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ÓRGˆO OFICIAL DO PARTIDO SOCIALISTA Director António JosØ Seguro Director-adjunto Silvino Gomes da Silva Internet www.partido-socialista.pt/accao E-mail [email protected] N” 1171 - Semanal 0,50 10 Outubro 2002 EM NOME DA ÉTICA Em linha com um dos temas mais quentes da actualidade política, o Presidente da Repœblica decidiu este ano colocar a tónica do seu discurso comemorativo da Implantaçªo da Repœblica, nos imperativos da Øtica republicana ao chamar a atençªo para a equidade social na definiçªo de medidas e para a credibilidade dos agentes políticos e das instituiçıes. O Chefe de Estado nªo se limitou a falar da necessidade de coerŒncia entre as proclamaçıes e as prÆticas, mas foi mais longe ao afirmar que aqueles que foram escolhidos pelos seus concidadªos sªo os primeiros a terem, pelos seus actos e pelos seus comportamentos, o dever de prestigiar e valorizar as instituiçıes da democracia representativa. Por isso, o rigor Øtico, a autoridade moral e a credibilidade pessoal sªo essenciais para aqueles que desempenham cargos pœblicos. Jorge Sampaio anunciou que estarÆ reforçadamente vigilante na defesa dos princípios fundadores de uma visªo humanista e solidÆria, para que o exercício do poder tenha como objectivo o bem comum e nªo o beneficio deste ou daquele grupo de interesses e jamais o proveito próprio daqueles que exercem funçıes pœblicas. Do ponto de vista externo, defendeu a absoluta necessidade de um maior equilíbrio da ordem internacional. PÆgina 5 L˝DERES SOCIALISTAS EM LONDRES FERRO REAFIRMA OPOSI˙ˆO A ATAQUE UNILATERAL CONTRA IRAQUE HÆ uma situaçªo clara e consensual de que toda a pressªo deve ser canalizada para o desarmamento do Iraque, e qualquer soluçªo militar tem de ser aprovada pelas Naçıes Unidas. NinguØm defende o unilateralismo, afirmou o secretÆrio-geral do PS, Ferro Rodrigues, numa reuniªo dos líderes socialistas europeus realizada em Londres, na residŒncia oficial do primeiro-ministro britânico, Tony Blair. PÆgina 7 CÓDIGO DO TRABALHO SINDICALISTAS DO PS CONTRA REGRESSO AO PASSADO Os sindicalistas do PS vªo dar forte luta ao Governo na revisªo da Lei de Bases da Segurança Social e no Código do Trabalho. A promessa foi deixada no passado fim-de-semana em Oeiras, durante uma reuniªo da Corrente Sindical Socialista da CGTP, em que tambØm participou o secretÆrio-geral da UGT, Joªo Proença. PÆgina 4 ENTREVISTA A JOEL HASSE FERREIRA UM OR˙AMENTO PARA A RECESSˆO Vassalo de dogmas liberal-conservadores hÆ muito ultrapassados, o Governo propıe para 2003 um Orçamento de Estado (OE) que relança o desemprego e cria condiçıes ideais para uma recessªo jÆ a curto prazo. Joel Hasse Ferreira critica, em entrevista ao Acçªo Socialista, a cegueira orçamental do Executivo, ao mesmo tempo que qualifica como erro o depósito de todas as esperanças de reanimaçªo económica numa variaçªo positiva ao nível das exportaçıes. Para o deputado socialista coordenador da Ærea das finanças, a proposta de OE carece de medidas efectivas de combate à fraude e evasªo fiscais, beneficiando magnatas, sacrificando desfavorecidos, pelo que Ø socialmente injusta e imoral. Quanto ao choque fiscal, Durªo Barroso meteu-o na gaveta, para o prometer de novo na próxima campanha. PÆginas 10 e 11

ÓRGˆO OFICIAL DO PARTIDO SOCIALISTA EM NOME DA ÉTICA · N” 1171 - Semanal 0,50 10 Outubro 2002 EM NOME DA ÉTICA ... Os sindicalistas do PS vªo dar forte luta ao Governo na

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Ó R G Ã O O F I C I A L D O P A R T I D O S O C I A L I S T ADirector António José Seguro Director-adjunto Silvino Gomes da Silva

Internet www.partido-socialista.pt/accao E-mail [email protected]

Nº 1171 - Semanal0,50

10 Outubro 2002

EM NOME DA ÉTICAEm linha com um dos temas mais quentes da actualidade política, o Presidente da República decidiu este anocolocar a tónica do seu discurso comemorativo da Implantação da República, nos imperativos da ética republicana

ao chamar a atenção para a equidade social na definição de medidas e para a credibilidade dos agentes políticose das instituições. O Chefe de Estado não se limitou a falar da necessidade de coerência entre as proclamaçõese as práticas, mas foi mais longe ao afirmar que �aqueles que foram escolhidos pelos seus concidadãos são osprimeiros a terem, pelos seus actos e pelos seus comportamentos, o dever de prestigiar e valorizar as instituições

da democracia representativa�. Por isso, o rigor ético, a autoridade moral e a credibilidade pessoal são essenciaispara �aqueles que desempenham cargos públicos�. Jorge Sampaio anunciou que estará �reforçadamente vigilante�na defesa dos princípios fundadores de uma visão humanista e solidária, para que o exercício do poder tenha como

objectivo �o bem comum e não o beneficio deste ou daquele grupo de interesses e jamais o proveito próprio daquelesque exercem funções públicas�. Do ponto de vista externo, defendeu a absoluta necessidade de um maior equilíbrio da

ordem internacional. Página 5

LÍDERES SOCIALISTAS EM LONDRES

FERRO REAFIRMA OPOSIÇÃOA ATAQUE UNILATERALCONTRA IRAQUE�Há uma situação clara e consensual de que toda a pressão deve ser canalizada para o desarmamentodo Iraque, e qualquer solução militar tem de ser aprovada pelas Nações Unidas. Ninguém defendeo unilateralismo�, afirmou o secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, numa reunião dos líderessocialistas europeus realizada em Londres, na residência oficial do primeiro-ministro britânico,Tony Blair. Página 7

CÓDIGO DO TRABALHO

SINDICALISTAS DO PS CONTRAREGRESSO AO PASSADOOs sindicalistas do PS vão dar forte luta ao Governo na revisão da Lei de Bases da Segurança Sociale no Código do Trabalho. A promessa foi deixada no passado fim-de-semana em Oeiras, duranteuma reunião da Corrente Sindical Socialista da CGTP, em que também participou o secretário-geralda UGT, João Proença. Página 4

ENTREVISTA A JOEL HASSE FERREIRA

UM ORÇAMENTOPARA A RECESSÃOVassalo de dogmas liberal-conservadores hámuito ultrapassados, o Governo propõe para2003 um Orçamento de Estado (OE) que relançao desemprego e cria condições ideais para umarecessão já a curto prazo.Joel Hasse Ferreira critica, em entrevista ao�Acção Socialista�, a �cegueira orçamental� doExecutivo, ao mesmo tempo que qualifica como�erro� o depósito de todas as esperanças dereanimação económica numa variação positivaao nível das exportações.Para o deputado socialista coordenador da áreadas finanças, a proposta de OE carece demedidas efectivas de combate à fraude e evasãofiscais, beneficiando magnatas, sacrificandodesfavorecidos, pelo que é socialmente injustae imoral.Quanto ao �choque fiscal�, Durão Barrosometeu-o na gaveta, para o prometer de novona próxima campanha.

Páginas 10 e 11

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10 de Outubro de 2002

A SEMANA REVISTAACTUALIDADE

ANTOONIO COLAÇO

A BANHEIRA

�TODOS OS BARCOS BAIXAMQUANDO A MARÉ BAIXATODOS OS BARCOS SOBEMEM TEMPO DE MARÉ ALTA.DEPOIS DA MARÉ BAIXA VIRÁA MARÉ ALTA�Durão Barroso, Público, 7 de Outubro de 2002

O secretário-geral do Partido Socialista presidiu à reunião semanal do Secretariado Nacional.

Em conferência de Imprensa, António Costa deu a conhecer a posição do PS face ao OE para 2003. Obviamente, reprove-se.

Ferro Rodrigues esteve presente no encerramento da Convenção autárquica concelhia do Barreiro onde apelou aos valores da ética republicana e voltou a pedir a demissão doministro Paulo Portas.

Para assinalar a revolução de 5 de Outubro, a Concelhia de Alenquer organizou um jantar onde esteve presente o líder do PS, Ferro Rodrigues.

Fértil em acontecimentos, 5 de Outubro foi também o dia que se realizou o Encontro de Freguesias do Baixo Alentejo, que contou com a presença de autarcas socialistas dosdistritos de Beja e de Setúbal e do dirigente nacional José Augusto Carvalho.

A corrente socialista da CGTP-IN esteve reunida durante o fim-de-semana para analisar a actual situação política, social e laboral. No encerramento dos trabalhos, Paulo Pedrosoafirmou que o anteprojecto de Código do Trabalho apresenta �sinais de regresso ao passado�.

Ferro Rodrigues participou num jantar-recepção oferecido por Jorge Sampaio ao Presidente de Timor, Xanana Gusmão.

Ferro Rodrigues e António Guterres participaram em Londres numa reunião do Partido Socialista Europeu (PSE). A preparação da cimeira de 24 e 25 de Bruxelas e a ascenção dadireita ao poder na Europa, foram os temas debatidos.

Promovido pela Comissão Política Concelhia da Amadora, decorreu na passada terça-feira uma conferência subordinada ao tema �O PS, Portugal e o futuro�, que contou com apresença de António Costa.

Uma delegação do Partido Socialista, composta por Almeida Santos, António Costa e Vera Jardim, foi hoje recebida pelo Presidente de Timor, Xanana Gusmão, em Lisboa.

Realiza-se hoje na Secção do PS/Benfica um debate sobre os Estatutos com a participação de Vitalino Canas e Dias Baptista.

O secretário-geral do Partido Socialista esteve presente na sessão solene comemorativa do 150º aniversário do MOP, no Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

10 de Outubro de 2002

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ACTUALIDADE

SILVINOGOMES DA

SILVA

EDITORIAL

A CONSAGRAÇÃODA HIPOCRISIA

FINANÇAS PÚBLICAS

PS CONTRA ORÇAMENTODE RECESSÃO E DESEMPREGOO PS, pela voz do seu líder parlamentar António Costa, anunciou que irávotar contra o Orçamento de Estado para 2003 na generalidade, porque�não contribui de forma decisiva para promover o desenvolvimentoeconómico indispensável à consolidação das finanças públicas, queprovavelmente não conseguirá�, sacrificando �a economia, o empregoe a solidariedade�.

Salientando que para o PS �a prioridade aocrescimento económico e o reforço dacompetitividade da nossa economia sãocondições essenciais para a consolidação dasfinanças públicas�, António Costa adiantou queo PS está disponível para �trabalharintensamente na apresentação de propostas dealteração na especialidade, que melhoremsignificativamente o Orçamento de Estado de2003�.�Da resposta que a maioria parlamentar der aesta nossa abertura dependerá a posição que oPS assumirá na votação final global�, explicou.Em conferência de Imprensa, António Costa,que se encontrava acompanhado por ElisaFerreira e Joel Hasse Ferreira, sublinhou quecom este Orçamento �acentua-se fortemente oambiente de crise e nada de bom se pode esperar

no que respeita à recuperação dos indicadoresde confiança das empresa e das famílias�, porque�não consegue estimular o investimento privadoo qual, apesar dos importantes apoioscomunitários, praticamente estagna no cenárioassumido pelo próprio Governo�.Por outro lado, referiu António Costa, �estaproposta de Orçamento acentua a desigualdadena distribuição dos sacrifícios pedidos aosportugueses�, porque �reforça a injustiça fiscal,desvaloriza as políticas sociais, e nada de novotraz no combate à fuga dos mais ricos e poderososàs suas obrigações fiscais�.O líder da bancada socialista criticou ainda ofacto de o Orçamento não proceder a uma�equilibrada opção da distribuição da despesa,preferindo cortes cegos e opções erradas a umaselectividade socialmente sensível e

economicamente virtuosa�.É que, sublinhou, �a política de contenção nadespesa pública que não contestamos, não podeser cega face ao futuro�, acrescentando que �aforma como nesta proposta são tratados ossectores da educação, ciência e cultura eambiente faz-nos temer que a concretizaçãodeste Orçamento venha a ter efeitos muitonegativos na qualificação e na qualidade de vidados portugueses�.António Costa negou, por outro lado, que esteOrçamento seja de rigor, como afirma o Governo,referindo que o Governo prepara-se paraprivatizar as receitas do notariado, �sem qualquerefeito de simplificação para os cidadãos, comisso provocando uma perda de receita que poderáultrapassar os 200 milhões de euros de receitapor ano�.

Por isso, frisou, �o Orçamento para 2003 longedo rigor, eficácia e justiça é um Orçamento derecessão, desemprego e desigualdade�.A concluir a conferência de Imprensa, o ex-ministro da Justiça do Governo PS salientou quecom esta proposta de lei de Orçamento de Estadofica clara a oposição entre duas políticasalternativas, uma defendida pelo PS, �que dáprioridade ao crescimento económico emsolidariedade e ao reforço da competitividadeda nossa economia com investimentos em infra-estruturas e na qualificação dos recursoshumanos, factores essenciais para aconsolidação das finanças públicas�, e outra,do Governo PSD/CDS, �que despreza a economia,sacrifica o emprego, o investimento e asolidariedade em nome da consolidação dasfinanças públicas�. J. C. CASTELO BRANCO

À falta de melhor, o primeiro-ministro pronuncia-se prontamente sobre a suspensãodas obras no estádio da Luz, e com grande desenvoltura, aquela que não teve na horade comentar as lúcidas palavras do Presidente da República nas comemorações do 5 deOutubro.Se em tese, como concordou a vice-presidente da Assembleia da República, a insuspeitaLeonor Beleza, as afirmações de Jorge Sampaio são de uma clareza meridiana, entãoporque não se extraem todas as consequências daquilo que o Chefe de Estado disse napassagem dos 92 anos da implantação da República? A razão só pode ser uma. A doautismo de Durão Barroso e dos altos dirigentes do PSD e do PP que preferem aconsagração da hipocrisia política à ética republicana. Desconhecedores, por certo,das regras da hermenêutica, são incapazes de interpretar, por isso, uma alocução emque nada do que interessava ficou por dizer. Para o primeiro-ministro tudo se resumeà maioria parlamentar que sobranceiramente dita as regras, e à tentativa de entrar noGuiness por pretender bater o recorde das idas à Assembleia da República, como seisso por si só bastasse para robustecer a democracia.E ainda lhe sobra tempo para vistosas inaugurações no aeroporto na Madeira, dondenos chega �o exemplo� de Alberto João Jardim. Ponha-se aqui os olhos e veja-se comoem tempo de vacas emagrecidas se engorda, e de que maneira, o orçamento regional,numa arrogante demonstração de favorecimento partidário e confrangedora cobardiapolítica. Os 75 milhões de euros que Durão Barroso atribui à Madeira, sem dar igualtratamento aos Açores, representam exactamente o valor do limite de endividamentoreivindicado pelo PSD da região, o mesmo é dizer, correspondem ao preço da aprovaçãodo Orçamento de Estado para 2003 pelos deputados social-democratas madeirenses.Para além desta afronta, os dirigentes do PSD deu-lhes agora para inventar ovos de

Colombo. Depois do Parque Mayer emLisboa, no Funchal descobriram a formade tornear o problema do limite do défice.Assim, o Governo Regional da Madeira vaipoder avaliar empréstimos de sociedadesde capitais públicos que se substituem àsautarquias regionais e aos próprios órgãosda região, numa clara manobra dedesorçamentação. É obra! E é com estesdesmandos que nos pretendem dar liçõesde rigor e de verdade das contas públicas.Se não há ética, como todos jápercebemos, ao menos que haja umaréstia de moralidade. Com que moral nospedem para apertarmos o cinto, paraaceitarmos de bom grado que nosaumentem os impostos e baixem ossalários, se nas terras do bom exemplo éum fartar vilanagem?Ao contrário do que afirma Durão, aomelhor estilo de monsieur de La Palisse,as marés só são baixas para alguns. Pelosvistos, talvez por se tratar de uma ilhamuito especial, lá é sempre maré alta.

Se não há ética, como todos já percebemos, ao menos que

haja uma réstia de moralidade. Com que moral nos pedem

para apertarmos o cinto, para aceitarmos de bom grado que

nos aumentem os impostos e baixem os salários, se nas

terras do bom exemplo é um fartar vilanagem?

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10 de Outubro de 2002

PS EM MOVIMENTO

Os sindicalistas do PS vão dar forteluta ao Governo na revisão da Leide Bases da Segurança Social e no

Código do Trabalho. A promessa foideixada no passado fim-de-semanaem Oeiras, durante uma reunião da

Corrente Sindical Socialista daCGTP, em que também participou o

secretário-geral da UGT,João Proença.

Por outro lado, manifestou-se contra aconcepção �lógica civilista� do Código, que �voltara tratar o trabalhador como mercadoria�,explicando que a lógica da autonomia do Direitodo Trabalho, em contraponto ao Direito Civil,tem a ver com o facto de na altura da celebraçãode um contrato de trabalho �não há uma relaçãode igualdade, há uma parte mais fraca, otrabalhador, que precisa de ser defendida�.�É um anteprojecto que contém sinais deregresso ao passado�, acusou o porta-voz do PS,que criticou os contratos a termo por tempoindefinido, o que levará à generalização daprecariedade, as novas dificuldades criadas aotrabalhador-estudante, e as ameaças aossindicatos, �alargando o direito de negociaçãoàs Comissões de Trabalhadores�.Paulo Pedroso disse ser necessário defender o

movimento sindical, porque, sublinhou, �otrabalho é mais justo onde os sindicatos sãomais fortes�.Também o Orçamento de Estado (OE) para 2003mereceu duras críticas de Paulo Pedroso, quedisse ser um documento de �incumprimento deobrigações e de novos sacrifícios para os mesmos

de sempre�, prevendo, nomeadamente, �umcenário pessimista a nível de emprego, com oaumento das despesas afectas ao subsídio dedesemprego�.Segundo o porta-voz do PS, este OE confirmaque �Portugal está à beira de uma criseeconómica e não tinha que estar�, acusandoainda o Governo deNa sua intervenção, Paulo Pedroso abordoutambém o caso Portas-Moderna, sublinhando que�há comportamentos que minam a confiança nosórgãos políticos�, criticando, nomeadamente, o�desprezo� que o ministro da Defesa demonstroupor um órgão de soberania, ao recusar-se acomparecer na Assembleia da República.Baseando-se no relatório da PJ, o dirigentesocialista disse que na Amostra �foirepetidamente violada a legislação do trabalho�.Dirigindo-se em particular aos militantessindicalistas socialistas, Paulo Pedrosoconsiderou que �o PS tem de investir mais narelação com o mundo trabalho�, defendendoque no interior do partido �deve haver umatendência sindical socialista sem referência aqualquer central�.

Ministros ao serviço dos grandesgrupos financeiros

No plenário nacional de activistas da correntesindical socialista da CGTP-IN em que foi debatidaa situação político-sindical, o dirigente nacionaldo PS Joel Hasse Ferreira abriu os trabalhos comuma intervenção em que acusou o actualGoverno de ser �o mais reaccionário do pós-25de Abril� e de ter no seu seio �ministros que secomportam como mordomos de grandes gruposfinanceiros minando com a sua acção política,nomeadamente, a sustentabilidade financeirado sistema de Segurança Social que tinha sidoassegurada pelos governos do PS�.Joel Hasse Ferreira referiu que o Orçamento deEstado para 2003 tem �uma perspectiva pura esimples de cumprir o défice, sem qualquer visãoou projecto de futuro�, no quadro de �uma políticade total subordinação da economia às finanças�.O deputado do PS passou depois em revistaalguns dos pontos mais negativos do Orçamentode Estado, tais como �a redução drástica doinvestimento público; a estagnação doinvestimento privado; a ausência de medidasespecíficas de combate à evasão e fraude fiscais;a mexida nos escalões do IRS; a diminuição dasverbas destinadas à área económica e social; ea perda de emprego�.Num contexto marcado por um feroz ataque àsfunções sociais do Estado e os direitos dostrabalhadores, �em que à custa da produtividadeprocura-se restabelecer o poder do patronatomais reaccionário�, Joel Hasse Ferreira disseestarem criadas as condições para a�convergência das forças sindicais� para fazerface a esta ofensiva que �é o pior do cavaquismo�.

J. C. CASTELO BRANCO

ECONOMIA

COMPRESSÃO DE SALÁRIOSÉ INCOMPATÍVEL COM DEMOCRACIAO processo de desindustrialização a que estamos a assistir em Portugal é o resultado de 40anos na via dos baixos salários, afirmou João Cravinho, presidente da Comissão Parlamentarde Economia e Finanças.Falando na audição de uma delegação do Conselho Económico e Social (CES), liderada peloPresidente do CES, José Silva Lopes, e que se realizou a semana passada, Cravinho assinalouque há quatro décadas que todos os anos os salários são apresentados como o grande factorde acomodação da competitividade a curto prazo e não saímos disto.�Julgo que não é possível continuarmos nesta via�, afirmou o ex-governante socialista, queconsiderou �incompatível com o sistema democrático� a compressão dos salários reais paravalidar a estrutura de tecnologia que existe.

No primeiro encontro nacional da correntesocialista da CGTP, Carlos Trindade, que foi eleitocoordenador desta estrutura, acusou o GovernoPSD/PP de querer �destruir o Estado socialimpulsionado pelos governos do PS�, referindoser necessário �uma luta dura contra a revisãoda Lei de Bases da Segurança Social e a propostade Código do Trabalho�, que, frisou, �só foramelaborados para reforçar o poder dos privados ebeneficiar os patrões�.Por outro lado, Carlos Trindade defendeu que �oPS tem de olhar mais para o mundo do trabalhopara perceber melhor os problemas que a classetrabalhadora enfrenta e para defender os seusinteresses�, acrescentando que os militantessindicais socialistas querem �ser reconhecidosinstitucionalmente dentro do PS�.No plenário, onde ao longo dos dois dias detrabalhos o anteprojecto de Código do Trabalhoe as alterações à Lei de Bases da SegurançaSocial foram alvo de duras críticas dos activistassindicais, foram aprovados o Programa, oRegulamento e a Declaração de Princípios daCorrente Sindical Socialista da CGTP-IN, bemcomo uma moção sobre a situação político-sindical em que, entre outros pontos, foi decidido�defender que ao nível do PS, seja desenvolvidauma maior e mais profunda acção política deconfronto à prática antilaboral do actual Aointervir na sessão de encerramento do plenárionacional da Corrente Sindical Socialista da CGTP-IN, o porta-voz do PS, Paulo Pedroso, afirmouque o anteprojecto de Código do Trabalho, �éextremamente negativo a vários títulos�,apresentando �sinais de regresso ao passado�,defendendo ainda que o partido �tem de investirmais na relação com o mundo do trabalho�.Paulo Pedroso não poupou críticas a Bagão Félix,que acusou de �falácia� por pretender passar aideia de que o novo Código do Trabalhoaumentará a produtividade, lembrando que �nãoé a legislação laboral que faz a produtividade�,mas sim uma conjunto de factores como acapacidade de gestão das empresas, a formaçãoe a qualificação, entre outros.O dirigente nacional do PS disse ser �chocante einaceitável� o anátema que o ministro está alançar contra os trabalhadores, ao afirmar quea proposta governamental visa combater ostrabalhadores absentistas e fraudulentos.

CÓDIGO DO TRABALHO

SINDICALISTAS SOCIALISTASCONTRA REGRESSO AO PASSADO

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ACTUALIDADE

JORGE SAMPAIO

EM NOME DA ÉTICA REPUBLICANA

FERRO RODRIGUES

�O MINISTRODA DEFESAJÁ DEVIATER-SEDEMITIDO�Em declarações após a cer imóniacomemorativa oficial, o secretário-geraldo PS, Ferro Rodrigues, disse que �sóquem não esteve no salão nobre da CâmaraMunicipal é que não interpretou aspalavras de Jorge Sampaio como umareferência ao caso Paulo Portas, e insistiuna sua demissão.�Para a dignidade das instituições, comoo referiu o presidente da Câmara,Santana Lopes, e por respeito com ademocracia e a República, o ministro daDefesa já devia ter-se demitido�, afirmouo líder do PS

�Os portugueses têm de confiar que as políticaspúblicas se lhes dirigem�, da mesma forma que�têm de confiar no rigor ético, na autoridademoral e na credibilidade pessoal daqueles quedesempenham cargos públicos�, disse oPresidente da República, Jorge Sampaio, nascelebrações do 5 de Outubro, que se realizaramem Lisboa.O Presidente da República não referiu ninguémem particular na sua alocução, mas ao ouvir assuas palavras era impossível não pensar noministro de Estado e da Defesa, Paulo Portas.Aliás, o secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues,foi uma das muitas individualidades a fazerprecisamente essa interpretação, voltando adizer que �em nome da dignidade dasinstituições, o ministro Paulo Portas já deviater-se demitido�.�Aqueles que foram escolhidos pelos seusconcidadãos são os primeiros a terem, pelosseus actos e pelos seus comportamentos, odever de prestigiar e valorizar as instituiçõesda democracia representativa�, disse JorgeSampaio.Numa altura em que são cada vez mais as vozes,inclusivamente dentro do PSD, a exigirem ademissão de Paulo Portas, ainda por cima depoisde se ter criado a expectativa de que oPresidente abordaria a questão nas cerimóniasdo 5 de Outubro, é impossível não associar assuas palavras ao membro do Governo que temtido o comportamento mais opaco.As palavras de Jorge Sampaio sãoparticularmente expressivas ao referir-se ànecessidade de reformas políticas einstitucionais no nosso país. �A reformaessencial é, sobretudo, a das práticas, decomportamentos e modelos de relacionamentoentre governantes e governados. E aí faz-nosfalta uma cultura de responsabilidade, de rigor,de transparência e prestação de contas, decoerência entre as proclamações e as práticas.Os responsáveis políticos têm de colocar-se a simesmos os mais elevados padrões deexigência�, disse o Presidente.Mais uma vez, é impossível não pensar queaquelas palavras têm um destinatárioobjectivo. E embora seja uma declaração quepode ser entendida em abstracto, isto é, quefunciona como uma mensagem de naturezapreventiva, a verdade é que, na actualconjuntura, ela só pode ter um destinatário.Mesmo sem dizer quem ele é, todos pensamnuma só pessoa. É impossível pensar noutras.E perante a dúvida e o insuportável peso dasuspeita, uma atitude digna de uma éticarepublicana genuína só poderia suscitar aovisado uma atitude. Cabe-lhe a ele assumi-la.

Solidariedade e uma nova ordeminternacional

Na sua intervenção, Jorge Sampaio debruçou-se também sobre as questões nacionais einternacionais, no primeiro caso para pedirreformas norteadas por valores humanistas eda solidariedade e, no segundo, para deixaralgumas críticas à actual ordem internacional.�É nos momentos em que a realidade carece de

mudanças profundas que os cidadãos exigemque o Presidente da República estejareforçadamente vigilante e atento aos valoresque norteiam essas políticas, salvaguardandoos princípios fundadores de uma visãohumanista e solidária de justiça e de equidadesocial, que é aquela que sempre norteou aminha intervenção política�, afirmou.Falando contra o poder das corporações,Sampaio afirmou que �o exercício do poderpolítico tem como objectivo o bem comum enão o benefício deste ou daquele grupo deinteresses e jamais, naturalmente, o proveitopróprio daqueles que exercem funçõespúblicas. Hoje, a capacidade que os governosdispõem de reformar políticas conducentes aobem da comunidade está fortemente debilitadapela dimensão desmesurada da corporativizaçãoda sociedade portuguesa�.O Presidente da República considerou aindanecessário �uma ordem internacional geridade forma mais coerente nos princípios que aela se aplicam�, dando o exemplo particular doMédio Oriente, �cujo horror diário� levafacilmente à conclusão de que �os actuaisequilíbrios internacionais são impotentes paraassegurar a paz, a estabilidade e os direitosfundamentais�.Sobre a União Europeia, considerou fundamentalfalar-se a uma só voz. �Se a Europa quer ter, eeu acho que deve ter, uma palavra a dizer naComunidade Internacional, tem de agir de formaconcertada e tem de dispor de meios militarespróprios de que hoje não dispõe. Não podemosquerer ter uma política externa sem os meiospara a sustentar�, afirmou.

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10 de Outubro de 2002

PS EM MOVIMENTO

CONVENÇÃO AUTÁRQUICA DO BARREIRO

IRRESPONSABILIDADE TEM LIMITESTendo presente o discurso do

Presidente da República proferidohoras antes nos Paços do Concelhode Lisboa, o secretário-geral do PSreferiu-se ao 5 de Outubro como o�dia em que a ética republicana é

uma chamada principal das nossaspreocupações�. Perante osautarcas do Barreiro que se

reuniram em Convenção Concelhia,Ferro Rodrigues afirmou que

�temos a autoridade ética, morale política para dizer a

determinados senhores que estãono Governo que já deviam ter

feito a limpeza da casa�.

foram pontos igualmente abordados por FerroRodrigues na sessão de encerramento da IVConvenção Autárquica do PS Barreiro.Falando para uma audiência de cerca de umacentena de pessoas onde se incluíamdeputados eleitos pelo círculo de Setúbal,simpatizantes e militantes, que enchiam oauditório da Biblioteca Municipal do Barreiro,o secretário-geral do PS acusou ainda oExecutivo de Durão Barroso de �totaldesprendimento e inércia�. �Nenhumproblema foi resolvido. Vários problemaspodem agravar-se�, sublinhou FerroRodrigues, que também classificou de�absurda� a corrida dos funcionários públicos

à Caixa Geral de Aposentações reveladora da�total irresponsabilidade financeira, social epolítica do Governo nesta área�.

Barreiro terra de liberdade

A IV Convenção Autárquica do PS Barreirodestinou-se a reflectir sobre o programamunicipal com que o partido venceu as últimaseleições autárquicas. Ambiente, planeamentourbano e desporto foram temas escolhidos paraa reunião em que marcou presença o camaradaEmídio Xavier, o presidente da Câmara doBarreiro.Para o novel edil, o primeiro presidente

socialista do Barreiro, os nove meses que levaà frente dos destinos do autarquia deram paramostrar que �conseguimos desbloquear oBarreiro�, cidade da qual pretende fazer �ocentro da Área Metropolitana de Lisboa daMargem Sul�.�Sonhámos e ganhámos�, afirmou EmídioXavier logo no início da sua intervenção quandose referiu à vitória socialista neste bastião doPCP, para esclarecer que não havendo umamaioria na câmara a governabilidade domunicípio é feita na base da indispensável�gestão de equilíbrios�. Valorizando o facto de�toda a gente se sentir livre nesta terra�, opresidente do município, além de sublinhar aobra já realizada, afirmou estar na �luta pornovos equipamentos e novas infra-estruturas�,tendo a este respeito deixado o recado:�Esperemos que a senhora ministra da Finançasnão nos feche agora a passagem de nível�.Por sua vez, o líder da concelhia, Aires deCarvalho, anunciou a continuação dasconvenções temáticas e a realização de umForum sobre o Quimiparque no contexto de umareflexão profunda sobre a ideia de Cidadedefendida pelo PS.Outro dos intervenientes na sessão foi PauloPedroso, cabeça-de-lista do PS nas últimaslegislativas pelo círculo eleitoral de Setúbal,que defendeu �a obrigação da marca dequalidade da gestão socialista�. Para o porta-voz do PS, �a gestão comunista é o modelo dopassado, enquanto a do PS corresponde aofuturo�. E tendo no horizonte o futuro do País,Paulo Pedroso deixou perante os autarcas doBarreiro a mensagem: �O nosso bomdesempenho autárquico é a garantia da nossavitória nas próximas legislativas�.

Renovando, uma vez mais, o pedido dedemissão do ministro de Estado e da Defesa,Paulo Portas, o líder socialista considerou quea sua manutenção no Governo põe em causaa República e o Estado portugueses. Ao fazero paralelismo com os governos do PS, FerroRodrigues sublinhou que �em seis anos nuncaaconteceu nada parecido, nunca se viu alguémtão agarrado ao poder�. Reforçando a ideiade que nestes seis meses deu bem paraperceber quanto a direita é �diferente parapior�, o secretário-geral traçou um quadroglobal da actuação do Executivo, para concluirque �a irresponsabilidade tem limites�,acrescentando, porém, que �o País e osportugueses merecem um Governo melhor doque aquele que temos neste momento�. Porisso, o secretário-geral dos socialistastranquilizou os militantes do partido dizendoque �o PS aceita que eles governem, masestamos preparados, se o País exigir, para serchamados a governar�, mas sem �sermoslevados pela demagogia e pelo populismo�.Classificando como �completamente cego� oOrçamento e Estado para 2003 proposto peloExecutivo PSD/CDS-PP, o líder socialista disseque o documento apresentado �é um programade recessão que não estabelece prioridadesmas ataca a economia�, ao mesmo tempo quepromove o agravamento dos problemas sociaise económicos do País. �Não há possibilidadede combater o défice orçamental num quadrode recessão económica, como tudo leva a crer,com as medidas que estão a tomar em termosde política económica�, afirmou o secretário-geral do PS para quem a inexistência de umMinistério do Planeamento revela a ausênciade uma política económica que pode deitar a�perder apoios financeiros comunitários pelosquais tanto nos batemos�.A diminuição dos direitos dos trabalhadoresvertida na proposta de Código Laboral queconsubstancia �um atentado ao Direito doTrabalho�, a cedência da Segurança Social àpenetração de interesses financeiros, aredução das contribuições do RendimentoMínimo Garantido e do investimento público

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LÍDERES SOCIALISTAS EM LONDRES

FERRO REAFIRMAOPOSIÇÃO A ATAQUEUNILATERAL CONTRAIRAQUE

ACTUALIDADE

HABITAÇÃO

SOCIALISTAS AVANÇAMCOM REPOSIÇÃO DO CRÉDITO BONIFICADO

ARQUITECTURA

PS PROMOVEPETIÇÃO PARALIMITAR AUTORIADE PROJECTOSA deputada socialista Helena Roseta,bastonária da Ordem dos Arquitectos,apresentou segunda-feira, na Assembleiada República, uma petição para limitar aosprofissionais do sector a autoria deprojectos arquitectónicos.A iniciativa foi apresentada pelo ex-primeiro-ministro Freitas do Amaral,também autor do texto da petição.Segundo Helena Roseta, a legislação emvigor �é anterior à revolução de 25 de Abrilde 1974� e permite que �pessoas nãoqualificadas possam assumirresponsabilidades que apenas podem serdetidas por arquitectos�.�Imagine-se um país em que os aviões nãofossem pilotados por pilotos, ou em que ascirurgias não fossem feitas por médicos�,explicou Roseta.

Jamila Madeira apresentou no Parlamento umprojecto de lei que prevê a reposição do créditobonificado na compra de habitação.O fim do crédito bonificado foi uma das medidasimpostas pelo Governo de direita no orçamentorectificativo, e que de imediato teve a oposição doPartido Socialista e da Juventude Socialista.Recorde-se que a medida entrou em vigor nopassado dia 30 Setembro.�O fim do crédito bonificado nada poupa aos cofresdo Estado em 2002 ou 2003, nem apresentapoupanças significativas até ao final da presentedécada, pelo menos, que justifiquem a aboliçãodeste regime�, denunciam os socialistas naexposição de motivos do diploma entregue, nodia 3, à mesa da Assembleia da República pelasecretária-geral da Juventude Socialista.No documento, os socialistas lembram aimportância do crédito bonificado para �muitosmilhares de cidadãos de menores recursos�,explicando que se impõe �a reposição dapossibilidade de novas operações de créditobonificado�.

de empréstimo bonificado à habitação.Esta medida visa combater eventuais fraudes aosistema, uma das razões, aliás, invocadas peloExecutivo Durão/Portas para pôr termo ao créditobonificado.

A deputada do PS Jamila Madeira entregou aindano Parlamento um outro projecto de lei que propõea criação de uma base de dados onde constem asinformações a prestar pelas instituições de créditomutuantes em relação a cada um dos contratos

�Há uma situação clara e consensual de quetoda a pressão deve ser canalizada para odesarmamento do Iraque, e qualquersolução militar tem de ser aprovada pelasNações Unidas. Ninguém defende ounilateralismo�, afirmou o secretário-geraldo PS, Ferro Rodrigues, numa reunião doslíderes socialistas europeus realizada emLondres, na residência oficial do primeiro-ministro britânico, Tony Blair.Nessa reunião, em que também participouAntónio Guterres, na qualidade depresidente da Internacional Socialista, acrise do Iraque esteve no centro dasatenções, tendo ficado claro que as própriasposições de Tony Blair, o mais forte econstante aliado dos Estados Unidos, estãohoje mais atenuadas. Com efeito, FerroRodrigues disse estar �satisfeito por ver queTony Blair aprova uma solução pacífica� paraa crise do Iraque.O secretário-geral do PS considerou também

que as recentes vitórias na Suécia e naAlemanha são de grande importância parao futuro do socialismo na Europa. Noentanto, não deixou de lamentar que nãotivessem sido introduzidas mais políticassocial-democratas na altura em que osgovernos socialistas dominavam na Europa.Nesta linha, defendeu ser cada vez maisurgente uma posição europeia bem definidasobre o futuro e sobre os assuntos mundiais.Por sua vez, António Guterres considerouque os os socialistas europeus �têm dereflectir seriamente sobre algumas aspectose respostas às inquietações das pessoas, masnunca optar pelo populismo, que sófunciona uma vez e é a negação da verdadepolítica�.A Convenção sobre o Futuro da Europa foioutro dos temas que esteve sobre a mesa,tendo inclusivamente contado com apresença de Giuliano Amato, vice-presidenteda Convenção.

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PARLAMENTO

TELECOMUNICAÇÕES

EXECUTIVO SEGUEESTRATÉGIA SOCIALISTAPARA REDE FIXAO Governo voltou a mudar de opinião. Desta vez, o primeiro-ministro decidiu aprovar a venda da redefixa de telecomunicações à Portugal Telecom, um negócio que há apenas nove meses consideravauma �perversão�.O PS denunciou mais esta trapalhada governativa, durante o debate na generalidade sobre aproposta de alteração da lei de bases de telecomunicações, apresentada ao plenário da Assembleiada República pelo secretário de Estado do Orçamento.O deputado socialista Ramos Pureto questionou o Governo sobre o que �mudou depois das declaraçõesde Durão Barroso de Dezembro do ano passado�, altura em que afirmou ser este negócio uma�operação condenável de todos os pontos de vista� e �uma perversão das regras de mercado�.Recorde-se que Barroso, em entrevista ao �Diário Económico� em Dezembro de 2001, condenavaassim uma eventual operação de venda da rede fixa de telecomunicações à PT, afirmando não�querer acreditar que isso aconteça�.Segundo o secretário de Estado do Orçamento, o que se alterou nos últimos meses foi �aevolução significativa da tecnologia� e, afinal, a �eventual� venda da rede fixa detelecomunicações é a �única alternativa de assegurar a sua modernização�. O Governo do PStinha, mais uma vez, razão. M.R.

CASO PJ

FORMALIZADA COMISSÃODE INQUÉRITO SOBREACTUAÇÃO DO GOVERNOO PS formalizou no passado dia 2 o pedido de constituição de uma comissão de inquérito sobre aactuação do Governo em relação à Polícia Judiciária (PJ), iniciativa também apoiada pelo PCP eBloco de Esquerda.Face à oposição do PSD e do CDS-PP à realização do inquérito, os socialistas recorreram à figuraregimental do direito potestativo, entregando na mesa da Assembleia da República as necessárias46 assinaturas para tornar o obrigatória a concretização da iniciativa.Os parlamentares do PS visam aferir a responsabilidade do Governo sobre os factos que levaram�à demissão de dirigentes nacionais da PJ três meses depois da sua nomeação, ouvindo-se parao efeito os intervenientes no processo, bem como peritos no combate ao crime económico,financeiro e fiscal�.Assim, a bancada socialista pretende ver esclarecidos com rigor os contornos das demissões dosex-directores-adjuntos da PJ pelo combate ao crime económico e ao banditismo.Da actuação do Executivo, o PS quer ainda clarificar �os pressupostos e as circunstâncias quedeterminaram as nomeações e cessações das comissões de serviço� de Maria José Morgado ePedro da Cunha Lopes, assim como as �orientações do Governo no âmbito do combate ao crimeeconómico, financeiro e fiscal�.Segundo o Partido Socialista, �não está em causa a actuação da PJ enquanto tal, mas apenas aacção e a política do Governo para esta instituição, que tem a ministra da Justiça, CelesteCardona, no topo da cadeia hierárquica, respondendo pelos seis próprios actos e pelos actos dosque agem sob a sua direcção�.

POLÍTICA AGRÍCOLA COMUM

SOCIALISTAS DEFENDEMREFORMA FAVORÁVEL A PORTUGALHá muito que o PS vem defendendo a reformada Política Agrícola Comum (PAC) porque o actualmodelo, além de prejudicar objectivamente onosso país, também não favorece o sector aonível da União.Ainda ministro da Agricultura, Capoulas Santosentendia que a proposta que estava a sertrabalhada pela Comissão Europeia era a quemais se adequava aos interesses nacionais.Assim, e em coerência, Capoulas advogou emfavor da �alteração dos mecanismos de atribuiçãode subsídios, baseando-se na modulação, ouseja, numa redução progressiva dos montantespara aqueles que mais recebem�.Conforme explicou à Comissão Parlamentar deAgricultura e Pescas, reunida por ocasião da visitado comissário europeu para o sector FranzFischler, a manutenção da PAC nos moldesactuais implica dar continuidade a uma políticaque dá 50 por cento do total das ajudas àAgricultura, no âmbito da União Europeia (UE),a apenas sete por cento dos agricultorescomunitários.Segundo Capoulas Santos, a reforma em cimada mesa resultaria num aumento de 80 milhõesde euros por ano para o nosso país,consequência igualmente salientada pelo ocomissário austríaco.Numa análise à proposta apresentada por FranzFischler, o antigo ministro socialista sublinhou

que, apesar do plano ter �as suas imperfeições,não deixa de ser uma boa base de trabalho parafuturas negociações�.Segundo o ex-governante, é �positivo� que asajudas passem a ser distribuídas de uma formamais justa.�O agricultor faz o que quer na exploração, acondição é cumprir regras de agriculturaambiental, premiando o factor emprego e aprática extensiva�, explicou, confessando nãocompreender a actual resistência do Governoportuguês à reforma da PAC.É que, para Capoulas Santos, a atitude doExecutivo de direita resume-se a exigir maisquotas e prémios unitários mais elevados.

�Se conseguir até bato palmas, mas a posição doministro tem sido profundamente demagógica�,afirmou, questionando �como é que se pode exigirmais se a UE tem um bolo comunitário quedificilmente crescerá porque os contribuintes nãoquerem.�Na opinião do ex-governante, a estratégia doGoverno devia ser diferente, pelo que sugereque o �bolo� seja dividido por quinze.�Nós temos uma fatia que só é de 1,8 por cento,o que é obviamente pouco�, disse, defendendoque �Portugal devia era lutar por alterar as regrasda distribuição das fatias, para que a sua pudessecrescer em detrimento dos que já têm muito�,porque, �se as coisas ficarem como estão, será omesmo bolo só que a dividir por 25�, após oalargamento.Capoulas Santos alertou para o facto de que umaresistência à reforma da PAC só vai resultar namanutenção do status quo e esse beneficia outrosinteresses que não os de Portugal.Nesse sentido, também o comissário europeu daAgricultura e Pescas manifestou estranheza facea tão incompreensível e esmagadora resistênciapor parte da maioria dos deputados de um paísque, frisou, �será beneficiado pelas mudançasque se preparavam�.Afinal, �Portugal vai receber mais dinheiro doque o que recebe agora�, lembrou Franz Fischler,antes de acrescentar que até �o ministroportuguês [da Agricultura, Sevinate Pinto] tinhaessa percepção�.As declarações dos parlamentares do PSD, PP,PCP e BES foram interpretadas pelo comissário,

que esteve na Assembleia da República a semanapassada, como sendo um �jogo� dos �grandesinimigos da PAC�.Fischler deixou um conselho em São Bento:prudência, pois �os senhores deputados estarãoa trair os próprios interesses dos países da coesão.�

Bancos de terras chumbados

Entretanto, o projecto de lei do PS que propõe acriação de um banco de terras para futuroarrendamento e venda ao rendeiro foi chumbadoquinta-feira pela maioria parlamentar, com oPCP e o BE a optarem pela abstenção.Nitidamentre desvalorizado pelas bancadas damaioria, cujos deputados abandonaramostensivamente o hemiciclo durante a discussãodo projecto, o PS, pela voz de Capoulas Santos,insistiu na defesa do banco de terras, cuja criação�impediria que os terrenos fossem adquiridos,para fins especulativos, por cidadãosestrangeiros�.O banco de terras, explicou Capoulas na suaintervenção, seria constituído pelos prédiosrústicos e mistos que actualmente estão sob agestão do Ministério da Agricultura, terrenos queascendem a um total de 40 mil hectares.Estes terrenos teriam como destino oarrendamento e a sua posterior venda aosrendeiros, �após um período de comprovada boagestão�, prosseguiu o deputado socialista.A receita obtida pelo Governo seria usada naaquisição de novos prédios rústicos, que, depois,seriam também arrendados. MARY RODRIGUES

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PARLAMENTO

ELISA FERREIRA ACUSA

PORTUGALMORALE ETICAMENTEDE TANGA

O Governo não quer assumir responsabilidadespolíticas nos casos da Polícia Judiciária (PJ) eda Universidade Moderna, deixando Portugalmoral e eticamente de �tanga�. A denúncia foifeita pela vice-presidente da bancada do PSElisa Ferreira, a semana passada, naAssembleia da República.Os casos da PJ e da Moderna foram levantados

em plenário parlamentar pela ex-ministra doPlaneamento porque é preciso empreender �umcombate sério à fraude e à evasão fiscal�.�Seja qual for o desfecho dos processos, oslamentáveis episódios das demissões enomeações na PJ e da Universidade Modernasão fatais aos olhos dos cidadãos�, afirmou adeputada socialista, antes de avisar que

�enquanto a grande fraude dos poderosos e apequena fraude do cidadão comum forem anorma, não haverá solução para o problemaorçamental português�.Elisa Ferreira sustentou ainda que, no caso daUniversidade Moderna, Portugal ficou a saberque �ter sentido de Estado é compatível com amontagem de estruturas empresariais onde anorma é a fuga ao fisco� e que �não é precisopagar impostos na proporção daquilo que seganha mas apenas na medida daquilo que asFinanças descobrem�.

�O País ficou a saber que pagar impostos não éuma obrigação moral e cívica� e que �fugir-lhesé uma arte legitimada desde que se domine aarte da fuga, arte que cada dia mais e melhoresartistas dominam�, acrescentou a vice-presidente do GP/PS.Na sua intervenção, Elisa Ferreira criticou aindaos hipotéticos sinais de desconfiançatransmitidos pelo Executivo de direita aosagentes económicos e lamentou que �Portugalesteja a divergir em 2002 relativamente à médiada União Europeia�. M.R.

EDUCAÇÃO

RANKING EMPOBRECEAVALIAÇÃO DASESCOLAS

Estabelecer um ranking para as escolas �não é aforma mais inteligente de conhecer o sistemaeducativo�. Este o comentário imediato dadeputada socialista Ana Benavente ao analisaro sistema preconizado pelo Governo para avaliaro desempenho das escolas, uma vez quepretende �comparar o incomparável�.Trata-se da �forma mais pobre de olhar asescolas�, afirmou a coordenadora pelo PS dacomissão parlamentar de Educação, que objectouhaverem �demasiados problemas no sistema,da responsabilidade do Governo, para que asescolas possam ser culpadas, interrogadas equestionadas pela mesma bitola�.Para Ana Benavente, é urgente que o ministroda Educação explique concretamente o que vaifazer com as últimas 300 escolas da listadivulgada.�É preciso saber se vai dar apoios, quais equando�, disse Benavente, que classificou os

rankings das escolas como �uma espécie de novo-riquismo dos liberais�.�Estão a brincar com coisas sérias�, declarou,defendendo que o processo deveria ser feito aocontrário, ou seja, �primeiro estabelecia-secontratos de autonomia com as escolas e estasvoluntariamente iam-se associando a umaanálise comparativa dos resultados, mas comvárias leituras�.A ex-secretária de Estado da Educação alertouainda para um dos efeitos perversos dos rankingsque, segundo disse, consiste em �empurrar� asescolas a levar a exame apenas os alunosexcelentes, de forma a terem boas posições naslistas.Os rankings, adiantou, �devem ser feitos naperspectiva construtiva, como um elemento útilpara as escolas� e não como se se tratasse de um�concurso das panelas�, frisou, acrescentandoque �não estamos a falar da Liga dos Campeões�.

Em defesa da valorização do trabalhodesenvolvido nas escolas falou o deputadosocialista António Braga, sexta-feira, porocasião da discussão parlamentar sobre odecreto do Governo que suspende a revisãocurricular no ensino secundário.

Governo aposta no imobilismoestrutural

Na opinião do parlamentar do GP/PS, �oGoverno agiu da forma mais precipitada edemonstrou impreparação para dar sequênciaa um dos projectos mais ponderados que osector da educação conheceu�.Recordando que a melhoria da qualidade doensino secundário depende do equilíbrio eexequibilidade dos programas, limitados asaberes essenciais e em torno de problemas daactualidade, com contextos significativos paratodos, por forma a desenvolver competênciaspróprias�, Braga salientou o processo de revisãoencetado em 1997 e que foi produto �deconsultas e debates a nível nacional�.Rejeitando liminarmente o argumento

financeiro, o deputado defendeu que �não hárazões para a decapitação do investimento emeducação�, mesmo num contexto de dificuldadesorçamentais. É que, esta visão �puramentemercantil�, mesmo a curto prazo, sairá cara, pois�será liquidada em espécie, sendo que a espécieaqui são, infelizmente, as pessoas mais jovens�.Ao chamar ao Parlamento o decreto quesuspende a revisão curricular, a bancadasocialista visava abrir o confronto com umaorientação de política educativa que, noentender de António Braga, �não radica emnenhuma ideia, mas apenas se limita a umamera abordagem gerencialista de um sistemaeducativo que clama reorientação�.�Ninguém sabe o que pretende o Governo. Empermanente contradição assiste-se àintrodução casuística de uma ou outra disciplina,instalando-se a incomunicabilidade disciplinar,num currículo errático�, observou o deputado,que classificou como �preocupante� o facto doExecutivo retroceder para o que chamou de�imobilismo estrutural� face às múltiplasinovações introduzidas pela governaçãosocialista. MARY RODRIGUES

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ENTREVISTA

JOEL HASSE FERREIRA

ORÇAMENTO PARA A RECESSÃOVassalo de dogmas liberal-

conservadores há muitoultrapassados, o Governo propõe

para 2003 um Orçamento de Estado(OE) que relança o desemprego e

cria condições ideais para umarecessão já a curto prazo.

Joel Hasse Ferreira critica, ementrevista ao �Acção Socialista�, a

�cegueira orçamental� doExecutivo, ao mesmo tempo quequalifica como �erro� o depósito

de todas as esperanças dereanimação económica numa

variação positiva ao nível dasexportações.

Para o coordenador socialista daárea das finanças da Comissão

parlamentar de Economia eFinanças, a proposta de OE carece

de medidas efectivas de combate àfraude e evasão fiscais,beneficiando magnatas,

sacrificando desfavorecidos, peloque é socialmente injusta e imoral.

Quanto ao �choque fiscal�, DurãoBarroso meteu-o na gaveta, para o

prometer de novo na próximacampanha.

situação global de estagnação económica. Aobsessão orçamental impede-o de ver arealidade económica.

Um Orçamento de Estado dito de rigortinha necessariamente de ter conse-quências tão graves para a grande maioriados trabalhadores portugueses?De maneira nenhuma. A forma como se trataneste Orçamento de Estado a questão dosimpostos é um dos aspectos profundamentenegativos para os trabalhadores. Por outrolado, o avanço do desemprego (prevendodesde já o Governo um aumento de 25 porcento no montante dos subsídios) é assumidopelo Orçamento de Estado.O actual Governo optou por penalizar ostrabalhadores portugueses e as suas famílias,bem como os reformados e pensionistas, emuitos pequenos e médios empresários. Nãocumprirá as promessas de aumentos depensões e agrava de forma desequilibradaos pagamentos por conta. É um Orçamentoque distribui os sacrifícios de uma formasocialmente injusta e até imoral.

E para as pequenas empresas, era mesmoindispensável o previsto brutal aumentonos pagamentos especiais por conta?Não era de forma nenhuma indispensável.Trata-se da concretização de uma estratégia

de �sacar� todas as receitas que se possamobter. A direita, quando na oposição,levantou bastantes reservas à aplicação dosistema de pagamento por conta. Hoje, noGoverno, cria dificuldades a muitas empresascom os brutais aumentos de cobrançaprevista. O Orçamento aumenta o valor dapercentagem a pagar por conta, alarga a basede incidência e inclui um número muito maisalargado de empresas nesse sistema.

Quais as críticas que se podem legiti-mamente fazer ao previsão de crescimentosalarial de dois por cento e ao agravamentoda carga fiscal, nomeadamente do IRS?Onde ficou o choque fiscal?O chamado �choque fiscal� ficou na gaveta,para um período mais próximo dos eventoseleitorais, se, entretanto, a economiaportuguesa reanimar, o que o actual Governonão está a facilitar. O crescimento salarialde dois por cento, a verificar-se, ficarácertamente abaixo da inflação, o que seráuma das causas da redução do poder decompra dos cidadãos e das famílias.Por outro lado, a manutenção da taxamáxima do IVA em 19 por cento significa umónus sobre os consumidores que tem um efeitoeconómico negativo.Quanto ao IRS, a modificação dos escalõesnum valor inferior ao previsto para a inflação

prejudica boa parte dos contribuintes. O PStinha, por várias vezes, no Governo, descidoas taxas de IRS para a maioria doscontribuintes. Para além disso, o Governodo PS, com Sousa Franco nas Finanças,modificou o sistema de deduções de encargosde carácter social, nomeadamente com aSaúde. Aumentou-se muito o número decontribuintes isentos (em centenas demilhares) e a redução do IRS feita com PinaMoura nas Finanças, consolidou a descidadesse imposto, o que diminuiu o peso dopróprio IRS no conjunto das receitas.

Há neste Orçamento medidas que apontempara o efectivo combate à fraude e à evasãofiscais?Não se detectam medidas orçamentaisapontando para o efectivo combate à fraudee evasão fiscais. Parece até que este Governoabandonou completamente a luta contra afraude e a evasão fiscais. É uma das áreasonde se poderia programar um combate sérioque parece não interessar este Governo.Durante vários anos, com o Governo do PS,aumentou-se séria e gradualmente aeficiência fiscal, sem aumentar as taxas dosimpostos (reduzindo-as até em vários casos).Surgem várias indicações no sentido de quea manutenção da taxa de IVA encorajou oaumento das fraudes.

Porque é que o PS considera que a visão doGoverno relativamente às contas públicasresvala para a cegueira orçamental?O Governo actual não entendeu orelacionamento entre a esfera económica ea política orçamental. Este Orçamento reduzo investimento público, cria condições paraa diminuição do investimento privado e limitadrasticamente o investimento dinamizadopelas autarquias. Provoca a redução dossalários reais e diminui os rendimentosdisponíveis das famílias. Agrava a carga fiscalsobre os cidadãos, alivia os especuladores eaumenta na prática a tributação sobre muitasempresas. Com tudo isto, cria condições paraa emergência de uma recessão, alimentadapelo desinvestimento e pela redução daprocura interna.Por outro lado, há um atentismo, umaconfiança na retoma económica europeiaque condiciona o realismo do cenáriomacroeconómico, desconfiando daspotencialidades endógenas do nossodesenvolvimento. A não se confirmar aprevisão das exportações, (por muita genteconsiderada irrealista) todas as projecçõeseconómicas e as previsões de receitas cairãopela base.Em suma, o Governo procura controlar odéfice mas por caminhos errados e atéirrealistas, podendo estar a criar uma

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ENTREVISTAAté que ponto esta atitude se deve aincapacidade de controlar a máquina fiscal,a impotência política, a cumplicidade com osevasores fiscais ou à ideia de ter uma folgapretensamente oculta, veremos nospróximos tempos, acompanhandocuidadosamente a evolução das cobrançasfiscais durante o ano de 2003.

Sendo claramente abusiva a declaração deum ministro do Governo de que esteOrçamento ainda é socialista, com a actualconjuntura económica nacional einternacional, o que fariam os socialistasse estivessem no Governo e que a coligaçãoPSD/CDS não faz neste tanto em Portugalcomo no mundo?O ministro Morais Sarmento devia estar-se areferir ao facto de muitos dos investimentosque estão programados terem sido decididosainda pelo Governo socialista e que seriacriminoso e caro interromper a sua execução.Agora, interessa referir que muitos projectosque estavam em avançada elaboração, foramabandonados, com graves prejuízos para oPaís. Incluindo mesmo projectos que tiveramo apoio local, regional ou nacional dedirigentes, autarcas e deputados do PSD. Aparte que Morais Sarmento diz �socialista�no Orçamento é boa. Praticamente tudo oresto é mau!

É acertado, perante uma conjunturadepressiva, depositar quase exclusi-vamente a esperança do crescimentoeconómico num aumento excessivamenteoptimista exportações?É um erro depositar a esperança numaumento que muitos (nomeadamente oConselho Económico e Social) consideraramexcessivamente optimista das exportações.E isto porque o comportamento dos mercadoseuropeus e norte-americanos pode nãocorresponder ao esperado, no cenárioapresentado no Orçamento. Por outro lado,as empresas portuguesas que vendem para omercado interno, podem ter sérios problemasde carácter económico e social. Muitas dessasempresas não têm condições de reorientaros seus canais de comercialização para oexterior nem de reconverter as suasproduções de bens ou de fornecimento deserviços, com esse objectivo.

Corre Portugal o risco de uma estagnaçãoprolongada ou mesmo de uma recessãoderivadas dos efeitos perniciosos dapolítica orçamental e das expectativaseconómicas?Em Portugal, esta política orçamental podeprovocar uma recessão já no próximo ano,com o arrefecimento da economia, a qualpoderá conjugar-se com uma estagnaçãoeconómica prolongada, da qual este Governonão terá grandes condições para o arrancar.Nem político-sociais, porque diminuiu aconfiança dos cidadãos e das empresas, nemeconómico-financeiros, porque agarrado adogmas l iberais-conservadoresultrapassados.

A reforma fiscal deste Governo vertida noOE é a aniquilação da reforma levada a cabopelos governos do PS. Qual o comentárioque esta situação lhe oferece e, por outrolado, como interpretar o fim da tributaçãodas mais-valias em bolsa?

O fim da tributação das mais-valias em bolsanão tem grande impacto imediato dada asituação actual, mas tem um profundosignificado social, económico e político.Porque significa a preferência pela tributaçãodo rendimento do trabalho, da procura e doconsumo de bens e de serviços, isentandooutro tipo de ganhos, nomeadamente decarácter puramente financeiro ou atéespeculativo.

As fortes reduções no investimento vão pôrem causa a aplicação do III QCA. Defendemeconomistas do PSD que é preferível nãousar os fundos do que vir a pagar multaspor se ultrapassar o défice. É esta aestratégia adequada ou está-se, uma vezmais, perante uma exageradadramatização com vista a colmatardeficiências do próprio Governo e que sedestina a alijar responsabilidadespróprias?Está-se perante um Governo que nãoconsegue compatibi l izar , de formaarticulada, actuações que deveriam serintegradas em vários domínios. A resoluçãodo problema do défice, numa perspectivade controlo orçamental, tem de serconjugada com uma estratégia dedesenvolvimento económico, no âmbito daqual se poderiam integrar todos osinvestimentos comparticipados. Hoje, oGoverno oscila entre a perspectiva de deixarcair fundos comunitários pela falta decompart ic ipação autárquica ou dacomponente nacional (no PIDDAC) e o medo

em cumprir, em clima recessivo, os objecti-vos orçamentais.

Como o interpreta o facto do Ministérioda Economia ter um acréscimo na ordemdos 30 por cento, e as perspectivas decrescimento económico serem quase nulas?São 30 por cento que irão provavelmentefinanciar cl ientelas, desperdícios eineficiências do Ministério da Economia. Sobesignificativamente a verba afecta aoMinistério da Economia, mas não estáprevisto que a economia portuguesa cresça.Estão a desestruturar organismos doMinistério e a fazer contratações milionárias,em vários casos inadequadas.

Do ponto de vista da análise, como vê estesseis meses de governação de direita?A execução orçamental do final do 3.ºtrimestre poderá dar-nos uma visão maisprecisa. Em qualquer caso, conseguiram:- Afastar boa parte dos quadros dirigentesda Administração, sem apresentar nenhumprojecto, nenhuma ideia de reestruturação.- Lançar o País num clima socialmentedepressivo, criando condições para umarecessão económica.- Desprestigiar Portugal em vários organismosinternacionais, pelas confusões armadas emtorno das contas públicas.- Reduzir a concretização do investimentopúblico.- Relançar o desemprego.- Desorientar os trabalhadores da FunçãoPública.- Preparar a empresarialização (para posteriorprivatização selectiva) de áreas significativasdo sector da saúde.- Iniciar o desinvestimento na educação.- Criar um clima de instabilidade naSegurança Social, prevendo-se futurasameaças à sustentabilidade do sistema.Em suma, um balanço bem negativo.

de não se atingir os objectivos orçamentais.Pode ser uma dramatização, mas podetambém ser a consciência da incapacidade

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DEBATE NA CONCELHIA DE LISBOA

DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOSGERA CONSENSO

PS EM MOVIMENTO

A última proposta de revisão daDeclaração de Princípios,

elaborada com uma amplaparticipação dos militantes e

estruturas do partido, é cada vezmais consensual no interior do

PS. Esta foi a principal conclusãodo debate organizado pela

Concelhia de Lisboa, no auditórionovo da Assembleia da República.

Moderado por Miguel Coelho, odebate teve como principaisintervenientes os camaradasAugusto Santos Silva, Vítor

Ramalho e Ana Cristina Costa.

a Declaração de Princípios consagra novasquestões como a paridade nas relações entre osgéneros, a inovação e a diversidade.

A bússola

O deputado socialista Vítor Ramalho, outro dosoradores convidados para o debate, começou porconsiderar que �a Declaração de Princípios é abússola que vincula aqueles que aderem aopartido�, partindo depois para uma série dereflexões sobre temas da actualidade nacional emundial.Afirmando-se �profundamente preocupado como

cidadão� com algumas questões como o eventualataque dos EUA ao Iraque, sem mandato dacomunidade internacional, a guerra adormecidaentre a Índia e o Paquistão, e o desnorte da Europa,patente na forma como se posicionou face àquestão do TPI, Vítor Ramalho salientou que umdos males do PS �radica no facto de não terpromovido qualquer reflexão após a queda doMuro de Berlim e o fim do mundo bipolar�.�Não pensámos sobre nada do que mudou eestamos em vias de perder todos os elementos desoberania nos sectores estratégicos daeconomia�, apontou o ex-secretário de Estado daEconomia do Governo PS, alertando para o facto

de as telecomunicações, a energia e as águaspoderem sair a prazo do controlo nacional, ficandoo País �sem nenhum instrumento de soberania�.Para o deputado do PS, �um partido de esquerdatem de ter uma posição sobre este problema.Sectores estratégicos nacionais devem estar sobdomínio nacional�.Vítor Ramalho defendeu ainda que o PS devedefender o livre comércio, mas acrescentando oprincípio da �reciprocidade no tratamento daconcorrência�.�Os espanhóis já dominam as obras públicas, aconstrução civil e os bancos, sem que hajaqualquer reciprocidade�, disse.Por outro lado, Vítor Ramalho referiu que nasociedade de informação aberta em que vivemos,é necessária uma reflexão sobre o que é sermilitante e cidadão, sendo preciso harmonizarestas duas condições.

Falta utopia

Por sua vez, Ana Cristina Costa, da ComissãoPolítica da Concelhia de Lisboa, elogiou o processode elaboração da Declaração de Princípios, �emque as pessoas foram ouvidas e as sugestõesaceites�. O texto final, adiantou, �é flexível, mastambém delimitado nos grandes valoressocialistas�.Moderador do debate, Miguel Coelho nãoresistiu a dar a sua opinião, afirmando que �aDeclaração de Princípios não tem chama e nãogalvaniza os militantes, faltando-lhe um poucode utopia�. J. C. CASTELO BRANCO

Relator da proposta de revisão, Augusto SantosSilva, fez �um exercício de interpretação pessoal�da Declaração de Princípios, que classificou como�cartão de apresentação do PS�, começando porsublinhar que o texto incorpora duas posições-chave: �o conceito de que socialismo edemocracia são indissociáveis, na perspectivade que o socialismo aprofunda a democracia� e�a opção básica pela justiça social, a favor doscidadãos independentemente da sua origem,no quadro de uma política redistributiva�.O antigo ministro da Cultura do último Governodo PS sublinhou, por outro lado, que aDeclaração de Princípios, que deve ter �umalógica de máximo denominador comum�,consagra nove novos elementos que �podemenriquecer a prática do PS�.Um desses elementos, referiu, é tomar aglobalização como quadro de referência. �É umaexigência do PS lutar contra este modelodesregulado de globalização neoliberal sem sefechar no entanto em atitudes proteccionistas�,disse.De entre os novos princípios do PS, AugustoSantos Silva referiu-se ao desenvolvimentosustentável, salientando que se �deve valorizarmais as políticas ambientais�, o que implicará�rever profundamente as práticas autárquicas�.Quanto ao serviço público, outro dos valoresagora defendidos na Declaração de Princípiosdo PS, disse que o objectivo central deve ser�garantir uma melhor acessibilidade e qualidadeaos utentes, nomeadamente nos sectores daeducação e saúde�.Também o conceito de �boa governação�,entendido como �a regulação institucional daeconomia�, no quadro de um �governotransparente�, faz agora parte do bilhete deidentidade do PS, tal como as questões desoberania - segurança e justiça -, disse AugustoSantos Silva.O antigo ministro da Cultura adiantou ainda que

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O MILITANTE

FLORBELA BENTO

MÃO DE FERRO COM RIGORO PS tem que sair para a rua e

denunciar de viva voz asmalfeitorias e as trapalhadasdeste Executivo. Oposição de

agitação é o que Florbela Bentodefende perante um contexto

governativo pautado pelo déficedemocrático, pelo autoritarismo,

pela falta de critério e onde parecequerer instalar-se o medo de falar

e criticar.Face a uma política de aparências,

do esbanjamento descarado paraalguns e de austeridade �para a

maioria�, a militante da Secção deCampo de Ourique reclama, em

conversa com o �AcçãoSocialista�, uma mão de Ferro,

com rigor.

repúdio desta camarada.�Ao que parece, o grande desígnio do Governoé pegar em todos os diplomas feitos aprovarpelo PS e destruí-los, sem se dar ao trabalho de

os estudar e analisar a sua utilidade�, denuncia,para quem tudo isto faz parte de obsessivo�anti-socialismo� primário.Segundo Florbela Bento, em apenas seis mesesde governação de direita a Função Públicaportuguesa ficou �de rastos�, criticandofortemente a política de reformas que deitarampor terra as expectativas de uma grande fatiade trabalhadores com carreiras já concluídas.A estagnação em termos de progressão evalorização profissionais são, no entenderdesta militante, características de uma políticalaboral para o sector público que não consideraa motivação como factor propiciador dequalidade e eficiência no serviço.Manifestamente surpreendida pela apatia comque a população encara o cenário �desastroso�que se adivinha para 2003, a Florbela não hesitaem dizer que �este é um Governo dos ricos edos patrões�.�Estão a acabar com a Segurança Social. Ostrabalhadores defrontam-se com os contratosad eternum. A saúde está a ser privatizada, oque equivale a dizer que só será assistido quemtiver dinheiro para pagar cuidados médicos.Ninguém percebe qual é a política de Educaçãoque querem implementar e o problema dosprofessores é um escândalo�, frisa Florbela,para quem o balanço da actuação governativaé �sem dúvida muito negativa�.

PERFILNomeFlorbela Luciano Bento

Idade35 anos

OcupaçãoFuncionária pública no Ministério doAmbiente

HobbiesLer, ver televisão e cinema, ser mãe

MilitânciaInscrição no PS a 3 de Maio de 2000

Referências socialistasAntónio Guterres, Mário Soarese Flávio Fonte

Visivelmente �insatisfeita� com as opçõestomadas pelo Executivo em matéria de relaçõesexternas e no dossier europeu, a camarada deCampo de Ourique critica o apoio de Barroso aum ataque unilateral dos americanos contra oIraque e o �oportunismo vedeta� do primeiro-ministro nos eventos sociais da vizinhaEspanha, sem esquecer a forma poucocriteriosa forma com que tem �oferecido debandeja� a Base das Lajes, nos Açores.No contexto europeu, Florbela sublinha a faltade uma estratégia de defesa dos interesses dePortugal, concluindo: �Estamos entregues aossenhores da Europa�.Quanto à moralidade política do nosso país, amilitante confessa-se escandalizada com aspolémicas em torno da Universidade Modernae do alegado envolvimento do ministro daDefesa, Paulo Portas, bem como peladesconfiança e a insegurança geradas pelafalta de esclarecimento no caso da PolíciaJudiciária.Apesar de tudo, Florbela Bento não arriscaprevisões quanto a um divórcio nestecasamento por conveniência entre o PSD e oPP. É que, evidentemente, esta união baseia-se num profundo e inabalável amor pelo poder.Do PS e do seu líder, a militante socialista esperauma oposição mais interventiva e firme.

MARY RODRIGUES

Disponibilidade e trabalho são dois elementosimprescindíveis para a militância partidária queFlorbela Bento quer exercer na secção do PS deCampo de Ourique onde entrou, para ficar, pelamão do camarada Flávio Fonte, há cerca dedois anos e meio.�Desde sempre� uma assumida simpatizantecom os princípios e valores preconizados pelosPartido Socialista, a Florbela, ainda em épocade governação socialista, entendeu que �já eratempo de fazer qualquer coisa pela sociedade�e de �ser mais activa�, para poder denunciar oque está a ser mal feito, mas também paraapresentar propostas.Sobre os seis anos em que António Guterresesteve à frente dos destinos de Portugal, amilitante destaca os progressos alcançados aonível da política e dos direitos sociais.�Torna-se agora muito mais evidente, porcomparação com o actual Executivo, com o PSno poder, as questões económicas não sesobrepõem às problemáticas sociais�, disse.Mas, �como não se pode agradar a gregos e atroianos�, Florbela Bento não foge à crítica daactuação do Governo socialista, lamentandoalgumas hesitação na concretização daspolíticas e aquilo que chamou �excesso dedemocraticidade� a propósito dos �jobs for theboys�.�Ao contrário do PSD, o PS não se rodeou deelementos da sua cor partidária�, recorda aFlorbela, para quem esta atitude custou algumaestagnação e, inclusive, alguma sabotagem.Todavia, a camarada de Campo de Ourique não�alinha� na estratégia do �tira-te lá para eume pôr�, nem no método dos �despedimentospor fax� que, garante, tem sido a marca laranjadeixada, nos dias que correm, nos diversosdepartamentos da Função Pública.A lógica da destruição sem critério que temsido seguida pelo Executivo de coligação PSD/PP face ao trabalho feito pela anteriorgovernação também merece o categórico

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PORTO

VEREAÇÃO SOCIALISTA CRITÍCA GESTÃO DE RUI RIO

GONDOMAR

PS ACUSA VALENTIM LOUREIRO DE FAVORECER O BOAVISTA

Os vereadores do PS na Câmara do Portoacusaram o presidente da Câmara do Porto deter �parado� a cidade, ao não lançar qualquerprojecto nem permitir que os investidores ofaçam�.�A coligação liderada por Rui Rio tem vindo atransformar a cidade num caos urbanístico eadministrativo. Os processos avolumam-se nosgabinetes e corredores. Não há despachos. Aideia com que ficamos é que a cidade parou�,afirmou, em conferência de Imprensa, overeador socialista Manuel Diogo.

Os autarcas do PS responsabilizaram o Executivodo PSD pelo �vazio� que se mantém há um mêsem matéria de regulamentação urbanística,dado não terem sido ainda publicadas em�Diário da República� as Medidas Preventivasdo Plano Director Municipal (PDM).A vereadora Isabel Oneto considerou�gravíssimo� que o único documento queexista para servir de base à apreciação deprojectos urbanísticos seja o PDM de 1993 ecriticou a �discricionariedade� que as MedidasPreventivas �muito vagas� permitem.

�Há muitos processos que têm já deferimentotácito, mas que o promotor não o executa,porque quer ter uma relação sã com a câmara�,denunciou Manuel Diogo, garantindo que temconhecimento de causa sobre o assunto.O vereador deu como exemplo as �torres�projectadas para a zona dos actuais silos dacimenteira Secil, junto ao Douro, pelaimobiliária Imoloc (a mesma dos polémicosprojectos junto ao Parque da Cidade).O autarca socialista Rodrigo Oliveira criticoutambém Rui Rio e o vereador do Urbanismo,

O PS/Gondomar acusou o Executivo camaráriode manter �ligações obscuras e promíscuas�com o Boavista Futebol Clube, anunciando quevai remeter a questão para o procurador geralda República para investigação.�Vamos apresentar junto do procurador geralda República um pedido de intervenção e deinvestigação urgente das ligações obscurasentre a Câmara de Gondomar, os seusdirigentes e o Boavista Futebol Clube�,anunciou Ricardo Bexiga, vereador socialista.Em conferência de Imprensa, o vereadorreferiu a recente aprovação de um protocoloem que a autarquia atribui um subsídio de 50

mil euros ao Boavista.�Na Câmara de Gondomar instalou-se umaorganização tentacular que põe em causa aindependência, a legalidade e aimparcialidade das decisões dos órgãosmunicipais�, acusou.Nesse sentido, recordou que ValentimLoureiro é presidente da Câmara de Gondomare presidente honorário do Boavista, além deser pai do actual presidente do clube,lembrando ainda que, José Oliveira é vice-presidente da autarquia e também vice-presidente da Assembleia Geral do clubeaxadrezado, enquanto o assessor para o

desporto na autarquia, José Santos, é tambémtreinador de ciclismo do clube.O vereador socialista frisou que o vereadorTelmo Viana é o responsável financeiro da Ligade Clubes, a que preside Valentim Loureiro,acrescentando que Emanuel Medeiros,secretário-geral da Liga de Clubes, é marido dachefe de gabinete do presidente da Câmara,depois de também ter exercido este cargo.�A situação agravou-se, com contornos declara ilegalidade, quando a Câmara deGondomar deliberou na última reunião atribuirum subsídio de 50 mil euros ao Boavista FutebolClube�, afirmou Ricardo Bexiga, para quem

AUTAROUIAS

AUTONOMIAS

TEMPESTADE NOS AÇORES BONANÇA NA MADEIRAO Executivo açoriano vai avançar para tribunalcom um recurso por considerar que o Governoda República não respeitou o previsto na Leidas Finanças das Regiões Autónomas.No cumprimento escrupuloso do Orçamentorectificativo, que aumentou as despesascorrentes de 2002 dos 6,4 para os 14,5 porcento, os Açores deveriam receber mais 15milhões de euros.Neste contexto, o secretário regional dasFinanças, Roberto Amaral, reivindicouigualmente �a pronta transferência de 17,5milhões de euros para o processo dereconstrução das ilhas� do Pico e do Faial,afectadas pelo sismo de 1998.O governo açoriano está a preparar tambémuma providência cautelar a enviar para otribunal no sentido de evitar a venda em hastapública do património do Estado existente noarquipélago.De acordo com o Estatuto Político-Administrativo dos Açores e da Madeira, opatrimónio desafectado ao Estado passaautomaticamente para posse da região. Porém,o Governo da República, aquando da decisãode vender vários edifícios públicos existentesnos Açores, não teve em conta, segundoRoberto Amaral, esta leitura, o mesmo não

acontecendo na Madeira, onde Durão Barrosoanunciou a cedência de uma parte importantedo acervo patrimonial localizado na ilha para aposse do executivo de Alberto João Jardim.Mas, as diferenças não se ficam por aqui.Barroso foi ao Funchal fazer o que muitosclassificaram como �a negociata madeirense�,visando a aprovação do próximo Orçamento deEstado para 2003.A estratégia de chantagem de Alberto JoãoJardim valeu-lhe a promessa de concretizaçãode 38 medidas de beneficiação deste bastiãolaranja, entre as quais se destacam a afectaçãode 75 milhões de euros, curiosamente, aquantia que o PSD/Madeira reivindicava como

plafond de endividamento.O pacote de compromissos assumidosformalmente pelo primeiro-ministro permitirãoa Jardim tutelar três sectores que sempreconsiderou cruciais para a consolidação do seu�projecto autonómico�: Justiça, Finanças eComunicação Social, com a �autonomização doscentros regionais da RTP e RDP.Assim, o chefe do governo regional madeirenseconsegue finalmente um controlo político totalda televisão e da rádio públicas. E, enquanto oseu homólogo açoriano, Carlos César, recusaoferta semelhante por não ter �qualquerapetite� pelo controlo dos media regionais epor considerar que o serviço público é umaobrigação do Estado em todo o País, o suigeneris Jardim não tem pudor em reconhecerque com tal tutela pretende ver ainda maisdifundida a sua imagem e a do PSD, excluindoas iniciativas da oposição nos serviçosnoticiosos.Para �pôr em ordem a RTP-Madeira�, AlbertoJoão Jardim vai sanear jornalistas menossubordinados e substituir responsáveis, no queconstitui uma evidente ameaça às condiçõesdemocráticas de liberdade de Imprensa.Entretanto e enquanto a satisfação de Jardimfaz pensar que o �apertar do cinto� proposto

por Durão Barroso face à �crise� que o Paísatravessa não será aplicado na Madeira, nosAçores navega-se com �maré baixa� e ventosde austeridade.Segundo Carlos César, o comportamento doPSD/CDS-PP tem revelado a intenção de �criarproblemas� à governação socialista açoriana,tendo já na mira as eleições regionais de 2004que, por essa razão, �vai merecer perder�.Perante a denúncia dos tratamentos dedesfavor do Governo da República para com oarquipélago governado pelo socialista César,Durão Barroso alegou que um pacote de medidascomo o anunciado para a Madeira não foiprevisto para os Açores por falta de iniciativadesta região.Os governo açoriano desmentecategoricamente a afirmação do primeiro-ministro e o secretário regional das Finançasgarante que desde o começo da presentelegislatura foram apresentados vários projectosao Executivo de Lisboa.�Eu próprio entreguei pessoalmente à senhoraministra das finanças, que só me recebeu depoisde eu ter enviado quatro cartas, um memorandoonde constam algumas medidas que agora foramanunciadas para a Madeira�, garantiu RobertoAmaral. MARY RODRIGUES

este protocolo �traduz uma perigosapromiscuidade entre a Câmara e os seusactuais dirigentes políticos e o Boavista FutebolClube�.Para o vereador socialista, �Valentim Loureiro,ao intervir num acordo que favorece umaentidade privada da qual é presidentehonorário, e de que o seu filho é o actualpresidente, viola os princípios daindependência e da imparcialidadeconsignados na Lei das Incompatibilidades edos Impedimentos dos Cargos Políticos�.Para Ricardo Bexiga, esta situação �implicauma sanção de perda de mandato�.

Ricardo Figueiredo, por terem demitido umdirector municipal do urbanismo, que �foi logoaproveitado pela Câmara de Gaia�, para irembuscar um substituto à autarquia de Viana doCastelo que �não conhece a cidade do Porto�.Rodrigo Oliveira lamentou também ossucessivos adiamentos da divulgação doprojecto de novo PDM, criticando que elaesteja agora marcada para uma sessãopública na Biblioteca Almeida Garrett, semque o documento seja antes levado a reuniãode câmara.

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OPINIÃO

2003 � O ORÇAMENTO DA CRISEECONÓMICA, DA INJUSTIÇA SOCIALE DO ILUSIONISMO CONTABILÍSTICO

O Orçamento de Estado para 2003, já da plena responsabilidade do Governo PSD/CDS, permitetornar evidentes as prioridades da nova maioria, já antecipadas no Orçamento Suplementar de Maioagora já sem a justificação canhestra das limitações decorrentes do orçamento inicial para 2002apresentado pelo XIV Governo.Seis meses de política económica errada tiveram as seguintes consequências:- Criação das expectativas económicas mais pessimistas desde 1986;- Retracção do crescimento do produto para valores inferiores a 0,5 por cento, prevendo-se umcrescimento anual revisto em baixa para 0,4 por cento;- Pela primeira vez desde 1995 Portugal terá em 2002 um crescimento inferior ao da média europeia,muito abaixo do crescimento da Espanha e da Grécia;- Situação de crise em sectores com maior sensibilidade à conjuntura como são os casos do turismo,da construção civil ou do comércio;- Ineficácia das medidas fiscais adoptadas, designadamente do aumento do IVA de 17por cento para19por cento, as quais para além de penalizarem sobretudo as famílias de recursos mais escassos eas empresas cumpridoras não se traduzem no aumento de receita correspondente devido aoabrandamento da actividade económica.Ao empolar a questão do défice orçamental, transformando uma situação complexa de naturezainstrumental no único problema da política económica, o Governo PSD/CDS adoptou uma estratégiabizarra em que, recorrendo à situação nunca antes verificada de fazer intervir o governador doBanco de Portugal na certificação das contas públicas, adoptou alterações metodológicas comgrande efeito no valor do défice final registado.De alguma forma utilizando uma táctica de quanto pior melhor o novo Governo pretendeu utilizar aconjugação da imputação de despesas pagas em 2002 à execução orçamental de 2001 com aalteração do método de determinação do défice para descredibilizar o PS e alargar a margem demanobra em 2002.De facto o próprio relatório sobre as contas de 2001 afirma, reconhecendo a gravidade da situaçãoorçamental, que se a metodologia não tivesse sido alterada o défice teria sido de 3,1 por cento.Os erros de política orçamental ao provocarem uma paralisia do investimento e uma travagem bruscado consumo privado tem consequências igualmente nas receitas fiscais o que levou já o FM a preverum défice de 3,6 por cento em 2002.Isto é, o Governo não só degradou a situação económica como se arrisca a não atingir os objectivosde redução do défice, o que já foi objecto de manifestação de preocupação pelo governador do Bancode Portugal.

OE/2003 � A solução mais fácil

A proposta de Orçamento é uma manifestação do primado da visão contabílistica de curto prazo emque se adoptam as soluções mais fáceis, falta a estratégia e são agravados os problemas já detectadosem seis meses de governação.A proposta do OE/2003:- Agrava a carga fiscal sobre os trabalhadores por conta de outrem ao actualizar os escalões do IRS

em apenas 2 por cento;- Degrada a situação dos pensionistas maispobres igualmente sujeitos à actualização deescalões e do limiar de isenção em 2 por cento;- Mantém a taxa máxima do IVA em 19 por cento;- Agrava os pagamentos por conta em IRCrelativamente às pequenas empresas tributadaspelo regime simplificado;- Adia as anunciadas reformas da tributação dopatrimónio e do imposto automóvel;- Favorece escandalosamente o sector financeiroao isentar de tributação as mais-valias dasSociedades Gestoras de Participações Sociais;- Esquece-se não só do choque fiscal prometidona campanha eleitoral como também dosincentivos às empresas anunciadas em Maio,salvo relativamente as vocacionadas para aexportação que poderão eventualmentebeneficiar de uma dedução à colecta de 20 porcento do imposto liquidado.Enquanto o PS garantiu ao longo de seis anos de Governo a redução do IRC de 36 por cento para 30por cento e o desagravamento em IRS de mais de um milhão de contribuintes o Governo PSD/CDSanuncia o segundo aumento de impostos em seis meses.Mas o Orçamento para 2003 abre novas frentes de agravamento das injustiças com gravesconsequências para o futuro do País:- Redução do investimento em 15 por cento relativamente a 2002, com uma cativação adicional demais 15 por cento;- Congelamento do nível de endividamento das autarquias locais e das regiões autónomas, comconsequências gravíssimas de perda de fundos comunitários e paralisação dos programas de habitaçãosocial;- Instabilidade na função pública com a alteração do regime de aposentação impedindo a renovaçãoe a qualificação dos trabalhadores da Administração Pública.A evolução da situação económica condiciona a execução do OE/2003, o qual depende sobretudo daevolução das exportações, do mercado de capitais viabilizando as privatizações e da evolução daconjuntura internacional.A própria ministra das Finanças reconheceu na Comissão de Economia e Finanças da Assembleia daRepública tratar-se de um orçamento impossível de realizar sem reformas profundas na AdministraçãoPública sobre as quais nada disse.Os portugueses não deixarão de estar atentos à avaliação política de quem ganhou as eleiçõesprometendo baixar os impostos e continuar a aumentá-los degradando a situação económica efazendo recair o esforço fiscal exclusivamente sobre os que já são hoje sacrificados.

A NOITE ESCURA DE PARIS...Não sei se todos os que me lêem conhecem de nome um senhor de nacionalidade francesachamado Bertrand Delanoe. Não é erro básico de cultura geral, não saber verdadeiramente dequem se trata. Nem teria verdadeiramente grande importância se só o referíssemos como umvelho militante do Partido Socialista Francês.Acontece que o �camarada Bertrand� é o presidente da Câmara de Paris. Dizem as crónicas que émesmo, neste século, o primeiro presidente de esquerda da capital francesa, tão marcada pelaspresidências de direita, a mais conhecida de todos a do senhor Chirac, �ex-maire� de Paris, hojePresidente da República.Bertrand Delanoe, actual presidente da Câmara de Paris, foi, no sábado passado, alvo de umaselvática agressão à facada, durante um acto cultural dentro da Câmara que governa. Nacircunstância, tratava-se de partilhar com os seus concidadãos o êxito de uma iniciativa sua, achamada Noite Branca de Paris, que abriu a todos os cidadãos a possibilidade de acederemgratuitamente aos mais significativos e importantes espaços culturais da capital durante toda anoite de sábado para domingo.A ideia-base foi a de provar que a segurança de uma cidade se faz na liberdade e que qualquernoite pode ser tão segura como o dia desde que aproveitada como tempo de fruição para o convívioentre todos os cidadãos e para a partilha de bens e valores que ressaltam, talvez melhor, napenumbra ou nos recortes e efeitos do jogo de luzes.Esta iniciativa, que se alastrou a outras cidades da Europa, marca a imaginação e criatividade de umpresidente que é hoje um fenómeno de popularidade e adesão popular, cotando-se como uma dasfiguras de referência do Partido Socialista Francês, de forma incontornável, no próximo futuro.Fenómeno singular, quando há pouco mais de um ano era considerado um cinzento e leal�compagnon de route� de Jospin, vegetando nos corredores do aparelho socialista incumbido debalbuciar, perante a hegemonia da direita na capital, algumas criticas de oposição aos mandatos

de Chirac e seus seguidores.Acresce que Bertrand Belanoe é homossexual- nunca o negou - e, confrontado com a questãonum dos principais canais da televisãofrancesa, declarou sem medos, em plenacampanha eleitoral, a sua diferença. Nem porisso perdeu as eleições! Venceu com largamaioria, depressa fazendo esquecer a direita,há tanto tempo ali instalada.Há muita grandeza neste camarada socialista.Lealdade, humildade, militância e coragem aoserviço de uma vontade de inovar e criar umacidade, mais para os parisienses do que paraos turistas.Por isso, o energúmeno que lhe espetou váriasfacada na barriga, quando se deslocava nointerior do Hotel de Ville, atirando-o para asportas da morte, cometeu o crime deconsciência tranquila: afinal, merecia outrodestino, um �tipo� que sendo socialista e homossexual assumido, se atreve a ser o presidente damaior cidade de França?Verdadeiramente a direita tem que ponderar e medir as palavras. Porque mais grave que o �crimeem si�, é o discurso subliminar de alguma dela que apela para uma nova limpeza étnica, onde sóse salvem as ideias sãs e os bons costumes!

EDUARDO CABRITA

LUÍS MARINHO

Ao empolar a questão do défice orçamental, transformando uma situaçãocomplexa de natureza instrumental no único problema da política económica, oGoverno PSD/CDS adoptou uma estratégia bizarra em que, recorrendo à situação

nunca antes verificada de fazer intervir o governador do Banco de Portugal nacertificação das contas públicas, adoptou alterações metodológicas com grande

efeito no valor do défice final registado.

Verdadeiramente a direita tem que ponderar e medir as palavras. Porque mais grave que o�crime em si�, é o discurso subliminar de alguma dela que apela para uma nova limpeza étnica,

onde só se salvem as ideias sãs e os bons costumes!

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JORNADAS PARLAMENTARES NOS AÇORES

SOCIALISTAS DISCUTEMFUTURO DA UNIÃO

EUROPA

�O futuro de Portugal � O futuro da Europa�, éo tema do encontro que juntará os gruposparlamentares do Parlamento Europeu e daAssembleia da República, para discutir osassuntos mais candentes colocados pelaConvenção sobre o Futuro da Europa, o processode alargamento em curso e as regiõesultraperiféricas no quadro do desenvolvimentoeuropeu. O encontro realiza-se nos Açores,entre os dias 11 e 13 de Outubro, e terá nasessão de encerramento o secretário-geral doPS, Ferro Rodrigues.O debate, promovido pela delegação socialistaportuguesa no PE, realiza-se num momentocrucial para a vida da União Europeia,precisamente quando começam a surgir osprimeiros resultados do debate que decorre naConvenção sobre o Futuro da Europa e quandoa Comissão Europeia aprova oficialmente aadesão de dez novos países, fazendo aumentaro número de Estados-membros de 15 para 25.Estas jornadas realizam-se na sequência dosencontros de reflexão que se efectuaram emMaio e em Setembro, que serviram para analisare preparar as grandes questões a discutir agora

Lage, a que se seguem depois as de AntónioCosta, líder da bancada parlamentar naAssembleia da República e de Carlos César,presidente do Governo Regional dos Açores.Sábado, da parte da manhã, será discutida aConvenção sobre o Futuro da Europa,coordenada pelo ex-ministro dos NegóciosEstrangeiros, Jaime Gama. Participam osdeputados Luís Marinho, Alberto Costa,Guilherme de Oliveira Martins, Sérgio SousaPinto e António José Seguro.Da parte da tarde, o tema será integralmentepreenchido com as consequências doalargamento, discutindo-se as questõessectoriais �As regiões ultraperiféricas face auma Europa alargada�, �A reforma das políticascomuns agrícola e das pescas e �Competitividadeda economia portuguesa�. Estes painéis sãopresididos, respectivamente, por FernandoLopes, Capoulas Santos e Elisa Ferreira. Asintervenções iniciais destes painéis ficarão acargo de Duarte Caldeira, Dionísio de Sousa,José Apolinário, Paulo Casaca, Manuel dosSantos e Vítor Ramalho.

MÁRIO SOARES

EUROPA A 25DEVIA TER

REFORMAS PRÉVIAS�Gostava que o alargamento fosse precedidopor reformas institucionais, como umaConstituição ou forças armadas europeias, quepermitissem definir à partida o funcionamentode um espaço de 500 milhões de habitantes�,disse o eurodeputado Mário Soares, a propósitoda confirmação, pela Comissão Europeia, deque 10 novos países estarão em condições definalizar as negociações até ao fim do ano eaderir em 2004.Mário Soares sublinhou que o maior peso danova União Europeia na vida internacional podeser afirmado mesmo sem um instrumentomilitar credível. No entanto, a inexistência deumas Forças Armadas europeias teria de sercompensado com uma vontade política que dariaà União Europeia uma voz que ecoaria apoiadanum potencial económico, financeiro etecnológico incontornável.O ex-Presidente da República considerou aindaque �os portugueses não poderão deixar de ser

Mas António Vitorino também alertou para as�dificuldades escondidas que resultam dosníveis de desenvolvimento inferiores�. Emprimeiro lugar, as necessidades deinvestimento maciças que implicará para aUnião a adesão dos dez países. As marcas dopassado recente de autoritarismo e asnecessidades absolutas de reformasinstitucionais, são as outras dificuldades que aUnião tem pela frente.

solidários com os dez novos Estadosdemocráticos da União, até por terem vividoum processo semelhante do qual retirarammúltiplos benefícios�.Os 10 candidatos são a Polónia, RepúblicaCheca, Hungria, Letónia, Lituânia, Estónia,Eslováquia, Eslovénia, Chipre e Malta.

Vitorino alerta para riscos

Portugal precisa de encarar o alargamento coma consciência dos riscos que ele comporta,particularmente devido aos padrões produtivosdos futuros Estados-membros, que sãoconcorrenciais com os portugueses, disse ocomissário António Vitorino, também apropósito da admissão oficial dos 10 futurosEstados-membros.Além de irem partilhar os fundos estruturaisde que Portugal tem beneficiado em larga escalanos últimos anos, os cidadãos desses países

apresentam também níveis educativos e deformação semelhantes ou mais exigentes doque os dos portugueses, disse.Referindo-se à �nova União Europeia�, ocomissário considerou que fica assim completadoum ciclo de vocação idealizado depois da II GuerraMundial, no sentido de abranger a maior partedo continente europeu, ao dar corpo a umaconcepção de solidariedade entre Estados queaspiram a ter uma voz no mundo.

nos Açores, designadamente o impacto doalargamento em Portugal, o futuro dos FundosEstruturais e o reflexo das políticas comunsagrícola e de pescas.

Estas jornadas parlamentares iniciam-se sexta-feira com uma intervenção do presidente dadelegação do PS no Parlamento Europeu, Carlos

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EUROPA

SÉRGIO SOUSA PINTO AO �ACÇÃO SOCIALISTA�

ACORDO COM OS ESTADOS UNIDOSENFRAQUECE LEGITIMIDADE DO TPIO recente acordo assinado entre a UniãoEuropeia e os Estados Unidos afastando osseus cidadãos da alçada do Tribunal PenalInternacional é uma contradição flagrante quepõe em risco a ideia de igualdade perante alei, considera, em entrevista ao �AcçãoSocialista�, o eurodeputado Sérgio SousaPinto, membro da comissão das Liberdades eDireitos dos Cidadãos do Parlamento Europeu.Na sua opinião essa excepção contraria oespírito do acordo e enfraquece a legitimidadeda nova jurisdição penal internacional.

Não haverá uma contradição flagrante entreo empenho da União Europeia na criação doTPI e o acordo agora assinada com os EstadosUnidos, deixando os seus cidadãos de forada jurisdição do Tribunal?Há uma contradição flagrante que põe emcrise a ideia de igualdade perante a lei, sem aqual é impossível construir uma comunidadede direito ou uma ordem internacionalsubordinada ao direito.

O espírito e os objectivos do TPI ficamdiminuídos com esta excepção aberta aosEstados Unidos?A excepção contraria o espírito do acordo eenfraquece a legitimidade da nova jurisdiçãopenal internacional.

Não se tratará de um precedente que poderáminar a sustentabilidade do próprio TPI nofuturo?O TPI terá, por ora, um alcance limitado, masexemplar.

Quais as consequências para a credibilidadede todos as partes contratantes, isto é, daUnião Europeia enquanto instituição, dosEstados-membros individualmente e para

a própria imagem dos Estados Unidos, queaté já foi alcunhado de �traticida� peloescritor mexicano Carlos Fuentes?A Europa carrega o peso da culpa dasatrocidades cometidas nas duas guerrasmundiais que foram também civis europeias.Não tem uma atitude imperial, como osEstados Unidos. Mas este fracasso fragiliza a(ainda) incipiente política externa comumda União Europeia, uma vez que exprime ummau compromisso entre as diferentesprioridades dos quinze em matéria de políticaexterna.

É sensível aos argumentos dos EstadosUnidos segundo os quais a sua recusa emassinar o acordo se justifica com o facto deconsiderarem que o TPI não deve terjurisdição sobre cidadãos de Estados nãosignatários e por não haver mecanismos desupervisão do Tribunal e dos seusmagistrados? Serão estas as verdadeirasmotivações dos Estados Unidos ou haveráoutras?Uma entidade reguladora do sector dapanificação afecta, por definição os padeiros.Ora, estamos a falar do uso da força; são osmais fortes que se sentem ameaçados.

Como interpreta a atitude do Governoportuguês de anuência sem reversas àvontade dos Estados Unidos, primeiro emrelação a um ataque contra o Iraque, e agoraem relação ao TPI?No primeiro caso tratou-se de um gestopatético e vassalo. No segundo caso, a posiçãode Portugal alinhou com os demais Estados-membros, na decisão comum. Em todo o caso,espero que acordos bilaterais com os EUA nãose venham a concretizar, pelo menos no quea Portugal respeita.

GUTERRES DIZ QUE PORTUGALNÃO DEVE ASSINARPortugal não deve assinar qualquer acordo bilateral com os Estados Unidos atribuindoimunidade aos militares e diplomatas deste país, defendeu o Presidente da InternacionalSocialista, António Guterres.Na sua opinião, �os Estados Unidos estão errados e Portugal não tem de preocupar-se com orisco do presidente americano ficar melindrado com uma recusa portuguesa�, considerou.O presidente da Internacional Socialista, que terça-feira esteve em Berlim para um encontrocom o chanceler Gerard Schroeder, considerou que o TPI representa um passo em frente,porque, pela primeira vez, existiria m tribunal que não seria dos vencedores contra osperdedores.

CARLOS LAJE

TURQUIA MERECE INICIAR NEGOCIAÇÕES�A União Europeia vai ou não dar resposta positivaà abertura do processo de adesão da Turquia?�,pretende saber o eurodeputado Carlos Laje,presidente da delegação socialista portuguesano Parlamento Europeu, numa pergunta escritadirigida ao Conselho.�As instituições europeias não podem continuara protelar a abertura do processo de adesão daTurquia�, sob pena do país se manter na eternacondição de candidato�, afirma o eurodeputado.Para mais, afirma, as recentes reformas políticasdecididas pelo parlamento turco inserem-se noscritérios de Copenhaga de respeito pelos DireitosHumanos, com base nos quais têm vindo a

realizar-se as negociações para os actuaiscandidatos ao alargamento.Carlos Laje interroga o Conselho se não temeque o adiamento do processo de abertura daadesão venha a traduzir-se �num presenteoferecido aos integristas e às forças anti-ocidentais turcas�.Se não houver decisão, �não será isso reveladorde ambiguidade e, até, de má fé de algunsEstados?�, interroga-se.

Acordos de pesca com S. Tomé

Carlos Laje, também membro da Comissão de

Pescas, será o responsável pelo relatório sobrea renovação do protocolo que fixa aspossibilidades de pesca de navios comunitáriosnas águas de S. Tomé e Príncipe, bem comodas respectivas condições técnicas efinanceiras.O relatório incidirá sobre o regulamento doConselho que adoptou o protocolorenegociado, de acordo com o qual cerca de60 embarcações portuguesas, francesas eespanholas poderão desenvolver a suaactividade piscatória na Zona EconómicaExclusiva de São Tomé, mediantedeterminadas contrapartidas.

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MADEIRA

JACINTOSERRÃO É ONOVO LÍDER

Jacinto Serrão, o novo líder do PS/Madeira,eleito no fim-de-semana em sufrágiodirecto, disse ter como principal objectivoapresentar uma estratégia de governo paraa região.O novo responsável dos socialistasmadeirenses alcançou 769 votos dos votosdos militantes que foram às urnas, contra594 obtidos pelo outro candidato, JoãoCarlos Gouveia, que se candidatou pelaterceira vez à liderança.Jacinto Serrão, 33 anos, é licenciado emFísica pela Universidade da Madeira, ondeé assistente convidado e professor efectivodo ensino secundário.Em termos de carreira política, foi líder daJS-Madeira, deputado, presidente daConcelhia do partido no Funchal e,actualmente, ocupa o cargo de deputadona Assembleia Municipal desta cidade.Afirmando querer ser �o presidente detodos os socialistas�, Jacinto Serrãoenunciou os seus principais objectivos: lutarcontra o PSD, apresentar uma estratégiade governo para a região e conquistar aconfiança do eleitorado.

AÇORES

GOVERNO DA REPÚBLICAATENTA CONTRA A AUTONOMIA

O líder do PS/Açores afirmou que o Governo da República constitui uma �calamidade política�para a região ao assumir uma atitude �contra a autonomia�.Num jantar comício em Ponta Delgada, Carlos César criticou o Executivo de direita por causadas transferências para as ilhas previstas no Orçamento de Estado de 2003 e que, segundogarantiu retiram, aos Açores vários milhões de euros.Para o líder do PS/Açores, os açorianos sabem distinguir os �êxitos e progressos� já alcançadospelo Executivo socialista desde 1996, caso dos programas contra a pobreza, incremento doturismo, criação de 16 mil novos postos de trabalho e redução dos impostos e do tarifário daenergia eléctrica.Carlos César lembrou ainda que a �região tem um poder político em que nunca caiu uma únicaacusação de corrupção ou abuso de poder�.

BAIXO ALENTEJO ACUSA

OE PENALIZA REGIÃOO Secretariado da Federação do PS do Baixo Alentejo acusou o Governo de penalizar esta regiãona proposta do Orçamento de Estado para 2003.Num comunicado, os socialistas do Baixo Alentejo criticaram o documento do Executivo,nomeadamente os �aumentos dos impostos a pagar pelas famílias, a previsão do aumento dodesemprego e o corte nos investimentos, que mostram claramente a política negativa e contráriaao progresso social do País.�Os investimentos do Estado para o distrito de Beja diminuem drasticamente, o que segundo aFederação �irá comprometer a concretização do desenvolvimento que estava em curso na região�.As verbas previstas para o empreendimento do Alqueva com este Orçamento de Estado diminuempara metade, fixando-se em cerca de sete milhões de euros, em vez dos cerca de 16 milhões queestavam previstos pelo Governo do Partido Socialista.

GAIA

SECÇÃO ORGANIZA CICLO DE DEBATESA Secção do PS/Mafamude organizou um encontro-debate �A mulher, a família e a paridade narealidade portuguesa� que contou com a presença da deputada socialista Maria de Belém e MariaJosé Gamboa, responsável no Porto pelo Projecto de Apoio à Família e à Criança.A participação mais activa da mulher na vida social e política foi uma das exigências defendidaspelas duas intervenientes, que consideraram que o �panorama está a mudar�.Segundo Agostinho Santos, secretário-coordenador do PS/Mafamude, o debate �ultrapassoutodas as expectativas, conseguindo conquistar o público presente�, adiantando ainda que, ossocialistas Alberto Martins, Guilherme d�Oliveira Martins, José Lello e Fernando Gomes serão osparticipantes dos próximos debates promovidos pela Secção.

GUARDA

PS CONTRA DIMINUIÇÃODE VERBASPARA O DISTRITOO PS/Guarda acusou o Governo do PSD/PP de apresentar um Orçamento de Estado para 2003que �não promove a retoma económica�.Em comunicado, os socialistas afirmam que �ao contrário do que tem sido dito, existe umaredução do investimento público em relação a 2002� e dão como exemplos o sector rodoviárioque sofre uma quebra de 17 por cento e o sector da habitação de 20 por cento.Para demonstrarem esse desinvestimento no distrito, os socialistas exemplificam com dadosconcretos: �o valor dos investimentos para a Guarda baixou 9,1% em relação a 2002, chegandomesmo alguns investimentos importantes para o distrito, já em concurso, a desapareceremdo PIDDAC para 2003, como por exemplo a construção da ligação do IP5 a Trancoso, aconstrução da variante de Gouveia, as remodelações e beneficiações das estradas nacionais233, 330 e 221 e a construção de vários quartéis da GNR�.Para o PS/Guarda o que é ainda mais inaceitável é o facto de �nem mesmo os compromissoseleitorais dos partidos que sustentam o Governo constarem do plano de investimentos parao distrito�.Segundo os socialistas, a transferência das verbas para as autarquias diminuiu drasticamenteem relação a 2002, levando a que �sem possibilidade de contrair empréstimos, muitasautarquias não possam candidatar-se a fundos comunitários.��No ano de 2002, o aumento a nível distrital para as autarquias tinha sido de 13,4 por cento,enquanto que em 2003 há municípios que recebem apenas 3,1por cento de aumento como éo caso da Guarda�, acrescenta ainda o comunicado do PS/Guarda.

PS EM MOVIMENTO

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COMPORTAMENTO INACEITÁVEL

OBRIGATÓRIO RENOVAR

Na altura própria, afirmei que a atitude do Governo ao colocar perante a Comissão Europeia, da formacomo o fez, a situação das finanças públicas em Portugal, era uma atitude insensata, incorrecta e lesivado interesse nacional.Com efeito, o Governo reportou para Bruxelas um défice orçamental de 4,1 por cento do PIB utilizando,integralmente, o nível mais exigente das normas contabilisticas definidas pelo Eurostat (Instituto deEstatística Europeu).Tudo isto estaria bem se essa fosse a prática corrente e normal no contexto da União Europeia. Sucedeque o não é, e por essa via, a República Portuguesa perdeu uma razoável margem de manobra, pois a suasituação negativa aparece extraordinariamente agravada, quando é posta em cotejo com os seus parceiros.O espanto que, aliás, tem causado sobre as autoridades técnicas da Comissão, o zelo do Governoportuguês, é sintomático do grave erro que foi cometido, tendo em conta, sobretudo, a nossa credibilidadeexterna que já tínhamos e deveríamos manter.Só que sendo insensata, incorrecta e lesiva do interesse nacional, a atitude do Governo não foi gratuita.Desde a primeira hora que o Executivo de Durão e, muito em especial, a sua ministra das Finanças, sabiamque a probabilidade de Portugal vir a ser, realmente, penalizado no quadro do procedimento dos déficesexcessivos, era muito pequena.Em primeiro lugar, porque o processo decisório é lento e, nem sempre, totalmente claro.Em segundo lugar, porque, assente que estivesse a poeira, inevitavelmente se juntariam a Portugaleconomias mais fortes, cuja evolução negativa apagaria as dificuldades das finanças públicas portuguesas.Afinal para que serve o prestigio europeu que Portugal foi gerando nos últimos anos, assente numinequívoco processo de modernização económica, de estabilidade social e de consciência europeia?No curto prazo, pouco, terá pensado o Governo.Mesmo a esperada reacção negativa dos mercados financeiros internacionais, poderia ser facilmenteacomodada, desde que se mantivesse, como era previsível, a política draconiana do Banco CentralEuropeu na gestão da componente monetária.Claro que a médio e longo prazo a história é outra e completamente diferente; dificilmente se apagará odescrédito de Portugal, no quadro da União Europeia, na sequência da insensata, incorrecta e levianaatitude do Governo.Só que a longo prazo, terá pensado a dra. Manuela Ferreira Leite recordando o prof. Keynes, estaremostodos mortos.Resta pois explicar o que ganhou o Governo com esta sua atitude.Não desejo insistir em factores de natureza psico-analítica, que levam sistematicamente a dra. Ferreira

Leite a estigmatizar e combater os socialistas.Deixo para os especialistas, estimulando-os àleitura critica dos escritos e intervenções da actualministra, a verdadeira interpretação do fenómeno.Se eu tenho razão, a dra. Ferreira Leite sente-serealizada, sempre que descobre, denuncia ecombate uma �maldade� praticada por umsocialista. Feitios!Só que esta é a interpretação fácil.E o Governo ainda não é dirigido pela actualministra das Finanças.Ora, desde inicio, foi muito claro, pelo menos paramim, que o actual primeiro-ministro tudo fariapara criar e consolidar junto da opinião públicaum ambiente de crise, irresponsabilidade edeterioração que justificasse as práticasgovernativas, por mais injustas que fossem, mas,nomeadamente, a nefasta alteração qualitativa quese está a proceder inexoravelmente na governaçãoem Portugal.Só num cenário de catástrofe, como tal reconhecido pela opinião pública, podia ser aceite a rupturaindecorosa com as promessas eleitorais de abaixamento de impostos e de criação de riqueza a um ritmosuperior à média europeia.Só um cenário de dificuldades amorteceria a instabilidade social, que resultará inevitavelmente, dasmedidas de política desencadeadas que são claramente lesivas dos interesses de uma boa parte dapopulação portuguesa.E, finalmente, só um cenário de incompetência que fosse fácil, mas duradouramente, colado ao anteriorprimeiro-ministro, ajudaria a campanha de assassinato político de António Guterres que já está em cursotendo em vista as próximas eleições presidenciais.Os socialistas têm cometido alguns erros, mas o principal é seguramente o de terem subestimado, desdeo início, o dr. Durão Barroso.Não seria de todo mal, se pudéssemos, prioritariamente, reflectir também um pouco sobre este assunto.

A agenda para a renovação do PS começa a ganhar contornos definidos. Independentemente dassoluções concretas que venham a ser aprovadas no próximo congresso, o que é mais importante nestemomento é que o partido assuma colectivamente a necessidade imperiosa de mudar e que veja narenovação uma oportunidade irrepetível para lançar as bases de um novo paradigma de relacionamentodos partido com a sociedade, mais aberto, mas democrático, mais transparente. O PS nunca teve medode mudar, o reformismo faz parte do seu património político e ideológico. Mas mudar agora, pordiversas razões, é particularmente importante.Desde logo, porque o PS é hoje um partido que é depositário da confiança de quase 40 por cento doeleitorado, ou seja, tem a sua maior base de apoio de sempre em contexto de oposição. Este facto, porsi só, lança sobre o PS uma enorme responsabilidade. Uma responsabilidade que é agravada pelo factode o actual Governo estar apostado em radicalizar o discurso pela direita e em governar provocandorupturas e desequilíbrios entre os portugueses. Há, assim, hoje, uma enorme expectativa relativamenteà capacidade de o PS se modernizar e de saber protagonizar um conjunto de aspirações sociais queultrapassam largamente a sua esfera tradicional de representação de interesses. Num cenário em queo sistema político evoluiu para um esquema de alternância no poder de dois grandes partidos, exige-se do PS que tenha uma grande abertura aos problemas e anseios de uma grande fatia do eleitoradoe, sobretudo, que seja capaz de se apresentar permanentemente aos portugueses como uma alternativacredível de Governo. Hoje, mais do que nunca, é essencial para a saúde da nossa democracia que o PS,não estando no poder, esteja sempre preparado para governar a qualquer momento.Por outro lado, os partidos são um alicerce incontornável do sistema democrático. Em contextos deenfraquecimento dos partidos, da sua credibilidade e da sua influência, abre-se caminho para odiscurso demagógico e populista que germina na periferia do sistema democrático e que se aproveitaoportunisticamente das suas falhas, ameaçando um modelo social assente nos valores da solidariedade,da responsabilidade colectiva e da própria democracia liberal.Ora, como é diagnosticado de forma unânime, os partidos não têm sabido suscitar a adesão e acumplicidade das pessoas para a sua mensagem e para o seu projecto.O que se explica, em parte, porque cultivam lógicas autofágicas de fechamento sobre si próprios e têmregras de funcionamento pouco transparentes e excessivamente burocratizadas. Os partidos, apesarde juridicamente serem entidades privadas, pelo seu papel constitucional enquanto pilares do sistemademocrático, não podem ser clubes privados em que só participa e tem uma palavra a dizer quem sedispõe a cumprir pesados rituais iniciáticos de afirmação. Isto tem duas consequências muito negativas:por um lado, adensa o sentimento de desconfiança e de distanciamento por parte do eleitorado. Poroutro, repele o envolvimento espontâneo daqueles que sendo próximos de determinado partido,designadamente do PS, não fazem nem querem fazer carreira política, mas que se interessam pelapolítica e, sobretudo, pelas políticas. Neste capítulo, é fundamental que o PS consiga encontrarmecanismos suficientemente flexíveis e transparentes para que se possa assumir como um espaçoprivilegiado de intervenção cívica e política de todos aqueles que, na área da esquerda, se identificamcom os nossos princípios fundamentais e com o nosso projecto para o país.E, nessa medida, o partido tem que se reformar no seu modo de organização e de funcionamento, nosentido de um aprofundamento da democracia interna, de uma maior transparência no próprio processode definição das posições políticas e de uma total abertura aos contributos e à participação de todosaqueles que, nos diversos palcos de intervenção cívica, social ou profissional, podem ajudar ospartidos a tornarem-se mais permeáveis aos problemas e anseios dos portugueses. Quem quer participar

deve encontrar nos partidos uma verdadeira via verdepara o fazer. Quem não quer participar deve poder olharpara a mensagem dos partidos e perceber donde é quesurge, porque é que surge e, transparentemente, queobjectivos prossegue. É certo que o fenómeno doafastamento dos cidadãos relativamente à política, quetem como marca impressiva os elevados níveis deabstenção que se verificam em todos os países da Europa,não se deve exclusivamente aos partidos e à sua acção.Também aos portugueses em geral se deve pedir mais, noquadro de uma cultura de exigência e de responsabilidadecolectiva pelos assuntos do país e da democracia. Masenquanto os partidos não mudarem profundamente nasua forma de se relacionarem com as pessoas, não estãoreunidas as condições que permitam legitimar uma talexigência.O PS, dando o exemplo neste desígnio democrático, temde institucionalizar fórmulas que permitam o enquadramento e que fomentem a participação notrabalho político do PS, quer de não militantes que se identifiquem com os nossos valores e com anossa acção política, quer de militantes cuja vontade de intervenção não se enquadre nos moldes damilitância tradicional. Não são os portugueses com vontade de trabalhar com o PS que têm queformatar a sua vontade de participação aos nossos esquemas organizativos. Pelo contrário, é o PSque deve continuamente procurar ir ao encontro de todos aqueles que com o seu contributo podemenriquecer a nossa intervenção pública.É assim de importância crucial que o PS encete um processo de modernização da sua própria organizaçãointerna. Quer no sentido de uma maior abertura, quer no sentido de uma maior eficácia ao nível dotrabalho político.Há boas ideias em cima da mesa para atingir este objectivo, que é do PS, mas que serve os portuguesese a democracia. Novos tipos de secções que agreguem militantes em torno de temas, de causas, deinteresses comuns, e não apenas por área de residência. Abertura à participação no PS de nãomilitantes. Clubes de política. Limitação de mandatos dos dirigentes. Incompatibilidade de cargosexecutivos. Ao nível da eficácia da nossa intervenção, a reorganização das estruturas dirigentes eclarificação da vocação executiva ou de orientação política dos diversos órgãos nacionais. São ideiasque podem relançar o partido na senda de novas vitórias eleitorais, que a nossa história tem provadoserem mais fáceis quando o partido se abre à sociedade, do que quando se vira para si próprio. OsEstados Gerais são um bom exemplo disso, temos agora a oportunidade para encontramos soluçõesque permitam que as pontes então estabelecidas com os sectores mais dinâmicos da sociedadeganhem um carácter mais institucionalizado e por isso mais permanente.O debate que se tem vindo a desenvolver nos últimos meses dentro do partido deve orgulhar-nos atodos. Em muitos partidos, os debates internos caracterizam-se ou pela fulanização mediática ou pelaresolução burocrática das divergências. Em nenhum partido o debate interno sobre questões essenciaiscomo as regras de organização interna, os princípios fundamentais, ou as linhas de orientação estratégicase processou, até hoje, de forma tão aberta, tão participada e tão séria como o do PS agora.

OPINIÃO

MANUEL DOS SANTOS

MARK KIRKBY

Se eu tenho razão, a dra. Ferreira Leite sente-se realizada, sempre que descobre,denuncia e combate uma �maldade� praticada por um socialista. Feitios!

É assim de importância crucial que o PS encete um processo de modernização da sua própriaorganização interna. Quer no sentido de uma maior abertura, quer no sentido de uma maior

eficácia ao nível do trabalho político.

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10 de Outubro de 2002

POR FIM...

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Ferro Rodrigues deverá aproveitar o debate mensal de hoje na AR com a presençado primeiro-ministro para voltar a pedir a demissão de Paulo Portas.

Realiza-se hoje um colóquio sobre o �Plano Rodoviário Nacional 2000, um Planoem Risco�, na Sala do Senado da Assembleia da República, tendo como moderadoro deputado socialista João Cravinho.

O secretário-geral do PS apresenta no sábado, em Ponta Delgada, a sua MoçãoGlobal e propostas do Projecto de Estatutos e Declaração de Princípios que levaráao próximo Congresso de Novembro.

Sábado, 13 Outubro, é a data limite para a entrega das moções de orientaçãoglobal e de propostas de alteração dos estatutos para serem presentes no próximoCongresso.

No próximo fim-de-semana realizam-se as Jornadas Parlamentares conjuntasdos deputados socialistas à Assembleia da República e do Parlamento Europeu,nos Açores, subordinadas às questões europeias.

Ao longo da próxima semana decorrem reuniões sectoriais no âmbito do Gabinetede Estudos do Partido Socialista.

O secretário-geral do PS inicia na 4ª feira, dia 16 de Outubro, um conjunto dereuniões pelas diferentes Federações do País, com vista à divulgação da suamoção ao próximo Congresso.

Jorge Sampaio termina sexta-feira a primeira visita oficial de um Presidente daRepública português à Finlândia, levando na sua comitiva vários empresáriosportugueses.