Upload
haquynh
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7Cadernos PDE
II
JOELMA DE SENE VIEIRA
Mia Couto na sala de aula: Leitura de O Fio das Missangas
LONDRINA - PR
2014
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
Superintendência da Educação
Diretoria de Políticas e Programas Educacionais
Programa de Desenvolvimento Educacional
JOELMA DE SENE VIEIRA
Mia Couto na sala de aula: Leitura de O Fio das Missangas
Material didático pedagógico como requisito do
Programa de Desenvolvimento Educacional
(PDE), da Secretaria de Estado da Educação do
Paraná, na área de Língua Portuguesa, com o tema
Mia Couto na sala de aula: Leitura de O Fio das
Missangas sob orientação Profª Drª Maria Carolina
de Godoy
LONDRINA- PR
2014
1.DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Título: Mia Couto na sala de aula: leitura de O Fio das missangas
Autor: Joelma de Sene Vieira
Disciplina/Área: Língua Portuguesa
Escola de Implementação do
Projeto e sua localização:
Colégio Estadual São Bartolomeu - Ensino Fundamental e
Médio
Município da escola: Apucarana – PR
Núcleo Regional de Educação: Apucarana – PR
Professor Orientador: Maria Carolina de Godoy
Instituição de Ensino Superior: UEL
Relação Interdisciplinar: Não há
Resumo:
Esta Produção Didático Pedagógica é parte integrante do
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da
Secretaria da Educação do Estado do Paraná e apresenta
como suporte metodológico a Unidade Didática intitulada:
Mia Couto na sala de aula: leitura O Fio das missangas cuja
proposta está direcionada ao incentivo da leitura na sala de
aula. Esta proposta vem atender à Lei 10.639/03 que institui a
obrigatoriedade do ensino da História da África, da Cultura
Afro-brasileira e indígena no currículo escolar do ensino
fundamental e médio, resgatando historicamente a
contribuição dos negros na construção da formação da
sociedade brasileira (BRASIL, 2004, p. 8). Sendo assim, a
escolha do autor moçambicano Mia Couto surgiu devido à
proximidade de suas narrativas com autores da literatura
brasileira. Mia Couto é um escritor estrangeiro que tem como
afinidade a nossa língua, pois no país em que nasceu se fala o
Português, só que igual ao de Portugal. A literatura na escola
tem que antes de tudo trazer a imagem do professor leitor,
que compartilha o que lê e que antes de qualquer coisa
promove momentos de cultura aos alunos por meio da leitura,
pois sabe que seu papel é o de formar leitores.
Palavras-chave: Literatura; Cultura Africana; Mia Couto; Conto.
Formato do Material Didático: Unidade Didática
Público: Alunos do 9º Ano do Ensino Fundamental
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 05
UNIDADE DIDÁTICA 1 ....................................................................................................... 11
Mia Couto na sala de aula: ...................................................................................................... 11
Oficina 1: Por que estudar estudar a Lei 10.639/03 e o Ensino da História e Cultura
Afro-brasileira e Africana nas aulas de Língua Materna? ................................................. 14
Atividade 1: vamos conhecer o que diz a Lei .......................................................................... 15
Atividade 2: você sabe o que é preconceito ............................................................................. 17
Atividade 3: procurar no dicionário definições de palavras ..................................................... 17
Atividade 4: inversão de papéis: apresentação dos vídeos Vista a minha pele, O preconceito
cega, Preconceito no elevador e Cultura Afro-brasileira .......................................................... 19
Oficina 2: Compreendendo o gênero: gênero conto na sala de aula ................................. 23
Atividade 1: resgatando o conhecimento cotidiano: o que é um conto? .................................. 25
Atividade 2: pesquisa no laboratório de informática sobre o continente Africano. ................. 28
Atividade 3: acesso portal diaadia educação para saber quais são os países que que têm a
Língua Portuguesa como oficial ............................................................................................... 29
Atividade 4: você já ouviu falar de Moçambique? ................................................................... 29
Atividade 5: oficina de arte: pesquisa e confecção de máscara africana .................................. 30
Oficina 3: Conhecendo o autor: Mia Couto ......................................................................... 31
Conhecendo a obra de estudo: O Fio das Missangas ........................................................... 34
Atividade 1: quem conta um conto, aumenta um ponto ........................................................... 37
Conto: A saia almarrotada ........................................................................................................ 37
Atividade 2: compreendendo a essência do conto .................................................................... 40
Atividade 3: pesquisa no laboratório de informática sobre o continente Africano. ................. 40
Atividade 3: análise do conto A saia almarrotada .................................................................. 40
Atividade 4: ilustrar o tema abordado na narrativa quanto a realidade feminina retratada . .... 41
Roda de Leitura: Enterro televisivo .......................................................................................... 41
Atividade 5: compreendendo a essência do conto .................................................................... 43
Análise do conto: Enterro televisivo ........................................................................................ 44
Atividade 6: trabalho em grupo retratando a temática abordada na narrativa .......................... 44
Oficina 4: Contextualizando o estudo .................................................................................. 45
Atividade 1: Árvore genealógica em formas de conto ............................................................. 46
Oficina 5: Aprendendo com a diversidade .......................................................................... 47
Atividades Finais ...................................................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 50
5
APRESENTAÇÃO
A Produção Didático-Pedagógica faz parte do projeto ofertado pela Secretaria de
Educação do Estado do Paraná, o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Como
parte deste projeto está a elaboração desta Unidade Didática intitulada: Mia Couto na sala de
aula: leitura de O Fio das missangas, cujo objetivo propõe desenvolver por meio da leitura o
conhecimento da cultura africana de Língua Portuguesa por meio das obras literárias de Mia
Couto atendendo aos dispositivos da Lei 10.639/03 com os alunos do 9º Ano do Colégio
Estadual São Bartolomeu- Ens. Fund. e Médio.
Sabe-se que há uma lacuna nos sistemas educacionais brasileiros em relação ao
estudo da cultura africana. Esta ausência trouxe consequências para a população, favorecendo
assim um ambiente com exclusões étnicas, o qual se denomina racismos, deixando brechas
sobre a verdadeira história daqueles que nunca foram escravos, mas sim escravizados (todos
nós nascemos livres) pelos pensamentos eurocentristas que queriam deixar claro sua
superioridade sobre os negros.
De acordo com Munanga apud (BRASIL, 2005, p.15) somos produtos de uma
educação eurocêntrica e que podemos, em função desta, reproduzir consciente ou
inconscientemente os preconceitos que permeiam nossa sociedade.
Segundo este autor, a partir da tomada de consciência dessa realidade, sabe-se que
nossos instrumentos de trabalho na escola e na sala de aula, isto é, os livros e outros materiais
didáticos visuais e audiovisuais acabam por reproduzir conteúdos viciados, depreciativos e
preconceituosos em relação aos povos e culturas não oriundos do mundo ocidental. Os
mesmos preconceitos permeiam também o cotidiano das relações sociais de alunos entre si e
de alunos com professores no espaço escolar
Desta forma, Munanga apud (BRASIL, 2005, p.16) afirma a necessidade de
promover:
o resgate da memória coletiva e da história da comunidade negra não interessa
apenas aos alunos de ascendência negra. Interessa também aos alunos de outras
ascendências étnicas, principalmente branca, pois ao receber uma educação
envenenada pelos preconceitos, eles também tiveram suas estruturas psíquicas
afetadas. Além disso, essa memória não pertence somente aos negros. Ela pertence a
todos, tendo em vista que a cultura da qual nos alimentamos quotidianamente é fruto
de todos os segmentos étnicos que, apesar das condições desiguais nas quais se
desenvolvem, contribuíram cada um de seu modo na formação da riqueza
econômica e social e da identidade nacional.
6
A educação é capaz de oferecer, tanto aos jovens como aos adultos, a possibilidade
de questionar e desconstruir os mitos de superioridade e inferioridade entre grupos humanos
que foram introjetados neles pela cultura racista na qual foram socializados. Apesar da
complexidade da luta contra o racismo, que consequentemente exige várias frentes de
batalhas, não temos dúvida de que a transformação de nossas cabeças de professores é uma
tarefa preliminar importantíssima. Essa transformação fará de nós os verdadeiros educadores,
capazes de contribuir no processo de construção da democracia brasileira, que não poderá ser
plenamente cumprida enquanto perdurar a destruição das individualidades históricas e
culturais das populações que formaram a matriz plural do povo e da sociedade brasileira
(MUNANGA apud BRASIL, 2005, p.17).
Sant' Ana (2005) afirma que:
Quando falamos em discriminação étnico-racial nas escolas, certamente estamos
falando de práticas discriminatórias, preconceituosas, que envolvem um universo
composto de relações raciais pessoais entre os estudantes, professores, direção da
escola, mas também o forte racismo repassado através dos livros didáticos. Não nos
esquecendo, ainda, do racismo institucional, refletido através de políticas
educacionais que afetam negativamente o negro (SANT' ANA apud BRASIL, 2005,
p.50).
Conforme Gomes (2005) uma melhor compreensão sobre o que é o racismo e seus
desdobramentos poderia ser um dos caminhos para se pensar estratégias de combate ao
racismo na educação (GOMES apud BRASIL, 2005, p.148). Segundo o autor
É justamente o campo dos valores que apresenta uma maior complexidade, quando
pensamos em estratégias de combate ao racismo e de valorização da população
negra na escola brasileira. Tocar no campo dos valores, das identidades, mexe com
questões delicadas e subjetivas e nos leva a refletir sobre diversos temas presentes
no campo educacional (GOMES apud BRASIL, 2005, p.149).
No atual contexto social, os alunos têm a oportunidade de conhecer e desconstruir
pré-conceitos impostos pelos anos de estudo de histórias contadas pelo olhar dos senhores de
engenho. Reconhecer a identidade dos povos que geraram nossa nação é trabalho que precisa
ocupar o espaço escolar. A educação será capaz de oferecer aos alunos a possibilidade de
questionar e refletir sobre a difícil batalha contra o racismo, é imprescindível que os
professores abracem esta causa, pois a peleja é grande e o fazer pedagógico é uma tarefa
necessária neste começo de luta. Seremos de fato educadores se formos capazes de oferecer
aos nossos alunos a possibilidade de levá-los e a contribuir no processo de democratização.
Assim, ao mencionar africanidades brasileiras estamos nos referindo às raízes da
cultura brasileira que têm origem africana. Dizendo de outra forma, estamos, de um lado, nos
7
referindo aos modos de ser, de viver, de organizar suas lutas, próprios dos negros brasileiros,
e de outro lado, às marcas da cultura africana que, independentemente da origem étnica de
cada brasileiro, fazem parte do seu dia-a-dia (SILVA apud BRASIL, 2005, p.155).
A finalidade de estudar africanidades brasileiras diz respeito ao direito dos
descendentes de africanos, assim como de todos os cidadãos brasileiros, à valorização de sua
identidade étnico-histórico-cultural, de sua identidade de classe, de gênero, de faixa etária, de
escolha sexual (SILVA apud BRASIL, 2005, p.156 e 157).
Ao observar a problemática apresentada no estudo desta proposta entende-se que não
se pode estudar a História do Brasil sem conhecer a História dos povos que geraram a nação
brasileira e para subsidiar o presente estudo a questão norteadora deste projeto nos leva a
refletir: o estudo da literatura africana pode levar os alunos a uma reflexão sobre o
preconceito racial por meio dos contos de Mia Couto?
Desta forma, justifica-se a escolha do presente Material Didático-Pedagógico que
terá como foco de estudo a apresentação do autor africano Mia Couto atendendo à perspectiva
dos estudos culturais em relação à importância da leitura e da inserção dos conteúdos
previstos pela Lei 10.639/03 em sala de aula e também propõe o estudo do gênero conto como
estratégia metodológica para estimular a leitura e conhecimento da diversidade cultural.
A escolha desse autor moçambicano surgiu devido à proximidade de suas narrativas,
com autores da literatura brasileira que encantam e despertam o leitor aos novos falares.
Mia Couto é um escritor estrangeiro que tem como afinidade a nossa língua, pois no
país em que nasceu se fala o Português, não como o nosso, mas parecido com o de Portugal.
Como ele mesmo disse em uma entrevista à Revista Época (abril/2014):
O português é uma língua viva, não porque ela seja especialmente diferente. Mas
ela viveu essa coisa que se chama Brasil. Vive a África que está se apropriando dela
com cinco países africanos que o fazem de modo diverso. É evidente que é preciso
um cuidado para que a língua continue com uma identidade e um fundamento. As
diferenças do português em vários países não são sentidas como um problema.
Pensando nisso, faz-se necessária esta aproximação com nossos irmãos africanos,
que, também falam o português. As relações que os escritores africanos têm com nossa
literatura é estreita e, em se tratando de Mia Couto não é diferente, é o que autor relata em
entrevista à revista Época:
Eu vim beber no Brasil. Sou mais influenciado pelos poetas brasileiros, como Carlos
Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. A minha casa vivia cheia de poesia,
porque meu pai, Fernando Couto, era vidrado em poesia brasileira e francesa. Eu
tinha discos da poesia jogral de São Paulo, que hoje ninguém mais conhece. Mas me
marcou escutar poemas como ―Essa nega fulô‖, de Jorge de Lima. Poesia era mais
som do que leitura para mim. Em minha casa viviam essas vozes. Eu nem me dava
conta de que poesia vinha do livro. Comecei a ouvir música brasileira na nossa
8
varanda. Meu pai ouvia também as canções praieiras do Dorival Caymmi e aquele
jeito doce de cantar me marcou desde menino. Depois vieram João Cabral de Melo
Neto e Guimarães Rosa. Quando publiquei Vozes amanhecidas, em 1987, eu sofria
influência do Guimarães Rosa, embora nunca o tinha lido. Depois o escritor
Luandino Vieira, que transgredia a norma incorporando os sotaques de Luanda,
chamou atenção em uma entrevista que era influenciada por Guimarães Rosa. Eu
consegui uma fotocópia do conto ―A terceira margem do Rio‖ e finalmente li.
Quando escrevi o segundo livro de contos, Cada homem é uma raça, aí já era
totalmente influenciado em Guimarães Rosa. Os contos dele são romances
condensados. (REVISTA ÉPOCA, 04/2014).
Mia Couto é autor de 23 livros, traduzidos em seis idiomas e publicados em mais de
20 países. O seu livro Terra Sonâmbula é considerado um dos dez melhores livros do século
XX. Foi vencedor do Prêmio Camões, que tem maior prestígio da língua portuguesa e do
Prêmio Literário Internacional Neustadt - considerado o Nobel americano. É membro
correspondente da Academia Brasileira de Letras (CATÁLOGO COMPANHIA NA
ESCOLA, 2014, p.64 a 66).
Assim, a literatura de Mia Couto articulada às propostas da Lei 10.639/03 modificada
pela 11.645/08 que institui a obrigatoriedade do ensino da História da África, da cultura afro-
brasileira e indígena no currículo escolar do ensino fundamental e médio vem resgatar
historicamente a contribuição dos negros na construção e formação da sociedade brasileira,
(BRASIL, 2004, p. 8). Percebendo essa deficiência na formação escolar foi que no dia 9 de
janeiro de 2003 foi aprovada a Lei 10.639/03, ela alterou o currículo oficial das escolas
públicas e privadas, tornando obrigatório o ensino da história da África e da cultura afro-
brasileira. A lei vem contribuir para a construção de uma sociedade mais justa com igualdade
de oportunidade e livre de preconceitos. É dever político e moral de todos combater o racismo
e qualquer forma de discriminação, assim frisa o parecer a respeito da lei.
Nesta perspectiva, o objetivo desta Produção Didático-Pedagógica visa conhecer a
cultura africana de Língua Portuguesa por meio de contos de Mia Couto atendendo aos
dispositivos da Lei 10.639/03.
Ao analisar a dificuldade de selecionar conteúdos curriculares da área de Literatura
relativos à cultura afro-brasileira e/ou cultura africana foi possível perceber a necessidade de
desenvolver esta Unidade Didática a fim de promover reflexões que enaltecem a importância
da cultura africana em nosso país utilizando as obras literárias do escritor africano Mia Couto
que mantém estreita relação com autores brasileiros estudados nas escolas. Ao trabalhar com
esta literatura nas aulas de Língua Portuguesa busco aproximar Brasil e Moçambique, que tem
em comum a cor da cultura que se materializa em nossa sociedade e devem ser estudados em
sala de aula, conforme preconiza a Lei 10.639/03-MEC, porém tal estudo deve ser realizado
não só para se fazer cumprir a lei, mas porque os textos literários trazem uma riqueza de
9
conteúdos nos quais os alunos poderão se deparar com a história, a cultura e conhecerão os
problemas de outros países que, embora com contextos diferentes, compartilhamos das
mesmas dificuldades sociais.
A literatura desde sempre tem sido uma das formas privilegiadas que o homem
utiliza para refletir sobre o real, permitindo a ele se ligar a terra assim como ao sobrenatural,
exprimindo o seu mais profundo saber e sentir. Por isso, ao analisar as formas literárias, quer
escritas, quer orais, percebe-se que estas constituem uma enorme riqueza humana capaz de se
propagar por meio dos milénios. Assim é que o crítico e sociólogo Antônio Candido constrói
o seu conceito de literatura:
A arte, e portanto a literatura, é uma transposição do real para o ilusório por meio de
uma estilização formal da linguagem , que propõe um tipo arbitrário de ordem para
as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação à
realidade natural ou social, e um elemento de manipulação técnica, indispensável à
sua configuração, e implicando em uma atitude de gratuidade (CANDIDO, 1972,
p.53).
Nesta perspectiva, Vítor Manuel de Aguiar e Silva (1982) em suas palavras afirma:
―[…] a literatura não consiste apenas numa herança, num conjunto cerrado e estático de textos
inscrito no passado, mas apresenta-se antes como um ininterrupto processo histórico de
produção de novos textos […]‖ (Silva, 1982, p. 14). Assim, localizar autores que recolham
frutos dessa ligação ancestral em constante mutação e a perpetuem por meio da Língua
Portuguesa constitui a tarefa principal do professor.
Desta forma, a obra do escritor moçambicano Mia Couto tem ganhado espaço no
panorama literário de expressão portuguesa. A fantasia, a riqueza linguística, a construção das
personagens, as imagens (re) criadas, são apenas alguns dos exemplos de temáticas passíveis
de ser objeto de estudo de quem por estes assuntos nutre especial carinho e interesse do autor.
Ele é, sem dúvida, um contador de ―estórias‖ nas quais o ser humano se revê e se recria
constantemente
O conto é uma história breve que precisa produzir significância de forma mais
imediata. É impossível determinar quando o ―contar estórias‖ começou, visto que, desde
sempre, a estória reuniu pessoas que a contam e outras que a ouvem, e permanece, assim, a
hipótese que nos leva aos tempos remotos, onde ainda não havia tradição escrita. Porém, é
possível também falar em fases de evolução nos modos de se contarem estórias, e, de certo
modo, ―enumerar as fases da evolução do conto seria percorrer a nossa própria história, a
história de nossa cultura, detectando os momentos da escrita que a representam‖ (GOTLIB,
2006, p.6).
10
De acordo com Gotlib (2006):
A história do conto, nas suas linhas mais gerais, pode se esboçar a partir deste
critério de invenção, que foi se desenvolvendo. Antes, a criação do conto e sua
transmissão oral. Depois, seu registro escrito. E posteriormente, a criação por escrito
de contos, quando o narrador assumiu esta função: de contador criador escritor de
contos, afirmando, então, o seu caráter literário. (GOTLIB, 2006, p. 13).
A voz do contador, independente do meio, oral ou escrito, pode sempre interferir no
seu discurso – visto que há vários modos de contar e detalhes no modo como se conta, que
podem ser planejados pelo contador:
Mas esta voz que fala ou escreve só se afirma enquanto contista quando exige um
resultado de ordem estética, ou seja: quando consegue construir um conto que
ressalte os seus próprios valores enquanto conto, nesta que já é, a essa altura, a arte
do conto, do conto literário. Por isso, nem todo contador de estórias é um contista.
(GOTLIB, 2006, p.13).
E só há obra estética, quando a voz do contador transforma-se na voz de um
narrador, que é uma voz fictícia inventada.
pode ser recontado com ―as próprias palavras‖, sem que seu ―fundo‖ desapareça.
Pelo contrário, qualquer um que conte o conto, manterá sua forma, que é a do conto
e não a sua, que é uma ―forma simples‖. Daí o conto ter como características
justamente esta possibilidade de ser fluido, móvel, de ser entendido por todos, de se
renovar nas suas transmissões, sem se desmanchar: caracterizam-no, pois, a
mobilidade, a generalidade, a pluralidade. (GOTLIB, 2006, p.18).
Dada à imensidão da obra de Mia Couto, optou-se por delimitar o corpus deste
Material Didático restringindo-o aos contos ―A saia almarrotada’’ e Enterro televisivo.
Desta forma, serão aplicadas oficinas em sala de aula a partir dos contos de Mia Couto, cujo
objetivo visa verificar quais são os modos possíveis de mediar o conhecimento via gênero
discursivo conto, a fim de instrumentalizarmos de forma adequada sujeitos do ensino como
professor e aluno.
11
Professor!
É com imensa alegria que desenvolvemos esta Unidade Didática que apresenta
sugestões para promover o gosto pela leitura em sala de aula por meio do estudo da Cultura
Africana atendendo aos dispositivos da Lei 10.639/03, cuja proposta traz o estudo dos contos
de Mia Couto, autor moçambicano de Língua Portuguesa.
Assim este Material Didático Pedagógico busca desenvolver o conhecimento da
cultura africana de Língua Portuguesa com foco na leitura por meio dos contos africanos do
autor Mia Couto, visto que este apresenta uma forma peculiar em suas narrativas, cuja
característica possibilita a incorporação da tradição oral ao gênero literário conto.
Neste sentido, o gênero conto será estudado a partir dos pressupostos teóricos de
Nadia B. Gotlib, em Teoria do conto, onde consegue reunir algumas das características
essenciais desse gênero literário:
Mia Couto na sala de aula:
Leitura de
O Fio das missangas
12
E com o modo de se contar a estória: é uma forma breve. E com o modo pelo qual se
constrói este seu jeito de ser, economizando meios narrativos, mediante contração de
impulsos, condensação de recursos, tensão das fibras do narrar. Porque são assim
construídos, tendem a causar uma unidade de efeito, a flagrar momentos especiais da
vida, favorecendo a simetria no uso do repertório dos seus materiais de composição.
Além disso, são modos peculiares de uma época da história. E modos peculiares de
um autor, que, deste e não de outro modo, organiza a sua estória, como organiza
outras, de outros modos, de outros gêneros. Como são também modos peculiares de
uma face ou de uma fase da produção deste contista, num tempo determinado, num
determinado país. A sequência dos elos que motivam a ocorrência de um conto
tende, também, ao desdobramento, em mil e uma contingências (GOTLIB, 1990, p.
82 e 83).
Desta forma, o conto em sua forma breve e concisa constrói este seu jeito de ser:
condensa, contrai, economiza os meios narrativos e alimenta o conflito entre os elementos, até
o desfecho. O conto é um exemplo de linguagem viva, histórica, dinâmica e contextualizada.
A característica marcante do conto seria a forma breve de contar uma história, em suas
conclusões o conto caracterizar-se-ia pela economia dos meios narrativos e de estilo e pela
tensão da narrativa. Mais ainda, tais procedimentos seriam responsáveis pela concentração de
recursos na busca de uma unidade de efeito e também pela simetria dos elementos usados em
sua construção.
Dentre os contos que compõem ―O Fio das Missangas‖, esta Unidade Didática
pretende trabalhar com o conto: ―A saia almarrotada e Enterro televisivo‖. Conforme Nádia
B. Gotlib, os textos comumente chamados de contos, por serem relativamente breves,
caracterizam-se pela concentração de forças para manter a tensão da narrativa e tendem a
causar uma unidade de efeito no leitor.
Tendo em vista a necessidade de incentivar o hábito da leitura já que nossos alunos
em sua grande maioria apresentam dificuldades na leitura, compete a nós professores, não só
os de Língua Portuguesa, oportunizar momentos de leitura para que os alunos se tornem
leitores efetivos, buscando a leitura por prazer e não por obrigação.
Segundo Lajolo (2004):
cada leitor tem a história de suas leituras, cada texto, a história das suas. Leitor
maduro é aquele que, em contato com o texto novo, faz convergir para o significado
de todos os textos que leu. E, conhecedor das interpretações que um texto já recebeu,
é livre para aceitá-las ou recusá-las, e capaz de sobrepor a elas a interpretação que
nasce de seu diálogo com o texto. Em resumo, o significado de um novo texto afasta
e redimensiona o significado de todos os outros (LAJOLO, 2004, p. 106).
Nesta perspectiva a autora aborda que a formação de um leitor deve valer-se de
vivências sistemáticas de leitura carregadas de significados, de sentidos que contribuam para
o ser/estar no mundo. Deve envolver práticas sociais, nas quais o indivíduo sinta a
13
necessidade de ler. Deve, além de um momento de prazer, fazer um momento de apropriação
de saberes, de conhecimento de si e do mundo.
Com base nisso, a elaboração das atividades desta Produção Didático-Pedagógica visa
possibilitar a conscientização por parte dos alunos sobre a importância da cultura negra em
nossa sociedade sob o viés das temáticas africanas, mais especialmente as abordadas nos
contos de Mia Couto.
14
Por que estudar a Lei 10.639/03 e o Ensino da História e Cultura Afro-brasileira
e Africana nas aulas de Língua Materna?
A Lei 10.639/03, que versa sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e
africana, ressalta a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira.
A Lei 10.639/03 propõe novas diretrizes curriculares para o estudo da história e
cultura afro-brasileira e africana, ressaltando em sala de aula conteúdos que enalteçam a
cultura afro-brasileira como constituinte e formadora da sociedade brasileira, na qual os
negros são considerados como sujeitos históricos, valorizando-se, portanto, o pensamento e as
ideias de importantes intelectuais negros brasileiros, a cultura (música, culinária, dança) e as
religiões de matrizes africanas.
Com a Lei 10.639/03 também foi instituído o dia Nacional da Consciência Negra (20
de novembro), em homenagem ao dia da morte do líder quilombola negro Zumbi dos
Palmares. O dia da consciência negra é marcado pela luta contra o preconceito racial no
Brasil. O ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, após a aprovação da Lei
10.639/03, fez-se necessário para garantir uma ressignificação e valorização cultural das
matrizes africanas que formam a diversidade cultural brasileira. Portanto, os professores
exercem importante papel no processo da luta contra o preconceito e a discriminação racial no
Brasil.
Objetivo
Compreender a importância que a Lei 10.639/03 representa no contexto sócio-político
para a cultura afrodescendente e afro-brasileira e os avanços da luta contra o racismo e
preconceito que o país tanto sofre.
15
ATIVIDADE 1
Vamos conhecer o que diz a lei.
Presidência da República
Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos
LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.
Mensagem de veto
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional,
para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a
obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-
Brasileira", e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o A Lei n
o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos
seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares,
torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História
da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na
formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social,
econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito
de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e
História Brasileiras.
§ 3o (VETADO)"
"Art. 79-A. (VETADO)"
"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‗Dia Nacional da
Consciência Negra‘."
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115
o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
16
ANALISANDO O TEMA
A importância da Lei 10.639/03 e das suas Diretrizes regulamentadoras para o
enfrentamento ao racismo está justamente no seu foco de abrangência, ou seja, na
obrigatoriedade que traz da inclusão nos currículos das escolas de educação básica de todo o
país, do Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. A crença daqueles que por
ela lutaram e ainda lutam pela sua implementação, é a de que a escola é capaz de contribuir à
construção de representações positivas em relação aos afro-brasileiros negros, não repetindo,
como afirma Munanga (2005), a ótica humilhante e pouco humana que, historicamente, tem
sido reservada à história da população negra, contada nos livros didáticos. Parte do
pressuposto de que o resgate da memória coletiva e da história da comunidade negra não
pertence somente aos negros. Pertence a todos, uma vez que:
A cultura da qual nos alimentamos quotidianamente é fruto de todos os
segmentos étnicos que, apesar das condições desiguais nas quais se
desenvolvem, contribuíram cada um de seu modo na formação da riqueza
econômica e social da identidade nacional (MUNANGA, 2005 a, p. 16).
Como importante política pública de enfrentamento ao racismo, a lei que ora
tematizamos, representou, principalmente, o marco das conquistas do movimento social negro
brasileiro – vitória de uma luta árdua, gradual e progressivamente conquistada, marcada pela
busca de reconhecimento da participação efetiva dos povos africanos no processo de
desenvolvimento brasileiro.
A despeito da contribuição dos negros africanos e seus descendentes, na formação da
nossa identidade nacional, o fato de vivermos em uma sociedade que supervaloriza a cultura
17
de origem europeia tem sido responsável pela construção e disseminação de uma imagem
pejorativa das pessoas negras. Imagem esta responsável pela propagação do racismo e de
atitudes de discriminação dirigidas a tais pessoas. A escola, ao refletir a sociedade maior,
também vivencia e reproduz estas mesmas relações sociais.
ATIVIDADE 2
VOCE SABE O QUE É PRECONCEITO?
PROFESSOR !
Neste momento é oportuno que os alunos expressem
seu conhecimento acerca do questionamento.
Preconceito
Do latim prejudicium, julgamento prévio. Designa um julgamento prévio rígido e
negativo sobre um indivíduo ou grupo. As conotações básicas incluem inclinação,
parcialidade, predisposição, prevenção. No uso moderno, o termo veicula muitos significados
variantes. Comuns à maioria deles, contudo, são as noções de julgamento prévio desfavorável
efetuado antes de um exame ponderado e completo, e mantido rigidamente mesmo em face de
provas que o contradizem.
O preconceito racial é caracterizado pela convicção da existência de indivíduos com
características físicas hereditárias, determinados traços de caráter e inteligência e
manifestações culturais superiores a outros pertencentes a etnias diferentes.
O preconceito leva à discriminação, à marginalização e à violência, uma vez que é
baseado unicamente nas aparências e na empatia.
ATIVIDADE 3
Procurar no dicionário as definições das palavras abaixo:
Racismo: é a convicção sobre a superioridade de determinadas raças, com base em
diferentes motivações, em especial as características físicas e outros traços do comportamento
humano. (AURÉLIO, 1999, p.1696)
18
Discriminação: ação de discriminar, tratar diferente, anular, tornar invisível, excluir,
marginalizar.
Preconceito: qualquer atitude negativa em relação a uma pessoa ou a um grupo social que
derive de uma ideia preconcebida sobre tal pessoa ou grupo. é possível, então, dizer que a
atitude preconceituosa está baseada não em uma opinião adquirida coma experiência, mas em
generalizações que advêm de estereótipos.
Estereótipo: consiste na generalização e atribuição de valor (na maioria das vezes negativo) a
algumas características de um grupo, reduzindo-o a esses traços e definindo os ―lugares de
poder‖ a serem ocupados. é uma generalização de julgamentos subjetivos feitos em relação a
um determinado grupo, impondo-lhes o lugar de inferior e de incapaz no caso dos estereótipos
negativos.
Estigma: marca ou rótulo atribuído a pessoas e grupos, seja por pertencerem à determinada
classe social, por sua identidade de gênero, por sua cor/raça/etnia. O estigma é sempre uma
forma de simplificação, de desqualificação da pessoa e do grupo. Os estigmas decorrem de
preconceitos e ao mesmo tempo os alimentam, cristalizando pensamentos e expectativas com
relação a indivíduos e grupos.
Preconceito: Preconceito é um juízo pré-concebido, que se manifesta numa atitude
discriminatória, perante pessoas, crenças, sentimentos e tendências de comportamento. É
uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento sério
Respeito: é um sentimento positivo e significa ação ou efeito de respeitar, apreço,
consideração, deferência.
O respeito é um dos valores mais importantes do ser humano e tem grande
importância na interação social. O respeito impede que uma pessoa tenha atitudes
reprováveis em relação à outra.
19
Uma das importantes questões sobre o respeito é que para ser respeitado é preciso
saber respeitar, o que em muitos casos não acontece. Respeitar não significa concordar em
todos as áreas com outra pessoa, mas significa não discriminar ou ofender essa pessoa por
causa da sua forma de ser, viver ou suas.
Segundo Nascimento (2008, p.54): ―A necessidade de um mundo democrático não
é eliminar as diferenças, mas conviver com elas de maneira pacífica e harmoniosa.‖ Não
podemos transformar as diferenças em desigualdades, e sim, valorizá-las, com respeito
mútuo enriqueceremos nosso meio cultural e a nossa identidade nacional, uma reflexão a
respeito da diversidade.
―Temos o direito de ser iguais
sempre que as diferenças nos inferiorizem,
temos o direito de ser diferentes
sempre que a igualdade nos descaracterize‖.
Boaventura Santos
ATIVIDADE 4
Inversão de papeis.
Professor!
Para compreender a questão do preconceito temos
que nos colocar no lugar do outro para sentir na pele
o que é passar por isso. Nesta atividade os alunos irão
assistir vídeos que abordam essa temática.
Curta Metragem
Vista a Minha Pele
e
O Preconceito Cega
20
"Vista a Minha Pele" é uma divertida paródia da realidade brasileira. Serve de material
básico para discussão sobre racismo e preconceito em sala de aula.
Acesse o link para assistir o curta metragem Vista a minha Pele
http://youtu.be/LWBodKwuHCM
O CURTA-METRAGEM “VISTA MINHA PELE”.
O curta propõe uma reflexão sobre o racismo e o preconceito a partir de uma
inversão de situações, nas quais os negros/as formam a classe dominante e os brancos/as é que
foram os escravizados e vivem sob exclusão social.
Apesar da paródia e do tom bem humorado adotado no vídeo, o roteiro foi concebido
com base em pesquisas sobre a dura realidade vivida por crianças e adolescentes negros/as do
ensino fundamental e médio.
O debate racial é uma questão nacional e não mais restrita a poucos militantes como
há algunsanos, a fim de cobrar o pagamento da dívida histórica e também atacar o preconceito
introjetado pela sociedade.
21
CURTA-METRAGEM "O PRECONCEITO CEGA"
O curta - metragem aborda formas de preconceito cotidianas.
Acesse o link para assistir o curta metragem: O preconceito Cega.
http://youtu.be/aec-i7n6V48
22
PRECONCEITO NO ELEVADOR
O curta metragem aborda formas de preconceito cotidianas.
Acesse o link para assistir o curta metragem: Preconceito no elevador
http://youtu.be/1HnZq2KCLHU
CULTURA AFRO BRASILEIRA
Acesse o link para assistir o vídeo sobre a cultura Afro-Brasileira
http://youtu.be/n3m0md9va0a
23
Em 2003 foi promulgada a Lei nº. 10.639 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB), passando-se a exigir que as escolas brasileiras do Ensino Fundamental e
Médio da Educação Básica incluíssem no currículo o ensino da história e cultura afro-
brasileira. Após várias reivindicações e veementes discussões, fruto do protagonismo
histórico dos povos indígenas, aliado aos intelectuais que discutiam essas questões, em 10 de
Março de 2008 foi promulgada a Lei 11.564 que acresce à Lei 10.639, estabelecendo a
obrigatoriedade curricular do tratamento da história e cultura indígena.
As referidas leis são consideradas pelos movimentos negros e indígenas como
instrumentos indispensáveis na luta contra as desigualdades étnico-raciais, uma vez que a
instituição escolar possui a aptidão legal para contribuir com a desconstrução de preconceitos
e estereótipos negativos associados a esses grupos e, dessa forma promover uma educação
centrada no conhecimento e respeito das diversas peculiaridades singulares que compõem a
população brasileira.
Deste modo, o vídeo faz uma contextualização histórica e cultural da influência
africana no território brasileiro. Assim, torna-se de fundamental importância reconhecer a
escola como base transformadora social, criando-se estratégias que atendam as necessidades
que atendam as necessidades culturais do educando.
COMPREENDENDO O GÊNERO
GÊNERO CONTO NA SALA DE AULA Afinal, o que é o conto? Como defini-lo?
O conto, evoluiu da oralidade para o registro escrito e, segundo Nádia Gotlib (1988),
conserva características tanto da fábula quanto da parábola, tanto na economia de estilo
quanto na proposição temática resumida. A arte clássica determinava que entre as normas
estéticas a serem apreendidas, estava a de obedecer à ordem: princípio e fim na estória. Pode-
se entender o conto como o que tem uma unidade de tempo, de lugar e de ação e ―que lida
com um só elemento: personagem, acontecimento, emoção e situação‖ (GOTLIB, 1988,
24
p.59). Para Edgar Allan Poe, escritor norte americano, tal teoria recai sobre o princípio da
relação entre a extensão e a reação provocada no leitor.
Outra definição de conto é de que este possui uma forma narrativa de menor
extensão que o romance e a novela, além de características estruturais próprias.
Diferentemente destes, que representam o desenvolvimento ou o corte na vida das
personagens, aquele representa um flagrante, registrando um episódio singular e
representativo, o que resulta em uma harmonização dos elementos selecionados. O conto
também apresenta os mesmos elementos do romance, porém delimita fortemente o tempo e o
espaço e normalmente, apresenta-se em quatro partes: apresentação, complicação, clímax e
desfecho (SOARES, 2004, p.54).
O gênero conto pertence ao modo narrativo. Este desperta desde cedo a curiosidade
de quem o lê ou de quem o ouve, caracterizando-se como uma narrativa breve em que
circulam personagens em reduzido número e alvo de uma escassa caracterização, revelando
uma ação bastante concentrada em torno de uma peripécia particular que de algum modo
provocou a desestabilização num ambiente inicialmente favorável(LOPES, 1990, p. 75).
Segundo Daniel Lacerda, ―o conto é eleito pelos moçambicanos como o gênero
privilegiado, mas com um sentido mais amplo que habitualmente, englobando outras figuras:
pastiche, paródia, tradição oral, mitos africanos‖ (LACERDA, 2005, P.85).
OBJETIVO
Professor!
Podemos compreender que os contos são textos que
possibilitam uma interpretação sobre as experiências
da vida por isso devemos indicá-los como estratégia
de leitura de sua importância para mediar à formação
de leitores.
Conhecer o gênero contos a fim de incentivar a formação de leitores.
25
ATIVIDADE 1
RESGATANDO O CONHECIMENTO COTIDIANO
1. Você gosta de ler?
2. Você já leu ou gosta de ler contos? Se sim, quais você já leu?
3. Você sabe quais são os tipos de contos?
4. Você conhece, por exemplo, os contos Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e Branca de
Neve?
5. Você conhece um conto em que a personagem fica presa em uma torre e tem uma trança
enorme?
6. Como são, normalmente, as personagens dos contos citados?
O QUE É UM CONTO?
Conta, conta, conta...
Calma! Tentarei, como em um conto, ser sucinto e conciso em explicar o que é um
Conto. Há contos de fadas (são os contos infantis), e contos adultos e todos possuem esta
característica: são curtos. Ao escritor de contos dá-se o nome de contista.
Conto é uma forma de narrativa, em prosa, obra de ficção de menor extensão no
sentido estrito de tamanho em relação às novelas e romances, os quais são extensos e com
muitas personagens. Ora, se todos são curtos, depreende-se que, para formar um todo
harmonioso, os contos devem ser sucintos e concisos, claros e objetivos. O conto é uma obra
de ficção. Cria um universo de seres e acontecimentos de ficção, de fantasia ou imaginação. O
conto apresenta um narrador, personagens e enredo. (CIONE, 2015, p.01)
26
Estrutura do Gênero Conto
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS:
- É uma narrativa linear e curta, tanto em extensão quanto no tempo em que se passa.
- A linguagem é simples e direta, não se utiliza de muitas figuras de linguagem ou de
expressões com pluralidade de sentidos.
- Todas as ações se encaminham diretamente para o desfecho.
- Envolve poucas personagens, e, as que existem se movimentam em torno de uma única
ação.
- As ações se passam em um só espaço, constituem um só eixo temático e um só
conflito.
FOCOS NARRATIVOS:
Primeira pessoa: personagem principal conta sua história; este narrador limita-se ao
saber de si próprio, fala de sua própria vivência.
Terceira pessoa: O texto é narrado em 3ª pessoa e neste caso podemos ter:
a) narrador observador: o narrador limita-se a descrever o que está acontecendo,
"falando" do exterior, não nos colocando dentro da cabeça da personagem; assim não
sabemos suas emoções, ideias, pensamentos; o narrador apenas descreve o que vê, no
mais, especula;
b) narrador onisciente: conta a história; o narrador tudo sabe sobre a vida das
personagens, sobre seus destinos, ideias, pensamentos; como se narrasse de dentro da
cabeça delas.
O CONTO PODE APRESENTAR-SE EM DISCURSO:
Direto: (discurso direto) as personagens conversam entre si; usam-se os travessões.
Além de ser o mais conhecido é, também, predominante no conto.
Indireto: (discurso indireto) quando o escritor resume a fala da personagem em forma
narrativa, sem destacá-la. Ele conta como aconteceu o diálogo, quase que reproduzindo-o.
Indireto livre: (discurso indireto livre) é a fusão entre autor e personagem (primeira e
terceira pessoa da narrativa); o narrador narra, mas no meio da narrativa surgem diálogos
indiretos da personagem como que complementando o que disse o narrador.
27
Introdução (ou apresentação)
Constitui o início da história a ser narrada. Neste momento, o narrador apresenta os fatos
iniciais, os personagens e, na maioria das vezes, o tempo e o espaço.
Complicação (ou desenvolvimento)
Representa a parte em que se desenvolve o conflito. O conflito é o momento em que algo
começa a acontecer, e nós, como leitores, ficamos surpresos à espera do que está por vir.
Clímax
É o momento mais tenso da narrativa, pois tudo pode acontecer, podendo ser aquilo que
esperávamos ou não.
Desfecho (ou conclusão)
Revela o final da história, a solução para o conflito, sendo que este fim poderá ser de vários
modos: triste, alegre, surpreendente, engraçado, e até mesmo trágico.
ENTENDENDO A ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DO GÊNERO CONTO
1- Leia o texto abaixo, observando a estrutura e os elementos narrativos deste pequeno conto
e responda as questões que se seguem.
"Quem conta um conto, aumenta um ponto".
Histórias para o Rei Nunca podia imaginar que fosse tão agradável a
função de contar histórias, para a qual fui nomeado por
decreto do Rei. A nomeação colheu-me de surpresa, pois
jamais exercitara dotes de imaginação, e até me exprimo
com certa dificuldade verbal. Mas bastou que o rei
confiasse em mim para que as histórias me jorrassem da
boca à maneira de água corrente. Nem carecia inventá-las.
Inventavam-se a si mesmas.
Este prazer durou seis meses. Um dia, a Rainha foi
falar ao Rei que eu estava exagerando. Contava tantas
histórias que não havia tempo para apreciá-las, e mesmo
para ouvi-las. O Rei, que julgava minha facúndia uma
qualidade, passou a considerá-la um defeito, e ordenou que
eu só contasse meia história por dia, e descansasse aos
domingos. Fiquei triste, pois não sabia inventar meia
história. Minha insuficiência desagradou, e fui substituído
por um mudo, que narra por meio de sinais, e arranca os
maiores aplausos.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Histórias para o Rei. Rio de
Janeiro: Record, 1999.
Título
Apresentação
Complicação
Clímax
Desfecho
28
CONTOS AFRICANOS
Os contos africanos foram deixados pelos povos da África como cultura oral – onde
os anciões das tribos eram valorizados justamente por conhecer muitas histórias, ter um rico
conhecimento popular e transmiti-los aos mais jovens. As heranças deixadas por eles foram
trazidas para o Brasil com a vinda dos escravos, e até hoje, temos a influência cultural
africana, possibilitando o resgate dos personagens e suas histórias tão importantes que muitas
vezes ficam esquecidos.
Professor!
Nesta atividade pergunte aos alunos o que eles
conhecem sobre a África. Conversar com os alunos
sobre a história da África, sobre a vinda dos africanos
para o Brasil, sobre a riqueza da cultura africana e
sua influência na cultura brasileira (músicas,
comidas, histórias, religiões)
ATIVIDADE 2
No laboratório de informática pesquise sobre o continente Africano e ilustre sua
pesquisa colorindo o mapa deste continente.
• localização geográfica do continente e dos Países africanos;
• identificação dos Países africanos de Língua Portuguesa;
• Em grupo os alunos utilizando rococó verde decorarão o mapa da África
reproduzido em tamanho grande.
29
ATIVIDADE 3
Você sabe quais são os países que falam Português?
Acesse o infográfico no portal dia a dia educação e saiba quais são os sete países que
têm a Língua Portuguesa como oficial.
A
cesso o link:
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/objetos_de_aprendizagem/2010/l
ingua_portuguesa/ortografico.swf
ATIVIDADE 4
Você já ouviu falar de Moçambique?
Moçambique é um país com população composta por quase 98% de etnias banto. O
restante são africanos brancos (de ascendência portuguesa), euro-africanos (mestiços),
indianos e chineses. Mas, ao contrário de Angola, antiga conhecida dos brasileiros, assim
como a figura do angolano, que inclusive já faz parte do imaginário nacional como
representação do africano aqui no país, pouco conhecemos sobre Moçambique.
Localizado no sudeste da África e banhado pelo Oceano Índico, Moçambique foi
anexado pelo Império Português em 1505 e permaneceu sob seus domínios até 1975. Dois
anos depois mergulhou em uma guerra civil que se estendeu até 1992. Desde 1994, vive uma
30
República presidencialista e se mantém estável. Apesar de possuir muitas línguas, o português
é a única oficial e falada por mais da metade da população.
Os desafios de Moçambique são muitos. O país iniciou um processo democrático há
apenas vinte anos e precisa administrar o vertiginoso crescimento econômico depois de
décadas de guerras e destruição. Busca controlar o avanço do HIV, ampliar a educação e
eliminar o analfabetismo; também é vital que desapareçam os muitos casos de corrupção.
Apesar disso tudo, destaca-se também pelos artistas. Na literatura, Mia Couto é um
dos grandes escritores do país de projeção mundial, que já se tornou popular inclusive aqui no
Brasil. Por essas e outras que, apesar de parecer distante, temos muito mais de Moçambique
do que imaginávamos.
ATIVIDADE 5
Oficina de arte
Pesquise e confeccione sua máscara africana.
Professor!
Para encerrar esta oficina apresentaremos a proposta
de trabalho aos alunos com o gênero conto: O fio das
missangas de Mia Couto.
31
CONHECENDO O AUTOR
“A literatura é o território sagrado onde se inventa um chão e nos sentamos com os deuses.
O lugar onde, também nós, somos deuses. No momento dessa relação, estamos fundando um
tempo fora do tempo. E nos religamos com o universo. É isso que torna num momento divino
esse pequeno delírio que é o ato de inventar.‖ MIA COUTO.
Objetivo
Professor!
Nesta oficina conte aos seus alunos um pouco da vida
e obra do autor moçambicano Mia Couto. Em
seguida proponha uma pesquisa no laboratório de
informática sobre a biografia deste autor.
MIA COUTO
António Emílio Leite Couto (Mia Couto) nascido em Beira, na província de Sofala
em 05 de julho de 1955, numa "família de emigrantes portugueses que chegaram a
Moçambique no princípio da década de 50". Segundo Rosilda Alves Bezerra (2007):
Mia Couto nasceu em Beira, nas margens do Índico, numa cidade onde todo homem
tem a impressão de não se encontrar em lugar nenhum, na visão do próprio autor.
Lugar de passagem e pouso durante as longas travessias, toda a costa moçambicana
sempre foi um entrecruzar de civilizações. Ilhas, muitas ilhas, e portos que, primeiro,
foram ocupados pelos naturais do lugar, que nunca foram poucos e sempre
carregaram entre si históricas dissenções (BEZERRA, 2007, p. 31).
Estudar sobre a biografia e obras de Mia Couto.
32
Mia Couto se inscreve enquanto autor e cidadão moçambicano. Sua narrativa não
poderia deixar de trazer, elucidar os quadros de dor e também de esperança.
Em 1975 ingressou na atividade jornalística, dirigindo três veículos de comunicação;
Agência de Informação de Moçambique (1976 a 1979), Revista Tempo (1979 a 1981) e o
Jornal Notícias de Maputo (1981 a 1985).
Considerado um dos nomes mais marcantes da nova geração de escritores africanos
que escreve em português, Mia Couto é um escritor contemporâneo que de sua maneira
descreve e trata os problemas e a vida cotidiana do Moçambique. O neologismo que ele
utiliza por meio de um processo de mestiçagem entre o português "culto" e as várias formas e
variantes dialetais introduzidas pelas populações moçambicanas faz dele um escritor singular.
Mia é assim um mago da língua recriando, renovando, criando, apropriando a língua
portuguesa em novas e inesperadas direções. O seu modo de escrever muito se compara ao
nosso grande escritor João Guimarães Rosa, já citado anteriormente, que, aliás, são uns dos
seus grandes inspiradores. (NETTO, 2010, p.01)
Assim, a literatura de Mia Couto recolhe os cheiros, sabores e modos de
África/Áfricas:
A escrita coutiana nos afirma que no espaço das identidades africanas, não basta
ouvir os ancestrais, mas é preciso continuar ouvindo a linguagem dos tambores e de
todo o seu imaginário, pois são estes, que muitas vezes, melhor nos conduzem às
imagens culturais para além daquelas que foram impostas, como únicas, pela
tradição ocidental (TOSTES, 2007, p.41).
As obras de Mia Couto falam das tradições, as histórias e modos de ser dos
moçambicanos. Suas narrativas mostram o quanto Mia é comprometido com a literatura
nacional e seus temas sempre fazendo voltados aos problemas de sua amada terra, do passado
colonial, da posição feminina na sociedade, das histórias dos mais velhos entre outros temas.
A diversidade de costumes e culturas também diversificadas convive no caótico ambiente em
que tradição e modernidade andam em tensões e trânsitos identitários. A literatura de Mia
Couto recolhe nas suas estórias esses sujeitos fragmentados pelas guerras, pelo jugo colonial e
pelo pós-colonialismo, retratando uma Moçambique em processo de mudança, mas em
conformidade e tensão com os valores da tradição. Nas literaturas africanas de língua
portuguesa, mais especificamente a literatura de Moçambique, encontramos em Mia Couto o
artista da palavra do recurso vocabular, na qual a oralidade e a escrita se mesclam, uma
determinando os domínios da outra, sem perda cultural. (TEIXEIRA, 2012. P.13)
33
Fonseca (2008) defende:
Na obra ficcional e poética, Mia Couto problematiza essas questões, na insistência
da tematização do ato de escrever, na construção das personagens que transitam
entre os espaços da oralidade e da escrita, que se utilizam da escrita para possibilitar
o conhecimento do leitor sobre a diversidade cultural moçambicana e na
representação intelectual deste lugar, isto é desse entre-lugar de fronteira, é que a
enunciação do escritor africano assume a tensão colocada no texto de Coetzee. Da
margem, criando condições enunciativas para a voz daqueles ―margem‖, os
africanos, mas também os que na África são marginalizados, Mia Couto produz uma
escrita expandida que consegue abraçar as falas de outros espaços marginalizados do
mundo. (FONSECA, 2008, p.16).
Mia Couto rememora e resgata a história e a cultura moçambicana, bem como aborda
diferentes fenômenos e aspectos linguísticos. Mia Couto pode-se dizer um verdadeiro
"escritor da terra" a sua ligação com sofrimento de seu povo é encontrado em cada linha de
suas escritas. Em suas andanças pelo país, entre os dados coletados sobre os estudos
ambientais e suas pesquisas, ele entrelaça as narrativas de seu povo que se misturam.
Conforme destaca Maria Fernanda Afonso:
Reproduzindo a diversidade de uma nação pluriétnica e pluricultural, a escrita
narrativa de Mia Couto converte o discurso opressor da mestiçagem, dissimulando
no passado sob uma atitude paternalista, invocando a unidade da Pátria apesar da
diversidade racial, na criação de um espaço literário, marcado pela interpenetração
de sistemas culturais e linguísticos. (AFONSO, 2007, p. 548)
Em seus contos o autor incorpora características da tradição oral e reinventa os
mitos, as tradições, a própria estrutura da língua, representando certa moçambicanidade. A
sua linguagem extremamente rica e fértil em neologismos confere-lhe um atributo de singular
percepção e interpretação da beleza interna das coisas, num confronto permanente entre o
passado e o presente de um país profundamente dividido entre o mito e a história.
Nas literaturas africanas de língua portuguesa, mais especificamente a literatura de
Moçambique, encontramos em Mia Couto o artista da palavra, numa ―artesania‖ do recurso
vocabular, onde a oralidade e a escrita se mesclam, uma determinando os domínios da outra,
sem perda cultural. O escritor moçambicano em questão eleva o cotidiano das aldeias e as
histórias comuns do seu povo à narrativa romanesca. (TEIXEIRA, 2012, p. 13)
Algumas de suas obras
Raiz de Orvalho (1983), Vozes Anoitecidas (1986), Cada homem é uma raça (1990),
Cronicando (1991), Estórias abensonhadas (1994), Contos do nascer da terra (1997), Mar me
quer (1998), Na berma de nenhuma estrada e outros contos (2001), segue seus romances,
34
Terra sonâmbula (1983), A varanda do frangipani (1996), Vinte e Zinco (1999), O último voo
do flamingo (2000), Um rio chamado tempo e uma casa chamada terra (2002), O outro pé da
sereia (2006), Jesusalém (2008) título da edição portuguesa e publicada no Brasil; Antes de
nascer o mundo (2009), também Venenos de Deus, remédios do diabo (2008) A confissão da
leoa (2012), Tradutor de chuvas (2011), Pensageiro frequente (2010) e O fio das missangas,
de Mia Couto, lançado em 2009, é um dos títulos mais recentes do contista e romancista
moçambicano entre outras.
CONHECENDO A OBRA DE ESTUDO
O FIO DAS MISSANGAS
―O fio das missangas‖ adentra o universo feminino, dando voz e tessitura às almas
condenadas a não-existência e ao esquecimento. Como objetos descartados, uma vez esgotado
seu valor de uso, as mulheres são aqui equiparadas ora a uma saia velha, ora a um cesto de
comida, ora, justamente, a um fio de missangas.
Objetivo
O Fio das Missangas (2009) de Mia Couto é um livro de contos que retrata enredo
de desamor, sujeição, abandono, solidão, enfim as mazelas humanas. A forma das narrativas
nos leva a imaginar o fio que sustenta as miçangas são os mesmos, porém as contas que a
envolvem são de cores e formatos diferentes. As histórias de vida ali narradas usam temas
Hora da Pesquisa!
Levar os alunos no laboratório de informática e
pedir para que eles acessem o site
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mia_Couto para
conhecer mais sobre este autor.
Valorizar a leitura com fonte de formação, informação e via de acesso ao mundo
da literatura africana.
35
como: o suicídio, assassinato, incesto, insanidade, a violência contra a mulher e o seu status
na sociedade africana. As mulheres são retratadas como objetos, ora uma "saia velha" ou
mesmo comparada a um "cesto de comida".
A maneira com que as mulheres são tratadas pelos homens com os quais mantêm um
relacionamento, quer seja de ordem afetiva, amoroso, fraternal ou filial nos leva a perceber a
anulação a que elas são submetidas, é lhes tirada o direito de ser mulher.
Mais uma vez Mia Couto traz sua marca registrada, o neologismo, que é usada como
instrumento de interpretação, pois seria pouco o uso das palavras no seu sentido habitual. E
assim o autor em questão vai "miçangando" o colar, se assim posso usar e abusar, no bom
sentido, como só Mia Couto faz.
Professor!
Nesta oficina será apresentada a obra O Fio das
Missangas que reúne 29 contos, visto que foram
escolhidos dois deles para trabalhar na sala de aula.
O FIO DAS MISSANGAS
O fio das missangas, de Mia Couto, lançado em 2009, é um dos títulos mais recentes
do contista e romancista moçambicano. Nos 29 contos reunidos nesta obra o autor se apropria
da escrita para criar singelos pedaços de vida. Os habituais neologismos de obras como Terra
Sonâmbula e O Outro Pé da Sereia agora são empregados como instrumento de interpretação.
É preciso abstrair o sentido puro da palavra e mergulhar no simbolismo para sorver os muitos
significados de, por exemplo, "A Saia Almarrotada", ou "Mana Celulina, a Esferográvida".
Couto faz música com diálogos e em textos breves condensa a alma de seu país.
Nessa obra, boa parte das narrativas focaliza personagens femininas, sendo elas
adultas ou não. Chama a atenção à recorrência do modo como as mulheres são tratadas pelos
homens com os quais se relacionam, sejam eles companheiros, pais, irmãos ou tios; de um
modo geral, o que se percebe é que as personagens femininas passam por um processo de
apagamento, nas relações cotidianas com seus parceiros, o que contribui para minar a
autoestima delas. A autoestima, por sua vez, na concepção da personagem, parece ser
36
recuperada por meio do ato de narrar, ou mais especificamente, por meio da narrativa escrita,
uma vez que, por esta via, elas manifestariam toda sua revolta e indignação em relação aos
lugares que ocupam.
A brevidade das pequenas tramas e sua aparente desimportância épica estão focadas
na contemplação de situações, de personagens, ou de simples estados de espírito plenos de
significados implícitos, procedimento típico da poesia. Os neologismos do autor, a que os
leitores já se habituaram, para além de mera experimentação formalista revelam-se chaves
fundamentais de interpretação da leitura. Não por acaso, a maioria dos contos de O fio das
missangas adentram, como já citado, com fina sensibilidade o universo feminino, dando voz e
tessitura a almas condenadas à não-existência, ao esquecimento. Como objetos descartados,
uma vez esgotado seu valor de uso, as mulheres são aqui equiparadas ora a uma saia velha,
ora a um cesto de comida, ora, justamente, a um fio de missangas. ―Agora, estou sentada
olhando a saia rodada, a saia amarfanhosa, almarrotada. E parece que me sento sobre a minha
própria vida‖, diz a narradora de uma dessas belíssimas ―missangas‖ literárias. (COUTO,
2009)
As primeiras histórias de O fio das missangas são um tanto melancólicas. A dor e o
sofrimento dos personagens estão em primeiro plano, transbordam das páginas do volume e
tocam o coração de quem lê. A tristeza toma conta, assim como a certeza de que o autor é um
baita contador de histórias. O livro dá um salto no nono dos 29 contos, "A Despedideira", a
história em primeira pessoa de uma mulher que refaz a despedida do seu homem. (FRANÇA,
2010)
O conto "A saia almarrotada" narra a trajetória de opressão de uma mulher, anônima,
e os mecanismos utilizados por ela em sua tentativa de libertação. Narrado em primeira
pessoa, o texto atua como um testemunho da condição feminina, marginal e discriminada,
assinalando a exclusão da personagem em relação ao seu grupo social.
Em "O mendigo Sexta-Feira jogando no Mundial" e "O novo padre", o autor deixa
bem claro de que lado ele está na luta do dia-a-dia para se fazer justiça. É para ninguém ter
dúvidas de que, depois de ter participado da guerra pela independência contra Portugal, sua
sensibilidade continua empenhada para melhorar as coisas no seu país.
Na história "O menino que escrevia versos", o uso que ele faz de um dos
personagens, o médico, é outro do talento narrativo desse sujeito.
No conto "Os machos lacrimosos", a partir de uma alegre confraria de homens que
bebem e se divertem num bar num local chamado Matakuane – mas que poderia ser em
qualquer local do mundo -, ele põe o dedo na ferida dos valores do universo masculino. É
37
quando se entende a razão dele tentar nos fazer chorar nos primeiros contos. Esse conto serviu
de chave para abrir outra porta de sua literatura. Nesta obra Mia Couto é universal, pois suas
histórias estão centradas nas dores, desejos e fantasias de todos os homens. Elas se passam em
aldeias ou cidades africanas, mas poderiam acontecer em qualquer bairro de qualquer cidade
de qualquer país de qualquer planeta onde existam seres humanos. (FRANÇA, 2010)
"A vida é um colar. Eu dou o fio, as mulheres dão as missangas. São sempre tantas as
missangas." É assim que o donjuanesco personagem do conto "O fio e as missangas" define a
sua existência. Fazendo jus a essa delicada metáfora, cada uma das histórias aqui agrupadas
alia sua carga poética singular à forma abrangente do livro como um todo - vale dizer, ao
colar em questão. Com um texto de intensidade ficcional e condensação formal raras na
literatura contemporânea, Mia Couto demora-se em lirismos que a sua maestria de ourives da
língua consegue extrair de uma escrita simples, calcada em grande parte na fala do homem da
sua terra, Moçambique, um pouco à maneira de Guimarães Rosa, ídolo confesso do autor,
como já citado. (COUTO, 2009)
ATIVIDADE 1
Leia os contos abaixo:
1° Momento: Realize a leitura silenciosa.
2° Momento: Ouça a leitura realizada pelo professor.
3° Momento: Leitura coletiva.
4° Interpretação oral.
Conto: A saia almarrotada
O estar morto é uma mentira. O morto apenas não sabe parecer vivo. Quando eu
morrer, quero ficar morta. (Confissão da mulher incendiada)
Na minha vila, a única vila do mundo, as Mulheres sonhavam com vestidos novos
para saírem. Para serem abraçadas pela felicidade. A mim, quando me deram a saia de rodar,
eu me tranquei em casa. Mais que fechada, me apurei invisível, eternamente nocturna. Nasci
QUEM CONTA UM CONTO, AUMENTA UM PONTO...
38
para cozinha, pano e pranto. Ensinaram-me tanta vergonha em sentir prazer, que acabei
sentindo prazer em ter vergonha.
Belezas eram para as mulheres de fora. Elas desencobriam as pernas para
maravilhações. Eu tinha joelhos era para descansar as mãos. Por isso, perante a oferta do
vestido, fiquei dentro, no meu ninho ensombrado. Estava tão habituada a não ter motivo, que
me enrolei no velho sofá. Olhei a janela e esperei que, como uma doença, a noite passasse. No
dia seguinte, as outras chegariam e me falariam do baile, das lembranças cheias de riso
matreiro. E nem inveja sentiria. Mais que o dia seguinte, eu esperava pela vida seguinte.
Minha mãe nunca soletrou meu nome. Ela se calou no meu primeiro choro, tragada pelo
silêncio.
Única menina entre a filharada, fui cuidada por meu pai e meu tio. Eles me quiseram
casta e guardada. Para tratar deles, segundo a inclinação das suas idades. E assim se fez: desde
nascença, o pudor adiou o amor. Quando me deram uma vaidade, eu fui ao fundo. Como o
barco do Tio Jonjoão que ele construiu de madeira verde. Todos teimaram que era
desapropriado o material. Um arco nos ombros, foi sua resposta. Jonjoào convocou toda a vila
para assistir à largada do barco. Dessa vez, até eu desci aos caminhos. Mal se barrigou nas
águas do rio, a barcaça foi engolida nas funduras.
- Maldição - propalou meu pai, gritando com as nuvens.
Mas eu sabia que não. O barco estava ainda muito cru, a madeira tinha ainda vontade
de raiz. Nosso tio não tinha feito um barco para flutuar. Isso fazem todos, disse, é tudo barcos,
uns iguais e os outros também. E acrescentou:
- Quando secar o rio, o meu barco ainda estará aqui.
Agora, a saia de roda era o barco na fundura das águas. Uma tristeza de nascença me
separava do tempo. As outras moças, das vizinhanças, comiam para não ter fome. Eu comi a
própria fome.
- Filha, venha sentar.
Não diziam ―comer‖ que era palavra dispendiosa. Diziam ―sentar‖. E apontavam
uma estreiteza entre cotovelos em redor da mesa. Os braços se atropelavam, disputando as
magras migalhas. Em casa de pobre ser o último é ser nenhum. Assim eu não me servia. Meu
coração já me tinha expulso de mim. Estava desalojada das vontades. E esperava ser a última,
arriscando nada mais sobrar. Mas havia essa voz que sobrepunha minha existência:
- Deixem um pouco para a miúda.
Afinal, sempre eu tinha um socorro. Um pouco para a miúda: assim, sem necessidade
de nome. Que o meu nome tinha tombado nesse poço escuro em que minha mãe se afundara.
39
E os olhos da família, numerosos e suspensos, a contemplarem a minha mão, atravessando
vagarosamente a fome. Não tendo nome, faltava só não ter corpo.
A meu tio, certa vez, ousei inquirir: quando secar o rio estarei onde? E ele me
respondeu: o rio vive dentro de si, o barco é que secará.
Na minha vila, as mulheres cantavam. Eu pranteava. Apenas quando chorava me
sobrevinham belezas. Só a lágrima me desnudava, só ela me enfeitava. Na lágrima flutuava a
carícia desse homem que viria. Esse aprincesado me iria surpreender. E me iria amar em plena
tristeza. Esse homem me daria, por fim, um nome. Para o meu apetite de nascer, tudo seria
pouco, nesse momento.
As outras moças esperavam pelo domingo para florescer. Eu me guardava bordando,
dobrando as costas para que meus seios não desabrochassem. Cresci assim, querendo que o
meu peito mirrasse na sombra. As outras moças queriam viver muito diariamente. Eu
envelhecendo, a ruga em briga com a gordura. As meninas saltavam idades e destinavam as
ancas para as danças. O meu rabo nunca foi louvado por olhar de macho. Minhas nádegas
enviuvavam de assento em assento, em acento circunflexo.
Chega-me ainda a voz de meu velho pai como se ele estivesse vivo. Era essa voz que
fazia Deus existir. Que me ordenava que ficasse feia, desviçosa a vida inteira. Eu acreditava
que nada era mais antigo que meu pai. Sempre ceguei em obediência, enxotando tentações
que piripiri lampejavam a minha meninice. Obedeci mesmo quando ele ordenou:
- Vá lá fora e pegue fogo nesse vestido!
Eu fui ao pátio com a prenda que meu tio secretamente me havia oferecido. Não
cumpri. Guiaram--me os mandos do diabo e, numa cova, ocultei esse enfeitiçado enfeite.
Lancei, sim, fogo sobre mim mesma. Meus irmãos acorreram, já eu dançava entre labaredas,
acarinhada pelas quenturas do enfim. E não eram chamas. Eram as mãos escaldantes do
homem que veio tarde, tão tarde que as luzes do baile já haviam esmorecido.
É essa voz que ainda paira, ordenando a minha vez de existir. Ou de comer. E escuto
a sua ordem para que a vida me ceda a vez. E pergunto: posso agora, meu pai, agora que eu já
tenho mais ruga que pregas tem esse vestido, posso agora me embelezar de vaidades? Fico à
espera de sua autorização, enquanto vou ao pátio desenterrar o vestido do baile que não
houve. E visto-me com ele, me resplandeço ante o espelho, rodopio para enfunar a roupa.
Uma diáfana música me embala pelos corredores da casa. Agora, estou sentada,
olhando a saia rodada, a saia amarfanhosa, almarrotada. E parece que me sento sobre a minha
própria vida.
O calor faz parar o mundo. E me faz encalhar no eterno sofá da sala enquanto a
40
minha mão vai alisando o vestido em vagarosa despedida. Em gesto arrastado como se o meu
braço atravessasse outra vez a mesa da família. E me solto do vestido. Atravesso o quintal em
direção à fogueira. Algum homem me visse, a lágrima tombando com o vestido sobre
aschamas: meu coração, depois de tudo, ainda teimava? Mia Couto, O Fio das Missanga
ATIVIDADE 2
Vamos compreender a essência do conto. Leia as questões abaixo e responda:
a) Qual é o tema principal deste conto?
b) Quais são os personagens e seus conflitos?
c) Onde se passa a história?
d) Por que falamos que o texto é um conto?
e) Há marcas da oralidade? Quais?
f) Você sentiu dificuldade para entender a linguagem?
g) Há termos desconhecidos?
h) É possível descrever o local onde se passam os acontecimentos a partir do conto?
i) O que foi possível aprender sobre a cultura africana nessa narrativa?
ATIVIDADE 3
Análise do conto: A saia almarrotada
O estar morto é uma mentira. O morto apenas não sabe parecer vivo. Quando eu
morrer, quero morta. (Confissão da mulher incendiada)
Este conto tem como narrador a própria personagem. Narra à vida de uma jovem que
ainda no seu parto sua mãe morre, sendo assim, filha única entre muitos filhos. Foi criada pelo
pai e pelo tio, que a guardava para ser pura e casta, separando-a para que os servisse na
velhice. Após a morte do pai, a personagem relata que "chega ainda a voz de meu velho pai
como se ele estivesse vivo. Era essa voz que fazia Deus existir" (COUTO, 2009). E mesmo
estando o pai morto, sua voz assombra, o pedido do pai foi que colocasse fogo no vestido que
ganhara do tio e que havia enterrado, e a resposta foi como num ímpeto de libertação,
"Lancei, sim, fogo em mim mesma. Meus irmãos acorreram, já eu dançava entre labaredas,
acarinhada pela quentura do Desde a meninice o pai a mantinha fora dos olhares alheios, não
podia mostrar o que tinha de belo, nem sonhar ou mesmo amar como as outras moças.
41
Sonhadora, miúda, pois "seu nome havia tombado no mesmo poço escuro que sua
mãe havia afundada‖. (COUTO, 2009). O tio que era o único que ainda a enxergava, deu-lhe
um vestido rodado que ela enterrou, pois seu pai ele ordenava que ficasse sempre feia,
desviçosa a vida inteira. Obediência cega ao pai, a jovem se anula, e é despojada de toda sua
vaidade e vontade, tornando-se submissa coimo foi sua mãe. A vida difícil da personagem
que vivendo os maus tratos, desabafa "nasci para cozinha, para o prato, ensinaram-me tanta
vergonha em sentir prazer, que acabei sentindo prazer em ter vergonha‖ (COUTO, 2009).
Vivendo de migalhas, tanto no plano afetivo como sentimental.
No final da narrativa, a voz do pai ainda insiste em lhe dar ordens, ela ainda na
esperança de desvencilhar do que lhe causou tanta amargura, ainda tão acostumada a ter seus
direitos anulados, espera mais uma vez a autorização do pai para viver a vida que nunca lhe
foi permitida. O livro termina com a personagem sentada sobre a saia rodada amarfanhosa,
almarrotada, como se sentasse sobre ela mesma.
A narrativa de A saia almarrotada revela a realidade da mulher que já nascera para
servir e baseia-se em torno da discriminação sociopolítica e cultural que se relaciona à sua
condição inferiorizada pela relação de poder. A protagonista resgata memórias de sua vida,
única mulher em meio a uma sociedade machista. A ausência de nome lhe negava a
identidade e a relegava à eterna servidão. O termo ―almarrotada‖ evidencia a natureza
descartável da protagonista, útil aos afazeres domésticos apenas, mas sem grande importância
fora do ambiente de suas atribuições. A saia é a metáfora para a própria condição da mulher.
ATIVIDADE 4
Após conhecer o conto africano A saia almarrotada de Mia Couto, em uma folha de
sulfite ilustre o tema abordado nesta narrativa observando a realidade feminina retratado no
mesmo. Use a criatividade, pinte e depois com o seu professor faça uma moldura para dar um
toque especial a sua obra de arte que será colocada em exposição no final do projeto.
RODA DE LEITURA
Enterro televisivo
―Uns olham para a televisão. Outros olham pela televisão‖. (Dito de Sicrano)
42
Estranharam quando, no funeral do avô Sicrano, a viúva Estrelua proclamou:
- Uma televisão!
- Uma televisão o quê, avó?
- Quero que me comprem uma televisão.
Aquilo, assim, de rompante em plenas orações.
Dela se esperava mais ajustado desejo, um ensejo solene de tristeza, um suspiro
anunciador do fim. Mas não, ela queria naquele mesmo dia receber um aparelho novo.
- Mas o aparelho que vocês tinham avariou?
- Não. fã não existe.
- Como é isso, então? Foi roubado?
- Não, foi enterrado.
- Enterrado?
- Sim, foi junto com o corpo do vosso falecido pai.
Tudo havia sido congeminado junto com o coveiro. A televisão, desmontada nas suas
quantas peças, tinha sido embalada no caixão. Era um requisito de quem ficava, selando a
vontade de quem estava indo.
Na cerimónia, todos se entreolharam. O pedido era estranho, mas ninguém podia
negar. O tio Ricardote ainda teve a lucidez de inquirir:
- E a antena?
Esperassem, fez ela com a mão. Tudo estava arquitectado. O coveiro estava instruído
para, após a cerimónia, colocar a antena sobre a lápide, amarrada na ponta da cruz, em
espreitação dos céus. Aquela mesma antena, feita de tampas de panela, ampliaria as
electrónicas nos sentidos do falecido. O velho Sicrano, lá em baixo, captaria os canais. É um
simples risco a diferença entre a alma e a onda magnética. Por razão disso, a viúva Estrelua
pediu que não cavassem fundo, deixassem o defunto à superfície.
- Para apanhar bem o sinal - explicou a velha.
O Padre Luciano se esforçou por disciplinar a multidão, ele que representava a
ordem de uma só voz divina. Com uns tantos berros e ameaças ele reconduziu a multidão ao
silêncio. Mas foi sossego de pouca dura. Logo, Estrelua espreitou em volta, e foi inquirindo os
condoídos presentes:
- E o Bibito, onde está?
- O Bibito?- se interrogaram os familiares.
Ninguém conhecia. Foi o bisneto que esclareceu: Bibito era o personagem da novela
brasileira.
43
A das seis, acrescentou ele, feliz por lustrar conhecimento.
- E a Carmenzita que todas as noites nos visita e agora não comparece!
De novo, o bisneto fez luz: mais uma figura de uma telenovela. Só que mexicana. O
filho mais velho tentou apaziguar as visões da avó. Mas qual Bibito, qual Carmen?! Então os
filhos de osso e alma estavam ali, lágrima empenhada, e ela só queria saber de personagem
noveleira?
- Sim, mas esses ao menos nos visitam. Porque a vocês nunca mais os vimos.
Esses que os demais teimavam em chamar de personagens, eram esses que adormeciam o
casal de velhotes, noite após noite. Verdade seja escrita que a tarefa se tornava cada vez mais
fácil. Bastava um repassar de cores e sonos para que as pestanas ganhassem peso. Até que era
só ligar e já adormeciam.
- Quem vai ligar o aparelho hoje?
- É melhor não ser você, marido, porque noutro dia adormeceu de pé.
De novo, o padre invocou a urgência de um silêncio. Que ali havia tanto filho e mais tanto
neto e ninguém conseguia apaziguar a viúva? Os filhos descansaram o padre. Que sim, que
iam conduzi-la dali para o resguardo da casa. Estrelua bem merecia o reparo de uma solidão.
E prometeram à velha que não precisava de um outro aparelho, que eles iriam passar a visitá-
la, nunca mais a deixariam só. A avó sorriu, triste. E assim a conduziram para casa.
Aquela noite, ainda viram a avó Estrelua atravessar o escuro da noite para se sentar
sobre a campa de Sicrano. Deu um jeito na antena como que a orientá-la rumo à lua. Depois
passou o dedo pelos olhos a roubar uma lágrima. Passou essa aguinha pela tampa da panela
como se repuxasse brilho. De si para si murmurou: é para captar melhor. Ninguém a escutou,
porém, quando se inclinou sobre a terra e disse baixinho:
Hoje é você a ligar, Sicrano. Você ligue que eu já vou adormecendo.
Mia Couto, O Fio das Missangas.
ATIVIDADE 5
Vamos compreender a essência do conto. Leia as questões abaixo e responda:
a) Qual é o tema principal deste conto?
b) Quais são os personagens e seus conflitos?
c) Onde se passa a história?
44
d) Por que falamos que o texto é um conto?
e) Há marcas da oralidade? Quais?
f) Você sentiu dificuldade para entender a linguagem?
g) Há termos desconhecidos?
h) É possível descrever o local onde se passam os acontecimentos a partir do conto?
i) O que foi possível aprender sobre a cultura africana nessa narrativa?
Analise do Conto: Enterro televisivo
O conto "enterro televisivo" é contado na terceira pessoa e o narrador olha de certa
maneira à distância.
Este conto se passa no funeral do avô Sicrano. A viúva Estrelua no início da história
começa pedindo outra televisão interrompendo a oração. Naquele momento a questionam o
porquê de uma nova televisão, pois já tinha uma, e é aí que descobrem que a antiga tinha sido
desmontada, embalada e colocada no caixão com o falecido. Tudo foi tramado juntamente
com o coveiro, ele não deveria cavar funda a cova, pois ―o velho Sicrano, lá em baixo,
captaria os canais." estando em cova rasa. A antena que era feita de tampas de panela, deveria
ser amarrada na ponta de cruz para também captar melhor o sinal.
Durante o enterro a viúva pergunta pelo Bibito e a Carmenzita (personagens das
novelas que ela e o esposo assistiam), os outros não conheciam apenas o bisneto que "alumio"
os demais. Estrelua dizia que eram eles a visitá-la noite após noite até que adormecessem.
A resposta dada à compra da nova televisão foi negativa, e prometeram que a partir
daquela noite iriam visitá-la todos os dias e nunca a deixariam só.
A última parte do conto é triste, a viúva envolta em sua tristeza e solidão saiu de casa
naquela noite rumo ao cemitério para buscar a companhia daquele que todos os dias
adormeciam com ela e assim adormecer com ele.
ATIVIDADE 6
Após conhecer o conto africano Enterro televisivo de Mia Couto, divida os alunos
em grupo para que possam retratar a temática abordada nesta narrativa por meio de um cartaz.
45
Estes devem retratar o universo submisso que a personagem exerce no conto. O cartaz será
exposto para toda comunidade escolar no fim do projeto.
CONTEXTUALIZANDO O ESTUDO
A escolha do objeto de estudo se deu pelo fato do escritor Mia Couto ser um dos
maiores escritores contemporâneos africanos e da literatura de língua portuguesa, além disso,
a escolha de ―O fio das missangas‖ se justifica por esta ser uma produção reflexiva e por ser
um livro de contos é possível fazer a leitura efetiva dos textos com os alunos em sala de aula.
Nesse sentido, trabalhar a literatura africana de expressão portuguesa no contexto
escolar é relevante, pois o aluno terá contato com a cultura africana e poderá construir uma
identidade, visto que houve a contribuição do africano na constituição da sociedade brasileira.
Além disso, segundo a Lei n. 10.639 se torna obrigatório o ensino da história e da
cultura da Africana nos ensinos fundamental e médio, e a partir da literatura é possível ter
acesso a este conhecimento.
A referida Lei garante a divulgação e preservação da cultura negra no currículo
escolar, possibilitando a todos a oportunidade de compreender as questões étnico-raciais
contribuindo para uma educação de direitos humanos.
Por meio da proposta: ―Mia Couto na sala de aula: leitura O Fio das missangas‖,
busca-se desenvolver por meio da leitura o conhecimento da cultura africana de Língua
Portuguesa atendendo aos dispositivos da Lei 10.639/03. Um autor africano que nos encanta e
nos faz questionar sobre os problemas sociais como a discriminação da mulher na sociedade.
Ao lermos seus contos podemos perceber a contribuição que este autor moçambicano
nos transmite ao representar os cidadãos africanos e seus descentes afro-brasileiros.
O ensino da literatura lusófona é garantido por lei nas escolas e universidades. A
África é uma grande produtora dessa literatura que valoriza suas raízes e seu povo com suas
histórias contadas, passadas de geração em geração. Mia Couto, autor moçambicano, é um
exemplo de escritor que traz para sua obra a oralidade tão presente na vida dos seus
conterrâneos, o autor faz a leitura de sua terra onde ele encontra material para o seu trabalho,
e nos faz refletir sobre a importância de se valorizar a comunicação oral, e perceber sua
46
relação com a escrita. Por meio de suas obras conseguimos conhecer a cultura africana que
tem sua singularidade e sua importância na formação da sociedade brasileira.
Objetivo
ATIVIDADE 1
Árvore genealógica em formas de conto
Livro de contos: Memórias de minha Família.
Os alunos juntamente com a professora poderão promoverão a confecção de um livro
de contos, não de contos da literatura universal, mas de histórias de seus familiares vivos e
mortos, onde possivelmente estes sejam atores participantes relatando suas origens. Tal
atividade servirá como instrumento de valorização do grupo familiar, assim como promoverá
o fortalecimento de uma inserção na escrita que valorize a dimensão da oralidade. Importante
destacar que a ideia de oralidade, aqui pensada, implica uma dimensão de transmissão de
saberes necessários e fundamentais à memória coletiva do grupo e à consecução de seu
destino. Esse entendimento implica em uma oposição ao falatório vazio da pós-modernidade.
Valorizando-se assim o conteúdo e não a forma.
Obs.: Após corrigir e orientar a escrita de cada conto o professor deverá reuni-los para forma
a obra Contos: Memórias de minha Família.
Contribuir, em sentido amplo, para a promoção da igualdade das relações étnico - raciais
e de gênero na escola e fora dela.
47
APRENDENDO COM A DIVERSIDADE
As Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental propõem o trabalho com a
diversidade cultural na escola. Além disso, há um outro documento que se revela
extremamente importante que são as Diretrizes Curriculares para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004). Esse documento, esta articulado a Lei nº.
10.639/2003, a qual, posteriormente, foi alterada pela Lei nº. 11. 645/2008 que discute a
obrigatoriedade de um ensino que seja voltado à diversidade étnica brasileira, contemplando
conteúdos relativos à história, à arte e à literatura negra e indigena no Brasil.
Nesta perspectiva, esta proposta contribui para a construção de uma abordagem
pluricultural e multiétnica nas aulas de Língua Portuguesa, desenvolvendo condições
necessárias para que a partir do estudo, surja um novo ponto de vista, um incômodo, uma
reflexão a respeito a diversidade.
A partir da literatura podemos inserir o Ensino da História e Cultura Africana e Afro-
brasileira nas aulas de lingua portuguesa, a fim de valorizar o (a) aluno (a) negro, sua
identidade e sua cultura, percebendo-se como cidadã pertencente à sociedade brasileira.
O conhecimento da História da África e da Cultura Afro-brasileira deve ser
trabalhado na escola como forma de reconhecer esta cultura que sempre esteve oculta e/ou
repassada aos nossos educandos de maneira estereotipada.
Nesta perspectiva, a autenticidade e a beleza dos contos Africanos do autor Mia
Couto foram selcionados a fim de desenvolver a curiosidade, a sensibilidade e o gosto pela
leitura crítica do educando, uma vez que estas leituras trabalham duas temáticas direcionadas
ao preconceito que os descentes negros e as mulhers sofrem em nossa sociedadepara.
Combater atitudes preconceituosas é um dever de todos. No decorrer deste estudo, os
alunos poderão observar como se deu a construção da imagem da mulher ao longo dos
séculos, e o quão difícil foi, no curso de nossa história, as mulheres conseguirem seu espaço
na sociedade e nas artes. Assim, como os descentes africanos que sofreram e ainda sofrem
com o preconceito, pois quando chegaram em nosso país foram submetidos a tratamentos
desumanos e considerados inferiores por apresentar traços diferentes.
Desta forma, esta Produção Didático-Pedagógica busca ressignificar os estudos em
torno da literatura e cultura africana e, também, reconstruir a identidade da mulher na
48
sociedade, a fim de provocar mudanças de atitudes e respeito no aluno leitor para a condição
feminina, a negritude e identidade na sociedade contemporânea. Inserir a temática negra desta
literatura foi uma forma de combater a discriminação que o negro e a mulher ainda sofre em
nossa sociedade .
A escolha dos contos do autor mocambiçano Mia Couto tem como propósito reforçar
a identidade cultural dos alunos e relacoes de gênero em nossa sociedade para disseminar a
ideia de igualdade para que todos possam entender, aceitar e respeitar as diferenças.
Como afirma Karenga (2009), para a construção de um futuro há que se conhecer o
passado, mas este deve ser um conhecimento real, verdadeiro. ―Engajar a cultura africana
como um recurso perenemente frutífero, e não como uma referência solta e sem
embasamento‖ (KARENGA, 2009, p. 347). Para utilizarmos a cultura negra em sala de aula
como recurso e não apenas como referência, devemos iniciar a partir do diálogo com esta
cultura, isto é, questionar os textos apresentados extraindo respostas com uma profunda
análise.
Nossos alunos têm o direito de conhecer todas as culturas, sobretudo o conhecimento
das culturas africana e indígena que tanto contribuíram na construção da identidade do povo
brasileiro, a identidade cultural nos faz pertencer a uma cultura, onde todos são vistos com
igualdade de condições. Não podemos permitir somente o acesso à educação monocultural e
eurocêntrica como vem ocorrendo em nossas escolas. Devemos construir o diálogo entre a
diversidade de conhecimentos e culturas, com respeito a todas, sem exclusões.
A história e a cultura africana dizem respeito a toda a humanidade e não somente aos
descendentes africanos, a população brasileira, como um todo, precisa ter este conhecimento.
Nossa sociedade precisa rever seus princípios, somente com base nos conhecimentos
adquiridos, poderemos repensar e reconstruir esta sociedade que está tão profundamente
imersa em ideais capitalistas, temos carência de valores mais humanos, de aplicar o
conhecimento adquirido em questões sociais que valorizem e dignifiquem o ser humano.
Objetivo
Resgatar os saberes e conhecimento do universo africano e valorizar a cultura oral e a
identidade do sujeito afro-descendente, permitindo-lhe a condição de ser, pertencer e
participar de seu grupo étnico, reconhecendo valores da sua comunidade.
49
Professor!
Nesta oficina serão realizadas as atividades finais
envolvendo toda comunidade escolar.
ATIVIDADES FINAIS
Palestra sobre a Cultura Afro com o Grupo Marcone de Apucarana para toda
comunidade escolar;
Roda de Capoeira apresentada pelos alunos e alunos da turma;
Dança afro- coreografia desenvolvida pelos alunos da turma;
Exposição de cartazes, desenhos e dos do livro de contos produzido pelos alunos;
Culinária africana servida para toda comunidade escolar.
50
REFERÊNCIAS
AFONSO. ―A problemática pós-colonial em Mia Couto: mestiçagem, sicretismo,
hibridez, ou a reinvenção das formas narrativas‖. In: NÓBREGA, José Manuel da;
MOTA, Nano Pádua de (editores). Estudos de Literaturas Africanas - Cinco povos, cinco
nações. Atas do Congresso Internacional de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.
Coimbra: Novo Imbondeiro, 2007. p. 546-553
ALBUQUERQUE, Orlando; MOTTA José Ferraz, Esboço de uma História da Literatura
em Moçambique século vinte. Revisão Luso - Brasileira, vol. 33. Nº 2.
BRASIL, Lei nº 10639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo
oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática ―História e Cultura Afro- Brasileira‖,
e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 9
jan. 2003.
_______.Lei número 11.645, de 10 de março de 2008.
_______.Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. MEC, SECAD, Brasília,
Outubro, 2004.
_______.Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada / Kabengele Munanga,
organizador. – [Brasília]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade, 2005.204p.: il.
BEZERRA, Rosilda Alves. Por uma cidadania cultural moçambicana: A África
póscolonial em um Rio chamado tempo e uma Casa chamada terra, de Mia Couto. In:
Mosaico de Culturas: Identidade e Representações nas literaturas de Língua Portuguesa.
Natal: Philia Editora, 2007.
CANDIDO, Antônio. A literatura e a formação do homem. Ciência e Cultura. 24 (9): 803-
809, set, 1972.
51
CATÁLOGO, Companhia NA ESCOLA, Editora Schwarcz s.a.São Paulo — SP,
2014.http://www.companhiadasletras.com.br/sala_professor/pdfs
CATANANTE, Bartolina. RAMALHO. Educação para a Igualdade Racial no contexto de
Mato Grosso do Sul. IN: CATANANTE, B. R, e CORDEIRO, M. J. J. A. (Org.). Educar
para as Relações Étnicorraciais: um desafio para os educadores. Dourados, MS. UEMS, 2010.
CIONE, Ana. O que é um conto... Postado em 12 de maio de 2015. Disponível em
<http://aleituranasaladeleitura.blogspot.com.br/2015/05/o-que-e-um-conto.html. Acesso
05/08/2015
COUTO, Mia. O Fio das Missangas, São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
FRANÇA, Inácio. Cáotico: anotações de um leitor sem qualquer método: o fio das miçangas.
Publicado em 12 de julho de 2010. Disponível em www.caótico.com.br. Acesso 08/08/2015
FONSECA, Maria Nazareth Soares; CURY, Maria Zilda Ferreira. Mia Couto: espaços
ficcionais. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
GOTLIB, Nádia Battella. Teoria do conto. São Paulo: Ática, 2006.
_______.Teoria do Conto. São Paulo: Ática, 1990
_______. Teoria do conto. São Paulo: Ática, 1988.
Karenga, M. Introduction to Black Studies. Los Angeles: Sankore Press,1990.
LACERDA, Daniel. O conto: gênero superior da Literatura Moçambicana na visão
analítica de. M. Fernanda Afonso. In: Latitudes, França, n. 25, p.84-86, dez. 2005.
LAJOLO, Marisa No mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo, SP: Ática,
2004.
52
LOPES. Ana Cristina M e Carlos Reis. Dicionário de Narratologia, s.v.“Conto”, Coimbra,
Livraria Almedina, 1990, p. 75.
MUNANGA, Kabengele. Apresentação. In: MUNANGA, K. (org.). Superando o Racismo
na escola. 2ª Ed. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade, 2005.
NASCIMENTO, Elisa Larkin (org.). A matriz africana no mundo. (Coleção Sankofa:
matrizes africanas da cultura brasileira, vol.1) São Paulo: Selo Negro, 2008.
NETTO, João de Deus. Mia Couto, o Guimarães Rosa Africano?. Artigo publicado por
expediente em 13 de maio de 2010. Disponível em https://www.nosrevista.com.br. Acesso
05/08/2015
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação.
Coordenação de Desafios Educacionais Contemporâneos. Educando para as Relações
Étnico-raciais II. Curitiba: SEED, v.5, 2008.
PARANÁ. Diretrizes Curriculares Estaduais Da Educação Básica – Língua Portuguesa.
Governo do Paraná, Secretaria de Estado da Educação do Paraná Departamento de Educação
Básica. Curitiba – Paraná, 2008.
SILVA. Vítor Manuel de Aguiar e, Teoria da Literatura, Coimbra, Livraria Almedina, 4ª
edição, 1982, p. 14.
SOARES, Angélica. Gêneros literários . 6 ed, São Paulo: Ática, 2004
TEIXEIRA, João Batista. O suspenso outro mundo e o engolido da terra: alteridades,
identidades e memórias em Mia Couto. Dissertação apresentada a Universidade Estadual da
Paraíba. Campina Grande, 2012.
TOSTES, Paulo Roberto Machado. Entre Margens; O Espaço e o Tempo na escrita de Mia
Couto. Tese de mestrado. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2007.
53
Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). In Infopédia [Em linha]. Porto:
Porto Editora, 2003-2014. [Consultado em.04/08/2014]. Disponível na www:
<URL:http://www.infopedia.pt/$paises-africanos-de-lingua-oficial-portuguesa>.http://www.
recantodasletras.com.br/artigos/2048036
SITES:
http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=12565
http://resumodoslivros.com.br/mia-couto/33-o-fio-das-missangas
http://www.passeiweb.com.br/detalhe.php?codigo=12565
https://www.nosrevista.com.br
http://aleituranasaladeleitura.blogspot.com.br/2015/05/o-que-e-um-conto.html.
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2048036
http://www.caótico.com.br.