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1 Rogate 269 jan-fev/09 OPINIÃO OPINIÃO A missão da Igreja e a promoção da paz Texto-base da CF-2009, n. 235-241 J esus nasceu em determinado tempo, em determinado país, membro de uma família, num contexto social, político, econômico e religioso. É no contexto da sua existência histórica que ele prega a paz e é nesse mesmo contexto que ele envia seus discípulos também como anunciadores da paz (cf. Lc 10,1-6) e mostra ao mundo a fé como caminho da paz (cf. Lc 7,50; 8,48). A paz que Jesus traz não é uma fuga mística do desespero diante das dificulda- des do nosso tempo, por maiores que elas sejam. Ao contrário, é uma paz concreta, que convoca a todos para que sejam seus construtores na sua realidade social, polí- tica, econômica, cultural e religiosa. Ne- gar a possibilidade da construção histórica da paz é negar o mistério da Encarnação. É negar a participar do projeto de Jesus. A paz é obra da justiça, supõe e exige a instauração de uma ordem justa que pos- sibilite a realização humana e permita que todas as pessoas sejam sujeitos da própria história. Onde não existem essas condi- ções, existe o atentado contra a paz. Toda opressão é germe da rebelião, da violência e de insegurança. A paz é uma tarefa permanente da co- munidade humana, uma paz autêntica im- plica luta, capacidade inventiva, conquista permanente. Deve ser construída, de modo que o cristão seja um artesão da paz. A paz é fruto do amor, expressão da real fraterni- dade entre as pessoas. Onde a paz social não existe, onde há injustiças, desigualda- des sociais, políticas, econômicas e cultu- rais, rejeita-se o Senhor e o seu dom da paz. Todos devem, portanto, colaborar na criação e na construção de uma ordem jus- ta, sem a qual a paz é ilusória e não há se- gurança. Isso só é possível a partir da for- mação da consciência para os valores que fundamentam a paz, tais como a responsa- bilidade, a solidariedade e a dimensão so- cial da própria fé. Esses valores levam ao engajamento pela superação das causas da perda da paz social [...]. Um dos elementos mais importantes no contexto da segurança pública diz respei- to às relações de poder. Enquanto o poder for assumido simplesmente em vista do bem próprio - como meio de satisfação de necessidades e interesses pessoais atra- vés da opressão -, violência e insegurança reinarão. Somente quando o poder signifi- car, de fato, autoridade, ou seja, exercício em vista do aperfeiçoamento do outro e tornar-se serviço em vista do bem comum, poderá haver segurança e paz. Para que isso aconteça, a Igreja [...] deve ser, a exemplo de seu divino Funda- dor e Mestre, uma Igreja serva, uma Igre- ja samaritana que, a cada momento, volta seu olhar para o sofrimento e as necessi- dades de todas as pessoas. Sendo solidária com os que sofrem e lutando para promo- ver o bem comum, a Igreja é chamada a ser expressão viva da legitimidade do exer- cício do poder. Também mostrará que esse exercício promove a paz e a comunhão entre todas as pessoas e faz de todos pro- tagonistas na construção da civilização do amor e da paz.

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1Rogate 269 jan-fev/09

O P I N I Ã OOPINIÃO

A missão da Igrejae a promoção da paz

Texto-base da CF-2009, n. 235-241

Jesus nasceu em determinado tempo,em determinado país, membro de umafamília, num contexto social, político,

econômico e religioso. É no contexto da suaexistência histórica que ele prega a paz e énesse mesmo contexto que ele envia seusdiscípulos também como anunciadores dapaz (cf. Lc 10,1-6) e mostra ao mundo a fécomo caminho da paz (cf. Lc 7,50; 8,48).

A paz que Jesus traz não é uma fugamística do desespero diante das dificulda-des do nosso tempo, por maiores que elassejam. Ao contrário, é uma paz concreta,que convoca a todos para que sejam seusconstrutores na sua realidade social, polí-tica, econômica, cultural e religiosa. Ne-gar a possibilidade da construção históricada paz é negar o mistério da Encarnação.É negar a participar do projeto de Jesus.

A paz é obra da justiça, supõe e exige ainstauração de uma ordem justa que pos-sibilite a realização humana e permita quetodas as pessoas sejam sujeitos da própriahistória. Onde não existem essas condi-ções, existe o atentado contra a paz. Todaopressão é germe da rebelião, da violênciae de insegurança.

A paz é uma tarefa permanente da co-munidade humana, uma paz autêntica im-plica luta, capacidade inventiva, conquistapermanente. Deve ser construída, de modoque o cristão seja um artesão da paz. A pazé fruto do amor, expressão da real fraterni-dade entre as pessoas. Onde a paz socialnão existe, onde há injustiças, desigualda-des sociais, políticas, econômicas e cultu-rais, rejeita-se o Senhor e o seu dom da paz.

Todos devem, portanto, colaborar nacriação e na construção de uma ordem jus-ta, sem a qual a paz é ilusória e não há se-gurança. Isso só é possível a partir da for-mação da consciência para os valores quefundamentam a paz, tais como a responsa-bilidade, a solidariedade e a dimensão so-cial da própria fé. Esses valores levam aoengajamento pela superação das causas daperda da paz social [...].

Um dos elementos mais importantes nocontexto da segurança pública diz respei-to às relações de poder. Enquanto o poderfor assumido simplesmente em vista dobem próprio - como meio de satisfação denecessidades e interesses pessoais atra-vés da opressão -, violência e insegurançareinarão. Somente quando o poder signifi-car, de fato, autoridade, ou seja, exercícioem vista do aperfeiçoamento do outro etornar-se serviço em vista do bem comum,poderá haver segurança e paz.

Para que isso aconteça, a Igreja [...]deve ser, a exemplo de seu divino Funda-dor e Mestre, uma Igreja serva, uma Igre-ja samaritana que, a cada momento, voltaseu olhar para o sofrimento e as necessi-dades de todas as pessoas. Sendo solidáriacom os que sofrem e lutando para promo-ver o bem comum, a Igreja é chamada aser expressão viva da legitimidade do exer-cício do poder. Também mostrará que esseexercício promove a paz e a comunhãoentre todas as pessoas e faz de todos pro-tagonistas na construção da civilização doamor e da paz.

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NESTA EDIÇÃO

Entrevista“É preciso ousar mais!” 03

EstudoA paz é fruto da justiça 09

AtualidadesViver e proclamar a Palavra de Deus 12

EspecialA Palavra de Deus na vidae na missão da Igreja 15

Animação VocacionalModelos de vida 19

Informação 21

Leitor 23

Mística da VocaçãoUm novo estilo de vida consagrada 24

EDITORIAL

Capa: Cartaz da Campanha da Fraternidade de 2009,um dos destaques desta edição (cf. “Opinião”, “Es-tudo” e encartes).

Começamos um novo ano e com o de-sejo de paz, fruto da justiça. A Cam-panha da Fraternidade, que ofici-

almente será inaugurada no dia 25 de fe-vereiro, no início do Tempo da Quaresma,recorda-nos exatamente disto, citando oprofeta Isaías: “A paz é fruto da justiça”(Is 32,17). Seu tema, “Fraternidade e se-gurança pública”, é um desafio. Como tervida segura? Como superar os conflitos?Como diminuir e acabar com os diversostipos de violência? Quais os sinais de es-perança? Como implantar uma cultura dapaz? São algumas das questões que certa-mente estaremos aprofundando duranteeste período da Campanha da Fraternida-de, trazidas pelo seu Texto-base, instrumen-to indispensável nas comunidades de base.A Rogate, nesta dinâmica, traz uma re-flexão do tema sob a ótica vocacional. Oartigo, de autoria do religioso Rogacionista,Pe. Mário Bandeira, mestre em Bíblia, estádividido em duas partes (cf. “Estudo”).

A ótica vocacional está também presentena matéria sobre a mensagem final que osPadres Sinodais enviaram ao povo de Deus(cf. “Especial”). No destaque da seção aRogate apresenta a dimensão vocacionalna Palavra de Deus, tema geral do 12°Sínodo dos Bispos.

A Turma do Triguito

Celebração VocacionalA paz é fruto da justiça

ENCARTES

Ano XXVIII - nº 269Janeiro e Fevereiro de 2009

Lançada em maio de 1982, a revista Rogate temregistro de matrícula em São Paulo, 01/10/87,no Livro B de Matrículas do 1º Cartório de Re-gistros de Títulos e Documentos, sob o nº98.906, nos termos dos artigos 8º e 9º da LeiFederal nº 5.250, de 1967. A revista é de pro-priedade dos Rogacionistas do Coração de Je-sus, em colaboração com as revistas: RogateErgo e MondoVoc (ltália), Vocations andPrayer (EUA) e Rogate Ergo (Filipinas).

DIRETOR DE REDAÇÃOJuarez Albino Destro

EDITORJefferson Silveira

COLABORADORESArmando Del Mercato (capa),

Osmar Koxne (Triguito), Patrício Sciadinie Vito Domenico Curci

CONSELHO EDITORIALIzabel Bitencourt Pereira, Dárcio Alves daSilva, Dilson Brito Rocha, Maria da Cruz

Santos, Cláudio Feres e Therezinha Brito Feres

JORNALISTA RESPONSÁVELÂngelo Ademir Mezzari - Mtb 21.175 DRT/SP

IMPRESSÃOGráfica e Editora Linarth Ltda - Curitiba (PR)

SEDE CENTRAL/CONTATOSDireção, Editoria, Secretaria e Administração:

Tel./Fax: (11) 3932-1434 / 3931-3162E-mail: [email protected]

Http://www.rogate.org.brRua Comandante Ferreira Carneiro, 99

02926-090 São Paulo SP Brasil

ASSINATURA ANUALNacional: 40 reais (10 edições ao ano)Exterior: África, Ásia e Oceania - 50 dólares

América - 30 dólaresEuropa - 50 euros

Pagamento por Cheque Nominal, Vale Postal(agência 72.300.159-SP) ou Depósito Bancá-rio - Banco Bradesco, agência 117-1, conta nú-mero 92.423-7, Centro Rogate do Brasil (CNPJ:83.660.225/0004-44). Neste caso, enviar ocomprovante por fax, correio ou e-mail, comnome e endereço completos.

Os artigos assinados não expressam,necessariamente, a opinião da Revista

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3Rogate 269 jan-fev/09

ENTREVISTAENTREVISTA

“É preciso ousar mais!”

Sempre presente em equipes diretivas de organismosligados à Vida Consagrada, Helena Teresinha Rech defende

que a união das congregações pode testemunharque ‘um mundo diferente é possível’

Nesta primeira edição de 2009a revista Rogate apresentaa entrevista com Helena

Teresinha Rech, religiosa da Con-gregação das Servas da Santíssi-ma Trindade. Natural de Caxias doSul (RS), Ir. Helena ingressou nacongregação com 17 anos, se-gundo ela “motivada pelogrande desejo de amar aDeus e doar-se na missão”.Os dois eixos de sua vidasão espiritualidade e mis-são. É licenciada em Filoso-fia e Teologia pela PontifíciaUniversidade Católica doRio de Janeiro (PUC-RJ), onde tambémcursou e concluiu seu Mestrado e Douto-rado em Espiritualidade. É autora do livro“As duas faces de uma única paixão”, co-autora do livro “Rabi, onde moras?”, alémde três CDs de relaxamento psico-corpo-ral e de vários artigos publicados em re-vistas nacionais e internacionais.

Desde os 20 anos dedicou-se à pasto-ral e à formação de lideranças. Morou etrabalhou na inserção e em favelas nosestados de Minas Gerais e Rio de Janeiro.Durante 12 anos foi Conselheira Geral daCongregação e depois exerceu o cargo de

Coordenadora Geral. Atuou por 10anos na formação de postulantes deseu instituto. Fez parte da direto-ria nacional da Conferência dosReligiosos do Brasil (CRB) e atu-almente é vice-presidente da CRBRegional de São Paulo, residindo

na capital paulista. Trabalhou emuma das equipes da Confe-deração Latino-americanados Religiosos e Religiosas(CLAR) e coordenou aUnião das Superioras Ge-rais de Congregações Bra-sileiras (USGCB). Há maisde 22 anos dedica-se em tem-

po integral a assessorias teológicas, orienta-ção de retiros e cursos em âmbito nacional,para grupos diversos, províncias e congre-gações, sendo que desenvolve trabalho naárea de espiritualidade em uma dimensão in-tegradora. É também membro do ConselhoEditorial da revista “Convergência”, publi-cação da CRB nacional.

Rogate: Como foi seu despertar voca-cional?

Ir. Helena: Desde menina sentia emmeu coração o desejo de seguir a vida con-sagrada. Sou de família católica praticante

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ENTREVISTA

e em minha casa sempre se rezou pelasvocações. Estudei em colégio de religio-sas dos 09 aos 17 anos, e essa convivênciae formação cristã foram amadurecendo mi-nha vocação. Durante a adolescência che-guei a ‘paquerar’, mas nada sério! Coisasda idade! Admirava muito o matrimônio,pois meus pais e irmãos sempre deram tes-temunho de fidelidade, amor, união e ale-gria no casamento. Essa convivência sau-dável de uma família muito unida desper-tava em mim a vontade de ca-sar, e dizia: “quero ter dozefilhos, não só sete como mi-nha mãe”. Mas a atração porum ‘amor maior’ e mais am-plo do que uma família e ‘dozefilhos’, sempre foi muito for-te. Ser toda de Deus e medoar ao povo, aos pobres, fa-zia ‘arder’ meu coração jovem.Participava da missa e faziaoração pessoal diariamente.Atuei na Ação Católica, fui ca-tequista e sempre trabalheiem minha paróquia. Aos 15anos me defini pela vida con-sagrada, entretanto minhamãe me ‘segurou’ até eu con-cluir os estudos. Foi muito bom, pois ama-dureci na opção. Ingressei na Congrega-ção das Servas da Santíssima Trindade em19 de agosto de 1966, com 17 anos de ida-de, em Caxias do Sul, onde as conheci.Porém, toda minha formação para a vidaconsagrada e acadêmica se deu no Rio deJaneiro (RJ).

Rogate: O que a levou a ingressar naCongregação das Servas da SantíssimaTrindade?

Ir. Helena: Foi amor à primeira vista!Quando conheci a congregação, em maio

de 1966, fiquei encantada com a acolhida ea alegria das noviças e irmãs. Senti algodiferente que me atraiu. Não usavam há-bito, trabalhavam profissionalmente fora doconvento, eram muito alegres, dedicavam-se à evangelização e catequese nas comu-nidades e escolas. No entanto, o mais for-te foi sua espiritualidade e carisma. Nacongregação vive-se uma profunda intimi-dade com a Trindade, presente em nósatravés da espiritualidade e do anúncio de

que toda pessoa é morada deDeus Trindade. Consagrar avida ao amor trinitário, viverdele e por ele, amar a Trinda-de, louvá-la, contemplá-la eadorá-la presente no outro...Encontrei o que eu buscava,aquilo que era meu desejoprofundo.

Rogate: Sempre envolvidanas equipes diretivas de orga-nismos vinculados à vida con-sagrada, como avalia esta vo-cação específica no Brasil e nomundo?

Ir. Helena: Em primeirolugar, acredito na vida consa-

grada e a amo. Desde o meu juniorato sem-pre participei ativamente da CRB, e muitocedo comecei a me dedicar nas equipesdinamizadoras, depois nas assessorias ecomo liderança. Não podemos negar que omundo está em crise: o sistema social,político, religioso. E também assistimos auma grande crise econômica do sistemacapitalista. Ora, a vida consagrada estáinserida neste grande contexto mundial.Como se sentir isenta da crise global? Per-cebo que a vida consagrada vinculada agrandes instituições, às ‘obras’, é a quemais sente a crise e precisa se posicionar:

Vejo a vidaconsagrada de

hoje maissimples e mais

próxima dopovo, como

fermento quese mistura na‘massa’. Estáem lugares de

fronteira...

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ENTREVISTA

entrar no ‘mundo do mercado’ ou entrarno ‘mundo dos pobres’, da itinerância mis-sionária, do despojamento, da simplicida-de. Não digo que se deva abandonar as‘obras’, mas optar pela direção que desejadar às mesmas: na ótica do mercado ou naótica dos pobres? O ‘holofote do mercado’sofreu um grande ‘apagão’; mas as‘lamparinas’ dos pobres iluminarão o mun-do com suas iniciativas de economia soli-dária, de associações de bairro, do infor-mal, das Organizações Não-governamen-tais (ONGs), das lutas sociais, dos peque-nos grupos de espiritualidade. Muito te-mos a aprender com os pobres!

Rogate: A vida consagrada pode sairfortalecida da crise?

Ir. Helena: Tanto no Brasil como nomundo percebem-se duas tendências navida consagrada: grupos que se organizamde forma mais institucional, fechados, vol-tados principalmente ao religioso e poucoao social, meio ‘aburguesados’; outros gru-pos mais voltados para a missão, que selançam com ousadia e coragem na inser-ção, na itinerância missionária, nas fron-teiras, reorganizam a instituição em peque-nas comunidades nas periferias, vivem deforma simples e solidária com os pobres,buscam viver uma espiritualidade integra-dora, e são presença e testemunho no meiodo povo. Essas duas tendências, na verda-de, estiveram presentes na vida consagra-da em todas as épocas, entretanto agoraeu vejo um processo de busca. Vejo a vidaconsagrada de hoje mais simples e maispróxima do povo, como fermento que semistura na ‘massa’. Está em lugares defronteira e, muitas vezes, é perseguida.

Rogate: O que a vida consagrada tem aoferecer à sociedade atual?

Ir. Helena: A vida consagrada temmuito a oferecer e a receber da sociedadeatual. Há sempre uma troca. O que temosa oferecer à sociedade? Em primeiro lu-gar, o patrimônio de nossos carismas, domdo Espírito à humanidade. E mais: o po-tencial de nosso saber, a experiência denossas espiritualidades, o dom de nossasvidas consagradas; a energia de nossa se-xualidade e afetividade, de nossa materni-dade e paternidade diante de um mundoque se sente na orfandade. Em uma socie-dade cada vez mais individualista, nossavivência em comunidades, com todos osdesafios, é um jeito de dizer que somos se-res relacionais e precisamos viver aalteridade. Temos a oferecer nosso amor, afé e a esperança de que um mundo diferen-te é possível, a justiça é possível, a solidari-edade e a partilha de dons e de bens sãopossíveis. Imaginemos a vida consagrada domundo inteiro colocando seu patrimônio hu-mano, espiritual e econômico em comumpara erradicar a fome do mundo, ou paraacabar com o tráfico de seres humanos, es-pecialmente de crianças e mulheres, ou ain-da, quem sabe, para resolver o problema dasaúde... É preciso ousar mais!

Rogate: Em um de seus artigos vocêafirma que Jesus inaugurou um novo estilode discipulado, onde ele próprio escolhia seusdiscípulos, contrário à tradição judaica, naqual os discípulos escolhiam seu mestre (re-vista de Espiritualidade Inaciana - Itaici,nº 69, set/2007). Qual o impacto desta pos-tura na época?

Ir. Helena: Realmente é algo novo.Como é nova sua relação com os discípu-los. O discípulo sempre servia seu mes-tre, lavava seus pés, mantinha uma certadistância, era instruído na Sinagoga. Jesusdiz abertamente: “não vim para ser servi-

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ENTREVISTA

do, mas para servir”. Na ceia Jesus incli-nou-se e começou a lavar os pés dos discí-pulos, não os ensinava na Sinagoga, mas navida, através dos acontecimentos cotidia-nos, em alto mar, no caminho, na monta-nha, junto ao povo. Viviam uma relação deamizade, de proximidade com Jesus. Eleigualmente admitia mulheres para o segui-rem e estas o acompanhavam por onde ia,faziam parte de seu caminho. O impacto naépoca? Está registrado no evangelho comexpressões como estas: “teus discípulosnão lavam as mãos”, “eles colhem espigasno sábado”, “se ele soubesse quem é essamulher”, “cura em dia de sábado”. O maiorimpacto era ver que Jesus atraía as multi-dões e estas o seguiam. Ele estava sempreno meio delas, o escutava, eram curadas,perdoadas, amadas em sua realidade. A pro-posta de Jesus era muito diferente da dosjudeus, sacerdotes, rabinos, do poder roma-no. Mais do que a lei, ele via o ser humano.Sua lei era o amor, a vida, a libertação.

Rogate: Ao convite de Jesus também háuma escolha por parte de quem é convidado.

Ir. Helena: Em todo chamado, ou con-vite, existe uma reciprocidade. A pessoaescolhida tinha empatia por Jesus, sentia-se atraída, amada. De certa forma conhe-cia Jesus e o seu projeto. Toda escolha ésempre mútua. Os discípulos e discípulasjá conheciam Jesus, e ele os conhecia an-tes de assumirem o compromisso. Com-parando com o casamento, havia umenamoramento e encantamento pela pes-soa e vida de Jesus, por suas palavras, seujeito de se relacionar com as pessoas; nocoração deste povo nascia a esperança deum novo tempo, tempo de salvação. Elenão pregava uma doutrina rígida, cheia deleis, mas anunciava o Reino, o amor do Pai,o perdão e uma vida nova. Quem não gos-

taria de entrar por esse caminho, dizer sime ser discípulo e discípula deste Mestretão próximo e amigo?

Rogate: Atualmente Jesus tem o mes-mo poder de atração de outros tempos?

Ir. Helena: Sim, ele continua a ter umpoder de atração. Gosto de dizer, “poderde sedução” (cf. Jr 20,7). Assim como se-duziu muitos profetas e profetisas, muitosdiscípulos e discípulas de seu tempo, hojeele atrai outras pessoas, homens e mulhe-res, que se apaixonam por ele e pelo seuprojeto. A revelação de um Deus que amae é Pai, que não é vingativo, nem justicei-ro, nem legalista, mas amigo dos peque-nos e excluídos, a esperança suscitada nocoração das pessoas, a valorização e o res-gate da dignidade humana, a libertação esalvação de todos, o divino no humano,tudo isso continua atraindo.

Rogate: Diante de tantos apelos domundo, como ter clareza de que se está sen-do de fato convidado?

Ir. Helena: É verdade... As atrações eos convites são múltiplos. A clareza vemcom o tempo, é processual. É muito im-portante que a opção de vida seja fruto deum discernimento. E todo discernimentosupõe escolhas e renúncias; ganhos e per-das. Para quem está em um momento deescolha de vida é importante seguir algunspassos: uma profunda intimidade e escutade Jesus e de sua Palavra; tempos fortesde oração; ter alguém para acompanhar oprocesso de discernimento (uma irmã, umpadre); escutar seu coração; ter consciên-cia de seus sentimentos e desejos maisprofundos; conhecer algumas congrega-ções; e responder com inteireza e alegria,consciente daquilo que deixa para trás edaquilo que abraça.

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ENTREVISTA

Rogate: Em sua opinião, a espirituali-dade deveria ser trabalhada com profundi-dade na formação dos vocacionados?

Ir. Helena: Com certeza! Esta é a base.Acredito que a espiritualidade é o caminhomais fecundo e profundo de uma vida cris-tã. Com mais razão de uma pessoa voca-cionada. A vocação à vida sacerdotal ou re-ligiosa que não se alimenta de uma pro-funda espiritualidade não vai muito longe.Porém ressalto a importância de falar so-bre uma espiritualidade integradora, poisexistem muitas espiritualidades, muitoespiritualismo evasivo. Respeito todascomo caminhos para chegar a Deus e darsentido à vida humana. Mas falo aqui daespiritualidade cristã, nascida de Jesus, queé caminho para o Pai, e do amor trinitáriocirculante do Espírito. A espiritualidadecristã é trinitária. Quando digo ‘integrado-ra’ quero dizer que a espiritualidade é como‘aquele fio de ouro que costura os retalhosde nossa vida, fazendo dela a mais bela obrade arte do Criador’. A espiritualidade inte-gradora é aquela que integra todas as di-mensões de nossa vida: a fé, a corporeidadee afetividade, a sexualidade e as relações,a razão e a intelectualidade. Ela permeia edá sentido a tudo. É uma espiritualidadecomprometida com a vida e com o Deusda Vida, a Trindade. É uma espiritualidadevivida e aprendida no discipulado de Jesus.Os vocacionados e vocacionadas devem seriniciados na espiritualidade ainda em seuprocesso de discernimento, no tempo deacompanhamento, muito antes de ingres-sar na vida consagrada.

Rogate: Espiritualidade e mística com-plementam-se ou merecem abordagens dis-tintas?

Ir. Helena: Eu digo que a espirituali-dade não é a mística, que oração não é es-

piritualidade, que meditação é modalidadede oração. Mas isso é questão de compre-ensão de conceitos. São distintas, mas nãoseparadas. A espiritualidade é muito maisampla. Vou exemplificar: pode-se rezarmuito e não se ter uma espiritualidade.Mas não existe espiritualidade sem oração,sem a meditação da Palavra, sem a oraçãolitúrgica, sem o silêncio da contemplação.Todas essas dimensões são como a teia daaranha: estão interligadas e devem estarsempre muito integradas.

Rogate: Exemplos de místicos como SãoJoão da Cruz ainda estão presentes na Igre-ja atualmente?

Ir. Helena: Sim! Temos muitas pesso-as místicas e santas vivendo em nosso meio,outras que já nos precederam na eternacontemplação da Trindade. Ai de nós semestes ‘pára-raios’, sem estas ‘colunas’ ou‘vigas-mestras’ na Igreja e na sociedade.Lembremos de D. Hélder, Ir. Dulce, Ir. AnaRoy, D. Cappio, D. Pedro Casaldáliga,Henrique Peregrino, Pe. Alfredinho, D. Alo-ísio Lorscheider e D. Ivo Lorscheiter, mís-ticos-profetas. São tantas mulheres simplesdo povo, líderes das comunidades, homensque dedicam a vida a Deus e à Igreja, pes-soas ocultas que vivem mística e profetica-mente no mundo inteiro...

Rogate: Hoje muito se tem falado e escri-to sobre espiritualidade. Mas, de fato, o tematem sido estudado com seriedade, ou busca-semais algo relacionado à auto-ajuda?

Ir. Helena: Na verdade, não nos faltaliteratura relacionada com o tema da espi-ritualidade. É abundante e com várias abor-dagens. A questão da auto-ajuda se faz mui-to presente, sim. Temos autores sérios erenomados que aprofundam o tema da es-piritualidade cristã na dimensão bíblico-te-

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ENTREVISTA

ológica. Que refletem a espiritualidade apartir da vida cotidiana e em várias dimen-sões: cristológica, trinitária, ecológica...

Rogate: Como aprofundar o estudo so-bre o tema espiritualidade para que de fatose torne um aliado na construção do Reinode Deus?

Ir. Helena: Além dos cursos sistemá-ticos e intensivos de teologia e espiritua-lidade, eu acredito que em todas as pasto-rais e grupos de Igreja e comunidades de-veria haver espaços de formação bíblico-teológica e espiritual. Um exemplo é a or-ganização de grupos de espiritualidade apartir da Leitura Orante da Bíblia. É ummeio simples e muito eficaz. Pode-se ini-ciar com música, danças sagradas, expres-são corporal para as pessoas irem se sol-tando e se concentrando na Palavra deDeus, no silêncio do coração e na intimi-dade com a Trindade.

Rogate: Em seu artigo para a Rogatenº 262 (maio/2008) sobre Trindade e Voca-ção, você afirma que ‘toda vocação tem suafonte na Trindade’. Esta concepção tem sidotrabalhada pelo Serviço de Animação Voca-cional (SAV)?

Ir. Helena: Não sei lhe dizer se istoocorre no SAV em geral. Mas nossa con-gregação trabalha essa dimensão trinitária,pois é a dimensão cristã batismal. No AnoVocacional de 2003 o tema foi: “Batismo,fonte de todas as vocações”. O Batismo émergulho na vida da Trindade: em Jesussomos filhos e filhas de Deus Pai; e, comofilhos e filhas do Pai, tornamo-nos todosirmãos e irmãs na unção do Espírito San-to, uma família trinitária no amor das trêspessoas divinas. Por meio do Batismo fa-zemos parte da grande família dos filhos efilhas de Deus, e daí somos vocacionados

e vocacionadas à irmandade, à paternida-de e à maternidade, no Espírito do Pai edo Filho. Na dimensão trinitária encontra-mos o sentido de nossos votos religiosose da consagração matrimonial, pois a Trin-dade é uma comunidade de amor e umafamília unida pelos laços eternos do Amordo Espírito. A Trindade nos convida a umavocação muito especial neste tempo atual:romper com o individualismo, com o edo-nismo e a ‘mesmice’, com o isolamento,incentivado muitas vezes pela internet epelos meios de comunicação social, ou pelomedo da violência, para formarmos comu-nidades de vida, criarmos relacionamen-tos verdadeiros e amizades profundas.

Rogate: Qual sua mensagem final aosanimadores e animadoras vocacionais e oque espera do SAV em 2009?

Ir. Helena: Desejo a todas e todos umano de 2009 muito fecundo e profundo nes-te serviço de animação. Em primeiro lugar,o SAV é antes de tudo ‘testemunho de vida’,de uma vida consagrada feliz, de uma vidamatrimonial feliz, de uma vida sacerdotalfeliz. Segundo, mais do que lindos foldersmulticoloridos, apresentando nossas famí-lias religiosas, vamos fazer como Jesus:“vinde e vede”. Convidar jovens vocacio-nados e vocacionadas, ou em discernimen-to, para rezar conosco, conviver alguns pe-ríodos conosco, oferecer a eles e elas reti-ros de discernimento e acompanhamentoespiritual. Ajudá-los a ter um projeto de vidae um compromisso pastoral na comunida-de. Apresentar-lhes a vida consagrada comrealismo, mas acima de tudo ‘apaixoná-los’pela pessoa de Jesus e seu projeto, em umprocesso de aprendizado com Jesus e suaPalavra. Vocação é dom e processo; é res-posta comprometida; é ‘vida’ vivida paraDeus e para o próximo.

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E S T U D OESTUDO

A paz é fruto da justiça- parte 1 -

Justiça e paz são feições imprescindíveisdo rosto do discipulado de Jesus

Mais uma vez a Igreja apresenta ostradicionais conceitos bíblicos -Justiça e Paz - para tratar agora o

tema da Campanha da Fraternidade desteano: Segurança Pública.

O objetivo desta campanha é suscitar odebate sobre segurança pública e contri-buir para a promoção da cultura da paz; agrande meta é o empenhopessoal, comunitário e co-letivo na construção da jus-tiça social em prol da segu-rança para todos.

O presente artigo pre-tende discorrer alguns pon-tos fundamentais a partir daEscritura, relacionando-oscom o tema da segurança,que sempre tem sido umadas grandes plataformas po-líticas de candidatos às vés-peras de eleições. Por outrolado, alguns formadores deopinião emitem pareceres em seus discur-sos ideológicos, fundamentando a violência,o ódio e o medo a milhões e milhões deexpectadores de vários níveis sociais. Estes,por sua vez, vão reproduzir o mesmo mode-lo-padrão e, na prática, se omitem de umcompromisso comunitário e social.

O artigo pretende, ainda, ressaltar queé na face do discipulado de Jesus que deve

manifestar a verdadeira identidade cristã,sobretudo os mais nobres sentimentos dejustiça e paz que permearam a vida doMestre da Justiça e do Príncipe da Paz. Poisnão há vocação que emana do Pai, não háresposta, seguimento e discipulado de Je-sus Cristo, e não há envio ou missãoimpelida pelo Espírito Santo, se não tra-

zermos presentes essasduas vertentes: Justiça ePaz. Elas teceram e reves-tiram o rosto humano deJesus e são traços ou fei-ções imprescindíveis paraidentificar seu discipulado.

Partindodo Texto Bíblico

(Is 32,15-20)

O lema da Campanha daFraternidade é tirado dotexto do profeta Isaías, que

diz: “A paz é fruto da justiça” (Is 32,17).Ou seja, somente haverá paz se houver aprática da justiça. O versículo faz parte deum oráculo pós-exílico (vv. 15-20) e, pro-vavelmente, seja um acréscimo posteriorao profeta, que fala da restauração do povode Deus que retorna à sua terra natal ereconstrói tudo novamente.

Este oráculo, ao contrário dos oráculos

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ção

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precedentes do profeta, que são mais ame-aças e advertências, vai falar da efusão doespírito que restaurará tudo. O deserto setornará um campo fértil (jardim/pomar) eo campo fértil valerá uma floresta (v. 15).O direito habitará no deserto e no campofértil se estabelecerá a justiça (v. 16). Oefeito da justiça será a paz, e o fruto dajustiça, repouso e segurança para sempre(v.17). No versículo 18 do poema entra emcena o povo de Deus, que se beneficiaráde toda essa nova criação: “o meu povohabitará em moradas de paz, em mansõesseguras e em lugares tranqüilos”. Nosversos 19 e 20 vemos que mesmo quevenha abaixo a floresta sob granizo e acidade desmorone, felizes aqueles quesemeiam junto às águas e deixam solto oboi e o jumento.

O oráculo expressa a ação de Deus nomeio do povo para implantar a verdadeirapaz através de sua aliança renovada com oseu povo. Mas essa ação divina não outor-ga o poder ao ser humano de viver na pas-sividade, à espera do Deus dará. Deus nadaprovidencia sem a ação do ser humano. Oversículo 20a do poema é claro: “Felizessereis vós: semeareis em toda parte ondehouver água”. A cultura da paz não se rea-liza se não houver o compromisso do dis-cipulado com a prática da justiça. Sem aparticipação dos expatriados será impos-sível deixar o exílio e retornar livre e demodo definitivo ao seu país.

Justiça e Paz: duas facesde uma mesma moeda

Justiça e Paz são dois conceitos bási-cos presentes na Escritura que se relacio-nam no meio dos demais termos, não demenos importância, expressando e reno-vando um pensamento teológico na vidaeclesial do discipulado.

Exigências éticas para umaCultura da Paz

ESTUDO

Paz e segurança, mais do que discursosou conjunto de propostas, deve consti-

tuir-se em mentalidade que determine omodo de pensar e de agir de todas as pes-soas: deve ser expressão de uma cultura.Essa responsabilidade é colocada à frentede todos pela Campanha da Fraternidadedeste ano. Algumas exigências éticas:

• o projeto do Reino de Deus é o grandefundamento que deve iluminar o agir huma-no na construção da paz;

• o agir diante de qualquer problema vol-tado para as questões de segurança públi-ca deve ter como critério o evangelho, querevela as palavras, as motivações e o agirde Jesus;

• é necessária a superação do conceitode justiça que diz que todo mundo devepagar pelo que faz;

• a misericórdia, a solidariedade e o de-sejo de superação devem ser os elementosque fundamentam a ação de todos dianteda injustiça, da violência, do sofrimento, doconflito e da insegurança;

• ninguém pode pagar o mal com o mal,mas com o bem;

• renunciar a qualquer forma de violên-cia;

• não se justifica colocar nas armas asolução para os conflitos humanos;

• criar novos relacionamentos, tendocomo princípio a fraternidade e a necessi-dade de um projeto social comum, que sejacausa de bens para todas as pessoas;

• a solidariedade para com as vítimasda violência;

• o respeito pela dignidade das pessoase o engajamento na luta para que esta dig-nidade seja respeitada em todas as condi-ções da vida humana;

• a luta pela conversão pessoal e pelaconversão de todos;

• o trabalho evangelizador como meiode estabelecer os princípios que possibili-tam uma sociedade justa e fraterna, que ga-ranta a paz e a segurança.

Texto-base da CF-2009, nn. 242 e 256

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Justiça e Paz,mais do que

conceitosbíblicos,

são feições...

Mário Alves BandeiraReligioso Rogacionista

ESTUDO

“Justiça” está estreitamente associadacom a retidão e o direito. Houve uma evo-lução do conceito. Na era patriarcal signi-ficava conformidade com um padrão devalores. Nos tempos de Moisés em diantepassou a significar a vontadede Deus. Em Isaías 45,21 Deusé considerado Salvador por-que é justo (reto). Por isso opovo de Deus é conclamado abuscar a mútua justiça nosseus relacionamentos sociais(cf. Is 1,17; Jr 22,16).1

“Paz” comunica uma pazcompleta. É o resumo de tudode bom que Deus quer ofere-cer quando faz aliança com opovo. Abrange bem estar, fe-licidade, saúde, segurança, re-lações sociais equilibradas,harmonia consigo mesmo,com o próximo e com Deus.Não é apenas o contrário deviolência e ódio, é a vida comoela deve ser. Refere-se à ali-ança que Deus fez com a hu-manidade.2

Para obter a tão sonhada ealmejada paz, faz-se necessá-rio a prática constante da justiça que Jesusimplantou ao inaugurar o reino de Deussobre a terra. E a Igreja, através de seusrepresentantes, não cansa de conclamar atodos: “A verdadeira paz se constrói sobrenovas relações internacionais, fundamen-tadas na defesa dos direitos humanos, nasoberania das nações, numa justa distribui-ção dos benefícios do progresso e numaética que, respeitando as diferenças cultu-rais, possa combater as desigualdades so-ciais e econômicas”.3

O Texto-base da Campanha da Frater-nidade deste ano lembra-nos que a paz que

Notas:1. Cf. WILLIAMS, D.; Dicionário Bíblico Vida Nova; p.

203; (Vida Nova: São Paulo, 2000).

2. Cf. WILLIAMS...; Dicionário... p. 280.

3. Nota da Presidência e Comissão Episcopal de Pas-toral da CNBB; Justiça e Paz se abraçarão; Brasília,19/02/2003.

4. CNBB; Texto-Base; pp. 90-91.

Jesus traz não é uma fuga mística do de-sespero diante das dificuldades do nossotempo. Trata-se de uma paz concreta, queconvoca a todos para que sejam seus cons-trutores na sua realidade social, política,

econômica, cultural e religio-sa. E negar a possibilidade daconstrução histórica da paz énegar o mistério da encarna-ção. É negar a participação noprojeto de Jesus.

A Paz como obra da Justi-ça supõe e exige a instaura-ção de uma ordem justa quepossibilite a realização huma-na e permita que todas as pes-soas sejam sujeitos da própriahistória. Onde não existemessas condições, existe oatentado contra a paz.4 Ondea paz social não existe, há in-justiças, desigualdades soci-ais, políticas, econômicas, cul-turais e até mesmo a intole-rância religiosa.

Justiça e Paz, mais do queconceitos bíblicos, são fei-ções, são como linhas do ros-to que devem estar bem en-

trelaçadas para exprimir o verdadeiro sem-blante do discipulado de Jesus.

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ATUALIDADES

ATUALIDADES

Prezados irmãos e irmãs! Estou felizpor me encontrar convosco, por oca-sião do Dia da Vida Consagrada, tra-

dicional encontro que se torna ainda maissignificativo em virtude do contexto litúr-gico da festa da Apresentação do Senhor.[...]

Narrando a apresentação de Jesus notemplo, o evangelista Lucas sublinha portrês vezes o fato de que Maria e José agi-ram em conformidade com “a lei do Se-nhor” (cf. Lc 2,22.23.39) e, de resto, elesparecem estar sempre em escuta atentada Palavra de Deus. Esta sua atitude cons-titui um exemplo eloqüente para vós, reli-giosos e religiosas; para vós, membros dosinstitutos e das outras formas de vida con-sagrada. [...] É importante pôr no centrode tudo a Palavra de Deus, de maneira es-pecial para quantos, como vós, o Senhor

Viver e proclamar a Palavra de Deus

Na festa da Apresentação do Senhor, em 02 de fevereiro,é celebrado o 13º Dia da Vida Consagrada. A Rogate destaca

o discurso do papa Bento XVI para a celebraçãorealizada em 2008

chama ao seu seguimento mais íntimo.Com efeito, a vida consagrada está arrai-gada no evangelho; nele, como a sua regrasuprema, continuou a inspirar-se ao longodos séculos, e para ele é chamada a voltarconstantemente, em vista de manter-seviva e fecunda, produzindo fruto para a sal-vação das almas.

No início das diversas expressões devida consagrada existe sempre uma vigo-rosa inspiração evangélica. Penso em SantoAntônio Abade, suscitado pela escuta daspalavras de Cristo: “Se queres ser perfei-to, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aospobres e terás um tesouro no Céu; depois,vem e segue-me!” (Mt 19,21) [cf. VitaAntonii, 2,4]. Antônio ouviu-as como sefossem palavras dirigidas a ele mesmo pes-soalmente pelo Senhor. São Francisco deAssis, por sua vez, afirma que foi Deus que

lhe revelou que de-via viver segundo anormativa do santoevangelho (cf. Testa-

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mento, 17: FF 116). Escreve Tomás deCelano: “Francisco, ouvindo que os discí-pulos de Cristo não devem possuir ouro,nem prata, nem dinheiro, nem carregarbolsas, nem dispor de pão ou de um cajadopara o caminho, nem ter sandálias, nemduas túnicas... imediatamente, exultantedo Espírito Santo, exclamou: é isto quequero, é isto que peço, é isto que aspirofazer de todo o coração!” (1 Celano, 83: FF670.672).

“Foi o Espírito Santo - recorda a Ins-trução Partir de Cristo - quem iluminou aPalavra de Deus, com nova luz, para os fun-dadores e fundadoras. Dela brotou cada umdos carismas e dela cada Regra quer serexpressão” (n. 24). E, com efeito, o Espí-rito Santo chama algumas pessoas a vivero evangelho de modo radical e a traduzi-loem um estilo de seguimento mais genero-so. Assim nasce uma obra, uma família re-ligiosa que, com a sua própria presença,torna-se, por sua vez, “exegese” viva daPalavra de Deus. Por conseguinte, a su-cessão dos carismas da vida consagrada,afirma o Concílio Vaticano II, pode ser in-terpretada como um desenvolvimento deCristo durante os séculos, como um evan-gelho vivo que se atualiza de formas sem-pre novas (cf. Concílio Vaticano II, Consti-tuição Lumen gentium, 46). Nas obras dasfundadoras e dos fundadores se apresentaum mistério de Cristo, uma sua palavra,reflete-se um raio da luz que emana do seurosto, esplendor do Pai (cf. ExortaçãoApostólica pós-sinodal Vita consecrata, 16).

Seguir Cristo de modo incondicional,como nos é proposto pelo evangelho, temconstituído ao longo dos séculos a normaderradeira e suprema da vida religiosa (cf.Perfectae caritatis, 2). Na sua Regra, SãoBento remete para a Escritura como “nor-ma retíssima para a vida do homem” (n.

Testemunhar o evangelhodas bem-aventuranças

ATUALIDADES

Em seu discurso por ocasião do Dia daVida Consagrada de 2008, o papa Ben-

to XVI citou vários santos, dentre os quaisDom Luís Orione (1872-1940), contempo-râneo do apóstolo da oração pelas voca-ções, Santo Aníbal Maria Di Francia (1851-1927). Eles se conheceram pessoalmenteem 1908, quando houve o destruidor terre-moto em Messina, Itália. Foram canoniza-dos no mesmo dia, em 16 de maio de 2004.

No discurso aos consagrados e consa-gradas, Bento XVI citou, também, alguns do-cumentos da Igreja, com maior freqüênciaa Exortação Apostólica Pós-sinodal Vita con-secrata, de 1996. Foram seis citações, sen-do três da parte introdutória (nn. 1, 3 e 5) etrês do primeiro capítulo (nn. 16, 25 e 33),sobre a dimensão trinitária da vida consa-grada. Eis o resgate do número 33, queapresenta uma das missões das pessoasconsagradas, isto é, o testemunho das bem-aventuranças:

“Missão peculiar da vida consagrada émanter viva nos batizados a consciência dosvalores fundamentais do evangelho, graçasao seu ‘magnífico e privilegiado testemunhode que não se pode transfigurar o mundo eoferecê-lo a Deus sem o espírito das bem-aventuranças’ (Lumen Gentium 31). Destemodo, a vida consagrada suscita continua-mente, na consciência do povo de Deus, aexigência de responder com a santidade devida ao amor de Deus derramado nos cora-ções pelo Espírito Santo (cf. Rm 5,5), refle-tindo na conduta a consagração sacramen-tal realizada por ação de Deus no Batismo,na Confirmação ou na Ordem. Na verdade,é preciso que da santidade comunicada nossacramentos se passe à santidade da vidacotidiana. A vida consagrada existe na Igrejaprecisamente para se pôr ao serviço da con-sagração da vida de todo o fiel, leigo ou clé-rigo. Por outro lado, não se deve esquecerque também os consagrados recebem, dotestemunho próprio das outras vocações,uma ajuda para viver integralmente a ade-são ao mistério de Cristo e da Igreja, nassuas múltiplas dimensões...”

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ATUALIDADES

Da Redação

73,2-5). São Domingos, “em toda a partemanifestava-se como um homem evangé-lico, tanto nas palavras como nas obras”(Libellus, 104: in P. Lippini, San Domenicovisto dai suoi contemporanei, Bolonha,Studio Dom., 1982, p. 110), e assim ele de-sejava que fossem também os seus padrespregadores, ou seja, “homens evangélicos”(Primeiras Constituições ou Consuetudines,31). Santa Clara de Assis corrobora plena-mente a experiência de São Francisco: “Aforma de vida da Ordem das Irmãs pobres- escreve ela - é a seguinte: observar osanto evangelho de nosso Senhor JesusCristo” (Regra, I, 1-2: FF 2750). SãoVicente Pallotti afirma: “A regra fundamen-tal da nossa mínima congregação é a vidade nosso Senhor Jesus Cristo, para imitá-la com toda a perfeição possível” (cf. Obrascompletas, II, 541-546; VIII, 63, 67, 253, 254e 466). E Dom Orione escreve: “A nossaprimeira Regra de vida consista em obser-var, com grande humildade e com amordulcíssimo e ardente a Deus, o santo evan-gelho” (Lettere di Don Orione, Roma 1969,vol. II, p. 278).

Esta riquíssima tradição dá testemunhode que a vida consagrada está “profunda-mente arraigada nos exemplos e ensina-mentos de Cristo Senhor” (Vita consecrata,1), e assemelha-se “a uma planta commuitos ramos, que assenta as suas raízesno evangelho e produz frutos abundantesem cada estação da Igreja” (Ibid., n. 5). Asua missão consiste em recordar que to-dos os cristãos são convocados pela Pala-vra, para viverem da Palavra e permane-cerem sob o seu predomínio. Portanto,compete de modo particular aos religiosose às religiosas “manter viva nos batizadosa consciência dos valores fundamentais doevangelho” (Ibid, 33). Agindo desta manei-ra, o seu testemunho infunde na Igreja “um

impulso precioso em ordem a uma coerên-cia evangélica cada vez maior” (Ibid., n. 3)e, aliás, poderíamos dizer, constitui uma“persuasiva pregação, ainda que muitasvezes silenciosa, do evangelho” (Ibid., 25).Por isso, nas minhas duas Cartas Encícli-cas, assim como em outras ocasiões, nãodeixei de indicar o exemplo de santos e debem-aventurados pertencentes a institu-tos de vida consagrada.

Estimados irmãos e irmãs, alimentai osvossos dias com a oração, a meditação e aescuta da Palavra de Deus. Vós, que ten-des familiaridade com a antiga prática daLectio divina, ajudai também os fiéis avalorizá-la na sua existência cotidiana. Eaprendei a traduzir em testemunho aquiloque é indicado pela Palavra, deixando-vosplasmar por ela que, como semente quecai no terreno fértil, produz frutos abun-dantes. Deste modo sereis sempre dóceisao Espírito e crescereis na união comDeus, cultivareis a comunhão fraterna en-tre vós mesmos e estareis prontos a ser-vir generosamente os irmãos, sobretudoàqueles que se encontram em maior ne-cessidade. Que todos possam ver as vos-sas boas obras, fruto da Palavra de Deusque vive em vós, e dêem assim glória aovosso Pai celestial (cf. Mt 5,16)!

Ao confiar-vos estas reflexões, agrade-ço-vos o serviço inestimável que prestaisà Igreja e, enquanto invoco a tutela deMaria e dos santos e bem-aventurados fun-dadores dos vossos institutos, concedo decoração a Bênção Apostólica a vós e às vos-sas respectivas famílias religiosas, dirigin-do um pensamento especial aos jovens eàs jovens em fase de formação, bem comoaos vossos coirmãos e coirmãs enfermos,idosos ou em dificuldade. A todos vós as-seguro recordar em minhas orações.

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ESPECIALESPECIAL

A Palavra de Deus na vidae na missão da Igreja

Na conclusão da 12ª Assembléia Geral Ordinária do Sínododos Bispos foi divulgada mensagem que visa aprofundar

“o conhecimento e o amor à Palavra de Deus”

Inaugurado pelo papa Bento XVI no dia05 de outubro de 2008, em uma cele-bração eucarística realizada na Basílica

de São Paulo Fora dos Muros, em Roma,Itália, a 12ª Assembléia Geral Ordinária doSínodo dos Bispos se estendeu até o dia26 de outubro. Estiveram reunidos nesteperíodo 253 pessoas, a maioria bispos, mastambém padres, religiosos, religiosas, lei-gos e leigas, sendo 90 representantes daEuropa, 62 da América, 51 da África, 41 daÁsia e 09 da Oceania.

Dentre os participantes, 173 foram elei-tos, 38 participaram ex-ofício, 32 foram no-meados pelo papa e 10 foram eleitos pelaUnião de Superiores Gerais. Estiverampresentes também, como convidados, re-presentantes de outras denominações re-

ligiosas. Foi o caso, por exemplo, de Shear-Yashurv, Gran Rabino de Haifa (Israel).

Durante a assembléia foram redigidase votadas diversas propostas, encaminha-das ao papa Bento XVI, que tem a respon-sabilidade de elaborar a Exortação Pós-sinodal, que significa um documento con-clusivo sobre o tema trabalhado no Sínodo.A assembléia elegeu também a comissãode redação da mensagem final, que contoucom a presença de representantes dos cin-co continentes. O presidente da Conferên-cia Episcopal de Honduras, cardeal OscarAndrés Rodriguez Maradiaga, foi eleito orepresentante da América. A Rogate apre-senta uma síntese da mensagem final queos participantes do Sínodo enviaram a todoo povo de Deus.

Síntese da mensagemCaros irmãos e irmãs, “a

todos os que, em qualquer lu-gar que estejam, invocam onome de nosso Senhor JesusCristo, a graça e a paz da partede Deus, nosso Pai, e da partedo Senhor Jesus Cristo!” (1Cor1,2-3).

Com a saudação do Apósto-lo Paulo - neste ano a ele dedi-

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16 Rogate 269 jan-fev/09

ESPECIALA dimensão vocacionale a Palavra de Deus

cado - nós, Padres Sinodais, reunidos emRoma para a 12ª Assembléia Geral doSínodo dos Bispos, com o papa Bento XVI,

dirigimo-vos uma mensagemde reflexão e proposta sobrea Palavra de Deus, que este-ve no centro dos trabalhos denossa assembléia.

É uma mensagem queconfiamos, antes de tudo, avós pastores, aos muitos egenerosos catequistas e atodos aqueles que vos guiamna escuta e na leitura amo-rosa da Bíblia. Queremos di-rigir-vos o conteúdo destetexto para que cresça e se

aprofunde o conhecimento e o amor à Pa-lavra de Deus. Quatro são os pontos car-deais do horizonte, que queremos convi-dar-vos a conhecer e que exprimiremosatravés de imagens.

Em primeiro lugar, a voz de Deus. Elaressoa nas origens da criação, quebrandoo silêncio do nada e dando origem às ma-ravilhas do universo. É uma voz que pe-netra na história, ferida pelo pecado hu-mano e atormentada pela dor e pela mor-te. A história vê o Senhor caminhandocom a humanidade para lhe oferecer suagraça, aliança e salvação. É uma voz quedesce às páginas das Sagradas Escrituras,lidas atualmente na Igreja sob a luz do Es-pírito Santo.

Além disso, como escreve São João, “aPalavra se fez carne” (Jo 1,14). E eis queaparece o rosto: Jesus Cristo, Filho doDeus eterno e infinito, homem mortal, li-gado a uma época histórica, a um povo e auma terra. Ele vive a existência penosada humanidade até à morte, mas ressur-ge glorioso e vive para sempre. É ele quetorna perfeito nosso encontro com a Pa-

Durante o Sínodo dos Bispos, o religio-so Rogacionista, Pe. Giorgio Nalin, que

participou do evento como um dos repre-sentantes da União de Supe-riores Gerais, fez uma exposi-ção relacionando a Palavra deDeus com a dimensão voca-cional. “A minha reflexão fezreferência ao terceiro capítuloda primeira parte do Documen-to de Trabalho do Sínodo,onde se insiste na atitude queo fiel deve ter diante da Pala-vra de Deus”, afirmou Pe.Nalin. Tal atitude caracteriza-se pela escuta “a Deus quefala, exigindo uma resposta eum abandono de si próprio”,completou. A revista Rogatepublica as principais partesdesta exposição.

A dimensão vocacionale sua conseqüência

Vamos considerar a dimensão vocacio-nal da Palavra de Deus em uma dupla pers-pectiva:

a) a Palavra de Deus chama por si pró-pria, enquanto age de modo eficaz no cora-ção daquele que a acolhe;

b) a Palavra de Deus contem figuras, his-tórias e reflexões que narram o chamadode diversos personagens bíblicos em vistade uma missão: todos têm como modelo aúnica e definitiva vocação e missão do Fi-lho, Jesus Cristo, no qual se cumpre o pro-jeto salvador do Pai.

Devemos destacar como a definição de“vocação” tem a ver com o desenvolvimen-to da pessoa humana enquanto tal, do mo-mento do seu nascimento à conclusão desua existência. Portanto, toda pessoa, pelofato de viver no mundo, é amada por Deuse chamada a se realizar segundo um proje-to de amor que dá sentindo à própria exis-tência.

Continua na página 17

Pe. Nalin,no Sínodo

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lavra de Deus. Este rosto revela-nos o“sentido pleno” e unitário das SagradasEscrituras, pelo qual o cristianismo é umareligião que tem no centro uma pessoa,Jesus Cristo, revelador do Pai. É este ros-to que nos faz entender que as Escritu-ras são “carne”, isto é, palavras humanaspara serem compreendidas e estudadas noseu modo de se exprimir, mas que guar-dam no seu interior a luz da verdade divi-na, que só com o Espírito Santo podemosviver e contemplar.

E é o próprio Espírito de Deus que nosconduz ao terceiro ponto cardeal de nossoitinerário, a casa da palavra divina, isto é,a Igreja. Como sugere São Lucas (At 2,42),ela é sustentada por quatro colunas. Te-mos o “ensinamento”, que consiste na lei-tura e compreensão da Bíblia pelo anúnciofeito a todos, na catequese, na homilia, pormeio de uma proclamação que envolva amente e o coração. Temos a “fração dopão”, isto é, a Eucaristia, fonte e cume davida e da missão da Igreja. Como aconte-ceu naquele dia em Emaús, os fiéis sãoconvidados a se nutrir, na Liturgia, da Pa-lavra de Deus e do Corpo de Cristo. Umaterceira coluna é a “oração”, com “salmos,hinos e cânticos espirituais” (Cl 3,16). É aLiturgia das Horas, oração da Igreja desti-nada a ritmar os dias e os tempos do anocristão. É também a Lectio divina, leituraorante das Sagradas Escrituras, capaz deconduzir - na meditação, oração e contem-plação - ao encontro com Cristo, Palavrade Deus vivo. E, por fim, a “comunhão fra-terna”, pois, para ser verdadeiro cristãonão basta ser como “aqueles que escutama Palavra de Deus”, mas é preciso ser comoquem “a coloca em prática” no amor ope-roso (Lc 8,21).

E chegamos à última imagem do mapaespiritual. É a estrada sobre a qual cami-

Oencontro com a Palavra de Deus pro-duz algumas consequências:

- a Palavra doada à liberdade da pes-soa define o ser humano como uma “identi-dade responsorial”;

- a Palavra de Deus, e propriamente aSagrada Escritura, assume uma missão pe-dagógica, educando o ouvinte a escutar aPalavra, a se confrontar com sua mensa-gem, a discernir a proposta e a tomar posi-ção diante de si próprio e de sua história;

- a Palavra encontra no contexto da ora-ção litúrgica a sua forma mais alta e profun-da. A acolhida da Palavra implica o silênciointerior;

- a Palavra precisa chegar não somenteno interior da comunidade cristã, mas namissão e na evangelização dos povos.

Emerge, portanto, a dimensão “vocacio-nal” da Palavra de Deus, que é Palavradirigida ao diálogo com a pessoa. Tal diálo-go abre, diante do ser humano, o mistériodo próprio chamado à plenitude. Mediantea Palavra revelada na Sagrada Escritura,compreende-se a pedagogia de Deus, queeduca as pessoas para o encontro com Ele.As conseqüências espirituais são notáveis.A Palavra de Deus implica disponibilidadeà escuta, ao silêncio, à acolhida, e pedesobretudo o testemunho e a missão. O pro-cesso completo compreende-se no itinerá-rio vocacional, que envolve a existência doser humano e o seu desejo de felicidade.

Algumas perspectivas pastorais

As considerações feitas nos permitemevidenciar algumas perspectivas pastorais:

a) necessidade de resgatar e repropor aPalavra de Deus para redescobrir a própriaidentidade;

b) atenção à pastoral da juventude, eta-pa primordial de formação à Palavra e dadescoberta vocacional;

c) testemunho da vida consagrada nacomunidade eclesial e na sociedade, reve-lando maturidade humana e espiritual, em-penho na evangelização e missão.

ESPECIAL Conseqüênciase perspectivas pastorais

Continuação da página 16

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Da Redação

ESPECIAL

nha a Palavra de Deus: “Ide e fazei discí-pulos todos os povos, ensinando-os a ob-servar o que vos ordenei... O que ouvis aoouvido, proclamai sobre os telhados” (Mt28,19-20; 10,27). A Palavra de Deus devepercorrer as estradas do mundo, incluindoas estradas da comunicação - informática,televisiva e virtual. A Bíblia deve entrar nasfamílias, a fim de que os pais e os filhos a

leiam, rezem com ela.Seja para eles umalâmpada para os pas-sos no caminho daexistência (cf. Sl 119,105). As Sagradas Es-crituras devem entrartambém nas escolas enos ambientes cultu-rais, porque elas têmsido, por séculos, a re-ferência capital daarte, da literatura, damúsica, do pensamen-to e da própria éticacomum. Sua riquezasimbólica, poética enarrativa as torna umestandarte de beleza,seja para a fé ou paraa própria cultura, nummundo muitas vezesgolpeado pela feiúra epela imundície.

Na estrada encon-tramos os irmãos e irmãs de outras igre-jas e comunidades cristãs, que, apesar daseparação, vivem uma unidade real, aindaque não plena, através da veneração e doamor pela Palavra divina. Ao longo da es-trada do mundo encontramos também,com freqüência, homens e mulheres deoutras religiões, que escutam e praticamfielmente os ensinamentos de seus livros

sagrados e que conosco podem construirum mundo de paz e de luz, porque Deusquer que “todos os seres humanos sejamsalvos e cheguem ao conhecimento da ver-dade” (1Tm 2,4).

A Bíblia apresenta-nos também o ge-mido de dor que sai da terra, vai ao encon-tro do grito dos oprimidos e ao lamentodos infelizes. Ela tem no vértice a cruz,onde Cristo sozinho e abandonado vive atragédia do sofrimento mais atroz e da mor-te. Por causa dessa presença do Filho deDeus a obscuridade do mal e da morte éiluminada pela luz pascal e pela esperançada glória.

Caros irmãos e irmãs, guardai a Bí-blia em vossas casas, procurai lê-la, aprofundai e compreendei plena-

mente suas páginas, transformai-a em pre-ce e testemunho de vida, escutai-a comamor e fé na Liturgia. Criai silêncio paraescutar com eficácia a Palavra do Senhor econservai o silêncio depois de ouvi-la, paraque ela continue a habitar, a viver e a falarconvosco. Fazei-a ressoar no início do dia,para que Deus tenha a primeira palavra, edeixai-a ecoar em vós ao cair da tarde, paraque a última palavra seja de Deus.

“Recomendo-vos a Deus e à palavra desua graça” (At 20,32). Com a mesma ex-pressão que São Paulo utilizou em seu dis-curso de despedida aos chefes da Igreja deÉfeso, também nós, Padres Sinodais, re-comendamos a vós, fiéis das comunidadesespalhadas sobre a face da terra, a Palavradivina. Ela é juízo, mas sobretudo graça, écortante como uma espada, mas doce comoum favo de mel. É potente e gloriosa, enos guia na estrada da história, com a mãode Jesus, que vós, como nós, “amais comamor incorruptível” (Ef 6,24).

A Palavrade Deus éjuízo, massobretudograça, é cor-tante comouma espada,mas docecomo umfavo de mel.É potente egloriosa, enos guia naestrada dahistória, coma mão deJesus.

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VOCACIONALANIMAÇÃO VOCACIONAL

Modelos de vida

“Se alguém está em Cristo é nova criatura”(2Cor 5,17)

Cada cultura tem o seu modelo devida, e cada pessoa escolhe ummodelo de vida próprio. Inclusive

aquele que não se dá conta e acha o fatopuramente teórico. Na verdade, o modelode vida é como uma direção invisível quecomanda as nossas ações, até mesmo osnossos humores, e inspira os nossos pro-jetos, inclusive o vocacional. Mas na erada comunicação global tudo circula em todolugar, e todos respiramos o mesmo ar cul-tural, feito de influxos heterogêneos, quecondicionam o nosso ser e agir, sem mes-mo tomarmos consciência. Vale a pena, en-tão, tentar compreender melhor em vistade escolher livremente e conscientemen-te nosso modelo de vida pessoal.

Modelo radicalQuem vive neste modelo cultural está

fechado em si mesmo, enxergando tão so-mente as suas necessidades, impulsos, de-sejos, de acordo com seu ponto de vista econfiando em sua experiência. A plena eespontânea expansão dos impulsos e de-sejos torna-se a lei suprema da sua ação,sem depender de qualquer norma moral ecom a única finalidade de satisfazer o pró-prio prazer. Desaparecem completamenteconceitos, como o dever, o sacrifício, a dis-ciplina, substituídos pela idéia da expan-são que liberta, na convicção de que a ex-pressividade imediata e sem restrições das

necessidades e instintos se transforme emdireito obrigatório e inalienável, que dáforça libertadora à pessoa.

Também a psicanálise é superada pelaesquizoanálise, que dissolve e libera a mul-tiplicidade espontânea dos impulsos, masdepois deixa o caos e cria divisão na pró-pria psique do indivíduo. Aliás, na crisegeral de sentido do ser humano contem-porâneo, o prazer absolve a função de ex-tremo horizonte de sentido. Pelo menosaté quanto dure, pois, enfim, como bem sa-bemos, quanto mais alguém faz o que gos-ta, menos gosta do que faz...

Modelo niilistaÉ niilista quem vive na convicção de

que não existem verdades e valores abso-lutos, eternos e imutáveis, mas que tudo -e a vida humana em primeiro lugar - tem o“nada” por sua porção e herança. Eis o fimda tradição com as suas certezas, e a re-signação para viver sem seguranças e semgrandes ideais, embora aprendendo a pri-vilegiar a prática acima da teoria, ou con-tentando-se em viver o momento passa-geiro.

O aniquilamento dos valores absolutos,no parecer de alguns, pode ter aspectos po-sitivos. Se, de fato, formos menos segu-ros e dogmáticos seremos, talvez, mais au-tônomos e responsáveis na busca da pró-pria verdade, e mais tolerantes em rela-

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ANIMAÇÃO VOCACIONAL

Amedeo CenciniReligioso Canossiano

ção à verdade dos outros. Resultaria umasociedade menos violenta, com institui-ções e ritos não fideístas, capazes de seadaptar ao “diferente” e à multiplicidadedo real. Mas sempre no campo da culturado nada, que torna tudo frágil e efêmero,também o amor. Cultura de morte...

Modelo cibernéticoNeste modelo o ser humano e toda a

existência são vistos e modelados no com-putador e em seu sistema de funcionamen-to. Este modelo do homo faber é herdeirodo velho modelo cientista, mas não aceitaa fé ingênua na ciência e na sua objetivida-de. Acredita, aliás, na pesquisa científicacomo instrumento de domínio sobre a re-alidade, aplicado com estratégias eficien-tes, segundo o ditado “o que é tecnicamen-te possível, é também lícito”, a tal pontode moldar um futuro no qual nada é deixa-do ao acaso e à fantasia, mas tudo é deter-minado com precisão e previsto pelo ho-mem-computador, para evitar erros e des-perdícios no campo econômico, e sofrimen-tos psicológicos devido a irracionalismo,fanatismo, imprevidência.

Uma aplicação ao campo humano de talmodelo é o comportamentismo, que nasceda convicção de poder modelar-manipulara pessoa e influenciar o seu agir. Uma ci-entífica dosagem de recompensas e puni-ções torna possível esta pretensão que eli-mina, evidentemente, não só os valores dohumanismo clássico, mas também a idéiade liberdade.

Modelo da auto-realizaçãoÉ típico de quem baseia a própria iden-

tidade em seus dons e qualidades (em vá-rios níveis). Acha-se o único artífice de simesmo (o clássico tipo de quem se fez so-zinho) e busca a realização dos próprios

talentos como finalidade básica da vida egarantia da auto-estima.

Este modelo, em relação aos preceden-tes, tem uma visão mais “humana” e com-pleta do ser humano. Todavia apresentagrandes riscos: uma perspectiva muito in-dividualista da vida; uma dignidade huma-na ligada a algo que não é tão essencial eradical, circunscrita ao eu atual e redutiva;uma certa auto-idolatria ou “religião doeu”, que deve ser necessariamente vitori-osa, tornando as relações competitivas efazendo perder o sentido dos limites e dador, e também a capacidade de aceitar omal e o insucesso.

De fato, tal modelo narcisista não podealcançar o seu objetivo, e paradoxalmentefornece o fermento para a cultura da depres-são, que nasce de uma baixa auto-estima.

Modelo aberto ao mistérioUm outro modo de compreender o ser

humano é o de descobrir nele uma abertu-ra ao mistério e ao transcendente; e decolher neste desejo, que vai além do pre-sente, a sua verdadeira imagem, a sua dig-nidade e verdade profunda, o que tornacada pessoa única e não repetível.

É a visão cristã, pela qual a vida de to-dos, e não apenas dos superdotados, é algogrande e precioso, e não uma realidademanipulável. Tal verdade universal abre àesperança e fundamenta o relacionamen-to. Está muito além de qualquer visãoredutiva e toda cultura de morte. Desafiae exalta a liberdade humana.

Segundo este modelo, o ser humano foiintroduzido no mistério de Deus, e o mis-tério humano tornou-se, de um modo maisprofundo e real, o próprio mistério deDeus!

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IN FORMAÇÃOIN FORMAÇÃO

O sacramento da ordem

O sacerdote jesuíta Enrico Cattaneofaz um interessante estudo sobreo sacramento da ordem, recorrendoao Antigo e Novo Testamentos, aoConcílio Vaticano II, entre outras fontes

Formato: 13,5 x 21 cmPáginas: 150Preço: R$ 19,00

Pedidos:www.loyola.com.brTel.: (11) 6914-1922

Professor de Patrologia na Sezione San Luigi, da Pon-tifícia Faculdade Teológica da Itália Meridional(PFTIM), em Nápoles, e do Pontifício Instituto Ori-

ental (PIO), de Roma, o sacerdote jesuíta Enrico Cattaneofez um estudo de fôlego sobre “O sacramento da ordem”,título do livro lançado por Edições Loyola. Já na introdu-ção, o autor recupera a origem e significado do sacramen-to da ordem, passando pelo Antigo e Novo Testamentos,e destacando as contribuições do Concílio Vaticano II, como ministério “visto em sua tríplice dimensão: profética (anúncio da palavra, ensinamen-to), sacerdotal (culto) e pastoral (direção da comunidade)”, como ressalta Enrico Cattaneo.

Além da introdução e bibliografia, o livro é estruturado com cinco capítulos, que abor-dam desde a descrição dos atuais ritos, passando pelo estudo das orações de ordenação,pela apresentação das fontes bíblicas e fontes litúrgicas do sacramento da ordem, pelasintervenções do Magistério que orientaram a teologia, concluindo com o que o autordenomina “alguns pontos de teologia e de catequese”. Este é um tema que merecesempre ser estudado, tanto que, como afirma Enrico Cattaneo, “o sacramento da ordemfoi o primeiro entre os sacramentos a ser reformado após o Concílio Vaticano II”.

Divulgação

Rumo à AlemanhaRegina Drummond, a partir da história de vida da personagem Mô-nica, retrata a realidade de muitos jovens que deixam a família paratrabalhar e estudar em outros países. A protagonista é uma tímidasonhadora, que gosta de tradição, aprecia coisas antigas e adoramuseus; mas é na experiência concreta de viagem que ela reco-nhece a importância de respeitar a diversidade cultural, sem per-der a própria identidade. Com 152 páginas (16 x 23 cm), o livrocusta R$ 23,00. Pedidos pelo site (www.editorasalesiana.com.br)ou telefone: (11) 3274-4906.

Divulgação

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Mês Vocacional 2009Durante a reunião ampliada da Comis-

são Episcopal Pastoral para os Ministéri-os Ordenados e a Vida Consagrada, da Con-ferência Nacional dos Bispos do Brasil(CMOVC-CNBB), realizada de 27 a 30 deoutubro de 2008, em Brasília (DF), os re-presentantes do Serviço de Animação Vo-cacional, ou da Pastoral Vocacional, dos di-versos Regionais da CNBB, escolheram otema e o lema do mês vocacional deste ano.Tema: “Há esperança no caminho!”. Lema:“Ardia nosso coração quando ele nos fala-va pelo caminho...” (cf. Lc 24,32).

3° CongressoVocacional do BrasilComo já informou a revista Rogate em

sua última edição (n. 268, dez/2008, p. 17),está marcado para setembro de 2010 a re-alização do 3° Congresso Vocacional doBrasil. A Comissão Executiva, coordena-da pelo assessor nacional da CMOVC-CNBB, Pe. Reginaldo Lima, já começou adar os primeiros encaminhamentos, emreunião realizada no Centro Rogate doBrasil, nos dias 02 e 03 de dezembro doano passado. O evento será realizado emItaici, município de Indaiatuba (SP), aexemplo dos anteriores, e terá comotema: “Discípulos-missionários a serviçodas vocações”, e lema: “Ide, pois, fazerdiscípulos entre todas as nações” (cf. Mt28,19). O primeiro congresso foi realiza-do em 1999, com o tema: “Vocações eministérios para o Novo Milênio”, e olema: “Coragem! Levanta-te, ele te cha-ma” (Mc 10,49b). E o segundo congressovocacional foi realizado em 2005, com otema: “Igreja, povo de Deus a serviço davida”, e lema: “Ide também vós para a mi-nha vinha” (Mt 20,4).

IN FORMAÇÃO

Agendado o 2° CongressoVocacional Latino-americanoe caribenhoDe 03 a 07 de novembro de 2008, em

San Pedro Sula, Honduras, reuniram-se ossecretários executivos do setor vocacio-nal dos países da América Latina e doCaribe com o objetivo de articular o 2° Con-gresso Vocacional Latino-Americano. Oevento foi promovido pelo Departamentode Vocações e Ministérios do ConselhoEpiscopal Latino-americano (DEVYM-CELAM) e contou com a participação de27 pessoas, vindas de 23 países, além dedois representantes do Vaticano, da Ponti-fícia Obra para as Vocações. Do Brasil par-ticipou o assessor da CMOVC-CNBB, Pe.Reginaldo Lima. O congresso está marca-do para fevereiro de 2011, em Costa Rica.Segundo Pe. Reginaldo, “para esse con-gresso já foi constituída uma equipe, queirá fazer uma pré-consulta às conferênciasepiscopais quanto aos desafios da anima-ção vocacional. Em seguida, com este ins-trumento de trabalho, serão definidos temae lema do evento”. O 1° Congresso Voca-cional Latino-americano (que também foio 1° Congresso Continental de Vocações)foi realizado no Brasil, em Itaici, Indaiatuba(SP), em 1994.

Assembléia da CNBBA 47ª Assembléia Geral da Conferên-

cia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)acontecerá de 22 de abril a 1º de maio, emItaici, Indaiatuba (SP), e terá como temacentral: “A formação presbiteral: diretri-zes e desafios”. O documento 55 da CNBB,que trata da questão (“Formação dos Pres-bíteros da Igreja no Brasil; diretrizes bási-cas”), deverá ser atualizado, dado que suapublicação ocorreu em 1995.

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23Rogate 269 jan-fev/09

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As mensagens enviadas poderão sereditadas pela equipe, favorecendo ummelhor entendimento de seu conteúdo.

Material de evangelizaçãoSou catequista em minha comunidade

e me sinto feliz e grata ao nosso maravi-lhoso Deus. Peço, se possível, que me en-viem qualquer tipo de material de evange-lização para trabalhar e distribuir às crian-ças e adolescentes. Minha maior alegria époder demonstrar, pouco que seja, o infi-nito amor de Deus para cada um deles.Agradeço de coração.

Juliele NettoFortaleza de Minas (MG)

Nota:Juliele, parabéns pelo trabalho que você

desenvolve em sua comunidade! Vamos en-viar algum material para ajudar em suamissão junto às crianças e adolescentes.

Um dia pela p azRealizamos no dia 07 de novembro de

2008 o evento “Um dia pela paz”, promo-vido pela Associação Palavra Viva em par-ceria com a Universidade Metodista. Teveo objetivo de incentivar a articulação em

L E I T O RLEITOR

A Rogate agradece os votosrecebidos de Boas Festas.

rede entre as entidades ligadas aos movi-mentos em prol da paz, de forma que elascontribuam com o processo de criação deuma nova legislação voltada para a segu-rança pública.

Tadeu CostaSão Paulo (SP)

Pastoral do DízimoA Pastoral do Dízimo da arquidiocese

elaborou um kit com três CDs sobre espi-ritualidade do dízimo, contendo palestrasproferidas por Bernardo Bonowitz, abadedo Mosteiro Trapista, de Campo do Tenen-te (PR). O material pode ser utilizado emcursos, retiros, grupos de oração e tam-bém na formação de sacerdotes e leigos.

Andrea AdelioCuritiba (PR)

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MÍSTICAMÍSTICA DA VOCAÇÃO

Um novo estilode vida consagrada

Patrício SciadiniReligioso Carmelita Descalço

Estamos vivendo num mundo emmudanças. Para notar isto não é ne-cessário incomodar ninguém, nem

filósofos, nem psicanalistas e nem teólo-gos. As mudanças podem ser observadascom nitidez. Mas o que significam mudan-ças? Aí me parece estar o problema, e quepode nos ajudar a ver o novo nascer da vidaconsagrada neste mundo conturbado. Ummundo no qual cada vez mais se exige “no-vidade e criatividade” e, ao mesmo tem-po, uma fidelidade ao passado que não sejasimplesmente cópia do que foi, porém,mais do que tradicionalismo, que tenha osabor de um futuro sadio, alicerçado sobrea palavra eterna de Jesus. Palavra que cha-ma a segui-lo com radicalidade: “quemquiser vir após mim, renuncie si mesmo,venda tudo o que tem, dê aos pobres...”(cf. Mt 19,21).

Há duas tendências na vida consagradaatualmente que, no seu radicalismo, sãoprejudiciais à transparência do Reino deDeus e fazem do evangelho uma “referên-cia” que não corresponde ao que Jesus quisnos anunciar.

Uma das tendências se refere à vidaconsagrada que não quer levar em consi-deração a beleza do passado, o terreno fér-til em que o monaquismo surgiu, no qualhavia o desejo de romper com o mundo quenão vive segundo os ensinamentos doevangelho. A vida consagrada, para aque-les e aquelas que desejam percorrer estecaminho da imitação de Jesus, sempre vaiexigir rupturas dolorosas dos nossos afe-

tos, do apego aos bens terrenos e da idola-tria de uma liberdade que nos desvinculade Deus nosso Pai. Esta tendência de nãoquerer levar em consideração a beleza dopassado é perigosa, porque nos impede decontemplar o caminho da cruz como liber-tação de tudo o que pode nos aprisionar.

Ainda há outra tendência. É a de nãoquerer “sair” do passado, achando que sóatravés de uma ascese e mortificação, comjejum e fechamento ao mundo de hoje, sepode assumir a alegria do seguimento deJesus. De fato, não somos cidadãos dosdesertos ou de uma cidade que vive à luzdas fogueiras e cujos habitantes escrevemnas pedras. A civilização tem feito gran-des progressos, aos quais não podemosfechar os olhos. Devemos contemplarcom esperança o mundo, a sociedade, aIgreja em que vivemos. Não é mais pos-sível viver no ontem, como também no“futurismo”. É o hoje da história que noscompromete.

Para ver surgir um novo estilo de vidaconsagrada, portanto, é necessário um equi-líbrio que una e harmonize o ontem com oamanhã, a partir do nosso hoje. É impor-tante permanecer de olhos abertos paracompreender e decodificar os sinais dostempos e dos lugares que nos interpelam.Sobre isto falaremos em outra oportunida-de. Mas tenho certeza de que um novo es-tilo de vida consagrada está em gestação...E é necessário não fazê-la abortar.