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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
LEITURA INTERTEXTUAL E INTERGÊNEROS:
ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR A INTERPRETAÇÃO E
COMPREENSÃO DE TEXTOS
Rosana Duda Touzdjiann1
Ubirajara Inácio de Araújo2
Resumo
O que leva à formação de um bom leitor são as relações com um contexto maior, inferências e significados que envolvem a mediação do professor e a condução do processo por meio de práticas flexíveis e originais em sala de aula. O presente artigo surge como resultado da aplicação da unidade didática elaborada ao longo do desenvolvimento do Projeto PDE/UFPR intitulado: “Leitura Intertextual e intergêneros: estratégias para melhorar a interpretação e compreensão de textos”, a qual procurou proporcionar aos educandos, por meio de uma abordagem de leitura interacionista, a oportunidade de aprender a explorar o texto em sua amplitude, desenvolvendo a leitura intertextual e intergêneros, criando-se estratégias para melhorar a qualidade nas práticas de leitura. Durante a etapa do projeto que prevê a intervenção em sala de aula, colocamos em prática o resultado de nossos estudos, com material elaborado e trabalhado com o nono ano do Ensino Fundamental, no Colégio Estadual La Salle (Curitiba - PR). Ao final desse percurso, percebeu-se que, quando o aluno explora o texto em sua amplitude e de forma interativa, depreende dele conhecimento, reflexão e cria mudanças em sua vida.
Palavras - chave: leitura, intertextualidade, gêneros textuais
1 Formada em Letras/Português pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), pós-graduada em Educação Especial e Inclusiva pela Faculdade Internacional de Curitiba (FACINTER) e em Mídias Integradas na Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), professora do Colégio Estadual La Salle. 2 Mestre e Doutor em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo (USP). Professor de
Metodologia e Prática de Docência de Língua Portuguesa do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
1 Introdução
Diante da perspectiva de que muitos alunos que chegam ao nono ano
do Ensino Fundamental demonstram desinteresse na leitura e um nível muito
baixo de compreensão e interpretação dos mais diversos gêneros textuais e
que a escola possui um papel fundamental nesse processo, este artigo atenta
para a necessidade de se desenvolverem estratégias de ensino, por meio de
uma abordagem de leitura interacionista, oportunizando a aprendizagem e
exploração do texto em sua totalidade, ampliando as práticas de interlocução
no processo de ensino e aprendizagem. O hábito de depreender do texto
conhecimento e reflexão criará mudanças nas vidas dos alunos.
Durante todo o processo de escolarização, desde as séries iniciais, os
alunos têm contato com a leitura, mas não parecem desenvolver o hábito de
leitura, pelo contrário, até mesmo desprezam essa atividade de enriquecimento
pessoal e, quando lhes é imposta essa tarefa, há prejuízo à compreensão do
que está sendo lido.
Para nos auxiliar nessa questão, Kleiman (1989, p. 40) observa que
“as dificuldades que o aluno tem na leitura e sua passividade frente ao texto
não são [...] problemas independentes. A passividade não é consequência da
ação do professor, mas da inação”.
Dessa forma, a partir do projeto de intervenção pedagógica,
apresentamos práticas em que o professor participa ativamente, possibilitando
a compreensão do leitor diante do texto.
Além disso, a fim de aproximar o aluno das leituras do projeto,
elegemos gêneros textuais que se encontram ligados de forma bastante direta
à vida social: charge, notícia de jornal e crônica, que podem utilizar-se de uma
única esfera de comunicação, o jornal, e dialogar intertextualmente.
As discussões e exposição de opiniões foram desenvolvidas a partir de
um único tema: “corrupção política”. Logo, percebeu-se que a escolha dos
textos e temas, além da mediação do professor, é de fundamental importância
para se gerar bons resultados.
A produção deste artigo resulta da aplicação do Projeto de Intervenção
Pedagógica PDE/UFPR e do Material Didático-Pedagógico, desenvolvidos
durante o programa, para a turma do nono ano do Ensino Fundamental do
Colégio La Salle, período noturno.
2 Fundamentação Teórica
2.1 A importância da leitura na formação do aluno
De acordo com as DCEs de Língua Portuguesa (2008), o processo de
leitura deve ocorrer de maneira a desenvolver uma atitude crítica do aluno, que
perceberá o sujeito presente nos textos e desenvolverá uma atitude responsiva
diante deles. Sendo assim, propomos que o professor funcione como mediador
em leituras significativas, formando um aluno participante das práticas de
letramento da sociedade.
Na implementação do projeto de intervenção pedagógica, foram
utilizados textos que envolviam situações da realidade do país, e foi possível
perceber que os alunos sentiram-se participantes das leituras. Com a mediação
do professor, provocando reflexões e explorando a interpretação, eles puderam
dialogar e trocar informações entre si, a partir do texto, realizando uma leitura
proficiente.
Sobre a atuação do professor, Kleiman (1989) explica que formar bons
leitores na escola requer medidas em que o professor perceba essa questão e
conduza o processo, considerando a complexidade envolvida na interação
entre leitor e autor e, a partir disso, espera-se que ocorra a compreensão e a
construção de significados do texto. O conceito de interação que nos é
fornecido pela pragmática é muito enriquecedor, pois a leitura é instituída
através do texto numa relação entre locutor e interlocutor, que são
determinados pelo contexto e estabelecem as circunstâncias de produção da
leitura. É dessa forma que o texto torna-se aberto, aceitando a participação do
leitor em sua construção. Na escola, o professor é um dos elementos da ação
do contexto imediato do leitor e faz parte do processo de leitura. Ele determina
os objetivos da leitura e sua adequação a um objetivo específico. Nesse
sentido, o professor passa a constituinte da relação entre autor e leitor. Muitas
vezes, o aluno tem grandes dificuldades em compreender o sentido do texto e
o papel do locutor fica sem sentido; logo, o professor estabelece condições
para que ocorra a interação.
2.2 Causas das dificuldades de interpretação e compreensão de textos
Ao produzirmos o material didático que seria utilizado durante a
implementação do projeto, consideraram-se as dificuldades em leitura dos
alunos e foram elaboradas atividades que proporcionassem, por meio de uma
abordagem de leitura interacionista, a oportunidade de aprender a explorar o
texto em sua amplitude, desenvolvendo a leitura intertextual e intergêneros,
criando-se estratégias para melhorar a interpretação e compreensão.
Nesse sentido, cabe ao professor definir atividades que relacionem
textos, explorando-os a fim de serem compreendidas as diferenças entre a
situação de enunciação e comunicação que motivou a produção textual, sua
forma de abordagem e a intenção comunicativa.
Para isso, nos fundamentamos em Kleiman (2011, p.10), que enfatiza
que a compreensão de um texto está ligada a múltiplos aspectos cognitivos
que são processos mentais, estratégias e recursos individuais envolvidos na
percepção da leitura e reflexão sobre o próprio saber. O que leva à formação
de um bom leitor são as relações com um contexto maior, inferências e
significados por meio de práticas flexíveis e originais que “envolvem a
compreensão de frases e sentenças, de argumentos, de provas formais e
informais, de objetivos, de intenções, de ações e motivações, ou seja, atinge
muitas das possíveis dimensões do ato de compreender”.
Houve grande participação dos alunos nas atividades e a motivação
foi resultado do trabalho de leitura e discussões realizadas anteriormente. Os
alunos estavam mais seguros e confiantes, pois conseguiram compreender e
interpretar o que liam.
2.3 O uso do livro didático
O educador deve estar constantemente repensando a sua prática.
Nesse sentido, ao desenvolvermos as atividades da unidade didática, tomamos
cuidado para não produzirmos exercícios semelhantes aos dos livros didáticos,
que não conduzem a uma reflexão crítica e não raro incidem apenas sobre as
informações da superfície linguística do texto.
A utilização de textos para se ensinar regras gramaticais e o uso de
textos do livro didático são práticas pedagógicas manipulativas que contribuem
para o aluno visualizar a leitura apenas com o objetivo de reter conteúdos e,
consequentemente, sinônimo de recepção passiva de informação (KLEIMAN,
1989).
Entre os problemas apresentados estão a simples decodificação dos
conteúdos do texto, questões de compreensão misturadas a questões formais,
exercícios interpretativos, que não têm relação com texto lido e atividades que
não permitem a construção de sentidos. Com isso, reforça-se a noção de
compreensão de textos, nos livros didáticos, apenas como identificação de
conteúdos. Há ainda a falta de clareza nos tipos de exercícios e nos processos
envolvidos para se compreender o texto e é recorrente a presença de
indagações objetivas como “Quem, Onde, Como, Para quê” ou ordens
“Complete, transcreva, identifique”, que se distanciam da proposta de
construção de sentidos do texto através da leitura. (MARCUSCHI, 2008,
p. 267).
O professor pode utilizar-se dos textos dos livros didáticos, mas o que
deve mudar é a forma como ele vai conduzir o processo de compreensão e
interpretação, procurando levar o aluno a produzir conhecimento através da
execução da atividade proposta.
Marcuschi (2008), a partir de uma análise de vários livros didáticos de
Língua Portuguesa, observou que as leituras eram precedidas de exercícios
que possuíam o objetivo de “Compreensão, Interpretação e Entendimento do
texto”, mas que, na verdade, só exercitavam a caligrafia e a simples atividade
de cópia, pois não conduziam a nenhuma reflexão crítica do texto lido. Para o
autor, o problema não reside em se propor a compreensão textual e sim a
forma como isso é realizado.
Segundo Kleiman (1989), há evidências de que o trabalho contínuo
com o livro didático na escola gera um “esquema estereotipado” desse tipo de
texto, que possui relação com a compreensão na leitura. O aluno passa a
desenvolver uma forma de leitura passiva, uma forma acabada mantida por
repetição que, consequentemente, dificultará o processo de leitura quando o
texto não corresponder ao modelo esperado de texto.
Sendo assim, adotamos, neste trabalho, uma concepção interacionista
de linguagem por meio da qual o aluno dialoga com o texto e realiza atividades
que acrescentam conhecimentos e estimulam a criticidade.
Sabendo que a leitura só tem sentido quando produz reflexão e
transformação na nossa realidade, Marcuschi (2008, p. 279), declara: “E nós
sabemos que no dia a dia ninguém vive respondendo a perguntas sobre textos
e sim falando sobre eles, resumindo-os, reportando-os ou opinando”.
Dentro desse contexto, Magnani (1989, p. 35), diz que
[...] toda essa dinamicidade do processo de leitura, no entanto, acaba, muitas vezes, ficando de fora da escola, onde a leitura assume finalidades imediatistas e utilitárias, tais como: ler para fazer exercícios de interpretação, para estudar itens de conteúdos, para adquirir modelos de escrita, para gostar e se habituar, para conscientizar e politizar... Quer como pretexto para o desenvolvimento de objetivos e conteúdos arrolados nos programas das diversas disciplinas, quer enquanto instrumento de denúncia e conscientização, esses procedimentos não levam em conta a totalidade do texto, nem as suas possibilidades de utilização enquanto obras de linguagem.
2.4 Gêneros textuais: charge, notícia de jornal e crônica
Kleiman (2011) explica que a compreensão de textos está relacionada
ao conhecimento textual do leitor, ou seja, quanto mais leituras, maior será a
facilidade em compreender e interpretar textos. É determinante o contato com
as estruturas textuais e os diversos tipos de discurso para suas expectativas
em relação ao texto.
A partir das considerações de Kleiman (2011), utilizamos, neste
trabalho, diferentes gêneros textuais para atingirmos o objetivo de habituar o
aluno com textos de diferentes linguagens e intenções.
Baseamo-nos também nas DCEs (2008, p. 71): “ler é familiarizar-se
com diferentes textos produzidos em diversas esferas sociais: [...] cotidiana,
literária, publicitária, [...] também é preciso considerar as linguagens não-
verbais.”
Além disso, os gêneros textuais são necessários para a interlocução
humana. São atividades que, além de se prestarem a diversos tipos de controle
social, também são utilizadas no exercício do poder. Por meio das práticas dos
gêneros textuais, somos inseridos e participamos na sociedade, não criando
relações deterministas, mas manifestando-nos em certas condições de suas
realizações (MARCUSCHI, 2008).
Nas produções textuais, durante o projeto de implementação, os alunos
puderam perceber que podem participar da sociedade posicionando-se em
assuntos ligados a sua realidade por meio de textos que possuem finalidades
específicas.
Nesse sentido, Bathia (1997) [apud Marcushi (2008)] explica que os
gêneros nos permitem entender o motivo pelo qual as comunidades discursivas
usam a língua da maneira como o fazem. Nessa questão, estão envolvidas
ações mais do que apenas socioculturais e cognitivas, mas de ordem
comunicativa com estratégias para se atingir um objetivo predefinido. Cada
gênero textual tem um propósito, uma esfera de circulação, uma forma e uma
função, bem como um estilo e um conteúdo, mas sua determinação se dá pela
sua função e não apenas pela sua forma.
Quando se busca trabalhar com texto, é preciso considerar o
conhecimento de mundo do aluno, conhecimentos linguísticos, situação
comunicativa, interlocutores envolvidos, análise dos gêneros, do suporte em
que o gênero está publicado, de outros textos (intertextualidade). Para Koch
(2003, p. 24), “o trabalho com esses conhecimentos realiza-se por meio das
estratégias: cognitivas, sociointeracionais e textuais.”
Considerando a importância de habituar nossos alunos à leitura e que
a profundidade com que um leitor analisa um texto depende de suas leituras
anteriores, não somente de livros, mas também da leitura de sua experiência
na vida, cabe aos professores organizar leituras, sem fazê-las pelo aluno,
mesmo que elas estejam em um nível inferior ao que texto oferece (FONSECA,
2008).
Por essa razão, para que os alunos expusessem suas ideias, foram
estimuladas discussões e reflexões aliando o conhecimento de mundo deles e
o conteúdo apresentado. Com isso, procuramos despertar o senso crítico e
uma melhor compreensão de sua realidade.
Para Marcushi (2008), um dos instrumentos mais poderosos da
máquina sociodiscursiva são os gêneros textuais. Eles ultrapassam os
objetivos de comunicação e informação, pois de seu domínio e manipulação
depende nossa forma de inserção e de poder social. Quando emitimos um
discurso, estamos tentando influenciar ou impor algum tipo de poder, afinal,
estamos envolvidos em uma sociedade que nos criou e em nossa história de
discursos. O funcionamento da língua entre os seus usuários é um processo de
interação social.
Adotamos, neste projeto, os gêneros textuais da esfera jornalística,
pois apresentam uma função para a sociedade, fazem divulgação por meio de
anúncios publicitários e ofertas de serviços, informam com as notícias e
reportagens e também formam opinião por meio de artigos, crônicas, editoriais
e charges. (SANTOS, 2012)
Nesse sentido, não se lê da mesma forma uma crônica que está divulgada no suporte de um jornal e uma crônica publicada em um livro, tendo em vista a finalidade de cada uma delas. Na crônica do jornal, é importante considerar a data de publicação, a fonte, os acontecimentos dessa data, o diálogo entre a crônica e outras notícias veiculadas nesse suporte. Já a leitura da crônica do livro representa um fato cotidiano independente dos interesses deste ou daquele jornal. (DCEs, 2008, p.72).
Diante do exposto, em nossas atividades, foi explorada a interrelação
dos textos a fim de serem compreendidas as diferenças entre a situação de
enunciação e comunicação que motivou a produção do texto, sua forma de
abordagem e a intenção comunicativa.
3 Metodologia
O projeto de intervenção pedagógica, para alcançar seus objetivos,
utilizou o método pesquisa-ação que, segundo Thiollent (2008, página 16), “é
um tipo de pesquisa social de base empírica que é concedida e realizada em
estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema
coletivo”.
Esse tipo de pesquisa busca intervir na prática de modo inovador no
decorrer da implementação do próprio projeto.
Primeiramente, foi realizada a aplicação de um questionário
semiestruturado aos professores de Língua Portuguesa do Colégio Estadual La
Salle a fim de diagnosticar como ocorre o ensino e o estímulo à leitura na
escola. Deste modo, pudemos direcionar o projeto considerando que a maior
parte dos alunos lê apenas na escola, durante as aulas.
Para podermos identificar as dificuldades de compreensão e
interpretação de textos dos alunos do nono ano do Ensino Fundamental em
relação à leitura, foi elaborada e aplicada uma atividade escrita com alguns
exercícios que trabalharam com os gêneros textuais charge, notícia de jornal e
crônica. Não houve intervenção do professor, pois nesta etapa do projeto foi
realizada apenas uma verificação da compreensão dos alunos em relação aos
referidos gêneros com o propósito de serem exploradas as principais
dificuldades durante a implementação do projeto. Os alunos dedicaram duas
aulas para esta atividade, podendo ser considerado um tempo superior ao
necessário, pois eram poucos exercícios e exigiam conhecimentos básicos
sobre os textos.
Após a análise dos resultados da atividade de verificação, iniciou-se a
próxima etapa do trabalho com a aplicação da unidade temática, elaborada
com diversos exercícios que levaram os alunos a realizarem inferências,
comparações e dialogar com o texto. Foram selecionados textos relacionados a
um único tema nos três gêneros. Assim, os alunos puderam perceber que um
assunto poderia ser apresentado em diferentes gêneros e até mesmo assumir
outro formato de gênero, no caso da intergenericidade. Além disso, foram
apresentados exercícios orais e escritos sobre as características de cada
gênero textual, veículo de comunicação onde ocorrem, semelhanças e
diferenças entre eles e a identificação de cada um nos textos trabalhados.
Nas leituras dos textos, houve discussões e apresentação de ideias,
envolvendo tanto o conhecimento prévio do leitor como os processos cognitivos
de aprendizagem. O professor foi o mediador e conduziu o processo de leitura
levantando questões problematizadoras, colaborando na análise das pistas
formais para que o aluno percebesse a postura do autor, indispensável para a
compreensão do texto.
A unidade temática foi também composta de exercícios que
relacionavam imagem e textos e transformação dos gêneros textuais.
A atividade final foi realizada em grupos de quatro alunos. Eles
pesquisaram e retiraram de jornais e revistas uma charge, uma notícia e uma
crônica; interpretaram as charges e apontaram os referidos temas;
responderam questões referentes à notícia; transformaram a crônica em uma
charge e, para finalizar, apresentaram os resultados dos trabalhos à turma.
4 Socialização do Projeto
Durante a implementação do projeto na escola, houve a sua
socialização por meio do Grupo de Trabalho em Rede – GTR, no Ambiente
Virtual de Ensino e Aprendizagem “e-escola”, da Secretaria de Estado de
Educação do Paraná. Tanto o projeto como o GTR fazem parte das ações
desenvolvidas pelos professores do Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE, do Estado do Paraná.
No GTR, foram apresentados o projeto, a unidade didática e a
implementação. Os dezessete participantes puderam opinar e contribuir com
ideias e sugestões para o projeto. Os cursistas analisaram as produções
através de fóruns e diários. Houve algumas contribuições para o
aprofundamento das atividades e grande interação entre os participantes, que
destacaram a importância de se desenvolver um projeto que aponte estratégias
que possam melhorar a interpretação e compreensão de textos.
Muitos cursistas compartilharam que há, em suas escolas, grande
desinteresse pela leitura e que precisamos buscar formas de estímulo e
incentivo ao contato dos alunos com os mais variados gêneros textuais como o
que foi apresentado e discutido neste GTR.
A possibilidade da aplicação deste projeto em outras escolas, de
diferentes regiões do Estado, é a multiplicação do conhecimento, pelos
professores, em um processo que inclui práticas individuais e que desperta o
interesse dos alunos pela leitura.
5 Resultados Obtidos e Discussão
Nesta implementação, percebemos que os professores da escola estão
introduzindo a leitura de diversos gêneros textuais, no cotidiano acadêmico dos
alunos, com o objetivo de desenvolver o gosto e o prazer em ler, não apenas
como pretexto para ensinar regras gramaticais. Constatamos, também, a
consciência do professor de Língua Portuguesa como exemplo de bom leitor e
responsável por desenvolver estratégias pedagógicas nesse quesito, sendo
mediador e condutor do processo de leitura. Eles reconhecem que os alunos
possuem dificuldades em compreensão e interpretação de textos e que a
escola necessita de maior diversidade de obras e ambiente adequado para que
se possam desenvolver projetos de leitura que envolvam a família e a escola.
A partir desses resultados, percebemos que a estrutura da escola e o
investimento em materiais para se desenvolver atividades que incentivem a
leitura são de grande importância para a formação de bons leitores.
No entanto, é importante ressaltar que, ao responderem algumas
perguntas, os professores buscaram posicionar-se pelo que consideram
politicamente correto, especialmente, no que diz respeito à metodologia usada
para o ensino da leitura, pois isso ficou evidenciado no fato de nenhum
professor ter confessado usar os textos do livro didático como principal ou
única fonte de leitura, quando na verdade, sabemos que muitos professores
fazem uso somente dos textos contidos no livro didático em suas aulas.
Todavia, é importante que o questionário tenha suscitado uma reflexão sobre
suas atitudes e sobre o trabalho com a leitura na escola.
A forma como o professor planeja suas aulas e os materiais que ele
utiliza para o desenvolvimento de atividades de leitura influenciam diretamente
os resultados de seu trabalho. Cabe ao professor selecionar textos e atividades
que construam conhecimentos.
Além disso, é preciso ressaltar a importância da comunicação entre as
disciplinas em relação à utilização de diversos tipos de textos, utilizando-os
interdisciplinarmente. Dessa forma, aluno perceberá a relação existente entre
os conteúdos do currículo e que há uma complementação para sua formação
acadêmica.
A análise das atividades elucidou que os alunos do nono ano do Ensino
Fundamental, do período noturno, conheciam superficialmente cada gênero,
confundiam seus objetivos e não sabiam identificá-los, dentro de suas
características próprias. As dificuldades de compreensão e interpretação de
textos ficaram evidentes quando os alunos, com algumas exceções, não
conseguiram apresentar o assunto da crônica e nem a crítica inserida na
charge, além de não reconhecerem para quem era destinada a notícia.
A partir desses resultados, percebemos a necessidade de trabalharmos
as características desses gêneros. Durante a implementação do projeto, os
alunos puderam compreender os propósitos de cada gênero e suas
especificidades, fornecendo-lhes conhecimentos para o aprofundamento das
leituras que se seguiriam.
Vimos que os alunos passaram também a compreender o gênero de
um texto desenvolvendo o conhecimento intertextual, pois o conhecimento do
gênero fornece uma chave para interpretação deste. Por isso, a importância de
se argumentar com os alunos sobre os diferentes gêneros textuais.
Quando realizamos discussões de textos com os alunos faz-se
necessário planejamento do professor com a preparação de questões a serem
apresentadas à turma, além da mediação entre as respostas dos alunos,
interferências e complementações.
Para Koch e Elias (2007), ao realizarmos uma atividade de leitura e
produção de sentido, executamos o processamento textual, utilizando várias
estratégias sociocognitivas que retomam vários tipos de conhecimentos
armazenados que temos na memória: conhecimento linguístico (conhecimento
gramatical e lexical), enciclopédico (conhecimento de mundo) e interacional
(formas de interação por meio da linguagem).
Diante dessa consideração, buscamos trabalhar a situação
comunicativa, interlocutores envolvidos, análise dos gêneros, o suporte em que
o gênero foi publicado, relação com outros textos (intertextualidade). Além dos
efeitos de sentido, inferências, relações de causa e consequência, tipos de
narrador, etc.
A participação dos alunos relacionando o gênero trabalhado com
outros textos e deduzindo informações demonstrou estar ocorrendo um diálogo
entre o texto e o leitor e a construção de significados na leitura.
Ao levar o jornal para a sala de aula, trabalhando seus textos, o
professor estimula a leitura desse meio de comunicação rico em vários gêneros
textuais e conteúdos. O desenvolvimento de atividades com notícias ou
charges é uma prática enriquecedora para as aulas de Língua Portuguesa.
Os assuntos discutidos estimularam a reflexão sobre nossa realidade
política e a importância da escolha de bons governantes, considerando que
estamos em um ano eleitoral. Paralelamente ao trabalho com o conteúdo,
também foi analisada a linguagem dos textos, o uso de travessões, aspas,
figuras de linguagem, entre outras questões de análise linguística,
fundamentais para uma compreensão global da leitura.
Ao trabalharmos o gênero textual crônica, no projeto, ficou evidente
que o professor precisa ressaltar a importância das informações extra-textuais,
pois a leitura requer uma observação ampla do texto extrapolando muitas
vezes as linhas escritas. Os alunos precisam aprender a perceber as
informações explícitas e implícitas do texto. A utilização de exercícios que
trabalhem inferências, intertextualidade colabora para a dedução e a
compreensão de que nem tudo no texto precisa ser dito com todas as letras.
Também no trabalho com charge, durante as aulas, os alunos
demonstraram dificuldades para interpretação, pois é um gênero que, para ser
compreendido, necessita de relações com circunstâncias em que se produz a
mensagem a ser emitida. Percebemos, então, que além de mais leituras desse
gênero, faz-se necessário que o professor oriente o aluno a estabelecer
relações do conteúdo da charge com um contexto além do que está sendo
apresentado.
Ao discutirmos que a intergenericidade é um fato bastante corriqueiro
no dia-a-dia em que passamos de um gênero a outro ou até mesmo inserimos
um no outro, seja na fala ou na escrita, simplificamos o conceito aos alunos e
facilitamos sua compreensão. O professor dispõe de várias possibilidades de
trabalhar esse conteúdo com textos da esfera jornalística
Na atividade final da unidade temática, o objetivo foi além da
identificação adequada dos gêneros, pois os alunos puderam folhear o jornal e
conhecer as seções em que cada gênero se encontrava. Também pudemos
perceber os diferentes perfis de leitores, de acordo com suas escolhas,
observando que a intencionalidade é um dos aspectos a serem levados em
conta no momento da leitura. Alguns grupos escolheram charges políticas,
outras charges esportivas ou notícias midiáticas e notícias regionais, por
exemplo.
5 Considerações Finais
No decorrer da aplicação deste projeto, procuramos responder ao
questionamento inicial deste estudo: como proporcionar ao educando a
construção de sentidos no texto por meio da leitura significativa?
Este trabalho com os alunos do nono ano do ensino fundamental
oportunizou-lhes ler não apenas decodificando o texto, mas, sobretudo,
compreendendo, interpretando, inferindo, apresentando hipóteses, percebendo
o que está sendo dito e, principalmente, o que não está sendo dito,
incorporando conhecimentos e ideias, mediante os próprios conhecimentos e
experiências pessoais.
Nesse sentido, percebemos que o professor, ao criar estratégias de
ação pedagógica que contribuam para a compreensão e interpretação de
textos, pode tornar o aluno sujeito do ato de ler, produtor de sua própria leitura
e agente de produção de conhecimento.
Observou-se que a mediação do professor, num processo de interação
com os alunos, durante as atividades de leitura dos gêneros textuais, despertou
nos alunos o interesse pela leitura e o estabelecimento de relações de
conhecimentos, anteriormente constituídos, com as novas informações
contidas no texto. Um aluno que faz inferências, comparações e perguntas ao
texto, produz sentido para o que lê. (KOCH & ELIAS, 2007).
Sabemos que a quantidade e diversidade de leituras e o hábito de se
associar a leitura às atividades cotidianas como ler jornais para nos
informarmos do mundo a nossa volta é que formarão bons leitores. Mas a
escola pode conduzir esse processo, considerando que o professor funciona
como mediador em leituras significativas, formando um aluno participante das
práticas de letramento da sociedade.
Percebemos que, quando há um trabalho planejado, considerando
etapas e respeitando o tempo de aprendizagem dos alunos, há um maior
interesse e envolvimento dos alunos nas tarefas e, consequentemente, os
resultados são muito satisfatórios.
O objetivo deste projeto de tornar o aluno leitor competente colocando-o
em contato com o texto em uma troca e diálogo enriquecedor foi alcançado a
partir do resultado da mediação do professor que utilizou-se de estratégias
pedagógicas que direcionaram como o leitor deveria construir seus próprios
significados e ser capaz de utilizá-los de forma eficiente e autônoma.
7 Referências
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