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    BRASIL, LABORARIO DE CIVILIZAO1a importncia de Rdiger Bilden

    BRAZIL, LABORATORY OF CIVILIZATIONthe importance of Rdiger Bilden

    Maria Lucia Pallares-Burke

    Universidade de Cambridge

    Resumo:

    O artigo reconstri a trajetria de Rdiger Bilden, jovem alemo radicado nos EUA,

    que foi colega de Gilberto Freyre poca da Columbia University. Em suas pesquisas

    para o doutorado, nunca concludo, e em um de seus ensaios, Brasil, laboratrio de

    civilizao, antecipa vrias das afirmaes que tornariam clebre a obra mais famosa

    de Freyre, Casa Grande e Senzala. A histria de vida desse personagem esquecido

    feita tomando como eixos de anlise o fracasso e o debate sobre a histria dosvencidos.

    Palavras-chave:fracasso, Rdiger Bilden, Gilberto Freyre, Brasil.

    Abstract

    Tis article summarizes the trajectory of Rdiger Bilden, a young German student

    living in the USA, and a colleague of Gilberto Freyre at the Columbia University.

    In his research for his unfinished Ph.D., especially in his essay Brazil, a laboratory

    of civilization, Rdiger anticipates several of the statements that become famousthrough the best known work of Freyre, Casa grande & Senzala. Failure and the

    debate on the history of the defeated are the core of the analysis on the life-story of

    this forgotten character.

    Keywords: failure, Rdiger Bilden, Gilberto Freyre, Brazil.

    Em janeiro de 1929, a revista semanal Te Nation, bastante

    conhecida naquela poca (a mais antiga revista semanal norte-americana ainda em circulao), publicou um artigo intitulado Brasil,

    1 Conferncia proferida no Kings College London, na University of Cambridge, no dia 13 de novembrode 2012. A traduo, feita por Myrna Maia, manteve o tom coloquial da conferncia.

    ISSN 0104-8015 | ISSN 1517-5901 (online)

    POLICA & RABALHO

    Revista de Cincias Sociais, n. 39, Outubro de 2013, pp. 179-194

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    Laboratrio de Civilizao. Quem foi o autor desse artigo? O que elequis dizer com a expresso laboratrio de civilizao? Qual foi odestino do autor e dessa ideia?

    Neste artigo, explorarei a combinao paradoxal do sucesso daideia com o fracasso de seu autor. Comeo pelo autor, Rdiger Bilden,que tinha 35 anos de idade e morava nos Estados Unidos da Amrica(EUA) desde 1914. Bilden, o protagonista de meu novo livro, O riunfodo Fracasso Rdiger Bilden, o amigo esquecido de Gilberto Freyre,estudou na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde era umexcelente e promissor estudante, e onde conheceu o jovem GilbertoFreyre, de quem se tornou amigo por toda a vida.

    Bilden impressionava seus professores e amigos com seu talento,sua cultura, seus amplos interesses e seu conhecimento de idiomas.Sendo um pouco mais velho que seus colegas, Bilden logo se tornoumentor dos mesmos, aconselhando-os sobre livros a ler, autores aestudar, lnguas a aprender, hbitos de trabalho a desenvolver, temas ase pensar, e assim por diante.

    Logo se envolveu em um estudo ambicioso e inovador acercados efeitos da escravido na sociedade e cultura brasileiras, o qual

    gerou muitas expectativas. Entretanto, ele no viveu o bastantepara concretizar seu potencial. Rdiger Bilden no concluiu seudoutoramento, publicou pouco, no conseguiu ter um empregopermanente nem construir uma carreira o que lhe teria dadoestabilidade profissional e financeira e praticamente abandonou omundo acadmico. Quando Bilden faleceu, em 1980, aos 87 anos,longe da famlia e desaparecido da memria histrica, seu nome eraapenas uma rara e obscura nota de rodap, que no atraa a ateno

    nem mesmo de especialistas.Pelos critrios mundanos, esse homem, que tinha sido to

    promissor, acabou se tornando o que os norte-americanos chamam deperdedor (loser) e o que os ingleses descrevem, em uma expressoum tanto sarcstica, como algum que tinha um futuro brilhante atrsde si.

    No entanto, um resumo detalhado de seu projeto, contidoem um dos pedidos de financiamento feitos por Bilden, no incio da

    dcada de 1920, revelou que, em alguns aspectos importantes, esseprojeto antecipou em mais de dez anos as concluses da obra maisfamosa de Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala livro publicadoem 1933, que, como se sabe, foi comparado a um terremoto que

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    abalou todo o pas e reinventou o Brasil ao inverter a viso negativasobre um aspecto central da realidade brasileira: a mistura racial. Atento, a superioridade inata de certas raas e a inferioridade de outras,

    como a inconvenincia da mistura racial, haviam sido estabelecidaspela cincia. Como disse um personagem do romance O GrandeGatsby (Scott Fitzgerald, 1925): udo isso uma questo cientfica,foi tudo provado. Pensava-se, assim, que o Brasil, como resultado deuma miscigenao que implicava em degenerao, segundo a crenada poca carecia de uma identidade prpria. Em suma, muitosestrangeiros, assim como brasileiros, baseados em ideias racistaslegitimadas pelo que se apresentava como cincia, concordavam

    que no se poderia esperar nada de positivo de um pas povoado poruma raa mestia e administrado por um governo mulato, comoafirmava o esteretipo do Brasil.

    Intelectuais importantes, que leram o projeto de Bilden eparte de sua obra inacabada na poca, consideraram suas ideiasrevolucionrias e estavam certos de que toda a histria do Brasil teriaque ser reescrita aps a publicao de seu livro. O famoso diplomatae historiador Manoel de Oliveira Lima, por exemplo, disse que,

    finalmente, a questo da escravido em meu pas ser examinadaprofunda, competente e completamente e, como resultado, os vriosproblemas vitais do Brasil hoje (1924) sero devidamente tratados.Em suma, Bilden estava fazendo um estudo pioneiro do peso dopassado no Brasil, mostrando que o legado da escravido ainda estavaativamente presente, como um obstculo para o desenvolvimento danova repblica.

    Ao escrever um relatrio para Fundao Carnegie, em 1924,

    sobre o progresso de seu trabalho (que ele havia comeado adesenvolver em 1922), Bilden, pela primeira vez, chamou a atenopara o contraste entre o sistema colonial britnico e o portugus, etambm para a profunda influncia da escravido domstica sobre avida privada brasileira. Porm, talvez, mais importante que tudo, foi tersido esse esquecido interlocutor de Freyre, que primeiro enfatizou queos males atribudos por alguns crticos composio racial do pasdeveriam ser imputados escravido.

    O trabalho ambicioso e inovador no qual Bilden estava envolvidoexigia mais do que amplo conhecimento, esforo e anlise profunda qualidades que nele abundavam. Alm de visitar vrias bibliotecas nosEstados Unidos, Bilden precisou complementar sua investigao com

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    uma visita ao Brasil. No foi fcil para ele, porm, arrecadar fundospara esse empreendimento, mas, eventualmente com o apoio deseus professores da Universidade de Columbia e de indivduos como

    Manoel de Oliveira Lima e outro diplomata e historiador, Helio Lobo, ele conseguiu uma bolsa do Laura Spelman Rockefeller MemorialFund, que lhe permitiu visitar o Brasil por um ano e meio, de 1925 a1927.

    Quando regressou a Nova York, sua determinao para terminarde escrever sua volumosa obra sobre o Brasil continuou, apesardas dificuldades de encontrar um emprego dificuldades que logoaumentariam dramaticamente com a Grande Depresso de outubro

    de 1929. Porm, em janeiro de 1929, a publicao do artigo Brasil,Laboratrio de Civilizao suscitou ainda mais expectativas sobre otrabalho em andamento. preciso lembrar que as ideias sobre o Brasil,que hoje, desde Casa-Grande & Senzala, parecem fazer parte do sensocomum, naquela poca estavam longe de ser convencionais quatroanos antes da publicao do referido livro e dois anos antes mesmo deseu planejamento. Resumindo, eram ideias pelas quais algum tinhaque lutar com determinao e audcia, qualidades que Bilden tinha

    bastante.O antroplogo Melville Herskovits, por exemplo, expressou seu

    entusiasmo, dizendo que esperava impacientemente pelos resultadoscompletos do trabalho de Bilden, o qual seria um ataque abrangenteao chamado racismo cientfico, to difundido na poca. Ao dar arescientficos a preconceitos, a cincia da raa no somente apresentavaa hierarquia natural das raas como sendo um fato comprovado,mas colocava a raa nrdica no topo, pois era considerada a raa do

    homem branco por excelncia.A mesma impacincia foi expressa pelo antroplogo Franz

    Boas, um dos crticos mais eloquentes da cincia racial durante aprimeira metade do sculo XX. Como amigo e mentor de Bilden,Boas o encarregou de realizar pesquisas sobre a conscincia de raabrasileira para o livro que publicou em 1929, Antropologia e VidaModerna.

    ambm o antroplogo brasileiro Edgar Roquette Pinto, que

    estou tentada a descrever como o Franz Boas brasileiro, no escondeusua admirao por essas ideias destinadas a um pblico necessitadode bom senso. Como ele disse, as ideias desse bom amigo do Brasilacrescentaram, afinal, uma fundamentao histrica sua prpria

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    ideia de que o brasileiro misto no era um problema biolgico, mas umproblema econmico e social. Em outras palavras, a populao mistadeveria ser educada, no substituda.

    O artigo foi encomendado pela Te Nation para ser publicadona poca em que Herbert Hoover, presidente eleito, estava visitandoa Amrica Latina de novembro a dezembro de 1928. O textodesenvolveu alguns pontos j anunciados no projeto de Bilden, de1922, e teve um objetivo muito claro: apresentar a uma sociedadeviolenta e segregacionista uma viso alternativa das relaes humanas,mais humanizada e mais saudvel. Ao mesmo tempo, o artigovisou informar o pblico norte-americano em geral para quem os

    principais produtos da Amrica Latina eram revolues e terremotos que ele vinha cometendo atrocidades intelectuais contra essa partedo continente americano.

    Entre essas atrocidades cometidas por pessoas instrudas e noinstrudas encontrava-se a ideia de que a Amrica Latina em geral, e oBrasil em particular, estavam condenados a serem inferiores, caso suapopulao no fosse embranquecida.

    Descartando os preconceitos correntes dos norte-americanos

    contra a Amrica Latina e contra o Brasil, Bilden argumentou que asuposta inferioridade desses pases tinha uma explicao cultural e noracial, e, portanto, como diz ele, a causa dos males do Brasil no araa. Foi a escravido.

    Referindo-se viagem de boa vontade organizada por Hoovercomo parte de uma nova poltica dos Estados Unidos para a AmricaLatina a Poltica da Boa Vizinhana , Bilden advertiu os americanosque, embora fosse uma iniciativa muito louvvel, essa nova poltica

    seria completamente estril se no fosse acompanhada por umconhecimento elementar dos pases envolvidos.

    No caso do Brasil, disse ele, a primeira coisa a ser corrigida eraa ignorncia sobre um aspecto bsico de sua histria, ou seja, o fatode que o pas foi colonizado pelos portugueses e no pelos espanhis,que estavam em busca de ouro, aventura e convertidos. Em vez disso,o principal objetivo dos portugueses no Novo Mundo tinha sido o dedesenvolver a agricultura. A colonizao do Brasil, portanto, foi feita

    por meio do latifndio, do trabalho escravo importado e da criaode uma classe mestia adaptada ao meio e apegada s causas lusitanas.O no conhecimento do carter da colonizao e do povoamentoportugueses torna impossvel, diz Bilden, entender a cultura brasileira

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    e a questo racial.Ao refletir sobre a questo da miscigenao no Brasil, Bilden a

    viu como o resultado de uma propenso adquirida pelos portugueses

    durante os longos sculos da conquista de Portugal pelos mouros e,mais tarde, durante os empreendimentos coloniais na costa africana.Acentuando essa tendncia, o Brasil, explicou ele, cresceu comouma sociedade escravocrata, em que o elemento branco puro eranumericamente inferior e em que as linhas raciais foram desenhadasde forma mais frouxa do que em qualquer outro pas de origemeuropeia. anto por razes de Estado como por necessidadee hbito j que no Brasil havia escassez de mulheres brancas os

    colonizadores portugueses prontamente se misturaram com escravasndias e negras, dando origem a uma sociedade na qual no haviauma rgida identidade de raa e classe, como acontecia nas colniasinglesas, holandesas, francesas e espanholas.

    Bilden no negou que existissem antagonismos entre ostrs principais grupos tnicos ou que houvesse um certo grau dediscriminao. No entanto, ele enfatizou que os antagonismos existiamentre diferentes categorias sociais, mais do que entre raas: entre

    senhores e escravos, em vez de entre brancos, mestios, ndios ounegros acrescentando que tais antagonismos tendiam a desaparecer medida que essas distines sociais desapareciam.

    A independncia do Brasil, em 1821, seguida da abolio gradualda escravido e do estabelecimento da Repblica, em 1889, contribuiupara a equalizao social e para a consequente fuso de elementostnicos diversos. A equalizao e a fuso, como Bilden enfatizou,ainda estavam em andamento. Por enquanto, as linhas raciais ainda

    seguem as linhas de classe, o que significa que quanto mais baixaa classe, mais escuro o sangue. Pois, como disse ele, o elementonegroide, no Brasil, ainda era deficiente, de modo que a abolioda escravatura, embora tenha sido construtiva, no o foi a ponto delibert-lo de sua herana triste e insidiosa. Somente muitas geraessero capazes de alcanar esse fim, comenta.

    Embora tudo isso continue acontecendo, diz Bilden, e noobstante o fato da supremacia da raa branca na gesto do pas, o

    brasileiro mdio nunca ser totalmente branco e o brasileiro dofuturo representar uma nova raa, nem branca, nem indgena, nemnegra [...]. E esse tipo misto estar bem adaptado [...] para concretizara incrvel promessa que seu pas oferece.

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    J visvel que, nesse processo, os grupos mais primitivos noesto, como nos pases anglo-saxes, rigidamente submetidos aospadres culturais do grupo dominante, mas esto surpreendentemente

    livres para fazer valiosas contribuies. Essa a importncia vital doBrasil para o mundo em geral, conclui Bilden com entusiasmo. Cabeao leitor, diz ele, decidir se o Brasil deve ser chamado de [...] terrade mongols2, ou deve ser encarado como um laboratrio mundial decivilizao tropical.

    O que Bilden quis dizer com essa expresso laboratrio decivilizao? Ele provavelmente estava pensando em um experimentoqumico em que diferentes substncias so misturadas para ver o que

    ser produzido3. O resultado da mistura desse novo experimentosocial, no caso do Brasil ainda no estava claro, mas pareciapromissor, algo que poderia servir de exemplo para outros lugares.Como Bilden j havia dito a Franz Boas em 1926, o Brasil era o pasmais interessante do ponto de vista de um estudo de raas devido complexidade de sua mistura racial. O pas era, como disse ele, umimenso (e muito interessante) trabalho de campo para antroplogose etnlogos, um campo ainda praticamente intocado por pesquisas

    cientficas srias. O que poderia ser dito, prossegue Bilden, emseu artigo de 1929, que, at aquele momento, o pas vinha setransformando e se modernizando sem guerra, revoluo ou outraforma de violncia, e ainda estava progredindo muito na estradaque leva a uma mistura harmoniosa de elementos tnicos diversos esupostamente incompatveis em direo a uma nova raa tropical.

    Apesar desse ensaio promissor e da grande expectativa demuitas pessoas, inclusive do prprio Bilden, Brasil, Laboratrio de

    Civilizao, acabou por ser a nica amostra brilhante, sem dvida do livro que Bilden nunca terminou. Os outros poucos artigosque ele publicou durante a vida no expandiram muito essas ideiasou no foram relevantes para o tema desse grande livro que nuncafoi concludo. Seis anos mais tarde, ainda no tendo abandonado oprojeto, mas com a obra inacabada, com dvidas, sem dinheiro e semmuito entusiasmo, Bilden disse ao seu amigo Freyre que, caso algo lhe

    2 Expresso em ingls pejorativa que pode ser traduzida como bastardos.

    3O ttulo laboratrio de civilizao certamente chama a ateno, embora essa metfora no carregue um

    peso muito grande. Como o antroplogo Sueco Ulf Hannerz espirituosamente afirma, quando se pega

    carona em uma metfora, preciso saber onde parar.

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    Em geral, esses autores observam a natureza fugaz do fracassoe do sucesso, que podem ser efmeros na vida de cada um de ns.Subjacente a esse novo interesse pelo fracasso e pela obscuridade est

    a ideia de que a histria muitas vezes foi escrita como sendo somente ados vencedores, baseada em arquivos compilados geralmente por elese que expressam os seus pontos de vista. Em outras palavras, a ideiade que a histria tem, geralmente (e erroneamente), se preocupadoprincipalmente com triunfos e com a histria do progresso, deixandoos fracassados ou perdedores nos lugares a que pertencem na lata delixo da histria, para usar a memorvel expresso cunhada por rotskyquando ele ainda estava no lado dos vencedores.

    Mas a fim de entender o que aconteceu assim vai o argumento, essa viso heroica ou triunfalista deve ser descartada em favorde uma abordagem mais abrangente da histria. Precisamos olhartambm para os ditos perdedores tanto os perdedores coletivos,grupos sem sucesso, como os Girondinos ou os Menscheviks; quantoos individuais, sejam eles grandes perdedores, como Danton, Kerenskye rotsky, ou pequenos perdedores, annimos ou obscuros. Porqueos perdedores, grandes e pequenos, tambm fazem parte da histria,

    j que os malsucedidos tambm ajudaram a moldar o futuro que setornou nosso presente, produzindo, algumas vezes, ideias fecundaspelas quais, mais tarde, outras pessoas receberam o crdito.

    Uma rejeio potica da simples teoria da lata de lixo, e umadefesa do presente como sendo produto de perdedores, tanto quantode vencedores, pode ser encontrada no belo poema de Walt Whitman,no qual ele nos lembra que pode haver grandeza no fracasso e dvivas queles que falharam aos vencidos, aos generais que perderam

    batalhas, aos sem nmero de heris, desconhecidos iguais aos maioresheris conhecidos pois, como ele diz, batalhas so perdidas com omesmo esprito com que so vencidas.

    Em segundo lugar, medida em que fazia minha pesquisa sobreRdiger Bilden, tentando reconstruir sua trajetria, passei a v-lo cadavez menos como um perdedor. Para essa reconstruo, que no incioparecia estar fadada ao fracasso, eu tive um golpe de sorte quandoconsegui encontrar dados sobre a famlia que Bilden deixara para

    trs, na Alemanha, quase 100 anos atrs, pois localizei a sobrinha deBilden, Dra. Helga Bilden, ltimo membro sobrevivente dos Bilden deEschweiler. Ela se tornou minha principal informante sobre a famliade um tio que ela nunca conheceu. Com essa ajuda e tambm atravs

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    da anlise de uma vasta gama de materiais dispersos tais comocartas, textos para conferncias, pedidos de bolsas, artigos de jornal,cursos que ministrou aqui e acol, documentos oficiais etc. , percebi

    que, embora Bilden tivesse sido reduzido a uma nota de rodap muitorara e obscura na histria do Brasil e da Amrica Latina, ele haviafeito contribuies significativas e pioneiras para esses campos deestudo; contribuies que circularam em forma de manuscritos entreestudiosos e que foram reconhecidas como importantes na poca.

    alvez, parte do fracasso de Bilden em produzir seu livrotenha a ver com o fato de ele ser um perfeccionista. Mas podemoscertamente dizer que o principal fator de seu fracasso em produzir foi

    ele estar no lugar errado na hora errada, e que todos os seus talentos,conhecimentos e determinao provaram-se insuficientes para que elesuperasse os obstculos que a vida lhe reservara.

    endo chegado aos Estados Unidos em 1914, pouco antes doincio da guerra, e l permanecido pelo resto de sua vida, podemosdizer que suas aspiraes e frustraes, suas ambies e seu destino,por assim dizer, foram marcados, se no moldados, pelos dramticosacontecimentos que ele viveu no perodo mais turbulento do sculo

    XX: a nvel mundial, as duas grandes guerras e a grande depresso;e a nvel local, no EUA, a segregao racial, o New Deal, o incioturbulento do Movimento dos Direitos Civis e o Macarthismo.

    Bilden foi considerado duas vezes como inimigo estrangeiro,e sofreu, como outros alemes e norte-americanos de ascendnciaalem, com o clima de hostilidade e desconfiana que tomou contado pas durante as duas guerras e at mesmo entre as guerras pocaem que a histeria antialem estava sempre pronta para instalar-se

    no pas, manifestando-se de vrias maneiras, incluindo o boicote msica alem, que praticamente desapareceu das salas de concerto, ea mudana dos nomes de produtos alemes, como o hambrguer, quepassou a ser bife da liberdade, o sauerkraut (chucrute), que se tornourepolho da liberdade, e assim por diante.

    O fracasso de Bilden em obter um emprego permanente em umauniversidade pode muito bem ter sido resultado de discriminaocontra um estrangeiro inimigo. O fato de ter sido excludo da

    participao em encontros para melhoria das relaes entre os EstadosUnidos e os pases latino-americanos estava definitivamente ligados suas origens, mesmo antes de os Estados Unidos terem entrado naSegunda Guerra Mundial, em dezembro de 1941. E assim, Bilden, que

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    tinha tanto interesse no assunto, bem como o conhecimento necessriopara ajudar a fortalecer os laos entre as Amricas do Norte e do Sul,foi excludo de eventos em sua rea. Como ele escreveu na poca, em

    junho de 1940, ontem fiquei sabendo por uma fonte segura que oDepartamento de Estado no ir tolerar ningum de origem alem ouaustraca, seja cidado [dos EUA] ou no, nas atividades relacionadas Amrica Latina. Isso me excluir [...] at de me opor s atividadesnazistas na Amrica Latina. Isso certamente era absurdo e injusto,como escreveu Bilden, considerando-se que ele se opunha diretamenteao fascismo e Alemanha nazista, morava nos Estados Unidos hquase 26 anos, desprezava Hitler profundamente e, embora fosse um

    alemo nativo, como ele disse, seria um dos primeiros a levar umtiro se Hitler um dia viesse aos EUA, como muitos norte-americanostemem que ele o faa.

    Apesar de tudo isso, a trajetria de Bilden ilustra uma vitriamoral contra a adversidade. entando sobreviver com empregostemporrios e irregulares, sempre com pouco dinheiro e muitasvezes endividado, era de se esperar que ele abandonasse seus projetosintelectuais e que sua memria s sobrevivesse no arquivo empoeirado

    da Universidade de Columbia. Mas no foi isso o que aconteceu.Otimista ou sonhador, ele nunca desistiu de suas ambies, apesar dasdificuldades. E se for realmente verdade que ele foi um perdedor, emtermos materiais, suas atividades, como as de outros ditos perdedores,fizeram uma diferena real no mundo.

    No sendo um espectador indiferente ao que acontece aoseu redor, ou algum que passa longe de pessoas com problemas,Rdiger Bilden foi o que se pode chamar de um indivduo engajado,

    profundamente envolvido e dedicado s ideias em que acreditava es causas polticas e sociais que julgava importantes para o mundo.Com sua determinao, Bilden ilustra o que David Riesman chamade coragem de fracassar, que ele define como a coragem de aceitar apossibilidade de derrota e de fracasso, sem ser esmagado moralmente e sem perder a vontade de assumir riscos. Coragem, nos lembraRiesman, s necessria na derrota. Pouca audcia necessria dolado vencedor.

    Um exemplo, entre muitos, da dedicao de Bilden no nvelindividual a preocupao que ele demonstrou diante do fracassode seu amigo americano, Franklyn Simkins, que teve sua tese dedoutorado rejeitada pela Universidade de Columbia. Insistindo que

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    Simkins no deveria sucumbir a esse choque e aceitar o fracasso,Bilden o aconselhou firmemente sobre como prosseguir e reescreverseu trabalho com senso de ordem, com disciplina, com a anlise

    meticulosa dos dados, maneira alem, visando perfeio. Oimportante, disse-lhe Bilden, fazer um trabalho inicial de primeiraclasse [...] que ir construir sua reputao. Voc pode e deve faz-lo, no importa quanto tempo leve. O que importa a exatido e oconhecimento resultante de seu trabalho [...] Esquea a publicaodele. Isso pode ser arranjado depois. No fim, ele acrescenta umltimo pensamento: No se sinta desanimado, a vida dura, a nicamaneira de lidar com isso sendo ainda mais duro um conselho

    que o prprio Bilden parece ter seguido literalmente. Suas sugestesforam aceitas por seu amigo Simkins, que reescreveu a tese, a qualfoi aprovada em Columbia, e se tornou um renomado historiador daRegio Sul dos Estados Unidos.

    Na esfera coletiva, a contribuio mais importante de Bilden dizrespeito questo das relaes raciais nos Estados Unidos, uma causa qual ele deu crescente ateno medida que a perspectiva de terminarseus ambiciosos volumes sobre a escravido brasileira ia diminuindo.

    Ele estava em estreito contato com artistas e intelectuais negros dachamada Renascena do Harlem, em Nova York, e com a AssociaoNacional para o Avano das Pessoas de Cor ( cuja sigla em ingls NAACP), compartilhando seus objetivos de melhorar a situao sociale as oportunidades dos afro-americanos. Ele conheceu e trabalhou, emestreito contato, com lderes importantes da intelligentsia negra, comoCharles Johnson, Aaron Douglas, Walter White e Arthur Schomburg.

    A essa causa ele dedicou seu tempo e seus esforos, a fim de

    melhorar a autoestima e o orgulho dos negros, ensinando-lhes, assimcomo aos brancos por meio de vrios cursos e palestras, artigosde jornais e, pelo menos uma vez, atravs de um programa de rdio sobre a histria da cultura dos africanos e seu legado para o NovoMundo. Ele, portanto, ajudou a demolir o mito de que os negros notinham passado acreditando, como seu mentor, Franz Boas, e algunsoutros indivduos da poca, que tal mito privava os negros do orgulhode que eles precisavam para lutar por seus direitos, enquanto dava aos

    brancos razes para justificar a segregao e tratar os descendentes deescravos como inferiores.Paralelamente, ele continuava a apresentar o Brasil como um

    laboratrio de civilizao ou seja, um modelo em relao ao qual

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    a melhoria da situao dos negros norte-americanos poderia sermensurada. De um lado, ele apresentava uma Nao nitidamentedividida em negros e brancos (Estados Unidos), e, do outro lado, uma

    Nao, o Brasil, onde estava ocorrendo um experimento social. Seushabitantes diferenciavam-se em inmeros tons de marrom, pessoasde origem negra tinham alcanado proeminncia (o presidente NiloPeanha, por exemplo) e no existia segregao institucional embora,como ele destaca, o legado negativo da escravido ainda estivessepresente.

    Bilden ocupou cargos temporrios em universidades paranegros, como a Fisk University, no ennessee, o Hampton Institute,

    na Virgnia e o uskegee Institute, no Alabama, bem como na RandSchool of Social Science, em Nova Iorque, fundada pelo PartidoSocialista. Ele tambm deu palestras, muitas vezes sem receberpagamento, no Harlem, o bairro negro de Nova York: em sociedadesnegras, centros de trabalho e at mesmo em igrejas.

    Seu apelo para o pblico negro parece ter sido to forte quelderes negros e Franz Boas sugeriram que Bilden fizesse um tourpelas principais instituies acadmicas no Sul para dar uma srie

    de palestras sobre a situao racial no Brasil. Outra prova clara daautoridade de Bilden na rea o convite que ele recebeu, na dcada de1940, da uskegee uma das mais importantes e antigas universidadespara negros do pas , para reorganizar seu programa de ps-graduao. Essa foi sem dvida uma grande homenagem a um homembranco, particularmente alemo, na poca da segregao e da SegundaGuerra Mundial.

    Penso que podemos dizer que, como alguns outros ativistas e

    intelectuais dos Estados Unidos, naquela poca, a luta de Bilden pelamelhoria das relaes raciais foi parte de uma reao contra o fascismodomstico, uma vez que a opresso de organizaes polticas e sociaisinjustas e desumanas como a segregao e a discriminao norte-americanas foi considerada no menos prejudicial do que os regimesde Hitler ou Mussolini. Era tudo resultado da mesma ideologiafascista que nega a liberdade e a igualdade fundamentais dos sereshumanos. Franz Boas, amigo e mentor de Bilden, fundou, em 1939, o

    Comit Americano para Democracia e Liberdade Intelectual, visandoexatamente alertar os intelectuais e cientistas do pas para o perigocrescente do fascismo interno. Se convencidos, eles iriam, por sua vez assim se esperava , influenciar a opinio pblica.

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    Se voltarmos ideia do Brasil como um laboratrio decivilizao graas ao papel da miscigenao e do hibridismo cultural,ao passado escravagista na histria do pas, e ao seu futuro promissor

    , o que pode ser dito sobre seu destino? Por algum tempo at adcada de 1940 ou 1950, para ser exata , o nome de Bilden estavaligado a essa ideia, apesar do relativo silncio de um dos estudiososque mais deviam s ideias de Bilden: Gilberto Freyre.

    No Brasil, intelectuais importantes como Arthur Ramos,Roquette-Pinto, Delgado de Carvalho e Lus Washington Vita forambem claros sobre os esforos pioneiros de Bilden para combater opreconceito contra as chamadas raas feias, para usar a expresso

    de Roquette-Pinto. Roquette chega a colocar Bilden lado a lado comum cientista alemo muito importante e correspondente de CharlesDarwin, Fritz Mller, na luta contra o preconceito racial e contraas teorias raciais que o amparavam. Arthur Ramos e Vita referem-ses ideias de Bilden sobre escravido e miscigenao como sendo oleitmotiv da obra Casa Grande & Senzala, de Freyre.

    No exterior, podemos encontrar crticos da ideia da soluobrasileira para o problema racial acusando Bilden de ser o pioneiro

    na criao de um belo mito e na construo da fantasia de que amiscigenao bela e que a harmonia racial existe na terra do sol,do samba e da saudade, como disse um desses crticos. Em suma,as ideias de Bilden mal interpretadas e privadas de suas nuances foram, a uma certa altura responsabilizadas pela mistificao do Brasil.

    A longo prazo, no entanto, mesmo que o nome de Bildentenha sido esquecido, algumas de suas ideias sobre a reavaliaodo Brasil na primeira metade do sculo XX, tanto nacional quanto

    internacionalmente, esto vivas e fortes. Elas incluem o sucesso daideia de mistura e harmonia racial, conhecida como o legado deFreyre para o pas, e h muito tempo incorporada ao discurso oficialou semioficial do Brasil, mesmo que acusada, de vez em quando, deser pura idealizao. No s somos um povo misturado, mas um povoque gosta muito de ser misturado. o que faz nossa identidade, disseo Presidente Lula no muito tempo atrs.

    Eu gostaria agora de chamar a ateno para alguns pontos gerais

    levantados pela trajetria de Rdiger Bilden. O norte-americanoRobert Merton, socilogo da cincia, cunhou o termo EfeitoMateus para descrever o processo pelo qual importantes descobertascientficas, feitas por cientistas menos conhecidos, so lembradas

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    pela posteridade como se fossem obra de figuras importantes comoGalileu ou Einstein. De fato, como afirma Merton, os grandes passosda cincia so, na verdade, construdos por um grande nmero de

    pequenas contribuies, e aqueles nomes famosos nunca trabalharamsozinhos, mas apoiaram-se em figuras esquecidas, os pequenosperdedores.

    Da mesma forma, pode-se dizer que as inovaes importantesna cultura no so produzidas por uma estrela somente, mas so,pelo contrrio, resultado da contribuio de uma constelao inteirade indivduos, raramente reconhecidos pela posteridade. Em outraspalavras, podemos dizer que milhares de Bildens vivem e morrem

    desconhecidos, tendo seus sucessos reais escondidos pela aparncia defracasso.

    No caso de Bilden, vemos uma carreira profissional fracassadajuntamente com uma vida dedicada a promover causas nas quaisacreditava. As causas pelas quais ele trabalhou como a importnciade estimular o orgulho negro para a luta contra as ideias racistasda poca , e que pareciam, naquele momento, condenadas aofracasso, agora parecem ter sucesso, dado que a teoria racial (se no

    o racismo) tornou-se moeda desvalorizada. neste sentido que, pelomenos postumamente, Bilden um exemplo de ironia da histria,mostrando que aquilo que, a curto prazo, parece ser um fracasso, podeeventualmente transformar-se em vitria. por isso que sua trajetriapode ser descrita a longo prazo como O triunfo do fracasso.

    Sua vida tambm ilustra nitidamente o impacto destrutivo degrandes eventos em biografias individuais, como no caso das muitasvidas destrudas pelo Grande Crash de 1929, pela eleio de Hitler, em

    1933, e assim por diante. E por causa disso, sua vida nos faz lembrara questo ponderada por dramaturgos, desde os gregos e elisabetanos:quanto de nossas vidas construmos ns mesmos e quanto construdo para ns pelas circunstncias e pela boa e m sorte, s quaistodos os seres humanos so to vulnerveis. Dito de outro modo, quaisso os papeis relativos das circunstncias favorveis e do mrito nosucesso? Essa pergunta desafia um mito central na sociedade moderna,ou seja, a convico de que a escada do sucesso pode ser escalada por

    qualquer pessoa determinada a trabalhar duro para isso.Ligada a essa questo, a vida de Bilden tambm nos leva a fazeroutras perguntas muito importantes, tais como: Qual o significado deuma vida bem vivida? O que define o sucesso na vida?

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    Recebido em 10/09/2013

    Aprovado em 20/09/2013