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ALMANAQUE

No dia 1º de setembro de 1969, às 19h45, Hilton Gomes e Cid Moreira apresentavam a primeira edição do Jornal Nacio-nal, na TV Globo. Criado para competir com o Repórter Esso, da TV Tupi, foi o primeiro programa de televisão transmitido em rede para todo o Brasil.

O programa foi anunciado como "O Jornal Nacional, da Rede Globo, um serviço de notícias integrando o Brasil novo, inaugura-se neste momento: imagem e som de todo o país". O principal assunto do dia da estreia no “JN” era um proble-ma de saúde do então presidente Costa e Silva. Por causa da ditadura militar, o assunto foi censurado. Após negociação, a notícia foi ao ar sem transmissão de imagens.

Em suas cinco décadas, foi o mais influente programa de jornalismo da TV brasileira, a ponto de muitos telespectado-res chegarem a responder o tradicional “boa noite” falado após o encerramento do noticiário. Além de Cid Moreira e Hilton Gomes, passaram pela sua bancada nomes como Ser-gio Chapelin, Celso Freitas, Lilian Witte Fibe, Fátima Bernar-des, Patrícia Poeta. Hoje, o “JN” é apresentado por William Bonner e Renata Vasconcellos

As relações entre o jornalismo e as grandes empresas tabagistas é o principal tema de The Insider (no Brasil, O Informante), um filme dirigido por Michael Mann, em 1999. O roteiro é uma adaptação do artigo “O homem que sabia demais”, de Marie Brenner, para a revista Vanity Fair.Uma versão ficcional de uma história verdadeira, o filme é baseado na edição do programa 60 Minutos, da CBS, sobre Jeffrey Wigand (interpretado por Russell Crowe), que denunciou a adição de produtos químicos proibidos em cigarros da empresa Brown & Williamson. A história cobre os desafios enfrentados por Wigand e pelo produtor da CBS Lowell Bergman (Al Pacino), enquanto eles defendem seu testemunho contra esforços para desacreditá-lo e suprimi-lo feitos pela CBS e pela indústria do tabaco.

O INFORMANTE

OS 50 ANOS DO JORNAL NACIONAL

“Onde a imprensa é livre, e toda

pessoa pode ler, tudo está seguro”.

Winston Churchill (1874 - 1965)

“Liberdade de imprensa, se tiver qualquer signifi-

cado, significa a liberdade para criticar e se oporOscar Wilde (1854 - 1900)

“Liberdade de imprensa não é apenas importan-te para a democracia. Ela é democracia.”Walter Cronkite (1916 - 2009)

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SUMÁRIO

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Almanaque

Mix

Aquário

Os finalistas do Prêmio Press 2019

Rádio Press e o lançamento de novos conteúdos

Entrevista: Leonardo Meneghetti

Matéria de Capa: Jornalismo no interior

Grandes Nomes: Lima Barreto

Coluna do Tibério Vargas

Opinião: Mário Rocha

Galeria: A coletiva que mudou o mundo

Sumário

Diretor-GeralJULIO RIBEIRO

Diretora-ExecutivaNELCI GUADAGNIN

Textos:MARCELO BELEDELI

Diagramação/ Arte Final ESPARTA PROPAGANDA

Imagens:Fotografias da entrevista:Jefferson Bernardes/Agência Preview

[email protected]

ImpressãoCOMUNICAÇÃO IMPRESSA

ComercializaçãoPORTO ALEGRE: (51) 3231 8181e (51) 99971 5805 comNELCI GUADAGNIN

PRESS e ADVERTISING SÃO PUBLICAÇÕES MENSAIS DA ATHOS EDITORA, COM CIRCULAÇÃO NACIONAL, SOBRE OS MERCADOS DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA BRASILEIROS. OS ARTIGOS ASSINADOS E OPINIÕES EMITIDAS POR FONTES NÃO REPRESENTAM, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO DA REVISTA.

RUA SALDANHA MARINHO, 82 PORTO ALEGRE - RSCEP 90160-240 FONE/FAX (51) 3231 8181

[email protected]

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Após 85 anos de atividade, o jor-nal DCI - Diário Comércio, Indústria e Serviços, especializado na cobertura econômica, deixou de circular no dia 23 de setembro. A publicação, fun-dada em 1934, fazia parte do grupo Sol Panamby, pertencente à famí-lia do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, morto em 2010. O grupo também tem investimentos em agronegócio e varejo, além de rádios e emissoras de televisão. O jornal funcionava com estrutura en-xuta desde dezembro do ano passa-do, quando demitiu metade de sua equipe editorial. Atualmente, manti-nha 12 jornalistas e 17 pessoas no se-tor administrativo.

DCI deixa de circular

GLOBO APRESENTA SUA PRIMEIRA ÂNCORA DIGITAL

O Google anunciou uma alteração em seu algoritmo de busca para identificar as reportagens originais, destacá--las e mantê-las por mais tempo no topo dos resultados. A mudança, segundo a empresa, permitirá uma espécie de rastreamento da informação. Leitores interessados nas últimas notícias poderão encontrar também a maté-ria que deu origem à cobertura subsequente.

A Globo apresentou, em Amsterdã, na Holanda, durante o International Broadcasting Convention IBC, uma das maiores feiras de tecnologia de comunicação do mundo, a Aida, primeira âncora virtual da emissora. A tecnologia utilizada geração de texto automática em linguagem na-tural através de inteligência artificial, técnica já usada pela empresa em 2018 para cobertura jornalística das eleições e de esportes. A âncora virtual conta ainda com processos de síntese de voz e animação, podendo apresentar diferentes

tons de linguagem – coloquial ou formal – e cenários.

GOOGLE QUER DESTACAR CONTEÚDO JORNALÍSTICO ORIGINAL

YOUTUBE TOMA MEDIDAS CONTRA FAKE NEWS

MIX

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indicado ao Oscar. Não por acaso, o Prêmio Press foi sendo chamado, carinhosamente, ao longo dos anos, como o “Oscar da Imprensa Gaúcha”.

No dia 11 de novembro, ao festejar-mos os 20 anos do Prêmio Press, esta-remos festejando o vigor, a relevân-cia e a qualidade da imprensa do Rio Grande do Sul. O conceito escolhido para o material de divulgação desta edição diz: “Prêmio Press, 20 anos re-verenciando o passado e apostando no futuro”. Ele retrata, com fidelida-de, o objetivo e a missão dessa inicia-tiva da revista Press, e dela própria, quando surgiu no ano 2.000.

Um exemplo disso é que o esco-lhido para receber o Troféu Sistema Fiergs —Homenagem Especial é o professor Carlos Alberto Carvalho, que ao longo de 35 anos de carreira nas duas principais faculdades de Comunicação do RS — Fabico e Fa-mecos — ajudou a formar milhares e milhares de jornalistas. É muito pro-

vável, que a esmagadora maioria dos finalistas e dos demais profissionais presentes à grande festa do Prêmio Press, tenha sido seus alunos.

Ao mesmo tempo, o Prêmio Press destina o Troféu CIEE-RS ao Estagiá-rio do Ano, numa demonstração de valorização do futuro de nossa im-prensa.

Nesses 20 anos, tivemos muitos parceiros, que ajudaram a viabilizar este prêmio. Alguns deles estão co-nosco desde sempre, como a FIERGS, o CIEEE-RS, a Assembleia Legislativa e a Krim Bureau. Neste ano, temos o orgulho de incorporarmos o pa-trocínio e o apoio de marcas como a CMPC, a CORSAN, o BADESUL, a RDC-TV e a Vinícola Aurora.

Se todo o trabalho, dedicação e preocupação com a realização de cada uma dessas 20 edições do Prê-mio Press, compensa? Bem, não há preço que pague as páginas que ajudamos a escrever na história da imprensa gaúcha. Espero ter saúde e força para os próximos 20 anos. Vo-cês vêm conosco?

REVISTA PRESS191

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O Prêmio Press está completando 20 anos. Isso, em se tratando de ini-ciativas no Brasil, e, sobretudo, no Rio Grande do Sul, é uma façanha. Duas décadas mantendo a credibili-dade, aumentando, exponencialmen-te, a participação do público leitor, ouvinte, telespectador e dos profis-sionais da imprensa gaúcha, é algo para entrar para a história.

Na primeira edição do Prêmio Press, tivemos cerca de 60 mil indi-cações, somadas as participações nos votos Popular e Profissional. Neste ano, beirando às 900 mil indicações.

Tivemos, no período de 02 de se-tembro a 20 de outubro, mais de 80 mil pessoas diferentes participando do Voto Popular e mais de 1.400 jor-nalistas indicando seus preferidos no Voto Profissional.

Não bastassem essas duas peneiras gigantes, os finalistas — os três mais votados no Profissional e os dois mais votados no Popular — passam por um terceiro filtro, formado por 60 convidados pela revista Press, en-tre autoridades, líderes de entidades, especialistas e decanos da comunica-ção do RS.

Por isso, estufamos o peito e enche-mos a boca para dizer que o Prêmio Press é, disparado, o maior e mais disputado prêmio do jornalismo bra-sileiro. Cada troféu pesa bem mais que o seu 1 kg de aço, porque ele vem ungido pelo público, pela classe jornalística e pela sociedade gaúcha como um todo, representada por suas lideranças e personalidades.

Mais que um chavão, realmen-te, ter o seu nome entre os cinco fi-nalistas do Prêmio Press já é, por si só, uma grande distinção para qual-quer um. É mais ou menos como ser

20 anos esta noite!AQUÁRIO

JULIO [email protected]

Julio Ribeiro é jornalista e publisher da Athos Editora

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Investindo em novas plataformas de comunicação, a Athos Editora lançou um novo veículo para seus diferentes públi-cos: a Rádio Press, uma rádio via internet, que pode ser aces-sada através de redes sociais (Facebook e Youtube) e serviços

de podcast como o Spotify.O canal é o mais novo investimento da editora no meio digital,

após o lançamento do Portal Press, no ano passado. “A nossa ideia é ir fazendo as coisas devagar, aprendendo com essa nova mídia, mas sempre tentando produzir conteúdo diferenciado, relevante e interessante” ressalta Julio Ribeiro, diretor geral da Athos Editora.

A primeira atração lançada na Rádio Press foi o programa de de-bates Valvulados. Apresentado por Julio Ribeiro, o programa, que vai ao ar todas as segundas e quintas-feiras, das 16h às 17h, reúne con-vidados com mais de 40 anos, que tenham acompanhado a evolução do mundo analógico para o digital. “É um espaço que fala de políti-ca, economia, futebol, comportamento, e onde são contadas muitas histórias, contextualizando o noticiário diário do Brasil e do mundo, com muita informação e bom-humor”, salienta o apresentador do programa.

Já em agosto, foi lançado o programa semanal Forever Jung, que fala de comunicação e marketing. A atração é apresentada pela jor-nalista Ana Paula Jung, profissional com mais de 20 anos de experi-ência cobrindo o mercado publicitário brasileiro e internacional e, há dois anos, colunista da revista Advertising. O programa vai ao ar sempre às terças-feiras, das 16h00 às 16h30. “Cobrimos diversos as-suntos, desde publicidade infantil e propaganda de bebida alcoólica, como os efeitos do uso exagerado das multitelas, proteção de dados no ambiente digital, festivais internacionais, criatividade, compor-tamento e muitas histórias, através de um bate papo descontraído”, destaca Ana Paula Jung.

Em 16 de outubro, mais um lançamento da Rádio Press: o programa Campo e Batom, produzido e apresentado pela jornalista Alessandra Bergmann e destinado às mulheres do agronegócio. “As mulheres estão, cada vez mais, assumindo o protagonismo no campo, na ati-vidade rural, e elas estão em busca de informação, de conteúdo que lhes ajude nas tarefas do dia-a-dia, na administração da propriedade e na qualificação de sua vida e de sua família”, salienta Alessandra. O programa Campo e Batom irá ao ar às 4ª feiras, das 16h às 16h30.

Todos os conteúdos, ao vivo e gravados, podem ser acessados pela página do Portal Press no Facebook , pelo canal da Rádio Press no Youtube (youtube.com/radiopress), pelo portal www.revistapress.com.br e no Sportify no formato podcast.

Quem desejar mandar perguntas e participações para os progra-mas pode fazê-lo pelo Whatsapp da Rádio Press: (51) 99368.5150.

Athos Editora lança novos conteúdos pela Rádio Press

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Tu ficaste dois anos em São José do Rio Preto. Imaginavas voltar, e tão cedo?

Não, tão cedo não. Mas, acho que voltar, sim. Sempre me foi dito que o meu caminho era São Paulo, eu esta-va acertado para ir pra a capital pau-lista. No dia 27 de maio, eu fui cha-mado pelo vice-presidente da Band, André Aguera, e ele me ofereceu essa função em São Paulo. Eu acei-tei, iria para lá a partir de outubro, novembro, e a minha família iria em janeiro. E aí depois esse convite foi reforçado um pouco depois das mi-nhas férias de julho. “Está tudo certo, pode começar a procurar apartamen-to”. Eu estava com o hotel reservado durante cinco dias em setembro, eu ia com a minha esposa e o meu filho mais novo para ver colégio, até tinha marcado entrevista com a coorde-nadora pedagógica. Já estava vendo apartamento para alugar, queria mo-rar no bairro do Brooklyn. E aí hou-ve essa mudança no comecinho de

que tu atuavas ali no entorno de São José do Rio Preto com o merca-do de Porto Alegre?

É incomparável. Vou explicar o que aprendi sobre essa diferença de mer-cado do Rio Grande do Sul com o inte-rior de São Paulo – e imagino que em São Paulo seja mais potencializada ainda essa diferença. Quando você chega para um empresário gaúcho — às vezes, numa agência — e apre-senta um projeto pioneiro, inovador, algo que é diferente, que sai um pou-co do padrão e fala “você vai ser o primeiro a apostar nisso”, ele diz “eu vou ser o primeiro a apostar nisso? Quem sabe vamos ver se alguém faz e depois a gente...”. Em São Paulo, quando você apresenta o mesmo pro-duto pioneiro para um empresário, e explica “esse é o projeto, é inovador, ninguém fez, nós vamos arriscar”, ele pergunta “você me garante que eu vou ser o primeiro a fazer isso?” O cara quer ser pioneiro, quer arriscar. Essa é uma diferença básica de mer-

setembro. Então, eu nunca fiz planos pra ir pra São José do Rio Preto para ficar muitos anos. Achei que eu ficas-se lá de 4 a 5 anos e depois eu iria para São Paulo.

Deu um retrocesso de expectativa voltar para Porto Alegre?

Não, porque eu tenho quase 27 anos de casa e, no momento em que vem o convite da direção dizendo que precisam de mim em Porto Ale-gre, óbvio que eu aceitei. É a minha cidade, a minha terra, gosto daqui, temos amigos, família. Então, encarei numa boa. Acho que o mundo corpo-rativo é assim, a mudança daqui para São José do Rio Preto já mostrou um pouco isso.

O interior de São Paulo é muito rico. Provavelmente, o maior mer-cado brasileiro de propaganda está na cidade de São Paulo e o segun-do maior está no interior de São Paulo. É comparável o mercado em

“Os anunciantes paulistas querem ser pioneiros,

querem projetos inovadores. Aqui no RS, há muito medo. Precisamos acabar com isso!”

Após dois anos como diretor-geral da Band Paulista, em São José do Rio Preto (SP), Leonardo Meneghetti retornou ao Rio Grande do Sul para comandar a Band RS - cargo que ocupou entre 2005 e 2017. Formado em Jornalismo pela Famecos (PUCRS), Meneghetti passou pelo Diário Catarinense, Zero Hora, Correio do Povo antes de entrar para a Bandeirantes em 1994, onde fez sua carreira. No grupo, foi repórter, apresentador, coordenador, gerente de esportes e de jornalismo e diretor de jornalismo da rádio e da TV, antes de atuar como diretor-geral. Casado com a também jornalista Lúcia Mattos, com quem tem os filhos Antônio e Valentim, Meneghetti fala que o retorno a Porto Alegre foi uma surpresa para a família, que já se preparava para uma vida em São Paulo. No entanto, a missão dada em sua cidade de origem foi bem vinda, e o gestor já encaminha novos planos para o grupo Bandeirantes no Rio Grande do Sul

LEONARDO MENEGHETTI

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Entrevista:Julio RibeiroMarcelo Beledeli

Fotos:Divulgação

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ENTREVISTA

cado. É óbvio que São José do Rio Pre-to não tem grandes marcas como tem aqui, como Zaffari, como Tramonti-na, como Colombo, como Renner... não tem esse anunciante grande, mas o negócio é mais fácil. E outra, lá o “não” é não. Se ele não gostar do teu projeto ele te diz “não é isso que eu quero”. Aqui, o cara não consegue nem te dizer o não. Ele diz “ok, vamos ver”. Lá, o cara do marketing da em-presa fala: “Meneguetti, isso aqui é bom, gostei da ideia, vê o que dá para adaptar, faz uma avaliação rápida, vamos ajustar isso, vamos adiante”, ou ele te chama e diz “não, não se en-quadra, tem que ir para um outro ca-minho”. Aqui, até o não é difícil para arrancar, é difícil para ouvir.

O que gera essa mudança? É uma questão cultural?

Acho que a gente está um pouco apartado aqui do mundo e do Brasil. Nós estamos nesse canto aqui. Uma vez perguntei para a ex-governadora Yeda Crusius por que a gente é assim. Ela me respondeu “a gente é muito li-tigante, Meneguetti, a gente teve que brigar muito pelas nossas terras no passado, com o Uruguai, Argentina. A gente é muito brigão. Nascemos um povo muito litigante, um povo ques-tionador”. E eu acrescentaria que so-mos um povo desconfiado, um povo muito desconfiado.

E o mercado da comunicação como um todo? Parece que aqui também, nesse aspecto, o mercado, as agên-cias, os anunciantes, o mercado publicitário todo também é meio travado. Tu falaste que aqui se tem medo de arriscar, mas parece que a criatividade não é mais um insu-mo aqui.

Eu acho assim, acho que nós temos boas agências, temos grandes profis-sionais de publicidade, acho que o Rio Grande do Sul é escola, mas eu acho na verdade que o que a agência está ouvindo do anunciante é uma

posição temerária, uma posição de medo, de medo se o estado vai ven-cer, de medo se o país vai conseguir superar os seus problemas, então acho que a agência reporta isso. Eu ainda acredito muito na criatividade das agências do Rio Grande do Sul. Acho que a gente tem grandes agên-cias, grandes profissionais, e eu acho que eles reportam para os veículos aquilo que estão ouvindo dos empre-sários, uma posição temerária.

Qual é a diferença do mercado que tu viste, entre o mercado de São Paulo e o resto do Brasil em termos do potencial da mídia tradicional?

A TV aberta, por exemplo, no cen-tro do país, têm uma qualificação que, dificilmente, as praças, emissoras afi-liadas ou mesmo emissoras próprias do resto do país conseguem ter. Eles têm uma capacidade de investimen-to, de produzir com qualidade que é muito difícil. Por exemplo, no Rio Grande do Sul, quais são os progra-mas gaúchos de entretenimento que têm um grande êxito? Um ou outro podem vencer a barreira e se conso-lidar. Senão dois, três, quatro, cinco anos tendem a acabar, infelizmente. No centro do país eles têm uma ca-

pacidade de investimento nesse tipo de programa. A Band teve o CQC, hoje tem o Masterchef. É um entre-tenimento gastronômico, não é um programa de jornalismo. As outras emissoras também têm programas musicais, que estão dando certo, por-que eles têm muita qualidade. É uma qualidade que tu encontras na TV a cabo. Vamos combinar que, quem cresceu nos anos 80 e 90, via progra-mas de auditório que, comparados com hoje, tinham uma qualidade terrível. Então, acho que a televisão aberta, no centro do país, conseguiu evoluir para uma qualificação que no resto do Brasil é muito difícil porque não tem verba para fazer.

O grande rival da TV aberta pa-recia ser a TV a cabo. Mas a TV a cabo está uma mesmice, está muito ruim.

Ela estagnou.

Hoje parece que o rival é o strea-ming. Tu achas que o caminho é esse? Daqui a pouco todas as emis-soras vão ter o serviço de strea-ming?

Não, não acho. Isso me lembra, tu vais lembrar que a gente ouvia falar

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LEONARDO MENEGHETTI

que o rádio estava acabando, e o rá-dio talvez hoje seja um dos veículos mais fortes, pela sua agilidade. Por-que o telefone celular botou o rádio para dentro, é um facilitador para ouvir, mesmo que tenha o problema do delay. Em São José do Rio Preto, eu queria ouvir emissoras de São Paulo ou de Porto Alegre, baixava o aplica-tivo e ficava ouvindo, uma facilidade que não tinha antes. Então acho que a TV aberta vai persistir. Vejo dificul-dades, mas se ela se qualificar, segue com potencial. É um veículo de mas-sa, grande parte da população acom-panha a TV aberta, os jovens migra-ram um pouco para o streaming, para outros concorrentes, e acho que a TV a cabo chegou um pouco no li-mite dela. A TV aberta tem uma vida longa ainda, mas tem que ter nichos. Ou seja, uma TV aberta tem que ter o seu programa diário, seu jornalis-mo, o seu esporte, novela para quem investe em novela, mas eu acho que tem que ter nichos. Esse é o caminho que a Bandeirantes quer, cada vez mais ter os seus nichos para se sus-tentar, programas qualificados para um público específico. Ela tem que ter uma pequena segmentação pelo menos em alguns horários.

E a mídia impressa?Passa por dificuldades enormes.

Isso me incomoda porque eu comecei em jornal, no Diário Catarinense, lá em Florianópolis, depois Zero Hora e Correio do Povo. A gente vê dificulda-des, os grandes jornais cada vez mais finos de anunciantes. Essa mídia vai ter que se reinventar, e não sei qual é o caminho.

Com a internet, a disputa hoje, tal-vez, nem seja pela audiência da TV, do rádio, da mídia tradicional, mas pelo tempo e espaço na cabeça do público, que passa o dia inteiro plugado...

É, mas tem algo que contrapõe um pouco isso, porque a internet ajudou

o público a ver a mídia tradicional. Por exemplo, a pessoa não viu o Mas-terchef, a internet permite que ela vá no dia seguinte, clique e veja o programa. Ela acaba ajudando nesse aspecto. Agora, ela consome tempo. E aí, quem tiver programação diferen-ciada, conteúdo competente, vai so-breviver. Acho que a internet é uma aliada da TV e do rádio. Do jornal talvez ela seja um concorrente quase desleal, ela é um concorrente severo e rigoroso da mídia impressa. Mas, da TV e do rádio, para quem tiver uma programação qualificada, ela acaba ajudando, porque as pessoas hoje es-tão vendo televisão dentro do ônibus. Quem iria imaginar isso há 30 anos?

Com essa experiência no interior de São Paulo, como é que tu vês a regionalização da TV? Várias emis-soras vêm reduzindo a quantidade de programação local.

Acho que é um caminho interes-sante. Eu acho que não precisa ter, numa grade de uma emissora de te-levisão aberta, como Porto Alegre ou São José do Rio preto, 20 programas locais. Tu podes ter menos, cinco ou seis, desde que sejam bem feitos. É melhor ter cinco ou seis rentáveis e bem feitos do que ter 20, dos quais 18 te dão prejuízo. Então, acho que o mais inteligente é isso, é focar na-quilo que é o teu DNA, ter algumas apostas, reinventar algumas coisas, mas ter foco e reduzir, não apostar na quantidade e sim na qualidade.

A Band sempre foi conhecida por dois segmentos, esporte e jorna-lismo. Parece que agora está apos-tando também nos programas de variedades. Mas, não falta apostar mais na sua identidade?

A questão dos direitos esportivos, hoje, é um absurdo, um negócio que não fecha a conta. E aí vale para a Band o que vale a nossa casa, quando o mês começa a não fechar a conta tu tens que fazer opções. Ou o sujei-

to troca de carro a cada três anos ou não sai para jantar fora 3 ou 4 vezes por semana. Os direitos de transmis-são esportiva hoje são inviáveis.

Mas o Luciano do Vale, na sua épo-ca, inventou públicos e audiên-cias novas. Por exemplo, ninguém transmitia vôlei, sinuca, stock car, boxe. Não falta isso ou já não tem mais espaço?

Acho que a Band está tentando fa-zer uma operação com o basquete pa-recida com essa. A Band fez durante anos a fórmula Indy, mas já não era mais tão fácil. Naquela época do Lu-ciano não tinha TV a cabo para trans-mitir tudo isso. Então, hoje não chega a ser uma novidade por completo. A Band está tentando recuperar o fute-bol com algumas apostas diferentes, como por exemplo o campeonato brasileiro feminino, o Sub-20, está tentando fazer algumas apostas que ainda são viáveis e projetos que pa-ram em pé. O que não pode é colocar dinheiro fora. Acho que a decisão da Band, por exemplo, de não transmitir a Copa da Rússia, foi absolutamente acertada. Não fecha a conta. E se não fecha a conta, não faz, não compro-mete a empresa. Vamos tornar sau-dável esse caixa, e como a gente faz isso? Com projetos exequíveis.

Falando como gestor que está re-assumindo a Band aqui no Rio Grande do Sul, quais são as linhas mestras para readequar o grupo, a empresa e reposicioná-la para o crescimento?

Manter aquilo que eu acho que foi bem feito, por exemplo o Sérgio Cós-sio fez um projeto legal com a equipe comercial do online, tem um traba-lho interessante da Band nas redes sociais de integração. Esse tripé — re-des sociais, departamento comercial e conteúdo — é um projeto muito exitoso. Vamos manter e aprimorar. Mas, quando troca o gestor, é que nem time de futebol quando troca o

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ENTREVISTA

treinador, ele vai colocar o dedo dele. Por exemplo, eu acho que a rádio Bandeirantes tem que ser uma rádio cada vez mais analítica. Acho que a informação está à disposição de todo mundo, então tem que ser uma rádio mais plural, com debate, com análise. Na televisão, focar um pouco no nos-so DNA, esporte e jornalismo. Ter al-guns programas de entretenimento, de outras áreas, mas talvez concen-trar mais nesse foco, esporte e jorna-lismo. E ter uma administração que eu julgo estratégica e inteligente, de custo pequeno — hoje em dia, não so-brevive quem tiver um custo alto — e tentar otimizar departamentos. Isso também foi feito aqui, eu já vinha fazendo isso. Aliás, o Bira Valdez co-meçou a fazer isso, eu dei sequência e tenho certeza que o Sérgio Cóssio, também, pensou nisso, de otimizar e integrar as redações.

O que é mais difícil, trabalhar na coluna da receita ou na coluna da despesa?

Hoje no Rio Grande do Sul, na co-luna da receita. Eu me julgo especia-lista em trabalhar a despesa. Acho que uma das poucas virtudes que eu tenho é de trabalhar a conta da des-pesa. Hoje, pela situação do nosso es-tado, é mais difícil trabalhar a conta da receita, porque ela não depende de ti. Claro, tem que ter inteligência para controlar a despesa, mas a re-ceita depende muito de um terceiro fator, que é o mercado. É preciso ser competente, ter audiência, tudo isso aí ajuda, mas a decisão final não é tua, a decisão final é de quem está do outro lado do balcão.

A Band vai sair de sua sede e se ins-talar num shopping?

A Band tem esse projeto sim, que é um sonho nosso, que há algum tem-po nós estamos fomentando, desde a minha primeira gestão. Não conse-guimos viabilizar lá atrás, mas vamos tentar fazer agora, de ir para um lu-

gar como um shopping center. Mas, esse projeto não chega a ser uma prioridade. A gente está começando a fazer algumas conversas, é um proje-to de longo prazo, não se resolve em um ano isso.

Por que essa ideia. É por causa da segurança, da concentração de pú-blico?

Eu acho que é a concentração de público. Em primeiro lugar, é um facilitador de vários aspectos. Estar dentro de um shopping é sempre uma coisa legal, eu sou fã de shop-ping center. Tu consegues fazer um monte de coisas ao mesmo tempo, até vacina para o filho tu já conse-gue dar, fazer passaporte. Mas no caso de uma emissora, pode fazer uma parceria, reduzir custo e estru-tura, e eu acho que é principalmente pela concentração. Em São José do Rio Preto estamos instalando a Band dentro de um shopping. E o rádio, a TV, tem muito isso, um pouco dessa magia, de as pessoas pararem, olha-rem. E nós vamos gerar programa dentro de um shopping, as pessoas vão parar, vão olhar. Imagina um debate eleitoral dentro de um sho-pping center. Lá nós temos uma es-trutura enxuta, uma sede lá de 700 metros quadrados, uma loja bonita, com um mezanino, e as pessoas para perguntar, interagir. Dá visibilidade, eu acho. Mas tu acabas enxugando custos, não precisa ter o custo de segurança, tem uma série de coisas que se faz com uma boa parceria com os shoppings. Nosso contrato lá é de 10 anos, renovados por mais 10, e é muito legal. Assim não precisa-mos construir uma sede.

Tu estavas em São Paulo quando aconteceu uma das coisas mais tristes do jornalismo brasileiro, a morte do Ricardo Boechat. Como foi o impacto disso?

Foi uma porrada. Eu convivia com o Boechat. Aqui em Porto Alegre a

gente trouxe ele algumas vezes para fazer eventos. O Boechat era um professor constante, mesmo que ele não quisesse e não posasse como tal. Era um cara com o qual eu sempre aprendi muito. Era o maior âncora da TV brasileira, um cara que tinha uma repercussão impressionante. Tem um aspecto que eu quero reproduzir aqui que é o seguinte: nós, da Bandei-rantes nos sentimos confortados pelo público. Eu chegava no aeroporto, encontrava algum gaúcho que sabia que eu era da Band, ou quando esta-va em São Paulo, os caras me abra-çavam, era como se eu tivesse perdi-do um parente meu. As pessoas nos confortavam, como se a gente fosse parente do Boechat. Foi uma coisa afetuosa, que eu e meus colegas sen-timos. Acho inclusive que todos nós percebemos que o Boechat era muito maior do que a gente mesmo imagi-nava. Foi muito grande o legado que ele deixou. As coisas que ele fazia, pegar o telefone, simular que estava falando com a mãe, aqueles comentá-rios jocosos e inteligentes ao mesmo tempo. Eu imagino que muitas coisas ele não tenha nem planejado, tenha feito na hora, em um telejornal, que é formal, que é mais quadrado, ele quebrava o ritmo e surpreendia. En-tão, perder esse cara...e ele foi arran-cado de nós, não foi ficando doente, ele foi arrancado. Muito, muito triste!

E aí a grande dificuldade... a pala-vra substituir acho que nem cabe, mas colocar alguém que pudesse parecer como ele, porque o público fica esperando que vai ter uma no-tícia e vai ter um comentário tipo o comentário que fazia o Boechat...

Eu falava muito isso do Claudio Cabral. Quando morreu o Claudio Ca-bral, ele quebrou o ditado de que nin-guém é insubstituível. Eu acho que o Boechat está nesse mesma linha. O Boechat é insubstituível, substituir o Boechat com as mesmas caracte-rísticas, não vai ter outro. O Claudio

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Alegre me falam muito “tem que vol-tar, tem que voltar”.

O que esperas de 2020?Estou otimista. Acho que nós, da

imprensa, temos uma leitura um pouco distorcida do que acontece no governo federal, esse “diz que me disse” dos filhos do Bolsonaro ganha mais repercussão do que as coisas realmente impactantes. Acho que a gente acaba errando isso aí na grande mídia, damos muito espa-ço para isso. Não sei se é isso o que mais interessa à dona Maria e ao seu João ou se é a Reforma Tributária, a Reforma da Previdência. Mas, eu estou otimista porque acho que as medidas que o governo está tomando são na sua grande maioria acertadas. É claro que se ele tivesse um pouco mais de tranquilidade, seria mais fácil inclusive para ter aprovação pública, o que sempre é importante. O Bolsonaro teve a primeira eleição presidencial dele, ele foi lá e ganhou, então seria legal se ele tivesse menos turbulência na cabine de comando. Mas, eu torço para o comandante. Eu quero que dê certo, como eu sempre quis, com os presidentes anteriores, que desse certo. Posso ter votado em A, B ou C, nem sempre meu candida-to se elegeu, mas eu quero que dê cer-to, o país tem que dar certo. Acho que o país já vai ter um último trimestre melhor neste ano, e depois de passar o verão, que sempre é difícil, as coi-sas começam a entrar nos trilhos. A gente não vai viver os anos de 2009 a 2012, aquele crescimento pujante, vai demorar para chegar lá.

O crescimento pode ser menos vis-toso, mas mais sustentável?

Acho que sim. Pode ter mais dura-bilidade e pode ser mais forte. Então, eu tenho um otimismo, mas não um otimismo desenfreado, de que “agora vai”. Vamos ter que ter o pé no chão, fazer o tema de casa, com planeja-mento e ir crescendo devagar.

LEONARDO MENEGHETTI

Cabral eu também acho que não vai ser substituível na mídia gaúcha, pelo menos nos próximos 20, 30 anos, pela sua capacidade de leitura e interpre-tação de jogo de uma maneira muito rápida. E assim tem outros nomes do jornalismo brasileiro, cito por exem-plo aquele que para mim é um dos maiores jornalistas do estado, que é o Lauro Quadros, pela capacidade que ele tem de improviso, por tudo que ele fez, rádio, tv, política, jornal, esporte, economia, o Lauro fala sobre tudo. E acho que o Lauro, o Cabral, o Joelmir Beting na área dele e o Boechat tão nessa linha de insubstituíveis.

Pra podermos respirar um pouco...ufa..vamos falar de futebol. Tu te arrependes de ter saído do armá-rio, de ter admitido publicamente teu time, no caso o Internacional?

Não, me arrependo de não ter saí-do antes.

Por que aqui no Rio Grande do Sul é tão difícil o pessoal sair desse ar-mário?

Porque, por exemplo, eu assumi o meu coloradismo e um mês depois o presidente do Grêmio reagiu con-tra minha empresa – não por conta disso, eu imagino, mas talvez tenha interferido. Eu fiz uma coluna no jornal Metro que o título era “Desça das costas de Fabio Koff, presidente Bolzan”. E eu achei que ele estava muito vinculado ainda à gestão Fa-bio koff. A minha leitura é que o Ro-mildo Bolzan começou a fazer uma excelente gestão no Grêmio quando ele conseguiu se desgarrar do Koff, e, por exemplo, trocou o Felipão, tirou o Rui Costa — e o Rui Costa fez um trabalho interessante —, contratou o Geromel… Errou muito, mas tam-bém acertou muito. Mas, só quando ele conseguiu colocar as suas ideias ele foi esse grande presidente que ele é. É difícil se desvincular do maior nome da história do clube, que foi quem o guindou à presidência. Um

mês depois que eu assumo meu colo-radismo, faço essa coluna no Metro, e o presidente decreta uma greve con-tra os veículos da Bandeirantes, fica lá dois, três meses sem dar entrevis-ta. Eu acho que pesou isso aí, é muito difícil. Mas, o que me fez assumir foi quando eu vi que eu estava ditando o comportamento dos meus filhos e da minha mulher. Nós íamos no shopping, ou íamos almoçar, jantar fora, e meus filhos queriam colocar a camiseta do Inter e a minha mulher queria colocar a camisa do Grêmio e eu dizia assim: “não, não bota, vão achar que eu sou gremista, não bo-tem a camisa do Inter, vão achar que eu sou colorado”. Eu não posso fazer isso com as minhas crianças e com a minha esposa, acabou, vou assumir. Tem gente que está morrendo de câncer, o Estado Islâmico está quei-mando as pessoas vivas, tem gente na esquina pedindo dinheiro para poder comprar um pedaço de pão, e os caras estão preocupados com o time que eu torço? Peraí, é demais isso. Até porque tu podes ser respei-tado mantendo tua equidistância. Eu respeito quem faz diferente, quem assume um papel de torcedor-jorna-lista, como o Fabiano Baldasso, como o Marco Sperotto, que são bons pro-fissionais. Mas, eu nunca aumentei a minha crítica ao Internacional ou ao Grêmio e vou continuar critican-do ou elogiando o Renato Gaúcho e o Odair Hellmann apesar do meu colo-radismo, não vai interferir em nada.

Pretende voltar para a televisão, para o microfone?

Eu acho que sim. Não está no meu radar a curto prazo, mas acho que isso é uma tendência normal. Eu acho que eu posso acrescentar para a rádio, acho que eu posso acrescentar para a televisão, eu não vou conse-guir fazer um programa de televisão todos os dias, mas acho que ali na frente vai ser um processo natural. E as pessoas que eu encontro em Porto

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MATÉRIA DE CAPA

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Cerca de 30 milhões de pessoas, no Brasil, vivem em cidades que não têm nenhum veículo jornalístico, consideradas desertos de notícias. Outras 34 milhões de pessoas estão em municípios com apenas um ou dois veículos de informação, classificados como quase desertos

de notícias. No total, uma população superior à da Itália (com pouco mais de 60 milhões de habilitantes, segundo estimativas de 2018) está desassistida pela imprensa local.

Em geral, os desertos de notícias são municípios com poucos habitantes, como Alto Alegre e Bom Progresso, no Rio Grande do Sul, com cerca de 1,8 mil e 2,2 mil habitantes, respectivamente. Mas, há exceções, como as cidades de Charqueadas (quase 40 mil moradores) e Capão do Leão (mais de 25 mil). Nenhuma dessas quatro cidades possuem veículos de comunicação, de acordo com levantamento feito pelo projeto Atlas da Notícia, entre 2017 e 2018.

A situação é mais crítica nas regiões Norte e Nordeste, onde há cidades com mais de cem mil habitantes sem veículos jornalísticos. É o caso, por exemplo, de Santana (Amapá), Paço do Lumiar (Maranhão) e Maranguape (Ceará), com populações de 115 mil, 122 mil e 126 mil pessoas. O Atlas da Notícia aponta que 70% dos municípios do Norte e 64% dos municípios do Nordeste são de-sertos de notícias, não têm nenhum veículo mapeado. Nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste esse percentual cai para 38%, 47% e 48%.

O projeto Atlas da Notícia realizou levantamentos nos anos de 2017 e 2018. Em novembro de 2019, será lançada a terceira edição do estudo. Os dados mais recentes contabilizam 2.860 municípios (52% das cidades brasileiras) como desertos de notícias e mais 1.648 (30%) em que há apenas um ou dois veículos de informação. Assim, 80% do território nacional é composto de localidades com uma cobertura insatisfatória.

Mais da metade dos municípios brasileiros não possui cobertura

jornalística significativa, de acordo com estimativas do Atlas da Notícia, projeto que faz um levantamento de veículos de comunicação em todo o

país. Apesar dos desafios, a imprensa local resiste no interior gaúcho.

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preenchidas até por estudantes de outros cursos, pede-se apenas que esteja cursando ensino superior”, revela. Assim, são selecionados não só alunos de jornalismo, mas tam-bém de administração, ciências so-ciais, direito, entre outras áreas.

Para Scheis, o desinteresse reflete a desvalorização da profissão, que, segundo ele, tem sido muito atacada e passa por um processo de descons-trução. Sobre o mercado de traba-lho, Caetano cita que os veículos de comunicação não conseguem pagar o piso. “Aqui em São Luiz desconhe-ço empresas que pagam o piso, mas sei de cidades do interior que pa-gam”, afirma Caetano. Atualmente, o piso da Capital é de R$ 2.454,73, e de R$ 2.090,27 no Interior, de acordo com o Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul (Sindjors).

Diante da dificuldade financeira, empresas de comunicação e jorna-listas de São Luiz Gonzaga costu-mam aderir ao sistema de presta-ção de serviços. Os profissionais se registram como microempreende-

dores individuais (MEIs) e conci-liam mais de um trabalho. Caetano, além de atuar na rádio Missioneira, presta serviços de assessoria de im-prensa para o time de futsal de Cer-ro Largo, cidade da mesma região. Scheis, que também está inscrito como MEI, concilia o trabalho na rádio São Luiz com a prestação de serviços como assessor de impren-sa na área política.

São Luiz Gonzaga é representa-tiva quando observados os dados apresentados pelo Atlas da Notícia. A cidade é rodeada por desertos ou quase desertos de notícias, como De-zesseis de Novembro, Rolador e São Miguel das Missões, por exemplo. Além disso, tem o rádio como princi-pal meio de comunicação. De acordo com o levantamento feito em 2018, o rádio representa mais de 32% da base de veículos mapeados, seguido de jornais (27%), televisão (22,2%), online (18,2%) e revistas (0,4%).

“As rádios, mesmo com equipes reduzidas, oferecem o melhor jorna-lismo que tem na cidade”, sustenta

RÁDIO: O PRINCIPAL MEIO DE COMUNICAÇÃO

A cidade de São Luiz Gonzaga, na região das Missões, com uma popu-lação de cerca de 35 mil habitantes, tem o rádio como principal meio de comunicação. Possui duas emisso-ras AM – a rádio São Luiz e a rádio Missioneira – que acabam atuando, também, nos municípios vizinhos, sobretudo, naqueles em que não há cobertura significativa da imprensa.

“A rádio Missioneira abrange nove municípios”, conta Genaro Caetano, jornalista que trabalha para a emissora. “Tem cidades muito pequenas no entorno, com uma população entre 5 a 12 mil habitantes, e nós acabamos atuan-do bastante nessas localidades.” A audiência e os contatos comerciais são muito bons nessas localidades, acrescenta, por isso a cobertura, es-pecialmente de eventos, não pode ser deixada de lado.

Duas características marcantes nos veículos do interior gaúcho es-tão presentes nas rádios de São Luiz Gonzaga: as equipes reduzidas e o baixo número de profissionais for-mados. “Eu sou o único jornalista formado da rádio Missioneira; na rádio São Luiz tem dois formados”, detalha Caetano.

Emerson Scheis, um dos jornalis-tas formados que atuam na rádio São Luiz, avalia que a quantidade baixa de profissionais é reflexo tanto das dificuldades econômicas enfrenta-das pelas empresas de comunicação quanto do fim da obrigatoriedade do diploma. “Temos uma safra reduzida de jornalistas e não há renovação de profissionais; há cinco anos são os mesmos que atuam na área.” A pers-pectiva é a de que a situação não me-lhore, já que o número de estudantes também reduziu. “Havia uma quan-tidade maior de estagiários de comu-nicação, hoje, as vagas estão sendo

MATÉRIA DE CAPA

Caroline Motta Emerson ScheisEditora-chefe da Gazeta de Rosário Rádio São Luiz

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população é vigilante em relação às matérias políticas, sinaliza. Na “terra dos presidentes”, a polarização faz parte das tradições locais e se mani-festa nas cobranças à imprensa, para que não favoreça um partido mais do que o outro. “É como se fosse uma eleição sempre”, resume Vigna.

PROXIMIDADE COM O LEITOR

A jornalista Lilian Martins tam-bém fez a transição da Capital para o Interior. Saiu de Porto Alegre, onde trabalhava como diagramado-ra no Jornal do Comércio, e se mu-dou para São José do Inhacorá, no noroeste gaúcho. O município tem 2,2 mil habitantes e nenhum veículo de comunicação. “Mudei para o In-terior mais por causa da questão da violência”, contextualiza.

Hoje, Lilian trabalha como jorna-lista no Jornal Semanal, da vizinha Três de Maio. O impresso circula apenas às sextas-feiras, por isso, a cobertura não é tão focada em hard

Caetano, acrescentando que a popu-lação costuma ouvir as duas rádios e participa bastante da programação, tanto musical quanto jornalística. “O rádio é o veículo que possui mais acesso e credibilidade na cidade”, complementa Scheis. Na parte jor-nalística, há mais entrevistas e bole-tins do que reportagens.

NA “TERRA DOS PRESIDENTES”

Pequenas empresas familiares, estruturas reduzidas, número bai-xo de jornalistas diplomados e pro-fissionais multitarefas. Essa é uma realidade que se repete nos veículos de comunicação estabelecidos em quase todo o Interior do Estado. A consequência é uma cobertura jor-nalística com poucas reportagens, principalmente investigativas. É difícil direcionar pessoal para esse tipo de atividade, além de ser opera-cionalmente caro.

“Tem muito assunto que não é coberto como poderia”, observa o

jornalista Rafael Vigna, que deixou a capital gaúcha e se mudou para São Borja, na Fronteira-Oeste do Rio Grande do Sul, em 2016. A cobertura policial, exemplifica, reproduz da-dos dos boletins de ocorrência, man-tendo, inclusive, o mesmo linguajar.

Especializado em economia, Vig-na, que por 10 anos integrou a equipe do Jornal do Comércio (em Porto Alegre), cobre, hoje, assuntos variados para o jornal Folha de São Borja e para as rádios Cultura AM e Fronteira FM. Um dos ambientes por onde mais transita é a Câmara dos Vereadores de São Borja, onde a presença da imprensa, até há pou-co tempo, não era muito frequente. “Aparecia muito pouco conteú-do sobre a atividade legislativa e, quando aparecia, era por conta de material de assessoria de imprensa mesmo”, conta.

Além da cobertura política, ques-tões cotidianas, economia e agro-negócios também entram na pauta do jornalista. “A ideia é sempre re-gionalizar o conteúdo”, descreve. A

Genaro Caetano Lilian Martins Renato CarvalhoRádio Missioneira Jornal Semanal - Três de Maio Presidente da Adjori-RS

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MATÉRIA DE CAPA

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do Sul (Adjori/RS), Renato Cesar de Carvalho. Nem todas as publicações são associadas à entidade, mas o número está aumentando, revela o dirigente. “Somos 270 associados, no momento, mas estamos elevando a base com a eleição da nova diretoria (biênio 2018-2020)”, detalha.

Carvalho foi eleito, em julho, como presidente da Associação Nacional dos Jornais do Interior do Brasil (Adjori Brasil), que tem uma base de mais de 780 associados. “Em geral, são jornais pequenos”, diz. Nessas publicações, algumas característi-cas se repetem: os leitores procuram mais a redação, a produção de ma-térias do gênero reportagem é baixa e a quantidade de profissionais for-mados é reduzida. “As notícias, basi-camente, são locais, relacionadas ao trabalho da câmara de vereadores e aos eventos sociais”, declara.

Ainda que essas publicações tam-bém enfrentem desafios econômi-cos, Carvalho salienta que a crise está afetando mais os jornais das ca-pitais do que os impressos regionais. Ele exemplifica citando que os gran-des jornais reduziram a cobertura nas áreas mais afastadas dos centros metropolitanos. “A Zero Hora era enorme, e, hoje, não tem mais pá-ginas dos municípios.” As sucursais dos principais veículos nacionais no Interior também estão desaparecen-do, gradativamente.

Como os jornais do Interior são

mantidos por empresas pequenas em cidades com poucos habitantes, a tiragem é menor, assim como as estruturas operacionais e adminis-trativas. Outro ponto que favorece esses periódicos é que a maior par-te deles circula entre uma a três ve-zes por semana. As cidades que têm jornais com cobertura diária são exceções.

Assim, com custos reduzidos, os veículos de comunicação regionais têm resistido à crise. Carvalho nota que o fechamento de publicações tem sido mais recorrente nos gran-des centros; no Interior, o número de jornais tem se mantido estável. Essa percepção se alinha aos aponta-mentos feitos pelo Atlas da Notícia, que reportou o fechamento de 81 veículos jornalísticos, no Brasil, des-de 2011. São Paulo é o Estado com a maior quantidade de encerramentos (31), seguida por Minas Gerais (27) e Rio de Janeiro (9). No Rio Grande do Sul, foram fechadas quatro publica-ções no mesmo período.

Carvalho elenca alguns fatores que têm contribuído para a sobre-vivência dos jornais no Rio Grande do Sul. O primeiro aspecto é que o gaúcho, mesmo quando sai da cida-de em que vive, continua buscando informações sobre a localidade. “A gente tem leitores online em quase todo o país e até fora do Brasil.”

Um fator adicional é que, em al-guns municípios, as prefeituras cos-

news. “Abordamos assuntos gerais, agricultura, agropecuária e histórias sobre as pessoas, que são nossas re-portagens especiais”, conta. Entre as páginas mais lidas estão as colunas sociais e as reportagens especiais.

As pessoas querem se ver no jor-nal, percebe a jornalista. “Vai muita gente no jornal. Ainda é comum apa-recer pessoas, com fotos, pedindo para publicar o aniversário de al-guém”, demonstra. O jornal assume, assim, o papel de representar seus leitores. Isso pressupõe, inclusive, amenizar a cobertura política quan-do o assunto contraria as preferên-cias dos eleitores locais.

“Temos bastante liberdade na questão editorial, mas ficamos meio engessados, às vezes, por conta das preferências políticas dos habi-tantes”, justifica explicando que a região tem um viés antiesquerda e elegeu o presidente Bolsonaro com 80% dos votos. Há, portanto, sempre um cuidado sobre o que será noti-ciado e como as informações serão produzidas.

Seguindo o padrão encontrado nos jornais do Interior, o Jornal Semanal também funciona com uma estrutu-ra enxuta e uma equipe polivalente. “A gente faz de tudo: escreve, revisa, diagrama e dá apoio até na área ad-ministrativa”, revela. A publicação conta com apenas duas repórteres (Lilian é a única com diploma de jornalista), uma editora e o dono do jornal. “É uma experiência legal. Os desafios são maiores, mas oferece a oportunidade de uma experiência mais abrangente também.”

IMPRENSA GAÚCHA RESISTE À CRISE

Com 497 municípios, o Rio Grande do Sul tem, aproximadamente, 300 jornais sediados no Interior, proje-ta o presidente da Associação dos Jornais do Interior do Rio Grande

As emissora do interior têm dificuldades para contratar jornalistas formados

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com os anunciantes, pondera. “Ob-servamos que tem surgido interesse muito grande no publieditorial nas redes sociais. Algumas empresas manifestam interesse em colocar anúncio no Facebook e algumas no site”, explica. “No nosso primeiro ano de site atingimos um milhão de acessos, o que é enorme para um jor-nal do porte da Gazeta.”

Caroline dá extrema importância para os assinantes da publicação e descreve iniciativas para fortalecer ainda mais o vínculo com o público. “Realmente, nos mantemos pelos lei-tores que acreditam no nosso traba-lho. Apesar de o poder econômico da população não ter aumentado, esta-mos tentando implementar novos cadernos”, revela. A intenção é lan-çar um caderno para área da saúde e outro voltado para temas rurais. A aposta também deve atrair mais anunciantes.

Na parte digital, uma iniciati-va que está gerando resultados é a transmissão de eventos pelas redes sociais. Depois de testar a ferra-menta, a equipe da Gazeta passou a transmitir as sessões da Câmara dos Vereadores ao vivo pelo Facebook. Na cidade, as sessões já são transmi-tidas pela rádio da cidade, mas nas redes é possível ver em tempo real. “Foi uma alternativa bem interes-sante.”

Apesar das boas perspectivas, a Gazeta enfrenta desafios diários, comuns aos jornais do Interior, além das dificuldades financeiras que preocupam empresas do setor, independentemente do porte e da localização. A equipe é reduzida, são cerca de 10 pessoas, entre en-tregadores, repórteres e diagrama-dores. Além disso, há pouca quan-tidade de profissionais diplomados na região. “Nossa vontade é aumen-tar tanto a equipe de redação como a equipe de marketing”, projeta a editora da Gazeta de Rosário.

tumam comprar jornais para distri-buir nas escolas. “São cidades como Tupanciretã, Canela, Gramado, Pe-trópolis, entre outras”, cita, frisando que a aquisição é sempre de publica-ções sediadas nos municípios.

EXPANSÃO PELO DIGITAL

A Gazeta de Rosário, jornal im-presso com quase 30 anos de histó-ria, prova que, apesar das dificul-dades, as publicações do Interior estão conseguindo se reinventar recorrendo aos novos recursos ofe-recidos pela Internet e pelas redes sociais. O periódico da cidade de Ro-sário do Sul (sudoeste gaúcho) cir-cula a versão impressa duas vezes por semana e tem em torno de mil assinantes, detalha a editora-chefe, Caroline Motta. “No digital, no Fa-cebook, chegamos a 40 mil pessoas,

que é mais do que a população da cidade”, compara. “Pela internet te-mos a dimensão de muitos leitores de fora da cidade.”

Caroline conta que o veículo co-meçou a apostar no digital há cerca de quatro anos, investindo no site e nas redes sociais. “Temos um gran-de alcance nas redes, mas seguimos com o impresso”, avisa. “Diferente-mente do que muitos jornais gran-des enfrentam, a Gazeta e outros jornais do interior não enfrentaram tanta dificuldade com a base de as-sinantes. As pessoas gostam de rece-ber o jornal no Interior; esse ainda é um hábito comum.”

É outra rotina, revela. “A cidade é menor, muitas pessoas vão para casa almoçar, têm um intervalo de duas horas de almoço, conseguem tempo para ler.” Por isso, o jornal não sentiu uma queda muito gran-de de assinantes. O desafio maior é

Charqueadas é exemplo de cidade que é um deserto de notícias. Mesmo com 40 mil habitantes, não

possui nenhum veículo de comunicação

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A virada da Folha de S. Paulo que a transfor-mou no mais importante jornal brasileiro co-meçou em 1983, no início da campanha das Diretas Já. Junto com uma modernização grá-fica, corpo de texto maior, diagramação mais

arejada, o jornal abriu espaço nobre para opinião nas pá-ginas 2 e 3, publicando não só crônicas e artigos, como também ensaios, com posições divergentes. Passou a dar ampla cobertura para todas as manifestações a favor de eleições livres para Presidente da República e em 1984 in-cluiu dois fios verde e amarelo sublinhando o logotipo. O Estadão e O Globo custaram a aderir ao anseio popular, facilitando o desenvolvimento da Folha.

Em 1990, o matutino paulista trouxe para a imprensa brasileira um novo paradigma: o erramos. Sempre que era veiculada uma informação errada, no dia seguinte apare-cia um pequeno quadro, reconhecendo o equívoco. Não recuperava a imagem da pessoa ou instituição prejudica-da, uma vez que o reparo não vinha na mesma dimensão, mas de certa forma dava credibilidade ao veículo.

Reconheço a importância da Folha no Jornalismo brasi-leiro ao nível de Última Hora, Padrão JB, Realidade, Veja e a diagramação do Jornal da Tarde de São Paulo, as revo-luções em meio século de imprensa no Brasil. No entanto, não gosto da sua impressão muito escura, a paginação como camiseta do Botafogo, na vertical, sem as diagonais ensinadas por Michelangelo na Renascença, além do tex-to primário do noticiário, com frases soltas, sem estrutu-ração de parágrafos. Segue a tendência histórica dos in-formes das agências de notícias, explicado pelo texto ser

traduzido frase a frase por um não jornalista ou escrito na corrida, no local dos fatos.

Pela primeira vez em tantos anos a tiragem da Folha foi superada pelo Estadão em cinco mil exemplares. É pouco, mas significativo, porque vem num momento em que o jornal assumiu uma postura de oposição. Sempre quando a imprensa toma partido, ela pode se fortalecer, como em 1984, por estar do lado certo, mas perde lei-tores que não se identificam com a causa, ainda mais quando suas matérias de hoje se baseiam em escutas ile-gais e bandeiras discutíveis.

O Estado de S. Paulo agradece. A diferença de leitores pode ser maior porque a Folha sobra nas bancas e o Es-tadão esgota, por distribuir o número menor possível de exemplares para evitar o encalhe e o gasto de papel. Tan-to em Florianópolis, quando visito a minha mãe, como na banca da Getúlio, no Menino Deus, em Porto Alegre, eu tenho de reservar exemplares para poder ler meu jor-nal preferido, por ter uma diagramação clássica, texto de qualidade e conteúdo superior.

A luz da manhãLecionei gerações de jornalistas, não fui coach deles.

Ensinei a seleção da informação de relevância, não hard news. Como trabalhar o entretenimento, não soft news. Na crise da Caldas Júnior, eu recebi vales no fim de se-mana, não voucher. Lembro-me de versos de um poema de Catulo da Paixão Cearense: “(...) demos um pouco de

A Folha

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trégua a tanta coisa estrangeira (...) são orfeus, são di-vindades, eu só sei cantar saudades (...) aqui não canta um galo estrangeiro, canta um galo brasileiro saudando a luz da manhã.”

DissimuladoCom nome fictício e alegando problemas para convi-

ver com o fato de ser gay, o repórter da revista Época, João Paulo Saconi, contratou a jovem e bela psicóloga Heloisa Bolsonaro para uma terapia on-line, não por acaso a esposa do deputado federal Eduardo Bolsona-ro (PSL-SP), filho do presidente. Em cinco sessões, ele conseguiu enveredar o assunto sempre para a religião e política. Ao final, produziu uma reportagem: “O coa-ching on-line de Heloisa Bolsonaro: as lições que podem ajudar Eduardo a ser embaixador.”

Em nota oficial, a Globo admitiu o erro de sua revista impressa com base nos Princípios Editoriais definidos pelo grupo de comunicação em 2011. A alegação é de que a jovem não podia ser exposta por estar desempe-nhando sua função profissional licitamente e não ser uma figura pública. Se fosse, sua vida privada poderia trazer “fatos relevantes para julgamento” e justificaria ser vasculhada.

Errado. A nota pega um formalismo e deixa de admi-tir que o repórter errou porque usou identidade falsa e alegou uma tendência supostamente dissimulada ou verdadeira para fazer a psicóloga falar do que pensa da vida e de seu marido. Foi mau caráter e cruel. Acabou em demissões.

SolidãoA hipercomunicação do mundo moderno está pro-

movendo isolamento e solidão iguais ao deserto, os ce-libatos, os retiros espirituais, as solitárias nas prisões, as filhas isoladas em celas para preservar sua pureza, o campo, os eremitas, as torres e as bibliotecas do passado.

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quantos concordaram? Dos que con-cordaram, quantos já estão agindo? Será que não é melhor largar a políti-ca de mão e ficar com as nossas faça-nhas sobre a grama, ali no Beira-Lago ou lá na Arena da OAS? Aí, Francisco Pinto da Fontoura, não seriam elas um melhor modelo para toda a terra?

Quando o Jornal do Brasil era gran-de no formato standard e maior ain-da na reputação, houve uma grande reportagem sobre o tal do estamen-to composto por poucas centenas de pessoas que mandavam e desmanda-vam no país do JB. Entrava governo, saía governo, e as mesmas eram cada vez mais as mesmas.

Manifesto pela objetividade jor-nalística, com ponto de interrogação e/ou de exclamação... Recuso-me a sequer considerar que talvez, quem sabe, tenhamos perdido o bonde do jornalismo. É que ele saiu dos trilhos conhecidos, não passa mais pelas re-dações-paradas.

Mario Rocha é jornalista e professor da Fabico

[email protected]

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entregando a carta a Garcia e garcias somos nós, o populacho, pois os gran-dões sempre souberam onde estava o caroço do angu. Há quem garan-ta que tudo vai ficar como dantes no quartel de Abrantes. Estes — oh! Céus! — afirmam que a balbúrdia atual (balbúrdia? Ôps!) é uma vitória de Pirro e a mexida necessária para melhorar a vida dos brasileiros e bra-sileiras vai mesmo é ficar para as ca-lendas gregas.

Quem me lê já pode concluir que este é um discurso acaciano, que até aí morreu o Neves, que estou tentan-do agradar a gregos e troianos. Que-rem o quê, afinal? Não reconhecem que o escriba está entre a cruz e a cal-deirinha? Ansioso por pedir empres-tada a bacia de Pilatos para colocar as barbas de molho? Sim, a montanha não foi a Maomé e este Maomário está muito cansado para ir até ela. É desânimo, mesmo, não me confun-dam com os santinhos do pau oco...

Bafejado pelos farrapos da Revo-lução idem, reajo com o palavreado épico do Capitão Rodrigo – “Buenas e me espalho. Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho”. Sim, presto um tributo memorial ao Verissimo Pai. E faço, de público, um compromisso de adesão ao Verissimo Filho. Sua coluna física está ereta e assim o demonstrou pela outra, a im-pressa, por meio da qual convocou--nos para a luta em defesa da honra, da cidadania, dos direitos espezinha-dos e dos preceitos da boa educação defenestrados.

Inúmeros não leram o texto que para mim soou veríssimo, verdadei-ríssimo, exatíssimo. Dos que leram,

Sei que a busca das verdades na Imprensa é um trabalho de Sísifo. Atribuir tal missão é como colocar a espada de Dâmocles tanto sobre o foquinha recém-saído das fraldas acadêmicas quanto do veterano que dedilhou nas Remington. O resultado do esforço de reportagem e edição - digno de ser considerado como o décimo-terceiro trabalho de Hércules — não será, no entanto, o mesmo que jogar pérolas aos porcos? Será que os últimos consumidores de conteúdos a valorizar qualidade na informação não estão lá onde Judas perdeu as bo-tas?

Não sei. Ora penso que sim, hora que não. No limiar da troca, sou Ma-dalena arrependida, mas juro de pés juntos que não me compram com trinta dinheiros nem permito que me escolham como bode expiatório. Mi-nhas posições inequívocas tendem a me jogar na cova dos leões? Encontro em mim a paciência de Jó. Penso e ajo com sabedoria salomônica, sem que-rer ir além das sandálias, mas ousem me desafiar com o nó górdio para ver no que vai dar!

Há quem pense que o bom jorna-lismo cruzou o Rubicão. Que quei-mou as naus. Que, finalmente, está

O momento exige definições! Caso contrário, o porco vai pro

brejo e a vaca torce o rabo, enquanto jacaré nada de costas porque o rio

tem piranha, além de poluição. Do jornalismo se exige clareza:

dos jornalistas, certezas. Não me furto ou roubo a compartilhá-las.

Manifesto pela objetividade jornalística?!

MÁRIO ROCHA

OPINIÃO

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GRANDES NOMES LIMA BARRETO

Muitas vezes pessoas talen-tosas são ignoradas e têm seu gênio reconhecido apenas muito tarde ou

menos após sua morte. Os exemplos são vários, como Van Gogh, Rem-brant, Bach, Thoreau. No Brasil, um dos mais tristes casos dessa negligên-cia foram as obras do jornalista e es-critor Lima Barreto.

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881, filho de João Henriques de Lima Barreto e de Amália Augus-ta Pereira de Carvalho. Sua mãe era filha de escravos e tornou-se profes-sora primária e proprietária de uma escola para meninas. Seu pai foi tipó-grafo e trabalhou em jornais do Rio de Janeiro e na Imprensa Nacional. João Henriques era ligado aos liberais do fim do Império, principalmente ao visconde de Ouro Preto. Por con-ta dessa identificação política, após a proclamação da República sofreu

Um jornalista entre a

e oTALENTOperseguições e perdeu o cargo de mestre de composição na Imprensa Nacional.

Não bastasse o desemprego do pai, Lima Barreto perdeu a mãe, vítima de tuberculose, quando tinha sete anos. Com três irmãos mais novos, foi tido por criança dotada, cuja in-teligência estava acima da média dos meninos de sua idade.

Para seu biógrafo Francisco de As-sis Barbosa, a infância conturbada, a morte prematura da mãe, os eventos relacionados à chegada da Repúbli-ca e a perseguição sofrida pelo pai deixaram marcas profundas não só na personalidade de Lima Barreto, como também no conteúdo de sua obra. Um acontecimento teria mar-cado profundamente sua infância de menino mulato, órfão e descendente de escravos: a assinatura da Lei Áu-rea e os festejos da Abolição, no dia em que completou sete anos.

Já outra data simbólica, o 15 de no-

vembro de 1889, foi-lhe extremamen-te negativa. O próprio Lima Barreto afirmou, em crônica, que “via-a com desgosto”, acentuando que, com o re-gime republicano, o Brasil se tornara “uma vasta comilança”; era “a subi-da do partido conservador ao poder,

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Em 1897, Lima Barreto ingressou na Escola Politécnica e iniciou o curso de engenharia civil. Durante esse pe-ríodo, escreveu para o jornal estudan-til A Lanterna, e começou a frequen-tar cafés, teatros, reuniões políticas e a boemia carioca. Sendo estudante pobre, mulato e com dificuldades no relacionamento com professores e colegas, a atmosfera estudantil e as exigências do curso de engenharia não combinavam com sua personali-dade. Além disso, dedicava mais tem-po à leitura de tratados filosóficos e romances do que propriamente aos manuais de topografia e cálculo.

Em 1903, seu pai se afastou da função que exercia nas colônias de alienados, após uma série de crises de alucinação e pânico que o leva-riam à aposentadoria. A família foi obrigada a deixar a ilha do Governa-dor e estabelecer residência no su-búrbio de Engenho Novo. Com isso, Lima Barreto abandonou de vez o

sobretudo da parte mais retrógrada dele, os escravocratas de quatro cos-tados”.

Tendo recebido instrução primária em escola pública, graças à ajuda do padrinho Afonso Celso de Assis Figuei-redo (o visconde de Ouro Preto) fez o secundário e estudos preparatórios para cursos superiores em instituições privadas. Por essa época, seu pai foi nomeado almoxarife das Colônias de Alienados, e a família mudou-se para a ilha do Governador, onde se locali-zavam os hospícios do Rio de Janeiro.

curso de engenharia, influenciado também por uma série de reprova-ções em uma disciplina.

Tentou dedicar-se ao jornalismo, mas a renda não lhe bastava, pois, com a loucura do pai, foi obrigado a prover o sustento da família. Em 1903 ingressou por concurso público na Secretaria da Guerra, para desem-penhar a função de amanuense.

Em 1905, ocorreu sua estréia na grande imprensa com uma série de reportagens publicadas no Correio da Manhã, intitulada Subterrâneos do Morro do Castelo, na qual explo-rou o mistério e a possibilidade de ha-ver naquele morro túneis e galerias onde os jesuítas teriam escondido documentos secretos e suntuosos te-souros. No mesmo ano, numa rápida passagem pela revista Fon-Fon, pu-blicou artigos sobre literatura brasi-leira e estrangeira. Dois anos depois, fundou a revista literária Floreal.

Lima Barreto publicou seu primei-ro romance, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, em dezembro de 1909. Tendo por pano de fundo a re-dação de um jornal, o livro contava a história de um rapaz inteligente, ho-nesto, porém mulato, que vinha para o Rio de Janeiro em busca de sucesso, além de conter uma sátira direta às principais figuras do jornalismo da época, que apareciam em situações vexatórias e constrangedoras. Toma-do como uma obra cheia de mágoa e ofensiva, o livro foi praticamente ig-norado.

Entre 1910 e 1911, publicou na im-prensa aqueles que foram considera-dos seus melhores contos: O Homem que Sabia Javanês e A Nova Califór-nia. Os dois contos denunciavam os falsos valores das elites política e intelectual, sua torpeza e sua inge-nuidade cínica, quando se tratava de abrir mão de convicções em nome de interesses puramente pessoais.

Ainda em 1911, Lima Barreto deu início à publicação no Jornal do Co-mércio, em forma de folhetim, da

A infância conturbada, a morte prematura da mãe, os eventos relacionados à chegada da República e a perseguição sofrida pelo pai deixaram marcas profundas não só na personalidade de Lima Barreto, como também no conteúdo de sua obra

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vam a bela escrita. Para ele, a literatura, acima de tudo, tinha que ser a sincera expressão da sociedade na qual era produzida e “dizer aquilo que os fatos não diziam”.

Em 1919, Lima Barreto publicou Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, através da editora Revista Brasileira, de propriedade de Monteiro Lobato. Bem recebida pela crítica, a obra mereceu elogios de João Ribeiro e Tristão de Ataíde, entre outros, o que foi considerado suficiente para que Lima Barreto fizesse nova investida para in-gressar na Academia Brasileira de Letras. Sua candidatu-ra foi aceita, mas foi derrotado por Humberto de Campos.

No final de 1919, teve início a troca de correspondência entre Lima Barreto e as principais figuras do modernis-mo em São Paulo. O grupo, do qual faziam parte Mário de Andrade e Di Cavalcanti, passou nutrir grande admira-ção por ele e mais ainda pelo Triste fim de Policarpo Qua-resma. No ano seguinte, foi acometido por outro surto de loucura, que o levou novamente ao Hospital Nacional de Alienados, onde permaneceu por dois meses. Ao deixar o manicômio, voltou à imprensa e aos artigos, nos quais abordava as questões do tempo: condenava o futebol, por ser um estrangeirismo; os arranha-céus e os projetos de reforma urbana; o feminismo.

Em 1920, publicou Histórias e Sonhos, um repertório de contos publicados na imprensa. Ao longo do ano, reu-niu parte de sua enorme produção na imprensa, para que viesse a ser lançada em forma de coletâneas. Já em 1921, Lima Barreto tentou, pela terceira vez, o ingresso na ABL, mas retirou a candidatura sem dar explicações.

Lima Barreto faleceu em 3 de novembro de 1922, vítima de insuficiência cardíaca. Postumamente foram publica-dos os romances Clara dos Anjos e Cemitério dos Vivos; as sátiras Aventuras do Dr. Bogóloff e Os Bruzundangas; as coletâneas de artigos e crônicas Feiras e Mafuás, Margi-nália e Vida Urbana; e as memórias Diário Íntimo.

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GRANDES NOMES

obra Triste fim de Policarpo Quaresma, com a história do patriota desajustado e solitário que leva seu amor à na-ção às últimas consequências.

Em 1914, Lima Barreto foi impedido de ingressar na Sociedade dos Homens de Letras, entidade para cuja cria-ção muito trabalhara, ao redigir seus estatutos e presidir algumas de suas sessões preparatórias. A situação seria repetida em 1917, quando tentou candidatar-se à Acade-mia Brasileira de Letras, mas sua carta com o anúncio da candidatura sequer foi recebida pela ABL. O meio literário lhe fechava as portas, o que lhe obrigou a per-manecer na repartição pública que detestava e que, por uma questão de sobrevivência, não podia abandonar. Isso, combinado aos problemas com o pai, o empurrou ao alcoolismo.

Em agosto de 1914, depois de uma série de crises de alucinação e pânico, Lima Barreto foi recolhido ao Hospí-cio Nacional de Alienados e lá permaneceu até outubro.

Já em 1915, Lima Barreto começou a publicação de Numa e a Ninfa, no jornal A Noite, em forma de folhetim. No mesmo ano, voltou a escrever artigos e contos para a imprensa, sobretudo para os jornais A Noite, Gazeta de Notícias e Correio da Noite, além de crônicas de cunho social e político. Foi nesse ano que começou, também, co-laboração na revista Careta.

No final de 1918, Lima Barreto aposentou-se do cargo que exercia na Secretaria da Guerra. Com o fim do tra-balho público e com os irmãos empregados ajudando no sustento da casa e nos cuidados do pai, ele experimen-tou um sentimento de liberdade até então desconhecido. Foi o momento em que cresceu a produção de artigos de cunho político, sua aproximação da imprensa libertária e dos movimentos sociais e operários. No campo intelectu-al, o escritor combatia a literatura contemplativa, que jul-gava ser produto de autores inócuos, que apenas cultua-

Para ele, a literatura, acima de tudo, tinha que ser a sincera expressão da sociedade na qual era produzida e “dizer aquilo que os fatos não diziam”

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Coletivas costumam ser o terror de entrevistados. Ter um bando de jornalistas fazendo pergunta após pergunta, sem ter preparo ou cuidado ao dar as respostas, já causou grandes estragos nas carreiras de diversas figuras impor-tantes. No entanto a maior prova do poder de fogo de uma coletiva que sai errado aconteceu em 9 de novembro de 1989, em Berlim, quando um porta-voz e um repórter destruíram um país e acabaram com a ordem política mundial.

são hoje que permite que todos os cidadãos possam sair do país [para a Alemanha Ocidental] diretamente pelos nossos postos de fronteiras, eles receberão vistos para isso sem que tenha de ser cumprida nenhuma exigência especial”.

Uma versão diz que o papel era um projeto de lei que ain-da não tinha sido formalmente aprovado pelo Parlamento do Povo. Outra afirma que a medida seria anunciada no dia seguinte, e Schabowski apenas a antecipou. De qualquer forma, percebendo que algo muito importante poderia es-tar acontecendo, Ehrman perguntou: “Sem passaporte?”.

Outros passaram a perguntar: “Quando isso entra em vigor?”, e Schabowski, atrapalhado, relutan-te, olhou para o papel e disse: “Até onde eu sei, imediatamente. Sem mais demoras”.

Eram 18h53 da quinta-feira 9 de novembro de 1989. A entrevista estava sendo transmitida para as duas Alemanhas. Espantados com o que viram, os moradores de Ber-lim Oriental começaram a deixar suas casas e se dirigiram aos pon-

tos de checagem junto ao Muro. Os policiais não tinham re-cebido nenhuma ordem oficial para abrir as fronteiras. Não sabiam o que fazer. Organizaram filas e pediram calma à população.

Erhman foi o primeiro jornalista a informar ao mundo, pela Ansa, que o Muro de Berlim tinha caído. A maioria dos jornalistas presentes à coletiva não percebeu direito o que estava acontecendo. A agência italiana deu a notícia meia hora antes que todo mundo.

O correspondente, depois de informar a sede em Roma por telefone — e garantir que não estava maluco –, correu para o posto de controle em Friedrichstrasse, onde uma multidão aguardava pela abertura da fronteira, e vários começaram a escalar o muro que dividia a cidade comu-nista da capitalista. Logo, foi reconhecido: “o jornalista que fez a pergunta!”, gritou alguém, e o correspondente foi erguido nos ombros do povo, festejado como um herói. Riccardo Ehrman, junto com Günter Schabowski, tinham derrubado o Muro de Berlim.

A primeira figura dessa história era o entrevistado da oca-sião: Günter Schabowski, o porta-voz do governo da Alema-nha Oriental. Jornalista, Schabowski tinha sido diretor do jornal “Neues Deutschland” antes de tornar-se uma figura importante do Comitê Central do Partido Comunista local.

O ano de 1989 vinha sendo complicado para os dirigen-tes da chamada DDR. Protestos ocorriam em todo o País, com a população pedindo várias liberdades: expressão, ir e vir, manifestação. Na coletiva, o tema discutido era exa-tamente uma lei aprovada 10 dias antes que permitia que os cidadãos alemães-orientais viajassem para o exterior. Mas, para isso, eles precisariam de um passaporte válido, visto de saída e visto de entrada de volta — que só o governo concedia. A nova legislação, portanto, era apenas uma maluquice burocrática: as viagens eram permitidas, mas, na prática, só viajava quem fosse autorizado - e ninguém era.

A outra figura decisiva no epi-sódio foi Riccardo Ehrman, jor-nalista italiano que em 1976 se mudou para Berlim Oriental como correspondente da agência Ansa. Pouco antes da con-ferência de imprensa de 9 de novembro, Ehrman recebeu uma ligação, alertando-o para não deixar de ir à coletiva. “Vai ser importante. Pergunte sobre a possibilidade de nos-sos cidadãos poderem viajar para fora do país.” O italiano jamais revelou quem lhe telefonou fazendo esse pedido.

Ehrmann, que chegou atrasado à entrevista, após ouvir por algum tempo as explicações oficiais, disparou: “Vocês não acham que estão cometendo um erro com essa lei?”. O porta-voz se irritou levemente com o italiano. “Não, não es-tamos cometendo um erro”, respondeu.

Essa pergunta detonou a sequência que culminaria com o anúncio que entrou para a história. Schabowski começou a falar sobre as condições de vida dos alemães-orientais re-fugiados do lado ocidental, mencionou os problemas que os países vizinhos “amigos” tinham ao lidar com quem queria sair da DDR e, em seguida, pegou uma folha de papel que mal tinha lido antes e disse: “Inclusive tomamos uma deci-

A coletiva que mudou o mundo

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