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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Neste artigo são relatados os resultados obtidos durante o projeto de intervenção escolar realizado com uma turma de coletivo

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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PROBLEMATIZANDO AS AULAS DE QUÍMICA NA EJA A PARTIR DO

TEMA ÁGUA

Adriana Tozetto Lopes1 Patricia Los Weinert2

RESUMO

Neste artigo são relatados os resultados obtidos durante o projeto de intervenção escolar realizado com uma turma de coletivo do ensino médio na disciplina de química, no CEEBJA Paschoal Salles Rosa, localizado em Ponta Grossa, Paraná, durante o ano de 2014. A implementação do projeto teve como objetivo a melhoria no processo ensino-aprendizagem com os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em uma perspectiva de alfabetização científica e técnica, através da problematização das aulas de química baseando-se em ideias sócio-construtivistas. Os alunos da EJA possuem muitos conhecimentos e para que a aprendizagem seja significativa deve-se, considerar esse conhecimento prévio, que faz sentido para ele. Partindo deste pressuposto o aluno é capaz de refletir sobre seus próprios conhecimentos e expressa-los de modo mais científico. Neste contexto foi trabalhado com uma proposta de ensino CTS, empregado a estratégia das Ilhas de Racionalidade com preocupação central nos aspectos sociais relativos à aplicação da ciência e da tecnologia para a formação da cidadania a partir do tema: “Como purificar a água e a sua importância”. Os objetivos deste trabalho foram: viabilizar um ensino de química centrado na relação entre a educação química e o contexto social, compreender os ensinamentos químicos relacionados ao seu dia a dia, avaliar como o conhecimento químico está sendo aplicado na sociedade, analisar a sociedade que está inserida para que possa transformá-la, desenvolver a capacidade de participar, tomar decisões criticamente.

“Palavra-chave” Água. Ilhas de Racionalidade. Alfabetização científica

INTRODUÇÃO

O presente trabalho faz parte das atividades que são atribuídas aos

professores participantes do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE),

ofertado pela Secretaria de Estado de Educação como Programa de Formação

Continuada aos professores da rede pública de ensino do Estado, em parceria com

os professores das Instituições de Ensino Superior (IES) do Estado. Os professores

PDE participam de atividades teórico-práticas orientadas pelos professores das IES,

as quais objetivam a atualização dos profissionais da educação. O PDE é

“... uma política pública que estabelece o diálogo entre os professores da Educação Superior e os da Educação Básica, através de atividades teórico-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense (Documento Síntese PDE, 2007).”

1 Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos e Licenciada em Química

2Doutora em Química Analítica e Licenciada em Química

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O programa PDE dá a oportunidade ao professor de refletir sobre as

atividades acadêmicas na sua área de formação, atualizando-se pela parceria com

as Universidades Públicas do Estado do Paraná. O plano de trabalho do professor

PDE prevê o desenvolvimento de material didático que será utilizado durante a

implementação do Projeto de Intervenção proposto pelo professor PDE, sob a

orientação de um professor de uma das IES do Estado do Paraná. Após essa

implementação é elaborado um artigo científico que representa a conclusão do

trabalho do professor.

Segundo os PCNs espera-se na formação no nível de ensino médio:

“Propõe-se no nível do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisa-las e seleciona-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização”. (BRASIL, 1999, p.16).

Desta forma, neste artigo buscou-se relatar os resultados do projeto

“Problematizando as aulas de Química na EJA a partir do tema água” desenvolvido

em uma turma de coletivo do Ensino Médio, adotando novas práticas didáticas que

permitissem aos alunos se desenvolver tanto no processo de aprendizagem, quanto

obter uma nova consciência e uma mudança de hábitos com relação ao ambiente

em que vive.

O presente trabalho concebe a prática pedagógica como ponto de partida

para a investigação e reflexão. Onde o dialogo com os alunos, abre espaço no

planejamento para a construção da autonomia sendo o aluno um sujeito ativo na sua

aprendizagem, e o professor é um mediador da construção do conhecimento,

lançando desafios, planejando, desenvolvendo e avaliando atividades e

procedimentos para a promoção da evolução conceitual nos alunos em direção as

ideias cientificamente aceitas.

Partindo das interrogações de qual seria a verdadeira função da escola,

principalmente no Ensino Médio e na Educação de Jovens e Adultos, é preciso

refletir sobre quais contribuições podem ser feitas no sentido de uma efetiva

consciência de cidadania, independência de pensamento e capacidade crítica

(CHASSOT, 2002).

Para trabalhar com a Educação de Jovens e Adultos (EJA) deve-se

considerar o perfil deste aluno, considerando a diversidade cultural e regional,

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presentes nos diferentes estratos sociais dos estudantes, os quais são portadores

de uma rica cultura baseada na oralidade, levando em consideração todas essas

particularidades somada a valorização dos 3 eixos articuladores tão importantes na

EJA: cultura, o trabalho e o tempo(PARANÁ, 2006).

As propostas pedagógicas de EJA devem valorizar a sua identidade, a

flexibilidade no processo ensino–aprendizagem, identificando que é preciso

consolidar uma pedagogia que viabilize o acesso, a permanência e, sobretudo, o

êxito educacional dos educandos, isto inclui permitir que percorram trajetórias de

aprendizagem não-padronizadas, respeitando o ritmo próprio de cada um no

processo de apropriação dos saberes.

O tempo diferenciado do currículo da EJA em relação ao tempo do currículo

na escola regular não significa tratar os conteúdos escolares de forma precária ou

aligeirada. Ao contrário, devem ser abordados integralmente, considerando os

saberes adquiridos pelos educandos ao longo de sua história de vida. De fato, os

adultos não são crianças grandes e, portanto, têm clareza do porque e para que

estudar (PARANÁ, 2006).

Assim, os conteúdos estruturantes da EJA são os mesmos do ensino regular,

nos níveis Fundamental e Médio; porém, com encaminhamento metodológico

diferenciado, considerando as especificidades dos(as) educandos(as) da EJA; ou

seja, o tempo curricular, ainda que diferente do estabelecido para o ensino regular,

contempla o mesmo conteúdo. Isso se deve ao fato de que o público adulto possui

uma bagagem cultural e de conhecimentos adquiridos em outras instâncias sociais,

uma vez que a escola não é o único espaço de produção e socialização de saberes.

Assim, é possível tratar do mesmo conteúdo de formas e em tempos diferenciados,

tendo em vista as experiências e trajetórias de vida dos educandos da EJA.

Cabe aos professores da EJA evidenciar possíveis mudanças que apontem

para uma nova relação entre ciência, trabalho e cultura, por meio de uma base

sólida de formação científica e histórica que ajude os educandos no seu

desenvolvimento. Assim, conhecer significa a possibilidade de interferir socialmente.

A EJA deve contemplar ações pedagógicas específicas que levem em

consideração o perfil do educando jovem, adulto e idoso que não obteve

escolarização ou não deu continuidade aos seus estudos por fatores, muitas vezes,

alheios à sua vontade, os jovens e adultos que procuram a EJA precisam da

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escolarização formal tanto por questões pessoais quanto pelas exigências do mundo

do trabalho (PARANÁ, 2006).

Mas como colocar em prática essa educação libertadora? Principalmente na

EJA, uma modalidade de ensino com características próprias, voltada para um

público de maior faixa etária, em geral de trabalhadores que ficaram muitos anos

sem estudar. Com estes alunos de particularidades tão diferenciados, o professor

tem um desafio maior, Como atrai-los para o estudo e a aprendizagem da Química?

(RIBEIRO, CARVALHO, QUADROS, PINTO, 2008).

DESENVOLVIMENTO

1- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Na prática observa-se que o sistema educacional atual enfatiza a

aprendizagem da informação de fatos. De forma mais ampla e caricata, a aprovação

ou reprovação dos alunos depende do domínio ou da memorização de certos

pedaços de informação. Assim, quando o aluno adquiriu certa competência na

apresentação dos pedaços adequados de informação, ele é considerado apto.

Neste sentido, Fourez (1997apud Schmitz, 2004) propõem a construção de

Ilhas de Racionalidade (IR), na perspectiva de uma Alfabetização científica e técnica

(ACT), como sendo uma estratégia pedagógica e epistemológica para lidar com o

ensino, capaz de cruzar saberes oriundos de várias disciplinas e conhecimentos da

vida cotidiana, inventando uma modelização apropriada para representar uma dada

situação.

Uma particularidade da metodologia é tomar emprestados os conhecimentos

das diversas disciplinas, quer dizer, é necessária uma interdisciplinaridade.

Entretanto, é importante o entendimento de interdisciplinaridade e das diferentes

abordagens que podem ser desenvolvidas em função dos elementos que a mesma

pode acolher. Por isso julgamos necessários colocar, do ponto de vista de Fourez, o

significado de cada uma destas abordagens, mesmo sabendo que elas são objeto

de debate e discussão.

Em especial, discute-se a necessidade de certas atitudes e modos de ação do

professor, como a mediação e a negociação, associados ao Construtivismo (mais

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particularmente com o Sócio-construtivismo), fundamentais para atingir os objetivos

da metodologia proposta por Fourez.

Uma pessoa alfabetizada cientificamente se caracteriza principalmente em

termos de atitudes e não somente de conhecimentos. Ou seja, ela possui um

entendimento geral dos fenômenos naturais básicos, interpretando as informações

relacionadas com a ciência e com a tecnologia, dentro de um contexto tal que lhe

seja possível discutir, e tomar posição frente a estes assuntos.

Agindo desta maneira, o indivíduo “alfabetizado” deixaria de ser um receptor

passivo e passaria a ser um indivíduo com certa autonomia (componente pessoal)

no mundo científico e tecnológico no qual ele está inserido.

A autonomia, de certa forma, permite evitar que o indivíduo atue através de

receitas ou de fórmulas, ou ainda, na prescrição de um comportamento ou de uma

atitude.

Em síntese, para Fourez (1997apud Schmitz, 2004), uma ACT significa

promover no indivíduo a autonomia, o domínio e a comunicação baseados na

negociação, utilizando para isso a construção de uma teoria. Dependendo de como

é feita esta construção, ela possibilitará o desenvolvimento de capacidades

individuais e sociais, envolvendo um saber fazer e um poder fazer, dando um

sentido para a teorização.

O professor através de um “ir e vir” contínuo entre teoria e prática, torna-se

um profissional reflexivo, capaz de analisar suas próprias práticas, inventar

estratégias; sua formação baseia-se nas contribuições dos praticantes e dos

pesquisadores; está voltado para abordagens do tipo “ação-conhecimento-

problema”, unindo teoria e prática para construir no profissional, capacidades de

análise de suas práticas e de metacognição. O professor deve desenvolver certas

características para auxiliar em uma boa formação dos estudantes: Autonomia,

significando manter uma relação com os conhecimentos teóricos, não de reverência

e dependência a receitas prontas, mas sim crítico e pragmático. Reconhecer e

buscar informações sobre a sua prática docente, antes de tomar decisões.

Domínio com relação aos recursos didáticos (saber fazer uso das técnicas de

ensino, dos recursos áudio visuais e humanos) e com relação aos conhecimentos

próprios da sua disciplina. Comunicação, um saber dialogar com os seus pares e

com os alunos. Procurando atingir os objetivos da ACT, demonstrando

conhecimento sobre o assunto e adequando a linguagem para cada situação, pode

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significar trabalhar em equipe, convencer através da argumentação, demonstrar

segurança nas suas ações entre outros.

No momento em que se propõe desenvolver uma IR, o professor encontrará

dificuldades em cruzar os saberes oriundos das várias disciplinas; em organizar as

atividades em sala de aula; em estabelecer uma ligação entre os conteúdos

tradicionais ensinados na escola, entre outras. Estas dificuldades podem estar

relacionadas com a importância de se estabelecer uma formação renovada que não

descuida do valor que deve ser dado ao sujeito que elabora o saber.

As várias atividades oferecidas devem ser flexíveis, permitindo ajustes no

plano de aula. Isto significa que o professor não deve ficar “engessado” pela

metodologia ou pela organização inicial, porém deve estar atento aos objetivos e

potencialidades que cada etapa da metodologia contém, para poder explora-las da

melhor maneira possível. Como veremos mais adiante, a metodologia proposta por

Fourez (1997apud Schmitz, 2004), prevê esta transferência de responsabilidade, no

sentido de permitir que os alunos escolham os caminhos que serão seguidos.

Outra forma de mediação do processo de construção pelo professor é saber

transformar o conteúdo a ser aprendido em problemas significativos para seus

alunos. Toda estrutura cognitiva tem lacunas, todos os conceitos são inacabados e

isso ocorre principalmente na zona de desenvolvimento potencial. Conseguir

perceber estas lacunas e saber criar questionamentos significativos é o que

entendemos por problematização.

No início do desenvolvimento do projeto o professor deve deixar claro o

contrato didático, se mal colocado ou mal entendido, pode trazer dificuldades ao

ensino-aprendizagem. A imagem do aluno traçada pelo professor, por exemplo,

pode ser percebido por esse e influenciar no seu desempenho, ou o professor limitar

sua exigência à imagem que fez da capacidade dos alunos.

O professor deve ficar atento para na ânsia de que seus alunos obtenham

bons resultados tende a facilitar suas tarefas de diferentes modos, com explicações

abundantes, “dicas”, “macetes”, afastando-se ou mesmo esquecendo-se dos

objetivos iniciais propostos, desvirtuando o saber.

A IR deve ter um tema que seja instigante para os estudantes, percebido

como um problema, suficientemente instigador para que os alunos sintam a

necessidade de aborda-lo, executável no intervalo de tempo disponível, fundamental

que seja passível de abordagens multidisciplinares, percebido com alguma

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importância extraclasse sendo o professor responsável pela escolhida situação

problema, adaptando ao nível de conhecimento dos alunos.

O professor sendo o mediador na construção da IR deve deixar claro alguns

pontos antes do início dos trabalhos tais como a periodicidade de apresentação dos

trabalhos desenvolvidos, a quantidade de aulas destinadas para desenvolver a IR,

deixar clara a maneira como será feita à avaliação, permitir que os alunos escolham

a forma de trabalho em pequenos grupos ou em um grande grupo, como será feito a

distribuição das tarefas ou ajudar a determinar alguns elementos da Situação-

Problema, entre os muitos que se oferecem.

Ou seja, o professor estabelece as atividades, em linhas gerais, cuidando

para não direcionar as escolhas que os alunos deverão fazer, pois isto significaria

interferir no resultado da IR. A avaliação no caso particular da IR será feita avaliando

o material produzido pelos alunos, individual ou coletivamente, observado o grau de

participação deles nas atividades, solicitando relatório das participações dos

especialistas ou resumos, entre outros.

2- METODOLOGIA

O projeto foi implementado no CEEBJA “Paschoal Salles Rosa”, localizado na

cidade de Ponta Grossa, Paraná, no primeiro semestre de 2014. O CEEBJA se

localiza no centro da cidade de Ponta Grossa, mas tem como clientela alunos

provenientes de todos os bairros da cidade, geralmente pertencentes a classe

trabalhadora, que retomaram seus estudos.

A turma envolvida no projeto era formada por aproximadamente vinte e cinco

alunos do ensino médio, entre os faltantes e desistentes, período matutino, sendo as

aulas realizadas duas vezes na semana totalizando oito horas aula semanais. As

aulas neste coletivo iniciaram no dia 07 de novembro de 2013 com outra professora,

ao retornar as atividades do ano letivo seguinte, em 10 de fevereiro de 2014, a

autora deste projeto tomou posse como professora, encerrando o coletivo em 24 de

abril de 2014. O objetivo destes alunos era o de concluir o ensino médio com rapidez

para voltar ao mercado de trabalho, ou concluir o ensino médio para ter novas

oportunidades no seu trabalho, pois enfrentavam inúmeras dificuldades para

frequentar as aulas, entre elas preocupações com a família, dupla jornada,

estudando pela manhã etrabalhando no período vespertino e/ou noturno.

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Neste artigosão discutidos os resultados do projeto intitulado “Como purificar

a água e a sua importância”. O projeto temcaráter multidisciplinar, focando nos

conteúdos químicos, assim como questões mais amplas,tais como o uso eficiente da

água, reconhecimento da qualidade da água potável, métodos para a purificação,

tratamento e regeneração, escassez, consumo consciente da água, questões

ambientais e éticas.

Ao iniciar o trabalho com a Ilha de Racionalidade (IR), foram apresentados

aos alunos vídeos disponíveis na internet com intuito de socializar o tema do

presente projeto. Primeiramente foi mostrado um vídeo sobre como a falta de água

no organismo pode gerar problemas de saúde, com duração de dois minutos e

quarenta e um segundos, disponível no endereço

eletrônicohttp://www.youtube.com/watch?v=ci_DFud4TlU, e um segundo vídeo “O

que é desidratação” com duração de três minutos e trinta e seis segundos,

disponível no endereço eletrônico http://www.youtube.com/watch?v=xGnvauTkGlM.

Na sequência o vídeo “Sobrevivência na selva”, disponível no endereço eletrônico

http://www.youtube.com/watch?v=snMhgCCjBo4 com duração de um minuto e

cinquenta segundos, onde um telejornal fala sobre um treinamento do exército e

finalizando a introdução ao tema deste projeto o vídeo onde um aventureiro

demonstra técnicas de purificação de água no mato com duração de oito minutos e

vinte e nove segundos disponível no endereço eletrônico

http://www.youtube.com/watch?v=OEalzi6Ddis, foi apresentado.

Após assistir os filmes foi proposto para os alunos imaginarem a situação de

estarem perdidos em uma floresta e indagados em como poderiam fazer para

manter a sobrevivência, principalmente no quesito, como obter água potável.

A proposta de trabalho para os alunos na forma da construção de uma Ilha de

Racionalidadefoia simulação de uma situação real, um fundo de cena, onde os

alunos colocando-se na posição de estarem perdidos em uma floresta deveriam

pesquisar, elaboraresquemas e proporexperimentos para obter água potável nesta

situação fictícia.

Após assistir os vídeos, os alunos se dividiram em equipes de acordo com as

afinidades, iniciando as etapas da ilha de racionalidade.

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Numa conversa informal iniciou-se a primeira etapa da Ilha de Racionalidade

(IR) o “clichê” onde os alunos foramestimulados a falar sobre como seria sobreviver

em uma floresta, e a representação formulada pelos alunos não ficou atrelada a

nenhuma disciplina ou área do conhecimento químico em particular. Foi uma

descrição espontânea partindo do conhecimento do cotidiano do aluno.

Foi solicitado pela professora que os alunos se dividissem em equipes e

conversassem entre eles sobre o tema, após esse dialogo entre as equipeos alunos

relataram para toda a turma novamente em uma conversa informal o dialogo sobre a

situação problema escolhida pela equipe, o local escolhido, para onde estavam

viajando e como ocorreu de se perderem neste local, assim como quais os itens

indisponíveis para assegurar a sobrevivência. Nesta etapa a principal função do

professor foi listar os itens no quadro, sendo os principais itens sugeridos pelos

alunos como essenciais para manter a sobrevivência: abrigo seguro, água potável,

alimentos, recuperar o que sobrou do acidente, procurar socorro e verificar pessoas

machucadas.

Os alunos sentiram-se a vontade para falar sobre a problemática sugerida,

não houve dificuldade por parte delesem fazer uma representação correta, como

pode ser observado pelos itens listados acima percebe-se que houve uma descrição

adequada, a maioria descreveu uma viagem onde o meio de transporte falhou e

ficaram perdidos em uma floresta ou em uma ilha deserta.

Após esse primeiro levantamento, iniciou-se a segunda etapa da Ilha de

racionalidade: “Elaboração do panorama espontâneo” onde a professora iniciou uma

nova discussão para os itens não listados na primeira etapa, de certa forma foi feita

uma adaptação ou um redirecionamento ao foco principal que é a purificação da

água. O objetivo desta etapa é ampliar a discussão, onde as equipes iniciaram uma

discussão sobre os pontos importantes que não foram listados na primeira etapa

(clichê), das várias possibilidades de direcionar o caminho a seguir no projeto, os

possíveis problemas, e quais materiais e quais os especialistas possivelmente

poderiam ser consultados, onde toda essa discussão se deu entre as equipes.

No final desta segunda etapa, a professora lançou a pergunta: “Imagine você

e sua equipe perdidos na floresta, como iriam sobreviver?” e solicitou que as

equipes elaborassem um texto para descrever a situação escolhida pela equipe.

Abaixo será listado um breve resumo da situação problema que cada equipe

escolheu:

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Equipe 1: Constituída por quatro mulheres escolheram como situação

problema um passeio ao Pantanal, onde num passeio de barco, este estragou

deixando-as perdidas na floresta, descreveram que ao entrar na floresta para

procurar alimentos se perderam das demais pessoas, sendo assim construíram um

abrigo, com poucas coisas que estavam carregando, os alunos fizeram a proposta

de purificar a água com uma camiseta e a ferver para matar os microrganismos.A

água a ser purificada, utilizada no experimento foi uma água com adição de pó de

café, trazida pela professora, pois os alunos dessa equipe esqueceram de trazer a

água a ser purificada.

Equipe 2: Constituído por seis pessoas, sendo quatro mulheres e dois

homens, escolheram como tema estarem perdidos em uma floresta devido um

problema no avião onde estavam viajando, descreveram como iriam construir o

abrigo, possíveis alimentos que poderiam encontrar no local, que voltariam ao avião

recuperar materiais e equipamentos que ficaram intacto ou não tiveram grandes

danos e poderiam ser úteis. Para obter água potável a equipe sugeriu procurar um

rio ou uma vertente, e para assegurar que esta água estaria apta para ser ingerida

os alunos fizeram a proposta de realizar uma filtração e fervura. A água a ser

purificada na situação fictícia, a ser utilizada no experimento foi uma água coletada

em uma nascente no quintal de um dos participantes da equipe.

Equipe 3: Constituído por quatro pessoas, sendo duas mulheres e dois

homens, escolheram como situação fictícia a ser utilizada na elaboração do projeto,

que após um problema no barco onde viajavam pelo litoral paranaense, ficaram a

deriva no mar, nadando conseguiram chegar a praia, onde procuraram abrigo,

alimento e água.A equipe decidiu purificar a água com um filtro que simula as

camadas da terra, a água a ser purificada, utilizada no experimento foi uma água

com alta dureza que uma das alunas trouxe da empresa que seu marido trabalha.

Equipe 4: Constituído por dois homens, relatando um acidente de navio

transatlântico, conseguiram chegar até uma ilha deserta, procuraram abrigo,

alimento e os alunos decidiram por utilizar um método para purificar a água do mar,

a única água disponível. A água a ser purificada, utilizada no experimento foi uma

água potável com adição de sal, produzida pelos alunos.

Equipe 5: Constituído por quatro pessoas, sendo uma mulher e três homens,

descrevem uma missão do exército e após o avião cair numa floresta utilizaram

várias estratégias para a sobrevivência, por exemplo, recuperarosmateriais do

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exército que restou do acidente, assim como alimentos, materiais para caça.

Montaram abrigo, os alunos sugeriram montar um filtro com os materiais disponíveis

para purificar a água e a esterilizar a água com Iodo. A água a ser purificada,

utilizada no experimento foi uma água trazida pelos alunos suja com sabão em pó

que os membros da equipe trouxeram de casa.

Na terceira etapa “Consulta aos especialistas e às especialidades” os alunos

iniciaram a consulta aos especialistas e ao material de pesquisa disponível.Ressalta-

se que as etapas de construção da Ilha de Racionalidade, descritas por Fourez

(1997), são sugestões que não apresentam caráter fixo ou obrigatório para a

execução da prática pedagógica, portanto essa consulta aos especialistas e as

especialidades pode ocorrer em qualquer etapa se o aluno sentir necessidade.

Nesta terceira etapaos alunos puderam direcionar seus trabalhos onde a partir do

diálogo a equipe definiu a direção a ser seguida no projeto e como será obtida água

purificada nas condições escolhidas pelas equipes. Os especialistas escolhidos

pelos alunos foram os professores de ciências, biologia e química presente na

escola, a pesquisa também foi feita na biblioteca com os livros e computadores

ligados a internet. Nesta etapa houve a negociação entre os membros, a escolha

dos meios a ser utilizado para seguir e se aprofundar no projeto,e a professora

assumiu o papelde incentivar a autonomia do indivíduo, a comunicação com os

demais e certo domínio conceitual.

As equipes ficaram livres para pesquisar as melhores técnicas para purificar a

água, a pesquisa foi realizada inicialmente em sala de aula com os livros de química,

posteriormente a pesquisa foi continuada na biblioteca da escola onde os alunos

foram incentivados a procurar livros de todas as disciplinas e procurar técnicas de

purificação de água na internet. Os vídeos mostrados no inicio do projeto

influenciaram as equipes, sendo adotado por muitos como uma referência para a

pesquisa. Também houve um incentivo para que durante as pesquisas procurassem

professores de outras disciplinas para conversar e tirar dúvidas.

As equipes de maneira autônoma sem a interferência do professor,decidiram

entre os participantes da equipe qual experimento iriam realizar e quais materiais e

equipamentos para realizar os experimentos iriam trazer de casa, assim como qual

tipo de água iriam utilizar no experimento.

Nesta etapa os especialistas foram consultados para ajudar os alunos a

entender, de acordo com o que cada equipe propunha, como realizar o

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procedimento experimental e avaliar a eficiência desta técnica. Por exemplo, uma

das equipes procurou uma professora de geografia para entender como as camadas

da terra purificam a água, outra equipe procurou uma professora de ciências e

biologia para entender como os produtos químicos, tais como cloro e iodo

esterilizam a água, e a professora de química para entender quais métodos

utilizando equipamentos simples poderiam destilar a água, como montar filtros com

materiais alternativos.

A quarta etapa da Ilha de Racionalidade é chamada de trabalho de campo,

nesta etapa é necessário ocorrer um aprofundamento, este é o momento em que os

participantes do projeto saem do abstrato para entrar em contato com o concreto, ou

seja, definido nas etapas anteriores o que cada equipe iria fazer para purificar a

água na situação em questão, a maioria das equipes nesta etapa optou por montar

equipamentos e realizar procedimentos experimentais, associando a teoria

pesquisada com a prática e por fim alcançar o objetivo do projeto que é purificar a

água disponível na situação problema, deixando-a potável para o consumo.

As equipes com suas amostras de águas a serem purificadas, iniciaram os

procedimentos experimentais, e como deveriam utilizar apenas materiais disponíveis

na situação problema que eles mesmos construíram, os experimentos em geral

foram realizados com materiais simples como será mostrado nas figuras abaixo.

Imagem 01: Imagens cedidas por Adriana Tozetto Lopes do experimento da equipe 01

Figura 02: Imagens cedidas por Adriana Tozetto Lopes do experimento da equipe 02

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Figura 04: Imagens cedidas por Adriana Tozetto Lopes do experimento da equipe 04

Figura 05: Imagens cedidas por Adriana Tozetto Lopes do experimento da equipe 05

Na quinta etapa a abertura aprofundada das caixas pretas, é o momento para

se tratar com rigor conteúdos específicos da disciplina química dentro da proposta

interdisciplinar deste trabalho, esta etapa pode ser desenvolvida simultaneamente

Figura 03: Imagens cedidas por Adriana Tozetto Lopes do experimento da equipe 03

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com as outras etapas, mas neste projeto esta etapa foi o momento dos alunos se

aprofundarem nas pesquisas realizadas, continuando a pesquisa iniciada

anteriormente, agora com mais rigor, avaliando se os resultados

experimentaisresultaram em uma água potável, e se necessário repetindo ou

realizando outro experimento. Dentre os itens avaliados citam-se se a água

purificada não traz riscos a saúde, pesquisando na literatura se os métodos

escolhidos realmente purificam a água, se matam microrganismos, se a fonte que foi

obtida a água não traz contaminações perigosas e se for o caso pesquisar como

pode ser de maneira eficiente retirada essas contaminações.

A equipe 1 (Figura 1) e a equipe 2 (Figura 2) realizaram experimentos

parecidos e numa discussão entre os membros da equipe e o professor os alunos se

mostraram satisfeitos com os resultados, a água utilizada pela equipe 1 estava

contaminada propositalmente com café, e os membros da equipe 1concluíram que a

água fria não extraiu os compostos do café. A água da equipe 2 foi coletada numa

vertente e estava contaminada com barro, então a filtragem com tecido e a fervura

na opinião dos alunos das duas equipes foi suficiente para garantir a potabilidade.

Para comprovar se realmente os métodos utilizados foram eficientes as duas

equipes foram a biblioteca com todos os outros alunos pesquisar sobre estes

métodos para averiguar se realmente estas técnicas foram eficientes para a água

em questão e seus contaminantes.

A equipe 3, Figura 3 escolheu um experimento mais complexo do que as

outras equipes. O experimento envolveu uma filtração que simula as camadas da

terra para a purificação da água. A água escolhida pelos alunos a ser tratada foi uma

água esbranquiçada de alta dureza obtida no trabalho de uma das participantes. A

equipe se mostrou muito empenhada na montagem do filtro, pesquisou os materiais

necessários, fizeram a coleta destes materiais, cortaram uma garrafa pet ao meio e

invertendo a parte superior da garrafa formou um funil e a parte posterior da garrafa

serviu como um recipiente, nesse suporte foi realizada a filtração, onde as camadas

de algodão, areia e carvão foram comprimidaspara obter uma filtraçãosimilar as

camadas no solo, porém a água depois da filtração ficou mais suja do que antes,

toda a equipe discutiu os possíveis motivos para a água ficar com aquele aspecto e

chegaram a conclusão que a areia que utilizaram para fazer a filtragem estava suja.

Os alunos da equipe 3 se dividiram, uns pesquisavam em livros e internet,

enquanto outros foram a uma revenda de filtros especiais para a purificação de

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água, muito conhecida na região, para obter explicação de como esses filtros eram

montados, quais eram as camadas presentes nestes filtros, quais os materiais

utilizados e como montar esse filtro. Outros da equipe foram a Sanepar conseguir

material de apoio para entender as etapas que esta empresa utilizava no tratamento

da água e tentar agendar uma visita.

Ao realizar o segundo experimento a equipe 3 lavou a areia, e a partir das

pesquisas realizadas decidiram trocar o carvão comum por carvão ativado,

remontaram o filtro utilizando a garrafa de plástico cortada, camadas de algodão,

pedra, areia e carvão ativado, mas novamente não obtiveram o resultado desejado,

o carvão ativado em pó utilizado contaminou a água impossibilitando a ingestão da

água. Apesar dos resultados experimentais não terem sido os desejados esta equipe

se mostrou a mais dinâmica, criativa em pesquisar e montar o experimento, pois

todas as explicações do porque o experimento der dado errado foi sugerido pela

equipe sem a intervenção do professor.

A equipe 4, Figura 4,teve com situação problema a purificação de uma água

salgada que simulou a purificação da água do mar. A equipe se mostrou empenhada

e sem recorrer aos especialistas iniciou sua pesquisa para obter o melhor método

para purificar esta água salgada. A professora trouxe um livro disponível na

biblioteca do professor “Química na cabeça” e vendo um experimento mostrado pela

professora de destilação que pode ser realizado com equipamentos e materiais

simples disponíveis na cozinha como panela, chaleira e gelo, esta equipe pesquisou

em outros livros e internet e utilizou um método de destilação um pouco diferente,

mas igualmente interessante, pois se a equipe estava perdida em uma ilha deserta

não haveria gelo disponível.

O método utilizado pelos alunos desta equipe consiste em ferveram a água

com sal e a água ao evaporar e sair da chaleira encontrava um obstáculo que no

caso era uma concha de uso comum nas cozinhas para apanhar alimentos. O vapor

ao tocar na superfície metálica da concha condensava e as gotas formadas caiam

em um recipiente. Apesar da técnica se mostrar eficiente, pois purificou a água, os

alunos experimentaram e verificaram que o gosto salgado não estava mais presente

(por se tratar de uma água destilada, e, portanto não trazer riscos a saúde, o

professor permitiu este ato), a técnica não se mostrou eficiente em termos de

quantidade de água destilada, já que ao realizá-la os alunos ficavam com a mão

super aquecida e logo paravam, os alunos utilizaram um pedaço de tecido , para não

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queimar a mão e não tentaram nenhuma adaptação que melhorasse esta técnica, os

objetivos na opinião da professora foram alcançados, os alunos mostraram sua

autonomia ao desenvolver sozinhos o experimento apesar da baixa eficiência, o que

numa situação real exigiria um aprimoramento da técnica.

A equipe 5, Figura 5, baseando-se nos vídeos mostrados no início deste

projeto montaram um filtro com garrafas PET e tecido para filtrar a água e a

esterilização da água foi feita como mostrado nos vídeos apresentados na primeira

etapa desta IR , com iodo. Este método se mostra eficiente para a purificação da

água desde que a purificação seja de partículas sólidas facilmente filtradas, como

barro, por exemplo, porém esta equipe trouxe de casa uma água com uma

contaminação mais complicada, água com sabão em pó, sendo assim a técnica

escolhida, filtração simples, não foi boa, pois não retirou os contaminantes. Um dos

integrantes dessa equipe desistiu do coletivo de química e o outro participante,

portanto, foi remanejado para outra equipe, portanto as próximas etapas da Ilha de

racionalidade que seriam uma nova pesquisa para escolha de uma nova técnica não

foram feitas.

Nesta etapa 6como a Ilha de Racionalidade propõe há uma maior

interferência do professor, sendo assim foi feita uma solicitação pelo professor para

que os alunos realizassem uma pesquisa em temas não analisadas nas etapas

anteriores. Foi proposta uma enquete com o seguinte nome “Falta de água na

atualidade” e listados alguns itens a serem pesquisados: uso eficiente da água,

reconhecimento da qualidade da água potável, métodos para a purificação da água,

tratamento e regeneração da água, questões ambientais em geral, escassez da

água, consumo consciente da água, maneiras naturais de purificação da água.

Estes itens foram escolhidos para finalizar os trabalhos de pesquisa, pois a

alfabetização científica requer uma ampla formação não apenas na área química,

O trabalho nesta etapa 6 da Ilha de Racionalidade propõe que questões

éticas, filosóficas sejam trabalhadas, as equipes consultando materiais diversos de

diferentes disciplinas e materiais na internet se reuniram e montaram um texto, e

também neste momento as equipe se reuniram para a elaboração das etapas 7 e 8

da IR .

Na etapa 7 deste trabalho foi o momento que os alunos esquematizaram a

situação problema, estabelecendo os cenários, organizando e selecionando os

dados das pesquisas, apresentaram o resultado das pesquisas para todos os

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envolvidos, assinalaram os pontos importantes do projeto, estabeleceram critérios

para as tomadas de decisão, mostraram que os conhecimentos não são fechados e

acabados.

A Etapa 8 é a elaboração de uma síntese da IR, o produto final, as equipes ao

elaborarem uma síntese da IR, deve haver uma ideia da abrangência do projeto,

pois a síntese deverá conter todos os elementos pensados ao longo do projeto e

deve resultar em um produto final, com vistas à situação problema apresentada. Em

outras palavras, resumirá tudo aquilo que foi decidido levar em conta na situação.

Para realiza-la, é necessário fazer as simplificações e resumos, esta é uma etapa

difícil para executar com os alunos, seja no sentido técnico, quando for para

esquematizar, estruturar, teorizar e fazer um resumo para encerrar o trabalho, ou no

sentido pedagógico, onde o professor deve tomar cuidado para não descaracterizar

as escolhas feitas pelos alunos.

Cada equipe era livre para apresentar os resultados da sua Ilha de

Racionalidade, teatro, maquete, esquemas, fotos, montagens gráficas, redação com

apresentação oral ou qualquer outra maneira que as equipem desejassem, as

equipes preferiram montar um texto e apresenta-lo na forma oral para todas as

outras equipes, o texto das equipes listou diferentes preocupações com o tema

água, houve colaboração e participação de todos.

A última etapa, 9 chama-se “Teste da representação construída, a qualidade

da IR”, os objetivos deste projeto que são ensinar química para formar o cidadão

crítico e participativo, demonstrou que a melhor maneira de alcançar este objetivo é

com um ensino interdisciplinar, partindo de uma situação problema que tenha

relevância na vida do estudante, mas que principalmente motive-o a se tornar um

pesquisador, pois está comprovado que a maneira tradicional de ensinar química faz

com que haja muita dificuldade de relacionar o conteúdo aprendido na escola com

sua vida cotidiana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os assuntos abordados de maior relevância neste projeto na área química

mais especificamente foram: mudanças de estado físico, misturas, substâncias

puras e métodos de purificação de misturas, trabalhado na maneira tradicional

percebe-se dificuldades em memorizar nomes e associar a descrição das técnicas

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ao seu uso no dia a dia, durante a construção da Ilha da Racionalidade pelos alunos

estes conhecimentos foram absorvidos de maneira natural, o uso e assimilação do

conhecimento foram tranquilos principalmente pelo fato destes conhecimentos

serem utilizados na resolução de um problema.

No decorrer do projeto os equívocos conceituais, funcionais, éticos e morais,

entre outros, foram discutidos, houve a participação de todos e todos demonstraram

muito interesse na finalização do trabalho com sucesso, IR produzida pelos alunos

assumiu as características interdisciplinares, os objetivos pedagógicos da

Alfabetização Cientifica e Técnica foram privilegiados, as atividades atenderam o

programa regular de ensino.

REFERÊNCIAS

CHASSOT, Attico Inácio. Para quem é útil o ensino? 2. ed. Canoas: Editora

ULBRA, 2002, 177 p.

RIBEIRO, Marcos Vinicius; CARVALHO, Maria Elisa Moreira Daí de; QUADROS,

Ana Luiza de; PINTO, Patrícia Leal. Experimentando na EJA: Construindo Cidadania

Através de Estratégias Simples e Diversificadas. In:XIV ENCONTRO NACIONAL DE

ENSINO DE QUÍMICA ( XIV ENEQ), 21 a 24 de julho de 2008, UFPR, Curitiba/PR.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação, Educação de Jovens e Adultos.

Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos. Curitiba, 2006. 45 p.

SCHMITZ, CÈSAR. Desafio docente: As ilhas de racionalidade e seus

elementos interdisciplinares. 2004.277 folhas. Dissertação ( Educação Científica e

Tecnológica)- Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.