7
 Ontologia fundamental Ontologia fun damental nomeia a principal cara cterí stica de Se r e tempo: é a tentativa de desconstrução da metafísica e de elaboração da analítica da nitude, tendo como ponto de partida uma fenomenologia hermenêutica das estruturas do ser-o-aí. O ponto de conuência dessas tarefas é enunciado !" na epígrafe do livro - tão incisiva #uanto o título e #ue indica, de modo conciso, o centro nevr"lgico do pensamento de $eidegger: a pergunta pelo sentido do %er. & rai' dessa pergunta est" plantada no solo do pensamento grego. $eidegger recorre a uma citação de O sofsta, de (latão, para enunci"-la de modo paradigm"tico: )*ma ve', pois, #ue nos encontramos em diculdade, caber" a v+s eplicar-nos o #ue entendeis por este voc"bulo ser. videntemente essas coisas vos são, de h" muito, familiares. /+s mesmos, até a#ui, acreditamos compreendê-las, e agora nos sentimos perpleos). &o longo de sua hist+ria, a losoa ocidental preocupou-se sempre com o %er, de modo #ue seria ra'o"vel esperar #ue, de h" muito, estivéssemos familiari'ados com o signicado desse termo. (erguntas concernentes aos predicados mais gerais do ser 0categorias1 ou 2 distinção entre o ser e o devir, a realidade e a aparência, sempre constituíram o foco de atenção e meditação da losoa. 3omo se eplicaria, então, #ue (latão, um dos maiores ícones da losoa, tenha dele ga do 2 vo ' de um so s ta a constata çã o pe rp le a de #u e não estamos familiari'ados com a#uilo #ue pensamos #uando empregamos a palavra )ser)4 mbaraçoso é constatar #ue até agora acredit"vamos sabê-lo, mas, em verdade, carecemos de uma eplicação #ue nos livre da diculdade de não compreender o #ue  propriamen te pensamos #uando di'emos )ser). &ssim, !" estaria em (latão a suspeita de #ue a losoa desconhece o #ue é pensado sob o termo )ser) - ainda #ue se!a o mais empregado ao longo de sua hist+ria.sc5ndalo e pasmo, portanto, uma pedra de tropeço. Ser e tempo é uma das tentativas mais radicais da losoa contempor5nea para retomar essa pergunta em toda sua envergadura. %aberíamo s n+s o #ue (latão confessava desconhecer4 & resposta de $eidegger é: não, de modo algum. Ora, #ual#uer resposta pertinente s+ pode ser dada e, sobretudo, compreendida #uando a pergunta a #ue ela responde é ade#uadamente formula da. 6aí a suspeita de #ue nem (latão, nem a hist+ria da losoa inteira ofereceram uma res pos ta pertinente 2 pergunta pelo sentido do %er. isso ocorre por#ue a pergunta não foi propriamente formulada, o #uestionamento não foi sucientemente pensado. ssa perpleidade oferece a Ser e tempo o seu ponto de partida e a sua ocasião: é preciso perguntar novamente pelo sentido do %er, e a elaboração concreta dessa #uestão é o prop+sito da obra de $eidegger. (ara tanto, é imprescindível despertar de novo a compreensão prévia para o sentido da pergunta - isto é: que sentido tem a pergunta pelo sentido do Ser 4 Ser-o-aí Ser-o-aí  é o #ue nos é mais pr+imo, !" #ue somos n+s mesmos #ue eistimos como tal. (orém, do ponto de vista ontol+gico é também o #ue h" de mais estranho e distante pa ra n+s, #u an to ao conhecimento de nossa essência. (ara nos aproimarmos reeivamente desse conhecimento, temos de perguntar pelo modo de ser da eistência #ue somos. sta é, fundamentalmente, contingência, temporalidade,facticid ade 0 Faktizität 1, nitude.

Ontologia fundamental_Heidegger_Oswaldo Giacoia Jr..doc

Embed Size (px)

Citation preview

7/21/2019 Ontologia fundamental_Heidegger_Oswaldo Giacoia Jr..doc

http://slidepdf.com/reader/full/ontologia-fundamentalheideggeroswaldo-giacoia-jrdoc 1/7

Ontologia fundamental

Ontologia fundamental nomeia a principal característica de Ser e tempo: é atentativa de desconstrução da metafísica e de elaboração da analítica da nitude,tendo como ponto de partida uma fenomenologia hermenêutica das estruturas doser-o-aí.

O ponto de conuência dessas tarefas é enunciado !" na epígrafe do livro - tãoincisiva #uanto o título e #ue indica, de modo conciso, o centro nevr"lgico dopensamento de $eidegger: a pergunta pelo sentido do %er. & rai' dessa perguntaest" plantada no solo do pensamento grego. $eidegger recorre a uma citação de Osofsta, de (latão, para enunci"-la de modo paradigm"tico: )*ma ve', pois, #ue nosencontramos em diculdade, caber" a v+s eplicar-nos o #ue entendeis por estevoc"bulo ser. videntemente essas coisas vos são, de h" muito, familiares. /+smesmos, até a#ui, acreditamos compreendê-las, e agora nos sentimos perpleos).

&o longo de sua hist+ria, a losoa ocidental preocupou-se sempre com o %er, demodo #ue seria ra'o"vel esperar #ue, de h" muito, estivéssemos familiari'ados como signicado desse termo. (erguntas concernentes aos predicados mais gerais do

ser 0categorias1 ou 2 distinção entre o ser e o devir, a realidade e a aparência,sempre constituíram o foco de atenção e meditação da losoa.

3omo se eplicaria, então, #ue (latão, um dos maiores ícones da losoa, tenhadelegado 2 vo' de um sosta a constatação perplea de #ue não estamosfamiliari'ados com a#uilo #ue pensamos #uando empregamos a palavra )ser)4mbaraçoso é constatar #ue até agora acredit"vamos sabê-lo, mas, em verdade,carecemos de uma eplicação #ue nos livre da diculdade de não compreender o#ue propriamente pensamos #uando di'emos )ser).

&ssim, !" estaria em (latão a suspeita de #ue a losoa desconhece o #ue épensado sob o termo )ser) - ainda #ue se!a o mais empregado ao longo de suahist+ria.sc5ndalo e pasmo, portanto, uma pedra de tropeço. Ser e tempo é umadas tentativas mais radicais da losoa contempor5nea para retomar essa perguntaem toda sua envergadura. %aberíamos n+s o #ue (latão confessava desconhecer4 &resposta de $eidegger é: não, de modo algum.

Ora, #ual#uer resposta pertinente s+ pode ser dada e, sobretudo, compreendida#uando a pergunta a #ue ela responde é ade#uadamente formulada. 6aí a suspeitade #ue nem (latão, nem a hist+ria da losoa inteira ofereceram uma respostapertinente 2 pergunta pelo sentido do %er. isso ocorre por#ue a pergunta não foipropriamente formulada, o #uestionamento não foi sucientemente pensado.

ssa perpleidade oferece a Ser e tempo o seu ponto de partida e a sua ocasião: épreciso perguntar novamente pelo sentido do %er, e a elaboração concreta dessa

#uestão é o prop+sito da obra de $eidegger. (ara tanto, é imprescindível despertarde novo a compreensão prévia para o sentido da pergunta - isto é: que sentido tema pergunta pelo sentido do Ser 4

Ser-o-aí 

Ser-o-aí  é o #ue nos é mais pr+imo, !" #ue somos n+s mesmos #ue eistimoscomo tal. (orém, do ponto de vista ontol+gico é também o #ue h" de mais estranhoe distante para n+s, #uanto ao conhecimento de nossa essência. (ara nosaproimarmos reeivamente desse conhecimento, temos de perguntar pelo modode ser da eistência #ue somos.

sta

é, fundamentalmente, contingência, temporalidade,facticidade 0Faktizität 1, nitude.

7/21/2019 Ontologia fundamental_Heidegger_Oswaldo Giacoia Jr..doc

http://slidepdf.com/reader/full/ontologia-fundamentalheideggeroswaldo-giacoia-jrdoc 2/7

%er-o-aí eiste no tempo, e a temporalidade 0 Zeitlichkeit 1 é um componentefundamental de sua estrutura. 7sso implica #ue toda compreensão possível de %er, apartir do Dasein, é uma compreensão temporal. (or outro lado, se a temporalidadeconstitui um predicado ontol+gico origin"rio da sua essência, então o ser-o-aí deveser mostrado pela an"lise fenomenol+gica como sendo fnito e mortal.

Ser-no-mundo e ser-com

7ntramundano, o ser-o-aí eiste desde sempre em comércio com os outros entes,em um relacionamento #ue pode ser:

a. Ob!etivo: é o plano da relação entre su!eito e ob!eto, no #ual o mundo é dispostoou coloca-se diante de n+s como universo re-presentado. /esse sentido, o mundo éa totalidade dos ob!etos presentes 0Vorhanden1 para um su!eito do conhecimento.8epresentar é reapresentar : dispor ob!etivamente os entes para a apreensãote+rica, de modo a etrair deles um saber cientíco, #ue ense!a controle edisponibili'ação para operaç9es técnicas.

b. rato ou lida 0Umgang1: diferentemente dos ob!etos doconhecimento, lidamos  com coisas #ue nos defrontam - como os utensílios - esuscitam perguntas como: )(ara #uê4), )3om #ue nalidade4).

%eu modo de eistir não é o da presentidade 0Vorhandenheit 1. ssas coisas se dão an+s no vetor do sentido da Zuhandenheit  - termo #ue designa a#uilo #ue est" 2mão, não simplesmente como ob!eto presente, mas como entidade #ue tem acondição de utensílio. /o modo de desvelamento pr+prio da condição ;nticade Zuhandenheit , os entes vêm ao nosso encontro como entes geradores, coisasdas #uais nos servimos para criar outras coisas e, por causa disso, estas sãodenominadas Zeug: trata-se do dispor de um instrumento <til para fa'er coisas,ferramenta com #ue fa'emos, produ'imos, geramos outras coisas. (ortanto, nessaacepção, o termo Zeug signica tanto )coisa) como )gerar) 0nesse caso, na formaverbal: zeugen1. &ssim, em erkzeug 0ferramenta1 temos uma coisa, #ue, ao lidarcom ela, geramos ou produ'imos outras coisas. =" no caso de Spielzeug,defrontamo-nos com uma coisa com a #ual brincamos.

/ão se trata a#ui de relação te+rica, ob!etivante, mas de lida pragm"tica. (rodu'iré, etimologicamente, producere: condu'ir diante de, tra'er 2 frente -como t!chne 0técnica1, em sua signicação origin"ria, est" ligada2 poi!sis 0produ'ir, criar1, pois é também uma modalidade de desocultar, tra'er 2lu', revelar. /osso comportamento com os utensílios é trato, não cognição. leseigem um saber pr+prio do lidar, são de trato relativamente mais f"cil ou maisdifícil. ocar um violão, por eemplo, não eige um conhecimento do processo deconstrução do instrumento, nem de sua hist+ria, nem necessariamente de teoria

musical> brincamos com brin#uedos, ou voamos em aeronaves, sem manter comessas coisas nenhum relacionamento cognitivo aprofundado.

c. 8elação ética: enga!amo-nos com certos entes em um relacionamento #ue não énem o de cognição nem o de lida pr"tico-instrumental, mas uma relação pessoal,ética. ssa relação não se limita 2 #ue estabelecemos com os outros, mas est"também ontologicamente vinculada 2 relação #ue criamos conosco, a um tipoorigin"rio de cuidado de si, de préstimo e cura das possi"ilidades sempre a"ertasque constituem nossa e#ist$ncia. istir signica, em sentido radical, cuidar depoder ser no mundo, #ue é também 0e não menos essencialmente1 ser-com-os-outros.

%er-no-mundo é, antes de tudo, abertura 0%rschlossenheit 1, estar aberto para a

mundanidade 0eltlichkeit 1, nos planos da relação cognitiva, tecnocientíca, é lidarcom as coisas, manter um relacionamento com elas en#uanto utensílios

7/21/2019 Ontologia fundamental_Heidegger_Oswaldo Giacoia Jr..doc

http://slidepdf.com/reader/full/ontologia-fundamentalheideggeroswaldo-giacoia-jrdoc 3/7

0 Zuhandenheit 1 ou, enm, relacionar-se com os outros como pessoas, em um modode ser-com, de compartilhar 0mit-sein1.

3abe 2 fenomenologia a tarefa de descrever a mundanidade como elementoconstitutivo do ser-lançado no mundo. O poder-ser é indenido, mas não innito. emporal, ele implica nitude e a possibilidade da impossibilidade, de não ser. (or

isso, o ser-o-aí é pré-ocupação, cuidado com os entes intramundanos, cura domundo. /ão h" o ser-o-aí sem mundo, nem mundo sem ser-o-aí. ? nesse sentido#ue a fenomenologia eistencial de Ser e tempo é também uma ética origin"ria docuidado de si e do cuidado do mundo. ? nessa condição #ue se ancoram as duaspossibilidades de ser #ue mais profundamente penetram na rai' da facticidade: oeistir autêntico, como ser si-pr+prio 0das Sel"st 1, e a eistência inautêntica: oimpessoal 0das &an' (a gente(1.

Aberturas existenciais do ser-o-aí 

@ analítica eistencial compete tornar manifesta a parte correlativa do ser-no-

mundo 0)n-der-elt-Sein1. ste denota as modalidades intramundanas do ser-o-aí -ou se!a, o plano do trato com os outros entes. %ua contrapartida fenomenol+gicadestaca o ser-em 0Sein-in1, com o acento deslocado do polo )no mundo) para omodo do )ser-no) - para analisar de forma fenomenol+gica como esse ente seinstala originariamente em sua condição de ser-no-mundo.

%er-o-aí é essencialmente temporalidade 0 Zeitlichkeit 1. Aas também é ser ao mododa a"ertura - abertura para seu pr+prio ser e para os demais entes #ue, como ele,habitam o mundo. Ser-em se mostra como transparência a si, como a*  0da1.

 rês são as modalidades origin"rias dessa abertura - ou os eistenciais, #uedenotam as estruturas fundamentais do ser-o-aí como ser-em:

a. %star disposto, afna+ão 0,efndlichkeit 1. O ser-o-aí se encontra no mundo emdeterminadas disposiç9es e estados: instalado em algum lugar 0em %ão (aulo, poreemplo1> anado nessa ou na#uela modulação do afeto 0alegre ou triste, poreemplo1. & abertura para o mundo implica sempre um estado de 5nimo, não umtipo particular de sentimento, como estado psicol+gico determinado, masum tnus afetivo geral, um modo de viver o relacionamento com o mundo em suasdiferentes modalidades.

&ng<stia 0 .ngst 1 é a mais fundamental dessas disposiç9es basais do afeto, namedida em #ue concerne não aos entes intramundanos, mas ao ser do ser-o-aí nomundo. /ão se trata de temor ou ansiedade pela perda de um ob!eto presente ouvirtual, pela cessação de um estado de coisas, mas um 5nimo #ue abrange todas as

possibilidades de ser do ser-o-aí em sua rai': a tensão entre ser-si-pr+prio e perder-se, desgarrar-se, a possibilidade sempre presente de /altar a si.

b. 0ompreensão, compreender 0Verstehen1: o ser-o-aí sempre toma pé em umacompreensão prévia e t"cita, inarticulada, da condição eistencial em #ue sempre -e a cada ve' - se encontra> compreensão e abertura para as possibilidades de sernela eistentes. sse compreender, como dimensão ontol+gica do ser-o-aí, funda ahermenêutica de Ser e tempo, e com isso nota-se como $eidegger reelabora e d"nova fundamentação 2 categoria de compreensão, presente na losoa dos valores,nas losoas da vida e na ciência hermenêutica, transformando-a em elementoeistencial-ontol+gico estruturante do ser-o-aí.

3ompreensão é um limiar a#uém do #ual não é possível recuar em termos

eplicativos. oda compreensão particular - de alguma coisa, por eemplo, um tetoou um signo - tem como pressuposto o pr+prio ato de compreender, #ue é dado

7/21/2019 Ontologia fundamental_Heidegger_Oswaldo Giacoia Jr..doc

http://slidepdf.com/reader/full/ontologia-fundamentalheideggeroswaldo-giacoia-jrdoc 4/7

como um 5mbito prévio e irreetido no interior do #ual est" inserido, desde sempre,#uem compreende algo.

/ão se pode compreender a pr+pria compreensão, pois para tanto !" serianecess"rio poder compreender, e assim ao innito. rata-se de uma circularidadeinevit"vel, porém não viciosa, e sim virtuosa: #uem compreende algo disp9e

também previamente de um senso de compreensão. sse círculo é essencialmentehermenêutico, pois a hermenêutica é a ciência da interpretação e da compreensão.&ssim, a abertura eistencial-ontol+gica do ser-o-aí como compreensão torna ahermenêutica parte constitutiva da ontologia fundamental e da analítica eistencialde %er e tempo.

& compreensão heideggeriana tem um lado cognitivo: entender, apreender osentido de, inteirar-se de, tomar consciência de. /o entanto, a acepçãofundamental de Verstehen em Ser e tempo é outra: compreender como )entenderde) 0sich 1erstehen au/ et2as1. /essa f+rmula, compreender evoca, sobretudo,um poder , um dom ou uma capacitação. )ntender de) e#uivale, em portuguêscolo#uial, a epress9es como: )fulano entende do neg+cio, entende das coisas).3ompreender é entender de ser, prima /acie, saber de si, cuidar de seu pr+prio ser,

cuidar de eistir, de si como eistência. %er-o-aí, nesse sentido, é poder-ser , ser- poss*1el, entender de ser.

c. Bala, discurso, palavra, linguagem 03ede1: entender de ser, poder ser,compreender em sentido ontol+gico é encontrar-se em uma disposição b"sica deabertura compreensiva, prévia e t"cita, de preocupação com o ser. /esse sentido,compreendemos o #ue signica ser, sabemos mais ou manos o #ue #ueremos di'er#uando empregamos a palavra )ser).

& articulação desse sentido, ou dos diferentes sentidos de ser, d"-se sempreno logos - na palavra, na linguagem, no verbo, no discurso. ssa articulação é omodo como o ser-o-aí enuncia seu entendimento de %er - como manifesta, peloverbo, o #ue vem-a-ser, dando com isso as condiç9es para o desvelamento do %erem sua verdade. (or isso, a linguagem é a articulação #ue coliga e manifesta, é o5mbito de desvelamento ou verdade do %er. é assim #ue se pode entender o #ue$eidegger pensa #uando arma #ue a linguagem é a clareira, ou a morada, do %er.

/a condição de ser-o-aí, o homem habita a morada do %er, a linguagem. &o falar,ele tra' 2 lu', manifesta o #ue os entes são em suas respectivas essências> assim,ele eibe, desvela os entes em seu ser. odavia, essa dimensão do habitar humanono cotidiano de sua eistência natural é marcada pela dimensão p<blica do falar,pelo lingua!ar característico do eistir coletivo, genérico, impessoal.

$eidegger denomina 45entlichkeit  0esfera p<blica1 essa condição do ser-no-mundo. rata-se a#ui de uma eistência decaída em relação 2s suas possibilidades mais

pr+prias e autênticas. ssa é a situação ontol+gica da #ueda 0Ver/allenheit 1, #uenão é o pecado original teol+gico, mas um perder-se no anonimato #ue afasta deser-si-pr+prio - condição para a #ual o ser-o-aí sempre pode ascender ao voltar-separa uma modalidade autêntica de eistência.

Modos de ser-no-mundo

O ser-o-aí é também singular, eistência irremissível, respecti1amente adstrita acada pessoa. & isso $eidegger denomina 6emeinigkeit  0ser-a-cada-ve'-meu,respectividade, ser singularmente adstrito a mim1. 3ada um de n+s é a pr+pria erespectiva eistência singularíssima, na vida como na morte, na autenticidade comona inautenticidade. Os possíveis mais abrangentes do ser-o-aí são: ser si-pr+prio, ouperder-se, etraviar-se, desgarrar-se, dissipar-se no elemento genérico e impessoal

0das &an, a gente1:

7/21/2019 Ontologia fundamental_Heidegger_Oswaldo Giacoia Jr..doc

http://slidepdf.com/reader/full/ontologia-fundamentalheideggeroswaldo-giacoia-jrdoc 5/7

&#uilo #ue se di' em Ser e tempo sobre )a gente) não #uer fornecer, de maneiraalguma, apenas uma contribuição incidental para a sociologia. ampouco )a gente)signica apenas a gura oposta, compreendida de modo ético-eistencialista, aoser-si-mesmo da pessoa. O #ue foi dito contém, ao contr"rio, a indicação, pensada apartir da #uestão da verdade do %er, para o pertencer origin"rio da palavra ao %er.ssa relação permanece oculta sob o domínio da sub!etividade #ue se apresenta

como a opinião p<blica.C

istir no modo da autenticidade é um tornar-se, por#ue o ser-o-aí, desde sempre,advém na linha temporal de um passado hist+rico #ue o precede, como membro deuma dada família e sociedade, em um ponto do espaço prévio a toda deliberação ouescolha. 7sso condiciona, em grande medida seu presente, a partir do #ual se abremas possibilidades futuras, 2s #uais ele pode permanecer alheio, alienado nas malhasdo impessoal.

Cura e preocupação

3om isso, a analítica eistencial do ser-o-aí atinge um de seus resultados maisimportantes: a sua descrição fenomenol+gica como Sorge 0cura oupreocupação1. %#-sist$ncia é ser-no-mundo temporalmentecomo cura ou preocupa+ão. sse cuidado, por sua ve', desdobra-se em ,esorgen 0ocuidado com alguma coisa, com providenciar alguma coisa1 e F7rsorgen 0a curacomo tomar cuidado de algo, ou de alguém> e como preocupação, ocupar-se de

algo ou alguém, tratar dele e com ele1.%er-no-mundo é eistir como cura: se!a ao modo do providenciar utilit"rio, no tratocom ob!etos e utensílios, se!a ao modo da pré-ocupação como encargo, #ue se pré-ocupa e toma sob seus préstimos. 3omo ec-sist$ncia, o ser-o-aí é no mundocomo cura, preocupação e cuidado com o mundo, #ue é também uma dimensãoessencial dele.

& cada uma das modalidades de abertura do ser-o-aí como ser-no-mundocorresponde um modo de eistir como pro!eto lançado na esfera p<blica dainautenticidade: 2 afna+ãoDestar disposto 0,efndlichkeit 1 correspondempossibilidades ou modalidades diversas de estados afetivos gerais, humores0Stimmung1 do ser-o-aí em sua eistência cotidiana: alegre, triste, calmo, irritado,

simp"tico, indiferente etc. @ compreensão 0Verstehen1 correspondea curiosidade 08eugier 1, e 2 /ala 03ede1 corresponde o /alat9rio 0:erede1.

7/21/2019 Ontologia fundamental_Heidegger_Oswaldo Giacoia Jr..doc

http://slidepdf.com/reader/full/ontologia-fundamentalheideggeroswaldo-giacoia-jrdoc 6/7

&naçãoDestar disposto, compreensão e fala são constituintes ontol+gicos do ser-o-aí. 6isposição, curiosidade e falat+rio são o correspondente ;ntico dessas estruturasna cotidianidade intramundana do ser-o-aí em sua condição de decaimento0Ver/allenheit 1. &s modalidade diversas de disposição afetiva são formas deobliteração da anaçãoDdisposição origin"ria da ang<stia, como preocupar-se com opr+prio poder-ser.

& curiosidade é um desgarramento #ue consiste em alienar-se na bisbilhotice do#ue interessa a todo mundo, no #ue distrai, ao cativar a atenção de todo mundo. ?estar 2 cata de no1idade - o #ue, por denição, signica estar condenado 2 innitareposição, sob pena de deiar de ser o #ue é. O /alat9rio domina a eistênciamundana do ser-o-aí no cotidiano, com o tagarelar e o opinar sobre tudo sem nadadizer , o discurso #ue não compromete, nada arma nem nega #uanto ao essencial.& ret+rica da opinião p<blica e o politicamente correto são eemplosde /alat9rio impessoal, da fala inautêntica. rata-se, então, de uma curiosidadedispersiva, alienada na distração do falat+rio.

C Heidegger, M. Sein und Zeit , Sobre o !"umanismo!, pg. #$%

O ser-para-a-morte

Decaimento 0Ver/allenheit 1 não deve ser tomado em chave moralista. &inda #ueevo#ue representaç9es religiosas e morais 0como o pecado original1, designa acondição origin"ria de ser lançado no mundo impessoal da esfera p<blica. ? poressa ra'ão - e unicamente em virtude dela - #ue o ser-o-aí pode também abrir-separa sua possibilidade mais autêntica: voltar-a-si, ou ser-si-pr+prio.

%er-o-aí, desde sempre, é pro!eto, poder ser, possibilidade de ser. (or isso mesmo, étambém possibilidade de não ser , em dois sentidos. (rimeiro, o de não ser si-pr+prio, de eistir anonimamente sob a capa e o manto da publicidade, de fugir desi, aderindo ao modo inautêntico e impr+prio 0uneigentlich1 de ser ou eistir - ao

#ue corresponde o faltar a si mesmo. %egundo, em uma acepção mais radicalde não ser , como reali'ação da possibilidade da impossibilidade de ser, ou se!a, damorte. 3omo ser-no-mundo temporal e nito, o ser-o-aí é constitutivamente 0isto é,

7/21/2019 Ontologia fundamental_Heidegger_Oswaldo Giacoia Jr..doc

http://slidepdf.com/reader/full/ontologia-fundamentalheideggeroswaldo-giacoia-jrdoc 7/7

ontologicamente1 ser-para-a-morte: abertura eistencial para a possibilidade de nãoser, ente #ue se compreendeu como tal.

6o decaimento, o ser-o-aí é resgatado para a autenticidade pela culpa 0Schuld1 e aconsciência moral 0:e2issen1. & culpa é um faltar a si, é ser-em-falta> estar emdívida com as possibilidades de ser si-pr+prio. *ma falta ontol+gica forma o

conte<do da consciência moral, não como tribunal interior, como vo' da consciênciamoral #ue acusa o su!eito de estar em débito com a lei por desobedecer a 6eus. %erculpado é sentir-se em falta para consigo mesmo, como poder-ser origin"rio.

/inguém eiste no lugar de outra pessoa, ninguém morre a não ser a pr+pria morte.& condição de ser-para-a-morte é o chamado do 6asein para a sua mais radicalautenticidade. (or isso, a culpa e a morte são os chamamentos inapel"veis daconsciência moral, #ue é a vo' da de nossa culpa origin"ria, de nossa condição deestar sempre em falta com relação ao nosso poder-ser, a cada momento de nossaeistência.

& consciência de culpa não é m" consciência, mas o correspondente ontol+gico dadisposição angustiada. rata-se também de uma ética fundamental, como cuidado

de si e do mundo, na temporalidade pr+pria 2 nitude humana. Ser e tempo nãotem necessidade de um capítulo dedicado 2 ética como disciplina los+ca. &fenomenologia analítica de e#-sist$ncia desdobra-se em um ethos origin"rio.

OsEaldo Fiacoia =r. - ;eidegger Urgente< )ntrodu+ão a um no1o pensar