiorica do Brasil, pág. 21), enviar á nossaterra o seu descobridor, pelo menos oficial, PedroAlvares Cabral, por comandante da segunda armadaportuguesa do Malabar, a qual, segundo o quinhen-tista João de Barros, foi a mais poderosa das despa-chadas até aquele tempo.

Tres vezes maior que a do Gama, com cêrca de1.200 homens de guarnição, compunha-se de deznáus de tres mastros, com destino a Calecut, muni-das de bocas de fogo, roteiro e astrolabio, além deduas caravelas para Sofala e uma barca de manti-mentos.

Sabe-se que a capitanea se chamava El-Rei:outra náu tinha o nome de São Pedro, sob o co-mando de Pero de Atayde, e outra, a Annunciada,estava sob o comando de Nuno Leitão.

Eram chefes das náus: Sancho de Toar, Simãode Miranda, Bartholomeu Dias (o malogrado heróido Cabo Tormentorio), Pedro Dias, Gaspar de Lemos,Simão de Pina, Vasco de Atayde, Nicolau Coelho,Ayres Gomes da Silva e Luis Pires.

Com Cabral, vinham a.inda, na armada de1500, o fisico-mór, mestre João Emmenelaus, que foio primeiro a descrever o Cruzeiro do Sul; o escri-

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vão despachado para a feitoria em Calecut, Pero Vazde Caminha, autor da carta a dom Manuel, sôbre odescobrimento do Brasil; seis frades franciscanos,tendo por guardião frei Henrique Soares, de Coimbra;pilotos, intérpretes, carpinteiros, bombardeiros, fei-tores e degredados.

Vasco da Gama não só teria recomendado Pe-dro Alvares Cabral ao rei, para continuador do pé-riplo africano, como lhe forneceu dados sôbre ma-rinharia e práticos mouros, que o herói do cami-nho da India trouxera de Melinde.

Descrevendo a rota gloriosa, assinalou Camões,nos Lusiadas (canto V, estrofe IV), que foram eles

... "abrindo aquelles mares,Que geração alguma não abriu",

e"Deixando á mão esquerda, que á direitaNão ha certeza de outra, mas suspeita".

De fato, quando o Gama, de rumo pelo Atlan-tico, passou, a 22 de Agosto de 1497, proximo ao pe-nedo de São Pedro, atalaia oceanica do Brasil, dizem seu roteiro ter avistado - "aves que, á tarde, sedirigiam velozmente para sul-oéste, como em buscade terra". A carta de capitania-mór do descobridordo Brasil, datada de 15 de Fevereiro de 1500, trazainda o seu cognome materno - Pedr'Alvares deGouvêa (Arquivo da Torre do Tombo).

Realizou-se a partida a 9 de Março de 1500, porentre aclamações festivas.

Na vespera, domingo, a esquadra estivera surtaem frente ao Restello; e o almirante, da tribuna, naermida de Belém, ao lado de dom Manuel, com todaa guarnição, assistiu á missa e sermão pelo bispo deCeuta.

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Após o ato solene, desfilou o cortejo processio-nal até á praia, apinhada de povo, onde el-reí en-tregou a Cabral o estandarte com a cruz de Cristo,abençoado pelo bispo durante a missa.

Depois de terem passado Cabo-Verde, - ondese desgarrou a nau de Vasco de Atayde, a qual ar-ribou ao Tejo, - a armada singrou para o Sul.Daí buscou o mar de longo, que deveria sulcar atéa altura do cabo de Bôa-Esperança, afim de mon-ta-lo de largo, conforme o conselho do Gama.

Lançou-se aí na direção do S. O., no mesmoponto em que o Gama torcera o rumo para S. E.,decendo a costa africana.

Deante das descobertas e conhecimentos marí-timos da época, não é mais licito duvidar de que, --depois de Colombo e Vasco da Gama- tivessem osPortugueses, em 1500, plena certeza da existencia deterra firme a S. O., já registada, aliás, nos mapasde Bianco (de 1460 e 1478).

Só {)desconhecimento da história naval por-tuguesa póde atribuir a exploração do Brasil porAlvares Cabral a um efeito do acaso, ao cégo impulsodas correntes maritimas ou a algum temporal, deque não ha prova historica fidedigna.

Cabral só se afastou adrede do rumo de Vasco daGama, não para evitar as calmarias da costa deGuiné, á procura dos ventos aliseos, mas para re-conhecer, ou seja descobrir o Brasil, segundo a ex-pressão tecnica naval do tempo. A 21 de Abril, viuos primeiros sinais de terra e, na tarde de 22, surgiu-lhe no horizonte o monte, que denominaria de -Pascôal.

A 24, entrou em Porto-Seguro, e no domingo, 26,celebrava frei Henrique Soares de Coimbra a pri-meira missa, no ilhéo de Véra-Cruz.

A 1 de Maio, após a segunda missa, foi tomadapósse solene de terra, em nome da corôa de Portugal.

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No dia seguinte, a armada levantava ferros paraa lndia, deixando desembarcados, afim de aprende-rem a língua dos naturais, "dois degredados que aquificam e mais dois grumetes que esta noite se saíramdesta nau, no esquife, fugidos, os quais não vierammais, e cremos que ficarão aqui, porque, de manhã,prazendo Deus, faremos daqui nossa partida" (Cartade Pero Vaz de Caminha, datada de Porto Seguroda ilha de Véra Cruz, sexta-feira, 1 de maio de 1500).

QUADRO SINóTICO

Portugal, durante as negociações do tratado deTordesillas (1494-1506), ante a possibilidade de rom-per hostilidades contra a Espanha, viu-se obrigado,contra a pretenção desse país e talvez da França, aguardar reserva diplomatica sobre os descobrimen-tos feitos dentro das raias do meridiano estabelecidopelo papa entre Portugal e Espanha.

Depois das viagens de Colombo, Vasco da Gamae Duarte Pacheco Pereira, não é mais possivel ad-mitir que os Portugueses, como povo de mareantes,de maiores conhecimentos nauticos no seculo XV,ignorassem a existencia de terra firme a S. O., jáassinalada nos mapas de Bianco (de 1446 e 1478).

O descobrimento não se verificou por acaso; foi,sim, o complemento logico das expedições anterio-res.

A esquadra de Cabral teve por fim principal ga-rantir o monopolío do comércio das especiarias epor fim acessorio descobrir a nova terra firme. jáassinalada aS. O. do oceano Atlantico, o que, defáto, se realizou a 22 de Abril de 1500.

Duarte Leite, em seu magistral livro - DESCO-BRIDORESDOBRASIL- afirma (pags. 137-138) que-"quando o descobridor genovês, ao voltar em 1493,

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de sua famosa viagem, se vangloriava diante de domJoão 11 de ter pisado solo indiano, não lhe deu êstecrédito, assegurado por seus conselheiros de que O

Oriente estava a muito maior distância. Ao mesmotempo, corroborando sua crença, mostrou-se o Prtn-cipe Perfeito convicto da existencia de terras situa-das no Austro, e logo no ano seguinte as acautelouda avidez castelhana no convenio de Tordesillas.

"Em 1500, quando Cabral avistou a sua VeraCruz, não lhe passou pela cabeça que fosse asiatica".

TRAÇOS BIOGRAFICOS

PEDRO ALVARES CABRAL (1467-1518)

Filho de Fernão Cabral, alcaide-mór de Bene-vente, e neto de Fernão Alvares Cahral, guarda-mórdo infante dom Henrique, sobrinho de Gonçalo VelhoCabral, descobridor dos Açores.

Na carta régia que o nomeou capitão-mór dasIndias, lê-se o nome de Pedro Alvares de Gouvêa.D patronimico foi por ele usado depois da morte deseu irmão mais velho.

Sobre as datas de seu nacimento e de sua morte,nada ficou averiguado de positivo até hoje.

Rocha Pombo afirma (voI. 1°, pago 148, de sua"Historia do Brasil") que - "do proprio Cabra! nãoconsta cousa alguma", não obstante Sanches deBaena dizer em seu trabalho - O descobridor doBrasil (1897) estar longamente desenvolvida a ge-nealogia de Cabral.

Rodolpho Garcia, anotando a História Geral doBrasil, de Varnhagen (3a ed., 1° voI., pago 88), repeteas palavras do mesmo Varnhagen, que asseguravaviver ainda Cabral em 1518, ano em que se lhe pa-gavam de moradia 2.437 réis por mês.

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Em 1839, Varnhagen, então secretario da Le-gação do Brasil em Lisbôa, descobriu na sacristia doConvento da Graça, em Santarém, o jazigo de PedroAlvares Cabral, de que não havia memoria escrita.Era uma sepultura rasa com uma lousa simples detreze palmos de comprimento, por seis e meio delargura, e o seguinte dístico em gotíco florido: -"Aqui jaz Pedralvares Cabral e dona Izabel deCastro sua molher, cuj a he esta capella he de todosseus herdeyros aquall depois da morte de seu ma-rydo foi camareíra-mór da infante dona Marya fylhade EI Rey dõ João noso Snor hu terceyro destenome".

Em 1903, o advogado brasileiro Alberto de Car-valho conseguiu que o "Jornal do Commercio" ini-ciasse uma subscrição, cujo produto seria empregadona execução de uma obra ornamental no sitio emque repousam os restos mortais de Cabral.

No dia 20 de Abril de 1904, o arcebispo do Riode Janeiro presidiu á cerernonia do encerramentoda urna contendo residuos mortuarios extraídos dojazigo de Cabral, residuos estes trazidos pelo mesmoAlberto de Carvalho e que se acham numa das pa-redes da catedral.

E' tudo quanto se póde dizer sôbre a pessôa dodescobridor oficial do Brasil.

FREI HENRIQUE SOARES, DE COIMBRA

Pouco se apurou até hoje sôbre a individualidadedo primeiro sacerdote que pisou terra do Brasil. ce-lebrando nela a primeira missa.

Frei Henrique Soares de Coimbra fôra desern-bargador da Casa de Suplicação e trocara a togapelo hábito de franciscano do convento de Alemquer,

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Na India recebeu algumas feridas pelas costas,no assalto que os indígenas deram á feitoria de Ca-lecut; de regresso, foi confessor do rei, seu embai-xador em missão de pesames junto á princesa donaJoanna, bispo de Ceuta e inquisidor.

E' o que ensina Rodolfo Garcia no 1° voI. da3a edição da "Historia Geral do Brasil", de Varnha-gen, pago 87. Faleceu, opinam, a 14 de Abril de 1532.

PONTO 1.° - LIÇÃO 4a

AMERINDlOS E INCOLAS BRASILEIROS

A denominação generica de indios ou indiqenas,dada aos selvagens americanos (amerindios - in-dios da America), provém da ilusão, que é anteriora Colombo, em tomar o Novo-Mundo pela IndiaOriental.

Ainda no seculo XVIII, a America era conhe-cida pela designação de Indias Ocidentais.

O problema da indianologia e etnografia ameri-cana apresenta-se-nos dos mais complexos, abran-gendo, entre seus tipos principais, os Esquimós, daAmerica Boreal; os de. Alaska e Groenlandia; osPeles-Vermelhas, do Canadá e Estados Unidos; osAztecas, do Mexico; os Incas, do Perú; os Tupis eTapuias, do Brasil; os Guaranis, do Paraguai; osAraucanios, do Chile; os Patagões e Fuegianos, daAmerica Austral.

Na época do descobrimento, dois grandes gruposconheceram os exploradores. O primeiro compreen-dia as nações que falavam, mais ou menos, a lin-gua geral, sob a denominaçção de Tupis, habitandodo Rio Grande do Norte ao do Sul.