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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · escola é entendida em nosso trabalho como “arena de luta”, na qual as estratégias e modos de vida são contestados sempre

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Ficha de Identificação - Produção Didático-pedagógica

Professor PDE/2013

Título Diversidade Étnica Racial: Limites e Possibilidades de Implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/08

Autor Valdacir José Ramão

Disciplina/Área (ingresso no PDE) História

Escola de Implementação do

Projeto e sua localização

Colégio Estadual Dep. Arnaldo Faivro Busato – EFMNP

Município da Escola Pinhais-PR

Núcleo Regional de Educação Área Metropolitana Norte

Professor Orientador Profª Dra Ana Elisa de Castro Freitas

Instituição de Ensino Superior UFPR (Setor Litoral)

Relação Interdisciplinar (indicar,

caso haja, as diferentes

disciplinas compreendidas no

trabalho)

Ciências Humanas e Artes

Resumo: Este projeto de intervenção escolar tem como foco o tema da diversidade étnica racial negra e indígena. Seu desenvolvimento concentra-se no Colégio Estadual Deputado Arnaldo Faivro Busato, localizado no município de Pinhais, estado do Paraná. As atividades focalizam mais diretamente uma turma de primeiro ano do Ensino Médio, do período da manhã, embora as ações projetadas envolvam interlocutores cuja atuação abrange todo o espaço político-pedagógico escolar. A pesquisa terá abordagem qualitativa com ênfase no método hermenêutico. Esta opção, em nosso entendimento, potencializa a interlocução entre campos disciplinares tais como filosofia, sociologia e história. O objetivo geral: é verificar as possibilidades e limites da implementação das leis 10.639/03 e 11.645/08 no espaço escolar.

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Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Diversidade Étnica racial, Lei 10639/03, Lei

11645/08, Educação.

Formato do Material Didático Caderno Pedagógico

Público Alvo (indicar o grupo para

o qual o material didático foi

desenvolvido: professores,

alunos, comunidade...)

Gestores; Equipe Multidisciplinar; Funcionários;

Docentes da Área de Ciências Humanas no Ensino

Médio; Docentes de Artes no Ensino Médio e

estudantes de uma turma de primeiro ano do Ensino

Médio.

Recursos:

Recursos Humanos: Professor da disciplina de história, integrante do

Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE/2013 e Gestores; Equipe

Multidisciplinar; Funcionários; Docentes da Área de Ciências Humanas no

Ensino Médio; Docentes de Artes no Ensino Médio e estudantes de uma turma

de primeiro ano do Ensino Médio.

Recursos Físicos: Uma das salas de aula ou de coordenação

pedagógica da escola de implementação para realização dos encontros com

Grupo de Estudo e demais atividades necessárias a implementação do projeto,

além do saguão da escola para exposição dos trabalhos sínteses dos alunos.

Recursos Materiais e didáticos: Caderno Pedagógico produzido para a

implementação, textos selecionados para estudo, legislação, aparelho

multimídia para apresentação da Produção didático-pedagógica, e demais

atividades.

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Técnicas:

Para a implementação das atividades propostas neste Caderno

Pedagógico haverá necessidade de encontro de grupos, atividades em grupos

e em duplas. Sensibilização dos sujeitos em grupos.

Tempo:

O projeto será implementado no período de fevereiro a julho de 2014,

conforme cronograma estabelecido no Projeto de Intervenção, culminando com

a produção do Artigo Científico.

Avaliação:

A avaliação será realizada mediante acompanhamento de formulários

próprios do programa pelos envolvidos nas diversas instâncias: Direção e

Equipe Pedagógica da escola de implementação e representante do PDE no

NRE. Quanto ao êxito do projeto e se as ações alcançaram os resultados

esperados ocorrerá na última etapa da implementação, quando os participantes

como público-alvo Gestores; Equipe Multidisciplinar; Funcionários; Docentes da

Área de Ciências Humanas no Ensino Médio; Docentes de Artes no Ensino

Médio e estudantes de uma turma de primeiro ano do Ensino Médio, poderão

avaliar.

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SUMÁRIO 4

AGRADECIMENTO 5

APRESENTAÇÃO 6

1. INTRODUÇÃO 7

2. DIVERSIDADE ÉTNICA RACIAL: LIMITES E POSSIBILIDADES DE

IMPLEMENTAÇÃO DAS LEIS 10.639/03 E 11.645/08

11

2.1 Procedimentos 11

3. INTRODUÇÃO TEMÁTICA: CONSTRUÇÃO DAS PERCEPÇÕES 13

3.1- Discutindo Diferenças em Raça e Etnia na Escola 14

3.2- Atividades: Dialogando Sobre Nossas Diferenças 17

4. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DO TEXTO: DIVERSIDADE E

PRESENÇAESCOLAR

19

4.1 Facilitando a Leitura 20

4.2 ATIVIDADES: Consolidando Leitura e Interpretação do Texto 21

4.3 Diversidade: Formação de Professores na Perspectiva Intercultural 22

5. A QUESTÃO INDÍGENA EM SALA DE AULA 35

5.1 Dialogando com a questão indígena em sala de aula 38

5.2 Um pouco da temática e a Legislação vigente no Brasil 39

5.3 Repensando o que diz o senso comum sobre o indígena: Algumas

ideias equivocadas sobre os índios

41

5.4 Problematizando nossa conversa 46

5.5 Uma outra conversa: continuando 47

6. LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO 49

6.1 Territórios Ameríndios: espaços de vida nativa no Brasil meridional. 50

REFERÊNCIAS 57

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AGRADECIMENTO

Este Caderno Pedagógico é resultado de minha participação no

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) – 2013, oferecido pela

SEED/PR aos professores (as) da Rede Pública Estadual em trabalho conjunto

com a Instituição de Ensino Superior, UFPR. Desse modo, propiciando ao

professor (as) a ampliação de conhecimento na área de formação e visando o

aprimoramento na sua prática docente num contexto contemporâneo escolar.

Agradeço a minha orientadora professora Drª Ana Elisa de Castro

Freitas pelo apoio, disponibilidade e contribuições significativas para a

elaboração desta Produção Didático-Pedagógica e a todos (as) os (as)

profissionais da educação envolvidos neste processo.

Agradeço aos à Direção do Colégio Estadual Dep. Arnaldo Faivro

Busato – EFMNP, aos professores e alunos que deste trabalho participam e

que sem suas colaborações não haveria como se desenvolver.

Enfim, agradeço ao Deus de tantos Nomes por mais esta oportunidade

de estudo, de reflexão e de consciência a respeito da vida.

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APRESENTAÇÃO

Esta Produção Didático-pedagógica no formato de Caderno Pedagógico

foi elaborada para atender aos propósitos do Projeto de Intervenção Pedagógica

na Escola, PDE- 2013/2014, tendo como área de estudo a diversidade étnica

racial negra e indígena no âmbito escolar. O objetivo geral deste estudo é

verificar as possibilidades e limites da implementação das leis 10.639/03 e

11.645/08 no espaço escolar.

O estudo deste material é indicado aos gestores; equipe multidisciplinar;

funcionários; docentes da área de ciências humanas no ensino médio; docentes

de artes no ensino médio e estudantes de uma turma de primeiro ano do ensino

médio. A pesquisa que fundamenta o projeto elege a perspectiva weberiana de

raça e etnia como fruto de relações sociais e históricas (WEBER, 1944).

Entretanto, trabalha-se mais diretamente com Tomaz Tadeu da Silva, por ser um

autor do campo da educação, dedicado à análise do poder no contexto da teoria

do currículo.

No estudo de caso em questão – a Escola Estadual Deputado Arnaldo

Faivro Busato -, trata-se de reconhecer a diversidade étnica e racial negra e

indígena como produtos históricos e resultantes do processo de configuração do

Estado nacional brasileiro, no esforço de avançar e contribuir para o

reconhecimento das especificidades da temática no que diz respeito à realidade

regional sul, ao contexto do estado do Paraná, e mais especificamente à história

dessas relações no município de Pinhais e nos bairros da comunidade escolar,

aproximando a “História” das “historias de vida” das pessoas concretas e

contemporâneas.

A escolha do tema tem suas raízes nas experiências e vivências

escolares do proponente do projeto, como aluno e docente negro. A partir da

experiência, da trajetória docente, da história de vida do autor, emergem eixos-

desdobramentos culturais, sociais e econômicos que assumem elevado valor

heurístico à investigação da dimensão racial, ingressando como elementos

organizadores do ponto de partida para o desenvolvimento de nossa pesquisa-

intervenção.

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1 INTRODUÇÃO

Esta produção didático–pedagógica tem como foco o tema da

diversidade étnica racial negra e indígena. Seu desenvolvimento concentrou-se

no Colégio Estadual Deputado Arnaldo Faivro Busato, localizado no município

de Pinhais, estado do Paraná. As atividades focalizam mais diretamente uma

turma de primeiro ano do Ensino Médio, do período da manhã, embora as

ações projetadas envolvam interlocutores cuja atuação abrange todo o espaço

político-pedagógico escolar.

A pesquisa que fundamenta o projeto elege a perspectiva weberiana de

raça e etnia como fruto de relações sociais e históricas (WEBER, 1944).

Entretanto, trabalha-se mais diretamente com Tomaz Tadeu da Silva, por ser

um autor do campo da educação, dedicado à análise do poder no contexto da

teoria do currículo.

No estudo de caso em questão – a Escola Estadual Deputado Arnaldo

Faivro Busato -, trata-se de reconhecer a diversidade étnica e racial negra e

indígena como produtos históricos e resultantes do processo de configuração

do Estado nacional brasileiro, no esforço de avançar e contribuir para o

reconhecimento das especificidades da temática no que diz respeito à

realidade regional sul, ao contexto do estado do Paraná, e mais

especificamente à história dessas relações no município de Pinhais e nos

bairros da comunidade escolar, aproximando a “História” das “historias de vida”

das pessoas concretas e contemporâneas.

A escolha do tema tem suas raízes nas experiências e vivências

escolares do proponente do projeto, como aluno e docente negro. A partir da

experiência, da trajetória docente, da história de vida do autor, emergem eixos-

desdobramentos culturais, sociais e econômicos que assumem elevado valor

heurístico à investigação da dimensão racial, ingressando como elementos

organizadores do ponto de partida para o desenvolvimento de nossa pesquisa-

intervenção.

Nas escolas, encontram-se valores diversos, de concepções de mundo,

de seres humanos e de práticas fundamentadas nas mais amplas e complexas

matizes teóricas de currículos e, portanto, de práticas pedagógicas.

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Tomás Tadeu da Silva (2009), estudioso dessa temática, aponta para

três grandes eixos teóricos, sugerindo as teorias tradicionais, as teorias críticas

e as teorias pós-críticas.

O mesmo autor apresenta a distinção entre as diferentes teorias

curriculares, examinando os conceitos que as configuram, desde seus

pressupostos pedagógicos de ensino e aprendizagens, até para esquemas que

demonstram as construções que estruturam as relações de poder, a

elaboração de teorias e a produção contínua de emaranhados ideológicos. A

escola é entendida em nosso trabalho como “arena de luta”, na qual as

estratégias e modos de vida são contestados sempre que não representam o

“todo” nas “partes” da educação. Nas palavras de Moreira,

A escola continua a ser vista como uma arena política e cultural na qual formas de experiência e de subjetividade são contestadas, mas também ativamente produzidas, o que a torna poderoso agente da luta a favor da transformação de condições de dominação e opressão. (MOREIRA, 1999. p.9).

Todavia, é também nas escolas que encontramos pessoas de diversas

culturas e identidades e que historicamente dizem, falam e agem de forma

diferente de nós. Por isso, justifica-se a opção da concepção que adotamos e

apresentamos, de uma “possível” sociedade multicultural, que leve em conta a

diversidade e a complexidade de situações de realidades, circunscritas no

território escolar, investigando e revelando - num jogo de espelhos - suas

raízes históricas e sociais. Por isso, estuda-se a diversidade pela ótica do

multiculturalismo, buscando uma compreensão de todas as formas de

diversidade presentes na sociedade - mesmo que neste trabalho privilegiemos

a diversidade étnica e racial negra e indígena. Metodologicamente, focalizamos

a etnia negra num exercício de decifrar o conjunto de categorias adotadas pelo

IBGE (especificamente as categorias “pretos” e “pardos”) e a categoria

“indígena” (produto histórico do processo colonial) compreendemos como

categoria-síntese de um conjunto de uma ampla diversidade de povos e

culturas indígenas - e não como uma única etnia.

A reflexão está pautada nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura

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Afro-Brasileira e Africana. Confere-se atenção especial à Lei Federal

9.394/96, em seu artigo 26-A, que passou

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.

Esta Lei estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para

incluir no currículo oficial da rede de ensino pública e particular a

obrigatoriedade da temática da "História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

Outro marco normativo importante para este projeto de intervenção é

definido pela lei que institui no Estado do Paraná as Equipes Multidisciplinares.

Esta lei considera: a) as normativas vigentes em âmbito nacional: Leis n.º

10.639/03 e n.º 11.645/08 que alteraram a Lei n.º 9.394/96 no seu art. 26-A;

Parecer CNE/CP n.º 03/04; Resolução CNE/CP n.º 01/04; Instrução nº

017/2006 – SUED/SEED: b) a necessidade de regulamentar a composição e o

funcionamento das Equipes Multidisciplinares no âmbito da Secretaria de

Estado da Educação do Paraná (SEED), dos Núcleos Regionais de Educação,

nos Estabelecimentos da Rede Estadual de Educação Básica e nas

conveniadas, com finalidade de orientar e auxiliar o desenvolvimento das ações

voltadas à Educação das Relações Étnico-Raciais e ao Ensino de História e

Cultura Afro Brasileira, Africana e Indígena ao longo do período letivo.

Além destas normas também está contemplada a temática através da

Resolução 04 de 13 de julho de 2010, que estabelece Diretrizes para a

Educação Básica contemplando uma educação de qualidade social. Nos

termos do artigo 11 desta Resolução:

Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que se ressignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo-se as identidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes próprias das diferentes regiões do País.

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Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a superação do rito escolar, desde a construção do currículo até os critérios que orientam a organização do trabalho escolar em sua multidimensionalidade, privilegia trocas, acolhimento e aconchego, para garantir o bem-estar de crianças, adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento entre todas as pessoas.

Como pressupostos teóricos-metodológicos iniciais elegemos a

contribuição fundamental de Gomes (2003, 2010, 2012), Candau (2005, 2006,

2010) e Silva (2009) para refletirmos acerca da cultura, do multiculturalismo,

das diferenças e diversidade escolar.

Justificamos a presente proposição a partir da seguinte contradição: o

marco teórico e normativo parece não estar presente no dia a dia escolar. Por

isso, entendendo seu caráter obrigatório, pretendemos elaborar um projeto de

intervenção pedagógica que perceba sua finalidade e extensão dentro da

escola. A participação dos sujeitos escolares - alunos, professores, gestores e

funcionários - fornecerão dados orientadores à análise dos procedimentos que

estão presentes de forma mais ampla nas diversas situações e práticas

pedagógicas na escola. A contribuição destes referenciais teóricos permitirá

capilarizar a discussão sobre a implementação efetiva das referidas leis no

âmbito educacional. Partiu-se do princípio de que o campo escolar apresenta

situações de resistência dos professores e gestores quanto à efetivação da

temática da diversidade étnica e racial na escola, processo agravado pela falta

de conhecimento, pela falta de formação continuada, pela falta de preparo dos

professores referente tanto à questão indígena quanto à questão negra.

O pano de fundo desta problemática e da presente proposta de

intervenção exige reconhecer que a escola não é uma instância isolada da vida

nacional como um todo e que as assimetrias de recorte étnico racial, visíveis na

sociedade brasileira, se expressam também na escola. Promover uma

intervenção que permita focalizar criticamente essa problemática é o objetivo

maior deste trabalho.

A ideia aqui é desenvolver unidades temáticas que possibilitem uma

compreensão do que seja educação para as relações étnicas raciais. no

entanto como dissemos priorizamos a etnias negras e indígena como objetos e

sujeitos para entendermos como está se dando sua presença na sociedade em

seus direitos.

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2 DIVERSIDADE ÉTNICA RACIAL: LIMITES E POSSIBILIDADES DE IMPLEMENTAÇÃO DAS LEIS 10.639/03 E 11.645/08

2.1-PROCEDIMENTOS:

Para compreendermos as possibilidades e limites das leis 10.639/03 e

11.645/08 nas escolas estabelecemos estratégias de compreensão teórica e

prática em relação á temática junto aos sujeitos da pesquisa. Para isso

propomos 10 passos sequenciados que chegarão à confecção de um artigo

sobre a temática e que de forma indireta atingirão todos os sujeitos da escola.

1º Passo:

- Sensibilização junto aos sujeitos da pesquisa sobre a importância e sua

participação na pesquisa (gestores, professores, alunos, funcionários) para a

escola e para este projeto. Essa sensibilização se dará com uma breve

exposição do projeto de intervenção pedagógica na escola, do programa PDE

e de como se pretende a participação de cada um no projeto. Tempo máximo

30 minutos de exposição. Este passo buscará uma metodologia dialógica,

incorporando sugestões ao projeto, e eventuais ajustes sugeridos pelos

interessados.

2º Passo:

Elaboração de um instrumento de pesquisa a partir dos momentos de

intervenção cotejados por sugestões advindas do passo 1, ou seja, a partir do

momento de sensibilização e esclarecimento de como se dará o projeto de

intenção pedagógica na escola. Esse possível rol de perguntas deverão estar

colocados na confecção do artigo.

3 º Passo: Escolher três questões mais próximas do problema do projeto de

intervenção, dialogar com os alunos, e construir um texto dissertativo sobre a

temática respondendo ao questionário.

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4º Passo:

Correção dos textos. Escolha de uma citação de cada texto dos próprios

alunos, colocá-los em um painel, marcar uma data e expor á comunidade

escolar em data prevista em calendário.

5º Passo: Professores

Após o primeiro passo dado com os professores solicitar que cada um

deles sugira um conteúdo em suas disciplinas e como cada um desenvolveria

tal tema com relação a negros e indígenas.

6º Passo

Recolher o material produzido pelos professores. Utilizá-los como guia

na dinâmica de criação de Grupo de Estudos (prevendo-se 2 encontros com

leituras prévias de textos dos cadernos temáticos elaborados pela própria

SEED para trato da temática racial étnica negra e 2 encontros sobre a temática

étnica indígena na escola, totalizando 4 encontros de Grupo de Estudos). A

partir dos Grupos de Estudos, em conjunto som os professores, retomar os

materiais produzidos inicialmente e em grupo sugerir alterações e

complementos referentes ao tema.

7º Passo

Elaborar um quadro com os seguintes dados a partir do trabalho com os

professores (as) (OBS: questões preliminares serão trabalhadas conforme

previsto no cronograma ao final do projeto).

8º Passo.

Elaboração de quadros a partir dos dados coletados. Momento de relato

de experiências do trabalho desenvolvido em sala de aula e exposição dos

dados em sala reservado com data pré-estabelecida.

9º Passo:

Exposição dos dados coletados em forma de painel á comunidade

escolar.

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10º Passo: Síncrese das atividades:

Construção de material didático: Planos de aulas e Unidade Temática a

partir de todo material coletado destinado aos professores para intervenção

pedagógica na sala de aula.

3 INTRODUÇÃO TEMÁTICA: CONSTRUÇÃO DAS PERCEPÇÕES. A elaboração desta produção didático-pedagógica tem abordagem

qualitativa com ênfase no método hermenêutico. Esta opção, em nosso

entendimento, potencializa a interlocução entre campos disciplinares tais como

filosofia, sociologia e história.

De origem grega a hermenêutica tem função de interpretar a realidade

que está para além do entendimento do homem e possibilita a sua apreensão.

Assim, a hermenêutica como via de interpretação de textos e de realidades tem

a função de evidenciar o que não se apresenta visível.

Este percurso metodológico nos permitirá uma via de interpretação e

análise dos dados da pesquisa de campo e bibliográfica. Mostra-se importante

para o processo ensino-aprendizagem a compressão de muitas perguntas que

aparecem no cotidiano escolar e de nossas vidas na sociedade o porque

fazemos tantas perguntas e que por muitas vezes não tem respostas imediatas

da forma que gostaríamos de tê-las. Quanto a temática aqui desenvolvida e

apresentada por nós, ao longo do percurso veremos que são muitas as

perguntas que se apresentam e que no entanto não teremos receituários aos

problemas que se apresentam. O que teremos são propostas ou sugestão de

caminhos para que possamos caminhar de forma um pouco mais segura no

cotidiano escolar. Contribuição importante para a convivências e as defesas de

direitos das pessoas as quais estão presentes no campo escolar, e curricular.

Aos quais estão presentes culturas, desejos, objetivos, metas, sonhos

diferentes e de pessoas diferentes. Nenhuma identidade se constrói de forma

isolada. Aliás, são os outros que fornecem parâmetros identitários e que nos

percebemos como somos ou de como não somos. Por isso voltemos ao nosso

objeto de discussão.

Segundo Gomes (2010), a compreensão de que a identidade negra não

é monolítica, nem se dá de forma universal, desafia um diálogo entre aqueles

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que participam de um mesmo contexto cultural e sócio-racial. A autora diz que

os perfis dos intelectuais negros são diversos, com formações diferentes, com

orientações políticas diferentes, mas que vivem em um contexto de cultura

afro-brasileira semelhante. Suas experiências e compreensões de mundo

sobre a identidade negra são incompletas, tornando possíveis outras

indagações a respeito das identidades pelo diálogo.

A busca do preenchimento dessas lacunas e a ampliação do seu sentido

só poderão ser feitos mediante um diálogo aberto e intercultural no interior do

universo cultural afro-brasileiro. (GOMES, 2010, p. 513).

3.1 DISCUTINDO DIFERENÇAS EM RAÇA E ETNIA NA ESCOLA

Dessa forma queremos trazer à discussão o conhecimento construído

acerca das diferenças de raça, sexo, gênero e cultura, sobre a diversidade

colabora. Gomes (2007, p. 25), de forma colaborativa, elucida, dizendo que,

[...] todos nós precisamos passar por um processo de reeducação do olhar. O reconhecimento e a realização dessa mudança do olhar sobre o “outro” e sobre nós mesmos a partir das diferenças deve superar o apelo romântico ao diverso e ao diferente e construir politicas e práticas pedagógicas e curriculares nas quais a diversidade é uma dimensão constitutiva do currículo, do planejamento das ações, das relações estabelecidas na escola.

A temática referente ao conceito de “raça” já está bastante discutida no

meio acadêmico. No entanto centralizou-se tais reflexões. Silva (2009, p. 100)

aponta para as fórmulas adotadas no século XX como existindo parâmetros

“supostamente” científicos para classificar os grupos humanos, podendo,

assim, criar meios de dominação que pudessem ser garantidos por vieses

éticos, morais, religiosos e políticos. Dessa forma, identidade e raça aparecem

relacionadas com o poder.

A identidade étnica e racial é, desde o começo, uma questão de saber e poder. A própria história do termo mais fortemente carregado e polêmico, o de “raça”, está estreitamente ligada às relações de poder que opõem o homem branco europeu às populações dos países por ele colonizados. (SILVA, 2009, p. 100).

O autor acima reserva-se o direito de dizer que os estudos da genética

moderna não participam da ideia de que há existência de raças entre a

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humanidade. Seguindo, atrela o conceito de “etnia” como sendo correlata ao de

raça. Mesmo apontando um possível desgaste conceitual desses termos,

concorda dizendo que

Em geral, reserva-se o termo “raça” para identificações baseadas em caracteres físicos como a cor da pele, e o termo “etnia” para identificações baseadas em caracteres supostamente mais culturais, tais como religião, modos de vida, língua etc. (SILVA, 2009, p. 100).

Participando de forma abrangente, mas com certa preocupação, Barros

destaca a ideia de “raça” como uma criação das ciências. “A noção de raça foi

uma criação científica que está sendo dissolvida pela própria ciência”

(BARROS, 2009, p. 220).

No que tange à raça, verifica-se que o termo aparece com o mesmo

significado em outras fontes, como nas Orientações e Ações para a Educação

das Relações Étnico-Raciais (BRASIL, 2006, p. 222), contextualizando o termo

raça, no século XVIII e XIX, em que “caracterizavam os povos apoiando-se nas

diferenças aparentes e os hierarquizavam a seu modo, tratando, sobretudo, as

raças brancas como superiores às raças amarelas e mais ainda às negras,

dentre outras”.

O termo raça, neste trabalho, toma os rumos da ressignificação, da

reconstrução do termo, que o coloca nos patamares do campo sociológico e

pós-estruturalista. Esse termo recolocado adquire uma interpretação e

compreensão como construção social num processo de descontinuidade.

Neste país, veladamente, aparecem formas de discriminação contra grupos

sociais, mulheres, sem-terra, indígenas, mas que têm aparecido com muita

frequência, porém, às vezes, não de forma explícita contra o negro.

Por isso o termo raça é esvaziado em seu sentido, ainda que remonte às

heranças do século XVIII e XIX, que justificaram as teorias racistas e adotaram

uma política do branqueamento. Não entender esse conceito como práticas

sociais definidoras de identidades das políticas governamentais, ou

construtoras de relações sociais, é sem dúvida não compreender os avanços

que houve nas Ciências Sociais durante o século XX e início do século XXI.

Essa construção social da cor é construída “nas tensas relações entre

brancos e negros, muitas vezes simuladas como harmoniosas” (BRASIL, p.

13).

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As características, construídas socialmente e de forma bastante doídas

para o negro, são percebidas nos cursos de formação de professores (as), em

que professores (as) negros relatam que “são muitas as dores da negritude”.

Essas experiências precisam ser faladas e notificadas, pois estruturam as

formas de convivências sociais, culturais e políticas do país. Sobressaltado a

isso, computamos mais e muito mais lugares naturalizados como sendo de

negros e/ou de brancos. Declaradamente, e visivelmente, os estereótipos

físicos e/ou culturais ainda criam espaços desordenadamente para brancos e

negros, em pleno século XXI.

Pode-se exemplificar esta inferiorização na delimitação territorial por

meio das representações nas assembleias legislativas do Brasil e do Paraná.

Numa pesquisa realizada pela União de Negros pela Igualdade (UNEGRO), no

ano de 2011, constatou-se que em 2010 foram eleitos 43 deputados federais

que se autodeclararam negros, num total de 513 parlamentares, totalizando

8,4% dos eleitos. Nas eleições de 2010, no Estado do Paraná, não se elegeu

nenhum deputado federal negro. Não é possível medir qual foi o número de

candidatos negros inscritos para o processo eleitoral. Da mesma forma,

encontramos, na pesquisa, num total de 1059 deputados estaduais e distritais,

somente 39 eleitos que se autodeclararam negros, formando um percentual de

3,7%.

Observando as condições postas para as escolas, evidencia-se a

necessidade de reflexão sobre as representações sociais dentro do ideário

democrático brasileiro para que se possam estabelecer políticas de reparação

social voltadas para o grupo social negro. Pensamos que muitas análises

teóricas são possíveis de se elaborar, a partir do exemplo dado. No entanto, as

perspectivas multiculturais parecem dar o aporte necessário às nossas

discussões.

Por isso a discussão das categorias, como raça e multiculturalismo,

pode contribuir para a educação das relações raciais de formas mais

equitativas e humanas. Os dados descritos acima demonstram que a

representatividade negra nos parlamentos estaduais e federais está aquém de

representar efetivamente sua população. No caso da Região Sul do Brasil, isso

no momento, ou seja, nas eleições de 2006 e 2010, não houve negros eleitos

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para os cargos de deputados federais e estaduais. Tais dados corroboram que

“as características físicas, como a cor da pele, tipo de cabelo, entre outras,

influenciam, interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social dos

sujeitos no interior da sociedade brasileira” (BRASIL, 2004. p. 13).

Interiorizar essa construção social da cor e colocar questões referentes à

representatividade negra e afrodescendente na sociedade e nas escolas

sinalizam positivamente ao que apontam as legislações referentes à educação

antirracista. Porém, historicamente, essa construção se deu de forma tensa,

mesmo que as ideologias lutem para que isso não apareça, a escola e os

currículos, cumprindo o seu papel social, precisam contemplar essas temáticas.

Claro que isso não ocorre sem existir conflitos, pois é tomada de consciência e,

destaque-se para isso, reposicionamento frente às possibilidades do poder

escolar, institucional e cultural.

3.2 ATIVIDADE 2 - Dialogando sobre nossas diferenças Encaminhamento Metodológico: Atividade em dupla

Conteúdo Estruturante: Diferenças e semelhanças

Orientação: Após assistir ao filme Lincoln (2012) da direção de Steven

Spielberg elabore uma síntese comparativa entre o filme e a realidade de

negros e indígenas na sociedade brasileira tendo como aporte os conceitos

expostos anteriormente. Esta síntese deve conter no mínimo uma lauda.

1-A partir de algumas considerações sobre a temática do filme e do texto base

destaca-se algumas categorias/palavras que vocês poderão dialogar entre os

colegas e exemplificar relatando-os:

a) Preconceito/racismo:

b) Argumentos Contrários à aprovação da Emenda Constitucional para a

libertação dos escravos americanos:

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c) Argumentos a favor da aprovação da Emenda Constitucional para a

libertação dos escravos americanos:

d) Destaque algumas cenas do filme onde se percebe o jogo da

democracia presente:

2- Em que sentido esta atividade de debate com seus colegas contribuiu para

que suas ideias primárias sejam questionadas? Destaque um ponto e depois

relate à turma.

3- Pesquisa e reflexões sobre os conteúdos discutidos: Neste momento você

deverá fazer uma pesquisa via internet ou na biblioteca em dicionários a

respeito destas categorias abaixo e depois compartilhar com os colegas sobre

suas percepções e diferenças.

a) Etnia

b) Raça

c) Grupos étnicos

d) Identidades

4- O IBGE ( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) costuma categorizar

o povo brasileiro e os classifica por raça/cor. Neste momento autodeclare seu

pertencimento étnico racial. Após, junto com seu professor e em grupo

tabulem os dados sobre as respostas. Discutem em grupo sobre os resultados

de tal levantamento.

a) Porque você escolheu este grupo étnico?

b) Quais sentimentos foram percebidos nesta autodeclaração em

pertencer a determinado grupo étnico?

5- Atividades sobre o filme “Vista Minha Pele” (2003) do diretor brasileiro Joel

Zito Araújo e patrocinado por CEERT – Centro de Estudos das Relações de

Trabalho e Desigualdades, com as seguintes perguntas:

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a) Esse filme tem alguma coisa de diferente? (Espera-se que os alunos (as)

percebam que os papéis de brancos e negros foram invertidos no Brasil).

- Quais são os momentos no filme em que as formas de racismo se manifestam

de forma mais contundentes?

- O que vocês acham da atitude de Luana?

- É possível que existam outras formas de racismo que não estão

representadas no filme? Quais?

6- Atividade imagética:

Foto: Banco de imagens SEED-PR acessada em 08 de dezembro de 2013.

A imagem acima é referente ao Apartheid ocorrido na África do Sul.

Converse com seus colegas e professor a respeito deste fato histórico.

Podemos pensar o apartheid sul-africano como realidade brasileira, ou seja,

existem apartheid aqui no Brasil?

4 LEITURA E INTERPRETAÇÃO DO TEXTO: DIVERSIDADE E PRESENÇA

ESCOLAR

A partir do texto “Diversidade: Formação de professores na perspectiva

intercultural” pode-se elaborar muitas questões sobre esse tema. O enfoque se

dá na perspectiva da formação de professores, no entanto, abordaremos

aspectos que dizem respeito a todos os sujeitos da educação. Este texto foi

apresentado durante o XI congresso Nacional de Educação EDUCERE 2013,

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pelo professor Valdacir José Ramão. Não está sendo utilizado em sua integra.

A referência bibliográfica deste texto está sendo apresentado no final da

unidade III. Façamos boa leitura e que possamos aproveitar e contribuir com

sugestões e críticas.

4.1 FACILITANDO A LEITURA

Para facilitar a leitura do texto, propusemos intercala-lo com “atividades”,

pois entendemos que o estudante-leitor terá maior compreensão se for

estabelecido uma relação esquemática própria. O texto está dividido em partes:

Introdução, Percepções sobre o preparo para trabalhar com a diversidade,

percepções sobre o multiculturalismo, percepções sobre os desafios para a

educação multicultural e conclusão.

Por isso é importante que se estabeleça uma metodologia de leitura.

Segundo Antônio Joaquim Severino (2007, p. 47-49), em seu trabalho de

Metodologia do Trabalho Científico, a leitura desenvolve no estudante-leitor

posturas lógicas que constituem formas mais adequadas para sua formação

tanto nas áreas especificas como de forma geral. Utilizamos este autor para

auxiliarmo-nos na leitura analítica do texto proposto e seguimos aqui sua

proposta de síntese da leitura. Esse método de leitura tem por objetivos:

A) Favorecer a compreensão global do significado do texto;

B) Treinar para a compreensão e interpretação crítica dos textos;

C) Auxiliar no desenvolvimento do raciocínio lógico;

D) Fornecer instrumentos para o trabalho intelectual desenvolvido nos

seminários, no estudo dirigido, no estudo pessoal e em grupos, na

confecção de resumos, resenhas, relatórios etc...

Severino (2007) diz que são processos básicos para o estudo do

texto:

1- Análise textual: preparação para o texto; trabalhar sobre unidades

delimitadas, ou seja, pequenas partes do texto que permitem

maior compreensão: um capítulo, uma parte do texto, trechos do

texto. Leitura rápida e de conjunto do texto. Levantar

esclarecimento sobre o autor do texto, vocabulário e outros...

2- Análise temática: compreensão do texto: responder as seguintes

perguntas: quais são os temas-problema, ideia central e

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secundárias da unidade? Procurar refazer o raciocínio do autor,

refazer a estrutura do texto esquematizando as ideias do autor.

3- Análise interpretativa: Situar o texto no contexto de vida e de obra

do autor, assim como de sua cultura, explicitar pressupostos

filosóficos que justifiquem as posturas teóricas. Procurar fazer

relações das ideias do autor com outros autores conhecidos.

Elaborar um esquema de crítica em relação às ideias do autor

4- - Problematização: discussão do texto; levantar e debater

questões explícitas ou implícitas no texto; debater questões afins

previamente sugeridas.

5- - Síntese pessoal: reelaboração pessoal da mensagem do texto,

construção de outras ideias e argumentos a partir do que se

estudou, leu e refletiu. Permissão para se elaborar um novo texto

como relatórios, roteiros de leituras, respostas a algumas

perguntas, proposição para novos questionamentos ...

Então amigos, segue texto para leitura, reflexão e proposições. É preciso

estudante-leitor, ter presente a importância de se pensar a formação de

professores de forma conjunta e como um todo. Por isso mesmo sendo o texto

direcionado para formação de professores, somos todos responsáveis por este

processo. Aproveite estudante-leitor e questione seu próprio processo de

formação.

4.2 ATIVIDADES: Consolidando leitura e interpretação do texto.

Encaminhamento Metodológico: Atividade individual e coletiva

Conteúdo Estruturante: Processo de formação, interpretação de texto e

diversidade escolar, metodologia de leitura e interculturalidade.

Proposta de Atividades:

1) Como proposta, sugerimos que se consolidem os processos de

leitura que Antônio Joaquim Severino (2007) elencou. Após seguir

todos os passos propostos, encerraremos com um debate em sala de

aula. O debate deverá ter outra dinâmica. Pode ser em forma de

circulo, cada aluno deverá ter suas conclusões e a fala assegurada a

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todos (as) de forma igual. Quanto ao tempo, deverá ser feita durante

três aulas. Numa quarta aula somente o debate com duração de 90

minutos.

4.3 Diversidade: Formação De Professores Na Perspectiva Intercultural

Este artigo “Diversidade: formação de professores na perspectiva

multicultural” tem como objetivo demonstrar a relação entre a atuação de

professores e as concepções de diversidades existentes na escola e seus

sujeitos: professores, gestores, alunos, pais e funcionários. Como problema de

pesquisa perguntamos de que maneira se relacionam as relações às questões

da diversidade e a atuação dos professores em sala de aula? Essas relações

serão demonstradas através dos dados construídos a partir de pesquisa de

campo e de referenciais teóricos próprios do campo do multiculturalismo. Como

referenciais teóricos apontou-se para o que diz Cunha Júnior (2005); Peters

(2000); Candau (2002, 2005); Gomes (2003, 2007); Hall (2006).

Segundo SILVA (2009), essa temática se inscreve na perspectiva pós-

crítica de currículo. Nas escolas, se encontram diversidades de valores, de

concepções de mundo, de seres humanos e de práticas fundamentadas nas

mais amplas e complexas matizes teóricas de currículos. Tomás Tadeu da

Silva (2009), estudioso dessa temática, aponta para três grandes eixos

teóricos, sugerindo as teorias tradicionais, as teorias críticas e as teorias pós-

críticas. Ele apresenta a distinção entre as diferentes teorias curriculares,

examinando os conceitos que as configuram, desde seus pressupostos

pedagógicos de ensino e aprendizagens, até para esquemas que demonstram

as construções de relações de poder e as possíveis teorias e emaranhados

ideológicos.

Silva (2009) apresenta, no livro Documentos de identidades: uma

introdução às teorias do currículo, um quadro que resume as grandes

categorias teóricas, elencando os conceitos por elas estudados. Assim, as

Teorias Tradicionais contemplam as categorias da prática e temas como

“Ensino, Aprendizagem, Avaliação, Metodologia, Didática, Organização,

Planejamento, Eficiência, Objetivos” (SILVA, 2009, p. 17). Por sua vez, as

Teorias Críticas debruçaram-se sobre as temáticas referentes à “Ideologia,

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Reprodução Cultural e Social, Capitalismo, Relações sociais de produção,

Conscientização, Emancipação e Libertação, Currículo Oculto e Resistência”

(SILVA, 2009, p. 17).

Na perspectiva das teorias pós-críticas, aparecem como elementos

relacionados à educação os temas de: “Identidade, Alteridade, Diferença,

Subjetividade, Significado e Discurso, Saber-poder, Representação, Cultura,

Gênero, Raça, Etnia, Sexualidade, Multiculturalismo” (SILVA, 2009, p. 17). A

escola é entendida neste trabalho como “arena de luta”, na qual as estratégias

e modos de vida são contestados sempre que não representam o todo nas

partes da educação.

As pesquisas são meios para se entender o quanto de diversidades há

nos currículos escolares e nas escolas. Para isso buscou-se equacionar os

resultados das pesquisas qualitativas com perguntas semi-estruturadas do

Observatório de Violências nas Escolas da PUCPR que foram elaboradas via

estudo de campo, composto por dados de entrevistas obtidas por meio de

pesquisas qualitativas feitas em 14 escolas das redes municipais e estaduais

de Curitiba e Região Metropolitana. Foram entrevistados 51 professores (as),

24 profissionais das Equipes Pedagógicas e Administrativas: Diretores (as),

Diretores (as) Auxiliares e Pedagogos (as), 47 Funcionários (as), 148 pais e

mães, 489 alunos (as) e 14 Conselheiros Tutelares. Toda a coleta de dados se

realizou no período da tarde. As escolas contempladas pela pesquisa

apresentavam baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB),

como uma escola da região metropolitana, por exemplo, que apresentou índice

de 2,7 no ano de 2009. Todas as escolas se localizavam em bairros com alto

índice de vulnerabilidade social e se situavam sempre no mesmo bairro. Essas

escolas ofereciam Ensino Fundamental 1° ao 5° ano (rede municipal) e 6° ao

9° ano (rede estadual).

A coleta de dados foi realizada durante o 2º semestre de 2010, sendo

finalizada no 2º semestre de 2011, tendo sequência nessa pesquisa como

devolutiva à comunidade escolar durante o 1º semestre de 2012. Desta forma

os dados da pesquisa e a formação dos professores estarão sendo analisados

a partir dos marcos teóricos críticos e pós-crítico de currículo.

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Percepções sobre o preparo para trabalhar com a diversidade

No sentido de entendermos o tratamento dado às questões referentes à

diversidade, perguntamos às equipes pedagógicas e administrativas (gestores)

e aos professores (as), por terem uma maior responsabilidade na condução

dos processos de ensino e aprendizagens, “Você se sente preparado para

trabalhar com a diversidade?”. Diversidade entendida como diferenças

culturais, religiosas, sexuais, étnicas e raciais.

Entre os entrevistados que estão classificados como Equipe Pedagógica

(Diretores, Diretores auxiliares, Pedagogos), percebemos que 66,7% (16)

sentem-se preparados para trabalhar com a diversidade. Responderam que

não estão preparados para atuar com a diversidade 29,2%, ou seja, dos

entrevistados, 7 pessoas não estão seguras em relação à temática, ao

conteúdo ou à forma de trabalho com relação ao tema. Um índice de 4,2% não

respondeu. Possivelmente esta pessoa não entendeu a pergunta, ou não

conhece a terminologia. No entanto, pode-se entendê-la como não

conhecedora, o que aumentaria para 33,4% o número dos que não estão

preparados para o trabalho com a diversidade nas escolas e imperar aí o

silenciamento sobre a temática. Pode-se observar o que diz Cunha Júnior a

partir de Gonçalves (1985),

Ao silêncio sobre esta história e cultura se acrescentaram preconceitos e discriminações, e se naturalizou a ausência desses conhecimentos (Gonçalves, 1985). Quebrar este mau hábito é difícil, pois o erro se cristalizou no tempo. O erro passou por inversões de valores (CUNHA JÚNIOR, 2005, p. 269).

Entre a categoria de entrevistados, o qual denominou-se “professores”,

numa pergunta fechada “Você se sente preparado para trabalhar com a

diversidade”?, obteve-se o resultado apresentado acima. O que constatou-se é

que de fato existem 33,3% que não estão preparados para abordar a temática

em sala de aula assumidamente, o que dá uma margem argumentativa no

sentido de demonstrar o “vácuo” pedagógico existente sobre o tema

diversidade nas escolas. Mesmo que teve um percentual de 58.8% que

responderam estar preparados para aturem com a diversidade. Além do que

2.0% disse estar parcialmente preparado para a diversidade.

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Essa porcentagem alerta no sentido da necessidade de repensar as

políticas públicas voltadas à diversidade. Responderam ao questionário 51

professores, no entanto, 3 não responderam, um número equivalente a 5,9%,

ou seja, 39,2% dizem não se sentir preparados para trabalhar com tal temática

em sala de aula. (...)

Relacionando as categorias de entrevistados “diretores, diretores

auxiliares, equipe pedagógica” e professores permite que se tenha outras

abordagens.

Neste quadro demonstra-se que 61,3% (46), estão preparados para

trabalhar com a diversidade. Este posicionamento unificado é bastante

revelador, pois tomando o Estado do Paraná como exemplo, é significativo em

particular. Nesse Estado, não há escolas de formação de diretores e diretores

auxiliares. Não há concursos públicos que permitam a ocupação desses cargos

por profissionais com formação específica para esse fim. O que de fato revela

de forma concisa a existência de 32,1% de professores que não se sentem

preparados para o trabalho com a diversidade. 1,3% disse estar parcialmente e

5,3% não responderam a pergunta. Pode-se inferir que o não preparo para o

trabalho com a diversidade coloca-os no âmbito das ações pedagógicas

voltadas ao tradicional. Por sua vez, Ramão (2013) diz que é preciso discutir

essa problemática no âmbito do currículo. Assim

Empreendemos discutir o modelo de currículo que desafia os processos hegemônicos culturais de conhecimento e de cultura colocando-nos mais próximos de uma posição de contra-cultura. O currículo possuidor de características que não as dominantes, diferindo do currículo tradicional e ampliando algumas características do currículo crítico. Um currículo com características não verticalizadas, não europeia, não machista, não branco (RAMÃO, 2013, p.21).

Dentro da ideia de desenvolvimento de políticas públicas, as

mantenedoras, o Estado, seguramente poderia observar se essa deficiência

(não-conhecimento) está de forma concentrada em determinadas escolas da

rede municipal ou estadual. Isso se faz necessário para que se planejem

políticas públicas inclusivas, de fato, para a diversidade na escola e no

currículo, associando a outros fatores e formas como identidades e cultura.

Nesse sentido, a cultura africana pode ser contributiva em nossas escolas

como a comunidade que pode ser fator agregador nas culturas das escolas.

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Aspectos que podem ser resgatados por meio da aplicabilidade das legislações

vigentes sobre o tema, por exemplo, a relação com o outro e com a natureza, o

respeito. Essa diversidade étnica pode representar as relações necessárias

para o resgate desta abordagem em sala de aula.

As relações decorrentes desses aspectos nas escolas constituem-se

como campos produzidos pelas relações de poder. Inclui ou se exclui pelas

relações de poder. Por isso e por outros motivos não são inocentes. “A

concepção mecânica dos processos cede lugar, agora, à pergunta sobre suas

funções” (PETERS, 2000, p. 22). Cabe perguntar: O que há de inclusivo e

excludente nas relações escolares?

As relações de poder estão disseminadas em outras relações que não

somente nas instâncias ou instituições e têm imbricamentos nos fazeres, no

agir curricular e pedagógico. Muitas vezes as causas de conflitos escolares

aparecem devido ao tratamento decorrente das questões de diversidade,

revelando a superficialidade ou banalidade dessa temática e apontando-a

como geradora de conflitos nas escolas. “Assumir a diversidade é posicionar-se

contra as diversas formas de dominação, exclusão e discriminação” (GOMES,

2007, p. 41).

Percepções sobre o multiculturalismo

Parece que as diversidades carecem de novos olhares em seu

tratamento. Percebeu-se isso por meio de entrevistas nas escolas com os

profissionais da educação: professores e equipe pedagógica que responderam

a seguinte questão: “O que você entende por multiculturalismo”?

Nesta pesquisa, o que chamou a atenção de uma forma muito particular

foi a pulverização das respostas dadas aos questionamentos sobre o

multiculturalismo. As polissemias estão presentes em todas as respostas,

“conceitos especialmente complexos e polissêmicos” (CANDAU, 2005, p. 16).

Parecem apontar para uma relação íntima com as concepções de cultura.

Quando agrupadas as respostas podem dar sentido num conjunto de

expressões e que de forma isolada poderiam não ensejar a responsabilidade

devida: “São as diversas culturas juntas” (P1); “São as múltiplas culturas

trabalhando juntas” (P2); “É a mistura de todas as culturas” (P3).

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Demonstram a ideia de que as culturas estão interagindo umas com as

outras, sem sobreposição de nenhuma sobre as demais. Contrariamente ao

que Peters (2000) diz ao afirmar certas “verdades”, a partir da perspectiva de

um determinado discurso, o faz apenas por meio do silenciamento ou da

exclusão das proposições (PETERS, 2000, p. 53). Parece apontar para os

princípios da interculturalidade, que somam 54,16%. É o que aponta Candau

(2002) quando diz:

Privilegiamos a abordagem da educação intercultural, que parte de um conceito dinâmico e histórico da(s) cultura(s), como processo em contínua construção, desconstrução e reconstrução, no jogo das relações sociais presentes nas sociedades. (CANDAU, 2002, p. 138).

Nessa concepção, a escola de fato representa o respeito às diferenças,

prevalecessem esses princípios e essas formas de vivência com respeito às

outras culturas. Quando apontou-se para as culturas juntas, nesse sentido,

não significa que essas culturas deixam de existir em suas particularidades. Há

uma valorização de culturas, de jeitos, de vivências quando demonstram sua

percepção de convivências mútuas. Pode estar presente o princípio do diálogo,

respeitoso, até tolerante, mas que respeita as diferenças. Um percentual de

20,83% apresenta outros conceitos de multiculturalismo relacionado às

culturas. No entanto, diferentemente dos posicionamentos anteriores

demonstraram isolamento de culturas, separação. “Muitas culturas” (P8); “Acho

que é variedades de culturas” (P12); “Culturas de diversas formas” (P11).

Esse entendimento de que as culturas das pessoas se completam por si,

isolam-se nas escolas não contribui no sentido de valorizar as raízes dos

protagonistas da educação, uma vez que esse entendimento pode conduzir à

ideia de execução de projetos. Não é vivência e sim momentos vividos para

reviver os “momentos de cultura”. A Resolução 04 de julho de 2010 pondera “II

- consideração sobre a inclusão, a valorização das diferenças e o atendimento

à pluralidade e à diversidade cultural, resgatando e respeitando as várias

manifestações de cada comunidade” (BRASIL, 2010).

Outro percentual que merece ser discutido e que tem relevância com o

que estamos dizendo é a ideia de “diferenças”, num total 12,5%. Configuram

elementos que retratam o multiculturalismo como: “Diferenças” (P14); “São

pessoas diferentes com culturas diferentes” (P15); “Diversidades” (P17).

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Compreender a diversidade é entender outras culturas. 8,33% apontaram

diversos conceitos e 4,16% não conhecem. Inferimos que reviver as diferenças

e a diversidade presentes nas escolas é valorizar as culturas que existem

nelas, sem dominação de uma cultura sobre as demais.

Essa ideia de culturas diversas pode estar representando o exotismo em

relação as pessoas e manifestações culturais. O que é visível e tem respaldo

social se respeita, se convive sem, no entanto, fazer pressão ou se sobrepor à

cultura e às manifestações culturais dominantes. Só são aceitas se não

ameaçarem a cultura hegemônica, sem, no entanto, interagirem com o todo

social. Tem data e tempo, lugar e determinadas pessoas para se manifestarem.

Assim, 29,16% (14) entendem que são “as diferentes culturas” (P6); “Várias

culturas” (P28). Uma representação alta no sentido de entender a cultura

isoladamente, para uma educação que valoriza as demais identidades e

culturas em constante construção, como aponta Candau 2002

[...] no campo da educação multicultural, privilegiamos a abordagem da educação intercultural, que parte de um conceito dinâmico e histórico da(s) cultura(s), como processo em contínua construção, desconstrução e reconstrução, no jogo das relações sociais... (CANDAU. 2002, p. 138).

O que se destaca é o fato do apontamento de elementos culturais como

conhecimento. A abertura para o recorte cultural dentro da escola pode ser

uma possibilidade para outros mundos e outras formas de diferenças, o que

leva a uma educação mais humana. Apontamento feito por 27,08% (13) dos

entrevistados. “Ampliação de horizontes, dos conhecimentos” (P33); “Ter

conhecimento de várias culturas” (P46).

Por outro lado, houveram apontamentos para a cultura brasileira

comportando 6,25% (3). As respostas sobre o multiculturalismo foram dadas

mediante exemplos: “São as diferenças culturais do Brasil que estão

interligadas” (P24); “A mistura de todas as etnias e cada uma com a sua

cultura” (P22). A diversidade cultural aparece em 18,75%(09) nas opiniões.

Outros elementos como religião 2,08% (1), 4,16% (2) apontaram o

conhecimento como multiculturalismo e inclusão 2,08% (1). Não souberam

10,41%(05) e não responderam a questão 6,25% (03). No entendimento

desses sujeitos, o multiculturalismo comporta elementos da diversidade, da

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raça e das etnias, respeitando suas diferenças e convivendo sem perda das

partes envolvidas. Adotam uma compreensão de que a composição brasileira

de fato é multicultural, “existem diferentes tendências dentro deste universo

conceitual que chamamos de multiculturalismo, que têm sido identificadas e

descritas por diferentes autores” (CANDAU, 2005, p. 31). Estão presentes aqui

as relações cordiais sem conflitos gerados pelas relações de poder. Retrato de

uma amorfização das relações sociais. “O interculturalismo... Supõe a

deliberada inter-relação entre diferentes grupos culturais” (CANDAU, 2002, p.

138). As relações multiculturais repõem as identidades numa relação de

igualdade com valorização das diferenças. Não entender as diferenças como

parte do mundo contemporâneo é não reconhecer a própria diversidade.

Percepções sobre os desafios para a educação multicultural

Ao longo da pesquisa percebeu-se a precariedade entre professores e

gestores no sentido de domínio dos temas referentes às questões sobre a

diversidade e as possibilidades de reconhecimento das categorias do

multiculturalismo presentes nos discursos e nas práticas dos educadores em

gerais. Isso através da pergunta sobre “ações para uma educação

multicultural”. Os professores (as) tiveram dificuldades em nomear o que era

multiculturalismo. Não foi diferente em relação às ações que contribuem para

uma educação voltada para as vivências culturais, ao respeito e a valorização

do outro em suas diferenças.

As escolas, assim como os educadores, têm desenvolvido muitas

atividades que correspondem às práticas multiculturais por diversos meios,

principalmente quanto a projetos. Isso aponta para uma compreensão de que a

diversidade e o multiculturalismo estão sendo trabalhados em forma de

projetos. Aponta-se para o princípio da continuidade. Cerca de 36,95% têm

abordado ações para uma educação multicultural via projetos: “teatros,

músicas, projetos” (P2); “Semana Afro”(P7); “Dia da Consciência Negra” (P14);

“aulas especiais” (P28); “projetos de leitura na biblioteca, palestras, teatros”

(P31); “projeto cultural afrodescendente” (P51).

Poder-se-ia estar contemplando uma cultura de projetos, mas as

frequências dos acontecimentos isolam quaisquer possibilidades de avançar

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para além dele. Como disse um sujeito em seu discurso: “Teremos semana

cultural, duas vezes ao ano” (P 30). Quais são as reais intenções de envolver a

comunidade escolar em dois momentos que requerem organização,

planejamento, publicidade e execução? Corrobora, no que disse Gomes que

“Mapear o trato que já é dado à diversidade pode ser um ponto de partida para

novos equacionamentos da relação entre diversidade e currículo” (GOMES,

2007, p. 17). Um índice considerável (30,43%) disse não desenvolver nenhuma

ação. Percebeu-se isso por meio de falas, como: “Não tem trabalho específico”

(P1); “desconheço” (P16); “Nenhuma” (P23); “não são realizadas atividades”

(P39).

As escolas ainda estão aquém das possibilidades de uma ação voltada

para a educação multicultural, então estão aquém também de uma educação

inclusiva e não contemplam o que dizem as legislações.

Para avançarmos nessas questões, uma outra tarefa faz-se necessária: é preciso ter clareza sobre a concepção de educação que nos orienta. Há uma relação estreita entre o olhar e o fato pedagógico da diversidade e a concepção de educação que informa as práticas educativas. (GOMES, 2007, p. 18).

Nesse sentido, 4,3% diz seguir exatamente o que diz a legislação; “A

partir da lei da história afro” (P49). Parece que há outros entendimentos para

além do que diz a legislação. Não se é possível vivenciar as culturas por

pareceres ou resoluções. No entanto, encontramos 2, 17% dizendo que “São

trabalhadas as diferentes culturais com atividades” (P10). Outra fala diz que a

“Realização de grupos em sala de aula para ter convivência” (P24).

Outras 13,04% não responderam. Esse contingente não está no

conjunto de pessoas e saberes os quais Gomes se refere. Porém, “elas se

constroem no contexto social e, sendo assim, a diversidade pode ser entendida

como um fenômeno que atravessa o tempo e o espaço” (GOMES, 2007, p. 19).

Os dados apontam para diferenças entre as tabelas 22 e 23: professores

e gestores no sentido de ações para a multiculturalidade, que apresentam um

diferencial de 17,21%. Os gestores e equipes orientam à diversidade em

relação aos projetos, alerta 8,33% e estão consolidados em falas como:

“Orientação aos alunos para que não tenham preconceitos” (P15). Ou ainda

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como projetos: “Os professores trabalham com o tema” (P11); “Projetos

consciência negra e indígena” (p. 12).

Para que se compreenda que a escola é um campo de expressões das

diferenças e da diversidade e que isso se concretize, parece que é preciso

encontrar formas de vivências e compreensões desses mecanismos por parte

dos agentes educacionais, ou sujeitos protagonistas da educação. Neste

sentido.

Perguntamos a gestores e professores: “Considerando a necessidade de

ações na escola para incentivar uma educação multicultural, quais são as

maiores dificuldades”?

Num percentual de 16,6%, verificou-se que as formas de convivências

têm presença importante: “Para ter uma melhor convivência” (P2); “Conhecer

as diversas culturas” (P12). O entendimento apontado para as vivências com

os outros, em outras culturas, está registrado.

A escola e o seu currículo não demonstram dificuldade de assumir que temos múltiplas culturas. Essa situação possibilita o reconhecimento da cultura docente, do aluno e da comunidade, a presença da cultura escolar, mas não questiona o lugar que a diversidade de culturas ocupa na escola. (GOMES, 2007, p. 28).

Verificou-se que 61,6% dizem que há necessidade de formação para os

professores. Esses profissionais entendem que é necessário formação inicial

ou continuada para que de fato se encontrem formas qualificadas e incentivo à

educação multicultural: “Professor tem que estudar, se preparar” (P9);

“Pessoas capacitadas e parcerias” (P15); “Sempre estar atualizado” (P23). As

formas, as modalidades formativas, também são apontadas pelos sujeitos

dessa pesquisa: “cursos e palestras” (P10); “Conhecimento” (P6);

“aprimoramento” (P7); “estudo” (P20).

No entanto, a responsabilização pelos aspectos de uma formação

voltada para a educação multicultural e sanar as dificuldades encontradas são

apontadas dessa forma: “Nem sempre temos pessoas para trabalhar” (P8);

“Profissionais qualificados” (P5); “Apoio de voluntários” (P19). Parece que as

soluções são esperadas advindas do exterior, do lado de fora dos muros

escolares. “os voluntários “ nesta visão são bem vindos.

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Os professores contribuíram para que houvesse 21,74% de opiniões

referentes ao preconceito como dificuldade para a educação multicultural.

Manifestaram-se dessa forma: “preconceito, questionamentos” (P7); “racismo

preconceito” (P35); “Preconceito externo” (P41); “preconceito de casa” (P41);

“aceitação do grupo ao novo” (P49); “desprivilegia alguém” (P32).

O conjunto da sociedade parece estar com um grande desafio pela

frente, de reconstruir os laços sociais ou recriá-los novamente, pois esses

temas são sociais, para além da família e da escola. Depende muito do

tratamento que muitos professores (as) dispensam aos alunos negros, foi o que

apontou Telles (2004, p. 129). “O tratamento racial distinto de crianças na pré-

escola é alarmante”. Isso foi percebido em todas as falas, porém as pessoas

não nominam de forma clara, atribuindo outras significações.

Os professores apontaram o diálogo ou a falta dele como dificuldade

para se chegar a uma educação multicultural. Não há possibilidade de uma

educação multicultural sem o reconhecimento do outro e dos termos que o

compõem, “especialmente complexos e polissêmicos, tais como „cultura‟,

„identidade cultural‟, „diferença‟, „diversidade cultural‟, „identidade de fronteira‟,

„hibridização cultural‟, entre outros” (CANDAU, 2005, p. 16). Mesmo que os

professores não tenham apontado para o tipo de diálogo, este só existe se

houver uma consideração sobre quem é o “outro” para dialogar. Foram 10,86%

que chegaram a estas respostas: “Fazer com que as pessoas se entendam”

(P12); “interagir” (P26); “tolerância” (P36). O entendimento, a interação e a

tolerância só acontecem com o diálogo. “O diálogo intercultural aponta

precisamente para isso [...] respeito à dignidade humana, que exige o respeito

cultural e o conhecimento mútuo” (ARENHARDT 2007, p. 89).

Por sua vez, 17,39% resumiram assim as dificuldades para a superação

das necessidades para uma educação multicultural: falta de material, “material”

(P10); “espaço físico” (P44); “estrutura” (P47); “que assim mesmo eles nunca

têm material” (P21). O espaço e as questões materiais são captadas nas

respostas que obtivemos. Pensa-se que é importante marcar essas categorias

como possibilidades de investigação mais aprofundadas. Afinal, espaço e

material implicam em resolver as dificuldades para uma educação

multicultural? Pode servir como alternativa, defendendo o que disse Hall

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(2006): “O termo “multiculturalismo” é substantivo. Refere-se às estratégias e

políticas adotadas para governar ou administrar problemas de diversidade e

multiplicidade gerados pelas sociedades multiculturais” (HALL, 2006. p. 50).

Outros 10,86% definem as diferenças como dificuldades para a

educação multicultural: “bagagem cultural para entender e lidar com a

diversidade” (P37); ou ainda “saber lidar com as diferenças” (P24): “saber lidar

com todos” (P23): “diferenças” (P15). O respeito ou a falta dele é apontado

pelos professores (as) como fator que dificulta uma educação multicultural: “o

respeito mesmo” (P15); “respeito” (P29). Compreende-se que as diferenças e

suas decorrências não se apresentam como formas de vivências, mas como

origens de conflitos. Esse quesito é apontado por 8,69%.

“É preciso ressaltar que a existência dessa escola multirracial e,

consequentemente, de práticas docentes que construam essa escola, só é

possível num contexto democrático” (CENEG-NEN, p. 10) Percentual

semelhante é a categoria conhecimento (8,69%), que diz: “falta de

conhecimento” (P28); ou ainda “desconhecimento” (P50); “conhecimento,

desafio da educação” (P11); não sabem o que dificulta ações para uma

educação multicultural 4,34% do corpo docente. Desta forma a Resolução 04

de julho de 2010 no Artigo 9º, diz que “a escola de qualidade social adota como

centralidade o estudante e a aprendizagem” (BRASIL, 2010).

Esses grupos de sujeitos apresentaram uma variedade maior de

categorias ou situações que dificultam as ações para a educação multicultural.

O que se percebe é que há uma preocupação em como trabalhar esse tema,

como vivenciar essa temática, valorizando o outro. Gomes (2007, p. 25), de

forma colaborativa, elucida dizendo que “todos nós precisamos passar por um

processo de reeducação do olhar. O reconhecimento e a realização dessa

mudança do olhar sobre o „outro‟ e sobre nós mesmos a partir das diferenças”.

Á guisa de conclusão pode-se afirmar que pensar a formação de professores

na atualidade, é pensar as demandas advindas da sociedade. Compreender a

escola urge compreender as vivências dos sujeitos que nela e dela fazem

parte. Por isso os resultados obtidos pela pesquisa elaborada pelos

pesquisadores do Observatório das Violências nas Escolas da Pontifícia

Universidade Católica do Paraná, podem servir de referenciais e incentivos a

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outras pesquisas. A partir desses depoimentos, parece que está se tateando

sobre o que são os conceitos, como podem ser efetuadas as práticas

pedagógicas e o que desenvolver em relação a esses temas.

Os aportes teóricos utilizados como referenciais da pesquisa nos situam

como possibilidade de uma releitura, de uma nova compreensão sobre os

sujeitos escolares. Baseados nos teóricos e nos dados da pesquisa é possível

afirmar que valorizar a educação é construir a cada dia um novo olhar sobre as

diferenças presentes nas escolas. Valorizar a educação é lançar um novo olhar

sobre a formação dos professores, seus caminhos percorridos por suas

diversas trajetórias politicas e teóricas. Enfim, lançar um novo olhar sobre a

educação centrada no estudante e no conhecimento e nas suas diversidades.

Por isso as percepções que se obteve foram que:

O número de professores e gestores que a conhecem e praticam a

educação voltada para a diversidade ainda é relativamente baixa. O não

trabalho com a diversidade pode levar ao silenciamento e reforçar com isso a

discriminação e os conflitos dele decorrente. As respostas demonstraram uma

concepção da diversidade trabalhada em sala de aula como projetos

estanques. As políticas públicas voltadas para a diversidade são entendidas

muitas vezes como origem dos conflitos: a vivência com a heterogeneidade

não é compatível com as práticas escolares que tentam

homogeneizar/padronizar currículos e práticas pedagógicas.

Percebeu-se uma prática que reforça o currículo tradicional, não

considerando os princípios da interculturalidade dialogando com as diferenças.

Portanto, há necessidade em mapear o quanto se tem de diversidade no

âmbito e no currículo escolar. Professores e gestores apontam para a falta de

formação voltada para a diversidade tanto na graduação como na modalidade

continuada.

Pensar a diversidade dentro das escolas é sem dúvidas proporcionar

aos sujeitos que estão presentes nela a compreensão de que a escola é

diversa. È colocar os outros como sujeitos de direitos e voltar-se ao diálogo

com as diferenças ainda nas formas de formação docente.

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5 A QUESTÃO INDÍGENA EM SALA DE AULA

Caro aluno, nesta unidade didática nós estaremos fazendo um percurso

sobre um mundo que muitas vezes o imaginamos um tanto longe da realidade.

Neste percurso teremos a oportunidade de refazer o caminho metodológico,

cultural e científico no que tange a existência da população e povos indígenas

em nossa sociedade. Longe da pretensão de dar conta de todos os conceitos e

significados das ontologias antropológicas que envolvem os povos indígenas,

nos propomos a reflexão sobre as linguagens e as artes dos povos indígenas

concentrando-nos nos povos Guarani e Kaingang, por serem as maiores

populações históricas e atuais cujos territórios abrangem parcelas do estado do

Paraná. É intenção nossa refletir acerca dos povos que estão mais próximos de

nós e de nossas existências.

Um bom começo para nós é pensarmos que os povos indígenas, em

nossas representações sociais, não refletem de fato o que são.

De fato são muitas as ideias sobre o índio. O que prevalece são ideias

generalizadas e que perpetuaram em nossa sociedade. São ideias simplistas,

errôneas a respeito do homem e das mulheres indígenas. Nossa intenção é

propor uma possibilidade de construção de novas representações que vão para

além do indígena que “mora na selva”, “que anda seminu”, “que usam penas na

cabeça”. Nossa intenção é presenciar outras possibilidades que envolvem a

vida desses povos. Estamos fazendo esforço no sentido de construção de uma

representação plural do indígena contemporâneo, considerando sua

diversidade, como sujeitos e coletividades que estão presentes com suas

tecnologias e relacionadas às tecnologias da modernidade globalizadas na

sociedade nacional. Que apesar de todos os esforços empreendidos contra

esses povos ainda resistem em torno de elementos que imprimem identidades

a eles. É importante prestar a atenção à ideia de território, territorialidade,

identidade, as linguagens, as formas de representações de sua arte e das

coisas dos outros mundos.

Nossa reflexão se faz via categorias do multiculturalismo e da

interculturalidade já exposto nas unidades anteriores.

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A interculturalidade prioriza a integração dos grupos minoritários no todo social, valorizando uma educação para a paz e garantia dos direitos humanos, contemplada pelo respeito, por práticas de diálogo e convivência multicultural. Na vivência de uma educação intercultural, o sujeito é convidado a promover o diálogo e o intercâmbio de conhecimentos, saberes e práticas culturais. Em tal perspectiva, “as ações são práticas concretas de relações permeadas por respeito, responsabilidade e solidariedade” (CANDAU, 2008, p.23-24). Por meio desta educação as escolas tornam-se um lugar plural e dialógico, onde os sujeitos são convidados a praticar a cidadania e respeitar a diversidade (HANNA; RAMÃO; EYNG: 2013, p. 122).

Esses mesmos autores dizem que os princípios da interculturalidade nos

remetem a três grandes pressupostos para uma educação intercultural que

tenha o diálogo como instrumento para se chegar à convivência social com

qualidade onde se respeito os direitos de todos. “1. o reconhecimento dos

diferentes grupos sociais, 2. o desvelamento dos mecanismos de poder que

permeiam a relações culturais, 3. a relação dinâmica entre os grupos sociais

na produção de cultura”. (HANNA; RAMÃO; EYNG: 2013, p. 123). A

interculturalidade e outros mecanismos apontam para formas de trato com as

diferenças e as culturas. Neste sentido a intenção é produzirmos relações não

hierarquizadas.

A interculturalidade pressupõe inter-relação numa constante troca e reciprocidade entre culturas diferentes. De forma dinâmica, esse processo acontece como integrador entre as pessoas e não como problemática das relações sociais. Aponta-se para a interculturalidade como possibilidade da construção de outras formas de conhecimento sobre outras culturas, valorizando cada uma delas sem hierarquizá-las. (HANNA; RAMÃO; EYNG: 2013. p. 125)

Essa noção de interculturalidade é expandida com outras duas autoras.

Apresenta as possibilidades reivindicadas por movimentos sociais, no entanto

destaca-se que cabe a outras minorias também e não somente para as

populações indígenas. Dizem que

Uma abordagem que nos parece interessante – reivindicada crescentemente por alguns movimentos sociais – é a de que a educação intercultural não deve apenas ter por alvo as populações indígenas, os afrodescendentes e outras minorias presentes no país, mas deve atingir toda a população nacional (PALADINO; ALMEIDA, 2012, p. 19).

Paladino e Almeida (2012) apontam para o aspecto intercultural

presente nos documentos oficiais referentes às políticas públicas. Dizem que

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embora usados pelos movimentos sociais e presentes na legislação, as

categorias diversidade e interculturalidade ainda carecem de esclarecimentos

sobre sua real significância no campo das políticas e da escola. Ainda a

interculturalidade pressupõe inalterada e ininterruptamente a “ideia de inter-

relação, diálogo e troca entre culturas diferentes e supõe a coexistência da

diversidade como riqueza” (PALADINO, ALMEIDA, 2012, p. 15). O trato da

diversidade e da interculturalidade para com as questões relacionadas ao

negro e ao indígena está apresentado nesta citação abaixo:

Propõe um tratamento igualitário da diversidade sem sobreposição da cultura dominante sobre outra subordinada. O avanço deste modelo está em tratar a diferença como fator enriquecedor e não como um obstáculo. A educação intercultural é vista como instrumento de “empoderamento” das minorias, das populações que estão à parte da cultura hegemônica. A ideia seria a de que as minorias, valendo-se do domínio tanto dos seus códigos específicos quanto dos códigos “ocidentais”, poderiam lutar por seu espaço na sociedade e na economia mundial por (PALADINO; ALMEIDA, 2012, p.17).

No que tange à ideia de interculturalidade presente nos documentos

oficiais podemos exemplificar com a aprovação e promulgação de duas

importantes leis nº 10639/031 e lei nº 11645/08 que institui:

a obrigatoriedade da inclusão das historias e das culturas da África e dos afrodescendentes e dos povos indígenas nos currículos de toda a educação básica, um passo importante a caminho da valorização da diversidade étnico-racial e cultural presente no Brasil.( PALADINO; ALMEIDA, 2012, p.18).

Gomes (2008), trás outro elemento que vale a pena comentarmos. É o

aspecto do tratamento da diversidade. Ou seja, os diferentes podem estar

sendo tratados de forma desigual. Isso não resolve questões profundas e

enraizadas como o preconceito, a discriminação, as explorações e/ou

exclusões que acontecem de formas históricas, permeados por relações óbvias

de poder. Ou seja, pode ser que estejamos tratando o indígena simplesmente

cem sua diferença, mas não o concebemos em sua igualdade. “Lutar por sua

igualdade mesmo na diferença contribui para a desmistificação” (RAMÃO,

2013, p. 81), “da ideia de inferioridade que paira sobre algumas dessas

diferenças socialmente construídas” (GOMES, 2007, p. 23).

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Por isso, a presença da diversidade no acontecer humano nem sempre garante um trato positivo dessa diversidade. Os diferentes contextos históricos, sociais e culturais, permeados por relações de poder e dominação, são acompanhados de uma maneira tensa e, por vezes, ambígua de lidar com o diverso. Nessa tensão, a diversidade pode ser tratada de maneira desigual e naturalizada. (GOMES, 2008, p.19)

O diálogo é uma possibilidade na educação intercultural, pois “a

inserção da diversidade nos currículos implica compreender as causas

políticas, econômicas e sociais de fenômenos como etnocentrismos, racismo,

sexíssimo, homofobia e xenofobia” (GOMES, 2008, p. 25).

5.1 DIALOGANDO COM A QUESTÃO INDÍGENA EM SALA DE AULA

Agora, em duplas podemos conversar com os colegas e colocar nossas

noções e significados de diversidade apontando para as relações que estão

presentes nas imagens abaixo.

Foto: Banco de imagens SEED-PR acessada em 08 de dezembro de 2013.

Atividades:

1- Quais são as conclusões que tiramos destas imagens que possibilitam

um rompimento de paradigmas a respeito do indígena no Brasil?

2- Como a cultura pode ser conceituada a partir destas imagens? Ela é

algo estático, anacrônico ou algo dinâmico? O que é então?

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3- Neste momento você deve pegar uma folha sulfite e desenhar usando

sua criatividade sua representação indígena. Seja criativo, mas coerente

com sua ideia de índio.

5.2 Um pouco da temática e a Legislação vigente no Brasil

Nossa discussão a respeito das questões do indígena não é algo isolado

que um professor certo dia acordou e disse “meus alunos devem aprender

sobre a cultura indígena!”. Esse conteúdo e preocupação têm raízes históricas,

assim como a importância de se discutir sobre a temática. Estamos fazendo um

recorte a partir da LDB, Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira. Que

teve seu artigo 26 alterado pela Lei 11645/08, ou seja, altera a Lei no 9.394, de

20 de dezembro de 1996, e modificada pela Lei no 10.639/2003, que

estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo

oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-

Brasileira e Indígena” em todas as escolas. A lei 11645/08 diz que em seu

Art. 1o O art. 26-A da Lei n

o 9.394, de 20 de dezembro de 1996,

passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1

o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá

diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2

o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos

povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileira.

Outro importante marco da legislação é a Resolução nº 4, de 13 de julho

de 2010 que define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação

Básica. Nos seus artigos 37 e 38 sobre a educação indígena diz:

Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em unidades educacionais inscritas em suas terras e culturas, as quais têm uma realidade singular, requerendo pedagogia própria em respeito à

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especificidade étnico-cultural de cada povo ou comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das escolas indígenas, é reconhecida a sua condição de possuidores de normas e ordenamento jurídico próprios, com ensino intercultural e bilíngue, visando à valorização plena das culturas dos povos indígenas e à afirmação e manutenção de sua diversidade étnica. Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser considerada a participação da comunidade, na definição do modelo de organização e gestão, bem como: I - suas estruturas sociais; II - suas práticas socioculturais e religiosas; III - suas formas de produção de conhecimento, processos próprios e métodos de ensino-aprendizagem; IV - suas atividades econômicas; V - edificação de escolas que atendam aos interesses das comunidades indígenas; VI - uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de acordo com o contexto sociocultural de cada povo indígena.

Pensando em termos internacionais apontamos o Decreto nº 5.051, de

19 de abril de 2004. Que promulga a Convenção nº 169 da Organização

Internacional do Trabalho- OIT sobre Povos Indígenas e Tribais.

Art. 1o A Convenção n

o 169 da Organização Internacional do

Trabalho - OIT sobre Povos Indígenas e Tribais, adotada em Genebra, em 27 de junho de 1989, apensa por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém. Art. 2

o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional

quaisquer atos que possam resultar em revisão da referida Convenção ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, nos termos do art. 49, inciso I, da Constituição Federal. (BRASIL DOU, 2004).

No Estado do Paraná, foram instituídas as equipes multidisciplinares em

âmbito estadual em todas as escolas e colégios públicos. Podemos conversar

num outro momento a respeito das experiências e trabalhos efetivados pelas

escolas tanto na rede municipal quanto na rede estadual. Nossa preocupação

neste momento é justamente dizer que a temática que estamos discutindo está

legalizada e instituída no âmbito escolar e cria a resolução nº 3399/2010 que

diz:

A Secretária de Estado da Educação, no uso das atribuições legais, e considerando: Constituição Federal nos seus art. 5º, I, art. 210, art. 206, I, § 1° do art. 242, art. 215 e art. 216, Leis n.º 10.639/03 e n.º 11.645/08 que alteraram a Lei n.º 9.394/96 no seu art. 26 A; Parecer CNE/CP n.º 03/04; Resolução CNE/CP n.º 01/04; Deliberação nº 04/2006 - CEE/PR; Instrução nº 017/2006 – SUED/SEED; a necessidade de regulamentar a composição e o funcionamento das Equipes Multidisciplinares no âmbito da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), dos Núcleos Regionais de Educação - NREs, nos Estabelecimentos da Rede Estadual de Educação Básica

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e nas conveniadas; que as Equipes Multidisciplinares são instâncias de organização do trabalho escolar, preferencialmente coordenadas pela equipe pedagógica, e instituídas por Instrução da SUED/SEED, de acordo com o disposto no art. 8º da Deliberação nº 04/06 – CEE/PR, com a finalidade de orientar e auxiliar o desenvolvimento das ações relativas à Educação das Relações Étnico-Raciais e ao Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena, ao longo do período letivo e; que Equipes Multidisciplinares se constituem por meio da articulação das disciplinas da Base Nacional Comum, em consonância com as Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação Básica e Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, com vistas a tratar da História e Cultura da África, dos Africanos, Afrodescendentes e Indígenas no Brasil, na perspectiva de contribuir para que o aluno negro e indígena mire-se positivamente, pela valorização da história de seu povo, da cultura, da contribuição para o país e para a humanidade (PARANÁ,

Curitiba, 05 de agosto de 2010 Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde).

5.3 Repensando o que diz o senso comum sobre o indígena: Algumas

ideias equivocadas sobre os índios.

Caros alunos, vamos analisar algumas ideias encontradas no texto de

José Ribamar Bessa Freire (2002), “Cinco ideias equivocadas sobre os índios”,

Professor da Faculdade de Educação da UERJ e coordenador, desde 1992, do

Programa de Estudos dos Povos Indígenas. Professor do Programa de Pós-

Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de

Janeiro–UNI-Rio. Este autor diz que “tentar compreender as sociedades

indígenas não é apenas procurar conhecer „o outro‟, „o diferente‟, mas implica

conduzir as indagações e reflexões sobre a própria sociedade em que vivemos”

(FREIRE, 2002, p. 2). Segue a ideia então de que é preciso entender quem é o

indígena que está em nossa sociedade. Procurar compreender as possíveis

deformações provocadas por meios de comunicações sociais, mídias, enfim.

Muitas vezes a ideia que temos a respeito do indígena são ideias difundidas

pela própria escola. A escola sem pretensões de desmistificar o que o senso

comum estabelece, não se esforça para desvelar preconceitos a respeito da

imagem indígena. Como pensamos o indígena na atualidade? Será que é a

realidade de suas sociedades ou ainda carecemos de conhecimento sobre o

indígena contemporâneo?

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A primeira ideia apontada é sobre o “índio genérico”, ou seja, são todos

iguais, mesma língua, hábitos e culturas iguais. Isto não é bem assim. Sabe-se

que hoje temos mais de 200 etnias, e que falam em 188 línguas diferentes.

Compreendendo a linguagem como um sistema simbólico de organização da

experiência humana, esta diversidade linguística exige reconhecer uma

diversidade de sistemas simbólicos de organização dos seres da natureza,

sistemas religiosos, sistemas produtivos, hábitos e costumes distintos. Portanto

não constituem as mesmas culturas e hábitos. Em sua maioria, são povos

bilíngues. Ou seja, aprendem mais de duas línguas. Geralmente quando as

crianças vão para as escolas, vão para lá aprendem a língua portuguesa. Saiba

“No território que hoje é o Brasil, em 1500, eram faladas mais de 1.300 línguas”

(FREIRE, 2002, p. 5). O que nos faz entender que essas línguas não existam

mais e as compreendemos como únicas?

Como sugestão de atividades propomos assistir ao filme da série vídeos

indígenas nossas línguas, da série videonasaldeias.org. Apresentado pela

liderança Airton Krenak. A realidade do filme começa com a situação dos

pankararus (mais de 5000 pessoas) no sertão de Pernambuco, sofreram a

ação dos jesuítas no século XIX e que ainda no século XXI estão presentes. A

ideia de uma única língua é inconcebível, pois falam até quatro línguas para se

comunicarem com as pessoas da região (Amazônia).

Você já tinha ouvido falar que existem as línguas pankararus, baniwa,

caripoco, baré, tupi, nheegatu, caingangue, tapuia... A preservação da língua é

demonstração de resistência e preservação da própria existência. A língua é

elemento que dá identidade. É um exemplo de interculturalidade já discutida

anteriormente. As linguagens são sinônimos de existências. Existência como

indivíduos e como grupo. E as formas de destruição destes elementos culturais

desde 1500 até os dias atuais, são muitas: Coerção, castigos físicos, exposição

vexatórias em públicos, perseguição, morte, a presença das igrejas... O que

podemos dizer a respeito da diversidade cultural linguística presentes nas

sociedades indígenas?

As línguas indígenas, por exemplo, foram consideradas pelo colonizador, equivocadamente, como línguas “inferiores”, “pobres”, “atrasadas”. Ora, os linguistas sustentam que qualquer língua é capaz de expressar qualquer ideia, pensamento, sentimento e que, portanto, não existe uma língua melhor que a outra, nem língua inferior ou mais pobre que outra (FREIRE, 2002, p. 8).

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Outro ponto de vista que aparece como um segundo equívoco

encontrado em Freire (2002, p. 6) é sobre o conhecimento.

Os povos indígenas produziram saberes, ciências, arte refinada, literatura, poesia, música, religião. Suas culturas não são atrasadas como durante muito tempo pensaram os colonizadores e como ainda pensa muita gente ignorante. (FREIRE, 2002, p.6).

Os seus avós e bisavós conheceram uma realidade diferente da qual

estamos acostumados. Cada “esquina” tem uma farmácia e um técnico a

espera para te receitar remédio para todos os tipos de doenças. Nem sempre

foi assim. No “tempo de seus avós”, as casas eram espaçosas, tinham quintais

enormes, grandes hortas e nestes espaços eram produzidos, cultivados muitas

ervas nativas que representavam a farmácia natural e que qualquer um podia

ter acesso á cura de suas enfermidades. Muitos conhecimentos que eles

tinham são heranças do povo negro e do povo indígena que estavam aqui

desde muito tempo. Aproximadamente 12 mil anos.

Você sabia que “O território hoje denominado Paraná foi continuamente

habitado por diferentes populações humanas há cerca de 8.000 anos atrás, de

acordo com os vestígios materiais mais antigos encontrados pelos

arqueólogos”? (MOTTA, 2006. p.13) e que os descendentes destas populações

pré-históricas trazem conhecimento milenar do ambiente e da natureza para

além dos conhecimentos objetivos do mundo moderno? Nas sociedades

indígenas, o conhecimento sobre o mundo natural se confunde com o mundo

espiritual. “Em muitas sociedades indígenas, particularmente as da floresta

tropical, os especialistas obtém uma destreza técnica nas atividades produtivas

e na cura de doenças a partir de suas relações com o mundo dos espíritos”

(GRUPIONI, SILVA, 2004. p. 115). O que está acontecendo é que estes

conhecimentos estão sendo trocados com o mundo não-indígenas por bens e

mercadorias e o retorno aos indígenas as vezes é quase nulo. Este é um

conhecimento da comunidade. Como disse (GRUPIONI, SILVA, 2004. p. 115),

“Uma vez que o povo perde o controle sobre ele, deflagra-se um processo de

etnocídio”.

Você sabia que antes dos europeus chegarem nestas terras já havia

outros povos que ocupavam todo território conhecido como Paraná? Pois é, os

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primeiros habitantes receberam a denominação de “tradição Humaitá”

(MOTTA, 2006. p.14). Povos que ocuparam o sul-brasileiro, Argentina e

Paraguai. Aparentemente não deixaram descendentes históricos conhecidos.

Viveram aqui entre 8000 e 2000 anos atrás.

Seus vestígios mais estudados até o presente restringem-se aos instrumentos de pedra, pois a maior parte de seus objetos eram provavelmente confeccionados com materiais perecíveis que se destruíram ao longo da formação dos sítios arqueológicos. Entre as ferramentas de pedra podemos mencionar os grandes instrumentos lascados bifacialmente, lascas usadas para raspar, rasgar, cortar, tornear, bem como ferramentas para polir, furar, amolar, macerar, moer, pilar e ralar. Eles não elaboravam vasilhas cerâmicas. (SEED-PR, 2006, p. 14).

Os arqueólogos também encontraram vestígios de outros grupos que os

denominavam de “tradição umbu”. Permaneceram na região sul do país,

Uruguai e parte do Estado de São Paulo. Ocupavam as partes mais altas do

estado do Paraná e entre rios. “Nesses locais, construíram suas habitações

tanto a céu aberto como nos abrigos sobre rochas, e no Rio Grande do Sul e

Uruguai, nas áreas alagadiças, construíram os cerritos – aterros artificiais –

onde fixaram suas habitações”(MOTTA. 2006.p.14).

Também a Serra do Mar esteve ocupada de 6000 anos até 1000 depois

de Cristo por grupos das tradições “Sambaquis”. Concentraram-se neste

ambiente devido farta diversidade alimentar da região. Peixes, moluscos,

crustáceos...

Seus principais vestígios são os inúmeros montes – conhecidos por Sambaquis –que construíram intencionalmente com restos alimentares, adornos, conchas, ferramentas, armas, carvões de antigas fogueiras, vestígios de sepultamentos humanos e de antigas moradias(MOTTA, 2006. p. 14-15).

Depois de diversos estudos linguísticos e arqueológicos (MOTTA, 2006),

data-se a presença indígena guarani em nossa região desde 3000 anos atrás.

Eles permaneceram no comando da região até a chegada dos europeus em

1528.

Os Guarani ocuparam os vales e as terras adjacentes de quase todos os grande rios e seus afluentes. Quase nunca estabeleciam suas aldeias e roças em áreas campestres. Todos os sítios arqueológicos localizados estão inseridos em áreas cobertas por florestas, seguindo o padrão de estabelecer as aldeias e as plantações em clareiras dentro da mata.(SEED-PR. 2006.p.15).

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Na tradição Guarani, ao ocuparem determinada nova área, levavam

pertences, sementes, vasilhames, utensílios diversos, dividindo o grupo, mas

sem abandonavam as antigas habitações. São muitos os materiais que servem

como fonte de pesquisas, importantes para que se compreendam as formas de

vida daqueles povos. (vasilhames de cerâmicas, ferramentas de pedras e de

ossos, armas e ornamentos).

A realidade dos guaranis depois do genocídio provocado pela chegada

dos europeus nestas terras tornou a vida dos povos sobrevivente um tanto

difícil. No entanto, sua presença faz parte do cenário de muitas cidades e

região em nosso estado. Com a dinamicidade cultural própria dos humanos, a

cultura dos indígenas também apresentam mudanças. Em muitos aspectos

ainda estruturam a identidade indígena. No vídeo “Duas aldeias, uma caminhada -

Mokoi Tekoá Petei Jeguatá” encontrada no endereço eletrônico

https://www.youtube.com/watch?v=RHObX0JQ4Fc o tradicional, a cultura dos antigos estão

imbricados na forma de vida das sociedades modernas.

Há pelo menos 3.000 anos antes do presente, diferentes grupos do povo

Kaingang ocuparam regiões dos atuais estados brasileiros de Rio Grande do Sul, Santa

Catarina, Paraná e São Paulo, e porções da província de Missiones da Argentina.

Provavelmente este grupo tenha chegado na região antes que o povo Guarani. Para

alguns autores, a chegada dos guaranis foi um fator que reconfigurou a territorialidade

kaingang.

A partir do final do século XVII, quando as populações Guarani tiveram uma drástica redução, os Kaingang voltaram a se expandir por todo o centro do Paraná. Em meados do século XVIII, com as primeiras expedições coloniais nos territórios hoje denominados Paraná, foi possível conhecer parcialmente a toponímia empregada pelos Kaingang para nominar seus territórios: Koran-bang-rê (campos de Guarapuava); Kreie-bang-rê (campos de Palmas); (Campo Erê - sudoeste); Payquerê (campos entre os rios Ivaí e Piquiri, hoje nos município de Campo Mourão, Mamborê, Ubiratã e outros adjacentes); Minkriniarê (campos de Chagu, oeste de Guarapuava, no município de Laranjeiras do Sul); campos do Inhoó (em São Jerônimo da Serra). (MOTTA, 2006. p.16 e 17).

Temos ainda os povos Xetá e Xokleng com presença no Estado do

Paraná e em nossa região. No entanto, nossa proposição é um estudo mais

aprofundado dos povos Kaingang e Guarani.

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Sugestões de Atividades:

1- É possível repensar a ideia de conhecimento a partir da cultura

indígena? Dialogue com seus colegas a esse respeito.

2- É possível convidar indígenas para fazerem feiras de sua arte em nossa escola? Fazer oficinas sobre arte, dança, cantos, culinária indígena? E então mãos á obra!

3- Você sabia que é possível fazer parceria com as comunidades indígenas para visitas das escolas? Na região de Curitiba tem a aldeia Kakané Porã (Aldeia Urbana) e Piraquara?

5.4 Problematizando Nossa Conversa:

Neste momento podemos nos perguntar quais são os tipos de

conhecimento de que nos utilizamos. Quais são suas finalidades, a quem estes

tipos de conhecimentos servem? Veja o que diz essa citação do texto: “Os

povos indígenas nunca se opuseram ao uso de suas plantas para salvar vidas.

O que os enfurece é a forma pela qual suas informações são roubadas e

transformadas em mercadorias” (GRUPIONI, SILVA, 2004. p. 115). Outra

citação para nos orientar nas discussões diz que

“Crescem os temores de que os povos indígenas estejam se tornando, cada vez mais, presas fáceis de “caçadores de genes” que entram em seus territórios à procura de plantas com propriedades específicas que podem ser patenteadas e controladas” (GRUPIONI, SILVA, 2004. P. 118).

As imagens abaixo nos mostram conhecimento sobre a agricultura e que

podemos observas situações presentes da cultura indígena na forma do trato

com elementos da natureza e da produção.

Analisando as imagens:

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Fotos acervo pessoais: Valdacir José Ramão (Chácara Alvorada do Caibi).

Imagem da internet: Acesso em 08 de dezembro de 2013. tremembedeacarau.blogspot.com/2011 12 01 archive.html

Proposição: Analisar as três imagens em separado. A Mandala está

presente em muitas culturas. No Brasil se deve às comunidades tradicionais,

mas principalmente aos povos indígenas. A horta dessa forma estabelece uma

relação com o transcende e a natrureza, o cosmo, a vida!

5.5 Uma Outra Conversa: Continuando ...

Parece uma ideia equivocada é a de que o índio ainda vive seminu,

como na Carta de Pero Vaz de Caminha de 1º de maio de 1500.

www.culturaBrasil.org/zip/carta.pdf> Acesso em 02 de dezembro de 2013. Com

mais tempo você pode acessá-la e conhecer de forma mais aprofundada a

imagem do indígena passada ao Rei e a população do mundo europeu que

passou a vê-los daquela forma. Muitas vezes não concebemos o indígena

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quando ele sai destes parâmetros historicamente construídos, sob bases do

senso comum. Quando o vemos de forma que não a pejorativa, tendemos a

descaracterizá-los, sob pena de não tratá-los como indígenas.

Em todas as civilizações percebemos que sempre houve trocas de

conhecimentos, trocas de técnicas de artesanatos, artefatos, de artes, de

cultura. Não há como viver isolados. Muitos elementos que estão presentes na

sociedade brasileira advém de outras culturas: a língua, os alimentos, as

vestimentas. Podemos pensar em elementos da cultura africana, europeias,

árabes, japonesas e quando as incorporamos não deixamos de ser brasileiros.

Ou não? Por isso pode-se pensar que é um equívoco pensar que o indígena

deixa de ser indígena se incorporar elementos da cultura predominante branca

do país. (FREIRE, 2002, p. 13).

Você já viu pela mídia manchetes como estas? “Indígenas conectados

na era digital” ou “Índios nas redes sociais”, ou ainda, “Índios usam tecnologia

para defender a terra do desmatamento”. É a tecnologia está presente nas

aldeias, nas vidas dos povos indígenas de tal forma que há uma constante

interação destes povos tradicionais com a nossa sociedade tecnologizada. Isto

permite para eles, inclusive, a utilizem para a preservação de suas terras e de

sua cultura, uma vez que pode-se informar possíveis agressores das matas ou

invasões de suas terras diretamente para os órgãos legais de proteção e leis.

Importante é que quando os povos indígenas tomam posse de instrumentos, ou

instituições de outras culturas eles dão novo destino, novas configurações e

funções dentro de suas tradições. Como diz Freire (2002.p. 15)

O interessante, porém, a ressaltar aqui é que quando os índios tomam uma instituição emprestada, como a escola, eles dão outro significado, criam outras formas de usar essa instituição, fazendo com que repensemos a prática escolar na nossa sociedade. Este exemplo da escola Waimiri-Atroari é bem ilustrativo de como a interculturalidade não é apenas uma mera transferência de conteúdo de uma cultura para outra. A interculturalidade é uma construção conjunta de novos significados, onde novas realidades são construídas sem que isso implique abandono das próprias tradições. (FREIRE, 2002. p.15)

Outra ideia que temos que discutir é a ideia de que todos nós temos um

pouco de indígena. De fato, não podemos esquecer que o processo identitário

é um aspecto de construção social. Nos últimos anos, pelo avanço das políticas

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públicas compensatórias, adotadas pelos governos têm tido um crescimento de

“atos de autodeclarações” de pertencimento tanto da população negra quanto

da população indígena. O que percebemos também é uma questão de um

senso comum exacerbado contra esse pertencimento declaratório. Por isso

esse discurso parece ser usado quando se quer negar a ideia de direitos aos

diferentes sem questionar a ideia de preponderância das matrizes culturais de

pertencimento que historicamente se concretizaram no país.

Como não há estranhamento em dizer que é descendente de alemães,

italianos, ou enfim portugueses e espanhóis. O estranhamento acontece

justamente quando se pretende afirmar as identidades de etnias negras que

vieram para cá como os sudaneses, iorubas, nagôs, bantos ... e as etnias

indígenas de línguas matrizes diferentes como tupis, karib, jê, tukano.... Não se

estranha ao colocar toda uma diversidade de povos e culturas como sendo

todos iguais. Toma-se a parte pelo todo. O estranhamento acontece quando as

diferenças se auto declaram em sentido de afirmação cultural, política e

identitária. (Aproveite e converse com seu professor de filosofia o que significa

“tomar a parte pelo todo”).

Atividades: Momento Bate-Papo

Momento visual: Vamos assistir ao vídeo e acelerar nossas compreensões

sobre o que estamos falando a respeito da diversidade de povos indígenas e

os pertencimentos culturais. Quem são eles? Videonasaldeias.org.br

Afinal, o que temos a dizer a respeito de quem são eles?

Vamos fazer um bate-papo entre colegas (5 minutos). Logo após,

partilhe com seus colegas seu ponto de vista. O professor deverá anotar

palavras, conceitos, ideais apontados pelos alunos e retomar as discussões de

forma a ponderar as ideias sugeridas por eles.

6 LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO:

A partir do texto “Territórios Ameríndios: espaços de vida nativa no Brasil

Meridional”, se pode elaborar muitas questões sobre o tema até aqui estudado.

O objetivo de estudar este texto é enfocar a questão de território e identidade

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na perspectiva dos sujeitos. Este texto não está sendo utilizado em sua integra.

Ao longo do texto foram subtraídos parágrafos, a referência bibliográfica e

citações não compreendendo a composição do texto nem comprometendo a

compreensão do mesmo. Pode-se encontrar o texto na íntegra pelo título:

“Territórios Ameríndios: espaços de vida nativa no Brasil Meridional”. Elaborado

por Ana Elisa de Castro Freitas, Doutora em Antropologia Social pela UFRGS,

Pesquisadora Associada ao Núcleo de Antropologia das Sociedades Indígenas

e Tradicionais (PPGAS/UFRGS), docente e pesquisadora na UFPR, onde

coordena o Laboratório de Interculturalidade e Diversidade/LAID e Orientadora

deste trabalho. Boa leitura.

ATIVIDADES: Consolidando leitura e interpretação do texto.

Encaminhamento Metodológico: Atividade individual e coletiva

Conteúdo Estruturante: Noção de território, identidade, pertencimento e

religião/corpo indígena.

2) Como proposta de atividades, sugerimos que se consolide os

processos de leitura que Antônio Joaquim Severino (2007) elencou,

assim como fora feito na segunda unidade deste trabalho. Após

seguir todos os passos propostos, encerraremos com um debate em

sala de aula. O debate deverá ter outra dinâmica. Pode ser em forma

de circulo, cada aluno deverá ter suas conclusões e a fala

assegurada a todos (as) de forma igual. Quanto ao tempo, deverá ser

feita durante três aulas. Numa quarta aula somente o debate com

duração de 90 minutos.

6.1 Territórios Ameríndios: Espaços de Vida Nativa no Brasil Meridional.

A noção de território no pensamento moderno remete às ideias de

fronteira e divisa. Imaginado como uma extensão arbitrária, contínua e

delimitada de terras, águas e recursos naturais, o território evoca antes as

noções de governo, Estado, povo, soberania do que as de paisagem, memória,

corpo, pertencimento. Concebido em termos de área – geralmente ocultando o

processo histórico que lhe deu origem – não raro enfatiza a dimensão-espaço

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em detrimento da dimensão-tempo. Disto decorre ser pensado como um todo

acabado, rígido, definido, avesso às imagens de fluidez, de mobilidade, de

descontinuidade, de imprecisão.

Em contraponto semântico, as sociedades indígenas das Terras Baixas

da América do Sul representam seus territórios como espaços-tempo

indissociáveis da vida de seus habitantes. Corpo e território se colam na

imagem da “terra mãe”, tão recorrente nas mitologias ameríndias. O sentimento

de parentesco com a terra, por sua vez, abre espaço para a afinidade potencial

com todos os seres que nela vivem. Aqui - desde a América –coexistem

animais, plantas, minerais, fenômenos meteorológicos, espíritos, humanos e

não-humanos, em constante comunicação, em um espaço-tempo da

transformação; tempo e espaço são eixos que se enrolam - as distâncias e as

paisagens são pensadas como vida em movimento, possuindo uma

temporalidade, uma dinâmica, uma duração. As fronteiras da Cultura se diluem

naquilo que chamamos Natureza e é difícil separar a humanidade do universo

que a envolve, anunciando perspectivas cruzadas. A paisagem, por sua vez,

figura fabulosa na memória narrada, tornada mito, tornada história. Pensados

antes como horizontes culturais do que como limites fundiários, os territórios

ameríndios emergem assim como espaços de vida nativa.

Em diálogo e tensão estas dimensões - moderna e ameríndia – de

território se confrontam e desafiam nos âmbitos regionais, no contexto do que

chamamos Brasil, no quadro de um Estado Democrático de Direito que tem por

princípio jurídico equacionar desenvolvimento nacional e diversidade cultural,

mas em cujos cenários sociais se verificam um desequilíbrio histórico de forças

entre projetos de desenvolvimento e modos de vida tradicionais.

Como se configuram os territórios indígenas nestes cenários? Que

limites e possibilidades o Brasil lhes impõe? De outro lado, como estes

espaços de vida ameríndia contribuem para a conformação, complexidade e

enriquecimento das paisagens dos atuais municípios, dos estados, do país?

Que legado as sociedades indígenas emprestam à biodiversidade de cada uma

destas regiões?

No campo reflexivo educacional, a noção moderna de território deve ser

tratada como produto de uma história, como construto lógico de um modelo de

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sociedade e civilidade, devendo ser estranhada e relativizada sempre que se

pretenda abordar os sentidos que possa assumir no contexto de outras

matrizes e perspectivas culturais, sejam elas indígenas, quilombolas,

tradicionais.

Direcionado a educadores que atuam no ensino fundamental e médio,

este artigo pretende tecer uma aproximação interpretativa dos sentidos

evocados pela noção de “território” no âmbito das perspectivas culturais

ameríndias. Para tanto, focalizam-se as sociedades Guarani e Kaingang, cujos

territórios incluem paisagens e ecossistemas tensionados cotidianamente pelo

que conhecemos por Sul do Brasil ou Brasil Meridional.

Tempo e espaço

Registros arqueológicos indicam que os ecossistemas do que

chamamos Sul do Brasil são ocupados e manejados por populações humanas

há pelo menos 10.000 anos (Kern, 1991). Casas subterrâneas e túmulos

circulares são vestígios associados aos antecedentes dos Kaingang que, com

os Xokleng, compõe o grupo dos Jê-Meridionais. Guerreiros, caçadores e

coletores, ceramistas, pequenos cultivadores, arquitetos excepcionais, os Jê-

Meridionais possuem seus territórios associados ao Bioma Mata Atlântica e,

em seu contexto, preferencialmente a zonas de encontro entre Floresta

Ombrófila Mista (Floresta com Araucária) e ecossistemas campestres.

Em termos geo-ambientais, o território Kaingang abrange as bacias dos

rios Tietê, a norte, Paranapanema, Iguaçu, Uruguai, Jacuí e tributários do

sistema Guaíba-Patos, ao sul, Paraná, a oeste e, a leste, limita-se pelo Oceano

Atlântico3. Neste contexto, os Kaingang contemporâneos expressam

preferência por estabelecer seus Ymã – espaços de residência de um grupo

local – junto às porções de terras altas dos divisores de águas, cabeceiras e

nascentes das bacias hidrográficas, próximo aos goj kusá – fontes de águas

frias –, locais que associam aos animais originários, aos sonhos, à saúde e à

cura.

Um ymã reúne um grupo local composto por famílias articuladas pelo

parentesco cujos membros reconhecem uma ancestralidade comum, a quem

os Kaingang denominam tronco velho. Os distintos ymã mantêm autonomia

político-econômica entre si, sem que se possa identificar nenhum tipo de poder

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centralizado ou governo que os unifique. Cada grupo se organiza em um

sistema de lideranças político-espirituais – pa‟í, pa‟í si, pa’í mbãg e kujà – que

assumem funções cerimoniais, rituais, diplomáticas, organizativas,

estratégicas, bélicas, cognitivas, espirituais, curativas.

É fundamental reconhecer que o território de um grupo local inclui, além

do espaço de residência/ymã, diversos ware – espaços de caça, coleta ou

pesca -, abrangendo bacias hidrográficas completas. Os deslocamentos entre

ymã e ware obedecem à lógica do parentesco, sendo determinantes as visitas

a parentes e as viagens mobilizadas pelas alianças. Estes deslocamentos se

potencializam e assumem proporções coletivas quando inseridos em um

calendário de eventos relacionados aos ciclos sazonais de reprodução e

frutificação de certas espécies da fauna e flora valorizadas culturalmente

(Tommasino, 1995; Freitas, 2005). (.....)

Em relação aos Guarani, estima-se que seus ancestrais tenham cruzado

o Rio Uruguai, vindos do norte, há cerca de 2000 anos atrás. Artefatos e

vestígios da arte-cerâmica estão entre as marcas deixadas por estes grupos.

Segundo José Proenza Brochado (1989), antecedentes dos Guarani

contemporâneos se deslocaram há milhares de anos desde a Floresta

Amazônica, utilizando-se do corredor ecológico das florestas tropicais que

acompanham os rios Paraguai e Paraná. Uma outra leva seguiu o corredor da

Mata Atlântica stricto sensu, em seu sentido norte-sul, ao longo do litoral

brasileiro. Na chegada do europeu, as populações que hoje conhecemos como

Guarani ocupavam a extensa região litorânea, de Cananéia (SP) até o Rio

Grande do Sul, infiltrando-se pelo interior das bacias dos rios Paraná, Uruguai

e Paraguai. O Rio Tietê, ao norte, e o Rio Paraguai a oeste estabelecem limites

deste extenso território, cujo centro é o sistema fluvial do Rio da Prata. Neste

interflúvio os Guarani estabeleceram seus antigos tekoa: espaço de vida e

residência de um grupo local - família-extensa ou conjunto de famílias.

Estruturados a partir de laços de afinidade e parentesco, assentados sobre

terras cultiváveis, os distintos tekoa Guarani configuram um mosaico de

espaços que mantém entre si fluxos e ritmos sócio-ambientais, marcados pela

itinerância permanente de pessoas, troca de sementes, fluxo de animais,

intercâmbio de técnicas, de objetos e de conhecimentos. Estes espaços de

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vida são percebidos pelos Guaranis em continuidade, como uma rede territorial

intensamente interligada (Ladeira, 2001; Freitas, 2004; 2006).

Na atualidade, os Guarani nos expressam preferência por estabelecer

seus tekoa nas porções baixas das bacias hidrográficas, em várzeas ou

planícies inundáveis, cujas terras férteis identificam apropriadas ao cultivo das

variedades de batatas, feijões, milhos, amendoins, abóboras, mandiocas,

fumos que integram seu repertório tradicional de cultivares. A área de vida

tradicional de um tekoa, por sua vez, estende-se desde o espaço central de

moradia e cultivo para as porções mais altas das bacias hidrográficas, onde os

Guarani localizam diversos espaços de vida que associam aos animais

originários, à névoa primeva5 que emana nas florestas protetoras das quedas

d‟água, espaços onde habita o cedro/Ygaraí, associados à cura, à caça, à

coleta de frutos, fibras vegetais e plantas medicinais (Ciccarone, 2001).

A organização social Guarani é extremamente complexa. Recentemente,

especialistas denominados karaí – termo que os antropólogos traduzem por

xamã – têm nos permitido acessar seus conceitos de sociedade através de

representações gráficas que por si só revelam sua riqueza e complexidade

social:

No esquema Guarani, a base da sociedade ideal se sustenta nos

conhecimentos, nas palavras e nas práticas do karaí/xamã, especialista capaz

de transitar entre os distintos domínios do cosmos e apreender as perspectivas

das variadas espécies de sujeitos - humanos e não-humanos - promovendo a

comunicação com outros horizontes de conhecimentos e práticas. O karaí, em

contato permanente com as divindades – no esquema representadas por

kuaray/sol, associado à divindade Nhamandu-mirim –, comunica princípios e

forças que trazem ao mundo Guarani sabedoria e saúde – expressa por

yy/água, associada à divindade Tupã -, necessários para orientar o caminhar

Guarani sobre o território. Na iconografia, o karaí apresenta-se como raiz capaz

de acessar as substâncias que fortalecem e orientam o corpo social. Sobre sua

base sólida, eleva-se uma estrutura social promissora, que ganha forma no

mundo através da ação masculina do cacique. (....)

A imagem feminina - representada pelas folhas - anuncia o espaço-

tempo da transformação da sociedade. São as folhas que se transformam em

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flores/crianças e frutos/jovens lançados ao mundo. E são os jovens/frutos que

contém em si o segredo da semente, princípio do movimento sobre a terra, da

expansão do corpo social, anunciando um ciclo sem fim, um eterno retorno,

imagem da itinerância Guarani em um território sempre aberto.

Duas instituições são centrais neste esquema: opy/a casa de rezas, local do

xamanismo associado ao karaí, espaço onde as divinas palavras e os saberes

que elas contêm são acessados e socializados; e kokue/a roça tradicional,

espaço de aproximação entre o mundo Guarani e o mundo de outros seres e

perspectivas. Kokue é local de pesquisa, aproximação e atração permanente

de espécies de sujeitos que vivem no mundo sob a forma de plantas e animais.

Kokue é o local onde os Guarani mantêm próximas de si, através de gerações,

as sementes tradicionais. Além de alimentar o corpo e a sensibilidade Guarani,

os manjares de kokue atraem para junto do tekoá espécies animais apreciadas,

tais como quatis, pacas, cotias, macacos, papagaios e outros bichos cujos

territórios superpõem-se ao espaço de vida Guarani. Em síntese, kokue

configura-se como um espaço privilegiado de socialização de distintas espécies

de sujeitos, reunindo elementos da bio-sócio-diversidade ameríndia

imprescindíveis à manutenção do tekoá Guarani – modo de vida tradicional.

Encontros e desencontros

As espécies pesquisadas, conhecidas, selecionadas e mantidas há

milhares de anos pelas distintas sociedades ameríndias desde cedo

impressionaram aos colonizadores europeus que chegavam às terras baixas

trazendo consigo técnicas, tecnologias, modelos produtivos, grãos e animais

exóticos às paisagens daqui, como a lavoura, o trigo e o gado (Crosby, 1993).

Por sua vez, as lógicas ameríndias - pautadas por um detalhado conhecimento

dos fluxos ecológicos das espécies nativas e por uma intervenção que valoriza

as dinâmicas vegetais e animais em si mesmas - sofreram um impacto radical

no contato com as lógicas produtivas europeias, centradas na intervenção

intensiva e no trabalho. (.......)

Como resultado, os espaços de vida ameríndia figuram como extensos

jardins em meio às florestas e campos, abundantes em diversas espécies de

plantas e animais apreciados, sendo praticamente impossível ao olhar

estrangeiro distinguir entre áreas “produtivas” e áreas “naturais”. (...)

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No Sul do Brasil

A história da ação europeia sobre os ecossistemas do Rio Grande do

Sul remete aos séculos XVII e XVIII, com o surgimento dos primeiros

povoamentos. Neste processo, sucederam-se diversos ciclos produtivos

relacionados à exploração de recursos naturais considerados adequados aos

projetos de ocupação em vigor a cada época. Estes ciclos devem ser

entendidos como processos-fatores chave na expansão europeia e na

configuração dos limites políticos e territoriais que se estabeleceram desde

então no Sul do Brasil.

No Rio Grande do Sul, as florestas passaram a sofrer impactos

sistemáticos com a entrada de frentes de colonização promovidas pelo

Governo da Província, cujo marco inicial é a Colônia Alemã de São Leopoldo,

em 1824. O modelo das colônias rapidamente prosperou, se mostrando

eficiente para converter florestas em áreas produção – territórios ameríndios

em território rio-grandense e brasileiro - e, deste modo, adequando-se aos

projetos do Governo do Brasil.(.....)

No contexto de expansão colonial, florestas e índios figuram como

empecilho ao desenvolvimento e progresso. Visando liberar espaço às jovens

colônias, o imperador Dom Pedro II estabeleceu o „Regulamento das Missões‟,

pelo Decreto n° 426 de 24 de julho de 1845, determinando que os índios

contatados fossem reduzidos a glebas isoladas, definidas, delimitadas de

terras, com a promessa de que estas seriam liberadas ao domínio público

assim que os nativos se mesclassem à população brasileira. Em sequência, foi

adotada a política de criação de reservas florestais e reservas indígenas -

áreas definidas dentro das quais “índios” e “natureza” mantinham-se

controlados no âmbito dos processos regionais. (...)

É importante reconhecer que os processos históricos de ocupação e

desenvolvimento no Sul do Brasil possuem diferenças radicais em relação ao

observado em outras regiões do país. Diferente da região Norte, as terras

indígenas demarcadas no Sul do Brasil são diminutas. Disto resulta uma

constatação fundamental: se no Norte as terras indígenas contemplam grande

parte ou mesmo a totalidade de um território ameríndio, no Sul elas

correspondem quase exclusivamente aos espaços de vida centrais

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(tekoa/Guarani ou ymã/Kaingang), nunca abarcando o território em sua

totalidade. Em outras palavras, o conjunto de espaços de vida ameríndios

relacionados aos tekoa e aos ymã, integrando minimamente bacias

hidrográficas completas, apropriados às atividades de coleta, caça, pesca,

cultivo, estão fora dos limites das atuais terras indígenas Guarani e Kaingang,

desprotegidos em termos legais, sendo historicamente pressionados por

fatores de desenvolvimento, urbanização, entre cortados por estradas,

lavouras, monoculturas, hidrelétricas, tensionados pela expansão regional do

Sul do Brasil. Paradoxalmente, nos dias de hoje, ou estes espaços são alvo de

projetos de desenvolvimento, ou estão protegidos pela legislação ambiental

sob estatuto jurídico de “Unidades de Conservação” e, nesta condição, os

indígenas não lhes podem acessar (Ricardo, 2004).

Neste contexto contemporâneo, o modelo produtivo do artesanato deve

ser visto como a estratégia central adotada pelos grupos indígenas tradicionais

para manter seu vínculo simbólico, econômico, ecológico e territorial com as

florestas e campos. Impossibilitados de viver em estado de caça, coleta, pesca,

o artesanato preserva a possibilidade de transito na floresta.

Enfim, como sujeitos de direitos, inserem-se nas arenas locais, em

perspectivas distintas, empregam divinas palavras para atingir o coração do

juruá/estrangeiro branco, intencionando seduzi-lo aos propósitos Guarani,

conforme observa o Mbruvixá Tenondé Mbyá José Cirilo Pires Morinico/Kuaray

Nheery, ou, enquanto Kaingang, lançam mão de estratégias guerreiras, sejam

de enfrentamento ou diplomáticas, reconhecendo-se cada vez mais

espremidos pelos fog kupri/estrangeiros brancos que avançam como formigas,

nas palavras dos especialistas e interlocutores Kaingang da autora, Jorge

Kagnãg Garcia e Zílio Jagtyg Salvador.

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