Upload
vuhuong
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
1
A TECNOLOGIA E OS JOGOS NA EDUCAÇÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA
NEUROMOTORA
Autora: Liz Andréa Dvulhatka1
Orientador: Prof. Dr. Paulo Ricardo Ross2
Resumo
Este artigo tem como finalidade refletir sobre uso de softwares de jogos no
desenvolvimento da criança com deficiência neuromotora. Trata-se da Implementação de novas tecnologias e Jogos aplicados na Escola Multidisciplinar da Educação Básica na modalidade Educação Especial, para alunos com dificuldades neuromotores, que limitam sua capacidade de interagir com o mundo físico. Identificar as práticas pedagógicas que valorizam os softwares educativos e analisar as implicações da afetividade e ludicidade sobre a aprendizagem desses alunos foram fatores fundamentais para essa iniciativa. A problemática que justifica este trabalho procura elucidar como as ações didáticas apoiadas na tecnologia assistiva podem ser realizadas com o uso dos recursos tecnológicos, por meio da ludicidade, afetividade, aprendizagem e autonomia dos alunos com a referida deficiência e como os professores podem adequar os softwares educativos conforme as necessidades, capacidades e diferenças de cada aluno. A implementação alicerçou-se na utopia de dedicar as novas formas de ensinar, interagir e contribuir, com resultados extremamente benéficos para ambos os lados “alunos com deficiência neuromotora e professores”.
Palavras-chave: Deficiência Neuromotora; Tecnologia; Formação de Professores.
1Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (1997). Atualmente
professora - Secretaria de Educação do Paraná. Experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos e Educação à Distância. Experiência em Tutorias na Graduação do Curso de Pedagogia pela Universidade Cidade de São Paulo e na Pós Graduação nos Curso de Psicopedagogia, Educação Infantil e Educação Ambiental pela Universidade Castelo Branco e Tutorias na UFPR nos Cursos de EJA na Diversidade e Educação Ambiental. 2Professor Associado do Setor de Educação, Departamento de Planejamento e Administração
Escolar/DEPLAE da Universidade Federal do Paraná, palestrante e pesquisador em Educação Inclusiva, Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano. Possui graduação em Pedagogia (1986), mestrado em Educação Permanente e Recursos Humanos pela Universidade Federal do Paraná (1992) e doutorado em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (1999).
2
1 Introdução
Na perspectiva de refletir a importância da formação de professores e o
desenvolvimento das competências para o atendimento às necessidades
educacionais especiais de alunos com deficiência neuromotora fortaleceu-se a
necessidade de inovar as técnicas de ensino e de aprendizagem por meio de
softwares de jogos.
Este trabalho de pesquisa e intervenção propôs o conhecimento destes
softwares, a fim de intensificar as práticas pedagógicas com jogos que
promovessem o desenvolvimento cognitivo, social e cultural, valendo-se das
tecnologias como instrumentos e canal de comunicação. Analisou-se também a
utilização de diferentes formas de simbolização e representação do conhecimento
que poderiam favorecer a capacidade de criatividade desses alunos, bem como as
implicações da afetividade e da ludicidade nos jogos.
Para que isso ocorresse, o professor promoveu situações favoráveis ao
desenvolvimento das competências assumindo seu papel de orientador, de
mediador da aprendizagem, como também de interlocutor presente.
Na prática escolar, percebe-se que as atividades que partem da formação do
raciocínio, têm-se resumido a simples atividades espontâneas em buscada
construção das estruturas cognitivas. Esses são aspectos necessários, mas não
suficientes, quando se concebe a aprendizagem como um processo interacional
entre o professor e o aluno. O uso de software ultrapassa a compreensão da
superfície. Não se aprende por exercícios isolados, mas sim por práticas
significativas, pois o domínio cognitivo é o resultado de práticas efetivas.
O ensino construtivista com jogos possibilitou ao aluno com problema
neuromotor, conhecer as próprias emoções, despertando a imaginação e a
criatividade, construindo um sentido pessoal para a sua vida, tornando-se realmente
um sujeito da aprendizagem.
As famílias de crianças com problema neuromotor procuram escolher uma
escola com requisitos essenciais à educação e um método de ensino que priorize a
promoção da autonomia desses sujeitos e desenvolvam o cognitivo. Assim, há
diversas teorias aplicadas à educação adotadas nas escolas, entre as quais se
3
destaca a aprendizagem construtivista-sócio-interativista, cujos mentores são Piaget,
filósofo suíço e, o russo, Lev Vygotsky.
Portanto, se a escola é o lugar onde se aprende, é preciso que ela
desempenhe produtivamente o seu papel, ainda mais se considerando que, para
muitos alunos, a escola é a única oportunidade de apresentar-se como intermediária
entre o sujeito e o mundo. Desenvolver metodologias diferenciadas para ampliar o
conhecimento cognitivo de nossos alunos deve ser prioridade em todas as áreas de
ensino.
Durante a implementação de material didático desenvolvido para este
programa3, as aulas com jogos de software converteram-se em aulas lúdicas, mas
muito valorizadas, já que promoveram o resgate da autoestima e incentivaram os
professores a refletirem sobre as formas das atividades que norteiam o trabalho com
alunos com problemas neuromotores como situações dinâmicas, capazes de
transformar o convívio social de cada um. Para que todo esse processo ocorresse,
os objetivos a serem atingidos citados acima foram cuidadosamente observados.
2 Desenvolvimento
Mendonça e Pardini (2007, p. 934) mencionam em seus estudos, de acordo
com o artigo 4º do Decreto nº 3298, de 20 de dezembro de 1999, para uma pessoa
ser considerada portadora de necessidades especiais ela deve se enquadrar em um
dos seguintes casos:[...] alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do
corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se
sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia,
triplegia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência do membro, paralisia
cerebral, membros com deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades
para o desempenho de funções.
Segundo Teixeira (1999), as causas prováveis da paralisia cerebral são: na
3O desenvolvimento do Material Didático – A TECNOLOGIA E OS JOGOS NA EDUCAÇÃO DE
ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NEUROMOTORA - refere-se às atividades do segundo período do
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE
4
gestação por: toxemia, hemorragias, anemias, diabetes e infecções; durante e após
o parto devido: traumatismos de parto; anoxia e prematuridade e após o nascimento
em razão de: asfixia, infecções (meningite) e acidentes e fraturas. Outros fatores de
risco são a violência urbana; acidente de trânsito; acidente desportivo; alto grau de
estresse, tabagismo; maus hábitos alimentares; uso de drogas; sedentarismo;
epidemias/endemias; agentes tóxicos; falta de saneamento básico.
O termo neuromotora reporta-se às deficiências ocasionadas por lesões nos
centros e vias nervosas que comandam os músculos (BRASIL, 2002).
A concepção de disfunção neuromotora pode ser descrita como uma
desordem do desenvolvimento motor e da postura, causando limitação da atividade
motora, sendo não progressiva e devendo ser instalada no período pré-natal,
perinatal ou na infância. As desordens motoras na disfunção neuromotora são
frequentemente acompanhadas de distúrbios da sensação, cognição, comunicação
e percepção (BAX (2005), apud Melo, 2007, p. 20-30).
A SEED/DEEIN – Paraná (2004) entende a deficiência neuromotora como o
comprometimento motor acentuado, decorrente de sequelas neurológicas que
causam dificuldades funcionais nos movimentos, na coordenação motora e na fala.
O aparelho locomotor que compreende o sistema osteo-articular, o sistema muscular
e o sistema nervoso, comprometido por doenças ou lesões que afetam quaisquer
desses sistemas, isoladamente ou em conjunto. As consequências são quadros de
limitações físicas de grau e gravidade variáveis, segundo regiões corporais afetados
e o tipo de lesão ocorrida.
Aluno com disfunção neuromotora é aquele que requer a organização do
contexto escolar no acesso ao currículo, por meio da eliminação das barreiras que o
impedem de exercer o direito à educação (SEED/DEEIN /08).
De acordo com Glat e Fernandes (2005) e Glat e Blanco (2007) apud Pereira
e Santos (2009), até meados do século XX, entendia-se que a criança que na escola
era incapaz de apreender conteúdos, não necessitava de escolarização, mas de
terapias individuais, como fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia, entre outras.
Nessas circunstâncias, a educação especial, se organizou tradicionalmente como
atendimento educacional tendo em vista os conceitos de normalidade/anormalidade.
Segundo os autores supracitados, as práticas escolares com alunos com
deficiência eram em forma de atendimento clínico terapêutico com base em testes
psicométricos e diagnósticos. Finalmente, com o avanço da ciência médica, houve
5
entendimento sobre os diferentes tipos de comprometimento que podem ocorrer
com uma criança, levantando a preocupação em oferecer a ela uma escola
diferenciada, mais voltada para atividades cognitivas.
Desde 1960, no Brasil, luta-se pela inclusão de crianças portadoras de
necessidades especiais no ensino regular. A Lei nº. 4.024/61 - Diretrizes de Bases
da Educação - trata da educação de excepcionais, em seus arts. 88 e 89, como um
dever do Estado. Mas, a institucionalização da Educação Especial deu-se na década
de 1970, com o advento de novos conhecimentos, métodos e técnicas de ensino
que permitiram a aprendizagem e o desenvolvimento desse segmento social. Em
1973, o MEC e o Centro Nacional de Educação Especial – CENESP -
responsabilizaram-se pela educação especial no Brasil, voltadas às pessoas com
deficiência e às pessoas com superdotação (GLAT e FRENANDES (2005) apud
PEREIRA e SANTOS, 2009).
Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil conceitua-se a
criança como alguém capaz de construir uma identidade própria e assumir seu papel
como cidadã, já que é considerada como:
Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas
cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca e
imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra questiona e
constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
(BRASIL, 2010, p. 12)
A referida lei reza que na educação infantil deve-se “[...] garantir à criança
acesso a apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens
de diferentes linguagens” (BRASIL, 2009, p. 18), e “ter como eixos norteadores as
interações e a brincadeira” (BRASIL, 2010, p. 25).
De acordo com a Declaração de Salamanca (1996), toda criança tem direito
à educação para alcançar um nível adequado de desenvolvimento. Isto exige o
respeito às características individuais, habilidades e necessidades de cada uma.
Para tanto, os sistemas de ensino devem se organizar para atender também os
alunos com necessidades especiais.
6
Uma das grandes contribuições para com o ensino especial foi a de Vygotsky,
que dá ênfase à responsabilidade com o desenvolvimento real dos indivíduos.
Comprova que estes manifestam mecanismos de equilíbrio nas funções adaptativas
ao convívio social, denominados processos substitutivos e niveladores. Assim, eles
desenvolvem numerosas funções com ajuda, compensam, harmonizam e suprem os
defeitos. “O conhecimento do mundo objetivo ocorre quando desejos, interesses e
motivações aliam-se à percepção, memória, pensamento, imaginação e vontade, em
uma atividade dinâmica entre parceiros” (OLIVEIRA, 2009, p. 116).
Segundo Vygotsky (2003), o desenvolvimento cognitivo da criança pode ser
afetado por uma variedade de riscos, mas o cérebro pode se adaptar utilizando-se
da plasticidade cerebral, que é dinâmica e modificam constantemente o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Outra observação relevante
do teórico (1991), é que a criança satisfaz suas necessidades brincando, pela qual
irá exercitar suas funções psicossociais, experimentar desafios, investigar e
conhecer o mundo de maneira natural e espontânea.
Também os ensinamentos da teoria Construtivista de Jean Piaget (1977)
destacam principalmente a importância que atribui à interação para a aprendizagem:
O ser humano, do nascimento à vida adulta, é objeto de pressões sociais,
mas essas pressões são de tipos extremamente variados e distintos, e se exercem
segundo certa ordem de desenvolvimento. Assim como o meio físico não se impõe
de uma só vez nem num único bloco à inteligência e evolução (...) do mesmo modo
o meio social dá ensejo a interações entre indivíduo em desenvolvimento e as
circunstâncias que o rodeiam, as quais são extremamente diferentes uma das
outras, e cuja sucessão obedece a leis (PIAGET apud VILARDI e OLIVEIRA, 2005,
p.5). O teórico ainda afirma que o indivíduo passa por várias fases em que se dá o
desenvolvimento motor, verbal e mental. Entende que a embriologia humana evolui
também após o nascimento, criando estruturas cada vez mais complexas, pela qual
a inteligência vai se construindo em etapas sucessivas, encadeadas umas às outras,
que chamou de “construtivismo sequencial”.
Desta forma, os indivíduos se desenvolvem intelectualmente a partir de
exercícios e estímulos oferecidos pelo meio que os cercam, pois a inteligência
humana, exercitada, aperfeiçoa e evolui. (BELLO, 1995).
Segundo Piaget, o sujeito nasce com condições biológicas necessárias para
construir seu conhecimento através da relação com o meio ambiente. A inteligência
7
é móvel e plástica e se estrutura por estágios se utilizando dos dois processos
independentes, mas que se inter-relacionam. A criança assimila as propriedades de
um objeto e faz a incorporação destas propriedades em sua estrutura, sendo que o
seu organismo tende a modificar se ajustando ao objetivo, realizando assim a
acomodação (Escola Multidisciplinar. Educação Infantil. Ensino Fundamental
Modalidade Educação Especial, 2013).
Ele ainda ressalta que é na ação que se origina a base da estrutura cognitiva.
Dessa forma, apesar da área motora ser a face mais comprometida da criança com
deficiência neuromotora, acredita-se que oportunizando atividades adequadas,
desencadearão ações cada vez mais complexas frente a um mesmo objeto,
favorecendo um desenvolvimento condizente às suas condições cognitivas.
Wallon (2007) divide o desenvolvimento da criança em fases: impulsivo-
emocional; sensório-motor e projetivo; personalismo; categorial e puberdade e
adolescência. Ao longo desse processo, a afetividade e a inteligência se alternam.
No primeiro ano a função que prevalece é a afetividade e na etapa sensório
motor e projetiva se destaca a inteligência (Salla, 2011).
Gardner (1995, p. 23) relaciona o movimento físico e o conhecimento do
corpo a inteligência corporal e cinestésica. É a habilidade de usar o corpo para
expressar uma emoção (dança e linguagem corporal) ou praticar um esporte. “O
controle do movimento corporal está, evidentemente, focalizado no córtex motor, em
cada hemisfério dominante ou controlador dos movimentos corporais no lado contra
lateral”.
Machado (1981) acrescenta outras áreas corticais também importantes para a
realização do movimento, como é o caso do giro pós-central onde cada ponto
sensitivo do corpo tem representação nesse córtex.
Na perspectiva junquiniana “do mesmo modo que o indivíduo não é apenas
um ser singular e separado, mas também um ser social, a psique humana também
não é algo isolado e totalmente individual, mas também um fenômeno coletivo”
(Jung, 1981, p. 136).
Com base em pesquisas, Oliveira (2000), aborda a construção do
conhecimento através de experiências táteis, a partir do conceito de período
sensório-motor proposto na teoria de Piaget (1995); da teoria da emoção de Wallon
(2007); da inteligência corporal cinestésica de Gardner (1995), de alguns conceitos
da Psicologia de Jung (2008), no que se refere à interligação entre vivências
8
corporais e processos inconscientes e de Reich (1998), enfatizando a compreensão
do corpo como memória da história psíquica do indivíduo e aspectos da sexualidade.
Seguindo essa linha de pensamento, Reich entende que a mente humana
não pode ser entendida separadamente do corpo, e esse conjunto está vinculado à
cultura e a história de sua época. A máxima de seu pensamento é “corpo são, mente
sã”.
Tal conhecimento deve levar o professor de Educação Inclusiva a partir de
observações criteriosas, ajustar e a reelaborar metodologias e critérios de
intervenção pedagógica auxiliando os alunos no lado afetivo e sociocultural (Prado e
Freire, 2001).
Para Fosnot (1998), a prática educativa, numa perspectiva sócia construtivista
permite que os alunos formulem as próprias perguntas, gerem suas hipóteses e
modelos e testem sua validade; proporciona investigações desafiadoras e
contraditórias; incentiva a abstração reflexiva, pela qual os alunos organizam,
generalizam e criam sentido para as experiências vivenciadas; incentiva a
conversação, a argumentação e a comunicação das idéias e dos pensamentos dos
alunos e promove a busca da produção e construção de significados, cuja
aprendizagem impulsiona o desenvolvimento das estruturas psicológicas.
É importantíssima a estimulação desses alunos com materiais e recursos de
apoio, muita paciência, carinho e prazer em ensinar o aluno. O ensinar e aprender
são ações que possuem uma interação ativa, pois nas relações estabelecidas entre
os sujeitos (professor e alunos), a construção do conhecimento se dá se for uma
prática transformadora, desmistificadora, e questionadora entre “ensinante e
aprendente.” (Oliveira, 2009).
O contexto da Educação Especial exige um professor mediador, que, entre
tantas outras ações, favoreça o desenvolvimento da criança, que detecte diferentes
informações sensoriais, como visão, audição e outras, que busquem identificar o
problema, tomem iniciativa em diferentes contextos e encoraje a criança a ser
menos passiva no ambiente. Desenvolver a flexibilidade também é importante, deste
modo crie pequenas mudanças e problemas para que a criança perceba, inicie,
tolere mudanças e aprenda a lidar com estas situações (Mousinhoet al., 2010).
Para Ross (2004, p.217), o professor é aquele que amplia os braços mentais
dos alunos e de si próprio para que ambos se apropriem, compreendam não apenas
o já conhecido, mas aquilo que precisa ser conhecido em face das necessidades do
9
contexto social de cada época. O ensinar e o aprender passam a ser aquele
conjunto que alavanca o processo de compreensão e apropriação, de descoberta e
de contextualização. Ao fazer-se como ponte, como mediação, o ensino
desconstitui-se como transmissão externa do professor aos alunos.
A afetividade é um componente da subjetividade humana, ela explica todas as
expressões, ou seja, pensamentos fantasias, sentimentos etc. A emoção é quem
fornece o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos e a história do ser e da
espécie. Por meio da emoção, de manifestações como choro, riso, movimento dos
braços e pernas, permite ao observador sensibilizado captá-la. As crianças que não
recebem afetividade desde os primeiros anos de sua infância sentem os efeitos,
também na vida adulta.
Assim, como diz Cazeiro (2008), o brincar proporciona à criança possibilidade
de enfrentar situações novas e, consequentemente, desenvolver suas habilidades
individuais.
Não há aprendizado sem atividade intelectual e sem prazer, e se não existe
aprendizagem sem o lúdico, a motivação por meio da ludicidade é uma excelente
estratégia no auxílio da aprendizagem de crianças com necessidades especiais, pois
ao brincar a criança apresenta características de um ser completamente livre,
motivado por uma necessidade intrínseca de realização pessoal (Rizzo Pinto,1997,
p.336).
De acordo com Bersch (2008) a Tecnologia Assistiva (TA) pode proporcionar
oportunidades de maior independência, qualidade de vida e inclusão social, por meio
da ampliação de sua comunicação, mobilidade, controle de seu ambiente,
habilidades de seu aprendizado e trabalho.
Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica
interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias,
práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à
atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou
mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de
vida e inclusão social. (CORDE – Comitê de Ajudas Técnicas – ATA VII).
Martins Neto e Rollemberg (2005) alertam, entretanto, que o uso das
Tecnologias Assistivas no Brasil ainda é restrito. Apontam como principais motivos a
10
falta de conhecimento do público em geral, a falta de orientação aos usuários pelos
profissionais da área de reabilitação, o alto custo de algumas delas, a carência de
produtos no mercado e a falta de financiamento para pesquisa. Atualmente os
próprios sistemas operacionais, como: Linux e Windows, já trazem alguns recursos
de acessibilidade embutidos no próprio software. O mercado disponibiliza muitos
jogos eletrônicos com boas opções educativas como jogos, exercícios, prática entre
outros.
Os softwares de exercício e prática são os mais tradicionais da informática na
Educação, tendo como características a facilidade de uso, inclusão de elemento de
jogo, pequena duração, instrução clara e reforço para respostas certas e auxilia o
aluno a identificar e corrigir as respostas incorretas. Outro, de fácil uso e
programação, com ferramentas mais abertas, liberdade de criação e motivação para
criar são os softwares multimídia/autoria.
3 Implementação
A implementação pedagógica aconteceu na Escola Multidisciplinar, localizada
no município de Curitiba/PR, pertencente ao Núcleo Regional de Curitiba.
Desenvolveu-se em etapas: a motivação, a construção e experimentação e a
finalização e avaliação. Fez-se uso da pesquisa bibliográfica e, para a prática
pedagógica,a teoria das Representações Sociais. Por essa metodologia, a produção
dos saberes sociais, centrada na análise da construção e transformação do
conhecimento social, tenta elucidar como a ação e o pensamento se interliga na
dinâmica social.
A Representação Social se faz por meio de alguma coisa (objeto –
procedimentos didáticos) e de alguém (sujeitos – professores e alunos com
problemas neuromotores). Os trabalhos baseados na teoria da Representação
Social buscam compreender os fenômenos sociais e a maneira como estes são
captados, interpretados, visualizados e expressos no cotidiano pelos indivíduos ou
grupos sociais. Ela operacionaliza o pensamento social em sua dinâmica e sua
diversidade (Arruda, 2002, p. 130).
11
Foram utilizados diferentes recursos aplicativos de softwares de jogos para
sondagem, se estes são adequados ao desenvolvimento de crianças com
deficiência neuromotora e repassar a experiência para os professores.
4 Resultados
A Unidade Didática desenvolvida no segundo período para ser implementada
na escola reuniu uma coletânea de textos, vídeos e filmes com temas diversos que
oportunizou aos alunos e aos professores momentos lúdicos e de fruição,
despertando a imaginação, a fantasia e a criatividade, bem como o conhecimento e
a aprendizagem.
Foram apresentados os vídeos/filmes: “Violão Tony.melendez.legendado”,
“Corrida de muletas” e “Nick Vujicic – Legendado – Lição de vida” (anexo1).
Na sequência, os professores fizeram comentários, sempre positivos,
lembrando que a utopia deve estar presente nas nossas intenções e ações. Todos
se disponibilizaram a colaborar com a proposta dentro das condições do contexto
escolar vivido. Os professores presentes sugeriram outras opções, como “TV Escola
Educação Especial - Bem além dos limites Deficiência física”, “Equipamentos
especiais promovem a inclusão digital” e “Brincar é coisa séria”.
Foram explorados alguns textos relativos a dificuldades
neuromotoras:“Construindo materiais e reconstruindo conceitos e valores na
educação inclusiva”, de Rosana Henriques Pinto Selvatici e Simone Moreira de
Moura, e “O que é deficiência física neuromotora”, do Prof. Dr. Luzimar Teixeira.
Após, foram descritos os tipos de jogos usados – descritos a seguir - suas
regras e utilidades, com a finalidade de contribuir com o trabalho dos professores da
Educação Inclusiva. Os jogos selecionados para a experiência foram apresentados
aos alunos e posteriormente comentados com os professores, que ressaltaram que
a experiência com os mesmos é válida considerando a ludicidade, o estímulo motor
e cognitivo. Salientaram que o uso de jogos requer uma triagem prévia, de acordo
com as necessidades/possibilidades de cada aluno e que a grande dificuldade é a
falta de laboratórios bem equipados para atendê-los.
A etapa construção (10 h/a) destinou-se ao preparo de material no
12
PowerPoint, criação pessoal, jogos de colorir figuras e formas; associação de ideias
com desenhos, formas geométricas e cores com a finalidade de despertar atenção
para objetos do cotidiano de ludicidade do aluno. Esse material foi usado com
alunos que apresentavam deficiência leve e como teve bom resultado foi socializado
com os colegas da escola.
A partir daí, deu-se a experimentação (10h/aula), com os programas: Sebran,
Omnitux, GCompris, Socrates, Picolé 2 e Ariê 2 (Download) e Jogos educativos da
Escola Games (online). No início do ano letivo de 2014 com a distribuição dos
Tablet’s do Governo para Educação Especial várias opções de jogos educativos com
download gratuitos do Play Store com o objetivo de controlar as expressões visuais
e motoras, desenvolver o sentido de lateralidade, reconhecer a sonoridade e
desenvolver a função cognitiva, visual e sonora. Cabe esclarecer que o experimento
só foi possível buscando recursos particulares, como um notebook e um tablet’s,
pois na escola só se pôde contar com um laboratório de informática. Apesar das
dificuldades materiais, os alunos aguardaram com interesse, ansiedade e
curiosidade o momento das atividades, o que proporcionou resultados favoráveis.
À última etapa (10h/aula) coube a conclusão das práticas, relato das
experiências e a avaliação do desenvolvimento da proposta.
A Implementação da Intervenção Pedagógica ocorreu entre os meses de
maio a junho de 2014.
5 Avaliação
A avaliação foi qualitativa, já que houve a preocupação contínua com o
desenvolvimento global dos alunos.
6 Considerações Finais
A reflexão sobre a literatura especializada, a experiência vivida com os
alunos, as discussões nos fóruns e diários com os professores sobre a construção
cognitiva e o uso da tecnologia na educação especial reforçam os desafios que
13
norteiam a aplicabilidade de softwares de jogos no desenvolvimento da criança com
deficiência neuromotora.
Como explicamos participantes dos fóruns e diários, os jogos eletrônicos são
eficazes no ensino aprendizagem, tendo em vista que são elementos culturais,
lúdicos, resultando em experiências enriquecedoras para o desenvolvimento
cognitivo/social. Ainda consideraram que o jogo apresenta interação, regras que
definem situações e que devem ser seguidas, envolve o imaginário como
representação do real, possibilita vivenciar a fantasia, sobretudo busca vencer os
obstáculos, superar os desafios e muito mais. Entretanto, os educadores estão um
tanto acostumados ao quadro, giz e apagador e, muitas vezes têm receio de utilizar
as novas tecnologias a seu favor em sala de aula. Concluíram que quando pensam
em Deficiência Neuromotora fica ainda mais fácil pensar nesses recursos como
fortes aliados.
Também apreciaram os softwares de jogos indicados para trabalhar os
processos de equilibração e reequilibração das estruturas cognitivas, bem como
indicaram muitos outros. O Omnitux, que é lúdico, oferece várias atividades
educacionais que estimulam o raciocínio e a inteligência de crianças entre 2 a 10
anos de idade. As atividades foram divididas em várias categorias, todas de fácil
entendimento por parte das crianças, entre elas a matemática, esquemas de mapa,
puzzles divertidos, jogos da memória, entre outras atividades educacionais. Um
exemplo é o jogo dos cartões de memória em que a criança memoriza-os e depois
que eles forem virados para baixo, terá que descobrir onde eles estão com a mesma
figura ou número, dentre muitos outros jogos.
O jogo vai além da diversão para as crianças, elas são motivadas a vencer
desafios e aprendem de maneira cooperativa com o amigo(a) ou o/a professor(a)
que lhe ensina como vencer as dificuldades. Por ser livre de pressões e avaliações,
o jogo cria um clima de liberdade, de aprendizagem, estimula a moralidade, o
interesse, a descoberta e a reflexão. Crianças com Deficiência Neuromotora podem
utilizar o computador para desenvolver a escrita. Os softwares trazem adaptações
de mouse e teclado que proporcionam diminuição da necessidade de correção,
ganho de velocidade e fôlego da escrita para o aluno.
Antes de utilizar a tecnologia assistiva e softwares, uma condição básica para
o professor atuante e, essencial na Educação Especial com crianças é alicerçar sua
prática no afeto e no lúdico.
14
7 Referências
ARRUDA, A. Ecologia e desenvolvimento: representações de especialistas em formação. In: SPINK, M. J. (Org.). O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1995.
BAX, M; GOLDSTEIN, M; ROSENBAUM, P; et al. Proposed Definition and Classification of Cerebral Palsy. Boston: Developmental Medicine &childNeurology, 2005. BERSCH, R. Introdução à tecnologia assistiva.CEDI - Centro Especializado em Desenvolvimento Infantil. Porto Alegre: 2008
BELLO, J. L. de. A teoria básica de Jean Piaget. 2005. Disponível em http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per09.htm.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional da Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução CNE/CEB, n 5/2009.
__________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Adaptações curriculares em ação: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos com deficiência física neuromotora. Brasília: MEC/SEESP, 2002.
__________. Ministério de Educação e Cultura. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacionais para Educação Infantil. Brasília: MEC, 2010.
CAZEIRO APM. Formação de conceitos por crianças com paralisia cerebral: um estudo exploratório sobre as influências das brincadeiras [dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2008. DANTAS, H. A Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In: LA TAILLE, Yves. Piaget, Vygotsky, Wallon. São Paulo: Summus, 1992.
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais, 1996. Estrutura de Ação em Educação Especial3. Disponível<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>
ESCOLA MULTIDISCIPLINAR. EDUCAÇÃO INFANTIL. ENSINO FUNDAMENTAL MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL. Proposta Pedagógica. 2013.
15
FOSNOT, C. T. Construtivismo: uma teoria psicológica da aprendizagem. Em FOSNOT, C. T. (org.). Construtivismo: teoria, perspectivas e prática pedagógica. São Paulo: Artes Médicas, 1998.
GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. 1 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
GLAT E FERNANDES (2005), apudPEREIRA, C. L.; SANTOS, M. Educação inclusiva: uma breve reflexão sobre avanços no Brasil após a declaração de Salamanca. Revista da Católica. Uberlândia, v.1. n.2, p.265-274, 2009 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica.
GLAT e BLANCO (2007), apud PEREIRA, Cleide Lúcia; SANTOS, Marilene. Educação inclusiva: uma breve reflexão sobre avanços no Brasil após a declaração de Salamanca. Revista da Católica. Uberlândia, v.1. n 2, p.265-274, 2009 – catolicaonline.com.br/revistadacatolica.
JUNG, C. G. Os arquétipos e inconsciente coletivo. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1981.
MACHADO, A. Neuroanatomia funcional. 1 ed. São Paulo: Atheneu, 1981.
MARTINS NETO, J. C. e ROLLEMBERG, R. S.Tecnologias Assistivas e a Promoção da Inclusão Social. Ministério da Ciência e Tecnologia, 2005.
MENDONÇA, M.; PARDINI, A. C. G. Inclusões: Profissional. In: FERNANDES, A. C.; RAMOS, Alice Conceição Rosa; CASALIS, M. E. P.; HEBE, S. K.AACD. Medicina e Reabilitação. Princípios e Prática. São Paulo–SP: Artes Médicas, 2007.
MOUSINHO, R. et al. Mediação escolar e inclusão: revisão dicas e reflexões. Revista Psicopedagogia. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010. Disponível em<http://pepsic.hvsalud.org/scielo.php?pid=501038486201000010&script=sci_arttex>
OLIVEIRA, R. P. Conversas com um corpo aprendente; o diálogo com o corpo através do toque numa perspectiva psicopedagógica. Monografia (Especialização em Psicopedagogia). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/COGEAE. São Paulo, 2000.
OLIVEIRA, M. A. C. Intervençaõ pedagógica na escola. Curitiba: IESDE Brasil S.A, 2009.
PRADO, M. E. B. B.; FREIRE, F. M. P. A formação em serviço visando a reconstrução da prática educacional. In: FREIRE, F. M. P.; VALENTE, A. (Orgs) Aprendendo para a Vida: os Computadores na Sala de Aula. São Paulo: Cortez, 2001.
16
RIZZO PINTO, J. Corpo movimento e educação: o desafio da criança e deficientes adolescentes sociais. Rio de Janeiro: Sprint, 1997.
ROSS, P. R. Conhecimento e aprendizado Cooperativo na Inclusão. Educar em Revista, Curitiba: UFPR, v. 23, n.01, p. 217, 2004.
SALLA, F. O conceito de afetividade de Henri Wallon. O que afeta a criança. Revista Nova escola.ed. 246. Outubro 2011. Disponível em<HTTP://revistaescola.abril.com.br/gestão-escolar/conceito-afetividade-henri-wallon-645917.shtml>
SEED/DEEIN – Paraná Área da Deficiência Neuromotora/2004.
___________. Área da Deficiência Neuromotora/08.
TEIXEIRA, L. O que é deficiência física/neuromotora. Disponível em<www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/.../deficiencia-neuro-motora.pd>
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
17
ANEXO 1
ANEXO 2
O professor é
aquele que amplia os braços mentais dos alunos e de si próprio para que ambos
se apropriem, compreendam não apenas o já conhecido, mas aquilo que
precisa ser conhecido em face das necessidades do contexto social de cada
época. O ensinar e o aprender passam a ser aquele conjunto que alavanca o
processo de compreensão e apropriação, de descoberta e de contextualização.
Ao fazer-se como ponte, como mediação, o ensino desconstitui-se como transmissão
externa do professor aos alunos.
“TV Escola Educação Especial Bem além dos limites Deficiência física”
www.youtube.com/watch?v=ewMjVDin8ME
“Equipamentos especiais promovem a inclusão digital”
www.youtube.com/watch?v=V5Y-zjwXWuY
“Brincar é coisa séria”
www.youtube.com/watch?v=fgzaj-RAGVE