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Os argonautas do pacífico ocidental

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Os argonautas do pacífico ocidental

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Bronisław Kasper Malinowski (Cracóvia, 7 de Abril de 1884 — New Haven, 16 de Maio de 1942) foi um antropólogo polaco. Ele é considerado um dos fundadores da antropologia social. Fundou a escola funcionalista. Suas grandes influências incluiam James Frazer e Ernst Mach. Segundo o antropólogo Ernest Gellner, Malinowski tomou uma posição original em relação aos conflitos de ideias do seu tempo. Ele não repudiou o nacionalismo, uma das ideologias nascentes e marcantes do século XIX. Mas ele fusionou o romantismo com o positivismo de uma nova maneira, tornando possível investigar as velhas comunidades mas ao mesmo tempo recusando conferir autoridade ao passado. Ele rejeitou a especulação evolucionista e a manipulação do passado para fins do presente, pecados vulgares do seu tempo. Sem dúvida, a principal contribuição de Malinowski à antropologia foi o desenvolvimento de um novo método de investigação de campo, cuja origem remonta à sua intensa experiência de pesquisa na Austrália, inicialmente com o povo Mailu (1915) e posteriormente com os nativos das Ilhas Trobriand (1915-16, 1917-18).

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• Nesta obra, publicada em MALINOWSKI, Bronislaw Kasper. Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978, o autor, relata a sua estadia nestas ilhas povoadas por nativos, que ficam perto da Austrália, em três expedições: 1914-1915 (8 meses), 1915-1916 (1 ano) e 1917-1918 (1 ano). O grande tema do livro é o “Kula”, que é o sistema primitivo de comércio empregado pelos nativos que navegam no mar em embarcações de fabricação própria.

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• Inicialmente, há uma descrição de como foi realizada a coleta de dados: através de observações próprias, informantes pagos (eu diria, subornados com fumo) e entrevista direta (ao longo do tempo o autor assimilou o idioma nativo).

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• No capítulo I, vimos como é a região, e os habitantes. O sistema é matrilinear, ou seja, “Descendência, herança e posição social seguem a linha feminina”. Diferentes ilhas possuem indivíduos com características também diferentes; enquanto uma ilha tem agricultores, outra tem fabricantes de utensílios, existe até uma ilha de canibais, entre outras mais exóticas.

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• O capítulo II remete o leitor às Ilhas Trobriand, ilhas do norte (Boyowa faz parte delas), onde os homens se dedicam às lavouras e as mulheres são mais receptivas do que por exemplo nas ilhas Amphlett. Em geral, existe uma profunda crença na magia (pronunciamento de ditados mágicos secretos acompanhados de ritos) como causadora do bem e do mal, do casamento e da morte.

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• Então no capítulo III, é descrito o que e como é feito o Kula. É um grande sistema de expedições marítmas, feitas em círculos percorrendo todas as ilhas com tribos pertencentes ao sistema, e a cada visita, trocam-se presentes entre os homens que visitam e os habitantes da aldeia visitada. Mulheres não participam de expedições Kula. Os ítens considerados de valor, o que poderia ser comparado ao ouro e pedras preciosas do mundo civilizado são colares e braceletes, fabricados com corais por certos nativos. As transações são feitas sempre entre dois parceiros Kula, de duração vitalícia, e a regra é: se é dado um presente de alto valor, um (ou vários) presente de valor equivalente terá de ser dado de volta, não interessando se será no próximo minuto, na próxima hora ou no próximo ano.

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• Vemos no capítulo IV como é feito as canoas de navegação marítma, masawa. Basicamente é um trabalho comunitário; tem um líder que é o dono da canoa, Toliwaga, e os trabalhadores recebem no final do serviço, alimentos e presentes como pagamento. A fabricação, desde o corte da árvore, passando pelo corte do tronco para ficar oco, atadura das partes e pintura é amparada pela magia, que é o papel de um feiticeiro nomeado pelo Toliwaga.

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• No capítulo V, há um detalhamento dos passos descritos no capítulo IV, muitos encantamentos mágicos são transcritos pro nosso idioma, algo que depende muito da magia é a velocidade da canoa, praticamentes todos os encantamentos se preocupam na fabricação de uma canoa que seja veloz.

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• O capítulo VI começa descrevendo uma cerimônia de lançamento de uma masawa recém-fabricada, que é presenciada por todos os habitantes da aldeia, e o pagamento feito aos trabalhadores. Depois fala-se sobre inúmeras formas de pagamento/troca por produtos/serviços, incluindo a passagem da herança da mãe para os filhos, etc. Convém notar que existe o acúmulo de riqueza através dos celeiros, que ficam recheados de inhames, alguns por tanto tempo que chegam até mesmo a apodrecer, principalmente nos celeiros dos chefes tribais, que costumam ser os mais recheados.

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• O breve capítulo VII deixa para o leitor a transcrição de alguns encantamentos que antecedem a partida das canoas, os argonautas despedem-se das mulheres, que ficam e recebem encantamentos para não receberem visitas de homens de fora, pois em caso de adultério a canoa do esposo fica “lenta”.

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• Capítulo VIII: a expedição para num banco de areia Buwa. Dura apenas um dia e uma noite, para descansar e se acostumar com a ausência dos que ficaram na aldeia. No meio-dia existe uma cerimônia de distribuição de alimentos.

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• IX: finalmente a expedição viaja. Conversam sobre uma ilha habitada apenas por mulheres, de onde poucos homens voltam com vida quando lá se aventuram, um polvo gigante do tamanho de uma canoa que fica ameaçando engolir todos vivos até que jogam uma criança na sua boca em sacrifício, e pedras vivas, que perseguem canoas e saltam do mar, acertando e quebrando-as.

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• X: acredita-se em bruxas voadoras que podem ficar invisíveis e se transformar em bichos, como pássaros e morcegos, as “mulukwausi”, que percebem a longa distância quando alguém morre e atacam a noite, se alimentando do cadáver. Os males causados por elas podem ser prevenidos com encantamentos, e remediados. À noite, embarcações sofrem risco de ataques.

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• XI: nas Ilhas Amphlett, rochosas e montanhosas, examina-se a sociologia do Kula, os tripulantes, que vieram de Boyowa, não se envolvem com as mulheres dali, o Kula só pode ser praticado por homens que já passaram pela adolescência, investiga-se de onde vem o barro do qual são feitos os resistentes potes (mulheres são encarregadas nesta tarefa): são importados de uma outra ilha, mas conta a lenda que antigamente vinha do topo de uma montanha até os dois homens que extraíam o barro de lá brigaram e um fugiu levando todo o barro embora.

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• XII: existem diversos mitos que permeiam o Kula, os antigos contam a origem do homem: os primeiros humanos vieram de dentro da terra. Outros mitos falam de uma homem que possuía poderes sobrenaturais e os outros o invejavam, e fizeram de tudo para matá-lo, sem sucesso. Outro, conta sobre como um feiticeiro fez uma canoa voadora e chegou ao destino antes de seus colegas de aldeia, mesmo tendo partido um dia depois deles. Ele foi morto e a receita completa de como fazer uma canoa voadora se perdeu, uma explicação para o fato dos nativos de Dobu praticarem canibalismo, e o fato dos conhecimentos sobre certas magias pertencerem a determinados “clãs totêmicos”.

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• XIII: finalmente chegamos ao destino final da expedição: a praia de Sarubwoyna. As canoas de expediçõesde todas as ilhas estão reunidas, com cerca de 40 delas, vários ritos mágicos são encenados, existência de um mito sobre o latido dos cachorros durante as refeições.

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• XIV: estamos na ilha de Dobu (habitantes canibais!) e o autor explicou o “rito de boas vindas” que se baseia em agressões, e como o Toliwaga (dono da canoa, masawa) se prepara para descer da canoa e receber os presentes, alguns pormenores dos procedimentos de entrega e recepção de presentes Kula, intermediação com fins lucrativos e as diferentes hierarquias de presentes Kula: basi, kudu, pokala, gimwali, talo’i.....

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• XV: estamos já na viagem de volta. Mas antes da partida, tem-se que aproveitar e catar umas conchas spongylus, que existem no coral dali, e servem de matéria-prima para a fabricação de colares, inclusive os que são usado como moeda-corrente no Kula. E vamos navegando, pausando num banco de areia onde as conchas são estendidas na praia e os chefes ficam com as maiores quantias. No retorno à ilha natal, as esposas estão interessadas nos alimentos trazidos nas canoas, principalmente sagu.

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• XVI: na ilha de Sinaketa recebemos a visita de retribuição dos habitantes de Dobu, aguardada ansiosamente pelos nativos. Três dias de transações Kula se efetuam com os nativos de Dobu fornecendo, entre outras coisas, sagu e, os de Sinaketa, carne (porco), todas antecedida pelo toque sonoro de búzios. No quarto dia as canoas partem, uma a uma, de volta. A permanência de um branco (o autor do livro) entre os nativos os incomodou (um pouco) e não apareceram mulheres na praia.

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• XVII: neste longo capítulo, uma ênfase na magia dos nativos, que segundo sua mentalidade, rege tudo, desde os interesses sociais, como fertilidade na agricultura e construção de canoas que sejam velozes, passando por sucesso sexual, a chuva, a direção do vento, proteção contra as nefastas mulukwausi e outros seres malignos, a doença, salvo casos de mal-estares passageiros, também é causada pela magia e outras desgraças, como perda da esposa, morte, e demais maldições são todas por culpa da magia. Logo em seguida tenta-se rastrear as raízes etnográficas da magia, mas isto não é tarefa fácil, pois jamais um nativo responderia a esta pergunta diretamente, ou escreveria uma dissertação sobre o assunto, encantamentos não são transmitidos por espíritos através de sonhos, mas surgem do fundo da terra, por exemplo. Diversos tipos de encantamentos: pronunciados sem ritos, acompanhados por ritos de impregnação, por ritos de transferência, e encantamentos acompanhados por oferendas e invocações. Onde fica armazenado a recordação dos encantamentos: na barriga. Pormenores de algumas magias. Enfim, a magia se dá nos objetos (ou eventos da natureza) pela repetição dos encantamentos, até o objeto se modificar da forma desejada.

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• XVIII: pesquisa-se sobre a origem das palavras nos encantamentos e descobre-se que apesar de ter frases centrais de origem arcaica, muitas palavras são adicionadas aos encantamentos ao longo das gerações, é fornecida a transcrição e tradução do encantamento Wayugo como exemplo. Vemos outra transcrição de um encantamento Kula, e analisa-se palavra por palavra, pelo aspecto principalmente fonético, algumas palavras não tem significado no mundo real, são as “palavras mágicas”. Outras transcrições, e duas explicações diferentes para o significado da palavra visi’una, segundo dois informantes.

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• XIX: O Kula interior – como funciona o “Kula interior”, que é realizado dentro das ilhas Trobriand, e a perda do poder pelos chefes tribais devido à exploração comercial dos nativos pelo mundo civilizado, onde obtém-se pérolas em troca de fumo, noz de areca etc. os casamentos intertribais, que são feitos pelas classes abastadas, entre homens de Sinaketa e mulheres de Kiriwina. Inédita realização do Kula entre duas mulheres: ambas esposas do chefe tribal. Os dois tipos de Kula interior: entre duas aldeias unidas por terra, e dentro de uma mesma comunidade .

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• XX: Expedições entre Kiriwina e Kitava – as trocas entre estas duas ilhas não são tão necessárias quanto às entre Sinaketa e Dobu, já que as duas ilhas possuem praticamente as mesmas características, atividades econômicas, produtos, embora as transações sigam todas as normas do Kula. O escândalo quando um filho do chefe da aldeia visitante é pego em adultério com uma das mulheres mais jovens do chefe da tribo anfitriã, a forma violenta de se presentear uma familia com porcos.

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• XXI: As divisões restantes do Kula e suas ramificações – conexões da ilha Tubetube com Murua (denominação dos habitantes de Tubetube da ilha Woodlark), Normandby e outras, o uso de canoas maiores para viagens em alto-mar, a absorção destes nativos pela indústria da pérola, rotas de troca entre Kavataria, Kayleula, e demais ilhas.

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• XXII: O significado do Kula – finalizando, algumas observações sobre o Kula, o fato dos nativos se apegarem aos presentes não de uma forma como nós ocidentais nos apegamos à riqueza, mas de uma forma de “adoração religiosa”, outras disgressões, e uma reflexão sobre o papel da etnologia perante aos grandes conflitos mundiais, como exemplo a I Guerra Mundial, que acontecia nos anos em que a presente pesquisa era vivenciada e registrada neste arquípelogo.