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Módulo 2 planejamento e avaliação ALBA Não faz mal que amanheça devagar, as flores não têm pressa nem os frutos; sabem que a vagareza dos minutos adoça mais o outono por chegar. Portanto não faz mal que devagar o dia vença a noite em seus redutos de leste – o que nos cabe é ter enxutos os olhos e a intenção de madrugar. Geir Campos. Cantigas de Acordar Mulher Organização e gestão da escola:

Organização e gestão da escola: planejamento e avaliação€¦ · Módulo 2 planejamento e avaliação ALBA Não faz mal que amanheça devagar, as flores não têm pressa nem

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Módulo 2

planejamento e avaliação

ALBANão faz mal que amanheça devagar,

as flores não têm pressa nem os frutos;sabem que a vagareza dos minutos

adoça mais o outono por chegar.

Portanto não faz mal que devagaro dia vença a noite em seus redutos

de leste – o que nos cabe é ter enxutos os olhos e a intenção de madrugar.

Geir Campos. Cantigas de Acordar Mulher

Organização e gestão da escola:

Série Formação - Programa de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica - PROGED - ISP - UFBA

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Rede Nacional de Formação e Desenvolvimento da EducaçãoCentro de Pesquisa e Desenvolvimento da EducaçãoÁrea: Gestão e AvaliaçãoPrograma de Formação Continuada de Gestores de Educação Básica (PRoGED)

Coordenador GeralRobert Evan Verhine

Coordenador ExecutivoPaulo Cezar Vilaça de Queiroz

Coordenadora da Ação 01Ana Maria de Carvalho Luz

Coordenadora da Ação 02Patrícia Rosa da Silva

Série Formação Vol. 3Módulo 2: organização e gestão da escola: planejamento e avaliação

Este módulo teve como referência principal texto gerador da autoria de Tércio Rios de Jesus, foi elaborado por Ana Maria de Carvalho Luz e revisto por Gilmara Carvalho Conceição e Anuska Andréa de Souza Silva.

organizadores:Ana Maria de Carvalho LuzPatrícia Rosa da SilvaFernanda Alamino do Amaral

Diagramação e projeto gráfico:Fernanda Alamino do Amaral

Foto da capa:Improve It

Presidente da República do BrasilLuís Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Diretora do Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino FundamentalJeanete Beauchamp

Coordenadora Geral de Políticas de FormaçãoRoberta de Oliveira

Universidade Federal da BahiaReitorNaomar Monteiro de Almeida Filho

Vice-ReitorFrancisco José Gomes Mesquita

Pró-Reitor de ExtensãoEugênio de Ávila Lins

Pró-Reitora de Planejamento e AdministraçãoNádia Andrade de Moura Ribeiro

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoAntônio Alberto da Silva Lopes

Pró-Reitor de GraduaçãoMaerbal Bittencourt Marinho

Pró-Reitora de Desenvolvimento de PessoasJoselita Nunes Macedo

Centro de Estudos Interdisciplinares para o Setor Público (ISP)DiretorAntonio Virgílio Bittencourt Bastos

Gestão de Unidades Escolares. -[recurso eletrônico] / ISP /PROGED / UFBA. Programa eletrônico. Salvador : ISP, 2008. 1 CD ROM: il ; 43/4 pol. + encarte: il;1 folha solta dobrada; 42 x 30 cm . (Série Formação; n. 2). Sistema requerido: Windows 98, 2000, XP ou Vista; Adobe Reader 6.0 ou versões compatíveis, com atualização gratuita no próprio CD. E-books. Série Formação; n. 3, foi baseada na Série Seminários Organização: Ana Maria de Carvalho Luz, Patrícia Rosa da Silva e Fernanda Alamino do Amaral. Tamanho do CDs: 5,71Mb

Conteúdo: 1 CD com E-books: 1. E-book 1 - A qualidade social da educação escolar 2. E-book 2 - Organização e gestão da escola: planejamento e avaliação 3. E-book 3 - A construção do projeto político-pedagógico da escola 4. E-book 4 - A avaliação da aprendizagem na escola 5. E-book 5- Gestão de pessoas e do ambiente físico da escola. 6. E-book 6 - Autonomia financeira das escolas. 7. E-book 7 - Convivência na escola: o papel do gestor. 8. E-book 8 - Sobre todas as coisas... I. Título. CDD: 371.3

Este módulo faz parte da publicação:

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Caro Cursista

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Além da delicadeza e da poesia presente nos versos de Geir Cam-pos, o poema da epigrafe sutilmente nos remete à discussão que pre-tendemos fazer neste módulo. O planejamento e a avaliação escolar, como veremos aqui, são processos que exigem “enxutos os olhos e a intenção de madrugar”. Ou seja, exigem clareza no olhar e intenção de futuro.

O planejamento será tratado aqui, como processo participativo e coletivo que possibilita antecipar a prática e é imprescindível à to-mada de decisões. Por seu turno, a avaliação é compreendida como processo emancipatório desenvolvido numa perspectiva formativa e política dos atores que avaliam, são avaliados e se auto-avaliam.

Após os esclarecimentos conceituais sobre os processos de plane-jamento e de avaliação bem como sobre as formas como esses estão relacionados entre si, serão oferecidos elementos teórico-metodoló-gicos necessários à construção de planos e projetos que subsidiarão a organização e gestão da escola.

Dispostos a iniciar mais esse desafio? Então, vamos começar!

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Sumário

>>>

O que é planejamento e qual a sua importância na organização e gestão da escola? • Analise / 6 /

Qual a concepção de planejamento mais adequada à perspectiva democrática da ges-tão escolar?• Reflita / 9 /

O que deve ser planejado e avaliado na escola?• Pense / 11 /

Que dimensões do trabalho da escoladevem ser consideradas no planejamento e na avaliação?• Dimensões externas / 11 /• Dimensões internas / 12 /• Reflita / 13 /

Organização e gestão escolar: o que e porque avaliar?• Pense / 16 /

De que forma o planejamento escolar se materializa?• 1º passo: Descrição do contexto escolar / 18 /• 2º passo: Identificação dos desafios e problemas / 19 /• 3º passo: Definição dos objetivos, estratégias e metas / 19 /• Pense / 21 /

Atividades do módulo 2• Opine / 22 /

Referências e indicações bibliográficas

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o que é planejamento e qual a

>>>

O processo de organização e gestão escolar, assim como de qualquer outra instituição, tem como base suas funções essenciais. As teorias clássicas da Administração Geral estabelecem quatro funções a partir das quais são definidas as ações e operações necessárias à organização, estrutura e funcionamento de qualquer instituição. São elas:

• Planejamento – Consiste na explicitação de objetivos e antecipa-ção de decisões para orientar a instituição, com a previsão do que se deve fazer para atingi-los.

• organização – Compreende a racionalização de recursos hu-manos, físicos, materiais, financeiros, ou seja, os meios pelos quais se asseguram a efetividade dos processos de ensino e aprendizagem, criando e viabilizando as condições e modos para se realizar o que foi planejado.

• Direção e coordenação – Implicam a coordenação do esforço humano coletivo do pessoal da escola. Trata-se do desenvolvimento propriamente dito dos processos de planejamento, da organização e da avaliação. Assim, as funções de direção e coordenação envolvem: mobilização, liderança, motivação, comunicação e a capacidade de articulação dos esforços de cada um dos atores envolvidos nesses pro-cessos. Dirigir e coordenar implica o exercício da autoridade – e não do autoritarismo – da responsabilidade, do poder de decisão, da dis-ciplina e da iniciativa.

• Avaliação – É a comprovação e a avaliação do fun-cionamento da escola. Ou seja: com base em dados e in-formações coletados através de processos e instrumentos diversificados, a avaliação consiste em verificar se o que foi previsto está sendo alcançado, de fato. A avaliação en-volve além da análise qualitativa de dados e informações, a apreciação valorativa (juízo de valor), a quantificação, a mensuração, ou seja, o uso de formas diferenciadas de medidas com critérios definidos previamente.Essas funções não ocorrem de forma isolada ou estan-

que, antes se constituem em processos que, de forma sistemática, articulada e permanente, buscam garantir a organização e o desen-

sua importância na organização e gestão da escola?

Saiba mais

Avaliação:Mais adiante, neste módulo, tra-

taremos com maior detalhamento

o processo de avaliação da escola.

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volvimento da gestão da escola. Elas irão se materializar nos planos e projetos elaborados pela escola, conforme será demonstrado aqui neste módulo.

Bem, por hora, o que precisa ficar claro aqui é a concepção de pla-nejamento que deve ser assimilada para que possa ser assegurada uma efetiva organização do trabalho da escola e uma gestão democrática e participativa conforme o desejado por aqueles que fazem educação. O processo e o exercício de planejar constituem uma antecipação da prática, ou seja, planejar é prever e programar as ações e os resultados desejados, possibilitando à equipe gestora a tomada de decisões.

A escola necessita formular objetivos, tendo como referência as suas necessidades e em articulação com o projeto político-educacio-nal do sistema de ensino do qual faz parte. É necessário que a escola elabore planos de trabalho ou planos de ação onde são definidos seus objetivos e sistematizados os meios para a sua execução bem como os critérios de avaliação da qualidade do trabalho que realiza. Sem planejamento, as ações dos diversos atores da escola irão ocorrer ao sabor das circunstâncias, com base no improviso ou na reprodução mecânica de planos anteriores e sem avaliar os resultados do trabalho. A falta de planejamento leva a equipe gestora a se especializar em “apagar incêndios”, mas, nem todos os incêndios podem ser apagados sem que haja sérios prejuízos.

Algo que deve ser observado no processo de planejamento e na organização geral do trabalho é o tipo de gestão que se desenvolve na escola. O planejamento escolar não pode ser conduzido de forma autoritária e centralizadora, uma vez que se pretende instituir uma cultura mais democrática e participativa nos processos desenvolvidos na escola. Uma gestão democrática não se constrói sem um planeja-mento participativo, que conte com o envolvimento dos segmentos representativos da comunidade escolar nos processos de tomada de decisão, bem como na definição de metas e estratégias de ação, como já vimos no Módulo 1. A participação dos diferentes segmentos da comunidade escolar nesse processo é fator relevante para o seu suces-so, pois agrega ao planejamento o compromisso e a co-responsabili-dade na consecução de metas e objetivos definidos.

Analise

Agora, pense e avalie: como tem sido a sua experiência de planejamento na unidade escolar em que você trabalha?

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A conceituação feita por Libâneo (2004), parece ser uma boa res-posta a tal questionamento. Segundo ele, o planejamento é uma prá-tica de elaboração conjunta dos planos e sua discussão pública, é um processo contínuo de conhecimento e análise da realidade escolar em suas condições concretas, de busca de alternativas para solução de problemas e de tomada de decisões. Dado o seu caráter processual e de atividade permanente de reflexão e ação, o planejamento deve ser flexível, ou seja, deve permitir ajustes nos objetivos e nas estratégias durante a sua execução. Ou seja, as ações definidas nos planos devem estar sujeitas a um processo de avaliação constante, para as retifica-ções necessárias nos percursos definidos.

O importante aqui é considerar que, se queremos uma sociedade democrática temos de estimular o desenvolvimento de práticas de-mocráticas. Uma sociedade marcada pela desigualdade e pela injusti-ça, como o caso da sociedade brasileira, não irá se transformar numa sociedade justa, igualitária e democrática com um “passe de mágica”. Se desejarmos e quisermos essa sociedade, nossas ações devem estar em sintonia com as nossas utopias. As dificuldades para instituir uma cultura de participação na escola são muitas. Entretanto o processo de planejamento da escola deve ser visto também como um mecanismo que pode contribuir para a superação do imobilismo da comunidade escolar para o desenvolvimento de uma ação coletiva.

Uma vez que se definiu que o planejamento é um processo de construção desenvolvido numa perspectiva democrática e participati-va, que contribui para a organização e gestão escolar, resta-nos ainda definir quais as suas funções. Libâneo (2004, p. 150) considera que o planejamento atende, em geral, às seguintes funções:

• Diagnóstico e análise da realidade da escola: busca de informações reais e atualizadas que permitam identificar as dificuldades existentes e as causas que as originam, em relação aos resultados obtidos até então.• Definição de objetivos e metas que compatibilizem a política e as diretrizes do sistema escolar com as inten-ções, expectativas e decisões da equipe da escola.

Qual a concepção de planejamento

>>>

mais adequada à perspectiva democrática da gestão escolar?

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• Determinação de atividades e tarefas a serem desenvol-vidas em função de prioridades postas pelas condições concretas e compatibilização com os recursos disponíveis (elementos humanos e recursos materiais e financeiros).

A partir do desenvolvimento efetivo dessas funções, o processo de planejamento irá permitir conhecer e organizar a dinâmica escolar, possibilitando avaliar e acompanhar permanentemente a operacio-nalização do projeto político-pedagógico da escola. Como um pro-cesso, o planejamento resulta num plano de operacionalização do projeto político-pedagógico da escola. O projeto político-pedagógico da escola é, pois, um documento amplo, construído através de pro-cessos participativos, em que estão registrados os valores a serem tra-balhados, as diretrizes, as prioridades, os objetivos e metas a serem atingidas no desenvolvimento do trabalho pedagógico da escola. O projeto político-pedagógico orienta atitudes, posturas e práticas que se desenvolvem no ambiente escolar, ou seja, orienta a construção da própria realidade escolar. Permite conhecer e refletir sobre a realidade, avaliando-a para propor novas formas de agir e intervir na cultura es-colar para atender às necessidades dos indivíduos e coletividades que o contexto escolar agrega.

Então, a relação entre planejamento e projeto político-pedagógico está clara? A diferença entre um e outro está bem delimitada? Bem, o que importa é saber o seguinte:

• Projeto Político-pedagógico é um documento que detalha ob-jetivos, diretrizes e ações do processo educativo a ser desenvolvido na escola, expressando as exigências legais do sistema educacional, bem como as necessidades, propósitos e expectativas da comunidade escolar. Revela os modos de pensar e agir dos atores que participam da sua ela-boração, expressa a cultura da escola e, ao mesmo tem-po, contribui para transformá-la. Nisso residem duas características fundamentais do projeto político-peda-gógico, definidas por Libâneo (2004, p. 152): consi-derar o que já está instituído (legislação, currículos, métodos, conteúdos, clima organizacional, etc); e, ao mesmo tempo, instituir, estabelecer e criar objetivos, procedimentos, instrumentos, modos de agir, estruturas, hábitos e valores, ressignificando a própria cultura escolar. Daí o fato de ser considerado como instrumento e processo de organização da escola e, por isso, mesmo, algo que não se constitui simplesmente num produto que cumpre uma exigência legal. O projeto político-pedagógico pode ser comparado, de forma análoga, a uma árvore. Ou seja, plantamos uma semente que brota, cria e fortalece suas raízes, produz sombra, flores e frutos que dão

Saiba maisProjeto Político-pedagógico:No módulo 3, nos deteremos

sobre a construção do projeto po-lítico-pedagógico

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ReflitaAgora, reflita: em que medida essa concepção de projeto político-pedagógico está presente na prá-

tica de sua escola?

o que deve ser planejado e

>>>

origem a outras árvores, frutos... Mas, para mantê-la viva, não basta regá-la, adubá-la e podá-la apenas uma vez.

• OPlanejamentoéprocessoe,comotal,irágerarumprodutoou produtos, que podem ser planos de trabalho ou planos de ação com temporalidade definida e áreas específicas para a sua aplicação. Os produtos gerados a partir do planejamento são instrumentos fle-xíveis, que auxiliam o desenvolvimento do trabalho da escola nas di-mensões pedagógica, política e administrativo-financeira. O processo de planejamento exige uma atenção permanente ao projeto político-pedagógico da escola e, por isso mesmo, permite acompanhá-lo e avaliá-lo. Os produtos gerados pelo processo de planejamento de-verão assegurar a operacionalização do projeto político-pedagógico, garantindo aquelas características citadas anteriormente, ou seja, a de manutenção do instituído e instituição do novo.

Bem, aqui buscamos pontuar alguns aspectos essenciais à discus-são sobre o planejamento escolar. Obviamente não esgotamos essa discussão, até porque, ela é, além de rica, extremamente complexa. Também, não é essa a intenção pretendida aqui. O importante é que você tenha clareza quanto aos seguintes aspectos enfatizados:

• Definição de planejamento• Importância do planejamento• Planejamento e gestão democrática da escola• Planejamento e organização escolar• Planejamento e projeto político-pedagógico.

avaliado na escola?Para que possamos definir o objeto do planejamento e da avaliação

escolar, é necessário ter clareza de quais são as atividades e processos que movimentam o dia-a-dia da escola. Em suma, para avaliar e pla-nejar a organização e gestão da escola, é preciso saber o que a escola faz ou precisa fazer para cumprir sua função social. De maneira bastante

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simples podemos dizer que, no cumprimento da sua função social, a escola deve assegurar a realização de dois grupos de atividades básicas para a sua organização, estrutura e funcionamento: atividades-fim e atividades-meio.

• As atividades-fim possuem relação direta com todos os aspectos que envolvem a tarefa maior da escola: o processo de ensino e apren-dizagem.

• As atividades-meio não possuem uma relação direta com o pro-cesso educativo, mas concorrem para torná-lo efetivo, propiciando as condições básicas para que ele se realize.

Esses dois grupos de atividades, desenvolvidas de forma integrada e articulada, irão possibilitar que a organização e a gestão sejam realiza-das com vistas ao cumprimento da missão maior da escola: propiciar uma educação de qualidade para todos. Essas atividades podem ser consideradas o próprio objeto do planejamento e da avaliação escolar. A ação de planejamento deverá ser desenvolvida no sentido de prever a execução dessas atividades, ou seja, o planejamento da escola deverá prever como, quando e com quem essas atividades serão realizadas. Por sua vez, a avaliação irá se constituir num processo indispensá-vel ao próprio ato de planejar, uma vez que permitirá responder se as atividades planejadas foram realizadas a contento, ou seja, se os resultados previstos no planejamento foram alcançados e em que me-dida. As atividades-meio e as atividades-fim a serem planejadas e avaliadas podem ser identificadas a partir dos diferentes processos que se desenvolvem no interior da escola e que correspondem a três grandes dimensões:

• A dimensão pedagógica. Essa dimensão diz respeito às ações e pro-cedimentos diretamente associados à aprendizagem dos alunos: gestão do currículo, tempo pedagógico, equipes docentes, formação continu-ada, recursos didáticos e desenvolvimento de projetos educativos.

• A dimensão política. Os processos políticos englobam a formula-ção de mecanismos de participação da comunidade local e escolar na construção e consolidação de um projeto político pedagógico, bem como a implementação das relações da escola com o sistema de ensi-no e com a sociedade.

• A dimensão administrativo-financeira. Os processos administra-tivos tratam do desenvolvimento das condições para a concretização da proposta educativa da escola, envolvendo a gestão financeira e do patrimônio da escola, manutenção e conservação do espaço físico e administração de pessoal (docentes e funcionários) da escola.

No cotidiano da escola, tais processos não ocorrem de forma iso-lada e independente, mas se desenvolvem de forma interligada. Essa classificação é feita apenas no sentido de se compreender, com maior

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PenseAgora, reflita: na sua prática de gestão, o que ocupa mais o seu tempo – atividades-meio ou

atividades-fim?>>>Que dimensões do trabalho da

Alguns autores destacam a importância de o gestor coordenar o trabalho da escola a partir de duas instâncias ou dimensões funda-mentais para as quais se dirige o seu trabalho – uma interna e outra externa. Nesse sentido, os processos de planejamento e de avaliação deverão contemplar a escola em seu contexto. Ou seja, é preciso con-siderar a escola como instituição que desenvolve uma cultura pró-pria, que influencia e é influenciada pela cultura geral. Assim, as duas dimensões mencionadas deverão ser cuidadosamente analisadas no momento de realização do planejamento e da avaliação escolar.

Dimensão ExternaA dimensão externa tem relação com a função social da escola de

clareza, a natureza das atividades que se constituem objeto do plane-jamento e da avaliação. Ao gestor ou diretor da escola, cabe planejar, coordenar, controlar e avaliar os processos e atividades que se desen-volvem na escola, verificando os resultados alcançados. Para tanto, é necessário ter a habilidade de integrar e motivar toda a equipe para garantir o êxito de tais processos. Isso significa que a liderança exerci-da pelo gestor irá influenciar na condução dos processos de trabalho e, conseqüentemente, nos resultados esperados para a escola.

Por fim, é imprescindível não esquecer que o planejamento e a avaliação devem ser realizados em fina sintonia com os preceitos da gestão democrática. Para tanto, é primordial que se conheça a cultura organizacional da unidade escolar, constituída do conjunto de valo-res, princípios, crenças e símbolos sobre os quais todo o trabalho edu-cativo está assentado. Somente conhecendo as formas como a escola “pensa e reage” será possível consolidar o processo de planejamento.

escola devem ser consideradas no planejamento e na avaliação?

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propiciar uma educação de qualidade que permita a socialização de um saber historicamente produzido, preparando para o exercício da cidadania. Nesse sentido, o gestor deve procurar conhecer bem a co-munidade em que a escola está inserida, suas condições, necessidades e aspirações. Deve ainda estimular a comunidade a apropriar-se da es-cola como um bem público, participando das suas atividades, colabo-rando no que for possível para que a instituição escolar possa cumprir bem o seu papel. Para isso, deve manter uma relação de conhecimento e diálogo com as famílias dos alunos, com as lideranças comunitárias, com o comércio local, com outras escolas e instituições, de modo a criar um contexto de apropriação da escola como um equipamento comunitário de alta relevância. Nesse sentido, é fundamental cultivar, a transparência da gestão com a divulgação de ações, projetos, custos e necessidades.

Outro nível de sua atuação na dimensão externa está na forma como se estabelece à relação com o órgão gestor da educação do mu-nicípio, a secretaria de educação ou equivalente, com os conselhos sociais da área de educação e com as instâncias educacionais do estado presente no município. Essas relações devem ser conduzidas de forma a propiciar fluxos de informações e colaborações que tornem a escola uma instituição viva, presente no seu espaço. Esses níveis de atuação da dimensão externa devem ser contemplados tanto no planejamento como na avaliação da organização e gestão da escola.

Dimensão InternaA dimensão interna, por sua vez, refere-se à organização e à gestão

dos espaços e das atividades escolares propriamente ditas, de modo que os vários segmentos da escola possam ter condições iguais de expressar suas opiniões, questionando, analisando, avaliando e deci-dindo. Em suma: participando democraticamente da gestão.

Nesse sentido, é importante que se instale, na escola, a cultura de avaliação permanente de suas atividades, ou auto-avaliação, com o diagnóstico das principais causas dos resultados satisfatórios ou insa-tisfatórios do trabalho realizado, o que deverá fundamentar o plane-jamento dos objetivos e das metas a serem alcançadas. Esse processo ajudará a escola a enfrentar problemas como:

• falta de participação da comunidade escolar nas ações propostas; • ausência de um plano de gestão que revele propostas suficiente-

mente coordenadas e articuladas; • baixo nível de conscientização dos vários segmentos sobre a im-

portância e papel social da escola;• problemas de indisciplina;• desmobilização e insatisfação dos profissionais nela lotados;

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• insuficiente clareza de orientações pedagógicas que contribuam para lidar com dificuldades decorrentes de problemas sociais graves que afetam a clientela da escola;

• fatores que influenciam a credibilidade da escola e os percentuais de evasão e repetência.

É importante que se tenha como horizonte no processo de plane-jamento e avaliação da organização e gestão escolar, o acesso e a per-manência dos alunos em uma escola de qualidade social para todos. Nesse sentido, a escola deve avaliar como têm sido desenvolvidas as suas práticas nas dimensões interna e externa e, de que forma tais prá-ticas têm contribuído de maneira efetiva para aquilo que de fato im-porta para o aluno e para a sociedade, ou seja, sua aprendizagem. Não se deve esquecer, ainda, que é fundamental assegurar a participação efetiva da comunidade escolar nos projetos desenvolvidos na e pela escola, de forma que seja possível verificar os resultados e benefícios alcançados através do esforço coletivo.

ReflitaAgora, reflita: na sua escola, como essas duas dimensões – a externa e a interna – se realizam?>>>

organização e gestão escolar: o que e porque avaliar?

Nos últimos anos percebemos uma grande preocupação do gover-no com a avaliação dos sistemas de ensino e da escola. Dos esforços

empreendidos pelo poder público nessa direção, dois as-pectos importantes merecem ser destacados. O primeiro diz respeito às pressões exercidas pelos organismos inter-nacionais que, com base nas análises sobre as relações entre educação e desenvolvimento econômico, passam a definir e a orientar o planejamento e as políticas públi-cas educacionais, exigindo maior controle dos resultados, ajustando-as ao consumo e à produção. O segundo aspec-to – mesmo sofrendo influência do primeiro – está rela-cionado à luta pela qualidade da escola pública, daqueles

que pensam e fazem educação. Nas reivindicações da sociedade civil

Glossário

Organismos internacionais:

Banco Mundial, UNESCO,

FMI e outras agências de regula-

ção internacional.

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organizada, no debate acadêmico e no discurso oficial dos governos mais progressistas, a construção de uma escola pública com qualidade social implica em instituir processos mais participativos na gestão escolar, principalmente no que diz respeito ao acompanhamento e a avaliação do que a escola faz e deve fazer para cumprir sua função social.

Tem se tornado imperativo o movimento de avaliação interna e externa dos sistemas escolares e da escola, tendo em vista a necessidade de verificar sua eficiência e eficácia. A avaliação realizada se desdobra em duas modalidades: a avaliação institucional e a avaliação acadêmica.

• A avaliação institucional ou administrativa visa à obtenção de dados quantitativos e qualitativos sobre alunos, professores, estrutura organizacional, recursos físicos, materiais e didáticos, as práticas de gestão, den-tre outros aspectos.

• A avaliação acadêmica tem por objetivo produzir informações sobre os resultados da aprendizagem, em função do acompanhamento e revisão das políticas educacionais implementadas, com vistas à formulação de indicadores de qualidade dos resultados do ensino.

É essencial que se tenha clareza de que os grandes sistemas de avaliação contribuem para um diagnóstico amplo do sistema e da escola, possibilitando aos pro-fessores a utilização dos resultados apresentados. Os professores precisam se familiarizar com as avaliações feitas pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - SAEB e o Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM , que verificam o aproveitamento escolar, para poder tirar proveito dos seus resultados. Essa discussão interessa pelo fato de que a escola será sempre objeto de avaliação externa do poder público. Entretanto, o que importa mesmo é saber: o que significa avaliar? O que deve ser avaliado? Qual a importância da avaliação para garantir a qualidade social da escola? E o que tem a ver avaliação com a organização e gestão da escola?

É necessário que a escola desenvolva uma cultura de avaliação das suas atividades e processos, como já foi colocado anteriormente, que é algo que se diferencia da avaliação da aprendizagem que ela já reali-za. Mas qual a diferença entre avaliação da aprendizagem e avaliação da escola? Apesar de parecer obvio, essa é uma questão que ainda não foi bem assimilada no processo de organização e gestão da escola, haja vista que a avaliação é uma preocupação relativamente recente tanto

GlossárioSAEB:Criado em 1988, o Saeb é

uma ação do Governo Brasilei-ro, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesqui-sas Educacionais Anísio Teixei-ra – Inep, na sua Diretoria de Avaliação da Educação Básica – Daeb, sendo um dos mais am-plos esforços empreendidos em nosso País no sentido coletar dados sobre alunos, professo-res, diretores de escolas públi-cas e privadas em todo o Brasil. O INEP também é responsável pela Prova Brasil. Caso seja do seu interesse visite: www.inep.gov.br/basica/saeb

ENEM: Coordenado também pelo

Inep, o ENEM visa, dentre outras coisas: estruturar uma avaliação ao final da educação básica, que sirva como moda-lidade alternativa ou comple-mentar aos processos de sele-ção nos diferentes setores do mercado de trabalho; estru-turar uma avaliação ao final da educação básica que sirva como modalidade alternativa ou complementar aos exames de acesso aos cursos profissio-nalizantes pós-médios e à Edu-cação Superior. http://www.inep.gov.br/basica/enem

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no âmbito dos sistemas como da própria escola. Se pararmos para refle-tir, iremos perceber que a própria avaliação da aprendizagem , uma das práticas escolares tão antigas quanto o próprio ensino, nunca foi vista como um processo que avalia também e, principalmente, o professor. A avaliação da aprendizagem nem sempre foi encarada como processo que revela o resultado do trabalho do professor e da escola. Muito pelo contrário, a avaliação da aprendizagem, em muitos contextos, sempre foi muito mal empregada, até mesmo para avaliar os alunos.

A avaliação da aprendizagem, ou seja, as formas e os instrumentos de mensuração do rendimento escolar dos alunos, quando bem ela-borados e aplicados, permitem a identificação de problemas e dificul-

dades em determinadas disciplinas ou no trabalho desen-volvido por determinados professores, favorecendo uma intervenção mais efetiva. Entretanto, só isso não basta: a escola precisa realizar um processo que permita ao corpo técnico-pedagógico e aos professores discutirem e avalia-rem o trabalho da escola, em função do aprimoramento do projeto político-pedagógico e da qualidade do ensino. É preciso considerar não só o resultado do desempenho como também o conjunto de fatores que o influenciam. Nesse sentido, deve-se levar em consideração, no proces-

so de avaliação da escola, os elementos que determinam a qualidade da oferta de serviços de ensino e o sucesso escolar dos alunos. Alguns desses elementos estão presentes – ou deveriam estar – na escola e concorrem para o desenvolvimento efetivo do trabalho pedagógico. São eles:

• características dos alunos (necessidades educacionais especiais, gênero, etnia, classe social, dentre outras);

• rendimento escolar por classe;• composição do corpo docente (tempo de trabalho, idade, currí-

culo profissional);• condições de trabalho e motivação dos professores;• recursos físicos e materiais;• materiais didáticos e recursos informacionais. Além desses elementos, é preciso que a escola avalie outras variá-

veis da organização e da gestão escolar, tais como:• dados estatísticos e informações sobre a população escolar como:

reprovação, abandono, defasagem entre idade e série, situação sócio-econômica da família;

• clima organizacional da escola, que inclui: tipo de organização; tipo de direção (acolhedora, hostil, democrática, autoritária, etc); re-lações humanas; envolvimento dos diversos segmentos da comunida-de escolar com os objetivos e as ações propostas pela escola;

Saiba mais

A avaliação da aprendizagem

é um tema de extrema relevância

quando se trata de discutir a qua-

lidade social da escola, portanto,

será discutida no Módulo 4

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AnaliseQue dificuldades o gestor geralmente enfrenta para desenvolver a avaliação institucional?

• rendimento escolar dos alunos por turma, série e nas disciplinas consideradas críticas (Língua Portuguesa e Matemática);

• execução do projeto político-pedagógico em seu conjunto: currí-culo, processos de ensino e de aprendizagem, regimento escolar, estru-tura e atuação da coordenação pedagógica, relações interpessoais, etc;

• desempenho dos professores (qualidade das relações que estabe-lecem com os alunos, conhecimento dos conteúdos da disciplina, do-mínio dos métodos e procedimentos de ensino e de avaliação, com-preensão do processo de aprendizagem, etc).

Acreditamos que aqui ficou claro que a avaliação não ocorre de forma estanque. Ao contrário disso, constitui-se numa importante etapa do processo de planejamento. Também acreditamos que já deu para entender a importância da avaliação - com o envolvimento dos vários segmentos -, para que a escola possa perceber, com mais cla-reza, os aspectos que precisam ser tratados com especial atenção. A análise cuidadosa de tais aspectos irá fornecer elementos para que, no ato do planejamento, sejam definidas novas prioridades, possam ser estabelecidas metas e delimitados prazos e responsabilidades, para avançar nos aspectos merecedores de maior atenção. Nessa direção, a escola pode reconhecer como a avaliação contribui para a melhoria da qualidade da educação oferecida à comunidade.

>>>De que forma o planejamento

escolar se materializa?Uma vez reconhecida a importância do processo de avaliação da

escola, agora é o momento de saber quais os produtos a serem gerados no processo de planejamento. Ou seja, os instrumentos que a escola deve elaborar para concretizar ou materializar o processo de planeja-mento. Para começarmos a delinear o produto que resultará do pro-cesso de planejamento, é preciso obedecer uma lógica que é comum a toda atividade de planejamento:

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1. Construção do diagnóstico da escola, ou seja, coleta de informações sobre a realidade ou situação que se quer transformar, ou problemas que precisam ser superados.2. Com base nos objetivos traçados no projeto político-pedagógico da escola, as informações e os dados coleta-dos são analisados e interpretados.3. Diante do panorama traçado, são identificadas as prioridades para que se possa tomar as decisões, traçar as metas, definir as ações e as estratégias mais eficazes para produzir as mudanças necessárias ou desejadas.4. Por fim, elabora-se um plano de ação, projeto ou plano de trabalho, que irá materializar o processo de planeja-mento realizado pela escola e que reflete o seu projeto político-pedagógico. Ou seja, o instrumento gerado nesse processo irá operacionalizar aquilo que foi instituído e está consolidado no projeto político-pedagógico da escola.

Em geral, perde-se muito tempo durante a “semana pedagógica” com atividades que, apesar de serem importantes para a escola e co-munidade escolar, não contemplam a contento as atividades de plane-jamento. Por conta disso, a escola, muitas vezes, inicia o ano letivo sem avaliar os resultados obtidos no ano anterior e sem conseguir construir um plano de trabalho que irá nortear as suas ações no âmbito políti-co, pedagógico e administrativo-financeiro. Isso, porém, não significa que a escola não possa desenvolver estratégias para dar início às suas atividades de forma mais ou menos planejada – um plano emergencial – enquanto se elabora um plano mais consistente e mais detalhado. O importante é que a escola exercite permanentemente as atividades de planejamento e avaliação, para que não se perca de vista as suas reais necessidades e o potencial dos seus atores seja subutilizado.

Via de regra, o produto gerado a partir do planejamento é o plano anual de trabalho. O plano não deve ser encarado como um instru-mento que a escola faz para cumprir as exigências do sistema ao qual está integrada, arquivando-o logo após concluí-lo. Esse instrumento deve ser fonte de consulta e inspiração para que se possa construir outros instrumentos de apoio ao desenvolvimento do trabalho esco-lar, como: plano de ação do professor; plano de ação da coordenação pedagógica; plano de ação dos funcionários da escola; e o plano de ação da direção. Todos esses instrumentos devem garantir que a orga-nização e a gestão escolar sejam orientadas numa perspectiva sistêmi-ca, ou seja, cada segmento da escola se reconheça e reconheça o seu trabalho como parte de uma proposta global, construída de forma coletiva e com base em objetivos comuns.

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Na literatura sobre planejamento, gestão, organização escolar, etc. são encontrados modelos diversos de planos e projetos. Muitas vezes, os roteiros apresentados pelos autores recebem nomes variados e, em muitos casos, geram certa confusão para aqueles que buscam orienta-ções para elaborar esse instrumento. Independentemente do autor ou de como ele denomina o plano, existem elementos da sua estrutura que são invariáveis, ou seja, estarão sempre presentes e terão sempre a mesma definição, mesmo que ditos e apresentados de formas dife-rentes. Por isso, apresentamos, a seguir, um roteiro simplificado de um plano de trabalho, com os elementos comuns a qualquer tipo de instrumento de planejamento, comentando os principais passos para a sua elaboração.

1º passo – Descrição do contexto escolarDiagnóstico das principais características da organização e da ges-

tão escolar. O diagnóstico consiste no levantamento de dados e infor-mações que irá possibilitar uma visão global das necessidades e pro-blemas enfrentados pela escola. Deve ser elaborado de tal forma, que favoreça, com base no conhecimento das características da comuni-dade escolar, suas expectativas e necessidades em relação ao processo de ensino e de aprendizagem, a escolha de alternativas de solução para os problemas identificados. Os dados a serem levantados são de natu-reza qualitativa (como o professor de matemática está ensinando; de que forma a comunidade tem participado das atividades da escola); e quantitativa (qual o percentual de alunos aprovados e reprovados em matemática; qual o número de atividades realizadas pela escola e qual o percentual de participação da comunidade). A seguir, são indicados alguns aspectos imprescindíveis ao diagnóstico do plano de trabalho da escola:

• Caracterização sócio, política, econômica e cultural da comuni-dade onde a escola se insere e da comunidade escolar.

• Estrutura física, mobiliário e material: prédio escolar; salas de aula; sanitários; áreas de lazer, esporte e recreação; laboratórios; bibliotecas; bebedouros; carteiras; mesas; utensílios de cozinha; computadores; tele-visor; vídeo; cartazes; mapas; e outros recursos didático-pedagógicos.

• Recursos financeiros: verbas de que a escola dispõe; formas de efetuar as despesas e de controle.

• Pessoal: número de professores, funcionários e especialistas.• Organização geral da escola: organograma, atribuições e funcio-

namento dos setores, distribuição de horários, enturmação, número de alunos por sala, aspectos administrativos gerais.

• Secretaria escolar: organização e funcionamento, registros, docu-mentação dos alunos, etc.

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• Relacionamento com o órgão central da educação.• Participação da comunidade e das famílias: conselho escolar, As-

sociação de Pais e Mestres, reunião de pais; relacionamento da escola com órgãos, instituições, ONGs, etc.

• Sistemática de produção e organização de dados e de estatísticas educacionais.

• Convivência na escola.• Instrumentos de gestão e de organização do trabalho pedagógico

(regimento, PDE, projeto político-pedagógico, planos de aula).• O desempenho dos alunos: aprovação, evasão, distorção entre

idade e série, etc.• Participação dos alunos na gestão escolar.

Além desses, muitos outros aspectos podem ser levantados e anali-sados para que se tenha um “retrato fiel” do que é a escola. Um diag-nóstico preciso e consistente permitirá à equipe gestora saber onde está pisando para poder traçar os caminhos para onde quer chegar.

2º Passo – Identificação dos desafios e problemasA partir do diagnóstico, do retrato da realidade da escola, traça-

do a partir das características levantadas no item anterior, deve-se buscar identificar os principais desafios e problemas que o contexto escolar revela. Os desafios e problemas consistem em situações que se constituem em entraves para o pleno funcionamento da escola, que levam a buscar uma situação mais satisfatória. A depender do número de problemas que a escola enfrenta, é preciso estabelecer priorida-des. Nesse sentido, tornam-se prioridades os problemas cuja natureza e desdobramentos influenciam mais diretamente nos resultados da aprendizagem do aluno.

3º Passo – Definição dos objetivos, estratégias e metasUma vez que se conhece a realidade que se quer transformar e

os desafios ou problemas a serem superados, resta, então, traçar os objetivos, estratégias e metas para a operacionalização do plano de trabalho. De maneira simples, esses elementos podem ser definidos da seguinte forma:

1. Os objetivos são indicações da situação ideal a ser atin-gida para superação de problemas identificados, elabora-dos, cuja formulação deve utilizar verbos que expressam ação (exemplo: reduzir os altos índices de reprovação nas séries iniciais, atualizar o regimento escolar, elaborar uma sistemática de informações educacionais, etc).2. As estratégias necessárias para se atingir cada um dos

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objetivos estabelecidos. As estratégias são formas de inter-venção a serem utilizadas durante a execução de um plano, ou seja, são as alternativas de solução criadas em coerên-cia com os desafios e problemas identificados. (exemplo: criação de grupos de atendimento a alunos com dificul-dades de aprendizagem no contra-turno escolar).3. As metas indicarão se os objetivos traçados foram atin-gidos ou não. As metas são os resultados a serem obtidos, considerando a quantidade e o tempo. (Exemplo: Ele-vação do desempenho acadêmico dos alunos das séries iniciais em 70%, até o final da 3ª unidade pedagógica).

É importante lembrar que todos os elementos do plano de traba-lho devem estar perfeitamente articulados. Isso significa que, para determinado problema identificado a partir do diagnóstico, deve-se buscar um objetivo correspondente, uma estratégia que represente uma possível alternativa de solução para tal problema e uma meta que indique o quanto e em quanto tempo se conseguiu alcançar o objetivo previsto. Para ilustrar essa lógica, traçamos um roteiro com base em uma situação imaginária:

• O diagnóstico realizado pela equipe gestora de uma es-cola que atende de 1ª a 8ª série do Ensino Fundamental apontou um alto índice de reprovação nas séries iniciais: 40% dos alunos das séries iniciais reprovados.• Daí, o problema foi formulado: Como reduzir esse índice?• O objetivo traçado para sair dessa situação indesejável foi de elevar o desempenho acadêmico dos alunos das séries iniciais.• A equipe gestora, após a análise das condições da escola, definiu como estratégias possíveis para solucionar o pro-blema encontrado: implantar, no contra-turno escolar, um programa de apoio pedagógico para os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, com duração de seis meses; capacitar os professores das séries iniciais. • Após definir as estratégias e novamente analisar as con-dições da escola, foram estabelecidas as seguintes metas: elevar o desempenho acadêmico de 50% dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem até o final do programa de apoio pedagógico; capacitar, em 06 meses, 80% dos professores das séries iniciais, nas áreas de lei-tura, escrita, ciências e matemática.

Com certeza, na prática, a coisa não será tão simples, pois, como já foi dito aqui, o processo de planejamento é bem mais complexo e de-

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PenseConcluímos o estudo desse módulo! Uma última pergunta: em que medida o processo de plane-

jamento, na sua escola, contempla os passos apresentados neste segmento?

pende de inúmeros fatores para a sua realização. Entretanto, acreditamos que esse exemplo demonstra de forma clara a articulação e a coerência necessárias que os elementos do plano de trabalho devem manter.

Uma vez definidos todos esses elementos, faz-se necessário, agora, que sejam elaborados os mecanismos e instrumentos de acompanha-mento e avaliação da implementação do plano de trabalho. A impor-tância desse processo já foi reiteradamente discutida neste módulo, embora na perspectiva da sua utilização para avaliar a organização e gestão da escola. No plano de trabalho, deverão constar as várias for-mas e instrumentos que a equipe gestora acha possíveis e pertinentes à realização das ações previstas. É preciso criar uma sistemática de acompanhamento da realização do plano de trabalho e de controle dos resultados, utilizando-se de instrumentos que permitam a obten-ção de dados que possam ser analisados e utilizados para reorientar o planejamento da escola, em função dos objetivos e metas previstas no plano de trabalho.

Para finalizar, reiteramos que a importância maior dos processos de planejamento e avaliação consiste nas suas possibilidades, quando levados a sério, de garantir uma melhor organização e gestão, assegu-rando à escola a qualidade do trabalho que desenvolve e o cumpri-mento da sua função social.

Atividade do Módulo 2Agora, como atividade deste módulo, você deve es-

crever um texto sobre: Como acontece o processo de planejamento e avaliação na minha escola.

No seu texto, inclua:• Quem participa do processo de planejamento e

como se dá essa participação.• Fases ou etapas do processo de planejamento.• Instrumentos utilizados.• coerência com as demandas e necessidades da

sua escola.• formas de acompanhamento e avaliação.• Dificuldades encontradas.Bom trabalho!

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OpineAgora, gostaríamos de ter suas impressões sobre este módulo. Escreva um texto livre sobre isso, se

possível focalizando:• conteúdo;• estrutura;• linguagem;• atividade proposta.Entregue seu texto ao tutor.

Referências e indicações bibliográficas

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BAPTISTA, Myrian Veras. Planejamento Social: intencionalidade e instrumenta-ção. São Paulo: Veras Editora, 2000.

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www.inep.gov.br/basica/saeb

http://www.inep.gov.br/basica/enem