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COMO FAZER REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA DESTE ARTIGO GAMA, Edilene Ferreira. Orientador Educacional: Profissional em Busca da Identidade. Disponível: http://edilene-gama.blogspot.com/p/orientador-educacional- profissional-em.html Acesso em: ___/____/______. ORIENTADOR EDUCACIONAL: PROFISSIONAL EM BUSCA DA IDENTIDADE Edilene Ferreira Gama 1 RESUMO Relato de pesquisa de campo realizada nas escolas da rede estadual de educação da zona urbana do município de Presidente Médici com objetivo de delinear a identidade do orientador educacional através de sua atuação na dinâmica do processo ensino aprendizagem. Os dados coletados foram analisados a partir da literatura crítica privilegiando o processo dialético nas seguintes categorias de análise: auto definição dos orientadores educacionais, visão dos docentes e gestores acerca desta função e posição dos regimentos institucionais sobre o tema. A identidade do orientador educacional começa a ser redefinida e suas funções especificadas no contexto 1 Pedagoga, com especialização em Orientação Educacional, atuando numa escola de Ensino Fundamental há 10 anos, em Presidente Médici-RO, onde já exerceu as funções de professora, Coordenadora Pedagógica e Coordenadora do setor de Educação Especial da prefeitura. Contato: [email protected] .

ORIENTADOR EDUCACIONAL ARTIGO

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COMO FAZER REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA DESTE ARTIGO

GAMA, Edilene Ferreira. Orientador Educacional: Profissional em Busca da Identidade. Disponível: http://edilene-gama.blogspot.com/p/orientador-educacional-profissional-em.html Acesso em: ___/____/______.

ORIENTADOR EDUCACIONAL: PROFISSIONAL EM BUSCA DA IDENTIDADE

Edilene Ferreira Gama 1

RESUMO

Relato de pesquisa de campo realizada nas escolas da rede estadual de educação da

zona urbana do município de Presidente Médici com objetivo de delinear a identidade do

orientador educacional através de sua atuação na dinâmica do processo ensino aprendizagem.

Os dados coletados foram analisados a partir da literatura crítica privilegiando o processo

dialético nas seguintes categorias de análise: auto definição dos orientadores educacionais,

visão dos docentes e gestores acerca desta função e posição dos regimentos institucionais

sobre o tema. A identidade do orientador educacional começa a ser redefinida e suas funções

especificadas no contexto educacional tendo como cerne de sua ação o aluno, sob uma nova

perspectiva.

PALAVRAS CHAVES: Orientação Educacional. Objetivos. Função.

ABSTRACT

Report of field research conducted in schools of the network state of education of the urban

area of the municipality of President Medici in order to delineate the identity of the

educational advisor through its presence in the dynamic process of teaching learning. The

collected data were analyzed from the critical literature favoring the dialectical process of

1 Pedagoga, com especialização em Orientação Educacional, atuando numa escola de Ensino Fundamental há 10 anos, em Presidente Médici-RO, onde já exerceu as funções de professora, Coordenadora Pedagógica e Coordenadora do setor de Educação Especial da prefeitura. Contato: [email protected].

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analysis in the following categories: self definition of the guiding educational, vision of

teachers and administrators about the function and position of institutional rules on the

subject. The identity of the educational advisor starts to be redefined and its functions

specified in the educational context with the core of your action the student, in a new light.

KEY WORDS: Educational Guidance. Objectives. Function.

A profissão de Orientador Educacional, embora seja a única entre a dos especialistas

em Educação a possuir um decreto específico de regulamentação, esteve nas últimas décadas

relegada a uma posição de inferioridade no ambiente escolar. Essa situação deveu-se ao fato

de que em sua gênese a Orientação Educacional veio como aliada do sistema capitalista na

equalização da divisão do trabalho2. Com o processo de abertura política na década de 1980 as

críticas ao orientador educacional tornaram-se mais contundentes e ele mergulha num

processo de esquiva em relação a suas funções e atribuições, pois se vê realmente culpado

daquilo que é acusado. É também nesse período que surge uma vertente reafirmando a

importância do Orientador Educacional, mas propondo uma mudança de enfoque e forma

conforme afirma Grinspun (1998, p.13): “[...] partimos de uma orientação voltada para a

individualização e chegamos a uma orientação coletiva e participativa”.

A extinção da Federação nacional dos Orientadores Educacionais (FENOE) colaborou

para uma queda significativa nas discussões acerca dessa nova visão de Orientação

Educacional3 criando uma lacuna no que concerne a pesquisas científicas acadêmicas e

publicações acerca do tema. Neste espaço insere-se a temática deste trabalho, cuja relevância

está em participar e registrar o momento em que se retomam as discussões a respeito do tema

propondo-se a diagnosticar a realidade da Orientação Educacional no que se refere ao

fortalecimento da identidade desse profissional que segundo Siqueira (2003, Online) “[...]

ainda não tem sua função uniformemente definida.” A definição do tema surge da necessidade

de suprir uma carência de informações organizadas acerca de qual seja o papel do Orientador

Educacional no contexto sócio educacional nas escolas públicas da rede estadual de educação

no município de Presidente Médici.

O projeto de pesquisa foi elaborado de modo que ao final da mesma possam ser

respondidos os seguintes questionamentos:2 Para melhor compreensão acerca da História da Orientação Educacional consultar PIMENTA, Selma Garrido: Orientação vocacional e decisão: um estudo crítico da situação no Brasil. 11.ed. São Paulo: Edições Loyola, 1981.3 O leitor poderá encontrar um aprofundamento desse enfoque em MELO, Sonia Maria Martins de. Orientação Educacional: do consenso ao conflito. Papirus Editora: São Paulo, 1994.

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Qual a visão dos Orientadores acerca de suas funções e atribuições?

Em quais pressupostos teóricos embasam suas ações?

Como planejam suas ações?

Como são vistos por docentes e gestores, no âmbito escolar?

Qual o papel do proposto ao Orientador Educacional pelos regimentos internos

das instituições?

Quais barreiras encontram no desempenho de suas funções?

A apresentação dos resultados da pesquisa inicia-se com a exposição do processo de

coleta de dados cujo objetivo é esclarecer o local e os instrumentos utilizados. Há também a

descrição dos procedimentos utilizados na seleção e tratamento das informações obtidas, onde

são explicitados os pressupostos teóricos metodológicos que nortearam o trabalho. Em

seguida, estas são discutidas e analisadas com base no referencial teórico adotado.

As considerações finais os autores não pretendem ser definitivas no que diz respeito à

função do orientador Educacional no processo ensino aprendizagem pois o contexto social é

de mudança e assim como a escola influi no primeiro, é também por ele influenciada.

Neste sentido afirma Melo (1994, p.105): “A nova forma de Orientação não depende

de julgamentos morais, seguidos de exercícios premonitórios (ou receitas) sobre seu ‘novo’

fazer. Depende, isto sim, do rumo que tomará a prática social, que é processo coletivo de

criação humana”.

2 A COLETA DE DADOS

O projeto foi desenvolvido nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, modalidades

Regular e Educação de Jovens e Adultos (EJA), da rede Estadual de Educação situadas na

zona urbana de Presidente Médici, Rondônia. Totalizam 04 escolas de médio porte, que

possuem em seus quadros funcionais 07 Orientadores educacionais, que atendem uma média

de 350 alunos cada. Numa das escolas esse número é bem maior, pois tem apenas um

orientador atuando.

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: o questionário aberto, a

entrevista e a pesquisa documental além da observação. O questionário foi escolhido por

possibilitar a capacidade de reflexão acerca das respostas, já que o informante não necessita

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responder imediatamente. A modalidade aberta visou minimizar o risco de indução de

respostas aumentando a confiabilidade dos resultados.

A escolha da entrevista se deu após a elaboração do projeto, já na fase de leitura dos

questionários respondidos, quando se notou a existência de informações incompletas que

poderiam influenciar negativamente no momento da análise. Dado o caráter das informações a

serem levantadas e o tempo disponível escolheu-se a modalidade gravada, com roteiro prévio.

Na prática, a maioria dos orientadores sentiu-se desconfortável com a gravação da fala e

optou-se por anotações.

A pesquisa documental feita em regimentos internos das instituições e em planos de

ação dos Serviços de Orientação Educacional (SOE) adquire pertinência por serem aqueles,

parâmetros legais de atribuição de responsabilidades e nortearem a ação de todos os

envolvidos no processo educacional diretamente ligados as unidades de ensino e estes, o

registro do planejamento da ação dos orientadores educacionais.

Abrangeu-se a totalidade dos que atuam na Orientação Educacional nas escolas

pesquisadas e selecionou-se aleatoriamente uma amostragem de cerca de 10% dos professores

de cada unidade de ensino e 50% dos gestores das mesmas.

Houve receptividade ao projeto de pesquisa por parte da maioria dos profissionais da

área de Orientação Educacional, dos gestores e supervisores. Com relação a participação

docente, a adesão foi pequena e impossibilitou a aquisição de uma amostragem significativa

quantitativamente.

Privilegiou-se nesse trabalho o método dialético de pesquisa em conformação com o

que explicita Frigotto

No processo dialético de conhecimento da realidade, o que importa fundamentalmente não é a crítica pela crítica, o conhecimento pelo conhecimento, mas a crítica e o conhecimento crítico para uma prática que altere e transforme a realidade anterior no plano do conhecimento e no plano histórico-social. (In FAZENDA (Org.), 2002, p.81)

Os dados coletados junto aos Orientadores Educacionais foram agrupados realizando-

se primeiramente a tabulação para facilitar a organização posterior das categorias de análise.

Procedeu-se o agrupamento dos dados obtidos junto a gestores e professores após ter sido

efetuada uma apuração das informações contidas nos regimentos internos, baseando-se para

tanto no critério de relevância para o objeto em estudo. A partir desse ponto organizou-se uma

tabela de referências cruzadas por unidade de ensino e só então ficaram estabelecidas as

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categorias de análises que serviram de parâmetro para a organização dos resultados da

pesquisa.

3 O PERFIL DOS ORIENTADORES EDUCACIONAIS

Os orientadores educacionais dos ambientes pesquisados, com uma exceção, são

profissionais que exercem a profissão a menos de cinco anos. Pode-se inferir que está

ocorrendo uma retomada de interesse pela profissão de Orientador Educacional, fato também

citado, por Grinspun ( 2003, online): “o movimento dos orientadores está tomando corpo [...]

[e] [...] há escolas querendo que esse profissional volte a ocupar seus quadros”.

A história da implantação do Serviço de Orientação Educacional de ensino também

corrobora esse movimento de retorno pois, com uma exceção, os esmos foram implementados

de 02 anos para cá. Em alguns casos ocorrem relatos esparsos acerca da presença de

Orientadores Educacionais em outros tempos nestes estabelecimentos, mas não existem

registros que comprovem esses trabalhos.

Outro aspecto que caracteriza positivamente a Orientação Educacional na realidade

pesquisada é que, com apenas uma exceção, os que exercem a função de Orientador

Educacional são habilitado para tal e todos exerceram anteriormente a docência possuindo,

portanto uma visão mais completa da relação ensino aprendizagem. É válido ressaltar que este

pormenor está em acordo com a lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996) no

artigo 64 que exige um mínimo de 02 anos de experiência docente como pré-requisito para o

exercício de qualquer função de especialista na educação.

4 A ATUAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA ESCOLA

De acordo com os dados foi possível identificar quatro tipos de papéis auto atribuídos

pelos orientadores educacionais: o orientador de alunos, o orientador de professores, o

facilitador de relações e o solucionador de problemas. Concepções tidas como parte do

passado da Orientação Educacional por autores como Garcia (1994), Grinspun (1998),

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Lück (2002) e Pimenta (1981) convivem lado a lado com posições mais atualizadas.

Esse fator é tanto mais alarmante quando se recorda que dos profissionais pesquisados, a

maioria, saiu da graduação a menos de 05 anos e portanto leva a crer que o curso de formação

desses profissionais não foi suficiente para fornecer parâmetros para uma atuação sólida e

contextualizada.

Entretanto, a classificação utilizada visa favorecer a apreensão do objeto de estudo

funcionando como instrumento de análise, não devendo ser vista como limitadora da ação dos

Orientadores, pois a prática cotidiana se faz e refaz a partir do conflito e a realidade não se

deixa aprisionar em compartimentos estéreis. O critério básico para esta classificação ateve-se

ao objetivo da ação profissional e não às formas.

O orientador como solucionador de problemas, no âmbito geral da escola, existe desde

os primórdios da Orientação Educacional. O profissional que atua nessa linha funciona como

um apêndice necessário ao bom andamento da escola e nisso perde a visão daquilo que é

realmente essencial: o processo ensino aprendizagem passando a ser chamado a ação à

medida que os problemas aparecem. Não há uma linha específica na qual ele atue, sua função

abrange qualquer tipo de problema desde os de aprendizagem até os sociais. Essa atuação

remete ao primeiro modelo de Orientação Educacional que Grinspun (1998) denomina

terapêutico. Neste sentido enfatiza:

Orientação Educacional [...] não é um espaço para resolver problemas. Até porque, se assim o fosse, o que seria do Orientador com tantos problemas que os jovens trazem para a escola? [...] seria necessário um superprofissional para intermediar tantos conflitos e promover algum tipo de modificação. (GRINSPUN, 2003, online).

O Orientador Educacional facilitador de relações é um profissional para quem as

relações sociais estabelecidas na escola são os principais determinantes do sucesso ou

fracasso escolar. Para melhorar a qualidade do ensino aprendizagem ele se pôe como elo na

relação aluno professor e família interferindo nelas para alcançar seus objetivos. Também atua

como mediador de conflitos entre os membros da equipe escolar procurando evitar ou

amenizar as conseqüências destes.

Neste modelo anula-se ou relega-se como absolutamente secundário os determinantes

sociais, econômicos, culturais, curriculares, psicológicos, afetivos e outros que estão imbuídos

no processo ensino aprendizagem. Para Maia e Garcia (1984, p. 60), há lugar na escola para o

orientador facilitador de relações a partir de um novo enfoque, pois “Se ele é o profissional

que se apresenta como especialista em relações, caberia a ele resgatar a importância da

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relação professor-aluno no processo ensino-aprendizagem”. As relações deixariam de ser

objetivos para serem os meios da ação do Orientador.

A Orientação de professores, de acordo com Grinspun (1998), foi o segundo momento

orientacional histórico. Essa prática, no entanto, ainda foi citada com freqüência pelo grupo

pesquisado e novamente observa-se um apego a idéias que fizeram parte do passado da

Orientação Educacional conforme reitera a autora supracitada “[...] as atribuições daquele

profissional estavam voltadas para uma assessoria ao professor e uma ‘prestação de serviço’ à

escola” (Ibid., p. 146).

A atuação do Orientador que assessora professores ocorre através de uma interferência

direta na metodologia usada pelos docentes e na busca da adequação curricular conforme

estabelecem Alves e Garcia (1994, p. 50), “É de fundamental importância a participação do

orientador educacional na busca de metodologias adequadas ao tipo de clientela, refletindo

sobre a maneira como devem ser dados os conteúdos e com que finalidade”. Dessa concepção

participa Pimenta (1988, p. 158), afirmando que “[...] o trabalho docente é o núcleo

primordial da educação escolar. Desta forma, a organização escolar que se deseja é aquela que

melhor favoreça o trabalho docente”. Fica claro que esse tipo de papel encontra amparo na

concepção de alguns autores críticos e embora esta represente um “avanço em relação a

posições citadas anteriormente” no dizer de Grinspun (1998), incorre no risco de vir a

favorecer a divisão estrema do trabalho pedagógico nos moldes em que um pensa (o

orientador) e o outro executa (o professor).

A maior representatividade quanto a função do Orientador na escola, (66,6%) foi

alcançada pelo grupo que a coloca como diretamente ligada ao aluno. Entretanto, nesse grupo

se delineou nitidamente dois caminhos para esse atendimento: o psicológico e o voltado para

a ação educacional.

O primeiro grupo é bem menor em relação ao segundo mas sua atuação ainda reflete

fortemente no cotidiano escolar. Esses orientadores baseiam sua ação em pressupostos

psicológicos que fogem a sua alçada específica sem a devida habilitação profissional. Esse

grupo de profissionais abdica de sua função no processo educacional porque não está

consciente de que sua formação é prioritariamente pedagógica e que a função específica da

escola é ligada a aprendizagem. Nesse sentido vale recordar o que Maia e Garcia (1984, p. 09)

afirmam.

A formação do orientador, pautada, sobretudo, numa certa psicologia e numa concepção de educação como instância de democratização e promoção social, tem dificultado a apreensão das relações entre Escola e Sociedade, o

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que o capacitaria a fazer a crítica de sua própria prática, embora seu discurso o defina como crítico do processo.

Essa atuação além de responsabilizar o indivíduo por suas realizações e fracassos

ignora os determinantes produzidos historicamente concebendo a sociedade como um

conjunto de individualidades reunidas impossibilitando uma visão crítica por parte do

educando acerca da existência de uma realidade socialmente determinada que se caracteriza

pela diminuição do poder de operação das manifestações individuais.

O orientador de alunos que trabalha numa visão pedagógica não ignora a existência

dos complexos mecanismos determinantes da ação educacional mas também não perde de

vista o seu objeto de trabalho que é o aluno nesse sentido aponta Grinspun (2003, Online),

quando diz: “o meu olhar sobre ele é como aluno, é uma chamada para que meu trabalho o

ajude dentro da escola [...] vendo-o enquanto aluno eu não estou fragmentado o todo, porque

estou trabalhando a questão do conhecimento, da emoção, do corpo”. Quando esse orientador

percebe que o espaço de intervenção transcende ao pedagógico ele, imediatamente,

encaminha esse aluno ao profissional competente para atendê-lo. O objetivo desse modelo de

atuação é trabalhar junto ao aluno visando melhorar a qualidade da educação e para tanto está

atento ao rendimento das turmas e alunos investigando junto aos envolvidos no processo as

possíveis causas de sucessos e fracassos. Ele busca conscientizar a família de seu papel na

consecução dos objetos educacionais, estabelecendo com ela parceria. Trabalha ainda na

identificação do contexto sócio econômico cultural no qual a escola está inserida e

principalmente mantém com os alunos um contato estreito cuja finalidade é ampliar a

formação educativa. No dizer de Grinspun (1998, p. 148 ) “ O orientador retoma sua

preocupação básica com o aluno, não como sujeito ‘pronto’ que está sendo orientado, mas

como sujeito ‘em construção’ que está sendo formado”. Ele também faz o atendimento

individualizado e age na solução de problemas, mas esta ação é contextualizada e visa a

melhora do processo pedagógico como já exposto por Assis em Grinspun (1998, p.126): “[...]

problemas que eram encaminhados ao SOE (Serviço de Orientação Educacional), sob o rótulo

de indisciplina, baixo rendimento, inadaptação e tantos outros, estavam relacionados a alguma

questão maior da escola e, por que não dizer, da educação”.

De acordo com dados levantados durante a pesquisa documental nos planos de ação,

há uma correlação estreita entre a concepção de suas funções pelo orientador educacional e o

modo como planeja. Numa atuação solucionadora de problemas não foi manifestada

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claramente a forma como é feito o planejamento; numa concepção psicologista há ênfase no

afetivo do individuo; onde se prioriza as relações, o planejamento contempla ações cujo

objetivo é melhorar a qualidade das mesmas e onde se visa o aluno como sujeito do processo

educativo o ponto de partida para o planejamento é uma conjugação da realidade dos

educandos com os objetivos propostos pela escola sem perder de vista o que reiteram Alves e

Garcia (1994, p.50): “[...] a escola representa, para as classes populares, o único meio de

acesso ao saber socialmente valorizado”.

Mas a questão do planejamento em orientação educacional ainda é insipiente, pois os

planos de ação embora contemplem a maior parte dos itens adotados por Lück (1991) como

descrição da realidade, descrição dos objetos, especificação da ação, avaliação e cronograma,

são superficiais guardando pouca ligação com a prática cotidiana. Uma das evidencias nesse

sentido foi o fato de que todos os orientadores afirmaram trabalhar através de projetos, em

maior ou menor freqüência, mas estes, com exceção dos de Orientação Vocacional, constam

em apenas alguns planos. Ainda assim, abordados conforme o vocábulo utilizado: aptidões e

preferências que na maior parte das vezes são psicologizantes e alienadas da realidade social 4.

Mesmo entre os Orientadores que procuraram atuar de forma crítica essa visão ainda se faz

presente.

Há também escolas onde não existe plano de ação específico do setor de Orientação

Educacional, o planejamento é feito em conjunto com a supervisão mas ao analisa-los

percebe-se que não se trata de um trabalho integrado pois as ações e os objetivos de cada

especialista estão visivelmente separados o texto.

Quando existe mais de um orientador na escola, o plano de ação apresenta aspectos

divergentes, principalmente nos itens objetivo geral e fundação teórica. Através da

comparação entre informações existentes nos mesmos e obtidas em entrevistas e questionários

com esses orientadores percebe-se que essas divergências são resultados de concepções

diferenciadas entre os últimos acerca da identidade do Orientador Educacional.

Acerca do planejamento em Orientação Educacional há vários aspectos não abordados

neste trabalho por serem secundários em relação ao objetivo proposto, mas que poderão ser

aprofundados em pesquisas posteriores.

QUADRO1- Tipos de Orientação Educacional e suas principais características

Características Pressupostos implícitos Pontos a serem considerados Planejamento da ação

4 Para aprofundamento no tema consultar: FENETTI, Celso João. Uma nova proposta de Orientação Profissional. São Paulo: Cortez,1994.

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TiposSolucionadora de problemas

O conflito sucesso/fracasso escolar não importa desde que quando visíveis e imediatos os problemas sejam resolvidos.

Sua ação é fragmentada por falta de objeto. Sua visão do processo educacional não é contextualizada.

É meramente formal pois os problemas não podem ser previstos.

Facilitadora de relações

As relações são o principal determinante do fracasso/sucesso escolar.

Ignora-se os outros determinantes da ação educativa.

Voltado para a integração dos sujeitos da ação educativa.

Orientadora de professores

Currículo e práticas docentes determinam fracasso/sucesso escolar.

Favorece a divisão entre o que pensa e o que executa. Incorre na invasão do campo de trabalho do supervisor pedagógico.

Visa as questões curriculares metodológicas.

Ori

enta

dor

a d

e al

un

os

Psi

colo

gist

a

Sucesso/fracasso escolar depende principalmente do indivíduo.

É uma ação descontextualizada. Assume função de psicólogo.

Privilegia os aspectos psicológicos e afetivos.

Ed

uca

tiva

Sucesso/fracasso escolar depende de vários fatores intrinsecamente relacionados.

Fornece subsídios para que o aluno avance no processo educativo. Baseia-se no aluno como ser histórico.

Visa o aluno enquanto sujeito da ação educativa.

A fundamentação teórica nos planos é pouco explicitada e as respostas à solicitação do

reverencial teórico utilizado demonstram que orientadores, cuja atuação tem objetivo

psicologizante, buscam fundamentos em livros de psicologia: aqueles cuja prática volta-se

para a solução de problemas fundamentam-se em livros de auto ajuda e até mesmo livros

religiosos. A junção dessas duas bases totaliza número significativo de 45% dos orientadores.

O grupo de orientadores que indicou obras específicas da área divide-se em duas

linhas: os que adotam referenciais antigos, anteriores a década de 1970; e os que se referem a

autores críticos e acríticos ao mesmo tempo. Os primeiros são os profissionais das relações e

as obras citadas estão de acordo com sua linha de atuação, os outros são os orientadores que

trabalham com o aluno numa perspectiva educacional e a discrepância na escolha da

fundamentação teórica para sua ação é um indício tanto de identidade profissional em

processo de construção quanto de formação profissional ainda precária.

5 PAPEL PRESUMIDO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

A busca pelo que se espera do orientador educacional na escola foi realizada através

dos regimentos internos e também das informações coletadas junto a docentes e gestores.

Os resultados apontam que os regimentos internos das escolas não podem ser, sem

uma pesquisa mais aprofundada, considerados como registro das expectativas das unidades

escolares acerca dos itens neles abordados porque são iguais entre si correspondendo portanto

a uma padronização que evidencia a cópia. Essa atitude coloca a existência do regimento na

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instituição como um detalhe burocrático que deixa de servir parâmetro da ação adotado pelo

grupo a partir das diretrizes legais e das expectativas do mesmo. Foi possível verificar que há

dois tipos de direcionamentos básicos para a ação do Orientador Educacional nesses

documentos: O atendimento que enfatiza as relações mesclado com o psicologismo e que

prioriza o processo educacional evidenciando ora a atividade junto ao aluno ora junto ao

professor. Encontram-se aqui evidências de que a confusão acerca da identidade do orientador

educacional ultrapassa os limites de sua própria atuação sendo fruto do contexto

organizacional da escola que pode ser ampliado para a questão educacional cuja problemática

decorre do modo como está organizada a sociedade hoje. Neste ponto cabe citar Marx (1977

p. 201):

[...] indivíduos produzindo em sociedade, portanto uma produção de indivíduos essencialmente determinada, este é naturalmente o ponto de partida. O caçador e o pescador individuais e isolados, de que partem Ricardo e Smith, pertencem a inocente ficções do século XVIII. São ‘robinsonadas’ [sic]. (apud MELO, 1994, p. 87).

Constatou-se no processo de análise de dados que as expectativas de gestores e

professores estão de acordo com a concepção de orientação educacional adotada pelo

orientador em cada instituição de ensino. As instituições onde os orientadores enfatizam que

os professores muitas vezes não compreendem sua ação foram aquelas nas quais ele atua

como solucionador de problemas. O trabalho nessa linha geralmente não traz resultados

satisfatórios porque nem todo problema pode ser solucionado pelo orientador principalmente

quando é de origem psicológica ou social gerando frustrações tanto no próprio profissional

quanto na equipe escolar.

As informações coletadas mostram que a postura dos profissionais da equipe escolar

em relação ao trabalho do Orientador Educacional depende muito de sua própria atuação e

que, na realidade pesquisada, ouve uma superação do que foi constatado por Alves e Garcia

(1994, p.50):” O que esses professores reivindicam é a orientação educacional

tradicionalmente concebida, que pressupõe, entre outras coisas, a percepção individualizada

do aluno, visando detectar seu ’desvio’ para ajustá-lo à escola”

Os conflitos existem em proporções menores que as esperadas e podem ser

erradicados à medida que houver a conscientização de que “É o professor quem habilitado

para dar aula;o diretor, para administrar a escola; o orientador, para trazer a realidade do aluno

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para o planejamento curricular; o supervisor, para coordenar o processo de planejamento,

implementação e avaliação curriculares”.(Ibid., p.15)

É necessário que todos os profissionais da escola estejam envolvidos nesse processo

de conscientização de que as funções são interdependentes e trabalham por caminhos

diferenciados buscando alcançar o fim comum: a melhora da qualidade a do processo

educacional.

6 FATORES QUE DIFICULTAM O DESEMPENHO DO ORIENTADOR

EDUCACIONAL

Durante o processo de coleta de dados os orientadores educacionais enfatizam a

interferência de alguns obstáculos em sua ação profissional que prejudicam o cumprimento

das atribuições específicas da função e sua equalização no cotidiano escolar. Por sua

relevância diante do tema proposto estas informações foram incorporadas a este relatório.

Os fatores citados com obstáculos do trabalho do Orientador Educacional são de duas

ordens: estruturais e conjunturais. Os fatores estruturais dizem respeitos às condições físicas,

materiais e formativas oferecidas pela Secretaria de Estado da Educação aos profissionais.

São problemas freqüentes dessa ordem: o espaço inadequado no prédio escolar, a falta de

materiais de trabalho como computadores, arquivos, armários, etc. a total ausência de meios

de locomoção para realização das visitas e ausência de políticas de formação continuada para

o Orientador Educacional.

São fatores conjunturais que dificultam o trabalho do orientador: despreparo da família

no exercício de seu papel, falta de profissionais de outras áreas no município, principalmente

a saúde, para quem encaminhar alunos que necessitam de atendimento específico, formação

docente que se revela insuficiente para a adequada atuação no processo ensino aprendizagem.

Tanto fatores estruturais quanto conjunturais são produtos histórico saciais que

emergem de forma não linear, mas envoltos nas contradições que caracterizam o real, essa

posição está presente na fala de Melo (1994, p.105)

Voltamos a afirmar que só a compreensão das condições concretas já colocadas pelo desenvolvimento do processo de produção como condição essencial para o encaminhamento dessa prática social tornará possível a solução real das questões colocadas por essa mesma prática social para

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serem resolvidas. E dentre essas questões coloque-se também a Orientação Educacional.

A remoção da maior parte dos obstáculos citados não pode partir apenas de vontades

individuais, precisará ser fruto do esforço coletivo e dependerá das mudanças que se

prenunciam na organização do trabalho e no delineamento de novos valores sociais.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O momento da Orientação Educacional no município é de ascensão, as escolas tem

sentido necessidade de um profissional que cubra a lacuna deixada na década de 1990 quando

essa função deixou de ser exercida nas unidades de ensino.

A maior parte dos orientadores educacionais tem buscado centrar sua prática ao que é

educativo atuando mais diretamente com o aluno. Entretanto, parcela relevante de

profissionais ainda atua nas linhas psicologizantes, solucionadora de problemas, orientação de

professores, e facilitadora de relações. Mesmo os profissionais que atuam numa visão

educacional caem no psicologismo quando se trata da orientação profissional e não tem

coerência no que concerne a referencial teórico.

A maneira como docentes e gestores vêem a função de Orientador Educacional na

escola e as expectativas que têm em relação a esse trabalho está fundamentalmente ligada à

concepção que o orientador tem sobre seu espaço profissional no processo ensino

aprendizagem.

A resposta encontrada para a questão da identidade do Orientador Educacional mostra

que ele principia uma jornada onde retoma o seu principal foco de trabalho: o aluno mas desta

vez visando o prisma educacional formativo, não mais a pessoa. Começa a ser aprendido

pelos orientadores que eles não conseguem, nem é desejável que o façam, trabalhar todos os

intrincados aspectos que formam o sujeito e que na escola a primazia é o processo educativo

contextualizado. Os caracteres que diferenciam esse profissional dos demais membros da

equipe escolar vão sendo definidos paulatinamente a partir dessa delimitação da área de

atuação e o Orientador Educacional vai conquistando seu espaço.

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A prática abriga ainda muitas condições, mas, estas serão resolvidas e novas

contradições surgirão porque Orientar é uma atividade que, como todas as outras, existe

historicamente influenciando e sendo influenciada.

Fica patente que a formação do Orientador Educacional ainda não lhes fornece a base

ideal na construção de sua ação e parte da culpa cabe a jornada histórica na própria

Orientação, mas outra parte parece inserir-se nos próprios cursos de graduação na área. Esse é

um tema relevante a ser pesquisado pois poderá fornecer contribuições importantes para

melhorias nesse aspecto.

Para contribuir para a redução do impacto desta e de outras dificuldades encontradas

na prática da Orientação Educacional é necessário que haja disposição para organizar um

trabalho coletivo entre os profissionais da área, no município, criando espaço para debates,

críticas, sugestões e contribuições.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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