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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …...CADERNO PEDAGÓGICO MEDIAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO: UM REPENSAR AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS FRENTE AO FRACASSO ESCOLAR APRESENTAÇÃO

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013

Título: Mediação do trabalho pedagógico: um repensar às práticas pedagógicas frente ao fracasso escolar.

Autor: NOEMIA DO NASCIMENTO DE ANDRADE

Disciplina/Área: Pedagogia

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Professora Roseli Piotto Roehrig- Ensino Fundamental e Médio

Município da escola: Londrina

Núcleo Regional de Educação: Londrina

Professor Orientador: Sandra Aparecida Pires Franco

Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual de Londrina-UEL

Relação Interdisciplinar: Professores e gestores escolares.

Resumo:

Atualmente, com os avanços científicos e tecnológicos, a qualidade da educação ainda é um desafio. Dentre as diversas fragilidades, selecionamos o fracasso escolar como tema de pesquisa e estudo. A presente Produção Didático Pedagógica, no formato do Caderno Pedagógico, tem como objetivo desenvolver um trabalho didático-pedagógico junto aos professores, pedagogos e direção do Colégio Estadual Professora Roseli Piotto Roehrig, situado no município de Londrina, Paraná. Esta produção foi pensada com a preocupação de desenvolver um trabalho pedagógico que proporcione momentos de estudos, reflexões das práticas e ações ocorridas no cotidiano da escola. Consiste em textos escritos e imagéticos, por meio dos quais haverá algumas intervenções reflexivas para os participantes interagirem com o material proposto, um com o outro e fazer uma análise crítica sobre sua prática pedagógica. Almeja-se momentos em que cada participante possa pensar como tem ocorrido os processos de ensino e de aprendizagem na escola, e, se a maior fragilidade da escola ainda é o fracasso escolar, tais momentos de estudos coletivos contribuam para “um novo pensar” pedagógico. Para tanto, utilizou-se leitura dos pressupostos da teoria histórico-cultural, juntamente com a concepção do Materialismo Histórico e Dialético, possibilitando uma discussão acerca dos referenciais teóricos para uma prática educativa transformadora.

Palavras-chave: Fracasso escolar; Estudos; Práticas Pedagógicas; Qualidade na educação.

Formato do Material Didático: Caderno Pedagógico

Público: Professores, pedagogos e direção.

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CADERNO PEDAGÓGICO

MEDIAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO: UM REPENSAR

AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS FRENTE AO FRACASSO ESCOLAR

APRESENTAÇÃO

O trabalho a ser apresentado é resultado de estudos e reflexões realizados no

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do ano de 2013, na Universidade

Estadual de Londrina. O programa nos levou a desenvolver este material que tem como

finalidade subsidiar a implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica junto aos

professores, pedagogos e direção do Colégio Estadual Professora Roseli Piotto Roehrig,

Ensino Fundamental e Médio do município de Londrina.

Este Caderno Pedagógico foi pensado com a preocupação de desenvolver um

trabalho pedagógico que proporcione momentos de estudos, reflexões das práticas e

ações pedagógicas ocorridas no cotidiano da escola. Espera-se que esses momentos

sejam início de um estudo que poderá ser contínuo no sentido de uma formação mais

aprofundada no assunto.

O trabalho consistirá em textos escritos e imagéticos por meio dos quais haverá

algumas intervenções reflexivas para que os participantes possam interagir com o

material proposto, um com o outro e fazer uma análise crítica sobre sua prática

pedagógica. Trata-se de uma etapa importante no desenvolvimento do trabalho proposto.

Almeja-se que sejam momentos em que cada participante possa pensar como

têm ocorrido os processos de ensino e de aprendizagem na escola, e se a maior

fragilidade da escola ainda é o fracasso escolar, tais momentos de estudos coletivos

possam oferecer condições para a reflexão das ações e práticas pedagógicas,

contribuindo para “um novo pensar” pedagógico, proporcionando um trabalho para a

melhoria da realidade de nossos alunos que “vem ou não” para a escola com o objetivo

do aprendizado, do conhecimento científico, promovendo, assim, avanços no

desenvolvimento humano.

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Este Caderno Pedagógico está dividido em cinco unidades de estudo. A primeira

unidade consiste num breve estudo sobre a teoria que fundamenta o trabalho a ser

desenvolvido durante os encontros, pautado na Concepção Materialista Histórico-

Dialética.

A segunda unidade propõe um breve estudo das tendências educacionais

baseada nos estudos de Demerval Saviani (2000) e Roberto Vatan dos Santos (2005).

A terceira unidade aconselha uma reflexão frente à realidade do sistema

educacional brasileiro, procurando fazer um paralelo com a realidade da escola

vivenciada.

A quarta unidade adverte sobre um assunto presente no cotidiano das escolas

públicas: a evasão escolar e ao mesmo tempo procura fazer uma reflexão dos

encaminhamentos necessários para mudar esta condição.

A quinta unidade indica a leitura e reflexão da obra de Gasparin (2002), “Uma

Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica” e sugere a elaboração de um Plano de

Unidade baseado na Pedagogia Histórico-Crítica.

Na conclusão do trabalho desenvolvido espera-se que as leituras, os momentos

de reflexão, discussão, troca de experiências vivenciadas, venham contribuir para um

novo pensar pedagógico dos docentes da escola envolvida.

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UNIDADE I

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Análise da Sociedade da Sociedade Atual

Os homens, ao saírem da caverna, foram transformando a natureza, dependendo

cada vez menos dela, essa dominação da natureza pelo homem, proporcionou sua

independência. Ao mesmo tempo em que o homem domina a natureza, vai se tornando

alienado, quando tem o poder da dominação.

Com o início da revolução industrial, começa a era da abundância e com ela entra

em cena a propriedade privada, que traz o individualismo e que dá origem à alienação,

poder que tem a sua forma específica no capitalismo, que transforma o ser humano em

produto, ou seja, torna o indivíduo uma mercadoria.

A partir daí o homem passa de dominador a dominado, surge então a divisão de

trabalho, surgem as classes sociais, temos então uma sociedade capitalista que se

preocupa com o produto e não com quem o produz.

A revolução industrial transforma a sociedade, o poder fica nas mãos de poucos,

a sociedade torna-se consumidora, capitalista, a cada dia. Para Marx (1978, p. 13),

As ciências naturais desenvolveram uma enorme atividade e se apropriaram de um material que aumenta sem cessar. A filosofia, no entanto, permaneceu tão estranha para elas, como elas para a filosofia. A momentânea união foi apenas uma fantástica ilusão. Existia a vontade, mas faltava a capacidade. A própria historiografia só de passagem se ocupa das ciências naturais enquanto momento de ilustração, de utilidade, de grandes descobrimentos particulares. Mas quanto mais praticamente a ciência natural, através da indústria, se introduziu na vida humana, transformou-a e preparou a emancipação humana, tanto mais teve que completar diretamente a desumanização.

Convivemos numa sociedade do século XXI, capitalista, sendo que essa

sociedade mostra-se individualista, preocupada com o ser/ter. A sociedade atual não

pensa por si própria, encontra-se alienada, cria-se necessidade e torna-se dependente

desta, vivendo num completo alheamento, sendo que a necessidade criada por si própria,

é que o faz “ser” diante de outros indivíduos. Devido a essa realidade vivenciada, as

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pessoas são conhecidas pelo que vestem, comem, bebem, o carro que dirigem, o espaço

onde moram, o lugar que frequentam.

Para Franco et al (2008, p. 166),

[...] esta sociedade pós-moderna trabalha muito com a imagem, explorando o gosto pelo espetáculo visual, predominando o virtual sobre o texto. Realiza-se no indivíduo uma busca desenfreada pelo prazer e pelo consumo, vê se a cultura visual dissolvendo os nexos da história, o imagético amparando-se, apenas, nas coisas e não mais nas idéias, o texto tornando-se sem contexto.

Dessa forma, o indivíduo deixa de pensar por si próprio, está preocupado em

viver o momento em que se encontra e desfrutar daquilo que lhe é oferecido e produzido.

Sendo essa sociedade imediatista, preocupada com o agora, não valoriza o conhecimento

construído ao longo da história da humanidade, conforme Franco et al. (2008, p. 166),

“[...] o sujeito da história desintegra-se, [...] o indivíduo realiza-se vivendo o momento, [...]

o ser humano deste século dissolve-se, sua identidade não tem mais valor.”

De acordo com Franco et al. (2008, p. 165), “A concepção atual do ser humano é

a de um homem moderno, o qual desaparece como sujeito, querendo apenas a

autonomia do gosto e do consumo.”

Queremos uma sociedade emancipadora, sujeitos que sejam capazes de

posicionar-se na situação atual, nesse momento histórico. A emancipação humana torna

a sociedade livre, liberta o indivíduo da sua alienação e o trabalho é o fundamento da

emancipação. Mas, para isso, é necessário acabar com a exploração do homem

trabalhador.

Concepção do Materialismo Histórico Dialético

Se, convivemos numa sociedade individualista, para haver uma mudança, para

transformá-la, é essencial conhecer a realidade social, mas, para isso precisamos ter

teoria.

A partir da realidade do cotidiano, podemos refletir e sistematizar o conhecimento,

considerando que a ciência procura compreender, elucidar e alterar o cotidiano, a partir

de um estudo sistemático.

De acordo com Netto (1987, p. 65), “A vida cotidiana, [...] é um dos seus níveis

constitutivos: o nível em que a reprodução social se realiza na reprodução dos indivíduos

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[...]”, dessa forma, podemos dizer que no interior da escola também reproduzimos. Ainda,

de acordo com o autor, a vida cotidiana impõe aos indivíduos a heterogeneidade, a

imediaticidade e a superficialidade.

Se quisermos entender como um indivíduo age, precisamos saber as suas razões

individuais. Um fato social explica-se a partir de um indivíduo. O indivíduo representa as

necessidades sociais. Para Marx (1978, p. 10), “O homem – por mais que seja um

indivíduo particular, e justamente é sua particularidade que faz dele um indivíduo e um ser

social individual efetivo [...].”

Para Netto, (1987, p. 67), “[...] a cotidianidade impõe aos indivíduos um padrão de

comportamento que apresenta modos típicos de realização, que tem características

específicas que cristalizam uma modalidade de ser social no cotidiano, figurada

especialmente num pensamento e numa prática peculiares.”.

Segundo Marx (1978, p.10),

Deve-se evitar antes de tudo fixar a “sociedade” como outra abstração frente ao indivíduo. O indivíduo é um ser social. A exteriorização da sua vida – ainda que não apareça na forma imediata de uma exteriorização de vida coletiva cumprida em união e ao mesmo tempo com outros – é, pois, uma exteriorização confirmada da vida social.

Precisamos conhecer o cotidiano e a partir desse conhecimento do indivíduo, o

senso comum, buscar ações organizadas na construção de teoria e prática, de uma

pedagogia que fortaleça o trabalho de produção direta e intencional no domínio dos

conhecimentos necessários ao pleno desenvolvimento do indivíduo, como seres

humanos.

Lefebvre (1963, p. 35-36), escreve que:

Marx, [...] afirma que a ideia geral, o método, não dispensa a apreensão, em si, de cada objeto; o método proporciona apenas um guia, um quadro geral, uma orientação para o conhecimento de cada realidade. Em cada realidade, precisamos apreender suas contradições peculiares, o seu movimento peculiar (interno), a sua qualidade e as suas transformações bruscas, a forma (lógica) do método deve, pois, subordinar-se ao conteúdo, ao objeto, à matéria estudada; permite abordar, eficazmente, o seu estudo, captando o aspecto mais geral desta realidade, mas jamais substitui a pesquisa científica por uma construção abstrata.

Segundo Duarte (2012), na perspectiva do materialismo histórico e dialético, a

essência passa a ser vista como algo que é gerado ao longo do processo histórico e,

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portanto, algo que só pode ser devidamente compreendido com base em uma perspectiva

histórica.

Para que uma teoria marxista da educação possa ser também uma pedagogia

marxista, Saviani (2012) menciona que é necessário assumir um posicionamento

afirmativo sobre o que significa educar seres humanos.

Confirmado por Lefebvre (1963, p. 9), “O marxismo dá-se por uma vasta

concepção do homem e da história, do indivíduo e da sociedade, da natureza e de Deus;

por uma síntese geral, ao mesmo tempo teórica e prática, em suma, por um sistema

totalitário.”.

Nesse sentido, o indivíduo deve ter claro qual é a sua concepção de mundo. Mas

para que isso aconteça, é necessário que se desenvolva um trabalho racional, em que

esse indivíduo possa conceituar o mundo em que vive por meio de suas experiências

pessoais e historicizadas.

Segundo Lefebvre (1963), concepção do mundo constitui o que chamamos

tradicionalmente uma filosofia, trata-se, antes, do produto e da expressão de uma época.

Para o autor, as grandes concepções do mundo que se apresentam em nossos dias são

três: a concepção cristã, definida por meio da conceituação de uma hierarquia estática

dos seres, atos, “valores”, “formas” e pessoas; concepção individualista do mundo

aparece em fins da Idade Média, no século XVI, até os nossos dias, o individual e o

universal; e a concepção marxista do mundo, o marxismo rejeita a subordinação do

homem e da sociedade, constata contradições no homem e na sociedade.

Na visão de mundo do marxismo o sujeito está sempre em ação, numa luta

constante, mas com possibilidades de vitória, o marxismo evita o pessimismo, bem como

o otimismo fácil, relaciona-se com uma forma de atividade humana que tornou aberta a

luta do homem contra a natureza: a grande indústria moderna com todos os seus

problemas e com uma nova realidade social, que resume as contradições desta realidade

moderna: o proletariado, a classe operária.

De acordo com Lefebvre (1963), o método dialético descobre as condições

concretas desta determinação simples, ao invés de isolá-la e de considerá-la em

separado; tais condições, tomadas em seu movimento real, são históricas. De um modo

mais geral, a dialética mostra que o humano tem de se desenvolver no curso da história.

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O marxismo afirma que devemos criar, em nossos dias, uma nova ética, livre da

alienação moral e da ilusão ideológica – recusando assentar valores fora do real, e

procurando, por conseguinte, no real, o fundamento das avaliações morais.

Para Lefebvre (1963, p 43),

O homem só se pode desenvolver através de contradições; logo, o humano só pode constituir-se através do inumano, de início a êle misturado para, em seguida, distinguir-se, por meio de um conflito, e dominá-lo pela resolução dêste conflito. [...] Assim, o conhecimento, a razão e a ciência humanas tornam-se e remanescem instrumentos do poder inumano. Assim, a liberdade só pode ser pressentida e atingida através da escravização. E, assim, o enriquecimento da sociedade humana só se realizou mediante o empobrecimento e a miséria das grandes massas humanas. Da mesma forma, o Estado, meio de libertação, de organização, também foi e continua sendo um meio de opressão.

Nesse sentido, o homem só será livre quando tiver condições de sair de sua

alienação, tornando-se um sujeito emancipado com condições de intervir na sua

realidade.

Educação, Materialismo Histórico e Escola

No início do processo histórico da humanização do homem pelo trabalho, a

educação realiza-se como decorrência imediata da produção material e da apropriação

coletiva dos meios de existência humana. A educação coincidia com o próprio ato de agir

e existir, ou seja, com o trabalho.

No presente século, a educação passa por mudanças que fazem parte das

transformações ocorridas na sociedade. Desse modo, a escola é atravessada pelos

conflitos vivenciados pela sociedade, torna-se um espaço que atende e reproduz

interesses de uma sociedade capitalista, em que as pessoas estão pensando e vivendo

individualmente, acostumada a ter e não ser. De acordo com Padilha (2002, p. 11):

Esta prática social se materializa na escola e no processo ensino-aprendizagem que enfatiza a mera escrita, sem reflexões, que valoriza a matemática como fórmula bem aplicada e não como o estabelecimento de reflexões, que se preocupa com exercícios e problemas mecânicos, desligados das lutas contemporâneas, manejo exaustivo de fórmulas sem contexto e sem significado.

Assim, a escola se configura num lugar que não atende aos interesses daqueles

que dela necessitam. Esses alunos que chegam à escola com ou não interesse em

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aprender, trazem para o interior da escola e da sala de aula toda a fragilidade vivenciada

no seu dia a dia, mas, com muitas expectativas que esse espaço escolar possa lhe

oferecer de melhor. Mas, quando suas expectativas não são atendidas, mostram-se

desmotivados, e, apresenta-se por meio de suas ações, a fragilidade social da sociedade

em que vivem.

Para Saviani e Duarte (2012, p. 31), “A educação não é outra coisa senão o

processo por meio do qual se constitui em cada indivíduo a universalidade própria do

gênero humano”.

Mesmo assim, a escola que deveria ser um espaço do conhecimento científico,

torna-se um espaço de fragmentação de conhecimentos, de classificação, de exclusão,

pois, agindo neste contexto, pouco sobra para os alunos que aqui chegam, visto que não

atendem às suas necessidades básicas nos processos de ensino e de aprendizagem.

De modo que, quando dizemos que a escola é um espaço de conhecimento, não

estamos desprezando o conhecimento construído historicamente pelos alunos, estamos

falando da valorização desse sujeito como um todo e o papel da escola é tornar esse

indivíduo em sujeito, com condições de atuar na sociedade, que tenha como objetivo

interferir na sua realidade, criando melhores condições de vida para si mesmo e para os

outros.

Nesse cotidiano escolar, deparamo-nos com situações reais, de luta de classes,

como é vivenciado na sociedade, em que as pessoas estão preocupadas com o seu

cotidiano, ou seja, a sua sobrevivência. Confirmado por Duarte (2012, p. 41), “No início do

processo histórico de humanização do homem pelo trabalho, a educação realizava-se

como decorrência imediata da produção material e da apropriação coletiva dos meios de

existência humana”.

O espaço escolar não é diferente de outros espaços de luta, deparamo-nos com

as diversas fragilidades sociais, econômicas e culturais e, como profissionais, temos a

ansiedade de resolvê-los. Todas essas situações que nos afligem, faz com que nos

tornemos pessoas não menos preocupadas, mas, talvez ou infelizmente, mais ansiosos

em resolver e, devido a isto, não paramos para refletir nossas práticas pedagógicas, até

porque, fazemos parte de um sistema educacional em que se tem metas estabelecidas e

quando não são atingidas, a educação torna-se ainda mais frágil.

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É neste contexto, que procuramos “os culpados”, seriam eles os alunos, os pais,

os professores, os gestores, os governos? Quem seriam os culpados por tudo o que

acontece na educação?

Segundo Padilha (2002), o cotidiano escolar está preocupado em como utilizar os

recursos tecnológicos, em melhorar a estrutura física da escola, em realizar atividades

nas datas comemorativas, enfim, com um fim em si mesmo e no “fazer pedagógico”,

esquecendo-se de um ensino de qualidade, em que não se tem definido o que realmente

se quer ensinar e como será o aprendizado dos alunos.

Para Padilha (2002, p. 6):

[...] o conteúdo escolar que se encontra nos livros, nos manuais, nos módulos descritos de maneira linear, anistórica e descontextualizada, promove o processo ensino-aprendizagem centrado na reprodução [...]. Nesta tendência, o exercício escolar é um trabalho do aluno para a escola, para conseguir nota, para passar de ano. É como escrever a fala do outro, já que a cópia é o princípio didático.

A escola, no seu “fazer pedagógico” rotineiro, na vontade de cumprir suas metas

e ações previstas e na pretensão de resolver as fragilidades apresentadas, não para com

seus pares para rever as ações pedagógicas, obstina-se em continuar fazendo do mesmo

jeito, na esperança que o fazer por fazer irá resolver as situações que se apresentam,

mas, na verdade é uma falsa ilusão, pois essa correria traz mesmo, frustrações, quando

nos deparamos com os objetivos não atingidos. Para Padilha (2002, p.6) “[...] este

trabalho pedagógico permeado pela alienação caracterizada pela ausência total da

reflexão em torno da prática docente que não forma consciência crítica em torno da

prática educativa [...]”.

Desta forma, o que poderíamos fazer seria realmente repensar as nossas práticas

pedagógicas. Segundo Padilha (2002, p. 13), “Nesse sentido, compreender a prática

pedagógica faz parte de um processo que pressupõe o estudo e a compreensão da

totalidade da realidade social, [...] definir o que estudar, quem estudar.”

Definir o que estudar, talvez seja óbvio se pensarmos que faz parte da ação

escolar: planejar a sua proposta pedagógica curricular e rever sempre que necessário. É

importante ressaltar que o que se irá ensinar deve ter significação para a vida do aluno.

Para Padilha (2002, p. 14), devemos “[...] encaminhar estudos que favoreçam

uma reformulação de nossa prática pedagógica no sentido de buscar um novo método de

trabalho, com novos conteúdos e novas abordagens dentro das matérias escolares [...]”.

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Nunca se falou tanto a respeito da qualidade da educação no Brasil, em especial

que esta depende quase que exclusivamente da formação do professor, como se fosse a

única maneira de resolver a situação educacional nacional. Não podemos dizer que a

formação do professor não seja importante, porém, não pode ser o único fator a ser

melhorado.

Portanto, é necessário rever algumas considerações a respeito da qualidade na

educação, conforme assegura Barros e Moraes (2002, p.15)

É importante ressaltar que a busca de “qualidade para o ensino”, defendida pela proposta neoliberal, acaba reduzindo-a a mera instrumentalização, desconsiderando outros aspectos da realidade, tais como: condições de trabalho (salários, qualificação e reconhecimentos profissional, etc); a descentralização de poderes, tanto pedagógico quanto financeiro; a política educacional excludente.

A formação continuada do professor é essencial, pois a formação não se dá

apenas com um curso, ou em função de interesses de um grupo, ela deve ser contínua e

com qualidade, de maneira que atenda as necessidades do professor e dê condições

para que possa intervir na sua realidade escolar.

Ressaltamos que o trabalho realizado no interior da escola deve ser pensado,

refletido e planejado, para isso, faz-se necessário que o professor tenha conhecimento do

próprio conteúdo que está abordando.

É preciso que o professor saiba o que o aluno está aprendendo, e se não tiver

aprendendo o que fazer para que possa aprender, “[...] quem é o homem que se pretende

formar e qual modelo de educação faz esta mediação.” (DUARTE, 2004, p. 54).

Nesse sentido, a educação deve proporcionar ao indivíduo conhecimento para

que seja capaz de conhecer e entender o processo histórico da humanidade e, dessa

forma, crie condições de intervir na sua realidade.

Fracasso Escolar: planejamento, avaliação e relação professor/aluno

Quando falamos da escola, falamos de um espaço que sofre toda a influência

positiva ou negativa da sociedade, a qual está inserida, é um espaço de conhecimento,

mas também de socialização e inclusão dos diversos grupos sociais.

Para Gasparin (2005, p. 97),

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A escola, como instituição, é sempre uma expressão e uma resposta aos desafios da estrutura social como um todo. Ela não existe em e para si. Existe para cumprir uma função dentro dessa sociedade. Redescobrir, hoje, a função as escola, nesse cenário, é o primeiro passo fundamental para definir seu novo papel, bem como a importância da ação docente.

Das diversas fragilidades existentes na escola, o fracasso escolar é um fator

extremamente presente nas escolas e tem sido motivo de uma série de estudos,

pesquisas e discussões, embora não apresentassem grandes perspectivas para

compreensão e resolução dessa problemática.

Há problemas em nossas escolas que nos perseguem como um pesadelo. Não há como ignorá-los, nem fugir deles. Entre os pesadelos constantes está o fracasso escolar. Alguém dirá, mas está quantificado: altas porcentagens de repetentes, reprovados, defasados. O pesadelo é mais do que quantificamos. Podem cair as porcentagens, que ele nos persegue. O fracasso escolar passou a ser um fantasma, medo e obsessão pedagógica e social. Um pretexto. Uma peneira que encobre realidades mais sérias. Por ser um pesadelo nunca nos abandonou, atrapalha nossos sonhos e questiona ou derruba nossas melhores propostas reformistas. Quanto se tem escrito sobre o fracasso ou sobre o sucesso e a qualidade, seus contrapontos, e continuamos girando no mesmo lugar (ARROYO, 2000, p.33).

Rotineiramente, escutamos que a educação no Brasil precisa melhorar, até

observamos campanhas nacionais, estaduais e municipais com o objetivo de informar ou

alertar a população das metas da educação. Podemos citar como exemplo, a campanha

nacional a respeito do IDEB, lançado pelo MEC (Ministério da Educação) com apoio do

Governo Federal.

Observamos também a existência de algumas políticas públicas que objetivam a

qualidade na educação, mas, como haverá uma qualidade na educação, se o fracasso

escolar ainda é muito presente nas escolas, demonstrado por meio da evasão e da

repetência, comprovado por meio dos resultados anualmente.

Se a escola é um espaço de conhecimento, deveria ser adequada para a

formação do indivíduo, deveria contribuir para melhorar, ampliar conhecimentos, socializar

experiências de vida, oportunizar ao indivíduo, de diversas formas, condições de tornar-se

um ser humano capaz de intervir na sua realidade. Mas, infelizmente, ainda se reproduz a

cultura do fracasso escolar, anualmente, na maioria das escolas.

[...] um aspecto da teoria escolanovista que constitui uma das vertentes da pesquisa educacional sobre o fracasso escolar: em suas origens, a nova

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pedagogia não localizava as causas das dificuldades de aprendizagem no aprendiz, mas nos métodos de ensino (PATTO, 1996, p.59).

Ao iniciarem seus estudos, ainda na educação infantil, os alunos o fazem com

entusiasmo, contudo, no decorrer dos anos escolares, deparam-se com as diversas

formas de ensino, diversas práticas pedagógicas, conteúdos sem significações, a

realidade social em que vivem, e aí, este mesmo aluno que chegou à escola

entusiasmado, vai vivenciando as dificuldades escolares, as frustações, os conflitos

diários e começa então o seu fracasso escolar, por meio da reprovação, e, quando esta

se torna frequente, vem a desistência, que em alguns casos é maior que a própria

reprovação escolar.

Segundo Patto (1996, p. 90):

[...] a educação e sua eficácia é marcada por uma ambiguidade: de um lado, afirma a inadequação do ensino no Brasil e sua impossibilidade, na maioria dos casos, de motivar os alunos; de outro, cobra do aluno o interesse por uma escola qualificada como desinteressante, atribuindo seu desinteresse à inferioridade cultural do grupo social de onde provém. Estas interpretações do fracasso da escola são, a nosso ver, inconciliáveis. Da maneira como estão enunciadas, não é possível nem mesmo afirmar que uma escola desinteressante vem se somar um aluno desinteressado; é uma simples questão de lógica: enquanto a primeira não melhorar, não se pode afirmar a falta de motivação como inerente ao segundo.

Uma das problemáticas da escola é quando o professor menospreza o aluno por

este pertencer a uma classe trabalhadora. Portanto, a escola poderia se tornar um espaço

interessante e acolhedor aos alunos? Quem seriam os indivíduos que promoveriam a

mudança?

Ao se analisar o interior da escola, logo se percebe que esta escola reflete a

sociedade, ou seja, a sua vulnerabilidade, como: uso de drogas, que faz com que muitos

menores envolvam-se em pequenos delitos; a violência doméstica ou de rua; as

condições sociais, as quais podem referir-se à condição de moradia, o subemprego ou o

desemprego; a necessidade de trabalho dos adolescentes e jovens para o sustento

próprio e da família; a gravidez na adolescência, quando é comum se deparar com

jovens, que após engravidar, tomam como prioridade na sua vida o cuidado com o bebê,

abandonando a escola para trabalhar. Estes fatores contribuem para tornar os estudos ou

a escola menos importante nas suas vidas.

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Apesar da extensão da escola às massas populares desfavorecidas, essa escola não sofreu mudanças significativas em suas atribuições na reprodução das desigualdades sociais. No passado, a exclusão atingia os que não ingressavam na escola; hoje atinge os que nela chegam, operando, portanto, de forma menos transparente (PATTO, 1996, p. 119)

Para Palma (2007), a exclusão escolar não está apenas na repetência, mas são

expressos nas relações e nas práticas pedagógicas que acontecem no cotidiano escolar,

visto que a forma mais eficiente de exclusão efetiva-se quando a escola é esvaziada em

sua função de ensinar a pensar e a ler criticamente a si e ao mundo.

Portanto, não há somente um fator ou causa que identifica o fracasso escolar,

mas a junção de diversos fatores discorridos no texto. Mas, para que haja uma

transformação deste fracasso, é necessária uma reorganização curricular,

comprometimento do aluno, família e escola, revisão das práticas e ações e formação

pedagógica específica, que dê conta de fazer com que o professor reflita para além da

sua individualidade e pense na coletividade, considerando o rompimento das classes

sociais, que não tem relação com aceitar toda e qualquer atividade do aluno, mas sim

propiciar uma educação de qualidade que dê condições ao aluno à permanência na

escola, formação cidadã, melhoria no desenvolvimento humano, tornando-o sujeito capaz

de intervir no meio em que vive, rompendo com a cultura do fracasso escolar.

REFLETINDO !!!

Fonte: http://dc345.4shared.com/doc/lu867n1B/preview.html

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A escola, como instituição, é sempre uma expressão e uma resposta aos desafios da estrutura social como um todo. Ela não existe em e para si. Existe para cumprir uma função dentro dessa sociedade. Redescobrir, hoje, a função as escola, nesse cenário, é o primeiro passo fundamental para definir seu novo papel, bem como a importância da ação docente. (GASPARIN, 2005)

“Aprender criticamente o conhecimento

científico”: meta real ou utópica?

(MARTA BIESDORF, 2007)

Tendo em vista o texto lido, a imagem e as indagações acima, seriam possíveis ações

transformadoras na escola?

* Momento de discussão entre os participantes.

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UNIDADE II

TEORIAS EDUCACIONAIS

Segundo Saviani (2000), em sua célebre obra “Escola e Democracia”, as teorias

educacionais podem ser classificadas em dois grupos: Teorias Não Críticas, que

entendem a educação como um instrumento de equalização social, superação da

marginalidade e as Teorias Críticas, que entendem ser a educação um instrumento de

discriminação social.

Nas Teorias Não Críticas temos:

a) Pedagogia Tradicional: em meados do século XIX, a escola surge como antítodo à ignorância,

seu papel é difundir a instrução, transmitir conhecimentos acumulados pela humanidade e

sistematizados logicamente. O professor é o detentor do conhecimento e o papel do aluno é de

ouvinte.

b) Pedagogia Nova: com as críticas à Pedagogia Tradicional, dá-se origem a outra teoria da

educação, no final do século XIX, um movimento de reforma conhecido como “escolanovismo”,

surge a Pedagogia Nova. Passa de uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência da

lógica para uma pedagogia de inspiração experimental, baseada principalmente na contribuição

da biologia e psicologia. Trata-se de uma pedagogia que considera que o importante não é

aprender, mas aprender a aprender. O professor age como um orientador da aprendizagem e

cabe ao aluno a iniciativa de aprender. Nessa época, surge o uso de materiais didáticos como

recurso pedagógico.

c) Pedagogia Tecnicista: ao final do século XX o “escolanovismo” não atende os objetivos que

lhe foram propostos, na prática mostrou-se ineficaz face a marginalidade. Manifesta-se uma nova

teoria educacional a Pedagogia Tecnicista. Na Pedagogia Tecnicista o elemento principal passa a

ser a organização racional dos meios, sendo que o professor e o aluno ocupam a posição

LEITURA

REFLEXÃO

INTERAÇÃO

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secundária, meros executores de um processo, cuja concepção, planejamento, coordenação e

controle ficam a cargo de especialistas, supostamente habilitados. Nessa pedagogia é o processo

que define o que professor e aluno devem fazer. Entende que a marginalidade será superada a

partir do momento que o indivíduo se tornar eficiente, capaz de contribuir no aumento da

produtividade da sociedade. Para a Pedagogia Tecnicista o que importa é o aprender a fazer. A

objetivação do trabalho pedagógico é semelhante ao o que ocorreu no trabalho fabril. Nessa

época surgem os cursos técnicos que tem como objetivo atender a demanda da mão-de-obra

industrial.

Fonte: Saviani (2000)

Teorias Crítico-Reprodutivistas

Essas teorias consideram, pois, apenas a ação da educação sobre a sociedade. Saviani

considera essas teorias de maior repercussão e que alcançaram um maior nível de elaboração:

a) Teoria do Sistema de Ensino como Violência Simbólica: a violência simbólica manifesta-se

de múltiplas formas da opinião pública através dos meios de comunicação de massa, jornais e etc.

A função da educação é a de reprodução das desigualdades sociais.

b) Teoria da escola enquanto aparelho ideológico do Estado: como AIE (Aparelho Ideológico

do Estado) dominante, vale dizer que a escola constitui o instrumento mais acabado de

reprodução das relações de produção de tipo capitalista. Para isso, ela torna a si todas as

crianças de todas as classes sociais e lhes inculca durante anos a fio de audiência obrigatória

“saberes práticos” envolvidos na ideologia dominante. (ALTHUSSER, s. d.:64).

c) Teoria da escola dualista: enquanto aparelho ideológico, a escola cumpre duas funções

básicas: contribui para a formação da força de trabalho e para a inculcação da ideologia burguesa

(SAVIANI, 2000).

Sugestão de leitura:

Professor, caso queira expandir seus conhecimentos sobre as Tendências Pedagógicas,

acesse o Portal Dia a Dia Educação e terá acesso a outros textos. Disponível em

http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=31

1. Acesso em 05/12/2013.

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De acordo com Santos (2005, p.19), “[...] as correntes teóricas

procuram entender o fenômeno educativo por meio de diferentes

enfoques, muitos deles relacionados com o momento histórico de sua

criação e do desenvolvimento da sociedade na qual estavam inseridas”.

Para o autor, as diferentes abordagens do processo ensino e aprendizagem são

nomeadas a partir de princípios dos componentes necessários ao fenômeno educativo e

de seus efeitos sobre o indivíduo e a sociedade, conforme descrito na tabela abaixo:

Quadro 01: Abordagens do processo ensino e aprendizagem

Algumas abordagens do processo ensino e aprendizagem

Autor Momenclatura

Bordenare (1984)

Pedagogia da transmissão Pedagogia da moldagem Pedagogia da problematização

Libâneo (1982)

Pedagogia liberal, em suas versões:

Conservadora

Renovada progressista

Renovada não-diretiva Pedagogia progressista, em suas versões:

Libertadora

Libertária

De conteúdos

Saviani (1984)

Teorias não-críticas

Pedagogia tradicional

Pedagogia nova

Pedagogia tecnicista Teorias crítico-reprodutivistas

Sistemas de ensino enquanto violência simbólica

Escola enquanto aparelho ideológico do Estado

Escola dualista

Mizukami (1986)

Abordagem tradicional Abordagem comportamentalista Abordagem humanista Abordagem cognitivista Abordagem sociocultural

Fonte: *Tabela baseada nos estudos de Roberto Vatan dos Santos (2005).

Ampliando conhecimentos...

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Observando a figura, identifique qual seria a tendência de escola que representa, qual o papel do

professor e do aluno?

http://nticsnaeducacao.blogspot.com.br/

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UNIDADE III

SERIA ESSA A REALIDADE DE TODAS AS ESCOLAS

NO ATUAL SISTEMA EDUCACIONAL?

A realidade da escola pública nos dias atuais tem se mostrado com uma

diversidade de dificuldades. De acordo com Padilha (2002),

Encontramos no cotidiano escolar grande preocupação em obter computadores, crachás, e

boletins eletrônicos, em administrar o aumento vertical dos muros, grades, cadeados,

conservação do prédio, ênfase nas atividades sobre datas comemorativas, enfim, preocupações

com um fim em si mesmas, fechadas num projeto político pedagógico da escola, cujo limite se

mantém umbilicalmente no próprio espaço ou esfera escolar. Cada docente faz pedagogicamente

o que “acha” melhor . Retira de cada curso que faz o que “acha” que é bom e ministra o que

“acha” que lhe é conveniente, avalia o que “acha” que deve, cobrando de seus alunos aquilo ao

qual se propõe [...] (PADILHA, 2002).

A autora nos leva a refletir sobre como tem sido o cotidiano das escolas. Será que a

escola, na qual trabalhamos, tem algo em comum com a sua fala?

Para pensar um pouco mais sobre esse cotidiano vamos assistir a um documentário,

fazendo uma análise de cada cena, procurando sempre fazer um paralelo do que

vivenciamos no nosso cotidiano escolar.

Vídeo: Documentário “Pro dia nascer feliz” (Tempo: 1h e 28min). Disponível em

http://www.youtube.com/watch?v=g5W7mfOvqmU.

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Durante o documentário haverá momentos sobre as cenas, inclusive procurando

fazer um paralelo com a sua realidade. Após as reflexões sobre o documentário, cada

participante apresentará em duas frases, a situação negativa e a positiva na educação

vivenciada, depois colarão estas frases descritas em cartazes, em espaços distintos. Esta

atividade será utilizada na conclusão do grupo de estudo.

Dicas interessantes:

Assista ao clipe da música: “Another Brick In The Wall” (Pink Floyd)

Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=xpxd3pZAVHI. Acesso em

19/10/2013.

Acesse o texto “Pro dia nascer feliz”. Análise do documentário. CARDOSO,

Romi Leffa; CHERUTI, Luciana Josélia Corrêa; PONTE, Marcia Kleemann de

Ponte. Revista de Educação, Ciência e Cultura, v. 17, n. 2, jul./dez. 2012.

Páginas 151 a 162. Disponível em

http://www.revistas.unilasalle.edu.br/index.php/Educacao/article/view/629/706.

Acesso em 04/12/2013.

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UNIDADE IV

EVASÃO ESCOLAR

A evasão escolar é um problema muito presente nas escolas, fato vivenciado em

maior proporção nas escolas que atendem alunos que já trazem na sua história de vida

uma realidade marginalizada. Para Padilha (2002), a alienação do homem está ligada ao

processo histórico, político e social da sociedade capitalista.

Esta realidade, tão presente nas escolas, pode se comprovar por meio de índices,

divulgados com frequência a toda população, nos meios de comunicação.

O que diz a mídia a este respeito?

Vídeo: Reportagem sobre evasão escolar em Londrina “Mais de mil alunos estão faltando às

aulas em Londrina”. Disponível em:http://globotv.globo.com/rpc/parana-tv-1a-edicao-

londrina/v/mais-de-mil-alunos-estao-faltando-as-aulas-em-londrina/2039368/. Acesso em

22/10/2013.

Abismo social do Paraná fica mais raso (trecho)

18/08/2013 Rafael Waltrick

O economista e doutor em Desenvolvimento Regional Jandir Ferreira de Lima, pesquisador da

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), lembra que há uma ligação íntima entre os

fatores renda e educação – e aí reside um dos maiores nós do estado. “O principal estímulo para

se investir na própria educação e procurar uma carreira profissional se chama oportunidade. E as

melhores oportunidades estão nas cidades com mais habitantes, com mais opções de emprego e

renda. Nas cidades do interior, a mudança na escolaridade não impacta na faixa salarial. Ou seja,

a pessoa não é estimulada a buscar mais qualificação”, afirma.

Do mesmo modo, o aquecimento de mercados sazonais que exigem pouca qualificação, como

construção civil, também motiva a evasão escolar. “Às vezes, a melhoria da renda é o que

atrapalha a continuidade dos estudos. Muitas pessoas são mais atraídas pelo mercado de

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trabalho e aí acabam estudando menos do que poderiam ou deveriam”, reforça o professor de

Desenvolvimento Econômico da UFPR, Huascar Tessali.

FONTE: JL - Jornal de Londrina. Qualidade de vida. Abismo social do Paraná fica mais raso - Vida e

Cidadania. Disponível em www.jornaldelondrina.com.br/m/conteudo.phtml?tl=1&id=1400550&tit=abismo-

social-do-parana-fica-mais-raso. Acesso em 22/10/2013.

Fora da escola para trabalhar

Além de prejudicar o desenvolvimento, o trabalho infantil tira 740 mil jovens da sala de aula

e afeta o rendimento escolar daqueles que mantêm os estudos

27/08/2013 Bruna Komarchesqui

Cerca de 20% dos 3,7 milhões de crianças e adolescentes que trabalham no Brasil não

frequentam a escola. Entre os 80% que estudam, o trabalho afeta diretamente a frequência e o

desempenho escolar.

É o que afirma o estudo “Trabalho infantil e adolescente: impacto econômico e os desafios para a

inserção de jovens no mercado de trabalho no Cone Sul”, encomendado pela Fundação

Telefônica e apresentado ontem, durante o 4.º Encontro Internacional Contra o Trabalho Infantil,

em São Paulo.

Conforme a pesquisa, a evasão escolar pode chegar a 40%, no caso de jornadas de 36 horas

semanais. Já a queda no rendimento, para a mesma carga de trabalho, varia de 10% a 15%,

dependendo da série.

Alunos da 8.ª série do ensino fundamental que trabalham quatro horas por dia têm queda de cerca

de 4% no desempenho em Português e Matemática, se comparados aos que não trabalham. Já

na 4.ª série, quatro horas diárias de trabalho representam defasagem de 7% no desempenho

escolar.

Círculo vicioso

Consultor responsável pelo estudo, o professor de Economia da Universidade de São Paulo

(USP) Fernando Botelho explica que, além de afetar de maneira significativa o desenvolvimento

físico e mental dos jovens, o trabalho infantil cria um círculo vicioso, ao diminuir as chances de o

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indivíduo atingir um nível maior de escolaridade, que lhe proporcionaria melhores salários. “A

escolaridade dos pais também está diretamente relacionada à questão. Quanto mais os pais

estudaram, menor a chance de o filho trabalhar na infância. O trabalho infantil é um ciclo que se

retroalimenta.”

Entre os atrativos da contratação da força de trabalho entre 5 e 17 anos está o baixo custo, já que

a mão de obra infantil chega a custar, mensalmente, 42% menos que a adulta. “A grande maioria

desse tipo de trabalho está na informalidade e, por isso, é difícil ser atingido pela fiscalização.

Além de combater a informalidade, é preciso criar condições para que a família decida não inserir

essa criança no mercado de trabalho, o que se faz, sobretudo, pela educação de qualidade”,

ressalta Botelho.

Segundo o estudo, o investimento em políticas públicas nesse sentido, durante uma década,

custaria US$ 29 milhões, mas traria um benefício de US$ 77 milhões no mesmo período. Isso

porque, crianças melhores formadas, se tornariam adultos melhores remunerados, o que

impactaria diretamente na economia do país.

Embora o levantamento não traga dados estaduais, a presidente da Fundação Telefônica,

Françoise Trapenard, afirma que, no Paraná, a mazela do trabalho infantil é a agricultura familiar,

sobretudo, de tabaco. “A mãozinha pequena é ideal para colher as folhas. Isso é abafado por toda

uma cadeia produtiva, mas traz consequências terríveis, como a perda da impressão digital das

crianças. É a perda da identidade.”

FONTE: JL- Jornal de Londrina. Educação. Fora da escola para estudar. Disponível em

http://www.jornaldelondrina.com.br/educacao/. Acesso em 22/10/2013

Influência dos pais é muito importante

Maria Calife, professora e mestranda em

Educação na Universidade Federal de Juiz

de Fora é uma das autoras da Pesquisa

sobre o Abandono Escolar (Psae).

04/08/2013 Vanessa Fogaça Prateano

Que fator mais atrapalha a permanência do jovem na escola? Como erradicá-lo?

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Não existe um grande vilão do abandono. Temos alguns fatores que, quando associados,

aparecem com grande peso na decisão do abandono. Por exemplo, a defasagem idade/série,

associada à necessidade que o jovem de baixo poder aquisitivo tem de trabalhar, parece ser o

fator motivador de boa parte dos alunos que abandonam o ensino médio. Mas não podemos

afirmar que todos os alunos que trabalham sairão da escola. O problema é que, com o avanço da

idade, os interesses dos jovens se diversificam e, para boa parte deles, a escola pública deixa de

ter algum atrativo.

Como se dá a influência dos pais entre os jovens?

A influência dos pais na educação dos filhos é um fator extremamente importante na educação

básica, inclusive no ensino médio. Na Psae, conseguimos verificar que a exigência dos pais por

frequência, boas notas e bom comportamento ajuda a evitar que o aluno abandone a escola.

Qual é o papel do currículo nesse cenário? Se fosse mais vocacionado e enxuto, poderia

ajudar a minimizar a evasão?

Essa é uma hipótese que tem estado em voga nas redes de discussões acadêmicas e reuniões

cujo destaque é o ensino médio, mas ainda sabemos pouco ou quase nada sobre o impacto que o

currículo vai causar no abandono. De fato, nos parece que o currículo do ensino médio é muito

extenso e ambicioso. A complexidade percebida decorre do fato de que cada professor acredita

que sua disciplina tem uma importância fundamental na formação do aluno e, por outro lado, cada

político ou entidade de classe acredita que é possível resolver todos os problemas sociais apenas

introduzindo um novo componente curricular no ensino médio. O último a dar palpite é o

adolescente ou o jovem. Os alunos entrevistados na Psae afirmam que se interessariam mais

pelos estudos se os conteúdos fossem mais direcionados, se os professores interagissem mais

nas aulas, tornando-as mais contextualizadas e interativas, pois estão saturados pelo modelo de

aula em que seus professores entram em sala e utilizam recursos didáticos tradicionais e

descontextualizados com sua realidade.

O ensino médio brasileiro é muito diferente do de outros países?

O ensino médio brasileiro, nas palavras do professor Cláudio Moura de Castro, “é como

jabuticaba, só tem no Brasil!”. Nós não saberíamos dizer qual modelo poderíamos copiar de outro

país, pois não há uma receita a ser seguida. Podemos desejar, mas não seria factível copiar o

modelo finlandês, por exemplo. Vivemos num país com uma série de particularidades, seja a

legislação, contratos de trabalho, falta de profissionais aptos para o ensino, carências e diferenças

sociais enormes. Por isso, a melhor maneira de ter um ensino médio que possa se tornar mais

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atrativo seria estudar e repensar não um modelo, mas diferentes modelos adequados às

diferentes necessidades dos alunos. É preciso dar mais flexibilidade para que o jovem escolha o

seu caminho de acordo com os seus interesses.

Vocês foram até a casa de alunos que haviam abandonado a escola e concluíram que até

mesmo questões muito básicas, como ter luz em casa, influencia os números da evasão.

Como foi a experiência de ter esse contato tão próximo com esses estudantes?

Tanto a luz quanto o filtro são variáveis indicadoras da condição socioeconômica da família do

aluno usadas na investigação da base de dados da Pnad. Utilizamos essas variáveis, pois as

julgamos satisfatórias para medir a condição socioeconômica do aluno.

No Brasil, a participação dos alunos nas decisões da escola ainda é pequena. Como atraí-

los a partir de uma gestão democrática?

A Psae identificou que os jovens querem uma escola diferente. Pensar meios de inová-la é muito

importante. Incentivar o aluno a participar mais das decisões é uma forma de envolvê-lo no

processo de mudanças tão desejadas, além de um estímulo à participação cidadã.

Qual é o papel do Enem nesse contexto?

O Enem está concebido para avaliar o aluno exatamente naquele mínimo de qualidade desejada

para os grandes componentes curriculares e suas tecnologias, avaliando as competências e

habilidades cognitivas necessárias para o mundo moderno. A utilização dele como um teste para

a seleção para as universidades tem duas importantes implicações: a primeira é que padroniza os

conteúdos exigidos para as diferentes universidades, democratizando-se o processo de entrada. A

segunda é que, a partir dele, cada aluno e cada escola tem uma referência curricular mínima para

se organizar. Esperamos que o Enem ajude a organização do ensino médio, servindo de

referência para que as escolas estabeleçam metas de abrangência curricular e qualidade.

Qual o melhor jeito de usar a tecnologia no ensino?

As tecnologias permitem a facilitação do aprendizado e, certamente, cada vez mais estarão

presentes nas escolas. Elas potencializam e facilitam o trabalho dos professores. A grande

maioria dos adolescentes, mesmo os de classes sociais mais baixas, está conectada à internet e

nós utilizamos pouco esses recursos para nos comunicar com os alunos ou ainda estimulá-los a

realizarem pesquisas e estudos. Por outro lado, não podemos achar que as tecnologias sejam

uma panaceia e substituam o ensino tradicional completamente.

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FONTE: JL - Jornal Folha de Londrina. Disponível em

www.jornaldelondrina.com.br/brasil/conteudo.phtml?tl=1&id=1396490&tit=Influencia-dos-pais-e-

muito-importante. Acesso em 22/10/2013.

Vídeo: Destino: Educação. Episódio: 06-Brasil, tempo:00:54min, ano de produção 2011.

Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=qhD1V1gqwP8. Acesso em 04/12/2013.

Momento de reflexão ...

Essa realidade que se apresenta faz parte de seu cotidiano escolar?

Chegou o momento de discutir e analisar as questões do IDEB, da Prova Brasil,

Taxas de Rendimento, Taxas de Distorção Idade-Série por meio do Boletim de

Resultados.

Qual(ais) o(s) encaminhamento(s) que devemos dar para esta questão na escola?

Conhecendo um pouco mais sobre a escola

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB

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UNIDADE V

Sugestão de leitura:

Livro: “Uma didática para a Pedagogia Histórico-Crítica

Autor: João Luiz Gasparin (2002)

A obra de Gasparin explica o movimento do trabalho pedagógico proposto pela

Pedagogia Histórico-Crítica, que vai da prática social inicial à nova prática pela mediação

da teoria.

Prática Social: O primeiro passo do método caracteriza-se como uma preparação, uma

mobilização do aluno para a construção do conhecimento escolar. É uma primeira leitura

da realidade, um contato inicial com o tema a ser estudado.

Problematização: A problematização é um elemento-chave na transição entre a prática e

a teoria, isto é, entre o fazer cotidiano e a cultura elaborada. É o momento em que se

inicia o trabalho com o conteúdo sistematizado.

Instrumentalização: A partir das questões levantadas na Prática Social Inicial e

sistematizadas na Problematização, todo o processo ensino-aprendizagem é

encaminhado para, explicitamente, confrontar os sujeitos da aprendizagem - os alunos -,

com o objeto sistematizado do conhecimento - o conteúdo.

Catarse: A catarse é a síntese do cotidiano e do científico, do teórico e do prático a que o

educando chegou, marcando sua nova posição em relação ao conteúdo e à forma de sua

Planejando, numa Pedagogia Histórico-Crítica,

baseado no Livro “Uma didática para a

Pedagogia Histórico-Crítica”

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construção social e sua reconstrução na escola. Significa, outrossim, a conclusão, o

resumo que ele faz do conteúdo aprendido recentemente.

Prática Social Final do Conteúdo: O ponto de chegada do processo pedagógico na

perspectiva histórico-crítica é o retorno à Prática Social. Essa fase representa a

transposição do teórico para o prático dos objetivos da unidade de estudo, das dimensões

do conteúdo e dos conceitos adquiridos (GASPARIN, 2002).

Ufa!!! Quanto estudo!!! Agora é hora de colocar em prática o que se estudou,

elaborando um Plano de Unidade na Perspectiva Histórico-Crítica.

Mãos à obra!!!

ESQUEMA DO PROJETO DE TRABALHO DOCENTE-DISCENTE NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CRÍTICA*

João Luiz Gasparin Instituição:______________________________________________________________________ Disciplina:______________________________________________________________________ Unidade de conteúdo:____________________________________________________________ Professor(a):____________________________________________________________________ Ano Letivo:__________ Bimestre:_________ Série:__________ Turma:_________ Horas-aula da unidade:__________

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1 – PRÁTICA SOCIAL INICIAL DO CONTEÚDO 1.1 - Título da Unidade de Conteúdo: - Objetivo geral: Tópicos do conteúdo e objetivos específicos: Tópico 1: Objetivo específico: Tópico 2: Objetivo específico: Tópico 3: Objetivo específico: 1.2 – Vivência do conteúdo O que os alunos já sabem sobre o conteúdo a ser ministrado? Listar tudo o que eles poderiam dizer (colocar-se no lugar deles): O que gostariam de saber a mais sobre o conteúdo? Listar, no planejamento, todas as suas possíveis curiosidades. 2 – PROBLEMATIZAÇÃO 2.1 - Discussão (elaborar algumas perguntas sobre o tema da aula para debate) 2.2 - Dimensões do conteúdo a serem trabalhadas na Instrumentalização (selecionar as mais adequadas conforme o tema, fazer em forma de perguntas) - Conceitual/científica= - Histórica= - Econômica= - Social= - Legal= - Religiosa= - Cultural= - Afetiva= - Psicológica= - Política= - Estética= - Filosófica= - Doutrinária= - Ideológica= - Operacional= - Simbólica= - Ecológica= - Epistemológica= Outras dimensões. 3 – INSTRUMENTALIZAÇÃO 3.1- Listar todas as técnicas, dinâmicas, processos, métodos que serão utilizados para apresentar o conteúdo científico nas dimensões indicadas anteriormente: 3.2 – Listar os recursos necessários para a aula:

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4 – CATARSE 4.1 – Síntese mental do aluno (no planejamento, colocar-se no lugar do aluno e fazer a síntese em seu lugar): 4.2 – Avaliação (tanto por perguntas quanto dissertação, considerar as dimensões vistas): - Conceitual: - Histórica: - Social: - Cultural: - Outras: 5 – PRÁTICA SOCIAL FINAL DO CONTEÚDO Intenções do aluno. Ações do aluno * FONTE:

GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 4.ed. Campinas: Autores

Associados, 2007. (Anexo 9, p.194).

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CONCLUSÃO

Caro professor, este Caderno Pedagógico teve como objetivo momentos de

estudos e reflexões, nos quais procurou-se estabelecer um parâmetro entre as diversas

realidades da educação brasileira com a realidade do seu cotidiano escolar, propondo ao

grupo um novo pensar pedagógico sobre suas práticas.

REFLEXÕES E

REELABORAÇÃO

DA ATIVIDADE

DESENVOLVIDA NA

UNIDADE III

AVALIAÇÃO

DO GRUPO

DE ESTUDOS

APRESENTAÇÕES

DOS PLANOS DE

UNIDADE

ELABORADOS E

APLICADOS PELOS

PARTICIPANTES

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Referências ALTOÉ, Anair; GASPARIN, João Luiz; NEGRÃO, Maria Tampellin Ferreira; TERUYA, Teresa Kazuko (org.). Didática: processos de trabalho em salas de aula – Maringá; EDUEM, 2005. ARROYO, Miguel G. Fracasso/Sucesso: um pesadelo que perturba nossos sonhos. Em Aberto, Brasília, v,17, n.71, p. 33-40, jan.2000. DUARTE, Newton. Crítica ao fetichismo da individualidade/Newton Duarte(org.). – Campinas, SP: Autores Associados, 2004. FALCÂO, Maria do Carmo; NETTO, José Paulo. Cotidiano: conhecimento e crìtica. São Paulo: Cortez, 1987. FRANCO, Sandra; LAZARETTI, Lucinéria; KRAEMER, Márcia; JACOMEL, Mirele, “A concepção do ser humano na perspectiva do materialismo histórico e dialético”. IN: RODRIGUES, Elaine, ROSIN, Sheila Maria (Org.). Pesquisa em educação: A diversidade do campo. Curitiba: co-edição Instituto Memória/Juruá Editora, 2008, p. 165-175. GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 4.ed. Campinas: Autores Associados, 2002. GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 4.ed. Campinas: Autores Associados, 2007. LEFEBVRE, Henri. O marxismo por Henri Lefebvre. Coleção “Saber Atual”. Tradução de J. Guinsburg, 3ª edição. 1963. Difusão Européia do Livro. São Paulo. Título do original: Le Marxisme. MARX, Karl. Manuscritos econômicos-filosóficos e outros textos escolhidos. Seleção de textos de José Arthur Giannotti; traduções de José Carlos Bruni... (et al.). 2ª ed. – São Paulo: Abril Cultural, 1978, p.1-48. (Os pensadores). PADILHA, Augusta. A prática pedagógica no contexto atual. BARROS, Marta Silene Ferreira; MORAES, Silvia Pereira Gonzaga de. Formação deprofessores expressão da complexidade da prática pedagógica. IN: MACIEL, Lizete Shizue Bomura; PAVANELLO, Regina Maria; MORAES, Silva Pereira Gonzaga de (orgs). Formação de professores e práticas pedagógicas. Maringá: Eduem, 2002, p. 5-31. PALMA, Rejane Christine de Barros. Fracasso escolar: novas e velhas perspectivas para um problema sempre presente. Londrina, 2007. PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar: história de submissão e rebeldia. - São Paulo: T. A. Queiroz, reimpressão, 1996 – (Biblioteca de psicologia e psicanálise, v.6). SANTOS, Roberto Vatan. Abordagens do processo de ensino e aprendizagem. Integração. JAN/FEV/MAIO. 2005. Ano XI nº 40. Pág. 19 a 31. SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. Campinas: Autores Associados, 2000. SAVIANI, Dermeval; DUARTE, Newton (orgs.). Pedagogia histórico-crítica e luta de classes na

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http://www.jornaldelondrina.com.br/educacao/. Acesso em 22/10/2013.

Reportagem: JL - Jornal Folha de Londrina. Influência dos pais é muito importante. Disponível em www.jornaldelondrina.com.br/brasil/conteudo.phtml?tl=1&id=1396490&tit=Influencia-dos-pais-e-muito-importante. Acesso em 22/10/2013. Reportagem: JL - Jornal de Londrina. Qualidade de vida. Abismo social do Paraná fica mais raso - Vida e Cidadania. Disponível em www.jornaldelondrina.com.br/m/conteudo.phtml?tl=1&id=1400550&tit=abismo-social-do-parana-fica-mais-raso. Acesso em 22/10/2013. Vídeo: Documentário “Destino: Educação”. Episódio: 06-Brasil. Disponível em

http://www.youtube.com/watch?v=qhD1V1gqwP8. Acesso em 04/12/2013.

Vídeo: Documentário “Pro dia nascer feliz”. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=g5W7mfOvqmU. Acesso em 22/10/2013. Vídeo: Música: “Another Brick In The Wall” (Pink Floyd). Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=xpxd3pZAVHI. Acesso em 19/10/2013. Vídeo: Reportagem sobre evasão escolar em Londrina “Mais de mil alunos estão faltando às aulas em Londrina”. Disponível em: http://globotv.globo.com/rpc/parana-tv-1a-edicao-londrina/v/mais-de-mil-alunos-estao-faltando-as-aulas-em-londrina/2039368/. Acesso em 22/10/2013.