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Os contrastes sociais que caracterizam
o Brasil foram representados em
diferentes épocas.
A realidade brasileira é historicamente
caracterizada pela convivência de
contrastes: a pobreza e a riqueza, o
desenvolvimento e o atraso, a
abundância de recursos e a
estagnação econômica, o acesso à
educação e a exclusão cultural.
O poema a seguir, de Oswald Andrade, descreve essa permanente polaridade.
Pobre alimária
O cavalo e a carroça Estavam atravancados no trilho E como o motorneiro se impacientasse Porque levava os advogados para os [escritórios Desatravancaram o veículo E o animal disparou Mas o lesto carroceiro Trepou na boleia E castigou o fugitivo atrelado Com um grandioso chicote
Contexto:
Mudanças políticas (Abolição da
Escravatura e a Proclamação da
República) não provocam alterações
significativas na estrutura econômica do
país:
café = base da economia brasileira =
política do café com leite (SP + MG).
Contexto:
Mudanças que começavam a modificar a
fisionomia da sociedade brasileira:
urbanização das metrópoles + a imigração +
o crescimento industrial + a emergência de
uma classe média reformista e uma nova
geração de militares influenciados pelo
ideário positivista + massa popular insatisfeita.
Pré-modernismo: época eclética (de
mistura de tendências, estilos e visões) =
impossibilidade de considerá-lo uma
escola literária.
Desmistificação do texto literário e
utilização de um português mais
“brasileiro”.
Resquícios culturais do século XIX x busca
de novas formas de expressão.
Desejo de uma redescoberta crítica à
realidade social e econômica do Brasil:
revelar o verdadeiro Brasil aos brasileiros,
mas desmistificando o Romantismo, com
seu nacionalismo ufanista, idealizador.
Parnasianos = influentes com ideias
formalistas e uma concepção da
literatura como “sorriso da sociedade”
(estilo artificial). Destaques: Olavo Bilac
(na poesia). Influência sobre a poesia
de Augusto dos Anjos.
Língua portuguesa
(Olavo Bilac)
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga* impura [parte rejeitada de um minério]
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor*, lira singela, [som alto e estridente]
Que tens o trom* e o silvo da procela [tempestade marítima] [*estrondo]
E o arrolo* da saudade e da ternura! [cantiga de ninar]
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
VERSOS ÍNTIMOS
(Augusto dos Anjos)
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera*. [fantasia, sonho, ilusão]
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Simbolistas = estímulo dos sentidos humanos
para atingir uma transcendência.
Inexpressivos, pouca ressonância de sua
arte, fortemente vinculados à matriz
europeia do movimento. Destaques = Cruz
e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, que
também influenciam Augusto dos Anjos.
Aspiração Suprema (Cruz e Sousa)
Como os cegos e os nus pede um abrigo
A alma que vive a tiritar de frio.
Lembra um arbusto frágil e sombrio
Que necessita do bom sol amigo.
Tem ais de dor de trêmulo mendigo
Oscilante, sonâmbulo, erradio.
É como um tênue, cristalino fio
D'estrelas, como etéreo e louro trigo.
E a alma aspira o celestial orvalho,
Aspira o céu, o límpido agasalho,
sonha, deseja e anseia a luz do Oriente...
Tudo ela inflama de um estranho beijo.
E este Anseio, este Sonho, este Desejo
Enche as Esferas soluçantemente.
Realistas = Utilizam uma técnica literária
marcada pela objetividade,
verossimilhança, crítica social, análise
psicológica. Destaque para Machado de
Assis, que influencia:
- Monteiro Lobato = com a reabilitação do
caboclo paulista;
- Lima Barreto = fixação do universo
suburbano carioca.
Vanguardas
Européias
Pré-Modernismo
Localização: Não constitui uma escola literária, mas um
período de transição para o modernismo.
Realismo
Naturalismo
Parnasianismo
Simbolismo
Pré-
Modernismo
1902
Os Sertões
Canaã
1922
Semana
de Arte
Moderna
Modernismo
Intérpretes do Brasil = Euclides da Cunha e
Graça Aranha = Ambos valem-se da
literatura, o primeiro, com uma linguagem
literária refinada, e o segundo, com a
utilização da estrutura ficcional do romance,
para questionar a realidade brasileira e
debater o futuro da nação. Suas obras estão
muito próximas do ensaio.
Intérpretes do Brasil = Especialmente Os
sertões , de Euclides da Cunha, tornou-se
um divisor de águas na imagem que a
intelectualidade nacional tinha a
respeito de país e de seu povo.
Pré-Modernista: o único pré-modernista propriamente dito, no sentido de empregar recursos técnicos ou temas inovadores, antes da Semana de Arte Moderna é, até certo ponto, o poeta Augusto dos Anjos = em sua obra, apesar das influências cientificistas, parnasianas e simbolistas, há também um inesperado gosto pelo coloquial e pela “sujeira da vida”, o que permite incluí-lo entre os precursores de uma das correntes da poesia moderna.
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha
nasceu em Cantagalo (RJ), no dia 20 de
janeiro de 1866. Foi escritor, professor,
sociólogo, repórter jornalístico e
engenheiro, tendo se tornado famoso
internacionalmente por sua obra-prima, Os
Sertões, que retrata a Guerra dos Canudos.
Principais obras: Os sertões (1902);
Contrastes e confrontos (1907); À margem
da história (1909).
Em 1897, graças a artigos publicados no jornal O Estado de São Paulo, recebe um convite para ir ao front de Canudos (no sertão baiano), como correspondente de guerra. Assistiu aos últimos dias da resistência do arraial sertanejo e escreveu suas reportagens ainda dentro de uma ótica republicana radical. Nos anos seguintes, refletiu melhor sobre o que havia presenciado e o resultado = um livro monumental cheio de paixão, ciência e amargura: Os sertões (1902).
“Quem volta da região assustadora
De onde eu venho, revendo inda na mente,
Muitas cenas do drama comovente
Da guerra desapiedada e aterradora [...]”
[Euclides da Cunha]
Proposta: explicar racionalmente a
“grande tragédia nacional” que
observara. Pede ajuda à ciência da
época. Estuda geografia, botânica,
antropologia, sociologia, etc. Fontes
exclusivamente europeias, impregnadas
da perspectiva colonialista (Europa
imperialista).
VISÃO DETERMINISTA:
Determinismo geográfico:
O homem é produto do meio natural.
O clima desempenha papel
preponderante na formação do meio.
Existe a impossibilidade de se constituir
uma verdadeira civilização em zonas
tórridas como o sertão.
Determinismo racial:
Os cruzamentos raciais enfraquecem a
espécie.
O sertanejo é caso típico de hibridismo
racial (composto de elementos de
origem diversa).
A miscigenação induz os homens à
bestialidade e a toda espécie de
impulsos criminosos.
Conclusão = Contradição entre as
teorias e alegações do governo
republicano sobre os revoltosos e o que
Euclides da Cunha constatava em
campo.
Situa-se entre o ensaio, a narração e a
poesia lírica.
Obedecendo a um típico esquema
determinista divide-se a obra em três
partes:
A TERRA – O HOMEM – A LUTA
Predominância da visão cientificista e
naturalista.
Leitura difícil = informação científica & estilo
barroco.
Descrição do meio físico opressivo feita com
detalhes: a vegetação pobre, o chão
calcinado, a imobilidade e a repetição da
paisagem árida.
A linguagem é poderosamente retórica e transforma a natureza em elemento dramático:
“Ajusta-se sobre os sertões o cautério das secas; esterilizam-se os ares urentes, empedra-se o chão, gretado, recrestado; ruge o Nordeste nos ermos; e, como um cilício dilacerador, a caatinga estende sobre a terra as ramagens de espinhos...”
Visão determinista = formação racial do
sertanejo e os males da mestiçagem;
impacto do meio sobre as pessoas.
Mistura de raças = retrocesso:
“De sorte que o mestiço – traço de união
entre as raças – é quase sempre um
desequilibrado (...) sem a energia física
dos ascendentes selvagens, sem a altitude
intelectual dos ancestrais superiores.”
Entretanto, contrastando com essa
incapacidade do mestiço para a civilização
moderna, os sertanejos nordestinos seriam
diferentes por ter há muito se isolado no
amplo interior do país. Abandonados há três
séculos, sem contatos maiores com o litoral
desenvolvido, os sertanejos – ao contrário do
que ocorrera com os mestiços urbanos –
não haviam sido corrompidos.
Por isso, apesar de seu atraso mental, o
sertanejo surge como um titã:
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não
tem o raquitismo exaustivo dos mestiços
neurastênicos do litoral. A sua aparência,
entretanto, ao primeiro lance de vista revela
o contrário. (...) É desgracioso,
desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo.”
O isolamento do sertanejo o mantém preso
a valores arcaicos como o messianismo. A
“tutela do sobrenatural” rege a vida
cotidiana, e as vicissitudes do meio
intensificam a religiosidade e a consciência
mágica do mundo. Um mundo de profetas,
de iluminados, de místicos que se tornam
líderes naturais, expressando os valores da
comunidade.
Antônio Conselheiro = O chefe dos
fanáticos é um personagem-síntese: figura
bizarra para os padrões urbanos, com
uma oratória impressionante. Para
Euclides, Canudos era apenas o produto
previsível do fanatismo religioso e do
arcaísmo do pensamento sertanejo, que o
Conselheiro traduzia.
É a parte mais importante e dramática da
obra. Euclides não esconde a comoção
diante da violência de parte a parte, que
gera banhos diários de sangue. Não
consegue deixar de admirar a tenaz
resistência de uma cidade (“Jerusalém de
taipa”), que logo se transforma em uma
“Tróia de taipa”. Passa a ver os “titãs de
cobre” que a defendem o “cerne rijo da
nacionalidade”.
Percebe que o meio é o principal aliado do
sertanejo: “As caatingas não o escondem
apenas, amparam-no”. Compreende a
inutilidade dos métodos clássicos de
combate, usados pelo Exército, diante da
mobilidade e da luta não-convencional dos
inimigos. Espanta-se diante da guerrilha
sertaneja e das sucessivas derrotas que ela
impõe às tropas legais, superiormente
armadas.
Emociona-se ao ouvir as rezas e os cânticos
que emergem do arraial bombardeado, ao
anoitecer, quando todo o Alto-Comando
julgava Canudos já sem resistência. A obra
adquire então uma grandeza sombria e os
últimos momentos do confronto apresentam
uma terrível dramaticidade. Com dinamite,
os soldados atacam os casebres ainda em
pé, explodindo e queimando seus
moradores.
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em
toda a História, resistiu até o esgotamento
completo. (...) caiu no dia cinco, ao
entardecer, quando caíram os seus últimos
defensores, que todos morreram. Eram
quatro apenas: um velho, dois homens feitos
e uma criança, na frente dos quais rugiam
raivosamente cinco mil soldados.”
Conjunto de equívocos, demências e
crueldades. Uma pungente (dolorosa) guerra
civil e não um conflito entre a reação e o
progresso, entre a Monarquia e a República,
como as elites intelectuais, políticas e
militares, bem como a opinião pública do
país, acreditavam.
Tragédia de erros resultantes de uma
profunda cegueira de ambos os lados. Para
os adeptos de Conselheiro, os soldados eram
agentes do demônio e deveriam ser
destruídos. Para o Exército, os sertanejos eram
jagunços primitivos a serviço da causa
monárquica e tinham de ser exterminados.
Na verdade, os guerrilheiros de Canudos eram uns pobres-diabos, filhos da ignorância e das crendices de uma civilização parada no tempo há três séculos. Precisavam de professores, não de tiros de canhão. Já as tropas do governo, que representavam a civilização moderna do país, foram incapazes de perceber a verdadeira natureza dos inimigos e trataram de destruí-los com barbárie e horror.
Os sertões adquire, assim, um caráter de
denúncia. Trata-se de um “grito de aviso à
consciência nacional”. Tal perspectiva é
anunciada na nota preliminar que abre o
livro:
“Aquela campanha lembra um refluxo para
o passado. E foi, na significação integral da
palavra, um crime. Denunciemo-lo.”
Contradição:
Fervor patriótico com a vitória do Exército x
Trágico fim do povoado de Canudos.
Confronto = divisão estrutural do país.
Conclusão:
Há dois Brasis completamente estranhos
entre si, o do litoral e o do sertão.
O Brasil do sertão jazia ignorado ou
esquecido pela consciência culta
nacional.
Ponto de vista:
Para a civilização litorânea, os jagunços
(o povo de Canudos) eram facínoras
(bandidos).
Para Euclides, eram irmãos
(compatriotas) que deveriam ser
integrados à nacionalidade.
Para Euclides, as duas sociedades brasileiras,
separadas pela raça, pelo meio e pela
história, deveriam se aproximar e se integrar
pacífica e lentamente. Sob esse prisma, a
perspectiva de aproximação entre os dois
Brasis, defendida pelo escritor na sua obra-
prima, se tornaria, depois de 1930, o projeto
político nuclear da nação.
Os sertões é uma combinação única de
ensaio sociológico, estudo científico,
reabilitação histórica, panfleto, reportagem
de guerra e literatura, o que torna
impossível enquadrá-lo nos limites de um
gênero qualquer.
Senso do dramático.
Confere às ações uma plasticidade vigorosa e assustadora, buscando sempre o contraste violento, o êxtase e a agonia, a situação-limite do ser humano.
Efeito persuasivo (exemplos individuais para reforçar uma ideia geral).
Traduz o horror da guerra.
Gosto pelo ornamental e pelo excesso vocabular.
Léxico (vocabulário) arcaico.
Presença contínua de antíteses, paradoxos, comparações e metáforas.
Jogo binário entre períodos extensos e períodos curtíssimos e a insistência na frase de efeito, sentenciosa e escultural.
Linguagem com ritmo poético.
“Escrevi este livro para o futuro” (Euclides
da Cunha) = Pôs em xeque todas as
concepções que a intelectualidade
brasileira tinha a respeito de seu próprio
país, passando a influenciar decisivamente
a discussão política sobre os destinos da
nação. Influencia, de forma marcante, o
chamado “Romance de 30”.
Afonso Henriques de Lima Barreto, foi
escritor e jornalista.
Nasceu e morreu na cidade do Rio de
Janeiro.
Sofreu com o preconceito racial, ainda
que tenha alcançado certa
estabilidade como jornalista.
Lutou contra o alcoolismo, que acabou
causando sua morte.
Não foi reconhecido na literatura de sua
época, apenas após sua morte. Viveu
uma vida boêmia, solitária e entregue à
bebida. Quando tornou-se alcoólatra,
foi internado duas vezes na Colônia de
Alienados na Praia Vermelha, em razão
das alucinações que sofria durante seus
estados de embriaguez.
Faleceu no primeiro dia do mês de
novembro de 1922, vítima de ataque
cardíaco, em razão do alcoolismo.
Principais obras: Recordações do
escrivão Isaías Caminha (1909); Triste fim
de Policarpo Quaresma (1915); Numa e
a ninfa (1915); Vida e morte de M. J.
Gonzaga de Sá (1919); Clara dos Anjos
(1948).
Retrato de partes dos centros urbanos
ignorados pela elite cultural do país: os
subúrbios cariocas, onde vivem os
funcionários públicos, professores, etc.,
dando voz a uma população esquecida
pelos românticos e realistas.
Painel dos mecanismos de relações
sociais típicos do Brasil do início do
século XX.
O caráter de denúncia social dos textos de
Lima Barreto tem originalidade: ele vê o
mundo com o olhar dos “derrotados”, dos
injustiçados, dos que são feridos pelo
preconceito. O preconceito de cor,
especialmente, é o motivo central de sua
indignação. Conhecedor da estrutura
discriminatória da sociedade brasileira
sentiu, muitas vezes, a rejeição aberta ou
sutil. Por essa razão protesta com
veemência (Ex.: Clara dos Anjos +
Recordações do escrivão Isaías Caminha).
Desprezando a retórica bacharelesca e parnasiana, escreve com simplicidade, mesmo com certo desleixo intencional, querendo aproximar o texto escrito da linguagem coloquial. Acusado de escrever de forma incorreta e de ser incapaz de lidar com os padrões lingüísticos da elite culta, sua obra é julgada gramaticalmente e condenada por suposta vulgaridade. Décadas depois, é reconhecido como o autor mais importante do período e aquele que mais se aproxima da expressão prosaica, conquistada pela geração de 1922.
Narrado em primeira pessoa, esse romance relata a trajetória de um jovem mulato, Isaías, que, vindo do interior, cheio de talento e ilusões, procura vencer na capital federal. Mas, sua crença nas possibilidades do saber e seu sonho de conseguir um título de bacharel desfazem-se pouco a pouco. Em parte por causa de sua origem humilde, mas, sobretudo, devido à sua cor: é filho de uma ex-escrava que se amasiara com um padre. Há, portanto, uma nota autobiográfica ilhada e exasperada nos primeiros capítulos; mas tende a diluir-se à medida que o romance progride.
O drama da pobreza e do preconceito racial constitui o núcleo da obra. Romance inacabado, apresenta o drama de Clara, jovem mulata suburbana de origem humilde, que é vítima de um sedutor profissional, Cassi Jones. Esse grotesco galã dos arrabaldes, apesar de sua extração social mais elevada, cria galos de rinha e aproveita-se de donzelas ingênuas. Sua principal arma de sedução é o violão. Hábil intérprete de modinhas, revira os olhos ao tocá-las e, assim, desperta amores ardentes.
Criada de forma inocente pela família,
Clara torna-se presa fácil do desprezível
sedutor e termina por engravidar. Sua mãe
descobre a gravidez e, juntas, as duas vão
até a casa de Cassi para exigir o
casamento. Na cena mais forte do relato,
a mãe do rapaz as expulsa. Desoladas,
Clara e a mãe retornam para o subúrbio.
A narrativa é interrompida nesse ponto, e
o autor não a conclui, por razões jamais
esclarecidas.
O mais lido e conhecido romance de
Lima Barreto.
Seu protagonista, Policarpo Quaresma,
é um nacionalista desmedido,
característica que o leva a ser
ridicularizado e considerado louco.
Policarpo tem algo quixotesco, e o
romancista soube explorar os efeitos
cômicos que todo quixotismo deve
fatalmente produzir, ao lado do
patético que fatalmente acompanha a
boa-fé desarmada.
Sua visão ingênua e até bizarra vai
cedendo lugar à percepção de que os
problemas do país são maiores do que
ele supunha – a exemplo da questão da
má distribuição da terra:
“Mas de quem era então tanta terra
abandonada que se encontrava por aí?
(...) Por que estes latifúndios
improdutivos?”
O caso de Policarpo passa do cômico
ao dramático. Tanto seu sincero desejo
de progresso para a nação quanto a
consciência crítica, que aos poucos vai
adquirindo, lhe dão grande
autenticidade humana e social.
A mudança que se opera em Policarpo – da alienação ufanista à consciência real do país – constitui o cerne da narrativa. Sua visão final o leva a analisar corrosivamente as mitologias dos grupos dirigentes e as mistificações de que fora vítima. Quando compreende o papel da ideologia no processo histórico, precisa morrer. Antes de morrer, pensa na falta de sentido do conhecimento que alcançara a respeito da realidade nacional. Fica triste por ter transmitido a ninguém sua percepção crítica, e o seu triste fim chega.
Extraordinária figura de intelectual e
homem de ação (escritor + editor +
empresário + fazendeiro), polemista
de mão cheia, errando e acertando
com a mesma ênfase, Monteiro
Lobato é um dos grandes nomes da
Literatura Brasileira do início do século
XX.
Tendo vivido no interior pôde observar
as dificuldades e os vícios
característicos da vida rural. Suas
observações dão origem a uma
longa carta , enviada ao jornal O
Estado de S. Paulo. Inicia-se, assim
uma série de artigos publicados no
jornal.
Nesta carta, pela primeira vez, é
citado o nome da personagem a que
ele ficará associado para sempre:
Jeca Tatu.
Politicamente, teve postura de
vanguarda, fundando companhias
editoriais e lutando pela moralização do
Estado.
Em 1941, durante a ditadura de Vargas,
foi preso por ataques ao governo, o que
provocou intensa comoção no país.
Do ponto de vista estético, não pode ser
considerado inovador, ainda que tenha
usado da linguagem coloquial e dos
neologismos em dados momentos.
Em 1917 envolveu-se numa polêmica:
escreveu um artigo jornalístico em que
criticava severamente a exposição
expressionista da modernista Anita
Malfatti.
Sua obra infantil, tão marcante na
cultura brasileira, deu-lhe um prestígio
singular. Além de divertir, essa literatura
era altamente educativa. O livro
“Reinações de Narizinho”, por exemplo,
deu origem à série de televisão
intitulada “Sítio do Pica-pau amarelo”.
Sua produção adulta trata, com ironia
fina e de forma crítica, dos problemas
sociais, principalmente daqueles
relacionados ao interior paulista e à vida
no campo.
Criticava, ainda, certos hábitos
brasileiros, como a obediência a
modelos estrangeiros, a subserviência
ao capitalismo internacional, a
submissão das massas eleitorais, etc.
Trata do caboclo que vivia no interior de
São Paulo, nas fazendas de café, mas
usando a terra de modo errado, já que
esgotava seus recursos e depois se
mudava para repetir o comportamento.
O livro é uma reunião de contos e de
dois artigos, um dos quais dá nome ao
livro. Neste artigo, Urupês, Monteiro
Lobato apresenta pela primeira vez o
Jeca Tatu, caipira indolente e
preguiçoso, protótipo do caipira
brasileiro.
Por meio do Jeca Tatu, Lobato criticava
a face de um Brasil agrário, atrasado e
ignorante. Seu ideal era uma país
moderno, estimulado pela ciência e
pelo progresso.
Livro também de contos, caracteriza a
devastação e a tristeza nas pequenas
cidades do Vale do Paraíba, que
perdem seu lugar como grandes
produtoras de café para o oeste
paulista.
Livro em que denuncia o jogo de
interesses relacionados com a extração
do petróleo e a ligação das autoridades
brasileiras com interesse internacionais.
Autor de uma obra só, intitulada “Eu”, a
qual trouxe inovações no modo de
escrever , com o emprego de termos
científicos e temática influenciada por
sua multiplicidade intelectual (ciências
naturais, química, matemática,
mitologia, religião, geografia, filosofia e
física).
Tinha obsessão pela temática da morte,
que o impressionava por seus aspectos
materiais: o verme, a decomposição do
corpo. Isso lhe causava uma
perplexidade extravasada em versos
escatológicos, em que o verme é
apontado, muitas vezes, como deus,
pois, responsável pela decomposição, é
quem conduz os seres ao fim, ao nada
absoluto.
Recebeu influências do:
Naturalismo: emprego de termos
científicos, cientificismo;
Parnasianismo: preferência pelo
soneto e cuidado formal;
Simbolismo: imagens fortes,
preocupação formal, angústia
existencial.
Sua poesia é enigmática e sombria,
marcada pela angústia existencial e
moral.
Emprega um vocabulário agressivo e
antipoético (escarro, verme, germe,
etc.)
Temas: substâncias químicas que
compõem o corpo humano, a
decrepitude dos cadáveres, os vermes,
etc.
Em sua obra, percebe-se o conflito
entre a objetividade do átomo e a dor
cósmica.
Deu início à discussão sobre o conceito
de boa poesia, preparando o plano
literário para a grande renovação
modernista a partir de 1920.