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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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REBELDIA SEM CAUSA OU CAUSA DA REBELDIA?

REFLEXÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO ADOLESCENTE E

SUAS IMPLICAÇÕES NA PRÁTICA PEDAGÓGICA

ALVES, Andréia Marucci1

FRANÇA, Eliacir Neves2

RESUMO

Este trabalho é resultado de estudos realizados no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2014, em torno da temática: Adolescência. Esta, referida como uma fase do desenvolvimento humano que representa uma transição entre a infância e a idade adulta. Neste estágio as transformações físicas e psicológicas incidem no comportamento do indivíduo alterando sua maneira de compreender e se comportar diante das situações à sua volta. Nesta etapa do desenvolvimento surge um crescente descomprometimento com a aprendizagem na medida em que avançam na escolarização, provocando reações inesperadas, rebeldias, contestações, tédio, desmotivação entre outros. O presente artigo teve como preocupação investigar quais as transformações físicas e psicológicas que acontecem na adolescência e como influenciam o comportamento pré-adolescente e adolescente, uma vez que constantemente presencia-se no ambiente escolar e social, manifestações de alunos adolescentes que causam estranhamentos aos educadores e demais pessoas de convivência. O objetivo foi favorecer o debate e o estudo acerca do estágio de desenvolvimento humano denominado adolescência analisando as causas do comportamento adolescente, como por exemplo, as crises de identidade, distanciamento familiar, transformações físicas, desenvolvimento cognitivo, do ponto de vista biológico, psicológico, neurológico e social. Buscou-se, dessa forma, referencial teórico para fundamentar estudos dirigidos, proporcionar conhecimentos ao docente à conduzir sua prática no sentido de compreender, ressignificar sua ação educativa a fim de motivar o aluno adolescente à aprendizagem.

Palavras-chave: Adolescência; transformação; comportamento.

INTRODUÇÃO

É notavelmente perceptível que os seres humanos, em seu processo de

desenvolvimento, passam por transformações que dará legitimidade ao indivíduo

adulto. As mudanças ocorridas durante o período da adolescência, transição entre a

1 Licenciada em Pedagogia, Linha de estudo: Desenvolvimento Educacional, Diversidade e Currículo. Email:

[email protected] 2 Docente do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina. Orientadora PDE – email: [email protected]

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infância e a vida adulta, abrange conceitos culturais, sociais, mudanças físicas,

biológicas e psicológicas.

No contexto escolar presencia-se frequentemente situações protagonizadas

em sua maioria por alunos adolescentes, produzidas pelo descomprometimento à

aprendizagem gerando-se um baixo rendimento na assimilação dos conteúdos.

Para a maioria dos professores que trabalham com adolescentes, esta tem

sido vista como uma fase complicada, marcada por contestações, rebeldias, falta de

responsabilidade, distanciamento familiar e um fortalecimento dos vínculos com os

colegas. Mudam a maneira como vêem o mundo e o enfrentamento das situações

que existem à sua volta.

O objetivo geral do presente artigo foi buscar conhecimentos teóricos

peculiares dessa fase adolescência, em algumas áreas das ciências como

Psicologia, Filosofia, Biologia, Neurociências, Educação, Sociologia, História para

esclarecer a partir de cada contribuição o processo multifacetado dos aspectos

dessa fase. Assim como propiciar espaços de estudos sobre a fase de

desenvolvimento humano (adolescente e pré-adolescente) suas características e

impactos que exercem sobre o indivíduo. Com o propósito, inclusive de acrescentar

conhecimentos desta fase a contribuir com uma prática pedagógica que aproxime os

alunos adolescentes das questões escolares, para os Professores, Pedagogos,

Agentes Educacional I e II, do Colégio Estadual Machado de Assis, no município de

Lupionópolis.

O artigo contempla reflexões sobre o conceito de adolescência como

construção histórica e cultural, conhecimentos sobre as alterações físicas

provocadas pela maturação biológica da capacidade reprodutiva e seus impactos

que ocorrem na sua sexualidade e nos relacionamentos sociais.

Complementando a dinâmica do desenvolvimento adolescente, este trabalho

promoveu a reflexão a cerca da mudança cognitiva adquirida através do

pensamento abstrato e das transformações cerebrais operadas nesta fase. Além

disso, buscou-se compreender as manifestações da afetividade e os

relacionamentos sociais como papel importante no processo de desenvolvimento

adolescente.

Também se destacou as influências contemporâneas, enfatizando a

construção de novos significados sociais, bem como a motivação dos alunos

adolescentes de modo a atraí-los para os saberes escolares.

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1 ESPECIFICIDADE ADOLESCENTE E O CONTEXTO EDUCACIONAL

1.1 CONCEITOS, ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS DA ADOLESCÊNCIA

O processo de desenvolvimento humano é um contínuo de transformações.

Tudo que existe no entorno do indivíduo afeta a dinâmica das configurações de sua

existência, como as pessoas, o contexto histórico, as experiências pessoais e

sociais, tanto quanto as oportunidades positivas ou negativas em que crianças e

adolescentes podem estar expostos.

A adolescência compreende uma transição entre a infância e a fase adulta.

Em decorrência disso, muitas transformações se manifestam como mudanças

físicas, psicológicas, hormonais e consequentemente comportamentais.

Segundo o dicionário Houaiss (2009, p. 53), adolescente significa

(...) relativo, peculiar a ou em processo de adolescência, de amadurecimento, jovem (...) que se encontra em processo de maturação; que está no início de um processo; que ainda não alcançou todo o vigor <uma aspiração ainda a> (...) que se desenvolve, engrossa, aumenta.

A OMS (1989) define adolescência como sendo um período de

amadurecimento físico, psicológico e social da infância para a idade adulta

compreendendo a faixa etária entre 10 e 19 anos de idade. O Estatuto da Criança e

do Adolescente situa esta fase entre 12 e 18 anos.

No sentido etimológico, Outeiral (2003, p. 4) destaca que a palavra

adolescência

(...) vem do latim ad (a, para) e olescer (crescer), significando a condição ou processo de crescimento, em resumo o indivíduo apto a crescer. Adolescência também deriva de adolescer, origem da palavra adoecer. Temos assim, nessa dupla origem etimológica, um elemento para pensar esta etapa de vida: aptidão para crescer (não apenas no sentido físico, mas também psíquico) e para adoecer (em termos de sofrimento emocional, com as transformações biológicas e mentais que operam nesta faixa de vida.

Ao longo da história, a concepção e o tratamento dispensado às crianças

foram sendo alterados. A concepção do estágio de desenvolvimento hoje

denominado “adolescência” é recente. Antes da sua elaboração eram consideradas

três fases: infância, idade adulta e velhice.

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A idéia de infância, na Idade Média, correspondia à noção de dependência,

como um período de passagem logo ultrapassado, julgado como um adulto em

miniatura. E quando esta não necessitava mais dos cuidados constantes da mãe já

era inserida no mundo adulto. Na transição da Idade Média à Modernidade, muitos

fatores contribuíram para se dar um novo enfoque à infância. (GROSSMAN, 2010)

Nos século XVII e XVIII, movimentos culturais e religiosos como o Iluminismo3

e o Protestantismo redefiniram a idéia de infância como uma fase diferente da idade

adulta, merecendo tratamento diferenciado. No século XX a infância já se torna um

período claramente definido e diferenciado como também a adolescência. (COLL,

1995)

No final do século XIX, com a Revolução Industrial, os filhos dos operários

estavam incorporados ao mundo do trabalho. Tornou-se importante a capacitação,

formação e o estudo com a tendência dos filhos das classes médias e altas

permanecerem nas escolas. Por fim, os filhos dos operários adotaram o mesmo

estilo de vida. Com o avanço do século, foi sendo introduzido nos diversos países

ocidentais, o conceito de escolaridade obrigatória.

Na cultura ocidental, a inserção do adolescente ao status adulto protelou-se

marcadamente, formando-se um novo grupo que desenvolve seus próprios hábitos e

maneiras enfrentando problemas peculiares desta fase. (COLL, 1995)

Assim, ao longo do século XX foi consolidada a ideia da adolescência como

uma etapa da vida dotada de características próprias, detentora de um estatuto legal

e social.

A adolescência, pensada para além da identidade cronológica reflete-se como

consequência das condições de existência histórica, surgida como uma necessidade

de ficar mais tempo debaixo da tutela dos pais, estendendo-se o período anterior ao

estágio adulto.

De acordo com a regência de valores dos diferentes grupos sociais e

culturais, a adolescência é recebida por meio de manifestações cerimoniais como

ritos de passagens em que simbolicamente há a morte da criança para o nascimento

de um novo adulto. No início dos rituais de passagem se está em condição de

criança e ao terminar já é um adulto. Nas sociedades ocidentais os rituais foram

3 Iluminismo: movimento que surgiu na Europa durante o século XVIII. Defendia o uso, da razão (luz) contra o

regime monárquico e o domínio da Igreja (trevas) pregando liberdade econômica e política. Alguns pensadores se destacaram por suas ideias neste período como John Locke, Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Quesnay e Adam Smith. Fonte: http://www.sohistoria.com.br/resumos/iluminismo.php

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substituídos por uma longa fase que compreende entre a infância e a vida adulta,

denominada adolescência, expressando as formas singulares de como cada pessoa

vive e sente essa transição. (BRASIL, 2012)

Alguns eventos organizados assumem uma parte da característica de rituais

como festas de debutantes, maioridade civil, mas que não representam a

independência concreta de seus pais. O primeiro emprego assume um papel

diferenciado, pois o adolescente tem autonomia para gerenciar, em parte sua vida

financeira, permitindo sua inserção no mundo adulto, tendo atribuições de

responsabilidade, independência e domínio das emoções, que de certa forma talvez

se constituam ainda instáveis. (PEREIRA, 2005)

1.2 DESENVOLVIMENTO FÍSICO E SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA

De acordo com os estudos sobre esta fase, a adolescência, pode-se afirmar

que este é um período envolto em grandes alterações, a se iniciar pelas mudanças

corporais. Esta fase possui como um dos aspectos a puberdade, ou seja, a

maturação biológica da capacidade reprodutiva, ocorrendo, em um espaço de 2 a 4

anos de duração, todas as mudanças físicas desse momento de transição da

infância para a idade adulta.(LOURENÇO & QUEIROZ, 2010)

O sistema endócrino, com seu conjunto de glândulas, produz e despeja na

corrente sanguínea, hormônios que operam grandes transformações físicas,

apresentando padrões diferenciados para os meninos e para as meninas.

Coll, Marchesi, Palacios & Cols (2004), discorrem que

(...) Esses mecanismos hormonais se iniciam devido à atividade do hipotálamo, que envia sinais para a hipófise ou glândula pituitária para que esta comece a secretar importantes quantidades de hormônios gonadotróficos (ou gonadotrofinas). Esses hormônios estimularão o desenvolvimento das gônadas sexuais (ovários, na mulher, e os testículos, no homem) que começarão a produzir hormônios sexuais, cuja presença no sangue aumentará em relação aos níveis que existiam nos anos anteriores. Este alto nível de hormônios sexuais, sobretudo a testosterona nos meninos e a progesterona e os estrógenos nas meninas, será o responsável pelas mudanças físicas.

Dessa forma Lourenço & Queiroz (2010) destacam que a puberdade possui

uma característica própria que é sua variabilidade, sendo comum que diferentes

grupos etários de adolescentes encontrarem-se no mesmo estágio de

desenvolvimento.

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Na puberdade ocorre também o estirão do crescimento ou estirão puberal. É

provável que essa característica é uma das condições que, para os adolescentes,

mais interferem na formação da sua presença (imagem) no meio social.

Lourenço e Queiroz (2010, p.72) enfatizam que

(...) O estirão puberal não ocorre de maneira uniforme. Inicia-se pelos membros, seguindo uma direção distal-proximal, ou seja, pés e mãos, inicialmente, seguindo-se pernas e membros superiores, conferindo ao corpo do adolescente um aspecto desarmônico ou de desproporcionalidade, que volta a ser harmônico e proporcional ao término do estirão, após o crescimento do tronco, principal responsável pela estatura final do indivíduo.

Do mesmo modo Pereira (2005, p. 31), acrescenta que “as crianças, primeiro

perdem os sapatos, depois as calças e finalmente as camisas”.

Certamente, que em razão dessas transformações, a maioria dos

adolescentes tem impressões que os levam a confusões e conflitos psicológicos

engendrando comportamentos inesperados e sentimentos desordenados também

em relação a seus pares.

Esse período faz com que muitos adolescentes sintam-se insatisfeitos com a

forma que seu corpo se apresenta, queixando-se muitas vezes que seus pés ou

mãos são muito grandes. Como crescem de maneira rápida, as mãos, a cabeça e os

pés serão os primeiros que deixarão de crescer. E conforme vai avançando a

puberdade o corpo vai ficando mais proporcional, conferindo uma maior satisfação

ao adolescente. (Coll, Marchesi, Palacios & Cols. 2004)

Para Coll, Marchesi, Palacios & Cols (2004, p. 316)

(...) a puberdade é um processo gradual de vários anos de duração ao longo do qual o corpo do adolescente experimentará uma série de mudanças bastante significativas. Não é de estranhar que essas mudanças físicas tenham um importante impacto no nível psicológico e afetem a forma de pensar, de sentir e de agir.

Tornar-se adolescente é vivenciar uma gama de acontecimentos, ingressando

num mundo adulto, para o qual ainda não está preparado.

Nesta fase, mudanças biológicas, psicológicas e sociais desencadearão a

manifestação da sexualidade. Assim o adolescente deve perceber a si mesmo como

um ser sexual, adaptar-se às excitações sexuais e formar ligações afetivas.

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As mudanças econômicas e sociais, o advento da pílula anticoncepcional, a

crescente expansão dos meios de comunicação, contribuíram para mudanças nas

atitudes e nos comportamentos sexuais. (PEREIRA, 2005). Comparado às gerações

anteriores, os adolescentes, na atualidade, têm iniciado suas experiências sexuais

cada vez mais cedo.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), 2012, 28,7% dos

adolescentes entre 13 e 15 anos já iniciaram sua vida sexual, em uma proporção de

40,1% entre os meninos e de 18,3% para as meninas.

Uma das grandes preocupações é a forma como tem ocorrido essa iniciação,

geralmente por estarem no início da adolescência, o preservativo ou o contraceptivo

não é utilizado ou o é inadequadamente. A falta de informações oferecidas pela

família faz com que muitos adolescentes busquem conhecimentos, frequentemente

erradas no grupo de amigos.

Adolescentes que recebem informações sobre sexualidade, que tiveram

discussões com os pais ou com outros adultos, e aqueles que conseguem

informações em programas escolares ou comunitários, tendem a utilizar preservativo

de modo regular e melhores chances de evitar uma gravidez e outros riscos ligados

a atividade sexual. (PEREIRA, 2005)

Pode-se dizer que os adolescentes, com as novas potencialidades sexuais,

tem se enveredado, ou aventurado em relações que trazem além de prazer, podem

trazer conseqüências não tanto agradável, como uma doença sexualmente

transmissível ou um gravidez indesejável.

A mídia traz uma mensagem distorcida sobre sexualidade em que associa

tudo à diversão e excitação, poucas vezes traz os riscos sobre uma relação sexual

desprotegida. Essas informações chegam aos adolescentes sem uma análise crítica,

o que acaba por fortalecer fantasias e motiva aventuras em buscar relações de

forma imatura. (PEREIRA, 2005)

Contudo, a existência de uma educação para a sexualidade deve ser

contemplada no cerne familiar, mantendo um diálogo aberto e amigável de acordo

com as demandas tanto de crianças como adolescentes. A escola deve fazer parte,

oferecendo informações e conhecimentos para que o adolescente não se “iluda”

com o que a mídia coloca de forma descompromissada e irresponsável nos meios

de comunicação. E tenha com isso uma vida sexual de escolha pessoal, levando em

conta suas responsabilidades com a própria saúde e a do outro.

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1.3 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO NA ADOLESCÊNCIA E CONTRIBUIÇÕES

DA NEUROCIÊNCIAS

Com o desenvolvimento hormonal produzindo transformações no corpo do

adolescente, várias atividades mentais se processam conduzindo-o a mudanças

nas estruturas cognitivas.

Todas as características psicológicas são originadas na mudança cognitiva

apresentada nessa fase do desenvolvimento humano que é a conquista do

pensamento abstrato.

Do ponto de vista de Jean Piaget, o ser humano passa por quatro diferentes

estágios de desenvolvimento: o sensório-motor (do nascimento aos 2 anos), o pré-

operacional (2 aos 7 anos), operações concretas (7 aos 12 anos), o estágio das

operações formais, que corresponde ao período da adolescência (dos 12 anos em

diante). Cada estágio se diferencia do anterior pelas evidências, no comportamento

determinadas por mudanças qualitativas a partir do que foi construído no estágio

anterior. (PALANGANA, 2001)

Verifica-se que o período da adolescência, compreende a idade dos 12 anos

a diante, podendo ser chamado também de estágio das operações formais,

ocorrendo uma modificação decisiva no pensamento da criança. Este, por sua vez,

impulsiona, pouco a pouco na direção da reflexão livre e destacada do real, ou seja,

habilidade de pensar nas relações entre acontecimentos sem precisar experimentá-

la de fato.

A partir desse estágio o adolescente consegue pensar abstratamente no

objeto que ainda não conhece, o que também lhe faz refletir sobre questões que até

então não conseguia pensar. Dá-se início à contestação das regras, aumentando a

agressividade, o que gera conflitos nas relações sociais, quase que exclusivamente

com os pais. (PEREIRA, 2005)

Este novo pensar permite ao adolescente desafiar o mundo, estabelecer

hipóteses sobre fatos imaginários, avaliar e escolher alternativas. Além disso,

redefine conceitos fundamentais para a formação da identidade, ampliando o

aprendizado para conteúdos escolares.

O pensamento operacional formal oferece a capacidade de estabelecer

hipóteses, combiná-las, e experimentá-las, de pensar sobre o pensamento, de se

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avaliar a partir do exterior, com relação a sua aparência, inteligência, etc. (PEREIRA,

2005)

Através do pensamento formal é permitido conceituar o pensamento das

outras pessoas, denominado de egocentrismo adolescente, em que imagina que as

outras pessoas estão preocupadas com a aparência e o comportamento dele. Neste

aspecto, Pereira (2005), enfatiza também que ele constroi uma espécie de audiência

imaginária, tendo a crença que sempre será o foco da atenção.

Portanto, conforme afirma Piaget (2009, p. 59) “o pensamento formal, é

hipotético-dedutivo, isto é, capaz de deduzir as conclusões de puras hipóteses e não

somente através de uma observação real.”

Assim a inteligência formal confere ao adolescente um poder que antes não

tinha pensar abstratamente, descolado do real, permitindo construir de seu modo as

reflexões e teorias. Então é possível para ele não aceitar mais ideias como prontas e

acabadas, é possível contestar, não aceitar, mudar o mundo, discordar e ter as suas

próprias opiniões e não mais viver das opiniões e ideias dos outros.

Na adolescência o cérebro de criança se transforma em um cérebro adulto. O

cérebro cresce até atingir o tamanho adulto no início da adolescência e depois não

cresce mais. (HERCULANO-HOUZEL, 2005)

Os estudos de Herculano-Houzel (2005) referem-se que tanto crianças como

adultos possuem o cérebro diferente. Acredita-se que ambos possuem o mesmo

número total de neurônios, apesar da renovação constante dos neurônios de

algumas regiões do cérebro.

Pesquisas recentes demonstram que o cérebro adolescente sofre uma

reorganização química na quantidade de neurotransmissores que levam mensagens

de um neurônio ao outro, reorganizando de forma estrutural sua capacidade de

trocar sinais entre eles. Isso se dá em razão da resposta aos hormônios sexuais, e

na produção de outros hormônios. É mais provável que o remodelamento cerebral

seja responsável pelo comportamento característico dessa fase, do que a presença

dos hormônios. HERCULANO-HOUZEL, 2005)

Kolbe e Whishaw (2002 op cit ALENCAR, 2009, p. 8), reitera que “à medida

que o cérebro se desenvolve, os neurônios ficam conectados de modo cada vez

mais complexo”, suportando uma crescente complexidade comportamental.

Como resultado, as alterações na estrutura do cérebro que acompanham a

experiência devem-se à incrível plasticidade cerebral respondendo tanto à resposta

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externas ao organismo, como também a eventos internos, como efeitos hormonais,

lesões e genes anormais. (Kolb e Whishaw, 2002, apud ALENCAR, 2009)

Parte das alterações cerebrais decorre em virtude da eliminação das sinapses

excedentes ocorridas no período da adolescência.

Estas, sinapses, por sua vez, são as conexões que se estabelecem entre os

neurônios, os pontos onde eles trocam informações. O cérebro faz uma limpeza de

sinapses que não são mais utilizadas. As sinapses mais usadas são selecionadas e

mantidas; é a experiência que vai determinar quais permanecem.

Para o adolescente, com essa reconstrução cerebral, contribui para a

integração funcional no córtex pré-frontal, tornando possível o pensamento abstrato.

Um estudo recente com crianças e jovens com idades entre 8 e 18

anos,(NAGY, WESTBERG, KLINGBERG, 2004 op cit HERCULANO-HOUZEL, 2005,

p. 73) observou que

(...) o aumento da mielinização no lobo frontal, responsável pelas habilidades cognitivas, acontece simultaneamente à melhora da memória de trabalho; e no lobo temporal, que abriga a capacidade de compreensão a linguagem, o aumento de mielinização com a idade acompanha a melhora da facilidade de leitura.

Então, devido às reorganizações químicas e estruturais no cérebro com o seu

crescimento, o sistema de recompensas passa por grandes mudanças. Segundo

Herculano-Houzel (2005, p. 90), é “o conjunto de estruturas que nos premiam com

uma sensação de prazer e nos fazem querer mais de tudo o que é bom ou dá certo”.

Com essas mudanças na estrutura, todas as atividades que antes eram

prazerosas com a família repentinamente perderam o atrativo para o cérebro em

transição.

Para Herculano-Houzel (2005) as alterações da motivação na adolescência

podem ser explicadas por uma perda passageira, ou embotamento, do sistema de

recompensa. Ao tornar-se mais difícil de ser ativado pelos prazeres antigos, o

sistema de recompensa recém-embotado, insensibilizado, faz com que o

adolescente abandone seus velhos hábitos que não o satisfazem mais e partir em

busca de novos prazeres. Assim, o que é novo é a forma certa de ativar o sistema

de recompensa, pois enxerga em novos estímulos possibilidades de reencontrar

satisfação. E assim com a recente aquisição do córtex pré-frontal de trabalhar com

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abstrações, o jovem alcança novos interesses como esportes, literatura, filosofia e

religião

O resultado disso é uma repentina incapacidade de certos estímulos que

eram interessantes, causar ativação do sistema de recompensa, o que demonstra

uma das primeiras manifestações da adolescência: o tédio. (HERCULANO-

HOUZEL, 2005)

Com essas transformações cerebrais processadas em suas cabeças, pode-se

admitir que os comportamentos modificados nesta fase de transição culminam em

uma busca por fortes emoções na tentativa de superação do tédio causado pelo

embotamento cerebral.

1.4 AFETIVIDADE E RELACIONAMENTOS SOCIAIS

Seres humanos são sociais. Precisam estar juntos, sentir acolhimento, ter a

sensação de pertença. Quando crianças, os grupos sociais que são inseridos,

primeiramente no meio familiar, estabelecendo fortes vínculos e laços afetivos.

Os pais são visto como referências para comportamentos, para formação do

conjunto de valores e construção da moral. Todas as verdades são os pais que

governam e obediência é um dos princípios que quase não são contestados pelos

filhos quando crianças.

Como é um período de definição de identidade, o modelo perfeito dos pais é

desconstruído e o adolescente parte para construir sua autonomia, independência e

procura controlar a sua vida, defendendo fortemente sua maneira de pensar.

Como a adolescência é um período da vida que eles querem mostrar-se

autônomos, capazes, não aceitam que os pais lhes ofereçam proteção (tratá-los

como crianças) e nesse reconhecimento as contestações tomam força para se auto-

afirmarem como indivíduos independentes e auto-suficientes. (TIBA, 1986)

Nessa fase, onde a atividade é expandida, os adolescentes começam a

perceber outras formas de pensar, outros valores, outras formas de viver, diferentes

de seus pais, refletindo que esta possa ser melhor do que a vivenciada por sua

família. (PEREIRA, 2005)

Os colegas, a turma, passam a ter papel importante e decisivo no

desenvolvimento psicológico e social da maioria dos adolescentes. São mais

dependentes da relação entre os iguais do que as crianças, pois na medida em que

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se afrouxam os vínculos familiares, fortalecem-se os laços entre os pares.

(PEREIRA,2005)

Geralmente o adolescente se vincula aos colegas com os quais ele se

identifica, a partir dos critérios e valores que se distanciam um tanto dos familiares

(BRASIL, 2012)

A lealdade ao grupo é um fator importante e valorizado. Na intimidade entre

seus membros, no compartilhamento de segredos, na adesão de cada um à imagem

visual e na forma de manifestar comportamentos como rebeldia, transgressão, uso

de drogas, entre outros, em nome da unidade do grupo. (BRASIL, 2012)

Desse modo a aceitação pelo grupo é muito importante para o adolescente,

pois na sua maioria, os jovens avaliam seu valor de acordo com a aprovação dos

companheiros. Outros mais confiantes de sua identidade não sentem necessidade

de ser aprovado pelo grupo. (PEREIRA,2005)

Nessa época, a oportunidade de trocar ideias, sentimentos auxilia a transição

das relações heterossexuais. Sendo assim a confiança estabelecida com as

amizades íntimas são reforçadas e fortalecidas para que o adolescentes sintam-se

de certa forma amparado para compartilhar alegrias, tristezas e frustrações e vá

conquistando autonomia e segurança nas relações que estabelece.

Por conseguinte, mudanças na estrutura física e psicológica incidem

drasticamente no comportamento do indivíduo nesta fase do desenvolvimento.

Amam seus pais, mas detestam o que pensam, contrariam, questionam, refutam e

se refugiam nas rodas de amigos, amam o que pensam. Lá eles podem desabafar o

que sentem sem serem repreendidos. Brincam, falam alto, gesticulam à vontade,

riem. Compartilham fantasias de futuro, perpassando o mundo da realidade.

Existem características internas e externas influenciando a afetividade e

isso garante reações inesperadas desses jovens que ganharam espaço, tanto físicas

como psicológico e social, para agirem e reagirem.

Na perspectiva de Wallon afetividade tem papel importante no processo

de desenvolvimento da personalidade e depende de fatores externos e internos, ou

seja orgânico e social. (ALMEIDA, 2001)

A afetividade é a capacidade do indivíduo em ser afetado por situações

internas e externas a ele, sendo estas de procedência orgânica e também dos

relacionamentos pessoais e sociais, com sensações agradáveis ou desagradáveis.

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Na adolescência, o jovem tem uma expressão espontânea de seus

sentimentos, fala alto, dá risadas e suas funções afetivas ganham relevância. Uma

das características pontuais dessa fase é a ambivalência de atitudes, e sentimentos,

resultantes da riqueza da vida afetiva e imaginativa que causam desequilíbrio

interior. Os jovens têm ora o desejo de oposição e ora conformismo, posse e

sacrifício, renúncia e aventura. Nessa fase, a ambivalência de sentimentos atinge o

mais alto grau. (DÉR, FERRARI, op cit MAHONEY & ALMEIDA, 2012)

Essa vivência de sentimentos opostos faz surgir a necessidade da

conquista, da aventura, de independência, de ultrapassar a vida cotidiana, de

surpreender, de se unir a outros jovens que tem os mesmos ideais. Dessa forma,

também cria desejos de mudanças, hospedando períodos de oposição aos adultos,

demarcando mais ao que este adulto representa (ideias, controle) do que à pessoa.

(DÉR, FERRARI, op cit MAHONEY & ALMEIDA, 2012)

O jogo de alternância de sentimentos que ora tem a necessidade de

dependência, ora tem a oposição ao outro, são recursos que contribuem para a

constituição da identidade e da personalidade do jovem. Nesse sentido, as novas

exigências para afetividade são frutos das reflexões e questionamentos do jovem

que segundo Wallon (1981: 223 219 in DÉR, FERRARI, p. 66, op cit MAHONEY &

ALMEIDA, 2012) “procura um significado, uma justificação, para as diversas

relações de sociedade que anteriormente aceitava e na qual parecia estar apagado.”

1.5 ADOLESCÊNCIA E INFLUÊNCIAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS

A análise do desenvolvimento adolescente contribui consideravelmente

para a compreensão desta fase que para alguns é transcorrida mansamente e que

ao mesmo tempo para outros são mais agitados e conturbados.

Socialmente está exposto ao mundo e este influencia sua forma de

pensar e agir.

A contemporaneidade, vivenciada pelos adolescentes se difere em muito

da época que seus pais viveram, resultando um embate de gerações.

De acordo com os estudos de Outeiral (2003) vive-se hoje numa pós-

Modernidade, com diversos fatores que inspiram o comportamento do adolescente,

este que está em transição, que precisa do novo, do diferente e que experimenta as

sensações que o consumismo, a mídia e a tecnologia oferecem de bom e prazeroso.

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Têm-se uma sociedade em mudanças, com rápidas transformações, onde

prevalece a incerteza e a dúvida, a fragmentação e o falso e que claramente se

denunciam nas famílias e nas escolas. (OUTEIRAL, 2003)

Através dos meios de comunicação multimídia várias funções são

preenchidas e oferecidas “prontas”, como enfatiza Outeiral (2003) à geração

“delivery”. Característica da geração “fast food” para serem consumidas por um

“espectador que assiste”. E quem assiste, o faz de maneira passiva, não é

necessário imaginar e criar, pois tudo está criado e pronto.

Algumas características pós-modernas produzem a consciência da dês-

subjetivação, des-historicização por meio da imensurável produção descartável, bem

como a banalização4 que modifica a maneira de percepção dos fatos.

Nesse contexto, a transição da infância para a idade adulta vai coexistindo

com a revolução pós-moderna que traz a formatação dos conceitos. Estes,

sutilmente influenciam as leituras que os mesmo fazem do mundo.

Aspectos contemporâneos incorporam-se às transformações

biopsicossociais adolescentes, o que gera a necessidade do contexto educacional

administrar mecanismos com práticas produtoras de sentidos e significados para o

adolescente.

À medida que as crianças sobem de série, há um decréscimo no

interesse (diminui a motivação intrínseca) e facilmente se instalam dúvidas quanto à

capacidade de aprender certas matérias. (STIPEK,1993 in BZUNECK, 2002, op cit

org. BORUCHOVITCH E BZUNECK, 2002)

Os problemas apresentados nas séries posteriores apresentam

tendências a serem mais complexos e profundos por sofrerem influências das novas

exigências dos diferentes tipos de disciplinas bem como pela incidência dos fatores

ligados às características evolutivas do aluno (BZUNECK, 2002)

A falta de atenção é um dos indicadores mais importantes para aprender.

Pois precisa ter a atenção nas informações e explicações que o professor transmite

na aula para que de posse deles realize a transformação para o conhecimento.

Nesse sentido o educador precisa acompanhar esses alunos que estão

inseridos em uma contemporaneidade diferente. Necessitando garantir condições

4 Banalização: é um mecanismo mental que se desenvolve insidiosamente e, dessa maneira (de uma

forma sutil e silenciosa), modifica um paradigma. José Outeiral. Adolescer. 2003

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para que ele aprenda nessa realidade, trabalhando com o perfil de aluno real em

sala de aula.

Para que ocorra aprendizagem, os meios devem estar postos de forma a

mexer com a motivação interna do aluno, pois se ele não querer não irá aprender.

Para assimilação de conteúdos o aprendiz adolescente deve ser protagonista de sua

aprendizagem. É necessário assumir o processo ativo em receber as informações e

transformar em conhecimento através de sua ação mental.

De acordo com Aquino (1996), as crianças e os adolescentes são ávidos

pelo saber, pela descoberta, pelo novo, pela ultrapassagem do óbvio, mas tudo isso

se são instigados a fazer com a aventura de desconstrução e reconstrução dos

processos que emanam da realidade dos fatos cotidianos incidindo diferentes pontos

de vistas sobre eles.

Assim como afirma Bzuneck (op cit BORUCHOVITCH & BZUNECK, 2002,

p. 11) “tal envolvimento consiste na aplicação de esforço no processo de aprender e

com a persistência exigida por cada tarefa”.

Educadores devem ter consciência que as relações que o nosso aluno

estabelece com o mundo é diferente dos adultos. As informações recebidas do

mundo chegam através da semiótica, de sons, imagens, com um método muito

atrativo, com variados elementos disponíveis de acesso rápido, de transformação e

manipulação com características particulares.

É inquestionável que a escola precisa rever seus conceitos trazendo

relevância na forma de apresentação da aula com a utilização de situações práticas,

recursos tecnológicos, contextualizar a realidade do aluno no mundo atual,

paralelamente a um trabalho de sequência lógica para que o aluno estabeleça

relações entre o conteúdos que se vai ministrar e alcance significado (fazer

referência aos conhecimentos prévios).

A promoção do conhecimento através de um contexto rico em

oportunidades de estímulos é referenciada também por Costa (1999), com a criação

de espaços, salientando a postura do educador como sujeito que cria os

acontecimentos, que articula o espaço, tempo, as coisas e as pessoas para produzir

um ambiente que proporcione ao educando adolescente assumir como sujeito, tanto

quanto possa originar em si sua iniciativa, responsabilidade e compromisso.

Mediante o exposto, a escola passa ser de fermentar a experiência do

sujeito através do convite à descoberta, pela ultrapassagem do óbvio, tudo irá

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depender da postura afetiva e da proposta por meio da qual o educador fará para

que o conhecimento seja construído.

2 RESULTADOS DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO E DISCUSSÕES DO

GRUPO DE TRABALHO EM REDE E GRUPO DE ESTUDOS DO LOCAL DE

IMPLEMENTAÇÃO

Na busca de refletir as peculiaridades do desenvolvimento adolescente,

coube fundamentar por meio de estudos científicos, abordagens que elucidassem

aspectos do desenvolvimento humano, bem como teorias que versam a apreensão

do conhecimento dessa fase singular da vida humana.

O primeiro esforço da pesquisa consistiu em delimitar aspectos

fundamentais relativos a essa fase que se apresentassem mais relevantes,

tencionando conformidade representativa ao âmbito educacional.

Para atingir o objetivo pretendido realizou-se um estudo qualitativo de

referenciais definindo o plano teórico para análise e explicação dos condicionantes

da problemática analisada.

Importa entender que considerar a adolescência como uma fase do

desenvolvimento humano significa compreendê-lo numa relação individual e social

permitindo a superação de análises pautadas em senso comum.

No transcorrer da implementação da Produção Didática Pedagógica,

alguns redirecionamentos foram realizados de modo a readequar ao calendário

escolar, necessitando reformular a proposta de Grupo de Estudos presenciais, à

uma proposta presencial e à distância.

É importante salientar que a socialização do projeto no Grupo de Trabalho

em Rede possibilitou discussões que levantaram observações do contexto

educacional, evidenciando problemas no relacionamento entre professor e aluno

adolescente, intensificado de modo negativo enfrentamentos pautados em

confrontos. Essa consideração permeou várias contribuições neste enfoque,

aludindo à necessidade de formação dos profissionais por meio de diversas áreas

do conhecimento. Ressaltou-se muito a Ciência da Psicologia ao trabalho

educacional, tanto de professores e pedagogos, quanto de agentes educacionais.

A esse respeito encontrou-se a seguinte colocação de uma cursista do

Grupo de Trabalho em Rede

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Os educadores que trabalham no Ensino Fundamental II devem ter em mente a necessidade de ler e se atualizar sobre a fase da adolescência e os sujeitos que nela estão, pois um erro comum nas nossas escolas é o tratamento inadequado dos adolescentes e a falta de compreensão para com eles, criando assim, novos e desnecessários conflitos. Nessa prática pautada pela falta de diálogo e de compreensão, os adolescentes sentem-se compelidos a negar a autoridade dos professores e a contestar toda e qualquer forma de normatização e regra. (...) Nesse sentido, é que reforço a necessidade de leitura e estudo, para melhor compreender e melhor se preparar para lidar com situações de rebeldias, discórdias e enfrentamentos sem perder de vistas a formação do sujeito. A prática educativa de partir do entendimento do outro.

Imediatamente, apontamentos foram levantados aos relacionamentos no

cerne familiar e no meio social, que influenciam na constituição do sujeito, bem

como as transformações psíquicas, que corroboram para uma transição mais

confusa nesta etapa do ciclo vital.

Conhecendo o adolescente percebe-se como os adolescentes procuram afirmar sua identidade pela forma de se vestir, falar e nós adultos/educadores possuímos um certo preconceito em relação a essa forma de se expressar, por vezes julgando que o adolescente é aborrecente, irresponsável, consumista... e assim é que afastam-se de nós ficando sem a devida atenção e orientação tão necessária na fase em que se encontram. Nesse sentido, ao serem mal compreendidos pela própria família, escola e ambiente social que frequentam, é que pode acarretar ao adolescente a exposição a experiências negativas, bem como a situações de riscos.

Outra preocupação constante percebida no GTR consiste na influência

que a mídia exerce, através dos meios de comunicação incitando inquietações à

imagem corporal, consumismo e recomenda-se a educação em trazer a

possibilidade de uma formação cidadã. Como observado por um dos participantes

do GTR:

O referencial cultural da sociedade ocidental é o corpo. Isto não é gratuito. Há um interesse comercial na promoção do corpo e de sua satisfação. Mas eu entendo que, numa sociedade de consumo, onde a mídia é voltada unicamente para vender algo ou para defender interesses dos grupos sociais dominantes, ela é ainda mais nefasta. (...) Não há como dissociar o poder da mídia. E sua influencia se estende não somente aos adolescentes, mas a toda a população. Há que se notar que, ao lado das grandes redes de televisão, se estabelece outras redes sociais, na internet, onde, de forma mais democrática e livre se podem opinar em todas as direções, inclusive contra o poder midiático vigente.

A respeito das diversas colocações postadas pelos cursistas, constatou-

se a atribuição de grande importância à afetividade, ressaltando a necessidade de

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respeito e diálogo honesto com os alunos adolescentes, assim comenta outra

participante do GTR:

(...) uma questão muito pertinente, afetividade é coisa que se conquista não é algo momentâneo,mas que é construído dia-a-dia e para obtê-la é preciso a cumplicidade de ambos os lados professor e aluno.Muitas vezes o professor afeta o aluno de maneira a contribuir positivamente com o seu aprendizado e pode também ser o contrário,e é aí que está o problema porque o adolescente sendo afetado negativamente tende a se afastar do professor e passar a rejeitá-lo.Quando isso acontece há também a indisciplina,os conflitos e a não aprendizagem.

Outros aspectos mencionados pelos participantes do Grupo de Estudos

realizado no local de implementação da proposta, conduziram discussões sobre a

espécie do conhecimento sobre sexualidade que os adolescentes possuem. Além

disso, a preocupação com o nível de desenvolvimento para aprendizagem

constituiu-se em reflexões que estabeleceram importantes conclusões para a

elaboração da prática, bem como à forma de apresentação do conteúdo.

Do mesmo modo, em virtude do que foi declarado nas contribuições dos

cursistas do GTR, também foi atribuído relevante importância à afetividade para

assimilação de conteúdos, vínculos acolhedores do ambiente escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando os conhecimentos existentes da adolescência constatou-se

excelentes abordagens que referendaram os aspectos fundamentais relativos à essa

fase.

É possível afirmar que mediante as colocações dos professores do GTR e

no Grupo de Estudos do Colégio, superou-se nesse ponto, percepções imediatistas

e análises mecânicas ultrapassando considerações aparentes em direção a uma

perspectiva mais próxima do real. Dessa forma a figura adolescente, impregnou-se

de sentidos e significados à relação entre o todo e suas especificidades.

O presente trabalho PDE foi de vital importância para o profissional

Pedagogo que por meio de conhecimentos aplicados verificou-se resultados

positivos e gratificantes, delineando uma ação mais conseqüente. Concedeu-se

sentido em reformular posicionamentos preconceituosos na tentativa de ressignificar

práticas pedagógicas em vista de uma atuação mais humanizada.

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Para o contexto educacional do Colégio Machado de Assis foi de grande

valia a realização deste trabalho. Levando-se em conta o que foi observado, além de

se constituir como um dos primeiros esforços concretos de compreensão dessa fase

adolescente permitiu principalmente que Professores, Pedagogos, Agentes

Educacionais I e II pudessem ter a noção dos mecanismos físicos, psicológicos,

neurológicos e sociais que interferem nos comportamentos dos alunos adolescentes.

Acrescenta-se também a reorientação do olhar ao adolescente nos relacionamentos

conflitivos oriundos das turbulências adolescentes e agravados por embates que

conduziam também à desmotivação aos interesses escolares.

Portanto, percebeu-se a intenção de vitalizar humanamente a atuação

educativa, instrumentalizada do compromisso de desvencilhar o que se aparenta

das reações adolescentes e a responsabilidade de oportunizar espaços que

realmente sejam educacionais.

Sem dúvida, no contexto educacional há muito que se fazer no que

compete a uma prática significativa que superem o desinteresse do aluno

adolescente. Todavia a compreensão dos aspectos que interferem no seu

desenvolvimento e comportamento é um dos avanços que atentam caminhos mais

esperançosos, tendo em vista uma prática pedagógica que se proponha angariar o

interesse do adolescente.

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