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Revista geo-paisagem (on line) Ano 5, nº 9, 2006 Janeiro/Junho de 2006 ISSN Nº 1677-650 X Revista indexada pelo Latindex , Dursi e Capes

“Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

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Revista geo-paisagem (on line)

Ano 5, nº 9, 2006

Janeiro/Junho de 2006

ISSN Nº 1677-650 X

Revista indexada pelo  Latindex ,

Dursi e  Capes

 

 

 

 

 

OS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL - SEU PAPEL NA

ECONOMIA E NA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO1[1].

 

 

1[1]. Este artigo constitui-se na primeira parte de um trabalho originalmente elaborado

para a disciplina Seminá- rio do Programa de Pós-Graduação, nível de Doutorado, da

UFRJ, em 1997.

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RUI ERTHAL2[2]

Universidade Federal Fluminense

 

Resumo

 

O presente texto o papel dos complexos industriais agro-industriais – segundo

uma perspectiva econômica e espacial.

 

Palavras-chave: agricultura brasileira, complexos industriais, fronteira

 

Abstract

 

This text analyses the role of agrarian industrials complexs in Brazil – in the

economy and the spatial organization.

 

Keywords : brazilian farm , industrials complexs, frontier .

 

No inverno de 1978/79, Washington (DC) é tomada por uma “parada de

tratores” promovida por agricultores (farmers) norte-americanos, ligados ao “American

Agricultural Movement” (AAM). Esta grande manifestação protestava contra os baixos

preços dos produtos agrícolas (Burbach e Flynn, 1982). Em abril de 1997, Brasília (DF)

é inundada por uma passeata com cerca de 40.000 trabalhadores rurais ligados ao

2[2] Atual chefe do Departamento de Geografia da UFF, e – mail: [email protected]

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“Movimento dos Sem-Terra” (MST) que, vindos a pé, de diversos pontos do território

brasileiro, reivindicavam a efetivação da reforma agrária.

Nos Estados Unidos, os agricultores lutavam pela sobrevivência da tradicional

agricultura familiar, até então o esteio do sistema agrário do país. No Brasil, luta-se,

ainda, pela propriedade da terra por parte, principalmente, dos pequenos produtores que

foram expropriados dos meios de produção. Estes dois eventos, à primeira vista

desconectados entre si no tempo e no espaço, ilustram os efeitos perversos do avanço

das relações capitalistas no campo que ocorrem em escala planetária.

Nesta perspectiva, quaisquer estudos sobre a atividade rural, com exceção dos

modelos coletivistas, devem contemplar o processo de desenvolvimento e expansão do

capitalismo. Neste sentido, a América Latina e, em particular, o Brasil, passaram a

constituir-se num dos espaços mais atrativos do mundo desde a II Guerra, para a

expansão do agrobusiness e, com ele, um novo padrão agrícola, o chamado “complexo

agroindustrial” (CAI).

Lembre-se que a agropecuária brasileira prestou vital papel no processo histórico

da ocupação do território e na configuração espacial do país, além de ter muito

contribuído via exportação (reservas cambiais), à sua própria mudança modernizante e à

edificação do complexo industrial (agroindustrial) brasileiro.

A partir do final da década de 1950, o desempenho das atividades agrárias

brasileiras, baseado no processo de modernização, foi de tal monta que colocou tal

assunto entre os mais importantes temas de discussão científica. Desta forma, os

complexos agroindustriais no país dão oportunidade de se levantar uma série de

questões de natureza econômica, social, política, técnica, social, espacial entre outras.

Na primeira parte deste trabalho procurou-se entender o processo de formação

dos CAIs, sistematizados em períodos, e cujas raízes já se encontram na segunda

metade do século XIX, até a consolidação destes complexos na década de 1980. Na

segunda parte deu-se atenção aos aspectos teóricos (conceitos e formas de integração) e

empíricos (modernização da atividade agrária brasileira e papel do Estado). Buscou-se,

na terceira parte3[3], levantar as conseqüências da modernização e, com ela, dos CAIs,

3[3] - A ser publicada.

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em certos horizontes da economia e da organização espacial brasileira. Serão destacados

aspectos destes impactos na relação de produção, estrutura fundiária, produtividade,

relação de trabalho, expansão da área agrícola e modificações espaciais (rural e urbana).

Enfim, apesar da complexidade, magnitude e polêmica sobre a temática em

análise, buscou-se caracterizar, sistematizar e, deste modo, compreender não só os

complexos agropecuários em si, mas a própria modernização do campo, tendo, como

referência, autores consagrados e com formação acadêmica e ideológica diferenciada.

 

A FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL

Embora os complexos ou sistemas agroindustriais (CAIs) no Brasil tenham se

conformado de modo mais específico na década de 1970, algumas das raízes da

modernização agrária podem ser encontradas no século passado.

As mudanças ligadas às inovações do campo ocorreram sob a lógica, os

objetivos e as estratégias do capital, em princípio comercial, em seguida industrial e,

depois, financeiro. Naturalmente, os setores agrícolas básicos ligados à exportação,

sobretudo café, cana de açúcar, e algodão, foram no passado os mais susceptíveis na

adoção de inovações, tanto a nível técnico como nas relações de trabalho.

Graziano da Silva (1982), Kageyama et al. (1989) e Martini (1991), entre outros

estudiosos, contribuíram no sentido de periodizar o processo histórico da passagem do

denominado “complexo agrário” ao “complexo agroindustrial”. Neste processo

encontram-se envolvidas a substituição da economia “natural” por atividades agrícolas

integradas à moderna industrialização, a intensificação da divisão do trabalho e das

trocas intersetoriais, a especialização da agricultura e a substituição das importações

pelo mercado interno.

Ligado ao capital comercial, o complexo rural encontrava-se atado ao comércio

externo através de um produto valorizado no mercado internacional. As unidades

produtoras (fazendas e engenhos/usinas) eram quase que auto-suficientes. Para realizar

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a produção voltada à exportação, elas se proviam, dentro de suas possibilidades, de

artesanatos e manufaturas e, assim, produziam equipamentos rudimentares para o

trabalho, bem como insumos simples, além de transporte. Neste contexto, a divisão

social do trabalho apresentava-se bastante incipiente. É interessante ressaltar que o

desenvolvimento industrial brasileiro, indutor de mudanças no setor agropecuário, ao

contrário dos países centrais, ocorreu sem o substrato da revolução agrícola.

A periodização da evolução da agricultura, apontada segundo os autores

supracitados, se estrutura em quatro distintas etapas: 1850-1890, 1890-1930, 1930-1960

e 1960-1980.

 

Primeiros sinais significativos de mudanças (1850 - 1890)

Esta fase constituiu-se, segundo Graziano da Silva (1982), num período de

transição marcada pelo fim do sistema colonial.

A Lei Eusébio de Queiroz de 1850, que pôs um ponto final no tráfico africano de

negros, veio dificultar a substituição e ampliação da mão-de-obra escrava, iniciando-se,

assim, uma crise no setor agro-exportador. Em muitas fazendas cafeeiras, mesmo antes

da lei abolicionista (1888), a fim de resolver o problema da carência de mão-de-obra,

introduziu-se a mão-de-obra livre dos imigrantes, principalmente italiana, inaugurando a

categoria nomeada historicamente de colonato. Por outro lado, na medida em que ocorre

um pequeno, mas significativo, surto de desenvolvimento urbano - incentivando a

pequena produção agrícola de gêneros alimentícios - e, com ele, a montagem de

indústrias manufatureiras4[4], aproximando das inovações industriais urbanas e, deste

modo, perdendo a sua estrutura autárquica. Para Albuquerque e Nicol (1987: 203),

somente o desenvolvimento da cafeicultura “permitiu que houvesse um início de

industrialização auto-sustentável a partir dos anos 1870/80 no Brasil”.

4[4] - Na década de 1880, implantaram-se as grandes indústrias têxteis que estimularam

o desenvolvimento da agricultura do algodão, inclusive com a participação da parceria,

seguida das alimentares (moinhos) e bebidas.

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O Estado que desempenhará um papel fundamental no processo de

modernização agrícola, também, marcou presença nessa fase, por exemplo, com a

criação dos “engenhos centrais” na década de 70. Abertos aos capitais estrangeiros, os

engenhos centrais não podiam possuir terras, plantar cana-de-açúcar e utilizar trabalho

escravo. Assim, segundo Andrade (1994) 5[5], a sua ação restringia-se a processara a

cana para obter açúcar. Houve uma separação entre as atividades agrícola e industrial,

quebrando um padrão implantado nos primórdios da colonização. Observa-se, portanto,

um avanço nas relações de trabalho nestes engenhos. No entanto, a experiência não foi

bem sucedida, pois os senhores de engenho (donos da terra) mais ricos, tornaram-se

usineiros e continuaram a desenvolver as atividades agro (plantação da cana) e

industriais (refino de açúcar).

 

Papel da economia cafeeira (1890 - 1930)

Nesta fase, o complexo cafeeiro atinge o seu “clímax” e só quebrado com o

advento da crise mundial de superprodução denunciada pelo “cracking” da Bolsa de

Valores de Nova Iorque em 1929 e que se prolongou aos primeiros anos da década de

1930.

Observa-se nesta etapa o crescimento efetivo das cidades e, com elas, a expansão

e diversificação de suas funções. Algumas delas, localizadas principalmente nas

Regiões Sudeste e Sul, passaram por um processo de industrialização, notadamente de

indústrias de bens de uso e de consumo. Assiste-se, assim, ao nascimento e à expansão

do capital industrial que lança, também, seus tentáculos ao campo.

Corresponde esta etapa aos primeiros passos firmes do processo industrial. Em

tais condições postas, a agricultura pôde voltar-se, também, ao mercado interno,

abastecendo-o com produtos alimentares e matérias-primas. A fazenda de café, ainda

muito independente, passou a adquirir seus instrumentos de produção como secadoras,

despolpadoras, enxadas, arados, nos centros urbanos, intensificando sua vida de relações

com as cidades.

5[5] - Com o advento da República, os engenhos centrais sofreram grandes dificuldades

com a concorrência imposta pela implantação das usinas pelos grandes proprietários.

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Neste período, vultosos capitais ingleses são investidos em ferrovias,

favorecendo a expansão cafeeira e semeando cidades. Esta maior eficiência de

integração espacial (transporte rasgando o país continente) configura o retrato de uma

nova era.

O Estado, através de instituições científicas, foi um fator decisivo para o

desenvolvimento da agricultura. Monbeig (1984), no seu marcante trabalho, aponta o

papel do Instituto Agronômico de Campinas6[6] para a expansão da cultura do algodão

em São Paulo. A título de exemplo, em 1923, os pesquisadores deste órgão procuram

obter uma variedade de algodão que melhorasse a qualidade da fibra.

 

Edificam-se as estruturas (1930-1960)

A crise que assaltou o setor primário exportador, base da economia nacional, deu

ensejo que surgissem e se ampliassem as condições favoráveis à intensificação do

desenvolvimento industrial, principalmente nas áreas onde dominava o antigo complexo

cafeeiro paulista que internalizou infra-estruturas favoráveis ao novo ciclo econômico.

Apesar do setor agrícola não ter passado, como dito, pela revolução agrícola nos

moldes dos países ditos centrais, Albuquerque e Nicol (1987) apontam cinco papéis

básicos desempenhados por ele, no sentido de acelerar a industrialização brasileira. São

elas - liberação de mão-de-obra às indústrias; fornecimento de produtos alimentares e

matérias-primas a custos constantes ou descendentes; suprimento de capital para o

financiamento de investimentos industriais; suprimento de divisas estrangeiras através

da exportação de produtos agrícolas, necessárias ao financiamento de importação para o

setor industrial; criação de um mercado interno para produtos industriais.

6[6] - Procuram os cientistas uma variedade de algodão que não ultrapassa-se a 1,0 m e

que as espécies pudessem ser plantadas em intervalos de 1,20 x 0,25 m. Em 1932 e

1940, a cotação do algodão paulista melhorou sua cotação no mercado mundial,

inclusive ultrapassando a do algodão americano (“meddling 7/8”) na Bolsa de

Liverpool. Monbeig (1984).

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Este novo momento econômico inicia-se com o Governo revolucionário de

Vargas que representou e concretizou as aspirações democráticas demandadas pela

classe média urbana e o ideário da emergente burguesia industrial nacional.

Aos poucos, o setor cafeeiro vai cedendo espaço como a grande base da

economia nacional. Os setores algodoeiro e canavieiro, em processo de modernização e

que se encontravam em mãos de empresas altamente capitalizadas, tiveram apoio de

instituições de pesquisa mantidas pelo Estado, como o Instituto do Açúcar e do Álcool

(IAA). Às usinas açucareiras são fornecidas cotas de produção controladas pelo

governo, através de instituições como o IAA (criado em 1933). É da década de 1940, o

estatuto da lavoura canavieira, colocando o Estado como “árbitro” das contendas entre

industriais (usineiros) e agricultores (plantadores de cana)7[7].

A fim de viabilizar o desenvolvimento industrial brasileiro, o Estado cria

políticas direcionadas à criação de infra-estruturas, designadas em seu conjunto por

“arranjos institucionais”, por Singer (1973), necessárias à atração do capital

internacional sob a forma de empresas industriais. Por outro lado, era fundamental a

integração do território, o que representaria a unificação do mercado (de alimentos,

matérias-primas e trabalho). Já na década de 1930, transfere-se o eixo de acumulação de

capital do setor agropecuário para o industrial.

No período em destaque, reorganiza-se o espaço produtivo agrícola brasileiro

com o aumento da especialização a nível regional em determinados tipos de produto e

redesenha-se uma nova divisão social do trabalho na agricultura a nível nacional. A rede

viária amplia-se, principalmente no caso das rodovias pelo incentivo da presença de

montadoras de carros, integrando e intensificando o intercâmbio entre as regiões

Centro-Sul e Nordeste. Alguns estados da Federação, como o Rio Grande do Sul,

Paraná, Goiás, Mato Grosso (do Sul) e Maranhão passaram a especializar-se em

produtos alimentares em função da grande demanda urbano-industrial.

7[7] -Segundo Neves (1997: 75) “As oscilações da produção, da demanda e do preço do

açúcar, ao lado da necessidade de grandes investimentos para a instalação das unidades

fabris, apareciam como justificativa para os produtores reivindicarem a participação do

Estado na atividade econômica”.

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Enquanto as áreas de ocupação tradicional são penetradas pelas relações

capitalistas de produção, as áreas de fronteiras “antigas” (Paraná, Goiás e mato grosso)

são consolidadas. Em relação à abertura de novas áreas de fronteiras, aprecia Sorj

(1986: 17):

 

A expansão de fronteiras acompanha, em termos gerais, a dinâmica do conjunto da

economia que, através da liberação de força de trabalho, da criação de infra-estrutura e

geração de mercados, viabilizavam as condições de ocupação de novas terras e os de

sua integração com o conjunto econômico.

 

A expansão da economia agrícola, neste período, ocorreu mais no sentido

horizontal, pois o aumento da produtividade limitou-se a determinadas áreas mais

integradas ao processo industrial, principalmente em São Paulo.

Na década de 50, segundo Kageyama et alii (1983) completou-se a implantação

do chamado D1 industrial (Departamento de bens de capital e insumos para a

agricultura) na chamada fase de industrialização de base.

 

Efetivação dos CAIs (1960 - 1989)

Constitui-se esta fase na consolidação da modernização da agricultura e sua

subordinação definitiva à indústria, tendo também ocorrido a efetivação dos CAIs no

país.

Tal fato realizou-se de modo rápido e intenso pela ação de políticas

governamentais que incentivaram a criação de indústrias de maquinarias e insumos

básicos, tanto por iniciativa oficial, como particular (empresas nacionais e

internacionais).

As firmas multinacionais, algumas já atuando o país, acorreram em grande

número e passaram a operar, tanto na indústria de base quanto na de processamento, em

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forma de mono ou oligopólios. O Estado também cria incentivos ao consumo, via

política de crédito subsidiado, difusão de pacotes tecnológicos (revolução verde),

facilidade de aquisição de terras, principalmente nas áreas de fronteiras.

A propriedade fundiária desfruta de um intenso processo de valorização,

constituindo-se num bem com reserva de valor, o que Kageyama et alii denominou de

“territorização do capital”, acentuando a concentração fundiária. Com o aumento do

valor da terra, a pequena produção fica fragilizada frente às pressões do capital e, assim,

muitos dos seus agricultores foram obrigados a abdicar de suas terras. Muitos deles

“optaram” em viver em cidades (estimula-se que trinta milhões de brasileiros deixaram

o campo pela cidade neste período). Uma outra parcela deles transforma-se em

assalariados permanentes ou temporários nas empresas modernizadas. Uma

percentagem das pequenas propriedades familiares consegue se capitalizar e penetrar no

circuito da agroindústria, integrando-se aos CAIs, mas em compensação, perde grande

parte de sua independência.

Esta fase, principalmente no período de 1965 a 1979, ficou conhecida pelos

críticos como “modernização conservadora” (vide Graziano da Silva - 1982), ou

“milagre econômico” pelos simpatizantes do regime militar que a patrocinou. Este autor

afirma que a modernização da agricultura brasileira só se deslanchará ao se consolidar a

hegemonia da indústria de base.

Sorj (1986: 11) observou que, em meados dos anos 60, houve uma redefinição

das relações entre a agricultura e a indústria, a partir do desenvolvimento do complexo

agroindustrial. Sobre isto, ainda, acrescenta o autor: “A agricultura passa a se

reestruturar a partir da sua inclusão imediata no circuito da produção industrial, seja

como consumidora de insumos e maquinarias, seja como produtora de matérias-primas

para a transformação industrial”.

Tal modernização encontra-se presente em quase todos os setores e não só

naquelas plantagens voltadas ao mercado externo. Em relação á modernização recente

da agricultura brasileira (década de 1980), Martine (1991) fez importantes observações,

sendo que algumas delas foram aqui incorporadas.

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Quase toda a economia nacional e nela os CAIs amargaram na década de 80 e

início da de 90, intensas dificuldades, em função da crise econômica que afetou o

mundo ocidental. Mais uma vez, o Estado elaborou distintas políticas setoriais não só

visando mitigar os efeitos perversos da crise, como dinamizar a economia nacional

frente às transformações que se operavam no mercado mundial.

Martine distinguiu nessa década duas fases: 1980-84 e 1985-89. Caracterizada

por crise de estagnação econômica, a primeira fase atinge tanto o setor industrial como

o agrário. No entanto, esta crise encontrou a agricultura com uma estrutura produtiva já

consolidada em termos técnicos, amortecendo suas seqüelas negativas.

A atividade rural perde o seu tratamento preferencial junto ao sistema financeiro.

O crédito subsidiado e com taxa de juros negativas, que era concedido de modo

genérico, perde o seu ímpeto e dá a vez ao dirigido. Ao lado desta nova atitude

creditícia, o Estado implementa política de subsídios, de câmbios e de preços mínimos

aos setores ligados à cana-de-açúcar (PROGRAMA DO PROÁLCOOL), soja, trigo,

cacau, algodão e laranja.

Observou-se, por um lado, uma queda na importação de produtos alimentares e

por outro, incentivos à exportação, fato que redundou em elevados “superávit” na

balança comercial brasileira.

Genericamente, constata-se uma retração no ritmo de crescimento das áreas

cultivadas, em particular nas culturas permanentes e do rebanho. Esta queda afetou,

naturalmente, a expansão do uso de maquinaria, em especial dos tratores. Comparado às

décadas anteriores (1960-70), observou-se maior morosidade no processo de

incorporação de novas fronteiras.

Mesmo assim, a cultura da soja foi a grande responsável pelo alargamento destas

fronteiras, sobretudo na região Centro-Oeste e, também, vai expandir-se na região Sul.

A criação de gado fortalece sua presença nas regiões Centro-Oeste e Norte.

A retração relativa da economia rural modernizada propiciou o crescimento de

certas formas não-capitalistas de produção. Isto se revela pelo aumento do ritmo de

crescimento do número de trabalhadores dos pequenos estabelecimentos, caracterizando

o chamado processo de “minifundiarização”.

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Apesar da conjuntura externa bastante desfavorável, a agricultura brasileira

conseguiu colher duas supersafras (1985-86), indicativas da recuperação do setor.

Simultaneamente, a esfera industrial se encontrava, ainda, mergulhada numa crise

recessiva, sem precedente, em busca de novos padrões tecnológicos, fato que veio

agravar o debilitado mercado de trabalho, gerando elevados índices de desemprego no

setor.

Sem abandonar a política de incentivos à exportação, o governo da “Nova

República” dinamizou o setor agropecuário voltado ao mercado interno através do

chamado “Plano Cruzado” com efeitos, porém, limitados no tempo. Este plano, ao

conter a inflação, elevou o poder de compra da população trabalhadora urbana,

havendo, inclusive, necessidade da importação de gêneros alimentícios. Foi garantido

ao produtor o preço mínimo mais elevado para os produtos alimentares.

Novamente, o governo põe em prática a política de crédito rural (custeio e

investimento) com taxas de juros reais negativas (1986-87). Já em 1988, observa-se o

saldo positivo na balança comercial, com elevação do preço dos produtos exportados.

A valorização de terras para a produção ou para o especulato forçou, novamente,

a proletarização dos camponeses ou o seu deslocamento para novas áreas

(principalmente Rondônia), reproduzindo o ciclo dos posseiros que agem como

batedores à passagem do grande proprietário. A expropriação parcial dos pequenos

produtores levou muito deles a lutar pelo direito à terra. Nesta fase, consubstancia-se a

formalização do Movimento dos Sem-Terra que passou a comandar a invasão dos

latifúndios improdutivos (1984/85), como medida política de chamar a atenção da nação

sobre a eterna questão da reforma agrária. Não se pode esquecer que a pequena

agricultura familiar continuava resistindo, inclusive, pela via da incorporação aos cais.

Uma vez integrada e capitalizada, ela passou a produzir matérias-primas às

agroindústrias.

Na década de 90, chegaram ao poder os presidentes Collor de Mello e Cardoso

que assumiram práticas ligadas à doutrina neoliberal. No Governo Collor de Melo, a

recessão, desemprego e inflação atingiram patamares nunca vistos e que não foram

debelados, apesar dos planos econômicos implementados. Já o Governo Cardoso obteve

êxito quanto ao controle da inflação, via Plano Real.

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Nesta década, o Estado não só perde a sua capacidade de investimento em

indústrias de base e em infra-estrutura, como também, vem-se retirando do processo

econômico com a política de privatização das estatais. Abriu-se, por outro lado, o

mercado brasileiro, até então protegido em favor das indústrias existentes no país,

objetivando, via concorrência, elevar o padrão de qualidade dos produtos e serviços a

preços baixos. A estabilização da moeda, indubitavelmente, atraiu ao mercado

consumidor, sobretudo nos produtos de primeira necessidade, uma parcela da população

nacional de baixa renda, ausente do circuito formal da economia.

Em outro patamar, nesta década efetivou-se a aliança econômica entre os países

sul-americanos do chamado Cone-Sul, constituindo-se num supra-organismo, o

MERCOSUL, com repercussões diferenciadas na economia de todas as nações

membros. Esta realidade, embora muito recente, vem trazendo modificações na esfera

econômica e na organização do espaço brasileiro, principalmente na região Sul, a mais

próxima dos países integrantes no macro-organismo.

Tudo indica que haverá a médio e longo prazo uma maior especialização setorial

nas diversas regiões geoeconômicas, em função de sua proximidade, das

potencialidades naturais e das vantagens comparativas. Algumas, certamente, ganharão

dinamismo enquanto outras poderão ficar, até mesmo, marginalizadas.

Como se comportarão os cais (semi)integrados face à abolição das barreiras

alfandegárias entre os Estados membros? E estes, como estão agindo no sentido de

conciliar tantos choques de interesse – regionais, nacionais, supra-nacionais (Mercosul)

e internacionais?

Frente a estas e a outras mudanças na ordem política e econômica nacionais,

como vem reagindo o processo de modernização industrial e agrícola e com ela os

complexos agroindustriais brasileiros?

 

OS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS

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O surgimento dos Cais vincula-se a um amplo e contínuo desenvolvimento do

capitalismo no após II Guerra, cujo setor industrial em grande efervescência, alcança o

âmago do setor agrário que, por sua vez, buscava novos caminhos para superar a queda

da lucratividade e a depreciação da renda da terra.

Como ocorrera com a indústria no final do século XIX, a agropecuária também

passou por concentrações horizontal e vertical no seu processo de “caificação”. Nas

palavras de Johnston e Kilby (1977: 51) “o mecanismo do processo econômico na

agricultura é o mesmo que opera em todos os demais setores de uma economia. O nome

desse mecanismo é especialização”.

A entrada da agricultura no complexo industrial não se dará de modo tranqüilo,

pois muitos problemas advirão como, por exemplo, o aumento dos custos produtivos,

sem a devida compensação em termo de aumento da rentabilidade, além do mercado ir

perdendo o seu caráter competitivo e penetrar na esfera monopolista.

 

Base ConceitualO conceito de complexo agroindustrial8[8] surge na década de 1950 nos países

centrais, como resultado de estudos sobre a participação das atividades agrícolas nas

relações inter-setoriais, a partir de teorias a respeito destas relações formuladas por W.

Lentief, como aponta Guimarães (1979).

Um dado fundamental refere-se à distinção entre os termos que compõem essa

grande equação do comportamento moderno da agricultura. Kageyama et alii (1989), ao

iniciar a sua apreciação sobre o assunto, distingue, conceitualmente, os termos

modernização e industrialização da agricultura.

Por modernização entende basicamente a mudança da base técnica da produção

agrícola. Em outras palavras, ocorre uma transformação da produção artesanal

camponesa numa agricultura consumidora de insumos (“inputs”) e com elevado grau de

8[8] - Segundo Alvarenga (2000), o termo “agrobusiness” foi criado por Ray Golberg,

professor da Universidade de Harvard, por volta de 1960.

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intensidade. O processo de modernização pode ser aquilatado pela elevação do consumo

intermediário na agricultura. A industrialização da agricultura corresponde à fase mais

“evoluída” da modernização e, por sua vez, nas palavras dos autores: “Envolve a idéia

de que a agricultura acaba se transformando num ramo da produção semelhante a uma

indústria, como uma fábrica que compra determinados insumos e produz matérias-

primas para outros ramos de produção” (p. 113).

Quando se fala em industrialização da agricultura é mister lembrar os seus

limites, pois diferentemente da indústria, a agropecuária possui especificidades (ritmos,

ciclos naturais etc.) que não se coadunam com o método industrial. Prosseguindo sua

análise, acrescentam Kageyama e Outros que, conectada com outros ramos da produção,

esta agricultura para produzir: “depende dos insumos que recebe de determinadas

indústrias, e não produz mais apenas bens de consumo final, mas basicamente bens

intermediários ou as matérias-primas para outras indústrias de transformação” (p. 114).

Segundo eles, três transformações básicas diferem a modernização e

industrialização da agricultura:

- mudanças nas relações de trabalho - ocorre a divisão do trabalho dentro da família, o

trabalho coletivo ultrapassa o individual;

- mudanças qualitativas na mecanização - quando se introduzem as máquinas em todo o

processo de produção (da preparação do solo ao transporte do produto);

- internalização do D1 - no Brasil isto correu com a instalação da indústria de base que

passou a produzir máquinas e insumos ao campo.

Com a industrialização da agricultura brasileira (década de 1960), o setor

industrial passa a comandar a direção, as formas e o ritmo da mudança na base técnica

da agricultura. Esta, no entanto, quando (semi)integrada perde o direito a concorrer no

mercado consumidor final e fica presa aos interesses das indústrias, principalmente

processadoras de suas matérias-primas.

Logicamente que, quando mais modernizada se torna a agricultura, mais amplos

os caminhos se abrem à sua industrialização. Quando ela alcança este “estágio”, o

processo vai tomando caráter de irreversibilidade. O mais elevado grau de

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irreversibilidade ocorre no contexto do CAI, pois a agricultura encontra-se altamente

modernizada e industrializada, principalmente se a sua forma de integração for direta.

Assim, o processo de industrialização do setor agrário brasileiro levará à emersão dos

complexos agroindustriais, somente na década de 1970.

A existência dos CAIs pressupõe, logicamente, a presença no mínimo de dois

setores integrados - agricultura (industrializada) e o industrial. Este representada pelas

indústrias de insumos e processadoras, sendo as últimas possuidoras de maior

ascendência sobre a agricultura.

Cada CAI pode estar mais ou menos integrado a nível intersetorial, sendo que os

CAIs mais completos atuam nas esferas de estocagem, comercialização e transporte de

produtos e, até mesmo, na do financiamento. Já os cais incompletos, segundo Graziano

da Silva (1993), só apresentam relações para frente, isto é, com as indústrias

processadoras.

Os vários conceitos elaborados sobre os sistemas ou complexos agroindustriais,

de certa forma, acham-se circunscritos aos aspectos formais já citados, isto é, aos

setores envolvidos, suas funções e integração. Seguem-se alguns conceitos de CAIs,

com ênfase nos aspectos econômicos, políticos e ideológicos.

O CAI constitui-se de um complexo entre tantos outros, como industrial,

portuário, cafeeiro. Giarracca (1985: 23) define complexo como “a estrutura de relações

entre as distintas etapas que intervêm na elaboração de um bem”. E quanto este bem

(produto) tem origem na agroindústria, está-se em presença de um CAI. Para Goldbery,

R. A., citado por Bruneau e Imbernon (1980: 212), o sistema agroindustrial vem a ser:

 

o conjunto da produção e da distribuição de fornecimento para a agricultura,

as operações de produção ao nível das exportações, como a estocagem, a

transformação e distribuição de produtos agrícolas e de alimentos

transformados.

Para Vigorito, R., reproduzido por Giarracca (1985: 23), o CAI constitui-se de

um:

Page 17: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

 Mecanismo de reprodução que se estrutura em torno da cadeia de transformações

diretamente vinculadas à produção agrária, até chegar a: a) seu destino final como meio

de consumo ou inversão, ou b) tomar parte da órbita de outro complexo não

agroindustrial.

 

Muito semelhante à definição de Goldbery, Sorj (1986: 29) vê o CAI como: “um

conjunto formado pelos setores produtores de insumos agrícolas, de transformação

industrial dos produtos agropecuários e de distribuição e financiamento nas diversas

fases do circuito.

Graziano da Silva, citado por Scopinho (p. 29), introduz um viés político em sua

visão. Para ele, o Cai é um produto histórico a partir de uma conjugação de interesses

institucionais (público e privado), num determinado nível organizacional. Explicitando,

ele acrescenta:

 

É uma verdadeira máquina de organizar interesses no quadro das relações

conflituais entre segmentos da iniciativa privada e o Estado, privilegiando e

até mesmo incluindo atores que por razões estritamente econômicas

deveriam ou não fazer parte de uma dada estrutura tecnoprodutiva.

 

Em outra linha de abordagem, com uma visão ideológica, Neves (1997: 26)

entende que a modernização, modernização conservadora e complexo agroindustrial são

termos referentes a “modelos gerais relativamente abstratos de compreensão de formas

específicas de interligação da agricultura com a indústria, nem sempre realizáveis tais

quais”.

Em função da complexa natureza dos cais e considerando sua rápida capacidade

evolutiva, cada conceito retratado, embora se constitua em valioso instrumental de

entendimento da realidade, carece de uma visão mais global. Assim, há necessidade de

novas abordagens para tecer conceitos mais abrangentes do fenômeno.

Page 18: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

Uma vez completado o ciclo de integração do setor agrário aos cais, o

entendimento do movimento deste setor só pode ser apreendido em sua real dimensão, a

partir da dinâmica industrial a ele afeita. Por seu turno, o desempenho dos complexos

industrial e do agro-industrial encontra-se atrelado à esfera do capital industrial e

financeiro que opera, de modo simultâneo e integrado, em escalas distintas, isto é,

regional, nacional, continental e internacional. Em outras palavras, segundo Bruneau e

Imbernon (1980: 213):

 

O sistema agroindustrial se desenvolve, acentuando o processo de

internacionalização do capital social, sob todas as formas: capital produtivo

(implantações industriais e migração de mão-de-obra), capital financeiro

(movimento internacional do capital bancário e industrial),

mercadorias/transferência de tecnologia, importação e exportação de

diversos bens e serviços.

 

É bom lembrar que, embora a modernização-industrialização da agricultura

brasileira, inclusive integrando-se aos Cais, tenha se intensificado em escala crescente

desde o pós II Guerra, não se pode esquecer de que este processo não se deu de forma

homogênea em todos os setores agrários e no espaço nacional. Ainda existem muitos

espaços, tipos de cultura e criação, fragilmente ou, ainda, não atingidos pela

modernização.

A introdução das relações capitalistas no campo faz-se de maneira seletiva,

principalmente em função dos objetivos do sistema que, em última análise, é o da

reprodução ampliada do capital. Por outro, há que se valorizar a “força do lugar”, pois

as áreas, regiões, países selecionados apresentam especificidades históricas,

características naturais, acessibilidade, possuindo infraestruturas e são dotadas de

situações geográficas fundamentais.

Apesar dos CAIs não elaborarem um modelo universal, ao tomá-los como

unidade escalar, o estudo dos setores agrário e industrial, feito mesmo de modo isolado,

Page 19: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

revestir-se-á de grande significado para o entendimento dos seus vários processos

econômico, social, político e principalmente espacial.

O uso da expressão sistema agroindustrial, na acepção dos dois autores supra

citados, torna-se necessário, pois que ela “não significa um simples processo de

reorganização industrial no campo, mas uma reestruturação do processo produtivo”.

 

Indústrias AfinsO nascimento e evolução do sistema agroindustrial são garantidos, em termos

mínimos, pela existência do tripé – agricultura/pecuária, indústrias de insumos e

indústrias processadoras. A partir do ponto de vista das atividades rurais, tais indústrias

encontram-se situadas, respectivamente, a montante e à jusante do seu processo

produtivo.

As indústrias, genericamente chamadas de insumos (montante), são responsáveis

pela evolução modernizante da base técnica da agricultura, isto é, responsáveis pelo

aumento da produção e da produtividade. As indústrias processadoras (jusante) que são

muito numerosas, não só transformam as matérias-primas provenientes do campo, como

articulam a entrada, a integração e o comportamento das empresas rurais no CAI.

As indústrias de insumos, classificadas genericamente como de base, abriga dois

segmentos bem distintos. Um deles liga-se à produção de maquinarias - tratores e

implementos mecânicos (arado, colhedeira, empacotadeira etc.). O outro ramo produz

insumos de natureza química e biológica que são os fertilizantes, adubos, rações,

inseticidas, sementes etc.. As cooperativas constituíram num dos mais importantes

vetores de difusão do uso de maquinarias e insumos industriais no campo brasileiro.

As indústrias processadoras, além de muito numerosas, são as mais

diversificadas possíveis, pois elaboram produtos alimentares (sob as mais diversas

formas) de procedência vegetal, animal e outros ramos (do couro à celulose).

Como já dito, a organização dos CAIs só se torna exeqüível em um quadro onde

estas indústrias de base são realmente internalizadas.

Page 20: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

 

Indústrias de maquinariasA presença de maquinarias no campo brasileiro é registrada desde a década de

1920. O crescimento do uso destes instrumentos de trabalho associa-se à expansão de

certas culturas. Assim, na década de 40, a difusão da triticultura e da rizicultura irrigada

no Rio Grande do Sul e da cana-de-açúcar e do café em São Paulo criou condições

objetivas ao surgimento de um mercado para estes produtos industrializados.

A partir de então, observa-se um contínuo e vigoroso implemento na utilização

de tratores. Na década de 50, foram contabilizados 8.372 tratores, na década seguinte,

eles atingiram a cifra de 61.345 unidades. Lembra-se que até a década de 50, os tratores

eram adquiridos no mercado externo, principalmente nos Estados Unidos e Europa..

Assim, em resposta aos estímulos emanados do “Plano de Metas” do Governo

JK (anos 50), começaram a chegar ao Brasil empresas multinacionais ligadas à

produção de maquinarias, destacando-se os tratores9[9]. Segundo dados apresentados

por Kageyama e Outros (1989), em 1961, tais indústrias que operavam no país eram

responsáveis apenas por 21% da oferta e, no ano seguinte, elas alcançaram,

espantosamente, 80%.

A expansão da cultura da soja (década de 60) e a consolidação dos Cais (década

de 70) favoreceram, em muito, o emprego de maquinarias agrícolas. O número de

tratores em uso, em 1970, saltou de 157.340 para 331.000 unidades em apenas cinco

anos. O amplo uso de maquinarias na cultura da soja possibilitou que outras, como as do

algodão, amendoim, laranja e milho, também fossem atingidas por tal inovação.

Em princípio, eram apenas três grandes empresas internacionais de caráter

oligopólicos e monopólicos atuantes no Brasil. Já na década de 80, eram seis as que

fabricavam tratores com capacidade até 200 cv. O mercado de tratores, com potência

9[9] - Segundo Kageyama e outros (1989), em 1961, as indústrias que operavam no país

cobriam apenas 2% do mercado e, no ano seguinte, elas alcançaram, espantosamente,

80%.

Page 21: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

mais elevada, bastante restrito, estava em mãos de apenas três empresas10[10]. Tanto no

mercado brasileiro como no latino-americano, há o domínio absoluto das empresas

norte-americanas.

As máquinas colhedeiras - uma grande inovação técnica que, ao diminuir o

tempo destinado à colheita, agilizou a produção e possibilitou a expansão da área

cultivada - só chegam ao mercado nacional nos anos 60, com grande defasagem em

relação à introdução de tratores. As empresas encarregadas de produzir este implemento

foram igualmente beneficiadas com os mesmos incentivos feitos às empresa de tratores.

É interessante ressaltar o importante papel prestado ao setor agrário pelas

numerosas indústrias de equipamentos mecânicos de variados tipos, inclusive com

intensas repercussões regionais. Sobre isto comenta Kageyama e Outros (1989: 151):

 

A história das empresas fabricantes de implementos, mais do que a de tratores e

colhedeiras, desenvolveu-se num espaço acentuadamente regional como uma espécie de

proteção, permitindo que a mecanização atingisse áreas que não atingiria, pelo menos

tão precocemente.

 

Tal “proteção” permitiu a que pequenas oficinas atuassem, principalmente em

São Paulo e Rio Grande do Sul, na manutenção e no reparo de peças e componentes

agrícolas. Muitas delas evoluíram para pequenas empresas e passaram, até mesmo, à

liderança de alguns segmentos do mercado, extrapolando, pois as fronteiras da região

onde se encontravam implantadas.

Centenas de pequenas e micro-empresas competem neste mercado nos

interstícios não ocupados pelos monopólios e oligopólios. O grande triunfo de tais

10[10] - Inicialmente as empresas eram – Massey e Feergusos (Perkins), Ford e Valmet.

Na década de 80, foram acrescentadas mais três – CBT, New Holland (adquirida pela

Ford) e Danta Matilde (nacional). As empresas especialistas de tratores com mais de cv.

Miller, Sose e Rngesa.. In: Kageyama et alii (1989).

Page 22: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

empresas reside no fato de que elas estarem muito próximas à clientela e, assim,

conhecerem as características e necessidades do mercado. Naturalmente que o número e

tipos destas empresas variam como o movimento oscilante da economia.

Segundo Kageyama et alii (1989), a indústria de equipamentos alcançou o seu

maior desenvolvimento entre os anos de 1970 e 76, em função de três fatores básicos -

subsídios de crédito agrícola, pelo lado da demanda; manutenção da supressão da

cobrança do ICM e isenção do IPI, pelo lado da oferta.

Em 1976, com mudanças nas políticas oficiais voltadas aos setores agrícola e

industrial, verificou-se uma retração da indústria em questão e, somente em 1983,

observa-se um novo ciclo ascendente, derivado de conjunturas internas (abundantes

safras, “Plano Cruzado”) e externas (melhorias nos preços dos produtos de exportação).

 

Indústrias de fertilizantes, rações e defensivos

A partir do século XIX, o mundo assistiu ao crescimento, sem paralelo, da

população humana. O “boom” ocorreu, inicialmente, nos chamados países centrais, na

2a. metade do século passado e na 1a. metade do atual século. No pós II Guerra, a

“explosão demográfica” transferiu-se ao Terceiro Mundo e, até hoje, apesar das

políticas oficiais de controle da natalidade por parte de muito dos seus países, o

fenômeno persiste.

Como alimentar um contingente demográfico que beira à casa dos quatro bilhões

de pessoas, utilizando-se apenas das potencialidades naturais? Como garantir às grandes

multinacionais ligadas às indústrias de base e de transformação, a lucratividade em

bilhões de dólares/ano num mercado consumidor por elas monopolizadas?

As indústrias produtoras de insumos foram envolvendo de tal forma o setor

agropecuário que este não consegue produzir, adequadamente, sem os “pacotes

tecnológicos” por elas impostos. Lavouras como as de trigo, soja, fumo, batata, tomate,

Page 23: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

cebola, café, cacau e cana-de-açúcar, por exemplo, só conseguem ser economicamente

viáveis à base de fertilizantes11[11].

Se por um lado, tais insumos operam verdadeiros milagres, por outro, oneram os

preços de custos da produção. Para se diminuir a pressão destes custos, é necessário

produzir com maior eficácia, fato que pressupões o uso de técnicas mais evoluídas, mais

caras e, assim por diante. Isto prende o produtor rural num ciclo vicioso e faz com que

ele corra, cada vez mais rápido, a fim de não ficar defasado e mantendo, minimamente,

as condições básicas de sua reprodução. Este é o caso típico dos “farmers” americanos.

Isto se constitui numa das razões do porquê, apesar de toda a doutrina neoliberal

vigente, os países ricos exercerem um grande protecionismo à sua agricultura.

No caso brasileiro, a difusão do uso de fertilizantes químicos e orgânicos foi

fomentada, inicialmente, pela importação, graças às condições cambiais favoráveis no

pós- II Guerra e, no segundo momento, por incentivos governamentais, atraindo as

empresas. Tal fato conjugou-se às estratégias das grandes multinacionais, para ampliar o

seu mercado nos países do terceiro Mundo, sobretudo através de “joint-ventures”, em

fase posterior. Essas empresas procuraram, naturalmente, criar novos insumos

adequados às condições de (sub)tropicalidade em termos de solo, clima e espécies

vegetais.

Em 1960, a superprodução de fertilizantes nos EUA, levou o governo a estender

o crédito para financiar a exportação desses produtos ao Terceiro Mundo, via a

conhecida Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA (USAID). No mercado

mundial ocorre grande concorrência entre firmas européias, americanas e japonesas.

Elas procuram-se expandir em mercados promissores como o México, Argentina e

Brasil, por razões apontadas por Burbach e Flyn (1982: 118) :

 

As vantagens que têm para os investidores estrangeiros a produção no Brasil

- uma força de trabalho barata e controlada e incentivos governamentais -

11[11] - Os fertilizantes tradicionais são compostos por combinações dos elementos N,

K e P. Eles já estão concorrendo com novos produtos obtidos por pesquisas

biotecnológicas.

Page 24: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

também tornaram o país atraente plataforma de exportação par abastecer

outros países do Terceiro Mundo.

 

A ação do Estado, quer através de políticas visando a incentivar tanto a produção

como o consumo, quer sendo ele próprio um agente produtor, revestiu-se de

fundamental importância à modernização da agricultura e da indústria. Já mesmo na

década de 1940, a Companhia Siderúrgica Nacional industrializava fertilizantes de

origem orgânica. Entre 1950 e 85, o consumo aparente de adubos cresceu em quase

13%/ ano, atingindo 17,8 % no período considerado áureo (1967/80), segundo dados

apresentados por Kageyama et alii (1989).

O “Plano de Metas” e o “II Plano Nacional de Desenvolvimento” foram capitais

no sentido de consolidar o setor industrial de fertilizantes e garantir a auto-suficiência

brasileira. Muitas vezes, o Estado investiu em setores chaves, onde a iniciativa privada

não dispunha ou não podia atuar por falta, principalmente, de capitais. A

PETROFÉRTIL, criada em 1973, também em função do custo elevado do preço dos

insumos, subsidiária da PETROBRÁS, chegou a ter o monopólio da produção de

amônia, substância crucial à produção de insumos. Ela procurou descentralizar as

unidades produtoras, segundo à presença de matérias-primas.

Dados apresentados por Sorj (1986), dão conta de que, entre 1970 e 76, a

produção de fertilizantes, embora importando, ainda, dois terços de matéria-prima,

cresceu em 335%, enquanto a demanda em 140% .

Como nos demais setores econômicos, o consumo e a produção de fertilizantes

apresentaram queda acentuada no início dos anos de 1980, mas em 1984, volta aos

níveis registrados em 80, em função do subsídio estatal.

Em relação às sementes selecionadas, a sua produção concentrou-se em São

Paulo até 1964. No ano seguinte, elaborou-se o “Sistema Nacional de Sementes”. O

plano de produção de sementes, finalmente, integrou-se desde 74 ao II PND, voltado

principalmente para as principais culturas comerciais.

Page 25: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

A produção de rações vegetais volta-se maciçamente à avicultura, porém, nesses

últimos anos, dirigiu-se à criação bovina. A expansão da indústria de ração é recente no

Brasil12[12] A cultura de soja permitiu expandir a produção de torta feita por firmas

multinacionais. E, segundo Sorj (1986: 39), para colocar seus produtos no mercado esta

indústria: “desenvolveu planos de modificação de granjas e orientação técnica aos

produtores, conjuntamente com planos de financiamento, sendo ela tanto a expressão

como o detonador da modernização da produção avícola, bovina e suína”.

Um dos problemas inibidores à difusão do consumo da ração era o tabelamento

de preço da carne e do leite. Em 1976, o próprio preço da reação passou, de certa forma,

a ser controlado pelo CIP. Mas o preço interno deste insumo encontra-se muito

condicionado às flutuações do preço da soja no mercado internacional, pois a soja

constitui-se numa importante matéria-prima da ração.

O Brasil representa um dos maiores mercados de defensivos do mundo. Até a

década de 1960, a importação de defensivos era livre, não havendo participação

substancial da incipiente indústria nacional, que praticamente se restringia à produção

de DDT e BHC. O desenvolvimento deste setor industrial, em ritmo acelerado, só será

realizado com o II PND nos anos 70, atingindo maturidade na década seguinte.

A legislação brasileira sobre o uso e controle de defensivos era vaga,

desatualizada e inoperante. Na década de 1970, sob pressão de ambientalistas, uma série

de portarias foram estabelecidas, formatando um corpo legal. Em 1982, estabeleceram-

se leis visando à padronização desses produtos e á restrição do registro de alguns deles

por iniciativa de entidades civis. Somente na Constituição de 1988, a matéria é tratada

de forma mais responsável.

A resistência crescente dos insetos, fungos, parasitos e microorganismos tem

levado as empresas a buscar outras formas alternativas de eliminar os “predadores” dos

vegetais e animais. Em outro sentido, desenvolveu-se uma consciência ecológica que

12[12] Entre 1966/68, chegaram ao país as empresas americanas Cargil, Ralsston-

Purina e a Central Soja, enquanto a Anderson Clayton reingressa no mercado. Em 1974,

forma-se a Socil (capital nacional) que é absorvida pólo grupo francês Dreyfus e, no ano

seguinte, a Conto-Brasil, subsidiária da Continental Graines.

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impulsionou os movimentos ambientalistas a reivindicarem o controle de aplicações

indiscriminadas dos perniciosos insumos, causadores de seqüelas não só àquelas que os

manuseiam, como os consumidores.

Muitos desses produtos, tóxicos e agressivos ao meio, a exemplo do DDT, já

estão proibidos de fabricação e uso nos países desenvolvidos. A EMBRAPA tem

conseguido êxito em pesquisar métodos naturais do controle de certas pragas, acionando

algumas espécies de insetos não prejudiciais para eliminarem outras espécies nocivas a

determinada cultura. Papel fundamental neste campo tem sido empreendido pela

biotecnologia13[13]. Encontra-se em formação um novo paradigma tecnológico para a

agricultura, tido como ambientalmente limpo e poupador de energia.

 

Indústria de processamentoA indústria de beneficiamento de alimentos alcançou grande desenvolvimento

nos EUA, desde a década de 1930, mas no pós II Guerra, as empresas ligadas ao setor

passaram por uma grande diversificação e rápida expansão no país e fora dele.

De 1945 a 60, observa-se o surgimento de uma centenas de produtos novos sob

diversas formas, sabores, odores e cores, acompanhados de inéditas e atraentes

embalagens. A propaganda, cientificamente elaborada, utilizando-se do novo veículo de

comunicação de massa a tv, atuou no sentido de incorporar um imenso mercado,

incentivando a criação de novas necessidades no campo alimentar, inclusive, o “fast

food”.

Quando esse mercado dá sinais de certa saturação, as empresas, em constante

processo de evolução e de ajustamento, buscam outros produtos e mercados

principalmente no Sudeste Asiático e na América Latina. Nesta, foram instaladas,

principalmente via “joint venture”, 75 empresas ligadas ao setor alimentício no período

compreendido entre 1960 a 75, segundo dados fornecidos por Burbach e Flyn (1982;

13[13] - A biotecnologia (cultura de tecidos, clonagem, produção de predadores naturais

– controle biológico) tem sido referida como uma segunda revolução verde. Muitos

aceitam esta idéia, outros são céticos a curto prazo, pelo menos.

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124). Eles reeditaram aqui, com as devidas adaptações, os mecanismos necessários à

realização da produção, favorecidas por incentivos oficiais e trazendo, em suas

bagagens, uma enorme experiência. Sobre a penetração destas empresas comentam os

autores: “Abarcando tanto a área urbana como rural, as beneficiadoras estrangeiras na

América Latina formam o núcleo de uma nova indústria na região”. Exemplo disto é

dado pela empresa Anderson Clayton que passou a produzir óleos vegetais e

margarinas, substituindo a banha de porco na diária dos brasileiros.

Na atualidade, não só empresas ligadas ao capital industrial, mas também ao

comercial (supermercados) e às instituições financeiras investem, maciçamente, nas

indústrias de processamento e no próprio setor rural, desbancando parte do capital

mercantil tradicional, ainda, muito atuante.

As modificações trazidas pelas grandes empresas afetaram tanto o mercado

consumidor final, como o setor agropecuário. Este, ao se associar ao setor moderno da

economia, foi obrigado a adequar a sua estrutura produtiva às exigências das indústrias

de processamento.

Muitas indústrias tradicionais, frente à esta nova realidade, não tiveram como

competir no mercado. Simplesmente foram desativadas ou absorvidas pelo grande

capital, num intenso processo de verticalização da grande empresa. A indústria moderna

- e entre elas a Parmalat - que se utiliza do leite como matéria-prima para produzir

vários derivados, por exemplo, leite em pó, foi responsáveis pela desarticulação de

inúmeros laticínios de porte pequeno no Brasil.

Mas, apesar da expressiva presença de multinacionais norte-americanas,

européias e, até mesmo japonesas, uma parte significativa da produção de alimentos

industrializados, ainda, se encontra em mãos de empresas locais, produtoras em pequena

escala e que se utilizam de métodos e técnicas mais tradicionais.

As grandes empresas multinacionais de beneficiamento, em seu processo de

expansão e verticalização, tornaram-se chaves como veículos de articulação entre os

diversos setores (agropecuário, industrial e financeiro), no processo de organização dos

CAIs, tal articulação em torno da empresa núcleo, ocorreu através da integração que se

apresenta sob diversas formas.

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Formas de IntegraçãoA integração agroindustrial, segundo Guimarães (1979), em grande parte dos

países centrais, ocorre, simultaneamente, com o progresso de concentração industrial

que abrangeu tanto as indústrias de insumos, como as de beneficiamento de alimentos.

Ao lado das fusões e das aquisições (horizontal e vertical) das empresas,

principalmente alimentares, proliferaram os “contratos agrícolas” (contract farming)

entre produtores, rurais, de um lado, e indústrias de insumos e processadora, de outro.

Surgidos nos EUA e Canadá como fenômenos esporádicos, os contratos

agrícolas foram, inicialmente, motivados por interesses mútuos que aproximavam, entre

si, os produtores primários de gêneros alimentares, cuja venda precisava ser assegurada,

e as indústrias de transformação, preservadoras e empacotadoras de tais gêneros.

A primeira fase da integração ocorreu de modo espontâneo, sendo que muitos

dos contratos eram verbais e os vínculos limitavam-se a operações livres de troca. Os

agricultores forneciam matérias-primas às processadoras e recebiam insumos diversos.

Às vezes, eram estabelecidas obrigações específicas como, por exemplo, o

financiamento para a agricultura em troca de preços pré-fixados pela indústria.

Na segunda fase, os produtores rurais passaram a negociar a maior parte da

produção com a indústria e não com o setor comercial. Nesta altura, a agricultura já se

apresentava industrializada. O setor industrial impõe as regrar do relacionamento entre

as partes, perdendo os agricultores a sua liberdade, sua capacidade de decisão. Estes não

têm como optar ente os fornecedores de insumos e os compradores de seus produtos,

cujos preços não são mais de concorrência e sim de monopólio. Sobre as relações entre

ruralistas e as indústrias processadoras na fase mais avançada da integração, observa o

próprio Guimarães (1979): “Não há mesmo sequer “escolha”, pois o ato de decidir

vender não compete mais á agricultura e sim á (grande) indústria ou ao Estado, que

induzem, indicam ou determinam o que e a quem deve a agricultura comprar e vender”.

A indústria foi se tornando cada vez mais exigente em termos de padrão de

qualidade dos produtos. A fim de diminuir o preço de custo e elevar a produtividade, ela

Page 29: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

passou a determinar a área destinada ao plantio, tipos de insumos e tecnologias

apropriados. Além do mais, ela fornecia crédito direto ou indireto, via instituições

financeiras. Neste processo histórico de integração do setor agropecuário, a grande

empresa industrial (mono ou oligopólica) executou papel fundamental.

O capital produtivo agroindustrial é muito flexível quanto às suas formas

de integração. Ele, segundo Bruneau e Imbernon (1980; 214), integra:

 

novos agentes sociais de produção e impõe a transferência de lucros ao sistema

produtivo capitalista, mas ele está principalmente fundado mais sobre o controle do

mercado produtivo (prática oligopolista e monopolista) do que sobre o aprofundamento

de relações de produção capitalista.

 

Estes mesmos autores apontam para quatro fatores principais que determinam a

intervenção agroindustrial e os diferentes graus de integração ao sistema:

- os sistemas agrícolas pré-existentes à intervenção agroindustrial e o grau de

desenvolvimento de tecnologia na agricultura;

- o grau de concentração e o nível técnico da produção industrial;

- o mercado interno ou internacional pelo qual produz a agroindústria;

- a intervenção do Estado no nível social ou econômico.

Apesar das relações entre as empresas, principalmente processadoras, e as rurais

serem muito variadas em natureza e intensidade, são genericamente classificadas pela

literatura pertinente, em duas tipologias - integradas e simi-integradas. A distinção entre

elas fica mais por conta de aspectos formais, no entender de Guimarães (1979).

A integração vem a ser a ligação interativa intersetorial de diversos processos

que envolvem a agropecuária, a agroindústria e o comércio, sob o controle final de uma

empresa processadora que passou por grande concentração horizontal e vertical.

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Os CAIs, altamente integrados, possuem um corpo técnico diversificado e

qualificado (veterinários, agrônomos, engenheiros florestais, biólogos, químicos etc.).

Alguns deles chegam mesmo a construir seus próprios laboratórios e investem em

pesquisas. Por outro lado, eles detêm uma complexa estrutura administrativa e

organizacional, inclusive, contanto com a presença de especialistas em ciências

humanas (economistas, administradores, psicólogos, contabilistas, assistentes sociais

etc.) para definir políticas globais e setoriais. Procuram racionalizar os recursos técnicos

e humanos a fim de garantir a produtividade da força de trabalho, através de

aprimoramento dos métodos de trabalhos, entre outros.

Tais complexos concentram, apesar do uso de tecnologias avançadas, um

relativo elevado contingente de mão-de-obra assalariada. Os assalariados permanentes,

genericamente, são dotados de maior qualificação escolar e profissional. Grande parte

dos assalariados foram pequenos produtores familiares que não conseguiram manter-se

em sua condição original e, uma vez expropriados, colocaram-se à disposição no

mercado de trabalho rural. Os trabalhadores temporários, conhecidos como “boias-

frias”, só são requisitados às lides das grandes empresas, em determinados momentos do

processo produtivo, geralmente na colheita. Na maioria das vezes, ganham menos que o

salário mínimo legal. São recrutados e pagos por intermediários (“gatos”) que os

conduzem ao local de trabalho. Portanto, as grandes empresas não têm obrigações legais

com esses trabalhadores, pois tercerizam o serviço.

Nos CAIs, não raro, há presença de empresas integradas que se verticalizam a tal

ponto de assumir riscos inerentes ao processo produtor rural, como a inversão de capital

na aquisição de grandes glebas de terras. Dois exemplos notáveis desta postura podem

ser lembrados – os casos da produção de celulose no Amapá e a de açúcar na Flórida.

Bruneau e Imbernon (1980) trazem alguns detalhes do expressivo CAI

comandado pela empresa do alemão Daniel K. Ludwig que, para produzir celulose e

arroz, adquiriu 3,7 milhões de acres em plena selva do Amapá. Foram 100.000 ha

plantados com a espécie industrial - “gmeline arborea”, importada da África cuja

produção alcançava 250t/dia.

Na região dos Evergladers, situada na parte central da Flórida, os CAIs

voltaram-se, principalmente, à produção de açúcar de cana e legumes de inverno. Numa

Page 31: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

área de mais de 280.00 há, mais da metade encontra-se, efetivamente, aproveitada em

agricultura. Seis grandes grupos econômicos (4,7% dos estabelecimentos rurais), cada

qual com mais de 4.000 ha, concentravam 51% das terras. Examinando esses sistemas

agro-industriais, Dorel (1982: 19) comenta sobre a auto-suficiência na produção de

matéria-prima: “um pouco mais da metade do açúcar produzido nos Everglades são das

usinas dos quatro grupos agro-industriais que produzem diretamente de 80 a 90% de

suas necessidades de cana”.

O Estado, lá como aqui, desempenhou papel importante no sentido de bonificar

terras, por exemplo, com a construção de canais, assim, drenando as outroras alagadas

terras. Não se pode também esquecer de um dado político de maior relevância para

incentivar o crescimento da produção de açúcar. Está se falando do bloqueio americano

ao açúcar cubano a partir de 1960.

No Brasil, entre os setores em que o processo de integração se encontra mais

intenso destacam-se os avícola, hortifruticultural, pecuário e florestal. Na opinião de

Sorj (1986: 47) “o setor avícola é, provavelmente, um dos poucos onde os progressos

tecnológicos estão suficientemente avançados no Brasil para que haja reais ganhos de

escala em contra posição à pequena produção”.

Por empresa semi-integradas, Sorj entende aquelas onde “a produção

agropecuária, se bem realizada por produtores em estabelecimentos próprios, está

totalmente controlada pela agroindústria” (p. 50).

Como dito, a empresa núcleo exerce papel fundamental no processo de

integração das demais, dentro do complexo. Ela impõe as normas do contrato (escrito

ou oral) onde estão estabelecidos os direitos e deveres de cada parceiro. Cabe a empresa

nucleadora, geralmente multinacional, fornecer insumos, assistência técnica, transporte,

crédito, fixar preços às unidades participantes do complexo. Em compensação, estas

devem entregar a produção com padrões de qualidade estabelecidos, em quantidade e

tempo certos.

Page 32: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

A unidade econômica familiar camponesa, herança de relações de produção não-

capitalistas, é a dominante neste tipo de integração. Embora subordinada14[14], ela goza

de certa autonomia para denunciar o contrato ao findar o prazo de sua vigência e

engajar-se em outros complexos similares, ou não. As relações de produção e o

processo de trabalho das unidades familiares, não são tipicamente capitalistas.

Nesta forma de integração, observa Oliveira (1996) não ocorre a expansão, de

forma absoluta, do trabalho assalariado. Ao contrário, ela (re)cria o trabalho o familiar

camponês, a fim de aumentar sua acumulação. O capitalista consegue, através de

relações não-capitalistas, transformar a renda da terra em capital.

Geralmente, as relações dessas unidades com as processadoras são diretas. Entre

elas, há uma série de instâncias intermediárias que também são tradicionais. Esses

intermediários podem ser atravessadores, comerciantes, camioneiros etc. que realizam

várias funções idênticas às das integradoras. A indústria estabelece os preços das

metérias-primas com esses intermediários e estes com os produtores.

Muitas vezes, o Estado encontra-se presente nas relações existentes entre as

processadoras e produtores. Forma-se o acordo triangular, em que o Estado joga papel

importante na fixação de preços dos produtos. Tais relações triangulares, observam

Bruneau e Imbernon (1980: 219), “permitem às agroindústrias, sob a autoridade ou com

o apoio do Estado, de controlar muito estritamente a produção de um conjunto de

pequenas unidades familiares, sem possuir a terra nem correr os riscos da cultura”.

Em função da autonomia dos produtores rurais, muitas vezes, os complexos

apresentam alta rotatividade de produtores integrados. Redesenhando a área de

influência destes complexos. Neste caso, as empresas integradoras têm que partir para a

competição no mercado.

14[14] - Giarracca (1985: 27) define subordinação como: “um processo social, portanto

contraditório, com determinações múltiplas, resultado por um lado dos interesses de

rentabilidade das empresas processadoras, mas também das negociações e lutas que os

setores camponeses realizam para modificar as condições de integração”.

Page 33: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

As cooperativas de produtores rurais, quando ativas, constituem-se em

importantes mecanismos de proteção dos interesses dos pequenos produtores. Neste

sentido, observa Sorj (1986: 52)

 

Embora surgindo, muitas vezes, na dependência dos grandes comerciantes e

processadoras industriais, os pequenos produtores, organizam-se em cooperativas,

procuram limitar a extração de excedentes pela agroindústria, gerando suas próprias

plantas industriais e esquemas de comercialização.

 

A agricultura contratual apresenta também uma série de conflitos derivados de

interesses diversos entre os seus integrantes. Sobre estas tensões, observa este autor:

“Nas formas de semi-integração, pela grande dependência dos produtores que trabalham

com a agroindústria, as formas de solidariedade horizontal são minadas pela

dependência vertical do produtor com a agroindústria”.

Levando-se em consideração a modernização, a industrialização e a integração

intersetorial, Kageyama e Outros (1989) classificam a atividade agrícola brasileiro em

quatro grandes segmentos:

1 - Segmentos com grande modernização em sua base técnica, industrializados e

altamente integrados verticalmente e formando complexos agro-industriais com o tripé

– indústrias a montante, agropecuária e indústrias à jusante. Encontram-se nesta

categoria os complexos avícolas, sucro-alcooleiros, carne, soja, trigo, milho híbrido,

arroz irrigado e ovos.

 

2 - Segmentos plenamente integrados à jusante, intensamente tecnificados, mas não

mantêm vínculos específicos com as indústrias a montante. A idéia de “complexo”

restringe-se às interações da agricultura com as agroindústrias, apresentando grande

dinamismo entre elas. Enfim, está-se diante dos chamados CAIs “incompletos”. Nesta

Page 34: “Os Complexos Agroindustriais no Brasil – Seu Papel na Economia e na Organização do Espaço” – Rui Erthal

categoria incluem-se as fibras (algodão), frutas (laranja para suco), laticínios, milho

(parte dos grãos), oliaginosas (amendoim), legumes (tomate, ervilha).

3 - Segmentos modernizados e dependentes do fornecimento de máquinas e insumos

extra-setoriais, porém, não estabelecem ligações específicas a montante e à jusante.

Encontram-se neste grupo: feijão (São Paulo), arroz (Centro-Oeste), cebola, hortaliças e

frutas de mesa.

São incluídas nesta categoria, também, as atividades ligadas à classificação e à

embalagem que passam a desempenhar papel semelhante à agroindústria. O café

poderia incluir-se neste grupo, pois o mais importante neste CAI, não são as indústrias

de moagem e torrefação e sim o segmento de exportação/embalagem e classificação. As

torrefações são, genericamente, de pequeno porte e com atuação restrita, sem poder de

pressão sobre os produtores. Estes além de serem grandes produtores, possuem

influência junto ao governo, via Associação Nacional do Café e Instituto Brasileiro do

Café.

O café vem-se redefinindo dentro do complexo e tem-se aproximado do setor de

insumos, em busca de adubos e de defensivos (combate à ferrugem).

4- - O último segmento compreende atividades pouco modernizadas, com raras e

esporádicas ligações com as indústrias de insumos e processadoras. São atividades que

têm sua base nos produtos como a banana e a mandioca.

Esta classificação apontada por Kageyama, embora referindo-se à década de

1980, ainda persiste, basicamente, ao confronto com dados mais atuais. Estes produtos

agro-industriais ou “in natura” destinam-se tanto ao mercado interno quanto ao

externo15[15]. Café e suco de laranja, por exemplo, ao longo desta primeira metade dos

anos 90, parecem merecedores de classificação no sentido ascendente.

15[15] - Produtos importantes para o mercado interno (industrial ou “in natura”): arroz,

carne, feijão, ovos e trigo. Produtos, basicamente, para o mercado externo: soja, café e

milho. Produtos importantes para o mercado externo: açúcar, alcool e farelo de soja.

Produtos com consumo não monetário expressivo (“in natura”): arroz (casca), aves

vivas, leite, ovos milho (grãos) e feijão (grãos).

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Em relação á competitividade no mercado externo16[16], os setores agrícolas e

agro-industriais que alcançam elevado nível são o café, suco de laranja, soja (farelo),

papel e celulose). Os produtos ligados às indústrias têxtil e de confecção (tecidos,

roupas e calçados) apresentam nível intermediário. Há grandes perspectivas quanto às

frutas e carnes (vaca e aves).

Ação do EstadoPelo exposto, não se pode falar em modernização, industrialização da

agropecuária e a conformação dos complexos agro-industriais no Brasil, excluindo-se

ou minimizando a figura do Estado. As ações e políticas estatais demarcaram as

mudanças no sistema de poder nos últimos 50 anos.

O papel do Estado, que foi de modernizar o setor agrário brasileiro, atendeu,

principalmente, aos interesses do grande capital, a ponto de alguns críticos, como

Graziano da Silva (1982), afirmar que o Estado passa a ser apropriado não apenas pela

burguesia, mas por grupos específicos de interesses deste ou daquele ramo de atividade,

forçando uma balcanização do aparelho governamental. Na realidade, como os

interesses são múltiplos, vão ocorrer, naturalmente, contradições nas políticas públicas.

O grande problema encontra-se justamente no fato de o Estado ter sido o grande ou nas

palavras de Martins (1991), o único tomador de riscos, considerando ser o Brasil um

país de economia de mercado.

Os estudos sobre o papel do Estado, na maioria das vezes, consideram-no como

um “fator externo desencadeador das alterações nas condições de participação dos

agentes” da produção agrícola, como afirma Neves (1997: 13). Isto levou, segundo a

autora, à consideração de que o Estado poderia alterar “de modo relativamente uniforme

16[16] - Palestras proferidas por A. Furtado - “A capacitação tecnológica do Brasil e

sua inserção na economia internacional”, em 17/10/1996 e por B. Albuquerque -

“Agricultura no Brasil de hoje e os seus desafios”, em 22/10/1996. Seminário de

Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRJ.

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a todos os produtores, independentemente da posição social que ocupam ou do conjunto

específico de relações que estejam vivendo”. Completa Neves afirmando:

 

Tais estudos como provável que decretos e normas formais sejam por si só capazes de

alterar relações e que os agentes sociais não participem, ainda que indiretamente, de sua

elaboração. Admitem, também, como certo que ela os absorvam uniformemente ou sem

resistências, reivindicações e recriações.

 

A atuação deste agente de natureza multifacetada pode ser vista e aquilatada pelo

implemento de diversas políticas (global, territorial, setorial) que abrangeram não só a

esfera econômica, como política, institucional, social etc.. Tal postura, alicerçada em

planejamentos, visou a dotar o país de condições atrativas aos investimentos produtivos

internacionais e, assim, tornar factível o processo de desenvolvimento socioeconômico e

a sua inserção, em nível competitivo, no mercado internacional.

Embora a presença do Estado Brasileiro na atividade rural venha ocorrendo

desde o século XIX17[17], pode-se tomar a Revolução de Trinta como o marco inicial da

intervenção deliberada e sistemática do Estado na economia. Mas foi no regime

ditatorial militar, após o golpe de 1964, que a intervenção do Estado atingiu o seu ponto

mais expressivo, isto é, nas décadas de 60 e 70. Observe-seque este papel realizou-se,

também com eficiência, em regime de liberdades democráticas, como no Governo JK.

Foram selecionadas algumas dessas intervenções diretas ou indiretas, a fim de

qualificar o Estado, indubitavelmente, o grande artífice do processo de modernização do

campo brasileiro. As intervenções, ora o fazem um grande empresário, criando

indústrias de base como siderúrgica (CSN), química (ÁLCALIS), petroquímica

(PETROBRÁS), montadora (FNM) e infraestrutura (energia, vias de transporte,

irrigação, açudagem, drenagem, saneamento etc.), ora como formatador de legislações

específicas nas esferas monetária, tributária, fiscal, cambial, preços de produtos,

17[17] - Desde o final do século XIX, O Estado protocapitalista assegura a livre

circulação de mercadoria e a reprodução do trabalho livre. Sorj (1986).

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trabalhista, pesquisa, extensão rural etc.. Estas ações isoladas ou combinadas criaram

condições objetivas para o chamado “take off” ao desenvolvimento industrial, agrário e

agroindustrial do Brasil.

O período correspondente à II Guerra, em função das dificuldades de

importação, ofereceu oportunidade no sentido de dotar-se o país de uma estrutura

industrial. Foi o deslanchar da implementação efetiva do modelo conhecido por

“substituição de importações”. O saldo positivo da balança comercial, derivado da

exportação de produtos primários e da manipulação de taxas cambiais, estimulou,

inicialmente a importação de insumos agrícolas e, posteriormente, o início das próprias

indústrias de base produtoras destes insumos. A agricultura cumpriu, então, papel

fundamental em relação ao novo padrão de acumulação de capital, subsidiando a

importação e, conseqüentemente, transferindo de renda ao setor industrial.

Ao final da década de 1950 e início da de 60, observa Sorj (1986), verificou-se

uma queda nos mecanismos da integração da agricultura no processo cumulativo

industrial. A esta época, o Governo João Goulart propôs reformas de base mas, por falta

de alianças políticas significativas, não conseguiu alcançar seus objetivos que, inclusive,

contemplava uma reforma agrária de forma distributiva e não coletiva. Grupos

conservadores, ligados aos interesses do capital monopolista e dos grandes

latifundiários, articulam com as Forças Armadas um golpe de Estado que se efetiva em

1964. A partir de então, grandes mudanças econômicas e políticas completam a

modernização da agricultura.

Com Congresso cativo, oposição silenciada e controlada, classe média urbana

ideologicamente cooptada, os governos militares elaboram políticas voltadas às

mudanças modernizantes, a fim de implantar o modelo de desenvolvimento calcado no

capital monopolista. Em outros termos, o Estado criou condições concretas à expansão

das grandes empresas internacionais, nacionais e, até mesmo, estatais.

Entre os expedientes mais eficazes para transformar as estruturas ditas arcaicas,

principalmente rurais, e integrar este setor ao industrial, encontrara-se a política de

financiamento, ou seja, o crédito rural.

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Em 1965, houve uma reforma do sistema financeiro, inclusive, para dar suporte

à criação do Sistema Financeiro de Crédito Rural (SRCR)18[18]. Acionou-se o sistema

financeiro privado para que o mesmo participasse desta nova política, através da

aplicação de 10% dos depósitos à vista, no novo crédito agrícola com juros de 7%/ano,

ou canalizá-lo ao Banco Central. O crédito destinava-se ao custeio, investimento e a

comercialização19[19].

Kageyama e Outros (1989) distinguem duas fases quanto à concessão de crédito

rural. Na primeira (1965-79), ele era abundante e altamente subsidiado, já na segunda

(1979/86), há grande retração de crédito subsidiado, com decréscimo em cerca de 50%.

Ratificando o papel deste mecanismo voltado à modernização agrícola,

acrescenta Sorj (1986: 89):

 

O crédito agrícola se transformou, sem sombra de dúvida, no mais importante

impulsionador do processo de modernização das forças produtivas, em particular, na

modernização, chegando por vezes a subsidiar praticamente mais da metade do valor da

maquinaria agrícola.

 

Esta farta distribuição de benesses financeiras, porém, foi bastante seletiva. Isto

é, os proprietários rurais, com um mínimo de lastro econômico, podiam garantir os

empréstimos. Tinham eles que possuir bens em terra, produção etc.. Pelo visto, somente

os médios e grandes proprietários satisfaziam tal exigência. No caso de parceiros e

arrendatários, havia necessidade de carta de anuência pelos proprietários. Assim, as

exigências de garantia atuavam como uma forte barreira que excluía, de saída, os

18[18] - Até os anos de 1950, não havia linha de crédito especial. Nessa faixa atuava o

capital mercantil-usuário que, às vezes, constituía-se num obstáculo às transformações

mais profundas na organização da produção. Kageyama et alii (1989).

19[19] - Era a seguinte composição do crédito - custeio que alcanço,no máximo, 40%,

investimento que chegou a 33% e comercialização, estabilizado em torno de 25%. Idem.

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pequenos produtores, principalmente aqueles dedicados à produção de gêneros

alimentícios de primeira necessidade.

Além do mais, muitos dos empréstimos concedidos reingressaram no circuito

monetário, quando o proprietário começou a exercer o papel de “repassador” destes

recursos ou, ainda quando eram canalizados para outros fins, como lembra Graziano da

Silva (1982: 39) “políticas de crédito rural enquanto instrumentos de modernização,

indicam que grande parte desses recursos foram investidos por grandes proprietários em

reserva de valor principalmente na compra de terras.

É importante observar, como faz Kageyama e Outros (1989: 160/61), a captação

do setor agro-pastoril ao financeiro “além de modernização em si mesma, a integração

da agricultura ao circuito financeiro é mais abrangente do que a simples integração

intersetorial”.

Como resultante deste processo interativo, o mercado financeiro tornou-se um

importante ponto de referência, em relação à tomada de decisões do setor agro-pecuário

e das empresas atuando neste setor, conclui os autores.

No final dos anos de 1970, um novo aumento no preço do petróleo afetou a

economia brasileira - inflação em alta, déficit público e dívida externa se avolumando.

O país recorre ao Fundo Monetário Internacional em busca de crédito e, em decorrência

disto, foi forçado a colocar em prática alguns ajustes macro-econômicos que iriam

afetar, inclusive, a política de crédito subsidiado à agricultura. Esta perde, então, sua

atração como campo privilegiado de acumulação de capital, observando-se uma fuga

deste para outros setores (1980/85).

Mas, a necessidade de se obter divisas para a importação de bens de capital e,

assim, viabilizar a implementação dos CAIs e, mais tarde, para pagar, ao menos, os

serviços da dívida externa, levou o governo a incentivar investimentos direcionados ao

setor agro e agro-industrial. Recorda Sorj (1986 83) que “o incremento das exportações

é fundamental para a reprodução do modelo econômico fundado numa dívida externa

crescente, e tem-se exprimido numa política aguerrida de procura de novos mercados”.

Assim, tratou o Estado e viabilizar a produção tanto de culturas tradicionais

(café, cana-de-açúcar etc.) como de novas (soja etc.). Tratou, também, de estender a

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área cultivada através de vendas de terras da União, financiada a preço muito baixo,

principalmente, às empresas modernas e aos latifundiários, alargando, inclusive, a

fronteira agrária interna, nas áreas de cerrado e floresta equatorial. Em termos de

expansão de culturas, Sorj enfatiza o papel da produção de gêneros não tropicais, ao

afirmar: “A expansão brasileira não se deu fundamentalmente na base de produtos

tropicais, dos quais os países periféricos ainda são os maiores produtores, mas em termo

de produtos como a soja, dos quais os países desenvolvidos são importantes

concorrentes”.

Enquanto o setor agroindustrial, ligado à exportação, recebe todos os tipos de

incentivos, a produção voltada ao mercado interno tem controle em termos de

tabelamento de preços. Entre os mecanismos criados pelo Estado para fazer frente às

necessidades do mercado interno, sobressaem a CIBRAZEM e a CEASA. A primeira

desenvolveu programas de armazenamento e estocagem de produtos, principalmente “in

natura”. A segunda tratava, precisamente, de controlar a comercialização e, assim,

tentando eliminar ou mitigar os intermediários. Ambas as instituições atuavam no

sentido de evitar a oscilação brusca de estoques e de preços ao longo do ano.

O preço do trigo constitui-se um exemplo significativo do controle

administrativo de preço. Este não era, simplesmente, determinado pelo livre jogo do

mercado, mas sim deliberado pelo governo que levava em consideração, além do valor

monetário no produto no mercado internacional, a posição da balança de pagamento, os

interesses dos produtores de insumo entre outros. Além de políticas e seus mecanismos,

outras foram incrementadas, nas áreas de cooperativismo, sindicalismo, pesquisa,

trabalhista e assentamentos.

Após o golpe de 64, o Estado procurou legitimar-se entre todas as camadas de

produtores rurais e, assim, incentivou o estabelecimento e o desenvolvimento de

cooperativas. Cooptadas ideologicamente e tuteladas pelo Estado, elas passaram a

prestar serviços ao novo sistema implantado, como repasse de crédito, incentivo ao uso

de insumos, promoção de cursos de extensão etc.. Enquanto a EMATER substitui a

ACAR, oferecendo assistências técnica e creditícia aos cooperados, a EMPRAPA

transforma-se no principal órgão de pesquisa agrícola do país.

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O corpo técnico, atuando sob os auspícios de governos autoritários, exerce papel

importante na mudança de mentalidade dos produtores, no sentido de direcioná-los aos

novos padrões de organização da dinâmica produtiva. Muitas vezes, ocorreram choques

entre a visão tecnocrata dos representantes do poder oficial e as práticas e interesses dos

produtores, há muito articulados com as esferas governamentais. A este respeito,

consultar a ação dos sindicado dos plantadores de cana de Campos (RJ), estudado por

Neves (1997).

As mudanças necessárias à modernização do campo, há tempo já estavam em

marcha. As lutas dos pequenos agricultores e trabalhadores rurais tornaram-se mais

consistentes com a criação do seu sindicato (CONTAG), em 1961. Por outro lado, os

grandes proprietários fundiários tinham se organizado na Conferência Nacional da

Agricultura (CNA). Esta, com grande poder, influenciava nas diretrizes das políticas

governamentais para o setor, principalmente após 64. Levar ao campo as conquistas

trabalhistas, obtidas pelas lutas dos operários urbano, era a meta do governo João

Goulart. Assim, foi elaborado o Estatuto do Trabalhador Rural.

Grande promessa de transformação no campo adveio do Estatuto da Terra

(1965), acenando para uma reforma agrária, há muito necessária e aguardada. Esta

objetivava fortalecer pequenos proprietários em moldes dos “farmers” americanos e,

deste modo, estabelecer uma classe média rural. Tal proposta, porém, nunca foi

implementada, nem mesmo em área de forte pressão populacional, pelos governos

militares que tinham “compromisso” com ela.

Um dos fortes segmentos sociais aliados desses governos eram os grandes

latifundiários que, por razões obvias, obliteravam quaisquer iniciativas nessa direção,

mesmo que fosse executada de forma restrita e parcial. À parte a questão da reforma

agrária, era necessária modernizar as relações de trabalho no campo, expandindo o

trabalho assalariado, enquadrando um vasto contingente de mão-de-obra ao processo de

produção capitalista. A categoria dos colonos, como foi dito, por exemplo, passou a ser

dispensada pelos proprietários, a fim destes fugir das obrigações trabalhistas. À

categoria dos assalariados permanentes juntou-se a dos novos assalariados temporários,

ambas formadas praticamente por pequenos produtores expropriados. A mão-de-obra

desenraizada não teve outra alternativa, se não se deslocar às cidades e ali buscar outras

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formas de sobrevivência. Muitos destes trabalhadores, embora vivendo nas “urbes”, são

obrigados a continuar presos às lides rurais como assalariados temporários.

Visando facilitar o processo de acumulação, o Estado Brasileiro vai atuar no

sentido de garantir a baixa remuneração salarial (um dos menores salários mínimos do

mundo) e controlar movimentos reivindicatórios dos trabalhadores, via legislação

trabalhista e repressão aberta às lideranças sindicais. O arrocho salarial deprimiu a renda

da classe trabalhadora (urbana e rural) e, logicamente, fez diminuir o seu, já débil poder

aquisitivo, comprometendo o crescimento do mercado interno e, deste modo,

prejudicando os pequenos produtores integrados a esse mercado.

Finalmente, o Estado, com objetivos de - a) ampliar a produção agrária e, com

ela, a consolidação dos CAIs, b) garantir a soberania nacional sobre áreas pouco

habitadas, principalmente de fronteiras, - elabora um conjunto de instrumentos, como

incentivos fiscais para a ocupação de vastas zonas do interior, sob o lema “integrar para

não entregar”. Neste sentido, criaram-se ou modernizaram-se instituições oficias, como

o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a Superintendência

do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), a fim de planejar e executar políticas de

desenvolvimento setorial e regional.

A estrada de rodagem Belém-Brasília constitui-se num marco inicial desta nova

visão. Barragens surgem em pontos diversos da bacia hidrográfica amazônica. Glebas

imensas de terra são vendidas a preço baixíssimo para grupos nacionais e internacionais

que passaram a explorar as vastíssimas potencialidades naturais desta fronteira de

recursos.

Houve uma verdadeira corrida do tipo “far west” americano, mas numa escala

espacial bem maior e num espaço temporal bem menor. Tradicionais atores (posseiros,

grileiros, madereiros, garimpeiros, seringueiros), ao lado de modernas empresas

(pecuaristas, madereiras, mineradoras, agrícolas) disputam, entre si, e com os nativos a

posse da terra. O próprio governo estabelece novos modelos de assentamentos rurais, a

exemplo das agrovilas, em trechos da Transamazônica que, inclusive, redundaram em

fracasso.

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Hoje, há toda uma discussão sobre o significado de fronteira. Becker (1996), por

exemplo, passa a entender a fronteira como uma categoria geográfica, dando uma

valiosa contribuição ao tema. Caracterizam a fronteira amazônica como heterogênea e já

nascida urbana, sendo que a intensa urbanização registrada passou a ser principal

estratégia de ocupação do território.

Enfim, a intervenção moderna, principalmente do espaço amazônico, sem

dúvida, constitui-se na maior experiência de ocupação territorial do mundo, num curto

lapso de tempo. Os resultados desse modelo de povoamento podem ser vistos, de forma

imediata, não se necessitando do cauteloso distanciamento histórico, para serem

aquilatados. Por outro lado, observa-se uma ocupação, genericamente, predatória, onde

as riquezas são mais extraídas/destruídas do que construtivas. Está se “reeditando” o

ciclo das “drogas do sertão”, agora capitaneada por atores modernos muito mais

tecnificados e, como no passado, voltados aos interesses extra-regionais. Como

resultado deste processo, produzem-se paisagens bastante diversificadas, porém, com

um traço em comum que são os problemas sócio-ambientais.

Hoje, o Estado Brasileiro, representado pelos três níveis de poder

político-administrativo, as Organizações Não-Governamentais (ONGs), entidades

nacionais e internacionais (como o Banco Mundial) têm pensado um novo modelo de

ocupação, baseado no chamado “desenvolvimento sustentável”. Uma nova tentativa de

preservação ambiental da Amazônia - os “corredores biológicos”, propostos pela

IBAMA, articulando as unidades de conservação (parques nacionais e reservas

indígenas).

 

  

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Notas