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OS ANIMAIS POSSUEM PERISPÍRITO? Valentim Neto [email protected] 09/1996 O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO CAPÍTULO III PROGRESSÃO DOS MUNDOS 19. O progresso é uma das leis da Natureza: todos os seres da Criação, animados e inanimados, a ele estão submetidos pela bondade de Deus, que quer que tudo engrandeça e prospere. A própria destruição, que parece aos humanos o termo das coisas, não é senão um meio de atingir, pela transformação, um estado mais perfeito, porque tudo morre para renascer, e coisa alguma se tor- na em nada. Ao mesmo tempo em que os seres vivos progridem moralmente, os mundos que eles habitam progridem materialmente. Quem pudesse seguir um mundo nas suas diversas fases, desde o ins- tante em que se aglomeraram os primeiros átomos que serviram à sua constituição, vê-lo-ia per- correr uma escala incessantemente progressiva, mas por graus insensíveis a cada geração, e ofe- recer aos seus habitantes uma morada mais agradável, à medida que estes avançam, eles mes- mos, na senda do progresso. Assim, caminham paralelamente o progresso do humano, o dos animais seus auxiliares, dos vegetais e da habitação, porque nada é estacionário na Natureza. Quanto esta ideia é grande e digna da majestade do Criador e, ao contrário, quanto é pequena e indigna do seu poder aquela que concentra sua solicitude, e sua providência, sobre o imperceptí- vel grão de areia da Terra, e restringe a Humanidade a alguns humanos que a habitam! A Terra, seguindo essa lei, esteve material e moralmente num estado inferior ao que está hoje, e atingirá, sob esse duplo aspecto, um grau mais avançado. Ela atingiu um dos seus períodos de transformação, em que, de mundo expiatório, tornar-se-á mundo regenerador; então, os humanos serão felizes, porque a lei de Deus nela reinará. (AGOSTINHO, PARIS, 1862). O LIVRO DOS ESPÍRITOS LIVRO SEGUNDO - MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS CAPÍTULO I - DOS ESPÍRITOS IV - PERISPÍRITO 93. O Espírito propriamente dito vive a descoberto, ou, como pretendem alguns, envolvido por alguma substância? - O Espírito é envolvido por uma substância que é vaporosa para ti, mas ainda bastante grosseira para nós; suficientemente vaporosa, entretanto, para que ele possa elevar-se na atmosfera e transportar-se para onde quiser. Como a semente de um fruto é envolvida pelo perisperma, o Espírito propriamente dito é reves- tido de um envoltório que, por comparação, se pode chamar perispírito. 94. De onde tira o Espírito o seu envoltório semimaterial? - Do fluido universal de cada globo. É por isso que ele não é o mesmo em todos os mundos; pas- sando de um mundo para outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.

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OS ANIMAIS POSSUEM PERISPÍRITO?

Valentim Neto [email protected]

09/1996 O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO CAPÍTULO III PROGRESSÃO DOS MUNDOS 19. O progresso é uma das leis da Natureza: todos os seres da Criação, animados e inanimados, a ele estão submetidos pela bondade de Deus, que quer que tudo engrandeça e prospere. A própria destruição, que parece aos humanos o termo das coisas, não é senão um meio de atingir, pela transformação, um estado mais perfeito, porque tudo morre para renascer, e coisa alguma se tor-na em nada. Ao mesmo tempo em que os seres vivos progridem moralmente, os mundos que eles habitam progridem materialmente. Quem pudesse seguir um mundo nas suas diversas fases, desde o ins-tante em que se aglomeraram os primeiros átomos que serviram à sua constituição, vê-lo-ia per-correr uma escala incessantemente progressiva, mas por graus insensíveis a cada geração, e ofe-recer aos seus habitantes uma morada mais agradável, à medida que estes avançam, eles mes-mos, na senda do progresso. Assim, caminham paralelamente o progresso do humano, o dos animais seus auxiliares, dos vegetais e da habitação, porque nada é estacionário na Natureza. Quanto esta ideia é grande e digna da majestade do Criador e, ao contrário, quanto é pequena e indigna do seu poder aquela que concentra sua solicitude, e sua providência, sobre o imperceptí-vel grão de areia da Terra, e restringe a Humanidade a alguns humanos que a habitam! A Terra, seguindo essa lei, esteve material e moralmente num estado inferior ao que está hoje, e atingirá, sob esse duplo aspecto, um grau mais avançado. Ela atingiu um dos seus períodos de transformação, em que, de mundo expiatório, tornar-se-á mundo regenerador; então, os humanos serão felizes, porque a lei de Deus nela reinará. (AGOSTINHO, PARIS, 1862). O LIVRO DOS ESPÍRITOS LIVRO SEGUNDO - MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS CAPÍTULO I - DOS ESPÍRITOS IV - PERISPÍRITO 93. O Espírito propriamente dito vive a descoberto, ou, como pretendem alguns, envolvido por alguma substância? - O Espírito é envolvido por uma substância que é vaporosa para ti, mas ainda bastante grosseira para nós; suficientemente vaporosa, entretanto, para que ele possa elevar-se na atmosfera e transportar-se para onde quiser. Como a semente de um fruto é envolvida pelo perisperma, o Espírito propriamente dito é reves-tido de um envoltório que, por comparação, se pode chamar perispírito. 94. De onde tira o Espírito o seu envoltório semimaterial? - Do fluido universal de cada globo. É por isso que ele não é o mesmo em todos os mundos; pas-sando de um mundo para outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.

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94-a. Dessa maneira, quando os Espíritos de mundos superiores vêm até nós, tomam um perispí-rito mais grosseiro? - É necessário que eles se revistam da vossa matéria, como já dissemos. 95. O envoltório semimaterial do Espírito tem formas determinadas e pode ser perceptível? - Sim, uma forma ao arbítrio do Espírito; e é assim que ele vos aparece algumas vezes, seja nos sonhos, seja no estado de vigília, podendo tomar uma forma visível e mesmo palpável. CAPÍTULO IV - PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS VI - TRANSMIGRAÇÃO PROGRESSIVA 189. Desde o princípio da sua formação o Espírito goza da plenitude de suas faculdades? - Não; porque o Espírito, como o humano, tem também a sua infância. Em sua origem, os Espí-ritos não têm mais do que uma existência instintiva, possuindo apenas a consciência de si mesmos e de seus atos. Só pouco a pouco a manifestação da inteligência se desenvolve. CAPÍTULO VI - VIDA ESPÍRITA IV - ENSAIO TEÓRICO SOBRE AS SENSAÇÕES DOS ESPÍRITOS 257. O corpo é o instrumento da dor; se não é a sua causa primeira é pelo menos a imediata. O Espírito tem a percepção dessa dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que dela conserva pode ser muito penosa, mas não pode implicar ação física. Com efeito, o frio e o calor não po-dem desorganizar os tecidos do Espírito; o Espírito não pode regelar-se nem queimar. Não ve-mos, todos os dias, a lembrança ou a preocupação de um mal físico produzir os seus efeitos? E até mesmo ocasionar o desencarne? Todos sabem que as pessoas que sofreram amputações sen-tem dor no membro que não mais existe. Seguramente não é esse membro a sede, nem o ponto de partida da dor: o cérebro conservou a impressão, eis tudo. Podemos, portanto, supor que há qualquer coisa de semelhante nos sofrimentos dos Espíritos depois do desencarne. Um estudo mais aprofundado do perispírito, que desempenha papel tão importante em todos os fenômenos espíritas, - nas aparições vaporosas ou tangíveis, no estado do Espírito no momento do desencar-ne, na ideia tão frequente de que ainda está vivo, na situação surpreendente dos suicidas, dos su-pliciados, dos que se absorveram nos prazeres materiais, e tantos outros fatos -, veio lançar luz sobre esta questão, dando lugar às explicações de que apresentamos um resumo. O perispírito é o liame que une o Espírito à matéria do corpo físico; é tomado do meio ambiente, do fluido universal; contém ao mesmo tempo eletricidade, fluido magnético, e até certo ponto, a própria matéria inerte. Poderíamos dizer que é a quintessência da matéria. É o princípio da vida orgânica, mas não o da vida intelectual, porque esta pertence ao Espírito. É também o agente das sensações externas. No corpo físico, estas sensações estão localizadas nos órgãos que lhes ser-vem de canais. Destruído o corpo físico, as sensações se tornam generalizadas. Eis porque o Espírito não diz que sofre mais da cabeça que dos pés. É necessário, aliás, nos precavermos de confundir as sensações do perispírito independente com as do corpo físico: não podemos tomar estas últimas senão como termo de comparação, e não como analogia. Liberto do corpo físico, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é o mesmo do corpo físico; não obstante, não é também um sofrimento exclusivamente moral, como o remorso, pois ele se queixa de frio e de calor. Mas não sofre mais no inverno do que no verão: vemo-los passar através das chamas sem nada experimentar de penoso, o que mostra que a temperatura não exerce sobre eles nenhuma impressão. A dor que sentem não é dor física propriamente dita: é um vago sentimento interior, de que o próprio Espírito nem sempre tem perfeita consciência, porque a dor não está localizada e não é produzida por agentes exteriores: é, antes, uma lembrança também penosa. Algumas ve-zes, há mais que uma lembrança, como veremos. A experiência nos ensina que, no momento do desencarne, o perispírito se desprende mais ou

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menos lentamente do corpo físico. Nos primeiros instantes, o Espírito não compreende a sua si-tuação; não acredita que desencarnou; sente-se vivo; vê o seu corpo físico de lado, sabe que é o seu e não entende porque está separado. Esse estado dura todo o tempo em que existir um liame entre o corpo físico e o perispírito. Um suicida nos dizia: "Não, eu não estou morto", e acrescen-tava: "e, entretanto sinto os vermes que me roem". Ora, seguramente, os vermes não roíam o pe-rispírito, e menos ainda o Espírito, mas o corpo físico. Como a separação do corpo físico e do perispírito não estava completa, havia uma espécie de repercussão emocional, que lhe transmitia a sensação do que se passava no corpo físico. Repercussão não é bem o termo, pois poderia dar ideia de um efeito muito material. Era antes a visão do que se passava no corpo físico ao qual o perispírito continuava ligado, que produzia essa ilusão, tomada por real. Assim, não se tratava de uma lembrança, pois durante a vida física ele não fora roído pelos vermes: era uma sensação atual. Vemos, pois, as deduções que podemos tirar dos fatos, quando atentamente observados. Durante a vida física, o corpo físico recebe as impressões exteriores e as transmite ao Espírito por inter-médio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que se costuma chamar de fluido nervoso. O corpo físico, estando morto, não sente mais nada, porque não possui Espírito nem perispírito. O Espírito, desligado do corpo físico, experimenta a sensação, mas como esta não lhe chega por um canal limitado, torna-se geral. Como o perispírito é apenas um agente de transmissão, pois é o Espírito que possui a consciência, deduz-se que se pudesse existir perispírito sem Espírito, ele não sentiria mais do que um corpo físico morto. Da mesma maneira, se um Espírito não tivesse perispírito seria inacessível a todas as sensações penosas: é o que acontece com os Espíritos completamente purificados. Sabemos que, quanto mais o Espírito se purifica, mais eterizada se torna a essência do perispírito, de maneira que a influência material diminui à medida que o Es-pírito progride, ou seja, à medida que o perispírito se torna menos grosseiro. Mas, dir-se-á, as sensações agradáveis são transmitidas ao Espírito pelo perispírito, tanto quanto as desagradáveis. Ora, se o Espírito puro é inacessível a umas, deve sê-lo igualmente às outras. Sim, sem dúvida, aquelas que provêm unicamente da influência da matéria que conhecemos: o som dos nossos instrumentos, o perfume das nossas flores não lhes produzem nenhuma impres-são, e não obstante eles gozam de sensações íntimas, de um encanto indefinível, das quais não podemos fazer a mínima ideia, porque estamos para elas como os cegos de nascença para a luz. Sabemos que elas existem, mas de que maneira? Aí se detém o nosso conhecimento. Sabemos que o Espírito tem percepção, sensação, audição, visão, que essas faculdades são atributos de to-do o seu ser, e não apenas de certos órgãos como nos humanos. Mas, ainda uma vez, de que forma? Isso é o que não sabemos. Os próprios Espíritos não podem explicar-nos, porque a nos-sa linguagem não foi feita para exprimir ideias que não possuímos, assim como na língua dos selvagens não há termos para a expressão de nossas artes, nossas ciências e nossas doutrinas filo-sóficas. Ao dizer que os Espíritos são inacessíveis às impressões da nossa matéria, queremos falar dos Espíritos mais elevados, cujo envoltório eterizado não encontra termos de comparação na Terra. Não se dá o mesmo com aquele cujo perispírito é mais denso, pois ele percebe os nossos sons e sente os nossos odores, mas não por uma parte determinada do seu organismo, como quando vi-vo fisicamente. Poderíamos dizer que as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o seu ser, chegando assim ao seu sensorium commune, que é o próprio Espírito, mas de maneira diver-sa, produzindo talvez uma impressão diferente, que acarreta uma modificação na percepção. Eles ouvem o som da nossa voz e, no entanto nos compreendem sem necessidade da palavra, pe-la simples transmissão do pensamento, o que é demonstrado pelo fato de ser essa penetração mais fácil para o Espírito desmaterializado. A faculdade de ver é um atributo essencial do Espí-rito, para o qual não há obscuridade, e apresenta-se mais ampla e penetrante entre os que estão mais purificados. O Espírito tem, portanto, em si mesmo a faculdade de todas as percepções. Na vida corpórea elas são obliteradas pela grosseria dos nossos órgãos; na vida extracorpórea, liber-tam-se mais e mais, à medida que se torna menos denso o envoltório semimaterial. Tomado do meio ambiente, esse envoltório varia segundo a natureza dos mundos. Ao passar de um mundo para outro, os Espíritos mudam de envoltório, como mudamos de roupa ao passar do inverno ao verão, ou do polo ao equador. Os Espíritos mais elevados, quando vêm visitar-nos,

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revestem o perispírito terrestre, e então as suas percepções se assemelham às dos Espíritos vulga-res. Mas todos eles, inferiores e superiores, só ouvem e sentem o que querem ouvir e sentir. Como não possuem órgãos sensoriais, podem tornar à vontade as suas percepções ativas ou nu-las, havendo apenas uma coisa que são forçados a ouvir: os conselhos dos bons Espíritos. A vis-ta é sempre ativa, mas eles podem tornar-se invisíveis uns para os outros. Conforme a classe a que pertencem, podem ocultar-se dos que lhes são inferiores, mas não dos superiores. Nos pri-meiros momentos após o desencarne a vista do Espírito é sempre turva e confusa, esclarecendo-se na proporção em que ele se liberta e podendo adquirir a mesma clareza que tinha durante a vi-da física, além da possibilidade de penetrar nos corpos opacos. Quanto à sua extensão através do espaço infinito, no passado e no futuro, depende do grau de pureza e elevação do Espírito. Toda esta teoria, dir-se-á, não é muito tranquilizadora. Pensávamos que, uma vez desembaraça-dos do nosso envoltório grosseiro, instrumento de nossas dores, não sofreríamos mais, e nos en-sinais que sofreremos ainda, pois podemos ainda sofrer, e muito, durante longo tempo. Mas po-demos também não sofrer mais, desde o instante em que deixamos esta vida corpórea. Os sofrimentos deste mundo às vezes decorrem de nossa própria vontade. Que se remonte à ori-gem e ver-se-á que a maioria são consequências de causas que poderíamos ter evitado. Quantos males, quantas enfermidades o ser humano deve apenas aos seus excessos, à sua ambição, às su-as paixões enfim? O humano que tivesse vivido sempre sobriamente, que não houvesse abusado de nada, que tivesse sido sempre de gostos simples e desejos moderados, se pouparia de muitas tribulações. O mesmo acontece aos Espíritos: os sofrimentos que ele enfrenta são sempre conse-quências da maneira por que viveu na Terra. Não terá, sem dúvida, a gota e o reumatismo, mas terá outros sofrimentos, que não serão menores. Já vimos que esses sofrimentos são o resultado dos laços que ainda existem entre o Espírito e a matéria. Que quanto mais ele estiver desligado da influência da matéria, ou seja, quanto mais desmaterializado, menos sensações penosas sofrerá. Depende dele afastar-se dessa influência, desde esta vida física, pois tem o livre arbítrio e por conseguinte a faculdade de escolha entre o fazer e o não fazer. Que dome as suas paixões animais; que não tenha ódio, nem inveja, nem ci-úme, nem orgulho; que não se deixe dominar pelo egoísmo; que purifique o Espírito, pelos bons sentimentos; que pratique o bem; que não dê às coisas deste mundo senão a importância que elas merecem; e então, mesmo sob o seu envoltório corpóreo, já se terá purificado, desprendido da matéria, e quando o deixar, não sofrerá mais a sua influência. Os sofrimentos físicos por que ti-ver passado não lhe deixarão nenhuma lembrança penosa; não lhe restará nenhuma impressão desagradável, porque estas não afetaram o Espírito, mas apenas o corpo físico; sentir-se-á feliz por se ter libertado, e a tranquilidade de sua consciência o afastará de todo sofrimento moral. Interpelamos sobre o assunto milhares de Espíritos, pertencentes a todas as classes sociais, a to-das as posições. Estudamo-los em todos os períodos da vida espírita, desde o instante em que deixaram o corpo físico. Seguimo-los passo a passo na vida de além-túmulo, para observar as modificações que neles se operavam, nas suas ideias, nas suas sensações. E a esse respeito os humanos vulgares não foram os que nos forneceram menos preciosos elementos de estudo. Vi-mos sempre que os sofrimentos estão em relação com a conduta, da qual sofrem as consequên-cias, e que essa nova existência é uma fonte de felicidade inefável para aqueles que tomaram o bom caminho. De onde se segue que os que sofrem é porque assim quiseram e só devem quei-xar-se de si mesmos, tanto no outro mundo quanto neste. CAPÍTULO XI - OS TRÊS REINOS II - OS ANIMAIS E O HUMANO 592. Se compararmos o ser humano e os animais, em relação à inteligência, parece difícil estabe-lecer a linha de demarcação, porque certos animais têm, nesse terreno, notória superioridade so-bre certos humanos. Essa linha de demarcação pode ser estabelecida de maneira precisa? - Sobre esse assunto os vossos filósofos não estão bem de acordo. Uns querem que o humano se-ja um animal, e outros que o animal seja um humano. Estão todos errados. O humano é um ser à parte, que desce às vezes muito abaixo ou que pode elevar-se muito alto. No físico, o humano

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é como os animais e menos bem provido que muitos dentre eles; a Natureza lhes deu tudo aquilo que o humano é obrigado a inventar com a sua inteligência, para prover às suas necessidades e à sua conservação. Seu corpo físico se destrói como o dos animais. Isto é certo, mas o seu Espírito tem um destino que só ele pode compreender, porque só ele é completamente livre. Pobres hu-manos, que vos rebaixais mais do que os bruto! Não sabeis distinguir-vos deles? Reconhecei o humano pelo pensamento de Deus. 593. Podemos dizer que os animais só agem por instinto? - Ainda nisso há um sistema. É bem verdade que o instinto domina na maioria dos animais: mas não vês que há os que agem por uma vontade determinada? É que têm inteligência, porém ela é limitada. Além do instinto, não se poderia negar a certos animais a prática de atos combinados, que deno-tam a vontade de agir num sentido determinado e de acordo com as circunstâncias. Há neles, portanto, uma espécie de inteligência, mas cujo exercício é mais precisamente concentrado sobre os meios de satisfazer às suas necessidades físicas e prover à conservação. Não há entre eles ne-nhuma criação, nenhum melhoramento; qualquer que seja a arte que admiremos em seus traba-lhos, aquilo que faziam antigamente é o mesmo que fazem hoje, nem melhor nem pior, segundo formas e proporções constantes e invariáveis. Os filhotes separados de sua espécie não deixam de construir o seu ninho de acordo com o mesmo modelo, sem terem sido ensinados. Se alguns são suscetíveis de certa educação, esse desenvolvimento intelectual, sempre fechado em estreitos limites, é devido à ação do ser humano sobre uma natureza flexível, pois não fazem nenhum progresso por si mesmos, e esse progresso é efêmero, puramente individual, porque o animal abandonado a si próprio, não tarda a voltar aos limites traçados pela Natureza. 594. Os animais têm linguagem? - Se pensais numa linguagem formada de palavras e de sílabas, não; mas num meio de se comu-nicarem entre si então, sim. Eles se dizem muito mais coisas do que supondes, mas a sua lingua-gem é limitada, como as próprias ideias, às suas necessidades. 594-a. Há animais que não possuem voz; esses não parecem destituídos de linguagem? - Compreendem-se por outros meios. Vós, humanos, não tendes mais do que a palavra para vos comunicardes? E dos mudos, que dizeis? Os animais, sendo dotados da vida de relação, têm meios de se prevenir e de exprimir as sensações que experimentam. Pensas que os peixes não se entendem? O humano não tem o privilégio da linguagem, mas a dos animais é instintiva e limi-tada pelo círculo exclusivo das suas necessidades e das suas ideias, enquanto a do humano é per-fectível e se presta a todas as concepções da sua inteligência. Realmente, os peixes que emigram em massa, bem como as andorinhas, que obedecem ao guia, devem ter meios de se advertir, de se entender e de se combinar. Talvez o façam entre si, ou tal-vez a água seja um veículo que lhes transmita certas vibrações. Seja o que for é incontestável que eles dispõem de meios para se entenderem, da mesma maneira que todos os animais priva-dos de voz, que realizam trabalhos em comum. Deve-se admirar, diante disso, que os Espíritos possam comunicar-se entre eles sem o recurso da palavra articulada? 595. Os animais têm livre arbítrio? - Não são simples máquinas, como supondes, mas sua liberdade de ação é limitada pelas suas necessidades, e não pode ser comparada à do humano. Sendo muito inferiores a este, não têm os mesmos deveres. Sua liberdade é restrita aos atos da vida material. 596. De onde vem a aptidão de certos animais para imitar a linguagem do humano, e por que es-sa aptidão se encontra mais entre as aves do que entre os símios, por exemplo, cuja conformação tem mais analogia com a daquele? - Conformação particular dos órgãos vocais, secundada pelo instinto da imitação. O símio imita os gestos; certos pássaros imitam a voz.

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597. Pois se os animais têm uma inteligência que lhes dá alguma liberdade de ação, há neles um princípio independente da matéria? - Sim, e que sobrevive ao corpo. 597-a. Esse princípio é um Espírito semelhante ao do humano? - É também um Espírito, se o quiserdes; isso depende do sentido em que se tome a palavra, mas é inferior ao do humano. Há, entre o Espírito dos animais e o do humano tanta distância quanto entre o Espírito do humano e Deus. 598. O Espírito dos animais conserva após o desencarne sua individualidade e a consciência de si mesmo? - Sua individualidade, sim, mas não a consciência de si mesmo. A vida inteligente permanece em estado latente. 599. O Espírito dos animais pode escolher a espécie em que prefira encarnar-se? - Não; ele não tem o livre arbítrio. 600. O Espírito do animal, sobrevivendo ao corpo físico, fica num estado errante, como a do humano após o desencarne? - Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unido a um corpo físico. Mas não é um Espíri-to errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espíri-to. O Espírito do animal é classificado após o desencarne, pelos Espíritos incumbidos disso, e utilizado quase imediatamente: não dispõe de tempo para se por em relação com outras criaturas. 601. Os animais seguem uma lei progressiva, como os humanos? - Sim, e é por isso que nos mundos superiores, onde os humanos são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios de comunicação mais desenvolvidos. São, porém, sempre in-feriores e submetidos aos humanos, sendo para estes servidores inteligentes. Nada há nisso de extraordinário. Suponhamos os nossos animais de maior inteligência como o cão, o elefante, o cavalo, dotados de uma conformação apropriada aos trabalhos manuais, o que não poderiam fazer sob a direção do humano? 602. Os animais progridem como o humano, por sua própria vontade, ou pela força das coisas? - Pela força das coisas; e é por isso que, para eles, não existe expiação. 603. Nos mundos superiores, os animais conhecem a Deus? - Não. O humano é um deus para eles, como antigamente os Espíritos foram deuses para os hu-manos. 604. Os animais, mesmo aperfeiçoados nos mundos superiores, sendo sempre inferiores aos hu-manos, disso resultaria que Deus tivesse criado seres intelectuais perpetuamente votados à infe-rioridade, o que parece em desacordo com a unidade de vistas e de progresso que se assinalam em todas as suas obras? - Tudo se encadeia na Natureza, por liames que não podeis ainda perceber, e as coisas aparente-mente mais disparatadas têm pontos de contato que o humano jamais chegará a compreender, no seu estado atual. Pode entrevê-los, por um esforço de sua inteligência, mas somente quando essa inteligência tiver atingido todo o seu desenvolvimento e se libertado dos preconceitos do orgulho e da ignorância poderá ver claramente na obra de Deus. Até lá, suas ideias limitadas lhe farão ver as coisas de um ponto de vista mesquinho e acanhado. Sabei que Deus nunca se contradiz e que tudo, na Natureza, se harmoniza através de leis gerais, que jamais se afastam da sublime sa-bedoria do Criador. 604-a. A Inteligência é assim uma propriedade comum, um ponto de encontro entre o Espírito

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dos animais e a do humano? - Sim, mas os animais não têm senão a inteligência da vida material; nos humanos, a inteli-gência produz a vida moral. 605. Se considerarmos todos os pontos de contato existentes entre o humano e os animais, não poderíamos pensar que o humano possui dois Espíritos: o Espírito animal e o Espírito espiritual; e que, se ele não tivesse esta última, poderia viver, mas como os animais? Dizendo de outra ma-neira: o animal é um ser semelhante ao humano, menos o Espírito espiritual? Disso resultaria que os corretos e os errôneos instintos do humano seriam o efeito da predominância de um ou de outro desses dois Espíritos? - Não, o humano não tem dois Espíritos, mas o corpo tem os seus instintos, que resultam da sen-sação dos órgãos. Não há no humano senão uma dupla natureza: a natureza animal e a espiritual. Pelo seu corpo físico, ele participa da natureza dos animais e dos seus instintos; pelo seu Espíri-to, participa da natureza dos Espíritos. 605-a. Assim, além das suas próprias imperfeições, de que o Espírito deve despojar-se, deve ele lutar contra a influência da matéria? - Sim, quanto mais inferior é ele, mais apertados são os laços entre o Espírito e a matéria. Não o vedes? Não, o humano não tem dois Espíritos; o Espírito é sempre único, um ser único. O Espí-rito do animal e o do humano são distintos entre si, de tal maneira que o de um não pode animar o corpo físico criado para o outro. Mas se o humano não possui um Espírito animal, que por su-as paixões o coloque no nível dos animais, tem o seu corpo físico, que o rebaixa frequentemente a esse nível, porque o seu corpo físico é um ser dotado de vitalidade, que tem instintos, mas inin-teligentes e limitados ao interesse de sua conservação. O Espírito, encarnando-se no corpo humano, transmite-lhe o princípio intelectual e moral, que o torna superior aos animais. As duas naturezas existentes no humano oferecem às suas paixões duas fontes diversas: umas provêm dos instintos da natureza animal, outras das impurezas do Es-pírito encarnado, que simpatiza em maior ou menor proporção com a grosseria dos apetites ani-mais. O Espírito, ao purificar-se, liberta-se pouco a pouco da influência da matéria. Sob essa in-fluência, ele se aproxima dos brutos; liberto dessa influência eleva-se ao seu verdadeiro destino. 606. De onde tiram os animais o princípio inteligente que constitui a espécie particular de Espíri-to de que são dotados? - Do elemento inteligente universal. 606-a. A inteligência do humano e a dos animais emanam, portanto, de um principio único? - Sem nenhuma dúvida; mas no humano ela passou por uma elaboração que a eleva sobre a dos brutos. 607. Ficou dito que o Espírito do humano, em sua origem, assemelha-se ao estado de infância da vida corpórea, que a sua inteligência apenas desponta e que ela ensaia para a vida. Onde cumpre o Espírito essa primeira fase? - Numa série de existências que precedem o período que chamais de Humanidade. 607-a. Parece, assim, que o Espírito teria sido o princípio inteligente dos seres inferiores da cria-ção? - Não dissemos que tudo se encadeia na Natureza e tende à unidade? É nesses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pou-co a pouco, e ensaia para a vida, como dissemos. É, de certa maneira, um trabalho prepara-tório, como o da germinação, em seguida ao qual o princípio inteligente sofre uma trans-formação e se torna Espírito. É então que começa para ele o período de humanidade, e com es-te a consciência do seu futuro, a distinção do certo e do errado e a responsabilidade dos seus atos. Como depois do período da infância vem o da adolescência, depois a juventude, e por fim a idade madura. Nada há, de resto, nessa origem, que deva humilhar o humano. Os grandes gê-

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nios sentem-se humilhados por terem sido fetos informes no ventre materno? Se alguma coisa deve humilhá-los, é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para sondar a profundeza de seus desígnios e a sabedoria das leis que regulam a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia que faz a solidariedade de todas as coisas na Na-tureza. Crer que Deus pudesse ter feito qualquer coisa sem objetivo e criar seres inteligentes sem futuro, seria blasfemar contra a sua bondade, que se estende sobre todas as suas criaturas. 607-b. Esse período de humanidade começa na Terra? - A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanidade começa, em geral, nos mundos ainda mais inferiores. Essa, entretanto, não é uma regra absoluta e poderia acontecer que um Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Esse caso não é frequente, e seria antes uma exceção. 608. O Espírito do humano, após o desencarne, tem consciência das existências que precederam, para ele, o período de humanidade? - Não, porque não é senão desse período que começa para ele a vida de Espírito, e é mesmo difí-cil que se lembre de suas primeiras existências como humano, exatamente como o humano não se lembra mais dos primeiros tempos de sua infância, e ainda menos do tempo que passou no ventre materno. Eis porque os Espíritos vos dizem que não sabem como começaram. 609. O Espírito, tendo entrado no período de humanidade, conserva os traços do que havia sido precedentemente, ou seja, do estado em que se encontrava no período que se poderia chamar an-ti-humano? - Isso depende da distância que separa os dois períodos e do progresso realizado. Durante algu-mas gerações ele pode conservar um reflexo mais ou menos pronunciado do estado primitivo, porque nada na Natureza se faz por transição brusca; há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia dos seres e dos acontecimentos. Mas esses traços desaparecem com o desenvolvimen-to do livre arbítrio. Os primeiros progressos se realizam lentamente, porque não são ainda se-cundados pela vontade, mas seguem uma progressão mais rápida, à medida que o Espírito adqui-re consciência mais perfeita de si mesmo. 610. Os Espíritos que disseram que o humano é um ser à parte na ordem da Criação enganaram-se, então? - Não, mas a questão não havia sido desenvolvida, e há coisas que não podem vir senão a seu tempo. O humano é, de fato, um ser à parte, porque tem faculdades que o distinguem de todos os outros e tem outro destino. A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dos seres que O podem conhecer. III - METEMPSICOSE 611. A comunhão de origem dos seres vivos no princípio inteligente não é a consagração da dou-trina da metempsicose? - Duas coisas podem ter a mesma origem e não se assemelharem em nada mais tarde. Quem re-conheceria a árvore, suas folhas, suas flores e seus frutos no germe informe que se contém na semente de onde saíram? No momento em que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entra no período de humanidade, não tem mais relação com o seu estado pri-mitivo e não é mais o Espírito dos animais, como a árvore não é a semente. No humano, somen-te existe do animal o corpo físico, as paixões que nascem da influência do corpo físico e o instin-to de conservação inerente à matéria. Não se pode dizer, portanto, que tal humano é a encarna-ção do Espírito de tal animal e, por conseguinte, a metempsicose, tal como a entendem, não é exata. 612. O Espírito que animou o corpo de um humano poderia encarnar-se num animal? - Isto seria retrogradar, e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à nascente.

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613. Por mais errônea que seja a ideia ligada à metempsicose, não seria ela o resultado do senti-mento intuitivo das diferentes existências do humano? - Encontramos esse sentimento intuitivo nessa crença como em muitas outras; mas, como a mai-or parte dessas ideias intuitivas, o humano a desnaturou. A metempsicose seria verdadeira se por ela se entendesse a progressão do Espírito de um estado inferior para um superior, realizando os desenvolvimentos que transformariam a sua natureza, mas é falsa no sentido de transmigração direta do animal para o humano e vice-versa, o que im-plicaria a ideia de uma retrogradação ou de fusão. Ora, não podendo realizar-se essa fusão entre seres corporais de duas espécies, temos nisso um indício de que se encontram em graus não assi-miláveis e que o mesmo deve acontecer com os Espíritos que os animam. Se o mesmo Espírito pudesse animá-los alternativamente, disso resultaria uma identidade de natureza que se traduziria na possibilidade de reprodução material. A reencarnação ensinada pelos Espíritos se funda, pelo contrário, sobre a marcha ascendente da Natureza e sobre a progressão do humano na sua própria espécie, o que não diminui em nada a sua dignidade. O que o rebaixa é o mau uso que faz das faculdades que Deus lhe deu para o seu adiantamento. Como quer que seja, a antiguidade e a universalidade da doutrina da metempsicose, e o número de humanos eminentes que a pro-fessaram, provam que o princípio da reencarnação tem suas raízes na própria Natureza; esses são, portanto, argumentos antes a seu favor do que contrários. O ponto de partida do Espírito é uma dessas questões que se ligam ao princípio das coisas e estão nos segredos de Deus. Não é dado ao humano conhecê-las de maneira absoluta, e ele só pode fa-zer, a seu respeito, meras suposições, construir sistemas mais ou menos prováveis. Os próprios Espíritos estão longe de tudo conhecer, e sobre o que não conhecem podem ter também opiniões pessoais mais ou menos sensatas. É assim que nem todos pensam da mesma maneira a respeito das relações existentes entre o hu-mano e os animais. Segundo alguns, o Espírito não chega ao período humano senão depois de ter sido elaborado e individualizado nos diferentes graus dos seres inferiores da Criação. Segun-do outros, o Espírito do humano teria sempre pertencido à raça humana, sem passar pela fieira animal. O primeiro desses sistemas tem a vantagem de dar uma finalidade ao futuro dos ani-mais, que constituíram assim os primeiros anéis da cadeia dos seres pensantes; o segundo é mais conforme à dignidade do humano e pode resumir-se da maneira seguinte: As diferentes espécies de animais não procedem intelectualmente uma das outras, por via de progressão; assim, o Espírito da ostra não se torna sucessivamente do peixe, da ave, do quadrú-pede e do quadrúmano; cada espécie é um tipo absoluto, física e moralmente, e cada um dos seus indivíduos tira da fonte universal a quantidade de princípio inteligente que lhe é ne-cessária, segundo a perfeição dos seus órgãos e a tarefa que deve desempenhar nos fenôme-nos da Natureza, devolvendo-a à massa após o desencarne. Aqueles dos mundos mais adian-tados que o nosso são igualmente constituídos de raças distintas, apropriadas às necessidades desses mundos e ao grau de adiantamento dos humanos de que são auxiliares, mas não proce-dem absolutamente dos terrenos, espiritualmente falando. Com o humano, já não se dá o mesmo. Do ponto de vista físico, o humano constitui evidentemente um anel da cadeia dos seres vivos; mas, do ponto de vista moral, há solução de continuidade entre o humano e o animal. O huma-no possui, como sua particularidade, o Espírito, centelha divina que lhe dá o senso moral e um alcance intelectual que os animais não possuem; é o ser principal, pré-existente e sobrevi-vente ao corpo físico, conservando a sua individualidade. Qual é a origem do Espírito? Onde está o seu ponto de partida? Forma-se ele do princípio inteligente individualizado? Isso é um mistério que seria inútil procurar penetrar e sobre o qual, como dissemos, só podemos construir sistemas. O que é constante e ressalta ao mesmo tempo do raciocínio e da experiência é a sobrevivência do Espírito, a conservação de sua individualidade após o desencarne, sua faculdade de progredir, seu estado feliz ou infeliz, proporcional ao seu adiantamento na senda do bem, e todas as verda-des morais que são a consequência desse princípio. Quanto às relações misteriosas existentes en-tre o humano e os animais, isso, repetimos, está nos segredos de Deus, como muitas outras coisas

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cujo conhecimento atual nada importa para o nosso adiantamento, e sobre as quais seria inútil nos determos. LIVRO DOS MÉDIUNS PRIMEIRA PARTE - NOÇÕES PRELIMINARES CAPÍTULO IV - SISTEMAS 50. Sistema do Espírito material: Consiste apenas numa opinião particular sobre a natureza ínti-ma do Espírito, segundo a qual o Espírito e o perispírito não seriam distintos, ou melhor, o peris-pírito seria o próprio Espírito em depuração gradual por meio das transmigrações, como o álcool se depura nas destilações. Na Doutrina Espírita, entretanto, o perispírito é considerado como simples envoltório fluídico do Espírito. Constituindo-se o perispírito de uma forma de matéria, embora muito eterizada, para o sistema em causa o Espírito seria também de natureza material, mais ou menos essencial, segundo o grau de sua depuração. Este princípio não invalida nenhum dos princípios fundamentais da Doutrina Espírita, pois nada modifica em relação ao destino do Espírito. As condições de sua felicidade futura são as mes-mas, o Espírito e o perispírito formando um todo sob a denominação de Espírito, como o germe e o perisperma formam uma unidade sob o nome de fruto. Toda a questão se reduz em considerar o todo como homogêneo em vez de formado por duas partes distintas. Como se vê, isto não leva a nenhuma consequência e não falaríamos a respeito se não houvésse-mos encontrado pessoas inclinadas a ver uma escola nova no que não é, de fato, mais que uma simples questão de palavras. Esta opinião, aliás, muito restrita, mesmo que fosse mais generali-zada não representaria uma cisão entre os espíritas, da mesma maneira que as teorias da emissão ou das ondulações da luz não dividem os físicos. Os que desejassem separar-se por uma questão assim pueril, provariam dar mais importância ao acessório do que ao principal e estar impulsio-nados por Espíritos que não podem ser bons, porque os bons Espíritos não semeiam jamais o azedume e a cizânia. Eis porque concitamos todos os verdadeiros espíritas a se manterem em guarda contra semelhantes sugestões e não ligarem a alguns detalhes maior importância do que merecem, pois o fundo é que é o essencial. Cremos, não obstante, dever dizer em algumas palavras no que se funda a opinião dos que consi-deram o Espírito e o perispírito como distintos. Ela se apoia no ensino dos Espíritos, que jamais variaram a esse respeito. Aludimos aos Espíritos esclarecidos, pois entre os Espíritos em geral há muitos que não sabem mais e até mesmo conhecem menos do que os humanos. Aliás, essa teoria contrária é uma concepção humana. Não fomos nós que inventamos nem que supusemos a existência do perispírito para explicar os fenômenos. Sua existência nos foi revelada pelos Es-píritos e a observação no-la confirmou. Ela se apoia ainda no estudo das sensações dos Espíri-tos. E, sobretudo no fenômeno das aparições tangíveis, que para outros implicariam a solidifica-ção e a desagregação dos elementos constitutivos do Espírito, e consequentemente a sua desor-ganização. Além disso, seria necessário admitir que essa matéria, que pode tomar-se perceptível aos nossos sentidos, fosse o próprio princípio inteligente, o que não é mais racional do que confundir o cor-po físico com o Espírito ou a roupa com o corpo. Quanto à natureza íntima do Espírito, nada sa-bemos. Quando se diz que ele é material, devemos entendê-lo em sentido relativo e não absolu-to, porque a imaterialidade absoluta seria o nada. Ora, o Espírito é alguma coisa. O que se quer dizer, portanto, é que a sua essência é de tal maneira superior que não apresenta nenhuma analo-gia com o que chamamos matéria, e que por isso ela é, para nós, imaterial. 51. Eis a resposta de um Espírito a respeito do assunto: - "O que uns chamam perispírito é o mesmo que outros chamam envoltório fluídico. Eu diria, para me fazer compreender de maneira mais lógica, que esse fluido é a perfectibilidade dos sen-tidos, a extensão da vista e do pensamento. Mas me refiro aos Espíritos elevados. Quanto aos Espíritos inferiores, estão ainda completamente impregnados de fluidos terrenos;

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portanto, são materiais, como podeis compreender. Por isso sofrem fome, frio etc., sofrimentos que não podem atingir os Espíritos superiores, visto que os fluidos terrenos já foram depurados no seu pensamento, quer dizer, no Espírito. Para progredir, o Espírito necessita sempre de um instrumento, sem o qual ele não seria nada para vós, ou melhor, não o poderíeis conceber. O pe-rispírito, para nós, Espíritos erráticos, é o instrumento pelo qual nos comunicamos convos-co, seja indiretamente, por meio do vosso corpo físico ou do vosso perispírito, seja direta-mente com o vosso Espírito. Vem dai a infinita variedade de médiuns e de comunicações. Resta agora o problema científico, referente à própria essência do perispírito, que é outro assun-to. Compreendei primeiro a sua possibilidade lógica. Resta, a seguir, a discussão sobre a natu-reza dos fluidos, que é por enquanto inexplicável, pois a Ciência não conhece o suficiente a res-peito, mas chegará a conhecê-lo se quiser avançar com o Espiritismo. O perispírito pode variar de aparência, modificar-se ao infinito; o Espírito é a inteligência, não muda sua natureza. Neste assunto não podeis avançar, pois é uma questão que não pode ser explicada. Julgais que também não investigo, como vós? Vós pesquisais o perispírito, e nós atualmente pesquisamos o Espírito. Esperai, pois." - Lamennais. Assim, os Espíritos que podemos considerar adiantados ainda não puderam sondar a natureza do Espírito. Como poderíamos fazê-lo? É, pois uma perda de tempo querer perscrutar o princípio das coisas que, como ensina o Livro dos Espíritos, pertence aos segredos de Deus. Pretender descobrir, por meio do Espiritismo, o que ainda não é do alcance da Humanidade, seria desviá-lo do seu verdadeiro objetivo, fazer como a criança que quisesse saber tanto quanto o velho. O es-sencial é que o ser humano aplique o Espiritismo no seu aperfeiçoamento moral. O mais é ape-nas curiosidade estéril e quase sempre orgulhosa, cuja satisfação não o faria avançar sequer um passo. O único meio de avançar é tornar-se melhor. Os Espíritos que ditaram o livro que traz o seu nome provaram a própria sabedoria ao respeita-rem, no tocante ao princípio das coisas, os limites que Deus não nos permite passar, deixando aos Espíritos sistemáticos e presunçosos a responsabilidade das teorias prematuras e errôneas, mais fascinantes do que sérias, e que um dia cairão ao embate da razão, como tantas outras ori-undas do cérebro humano. Só disseram o justamente necessário para que o humano compreenda o seu futuro e assim encorajá-lo na prática do bem. SEGUNDA PARTE - DAS MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS CAPÍTULO I - AÇÃO DOS ESPÍRITOS SOBRE A MATÉRIA 52. Excluída a interpretação materialista, ao mesmo tempo rejeitada pela razão e pelos fatos, res-ta apenas saber se o Espírito, após o desencarne, pode manifestar-se aos encarnados. Assim re-duzida à sua mais simples expressão, torna-se a questão bastante fácil. Poderíamos perguntar, primeiro, por que motivo os seres inteligentes, que de alguma maneira vivem entre nós, embora naturalmente invisíveis, não poderiam demonstrar-nos a sua presença por algum meio. O sim-ples raciocínio mostra que isso nada tem de impossível, o que já é alguma coisa. Essa crença, aliás, tem a seu favor a aceitação de todos os povos, pois a encontramos em toda parte em todas as épocas. Ora, uma intuição não poderia ser tão generalizada, nem sobreviver através dos tem-pos, sem ter alguma razão. Ela é ainda sancionada pelo testemunho dos livros sagrados e dos Pais da Igreja, e foi necessário o ceticismo e o materialismo do nosso século para relegá-la ao campo das superstições. Se estamos, pois, em erro, essas autoridades também estão. Mas estas são apenas considerações lógicas. Uma causa, acima de tudo, contribuiu para fortale-cer a dúvida, numa época tão positiva como a nossa, em que tudo se quer conhecer, onde se quer saber o porquê e o como de todas as coisas: a ignorância da natureza dos Espíritos e dos meios pelos quais podem manifestar-se. Conquistado esse conhecimento, o fato das manifestações nada apresenta de surpreendente e entra na ordem dos fatos naturais. 53. A ideia que geralmente se faz dos Espíritos torna a princípio incompreensível o fenômeno das manifestações. Elas não podem ocorrer sem a ação do Espírito sobre a matéria. Por isso, os

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que consideram o Espírito completamente desprovido de matéria perguntam, com aparente ra-zão, como pode ele agir materialmente. E nisso precisamente está o erro. Porque o Espírito não é uma abstração, mas um ser definido, limitado e circunscrito. O Espírito encarnado é o espírito do corpo físico; quando o deixa pelo desencarne, não sai desprovido de qualquer envoltório. To-dos eles nos dizem que conservam a forma humana, e, com efeito, quando nos aparecem, é sob essa forma que os reconhecemos. Observamo-los atentamente no momento em que acabavam de deixar a vida física. Acham-se perturbados; tudo para eles é confuso; veem o próprio corpo físico perfeito ou mutilado, segundo o gênero de desencarne; por outro lado, veem a si mesmos e se sentem vivos. Alguma coisa lhes diz que aquele corpo físico lhes pertencia e não compreendem como possam estar separados. Continuam a se ver em sua forma anterior, e essa visão provoca em alguns, durante certo tempo, uma estranha ilusão: julgam-se ainda vivos - encarnados -. Falta-lhes a experiência desse novo estado para se convencerem da realidade. Dissipando-se esse primeiro momento de perturbação, o corpo físico lhes aparece como velha roupa de que se despiram e que não querem mais. Sen-tem-se mais leves e como livres de um fardo. Não sofrem mais as dores físicas e são felizes de poderem elevar-se e transpor o espaço, como faziam muitas vezes em vida física nos seus so-nhos. Ao mesmo tempo, apesar da falta do corpo físico constatam a inteireza da personalidade: tem uma forma que não os constrange nem os embaraça e tem a consciência do eu, da individua-lidade. Que devemos concluir disso? Que o Espírito não deixa tudo no túmulo, mas leva com ele alguma coisa. 54. Numerosas observações e fatos irrecusáveis, de que trataremos mais tarde, demonstraram a existência no humano de três componentes: - 1) o Espírito, princípio inteligente em que se encontra o senso moral; - 2) o corpo físico, invólucro material e grosseiro de que é revestido temporariamente para o cumprimento de alguns desígnios providenciais; - 3) o perispírito, invólucro fluídico, semimaterial, que serve de liame entre o Espírito e o corpo físico. O desencarne é a destruição, ou melhor, a desagregação do envoltório grosseiro que o Espírito abandona. O outro envoltório desprende-se e vai com o Espírito, que dessa maneira tem sempre um instrumento. Este último, embora fluídico, etéreo, vaporoso, invisível para nós em seu esta-do normal, é também material, apesar de não termos, até o presente, podido captá-lo e submetê-lo à análise. Este segundo envoltório do Espírito ou perispírito existe, portanto, na própria vida corpórea. É o intermediário de todas as sensações que o Espírito percebe, e através do qual o Espírito transmite a sua vontade ao exterior, agindo sobre os órgãos do corpo físico. Para nos servirmos de uma comparação material, é o fio elétrico condutor que serve para a recepção e a transmissão do pen-samento. É, enfim, esse agente misterioso, inapreensível, chamado fluido nervoso, que desempe-nha tão importante papel na economia orgânica e que ainda não se considera suficientemente nos fenômenos fisiológicos e patológicos. A Medicina, considerando apenas o elemento material ponderável, priva-se do conhecimento de uma causa permanente de ação, na apreciação dos fa-tos. Mas não é aqui o lugar de examinar essa questão; lembraremos somente que o conhecimen-to do perispírito é a chave de uma infinidade de problemas até agora inexplicáveis. O perispírito não é uma dessas hipóteses a que se recorre nas ciências para a explicação de um fato. Sua existência não foi somente revelada pelos Espíritos, pois resulta também de observa-ções, como teremos ocasião de demonstrar. Por agora, e para não antecipar questões que tere-mos de tratar, nos limitaremos a dizer que, seja durante a sua união com o corpo físico ou após a separação, o Espírito jamais se separa do seu perispírito. 55. Já se disse que o Espírito é uma flama, uma centelha. Isto se aplica ao Espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, ao qual não saberíamos dar uma forma determinada. Mas, em qualquer de seus graus, ele está sempre revestido de um invólucro ou perispírito, cuja natureza se eteriza à medida que ele se purifica e se eleva na hierarquia. Dessa maneira, a ideia de forma é para nós inseparável da ideia de Espírito, a ponto de não concebermos este sem aque-

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la. O perispírito, portanto, faz parte integrante do Espírito, como o corpo físico faz parte inte-grante do humano. Mas o perispírito sozinho não é o Espírito, como o corpo físico sozinho não é o humano, pois o perispírito não pensa. Ele é para o Espírito o que o corpo físico é para o huma-no: o agente ou instrumento de sua atividade. 56. A forma do perispírito é a forma humana, e quando ele nos aparece é geralmente a mesma sob a qual conhecemos o Espírito na vida física. Poderíamos crer, por isso, que o perispírito, desligado de todas as partes do corpo físico, se modela de alguma maneira sobre ele e lhe con-serva a forma. Mas não parece ser assim. A forma humana, com algumas diferenças de detalhes e as modificações orgânicas exigidas pelo meio em que o ser tem de viver, é a mesma em todos os globos. É, pelo menos, o que dizem os Espíritos. E é também a forma de todos os Espíritos não encarnados, que só possuem o perispírito. A mesma sob a qual em todos os tempos foram representados os anjos ou Espíritos puros. De onde devemos concluir que a forma humana é a forma típica de todos os seres humanos, em qualquer grau a que pertençam. Mas a matéria sutil do perispírito não tem a persistência e a rigidez da matéria compacta do corpo físico. Ela é, se assim podemos dizer, flexível e expansível. Por isso, a forma que ela toma, mesmo que decalca-da do corpo físico, não é absoluta. Ela se molda à vontade do Espírito, que pode lhe dar a apa-rência que quiser, enquanto o invólucro material lhe ofereceria uma resistência invencível. Desembaraçado do corpo físico que o comprimia, o perispírito se distende ou se contrai, se trans-forma, em uma palavra: se presta a todas as modificações, segundo a vontade que o dirige. É graças a essa propriedade do seu invólucro fluídico que o Espírito pode fazer-se reconhecer, quando necessário, tomando exatamente a aparência que tinha na vida física, e até mesmo com os defeitos que possam servir de sinais para o reconhecimento. Os Espíritos, portanto, são seres semelhantes a nós, formando ao nosso redor toda uma popula-ção que é invisível no seu estado normal. E dizemos no estado normal porque, como veremos, essa invisibilidade não é absoluta. 57. Voltemos a tratar da natureza do perispírito, que é essencial para a explicação que devemos dar. Dissemos que, embora fluídico, ele se constitui de uma espécie de matéria, e isso resulta dos casos de aparições tangíveis, aos quais voltaremos. Sob a influência de certos médiuns, veri-ficou-se a aparição de mãos, com todas as propriedades das mãos vivas, dotadas de calor, poden-do ser apalpadas, oferecendo a resistência dos corpos sólidos, pegando as pessoas, e que de re-pente se esvaneciam como sombras. A ação inteligente dessas mãos, que evidentemente obede-cem a uma vontade ao executar certos movimentos, até mesmo ao tocar músicas num instru-mento, prova que elas são a parte visível de um ser inteligente invisível. Sua tangibilidade, sua temperatura, a impressão sensorial que produzem, chegando mesmo a deixar marcas na pele, a dar pancadas dolorosas, a acariciar delicadamente, provam que são materialmente constituídas. Sua desaparição instantânea prova, entretanto, que essa matéria é extremamente sutil e se com-porta como algumas substâncias que podem, alternativamente, passar do estado sólido ao fluí-dico e vice-versa. 58. A natureza íntima do Espírito propriamente dito, ou seja, do ser pensante, é para nós inteira-mente desconhecida. Ele se revela a nós pelos seus atos, e esses atos só podem tocar os nossos sentidos por um intermediário material. O Espírito precisa, pois de matéria, para agir sobre a matéria. Seu instrumento direto é o perispírito, como o do humano é o corpo físico. O perispíri-to, como acabamos de ver, constitui-se de matéria. Vem a seguir o fluido universal, agente in-termediário, espécie de veículo sobre o qual ele age como nós agimos sobre o ar para obter cer-tos efeitos através da dilatação, da compressão, da propulsão ou das vibrações. Assim considerada, a ação do Espírito sobre a matéria é fácil de admitir-se. Compreende-se en-tão que os seus efeitos pertencem à ordem dos fatos naturais e nada têm de maravilhoso. Só pa-reciam sobrenaturais porque sua causa era desconhecida. Desde que a conhecemos, o maravi-lhoso desaparece, pois a causa se encontra inteiramente nas propriedades semimateriais do peris-pírito. Trata-se de uma nova ordem de coisas, que novas leis vêm explicar dentro em pouco nin-guém mais se espantará com esses fatos, como ninguém hoje se espanta de poder comunicar-se à

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distância, em apenas alguns minutos, por meio da eletricidade. 59. Talvez se pergunte como pode o Espírito, com a ajuda de uma matéria tão sutil, agir sobre corpos pesados e compactos, erguer mesas etc. Certamente não será um humano de ciências que fará essa objeção, porque, sem falar das propriedades desconhecidas que esse novo agente pode ter, não vimos com os próprios olhos exemplos semelhantes? Não é nos gases mais rarefeitos, nos fluidos imponderáveis, que a indústria encontra as mais poderosas forças motrizes? Quando vemos o ar derrubar edifícios, o vapor arrastar massas enormes, a pólvora gaseificada elevar ro-chedos, a eletricidade despedaçar árvores e perfurar muralhas, que há de estranho em admitir que o Espírito, servindo-se do perispírito, possa erguer uma mesa, sobretudo quando se sabe que esse perispírito pode tornar-se visível, tangível e comportar-se como um corpo sólido? CAPÍTULO IV - TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS (Movimentos de suspensão, ruídos, aumento e diminuição de peso dos corpos). 74. As respostas seguintes nos foram dadas pelo Espírito Luís e depois confirmadas por muitos outros: 1. O fluido universal é uma emanação da Divindade? - Não. 2. É uma criação da Divindade? - Tudo foi criado, exceto Deus. 3. O fluido universal é o próprio elemento universal? - Sim, é o princípio elementar de todas as coisas. 4. Tem alguma relação com o fluido elétrico, cujos efeitos conhecemos? - É o seu elemento. 5. Como o fluido universal se nos apresenta na sua maior simplicidade? - Para encontrá-lo na sua simplicidade absoluta seria preciso remontar aos Espíritos puros. No vosso mundo ele está sempre mais ou menos modificado, para formar a matéria compacta que vos rodeia. Podeis dizer, entretanto, que ele mais se aproxima dessa simplicidade no fluido que chamais fluido magnético animal. 6. Afirmou-se que o fluido universal é a fonte da vida: seria ao mesmo tempo a fonte da inteli-gência? - Não; esse fluido só anima a matéria. 7. Sendo esse fluido que forma o perispírito, parece encontrar-se nele uma espécie de condensa-ção que de certa maneira o aproxima da matéria propriamente dita? - De certa maneira, dizeis bem, porque ele não possui todas as propriedades da matéria e a sua condensação é maior ou menor, segundo a natureza dos mundos. 8. Como um Espírito pode mover um corpo sólido? - Combinando uma porção do fluido universal com o fluido que se desprende do médium apro-priado a esses efeitos. 9. Os Espíritos erguem a mesa com a ajuda dos braços, de alguma maneira solidificados? - Esta resposta não te dará ainda o que desejas. Quando uma mesa se move é porque o Espírito evocado tirou do fluido universal o que anima essa mesa de uma vida factícia. Assim preparada, o Espírito a atrai e a movimenta, sob a influência do seu próprio fluido, emitido pela sua vonta-

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de. Quando a massa que deseja mover é muito pesada para ele, pede a ajuda de outros Espíritos da sua mesma condição. Por sua natureza etérea, o Espírito propriamente dito não pode agir so-bre a matéria grosseira sem intermediário, ou seja, sem o liame que o liga à matéria. Esse liame, que chamas perispírito, oferece a chave de todos os fenômenos espíritas materiais. Creio me ha-ver explicado com bastante clareza para fazer-me compreender. 10. Os Espíritos que ele chama para ajudá-lo são inferiores a ele? Estão sob as suas ordens? - Quase sempre são seus iguais e acodem espontaneamente. 11. Todos os Espíritos podem produzir esses fenômenos? - Os Espíritos que produzem esses efeitos são sempre inferiores, ainda não suficientemente livres das influências materiais. 12. Compreendemos que os Espíritos superiores não se ocupem dessas coisas, mas perguntamos se, sendo mais desmaterializados, teriam o poder de fazê-lo, se o quisessem? - Eles possuem a força moral, como os outros possuem a força física. Quando necessitam desta última, servem-se dos que a possuem. Já não dissemos que eles se servem dos Espíritos inferio-res como vós dos carregadores? 13. Se bem compreendemos o que disseste, o princípio vital provém do fluido universal. O Espí-rito tira desse fluido o envoltório semimaterial do seu perispírito, e é por meio desse fluido que ele age sobre a matéria inerte. É Isso? - Sim, quer dizer que ele anima a matéria de uma vida factícia, artificial: a matéria se impregna de vida animal. A mesa que se move sob as vossas mãos vive como animal e obedece por si mesma ao ser inteligente. Não é o Espírito que a empurra como se fosse um fardo. Quando ela se eleva, não é o Espírito que a ergue com os braços: é a mesa animada que obedece à impulsão dada pelo Espírito. 14. Qual o papel do médium nesse fenômeno? - Eu já disse que o fluido próprio do médium se combina com o fluido universal do Espírito. É necessária a união de ambos, do fluido animalizado e do fluido universal, para dar vida à mesa. Mas não se deve esquecer que essa vida é apenas momentânea, extinguindo-se com a mesma ação, e muitas vezes antes que a ação termine, quando a quantidade de fluido já não é mais sufi-ciente para animar a mesa. 15. O Espírito pode agir sem o concurso do médium? - Pode agir à revelia do médium. Isso quer dizer que muitas pessoas ajudam os Espíritos na realização de certos fenômenos, sem o saberem. O Espírito tira dessas pessoas, como de uma fonte, o fluido animal de que necessita. É dessa maneira que o concurso de um médium, como o entendes, nem sempre é necessário, o que acontece, sobretudo nos fenômenos espontâneos. 16. A mesa animada age com inteligência? Pensa? - É como o bastão com que fazes um sinal inteligente a alguém. Não pensa, mas a vitalidade de que está animada lhe permite obedecer ao impulso de uma inteligência. É bom saber que a mesa em movimento não se torna Espírito e não tem pensamento nem vontade. 17. Qual a causa preponderante na produção deste fenômeno: o Espírito ou o fluido? - O Espírito é a causa e o fluido é o seu instrumento; ambos são necessários. 18. Qual o papel da vontade do médium? - Chamar os Espíritos e ajudá-los a impulsionar o fluido. 18a. É indispensável a vontade do médium? - Ela aumenta a potência, mas nem sempre é necessária, desde que pode haver o movimento,

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malgrado ou contra a vontade do médium, o que é uma prova da existência de uma causa inde-pendente. 19. Por que motivo não podem todos produzir o mesmo efeito e todos os médiuns não tem a mesma potência? - Isso depende do organismo e da maior ou menor facilidade na combinação dos fluidos, e ainda da maior ou menor simpatia do médium com os Espíritos que nele encontram a potência fluídica necessária. Esta potência, como a dos magnetizadores, é maior ou menor. Encontramos, nesse caso, pessoas inteiramente refratárias, outras em que a combinação só se verifica pelo esforço da sua própria vontade, e outras, enfim, em que ela se dá tão natural e facilmente que nem a perce-bem, servindo de instrumentos sem o saberem, como já dissemos. 20. As pessoas ditas elétricas podem ser consideradas médiuns? - Essas pessoas tiram de si mesmas o fluido necessário à produção dos fenômenos e podem agir sem auxílio dos Espíritos. Não são propriamente médiuns, no sentido exato da palavra. Mas po-de ser também que um Espírito as assista e aproveite as suas disposições naturais. 21. Ao mover os corpos sólidos, os Espíritos penetram na substância dos mesmos ou permane-cem fora dela? - Fazem uma coisa e outra. Já dissemos que a matéria não é obstáculo para os Espíritos, que tu-do penetram. Uma porção do seu perispírito se identifica, por assim dizer, com o objeto em que penetra. 22. Como o Espírito bate? Com um objeto material? - Não, como não usa os braços para erguer a mesa. Sabes que ele não dispõe de martelos. Seu martelo é o fluido combinado que ele põe em ação, pela sua vontade, para mover ou bater. Quando move, a luz vos transmite a visão do movimento; quando bate, o ar vos transmite o som. 23. Concebemos isso quando se trata de um corpo duro. Mas, como pode nos fazer ouvir ruídos ou sons através do ar? - Desde que age sobre a matéria, pode agir tanto sobre o ar como sobre a mesa. Quanto aos sons articulados, pode imitá-los como a todos os demais ruídos. 24. Dizes que o Espírito não usa as mãos para mover a mesa, mas em certas manifestações apa-receram mãos a dedilhar teclados, movimentando as teclas e produzindo sons. Não parecia, nes-se caso, que as teclas eram movimentadas pelos dedos? E a pressão dos dedos não é também di-reta e real, quando a sentimos em nós mesmos, quando essas mãos deixam marcas na pele? - Não poderias compreender a natureza dos Espíritos e sua maneira de agir por meio dessas comparações, que dão apenas uma ideia incompleta. É um erro querer sempre assemelhar às vos-sas, as maneiras deles procederem. Os processos dos Espíritos devem estar sempre em relação com a sua organização. Já não dissemos que o fluido do perispírito penetra na matéria e se iden-tifica com ela, dando-lhe uma vida factícia? Pois bem, quando o Espírito movimenta as teclas com os dedos, ele o faz realmente. Mas não é pela força muscular que faz a pressão. Ele anima a tecla, como faz com a mesa, e a tecla obedece à sua vontade e vibra a corda. Neste caso tam-bém ocorre um fato de difícil compreensão para vós. É que certos Espíritos são ainda tão atrasa-dos e de tal forma materiais em comparação com os Espíritos elevados, que conservam as ilusões da vida terrena e julgam agir como quando estavam no corpo físico. Não percebem a verdadeira causa dos efeitos que produzem, como um pobre humano não compreende a teoria dos sons que pronuncia. Se perguntares como tocam o piano, dirão que com os dedos, pois assim creem fazer. Produzem o efeito de maneira instintiva, sem o saberem, e não obstante pela sua vontade. Quan-do falam e se fazem ouvir, é a mesma coisa. 25. Entre os fenômenos citados como provas da ação de uma potência oculta, há os que são evi-dentemente contrários a todas as leis conhecidas da Natureza. A dúvida, então, não parece justa?

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- Acontece que o humano está longe de conhecer todas as leis da Natureza; se as conhecesse, se-ria Espírito superior. Cada dia, entretanto, oferece um desmentido aos que tudo pensam saber, pretendendo impor limites à Natureza, e nem por isso eles se mostram menos orgulhosos. Des-vendando incessantemente novos mistérios, Deus adverte ao humano que deve desconfiar das suas próprias luzes, pois chegará um dia em que a ciência do mais sábio será confundida. Não vês todos os dias o exemplo de corpos dotados de movimentos capazes de superar a força de gravitação? A bala de um canhão não supera momentaneamente essa força? Pobres humanos que vos considerais tão sábios, mas cuja tola vaidade é a todo instante confundida, sabei que sois ainda muito pequeninos! 75. Essas explicações são claras, categóricas, sem ambiguidades. Delas ressalta o ponto capital de que o fluido universal, que encerra o princípio da vida, é o agente principal das manifestações, e que esse agente recebe seu impulso do Espírito, quer seja encarnado ou errante. O fluido con-densado constitui o perispírito ou invólucro semimaterial do Espírito. Na encarnação, o perispí-rito está ligado à matéria do corpo físico; na erraticidade está livre. Quando o Espírito está en-carnado, a substância do perispírito está mais ou menos fundida com a matéria corpórea, mais ou menos colada à ela, se assim podemos dizer. Em algumas pessoas há uma espécie de emanação desse fluido, em consequência de condições especiais de sua organização, e é disso, propriamen-te falando, que resultam os médiuns de efeitos físicos. A emissão do fluido animalizado pode ser mais ou menos abundante e sua combinação mais ou menos fácil, e dai os médiuns mais ou me-nos possantes. Mas essa emissão não é permanente, o que explica a intermitência da força. 76. Façamos uma comparação. Quando queremos atingir alguma coisa situada à distância de nós, é pelo pensamento que o tentamos, mas o pensamento sozinho não poderia realizar o nosso in-tento. Precisamos de um instrumento que o pensamento dirigirá: um bastão, um projétil, um as-sopro etc. Note-se ainda que o pensamento não age diretamente sobre o bastão, que precisamos pegar. A inteligência, que é o próprio Espírito encarnado em nosso corpo físico, está unida ao corpo físico pelo perispírito e não pode agir sobre o corpo físico sem o perispírito, da mesma maneira que não pode agir sobre o bastão sem o corpo físico. Assim: ela age sobre o perispírito, que é a substância com que tem mais afinidade, o perispírito age sobre os músculos, estes fazem a mão pegar o bastão e o bastão atinge o alvo. Quando o Espírito não está encarnado necessita de um instrumento que não pertence ao seu organismo: esse instrumento é o fluido, com o auxí-lio do qual torna o objeto apropriado a realizar o impulso da sua vontade. 77. Quando, pois um objeto é movido, erguido ou atirado no ar, o Espírito não o pegou, não o ergueu nem o atirou como nós o fazemos com as mãos. Ele o saturou, por assim dizer, com o seu fluido, combinado com o do médium. O objeto, assim, momentaneamente vivificado, age como um ser vivo, com a diferença de não ter vontade própria e obedecer ao impulso da vontade do Espírito. Assim, o fluido vital, dirigido pelo Espírito, dá uma vida artificial e momentânea aos corpos inertes. Sendo o perispírito formado por esse fluido, segue-se que o Espírito encarnado, por meio do seu perispírito, é quem dá vida ao corpo físico, mantendo-se unido a ele enquanto o or-ganismo o permite. Quando ele se retira, o corpo físico morre. Então, se em lugar de uma mesa fizéssemos uma estátua de madeira, teríamos, sob a ação mediúnica, uma estátua que se moveria e daria pancadas, respondendo às nossas perguntas. Numa palavra: teríamos uma estátua anima-da por uma vida artificial. E como se diz mesas falantes, também se poderia dizer estátuas fa-lantes. Quanta luz lança esta teoria sobre uma infinidade de fenômenos até agora inexplicáveis! Quantas alegorias e efeitos misteriosos vêm explicar! CAPÍTULO XXII DA MEDIUNIDADE NOS ANIMAIS 234. Os animais podem ser médiuns? Frequentemente se têm proposto esta questão, e certos fa-

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tos pareceriam respondê-la afirmativamente. O que, sobretudo, tem dado motivo a aceitá-la, são os notáveis indícios de inteligência de alguns pássaros educados pelo ser humano, que parecem adivinhar o pensamento e chegam a tirar de um maço de cartas as que correspondem exatamente ao pedido feito. Observamos essas experiências com especial cuidado, e o que mais admiramos foi a arte que se teve de desenvolver para a instrução desses pássaros. Não se pode negar que eles possuem certa dose de inteligência relativa, mas devemos convir que, na circunstância aludida, sua perspicácia ultrapassaria de muito a do humano, porque ninguém se pode vangloriar de fazer o que eles fazem. Seria mesmo necessário, para certos casos, supor que eles possuem um dom de segunda-vista superior aos dos sonâmbulos mais clarividentes. Sabe-mos, com efeito, que a lucidez é essencialmente variável e está sujeita a frequentes in-termitências, enquanto entre esses pássaros seria permanente e funcionaria, no caso, com uma regularidade e uma precisão que não se encontram em nenhum sonâmbulo. Numa palavra: ela jamais lhes faltaria. A maioria das experiências que presenciamos assemelham-se às práticas dos prestidigitadores. Não podiam deixar dúvidas quanto aos meios empregados, particularmente o das cartas prepara-das. A arte da prestidigitação consiste em dissimular os truques empregados, sem o que o efeito não seria atingido. Mas embora assim reduzido o caso não é menos interessante, pois resta sem-pre a admirar o talento do instrutor e também a inteligência do aluno, porque a dificuldade a vencer é bem maior do que se o pássaro só tivesse de agir através das suas próprias faculdades. Conseguir que ele faça coisas que excedem os limites do possível para a inteligência humana é provar, por esse mesmo fato, o emprego de um processo secreto. Aliás, é inegável que os pássa-ros só atingem esse grau de habilidade após algum tempo de cuidados especiais e perseverantes, o que não seria necessário se sua inteligência bastasse para levá-los aos resultados. Não é mais extraordinário ensinar-lhes a tirar cartas do que habituá-los a cantar ou repetir palavras. Aconteceu o mesmo quando a prestidigitação quis imitar a segunda-vista: levava-se o sujeito ao extremo, para que a ilusão fosse mais durável. Desde a primeira sessão que assistimos, nada mais vimos do que uma imitação muito imperfeita do sonambulismo, revelando ignorância das condições mais características dessa faculdade. 235. De qualquer maneira, as experiências acima deixam intacta a questão principal, pois assim como a imitação do sonambulismo não nega a existência de faculdade, a imitação da mediunida-de nos pássaros nada prova contra a sua possível existência nesses ou em outros animais. Trata-se, pois, de saber se os animais são aptos, como os humanos, a servir de intermediários aos Espí-ritos para as suas comunicações inteligentes. Parece mesmo muito lógico supor que um ser vivo, dotado de certo grau de inteligência, seja mais apropriado a esses efeitos do que um corpo inerte, sem vitalidade, como uma mesa, por exemplo. Apesar disso, é o que não se dá. 236. A questão da mediunidade dos animais foi plenamente resolvida na dissertação seguinte, feita por um Espírito cuja profundidade e sagacidade podem ser apreciadas nas citações que já fizemos. Para bem se apreender o valor de sua demonstração é essencial que nos reportemos à sua explicação anterior sobre o papel do médium nas comunicações, questão 225. Esta comunicação foi dada em seguida a uma discussão a respeito, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas: - Abordo hoje a questão da mediunidade dos animais, levantada e sustentada por um dos vossos companheiros mais fervorosos. Pretende ele, em virtude deste axioma: quem pode o mais, pode o menos, que nós podemos mediunizar os pássaros e outros animais, servindo-nos deles nas co-municações com a espécie humana. É o que chamais em Filosofia, e mais particularmente em Lógica, única e simplesmente um sofisma. "Animais, diz ele, a matéria inerte, ou seja, uma me-sa, uma cadeira, um piano; com mais razão deveis animar a matéria já animada, principalmente a dos pássaros". Pois bem, dentro das leis normais do Espiritismo, isso não é assim e não pode ser assim. Primeiro, ponderemos bem as coisas. O que é um médium? É o ser, indivíduo que serve de in-termediário aos Espíritos, para que estes possam comunicar-se facilmente com os humanos, Es-

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píritos encarnados. Por conseguinte, sem médium não há comunicações tangíveis, mentais, es-critas, físicas, de qualquer espécie que seja. Há um princípio que, disso estou seguro, é admitido por todos os espíritas: o de que os semelhan-tes agem através dos semelhantes e como os seus semelhantes. Ora, quais são os semelhantes dos Espíritos, senão os encarnados ou não? Seria preciso repetir isto sem cessar? Pois bem, ou o repetirei ainda: o vosso perispírito e o nosso são tirados do mesmo meio, são de natureza idênti-ca, são semelhantes, numa palavra. Possuem ambos uma capacidade de assimilação mais ou menos desenvolvida, de imantação mais ou menos vigorosa, que permite a nós, Espíritos e en-carnados, pôr-nos muito pronta e facilmente em relação. Enfim, o que pertence especificamente aos médiuns, é essência mesma de sua individualidade, é uma afinidade especial, e ao mesmo tempo uma força de expansão particular, que anulam neles toda possibilidade de rejeição, estabe-lecendo entre eles e nós uma espécie de corrente ou de fusão, que facilita as nossas comunica-ções. É, de resto, essa possibilidade de rejeição, própria da matéria, que se opõe ao desenvolvi-mento da mediunidade na maioria dos que não são médiuns. Os humanos estão sempre propensos a exagerar tudo. Uns, e não me refiro aqui aos materialistas, recusam um Espírito aos animais, enquanto outros querem dar-lhes um, por assim dizer, seme-lhante ao nosso. Porque pretender assim confundir o perfectível com o imperfectível? Não, não, convencei-vos disso, - o fogo que anima os animais, o sopro que os faz agir, movimentar-se e fa-lar na sua linguagem própria, não tem, quanto ao presente nenhuma aptidão para se mesclar, se unir ou se confundir com o sopro divino -, o Espírito, numa palavra, que anima o ser essencial-mente perfectível: o humano, esse Rei da Criação. Ora não é isso que faz a superioridade da es-pécie humana sobre as outras espécies terrenas, essa condição essencial da perfectibilidade? Pois bem: reconhecei então que não se pode assimilar ao humano, único perfectível em si mesmo e nas suas obras, qualquer indivíduo de outras espécies viventes da Terra. O cão, cuja inteligência é superior entre os animais e o tornou amigo e comensal do humano será perfectível por si mesmo e por sua própria iniciativa? Ninguém ousaria sustentar isso, porque o cão não faz progredir o cão, e o mais amestrado entre eles é sempre ensinado pelo seu dono. Desde que o mundo é mundo que a lontra constrói a sua choça sobre as águas, sempre com as mesmas proporções e seguindo um sistema invariável. Os rouxinóis e as andorinhas jamais construíram seus ninhos da maneira diferente dos seus ancestrais. Um ninho de pardais de antes do dilúvio, como um ninho de pardais de hoje é sempre o mesmo, feito nas mesmas condições e pelo mesmo sistema de entrelaçamento de capins e pauzinhos recolhidos na primavera, na época dos amores. As abelhas e as formigas, em suas pequenas repúblicas organizadas, jamais varia-ram os seus hábitos de coleta de provisões, a sua maneira de agir, os seus costumes e as suas produções. Por fim, a aranha tece sempre a sua teia da mesma maneira. De outro lado, se procurardes as cabanas de ramagens e as tendas das primeiras idades da Terra, encontrareis em seu lugar os castelos e os palácios da civilização. As vestes de peles selvagens sucederam os tecidos de ouro e seda. Enfim, a cada passo encontrareis a prova da marcha inces-sante da Humanidade em seu progresso. Desse progresso constante, invencível, irrecusável da espécie humana, e do estacionamento inde-finido das outras espécies animadas, concluireis comigo que se existem princípios comuns a tudo o que vive e se move na Terra: o sopro e a matéria, não é menos verdade que somente vós, Espí-ritos encarnados, estais submetidos a essa inevitável lei do progresso que vos impele fatalmente para frente e sempre para frente. Deus pôs os animais ao vosso lado como auxiliares para vos alimentarem, para vos vestirem e vos ajudarem. Deu-lhes um pequeno grau de inteligência por-que, para vos auxiliar, precisam compreender, e condicionou essa inteligência aos serviços que devem prestar. Mas, na sua sabedoria não quis que fossem submetidos à mesma lei do progres-so. Tais como foram criados, assim ficarão até a extinção de suas espécies. Costuma-se dizer: os Espíritos mediunizam e fazem mover-se a matéria inerte, as cadeiras, as mesas, os pianos. Fazem mover, sim; mas mediunizam, não! Porque, ainda uma vez: sem mé-dium, nenhum desses fenômenos se produz. Que há de extraordinário em fazermos que se mova, com a ajuda de um ou de muitos médiuns, a matéria inerte, passiva, que justamente em razão de sua passividade, de sua inércia, está em condições de receber os movimentos e os impulsos que lhe desejamos dar? Para isso necessitamos de médiuns, é claro, mas não é necessário que o mé-

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dium esteja presente ou consciente, porque podemos agir com os elementos que ele nos fornece, sem que ele o saiba e longe dele, sobretudo nos fenômenos de tangibilidade e de transportes. Nosso envoltório fluídico, mais imponderável e mais sutil que o mais sutil e imponderável de vossos gases, unindo-se, casando-se, combinando-se com o envoltório fluídico mais animalizado do médium, e cuja propriedade de expansão e de penetrabilidade escapa aos vossos sentidos grosseiros e é quase inexplicável para vós, permite-nos movimentar os móveis e até mesmo que-brá-los em aposentos vazios. Certamente os Espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis para os animais, e muitas vezes o pavor súbito que os toma, e que vos parece sem motivo, é causado pela visão de um ou de muitos desses Espíritos, mal intencionados em relação aos indivíduos presentes ou aos seus donos. Muito frequentemente se veem cavalos que se recusam a avançar ou recuar, ou que se empinam diante de um obstáculo imaginário. Pois bem! Podeis estar certos de que o obstáculo imaginário é quase sempre um Espírito ou um grupo de Espíritos que se comprazem em detê-los. Lembrai-vos da mula de Balaão, que, vendo um anjo pela frente e temendo sua espada flamejante, não queria avançar. É que antes de se manifestar visivelmente a Balaão, o anjo quis tornar-se visível apenas para o animal. Mas, quero repeti-lo: não mediunizamos diretamente nem os animais nem a matéria inerte. Precisamos sempre do concurso consciente ou inconsciente de um médium humano, porque necessitamos da união dos fluidos similares, que não encontramos nos animais nem na matéria bruta. O Sr. T., dizem, magnetizou o seu cão. A que resultado chegou? Matou-o. Porque esse infeliz animal morreu depois de haver caído numa espécie de atonia, de langor, consequência de sua magnetização. Com efeito, infiltrando-lhe um fluido haurido numa essência superior à essência especial da sua natureza, ele o esmagou, agindo sobre ele, embora mais lentamente, à semelhan-ça do raio. Assim, não havendo nenhuma possibilidade de assimilação entre o nosso perispírito e o envoltório fluídico dos animais propriamente ditos, nós os esmagaríamos imediatamente ao mediunizá-los. Isso estabelecido, reconheço perfeitamente a existência de aptidões diversas entre os animais; que certos sentimentos, certas paixões idênticas a paixões e sentimentos humanos se desenvol-vem neles; que são sensíveis e reconhecidos, vingativos e rancorosos, segundo o tratamento bom ou mau que lhe dispensarmos. É que Deus, nada fazendo incompleto, deu aos animais, com-panheiros e servidores dos humanos, as qualidades de sociabilidade que faltam inteiramente nos animais selvagens que habitam as solidões. Mas dai a poderem servir de intermediários para a transmissão do pensamento dos Espíritos vai um abismo: a diferença das naturezas. Sabeis que tiramos do cérebro do médium os elementos necessários para dar ao nosso pensamen-to a forma sensível e apreensível para vós. É com o auxílio dos seus próprios materiais que o médium traduz o nosso pensamento em linguagem vulgar. Pois bem: que elementos encontrarí-amos no cérebro de um animal? Haveria ali palavras, letras, alguns sinais semelhantes aos que encontramos no humano, mesmo o mais ignorante? Não obstante, direis, os animais compreen-dem o pensamento do ser humano, chegam mesmo a adivinhá-lo. Sim, os animais amestrados compreendem certos pensamentos, mas acaso já os vistes reproduzi-los? Não. Concluí, pois, que os animais não podem servir-nos de intérpretes. Para resumir: os fenômenos mediúnicos não podem produzir-se sem o concurso consciente ou inconsciente dos médiuns, e é somente entre os encarnados, Espíritos como nós, que encontra-mos os que podem servir-nos de médiuns. Quanto a ensinar cães, pássaros e outros animais, para fazerem estes ou aqueles serviços, é problema vosso e não nosso. - Erasto. OS ANIMAIS TÊM PERISPÍRITO? SÍNTESE DE ALGUMAS RESPOSTAS DO LIVRO DOS ESPÍRITOS - 598 - O "espírito" dos animais são individualizados, porém sem consciência dessa individuali-zação e com algum grau de inteligência; suficiente apenas para as funções que executam. - 607 - Na fase preliminar de aprendizado, o Princípio Inteligente ( massa ) age no mundo ani-

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mal, aprendendo e transformando-se, a seguir, por individualização, em Espírito. - 613 - Os "espíritos" dos animais não fazem escala evolutiva direta, de mundos para mundos ou de faixas evolutivas. - As diferentes espécies de animais não procedem intelectualmente umas das outras, por via de progressão, assim; o "espírito" da ostra não se torna sucessivamente do peixe... - 236 -... Tais como foram criados, assim ficarão até a extinção de suas espécies. -... e é somente entre os encarnados, Espíritos como nós, que encontramos os que podem servir-nos de médiuns. CONCLUSÕES POSSÍVEIS: a) os animais não possuem um Espírito, no sentido pleno da palavra. b) como possuem uma inteligência relativa, isto necessariamente implica em existência de um "perispírito", que deve ser condicionado a essa relatividade. c) da impossibilidade de ação mediúnica entre Espíritos humanos e os "espíritos" dos animais; em razão da diferença de suas composições fluídicas nos envoltórios, pode-se concluir: - NOS ANIMAIS É POSSÍVEL, MUITO PROVÁVEL, QUE EXISTA UM "PERIS-PÍRITO", PORÉM COM QUALIDADES DIFERENTES DA DO PERISPÍRITO HUMANO! - CERTAMENTE NÃO POSSUEM UM PERISPÍRITO COM AS QUALIDADES NECESSÁRIAS AO PROCESSO EVOLUTIVO ESPIRITUAL! Fim