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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
IDENTIFICAÇÃO DO CRONOTIPO DE UMA POPULAÇÃO DE ALUNOS DO CEEBJA-UEPG E CONSIDERAÇÕES SOBRE OS
PRINCÍPIOS DA CRONOBIOLOGIA NAS ATIVIDADES ESCOLARES E SOCIAIS
JUCEMARA DE LIMA1
CARLA CRISTINE KANUNFRE2
1 Professora PDE, biênio 2013/2014 do Estado do Paraná, lotada no CEEBJA-UEPG, Município de Ponta Grossa, Licenciada em Ciências Habilitação Matemática/UEPG, com Bacharelado e Licenciatura no Curso de Enfermagem pelo Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais, Faculdades Integradas; Especialista em Saúde do Trabalhador/IBRATE. 2 Professora Associada do Departamento de Ciências Biológicas da UEPG; Licenciada em
Ciências Biológicas/UEPG; Mestre em Bioquímica/UFPR; Doutora em Fisiologia Humana/USP.
Resumo: A cronobiologia é uma área da Biologia que preocupa-se com o estudo dos ritmos
biológicos e sua relação com o meio ambiente. Cada organismo reage de maneira diferente aos estímulos ambientais, por isso o presente trabalho foi realizado com o objetivo de orientar os alunos quanto ao horário de melhor rendimento e fornecer estratégias que possam auxiliá-los a garantir o melhor desempenho. O público alvo foram os alunos do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos Ensino Fundamental II e Médio (CEEBJA-UEPG) mediante o ano letivo de 2014. A metodologia usada foi a pesquisa-ação, por meio da aplicação de um questionário online contido no Google Docs, face a identificação dos tipos cronobiológicos, propostos por HORNE & OSTBERG (1976), com adaptação de BENEDITO-SILVA et al., (1990). Foram apresentados os conceitos de cronobiologia, ritmos biológicos, tipos cronobiológicos e seus efeitos no organismo. Como configuração metodológica construiu-se um guia norteador das atividades diárias dos sujeitos, selecionando por amostragem a classificação dos cronotipos seguida da análise dos dados. Notou-se maior prevalência (55%) do cronotipo intermediário, 25% foram classificados como moderadamente matutinos. Os indivíduos considerados de cronotipos extremos apresentaram-se na população em baixa frequência, 6% vespertinos e 9% matutinos. Os resultados obtidos mostram a necessidade da reorganização das atividades diárias e escolares, considerando o seu ritmo de vida, em sintonia com o adequado funcionamento do organismo. Como perspectivas desta análise aproximamos o valor da pesquisa da vida escolar e social revelando a importância da cronobiologia e seus princípios.
Palavras-chave: Cronobiologia. Tipos cronobiológicos. Ritmos biológicos. Aprendizagem. 1. Introdução
O presente artigo tem como tema a cronobiologia que pode ser de
grande ajuda no planejamento das atividades escolares e sociais. Existem
períodos do dia em que o rendimento é maior ou menor, por isso precisamos
adequar os estudos e trabalhos àqueles nos quais o desempenho diário se
articula da melhor maneira. A justificativa da presente produção se deve ao fato
de que no dia a dia do CEEBJA -UEPG vemos alunos chegando cansados no
período matutino por dormirem tarde, seja trabalhando, ficando até tarde
acordados, seja por não terem dormido bem. Outra influência no organismo é a
mudança de horários na vida escolar dos alunos que durante anos estudaram
no período da tarde e agora precisam ir para o matutino. Existe um período
normal de adaptação, mas algumas pessoas não conseguem e precisam
repensar quanto a possibilidade de troca de horários, para tanto o exercício
profissional, quanto estudantil. Diante do exposto organizamos a questão
norteadora desta pesquisa: como o conhecimento da cronobiologia pode
influenciar na melhoria do rendimento escolar e no trabalho? Considerando que
os alunos estão retornando ao banco escolar e fazendo parte do mercado de
trabalho, gerando uma alteração nos seus ritmos de vida em articulação com o
funcionamento do seu organismo que também têm um ritmo, que quando
quebrado pode levar a distúrbios emocionais e somáticos. Além disso, nesta
abordagem se mostra o período do dia que é mais adequado para
desempenhar funções cotidianas. Esperamos ajudar os alunos a organizar
melhor suas atividades, fornecendo a eles estratégias para melhor
desempenho. Tais questões determinam a correspondência epistemológica
entre o objeto de estudo desta produção com o cotidiano escolar que sediou
esta investigação.
Ao planificar a pesquisa optou-se por configurá-la a partir de três
delineamentos os quais configuram as reações aqui apresentadas, sendo que
o primeiro deflagra a importância da cronobiologia, vindo com seu aporte
teórico atingir a conceituação da ritmicidade biológica.
Enquanto no segundo contorno temos a afetação do cronotipo elucidado
por HORNE & OSTBERG (1976), que já foi adaptado por BENEDITO-SILVA et
al., (1990), considerando os sujeitos sociais que fazem parte do cotidiano do
CEEBJA-UEPG. Já o terceiro trajeto se instaura para concluir a análise dos
dados obtidos na realidade pesquisada, alcançando as considerações finais
que revelam como está a organização escolar, o ritmo de trabalho e de vida
dos sujeitos envolvidos nesse projeto.
2. A importância da cronobiologia e sua articulação com a ritmicidade
biológica
No âmbito do ensino da Biologia cabe o desdobramento da
cronobiologia, que respalda o entendimento do relógio biológico em articulação
com o ritmo de vida, o que caracteriza o valor da presente produção para o
contexto escolar, considerando a sua importância prática tendo em vista a
qualidade de vida.
Assim, temos uma sequência de acontecimentos desde o acordar até a
hora de dormir que nos é ensinada durante a infância. É muito importante esse
aprendizado, pois regulamos as funções do organismo com os horários de
acordar, almoçar, jantar e dormir, entre outras atividades.
O bom funcionamento dos nossos órgãos pode ser afetado por
distúrbios hormonais, má alimentação, vida desregrada, troca de turno e
horário de verão. Quando qualquer um desses fatos acontece o organismo
precisa de um tempo para, se adaptar, variando em número de dias ou
semanas. Um exemplo fácil de observar se dá, por exemplo, numa situação
gerada após uma discussão ou “ataque de raiva” levamos horas para nos
acalmar, mas o organismo necessita aproximadamente, de um mês para voltar
ao normal.
Para melhor compreendermos sobre o assunto temos a cronobiologia
área da Biologia que estuda os ritmos biológicos. Estes estão delineados desde
o currículo vivido na área do conhecimento Ciências da Natureza, Matemática
e nas Tecnologias dentro do Ensino Médio e, nesse sentido, recorremos a
Meldau (2011), o qual explica que o termo cronobiologia vem do grego
crono=kronos, que significa tempo; bio=biós, significa vida e logia=logos
significa estudo. Pode ser, portanto, definida como a ciência que estuda os
ritmos biológicos, os quais estão situados nesta análise como sendo o objeto
de estudo aqui delineado como desencadeador desta investigação.
Segundo (Duarte & Silva, 2012, p.54), “cronobiologia é a ciência que
estuda os ritmos e os fenômenos bioquímicos de caráter periódico nos seres
vivos”.
A cronobiologia contribui para o estudo da variação das funções
biológicas, fisiológicas e comportamentais ao longo do dia. De fato, Gomes et
al., (2008, p. 249) observaram em seus estudos que os trabalhadores e alunos
respondem de maneira diferenciada a uma mesma situação de trabalho e sala
de aula conforme o momento do dia.
Assim não podemos falar em cronobiologia sem estudar nosso
organismo conforme sua ritmicidade, pois são indicativos da saúde.
Neste sentido, ritmo, segundo Bettencourt (s/d),
deriva do grego rhythmós, associado ao verbo reÎn (correr), proveniente do movimento dos rios. Ritmo significa, de uma maneira geral, a repetição periódica de elementos no tempo ou no espaço, mas, enquanto termo científico designa um movimento apresentado de uma maneira particular.
Um dos ritmos importantes de nosso organismo é o sono, pois durante
ele há uma interrupção no funcionamento de alguns sistemas ou colocação
deles num estado de lentidão, com a finalidade de recuperar-se do desgaste e
estresse diário. Nesse tempo ocorrem reparos para a recuperação dos
mesmos.
“No sono é onde se consolidam as experiências vividas e onde se
favorecem a reformulação da significação dos símbolos assimilados na
memória, dando-lhes sentido e entendimento” (VALLE, 2011). Portanto, é
durante o sono que se dá o processo de aprendizagem essencial para a
memória de longo prazo.
Existe diferença entre a qualidade de sono da criança, adolescente e do
adulto. A criança tem um cronotipo matutino, já o adolescente tende a ser mais
vespertino, no que se refere ao adulto ele consegue se adaptar, pelo mesmo
em parte, em consequência dos horários de trabalho.
A sonolência precisa ser investigada na sua procedência porque pode
limitar as perspectivas dos adolescentes quanto ao seu desenvolvimento
intelectual gerando discórdia em casa e às vezes a incidência da própria
evasão destes no ambiente escolar (BUENO & WAY, 2012, p. 64).
Moreno et al., (1997, p. 241) “propõe organizar as atividades escolares
de modo a contemplar momentos de maior ou menor rendimento nas tarefas
escolares”. Na faixa etária de 10 a 12 anos os alunos não conseguem levantar
cedo por sentirem sono mais tarde, por isso recomenda-se que o horário
escolar seja no período da tarde.
Entretanto no cotidiano do adulto que tem sua vida pessoal e profissional
estabilizada quanto ao ritmo biológico ocorre um padrão de adequação e
estabilidade. Mas quando o indivíduo adulto sente necessidade de voltar a
estudar, caso não tenha terminado a escolaridade, ou deseja aprender nova
profissão, pode haver variação, mesmo sabendo a importância da regularidade
de horários para as diversas atividades diárias e de ter uma boa noite de sono.
Duarte & Silva (2012 apud BENNETT et al., 2008, BURIN & STABILLE,
2002) no que se refere a aprendizagem, asseveram que:
Com relação ao complexo processo de aprendizagem, sabe-se que é resultado desses fatores: percepção, memória, controle e transformação da informação, e tem relação direta com as condições comportamentais. Assim interferências [...] podem ocorrer quando o aluno tem dispersão de atenção ou por redução de sua capacidade perceptiva. A diminuição do nível de atenção normalmente ocorre em indivíduos cansados física e/ou mentalmente, que apresentam privação do sono ou ciclo sono-vigília alterado. Consequentemente essa sonolência precisa ser investigada na sua procedência porque pode limitar as perspectivas dos adolescentes quanto ao seu desenvolvimento intelectual gerando discórdia em casa e às vezes a evasão deste do ambiente escolar (BUENO & WAY, 2012, p. 64).
A cronobiologia é usada também para analisar os distúrbios
ocasionados pelo trabalho em turnos ou à noite, tal entendimento gera a sigla
TTN. Assim, de acordo com Monk (1988, apud MARQUES & MENNA-
BARRETO,1997, p. 243):
as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores em turnos centram-se basicamente em três áreas: a adaptação dos ritmos biológicos às inversões das fases de atividade e repouso, as perturbações do sono e os fatores domésticos e sociais. Essa tríade de fatores influenciaria fortemente a tolerância ao esquema temporal dos sistemas de turno de trabalho, especialmente aqueles que envolvem jornadas noturnas.
Além disso, quando o trabalhador tem uma troca brusca do turno
matutino para o noturno, torna-se difícil a adaptação, pois está no sentido
oposto ao que ele estava acostumado. O sistema circadiano é capaz de
ajustar-se no máximo a uma mudança de 1 a 2 horas. O ideal é que o indivíduo
possa trabalhar em sistema de rodízio, por exemplo, períodos de 22h às 6h, 6h
às 14h e 2h às10h, com isso se ganha um tempo a mais de sono, o que de
(ARAUJO, 2007, p. 306), podemos intuir que a idade avançada também
prejudica o trabalho em turnos já que a adaptação se torna mais demorada.
Para Chaves (1995 apud REGIS FILHO, 1998):
o trabalhador noturno não tem, em absoluto, seu ritmo circadiano invertido ou ampliado, mas sim, desestruturado, uma vez que, dadas as características do horário do turno, não são todas as noites que o trabalhador permanece acordado, assim como não são todos os dias que ele dorme: além disso, mesmo que a alteração temporal fosse completa, ou mesmo incompleta, mas constante, não seria possível abolir os demais sincronizadores externos aos quais está sujeito em
decorrência de seu convívio social".
O TTN provoca segundo Araújo (2007, p. 307):
“fadiga crônica, redução da atenção e concentração, distúrbios gastrointestinais, risco de ataque cardíaco, perturbação da vida familiar e social, acidentes e uso de medicação para dormir”.
Existem maneiras de amenizar os efeitos do TTN como por exemplo:
quarto escuro para dormir, silencioso (usar abafador de som), desligar
campainhas e o telefone, ficar um tempo quieto antes de adormecer.
Assim, sabemos que é difícil a mudança de emprego e quando o
cansaço físico e mental prejudica a aprendizagem sugere-se, então o devido
descanso, pois no período de retorno para casa, considerando por exemplo, a
alternativa de se estudar à tarde, planejando assim a rotina escolar de modo a
não causar tanto esgotamento.
Para Afeche &Cipolla-Neto (2012),
as dificuldades de aprendizagem, os problemas de adaptação à escola ou ao trabalho podem estar nos diversos cronotipos existentes entre as pessoas. E que após serem tratadas trazem melhoras visíveis no desempenho físico e mental de trabalhadores e alunos.
Cumpre ressaltar que os cronotipos referem-se às diferenças que cada
pessoa tem relacionando-se com os períodos de sono e vigília nas 24 horas do
dia.
Ainda cumpre ressaltar que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é
uma modalidade da Educação Básica destinada aos jovens e adultos que não
tiveram acesso ou não concluíram os estudos, tanto no Ensino Fundamental,
quanto no Ensino Médio, sendo importante destacar a concepção ampliada de
educação no sentido de não se limitar apenas à escolarização que é solicitada,
mas essencialmente, o valor desse processo de reoferta de escolarização de
modo a proporcionamos aos nossos sujeitos sociais aqui configurados como
também se caracterizando como alunos do CEEBJA, o devido acesso à
educação pública de qualidade. Considerando ainda o entendimento de seus
ritmos próprios de aprendizagem em sintonia à democratização do saber como
uma devolutiva pedagógica, cultural e social que o espaço educativo da
CEEBJA proporciona a seus alunos, de modo que possamos compreender
também a natureza da disciplina de Ciências e da Biologia no currículo visado
na Educação Básica. E como consequência, aqui percorremos, nesta
investigação, por um conteúdo do cotidiano de experiências pessoais de novos
alunos ao constituirmos a aplicação dos princípios da cronobiologia nas
atividades escolares e sociais do CEEBJA-UEPG, como fonte geradora das
análises aqui consubstanciados.
Neste sentido, entendemos que a escola deve reconhecer os alunos
como seres humanos como um todo, garantindo melhoria na qualidade de vida,
informando-os sobre os preceitos básicos da cronobiologia que, por
conseguinte, os afetam auxiliando-os a evitar o fracasso escolar.
3. A afetação do cronotipo dos sujeitos sociais do CEEBJA-UEPG
em seus cotidianos.
O estudo do cronotipo no âmbito da Biologia torna-se importante e
imprescindível, pois dentro do contexto de sala de aula é um ótimo tema
gerador de significados para a vida prática, aplicado não somente ao mundo da
escola, mas também do trabalho, bem como para a manutenção da qualidade
de vida.
Ao considerarmos que a ocorrência de evasão escolar devido ao
cansaço físico e mental vem se acentuando no ambiente da Educação de
Jovens e Adultos, justificamos a presente temática, bem como toda a
idealização do projeto de implementação pedagógica que ocorreu no primeiro
semestre de 2014 quando tivemos a participação de 45 alunos com idades
variando entre 15 a 65 anos, sendo alguns só estudantes, em especial donas
de casa, bem como trabalhadores da construção civil, do comércio, da área
agrícola, contando ainda com bartenders, manicures entre outros profissionais,
que ora buscam o seu processo de escolarização.
A aplicação da presente produção se materializou durante a Semana
Pedagógica no período matutino e vespertino com a presença da direção
escolar, professoras pedagogas, professores e funcionários. Ao iniciar a
explanação referente ao projeto e todos os seus desdobramentos houve uma
empatia imediata sobre o assunto, pois o tema era desconhecido pela maioria
das pessoas presentes.
O tempo que foi disponibilizado pela direção da CEEBJA-UEPG teve
que ser ampliado, pois os presentes quiseram responder o questionário que já
se encontrava no Google Docs. Cumpre ressaltar que Google Docs é um
processador de textos, planilhas e apresentações gratuito, baseado na web. A
ferramenta permite que seus usuários criem e editem documentos online ao
mesmo tempo, colaborando em tempo real com outros usuários.
Ao iniciarmos o trabalho com os alunos, ao mesmo tempo estavam
presentes alguns professores, para que estes pudessem melhor conhecer
sobre a cronobiologia, dado o interesse despertado pelo assunto.
Na atualidade, as pessoas estão sendo afetadas diretamente pelo
desconhecimento dos seus cronotipos, o que pode ser resolvido rapidamente
caso haja um processo de conscientização desde a escola, uma vez que em
seu PPP (Projeto Político Pedagógico) essa temática poderá estar articulada
ao currículo vindo desde a Proposta Pedagógica Curricular.
Ao expor sobre as noções gerais de cronobiologia aplicada à vida prática
dos alunos por meio de uma palestra, ficou visível o desconhecimento da
temática, bem como da classificação dos cronotipos e as suas características,
por parte dos alunos.
Na sequência os alunos foram convidados a participar do projeto e,
portanto lhes foi explicado como preencher o questionário Morningness-
Eveningness-Questionnaire traduzido para o português disponível online na
plataforma Google Docs.
“As variações individuais nos diversos ritmos biológicos permitem
classificar os indivíduos, segundo suas características cronobiológicas
(cronotipo), em matutinos, vespertinos e intermediários (indiferente)” (DUARTE
& SILVA, 2012, p. 58).
Em Horne & Ostberg (1976, apud GOMES, MELO & PEREIRA, 2008, p.
253) está registrado o questionário usado para avaliar as diferenças na
preferência pelos horários de sono e vigília que são:
-Os matutinos que podem ser matutinos definitivos ou moderados. São mais ativos pela manhã e gostam de poucas obrigações noturnas, momentos em que manifestam cansaço e predisposição para o sono. Estes indivíduos dormem mais cedo, por volta das 22
horas e despertam também mais cedo por volta das 5-7 horas, estando em condições adequadas para o trabalho logo pela manhã, num nível de alerta muito bom. - Os vespertinos, que podem ser vespertinos definitivos e moderados. Essas pessoas dormem e acordam tarde, não dormem antes da meia noite e acordam apenas depois das 9 horas da manhã. Nesses indivíduos o nível de alerta, bem como o desempenho, está mais desenvolvido no período da tarde ou noite. - Os indiferentes ou intermediários são aqueles para os quais é indiferente acordar ou dormir cedo ou tarde. Por possuírem maior flexibilidade de alocação dos horários de sono-vigília, podem realizar suas tarefas em qualquer período do dia.
O preenchimento do questionário Morningness-Eveningness-
Questionnaire ocorreu no ambiente do laboratório de Informática sob o
acompanhamento docente, contando com a devida explicação e as respectivas
sínteses integradoras para consolidar o preenchimento adequado do
questionário, seguido dos seguintes desdobramentos metodológicos:
- demonstração e conceituação da cronobiologia através de aulas
expositivas;
- esclarecimento das características de cada cronotipo a partir da
projeção de vídeos;
- orientação de como planejar suas atividades e estudos no período que
ocorre um melhor rendimento;
- orientação quanto as consequências do trabalho em turnos ou noturno
(TTN) no organismo devido a troca da noite pelo dia para dormir.
Dos 45 alunos que responderam ao questionário online, 25 foram
classificados como cronotipo intermediários, 2 como cronotipo moderadamente
vespertino, 11 como moderadamente matutino, 3 como matutino extremo
(denominado também por alguns autores de definitivamente matutino) e 4
como vespertino extremo (definitivamente vespertino). O resultado deu-se pela
soma aritmética do escore de cada questão do questionário calculados pelos
alunos em sala e revisado pelo docente, no momento e posteriormente. Abaixo
está mostrado no gráfico (Figura 1) o percentual de participantes de acordo
com a classificação do cronotipo em frequência absoluta.
Figura 1: Percentual dos participantes de acordo com os cronotipos.
Notou-se maior prevalência (55%) do cronotipo intermediário, ou seja,
cronotipo neutro, que apresentam características dos dois cronotipos (matutino
e vespertino). Onze alunos (25%) foram classificados como moderadamente
matutino. Os indivíduos considerados de cronotipos extremos apresentaram-se
na população em baixa frequência, 6% classificados como vespertinos
extremos e 9% matutinos extremos.
Assim conforme Duarte & Silva (2012, p.59) o conhecimento dos
cronotipos pode ajudar a compreender e orientar os indivíduos na adequação
do horário para o desenvolvimento de suas atividades sociais, tais como o
estudo, trabalho e lazer, oportunizando a obtenção de melhor aproveitamento,
desempenho e produtividade nas atividades do cotidiano e a promoção da
melhoria da qualidade de vida.
Neste sentido, com o intuito de auxiliar os alunos a se conscientizar de
suas rotinas e da importância da manutenção desta, sem maiores pretensões,
foi entregue a cada um, o formulário da Escala de Ritmo Social, no qual está
estabelecido o mapeamento da rotina na semana. Cabe comentar que os
alunos já tinham ciência dos resultados de seu cronotipo e já conheciam suas
características cronobiológicas, noções obtidas através de aula expositiva e
debate direcionado.
O formulário de escala de ritmo social foi concebido por MONK, et al
(1990), traduzida e validada por SCHMITT e HIDALGO (2009) que descrevem
a escala de ritmo social como:
A escala de ritmo social foi concebida em 1990 por pesquisadores da Universidade de Pittsburg, Pittsburg, EUA, para estudar a associação entre rupturas no ritmo social e início de episódios de transtorno de humor. Sabe-se que o restabelecimento da regularidade no ritmo social de pessoas deprimidas auxilia em sua recuperação, mas o papel da ruptura do ritmo social na etiologia dos transtornos de humor ainda não foi sufi cientemente estudado. A escala de ritmo social é um formulário autoaplicável que consiste em uma lista de 15 atividades genéricas fixas e duas opcionais, devendo, o sujeito, registrar ao final do dia, durante um determinado período de tempo, se foram ou não realizadas, o horário em que foram realizadas e a quantidade e qualidade de interações sociais intervenientes durante a realização das mesmas. A escala apura os dois índices mais importantes, o Hit e o ALI, a partir de um algoritmo. Se uma atividade ocorre mais de três vezes por semana no mesmo horário ou dentro de uma faixa temporal que abrange os 45 minutos anteriores e posteriores a uma hora calculada como habitual, ela é considerada um Hit. A quantidade de Hits representa a regularidade na vida de um indivíduo e é o índice mais importante da escala. O escore de regularidade não possui um ponto de corte, mas varia de um mínimo de 0 (nenhuma regularidade) a um máximo que depende do número de dias aferidos. Se, por exemplo, o período aferido compreende 7 dias, o escore máximo é 7; se ele for de 9 dias, o escore máximo é 9; e assim sucessivamente. A escala foi concebida para avaliar a regularidade em um período mínimo de 1 semana.
Muitos dos alunos participantes não responderam, bem como não
entregaram o formulário da escala de ritmo social. Portanto a análise da escala
de ritmo foi feita por amostragem, a julgar pequena, sendo 4 alunos incluídos
no contexto. Destes 2 alunos foram classificados com o cronotipo matutino,
respectivamente, moderadamente matutino e matutino extremo, denominados
E1 e E2. O indivíduo E1 caracteriza-se por ser do sexo masculino, casado,
trabalhador diurno e E2 do sexo feminino, solteira, trabalhadora diurna. Ambos
estudam no período noturno caracterizando assim, que não estão em seu
melhor momento para o desempenho desta atividade conforme já relatado por
MARTINO e LING (2004).
Araújo et al., (2012, p. 352) mostram preocupação com os estudantes
trabalhadores que estudam no período noturno, quando ao trabalharem
durante o dia todo, têm dificuldade em conciliarem uma boa noite de sono com
as atividades escolares, sobretudo se tiverem que estudar durante a
madrugada.
A terceira participante denominada E3, caracteriza-se por ser do sexo
feminino, solteira, trabalhadora diurna que foi classificada com o cronotipo de
intermediária. E o participante E4 do sexo masculino, solteiro, trabalhador
noturno apresentou o cronotipo moderadamente vespertino. Como ambos
estudam à noite estão em seu melhor momento quanto a possibilidade de
terem um bom rendimento escolar.
Dos 17 quesitos respondidos, no formulário de escala de ritmo social,
foram incluídos 9 para discussão. Cumpre ressaltar que esses dentre os
demais foram considerados relevantes pela autora para análise da regularidade
de execução das atividades, a saber: sair da cama, primeiro contato com uma
pessoa, tomar café da manhã, começar a trabalhar, almoçar, fazer exercícios
físicos, jantar, atividades de lazer (assistir TV, cinema, leitura, etc.), ir para
cama.
Enquanto autora, tínhamos ciência do que SCHMITT (2014) discorre
sobre essa temática, escala de ritmo social, em texto disponível on line,
conforme segue abaixo, mas apesar da utilização de tal instrumento, nossa
análise foi superficial, com objetivo único da observância da rotina e não com o
contexto que remete a saúde e correlações.
Os horários de levantar da cama, fazer refeições, exercitar-se ou sair de casa para ir estudar ou trabalhar, por exemplo, geralmente são estabelecidos pelo contexto social, pois contemplam a necessidade de estar com outros e por isso tendem a apresentar um padrão circadiano. Essa regularidade maior ou menor do comportamento social influencia alguns ritmos biológicos, como o da atividade-repouso, que tem um paralelismo com o ritmo do sono, ou seja, o padrão de sono é afetado por interações sociais. Existe uma Escala de Ritmo social para quantificar a regularidade da vida diária, e ela é principalmente utilizada no contexto dos transtornos de humor, já que existem evidências de que a ruptura do ritmo social desempenha um papel na etiologia dessas doenças. Existe até uma forma de terapia, chamada Terapia de Ritmo Social, que consiste, basicamente, em reforçar o zeitgeber social através da imposição de uma rotina regular, pois isso acelera o tempo de recuperação e aumenta o intervalo entre episódios de transtorno de humor.
Portanto as análises apresentadas abaixo serão discutidas por questão
e, quando adequado também serão discutidas em conjunto.
No quesito sair da cama houve uma regularidade entre os alunos E1, E2
e E3, já que a atividade ocorreu mais de três vezes por semana no mesmo
horário. Todos têm um primeiro contato com uma pessoa sempre no mesmo
horário, sendo que, E1, E2, E3 fazem suas refeições com certa regularidade,
mas E4, não toma café da manhã somente almoça e janta no mesmo horário.
Todos responderam que não fazem atividade física, portanto não
possuem nenhuma regularidade. Em Vieira (2011), encontramos uma relação
entre o exercício físico e a cronobiologia, conforme apresentado abaixo:
O efeito do exercício realizado em diferentes horas do dia pode influenciar no aumento da temperatura corporal e não na liberação de hormônios, o que pode acarretar uma série de consequências para o organismo como, variação de humor, alterações nas horas e qualidade do sono. [...], um dos fatores que podem alterar essa organização temporal é o exercício físico, como por exemplo, com o exercício são liberados hormônios que atuam como estimulantes do sono e o aumentam o metabolismo. Sendo assim, quando praticado de maneira correta e em horário condizente com seu cronotipo, a prática desportiva poderá favorecer a saúde, os resultados poderão ser obtidos mais rapidamente e prazerosamente, influenciando positivamente no bem estar do praticante.
Nas atividades de lazer que compreenderam assistir TV, leitura, entre
outras, E2 tem uma regularidade e E1, E3 e E4 nenhuma regularidade. Ainda no
que se refere ao gosto pela leitura como prática social, segundo CAMPOS
(2008, s/p) é uma “forma de lazer e de prazer, de aquisição de conhecimentos
e de enriquecimento cultural, de ampliação das condições de convívio social e
de interação”
No horário de ir para a cama E1 e E3 tem regularidade, mas E2 e E4
possuem regularidade moderada. A regularidade de ir para a cama é de suma
importância, pois algumas regiões do cérebro demonstram que, possuem as
mesmas atividades tanto de dia como a noite. Neste sentido, RODRIGUES &
RODRIGUES (2007) comentam sobre
a necessidade da duração, a continuidade, o horário e a passagem por diversos estágios, ou fases diferentes, para que haja o restabelecimento adequado das funções orgânicas.
Concluímos que os alunos E1, E2 e E3 possuem uma regularidade na
sua rotina diária e E4 por ser trabalhador noturno, com turno de trabalho das 0
horas às 6 horas da manhã, não possui regularidade com alto escore. De fato,
sabe-se que existe uma correlação entre os padrões de atividade de rotina e a
qualidade de sono. Zisberg et al., (2010) relatou, para população idosa, que
maior eficiência e a menor latência do sono foram associadas com o período
mais estável de atividades básicas e instrumentais, além de uma regularidade
de estilo de vida mais saudável. A pior qualidade do sono foi associada com
menos regularidade no estilo de vida e mais debilidade da saúde.
Para analisar o volume de atividades realizadas no período utilizamos o
índice ALI descrito por SCHIMITT e HIDALGO (2009).
O índice ALI representa o volume de atividades diferentes realizadas no período, sendo calculado através da contagem simples de toda atividade realizada a cada dia. De acordo com Monk et al., um escore inferior a 59 inviabiliza a avaliação de regularidade. Portanto, o ALI pode variar de 59 (pouca atividade) a um máximo que depende do período aferido. Se, por exemplo, o período aferido compreende 7 dias e o sujeito engaja-se em todas as 17 atividades contempladas pela escala, então o escore máximo será 119 (17 x 7).
Pela análise da escala de ritmos segundo o índice de ALI revelou-se que
o aluno E2 possui o maior escore, portanto, representa maior regularidade nas
atividades realizadas durante a semana. Seguido pelos alunos E1, E3 e E4,
sendo este último o de menor escore, em parte resultado do seu turno de
trabalho.
Uma sondagem inicial da rotina dos alunos foi feita mediante conversa
em sala de aula. Tal conversa permitiu o diálogo com os indivíduos envolvidos
e, por conseguinte, maior aproximação com suas vivências, com o cotidiano e
com seus costumes, por meio de suas percepções.
O acompanhamento e análise das conversas foram feitas também por
amostragem incluindo os indivíduos igualmente analisados pelo formulário de
escala de ritmo, ou seja, apenas 4 alunos (E1, E2, E3 e E4) tiveram suas
conversas analisadas. O roteiro abordava os seguintes subtemas: obrigações
pessoais; qualidade do sono; estado de cansaço, motivação, aspirações futura
entre outras.
Ao refletir acerca da experiência vivida pelos alunos, interpretamos
algumas unidades de significação que podem estar associadas à cronobiologia.
Os sujeitos objetos deste projeto trabalham no período do dia e estudam
à noite. Constatou-se que suas vidas sociais se resumem em ir à igreja, ir à
casa de um familiar ou amigo. A maioria não pratica nenhum esporte e o
futebol nos finais de semana, parece ser uma das únicas atividades de lazer.
No questionamento sobre a rotina verificou-se que todos os analisados
gostam de suas rotinas diárias, apesar de que após os estudos pretendem
mudar para um emprego melhor.
A maioria sente-se cansados durante a noite por trabalharem o dia
inteiro, têm dificuldade de adormecer, metade dos entrevistados acordam
cansados e a outra metade acordam bem disposto, também não conseguem
momentos para descansar durante o dia.
Cabe comentar que praticar exercícios físicos leves regularmente evitam
o aparecimento do cansaço muito rápido (ARAUJO, 2007) e que a privação do
sono ou sono interrompido durante a noite, provoca alterações no metabolismo,
como predisposição à depressão, gera aumento da ansiedade, irritabilidade e
queda de concentração (DURANTE, 2012).
Segundo Durante (2012), presidente do Instituto de Pesquisa e
Orientação da Mente (IPOM) e psicoterapeuta,
o estudo também chama a atenção para o fato das noites mal
dormidas estarem se tornando um problema crônico do brasileiro. “Há
cinco anos apenas 55% dos brasileiros declaravam ter problemas
relacionados ao sonho. Hoje esse percentual cresceu 14%, assim
como a média de noites mal dormidas, que passaram, em média, de
2 ou 3 por semana para 4 e 5. A médio e longo problema causa
grandes prejuízos para a saúde”.
Quanto ao assunto cronobiologia nenhum deles ouviu falar e
desconhecem, portanto, as vantagens que ele traz para as pessoas.
SQUARCINI et al., (2013) comenta sobre o desconhecimento da
cronobiologia por partes dos profissionais envolvidos com a educação e
tampouco seus conhecimentos são utilizados para facilitar o aprendizado.
O conhecimento da cronobiologia não afeta somente a aprendizagem
atinge também o contexto social e de qualidade de vida. De fato, alguns dos
sujeitos, público alvo deste trabalho, incorporaram este conhecimento e estão
utilizando-o em sua vida diária, por exemplo, mudança de horário de trabalho
para favorecer o descanso, contemplando a atividade-repouso de maneira
adequada.
Informações disponibilizadas durante o repasse das estratégias
utilizadas para amenizar os efeitos do TTN, como por exemplo: quarto escuro
para dormir, silencioso (usar abafador de som), desligar campainhas e o
telefone, ficar um tempo quieto antes de dormir, foram também de grande valia
para os participantes deste projeto, pois alguns podem possuir ritmo circadiano
invertido devido ao trabalha noturno.
4. Consideração final
Os indivíduos são classificados conforme os seus ritmos biológicos em
matutinos, intermediários e vespertinos. Os intermediários totalizam a maior
parte dos alunos que frequentam o CEEBJA-UEPG, sendo que cerca de 60-70
% da população afeta a este projeto, com base no seu cronotipo, estariam na
melhor condição para a aprendizagem, sem bloqueio ou déficit de atenção,
conforme consta na literatura.
O fato da maior parte da população estudada constituir-se de
trabalhadores diurnos e que estudam durante a noite, remete, segundo
diferentes autores, a dificuldade de conciliarem o cansaço e o sono com as
atividades escolares. De fato, o cansaço foi a principal queixa entre os alunos,
talvez reflexo de um dia de trabalho que antecede sua jornada de estudo.
Organizamos nossas vidas e atividades segundo um ciclo de 24 horas,
ou seja, com horários pré-determinados de trabalho, escola, lazer e descanso,
dentre outras. Esta regularidade, em escala maior ou menor de comportamento
influencia alguns ritmos biológicos, em especial quanto aos aspectos
relacionados à saúde, e precisa ser considerada. Conscientizar-se da sua
rotina e de sua importância, acreditamos ser de grande valia, em abordagem
na escola associada ao tema cronobiologia.
Considerando Reinberg (1994), finalizamos:
A cronobiologia na medida em que privilegia o tempo, interessa aqueles que atribuem valor essencial a dinâmica dos processos e buscam portanto, nessa dinâmica, a compreensão dos indivíduos como um todo.
5. Referências bibliográficas
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