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1 Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador Coordenação de Vigilância em Saúde Ambiental Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano Orientações Técnicas para o Monitoramento ambiental do Vibrio cholerae Brasília, 2014

Orientações Técnicas para o Monitoramento ambiental do ...portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/outubro/23/Orienta... · (Rahman et al., 2008; Lutz et al., 2013). ... Considerando

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Ministério da Saúde

Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador

Coordenação de Vigilância em Saúde Ambiental Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano

Orientações Técnicas para o Monitoramento

ambiental do Vibrio cholerae

Brasília, 2014

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©2014 Ministério da Saúde. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada à fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica.

Elaboração e edição MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador – DSAST Organização: Coordenação-Geral de Vigilância em Saúde Ambiental – CGVAM/SVS/MS

Endereço SCS Quadra 4 Bloco A – 5º andar CEP: 70.304-000 Brasília/DF E-mail: [email protected] Equipe de Elaboração Camila Vicente Bonfim Daniela Buosi Rohlfs Fernanda Barbosa de Queiroz Mariely H. Barbosa Daniel Colaboradores Dália dos Prazeres Rodrigues Danielle Mendonça Ferreira Elayse Maria Hachich Fernando Gilberto Fialho Kappke Karina Ribeiro Leite Jardim Cavalcante Lucia Helena Berto Maria Inês Zanoli Sato Mara Lucia Tiba Soeiro Rejane Maria de Souza Alves Sonia Mara Linhares de Almeida

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Sumário

1. Introdução.................................................................................................................. 4

2. Motivação para a realização do Monitoramento Ambiental do Vibrio cholerae. ..... 6

3. Objetivos ................................................................................................................... 7

3.1. Objetivo Geral ....................................................................................................... 7

3.2. Objetivos Específicos ............................................................................................ 8

4. Avaliação de Riscos à Saúde ..................................................................................... 8

5. Estratégias para a realização do Monitoramento Ambiental do V. cholerae O1 e O139 ............................................................................................................................. 9

5.1. Definição de pontos de coleta .............................................................................. 10

5.2. Número de amostras e Frequência da amostragem ............................................. 11

5.3. Metodologias para coleta e análise laboratorial .................................................. 13

5.4. Estrutura mínima laboratorial .............................................................................. 15

6. Ações a serem desencadeadas quando detectadas amostras positivas .................... 15

7. Referências Bibliográficas ...................................................................................... 18

8. Anexo. ..................................................................................................................... 20

Fluxo das ações a serem desenvolvidas a partir da identificação de Vibrio cholerae no ambiente. ........................................................................................................................ 20

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1. Introdução

O Vibrio cholerae, agente etiológico causador da cólera, é uma bactéria gram negativa

autóctone do ambiente marinho e é encontrada em uma vasta região geográfica dos

trópicos. Já foram demonstradas associações desta bactéria com copépodes

(crustáceos), algas e diversos alimentos marinhos, sendo as ostras os principais vetores

(Maheshwari et. al, 2011).

A espécie V. cholerae é classificada em sorogrupos, sendo que os sorogrupos O1 e

O139 podem causar epidemias devido à possibilidade de adquirirem fatores

associados à virulência (ou toxigenicidade) como: a toxina colérica (CT), responsável

pela diarreia severa, e o fator de colonização conhecido como toxina co-regulatória do

tipo Pilus (TCP), que é responsável pela adesão na mucosa do intestino humano

(Rahman et al., 2008; Lutz et al., 2013).

Estes fatores de virulência podem ser adquiridos por meio de processos conhecidos

como transferência lateral de genes, que ocorrem no meio aquático (Chakraborty et

al., 2000), e por meio de bacteriófagos lisogênicos filamentosos, conhecidos como

fagos, que podem infectar células de V. cholerae não toxigênicas, levando o

surgimento de novas cepas toxigênicas (Faruque e Mekalanos, 2012).

Segundo a International Commission on Microbiological Specification for Foods

(ICMSF, 1996), a temperatura ótima para o crescimento do V. cholerae O1 é 37°C, no

entanto, é possível identificar o crescimento da bactéria na faixa de 10° a 43°C. O pH

ótimo é de 7,6, mas pode crescer numa faixa de 5,0 a 9,6. O crescimento também

pode ocorrer numa variação de salinidade de 0,1 a 4,0% de cloreto de sódio (NaCl),

com crescimento ótimo em 0,5% de NaCl, embora não requeira a presença de NaCl

para crescimento (Vital et al., 2007)

Estudo realizado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB,

em convênio com a Organização Mundial de Saúde - OMS, demonstrou que a

sobrevivência do V.cholerae em água do mar variou entre 6 e 26 dias, em água doce de

6 e 19 dias e em esgoto de 5 e 12 dias (Sato et al., 1995).

5

A dose infectante para a manifestação clínica varia de acordo com a via de

transmissão, sendo de 10³ a 106 relacionado à ingestão de água com células de

V.cholerae e sendo de 10² a 106 quando ingeridos alimentos contendo o

microrganismo (Handa et al., 2007). De acordo com o Guia de Bolso de Doenças

Infecciosas e Parasitárias (BRASIL, 2010), a susceptibilidade é variável, sendo que o

risco de adoecer pode ser aumentado por fatores que diminuem a acidez gástrica.

A persistência da doença é facilitada pelos indivíduos infectados que eliminam o Vibrio

cholerae no ambiente durante o período entre uma e duas semanas, pela elevada

proporção de infecção assintomática e pela curta imunidade pós-infecção, o que

possibilita frequentes (re)infecções dos indivíduos. Além disso, os portadores

assintomáticos podem introduzir epidemias em locais indenes, bem como manter o V.

cholerae em circulação no ambiente (BRASIL, 2008).

No Brasil, ocorreu epidemia de cólera entre os anos 1991 e 2001, atingindo todas as

suas regiões e totalizando 168.598 casos e 2.035 óbitos. Estas ocorrências foram

concentradas principalmente na região Nordeste do país. Em 1993, ocorreu o maior

número de casos relacionados à epidemia, sendo registrado um coeficiente de

incidência de 39,81/100.000 habitantes e 670 óbitos (BRASIL, 2008). Após este período

houve uma importante redução no número de casos.

Em 2001 foram registrados sete (7) casos confirmados, e, em 2002 e 2003, não foram

detectados casos. No ano de 2004, foram registrados vinte e um (21) casos

confirmados no município de São Bento do Una/PE. Os últimos casos autóctones

foram diagnosticados em 2005, também no estado de Pernambuco, sendo quatro (4)

casos em São Bento do Una e um (1) caso em Recife/PE.

No ano de 2006 foi notificado, em Brasília/DF, um caso importado da Angola e, em

2011, o município de São Paulo/SP, registrou um caso importado da República

Dominicana, demonstrando assim a possibilidade de reintrodução da doença no país.

A Organização Mundial de Saúde - OMS vem registrando o aumento de casos de cólera

no mundo desde 2006. Na América Latina, o Haiti encontra-se em situação de

epidemia de cólera, após a ocorrência, em 2010, de um terremoto no país. No período

6

de outubro de 2010 a junho de 2014 foram registrados 703.510 casos da doença e

8.562 óbitos.

Após a ocorrência de epidemia no Haiti, outros países da América Latina também

registraram casos da doença. A República Dominicana registrou, de novembro de 2010

a 2014, 31.628 casos suspeitos de cólera, com 471 óbitos. No México foram registados,

no período de setembro de 2013 a junho de 2014, 1 óbito e 190 casos de cólera por V

cholerae O1. (Atualização Epidemiológica OMS de 27/6/2014). Conforme Atualização

Epidemiológica OMS de 20/3/2014, Cuba registrou 701 casos confirmados de cólera,

de 2012 a início de 2014.

É importante salientar que iniciativas relacionadas aos serviços de saneamento básico

vem contribuindo para a melhoria do quadro epidemiológico vivenciado pelos países

da América Latina. No Brasil, observa-se que, ao longo dos anos, ocorreu um avanço na

prestação dos serviços de saneamento oferecidos à população, conforme demonstra a

Pesquisa Nacional de Saneamento - PNSB, realizada no ano 2008 pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010). Dentre os componentes do

saneamento básico, destaca-se que o esgotamento sanitário, constituído por coleta e

tratamento dos efluentes, bem como a garantia do fornecimento de água para

consumo humano de qualidade e em quantidade suficiente, minimizam os riscos de

transmissão da cólera.

2. Motivação para a realização do Monitoramento Ambiental do Vibrio cholerae.

De acordo com o Regulamento Sanitário Internacional (OMS, 2005), cada país deverá

desenvolver, fortalecer e manter a capacidade para detectar, avaliar e notificar

eventos, além de determinar rapidamente as medidas de controle necessárias para

evitar a propagação nacional e internacional de doenças.

Desta forma, o monitoramento ambiental rotineiro do V.cholerae em pontos

estratégicos, além de estabelecer uma vigilância ativa da circulação do patógeno,

mantém toda a rede laboratorial e de vigilância em alerta e preparada para uma

possível emergência em saúde pública, como a reintrodução da cólera.

7

A detecção da circulação do V. cholerae no meio ambiente serve de alerta para

direcionar a atuação da Vigilância em Saúde em tempo oportuno, com o intuito de

evitar a disseminação do patógeno e a propagação da doença no país.

Os achados do monitoramento ambiental do V. cholerae ainda permitem sensibilizar

as áreas de assistência à saúde para que estas se preparem, antecipadamente, visando

oferecer à população o atendimento adequado, caso ocorram episódios da doença.

Além disso, a detecção do V. cholerae no ambiente é um indicativo de áreas

vulneráveis que necessitam da adoção de ações preventivas para a não ocorrência de

surto de cólera, como melhorias no setor saneamento. As melhorias sanitárias

precisam ser planejadas adequadamente, pois demandam maiores prazos para sua

conclusão.

Ademais, durante um possível surto de cólera, o monitoramento ambiental do

V.cholerae O1 e O139 torna-se importante para o desencadeamento das ações de

prevenção e controle da doença em tempo oportuno, por permitir a rastreabilidade e

delimitação do patógeno, impedindo sua disseminação e, consequentemente, a

propagação da doença.

Assim, este documento, visa apresentar aspectos sobre o monitoramento ambiental

rotineiro do Vibrio cholerae O1 e O139 para avaliar, previamente, a possibilidade de

entrada e circulação do patógeno no ambiente.

3. Objetivos

3.1. Objetivo Geral

O monitoramento ambiental de Vibrio cholerae O1 e O139 tem como objetivo detectar

em tempo oportuno a circulação destes patógenos, para subsidiar a tomada de

decisão e adotar as medidas de prevenção e controle da ocorrência de cólera.

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3.2. Objetivos Específicos

- Mapear o (s) local (ais) com identificação/isolamento/detecção do Vibrio cholerae O1

e O139 no meio ambiente;

- Identificar e monitorar áreas vulneráveis para a transmissão da doença;

- Subsidiar as ações da vigilância epidemiológica nas áreas de risco;

- Aprimorar a notificação e a análise comportamental das doenças diarreicas agudas,

conforme a Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas – MDDA;

- Contribuir com o setor saneamento para direcionamento das ações nas áreas

prioritárias;

- Potencializar a capacidade básica de resposta, com base no Regulamento Sanitário

Internacional - RSI.

4. Avaliação de Riscos à Saúde

A avaliação dos impactos da qualidade da água na saúde é uma ferramenta importante

no planejamento e desenvolvimento de políticas públicas apropriadas para proteção e

promoção da saúde. As ferramentas de avaliação de risco estão sendo cada vez mais

utilizadas como ferramentas científicas para o gerenciamento de risco.

Nesta avaliação, deve-se considerar:

a. Identificação do perigo, que envolve a determinação dos efeitos adversos

(potenciais ou conhecidos) associados a um agente particular.

b. Caracterização do perigo, que envolve a avaliação quantitativa e qualitativa da

natureza dos efeitos adversos associados ao agente biológico que pode estar

presente, inclusive a verificação da dose-resposta.

c. Avaliação da exposição, que implica na avaliação quantitativa e qualitativa do

grau de entrada que este pode ocorrer.

9

d. Caracterização do risco, onde a integração dos itens a cima pode fornecer

informações para estimar os efeitos adversos que podem ocorrer em uma

determinada população.

Deste modo, a OMS caracteriza como perigo a presença do V.cholerae O1 e O139 por

serem os únicos causadores da cólera. Além disso, o Vibrio toxigênico circulante no

meio aquático é um fator de risco para o desencadeamento de surtos de cólera com

dose-resposta já definida (FAO/WHO, 2005).

5. Estratégias para a realização do Monitoramento Ambiental do V.

cholerae O1 e O139

Considerando a dimensão continental do Brasil, sua extensa região de fronteira com

outros países, a existência de áreas litorâneas, bem como as peculiaridades regionais,

torna-se mais eficiente o monitoramento ambiental do V.cholerae quando

desenvolvido de forma estratégica para privilegiar a avaliação do risco à saúde.

Dessa forma, inicialmente sugere-se a classificação dos municípios de acordo com a

sua vulnerabilidade para a introdução ou reintrodução da cólera. Os principais critérios

a serem observados para a seleção de municípios mais vulneráveis serão apresentados

a seguir, porém outros poderão ser incorporados considerando as particularidades

locais:

• Municípios que possuem fronteiras com países endêmicos ou, mesmo,

recebem imigrantes de áreas endêmicas são considerados como portas

de entrada do V.cholerae para a reintrodução da doença no país. Os

casos importados de países epidêmicos devem ser rapidamente

diagnosticados e tratados para impedir a disseminação da doença.

• Municípios que possuem elementos favoráveis à transmissão da

doença, ou seja, aqueles que possuem locais onde já foram isolados o V.

cholerae.

10

Cabe esclarecer que após a classificação dos municípios mais vulneráveis, deve ser

implantada nestes locais a vigilância ativa, ou seja, aquela que possui o

monitoramento semanal dos pontos de coletas de amostras, permitindo, assim, a

vigilância constante da possível presença do vibrio no ambiente. Nos demais

municípios sugere-se o desenvolvimento da vigilância sentinela, que possui uma

frequência amostral com maior intervalo de tempo entre a coleta das amostras, porém

mantém o setor saúde em alerta para uma possível reintrodução da doença no país.

5.1. Definição de pontos de coleta

A definição de pontos para o monitoramento do V.cholerae O1 e O139 é de

fundamental importância. Estes pontos devem ser representativos para determinar a

presença do V. cholerae no território.

Orienta-se que sejam contemplados todos ou parte dos critérios listados a seguir, bem

como poderão ser incorporados outros critérios em função das especificidades locais.

Considera-se estratégico a priorização da coleta de amostras de efluentes de esgoto

não tratados para a detecção da presença do V.cholerae O1 e O139, tanto no

monitoramento de rotina como em períodos epidêmicos, devido à concentração e

tempo de permanência do patógeno neste meio.

Os principais critérios para definição de pontos de coleta são:

a. Locais com grande trânsito de turistas/viajantes, como fronteiras,

portos, aeroportos e rodoviárias: definir pontos estratégicos dos

efluentes de esgoto que recebam contribuintes tanto dos esgotamentos

sanitários dos terminais como dos aviões, no caso de aeroportos, de

ônibus, em rodoviárias, e água de lastro, no caso de portos.

b. Abrigos para caminhoneiros, viajantes ou imigrantes provenientes de

áreas e ou países em epidemia: definir pontos estratégicos dos

efluentes de esgoto que recebam contribuintes dos esgotamentos

sanitários destes locais.

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c. Áreas de despejo de efluentes de esgoto doméstico que atendam

parcela significativa da população, como estações de tratamento de

esgoto ou percursos d´água.

A partir da suspeita de casos clínicos, de achados ambientais ou de algum indicativo

epidemiológico, é importante que a vigilância em saúde remodele o mapa de

amostragem, ou determine novos pontos de coleta, para averiguar a área de

circulação do micro-organismo.

Em situação de surto de cólera, cabe à vigilância em saúde definir os locais estratégicos

para a coleta, conforme a notificação e a busca ativa de casos suspeitos, para delimitar

a área de circulação do patógeno.

5.2. Número de amostras e Frequência da amostragem

Após a definição dos pontos de coleta, a frequência da amostragem contribui para a

detecção e isolamento do patógeno caso ele esteja presente em uma determinada

localidade.

A frequência da amostragem do monitoramento ambiental será diferenciada de

acordo com a categorização do município, conforme orientado no item 5. Estratégias

para a realização do Monitoramento Ambiental do V. cholerae O1 e O139. Dessa

forma, os municípios elencados como mais vulneráveis, devem realizar a Vigilância

Ativa, enquanto os demais municípios podem realizar a Vigilância Sentinela.

Assim, haverá duas frequências distintas para o monitoramento ambiental do V.

cholerae (Tabela 1), a depender da vigilância a ser aplicada no município (ativa ou

sentinela). Salienta-se que independente da vigilância selecionada, a técnica de

Moore, que utiliza uma mecha para coleta de amostra, é a metodologia indicada para

o monitoramento. Tal metodologia será descrita à frente.

12

Tabela 1: Plano de Amostragem para o monitoramento ambiental do Vibrio cholerae

em cada ponto de coleta.

Tipo de Vigilância Quantitativo de

amostra/período

Tempo de

permanência da

mecha no

ambiente

Observação

Vigilância Ativa 1 amostra/semana 7 dias

Ao retirar uma mecha coloca-se imediatamente

outra no ponto de coleta, assim, realiza-se uma

varredura completa ao longo do tempo,

permitindo uma vigilância constante

do local.

Vigilância Sentinela 1 amostra/mês1 3 - 7 dias -

1 O quantitativo e a frequência de amostragem poderá ser reduzida, tendo em vista os restritos fatores de risco relacionados à presença do V.cholerae no município.

Quando detectadas amostras positivas para o V.cholerae O1 ou O139, tanto na

Vigilância Ativa quanto na Vigilância Sentinela, a frequência do monitoramento deverá

ser ampliada, conforme estabelecido na Tabela 2. Desta forma, a frequência de

monitoramento será semanal, coletando-se duas amostras a cada semana. Além disso,

deve ser avaliada a possibilidade de definição de novos pontos de coleta, como forma

de mapear outras áreas vulneráveis no território.

13

Tabela 2: Plano de Amostragem para o monitoramento ambiental do Vibrio cholerae,

em caso de amostras positivas.

Tipo de

Vigilância Quantitativo de

amostra/período

Tempo de

permanência

da mecha no

ambiente

Observação

Vigilância

Ativa 2

amostras/semana 3 dias

A frequência e o número de amostras deverão ser ampliados,

com o intuito de avaliar a circulação e permanência microrganismo no

ambiente em tempo oportuno.

5.3. Metodologias para coleta e análise laboratorial

a. Coleta de Amostras

A metodologia de coleta indicada para o monitoramento do V.cholerae no ambiente é

o Método de Moore descrita no Guia Nacional de Coleta e Preservação de Amostras da

Agência Nacional de Águas. A técnica de Moore consiste em um pedaço de gaze estéril

dobrado, chamado de mecha, preso a um fio de arame (ou náilon) que permanece

imerso na amostra de esgoto ou de água durante um determinado período, conforme

o plano de amostragem determinado (Brandão et al., 2011).

A mecha é confeccionada em tecido de crepe ou gaze esterilizada, que deve ser

dobrada cinco vezes, mantendo as dimensões de 23 cm de largura x 46 cm de

comprimento em cada dobra. A partir da base inferior de 23 cm, cortam-se 5 tiras de

4,5 cm de largura e 36 cm de comprimento, deixando-se 10 cm livres na parte superior

sem cortar, onde será fixado o fio de náilon para servir de suporte para a mecha.

A metragem do fio de náilon utilizada deverá ser determinada de acordo com a

profundidade do ponto de coleta a ser amostrado, garantindo que a mesma fique

totalmente imersa. Para as coletas em rios, represas ou córregos, as mechas deverão

possuir em seu interior um peso fixado, para facilitar a imersão da mesma. Embrulhar

em papel “kraft” e autoclavar a 121ºC durante 15 minutos.

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Procedimento de coleta (Brandão et al., 2011):

- Imergir a mecha no ponto de coleta, amarrando previamente o seu fio de

náilon em local seguro;

- Deixar a mecha no local por um período, conforme orientações descritas no

item 5.2. Número de amostras e Frequência da amostragem deste documento;

- Retirar a mecha, colocando-a em um saco plástico esterilizado contendo meio

de transporte indicado pelo laboratório;

- Identificar a amostra com os dados do ponto de coleta, responsável e data da

coleta, dentre outros;

- Acondicionar e transportar a amostra em caixa térmica, sob refrigeração;

- Iniciar a análise no prazo máximo de 72h.

É importante ressaltar que para a amostragem de efluentes de esgoto, os responsáveis

pelas coletas devem utilizar equipamentos de proteção individual – EPI adequados.

b. Análise laboratorial de Amostras

A técnica laboratorial utilizada para a análise de amostras do V.cholerae é a cultura de

enriquecimento e isolamento, com provas bioquímicas e sorológicas (aglutinação), de

acordo com as normas preconizadas pela OMS.

Quando detectadas amostras positivas para V.cholerae O1 ou O139, o laboratório que

realizou a análise, sendo preferencialmente o Laboratório de Saúde Pública do Estado

– Lacen, deve encaminhar as amostras para o laboratório de Referencia Nacional, a

Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz do Rio de Janeiro, para realização das análises de

confirmação e toxigenicidade, por biologia molecular.

Vale destacar que os laboratórios devem garantir a liberação de resultados em tempo

oportuno para o desencadeamento das ações pertinentes.

15

5.4. Estrutura mínima laboratorial

A estrutura laboratorial necessária para a realização das análises para triagem e

identificação do Vibrio cholerae é a mesma de um laboratório básico de bacteriologia.

De acordo com a Norma Técnica da Cetesb nº L5.507 (Cetesb, 1992), os equipamentos

laboratoriais necessários para a realização do monitoramento ambiental do V.

cholerae são:

1. Balança

2. Banho-maria

3. Destilador de água ou aparelho de deionização

4. Autoclave

5. Estufa de esterilização

6. Incubadora bacteriológica termostatizada

7. Medidor de pH

8. Refrigerador

O laboratório de referência da FioCruz é o responsável pelas análises de identificação

dos genes de virulência. Para tanto, é provido de equipamentos da área de biologia

molecular.

6. Ações a serem desencadeadas quando detectadas amostras

positivas

6.1. Ações intrasetoriais

Para o controle e prevenção da cólera é necessária a realização de ações integradas entre as áreas de Vigilância em Saúde e a rede de Atenção à Saúde, com fluxo de informações bem definido e coordenado, para evitar a ocorrência de casos da doença ou mesmo a disseminação do V.cholerae no território. Quando detectadas amostras positivas para o V. cholerae, é importante o estabelecimento de fluxo de comunicação entre as áreas da vigilância em saúde e as esferas de governo para o devido acompanhamento e monitoramento do evento, bem como o desenvolvimento de ações, conforme as citadas a seguir. Reforça-se que, além dessas ações, outras podem ser incorporadas.

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Vigilância da qualidade da água para consumo humano

- ampliação e o direcionamento do plano de amostragem de coleta de

amostras, para identificar novos pontos de circulação do vibrio no ambiente;

- aumentar a frequência de coleta, para acompanhar a permanência do

patógeno no meio;

- intensificação o monitoramento da qualidade da água para consumo humano

nas áreas vulneráveis;

- realização de inspeção sanitária nas formas de abastecimento de água que

abastecem as áreas vulneráveis;

- orientar o responsável pelo fornecimento de água sobre as medidas corretivas

a serem adotadas em caso de identificação ou situações de risco à saúde

relacionado ao abastecimento de água;

- orientar a população sobre os cuidados básicos para o manuseio

intradomiciliar da água.

Vigilância Epidemiológica

- realizar busca ativa de casos de diarreia em domicílios no entorno do ponto

de coleta da amostra positiva;

- coletar material clínico dos casos suspeitos e encaminhar para o

acompanhamento da assistência à saúde;

- aprimorar a análise do comportamento das doenças diarreicas agudas

seguindo o que normatiza a Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas –

MDDA;

- sensibilizar os serviços de saúde sobre a importância da notificação;

17

- orientar ao hospital e/ou serviço de emergência para Intensificar a coleta de

amostras clínicas (fezes in natura e swab retal) em todos os casos de diarreia

com desidratação grave e encaminhar com acondicionamento adequado para o

laboratório;

- propor novos pontos de coleta ambiental, quando necessário, em articulação

com a vigilância da qualidade da água para consumo humano;

- harmonizar, com a vigilância em saúde ambiental e atenção básica, as ações

de monitoramento da área e a distribuição de frascos da solução de hipoclorito

de sódio a 2,5% para as comunidades sem abastecimento de água para

consumo humana adequado.

- articular com atenção básica a distribuição e orientação do uso de sais de

reidratação oral.

6.2. Ações intersetoriais

A articulação intersetorial, com outros órgãos como meio ambiente, recursos hídricos

e saneamento também é essencial para garantir a prevenção e controle da cólera.

Destaca-se a importância de articulação com o setor saneamento para assegurar o

abastecimento adequado à população, bem como o tratamento de efluentes de

esgoto.

Ressalta-se que o poder público municipal deve garantir o acesso à água de qualidade

para a população exposta a qualquer tempo e realizar a comunicação do risco a

população, incentivando e orientando sobre os cuidados básicos de prevenção e

higiene.

18

7. Referências Bibliográficas

1. BRANDÃO, C. J. et al. Preparo e esterilização da mecha para ensaios de patógenos

(Técnica de Moore). In: Guia Nacional de Coleta e Preservação de Amostras: água,

sedimento, comunidades aquáticas e efluentes líquidos. São Paulo: CETESB; Brasília:

ANA, 2011. cap. 3, p. 63-64; cap. 6, p. 147.

2. Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). Isolamento e identificação de

Vibrio cholerae em água e esgoto - Norma Técnica Cetesb – L5.507. Fev/1992. 55p.

3. CHAKRABORTY, S.; MUKHOPADHYAY, A. K.; GHOSH, A. N.; MITRA, R.; SHIMADA, T.;

YAMASAKI, S.; FARUQUE, S. M.; TAKEDA, Y.; COLWELL, R. R.; NAIR, G. B. Virulence genes

in environmental strains of Vibrio cholerae. Appl. Environ. Microbiol., Vol. 66, N. 9, p.

4022-4028, 2000.

4. FARUQUE, S. M. & MEKALANOS, J. J. Phage-bacterial interactions in the evolution of

toxigenic Vibrio cholerae. Virulence 3:7, 1–10, 2012.

5. Food and Agriculture Organization of United Nation (FAO) & Word Health Organization

(WHO). Risk assessment of choleragenic Vivrio cholerae O1 and O139 in warm water

shrimps for international trade: interpretative summary and technical report.

Microbiological Risk Assessment Series nº 9. FAO / WHO 2005.

6. HANDA, S. Cholerae. http://emedicine.medscape.com/article/962643-overview#a0104.

Acesso em 25/07/2014.

7. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional de

Saneamento. Brasil, 2010.

8. INTERNATIONAL COMIMSSION ON MICROBIOLOGICAL SPECIFICATION FOR FOODS

(ICMSF). Microorganisms in Food5: Microbiological Specificatios of Pathogens. Blackie

Academic and Professional, New York. 1996.

9. LUTZ, C.; ERKEN, M.; NOORIAN, P.; SUN, S.; DOUGALD, D.M. Environmental reservoirs

and mechanisms of persistence of Vibrio cholerae. Frontiers in Microbiology, Vol.4,

Art.375, 2013.

10. MAHESHWARI, M.; NELAPATI, K.; KIRANMAYI B.; VIBRIO CHOLERAE - A Review.

Veterinary World, Vol.4 No.9, p.423 - 428, 2011.

11. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual Integrado de Vigilância Epidemiológica da Cólera.

2ºEdição. Brasil, 2008.

12. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de bolso de Doenças Infecciosas e parasitárias. Brasil 2010.

13. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Regulamento Sanitário Internacional. Versão em

Português pela Agencia de Vigilância Sanitária e publicada no Diário Oficial da União em

10/07/2009.

14. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Atualização Epidemiológica de 20/03/2014.

15. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Atualização Epidemiológica de 27/06/2014.

16. RAHMAN, M. H.; BISWAS, K.; HOSSAIN, M. A.; SACK, R. B.; MEKALANOS, J. J.; FARUQUE,

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17. SATO, M. I. Z. ; SANCHEZ, P S ; RIVERA, I. V. ; MARTINS, M. T. . Survival of culturable V

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19

18. VITAL, M; FÜCHSLIN, H.P.; HAMMES, F.; EGLI, T. Growth of Vibrio cholerae O1 Ogawa

Eltor in freshwater. Microbiology, 153(7): 1993-2001, 2007).

20

8. Anexo.

Fluxo das ações a serem desenvolvidas a partir da identificação de Vibrio cholerae no

ambiente.