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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR ...€¦ · Se as pessoas não ficam mais capazes para – falando, lendo, escrevendo e ouvindo – atuarem socialmente

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  • Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

    OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

    Artigos

  • AS LENDAS DA CULTURA PARANAENSE NA FORMAÇÃO DE

    LEITORES

    MARTINELLO, Leila Cristiane¹

    Resumo

    O presente artigo apresenta os resultados dos trabalhos advindos do Projeto de Intervenção Pedagógica, denominado “As Lendas da Cultura Paranaense na Formação de Leitores” que foi desenvolvido com alunos do 6º Ano do Colégio Estadual do Campo Alto Alegre, na cidade de Quedas do Iguaçu. Este trabalho é apresentado como etapa final do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE 2013). O pressuposto que deu sustentação a este trabalho foi alicerçado na Análise do Discurso preconizando o reconhecimento do lendário paranaense com textos explorados provenientes da cultura popular e sua importância no cotidiano sócio-cultural, despertando a curiosidade sobre as condições históricas do povo paranaense, oportunizando momento de reflexão a partir de uma leitura mais crítica e discursiva, explorando oralmente fatos cotidianos e estimulando a produção escrita de lendas criadas a partir do imaginário, destacando a região onde vivem. Para que se conseguisse alcançar os objetivos propostos, o trabalho foi desenvolvido juntamente com a comunidade escolar, com atividades cooperativas e dinâmicas, onde foram explorados criatividade e o imaginário dos alunos considerando os vários sentidos do texto, comportando tanto “o dito” quanto “o não dito” na construção do sentido.

    Palavras-chave: Leitura. Lendas Paranaenses. Estratégias. Análise Discursiva.

    1. Professora PDE 2013, licenciada em Letras Português – Inglês e Literaturas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas- PR. Especialização em “Metodologia do Ensino Aprendizagem de Língua Inglesa no Processo Educativo”, pela Faculdade de Educação São Luís e “Educação Especial e Inclusiva” pela Faculdade Internacional de Curitiba.

  • THE LEGENDS OF PARANÁ CULTURE IN SHAPING READERS

    MARTINELLO, Leila Cristiane

    ABSTRACT This article presents the results of work arising from the Pedagogical Intervention Project, called "Legends of the Paranaense Culture Readers Training" that was developed with students of the 6th year of the State College of Campo Alto Alegre in the city of Iguazu Falls. This work is presented as the final step of the Educational Development Program (EDP 2013). The assumption that has underpinned this work was grounded in discourse analysis advocating the recognition of the legendary arising Parana as texts of popular culture and its importance in everyday socio - cultural, awakening curiosity about the historical conditions of Parana people, providing opportunities for reflection time from a more critical and discursive reading, exploring orally daily facts and stimulating writing legends created from the imaginary production, highlighting the region where they live. To be able to achieve the proposed objectives, the work was developed with the school community, with cooperative and dynamic activities, which was explored creativity and imagination of the students considering the various meanings of the text, comprising both "said" as "the unsaid "in the construction of meaning.

    Key-words: Reading. Paranaenses legends. Strategies. Discourse Analysis.

  • Introdução

    As Lendas da Cultura Paranaense na Formação de Leitores é um tema que

    se justifica pela necessidade de trabalhar a leitura em sala de aula, contemplando

    temas do nosso estado, tendo em vista a constatação da dificuldade de os alunos

    inserirem a leitura em seu cotidiano. Considerando a leitura como um dos

    caminhos para o aprendizado e obtenção de conhecimentos mais complexos,

    sentiu-se a necessidade de criar estratégias para que os alunos adquiram o gosto

    pela leitura, pois, por meio dela, encontramos a porta de entrada para a assunção

    da cidadania, que passa, necessariamente, pelo conhecimento historicamente

    produzido.

    Com isso poderemos formar uma sociedade mais humana, crítica e

    praticante de seus direitos e deveres. Freire (1998) nos diz que a “ leitura de

    mundo ” precede a leitura da palavra, ou seja, a busca de uma leitura crítica se dá

    por meio da percepção da relação texto/contexto.

    [...] a prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas da leitura, pode ficar sabendo quais são suas obrigações e também pode defender os seus outros direitos necessários para uma sociedade justa, democrática e feliz. (Diretrizes Curriculares da Língua Portuguesa, 2008, p.57)

    Levando em consideração que o incentivo à leitura nas salas de aula é

    essencial e deve ser frequente em nossa prática, principalmente nas primeiras

    séries do Ensino Fundamental, observa-se que, em nosso contexto social, vivemos

    num país carente de leitura em todos os aspectos, e nossos alunos advêm de

    grandes diferenças sociais e culturais, mostrando-nos diariamente o desinteresse

    pela leitura e dificuldade na interpretação de textos considerados relativamente de

    compreensão acessível.

    Neste contexto, acreditamos que o trabalho com lendas, principalmente as

    lendas paranaenses, pode ser um dos caminhos para a inserção dos alunos à

    leitura, uma vez que esse tipo de texto traz narrativas que propiciam e incentivam a

    criatividade e imaginação, encantando quem as lê e melhor as conhece. Por outro

    aspecto, por serem lendas paranaenses, podemos inserir os alunos ao espaço de

    produção regional, focando as condições históricas em que as lendas foram

    produzidas.

  • Diante das dificuldades com as quais nos defrontamos no ensino e a

    preocupação com o processo de leitura, concordamos com as DCEs que definem

    muito bem a tarefa da escola:

    [...] Trata-se de propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar uma atitude responsiva diante deles. Sob este ponto de vista, o professor precisa atuar como mediador, provocando os alunos a realizarem leituras significativas. Assim, o professor deve dar condições para que o aluno atribua sentidos a sua leitura, visando a um sujeito crítico e atuante nas práticas de letramento da sociedade.[...] (DIRETRIZES CURRICULARES DA LÍNGUA PORTUGUESA, 2008, p.71).

    Considerando toda a dificuldade para inserção da leitura, acima descrita,

    este trabalho evidencia e exemplifica técnicas envolventes de leitura de como o

    professor, por meio das lendas paranaenses, incluindo o discurso como prática

    social, escolar e cultural poderá enriquecer sua prática pedagógica.

    2- Fundamentação Teórica

    Vista como uma prática desafiadora, a leitura tem sido alvo de

    preocupação dos professores, pelo fato de que a maioria dos alunos iniciam as

    séries finais do Ensino Fundamental, demonstrando dificuldades e desinteresse

    pela leitura, bem como para entender criticamente o processo, propiciando a

    percepção entre o texto e o contexto. Nesta direção, podemos dizer que a escola

    não está conseguindo cumprir a tarefa principal que é a de ensinar a ler.

    Buscando alternativas na prática docente que incentivem o debate de uma

    leitura dinâmica, que aguce a curiosidade e o despertar dos alunos pelo gosto e a

    importância da leitura, uma das alternativas encontradas se dá por meio das

    lendas trabalhadas dentro do contexto da cultura e das belezas do estado do

    Paraná, podendo contribuir significativamente, auxiliando na valorização da

    criatividade, curiosidade, autonomia e criticidade, que são elementos necessários

    para a formação dos alunos em nossa sociedade atual.

    Para que os alunos sintam prazer, entendendo a necessidade e relevância

    que a leitura nos dispensa, precisamos ampliar nossa percepção de que:

  • [ ...] ler não é decifrar palavras. A leitura é um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, apoiando-se em diferentes estratégias, como seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor e de tudo o que sabe sobre a linguagem escrita e o gênero em questão [...] ( RCNEI,1998,p.144).

    Assim, um leitor crítico é um leitor ativo, com opiniões sobre o mundo a sua volta e

    participativo em ações cidadãs. Nesta direção, cabe então ao professor, inserir no

    cotidiano escolar, alternativas interessantes à prática da leitura, como afirma

    Antunes:

    Aulas de Português, perguntemo-nos todos os dias: A favor de quem? A favor de quê? Se as pessoas não ficam mais capazes para – falando, lendo, escrevendo e ouvindo – atuarem socialmente na melhoria do mundo, pela construção de um novo discurso, de um novo sujeito, de uma nova sociedade, para que aulas de português? ( ANTUNES, 2003, p.176)

    Nota-se a necessidade de apresentar para os estudantes estratégias de

    leitura que norteiem sua compreensão da essência do texto, estabelecendo

    relações com o autor do mesmo e preenchendo as lacunas que possivelmente

    possam surgir no ato de ler. Partindo dessa premissa é que se realizou uma

    observação com a leitura crítica no ensino fundamental, visando

    consequentemente constatar o saber e o fazer desses sujeitos em sala de aula

    frente à leitura. De acordo com Kuenzer,

    “Leitura, escrita e fala não são tarefas escolares que se esgotam em si mesmas; que terminam com a nota bimestral. Leitura, escrita e fala – repetindo – são atividades sociais, entre sujeitos históricos, realizadas sob condições concretas” (2002, p.101).

    Com esta afirmação podemos analisar que através da promoção de

    oportunizar caminhos sólidos, conquistaremos a formação de um sujeito crítico e

    reflexivo, uma vez que é através do desenvolvimento dessas habilidades que os

    estudantes podem posicionar-se em situações, sejam elas cotidianas ou não, com

    autonomia. Então, percebe-se que, para efetivar realmente a ação de leitor,

    precisamos compreender situações para a formação cultural do indivíduo, ou seja,

    "[…] é condição para a verdadeira ação cultural que deve ser implementada nas

    escolas” (SILVA, 1991, p.79-80), atividade que pode contribuir para a formação do

    sujeito e também determina a sua condição de atuante no seu meio sociocultural.

  • Não é o ensino da Literatura que faz com que os alunos mostrem-se desinteressados e com dificuldades de entender as especialidades do texto literário. O que ocorre é que por falta de desenvolver-se no país uma cultura que valorize a leitura, os alunos sentem-se despreparados diante de qualquer tipo de texto. Por isso os professores buscam alternativas de pesquisa para enfrentar essas barreiras. O caminho é compreender o processo histórico do ensino da literatura, as razões dos nossos fracassos no Ensino Fundamental e Médio. E a partir dos resultados, construir uma proposta onde se contemple todas as possibilidades de melhoria do desempenho de leitura de nossos alunos (CEREJA, 2005, p. 114).

    Levando em consideração que a leitura proporciona significados, e que ao

    ler, o leitor cria suas ideologias textuais de acordo com o que foi lido, assentindo ou

    não a ideia principal e tomando significações e significados acerca de suas

    ideologias, a leitura se torna uma prática habitual de Língua Portuguesa, servindo

    de resposta aos questionamentos feitos a respeito do que estava escrito, “[…]

    como atividade constitutiva de sujeitos capazes de interligar o mundo e nele atuar

    como cidadãos” (BRANDÃO e MICHELITTI,1998, p.22 apud CHIAPPINI).

    Dentre esses mecanismos, a leitura configura-se como essencial, uma vez

    que proporciona aos sujeitos que a realizam conhecimentos, tanto acerca da língua

    e seus elementos constitutivos quanto a conhecimentos relativos à vida social,

    cultural e principalmente no que compete aos saberes científicos. A leitura está

    presente nas mais diversas situações da vida do ser humano e cada vez mais se

    faz necessário explorá-la em sala de aula, utilizando mecanismos que desperte o

    senso crítico do educando.

    A Análise de Discurso e o Sujeito

    O entendimento na perspectiva discursiva transporta-nos para o momento

    histórico, permitindo aos leitores a busca de significados mais intensos da

    materialidade textual, partindo do interdiscurso, como memória do dizer, em que os

    não-ditos tomam significado no texto. Isso torna-se possível por meio de muitos e

    diversificados procedimentos de leitura que emergem da relação do texto com as

    condições de produção nas quais foi produzido e o contexto sócio-histórico-

    ideológico, o que possibilita uma leitura crítica e questionadora. Segundo as DCEs:

  • As atividades de interpretação de texto precisam apresentar questões que levem o estudante a construir um sentido para o que lê, que o faça retomar os textos, quantas vezes sejam necessárias, para uma leitura de fato compreensiva. O aprimoramento das práticas discursivas é que possibilitará a leitura crítica dos textos que circulam socialmente, a ponto de perceber neles ideologias, valores defendidos. (DIRETRIZES CURRICULARES DA LÍNGUA PORTUGUESA, 2007, p.53).

    O ponto de partida para uma leitura significativa é a formação do leitor

    crítico, sensibilizado da sua responsabilidade diante do ato de ler e da realização

    de uma leitura compreensiva, mais criteriosa diante da formação do cidadão para

    agir e interagir em seu meio social. É importante que a leitura se constitua como

    uma prática social, de forma a levar os educandos a perceberem a importância de

    ler para adquirir conhecimentos, ampliar os horizontes. A leitura é uma

    necessidade básica na vida de cada pessoa. Nesta perspectiva, toda a palavra e

    suas proposições fazem sentido em relação às formas discursivas. Nesta relação,

    ressalta Pêcheux (1997, p.259), “há um efeito de sentido não pré-existente à

    formação discursiva na qual ele se constitui”.

    Assim, partimos do pressuposto de que as lendas paranaenses foram

    criadas e reinventadas a partir do contexto histórico social de uma determinada

    época, registrando valores sociais e culturais, desta forma os povos, em seus

    discursos, foram alinhavando e documentando esta relação entre o texto e o

    sujeito histórico contemporâneo. Conforme Orlandi,

    Os processos de formação do discurso implicam em três momentos igualmente relevantes: 1 : A constituição – a partir da memória do dizer, fazendo intervir o contexto histórico-ideológico mais amplo; 2 : A Formulação – condições de produção e circunstâncias de enunciação específicas; 3 : A Circulação – acontece em determinada conjuntura e segundo certas condições. ( ORLANDI, 2005,p.9)

    Baseado nesse contexto é possível perceber que a construção da análise

    discursiva se dá a partir dos processos de produção de sentido no/ do discurso. Os

    discursos entrecruzam-se pelo tempo e pelo espaço, unindo-se pelos mesmos

    temas, conceitos ou acontecimentos, produzindo sentido entre seus interlocutores,

    buscando primeiramente suas memórias.

  • A memória de lugares, cidades e personagens idealizados nas lendas

    paranaenses constitui um conjunto do discurso memorial de um povo, atualizando

    suas emoções, juntando sua materialidade da língua com a materialidade da

    história, trazendo-as para os dias atuais.

    Convém lembrar as atribuições da Análise de Discurso de Pêcheux (1990, p.

    51) ao afirmar que “não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia. O

    indivíduo é interpretado em sujeito pela ideologia. E é assim que a língua faz

    sentido”. Da mesma forma, segundo as considerações feitas por Orlandi, (2007,

    p.17) o discurso é “o lugar em que se pode observar a relação entre a língua e a

    ideologia, compreendendo-se como a língua produz sentidos por e para os

    sujeitos”, isso evidencia a ênfase dada pela Análise do Discurso à produção de

    sentido. Portanto, a análise do discurso (AD), relaciona a língua com a ideologia

    delimitando seu objeto estudado que é o discurso.

    Partindo do pressuposto de que o discurso produz a análise da relação entre

    a língua e a ideologia e que cada sujeito se posiciona em determinado lugar

    ideológico, considera-se, ainda, que a língua produz variados efeitos de sentido.

    Acontece que as palavras alteram seu sentido dependendo da posição de quem as

    emprega em conjunto às formações ideológicas que se descrevem. Nesse

    contexto:

    Os sentidos são determinados ideologicamente. Não há sentido que não o seja. Tudo o que dissemos tem um traço ideológico em relação a outros traços ideológicos. E isto não está na essência das palavras, mas na discursividade, isto é, na maneira como, no discurso, a ideologia produz seus efeitos, materializando-se nele. (ORLANDI, 2007, p.43)

    Em relação a isso, o discurso nunca é constituído de sentido único, isolado,

    sempre vem precedido de uma série de outros discursos advindos historicamente

    antes e de discursos que virão depois, sempre considerando o momento histórico e

    a ideologia. Para Pêcheux:

    A ideologia fornece as evidências pelas quais “ todo mundo” sabe o que é um soldado, um operário, um patrão, uma fábrica, uma greve. Evidências que fazem com que uma palavra ou enunciado “queiram dizer o que realmente dizem” e que mascaram assim, sob a transparência da

  • linguagem, aquilo que chamaremos caráter material do sentido das palavras e dos enunciados. (PÊCHEUX,1998, p. 160).

    Assim, compreende-se a leitura como um processo também de releitura,

    pois, quando o leitor se depara com um texto, no nosso caso a lenda, ele já está

    diante de uma leitura realizada por um sujeito em determinadas condições de

    produção.

    A Leitura Discursiva das Lendas Como um dos objetivos básicos da Educação é o estímulo à leitura, o

    trabalho com as lendas paranaenses, além de despertar a curiosidade e

    criatividade, pôde também contribuir, não somente com a interpretação das

    histórias lidas, mas também com o estudo da história paranaense a partir das

    condições sócio históricas de produção das lendas.

    Para Cascudo lenda é:

    [...] episódio heroico ou sentimental com elemento maravilhoso ou sobre-humano, transmitido e conservado na tradição oral popular, localizável no espaço e no tempo [...]. Conserva as quatro características do conto popular: Antiguidade, Persistência, Anonimato, Oralidade [...]. Muito confundido com o mito, dele se distingue pela função e confronto. O mito pode ser um sistema de lendas, gravitando ao redor de um termo central com área geográfica mais ampla e sem exigência de fixação no tempo e no espaço. (CASCUDO,1972, p.154)

    Então, neste trabalho a perspectiva discursiva possibilita compreender o

    papel da cultura de nossos antepassados, o contexto sócio histórico cultural na

    construção do discurso e permite lançar o olhar para o despertar da curiosidade e

    criatividade, focando o passado dos sujeitos e as condições sócio culturais das

    histórias contadas a partir da criatividade do povo paranaense influenciando o seu

    presente, sua identidade, sua visão de mundo, também chamada de “imaginário

    social” dito por Moraes:

    O imaginário social é o conjunto de valores, regras, esquemas e convenções aceitas pelas sociedades sem questionamentos, assumindo status de “verdades históricas”. É o conjunto das representações coletivas sedimentadas que, transmitidas de geração para outra, formaram uma base comum a todos, uma espécie de matriz cultural. (MORAES,p. 57, 1998).

  • É por meio do imaginário que os povos expressam seus ideais, sonhos,

    aspirações e esperanças. E, a partir disso, retomam seu passado, trazem o

    presente à tona e organizam o futuro. Assim, as lembranças tornam-se

    reveladoras, trazendo significações presentes no espaço vivido, na atualidade.

    Partindo deste pressuposto, foi elaborada e implementada uma Unidade

    Didática contendo seis capítulos que contemplaram atividades diversas. Nos

    recortes do objeto em estudo, selecionamos algumas das principais lendas do

    Estado do Paraná. Iniciando o trabalho, contemplamos nosso município, Quedas

    do Iguaçu, com “A Lenda do Véu da Noiva”, história advinda da Usina Hidrelétrica

    de Salto Osório, em seguida, evidenciamos uma das sete maravilhas do mundo

    atual com a lenda “Naipi e Tarobá – A Lenda das Cataratas do Iguaçu” e, para

    finalizar, contemplamos nosso estado do Paraná por inteiro com “ A Lenda da

    Gralha Azul”.

    Tendo a leitura discursiva como princípio, focamos o processo de produção

    oral e escrita. Utilizou-se como forma de registro um caderninho confeccionado em

    sala, com o título: “Um Maravilhoso Passeio pelo Lendário do Paraná”, onde

    constaram toda a organização dos registros dos alunos, bem como comentários do

    professor, constando dados referentes a curiosidades, textos diversos como:

    composições, pesquisas, resumos, imagens, relatórios, atividades interpretativas,

    desenhos, auto avaliação, entre outros. Desde o primeiro momento, o aluno teve a

    oportunidade de se auto avaliar, refletido sobre suas criações e melhorando-as se

    achasse necessário.

    A criatividade e autonomia foram o ponto forte em todo o percurso, tendo o

    professor como mediador, acompanhando o processo evolutivo e participativo de

    aprendizagem.

    A participação da comunidade escolar - pais, professores, direção e

    funcionários - enriqueceu o trabalho de forma significativa, relatos orais de várias

    versões de lendas que foram modificadas através do tempo tornaram o trabalho

    mais consistente e curioso.

    As atividades propostas na Unidade Didática refletiram a temática lendária

    na perspectiva da Análise de Discurso, compreendendo o funcionamento

    discursivo a partir das condições sócio históricas e ideológicas em que esses

  • textos foram produzidos, compreendendo o funcionamento da memória discursiva,

    sob a ótica da Análise Discursiva, significando este lendário como parte de nossa

    história que se representam por meio do espaço em que vivemos, atuamos e, que

    juntos, podemos transformá-lo. Assim, os alunos perceberam os diferentes

    discursos construídos a respeito do lendário paranaense e como esses dizeres se

    materializam em contextos familiares, lendo o mundo que os cerca, olhando para si

    mesmos e para seus dizeres, valorizando seus processos de formação.

    Paralelamente à implementação do projeto, também aconteceu o Grupo de

    Trabalho em Rede (GTR), tendo como público alvo os docentes da rede estadual

    de educação que contribuíram e participaram significativamente no decorrer desta

    etapa. Houve muitas trocas de experiências, discussões e atividades textuais.

    Destacou-se a preocupação em conduzir de maneira prazerosa o ensino da leitura

    e a necessidade de trabalhar contemplando- a em âmbito escolar, cultural e social.

    Cada docente participante demonstrou interesse no tema e ficou evidente que a

    interação é uma forma prazerosa e eficiente, propiciando que, entre os docentes

    haja sempre troca de ideias para que aprendamos com os pares. Cada depoimento

    das práticas da vida profissional vieram carregadas de experiências vivenciadas e

    emoções, revelação da importância em aprender com leituras que fazem parte do

    cotidiano dos alunos. Os participantes resumiram a intenção mediadora de todo o

    tema proposto, enaltecendo a importância da produção pelo fato de que além de

    refletir sobre a temática da leitura na escola, permitiu promover a aproximação dos

    alunos com a linguagem literária, no sentido de familiarizá-los

    com a leitura permitindo incentivar a integração dos alunos e gosto pela escola.

    Com isso, o professor pode observar com maior relevância o grau de dificuldade

    dos educandos frente à compreensão dos textos lidos. E, a partir deste contexto,

    foi possível sugerir encaminhamentos adequados a fim de propiciar um ensino que

    apresente resultados mais significativos.

    Assim sendo, a qualidade da leitura não depende da qualidade intrínseca do

    texto, mas sim, da reação do leitor ao processar as informações nele contidas.

    Logo, o significado não está só na mensagem, mas na série de acontecimentos

    que o texto desencadeia na mente do leitor.

  • Durante as leituras das inserções realizadas, ficou evidente que foi

    perceptível pelos educadores minha preocupação em inserir as tecnologias no

    decorrer das atividades com os alunos, que o tema sobre o lendário paranaense

    nos permitiu evidenciar, conjuntamente a era da revolução tecnológica,

    privilegiando a leitura, pois, segundo a Secretaria de Educação – Departamento de

    Ensino do Paraná, (DCEs, 1992) nos diz que “A literatura, muito mais que um

    objeto portador de mensagens e ensinamentos, é um jeito particular de enxergar o

    mundo”.

    Considerações finais

    Conforme apresentado na proposta, pelo projeto de intervenção

    pedagógica “As Lendas da Cultura Paranaense na Formação de Leitores”, o

    objetivo do encaminhamento deste estudo deu-se pela necessidade de trabalhar a

    leitura em sala de aula, considerando a leitura como prática social, escolar e

    cultural.

    A intenção foi estimular a criatividade, mobilizar a comunidade escolar

    tanto no desenvolvimento quanto na apreciação dos resultados apresentados, e,

    principalmente todas as pessoas que fazem parte do universo do aluno como os

    pais, avós, vizinhos, enfim, juntar o trabalho lúdico que as lendas proporcionam

    com o senso crítico do aluno enquanto leitor, fazendo com que ele tome posição

    diante de textos diversos, incentivando o interesse e gosto pela leitura,

    contribuindo assim, com elevação do desenvolvimento do aluno como leitor no

    âmbito escolar e social, inserindo a leitura em seu cotidiano.

    Desta forma, este trabalho foi desenvolvido a partir da leitura na

    perspectiva discursiva, tendo como eixo a Análise Discursiva (AD), procurando

    entender como se dá a produção de sentido, levando sempre em consideração o

    social e o histórico como elementos constitutivos do dizer e do sentido, permitindo

    aos leitores a busca de significados mais intensos que partem da materialidade

    textual, (a formulação do dizer), passando pela materialidade histórica e ideológica

    por meio de um interdiscurso (discursos pré-existentes), organizado através da

    linguagem por meio da memória do dizer em que as entrelinhas e o não dito toma

    significado no texto.

  • Assim sendo, em todo o tempo trabalhado com a implementação

    pedagógica na escola, foi perceptível a interação surpreendentemente positiva por

    parte dos alunos e da professora que em todas as aulas mantiveram integrados ao

    que lhes era proposto, cooperando uns com os outros, buscando outras fontes e

    contações diversificadas das lendas que acabavam de conhecer, respeitando-se e

    participando com vontade de todas as atividades propostas. Observou-se também

    que a leitura foi compreendida como sendo também um processo de releitura, e,

    partindo das/nas lendas paranaenses estudadas, buscou-se compreender o

    funcionamento da memória discursiva, significando este lendário como parte da

    nossa história, contribuindo e atribuindo fatos relevantes que se representam no

    meio do espaço em que vivemos e podemos atuar ficando claro que, juntos

    podemos transformá-lo.

    Em relação ao Grupo de Trabalho em Rede (GTR), chamou-me

    atenção a dedicação, disponibilidade e responsabilidade de todos os professores

    envolvidos, tendo 100% de conclusões. Os cursistas interagiram de forma

    brilhante, com inserções de pesquisas, citações, trocas de experiências, resultados

    positivos e negativos e, finalizaram manifestando como foi importante a temática

    proposta e de como esta implementação foi efetivada, consideraram ainda, que

    esta proposta que enaltece o lendário paranaense poderá ser novamente aplicada

    no contexto escolar, uma vez que possivelmente poderemos incluir inúmeras

    metodologias, inclusive as novas tecnologias.

    Todo este trabalho foi bastante gratificante e como retorno houve

    respostas positivas dadas tanto pelos alunos, professores, colégio onde o projeto

    foi aplicado, por toda a comunidade participante como para o crescimento de

    conhecimento socializados.

    Salientamos que em nosso trabalho, não foi possível a aplicação de

    conceitos prontos, pois o tema "leitura" é bastante amplo, portanto necessita de

    muita pesquisa e aprimoramentos. Nossa prática, enquanto professores, requer

    muita dedicação e orientações cabíveis para que possamos chegar com êxito a um

    bom resultado final.

  • REFERÊNCIAS

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    Campinas: Pontes, 2005.

    ______. Análise do Discurso. 7. ed. Campinas: Pontes, 2007.

    ______. Cidade dos Sentidos. Campinas: Pontes, 2004.

  • SILVA, Ezequiel Theodoro. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. 5ª ed. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1991.

    SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.