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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
1Professora da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná. E-mail de contato: [email protected] 2Orientador PDE da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Foz do Iguaçu-PR. E-mail de contato: [email protected]
O Ensino de Ciências na prevenção da obesidade infa nto-
juvenil: da fisiologia à saúde pública.
Ivonete Therezinha P into¹ Oscar Kenji Nih ei²
Resumo
Com o estilo de vida sedentário e a falta de orientação nutricional há um grande aumento das taxas de sobrepeso e obesidade em alunos de escolas públicas, o que pode causar um comprometimento da saúde desse público. Este estudo objetivou implantar e avaliar a eficiência de um projeto de intervenção pedagógica com alunos do oitavo ano do Ensino Fundamental de uma escola de Foz do Iguaçu-PR. Esta intervenção foi realizada por meio de 32 horas-aula de atividades, onde a alimentação saudável e as medidas de prevenção da obesidade foram abordadas na disciplina de Ciências. No conteúdo sobre corpo humano e sistema digestório, onde foram abordados: Alimento, nutriente e saúde, pirâmide alimentar, saúde nutricional e hábitos alimentares saudáveis. A metodologia adotada foi baseada em atividades práticas, vídeos, pesquisas na internet e apresentação de trabalhos sobre o tema. Para a avaliação da eficiência da intervenção foi aplicada um pré-teste antes da intervenção e um pós-teste ao final. Verificou-se que as atividades promoveram um maior interesse por parte dos alunos a respeito do tema. Além disso, contatou-se que no pós-teste os alunos mostraram uma ampliação de seus conceitos a respeito da importância dos hábitos saudáveis de vida, alimentação saudável e doenças associadas com a obesidade e medidas de prevenção. Podemos observar através dos resultados alcançados a necessidade de maior atenção por parte da disciplina de Ciências na orientação sobre hábitos alimentares saudáveis, incluindo desde cedo nas escolas ações que despertem o interesse sobre esse tema e esclarecimentos sobre qualidade de vida.
Palavra chave: Ciência; Saúde escolar, Prevenção primária; Obesidade.
1. Introdução
O Brasil reduziu o número de subnutridos em 2 milhões de pessoas
nos últimos anos (KEPPLE, 2014). Em contrapartida, houve um aumento de
crianças e jovens com sobrepeso e obesidade (MALAFAIA, 2012).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vem alertando há vários anos
a respeito da diminuição das taxas de desnutrição e o aumento no quadro de
obesidade na população em geral, envolvendo também crianças e
adolescentes, fenômeno esse chamado de transição nutricional (MONTEIRO,
2003).
Sob a ótica do ensinar a aprender, torna-se fundamental a educação
nutricional e alimentar de escolares do ensino fundamental. A forma de ensinar
deve se adaptar e sofrer mudanças, compreendendo-se a sala de aula como
um palco de muitas possibilidades, de acordo com as necessidades de
aprendizado dos alunos. Sendo, muitas vezes, fundamental associar a teoria
com a prática (PARANÁ, 2008, p. 22). Segundo as Diretrizes Curriculares da
Rede Pública da Educação Básica do Paraná (DCE), “a importância da práxis
no processo pedagógico, o que contribui para que o conhecimento ganhe
significado para o aluno, de forma que aquilo que parece sem sentido seja
problematizado e apreendido” (PARANÁ, 2008, p. 22).
Podemos considerar a obesidade como uma doença crônica não
transmissível podendo ser compreendida como acúmulo excessivo de gordura
corporal que acarreta prejuízos à saúde das pessoas.
A obesidade envolve aspectos genéticos e ambientais, e também a
educação nutricional. Atualmente, podemos afirmar que a obesidade é um
problema de saúde pública mundial, tanto em países desenvolvidos como nos
países em desenvolvimento. Em geral, as mudanças necessárias para se obter
hábitos saudáveis de vida dependem de mudanças comportamentais,
educacionais, econômicas, sociais e demográficas (BRASIL, 2006).
Para Viuniski (2000) e Zlochevski (1996), pesquisas científicas
direcionadas ao estudo das causas do desenvolvimento da obesidade indicam
que as causas são multifatoriais.
Há 2.500 anos, Hipócrates, o pai da Medicina, já reconhecia o papel do
estilo de vida na saúde das pessoas. Ele dizia que:
“A boa saúde requer conhecimento da constituição primária do
homem e dos poderes dos vários alimentos, tanto os naturais
quanto os derivados das habilidades humanas. Porém a
alimentação por si só não é suficiente para a boa saúde. Deve
vir acompanhada de exercícios físicos, cujos efeitos devem ser
conhecidos. A combinação desses dois fatores compõe a
conduta alimentar: deve-se ter em mente a estação do ano, as
mudanças dos ventos, a idade do indivíduo e o seu contexto
doméstico. Se tiver deficiência alimentar ou de exercícios
físicos o corpo fica doente” (FELDMAN, 2014).
Sabe-se que a alimentação é requisito básico para a promoção da saúde
e possibilidade de pleno potencial de crescimento e desenvolvimento humano.
Com as mudanças na forma de alimentação, as crianças e adolescentes
em idade escolar encontram dificuldade para identificar um alimento saudável
tendo em vista o acesso a comerciais que incentivam o consumo de alimentos
processados e fast food. Para alguns educadores existe a preocupação das
doenças não transmissíveis como a aterosclerose, diabetes, hipertensão,
dentre outros. Na visão dos educadores, as medidas de prevenção do
sobrepeso e da obesidade dentro das instituições escolares são fundamentais,
uma vez que, por meio do esclarecimento dos escolares pode haver uma
mudança do ambiente familiar (CUPPARI, 2009).
A intenção didática que originou este artigo está vinculada ao conteúdo
“Cultura Corporal e Saúde” estabelecido pelas DCEs e esta intervenção
pedagógica está relacionada à área de Ciências da Saúde. Esta proposta
desperta a importância de se trabalhar o tema obesidade na disciplina de
Ciências, fazendo da sala de aula um espaço de esclarecimento sobre o tema,
em um momento que o país vive uma epidemia de casos de sobrepeso e
obesidade entre crianças e adolescentes.
Com isso, objetivamos estimular a integração do tema saúde nutricional
e prevenção da obesidade no Ensino de Ciências, por meio da adoção de
atividades didáticas que possibilitem a reflexão sobre a educação alimentar e
demais temas propostos através de uma abordagem interdisciplinar e multi-
metodológica. Visamos também estimular a percepção dos alunos a respeito
da relação do cuidado com o corpo humano, aumentando a sua qualidade de
vida.
2. Revisão da literatura
2.1. Obesidade
A obesidade é caracterizada pelo excesso de tecido adiposo, onde há
um desequilíbrio nutricional, onde a pessoa ingere mais energia do que gasta.
Campos (2005) considera os fatores ambientais importantes para
desenvolvimento da obesidade, além dos aspectos social e emocional, o
consumismo, o desmame precoce contribuem para o inicio da doença. Muitos
casos de obesidade são provocados pelo comer em excesso como resultado
de maus hábitos alimentares. A condição financeira das pessoas pode afetar e
determinar as diferentes combinações de açúcares e gorduras utilizadas
(VIUNISKI, 2000).
Para Borges-Silva (2011) a obesidade manifestada nas pessoas se dá
pelas diferenças energéticas no consumo dos alimentos, levando em conta
fatores, tais como: genéticos, ambientais, comportamentais ou químicos. As
diferenças dos valores calóricos dos alimentos rápidos influenciam na dieta das
crianças e adolescentes e adultos.
Para Rocha et al. (2013), a obesidade torna-se um problema de saúde
pública, uma vez que, favorece o aparecimento de várias doenças crônicas,
podendo ainda afetar psicologicamente o sujeito e acarretar discriminação
estética, afetando a autoestima, principalmente de crianças e adolescentes no
seu convívio social. Os jovens em idade escolar cultuam as formas do corpo e
a aparência, sem levar em consideração as conseqüências do custo para se
obter um corpo saudável, como a prática de atividades físicas e alimentação
balanceada.
Segundo Fisberg (2005), os problemas posturais agravam a saúde das
crianças obesas em idade escolar impedindo que participem de movimentos
simples do dia-dia, prejudicando as atividades físicas, onde envolvem
movimentos rápidos. Geralmente essa dificuldade ocorre pelo excesso de
gordura corporal.
2.2. Prevenção da obesidade na escola
Hoje, o alimento não é apenas visto como veículo essencial de
nutrientes para garantir o crescimento e o desenvolvimento, também é o
caminho para o bem-estar pleno. A informação é importante, uma vez que,
permite que as pessoas possam realizar escolhas saudáveis em relação à sua
alimentação.
Para Hidalgo e Plácios (1995), a escola influi de forma direta nos
processos do desenvolvimento da criança tanto individual (autoconceito,
autoestima, autonomia) como social. O escolar torna-se organizado e
potencializa sua confiança à medida que alcança resultados acadêmicos
positivos.
Segundo Fisberg (2005)) em torno de 41% das crianças diagnosticadas
com obesidade com um ano de idade continuam obesas na idade adulta.
Assim, a idade escolar é o período mais crítico onde a obesidade pode torna-se
duradoura. A escola pode trabalhar para que esta estatística mude, e para
diminuir os índices apresentados. A obesidade é de natureza multifatorial
podendo assim ser observada em todas as fases do desenvolvimento das
crianças e adolescentes no ambiente escolar.
Diante disso, a composição corporal da criança, seja saudável ou não,
dependerá do seu comportamento e sua relação com o meio ambiente, tais
como: sua forma de se alimentar, se realiza atividade física, as horas em frente
a televisão, entre outros (BORGES-SILVA, 2011).
Hoje as crianças e adolescentes tem várias formas de relacionar-se com
o próprio corpo, com o mundo e com a natureza na qual estão inseridos.
Contudo, a escola é o local de compartilhar pensamentos para formar cidadãos
conscientes para práticas de saúde alimentar.
No entanto com observações e pesquisas com grupos de brasileiros em
idade escolar, indicam que alimentar-se inadequadamente pode trazer sérios
riscos a saúde com carências na ingestão de produtos como frutas e hortaliças
e excesso em gorduras e açúcar (CUPPARI, 2009).
Para Tavares et al. (2014) o consumo com freqüência de verduras são
apontados como um fator de proteção para manutenção da saúde assim como
a realização de atividade física para ocorrência da obesidade em jovens.
Desta forma, é fundamental o professor buscar alternativas pedagógicas
e curriculares que visem á reflexão no ambiente escolar sobre os hábitos
alimentares de acordo com a idade e a cultura das crianças e adolescentes
(AFONSO, 2003)
2.3. Obesidade no ensino de Ciências e a educação
A escola pode constituir um ambiente para promoção de hábitos
saudáveis de vida por ser um local de convívio social e educativo.
Para Goulart (2010), o aumento no número de crianças e adolescentes
com obesidade tem alertado pais e professores para os sérios problemas no
desempenho escolar dos estudantes. Além disso, a educação alimentar deve
contar com a participação da família, só assim o aluno pode aprender a teoria
na escola e a prática do consumo do alimento saudável em casa com a família.
A escola pode se tornar um local onde os adolescentes promovam reflexões
sobre o quanto pode ser importante a alimentação saudável. Sempre alertando
colegas e familiares sobre o consumo variado de frutas, legumes e verduras da
época sempre associando alimentação saudável com atividades físicas e
sempre com orientação de profissionais.
3. Metodologia
A temática da obesidade e hábitos saudáveis de vida foi incluída no
conteúdo sobre corpo humano, mais especificamente, no contexto do
funcionamento do sistema digestório, por ser o objetivo principal a reflexão
sobre hábitos saudáveis de vida. Onde foram contemplados os seguintes
tópicos: alimentação, composição química dos alimentos, nutrição, mastigação,
digestão e saúde nutricional. Essa temática foi trabalhada com alunos do 8º
Ano da Escola Estadual Carlos Drummond de Andrade do município de Foz do
Iguaçu, por meio de oito horas de aulas teóricas com explanação detalhada
dos conteúdos: alimento e nutriente, alimento e saúde, nutrição, digestão e
sistema digestório e saúde nutricional. Oito horas de aulas práticas no
laboratório de Ciências: com produtos encontrados em supermercado que os
alunos conheciam como: rótulos em embalagens para assim serem feitas as
comparações com alimentos feitos em casa. Foram trabalhados também a
identificação de legumes, frutas e verduras, função da saliva sobre os
alimentos e identificação dos tipos de gorduras. Dezesseis aulas lúdicas
(laboratório de informáticas, busca de revistas, vídeos [TVpendrive ou por
multimídia]) onde oportunizou-se aos alunos entender as relações entre teoria
e práticas dos temas abordados. Foi feita a apresentação do documentário
“Muito além do peso” (2012), onde houve uma reflexão sobre a ingestão de
salgadinhos, refrigerantes e bolachas recheadas e seus potenciais efeitos
danosos ao organismo. As atividades foram desenvolvidas no laboratório de
Ciências da escola com a utilização de materiais já existentes. O laboratório de
informática também foi utilizado para as atividades de pesquisas com as
questões previamente elaboradas. Os alunos foram estimulados a participar
das atividades através da elaboração e construção do material para as práticas
no laboratório. A comparação de alimentos ingeridos no dia-dia, considerados
alimentos simples, serviu para que o jovem obtivesse condições de fazer a
diferenciação entre o alimento com mais ou menos calorias. O objetivo das
ações deste trabalho foi mostrar a importância de se ingerir frutas, legumes e
verduras nas três refeições diárias. Trocando assim os alimentos gordurosos e
calóricos e também a importância da prática de esporte.
Os alunos participaram das atividades de elaboração e construção do
material didático, como o sistema digestivo para saber como o alimento sofre a
ação de cada órgão desse sistema.
Para avaliar a eficiência da intervenção pedagógica implementada foi
aplicado um pré-teste contendo 12 questões aos alunos do 8º ano no início da
intervenção e um pós-teste contendo as mesmas questões que foi aplicado
após a finalização das 32 horas de atividades propostas.
4. Resultados
A intervenção pedagógica proposta teve início com a apresentação do
projeto e a aplicação de um pré-teste aos 28 alunos do 8º Ano que participaram
da intervenção para avaliar os seus conhecimentos prévios sobre hábitos
alimentares e a saúde. Em seguida, teve início as aulas teóricas e práticas
propostas (Quadro 1). Os temas abordados e as atividades realizadas
valorizaram os aspectos lúdicos da aprendizagem utilizando-se diversos
recursos pedagógicos, tais como: aulas práticas, experiências sobre os
processos de mastigação, o caminho do alimento dentro do corpo humano, a
absorção e digestão dos alimentos. Assim possibilitando a compreensão da
função de cada órgão do sistema digestivo e permitindo o aprimoramento do
raciocínio e a compreensão de conceitos apresentados, para o
desenvolvimento de suas habilidades e construção do conhecimento. As aulas
práticas mais representativas estão apresentadas em fotos na Figura 1, tais
como a prática da amilase salivar (Figura 1A), construção dos órgãos do
sistema digestório (Figura 1B) e construção da pirâmide alimentar (Figura 1C e
1D). Notou-se que houve uma excelente participação e interesse da turma em
relação às atividades e temáticas propostas, percebendo-se a participação da
turma na construção do conhecimento.
Contamos, neste projeto, com a compreensão e colaboração dos
agentes educacionais I, que foram esclarecidos no primeiro dia de aula sobre
os objetivos da proposta de intervenção pedagógica, tendo em vista que,
seriam os responsáveis pelo contato direto com os adolescentes no momento
do consumo da merenda e no atendimento na cantina da escola, podendo
contribuir para também orientar os alunos a consumirem alimentos mais
saudáveis como os fornecidos pela merenda.
Foi possível perceber que a intervenção pedagógica teve impacto na
alimentação das famílias dos escolares participantes, o que ocorreu
indiretamente, por meio dos comentários realizados pelos alunos.
Importante considerar que os adolescentes terminaram o projeto de
intervenção com um maior nível de conhecimento e reflexão sobre como os
alimentos podem ser importantes para manutenção da saúde do corpo e, como
consequência, da mente.
Quadro 1 – Principais atividades desenvolvidas no projeto de intervenção pedagógica e respectivas metodologias, objetivos e resultados alcançados, Foz do Iguaçu, 2014.
Atividade Objetivo Desenvolvi mento Resultado Aula expositiva: sistema digestivo.
Conhecer as funções do sistema digestivo e diferenciar cada etapa.
Com cartazes, vídeos, explanação, debates.
Os alunos perceberam a importância e os cuidados que devem ter com os alimentos ingeridos.
Aula prática: Atividade sobre amilase salivar.
Compreender como as enzimas atuam especificamente na digestão de carboidratos.
Os alunos foram reunidos em grupos para observar o processo da digestão do amido. A saliva é uma enzima que transforma o amido em maltose, um tipo de dissacarídeo.
Os alunos concluíram a importância da saliva para digestão dos carboidratos na boca e a importância da saliva para a digestão.
Aula prática: Construção do sistema digestivo e digestão de proteínas
Conhecer o funcionamento dos processos químicos da digestão dos alimentos.
Os alunos confeccionaram os órgãos do sistema digestivo usando espuma TNT (tecido não tecido).
Foi possível a compreensão do funcionamento e do trajeto do alimento desde a entrada na boca ate a saída do bolo fecal e a função de cada órgão do sistema digestório.
Aula prática: Pirâmide dos alimentos.
Compreender as categorias de alimentos segundo a pirâmide alimentar.
Cada alimento foi identificado segundo a sua categoria e importância para o organismo e colocado dentro da pirâmide alimentar.
Os alunos compreenderam a importância dos diferentes grupos de alimentos distribuídos na pirâmide e as porções ingeridas.
Apresentação de trabalhos: Distúrbios alimentares, obesidade e medidas preventivas.
Possibilitar a identificação de distúrbios alimentares e promover medidas preventivas no ambiente escolar.
Apresentação dos trabalhos com exposição oral pelos alunos para os colegas de sala.
Houve debate sobre os efeitos nocivos da obesidade e do sedentarismo e o surgimento de distúrbios alimentares. A questão psicológica foi abordada.
Figura 1 : Atividades práticas realizadas na intervenção pedagógica: A) Prática sobre a amilase salivar; B) Construção dos órgãos do sistema digestivo utilizando Tecido Não Tecido (TNT); C) Montagem da pirâmide alimentar em papel; D) Montagem da pirâmide alimentar utilizando réplicas de alimentos. Foz do Iguaçu, 2014.
O Quadro 2 mostra os resultados do pré-teste e do pós-teste sobre o
que os alunos conhecem sobre hábitos alimentares, nutrição e saúde. No pré-
teste os alunos demonstraram desconhecer ou não ter hábitos de consumir
alguns tipos de alimentos. Além disso, verificou-se que desconheciam as
funções do sistema digestório. A média geral de acertos da turma foi de 52%.
Após a intervenção pedagógica com a realização dos trabalhos de pesquisas,
as aulas teóricas e práticas sobre o funcionamento do aparelho digestório, no
pós-teste, os alunos apresentaram um rendimento melhor, onde apresentaram
uma média geral de 77%, indicando que adquiriram maior conhecimento e
compreenderam a fisiologia do aparelho digestivo, conceitos sobre nutrição
saudável e saúde.
Quadro 2 : Questões apresentadas sobre o sistema digestório e nutrição, e o percentual de acerto e erro da turma no pré-teste e pós-teste, Foz do Iguaçu, 2014.
Questão Acertos (%) Erros (%)
1- Com que frequência você realiza suas refeições?
3 ou mais refeições Menos de 3
n % n % Pré 20 70 8 30 Pós 20 70 8 30
2 - Alimentos que consomem com frequência Variam Não variam
n % n % Pré 19 68 9 32 Pós 21 76 7 24 3 - Você considera seus hábitos alimentares saudáveis?
Sim Não n % n %
Pré 24 85 4 15 Pós 18 65 10 35 4 - O que você acha que precisa melhorar na sua alimentação?
Precisa mudar Não precisa mudar n % n %
Pré 12 43 16 57 Pós 25 89 3 11
5 - Qual a função do estômago? Acertou Errou
n % n % Pré 25 89 3 11 Pós 21 75 7 25
6 - Qual a função do intestino delgado? Acertou Errou
n % n % Pré 1 4 27 96 Pós 13 46 15 54 7 - Quais doenças estão relacionadas à obesidade?
Acertou Errou n % n %
Pré 13 46 26 93 Pós 12 43 16 57
8 - Quais alimentos contêm proteínas? Acertou Errou
n % n % Pré 1 4 27 96 Pós 25 89 3 11
9 - Quais alimentos contêm carboidratos? Acertou Errou
n % n % Pré 14 50 14 50 Pós 28 100 0 0
10 - Quais alimentos contêm lipídios? Acertou Errou
n % n % Pré 9 32 19 68 Pós 26 93 2 7
11 - Qual a importância de comer frutas? Acertou Errou
n % n % Pré 15 54 13 46 Pós 23 82 5 18 12 - Qual a importância da atividade física para a saúde?
Acertou Errou n % n %
Pré 18 64 10 36 Pós 28 100 0 0 n % n % Média no pré-teste 14 52 14 48 Média no pós -teste 22 77 5 23
5. Discussão
A obesidade cresce rapidamente no Brasil e no mundo (STECK, 2014),
com os dados alarmantes, e a escola precisa tomar um posicionamento para
esclarecer as crianças e adolescentes. Para Yamashita (2011), “Significa ter
um compromisso com o ser humano dividindo as responsabilidades para que
as pessoas tenham o direito de fazer a melhor escolha ao longe da sua vida”.
Para Yokota et al. (2010), na escola se formam as bases do
comportamento no que se refere à alimentação, sendo importante incluir a
alimentação saudável como um conteúdo transversal permanente nas áreas do
conhecimento.
Sabemos que a alimentação constitui uma das atividades humanas mais
importantes por razões biológicas evidentes, mas também devido aos aspectos
econômicos, sociais, científicos, políticos, psicológicos e culturais relacionados
a esta prática, fundamentais na evolução das sociedades (PROENÇA, 2010).
Na atualidade a desestruturação das refeições é uma realidade,
influenciada principalmente a partir de alterações observadas em praticamente
todos os países e culturas considerados industrializados. Diante dessas
constatações, a escola pode atuar para reduzir os problemas causados pelo
desconhecimento da população estudantil sobre a distinção entre alimentação
saudável e não saudável.
Apesar das crianças e adolescentes conhecerem hábitos saudáveis de
alimentação, a maioria declara não praticar no seu dia a dia, muitas vezes pela
questão cultural, falta de hábito ou relata falta de tempo. E como conseqüência
as doenças surgem cada vez mais cedo.
Diante da análise do tema apresentado para os colegas podemos
observar a preocupação dos professores com o aumento do sobrepeso e da
obesidade devido aos hábitos alimentares inadequados e, como consequência,
a possibilidade do surgimento de doenças crônicas não transmissíveis no
ambiente escolar e ao longo das vidas desses estudantes.
A escola pode colaborar desenvolvendo junto com os professores formas
de minimizar a falta de esclarecimento dos pais e dos estudantes,
desenvolvendo projetos que vá aos poucos despertando o interesse por
hábitos saudáveis de vida. Podemos apontar também pelos questionamentos,
que as crianças e adolescentes buscam alimentos prontos, ricos em calorias e
pobres em nutrientes, e não demonstram interesse em aprender a fazer o
próprio alimento. É importante observar a preocupação do governo do Paraná
em desenvolver ações como o projeto: “Alimentação saudável e
sustentabilidade ambiental nas escolas do Paraná”, que retomem hábitos antes
deixados de lado, chamando a comunidade, para juntos, refletir sobre os
problemas oriundos da má alimentação. Destaca-se a importância das cantinas
das escolas e o quanto precisam ser observadas para dar mais qualidade aos
alimentos que os alunos consomem dentro da escola.
Importante ressaltar a preocupação dos nossos governantes na
alimentação dos estudantes, tomando medidas que esclareçam a respeito dos
alimentos saudáveis e alertam para o perigo da ingestão excessiva em longo
prazo de alimentos hipercalóricos, proporcionando o acesso à informação.
Ressalta-se também a importância das parcerias realizadas pelo governo do
estado do Paraná com produtores de alimentos orgânicos próximos de
comunidades, para assim, as crianças e adolescentes poderem alimentar-se
com produtos oriundos da agricultura familiar.
Os trabalhos desenvolvidos pela escola com orientação dos professores,
a direção da equipe pedagógica e a comunidade, com espaços de trabalhos
apresentando vídeos sobre alimentação saudável e qualidade de vida, pode-se
fazer a diferença para nossos estudantes. Segundo Gonçalves (2006),
atividades educativas oportunizam aos escolares conhecer o valor das calorias
na composição dos alimentos que possa interferir na saúde humana.
No período de desenvolvimento deste trabalho, houve a oportunidade de
participar de um fórum e diário virtual denominado Grupo de Trabalho em Rede
(GTR), onde participaram 23 professores da rede pública de ensino do Paraná,
de diferentes municípios. Onde foi possível constatar que o problema da
obesidade no ambiente escolar é generalizado e acomete a maior parte das
crianças e adolescentes em idade escolar. O conhecimento em educação
alimentar é importante fator de contribuição na prevenção da obesidade e,
como consequência, das doenças crônicas não transmissíveis. Quando os pais
apresentam conhecimento sobre educação alimentar e os praticam os filhos
apresentam maior chance de adotá-los no seu dia a dia como um hábito.
No GTR, o tema obesidade constituiu-se de interesse multidisciplinar.
Muitas experiências foram socializadas e ideias inovadoras puderam ser
aproveitadas pelos colegas de outras áreas. De maneira geral, a proposta foi
muito bem recebida, constituindo estímulo para ser reproduzida em outras
escolas.
6. Considerações finais
A obesidade, além de causar dificuldades nas atividades simples,
também pode causar problemas emocionais e também influenciar a saúde
sobre vários aspectos, e tornar o sujeito susceptível a muitas doenças crônicas
não transmissíveis.
Os problemas nutricionais também atingem a maioria dos alunos do
ensino fundamental.
A escola neste momento pode tornar-se um grande aliado no que se
refere à prevenção ou controle da obesidade, sempre priorizando o respeito ao
se humano com suas limitações.
Esta intervenção pedagógica permitiu inserir o conteúdo sobre hábitos
saudáveis de vida e alimentação saudável no ensino de Ciências,
possibilitando a compreensão por parte dos alunos dos fatores relacionados
com a obesidade e os meios de se melhorar a qualidade de vida, com a
adoção de hábitos mais saudáveis e, assim, planejar e aplicar atitudes que
estimulem a promoção da saúde.
Os resultados alcançados demostraram que este tipo de intervenção
constitui recurso eficiente para esclarecer crianças e adolescentes, em
ambiente escolar, sobre os tipos de alimentos, pirâmide alimentar, nutrição
humana, problemas decorrentes da obesidade e a importância da adoção de
uma alimentação mais saudável no seu dia a dia.
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