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Revista Eletrônica Saberes da Educação/ano 2018
Faculdade de Administração e Ciências Contábeis
OS CONTOS-DE-FADAS E A REALIDADE
Ligia Maria Cameschi1, FAC-UNINOVE
Delly Danitza Lozano Carvalho 2, FAC-UNINOVE
Resumo
O presente trabalho consiste num estudo bibliográfico acerca dos contos de fadas na formação e
aprendizagem das crianças. Tomando como referência o conto "O Patinho Feio" de Hans Christian
Andersen, realiza-se uma interpretação psicanalítica apoiada nas obras de Sigmund Freud com a
intenção de elucidar a importância da ciência da Psicanálise na construção do sujeito em formação. A
análise do conto é o centro desta tarefa, que nos possibilita relacionar a literatura infantil com os
principais conceitos psicanalíticos que estruturam a constituição do aparelho psíquico logo no período
da primeira infância. Vale ressaltar que a abordagem pelo viés da teoria da psique humana nos
possibilita a percepção dos pontos fundamentais que estão intrínsecos nas histórias utilizadas em sala
de aula, o que nos dá a oportunidade de utilizá-los em favor da Pedagogia para uma melhor aplicação
e construção do Eu da criança.
Palavras-chave: Psicanálise. Contos-de-Fadas. Criança.
Introdução
Qual criança não se encanta quando o professor abre o livro e começa a narrar uma
daquelas maravilhosas histórias infantis? Os olhares atentos e as inúmeras questões que
somente os pequenos conseguem formular rapidamente são observados na sala de aula.
Diante tais situações surgiu o interesse pelo tema deste trabalho, onde realizarei uma
abordagem mais aprofundada sobre os contos de fadas e as influências que eles podem causar
na formação da criança e no quanto eles podem auxiliar o pedagogo em seu trabalho.
A partir de uma pesquisa bibliográfica, sobretudo nas obras de Sigmund Freud,
tentarei demonstrar através de uma perspectiva psicanalista que os contos estão muito além de
uma simples narrativa dentro da literatura infantil e que suas estruturas refletem diretamente
na vida da criança, que vê na história e nas suas personagens centrais uma imagem ideal com
a qual deve realizar-se. Além disso, a construção do Eu é de suma importância nesse projeto,
cuja intenção atravessa a temática não apenas como um momento onde as crianças assistem
ou ouvem a contação de histórias, mas ao mesmo tempo, a percepção do afloramento dos
elementos do inconsciente onde ficam situados as fantasias, desejos e emoções de difícil
controle.
1 Lídia Maria Cameschi é Licenciada em Pedagogia pela FAC-UNINOVE. E-mail: [email protected].
2 Delly Danitza Lozano Carvalho, Mestre em Psicologia Escolar pela UNIFIEO, e Docente da FAC-UNINOVE
São Roque-SP, orientou as pesquisas que resultaram neste artigo. E-mail: [email protected].
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Para isso estruturaremos tal tarefa em três partes onde:
Na primeira pretendemos demonstrar o caminho utilizado por Freud para alcançar o
resultado que lhe permitiu edificar seu pensamento em uma ciência psicanalítica que abriu as
portas para novas formulações de entender-se o mundo em suas mais diversas possibilidades.
Já na segunda procuraremos adentrar em um dos conceitos centrais que estruturam o
pensamento de Freud, a transferência/contratransferência, no qual me apoiarei para aplicar as
modalidades psicanalíticas no contexto dos contos de fadas utilizados na sala de aula e a
relevância que pode ter na construção do Eu individual na relação aluno/professor.
Aplicando o modelo psicanalítico da personalidade humana, os contos de fada transmitem importantes mensagens à mente consciente, à pré-consciente, e à inconsciente, em qualquer nível que esteja funcionando no momento. Lidando com problemas humanos universais, particularmente os que preocupam o pensamento da criança, estas estórias falam ao ego em germinação e encorajam seu desenvolvimento, enquanto ao mesmo tempo aliviam pressões préconscientes e inconscientes.” (BETTELHEIM,1980, p. 14).
E por último, na terceira, com a ajuda da psicanálise e sua aplicação dela nos estudos
dos contos de fadas, analisaremos o conto O Patinho Feio do autor Hans Christian Andersen e
procuraremos realizar uma compreensão dos desejos e afetos que podem ser desenvolvidos
diante o contato da criança com a história em questão, observando de maneira objetiva o
processo que a psicanálise conceitua como transferência/contratransferência e que age de
modo significativo na construção social, política e psicológica do indivíduo em formação.
Revisitando a Psicanálise
Escrever sobre a história da Psicanálise se torna uma tarefa difícil uma vez que
existem várias versões de como foi criada, além disso, também vale ressaltar que ao dissertar
sobre a criação da ciência ou teoria da alma é praticamente inevitável que não se adentre na
própria vida de seu criador. Também é de suma importância relacionarmos os fatos sociais e
históricos que aconteciam na época em que Freud viveu. Uma Viena que rivalizava com
grandes centros culturais, artísticos e intelectuais estava prestes a declinar e as perdas
militares sofridas pela Dinastia Habsburgo trazia à capital austríaca um crescente clima de
decadência, mas ao mesmo tempo permanecia em seu elevado patamar criativo, o que
resultaria em uma típica confrontação neurótica.
Filho de pai judeu e mãe austríaca, Sigmund Schlomo Freud nasceu na cidade de
Freiberg (Pribor) na Moravia, no dia 6 de maio de 1856. Foi uma criança muito inteligente e
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esperta; aprendeu a andar com apenas nove meses de idade e demonstrava muito apego e
ciúmes de sua mãe, não gostando que ninguém se aproximasse dela, nem mesmo os próprios
irmãos.
No ano de 1859, com apenas 3 anos de idade, viu seu pai passar por dias ruins pois era
comerciante e com a guerra-italiana, que nada fora satisfatória para as forças do Império
Central, a inflação elevou-se a índices proibitivos. Com todo o caos instalado por conta da
econômia financeira do local, começaram a surgir sentimentos de ódio e rancor entre a
população prevalentemente tcheca, a qual começava a se manifestar contra o governo central
de Viena.
Em 1865, já com 9 anos, Sigmund foi aprovado para ingressar no ginásio e logo foi se
destacando entre os colegas devido sua inteligência e sua versatilidade. Já aos doze anos tinha
uma espantosa facilidade em assimilar outros idiomas, aprendia simultaneamente o alemão, o
latim, o grego, o francês, o inglês e também o hebraico.
Em junho de 1873 graduou-se com a distinção “summa cum laude” (com a maior das
honras). Em outubro do mesmo ano entrou para a Universidade de Viena para cursar
Medicina, onde seu currículo universitário continha as matérias de anatomia, botânica,
química, microscopia e mineralogia, porém os cursos que ele mais se aproximou foram
“biologia e darwinismo” e “fisiologia da voz e da educação” contudo durante os seus dois
primeiros anos na Universidade, Freud era visto como apenas um aluno anônimo entre tantos
outros que como ele não tinham ideias e ambições específicas. Dedicava parte de suas horas
curriculares para dissecação anatômica, zoologia, física e fisiologia, frequentando
constantemente seminários de Filosofia.
Alguns anos mais tarde (1876-1877) Freud conhece Joseph Breuer, médico e
fisiologista que iria ser de grande importância para a elaboração dos princípios psicanalíticos.
Durante o tempo em que esteve na companhia de Breuer, Freud presenciou o tratamento de
Ana. O. (Bertha Pappenheiem), uma jovem de 21 anos que fora diagnosticada como
depressiva e hipocondríaca (neurótica). Neste caso, Breuer se utiliza de seu método catártico,
causando em Freud uma grande impressão de como o paciente conseguia retornar a seu estado
normal enquanto submetido ao modelo hipnótico do método catártico.
Conduzíamos a atenção do paciente diretamente para a cena traumática na qual o sintoma surgira e nos esforçávamos por descobrir o conflito psíquico envolvido naquela cena, e por liberar a emoção nela recalcada. Ao longo deste trabalho, descobrimos o processo psíquico, característico das neuroses, que chamei depois de “regressão. (FREUD, 1914, p.3)
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Foi em conjunto com Joseph que Freud escreve seu primeiro livro, “Estudos sobre a
Histeria” (Studien uber Hysterie), onde são relatados uma série de casos clínicos tratados por
eles com o objetivo de demonstrar que os sintomas neuróticos permanecem sufocados pela
memória e necessitam serem trazidos à luz, o que pode ser realizado através da catarse
hipnótica. O grande problema dessa teoria é que nem todos os pacientes que são submetidos à
esse método conseguem realmente regressarem ao ponto original de seu trauma, o que faz
Freud e Breuer passarem a se confrontar em determinados posicionamentos teórico-práticos,
como nos revela o próprio Freud em sua História do Movimento Psicanalítico:
Minha primeira divergência com Breuer surgiu de uma questão relativa ao mecanismo psíquico mais apurado da histeria. Ele dava preferência a uma teoria que, se poderia dizer, ainda era até certo ponto fisiológica; tentava explicar a divisão psíquica nos pacientes histéricos pela ausência de comunicação entre vários estados mentais (“estados de consciência”, como os chamávamos naquela época), e construiu então a teoria dos “estados hipnóides” cujos produtos se supunham penetrar na “consciência desperta” como corpos estranhos não assimilados. Eu via a questão de forma menos científica; parecia discernir por toda parte tendências e motivos análogos aos da vida cotidiana, e encarava a própria divisão psíquica como o efeito de um processo de repulsão que naquela época denominei de “defesa”, e depois de “recalque. (FREUD, 1914, p.14)
Contudo o que levou a uma ruptura total sobre seus desenvolvimentos clínicos foi a
questão da sexualidade, onde Freud traz em público a certeza de que os “transtornos
neuróticos possuem como origem a vida sexual”. Algum tempo depois o próprio Breuer
interrompe a utilização de seu método catártico e Freud decide-se dedicar ao trabalho clínico,
onde irá retornar ao método que aprenderá com Breuer mais sobretudo irá transformá-lo no
que viria a ser conhecido como “associações livres”.
Antes dessa nova formulação de uso clínico, Freud viaja para Paris onde conhece o
que ele mesmo denominaria como seu grande mestre, Jean-Martin Charcot, médico e
neurologista francês e um dos mais brilhantes professores da época. Freud então instala-se no
Hospital psiquiatríco da Salpetriere em Paris, onde aproximadamente 5 mil mulheres com
diagnósticos de histerias estão internadas e demonstram a loucura do mundo. Um verdadeiro
laboratório da neurose, onde agora Freud dedicara seus estudos. Encantado pelas aulas do
mestre Charcot, Freud aprende o que de mais avançado existe na área da hipnose. Agora
influenciado pelas ideias de Charcot somadas as suas teorias da sexualidade na origem dos
traumas histéricos, Freud retorna à Viena onde abre seu próprio consultório clínica, mas ainda
continua a utilizar os métodos de regressão hipnóticos.
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Foi então que Freud analisou os conflitos existentes em alguns pacientes, os quais
bloqueavam determinados acessos à uma regressão ainda mais para trás, demonstrando
resistência, a qual era ocultada pelo método hipnótico, e onde os pacientes agiam como se
tivessem perdido a memória; foi então que Freud deslocou o método de hipnose para o de
associação livre, permitindo que o paciente, deitado no divã, tivesse a possibilidade de falar
sobre seus problemas. O próprio Freud determina que foi esse o instante em que a Teoria da
Psicanálise foi criada.
A teoria do recalque é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise. É a parte mais essencial dela e todavia nada mais é senão a formulação teórica de um fenômeno que pode ser observado quantas vezes se desejar se se empreende a análise de um neurótico sem recorrer a hipnose. Em tais casos encontra-se uma resistência que se opõe ao trabalho da análise e, a fim de frustrá-lo, alega falha de memória. O uso da hipnose ocultava essa resistência; por conseguinte, a história da psicanálise propriamente dita só começa com a nova técnica que dispensa a hipnose. A consideração teórica, decorrente da coincidência dessa resistência com uma amnésia, conduz inevitavelmente ao princípio da atividade psíquica inconsciente, peculiar à psicanálise, e que também a distingue muito nitidamente das especulações filosóficas em torno do inconsciente. Assim talvez se possa dizer que a teoria da psicanálise é uma tentativa de explicar dois fatos surpreendentes e inesperados que se observam sempre que se tenta remontar os sintomas de um neurótico a suas fontes no passado: a transferência e a resistência. (FREUD, 1914, p. 8)
Assim, poderíamos definir a Psicanálise como um modelo que permite ao paciente
expressar-se sobre seus tormentos, sobre suas angústias e sobre seus esquecimentos. É por
meio dela que se realiza a volta ao passado trazendo à consciência os traumas escondidos no
inconsciente. Com a Psicanálise as dores da alma passam a ser ouvidas, as neuroses do Ser
verbalizadas, os fatos do inconsciente se transformam em linguagem.
A partir de 1902 era criada a Sociedade Psicanalítica de Quarta-feira, onde todas as
quartas feiras um grupo de intelectuais e seguidores de Freud se reuniam e debatiam sobre as
possibilidades e novos caminhos a serem tomados pela nova teoria do século XX. A partir
dessas reuniões a Psicanálise passa a ser difundida através de artigos, jornais, revistas e
congressos, sendo aplicada em outras áreas do conhecimento, como por exemplo a arte e a
filosofia, mas sempre tendo como centro de seus questionamentos os sintomas histéricos
desenvolvidos pelo indivíduo e também pela sociedade. Seis anos mais tarde essa sociedade
passa a ter o nome de Associação de Psicanálise de Viena.
Mas foi em 1900, data da publicação da obra A interpretação dos Sonhos (Die
Traumdeutung), que Freud chegou ao seu "xeque-mate" para solidificar sua ciência. Para
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muitos, aliás, é essa a obra essencial que dá origem a Psicanálise. Foi na análise dos sonhos
que Freud encontrou uma porta que o levava diretamente ao campo do inconsciente,
conseguindo assim defrontar-se com os impulsos que são satisfeitos através das fantasias
oníricas. Para ele, “todo sonho se revela como uma estrutura psíquica que tem um sentido e
pode ser inserida num ponto designável nas atividades mentais da vida de vigília” (FREUD,
1900, pg.13), assim, os sonhos possuíam como principal característica a libertação de prazeres
e desprazeres adquiridos durante o cotidiano. O próprio psicanalista se submeteu à autoanálise
de seus sonhos, tendo no conhecido sonho de Irma a certeza de que ele estava no caminho
certo em relação a sua teoria. Uma das principais ideias de Freud foi distanciar-se das antigas
formulações que eram atribuídas aos sonhos, os quais eram qualificados como sendo
premonições ou mensagens místicas, e ter passado a crer que os sonhos eram eles próprios
desejos escondidos e relacionados com a infância. Freud também atribui aos sonhos uma
linguagem simbólica, associando assim objetos e imagens que aparecem nos sonhos com
possíveis relações diretas feitas pelo sonhador com essas figurassem algum momento de sua
vida. Porém o ponto chave dessa teoria dos sonhos foi a estruturação freudiana do aparelho
psíquico, onde o psicanalista organiza tal aparelho de modo ao qual podemos "visualizar" o
funcionamento deste. O próprio Freud em carta a Fliess relata que “a mais crucial das
descobertas dadas ao mundo em A Interpretação dos Sonhos foi a distinção entre os dois
diferentes modos de funcionamento psíquico, os Processos Primário e Secundário” (FREUD,
1900, p. 06).
Nesta reformulação da mente, ele nos traz os elementos de Id, Ego e Superego, onde o
Id é o que temos como inato ao nosso ser, e onde nossos desejos primitivos estão
armazenados, além disso os outros elementos também tem origem no ID. O Ego, é o elemento
de equilíbrio entre o ID e o Superego, age como regulamentador do Id, mantendo com que as
pessoas não percam a sanidade. O superego por sua vez é o mecanismo que atua como fonte
moral do indivíduo, alertando o Ego os limites e os valores aceitos diante da sociedade.
Assim, Freud passa a ver na Interpretação dos sonhos uma fórmula altamente
confiável para a cura de seus pacientes clínicos, uma vez que ele vê nos sonhos o
deslocamento de uma relação emocional já formada em vigília para um objeto ou figura
onírica que será transportada do inconsciente para o consciente em forma de fantasia. Isso lhe
deu vazão para a formulação de dois outros conceitos fundamentais em sua ciência
psicanalítica, a transferência e a contratransferência.
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1. A transferência no contar de contos
Freud utilizou o conceito de Transferência pela primeira vez em sua obra " A
Interpretação dos Sonhos", publicada em 1900. Foi analisando os sonhos que o pai da
psicanálise percebeu que o inconsciente transfere para eles todos os afetos, alegria, tristeza e
angústias vivificados durante o período em que se está acordado como uma maneira de
realocar essas experiências.
De acordo com o Dicionário de Psicanálise (ROUDINESCO), a palavra Transferência
‘designa um processo constitutivo do tratamento psicanalítico mediante o qual os desejos
inconscientes do analisando concernentes a objetos externos passam a se repetir’, ou, nas
próprias palavras de Freud:
Transferências são reedições, reduções das reações e fantasias que, durante o avanço da análise, costumam despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a característica de substituir uma pessoa anterior pela pessoa do médico. Dito de outra maneira: toda uma série de experiências psíquicas prévias é revivida, não como algo do passado, mas como um vínculo atual com a pessoa do médico. Algumas são simples reimpressões, reedições inalteradas. Outras se fazem com mais arte: passam por uma moderação do seu conteúdo, uma sublimação. São, por tanto, edições revistas, e não mais reimpressões. (FREUD, 1969, p. 109)
Foi observando que os pacientes transmitiam os desejos do passado para a figura do
analista do presente que Freud concluiu que nesse processo os analisados projetavam para o
presente os desejos sexuais formados já na primeira infância. Enquanto no processo de
formação do indivíduo este possui como personagens centrais em seus primeiros anos aqueles
que estão à sua volta, sobretudo nas figuras paternas e maternas, e os direciona todos os teus
sentimentos na neurose de transferência o que se dá é a projeção desses mesmos afetos para
personagens novos que surgem com o tempo. Assim podemos dizer que existe uma espécie de
substituição das figuras que recebem e doam os desejos adquiridos logo cedo, e numa relação
mútua realizam uma transferência desses afetos que ocorre repetidamente no decorrer de toda
vida. Para Freud, a figura paterna é a mais importante para a criança, pois ela vê nele o ideal e
o poder constituídos, tomando a ‘imago materna’ como figura objeto, o que irá sofrer uma
inversão com os anos, pois o pai se transformará em um obstáculo para os desejos do filho,
formando assim o que conhecemos por Complexo de Édipo. Deste modo, com o passar do
tempo os sentimentos da criança vão se exteriorizando e com isso novas formulações sobre
aqueles que ela tomava como ideal e exemplar vão se esvaindo e se tornando fragilizadas,
dando abertura assim para que novas figuras tenham a capacidade de substituí-los. O mais
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conhecido caso clínico em que foi observado a neurose da transferência é de Ana O., onde
Joseph Breuer decide encerrar o caso e dá-lo como solucionado por estar afetando diretamente
a vida do analista, porém a interrupção do tratamento ocasionou novos sintomas neuróticos,
neste caso uma gravidez inexistente; o que fez com que Freud compreendesse o impacto que
pode ser produzido entre as relações de transferência e contratransferências dos inconscientes
envolvidos.
Desse modo, é mais frequente observarmos que os elementos de
transferência/contratransferência se dão dentro do consultório clínico uma vez que nesse
ambiente o paciente supõe que encontrará as respostas para todas as suas angústias. O
paciente vai de encontro ao analista em busca de todas as soluções, pois pensa que nele estão
concentradas todas as explicações possíveis, sem saber que na realidade o que ele procura está
dentro de si.
Com isso o analisado vê na figura do clínico um ente querido, como um pai, mãe,
marido, em quem possa confiar os teus mais profundos segredos, tornando assim do analista
uma pessoa confidencial onde poderá externalizar todo o conflito existente em seu interior. É
nesse momento que o analista percebe que surge a contratransferência, pois agora o
psicanalista já possui a intimidade suficiente para adentrar o mais fundo possível, do
consciente para o inconsciente, sem necessariamente quebrar a relação que fora construída,
permitindo que o analisado se sinta confortável e seguro diante dos acontecimentos que serão
expostos no momento da consulta.
No consultório clínico o paciente que se depara com uma pessoa compreensível,
simpática e que a transmita uma segurança tende a se comunicar com muito mais facilidade,
passando ao médico todos os sintomas que está sentindo. Até mesmo o paciente que se
encontra em estado crítico quando encontra na figura do analista alguém confiante, mesmo
sem ter trocado nenhuma palavra, passa a se comportar de uma maneira mais amena. Porém
se essas primeiras experiências se efetuarem por um processo negativo, há grande
possibilidade de haver um rompimento entre todos os envolvidos no tratamento, se tornando
um enorme obstáculo para o psicanalista uma vez que o paciente, diante disso, pode bloquear
todos os sentimentos, recalcando em seu inconsciente todas as suas lembranças e não
permitindo que importantes revelações sejam acessadas pelo analista,
É importante ressaltar que a transferência, ou a neurose da transferência, não é um
caso particular entre analista e paciente, podendo então aparecer em qualquer forma de
relação, pois uma vez que o ser humano é uma espécie relacionável se torna praticamente
impossível viver em completo isolamento social. Freud vê na relação professor-aluno um
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grande exemplo de transferência, pois o professor possui poder sobre o aluno e com isso
existe toda uma relação de afetos profundos, como o próprio Freud diz:
Os professores passam a ser nossos pais substitutos. Foi por isso que, embora ainda bastante jovens, impressionaram-nos como tão maduros e tão inatingivelmente adultos. Transferimos para eles o respeito e as expectativas ligadas ao pai onisciente de nossa infância e depois começamos a tratá-los como tratávamos nossos pais em casa. Confrontamo-los com a ambivalência que tínhamos adquirido em nossas próprias famílias, e, ajudados por ela, lutamos como tínhamos o hábito de lutar com nossos pais em carne e osso. (FREUD, 1914, p. 161)
Na sala de aula o professor(a) utiliza a transferência/contratransferência a favor do
aluno, fazendo com que este sinta prazer em estar ali e aprenda com mais facilidade,
apresentando em relação ao aluno um sentimento materno ou paterno, o que muitas vezes leva
o aluno a uma confusão e ao invés deste também criar um vínculo de relação materna/paterna,
acaba por sua vez construindo em sua cabeça uma paixão platônica pelo professor(a), sendo
muito importante a percepção do docente nestas circunstâncias e aproveitando-se disso para
usar em benefício do próprio estudante.
Outros importantes meios em que os elementos de transferência/contratransferência
são praticados se dão pelo viés dos personagens inseridos nas mais variadas formas
apresentadas no processo de desenvolvimento e aprendizado. É no âmbito escolar que a
criança passa a ter uma relação mais abrangente com outras pessoas que não aquelas que as
rodeavam até o presente momento de sua vida. Assim, elas veem nas figuras dos professores
os substitutos imediatos dessas personagens primárias. Os professores por sua vez necessitam
utilizar dos mais diversos materiais para auxiliá-los em suas funções de educadores, e são
geralmente na exposição de músicas, lendas e histórias que se torna perceptível essa relação
de substituição de figuras para as crianças, sobretudo na primeira infância, onde a estrutura do
pensamento ainda está dando seus primeiros passos.
Nos contos-de-fadas são claramente reconhecidos os vínculos criados, quase que
imediatamente, entre as crianças e os protagonistas de cada história narrada. Desta maneira,
elas passam a se comportarem da mesma maneira que o personagem ao qual se identificaram.
Geralmente essa aproximação entre o Eu da criança em formação e o conto-de-fada se dá com
os personagens mais frágeis, pois ela vê nas dificuldades desses personagens semelhanças
concretas com as mesmas dificuldades que ela mesma tenha experienciado.
Assim, é visível como a criança pode sofrer uma vasta quantidade de alterações no
decorrer de sua própria formação. Alterações essas muitas vezes não captadas pelo
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mecanismo mental que ainda está se desenvolvendo o que nos deixa um claro alerta de como
o pedagogo deve refletir e analisar sobre os contos e os seus respectivos personagens a serem
levados à sala de aula.
Psicanálise de ‘Um Patinho Feio’
Depois de refletir nas partes um e dois, estudo e reflexão por parte do pedagogo sobre
o material que será exposto em sala de aula, assim, as probabilidades de se incorrer em erros
são muito menores. Questionar e se aprofundar nas atividades que serão exercidas ajudam
para que a aula tenha uma maior qualidade, atinja seus objetivos e uma maior aceitação por
parte das crianças.
Muitos acham que a escolha de histórias e contos-de-fadas são feitos de maneira
totalmente aleatória, nos dando uma conotação de superficialidade do ponto de vista
pedagógico em que uma exposição é construída. Assim, utilizando o viés psicanalítico
propomos nessa parte a análise de um conto, o qual muitos, senão todos nós já ouvimos
inúmeras vezes mas nunca nos atemos aos verdadeiros elementos que estão intrínsecos na
narrativa.
O que para muitos não passa de uma simples história infantil na verdade nos traz uma
infinidade de elementos que nos permitem compreender a importante relação
criança/personagem que se dá no processo de desenvolvimento do Eu psicológico de cada
um.
Aqui nesta parte trazemos para nossa reflexão o conto “O patinho Feio” do escritor
dinamarquês Hans Christian Andersen.
O Conto Original
O Mito de Hefesto
A obra O Patinho Feio foi escrita em 1843 pelo escritor dinamarquês Hans Christian
Andersen. Único filho sobrevivente de seus pais, Hans possuiu uma infância marcada pela
pobreza e com a morte do pai, quando ainda tinha 11 anos, foi obrigado a abandonar a escola.
Essas questões o possibilitaram, logo cedo, se confrontar com a dura realidade em que a
Dinamarca passava, e os contrastes sociais foram de suma importância e influência em suas
futuras histórias. Além disso, o escritor era feio, narigudo, desengonçado e alto demais para
sua idade, o que faz com que muitos historiadores e críticos de suas obras relacionem O
Patinho Feio como uma autobiografia do autor.
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Outros historiadores veem na mitologia grega a fonte de inspiração para o autor de
contos infantis, e que colocam a figura de Hefesto, Deus do fogo, como a inspiração para o
conto moderno do Patinho Feio. Hefesto, deus do fogo na mitologia grega foi rejeitado por
sua mãe, Hera, conforme podemos ver no resumo abaixo:
Hefesto, deus do fogo, teria nascido muito feio e com aparência de anão, pois tinha
problemas na perna. E, por esse motivo a sua mãe Hera muito envergonhada teria o jogado ao
mar. Mas com muita generosidade foi recolhida pela deusa Tétis por quem é criado. Aprendeu
a trabalhar com metal, e a fazer joias também. Um dia sua mãe Hera viu uma de suas joias e
gostando muito, quis saber quem as fazia, foi quando soube que era seu filho rejeitado. Ainda
muito furioso pela rejeição da mãe, ele fabrica um trono que a aprisiona e de onde nenhum
deus conseguiria soltá-la. Não restando outra opção aos deuses do Olimpo, ao senão de acatar
suas exigências a primeira era de a voltar a viver no Olimpo e a segunda era a de se casar com
a deusa mais linda de todas, Afrodite. Obrigada à deusa se casou com o Hefestos, mas não era
fiel a ele o traindo com o seu irmão Ares. (Resumo adaptado do Mito grego de Hefesto, in:
https://www.infoescola.com/mitologia-grega/hefesto/)
O Conto Moderno
O Patinho Feio
Foi em 1843 que Hans Christian Andersen formula o conto O patinho Feio da forma a
qual conhecemos em nossa cultura moderna, e o qual podemos ler resumidamente a seguir:
Era uma vez uma pata que estava a chocar alguns ovos. Os dias foram-se passando e chegou o momento dos patos nascerem. Mas havia um pato que era diferente de todos os outros. Era gordo e muito feio, a pata não gostava dele e só lhe dava desprezo. Os dias foram-se passando e os patinhos iam crescendo, o patinho já não aguentava mais que os outros irmãos gozassem mais com ele. Até lhe deram o no de “Patinho feio”. Um dia a pata mandou-o embora e disse-lhe que ele era a vergonha da família e ele foi. Teve algum tempo a viver sozinho ao pé de um lago, até que um dia encontrou alguns cisnes e começaram a falar ele disse que era feio. E descobriram que eram irmãos disseram-lhe que ele era muito bonito. E na verdade o patinho feio já estava muito bonito e era um lindo cisne. Então os outros cisnes levaram o patinho feio à mãe. Ela pediu-lhe desculpas e ficaram todos felizes. (Resumo adaptado da obra de Hans Christian Andersen)
Considerações Finais
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Conforme descrito acima, existem diferentes interpretações quanto a fonte inspiradora
para o autor do Patinho Feio, assim, ressalto que para os fins deste trabalho, farei uma análise
baseada no ponto de vista autobiográfico do conto.
O conto em análise nos traz a possibilidade de pensar nas grandes dificuldades
encontradas pela criança em sua formação do Eu. Ele nos mostra uma situação real em que a
criança vive, a primeira relação ser/pertencer, o que se estabelece como um grande dilema
para uma mente ainda em formação, podendo criar uma confusão interior propícia ao
surgimento de neuroses que possam a vir a afetar diretamente a criança.
Figura 01 - Hefesto
Escultura Grega – Museu do Louvre, Paris.
O conto em análise nos traz a possibilidade de pensar nas grandes dificuldades
encontradas pela criança em sua formação do Eu. Ele nos mostra uma situação real em que a
criança vive, a primeira relação ser/pertencer, o que se estabelece como um grande dilema
para uma mente ainda em formação, podendo criar uma confusão interior propícia ao
surgimento de neuroses que possam a vir a afetar diretamente a criança.
Uma criança pobre e feia de acordo com o padrão de beleza exigida por uma
sociedade pode sofrer profundamente com as diferenças encontradas no dia-a-dia.
Vislumbrada com os modelos estéticos que aparecem em todos os lugares, dos comerciais da
TV até aos panfletos do semáforo, com os brinquedos caros e que nunca terá ou com o tênis
do momento mas que nunca usará pois os pais não possuem condições nem te sustentar a
própria casa, a criança vê na personagem do Patinho Feio a tua própria existência. Um
animalzinho com a cabeça maior do que o corpo, da cor diferente do resto da família, com as
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penas não padronizadas como os demais da sua volta, assim se sente a criança que não contém
as possibilidades iguais em um mundo de confrontações sociais.
Como Andersen nos mostra em seu conto, há uma grande rejeição e abandono, não
apenas no ninho onde foi inserido, mas no próprio meio em que se vive. Assim, a criança
passa se sentir diferente, concebendo-se características que a determinam como diferentes e o
que faz com que ela se sinta rejeitada. Em uma sociedade excludente, essas características de
anormalidade são de interesse direto da análise psicanalítica, para que através das distinções
observadas entre os indivíduos, seja possível a formação sem nenhum vestígio psíquico.
Outro elemento que podemos sublinhar no conto em questão é o abandono, pois a
nova mãe não identifica o filho diferente e isso resulta na falta de acolhimento e em um
tratamento de distanciamento em relação aos demais patinhos. Existem incontáveis casos em
que este é o principal fator para os sintomas adquiridos na primeira infância. Uma mãe que
engravida e que é obrigada a abandonar o filho(a) por não ter as mínimas condições de
sustentá-lo. Assim podemos pensar no ovo deixado no ninho da mamãe pata, em que ao ser
chocado traz ao mundo um corpo aberrante que causa o estranhamento da nova mãe, fazendo
com que ela o rejeite e não exerça o afeto materno biológico, deixando o filhote fragilizado
por não receber a segurança e a proteção nos primeiros momentos da vida. Essa circunstância
nos dá a possibilidade de refletir sobre o Eu isolado e sobre a percepção de uma vida vazia de
carinho e amor podendo incorrer em uma profunda tristeza que afetará diretamente o
indivíduo em sua formação.
Figura 02 - O Patinho Feio
O Patinho Feio, Ilustração de 1939, Disney Pictures.
O lago em que o Patinho Feio necessita viver é como a realidade repleta de crueldade
e obstáculos. A travessia dele sob o desamparo da vigilância da mãe é como viver em meio a
sociedade egoísta e violenta, onde o medo é propagado e a falta do conforto familiar nos leva
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a pensar nas crianças que sobrevivem sob a miséria das ruas. O lago também nos remete a
ideia de um espelho, em que a imagem refletida permite ao patinho observar-se e se defrontar
com sua própria aparência exterior, podendo assim o fazer lembrar de tudo o que disseram a
seu respeito e essa confrontação pode levá-lo a recalcar os afetos negativos que lhe foram
atribuídos incorrendo na possibilidade de uma futura neurose.
Porém esse conflito com seu próprio Eu é de suma importância para a formação da
criança, pois também lhe possibilita interagir com seu interior e lhe permite perceber os
valores que estão intrínsecos ao teu Ser. Assim a narrativa também nos presenteia com uma
reviravolta, apresenta-nos uma metamorfose do monstro em belo, do feio em bonito, do
patinho em um cisne indescritivelmente maravilhoso. Aí se dá a valorização do Eu, o interior
em detrimento do exterior, o sentimento sobrepõe-se ao sentido, o pensamento ao corpo.
Assim como Quasímodo, o Patinho Feio demonstra-se acima do que a sociedade impõe como
belo, agradável e organizado. Nessa valorização a criança se inspira em permanecer ativa
enquanto indivíduo e em lutar em busca de suas próprias conquistas, demonstrando um
fortalecimento do mecanismo mental que a permitirá encarar as dificuldades da vida.
São nesses conflitos que a psicanálise vê a trajetória da formação do sistema psíquico,
e nessa relação criança-personagem, nos dá a dimensão de quão importante pode ser o contato
com a obra. O patinho como figura de um anti-heroi, promove uma alteração nos princípios
de beleza estipulado pela sociedade e recria assim a possibilidade dessa criança, outrora
excluída e abandonada, de superar os problemas sociais, estéticos e psicológicos com os quais
se confrontam desde o seu nascimento.
Referências Bibliográficas
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FREUD, Sigmund. História do Movimento Psicanalítico, artigos sobre a Metapsicologia e outros trabalhos, Ed.Imago, 1976.
______. Os Pensadores, Obras Incompletas – tradução Victor Civita, Editora Abril, São Paulo, 1978.
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_______________. Obras Completas, vol XII – tradução de Paulo César Souza, Cia das Letras, 1914.
_______________. Obras Completas, vol XIII– tradução de Paulo César Souza, Cia das Letras, 1916.
_______________. Obras Completas, Versão digital Le Livros. Localizado em: http://lelivros.love/book/obras-completas-dr-sigmund-freud/ (acessado em 20-11-
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Magalhães, Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 1998.
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2017)
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https://www.youtube.com/watch?v=ph3Q8bs3ny8